Créditos - Instituto Arte na...

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PINTURAS PRÉ-HISTÓRICAS

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Silvia Sell Duarte Pillotto

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Pinturas pré-históricas / Instituto Arte na Escola ; autoria de Silvia Sell Duarte

Pillotto ; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo :

Instituto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 116)

Foco: PCt-A-2/2006 Patrimônio Cultural

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-98009-87-3

1. Artes - Estudo e ensino 2. Arte rupestre 3. Arqueologia I. Pillotto, Silvia

Sell Duarte II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV. Título V. Série

CDD-700.7

DVDPINTURAS PRÉ-HISTÓRICAS

Ficha técnica

Gênero: Documentários com depoimentos e imagens do Mu-seu do Homem Americano e do Parque Nacional Serra daCapivara.

Palavras-chave: Patrimônios ambientais; sítios arqueológicos;heranças culturais; arte rupestre; educação patrimonial; histó-ria do Brasil; arqueologia; geografia; narrativa.

Foco: Patrimônio Cultural.

Tema: As pinturas rupestres e o meio ambiente do ParqueNacional Serra da Capivara.

Artistas abordados: Povos primitivos.

Indicação: A partir da 1ª série do Ensino Fundamental.

Direção: Fundação Museu do Homem Americano, SãoRaimundo Nonato, PI.

Realização/Produção: Fundação Museu do Homem America-no, São Raimundo Nonato, PI.

Ano de produção: 2000.

Duração: 7’.

SinopseO documentário apresenta as pinturas pré-históricas encon-tradas no Parque Nacional Serra da Capivara no Piauí, umPatrimônio Cultural da Humanidade. Existem, hoje, vestígiosdessas pinturas espalhados pelos mais de quatrocentos síti-os arqueológicos. As numerosas marcas de queda das cama-das das paredes são evidências de que foram pintadas den-samente. As pinturas são como narrativas, pois nos permitemreconhecer ações da vida cotidiana e cerimonial dos povos da

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pré-história, uma documentação visual conhecida como tradi-ção nordeste.

Trama inventivaObras de arte que habitam a rua, obras de arte que vivem nomuseu. Um vestígio arqueológico que surge em um desertode pedra, das cidades como ruínas. Bens culturais, materiaise imateriais se oferecem ao nosso olhar. Patrimônio de cadaindivíduo, memória do coletivo. Representam um momento dahistória humana, um marco de vida. Testemunho da presençado ser humano, seu fazer estético, suas crenças, sua organi-zação, sua cultura. Se destruídos, empobrecemos. Quandoconservados, enriquecemos. Patrimônio e preservação são,assim, quase sinônimos. Na cartografia, movemos estedocumentário ao território Patrimônio Cultural, para nosorgulharmos das realizações artísticas e encontrarmos nelasnossas heranças culturais.

O passeio da câmera

Pelos céus, a câmera sobrevoa a paisagem do Parque NacionalSerra da Capivara no Piauí e vai, aos poucos, nos aproximandodos sítios arqueológicos, onde podemos ver as pinturas pré-históricas.

A narradora, pausadamente, nos fala da tradição nordeste edos seus estilos, nos aponta detalhes das cenas da vida cotidi-ana e dos rituais presentes nas pinturas de mais de quatrocen-tos sítios arqueológicos existentes na região.

As obras da pré-história brasileira, pesquisadas e preservadascuidadosamente pela Fundação Museu do Homem Americanoem São Raimundo Nonato/PI, nos convocam para proposiçõespedagógicas que cercam o Patrimônio Cultural. Outros terri-tórios também são abordados, como você pode visualizar nomapa potencial.

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Sobre as pinturas pré-históricas no

Parque Nacional Serra da CapivaraHá 50 mil anos, quando as primeiras populações chegaram à região

do Parque Nacional Serra da Capivara, acharam nas paredes da

cuesta numerosos abrigos sobre rocha. Essas superfícies rochosas

foram suportes nos quais, durante milênios, as populações registra-

ram com pinturas e gravuras mensagens que transmitiram às su-

cessivas gerações, explicações sobre as origens do mundo e da vida.

