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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

O JORNAL COMO SUPORTE DE SENTIDOS PARA

ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA

Artigo produzido para atividades do PDE -

Programa de desenvolvimento Educacional

do governo do Paraná. Disciplina de

Língua Portuguesa.

Professora Giovana Vieira da Rosa

Orientadora Jane Kelly Oliveira

PONTA GROSSA

2011

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1. RESUMO

O artigo relata as experiências do trabalho com o suporte jornal e seus mais variados

gêneros textuais em uma turma de uma 5ª série, do colégio Estadual 31 de Março, na

cidade de Ponta Grossa, PR. O trabalho desenvolvido Mostra a interferência da cultura

de massa na educação, bem como ressalta que o uso do jornal em sala de aula é um

instrumento de reflexão e de ensino da leitura e da escrita.

Palavras-chave: leitura – escrita – letramento – gêneros textuais - jornal

ABSTRACT

The article reports the experiences of working with the newspaper support and its varied textual genres in a class of the 5th grade, in the State school “31 de Março” in the city of Ponta Grossa, PR. The work shows the influence of mass culture in education and emphasizes that the use of newspapers in the classroom is a tool for reflection and the teaching of reading and writing.

Keywords: Reading - Writing - Literacy – Textual genres – Newspaper.

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2. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento deste trabalho é decorrência de uma política pública do

governo paranaense que propõe e viabiliza o diálogo entre os professores da Educação

Superior e os da Educação Básica, através de atividades teórico-práticas orientadas,

tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática

escolar da escola pública paranaense.

O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, integrado às atividades da

formação continuada em Educação, disciplina a promoção do professor para o Nível III

da Carreira, conforme previsto no Plano de Carreira do Magistério Estadual, Lei

Complementar nº 103, de 15 de março de 2004. Tem como objetivo, proporcionar aos

professores da rede pública estadual, subsídios teórico-metodológicos para o

desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, e que resultem em

redimensionamento de sua prática.

Diante desta proposta, vinculei-me ao programa e, agora, apresento os resultados

dos dois anos de dedicação.

A finalidade deste artigo é a quem possa interessar que é possível, através da

utilização do suporte jornal, estabelecer critérios de seleção para a grande variedade de

informações que nos são propostas, uma vez que o jornal é uma mídia que veicula

textos que permitem a reflexão, facilitam o ensino da leitura e escrita, bem como

possibilitam ao aluno uma visão crítica sobre os acontecimentos.

O desafio maior está centrado na alfabetização, com base no letramento. Com

esse estudo, afirmo que, através de práticas educativas diferenciadas, é possível ensinar

o aluno a ler e a escrever dentro de um contexto que garanta o sucesso nas práticas

sociais.

E, de acordo com as Diretrizes Curriculares do Paraná, juntamente com a

fundamentação de alguns autores que defendem as práticas de leitura em sala de aula,

descrevo os conceitos de leitura e letramento, a fim de que possam subsidiar o trabalho

da escrita como prática social.

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Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (2008), a

leitura é um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas,

políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas. Ao ler, o indivíduo busca as suas

experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa,

cultural, enfim, as várias vozes que o constituem.

Desta forma, a atividade de leitura se efetiva a partir do momento em que há

compreensão dos significados e intenções do discurso.

Não é possível afirmar que toda pessoa alfabetizada tem condições de envolver-

se nas mais diversas práticas sociais no que se refere à leitura e escrita. De acordo com

Soares (2001), é fundamental que se observe o conjunto de práticas sociais ligadas à

leitura e escrita em que os indivíduos se envolvem em seus contextos sociais.

Tendo em vista que a escola é um dos locais onde se aprende, é fundamental

que, ao nela ingressar, o aluno possa fazer um elo entre os conhecimentos que adquire

nos mais diversos domínios com as práticas de letramento que a escola ensina.

Para Soares (1998), letramento é o estado ou condição de quem não só sabe ler e

escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e de escrita que circulam na sociedade

em que vive, conjugando-as com as práticas sociais de interação oral.

Um passo inicial para o desenvolvimento do projeto é identificar os eventos de

letramento dos alunos envolvidos. Para isso, foi aplicado um questionário para verificar

quais são as práticas mais comuns no que se refere à leitura e escrita. A partir disso,

pude perceber de forma mais objetiva as práticas mais comuns no grupo com o qual

trabalhei.

A seguir apresento alguns resultados de uma investigação preliminar realizada em sala

de aula.

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Eventos de letramento

Essa investigação foi realizada com alunos de 5ª série, de uma escola situada em

um bairro da cidade de Ponta Grossa-PR, em que os pais sabem da importância do

estudo, porém não se envolvem diretamente nas atividades escolares dos filhos, como,

por exemplo, ler junto com os filhos ou para os filhos, sentar para ajudar nas tarefas ou

pesquisas.

