DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 no lugar certo e as ligações neuronais necessárias à fala....

38
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 no lugar certo e as ligações neuronais necessárias à fala....

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

Secretaria de Estado da Educação

Superintendência da Educação

Universidade Federal do Paraná

Oralidade e escrita nas aulas de Língua Portuguesa

Ester Romann de Souza Knauer

Área: Língua Portuguesa

Professora Orientadora: Maria José G.

D. Foltran

Ctba

2010

2

ESTER ROMANN DE SOUZA KNAUER

A ORALIDADE E A ESCRITA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: um

estudo sobre a oralidade e a sua interferência na escrita dos alunos de 5ª e 6ª

série

Caderno Pedagógico apresentado à

professora Maria José G. D. Foltran da

Universidade Federal do Paraná

CURITIBA

2010

3

Sumário

1. IDENTIFICAÇÃO ........................................................................................ 04

2. A ORALIDADE E A ESCRITA...................................................................... 04

3. ATIVIDADE DA LÍNGUA PADRÃO.............................................................. 06

4. CONVERSAÇÃO......................................................................................... 07

5. ATIVIDADES SOBRE CHATS..................................................................... 08

6. SITUAÇÕES DE CONVERSAÇÕES........................................................... 09

7. VARIEDADE LINGUÍSTICA.......................................................................... 12

8. AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO........... 18

9. GÍRIA............................................................................................................ 20

10. A FALA NA ESCRITA................................................................................. 23

11. LINGUAGEM VERBAL............................................................................... 25

12. LINGUAGEM FORMAL E INFORMAL....................................................... 26

13. ENTREVISTAS........................................................................................... 27

REFERÊNCIAS ..... ........................................................................................ 37

4

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

AUTORA: Ester Romann de Souza Knauer

ESTABELECIMENTO: Colégio Estadual Segismundo Falarz

DISCIPLINA: Língua Portuguesa – Ensino Fundamental

ORIENTADORA: Maria José G. D. Foltran – UFPR

A oralidade e a escrita

É difícil dizer quando começamos a vocalizar porque as estruturas ligadas

à fala não são preservadas como fósseis. A conclusão dos pesquisadores é a

de que apenas os humanos que apareceram há 100 000 anos já teriam a

laringe no lugar certo e as ligações neuronais necessárias à fala. Mas essa

idéia ainda não foi provada. Por isso é mais fácil dizer que aprendemos a falar

ouvindo os nossos pais, eles conversavam conosco. A partir daí, começamos a

interagir com os nossos familiares, depois com os amigos e assim fazendo o

uso da linguagem. A respeito disso, há muitas teorias diferentes. Mas não

podemos esquecer que a fala interfere profundamente na nossa maneira de ser

e de nos comunicar com os outros, pois ela marca a nossa característica e é

altamente individual. Quando falamos oralmente ao próximo ou mentalmente a

nós mesmos, conseguimos organizar o nosso pensamento e torná-lo articulado

e nítido. Dessa maneira, pode-se dizer, que é quase exclusivamente pela

5

linguagem que nos comunicamos uns com os outros na vida social. Enfim, a

linguagem tem uma função prática imprescindível na vida humana e social.

Não podemos falar de qualquer jeito, temos que respeitar determinadas

convenções que foram estabelecidas por várias gerações de homens que se

especializaram em estudar a língua, em observar a sua ação e os seus efeitos

no intercâmbio social. Muitas normas, convenções de gramática representam

uma experiência longa e coletiva em matéria de expressões lingüística, alguns

casos é bom usar o consenso geral facilitando a projeção de nossas idéias e a

aceitação do que assim dizemos.

Existem dois tipos de exposição lingüística: a que pode ser falada ou

escrita. De maneira geral, podemos dizer que a primeira comunicada pelo

ouvido e a segunda pela visão. Há muito tempo que a civilização deu uma

importância extraordinária à escrita e, muitas vezes, quando nos referimos à

linguagem, só pensamos nesse aspecto. É preciso não perder de vista, que a

expressão oral aparece muito tempo antes da expressão escrita.

O uso da palavra falada, nas mais diversas circunstâncias é uma

contingência permanente, ampliada ainda mais no mundo contemporâneo com

o desenvolvimento das comunicações. Em vista disto, a linguagem escrita não

passa de um sucedâneo da fala. Esta é a que abrange a comunicação

lingüística em sua totalidade, pressupondo, além da significação dos vocábulos

e das frases. Por isso, para bem se compreender a natureza e o funcionamento

da linguagem humana, é preciso partir da apreciação da linguagem oral e

examinar em seguida a escrita como uma espécie de linguagem que tem suas

limitações, pois o grande número de traços característicos da exposição oral, é

a ausente na escrita.

A expressão escrita precisa substituir a enorme riqueza de recursos, que

facilitam extraordinariamente a comunicação oral como: o timbre da voz, para a

altura da emissão vocal, para a entoação das frases, bem como, os gestos do

corpo, dos braços, das mãos e da fisionomia. Escrever bem resulta de uma

técnica elaborada, que tem de ser cuidadosamente adquirida. Não há uma

correspondência perfeita entre o modo de falar e o modo de escrever.

A escrita se utiliza preferencialmente da variedade padrão. Variedade

padrão é a maneira como a gramática estabelece, isto é, um modelo que deve

ser seguido em certas ocasiões. Ela é ensinada nas escolas e deve ser usada

6

em situações de comunicação que exigem o uso da linguagem de acordo com

as regras da gramática, como por exemplo, em documentos, em artigos de

jornal e revistas, em discursos e palestras, leis, documentos oficiais, artigos

científicos, etc.

Atividades da língua padrão

1. Pense no modo como você fala quando está entre amigos. Compare-o

com o modo como você fala quando está conversando com o diretor da

escola. Anote as diferenças.

2. Leia o poema e se quiser também pode complementar a sua leitura com

outros como “os 11 poemas para crianças de Porto Alegre”:

Ninando

Drome, anjos querido. Drome, anjo, anjeio, Fecha os ovido e drome,

Que logo o sói vai clareá, As fadas tão por aqui, E deixa o fársu sair,

Os gato tão miando Para enche de aleguia Ocê ficará muito bem!

No soio da gata banca. Com briio de luá. Que noite mais escura!

Fecha os ovido e drome, Drome, anjo da noite, Fique em paz,anjo,

Anjo, anjeio, anjão, Que lá fora os lobo uivam, A paz tá com ocê,

A noite tem esteias Prá noite ir escura Logo os seus zóio

No céu dos amantes. Com as estrela do luá. Vai abri para o arvorecê.

Knauer

1. Qual a canção de ninar que o poema lembra? E qual a finalidade que se cantava?

7

2. Que tipo de variedade lingüística o poeta usou no seu poema?

3. No poema há várias palavras que não correspondem à variedade padrão escrita.

Identifique-as e diga qual seria a forma padrão.

