Coopera SP | Edição 01

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Coopera SP Revista do Cooperativismo Paulista ano I n o 1 jan/fev/mar 2016 Para atender aos crescentes desafios, 29 Unimeds recriam a medicina preventiva e o médico de família com o apoio do Sescoop/SP Flores poderosas Estudo mostra que cadeia produtiva faturou R$ 4,5 bilhões em 2014 Intercooperação Cobrac e Coopercitrus dão início à parceria estratégica Cooperativas ameaçadas Regras da Aneel ameaçam inviabilizar 67 cooperativas de energia elétrica A saúde que se reinventa

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Revista Coopera SP | Edição 01 - 1º Trimestre de 2016 - SESCOOP/SP

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Coopera SPR e v i s t a d o C o o p e r a t i v i s m o P a u l i s t a

ano I � no 1 � jan/fev/mar 2016

Para atender aos crescentes desafios, 29 Unimeds recriam a medicina preventiva e o médico de família

com o apoio do Sescoop/SP

Flores poderosas Estudo mostra que cadeia produtiva faturou R$ 4,5 bilhões em 2014

IntercooperaçãoCobrac e Coopercitrus dão início à parceria estratégica

Cooperativas ameaçadasRegras da Aneel ameaçam inviabilizar 67 cooperativas de energia elétrica

A saúde quese reinventa

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O Dia de Cooperar é um compromisso das cooperativas brasileiras na busca por um mundo mais justo e igual.

Inscreva as ações voluntárias da sua cooperativa e faça parte dessa corrente do bem, que cresce a cada ano.

Acesse diac.brasilcooperativo.coop.br

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É com imenso prazer que apresentamos à família cooperativista o primeiro nú-mero da nova revista do Sescoop/SP, a Coopera SP, que esperamos se trans-forme em uma poderosa ferramenta para ajudar a fortalecer os vínculos entre cooperativas, cooperados e a sociedade civil.

E, por falar em família, a reportagem de capa desta primeira edição da Coope-ra SP traz à tona o resgate de um personagem fundamental para o bem-estar da comunidade, o médico de família. Trata-se de uma experiência revolucioná-ria que está sendo levada a cabo por 29 Unimeds – até agora. Essa experiên-cia consiste em substituir o atual modelo de assistência à saúde, que prioriza o hospital e a medicina especializada, por um novo modelo, que dá ênfase ao indivíduo e à prevenção e, portanto, à valorização do clínico geral e médico de família. A reportagem detalha os exemplos da Unimed de Guarulhos e da Unio-donto Jaboticabal.

Você também ficará sabendo mais sobre o mercado de flores, uma cadeia pro-dutiva cuja dinâmica é comandada por três cooperativas paulistas, movimen-ta nada menos que R$ 10 bilhões por ano e gera R$ 2 bilhões em impostos e taxas. Outra reportagem mostra a Cooperativa Agropecuária do Brasil Central (Cobrac), que fez 50 anos em outubro passado e agora está em vias de ser in-corporada pela Coopercitrus, uma das maiores cooperativas de produtores ru-rais do Brasil, com sede em Bebedouro.

Confira também as matérias sobre as cooperativas de distribuição de energia elétrica, atualmente sob ameaça das grandes concessionárias; sobre as coope-rativas de crédito, cuja categoria foi recentemente reclassificada pelo Conselho Monetário Nacional; e os programas de segurança no trabalho e de qualificação profissional promovidos pelo Sescoop/SP. Ah, e conheça um pouco da história das origens do cooperativismo, na Inglaterra vitoriana do século XIX.

Boa leitura!

Nasce a revista do cooperativismo paulista

3Carta ao leitor i

jan/fev/mar 2016 � Coopera SP

O Dia de Cooperar é um compromisso das cooperativas brasileiras na busca por um mundo mais justo e igual.

Inscreva as ações voluntárias da sua cooperativa e faça parte dessa corrente do bem, que cresce a cada ano.

Acesse diac.brasilcooperativo.coop.br

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EXPEDIENTE

5 EntrevistaEdivaldo Del Grande

8 Flower powerCadeia produtiva atinge R$ 4,5 bilhões

10 Médico da família Unimeds recriam medicina preventiva

17Para todosSucesso faz Curso de Libras avançar

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Um novo gigante cooperativo Coopercitrus e Cobrac dão os primeiros passos para união

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Qualificação profissionalCresce a procura por cursos no Sescoop/SP

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Luta contra o apagão Pequenas cooperativas de energia sob ameaça

24 Cooperativas de crédito Classificação do CMN traz novos desafios

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Ergonomia Sescoop/SP desenvolve cultura ergonômica

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Giro CooperativistaNotas e informações sobre o mundo cooperativo

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Memória Cooperativista

índ

iCe

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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO (SESCOOP/SP)

CONSELHO ADMINISTRATIVOPresidente: edivaldo del GrandeConselheiros: eudes de Freitas aquino, luiz eduardo de Paiva, Manoel Carlos de azevedo ortolan, Marcio Francisco Blanco do Valle Suplentes: alberto roccheti netto, renato nobile, Sérgio Brito e taís di Giorno

CONSELHO FISCALarnaldo antonio Bortoletto, elias antônio neto e olavo Morales GarciaSuplentes: João alberto Salvi, raimundo Vianna de Macedo e Sonivaldo Grunzweig Pinto

SUPERINTENDENTESaramis Moutinho Junior, José Henrique da Silva Galhardo e nelson luis Claro da Silva

Coopera SPrevista do Sescoop/SP e do cooperativismo paulista, distribuída gratuitamente.

CONSELHO EDITORIALalexandre ambrogi, Fernando ripari Junior, luciano alves Fontes, luis antonio Schmidt e Mario Cesar ralise

COLABORADORESalberto Freitas, Victor terra e rodrigo oliveira

editado porEx Libris Comunicação IntegradaJornalista: Jayme Brener (Mtb 19.289)Editor: Cláudio CamargoTextos: edmir nogueira, Vinícius abbate, Carla itália e Matheus CamposCapa e diagramação: regina Beer

rua treze de Maio, 1376 - Bela Vista São Paulo - SP - CeP 01327-002 tels: (11) 3146-6200www.sescoopsp.coop.br

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entreViSta i

em entrevista a Coopera SP, o presidente da ocesp e do Sescoop/SP, edivaldo del Grande, faz um balanço das conquistas recentes das entidades e comenta os principais desafios do cooperativismo paulista

Por ocasião do 45º aniversário da Organização das Coopera-tivas do Estado de São Paulo (Ocesp), em outubro do ano

passado, o presidente Edivaldo Del Grande deu uma entrevista na qual ressaltou o papel da entidade como representante de mais de 1,1 mil cooperativas, que são responsáveis pela geração de desenvolvimento econômico com inclusão social para os cooperados e comunidades. Del Grande, que em 2016 completa dez anos à frente da Ocesp, é otimista em relação ao papel do cooperativis-mo para ajudar o país a sair da grave crise política e econômica em que se encontra. “Enquanto alguns choram; outros vendem lenços”, brinca o pre-sidente. “O cooperativismo sempre foi e sempre será a solução para os momentos de crise de qualquer país.

“o cooperativismo sempre é a solução para a crise de qualquer país””

edivaldo del Grande

É um modelo de desenvolvimento muito mais sustentável porque nosso objetivo não é apenas econômico, é principalmente social; o foco está nas pessoas, nos nossos coopera-dos”, ressalta Del Grande. Confira os principais trechos da entrevista.