Os dados abaixo comprovam as práticas dos alunos (37 alunos) com as famílias,

que de alguma forma, envolvem o uso da escrita na leitura e produção de textos, o que

podemos afirmar que são exemplos de eventos de letramento.

O questionário, além de trazer informações sobre as práticas de letramento do

aluno e de suas famílias, também foi importante para traçar o perfil do grupo de alunos

e de sua classe social. Por exemplo, durante os questionários, ficou claro que a maioria

das famílias faz uso do caixa eletrônico raras vezes, apenas com avós e com a finalidade

de receber aposentadorias. Por meio desta resposta, pode-se fazer a inferência de que

vários estudantes moram com seus avós, porque os pais trabalham ou porque não têm

casa própria e, devido a essa necessidade da moradia, passaram a conviver no mesmo

terreno, várias famílias em pequenas construções.

As práticas de leitura deste grupo centram-se em dois núcleos, o religioso e o

econômico ligado às necessidades mais cotidianas. A prática de leitura em busca de

formação ou ampliação de saberes é deixada em segundo plano.

A leitura de panfletos de mercados para verificação de ofertas é uma prática de

letramento utilizada, assim como a leitura de livros relacionados à religiosidade é uma

prática constante. Os livros de receitas fazem parte da leitura das mães e também

representam uma prática ligada a uma necessidade imediata de leitura.

Por outro lado, a leitura de bulas de remédios, que poderiam trazer para o

paciente uma informação maior do que está ingerindo, não acontece, pois, conforme foi

dito durante as entrevistas, se o médico é quem receita, não há motivos para dúvidas.

E como já sabemos, a compreensão de um texto depende das circunstâncias de

leitura e fatores como conhecimento dos elementos lingüísticos, esquemas cognitivos,

bagagem cultural e as circunstâncias em que o texto foi produzido.

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Assim, pela maneira como o gênero bula ou qualquer outro texto é produzido,

permite uma exigência de conhecimentos do leitor, que deverá entender o texto como

legível. Para tanto, o tamanho das letras, a fonte, paragrafação longa ou curta,

abreviações fazem parte dos fatores materiais.

Já em relação aos aspectos lingüísticos, a compreensão poderá ser comprometida

em relação ao léxico, sintaxe, sinais de pontuação ausentes.

Tendo em vista os fatores apresentados, pode-se concluir que a não leitura do

gênero bula acontece devido à dificuldade de compreensão dos fatores materiais,

lingüísticos e de conteúdo.

Já os diários e papéis de carta cederam lugar aos e-mails, salas de bate-papo,

comunicadores instantâneos, blogs e redes sociais, ferramentas que aceleram o processo

de comunicação entre as pessoas, estabelecendo uma relação de influência com a

palavra e também resgata o valor do texto escrito.

Apesar de todas as práticas de leitura e escrita dos alunos, ficou evidente que as

famílias não têm o hábito de ler juntas, nem tampouco os pais fazem leituras para os

filhos ou sequer acompanham o andamento das tarefas escolares ou trabalhos

solicitados pela escola.

Depois deste primeiro momento em que foram diagnosticadas as práticas de

leitura do grupo, novas atividades foram propostas.

Uma das primeiras atividades proporcionou aos alunos o contato com o jornal.

Após a distribuição dos exemplares de jornais, os alunos foram instigados a classificar

as notícias como fáceis ou difíceis em relação à compreensão.

Um tempo foi concedido aos alunos e, depois, eles deram as suas opiniões, as

quais, eu apresento a seguir.

Os nomes apresentados são fictícios, bem como a ortografia foi corrigida e os

textos digitados.

Paulo: Muito difíceis, não entendi nada.

Cláudia: Achei todas difíceis.

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Ana: Nunca li jornal, não entendo o que eles escrevem.

Pedro: Acho jornal muito chato porque é só para adultos.

Diante dessas afirmações as primeiras atividades com o jornal foram muito

difíceis, pois não gostavam do material e não ficavam motivados, dispersavam a

atenção com facilidade.

Uma vez por semana os exemplares dos jornais eram distribuídos aos alunos e

novas propostas de atividades sugeridas, como leitura e criação de manchetes, produção

de classificados, interpretação das notícias, entre muitas outras atividades.

Na medida em que a turma foi se familiarizando com os gêneros textuais que

compõem o jornal, percebeu que não era um material apenas para adultos e cada vez

ficava mais envolvida com as leituras.