4. Observe essas palavras: clareá, fechá, os zóio, arvorecê, enchê, luá. Em algumas

variedades o r desaparece. Na sua opinião, por que isso acontece?

5. As letras lh das palavras ―sonho e olhos‖ desapareceu. Por que na sua opinião

isso acontece e qual a letra que a substituiu?

6. Levante hipóteses: Por que a expressão ―os zóio‖ foi escrita assim, no lugar de

―os olhos‖?

7. Por que o poeta, conhecendo a variedade padrão, preferiu redigir o texto numa

outra variedade linguística?

Conversação

É por meio da conversação que aprendemos a falar. E essa conversa não

precisa ser necessariamente frente a frente, pois o desenvolvimento de

tecnologias permite o diálogo entre pessoas distanciadas espacialmente. O que

iniciou esse distanciamento foi o telefone, que resultou numa série de regras

para o seu uso. Maneiras de cada um se identificar, duração de uma ligação,

quem deve tomar a iniciativa de mudar de assunto e de encerrar uma

conversa. Depois vieram os programas de computador como: ICQ, MSN

MESSENGER e outros, que possibilitaram a ocorrência de uma conversação

na modalidade escrita. Também os CHATS – ou bate-papos via internet, que

está produzindo um conjunto de normas de escrita compartilhadas pelos

usuários. São normas diferentes da ortografia oficial da língua, cheias de

abreviações e outros recursos, que buscam uma maior velocidade na produção

escrita e incorporam novas formas de expressão.

8

Atividades de linguagem dos chats

Texto sobre a linguagem dos ―chats‖:

Mané: Oi! Vc tá bem?

Minó: Tô. Vc quer tc em pleno domingo?

Mané: Eu tinha um grande compromisso para ir, mas fiquei com vontade de ficar em

casa. Tá frio, prefiro um cobertor. Melhor teclar.

Minó: Quando estou em casa sempre fico ligadão no teclado. Entro em cada site idiota.

[...] Aqui é uma blz.

Mané: kdvc? kkkkkkkk.

Minó: Tudo bem. Me conta tudo, pq vc naum xego na hr q eu t flei?

Mané: Pco tava em outra, n vai esquentar por isso, tá?

Minó: Blz, []'s, té depois.

Knauer

1. Retire do texto exemplos que mostram a maneira de falar nos chats.

2. Cite outros exemplos de como as pessoas se comunicam nos chats. Veja alguns

exemplos retirados das salas de betepapo.

BLZ = Beleza TC = quer Teclar ? VC = Você KDVC = Cadê você? UIN = nº do ICQ

TB = Também

PCO = Parceiro (em sites de jogos) KKKKK = Gargalhada Fazer CIA = Fazer

Companhia Q = Que

BLZ = Beleza TC = quer Teclar ? VC = Você KDVC = Cadê você? UIN = nº do ICQ

TB = Também

PCO = Parceiro (em sites de jogos) KKKKK = Gargalhada Fazer CIA = Fazer

9

Companhia Q = Que

[]'s Abraços :-D Alegre :-* Beijo |-O Bocejando ¦ ( Chateado :'-( Chorando (@@)

Espanto :-) Feliz :-)))) Gargalhando :-@ ou : -V Gritando ;-) Piscando o olho :-( Triste

|-) Ficando com sono :-P Mostrando a língua ::-) Uso óculos :-(#) Uso aparelho

dentário X-) Tímido

Abraços :-D Alegre :-* Beijo |-O Bocejando ¦ ( Chateado :'-( Chorando (@@) Espanto

:-) Feliz :-)))) Gargalhando :-@ ou : -V Gritando ;-) Piscando o olho :-( Triste |-)

Ficando com sono :-P Mostrando a língua ::-) Uso óculos :-(#) Uso aparelho dentário

X-) Tímido‖

Observação: A linguagem que usamos precisa sempre estar de acordo com a situação.

A forma de escrever dos chats, por exemplo, não pode ser usada em trabalhos escolares.

Situações de conversação

Para que haja uma conversação é necessário que exista: uma interação

entre pelo menos dois falantes, com pelo menos uma troca de papéis; os

participantes interagem em uma sequência de ações coordenadas, em que

cada um leva em conta a intervenção de temas comuns ao longo da interação.

A conversação requer uma interação cooperativa, onde os falantes mantêm

um determinado assunto. É muito repetido que a conversação é uma arte, e

este dito deve ser levado a sério. Como arte, a conversação não é julgada pela

10

qualidade informativa, mas sim, pela qualidade dos sentimentos que desperta,

se eles aproximam ou afastam os interlocutores. É interessante evitar modos

que criam antipatia, descobrir e praticar os modos que, ao contrário, induzem

simpatia e felicidade no convívio. Nesse sentido, existem coisas a serem

evitadas na conversação, coisas a valorizar e praticar.

Entre as diversas formas da conversação na sociedade, a de maior

interesse é a informal, pois é a mais utilizada pelos falantes. Passamos a maior

parte do dia conversando. Na conversação, os participantes se alternam nos

papéis de falante e de ouvinte, cada mudança de interlocutor corresponde a um

papel. Marcuschi (1986,p.19) define nos seguintes termos a organização da

conversação:

A regra geral básica da conversação é: fala um de cada vez. Pois, na

medida em que nem todos falam ao mesmo tempo (em geral um

espera o outro concluir) e um só não fala o tempo todo (os falantes se

alternam), é sugestivo imaginar a distribuição dos turnos entre os

falantes como um fator disciplinador da atividade conversacional.

Com isso, a tomada de turno pode ser vista como um mecanismo-

chave para a organização estrutural da conversação, para a qual

podemos imaginar :

A:fala e pára;

B:toma a palavra, fala e pára;

A: retoma a palavra, fala e pára;

B: volta a falar e pára;

(...) Esse princípio da fala é frequentemente desrespeitado, isso não quer dizer

que não existam regras. Na conversação telefônica, quem faz a ligação tem a

obrigação de se identificar e de verificar se está falando com o interlocutor

desejado e tem prioridade para indicar o tema da conversa.

Em situações de entrevistas transmitidas oralmente, a organização é mais

rígida. O entrevistador estabelece uma conversa com um especialista em

algum tema e organiza a interação com forma predominante de perguntas e

respostas, organiza a sequência em que os temas serão abordados, faz

intervenções quando necessárias e define o momento de conclusão.

Quando nos comunicamos oralmente, fazemos uso de um conjunto de

recursos além das palavras: a expressão facial, os gestos, o tom de voz, a

11

velocidade, a ênfase. Além disso, a conversação está repleta de hesitações,

repetições, pausas, interrupções dos interlocutores, superposições de fala.