Coopera SP – Como foi a evolução do trabalho de representação do co-operativismo nos últimos anos? Edivaldo Del Grande – São muitos de-safios, pois há grande diversidade no cooperativismo paulista e precisamos atuar de forma efetiva para fortalecer o nosso movimento como um todo. Um dos maiores desafios é melhorar a nos-sa comunicação com as cooperativas e os diversos setores da sociedade. Por isso, reforçamos a equipe de comuni-cação e marketing. Precisávamos mos-trar o que nós somos e a importância

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i entreViSta

das cooperativas no contexto social. Afinal, desempenhamos papel relevan-te na inclusão social. Ao mesmo tem-po, precisávamos combater o mau uso de ‘cooperativas’ por pessoas que têm como único objetivo enganar o traba-lhador. Infelizmente, ainda há fraudes no mercado, desvirtuando completa-mente o sentido de uma cooperativa. Não compactuamos de forma alguma com isso, porque na verdade essas não são cooperativas; são empresas de fa-chada que nos atrapalham e mancham o nome do cooperativismo. Então, nos-sa tarefa era separar isso do verdadeiro cooperativismo. Tivemos que trabalhar para mostrar que éramos um movi-mento justo e inclusivo, de melhoria de vida das pessoas. Simultaneamente, nós também precisávamos estar mais próximos das cooperativas, porque o movimento cooperativista, de certa forma, não nos conhecia bem e ainda não nos conhece inteiramente; daí a necessidade de melhorar a comuni-cação interna. Tínhamos que mostrar que a Ocesp tem papel muito impor-tante para fortalecer o cooperativismo e, para isso, precisávamos aprimorar a nossa representação política. Acredito

que houve avanços importantes nos últimos tempos, mas ainda há muito a ser feito. Coopera SP – Como a Ocesp traba-lha a representação política das co-operativas?Del Grande – É claro que a Ocesp, como entidade, não pode fazer polí-tica partidária; nem as cooperativas devem fazer política nesse nível. Mas nós devemos participar da política como todo cidadão de bem deve fazer e muitas instituições também fazem. A entidade não pode contribuir finan-ceiramente para políticos ou partidos, mas as cooperativas podem se organi-zar, falar com seus quadros sociais e apoiar parlamentares que defendem a causa cooperativista. Além disso, temos um relacionamento institucio-nal constante com as autoridades nos níveis municipal, estadual e federal, sempre defendendo os interesses das cooperativas. Também temos uma frente parlamentar muito atuante no Congresso Nacional, em trabalho co-ordenado com muita competência pela OCB, a Organização das Coopera-tivas Brasileiras.

Coopera SP – Como o senhor vê a questão da intercooperação entre as cooperativas paulistas?Del Grande – Precisamos avançar mui-to neste campo. O Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura) sempre diz que falamos muito em intercoope-ração e a praticamos pouco. O Sesco-op/SP tem formado muitos gestores; foram mais de 66 mil pessoas capaci-tadas apenas no ano passado, desde funcionários de cooperativas, coope-rados, dirigentes de cooperativas e até pessoas da comunidade. A educação é um caminho para que todos possam compreender que cooperativismo é associativismo, que precisamos nos associar, que precisamos aumentar os ganhos de escala, diminuir custos. Se sou um agricultor, percebo que sozi-nho não posso comprar um silo; mas se me associo a um grupo de agricultores, podemos comprá-lo juntos. A mesma coisa ocorre na área da saúde e outros setores também. Temos aqui em São Paulo mais de 40 hospitais do Sistema Unimed; isso só foi possível porque os médicos se associaram e compreende-ram o potencial de trabalhar de forma cooperativa. Coopera SP – Quais são os grandes desafios de mercado para as coope-rativas atualmente?Del Grande – Apesar das particula-ridades de cada empreendimento, acredito que existem questões em comum que podem ser aprimoradas. Realizamos recentemente, em par-ceria com o Ministério da Agricultura, um excelente programa de formação da Fundação Dom Cabral voltado dire-tamente aos negócios cooperativistas. Fizemos o curso com as dez maiores e as dez menores cooperativas do setor agropecuário. Muitas vezes as coope-rativas acham que os grandes adversá-rios são outras cooperativas, que con-correm entre si, mas não é bem assim. Muitas vezes, a concorrência maior vem de fora. O que realmente me pre-ocupa são as cooperativas e empresas multinacionais que estão chegando ao nosso país. Como a Land O’Lakes, que

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Nosso foco não é econômico, é social. Esse é o diferencial

das cooperativas para fazer com que o país

saia da crise

“ é a primeira cooperativa de captação de leite dos Estados Unidos – respon-sável por 60% do leite americano – e está vindo para o Brasil. Ou a CHS, que já está produzindo um milhão de tone-ladas de soja aqui na região central e remetendo diretamente para a China. Essas empresas vêm para cá explorar nosso mercado. E por que o trabalho que elas desenvolvem não poderia ser feito pelas nossas cooperativas? Vol-tando ao assunto da intercooperação, poderíamos começar fazendo coisas simples, como criar um software único, ou uma central de informação conjun-ta, fazendo compras conjuntamente – não necessariamente criando uma cooperativa de compras. É esse espíri-to de intercooperação que precisamos despertar nas nossas cooperativas. E os bons exemplos já existem. Veja a Coopbrasil, que é a cooperativa cen-tral de compras das cooperativas de consumo, com 11 cooperativas asso-ciadas, inclusive uma da área médica e uma do setor agrícola. A Coopbrasil mostra como o trabalho conjunto traz melhores resultados. Esse é o gran-de diferencial. A partir dessa união, é possível avançar muito mais em outros campos, como ter uma bandeira única, uma distribuidora. Algumas cooperati-vas de crédito já unificaram seus logos, iniciando um processo de intercoopera-ção na própria marca. Portanto, exis-tem experiências positivas em anda-mento que precisam ser intensificadas

e podem envolver cooperativas em di-ferentes setores. Coopera SP – Qual o papel da Ocesp e do Sescoop/SP como facilitadores de troca de experiências entre as cooperativas?Del Grande – Acredito que podemos aprender com experiências bem su-cedidas no Brasil e no exterior. Nossa maior preocupação é transformar os intercâmbios, sejam eles nacionais ou internacionais, em experiências produ-tivas. Nos últimos anos, fomos a Juazei-ro (CE) conhecer como os produtores de frutas estavam se organizando na-quela região de temperaturas elevadas e com irrigação do Rio São Francisco. Fomos com um grupo de cooperativas ao Paraná para entender como as coope-rativas do estado se industrializaram. Estivemos no Rio Grande do Sul para ver os modelos de cooperativas indus-triais. Muitas vezes, devemos bus-car referências internacionais e esse foi o caso do cooperativismo de crédi-to. Recentemente, levamos cooperati-vas e representantes do Banco Central do Brasil para ver como a Itália se or-ganizou no movimento cooperativista; como isso ocorreu na França, onde as cooperativas têm entre 60% e 70% do mercado financeiro. Outro exemplo muito bem sucedido de intercâmbio internacional vem das cooperativas dos sistemas Unimed e Uniodonto, que estão investindo fortemente em

modelos de Atenção Pri-mária. Estivemos com as cooperativas em quatro países europeus e nos Estados Unidos. Fomos ver, em parceria com o Instituto IHI (Institute for Healthcare Impro-vement), como se reduz drasticamente o atendi-mento em pronto socor-ro. Depois das viagens, promovemos aqui diver-sos cursos, planejamento estratégico e programas de incentivo para a monta-gem de estruturas de aten-

ção primária nas nossas cooperativas. Esse modelo amplia os esforços para a prevenção de doenças, principalmente as crônicas, como diabetes e hiperten-são. Isso tem gerado frutos excelentes e vai mudar conceitualmente o modelo de atendimento das cooperativas. Coopera SP – Como o senhor vê o papel do cooperativismo na supera-ção da crise?Del Grande – Eu sou otimista, apesar do momento conturbado que vivemos. Enquanto alguns choram, outros ven-dem lenços. Veja: na época do subpri-me americano, enquanto os bancos tiveram sérios problemas, as coopera-tivas de crédito cresceram. O modelo cooperativista mostra-se mais seguro. Na atual crise, aqui no Brasil, as coopera-tivas de crédito estão crescendo nova-mente. A agricultura também está indo relativamente bem. Claro, somos 13 ramos de cooperativas no Brasil e al-guns setores sentem mais que outros. Mas, de maneira geral, o cooperativis-mo sempre foi e sempre será a solução para os momentos de crise de qualquer país. As cooperativas são um caminho sustentável porque, sempre é bom lem-brar, nosso objetivo não é apenas eco-nômico, é principalmente social; o foco está nas pessoas, nos nossos coopera-dos. Esse é, portanto, o diferencial das cooperativas, que acabam apoiando o país nesses momentos de crise. É evi-dente que vivemos um momento de apreensão e de aperto de cintos, mas acredito que vamos superá-lo. Tenho certeza que vamos sair dessa. l

dr. Marcos Cunha (FeSP), del Grande (oCeSP), dr. ary Célio (Unimed do Brasil/Fundação Unimed), dr. Paulo Borem

(Unimed). Cincinnati Children’s Hospital, dezembro de 2014

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8 i o neGóCio é CooPerar

flores Ocesp contribui

para estudo inédito da cadeia produtiva

de flores no país, que alcançou PIB de R$ 4,5 bilhões

em 2014

por Edmir Nogueira

Tudo são O cooperativismo paulista mais

uma vez mostra sua força econômica e sua capacidade de criar postos de trabalho e

renda para milhares de pessoas. Um estudo inédito, financiado por meio de um convênio entre a Ocesp (Orga-nização das Cooperativas do Estado de São Paulo) e o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-to), revelou que a cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais no Brasil alcançou um “PIB” de R$ 4,5 bilhões em 2014. O setor registrou ainda mo-vimentação financeira superior a R$ 10 bilhões, criando 190 mil empregos diretos, com investimentos de R$ 2,8 bilhões apenas em salários, e R$ 2,5 bilhões em impostos. O principal motor do setor está no Estado de São Paulo, que representa 40% do mercado de flores do país, com significativa partici-pação das cooperativas Veiling Holam-bra, Cooperflora e SP Flores.