Antes mesmo de inventar alfabetos, o ser humano expressa

e interpreta o mundo em que vive pela linguagem da arte.

Desde os primórdios da humanidade até os grafites de hoje,

são as paredes os suportes para o registro de vida, de so-

nhos, de muitas histórias. Em todos os continentes, há dese-nhos e pinturas sobre pedra, com exceção da gélida Antártida.

Mais do que uma reprodução dos animais selvagens reais, os de-

senhos e pinturas da arte rupestre nos falam da sensibilidade vi-

sual e da capacidade de abstração do homem pré-histórico. (...)

São imagens poéticas que expressam a sua percepção daquele

mundo, orientada pela sua imaginação. As imagens retidas nas

paredes da caverna revelam um conhecimento que o homem cons-

truiu daquele mundo. 1

As grutas de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha, sãoas mais famosas. Em 1994, a caverna de Chauvet é descober-ta na França, com pinturas de cavalos realizadas há 30 mil anos.Como nossa cultura artística centra-se no passado europeu,pouco se conhece de nossas pedras lascadas2 ou da arte pré-histórica brasileira. O Parque Nacional Serra da Capivara, con-siderado Patrimônio Mundial pela Unesco desde 1991, tem amaior concentração conhecida dessa antiga manifestação cul-tural. Segundo Marcos Pivetta3 , “estima-se que haja cerca de60 mil figuras pintadas (ou gravadas) no parque”. A equipe deNiéde Guidon, que há 30 décadas estuda essa região, realizaas datações com métodos do carbono 14 e termoluminescência,evidenciando que algumas pinturas foram realizadas há 48 milanos atrás. Existem provas de que há 12 mil anos a prática

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rupestre era generalizada. O sítio do Boqueirão da Pedra Fura-da é considerado o mais importante das Américas, como umverdadeiro museu ao ar livre.

A pesquisa leva a classificações e hipóteses: “os arqueólogoscostumam agrupar pinturas e gravuras pré-históricas de estilo etemáticas semelhantes, feitas, muitas vezes, com a mesma téc-nica, numa unidade artística denominada tradição”4 . A tradiçãonordeste, encontrada nesse parque, é a mais antiga e complexa,subdividindo-se em estilos diferentes. A narrativa intensa datemática caracteriza o início do estilo Serra da Capivara, há 12mil anos atrás. Animais e figuras humanas são desenhados

por esses povos caçadores e coletores, que escolhem o

momento essencial do movimento representado. “Os temassão diversos, a caça individual é dominante, a sexualidade explíci-ta e diferenciada, a dança um tema que se repete com diferenças,da simplicidade e alegria do lúdico até a complexidade do cerimo-nial. A figura animal é privilegiada na representação gráfica: vea-dos, tatus, emas, onças e capivaras são as mais desenhadas”.

As pinturas rupestres sofrem uma transformação em torno de10 mil anos atrás. No decorrer de 2 milênios, as mesmastemáticas são trabalhadas com maior complexidade na ence-nação e na técnica de realização. Novas temáticas aparecemvinculadas à violência, com cenas de luta coletiva, captura deprisioneiros e execução, representadas com detalhe. As varia-ções encontradas fazem desse período uma fase de transição,compondo o complexo estilístico Serra Talhada.

Em torno de 8 mil anos atrás, se configuram as característicasda fase final. Figuras individuais, ornadas com cocares evestimentas diferenciadas e coloridas, marcam a fase estilísticafinal da tradição: o estilo Serra Branca.

As evidências da tradição nordeste desaparecem por volta de6 mil anos atrás, deixando um acervo visual de riqueza narra-tiva excepcional, em corpos de figuras e ações do passado quefalam através dos milênios. Talvez seja difícil perceber essesestilos, que exigem de nós um olhar muito apurado, mas, cer-tamente, podemos nos encantar com a sua singela expressão.

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Os olhos da arteAs pinturas do Piauí são classificadas pela Unesco como Patrimônio

da Humanidade, o mesmo título recebido pelas obras de arte do Museu

do Louvre, em Paris.

