Dança Contemporânea/SESC TV: Wabi Sabi – Susana...

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All reserved rights. Proibida a cópia ou qualquer outra forma de reprodução, parcial ou integral, sem a prévia autorização da autora. Dança Contemporânea/SESC TV: Wabi Sabi – Susana Yamauchi Texto de pesquisa-base para roteiro do programa "Série 2/Dança Contemporânea" - SESC TV/SP, produção Pipoca Cine Vídeo, exibido em 07 de outubro de 2009 O solo Wabi Sabi teve um longo processo de elaboração: doze anos. Parar criá-lo, a coreógrafa Susana Yamauchi mergulhou em um “processo de gestação criativa similar ao da lagarta que produz o seu fio e constrói seu próprio casulo”. A partir de um conceito de monges zen-budistas e mestres da cerimônia do chá do século 12, a obra remete à expressão em que se reúnem os vocábulos wabi (beleza da simplicidade e harmonia) mais sabi (beleza da imperfeição e impermanência). A polissemia da expressão perpassa toda a obra, onde se sucedem belos “quadros vivos” construídos de força e delicadeza, a intérprete buscando capturar, a partir de sua experiência contemporânea, a poesia em ação de personagens do imaginário japonês, mesclando aspectos da cultura popular aqueles da “cerimônia do chá”, ikebana, música Gagaku e teatro Noh. Apresenta-se uma escritura coreográfica de rigor ritualístico, as ações se transformando em universo de contemplação, no qual os ofícios da arte e artesanato são apresentados em obra que parece vir de todos os cantos: muitos lugares do Japão e também muitos lugares de São Paulo, onde nasceu e trabalha Yamauchi. Para dançar Wabi Sabi, a criadora também nos diz ter “virado pó”. No palco da obra parece pairar uma nuvem de pó dourado, trespassando a dança de Susana, de corpo resistente mas dúctil,

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All reserved rights. Proibida a cópia ou qualquer outra forma de reprodução, parcial ou integral, sem a prévia autorização da autora.

Dança Contemporânea/SESC TV: Wabi Sabi – Susana

Yamauchi

Texto de pesquisa-base para roteiro do programa "Série 2/Dança Contemporânea" - SESC TV/SP, produção Pipoca

Cine Vídeo, exibido em 07 de outubro de 2009

O solo Wabi Sabi teve um longo processo de elaboração: doze anos. Parar criá-lo, a coreógrafa Susana Yamauchi mergulhou em um “processo de gestação criativa similar ao da lagarta que produz o seu fio e constrói seu próprio casulo”. A partir de um conceito de monges zen-budistas e mestres da cerimônia do chá do século 12, a obra remete à expressão em que se reúnem os vocábulos wabi (beleza da simplicidade e harmonia) mais sabi (beleza da imperfeição e impermanência). A polissemia da expressão perpassa toda a obra, onde se sucedem belos “quadros vivos” construídos de força e delicadeza, a intérprete buscando capturar, a partir de sua experiência contemporânea, a poesia em ação de personagens do imaginário japonês, mesclando aspectos da cultura popular aqueles da “cerimônia do chá”, ikebana, música Gagaku e teatro Noh. Apresenta-se uma escritura coreográfica de rigor ritualístico, as ações se transformando em universo de contemplação, no qual os ofícios da arte e artesanato são apresentados em obra que parece vir de todos os cantos: muitos lugares do Japão e também muitos lugares de São Paulo, onde nasceu e trabalha Yamauchi. Para dançar Wabi Sabi, a criadora também nos diz ter “virado pó”. No palco da obra parece pairar uma nuvem de pó dourado, trespassando a dança de Susana, de corpo resistente mas dúctil,

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modelando-se à frente de nossos olhos, como rápida argila girando e girando em torno gigante. Construído,também, por trilha sonora e figurinos preciosos, este corpo-barro vai sendo apresentado em lusco-fusco de muitas mulheres que caminham pelo ar da cena, em construção poética sem palavras de história nossa, já que nesta cidade do Brasil - São Paulo, somos, também, todos japoneses. São Paulo, junho, 2009. Cássia Navas