Entusiasmado com os resultados, o presidente da Ocesp, Edivaldo Del Grande, reforça o papel da instituição

nos próximos passos. “A partir da apre-sentação do estudo, o que compete ao cooperativismo, a Ocesp se compro-mete a ajudar na implementação de uma agenda estratégica, participando também na difusão deste mapeamen-to”. O dirigente faz questão de ressaltar que um estudo dessa magnitude co-meçou com o empenho do deputado Junji Abe, cooperativista da região de Mogi das Cruzes, e que conhece de perto o setor. “Com o apoio da Ocesp, ele conseguiu recursos do Ministério da Agricultura para viabilizar o trabalho da USP”, destaca Del Grande.

POTENCIaLDesenvolvido pela Fundação para

Pesquisa e Desenvolvimento da Admi-nistração, Contabilidade e Economia da Universidade de São Paulo (Funda-ce/USP), o estudo revela as possibili-dades da cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais no Brasil. “Acre-dito que é um setor que tem potencial para se tornar um dos grandes segmen-tos do país, pois emprega muita gente,

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gera impostos e pode se tornar um grande exportador, com um dólar mais favorável”, esclarece Marcos Fava Ne-ves, professor da Faculdade de Econo-mia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP) e coordenador do estudo. Ele enfatiza que o caminho da profissionalização da cadeia está na formação de cooperativas e na criação de uma rede de expansão tecnológica que permita levar o benchmarking das grandes cooperativas aos produtores de outras localidades. “As cooperativas são fundamentais para que os produto-res possam acessar o mercado de for-ma ágil e com produtos que atendam às expectativas dos consumidores em termos de qualidade e variedade”, explica Mairun Junqueira Alves Pinto, pesquisador do estudo.

Para André van Kruijssen, diretor geral da Cooperativa Veiling Holambra, o mapeamento e a quantificação da cadeia produtiva de flores e plantas or-namentais foi de extrema importância para todo o segmento florista. Segundo ele, o estudo possibilitou conhecer e confirmar alguns dados, como a força econômica das cooperativas, mas tam-bém revelou outros pontos importantes

que permitirão ao setor avançar no de-senvolvimento de todos os elos da ca-deia. “É importante ressaltar que esta é a primeira vez que temos dados con-cretos em mãos e que poderão nortear estudos futuros e avanços significati-vos no crescimento e desenvolvimento da floricultura. Temos que parabenizar todos os envolvidos, pois, sem dúvida, este foi um grande passo para toda a cadeia produtiva e comercial de flores e plantas no Brasil.”

GarGaLOSO setor enfrenta ainda gargalos,

que precisam ser superados com uma agenda estratégica específica, confor-me aponta a pesquisa. Entre eles, estão o transporte e a armazenagem mais adequados, a formação de profissionais especializados no segmento e a melho-ria de fiscalização e controle para evitar a entrada de doenças e pragas no país. O consumo de flores e plantas orna-mentais também precisa ser incentiva-do, pois ainda engatinha entre nós. No Brasil, o gasto per capita por ano com flores é de US$ 9, contra US$ 174 na Suíça, US$ 164 na Noruega, US$ 80 na

Holanda, US$ 58 nos EUA e US$ 25 na Argentina, por exemplo.

Evidentemente, o setor de flores tem características próprias, dife-rentes de outras áreas agrícolas. São diversos ciclos de produção durante o ano, demandando regularmente insumos, pessoas e serviços de trans-portes. Diante dessa dinâmica, os produtores dependem ainda de recur-sos para investimentos em estufas, sistemas de irrigação, climatização, entre outros itens. Por isso, o finan-ciamento adequado é essencial para impulsionar toda a cadeia produtiva de flores no país.

O conjunto de leis que impacta diretamente o setor produtivo é outro ponto da agenda estratégica resul-tante do estudo. As cooperativas pre-cisam reivindicar mudanças que ga-rantam o reenquadramento legal dos micros, pequenos e médios produto-res, além de atuar para a implantação das políticas tributárias adequadas à realidade do setor. O uso de incentivos tributários como forma de combate à informalidade e a isonomia do ICMS entre os Estados são outros dois itens dessa agenda que precisam ser traba-lhados pelos produtores. l

Flores e plantas ornamentaisPIB da cadeia no Brasil em 2014 (em milhões)

Cadeia produtivaMovimentação financeira - R$ milhões

Floricultura

Decoração

Paisagismo

Autosserviço

Atacados para consumidor final

Produtor para consumidor final

Exportação

Importação

Antes das fazendasNas fazendasDepois das fazendasAgentes facilitadoresImportaçõesExportações

1.291,0 2.089,0 6.403,2 292,483,056,0

982,4

2.337,1

648,4

384,8

120,7

60,3

56,0

83,0

Total* 4.507,0 Total 10.214,6

Fonte: Markestrat, Fundace/FEA-RP. * O valor total desconta as importações.

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i CaPa

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A saúde dos brasileiros inspira cada vez mais cuidados, e o sistema público e privado têm pela frente grandes de-

safios para garantir melhor qualidade de vida à população. As doenças crô-nicas, como hipertensão, diabetes, distúrbios cardiovasculares e câncer, já respondem por 72% dos óbitos no país, segundo o sistema de vigilância

de fatores de risco e proteção para do-enças crônicas por inquérito telefônico (VIGITEL), do Ministério da Saúde, de 2014. O envelhecimento da população nos próximos 20 anos deve elevar ainda mais a atenção do setor. Estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a popula-ção acima de 60 anos vai mais do que triplicar no período, chegando a 88,6

Apoiadas em programas de formação do Sescoop/SP,

29 Unimeds mudam paradigmas de atendimento

e recriam a medicina preventiva e a figura do

médico de família

Uma revolução na

saúde por Edmir Nogueira

Grupo de representantes das cooperativas conhecem o trabalho realizado pelo Cambridge Health alliance, nos eUa, em 2014

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i CaPa

milhões de pessoas ou 39,2% dos bra-sileiros. O país também convive com um dos mais altos indicadores de cesariana no mundo. Na saúde suplementar, o ín-dice de cesarianas é de 84,6%.

As autoridades de saúde e as ope-radoras precisam se preparar para uma corrida contra o tempo para en-frentar a elevação dos custos e do uso de serviços que despontam no horizon-te. Já é consenso que é preciso repen-sar o atual modelo de saúde, baseado em hospitais e especialidades, e resga-tar o papel do clínico geral e do médico de família. Diante desse panorama, o Sescoop/SP tem contribuído para o desenvolvimento de programas de for-mação para cooperados e funcionários no segmento de operadoras de planos de saúde. Desde 2011, mais de 100 pessoas participaram de intercâmbios técnicos, tanto na área médica quanto na odontológica, com visitas a institui-ções de saúde no Reino Unido, França, Holanda, Alemanha, Suécia e Estados Unidos – países escolhidos por ado-tarem práticas de Atenção Primária à Saúde (APS) por meio da medicina centrada no paciente, entre outras ati-vidades.

“O intercâmbio proporciona um aprendizado intenso, com apreensão de conceitos e a sensibilização por meio de visitas a unidades de saúde de referência. E essa prática tem quebra-do alguns paradigmas, sen-sibilizando dirigentes e gestores para algu-mas mudanças n e c e s s á r i a s ” , analisa Lajyarea Duarte, coorde-nadora do Ses-coop/SP. Para ela, as experiên-cias no exterior contribuem de for-ma significativa para a implantação de um novo modelo assistencial nas cooperativas do setor. “Esse modelo está provocan-do mudanças importantes, com mais qualidade no atendimento por conta da melhoria da saúde da população, melhor experiência do cuidado e oti-mização de custos. Os primeiros resul-tados são muito animadores e temos muito a avançar nesse sentido”.

Sob a coordenação de Paulo Bo-rem, médico especialista em Ciência

da Melhoria do Sistema Unimed e do-cente do IHI (Institute for Healthcare Improvemet), 29 Unimeds estão hoje envolvidas em Projetos de Atenção Primária à Saúde. “Até o final do ano,

esse projeto deve estar em 50 Unimeds paulistas”, come-

mora o médico Marcos de Almeida Cunha, diretor

de Desenvolvimento Humano e Institucio-nal da Fesp (Federa-ção das Unimeds do Estado de São Paulo).