Assim ao registrarmos a conversação, deparamo-nos com vários recursos que

não têm correspondentes no sistema gráfico. Essas conversações podem ser

registradas em forma de gravação ou vídeo, vai depender do que o

pesquisador definir como seu interesse para a sua pesquisa.

É através da conversação que os laços são estabelecidos, consolidados e

modificados.

ATIVIDADES:

1. O grupo deve gravar uma conversa entre duas ou três pessoas. A

gravação pode ser feita em qualquer lugar. Feita a gravação o grupo

deve transcrever a conversa, seguindo as instruções abaixo, para

analisar e ver as diferenças que ocorrem quando passa da fala para um

texto escrito.

Ocorrências Sinais

1- Indicação dos falantes Os falantes devem ser indicados em linhas, com

letras ou alguma sigla convencional

2- Pausas ...

3-Ênfase MAIÚSCULAS

4-Alongamento de vogal : ( pequeno)

:: (médio)

::: (grande)

5- Silabação -

6- Interrogação ?

7- Segmentos incompreensíveis ou ininteligíveis ()

(ininteligível)

8- Truncamento de palavras ou desvio sintático /

9- Comentário do transcritor (())

10- Citações ""

11- Superposições de vozes [

12- Simultaneidade de vozes [[

13-Ortografia De acordo com a fala dos informantes

12

2. Reflita sobre as situações colocadas a seguir e depois indique em que

casos há uma conversação e quando não houver explique.

a) Na abertura do congresso, o professor Ilson fez uma palestra sobre

as representações da mulher na sociedade. Ele falou durante uma

hora para uma platéia de aproximadamente 300 pessoas. No final do

evento o palestrante foi embora e nenhum dos participantes teve

oportunidade de fazer uma pergunta.

b) Sandra mora num apartamento em companhia do seu gato Romeu,

ela fica trabalhando de dia e de noite estudando. Nunca recebeu

nenhuma visita, os únicos sons que são escutados em sua casa é o

barulho da televisão e do rádio.

c) Laura ganhou de presente uma roupa que não serviu e deixou

passar o prazo previsto pela loja para efetuar a troca. Quando foi à

loja, teve de explicar primeiramente o caso ao vendedor que a

encaminhou para o gerente, que a mandou de volta ao vendedor.

Este, finalmente, fez a troca do produto.

Variedade linguística

A língua não constitui um sistema acabado, mas está em constante

evolução, sofrendo transformação. Uma vez, que a língua não é usada por

todos os seus falantes de modo homogêneo. O uso varia de época para época,

de região para região, de classe social para classe social e assim por diante.

Nem individualmente podemos dizer que o uso seja igual para todos.

13

Usamos a língua portuguesa de diferentes maneiras, oralmente ou por

escrito. Essas diferenças podem se manifestar no vocabulário, na pronúncia,

no modo como organizamos e combinamos as palavras nas frases, etc.

Existem muitas variações, pois nenhuma língua permanece uniforme em

todo o lugar e ainda em um só local apresenta diferenciações de maior ou

menor amplitude. Porém essas variações não prejudicam a língua ou a

consciência daqueles que a utilizam.

A variedade que um indivíduo usa é determinada por quem ele é. Todo o

indivíduo aprendeu, tanto a língua materna como a variedade falada em sua

comunidade lingüística e essa variedade pode ser um pouco diferente

formando os dialetos. Podendo ainda apresentar variedades geográficas,

sociais e individuais, já que as pessoas usam a língua da maneira que as

convém.

O quadro mostra as ocorrências mais freqüentes das variações lingüísticas

na escrita. Abaixo, estão alguns exemplos de como a língua pode variar.

Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco.

Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.

Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado.

Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.

Simplificação da concordância: as menina/as meninas.

Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças.

Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora.

Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também).

Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.

Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.

Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor.

Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.

14

Portanto, essas variedades são muito naturais, pois a língua é um sistema

vivo que pode ser usado conforme a nossa necessidade: de acordo com o

contexto da conversa, com a região em que moramos, com nossa idade, com a

condição social, com o grau de escolaridade, com a intenção da pessoa a

quem se destina a mensagem, com a origem de quem fala ou escreve, com os

costumes do grupo em que o usuário vive e outros...

Atividades sobre variedade linguística

O JOGO Todas as tardes, sem chuva, os meninos do bairro se reuniam para aquele gostoso bate-bola.

Eles eram todos conhecidos, de longa data, cresceram juntos, gostos identificados, o que um queria, logo os outros sabiam. No meio deles existia o chefe, claro, qualquer grupo, um sempre é o líder, com aqueles meninos não havia exceção. O chefe era um gordinho, metido e reclamão, o Marcão, mas como era o “chefe”, todos o respeitavam.

Tinha o malandro, que todos aceitavam, mais por medo do que por qualquer outra coisa, afinal de contas, quando sumia algo, todos sabiam quem tinha pego.

O Paulão era o mais velho, era o esperto, estava por dentro de tudo e fazia os melhores gols. Depois do chefe era ele que mandava. Os outros eram: o magricela, miudinho, corria pouco e quase não fazia gol, mas fazia parte do time; o Mauro, o Juca, o Tadeu, o Fredo e outros. Ao todo eram dez.

Um dia chegou no lugar um novo menino, meio tímido, um pouco diferente, vindo do nordeste, seus pais abriram uma lojinha de “bagana”, simples, com

15

poucas coisas, mas um bom começo. Pedrinho imediatamente gostou do lugar, só que não tinha nenhum amigo e filho único, resolveu se aventurar por lá, soube que alguns meninos se encontravam todas as tardes para jogar futebol e resolveu ir até lá ver como eram os jogos e quem eram os garotos.

Chegou lá, gostou dos meninos. Começaram a conversar e o gordinho já foi tirando sarro do modo de falar do Pedrinho. No começo ele nem ligou e aceitou jogar futebol, mas ficou preocupado com o gordinho, pois sabia que esse iria lhe dar bastante trabalho.

O jogo começou e o Gordinho resolveu que não deveria facilitar a vida do “Nordestino”, era assim que iria chamá-lo de agora em diante, pois afinal de contas era um intruso que falava diferente. Estava dando tudo certo, todos resolveram chamar o Pedrinho de “Nordestino” e o jogo estava rolando normalmente. Até que o Pedrinho começou a falar:

- Acunha rapaz!

Daí não deu mais, o jogo foi interrompido, todos pararam e ficaram olhando para ele, pedindo uma explicação, o que aquilo significava. O Gordinho, como não gostava do Pedrinho, foi logo dizendo:

- Fale de uma maneira que nós possamos entender.

