O conceito de libido e sexualidade Sexualidade guarda semelhanças com o dinheiro.
Corpo, Sexualidade e Saúde - RESENHA (2)
-
Upload
camila-maia -
Category
Documents
-
view
218 -
download
0
Transcript of Corpo, Sexualidade e Saúde - RESENHA (2)
-
7/24/2019 Corpo, Sexualidade e Sade - RESENHA (2)
1/6
O objetivo, aqui, ser encadear as obras A sociologia do corpo, de David Le Breton; As
tcnicas corporais, de Marcel Mauss; e Os corpos!quinas, de "#nia de Deus $odrigues
Bercito% &ara tal incu!b'ncia, (ocali)are!os de (or!a circunstanciada a obra de Bercito,
considerando que se trata de u! trabal*o !ais anal+tico, e, para dar respaldo s in(or!a-.es
e/postas pela autora, engajare!os as ideias de Le Breton e de Mauss% 0u! !o!entoulterior, apresentare!os u!a pequena conclus1o acerca da te!tica destrinc*ada, de (or!a
que seja elucidada a ideia pri!ordial dessa discuss1o%
Antes de qualquer anlise, cu!pre salientar que o corpo o nosso instru!ento !ais
rudi!entar, !ais natural e ta!b! !ais e(ica) 2MA3"", 45556% 7o! ele, per(or!a!os na
sociedade, e, !edida que nossa per(or!ance produ) signi(icados, so!os agregados ou
repelidos da tra!a de rela-.es sociais% Ainda nesse ponto, o corpo delineado co! base
nas estruturas social e cultural que aco!ete! o ator, ou !el*or, para a sua lapida-1o, o
corpo recebe a inter(er'ncia do te!po e do espa-o, o que nos per!ite a(ir!ar que ele n1o
u!a realidade natural% 8! su!a, a estrutura que nos caracteri)a 2o corpo6 o que torna
poss+vel a e/peri!enta-1o do !undo 2L8 B$89O0, :46%
7onte!plando, agora, a discuss1o 7orpos!quinas< trabal*adores na produ-1o
industrial e! "1o &aulo 2dcadas de 45=45>6, a autora en(ati)a que a industriali)a-1o no
Brasil viu e! "1o &aulo seu !aior e/poente, e isso gra-as s condi-.es (avorveis ali
enrai)adas< desenvolvi!ento urbano, !1o de obra i!igrante, capital oriundo da econo!ia doca(, etc 2p% =?46% 8ntretanto, para que a ascens1o industrial e econ#!ica (osse !antida, viu
se a necessidade de instru!entali)ar os corpos dos trabal*adores das (bricas, a (i! de que
estes se tornasse! d@ceis e teis, devendo operar se!pre de (or!a !ecnica e repetitiva 4%
Assi! sendo, o *o!e! tornavase u!a !era engrenage! do processo produtivo;
verdadeira!ente, tornavase ele u!a !quina, a qual agia se!pre de (or!a auto!ati)ada%
Os gastos de energia, por outro lado, teria! de ser abrupta!ente supri!idos, ou seja, todo o
vigor (+sico de u! *o!e! deveria ser e!pregado unica!ente na produ-1o% C interessante
ressaltar que a atividade intelectual n1o era requerida nesse conte/to de engendra!entos,
4 uando da instaura-1o das !quinas, o *o!e! dei/a de trabal*ar tanto co! a !usculatura, tornandose,agora, parte dos !ecanis!os desses equipa!entos% 0este instante, o anda!ento das atividades co!e-a a serregido pelas !quinas, e n1o !ais pelo trabal*ador% Destarte, a *abilidade e a precis1o passa! a sersubli!adas custa da estrita (or-a (+sica% 7o! esse 2re6ajusta!ento, acaba! supri!idas de ve) quaisquertentativas de cria-1o individual%
1
-
7/24/2019 Corpo, Sexualidade e Sade - RESENHA (2)
2/6
onde i!perava! !ajoritaria!ente apenas atividades de carter !et@dico% 8/igiase, al!
disso, u!a grande produtividade nu! per+odo de te!po relativa!ente curto, e, para isso,
deveria! ser saudveis os corpos operantes%
A partir da+, as indstrias passa! a gan*ar os ol*ares dos !dicos, que pregava! que os
locais de produ-1o deveria! ser salubres e ta!b! que os li!ites do corpo do trabal*adordeveria! ser respeitados:% 0o entanto, quando os j citados locais de produ-1o !ostrava!