Otimista, ele aposta que o modelo centrado

no hospital está com os dias contados, sendo subs-

tituído por uma nova sistemática de atendimento focada no paciente, com o resgate do médico de família e uma equipe multidisciplinar para aten-der às demandas de saúde das pesso-as. “No futuro, todo o sistema vai estar ligado na Atenção Primária à Saúde”.

O diretor da Fesp considera nor-mais as resistências a essa mudança de paradigma, mas nada que não possa ser superado. “Isso passa por mudanças na cultura médica e da população”, diz. “A ideia é que a APS seja referência de 20% das consultas para os especialis-tas”, explica. Mas as mudanças podem ocorrer com muito mais velocidade do que se tem projetado. Segundo Cunha, empresas europeias e asiáticas instala-das no país já vêm com a cultura de que a Atenção Primária à Saúde contribuiu para os seus colaboradores e procuram planos que ofereçam o modelo. “Elas sabem que na APS o absenteísmo, por exemplo, tende a reduzir”.

aPrOvaçãO DOS CLIENTESUm exemplo dessa mudança pode

ser encontrado na Unimed Guarulhos, que se prepara para alçar voos mais altos com o seu Sistema de Atenção Primária à Saúde. Criado em agosto de 2012, esse modelo trouxe resultados surpreendentes que servem de exem-plo tanto para o sistema público de saúde quanto para o setor privado. Ini-cialmente, para uma carteira fixa com

Hoje 29 Unimeds estão envolvidas em projetos de atenção Primária à Saúde e, até o final do ano,

deverão ser 50

em 2014, o aprendizado intenso do intercâmbio trouxe novas ideias para as cooperativas

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cerca de 3 mil clientes, a redução de custo per capita chega a 38%.

Mas a grande vitória para os profis-sionais do programa pode ser medida por outro resultado. “O índice de satis-fação dos pacientes da Atenção Primá-ria é maior do que 90%”, comemora o médico Fernando da Silva Faraco, co-ordenador do Núcleo de Atenção Pri-mária à Saúde da Unimed Guarulhos (NAPS). Especialista em Medicina de Família e Comunidade e entusiasta do modelo, ele aponta outros resultados positivos, como a redução de 63% de atendimento no Pronto-Socorro da co-operativa pela clientela do programa, e de 85% dos casos resolvidos no próprio programa, sendo apenas 15% encami-nhados para a referência médica. “A atenção primária atende o cliente des-de o pré-natal, passando pela infância, adolescência, a fase adulta e também a idade avançada. É um serviço centrado na pessoa e na família”, destaca Faraco.

equipe da Unimed de Guarulhos, onde o Sistema de atenção

Primária à Saúde é um sucesso

O projeto da cooperativa é expan-dir esse serviço, agora como um novo produto da Unimed Guarulhos deno-minado Pleno. Com isso, novos núcleos de Atenção Primária à Saúde deverão ser formados para atender essa nova clientela nas cidades abrangidas pela singular. “Já temos empresas que fe-charam contrato com o novo plano para os seus colaboradores”, afirma o médico.

DIabETESOutro exemplo de sucesso da

Unimed Guarulhos vem da equipe do NAPS dedicada aos pacientes com diabetes. Sob a coordenação de Paulo Borem e liderado pela médica Andrea Gushken, cooperada da Unimed Gua-rulhos, a equipe é responsável pelo “Cuidado Perfeito ao Paciente com Diabetes Mellitus”, um programa de reconhecimento internacional. Ele foi premiado em 1º lugar no I Fórum Lati-

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i CaPa

no Americano de Qualidade e Seguran-ça na Saúde, promovido pelo IHI em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, em agosto de 2015.

O princípio fundamental do projeto é colocar o paciente como o centro do cuidado e não os médicos ou a equipe de saúde. A proposta é que todos os pacientes recebam o “Cuidado Per-feito” baseado na melhor evidência científica, utilizando a Ciência da Me-lhoria para redesenhar o processo de cuidado. O próximo passo é integrar o cuidado na vida diária dos pacientes, nas suas casas e no trabalho. Em Gua-rulhos, 74% dos pacientes que estão no programa alcançaram acima de 90% dos cuidados preconizados pela literatura médica.

“A inovação no atendimento, o re-desenho do sistema, a busca ativa do paciente e a avaliação sistemática dos

resultados em qualidade contribuem para o bom desempenho do projeto. É importante a vontade de colocar os interesses dos clientes em primeiro lugar, ter determinação, metodologia, amor e empatia ao paciente”, ressalta Andrea Gushken.

A coordenação é um dos princi-pais pilares do sucesso do programa. Se o paciente não retorna para receber os cuidados anuais, todo um sistema é acionado para que ele compareça. Outras ações fazem parte do atendi-mento, como as consultas em grupo e a visita domiciliar por um educador em saúde. “Desta forma, estamos redu-zindo riscos de complicações agudas e crônicas para estes pacientes, como cegueira, infarto do miocárdio, aciden-te vascular cerebral, amputação de membros, insuficiência renal”, exem-plifica a médica.

Os resultados positivos deste pro-grama também já são compartilhados em palestras e eventos e devem ga-nhar novas dimensões nos próximos anos. “Pretendemos alcançar cerca de cinco mil diabéticos que fazem parte da carteira da Unimed Guarulhos”, an-tecipa Andrea Gushken.

rEFErêNCIa INTErNaCIONaLO Projeto Melhor Parto da Unimed

de Jaboticabal e Hospital e Materni-dade Santa Isabel foi implantado em outubro de 2012 e nasceu do contato com boas práticas e experiências de sucesso quando das viagens interna-cionais promovidas pelo Sescoop/SP com os profissionais da área. “Nosso trabalho foi referência para o projeto Parto Adequado da Agência Nacional de Saúde com apoio do Ministério da Saúde”, comemora o médico Jeyner

em 2011, um dos primeiros intercâmbios ajudou a conhecer melhor programas de atenção primária em londres

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jan/fev/mar 2016 � Coopera SP

dr. Jeyner Valério Junior comemora os resultados do projeto

Unimed Jaboticabal tem equipe preparada para receber as gestantes

atendimento no Sistema de atenção Primária à Saúde na Unimed de Guarulhos

Valério Junior, coordenador do projeto. Segundo ele, o resultado do trabalho foi publicado pela Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e ganhou o Prêmio Inova+Saúde da Seguros Unimed, sendo ainda apresentado no Fórum do IHI (Institute for Healthcare Improvement) em Orlando (EUA).

O projeto cooperativista vem con-tribuindo para mudar profundamente a realidade brasileira. Enquanto a média de nascimentos por cesarianas chega a 82% no setor privado, a Unimed de Jaboticabal alcançou 50% de partos normais. “Isso reduziu em 60% o nú-mero de recém-nascidos encaminha-dos para a CTI neonatal”, explica Jey-ner. Segundo o médico, as internações por imaturidade pulmonar em crianças nascidas de cesariana são altíssimas no Brasil.

Dados do Ministério da Saúde reve-lam que o índice de cesarianas na saúde suplementar é de 84,6%. O coordena-dor do projeto em Jaboticabal lembra que esse procedimento não deve ser descartado pelos profissionais. “A ce-sariana é uma ótima cirurgia e não está proibida no nosso projeto, mas tem que ter uma indicação médica precisa.”

“As resistências foram enormes e de todos os lados, como dos médicos, das famílias das parturientes e das próprias gestantes”, explica o coorde-

i

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i CaPa

nador sobre o início do projeto. Para alcançar esses resultados, a Unimed de Jaboticabal teve que promover profundas mudanças no modelo de assistência à gestante. A singular criou salas de pré-parto, parto e pós--parto, as chamadas PPPs, onde os médicos obstetras passaram a ficar 24 horas à disposição das pacientes e começaram a ser remunerados pelo tempo no plantão e não mais por pro-cedimentos. “Assim, não importa se é uma cesariana ou parto normal ou o tempo que dure o trabalho de parto, a remuneração será a mesma”, comen-ta Jeyner. Também houve forte inves-timento em enfermagem especializa-da (obstetriz) e trabalho junto com a comunidade das futuras mães e seus familiares.

