'Dar arma nas mãos de professor é uma idéia terrível' · Educacao360.com. Este ano, o evento...

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Sem Opção Veículo: O Globo - Caderno: Sociedade - Seção: Não Especificado - Assunto: Educação - Página: 38 - Publicação: 08/09/19 URL Original: 'Dar arma nas mãos de professor é uma idéia terrível' ‘DAR ARMAS NAS MÃOS DE PROFESSOR É UMA IDEIA TERRÍVEL’ Autor de livros sobre os massacres de Columbine e Parkland defende diálogo em sala e acompanhamento psicológico de alunos para prevenir crimes O Globo 8 Sep 2019 Dave Cullen/ JORNALISTA E ESCRITOR JULIANA VAZ [email protected] DVULGAÇÃO Massacre. O jornalista Dave Cullen morava perto de Columbine em 1999, quando dois alunos executaram 13 pessoas e se mataram depois Dave Cullen morava perto de Columbine, no estado americano do Colorado, onde 15 pessoas morreram durante um massacre em uma escola de ensino médio, há 20 anos. Desde então, o jornalistas e dedica a investigaramotivação desse tipo de crime.

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Veículo: O Globo - Caderno: Sociedade - Seção: Não Especificado - Assunto:Educação - Página: 38 - Publicação: 08/09/19URL Original:

'Dar arma nas mãos de professor é uma idéia terrível'‘DAR ARMAS NAS MÃOS DE PROFESSOR É UMA IDEIATERRÍVEL’Autor de livros sobre os massacres de Columbine e Parkland defendediálogo em sala e acompanhamento psicológico de alunos para prevenircrimes

O Globo8 Sep 2019Dave Cullen/ JORNALISTA E ESCRITOR JULIANA VAZ [email protected]

DVULGAÇÃOMassacre. O jornalista Dave Cullen morava perto de Columbine em 1999, quando dois alunos executaram 13pessoas e se mataram depoisDave Cullen morava perto de Columbine, no estado americano do Colorado, onde 15 pessoas morreram durante um massacreem uma escola de ensino médio, há 20 anos. Desde então, o jornalistas e dedica a investigaramotivação desse tipo de crime.

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Autor do livro “Columbine” (DarkSide Books), de 2009, ele também lançou, este ano, “Parkland: o nascimento de ummovimento”, sobre a chacina em uma escola na Flórida, em 2018. Um dos convidados do Educação 360 Encontro Internacional,que acontece dias 16 e 17 deste mês, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, Cullen vai dar um apalestra antes de umdebateque reunirá pais de alunos de colégios brasileiros onde houve massacres: a Escola Estadual Professor Raul Brasil, emSuzano, onde dez pessoas morreram, este ano, e a Escola Municipal Tasso da Silveira, onde 13 pessoas foram mortas, emRealengo, em 2011.Por que atiradores atacam a escola? O que a instituição representa para eles? Columbine foi pensado como uma performance, eos outros massacres também são. Raramente, o alvo é uma pessoa específica. Normalmente, os atiradores saem disparandopelos corredores para o país assistir. Eles querem o maior número de espectadores, e a escola é o palco perfeito, deixa os paisaterrorizados. Mas também há o lado simbólico de atacar algo que é central na vida deles, que para eles representa poder.Qualé o papel da escol ana prevenção? É possível treinar professores para identificar sinais de perigo?Ajuda, mas pouco. O mais importante relatório do FBI deixa claro que a maioria dos sinais de alerta se aplica a muitosestudantes. Em alguns estados foi aprovada recentemente uma lei que suspende o direito de pessoas potencialmente perigosas,que fizeram uma ameaça, de comprar uma arma, oque ajuda a evitar tragédias. O serviço secreto descobriu que 80% dosatiradores contam a uma pessoa próxima sobre o crime, que quase sempre levam meses planejando. Crianças não são boas emmanter segredo. Então, se alguém fizer uma ameaça, mesmo em tom de piada, é preciso avisar. Hoje, a maioria dos massacressão descobertos antes de acontecerem. Em termos de saúde mental, é preciso diagnosticar doenças como depressão entreadolescentes. A maioria dos atiradores são depressivos raivosos.Os atiradores costumam ser do sexo masculino. Violência e socialização de gênero devem ser discutidos na escola?A imensa maioria de crimes com armas de fogo é praticada por homens, parte de um problema maior queéa forma comohomens lidam com sua raiva de forma violenta. É importante“Os atiradores querem o maior número de espectadores, e a escola é o palco perfeito, deixa os pais aterrorizados”“80% dos atiradores contam a uma pessoa sobre o crime, que levam meses planejando. Crianças não são boas em mantersegredo”“Não sejam mais uma América. Somos o pior exemplo nesse quesito”“É importante que o assunto seja discutido, que meninos possam expressar fraquezas. Não abordar isso em aula é ignorar oproblema”que o assunto seja discutido, que meninos possam expressar suas fraquezas. Não abordar isso em sala de aula é ignorar oproblema.Como lidar coma saúde mental dos sobreviventes? É importante não tentar acelerar o processo de cura. Cada um tem seu ritmo,não adianta outras pessoas dizerem coisas do tipo “siga com sua vida”. Elas não entendem a dimensão do problema. Ossobreviventes odeia misso. O primeiroaniversário datr agé diaé um dos dias mais difíceis. Muitos suicídios de sobreviventesocorrem nesse período, como aconteceu este ano, após o primeiro aniversário do massacre de Parkland. A maioria dossobreviventes de Columbine gostaria de ter recebido ajuda psicológica mais cedo.Em 20 anos, qual foi a história mais marcante que você acompanhou?Posso citar, por exemplo, Coni Sanders, a filha do único professor morto em Columbine, que morreu salvando alunos. Coniestava no ensino médio e se tornou doutora em psicologia. Ela não se especializou em tratar pessoas traumatizadas como ela,mas, sim, homens que cometem crimes violentos, como estupradores e assassinos. Ela também defende um maior controlesobre armas de fogo.Para Donald Trump, armar professores pode ajudar. O mesmo foi discutido no Brasil, após o massacre de Suzano. O que acha daideia?Não sejam mais uma América. Somos o pior exemplo nesse quesito. Na Austrália, aconteceu o oposto: depois do massacre dePort Arthur (com 35 mortos, em 1996 ),o país reformou suas leis de controle de armas e, desde então, não houve maisassassinatos em massa. O autor domassacre na Nova Zelândia, no início deste ano (51 mortos), era um australiano que conseguiu as armas na Nova Zelândia. Dararmas nas mãos de professores é uma ideia terrível. Estudos comprovam que as chances de uma pessoa morrer aumentammuito quando ela compra uma arma, mesmo que para defesa pessoal.Alguns políticos preferem culpar videogames e a saúde mental dos criminosos, e não armas. Faz sentido?Não. Proporcionalmente, pessoas consideradas sãs cometem mais assassinatos do que aquelas com algum tipo de transtornomental. Não repitam nossos erros, somos o último povo que vocês deveriam emular.Como surgiu o movimento estudantil contra as armas após o tiroteio de Parkland, em fevereiro do ano passado?Os estudantes iniciaram o movimento. A mensagem era: “América, vocês falharam com suas crianças e estão deixando agentemorrer”.Éverd ade eé vergonhoso. Eles nem eram nascidos naépo cade Columbine. Em apenas cinco semanas,organizaramamar chapel avida em Washington, um dos maiores protestos da História dos EUA.O engajamento de estudantes nos debates que afetam o dia a dia na escola pode ajudar a evitar possíveis massacres? Omovimento repercutiu nas últimas eleições do meio de mandato. O objetivo era fazer com que os jovens fossem às urnas, econseguiram. O número de votantes de até 30 anos aumentou, o que é surpreendente. Os jovens não costumam votar aqui. Éempoderador para os jovens desesperançados perceber que podem fazer uma diferença, que a voz deles importa.