preocupa-1o co! a sade e co! o corpo do trabal*ador, tal se e/plicava pelo !edo de que
a produ-1o declinasse, u!a ve) que a doen-a e a debilidade a(astava! o indiv+duo dos
!eios de produ-1o% Ou seja, aquele que trabal*ava tin*a pouco valor co!o indiv+duo; era,
si!, u! si!ples aut#!ato que n1o podia quebrar%
As !ul*eres e as crian-as, neste conte/to, n1o tin*a! lugar, considerando que a sade
destas era i!aginada co!o !ais (rgil do que a dos *o!ens% Desse !odo, sobretudo as
!ul*eres, deveria! se ocupar co! cargos que (osse! co!pat+veis co! a sua *abilidade
corporal e co! a sua intelig'ncia% 0o que di) respeito s !ul*eres, se *ouvesse, por parte
delas, u! co!pro!eti!ento co! atividades desgastantes, estaria! colocando e! risco a
capacidade de gerar (il*os; destarte, o (uturo da sociedade% 7on(or!e as ideias trans(undidas
na poca, elas tin*a! que se encarregar co! tare(as que estivesse! !ais ligadas
!aternidade e prote-1o do outro% As crian-as, por conseguinte, era! descartadas do
!bito (abril porque se acreditava que, nestas es(eras, estaria! !ais propensas a so(rer
acidentes% Al! disso, caso inseridas nestes a!bientes, teria! seus ca!pos (+sico, !entale !oral depravados% 7o! u! posiciona!ento preventivo, a sociedade visava a!parar u!a
(utura gera-1o de trabal*adores%
9ra)endo para o cerne do debate nova!ente os *o!ens!quinas, cabe assinalar que,
co! os acidentes de trabal*o, surge! os ressarci!entos (inanceiros, devendo estes ser
con(eridos aos indiv+duos con(or!e a i!portncia utilitria 2e at si!b@lica6 da pe-a
deteriorada% B8$7E9O en(ati)a que, nessa l@gica, o corpo era pensado co!o !era
!ercadoria% Fa)se i!prescind+vel destacar, ta!b!, que os acidentes dentro das (bricas
n1o era! u!a novidade, considerando que o trabal*o co! !quinas de!andava do *o!e!
u! desdobra!ento e/orbitante, o qual perpassava, por ve)es, suas *abilidades naturais%
: Al! do encargo de di(undir regras para o bo! (unciona!ento do conte/to (abril, os !dicos ta!b!assu!ia! papel (unda!ental na escol*a e distribui-1o das atividades dos trabal*adores, baseandose,geral!ente, e! critrios que relevava! resist'ncia e sanidade% 0o entanto, sua principal (un-1o era
A&$EMO$A$ o corpo do trabal*ador e $8M8DEA$ os e(eitos das !quinas sobre este%
2
-
7/24/2019 Corpo, Sexualidade e Sade - RESENHA (2)
3/6
9odavia, os acidentes de trabal*o (ora! u! tanto quanto de!oni)ados, digase de
passage!< era! i!aginados co!o u! entrave, co!o u!a a!ea-a sociedade, tendo e!
vista que desestabili)ava! a produ-1o%
Outro !al que a!ea-ava o (unciona!ento regular dentro das (bricas, e que precisava
ser supri!ido, era a (adiga%%% A (adiga, esgota!ento !ais co!ple/o do que o estrito cansa-o,co!pro!etia a qualidade e a quantidade da produ-1o% A ela estava! associados o sono
insu(iciente, o trabal*o e! de!asia, u!a ali!enta-1o de(iciente, as atividades rotini)adas e
degradantes e/igidas dentro das indstrias, etc% "endo assi!, tornavase necessria a
siste!ati)a-1o e a divis1o das atividades, de (or!a que o vigor do trabal*ador n1o (osse
esgotado por co!pleto% A partir da+, surge a ideia do la)er e do descanso co!o (or!as de
restabelecer as energias do trabal*ador, possibilitando, ent1o, u!a produtividade louvvel
nu! !o!ento ulterior%
"egundo a autora, interessante pensar a (adiga co!o sendo u! tra-o de
insubordina-1o 2ou at de resist'ncia6 do trabal*ador ante ao capitalis!o industrial% 7o!o j
sugerido aqui, o indiv+duo s@ era valorado dentro da es(era da produ-1o% Ade!ais, no !bito
do trabal*o, o alcoolis!o e a ociosidade=era! su!a!ente depreciados, pois ocasionava!