A repercussão positiva do Projeto Melhor Parto superou as expectati-vas de toda a equipe. Além de visitas frequentes de médicos e instituições de saúde para conhecer o trabalho, a Unimed de Jaboticabal coloca à disposição de todos os profissionais interessados as informações das fa-ses de implantação do projeto. Para o médico, essa é uma maneira de difundir a adoção de novos procedi-mentos de incentivo ao parto normal. “Fornecemos tudo o que desenvolve-mos: metodologia, manuais, impres-sos, mostramos onde evoluímos e também os nossos erros.”

Dr. Jeyner espera que o projeto seja um exemplo de política pública nacional de atendimento às gestan-tes, podendo ser implantado em todo o País. “Precisamos mudar a visão cul-tural e o conceito sobre parto normal e cesariana no Brasil”, destaca.

Segundo ele, os indicadores al-cançados são resultados de um tra-balho focado: “merece destaque es-pecial a introdução da metodologia da ciência da melhoria do já citado IHI pelo médico Paulo Borem, espe-cialista em Ciência da Melhoria Uni-med Brasil/Fesp.”l

PIONEIrISmO DE JabOTICabaLA Uniodonto de Jaboticabal é

outro exemplo dessas novas prá-ticas. Ela vem conquistando lugar de destaque no cenário nacional de saúde preventiva em odontologia. A cooperativa é a primeira operadora do mercado odontológico brasileiro a fazer projetos de atenção primária e, com a Unimed Jaboticabal, se tornou modelo para outras institui-ções do setor, conquistando prê-mios e convites para participações constantes em seminários. Os resul-tados animaram os gestores do pro-grama, que deve ser ampliado nos próximos anos. “Quando adotamos rotinas clínicas com foco na Melho-ria Contínua da Qualidade diminu-ímos a necessidade de realização de procedimentos e melhoramos a qualidade da saúde bucal dos pa-cientes”, comemora José Alves de Souza Neto, presidente da Unio-donto de Jaboticabal e da Uniodon-to Brasil.

A implantação do Programa de Atenção Primária começou a ser formulado em 2012, logo após uma Missão Internacional promo-vida pelo Sescoop/SP, que tinha como objetivo levar os dirigentes de cooperativas de saúde a conhecer modelos diferentes e já consagra-dos de atendimento à saúde e que pudessem ser implantados no Bra-sil. Foram conhecidos, na Missão de

Odontologia, modelos na Inglaterra, Suécia e Holanda.

Na época, a Unimed de Jabotica-bal, que participou da Missão da Me-dicina, estava estruturando um Centro de Atenção Primária como Projeto Pi-loto e a Uniodonto de Jaboticabal se juntou ao projeto propiciando assim um atendimento global dos clientes envolvendo medicina e odontologia.

A equipe de Odontologia e a equi-pe Médica agora trabalham juntas no Centro de Atenção Primária, criado especificamente para atendimento dos pacientes desse programa, com integração e troca de informações de ambos os setores. “O foco principal da Atenção Básica é melhorar a qualida-de do atendimento e do cuidado com o paciente”, ressalta José Alves.

Hoje, cerca de 1.300 pacientes, de todas as idades, participam des-se programa, que começou com 700 pessoas. No Centro, o cliente é aten-dido pela equipe médica e depois é encaminhado para o setor de Odonto-logia. O eixo principal do atendimen-to é trabalhar com a prevenção, e os pacientes recebem tratamento como aplicação tópica de flúor, profilaxia, orientação de higiene e raspagem su-pragengival nos casos indicados. “As outras necessidades são realizadas pela rede de atendimento da Unio-donto”, explica o presidente da coope-rativa.

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inClUSão i

Mais inclusãoSurgido com uma demanda da Unimed de Franca em 2014, o curso de Libras do Sescoop/SP terá níveis intermediário e avançado em 2016

Ao contrário do que muitos pen-sam, as línguas de sinais usa-das por deficientes auditivos não são universais, pois cada

país tem a sua própria, como a França, os EUA e o Brasil, entre outros. E essa linguagem de sinais só foi implantada depois de muita luta pela inclusão dos deficientes à sociedade. No Brasil, essa língua – originária da França – come-çou a ganhar espaço em meados do sé-culo XIX, mas somente em 2002 é que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi oficialmente reconhecida por lei.

E o cooperativismo vem abraçan-do a Libras de maneira entusiástica. Uma demanda surgida em 2014 na Unimed de Franca se transformou em ação permanente do Sescoop/SP: o curso de capacitação em Libras ofe-recido por meio do Programa Coope-rativa Inclusiva. “A iniciativa fez tanto sucesso que teve que ser aprimorada e estendida”, explica Pamela Ramos Peyneau, analista de projetos de Pro-moção Social do Sescoop/SP.

O curso começou em formato de oficina, com 32 horas, mas agora já está estruturado em dez módulos se-manais de 4 horas, num total de 40 horas, com 15 a 20 participantes cada

alunos do curso de libras do Sescoop realizado em 2015

tes auditivos. “Além de possibilitar a integração dos funcionários com de-ficiência, o curso permite aumentar a inclusão, com a possibilidade de con-tratação de novos funcionários nessa condição”, diz Pamela.

Ela explica que as principais bene-ficiárias do curso são cooperativas que trabalham bastante com atendimen-to ao público, como as Unimeds, que podem capacitar funcionários como atendentes, enfermeiros e seguranças. “Mas este é um curso para todas as cooperativas, independentemente do ramo, pois a cultura de inclusão faz par-te dos valores de respeito e diversidade defendidos pelo cooperativismo”.

O curso de Libras também con-textualiza o aluno no universo do defi-ciente, integrando pessoas que nada tem a ver com esse universo. “No ano passado, algumas turmas realizaram eventos no seu encerramento. Agora, resolvemos institucionalizar essa práti-ca e todo curso terá um produto final, como um jornal, uma apresentação, etc., envolvendo pessoas fora do cur-so”, conclui Pamela. l

um. “Em 2015 fizemos nove turmas no nível básico. Duas turmas tiveram aula na sede do Sescoop/SP e as demais nas cooperativas”, relata Pamela. No ano passado foram 196 alunos repre-sentando 15 cooperativas. “Neste ano pretendemos ter turmas nos níveis in-termediário e avançado”, completa.

O objetivo do curso é a integração de colaboradores com deficiência au-ditiva. Pamela explica que 99% dos alunos do curso de Libras são pessoas não-deficientes que, no seu dia a dia, costumam ter contato com deficien-

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i interCooPeração

Parceria entre Coopercitrus e Cobrac tem início

União é importante para o sistema agrocooperativista do noroeste do

estado de São Paulo e pode resultar em incorporação

por Vinícius Abbate

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i

com o objetivo de organizar aquele se-tor produtivo. Atualmente, a entidade tem cerca de mil sócios e atua no rece-bimento e processamento de grãos e produção de insumos para a nutrição de gado bovino de corte e de leite.

Seu centro agroindustrial está instalado em Araçatuba, cidade locali-zada a 540 quilômetros a noroeste da capital, em uma área de 97 mil m², às margens da Rodovia Eliezer Montene-gro Magalhães, próximo à Rodovia Ma-rechal Rondon.

“Concretamente, visamos a uma melhoria na pres-

tação de serviços, à otimização da fá-

brica de ração e da extrusora de soja, aprimoran-do o atendimento aos produtores de

grãos e pecuaristas de todo o noroeste

paulista”, afirma José Vicente da Silva, presiden-

te da Coopercitrus. “Vamos dar apoio àquela importante região, fazendo com que o cooperado tenha melho-res condições de adquirir insumos

e máquinas, e utilize, com o apoio das coope-rativas unidas, as mais modernas técnicas, e co-mercialize sua produção

Uma das maiores cooperati-vas do Estado de São Paulo, a Coopercitrus (Cooperativa de Produtores Rurais) assinou

com a Cobrac (Cooperativa Agropecuá-ria do Brasil Central), de Araçatuba-SP, em 4 de dezembro último, uma parceria para viabilizar operações em conjunto, por meio do arrendamento de instala-ções. O acordo é o primeiro passo em direção a uma futura incorporação.

“Depois de ter enfrentado uma lon-ga crise financeira, ao firmar essa par-ceria com a Coopercitrus, entramos em uma nova fase, com maior e melhor utilização das nos-sas estruturas, podendo obter resultados opera-cionais mais significati-vos, reduzindo custos e oferecendo aos nossos cooperados, bem como aos da Coopercitrus, no-vos produtos e melhores condições na prestação de serviços”, avalia Sérgio Paoliello, presidente da Cobrac.

A Cobrac acabou de completar 50 anos. Ela foi fundada em 3 de outubro de 1965 por um grupo de pecuaristas,

de forma a ter sempre um menor custo”, completa.