No laboratório de informática, com o objetivo de mostrar aos alunos que a

internet é um espaço de circulação de informações, foi proposta pesquisa em vários

jornais. Depois, os alunos fizeram comparações entre jornais a fim de que pudessem

comentar sobre os fatos ocorridos, a maneira como o jornal sensacionalista, por

exemplo, apresenta os fatos, diferenciando também o jornal escrito do telejornal.

Classificaram as notícias como fáceis ou difíceis de compreender, mostraram que

compreendem leituras imagéticas e as charges porque estão inteirados das informações

que circulam.

Com as atividades propostas, os alunos puderam perceber o jornal como um

instrumento para a contextualização e construção do conhecimento.

Em grupos, os alunos apresentaram em sala de aula várias edições de jornais

falados, que foram gravados e apresentados em sala, a fim de que pudessem avaliar a

oralidade e a escrita, bem como a oportunidade de comparar a linguagem utilizada nas

apresentações feitas por eles e nos telejornais, apresentados por profissionais do

jornalismo, e ainda, diferenciar a linguagem do jornal apresentado com o jornal escrito.

Chegando à conclusão de que a leitura elaborada é muito diferente da oralidade,

informalidade.

De acordo com discussões com a turma, houve relatos dos alunos revelando seus

pontos de vista em relação aos trabalhos realizados. Assim, o gênero textual oral

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também era avaliado, uma vez que os alunos não sabiam argumentar e tinham vergonha

de expor as suas ideias.

Paulo: A leitura do jornal deixa a pessoa bem informada.

Cláudia: Na televisão, o jornalista fala com uma linguagem formal e nas

entrevistas utilizamos a linguagem informal, mas para apresentar o jornal na sala para

a turma, nós lemos, então a nossa linguagem também ficou formal, diferente daquela

que usamos para conversas com amigos ou outras pessoas que conhecemos.

Ana: Eu gosto de ler o jornal porque fico sabendo das informações que estão

acontecendo no mundo.

Pedro: Eu gosto de mudar as notícias, transformar coisa ruim em coisa boa.

Através das atividades orais e escritas era possível perceber gradativamente o

crescimento intelectual dos alunos, que, através de atividades lúdicas, expressavam com

clareza suas opiniões, argumentavam favoráveis ou contra as notícias lidas,

reconheciam “erros” ortográficos no suporte jornal.

Também transformaram notícias em poemas jornalísticos, estudaram regiões do

Brasil, contribuições dos imigrantes, ensaiaram danças, desfiles com roupas de jornais.

Apresentaram as atividades no colégio e no teatro da cidade, em uma mostra cultural,

que ganharam uma exposição de fotos no jornal.

Os dados empíricos revelam que a interação com o texto escrito trata-se de uma

ação social.

Através deste diagnóstico é possível comprovar que a escola é um dos domínios

onde os alunos convivem com a leitura e escrita. E, assim, confirma-se o papel do texto

escrito nas atividades particulares.

Através desta proposta é possível fazer algumas reflexões sobre o ensino da

leitura na escola e a abordagem desta para as propostas de produções de texto.

De acordo com Angela Kleiman (2007), muitas vezes, o ensino da leitura reflete

uma pedagogia da contradição, em que o texto é fragmentado a fim de que se aprenda a

perceber o todo, procura-se fazer com que o aluno responda de acordo com a visão do

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professor ou do autor do livro didático, e, pior, essa escola espera um leitor crítico e

participativo.

Por essas razões, certos conceitos como indisciplina, falta de leitura, alfabetismo

funcional, exigem reformulações e práticas diferenciadas de trabalho, afinal, apontar

culpados não resolverá a situação, muito pelo contrário, continuaremos trabalhando com

turmas que aparentemente estão estudando, lendo e produzindo, porém, textos de

opiniões, sem ter formado uma opinião; interpretando sem ter liberdade; e até sem

leitura e compreensão, pois não percebem a sua função sociocultural.

Então, cabe à escola fornecer instrumentos para que o aluno tenha condições de

compreender informações. E uma leitura de textos informativos, sem que o aluno tenha

condições de progredir no entendimento da sua argumentação, sem posicionar-se ou

definir-se diante das idéias apresentadas, trará sérios prejuízos para a produção de textos

orais e escritos, bem como reprodução de ideias alheias, o que não é desejável para a

formação de um cidadão que possa atuar criticamente na sociedade.

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Benefícios do jornal na escola

O jornal é um importante veículo de formação de leitores, beneficia os alunos e

propõe uma leitura profunda de seus conteúdos, de modo que permite que seus leitores

possam fazer parte de uma cidadania consciente e ética.