u!a perda desnecessria de energia% O alcoolis!o, sobretudo, era rec*a-ado porque
a(astava o *o!e! do trabal*o, sendo ta!b! associado ao trabal*o deslei/ado%
8n(ati)e!os, por (i!, que, no conte/to do trabal*o (abril, era negada ao *o!e! a
autono!ia sobre o seu pr@prio corpo% 8ste devia atuar con(or!e os interesses do capital,colocando e! risco, assi!, a !agistralidade do seu eu% Aqui, v'se a interiori)a-1o de
*bitos e de tcnicas que nor!ati)a!, os quais acaba! por alin*avar a postura e a
autoconsci'ncia desses indiv+duos% 9al interiori)a-1o, al! disso, se d de (or!a abrupta e
obrigat@ria, inter(erindo, co!o j !ostrado, na !aneira de agir e de e/peri!entar o !undo
destes indiv+duos% A seguir, co! base e! David Le Breton e e! Marcel Mauss, deternos
e!os u! pouco !ais nesses pontos%%%
7on(or!e Le Breton, o corpo regido pelos conte/tos social e cultural que abarca! o
indiv+duo, e isso pode ser clara!ente visto na obra e/planada< co! as !udan-as estruturais
i!plantadas pelo capitalis!o industrial, surge a necessidade de recon(igura-1o do corpo, de
= A vel*ice, assi! co!o o alcoolis!o e a ociosidade, ta!b! era pensada co!o u! e!pecil*o para aprodutividade% 7o!o be! assinala B8$7E9O, era clara!ente vista co!o u! (ardo, u! estorvo para aarcabou-o social%
3
-
7/24/2019 Corpo, Sexualidade e Sade - RESENHA (2)
4/6
(or!a que ele pudesse atender s de!andas i!postas pelo tipo de racionalidade que o
abra-ava; e! s+ntese, a e/periencia-1o do !undo atravs do corpo !ostravase ditada pela
realidade por trs do indiv+duo%
7u!pre salientar, outrossi!, que corpo e ator s1o no-.es que, apesar de di(erentes, se
co!ple!enta!% Assi! sendo, para u!a sociologia do corpo, n1o pode!os dissociar esses!bitos, pois a !obilidade de u! 2corpo6 s@ poss+vel quando da presen-a do outro 2ator6%
7o!o be! ilustrado e! Os corpos!quinas, os corpos dos trabal*adores s@ se !ostra!
notveis e teis na !edida e! que age!, na !edida e! que se loco!ove!, segundo as
e/ig'ncias deli!itadas, pelo substrato social% Endo !ais (undo nessa considera-1o, Le Breton
sugere que veja!os o corpo co!o u!a !orada da identidade, e que nos desvencil*e!os
da no-1o de corpo co!o u! possuir%
Outro ponto bastante proe!inente, e que visto nos escritos de Bercito, re(erese a u!a
!edicina que se concebe co!o ci'ncia leg+ti!a G co!o saberpoder4no sentido (oucaultiano
, a qual desconsidera o corpo enquanto estrutura si!b@lica, redu)indoo a estrito corpo
biol@gico, ou corpo !aterial% 0os conte/tos (abris, avaliavase e consertavase corpos, o que
relevava certa ignorncia sobre os ca!pos subjetivos que ta!b! caracteri)ava! aqueles
trabal*adores% 2H6 7ontraria!ente a esse preceito de corpo !aterial, a sociologia
co!preende o corpo *u!ano enquanto estrutura simblica, e, desse !odo, procura
entender os (ei/es de representa-.es e os e/tre!os que cinge! esse corpo 2L8 B$89O0,
:4, p% =6%A(astandonos dessa ideia e conte!plando, agora, a quest1o do corpo a partir da
concep-1o de tcnica, Mauss de(ine co!o tcnica u!a a-1o tradicional e e(ica)% 7on(or!e
ele, u!a tcnica atinge seu grau !/i!o de e(iccia quando aquele que a e/ecuta o (a) de
(or!a auto!tica, se! ter de (a)er grandes assi!ila-.es; ou seja, u!a tcnica e(ica)
aquela que dispensa preparos, aquela cuja e/ecu-1o tornouse natural na vida de u!
indiv+duo% Ade!ais, elas !uda! con(or!e as sociedades e as pocas, e releva!, ainda,
atributos se/uais e n+veis etrios% A trans!iss1o delas, en(ati)a Mauss, se d a partir da
educa-1o, do ensino, !ostrandose o I!i!etis!oI 2pense!os nas crian-as, que de (or!a
*abitual i!ita! os gestos dos adultos6 u!a grande ttica para a sua internali)a-1o%
7o! base no estudo dos trabal*adores das indstrias das dcadas de 45=45>,
> FO37A3L9, M% 8! De(esa da "ociedade% 7urso no 7ollJge France 245?K45?6% "1o &aulo< Martins Fontes,::, p% =:%
4
-
7/24/2019 Corpo, Sexualidade e Sade - RESENHA (2)
5/6
pode!os salientar que os a!bientes os quais e/perienciava! esses indiv+duos era!