Sediada em Bebedouro-SP, a 395 km ao norte da capital, a Cooper-citrus foi fundada um ano antes da Cobrac, em 1964, e atua com a co-mercialização de insumos, máquinas e implementos agrícolas. Em 2014, registrou um faturamento de R$ 1,8 bilhão. Hoje, tem 23 mil sócios-coo-perados.

rESULTaDOS PráTICOS Após o acordo, a Coopercitrus já

visitou todas as estruturas da Cobrac e fez avaliações positivas das instala-ções, que poderão ser melhoradas e até ampliadas.

A união das cooperativas vai fa-zer com que, por exemplo, a Cobrac aumente sua capacidade de recebi-mento de grãos de 80 para 230 tone-ladas/hora.

Já a Coopercitrus poderá esma-gar a soja recebida na permuta com os insumos fornecidos nas instala-ções da Cobrac, vender o óleo bruto e direcionar o farelo de soja para sua rede de lojas ou utilizá-lo na fabrica-ção de rações. Seus cooperados po-derão beneficiar e armazenar grãos nas instalações da Cobrac, aumen-tando a sua utilização, e garantindo suas negociações com a cooperativa.

“Os frutos desta parceria pode-rão ser colhidos por ambas as coope-rativas ainda neste semestre, depen-dendo somente da identificação e formalização dos contratos pontuais das atividades identificadas”, com-pleta Sérgio Paoliello. l

a nova parceriafará com que a

Cobrac aumentesua capacidadede recebimento

de grãos de 80 para230 toneladas

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Coopera SP � jan/fev/mar 2016

i SeSCooP/SP eM ação

Cresce a procura por programas e cursos

oferecidos pelo Sescoop/SP

Prioridade à qualificação profissional

por Matheus Campos

Oeducador e filósofo norte--americano John Dewey (1859-1952) dizia que o ideal não é que o aluno acu-

mule conhecimento, mas sim que de-senvolva capacidades. E essa máxima se revelou extremamente adequada a um mundo globalizado e em cons-tante transformação, onde o mercado de trabalho é cada vez mais exigente. Capacitação e qualificação profissio-nais são preocupações essenciais do Sescoop/SP. Desde sua criação, há 17 anos, a entidade vem dando priorida-

de à formação profissional e, a cada ano, cresce o número de cooperados e funcionários de cooperativas bene-ficiados com os programas e projetos nessa área.

Por outro lado, como prevê o 5º princípio do cooperativismo, é neces-sário que as cooperativas invistam sempre na educação de seus mem-bros e da comunidade em geral. Nes-se sentido, o programa de educação continuada do Sescoop/SP oferece às cooperativas palestras, cursos de cur-ta e média duração e programas de

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pós-graduação. Esses cursos e progra-mas estão distribuídos em três gran-des projetos: Cursos Livres, Cursos In Company e Pós-Graduação.

Além disso, há o programa Apren-diz Cooperativo, que auxilia as coope-rativas na contratação e capacitação de aprendizes, de acordo com a Lei 10.097/2000 e que, no ano passado, foi expandido de 52 para 81 municí-pios em todo o estado de São Paulo, e de 56 para 75 cooperativas atendi-das. “Neste programa, os jovens têm uma formação cidadã, pautada em valores cooperativistas, o que possibilita o desenvolvimento integral e a inserção no mercado de trabalho”, explica Alexandre Ambrogi, gerente da área de Formação Profis-sional do Sescoop/SP.

O s C u r s o s I n Company e Cursos Livres se diferen-ciam pela forma de atendimento às cooperativas. Os primeiros são descentralizados e reúnem participantes de uma única coopera-tiva, que solicita as ações com base em seu planejamento anual, ela-borado sob a orientação do Sescoop/SP para atender as suas necessidades. Já os Cursos Livres são ações que po-dem reunir participantes de diversas cooperativas e têm por base a demanda

do que vivenciamos nas cooperativas. Ele oferece condições do dirigente ter uma visão mais analítica do negócio em vez de só atuar por intuição”.

DESENvOLvImENTO HUmaNO NaS COOPEraTIvaS

Uma figura essencial para o au-mento do número dos cursos é o Agen-te de Desenvolvimento Humano (ADH) das cooperativas. Esses profissionais são o elo entre as cooperativas e o Ses-coop/SP. No projeto In Company, por exemplo, eles são fundamentais para se atingir as metas definidas. “Conta-mos com os ADHs para fazer um aten-dimento cada vez mais adequado e os números mostram que temos obtido êxito”, afirma o gerente Alexandre Ambrogi.

Em 2015, um dos projetos de destaque envolvendo os ADHs foi o Programa de Formação dos Agentes de Desenvolvimento Humano, que visa capacitar e qualificar pessoas nas cooperativas a fim de facilitar o uso de recursos do Sescoop/SP, ace-lerar os processos de solicitação de ações pelas cooperativas e realiza-ção delas pelo Sescoop/SP, além de primar pela qualidade dos serviços prestados por terceiros credenciados ao Sescoop/SP por meio de editais e que irão atender diretamente os cooperados, funcionários, dirigentes, familiares e comunidade em nome dessa instituição.l

apresentada, principalmente quando o número de participantes é insuficiente para compor uma turma exclusiva.

Em comparação a 2014, a deman-da por Cursos Livres cresceu 141% em 2015. Foram realizados diversos cursos comportamentais e técnicos. “As ações de educação continuada têm como objetivo desenvolver áreas comuns a vários ramos do cooperati-vismo no que diz respeito à gestão das cooperativas. São cursos e palestras que visam aperfeiçoar ou implantar competências ligadas”, diz Ambrogi.

Um dos destaques do ano passado foi o Formacoop (Programa de Forma-ção para Dirigentes de C o o p e r a -

t i v a s ) , o qual teve como objet i v o

desenvolver as competên-cias técnicas e aprimorar

a gestão das coope-rativas do Sistema Uniodonto, contri-buindo na busca de melhores práticas da G o v e r n a n ça

Cooperativa. O con-teúdo programático

foi elaborado conside-rando-se as necessidades

apresentadas no resultado do PDGC (Programa de Desenvolvi-mento da Gestão das Cooperativas).

Na opinião de João Leonardo Della Libera Filho, vice-presidente da Unio-donto de Jaboticabal, “o curso foi bem direcionado para os dirigentes e tratou

neste programa, os jovens têm umaformação cidadã,

pautada em valorescooperativistas, parao desenvolvimento

integral e inserção nomercado de

trabalho

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Cooperativas lutam contra o apagão do ramo

22 i FoCo CooPeratiViSta

Coopera SP � jan/fev/mar 2016

por Edmir Nogueira

Regras estabelecidas pela Aneel podem inviabilizar a continuação das atividades das 67 cooperativassingulares que atuam no setor de distribuição de energia

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Nos rincões brasileiros, as cooperativas de energia têm contribuído para o desenvol-vimento econômico, princi-

palmente por meio de fornecimento de energia para milhares de produtores rurais. No Brasil, 67 cooperativas do ramo infraestrutura atendem cerca de 600 mil consumidores, beneficiando 3,5 milhões de brasileiros. Destas, 16 estão no Estado de São Paulo, levando energia para 100 mil clientes. Mas as regras estabelecidas pela Aneel (Agên-cia Nacional de Energia Elétrica) podem dificultar e até mesmo inviabilizar a con-tinuação do trabalho dessas singulares.

A regulamentação estabelecida pelo setor a partir de 2008 previu um desconto, variável para cada coopera-tiva, de compra de energia para distri-buição para os seus associados. A partir de 2016, a regra prevê a redu-ção desse desconto na ordem de 25% ao ano, para os próximos quatro anos. “Se continuar desse jeito, sem uma d i f e r e n c i a ç ã o para as coope-rativas, uma boa parte delas não so-breviverá mais quatro anos”, sentencia Danilo Pasin, diretor do ramo Infra-estrutura da Ocesp e coordenador do mesmo ramo na OCB. Ele defende que

as cooperativas recebam o tratamento adequado pelos serviços que realizam. “É muito mais fácil distribuir energia elétrica na cidade do que na zona rural”.

As cooperativas de energia reali-zam um serviço diferenciado de outras concessionárias do setor, sendo que 95% delas atendem principalmente o homem do campo e, algumas sin-gulares, são 100% fornecedoras para produtores rurais. A Coprel de Ibirubá (RS), por exemplo, tem cerca de 50 mil associados atendidos em 70 mu-nicípios da sua região. Enquanto as grandes empresas do setor distribuem energia para 20 consumidores por qui-lômetros de rede, as cooperativas do ramo atendem em média cinco asso-ciados por quilômetro. “O que temos mostrado para o governo é que esse serviço mais árduo, sem as cooperati-vas, ninguém teria feito”, analisa José

Zordan, superintendente da In-fracoop (Confederação Na-

cional das Cooperativas de Infraestrutura).