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Encontro internacional discute os rumos da educaçãoEscolas democráticas, métodos de alfabetização e ensino ambiental estarãoentre os assuntos em pauta no evento

LÉO MARTINS/AGÊNCIA O GLOBOAutora. A brasileira Nélida Piñon vai falar sobre ‘Os ditames da cultura’Os desafios para o futuro da educação no país estarão no centro do debate do evento Educação 360 Encontro Internacional, nosdias 16 e 17 deste mês, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Educadores, pesquisadores, gestores de ensino, escritores,influenciadores digitais e ativistas brasileiros e estrangeiros apresentarão suas perspectivas sobre medidas que podemcontribuir para a formação de alunos. O Educação 360 Internacional é uma realização dos jornais O GLOBO e Extra, compatrocínio de Itaú Social,Fundação Telefônica/Vivo, Colégio Ph e Universidade Estácio, e apoio institucional de TV Globo, Unicef, Unesco, FundaçãoRoberto Marinho e Canal Futura. Os interessados podem buscar informações sobre a programação completa e inscrições no siteEducacao360.com. Este ano, o evento chega à sexta edição com nomes como os escritores Frei Betto, Nélida Piñon e EduardoBueno, além do cientista Carlos Nobre, entre muitos outros. O economista americano Martin Carnoy, professor de Stanford, seráum dos principais participantes, assim como Lindy Amato, diretora da Federação de Professores de Ontário, no Canadá, que vaiministrar uma palestra no auditório principal às 9h30 do dia 17. A entidade que ela dirige responde por cerca de 160 milprofessores da rede local, conhecida pela qualidade de seu ensino.Mais tarde, às 14h30, o educador Henry Readhead vai falar sobre as lições da Escola Summerhill, no Reino Unido, instituiçãopioneira do movimento de escolas democráticas, que defendem o protagonismo do aluno em sua formação. Às 15h10, a aulamagna “Eu venho lá do sertão” discutirá as razões do alto desempenho de algumas escolas brasileiras afastadas dos grandescentros em avaliações nacionais e olimpíadas escolares. Ainda no dia 17, haverá um painel sobre os métodos de alfabetização,às15h30.Eo climatologista Carlos Nobre abordará as mudanças climáticas e a importância da educação ambiental, em temposde crise na Amazônia, às 16h20.O papel da tecnologia digital na formação das novas gerações também será abordado no evento, que se encerra com um painelde “Edutubers” e uma palestra do youtuber Felipe Neto, que falará sobre o tema “Educação e criatividade”.

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