Niéde Guidon

Parque Nacional Serra da Capivara - A capivara, 2005

Pintura do sítio arqueológico Boqueirão da Pedra Furada

Foto: Mauri Luiz Bessegatto – Educador Patrimonial

Acervo: 19ªSR/IPHAN

Como as obras do Louvre, as pinturas da pré-história testemu-nham que somos seres de linguagem. Inventamos modos de ex-pressar nossas idéias, nossos medos, nosso cotidiano e decomunicá-los através de sistemas simbólicos. A nossa penetra-ção na realidade é sempre mediada por linguagens, como a verbal(escrita ou oral), a musical (música, canto), a cênica (teatro, dan-ça), a visual (desenho, pintura, fotografia, cinema), entre outras.Conhecer as obras de um passado mais remoto, ou as contem-

porâneas, nos permite descobrir nossa própria história, e por

isso merecem ser chamadas de patrimônio da humanidade.

Varine-Bohan5 divide o patrimônio cultural em três categorias: aprimeira é o patrimônio natural, a segunda é o conhecimento quepermite ao homem adaptar-se à primeira categoria (seus conhe-cimentos), e a terceira trata de tudo o que o homem produz noencontro das duas categorias anteriores (os artefatos). Desse

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modo, o patrimônio cultural está sob, sobre e dentro de nós; é eestá em toda a nossa cultura, e nem sempre o percebemos.

Para proteger essa riqueza da humanidade, é criado, em 1979,o Parque Nacional Serra da Capivara, sob a responsabilidadeda Fundação Museu do Homem Americano e do Ibama. Loca-lizado no sudeste do Piauí, pertence aos municípios de SãoRaimundo Nonato, Brejo do Piauí, Coronel José Dias e JoãoCosta. Mais de trinta sítios estão preparados para a visitação.Além das pinturas, lá estão fósseis de mastodontes e tigres-dente-de-sabre, além de uma bela mostra da caatinga.

Valorizar o patrimônio nacional exige ações, não só de pre-

servação das obras e da natureza que a cerca, mas também

de continuidade das escavações, estudo e pesquisa. Outro

ponto importante é a divulgação deste patrimônio - cultural,arqueológico e ecológico - com a criação de um centro cultural queenvolva um museu e um complexo turístico de apoio, incentivandoa educação patrimonial estendida a toda comunidade. Asustentabilidade da população vizinha é outra preocupação quegera ações relativas à saúde, à educação e à formaçãoprofissionalizante adequada às condições locais. A cerâmica, re-gistrando cenas ali encontradas, começa a ser também valoriza-da, promovendo um desenvolvimento equilibrado e respeitoso.

O que podemos conhecer mais sobre os patrimônios cultu-rais brasileiros?

Parque Nacional Serra da

Capivara - Pedra furada

Formação geológica

resultante de

processo erosivo

Foto: Mauri Luiz Bessegatto –

Educador Patrimonial

Acervo: 19ªSR/IPHAN

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O passeio dos olhos do professorA partir do documentário, você poderá adentrar nas questõesrelacionadas aos bens simbólicos e suas obras patrimoniais. Apauta do olhar abaixo é sugerida para você se colocar frente aodocumentário como um arqueólogo educador, iniciando seudiário de bordo.

O que você pode perceber da vida dos povos caçadores ecoletores que viviam na pré-história brasileira?

Quais pinturas chamaram mais sua atenção?

Quais aspectos relacionados à ecologia o ajudam a percebermelhor o seu próprio contexto?

O que seus alunos gostariam de ver no documentário? Quaisas referências que eles teriam para ler essas imagens?

Há algum sítio arqueológico em sua região? Em que aspectoo documentário pode contribuir para a sua educação patri-monial e a dos alunos?

Essas reflexões podem sinalizar significativas proposições pe-dagógicas. Quais caminhos poderiam ser interessantes parapercorrer com seus alunos?

Percursos com desafios estéticos

No mapa potencial, você pode visualizar diferentes trilhas. Pelasbrechas do documentário, sugerimos possíveis percursos de tra-balho, impulsionadores de projetos para aprender-ensinar arte,com a intenção de que você os recrie, transforme e invente.