Como o Pedrinho não entendeu o que estava acontecendo, acabou indo embora chorando. Quando chegou à casa a sua mãe perguntou:

- Por que você está “amuquecado”? Houve alguma “arenga”?

Pedrinho contou para a mãe e também disse que não entendia o que tinha acontecido.

A mãe imediatamente explicou que isso podia acontecer, afinal aqui no sul as pessoas falam um pouco diferente do nordeste, mas que ele não precisava se preocupar, o que tinha mesmo a fazer era explicar que existem maneiras diferentes de falar, mas não estava errado e se aquilo voltasse a acontecer, não era para desanimar.

Pedrinho gostou da explicação da mãe e resolveu tentar, afinal ele não era tão diferente assim.

No outro dia foi jogar bola, quando o gordinho veio conversar com ele, explicou o que estava acontecendo, os outros também ouviram, todos entenderam e o que realmente importava era a diversão. O apelido acabou ficando, uma vez que todos tinham um e Pedrinho acabou gostando. De vez em quando saía expressões como: “Pare com essa aresia” ou “Como você é avexado”, mas ninguém mais se preocupou com isso.

Vocabulário: knauer

Bagana- alimentos para um lanche rápido acunha- correr fugir

Amuquecado- quieto, desanimado aresia- conversa besta

16

Arenga- briga pequena avexado- com pressa

1. Por que o gordinho era o que mais implicava com Pedrinho?, Todo o

chefe tem que ser assim?

2. A mãe ajuda Pedrinho a entender o que está acontecendo, isso era

mesmo necessário? Por que você acha que ela fez isso?

3. Você já passou por uma situação parecida como a do Pedrinho de falar

algo e os outros não entenderem? Em caso afirmativo como você fez?

4. Quais as palavras que estão no texto e você não conseguiu entender?

Conhece alguém que fala de maneira regional e fica diferente do seu

jeito de falar? E dentre essas palavras regionais, quais você não

entende?

5. As palavras, onde você mora, são parecidas com as usadas por você ou

são diferentes? Explique.

6. Você conhece pessoas que usam alguma variante lingüística diferente

da sua? Qual? Isso interfere no entendimento? Por quê?

7. Pesquise algumas palavras regionais, mais usadas no lugar em que

você mora.

Mais algumas atividades sobre as variedades linguísticas

O namoro

Levei minha gata pra ―aresia‖, di um beijo,

Ela era toda ―apetrechada‖

Parecia té ―corralinda‖

Quando tou com ela fico ―arriado‖

―Arretado que só vendo.

17

Tenho vontade de ―arrudiar‖

O tempo todo.

Mas ela é muito ―avexada‖

Quando saio com ela

Sempre aparece um ―baludo‖

Pra me tirar o sossego,

Ou cair na real.

Um mulherão desses,

Pobre, não merece, não!

Fico todo ―cabreiro‖

Quando se aproxima uma

Pessoa ―cheia de onda‖

Com objetivo de roubá-la de mim

É só sair com ela que começa o ―arenga‖

Eles pensam que vou ―dar cabimento‖

Com minha menina, não!

Ela é só minha e sempre será,

São todos ―desmantelados‖

Que vão procurar os seus

Quem encontra segura,

Quem não encontrou que vá atrás.

Knauer

1. Nessa poesia, o poeta intencionalmente explora uma variante lingüística. Para

isso, cria uma personagem que teria determinadas características de fala:

a) No primeiro verso (linha) da canção, foi empregado ―di‖, em lugar de dei. Esse

erro é muito comum entre crianças que estão aprendendo a falar, porque há

outros verbos na língua com som parecido. Cite dois outros casos de verbos que

terminam em i quando queremos indicar um fato passado.

b) No terceiro e quarto versos, temos duas construções que estão em desacordo

com a norma culta. Identifique-as e reescreva-as em língua culta.

2. Pouco sabemos sobre a pessoa que fala nessa poesia, mas, por algumas pistas do

texto, podemos imaginar. Na sua opinião, qual deve ser:

a) o grau de escolaridade dela? c) a classe social a que ela pertence?

b) a profissão? d) os filmes a que normalmente ela assiste?

3. Retire as palavras que estão entre aspas e tente descobrir o seu significado e por

que o poeta as usou? O que ele quer dizer com esse uso?

4. Existem alguns termos na letra da poesia que também podem nos dar pistas

sobre a origem da pessoa de quem se fala. Em que região do país esses termos

são popularmente empregados?

Para uso do professor: vocabulário nordestino

Apetrechada- dotada de beleza física ariado- desnorteado

Arranca-rabo –confusão grande arretado- algo muito bom

Arrudiar- dar a volta avexado- com pressa

18

Baitola- um bichinha baludo- cheio de grana

Cabreiro- desconfiado cheio de onda- conversa, enrolação

Corralinda- coisa linda dar cabimento - intimidade

Desmantelado- muito doido Para saber mais acesse o site:www.nataltrip.com/termosregionais

AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO

CAIPIREZ U sapo pula U pavão abe sua penas A sapa fica oiano E mostra a beleza U sapo cata comida A pavoa passa reto A sapa sapateia Esconeno sua tristeza U patu saiu com a pata U macaco tava de cara Muio cotete Pareci qui a amava U pato foi picano A macaca nem ligava A pata foi voano Só queria cumê amora U gatu viu u ratu Que lê tem tudo Comedo o queijo todo Que não lê tem nada U gatu ficou com iveja A imaginação tá Comi o ratu Nos oios de quem a vê. Knauer

1. Ao escrever esse poema, o autor não obedeceu às regras ortográficas da língua

portuguesa.

19

a) Leia o nome do poema e tire uma conclusão: Por que, na sua opinião, o autor

escreveu o texto desse modo?

b) Qual é o dialeto que o autor usou para escrever o poema?

2. Compare as palavras abaixo. As da coluna da esquerda estão escritas de acordo com

as regras ortográficas, e as da coluna da direita estão escritas conforme aparecem no

poema.

gato- gatu pato - patu

rato - ratu

a) Quais dessas palavras lembram mais o nosso jeito de falar?

b) Conclua: Nosso jeito de falar sempre corresponde ao modo como as palavras são

escritas?

3. Compare em cada par de palavras abaixo as da esquerda com as da direita e tire

conclusões sobre as diferenças entre oralidade e escrita. oiano — olhando parece — pareci voando — voano

iveja — inveja come — comi está— tá

comer — cumê picando — picano contente- cotete

a) O que acontece com a vogal e de sílabas átonas (fracas), como em come, quando

a palavra é falada?

b) O que acontece com a consoante n, da primeira sílaba da palavra inveja, quando

ela é falada?

c) O que acontece com a letra d na última sílaba, como em voando, quando ela é

falada?

d) Dessas mudanças, quais são as típicas do dialeto caipira?

e) Por que existem essas diferenças entre oralidade e escrita, na sua opinião?