a!bientes e! que predo!inava! tcnicas corporais% L, seria! eles treinados, para que tais
tcnicas tornasse!se naturais, logo (acil!ente e/equ+veis% Os critrios que levava! e!
considera-1o a identidade de g'nero e a idade, al! disso, estava! !uito be! deli!itados
ali< as (bricas, di)iase, n1o era! espa-os para !ul*eres, ta!pouco para crian-as; astcnicas ali desenvolvidas n1o convin*a! a nen*u!a das duas partes, pois, segundo as
ideias disse!inadas na poca, n1o possu+a! o corpo ideal e ne! *abilidade natural que
viesse a (avorec'los dentro desses !bitos; os *o!ens, e! contrapartida, geral!ente
concebidos co!o biologica!ente !ais (ortes, estaria! !ais inclinados adapta-1o%%% a eles
era! i!postos gestos e *abilidades intersubjetiva!ente constru+dos, que, se reprodu)idos
de (or!a incessante e rotini)ada, contribuiria! positiva!ente para o cresci!ento da
sociedade% De acordo co! essa nova din!ica, a subordina-1o da !ul*er tornavase prtica
social!ente legiti!ada, ao passo que *avia u!a invoca-1o da !obilidade e virilidade
!asculinas%
O autor de As tcnicas corporais bastante en(tico quando a(ir!a que nossos
!ovi!entos s1o resultados de u!a constru-1o cultural% As tcnicas do corpo, ainda,
suscita! o encai/e dos ca!pos (+sico, ps+quico e social% 9al a(ir!ativa nos re!ete s
considera-.es de Le Breton acerca da obra de Mauss, as quais real-a! que as tcnicas e os
gestos n1o s1o si!ples!ente desdobra!entos de carter !ecnico, s1o, ta!b!,
desdobra!entos que carrega! consigo signi(ica-.es e valores% Dessa (or!a, n1o pode!ospensar o corpo co!o !ero instru!ento, pois nosso arcabou-o e nossas inclina-.es
representa! algo !uito !aior do que aquilo que apenas instru!ental%
8! consonncia co! essa ideia, e!bora seja di(+cil n1o considerar as i!posi-.es do
capitalis!o industrial co!o !ecnicas, rotini)adas e at roboti)antes, seria u! tanto quanto
equivocado de nossa parte se penssse!os os corpos!quinas si!ples!ente a partir da
l@gica do auto!ati)ado, co!o se suas a-.es e as eventualidades de(lagradas por estas
n1o estivesse! i!bu+das de sentido, co!o se n1o *ouvesse u!a l@gica por detrs da
ag'ncia% 7o!o j respaldado, opera nesse conte/to u!a outra racionalidade, a qual i!p.e
u!a !aneira nova de percep-1o do corpo e do !undo%
Feitas essas considera-.es, !ostrase conveniente cristali)ar a ideia central desse
5
-
7/24/2019 Corpo, Sexualidade e Sade - RESENHA (2)
6/6
desdobra!ento% 8! su!a, constru+!os u!a cone/1o, u! relaciona!ento propria!ente,
co! nosso corpo a partir das rela-.es que nos s1o i!postas, s1o elas que constribue! para
o engendra!ento de nossa identidade, s1o elas que o(erece! !eios para que atue!os na
sociedade% Co!o be! aponta u!a sociologia e! pontil*ado< o *o!e! n1o o produto do
corpo, produ) ele !es!o as qualidades do corpo na intera-1o co! os outros e na i!ers1ono ca!po si!b@lico 2L8 B$89O0, :4, p% 46%
REFERNCIAS:
B8$7EO, "onia de Deus $odrigues% Corpos-mquinas: trabalhadores na produo
industrial em So Paulo (dcadas de 193 e 19!"# En< D8L &$EO$8, MarN;
AMA09E0O, Marcia 2Orgs6% ist@ria do 7orpo no Brasil% "1o &aulo< 308"&, :44% pp%
=?4 >>%
L8 B$89O0, D%$ sociolo%ia do corpo#>% ed% $io de Paneiro< Qo)es, :4%
MA3"", Marcel% &es tecniques du corps# En