O passeio dos olhos dos alunos

Algumas possibilidades:

Uma visita de estudos a um local da cidade e/ou da região,que tenha vestígios do passado, pode suscitar questões

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade

relações entre elementosda visualidade

linha, superfície, forma

composição, movimento, ausência de perspectivae proporcionalidade,repetição

figurativas: narrativa,vida cotidiana, animais,figuras humanas, rituais,dança, sexualidade

temáticas

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte arte rupreste

estética e filosofia da arte

arte como testemunho

sistema simbólico linguagem, código de signosde cada época/cultura

Linguagens Artísticas

meiostradicionais

pintura

artesvisuais

bens simbólicos

preservação e memória

patrimônios ambientais,sítios arqueológicos,patrimônio natural,cultura brasileira educação

patrimonial

educação ambiental, acesso,exercício de cidadania eresponsabilidade social,valorização do patrimônio

acervo de memória, heranças culturais,catalogação, conservação, restauração, documentação,preservação da natureza, IPHAN, memória coletiva

PatrimônioCultural

ConexõesTransdisciplinares

arte e ciênciashumanas

arte, ciênciae tecnologia

arte e ciênciasda natureza

história do Brasil, arqueologia,geografia, antropologia, iconografia

ecologia, meio ambiente, recursos naturais,ecosistema, tempos da natureza, natureza,animais, biologia, caatinga

informática, aparelhos científicos para datação

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sobre patrimônio cultural, memória, preservação, história eidentidades. Professores das disciplinas de história e geogra-fia podem ser bons parceiros nessa expedição, que preparapara a exibição do documentário. O que os alunos gostariamde investigar sobre o contexto local e seu patrimônio?

Objetos como utensílios, roupas, cartas, fotografias, etc.,que sejam considerados importantes na história da famíliados alunos, podem ser trazidos para a escola. Uma primei-ra leitura dos objetos será ampliada a partir do documentário,retomando as questões da estética do cotidiano, seja de umpassado muito longínquo, como a pré-história, ou mais re-cente. Novas leituras dos objetos provocam o aparecimen-to de novas idéias para a continuidade do projeto.

O que há de mais antigo em sua cidade? Os alunos podemresponder a essa pergunta, percebendo a dificuldade dedatação e as interpretações possíveis das histórias locais.O que eles imaginam que existe de mais antigo no Brasil?Será que lembrarão apenas do descobrimento? Essas ques-tões podem preparar para a exibição do documentário.

Outras idéias certamente serão inventadas para uma primeiraaproximação com o documentário, levando a conversaçõesanimadas pelas ações investigativas anteriores e pautadas pelasproblematizações interessantes à continuidade do projeto.

Ampliando o olhar

Quais as diferenças entre a arte rupestre realizada em dife-rentes locais no mundo? O que os alunos podem descobrir sobreos períodos da história da arte chamados de paleolítico eneolítico? A história da arte no Brasil começa pela arte coloni-al? “Hoje se pode dizer que, com exceção do litoral, não háregião do território brasileiro que não apresente em abundân-cia manifestações rupestres”6 . Imagens, livros, textos e ainternet podem ampliar o olhar. Cada equipe poderá apresen-tar, de forma inusitada, as informações coletadas (performance,mural, dramatização, música, poema, crônica, etc.).

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Imagens de sítios arqueológicos, de museus, de praças commonumentos, de parques podem provocar uma questão: porque esses lugares são chamados de patrimônios culturais?Um seminário pode socializar a pesquisa e as produções de-senvolvidas a partir das várias linguagens.

Seria oportuna a organização de uma expedição para a visitaa um patrimônio cultural, natural ou criado pelo ser humano,em sua região. Desenhos de observação, fotografia, filmagem,entrevistas e anotações podem gerar um grande painel visual.

As pinturas pré-históricas nos falam dos interesses, das pre-ocupações e da vida cotidiana dos povos caçadores e coleto-res que viviam no Brasil. Que signos os alunos utilizariam hojepara retratar seus interesses, preocupações e vida cotidia-na? Eles podem responder a essa pergunta utilizando váriaslinguagens das artes visuais.