4. Observe esta frase: ―eu iscrevu essas poesia‖

a) Além da grafia da palavra iscrevu, esse trecho apresenta outra variação em

relação à língua padrão. Qual é ela?

b) Apesar dessa variação, podemos entender que o trecho se refere a uma única

poesia ou a mais de uma? Como é possível saber isso?

5. Na última estrofe do poema, o eu lírico se dirige a outra pessoa e compara seu

relacionamento com ela ao relacionamento de vários leitores.

a) Quem é essa pessoa?

b) O que o eu lírico pretende mostrar com a imaginação?

20

Gíria

A variedade estilística é a fala de um determinado grupo ou situação social.

Como a gíria que é um fenômeno tipicamente sociolingüístico, que pode ser

estudado sob dois modos: a primeira chamada gíria de grupo, que é um

vocabulário de grupos sociais restritos, cujo comportamento se afasta da

maioria, seja pelo inusitado, seja pelo conflito que estabelecem com a

sociedade. Inusitados são os grupos ligados à música, à dança, às diversões,

aos esportes, aos pontos de encontro nos shoppings, à universidade e outros;

tem os grupos comprometidos com as drogas e o tráfico, com a prostituição,

com o roubo e o crime e outros, que usam a gíria como uma linguagem

secreta, sendo um privilégio ao grupo configurando como uma posição de

superioridade, tendo que mudar, tão logo se torne conhecido por outras

pessoas que não pertencem ao grupo, perdendo assim, a sua verdadeira

significação.

A gíria faz parte das mais diferentes situações interacionais. E jovens e

adultos empregam vocábulos gírios, às vezes, nem se dão conta de que o

fazem. Na linguagem falada, a gíria constitui um recurso simples para

aproximar os interlocutores, quebrar a formalidade, forçar uma interação mais

próxima dos interesses das pessoas que dialogam. Essa situação, também,

ocorre na imprensa, onde o envolvimento com o leitor requer que se

empreguem, às vezes, recursos da oralidade.

Na vida urbana moderna, ao lado do rádio e da TV, a imprensa está na

linha de frente das transformações lingüísticas, em particular na luta pela

concorrência das formas populares com as cultas.

Atividades sobre a Gíria

21

1. As gírias relacionadas a seguir pertencem a todas as “tribos”, isto é, a todos

os grupos sociais de hoje. Coloque-se no papel de um skatista, de um surfista,

de um metaleiro, etc. e escreva uma pequena declaração de amor à pessoa

amada, utilizando algumas dessas gírias. Se quiser, acrescente outras.

Quando terminar, leia a declaração para a classe e divirta-se com a dos

colegas.

animal: pessoa muito legal ou agressiva.

avião: mulher bonita.

comer pelas beiradas: chegar de mansinho.

crescer o olho: cobiçar alguma coisa.

dar um gás: fazer alguma coisa rapidamente.

dar um rolê: dar uma volta, passear.

do bem: alguém que é confiável.

ficar: namorar sem compromisso.

firmeza: pessoa legal.

jaburu: mulher feia.

maneiro: algo bem interessante.

mina: menina, garota.

tigrão: garoto bonito, esperto.

Alguns exemplos de gíria:

� Dar um rolê: passear, sair � Gostosa: mulher bonita, sensual � Porrada: soco, murro � Pipoco: tiro � Mocréia: mulher feia � Bater um fio: fazer um telefonema

2.Pesquise: primeiramente em sua sala, quais são as gírias mais usadas tanto

pelos meninos, quanto pelas meninas. Depois pesquise em seu colégio quais

as gírias mais usadas. E por último na sua comunidade. Relate para a sua sala

de aula.

22

Um pequeno texto:

Um jovem já cansado de tanto o seu pai ficar perguntando aonde ia, respondeu:

-Ô velho, por que não acha umas minas e vai cuidar da sua vida? Que do meu nariz cuido

eu.

O pai tentando falar a mesma linguagem do filho disse:

- Só se você me emprestar o seu carango, pois o meu ficou no meu trampo.

O filho levou um susto tão grande que resolveu falar formalmente dali para frente.

Vocabulário: Knauer

Mina- menina

Trampo- trabalho

1. Por que o pai quis usar a mesma linguagem do filho?

2. Como o filho entendeu o pedido do pai?

3. A palavra mina foi muito utilizada nos anos 70. Com que sentido o pai entendia

a palavra mina?

4. A palavra trampo vem sendo empregada por alguns grupos sociais. Como o pai

entendia essa palavra?

5. Converse com as pessoas mais velhas e anote as gírias que eram utilizadas no

tempo em que elas eram adolescentes.

6. Uma pessoa que fala ―ô velho‖ está sendo mal-educada? Como você se dirige a

seus pais?

7. A que grupo de falantes podemos associar cada uma dessas frases?

a) Se liga, aquela mina é da hora!

b) Que craque! Deu uma caneta no volante e acertou um tirambaço no gol!

c) É melhor fazer um backup dos arquivos antes de deletar qualquer coisa neste

micro.

23

A fala na escrita

No primeiro capítulo de seu livro “Da Fala Para a Escrita”, Luís Antonio

Marcushi propõe, antes de tudo, um esclarecimento sobre o tema que pretende

abordar. Ele afirma que muito mais do que apenas uma distinção entre a “fala e

escrita”, é entender que, na verdade, são práticas sociais muito distintas, cada

uma delas com suas possibilidades, necessidades funcionalidades.

Marcushi deixa muito claro em seu livro o quanto é equivocada a

“supervalorização da escrita” na nossa sociedade, mostrando que “o homem é

um ser que fala e não é um ser que escreve” e que, portanto, a língua se faz no

uso e não por regras predeterminadas.

Sem querer elevar a oralidade a um patamar superior ao da escrita, o autor

explica como ambas têm sua importância e papel social definido e que,

portanto, consistem de dois tipos diferentes de “modalidades de uso da língua”,

não sendo uma nem melhor e nem pior que a outra, apenas que uma é mais

adequada para determinadas situações, enquanto a outra tem diferentes usos.

Desta maneira devemos escolher qual usar mediante a situação

apresentada, como, por exemplo, o âmbito escolar.

Atividades da fala na escrita:

Texto 1

O jogador

24

Porque o pai dele tinha sido jogador de futebol. E o avô tinha sido jogador de futebol.

E o bisavô tinha sido jogador de futebol. E o avô do tataravô também. Então esse

jogador de futebol era jogador porque os seus pais mandaram ele seguir o exemplo dos

outros homens da família.

Ele morava perto de uma escolinha de futebol. Ali na vizinhança todos os meninos

freqüentavam a escolinha. Mas também os meninos jogavam vôlei. Então, já que tinha

que ser jogador, ele jogava vôlei. A vida de um jogador era animada. E divertida. E

contrariava a tradição.