Os representantes do ramo têm levado sugestões e se reuni-do com autoridades da

Aneel, do Ministério de Minas e Energia e outros

setores do governo federal. “As cooperativas de energia

precisam de uma medida compen-satória pelas dimensões e estrutura do mercado que atuam”, afirma Jânio

Stefanello, presidente da Infracoop. Para ele, “o desafio é aperfeiçoar o mo-delo para que as cooperativas sigam valorizadas com políticas públicas, para trabalhar o mercado”.

PESQUISaNos anos de 2014 e 2015 a Aneel

incluiu as cooperativas de energia na sua pesquisa anual para o Iasc (Indi-cador Aneel de Satisfação do Consumi-dor). O resultado foi surpreendente e reforça o valor do cooperativismo para a sociedade. O levantamento mostrou que as 15 primeiras empresas me-lhor avaliadas no indicador, entre 101 pesquisadas (63 concessionárias e 38 cooperativas), são cooperativas. “Esse exemplo mostra que as cooperativas estão do lado do consumidor, que tam-bém é o dono e o gestor da cooperati-va”, afirma Zordan.

Stefanello ressalta que todas as cooperativas de energia possuem uma grande identificação com suas comu-nidades a partir do atendimento. “O associado liga para a sua cooperativa e vai falar com alguém próximo, que co-nhece e entende a realidade daquela região, e não com uma pessoa de outro Estado. Conforme a própria pesquisa Iasc demonstrou, mesmo com todas as dificuldades, que é manter quilômetros e mais quilômetros de rede para um número pequeno de consumidores, as cooperativas têm um atendimento me-lhor e personalizado”. l

a partir deste ano,o desconto previsto

pela regulamentaçãoserá reduzido em25% ao ano para

os próximosquatro anos

3,5 milhões de brasileiros beneficiados 95% das cooperativas de energia atendem o consumidor rural

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24 i Crédito

Coopera SP � jan/fev/mar 2016

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por Vinícius Abbate

Com mais de um século de história no Brasil, o coopera-tivismo de crédito ganhou re-centemente um novo status,

que certamente ajudará a impulsionar o desenvolvimento dessa modalidade de cooperativa entre nós. No segundo semestre do ano passado, por meio da Resolução nº 4.434/15, o Conselho Mo-netário Nacional (CMN) aprovou novas regras que especificam o funcionamen-to das cooperativas de crédito no país.

De acordo com o Banco Central, com a mudança, essas cooperativas passam a ser enquadradas em três ca-tegorias: plena (podem praticar todas as operações); clássica (que não po-dem ter moeda estrangeira, operar com variação cambial e nem com derivati-vos, que são instrumentos do mercado futuro); e de capital e empréstimo (que não podem captar recursos ou depósi-tos, sendo seu funding apenas o capital próprio integralizado pelos associados).

“A nova classificação contribuirá para aumentar a eficiência do coope-rativismo de crédito, uma vez que refle-te melhor os riscos incorridos, diminui distorções, concede maior flexibilidade para as cooperativas e reduz exigên-cias e ônus desnecessários que pode-riam ser encontrados na segmentação por público-alvo e área de atuação”, explica João Luiz Marques, chefe-ad-junto do Departamento de Organiza-ção do Sistema Financeiro (Deorf) do Banco Central.

A nova estrutura regulatória revoga os critérios de classificação das coope-rativas pelo seu escopo associativo e

Mudar para avançar Entenda a nova classificação das cooperativas de crédito, suas

implicações e os desafios de cada categoria

qualidade; ampliação do leque de pro-dutos e serviços (consórcios, seguros, previdência privada, cartões de crédito, financiamento imobiliário etc.), contri-buindo para a fidelização do cooperado e aumento das operações realizadas; cooperação efetiva entre os sistemas; e constante aprimoramento técnico, já que a competitividade do mercado financeiro exige que os atuais adminis-tradores das cooperativas estejam em processo de capacitação contínuo.

“A expectativa, portanto, é que o segmento continue ampliando a sua participação no sistema financeiro em termos de ativos, captações e patrimô-nio, de forma a promover a inclusão financeira, estimular o desenvolvimen-to regional e atender à demanda de serviços e de produtos financeiros da população brasileira de forma ampla, capilar e competitiva”, conclui João Luiz Marques. l

estabelece uma nova metodologia, ba-seada nas operações realizadas pelas cooperativas, refletindo de forma mais adequada o perfil dos riscos assumidos pelas instituições.

A mudança permitirá ao Banco Central otimizar a supervisão do seg-mento cooperativista, que hoje repre-senta mais de mil instituições finan-ceiras.

DESaFIOSPara João Luiz Marques, no entan-

to, ainda permanece o grande desafio do cooperativismo de crédito brasileiro, que é o de elevar a sua participação no Sistema Financeiro Nacional (SFN), já que o segmento representa apenas 4% do sistema financeiro como um todo.

Ele aponta as seguintes medidas para que as cooperativas superem esse desafio: consolidação do segmen-to, com aumento dos postos de atendi-mento; maior transparência na gestão, com o aprimoramento da governan-ça cooperativa; expansão do uso e compartilhamento de tecnologias, de maneira a levar produtos e ser-viços aos cooperados em maior quantidade e

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26 i ProGraMaS do SeSCooP/SP

Coopera SP � jan/fev/mar 2016

por Carla Itália

A preocupação com a segurança no trabalho remonta à Gré-cia Antiga, onde chamou a atenção de Hipócrates (460aC--377aC, o pai da medicina) e Aristóteles (384aC-322aC). Já o romano Plínio, o velho (23-79), relatou a situação dos

trabalhadores expostos ao chumbo e ao mercúrio. Em 1700, o italia-no Bernardo Ramazzini (1633-1714), considerado o pai da medici-na do trabalho, escreveu um tratado sobre doenças ocupacionais. A primeira legislação envolvendo proteção ao trabalho surgiu na Inglaterra, as Leis das Fábricas (Factory Acts), em 1833, quando a industrialização ia a todo vapor. No Brasil, a segurança no trabalho começou a ser implantada para valer em 1941, com a Consolida-ção das Leis do Trabalho (CLT). Desde então, a preocupação com a saúde do trabalhador plasmou todo o sistema S, do qual o Sescoop é parte integrante.

Em busca do bem-estar no trabalhoIniciado em 2014, um projeto para desenvolver a cultura ergonômica oferece boas soluções e mais qualidade de vida nas cooperativas

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Assim, o Sescoop/SP sempre de-senvolveu ações na área de segurança do trabalho, como as Semanas Internas de Prevenção a Acidentes de Trabalho (SIPAT), em parceria com as coopera-tivas. Em 2014 o núcleo de Esporte e Saúde implantou um projeto inovador chamado “Cultura Ergonômica”. O ob-jetivo é conscientizar os trabalhadores de práticas que melhorem a interação entre o homem com seu ambiente de trabalho. O projeto foi desenvolvido pelas CIPAs (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) de três co-operativas do ramo agro – Cocapec, Coopermota e Holambra II.

Originária do grego ergon, traba-lho, e nomos, normas, a ergonomia é a otimização das condições de tra-balho humano por meio de métodos tecnológicos e de desenho industrial. Para Mirna Taino, analista de projetos do núcleo, as visitas feitas a algumas cooperativas revelaram que muitas delas desconheciam completamen-

te a ergonomia. “Percebi que muitas cooperativas não tinham procedi-mentos de como fazer as coisas cor-retamente”, relata. “Fizemos vídeos mostrando funcionários que, por des-conhecimento ou falta de orientação, adotavam práticas completamente inadequadas ou mesmo nocivas para realizar seus trabalhos. Então, perce-bemos a importância de disseminar a cultura ergonômica”, completa Mirna.

O projeto teve duração de dez me-ses, com encontros de cinco horas a cada mês. “Foram dez encontros no ano, com duas horas de teoria e três horas de prática. Cada reunião era feita em uma cooperati-va participante do projeto. A troca de experiências foi enriquecedora. No começo, houve re-sistência de algumas cooperativas em falar sobre seus problemas. Mas depois o problema de uma já tinha sido solucionado na ou-tra, e as ideias e dicas foram aparecen-do”, esclarece a analista.