Aprendemos que os primeiros homens chegaram às Américaspelo Estreito de Behring, vindos da Sibéria, mas há contesta-ções dessa antiga e reconhecida teoria. Sítios arqueológicosna América do Sul guardam indícios da ocupação humana eampliam questões. Na Lapa Vermelha IV de Pedro Leopoldo/MG, foi encontrado um esqueleto datado de 11000 a 11500anos, a chamada Luiza7 , com uma conhecida reconstituiçãofacial. Essas informações podem aguçar o olhar para rever odocumentário várias vezes, fazer anotações dos desenhos defiguras humanas, perceber o gesto que imortaliza cada açãorealizada. (É como um desenho de uma cena de futebol: a cri-ança sempre desenha o momento do gol ou da defesa!).

Os animais são representados de modo simplificado, mascaracterizam as espécies presentes no tempo pré-históri-co. A observação de animais reais pode levar a desenhosesquematizados que também caracterizem as várias espé-cies, ou a criação de objetos zoomórficos.

As pinturas rupestres sugerem que a paisagem e os costu-mes eram bem diferentes do que conhecemos hoje. Nopassado era uma extensa savana, com mastodontes, tatusgigantes e preguiças com densa vegetação. As primeiras

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pinturas que vemos no documentário são de um período deescassez da água, quando apenas os animais de pequenoporte se adequaram. Como isso pode ampliar a observaçãoda geografia de sua região?

Conhecendo pela pesquisa

O Parque Nacional Serra da Capivara é um excelente exem-plo de valorização e preservação cultural, pois abre espa-ço para a pesquisa e a visitação pública, viabilizando oacesso ao conhecimento e à cultura e nos colocando, decerta forma, frente a frente com nossas origens. Quaisquestões os alunos levantam sobre a arqueologia e o tra-balho dos arqueólogos?

A diversidade biológica da caatinga, com chapadas, planície ea cuesta, apresenta ecossistemas diferentes. Uma das carac-terísticas da caatinga é a estação seca, quando todas as plan-tas perdem as folhas. Outra, é a estação das chuvas, quandohá uma explosão de cores das folhas e flores. Investigar obrasde arte, buscando as diferentes paisagens, levará a diferentesmodos de representá-los, com preocupações naturalistas,expressionistas, idealistas, surrealistas ou mais abstratas.

As pinturas encontradas nas paredes das grutas e abri-gos rochosos se inserem, no contexto arqueológico, comoum tipo particular de vestígio, como um sistema de idéi-as de natureza sociocultural. A proposição pedagógicapode se tornar um jogo8 : assim como fazem paleon-tólogos, os alunos deverão procurar, pelas calçadas davizinhança, “pegadas” que foram deixadas no cimentoquando ainda estava úmido. O grupo deve registrar apegada utilizando-se de frottage (para isso, coloque umpapel sobre a pegada e esfregue com lápis de cera). Ainvestigação prossegue com o levantamento de hipóte-ses sobre: que tipo de animal deixou a marca (ser huma-no, gato, cachorro...), seu peso, tamanho, idade, seusmovimentos, a datação (considerando a calçada e o en-torno - o que é mais novo e mais antigo), a presença de

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outros vestígios como letras, números, desenhos, etc. Ogrupo que apresentar a melhor explicação científica so-bre as pegadas encontradas vence o jogo.

Outros sítios arqueológicos podem ser pesquisados: Lapade Boquete (Januária/MG), Lapa Vermelha (PedroLeopoldo/MG), além dos sambaquis do litoral, onde fo-ram encontradas as esculturas em pedra chamadaszoolitos (representações de animais) e antropolitos (dehumanos). A pesquisa também pode se ampliar para a arteindígena brasileira.

Com uma linguagem acessível às crianças, LucianoBuchmann, em seu livro: Entendendo museus, aborda ques-tões relacionadas à memória, conservação, preservação, ex-posição, catalogação e monitoria. Esses aspectos podemse tornar também temas de pesquisas, realizadas nos mu-seus e parques da sua cidade.