Texto 2

A gente nasce, cresce, se desenvolve. Daí, chega um momento muito sério na vida.

A gente tem de escolher a profissão que vai exercer, né. Qual será a profissão ideal para

eu seguir? E, quando isso ocorre é necessário pensar muito, mas muito mesmo, na

questão, né? Então, o importante é a gente fazer realmente aquilo que a gente gosta, né,

e não aquilo que os outros querem que a gente faça. Knauer

25

Atividade

Reescreva esses textos, retirando as marcas da fala e fazendo as adequações necessárias,

a fim de melhorar o entendimento do mesmo.

Linguagem verbal

O que é linguagem? É o uso da língua como forma de expressão e

comunicação entre as pessoas. Agora, a linguagem não é somente um

conjunto de palavras faladas ou escritas, mas também de gestos e imagens.

Afinal, não nos comunicamos apenas pela fala ou escrita, não é verdade?

Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem a analogia com o

verbo. Você já tentou se pronunciar sem utilizar o verbo? Se não, tente, e verá

que é impossível ter algo fundamentado e coerente! Assim, a linguagem verbal

é aquela que utiliza de palavras, quando se fala ou quando se escreve.

Atividades sobre a linguagem verbal

l. Marque as situações em que a comunicação se dá predominantemente pela linguagem

verbal:

* Um espetáculo de mímica.

* Um concerto de piano.

* Um discurso de um político.

* Uma exposição de pintura.

* Uma conversa entre amigos.

2. Que tipo de linguagem predomina nas situações que você não marcou?

26

Linguagem formal e informal

Todas as variedades (a variedade padrão, as variedades regionais,

estilísticas) podem se apresentar de modo formal ou informal. O uso da

variedade padrão ou de outra variedade, as expressões regionais, gírias,

jargões e os graus de formalidade e informalidade dependem do contexto, da

situação de comunicação.

A maneira mais elaborada de falar ou escrever é chamada linguagem

formal. A linguagem formal é mais usada na escrita e em situações orais

formais, como palestras, seminários entrevistas de alguns tipos de emprego,

entre outras.

A maneira mais simples e descontraída de falar ou escrever é chamada de

linguagem informal. Nós a usamos quando temos mais intimidade com nosso

interlocutor ou quando queremos nos aproximar dele. Ex: E aí tudo bem?

Podemos usar uma linguagem menos ou mais formal, de acordo com a

situação e a pessoa com quem interagimos.

Atividades de linguagem formal e informal

Texto:

Esse negócio de falar na televisão deixou a gente nervoso demais e a professora teve

que bater o caderno na mesa, várias vezes, para poder continuar a aula de matemática. E

aí a repórter abriu a porta de classe junto com o diretor e as pedagogas.

- Sentados! – o diretor falou. – Alunos, é uma grande honra para a nossa escola

receber a visita da repórter Solange que, pela magia da televisão, fará as palavras de

vocês repercutirem em milhares de lares. Estou certo de que vocês serão sensíveis a essa

27

honra e estarão imbuídos de um sentimento de responsabilidade respondendo as

perguntas corretamente e fazendo silêncio para ouvir os colegas.

Knauer

1. Responda com base no texto:

a) O narrador e o diretor estão usando a mesma língua?

b) Qual dos dois usa uma linguagem mais elaborada?

c) Qual dos dois fala de maneira mais simples, descontraída?

2. Escreva qual seria a linguagem mais adequada para ser usada em cada uma das

situações:

a) Um discurso do presidente da República.

b) Um bilhete de um amigo para outro.

c) Uma conversa entre colegas, no recreio.

d) Uma entrevista de emprego.

ENTREVISTA

É uma conversa entre duas ou mais pessoas, onde algumas questões são

levantadas para obter informações. Segundo Marcuschi(2000):

“Há eventos que parecem entrevistas por sua estrutura geral

de perguntas e respostas, mas distinguem-se muito disso. É o

caso da tomada de depoimento na justiça ou do inquérito

policial. Ou então um exame oral em que o professor pergunta

e o aluno responde. Todos esses eventos distinguem-se em

28

alguns pontos (em especial quanto aos objetivos e a natureza

dos atos praticados) e assemelham-se em outros”.

Segundo Marcushi, pode-se dizer que o gênero entrevista possui itens gerais

comuns a todos os gêneros entrevista. Como: a sua estrutura será sempre

caracterizada por perguntas e respostas, envolvendo pelo menos dois

indivíduos; o papel do entrevistador caracteriza-se por abrir e fechar a

entrevista, fazer perguntas, pedir a palavra ao outro, orientar na transmissão de

informação, introduzir novos assuntos, orientar e reorientar; já o entrevistado

responde e fornece informações pedidas; gênero oral, podendo ser transcrito

para ser publicado em revistas, jornais ou sites.

O professor pode trabalhar com os estudantes algumas características como

a postura e a ética do entrevistador. Vasconcelos (2007) nos esclarece quanto

ao respeito sobre o que foi proferido pelo(s) entrevistado(s), ou seja, mesmo

que o material original passe por um processo de editoração, o entrevistador

precisa cuidar para não desvirtuar as informações dadas pelo(s)

entrevistado(s). O autor também nos apresenta algumas outras questões

relevantes de serem estudadas, como: - autorização para gravar ou registrar os

dados da entrevista; respeito ao entrevistado e a sua cultura; distância audível

entre entrevistado e entrevistador; adequação do vocabulário; e

postura/imagem corporal do entrevistador.

29

ATIVIDADES DE ENTREVISTA

1. Fazer uma entrevista que tenha como objetivo coletar dados para

uma transcrição escrita de acordo com as regras da análise da

conversação. O assunto poderia ser algo do momento nos meios de

comunicação, ou o uso da gíria. Formular 10 perguntas, com o

auxílio do professor, para a secretária da escola. Use as informações

do quadro da p. 29.

2. Fazer uma entrevista sobre filmes favoritos e filmá-la para mostrar as

marcas não verbais da conversação. Depois, transcreva-a retirando

essas marcas. (10 perguntas)

3. Entrevistar o colega próximo sobre os livros que falam de vampiros e

mostrar para a classe o resultado. Formular 10 perguntas com o

auxílio do professor. Preserve as marcas da oralidade.

4. Editar a entrevista para publicá-la no mural da escola agora sem as

marcas de oralidade.