A escola, que desenvolve trabalhos de forma sistematizada, é capaz de utilizar

esse veículo de comunicação a favor da população, pois o leitor proficiente terá

condições de fazer sua análise crítica, principalmente se utilizada como na proposta

deste trabalho, ou seja, lançando mão de vários veículos e fazendo comparações, de

modo a desenvolver a opinião do aluno sobre as características específicas de cada

imprensa.

Enquanto lê, o aluno está em contato com a língua materna viva. Os diversos

gêneros textuais que traz o jornal proporcionam o acesso ao conhecimento lingüístico,

semântico, ortográfico, entre outros. Livra o professor de um conceito de autoritarismo,

dominador e detentor do saber, pois viabiliza o diálogo, o debate, enfim, a liberdade de

expressão.

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Afinal, escrever para quem

A escola precisa perceber que a escrita é tão interativa quanto a fala. Por essa

razão, quando um aluno escreve, é fundamental que o outro retribua com uma resposta.

E esse outro não precisa ser necessariamente o professor de língua portuguesa. Assim,

toda produção de texto exige parcerias, comunhão de ideias, intenções, informações, a

fim de que se alcance o objetivo maior que é a interação com o outro.

As atividades realizadas apresentaram um resultado satisfatório em relação ao

desenvolvimento dos alunos no que se refere à leitura e escrita, devido a uma visão

interacionista no ato da escrita, ou seja, por mais que interlocutor não esteja presente,

quem escreve sabe que escreve para alguém.

Conforme lembra Bakhtin (1995, página 91 ):

Toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém como pelo fato de que se dirige para alguém. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia em mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor.

É inegável que a escrita está presente em todas as atividades

sociocomunicativas, nos mais variados contextos sociais. E é de fundamental

importância que a escola realize com seus alunos atividades significativas de escrita.

Uma vez que não poderemos insistir numa prática de escrita em que não haja leitor. Ou

ainda, escrita de frases soltas ou palavras sem um propósito, pois não há grupos sociais

que utilizam a palavra para nada dizer.

Por isso, uma escrita sem função, é apenas um exercício mecânico, inexpressivo,

que jamais estimulará alguém e se esgota nos reduzidos limites escolares. O aluno

precisa entender que escreve textos com uma função social determinada, por isso, a

maneira diferente de escrever sempre ganha sentido, pois decorre das diferentes funções

que o texto tem a cumprir. Quando o aluno tem o conhecimento e a consciência de que

escreve para um determinado leitor ou exerce uma função, saberá o que escrever e a

maneira como irá desenvolver sua escrita.

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Portanto, o hábito de escrever e receber o texto para reformular deve ser uma

prática constante na escola, mesmo que textos curtos, mas que tenham oportunidade de

revisar várias vezes a mesma produção, a fim de perceber que a competência da escrita

não se resume apenas ao domínio da ortografia, mas a um conjunto de regras que

tornará o texto harmonioso e eficaz para o fim ao qual se destina.

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JORNAL: mais que uma leitura

Além de transmitir informações, o suporte jornal seduz o leitor a outros gêneros

textuais, conduzindo-o a outras formas de conhecimento.

As imagens abaixo denunciam que é possível brincar com as informações e

simultaneamente, convencer, persuadir sem refutar as informações da vida cotidiana.

Apresentação de um desfile com roupas confeccionadas com jornais

Produção de textos a partir de notícias do jornal

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Leitura e discussão dos textos do jornal

Encerramento das atividades com o suporte jornal

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Depoimento

Tendo em vista que o mercado torna-se cada vez mais competitivo, é função de

cada cidadão cumprir um único destino, que é buscar o conhecimento através dos mais

variados recursos. Com essa visão, através deste trabalho, utilizando o suporte jornal,

procurei oportunizar a esses alunos uma leitura dinâmica, despertando sempre a

capacidade de criação, solução de problemas, falar e escrever sem o medo de errar,

porém, com a consciência de que há uma linguagem monitorada, sim e que,

seguramente é uma linguagem de prestígio.

Essa turma demonstrou interesse em todas as atividades. E hoje, são alunos da 6ª

série, considerados, por outros profissionais da educação, críticos, criativos, com raros

problemas de indisciplina.

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REFERÊNCIAS

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FIORIN, José L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.

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LOZZA, Carmem. Escritos sobre jornal e educação: olhares de longe e de perto. São Paulo: Global, 2009

NEVES, Iara C. B. Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: UFRG, 1998.

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ROJO, Roxane (org). Alfabetização e Letramento: Perspectivas Lingüísticas. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2009.

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TERZI, Silvia. A construção da escrita. Campinas: Mercado das Letras, 1995.

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KLEIMAN, Ângela B. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da leitura. 9ª Ed. Campinas: Pontes, 2004.

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