Ao final do projeto, organizar uma exposição se torna maisuma situação de aprendizagem. A turma pode ser divididaem pequenas equipes, como ocorre numa instituição culturalonde há tarefas definidas para cada profissional: selecionaro espaço expositivo, catalogar, desenvolver curadoria, criarconvite, etiquetas, preparar monitoria. Essa também é umaforma de interação entre a escola toda e a comunidade, bemcomo um processo de construção cultural.

Desvelando a poética pessoalA criação de uma série de trabalhos possibilita que o aluno,animado pela diversidade de questões trazidas pelo projeto,mergulhe em seu processo de criação, desvelando, assim,sua poética pessoal, seu modo singular de perceber/pensar/sentir o mundo.

Amarrações de sentidos: portfólio

Desde o início do projeto com este documentário, pode-se pro-por a organização de um portfólio que registre e guarde todas

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as investigações (artísticas, históricas, entrevistas, textos es-critos, fotografias) e produções realizadas. Além delas, os alu-nos podem escrever o que foi mais importante e quais foram asdificuldades durante toda a experiência. O que estudaram so-bre patrimônio cultural? O que poderia ainda ser estudado?

Valorizando a processualidade

A leitura de seu próprio portfólio, iniciado com o diário de bor-do, juntamente com uma análise dos portfólios dos alunos le-vam a perceber todo o processo vivido. A ludicidade fez partedele? O que você gostaria de repetir com outra turma? E o quenão repetiria? Você percebe alguma ampliação em seus con-ceitos sobre as questões abordadas? Em quais sentidos?

Sua análise pode estimular uma nova busca na DVDteca Arte naEscola. As palavras-chave podem ajudá-lo a encontrar outros cami-nhos, tendo as questões e os desafios de seus alunos como bússola.

GlossárioCultura – Edgar Morin define três sentidos principais para a palavra cul-tura. O primeiro é antropológico: a cultura acumula em si aquilo que é trans-mitido e aprendido através dos princípios, da aquisição e da ação. O se-gundo é social e histórico: as culturas são constituídas pelo conjunto dehábitos, costumes, saberes, regras, normas, proibições, idéias, crenças,mitos e valores eternizados entre gerações, mantendo a complexidadesocial. O terceiro sentido relaciona-se à cultura das “humanidades”, comouma discussão fundamentada nos problemas globais, éticos e existenci-ais aliados à cultura científica, transformadora do saber em disciplinasdesvinculadas e fragmentadas. Fonte: MORIN, Edgar. Os sete saberes

necessário à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2002.

Educação patrimonial – “Formas de mediação que propiciam aos diversospúblicos a possibilidade de interpretar objetos de coleções de museus, doambiente natural ou edificado, atribuindo-lhes os mais diversos sentidos,estimulando-os a exercer a cidadania e a responsabilidade social de com-partilhar, preservar e valorizar patrimônios com excelência e igualdade”.Fonte: GRINSPUM, Denise. Educação para o patrimônio: museu de arte eescola - responsabilidade compartilhada na formação de públicos. Tese (dou-torado). Faculdade de Educação - USP, São Paulo, 2000, p. 27.

Baseia-se “em princípios e metodologia que visam a sensibilizar einstrumentalizar indivíduos de uma comunidade, no universo escolar e fora

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dele, crianças e adultos, para o reconhecimento, a compreensão e a valori-zação do patrimônio cultural”. Fonte: HAIGERT, Cynthia. Estado da arte sobreeducação patrimonial. In: SOARES, André Luis Ramos (org.). Educação

patrimonial: relatos e experiências. Santa Maria: UFSM, 2003, p. 36.

Patrimônio histórico e artístico nacional – conjunto de bens móveis eimóveis existentes no país, e cuja conservação seja de interesse público,quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer porseu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artís-tico. Fonte: LEMOS, Carlos. O que é patrimônio histórico. São Paulo:Brasiliense, 1985, p. 43.