OCORRÊNCIA SINAIS EXEMPLIFICAÇÃO

Segmentos ou palavras

incompreensíveis

ou ininteligíveis

( ) ) bora gente... tenho aula... ( )

daqui

Hipótese do que se ouviu (hipótese) (estou) meio preocupado (com o

gravador)

Truncamento de palavras ou

desvio sintático

/ / eu... pre/ pretendo comprar

Entoação enfática (ênfase) MAIÚSCULA porque as pessoas reTÊM moeda

Alongamento de vogal ou

consoante :(pequeno)

::(médio)

:::(grande)

eu não tô querendo é dizer:: é: o

eu fico

até:: o: tempo todo

Silabação _ Do-minadora

Interrogação ? e o Banco... Central... certo?

30

Qualquer pausa ... são três motivos... ou três razões

Comentários descritivos do

transcritor ((minúscula)) M.H... é ((rindo))

Comentários que quebram a

seqüência

temática da exposição; desvio

temático

– – – – ... ... a demanda de moeda – –

vamos dar essa

notação – – demanda de moeda

por

motivo...

Superposição de vozes

[

H28. é... existe... [você...

M33. [pera aí... você acha...

Simultaneidade de vozes [[ mas eu garanto

H28 [[ eu acho é...

Citações ― ― ―mai Jandira eu vô dize a Anja‖

– Símbolos utilizados na transcrição de textos orais

FONTE: KOCH (1992, p. 73-74); DIONÍSIO (2001, p. 76)

DE OLHO NAS CRIANÇAS

Exercícios físicos! Quando começar? Entrevista com Dr. Turíbio Leite de Barros Neto

O médico fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, do São Paulo Futebol Clube, é um dos profissionais mais respeitados em sua área de atuação. Nesta entrevista exclusiva , ele aborda as atividades físicas e os benefícios que delas podemos extrair.

Revista: Qual é a melhor idade para iniciar atividades físicas?

Turíbio Leite: Essa pergunta na minha infância e talvez na dos leitores que estão na faixa dos quarenta anos não teria razão de ser. Trinta anos atrás não se falava na necessidade da criança fazer esporte. Naquela época, a atividade esportiva, que eu prefiro chamar de atividade física, era uma coisa absolutamente espontânea, até porque a criança tem, por natureza, uma atividade física espontânea. Antigamente, essa espontaneidade se manifestava nas brincadeiras ativas, que por serem atividades físicas completas satisfaziam plenamente as necessidades da criança.

Revista: Hoje, com os espaços diminuindo...

Turíbio Leite: Sim, tanto o espaço a que a criança está restrita - às vezes dentro da casa onde mora, muitas vezes um apartamento pequeno com uma área comum que é um playground minúsculo - como a falta de

31

espaços como os que tínhamos antigamente, árvores para subir, terrenos baldios para jogar futebol. Além disso, temos a insegurança de a criança poder sair na rua para brincar com os amigos como se fazia antigamente.

Revista: Era o contrário do que temos hoje.

Turíbio Leite: Lembro que naquela época a preocupação que minha mãe tinha era que eu fizesse exercício em excesso. Hoje, temos uma situação completamente invertida, e a criança é uma vítima disso. Por isso, é necessário estimulá-la a praticar uma atividade física e isso é visto hoje, muitas vezes, como uma verdadeira obrigação do pai e do educador. Assim, a questão da idade ideal não deve ser vista de uma maneira rígida porque, apesar daquela espontaneidade talvez não ser mais possível, o que é absolutamente necessário é que a criança manifeste a sua preferência.

Revista: O que acaba acontecendo...

Turíbio Leite: Não há dúvida nenhuma de que a criança sempre escolhe aquilo para o qual ela se sente mais inclinada. Em nenhuma hipótese a criança dirá "quero praticar tal esporte" e o pai ou educador consultará uma tabela ou obra de referência que dirá "não, pela sua idade isso é incompatível".

Você poderá encontrar essa entrevista na íntegra no site:

www.alobebe.com.br/site/revista/reportagem

Atividades

Ler a entrevista do Dr. Turíbio Leite e fazer os exercícios a seguir:

1. Com o auxilio do professor, pedir que os alunos formulem de 8 a 12

perguntas, para entrevistar o professor de Educação Física sobre “exercícios

físicos”.

2. Fazer uma entrevista com 10 alunos da escola para saber que tipo de

exercícios físicos, eles praticam.

3. Praticar, formulando umas 10 perguntas que deverão ser feitas para os

colegas da classe, pais, comunidade, professor e diretor para perceber os

diferentes níveis de formalidade, a respeito dos exercícios físicos.

Entrevista: Jarbas Vasconcelos

O PMDB é corrupto

32

A ideia de que parlamentares usem seu mandato preferencialmente para obter

vantagens pessoais já causou mais revolta. Nos dias que correm, essa noção

parece ter sido de tal forma diluída em escândalos a ponto de não mais tocar a

corda da indignação. Mesmo em um ambiente político assim anestesiado, as

afirmações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos, de 66 anos, 43 dos quais

dedicados à política e ao PMDB, nesta entrevista a VEJA soam como um libelo de

alta octanagem. Jarbas se revela decepcionado com a política e, principalmente,

com os políticos. Ele diz que o Senado virou um teatro de mediocridades e que seus

colegas de partido, com raríssimas exceções, só pensam em ocupar cargos no

governo para fazer negócios e ganhar comissões. Acusa o ex-governador de Pernambuco: "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção".

Revista Veja: O que representa para a política brasileira a eleição de José Sarney para a presidência do Senado?

Jarbas Vasconcelos: É um completo retrocesso. A eleição de Sarney foi um

processo tortuoso e constrangedor. Havia um candidato, Tião Viana, que, embora

petista, estava comprometido em recuperar a imagem do Senado. De repente,

Sarney apareceu como candidato, sem nenhum compromisso ético, sem nenhuma

preocupação com o Senado, e se elegeu. A moralização e a renovação são

incompatíveis com a figura do senador.

Revista Veja: Mas ele foi eleito pela maioria dos senadores.

Jarbas Vasconcelos: Claro, e isso reflete o que pensa a maioria dos colegas de

Parlamento. Para mim, não tem nenhum valor se Sarney vai melhorar a gráfica, se

vai melhorar os gabinetes, se vai dar aumento aos funcionários. O que importa é

que ele não vai mudar a estrutura política nem contribuir para reconstruir uma

imagem positiva da Casa. Sarney vai transformar o Senado em um grande Maranhão.

Revista Veja: Como o senhor avalia sua atuação no Senado?

Jarbas Vasconcelos: Às vezes eu me pergunto o que vim fazer aqui. Cheguei em

2007 pensando em dar uma contribuição modesta, mas positiva – e imediatamente

me frustrei. Logo no início do mandato, já estourou o escândalo do Renan

(Calheiros, ex-presidente do Congresso que usou um lobista para pagar pensão a

uma filha). Eu me coloquei na linha de frente pelo seu afastamento porque não

concordava com a maneira como ele utilizava o cargo de presidente para se

defender das acusações. Desde então, não posso fazer nada, porque sou um

dissidente no meu partido. O nível dos debates aqui é inversamente proporcional à preocupação com benesses. É frustrante.

Revista Veja: O senador Renan Calheiros acaba de assumir a liderança do PMDB...

Jarbas Vasconcelos: Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser

senador, quanto mais para liderar qualquer partido. Renan é o maior beneficiário

desse quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem.

Revista Veja: O senhor é um dos fundadores do PMDB. Em que o atual partido se parece com aquele criado na oposição ao regime militar?

Jarbas Vasconcelos: Em nada. Eu entrei no MDB para combater a ditadura, o

partido era o conduto de todo o inconformismo nacional. Quando surgiu o

33

pluripartidarismo, o MDB foi perdendo sua grandeza. Hoje, o PMDB é um partido

sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes

regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos.

Revista Veja: Para que o PMDB quer cargos?

Jarbas Vasconcelos:Para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o

prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas

pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações

dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.

Revista Veja: Quando o partido se transformou nessa máquina clientelista?

Jarbas Vasconcelos: De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia

pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB

será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. Não

terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado.

Leia essa entrevista na íntegra no site:

http://veja.abril.com.br/180209/entrevista.shtml

Depois de ler as duas entrevistas (com Jarbas Vasconcelos e com o Dr.

Turíbio Leite), analise os seguintes elementos: Separe em duas colunas

analisando uma entrevista, depois a outra.

_ A qual público se destina o conteúdo de cada entrevista?

_ Quem é o entrevistado e por que ele pode ter sido entrevistado?

_ Quem é o entrevistador?

_ Quando essa entrevista foi produzida? Onde circulou?

_ Realize uma descrição do lugar em que ocorreu a entrevista.

_ Na entrevista analisada, percebe-se a predominância de qual linguagem, formal ou

informal? Transcreva algum trecho da entrevista que possibilita essa análise.

34

O professor pode fazer esse trabalho em grupo, o resultado pode ser exposto e

discutido entre os demais estudantes. Ao término dessa atividade, o professor tece seus

apontamentos avaliativos diante da atividade apresentada pela turma, elencando outras

características não percebidas pelos estudantes ou aprofundando algum elemento que

tenham tratado superficialmente.

No que tange à atividade de leitura, o professor pode trazer para a sala de aula textos

do gênero, impresso e televisivo, para que possa explorar as marcas lingüísticas, a

estrutura do gênero e o contexto de produção, a postura do entrevistador, além de outros

pontos que considere relevantes.

Para estudar esse gênero, é importante que os estudantes vivenciem o papel de

entrevistador e entrevistado, pois é nesse jogo de papéis sociais que eles podem

encontrar informações para aprenderem o funcionamento da linguagem. Para um

reconhecimento a respeito do gênero é necessário um questionamento como:

_ Quem já assistiu a uma entrevista? Onde ela foi veiculada?

_ Vocês lembram quem era a pessoa entrevistada e quem era o entrevistador?

_ Por que essa pessoa foi entrevistada? Sobre o que falava? Era uma entrevista oral ou

escrita?

_ Em sua opinião, como deve ser organizada uma entrevista? Quais elementos

caracterizam o gênero entrevista?

_ Qual a função social de uma entrevista?

Leia a entrevista que mostra as marcas da oralidade:

A professora pede que os alunos entrevistem a senhora mais velha da

comunidade para saber como eram os cinemas.

35

Um aluno sabe onde mora uma senhora chamada Gertrudes, vai até a casa

dela e pede-lhe uma entrevista.

Aluno: uhnn uhnn... Dona Gertrudes, como é que senhora descreveria um

cinema... com todos os elementos assim que compõem o cinema?

Gertrudes: como você diz descrever um:: um um filme?

Aluno: não o cinema em si o local o cinema...

Gertrudes: eu não entendi a pergunta

Aluno: o interior do cinema do que que se compõe o cinema? Na hora que a

senhora en::tra antes de entrar:: o que que aconte::CE eu gostaria que a

senhora me dissesse como se a senhora fosse entrar no cinema tá?... então a

senhora o que que a senhora faz primeiro? A senhora chega no cinema vai

para onde? Faz o quê?

Gertrudes: certo eu acho que o o o antigamente os cinemas... o ambiente

era era outro... a gente ia ao cinema e tinha uns ótimos eu acho que aGOra o::

o pessoa::] sei lá eles vão de qualquer jeito ao cinema do jeito que estão:: eles

emendam saem do trabalho vão ao cinema saem da escola vão ao cinema

quer dizer éh éh a gente encontra no cinema no ah ah ah para assistir um filme

vários éh grupos de pessoas de de de de várias camadas você encontra

estuDANte você encontra pessoa da iDAde eu acho que eh o cinema perdeu

muito por causa da televisão... agora se você pergunta o que eu acho quando

eu entro no cinema eu entro...

Aluno: não antes de entrar no cinema a senhora... o que que acontece? O

que a senhora faz?

Gertrudes: bom adquiro o bilhete para entrar

Aluno: uhn

Gertrudes: entramos... x: a eu acho que éh o:: ... os cinemas... são:: você vê

as poltronas bem acomodadas senta-se assiste-se um filme BEM acomodado

36

os cinemas que nós conhecemos mas eu acho que eram::... uns cinemas

assim bem::... bem construídos... agora só têm nos shoppings, era um

ambiente:: muito assim:: requintado hoje já não é mais.

Aluno: Obrigado pela entrevista.

Knauer

Atividade

1. Pedir que os alunos façam uma entrevista com 10 perguntas, orientadas

pela professora, para a bibliotecária da escola a respeito do seu fundador

da mesma. Apresentar para a classe a entrevista com as marcas da

oralidade. Depois todos juntos vão retirar as marcas da oralidade.

2. Os alunos deverão reescrever a entrevista da “professora com o aluno”,

retirando as marcas da oralidade.

37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PRETI, Dino. Estudos de Língua Falada: variações e confrontos. 1ª edição. São Paulo. Humanitas, publicações. 1999. CAMARA Jr., J. Mattoso. Manual de expressão oral& escrita. 26ª edição. Petrópolis. Editora Vozes. 2009. PRETI, Dino. Estudos de língua oral e escrita. 1ª edição. Rio de Janeiro. Editora Lucerna. 2006.

MARCUSCHI, L.A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In. DIONÍSIO, A.P; MACHADO, A.R; BEZERRA, M.A. (Org) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro, Lucerna, 2003.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da conversação.Luiz Antônio Marcuschi.

1991- São Paulo: Ática

STEINBERG, Martha. Os elementos não–verbais da conversação (Martha

Steinberg. 1 ed – São Paulo: Atual,1988.