Zoomorfismo – religião ou culto de animais considerados encarnaçõessagradas de deuses, de seres sobrenaturais ou protetores de clãs e tri-bos. Crença na possibilidade da transformação de homens em animais.Fonte: <www.videotexto.info/zoomorfico_zoomorfismo.html>.

BibliografiaCOELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo:

Iluminuras: Fapesp, 1999.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Antropologia do Brasil: mito, história,etnicidade. São Paulo: Brasiliense: Edusp, 1986.

FRANZ, Terezinha Sueli. Educação para a compreensão da arte: MuseuVictor Meirelles. Florianópolis: Insular, 2001.

GRINSPUM, Denise. Educação para o patrimônio: museu de arte e escola -responsabilidade compartilhada na formação de públicos. Tese (douto-rado). Faculdade de Educação - USP, São Paulo, 2000.

LEMOS, Carlos. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 1985.(Primeiros passos).

MENEZES, Ulpiano Bezerra de. A arte no período pré-colonial. In: ZANINI,Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: InstitutoWalther Moreira Salles, 1983, v. 1.

PIVETTA, Marcos. Pré-história ilustrada: pinturas e gravuras revelam di-versidade de formas e estilos da arte rupestre nacional. Disponível em:<www.universia.com.br/html/materia/materia_fggc.html>.

TENÓRIO, Maria Cristina Tenório (org.). Pré-história da terra brasilis. Riode Janeiro: Editora UFRJ, 2000.

Bibliografia de arte para as crianças

BUCHMANN, Luciano. Entendendo museus: preparando a visita de cri-anças a museus. Curitiba: Due Design, 2000.

BUSH, Timothy. Rupi! o menino das cavernas. São Paulo: Brinque-Book, 1997.

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GIRARDET, S.; SALAS, N. (org.). A gruta Lascaux. Trad. E. Brandão. SãoPaulo: Companhia das Letrinhas, 2000.

MUNDURUKU, Daniel. Kaba Darebu. São Paulo: Brinque-Book, 2002.

SANTA ROSA, Nereide Schilaro. Etnias e cultura. São Paulo: Moderna,2004. (Arte e raízes).

Seleção de endereços sobre arte na rede internet

Os sites abaixo foram acessados em 14 jan. 2006.

ARTE RUPESTRE. Disponível em: <www.arqueologyc.hpg.ig.com.br/index.htm>.

___ Disponível em: <http://rupestreweb.tripod.com/conceito.html>.

FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano. Disponível em:<www.fumdham.org.br>.

GUIDON, Niéde (entrevista). Disponível em: <www.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr/rj/ent/EntrevistasDet.jsp?&Entrevista.codigo=429>.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL.Disponível em: <www.iphan.gov.br>.

Notas1 MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. TerezinhaTelles. A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD,1998, p. 34.2 As pedras lascadas têm importância, pois mostram uma atitude frente àferramenta, que é também estética. Fonte: AGUILAR, Nelson (org.). Arte –

evolução ou revolução?: a primeira descoberta da América. Mostra doRedescobrimento. São Paulo: Fundação Bienal: Associação Brasil 500 AnosArtes Visuais, 2000.3 Marcos PIVETTA, Pré-história ilustrada: pinturas e gravuras revelam di-versidade de formas e estilos da arte rupestre nacional, s/p. Também dis-ponível em: <www.universia.com.br/html/materia/materia_fggc.html>.Acesso em 3 jan. 2006.4 Ibid., s/p.5 BUCHMANN, Luciano. A pertinência do patrimônio cultural brasileiropelo ensino da arte. Revista Digital Art &, v.2, 2004. Disponível em:<www.revista.art.br>. Acesso em 14 jan. 2006.6 Ulpiano Bezerra de MENEZES, A arte no período pré-colonial, p. 28.7 Leia mais em: <www.museu-goeldi.br/pesquisa/ideias_debates/01_I&D_WNeves.pdf.>. Acesso em 18 jan. 2006.8 O jogo faz parte de: Jogos para aprendizes de paleontólogos, criado porMirian Celeste Martins e Gisa Picosque para a exposição Dinos na Oca,jan-abr/2006, em São Paulo/SP.