Embora simples, algumas mudan-ças fizeram a diferença. No trabalho com a soja, por exemplo, a instalação de mesas acabou com a necessida-de de as pessoas terem de trabalhar agachadas no chão. E, com a implan-

tação de um carrinho sobre trilhos, elas evitam ter de girar o corpo des-confortavelmente. Mirna explica: “Nós percebemos que a maioria das pesso-as sentia dores nas costas por dobrar sacas enormes no chão. Sugerimos a aquisição de mesas, que não são muito caras. Em um outro caso, os trabalha-dores tinham que ficar girando o corpo para transportar o produto de uma es-teira para outra; então desenvolvemos um trilho com um carrinho em que só é necessário empurrar”.

A cooperativa Cocapec, que foi uma das beneficiadas pelo cur-

so, relatou o fortalecimento das áreas já existentes

e a formação de uma nova cultura geren-cial na empresa. “O curso trouxe uma importante mudança de atitude. Diferentes

setores se envolveram, agregando novos co-

laboradores aos quadros da CIPA e estimulando novos

investimentos. Fizemos melhorias sim-ples, mas que resultaram em sensíveis benefícios aos colaboradores e à cooperativa de um modo geral. O curso realmente contribuiu para a formação de uma nova cultura gerencial para a área de segurança do trabalho na Co-capec e com certeza fará o mesmo em outras cooperativas”, incentiva Daniel Alves Carrijo, membro da CIPA.

A experiência foi tão positiva que em 2016 haverá uma nova edição do projeto, dessa vez com cooperativas de saúde. “Será aplicado em 11 Uni-meds na região de Bauru e a previsão é começar os encontros já em março. A ideia é continuar desenvolvendo pequenos procedimentos que levem a grandes melhorias para as coope-rativas e fomentar a discussão do que pode ser feito em cada uma delas”, diz Mirna. O projeto é aberto para todos os funcionários das Unimeds participan-tes dessa edição. l

o curso trouxe umaimportante mudançade atitude, com vários setores se envolvendo

e agregando novoscolaboradores aosquadros da CiPa

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Coopera SP � jan/fev/mar 2016

Giro CooPeratiViSta i

Combate à dengueA cooperativa Sicoob Credicitrus, de Bebedouro-SP, está desenvolvendo uma ação para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da Dengue, febre Chikungunya e o vírus Zica.

A campanha, denominada “Cooperação contra a Dengue”, vai premiar com 20 cartões vale-presentes no valor de R$ 1 mil moradores da cidade em cujas residências não forem encontrados focos do mosquito.

O regulamento (disponível no site www.sicoobcredicitrus.com.br) determina que, para participar da promoção, os moradores devem preencher um cupom.

A ação tem apoio da Prefeitura de Bebedouro, do Departamento de Saúde e do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Bebedouro (SAEEB) e das demais cooperativas sediadas no município: Coopercitrus, Coperfam, Cotram, Cooperesp, Unimed e Uniodonto.

Financiamento para energia solarO Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo) está oferecendo uma nova solução para atender seus associados, ao mesmo tempo em que promove a preservação do meio ambiente. O Financiamento para Energia Solar é uma linha de crédito específica para a compra de equipamentos para geração de energia elétrica por meio da energia solar.

Para obter esse crédito, o associado deverá apresentar o orçamento do empreendimento pretendido na sua unidade de atendimento.

O novo produto é importante, já que, até 2024, a geração de energia elétrica a partir dos raios de sol no país passará dos atuais 0,02% para 4% da potência elétrica, alcançando 7.000 MW, sem contar com a geração distribuída. O dado consta no Plano Decenal de Energia Elétrica 2024 do Ministério de Minas e Energia.

Nova cooperativa habitacional A cooperativa habitacional Habitcoop, de Sertãozinho-SP, pretende concluir nos próximos 20 meses as obras de um edifício residencial de nove andares. Até o momento, um terço das 36 unidades já foi adquirido por cooperados.

O primeiro empreendimento da cooperativa terá apartamentos de 72 metros quadrados, com três quartos, suíte, varanda e duas vagas na garagem. De acordo com a cooperativa, o custo do imóvel é 20% a 25% menor do que o praticado na cidade por imóveis com padrão semelhante.

A Habitcoop foi constituída no final do ano passado, com o apoio da Ocesp e do Sescoop/SP.

Notas sobre cooperativismo e cooperativas em São Paulo

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Economia de energia elétricaEm 2015, a Coop (Cooperativa de Consumo) implementou uma série de medidas para reduzir os gastos com energia elétrica. Como resultado, a economia registrada, em comparação com o gasto do ano anterior, foi de 9%, impulsionada principalmente pela estratégia de compra de energia elétrica no mercado livre, o que poupou o desembolso de R$ 1,4 milhão durante o exercício.

A implantação gradativa de luminárias LED nas unidades também foi outra medida adotada, o que reduziu a fatura mensal em 10%, da mesma forma que a modernização da cadeia do frio alimentar em algumas lojas fez a conta de luz pesar bem menos no orçamento.

Para este ano, a meta é economizar 20%, e para isso, até o mês de abril, o número de lojas integradas ao mercado livre saltará de 17 para 24 unidades, além do Centro Administrativo, em Santo André.

Estudante paulista vence 9ª edição do Prêmio de redação CooperjovemA estudante paulista Mônica Amaral Novelli foi uma das três vencedoras da etapa nacional do 9º Prêmio de Redação do Programa Cooperjovem. Ela concorreu na categoria II, que abrange o 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental. O resultado foi divulgado em novembro do ano passado, em Brasília. No total, o concurso teve 16.173 redações inscritas.

Mônica é aluna da Cooperativa de Ensino de Ourinhos-SP (Colégio Pólis), cidade onde o Cooperjovem recebe o apoio do Sicoob Credimota. O programa Cooperjovem, que incentiva práticas cooperativas no ambiente escolar, é uma iniciativa da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Desde 2007, já envolveu quase 100 mil alunos e 411 escolas, e conta com o apoio de 79 cooperativas em 13 estados do país.

Cooperativas independentes indicam representantes para o CECO/SP Cerca de 25 representantes de cooperativas de crédito independentes (solteiras) se reuniram dia 16/2, no fórum técnico realizado pelo Sistema Ocesp em parceria com o Banco Central, e elegeram dois membros, titular e suplente, para representar o segmento no Conselho Consultivo do Ramo Crédito do Estado de São Paulo (CECO/SP): o presidente da Medcred, Fábio Gonçalves Luz, e o presidente da Credisan, João Gilberto de Souza.

Cooperativas aprovam adequações no estatuto da Ocesp

Reunidos em Assembleia Geral Extraordinária, em 17/2, delegados de 37 cooperativas filiadas à Ocesp aprovaram mudanças para tornar o estatuto mais moderno, melhorando a governança da organização. Entre as alterações, foram aprovadas, por exemplo, medidas para agilizar a substituição de membros do Conselho Diretor, nos casos de vacância no decorrer da gestão; e a possibilidade do voto por aclamação na eleição para os Conselhos em caso de chapa única.

Notas sobre cooperativismo e cooperativas em São Paulo

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i MeMória CooPeratiViSta

>> Apesar de o cooperativismo ter origens nos primórdios da

civilização, o movimento tal como o conhecemos hoje em dia nasceu na primeira metade do século XIX na In-glaterra, como uma alternativa dos trabalhadores à dramática situação a que estavam submetidos na Revolução Industrial. Esta revolução começou na segunda metade do século XVIII na In-glaterra, com a mecanização do setor têxtil, cuja produção se destinava aos mercados nas colônias britânicas. Na sequência, o processo avançou para o setor metalúrgico, impulsionando a produção em série, expandindo os transportes e barateando as mercado-rias. Com isso, a burguesia industrial enriqueceu e consolidou seu domínio. O outro lado da moeda era a exploração dos antigos artesãos, transformados em trabalhadores submetidos a jornadas de 17 horas diárias em fábricas insa-lubres, recebendo míseros salários e

ameaçados permanentemente de fome e desemprego. Essa época é vivamente retratada pela obra do escritor britânico Charles Dickens (1812-1870).

A primeira reação foi ingênua: o lu-dismo, surgido em 1811, se inspirava na iniciativa do operário Ned Ludd de quebrar as máquinas – os “vampiros” que lhes sugavam os empregos e a vida. O fracasso dessa iniciativa levou os trabalhadores a se organizar em sin-dicatos de ofício (as trade unions). Logo depois, surgiu o cartismo, baseado na Carta ao Povo, escrita em 1838 por William Lovett. Os cartistas realizaram manifestações exigindo o sufrágio uni-versal masculino (à época só os ricos votavam), o voto secreto e a participa-ção no Parlamento independentemen-te da condição social.

Mas o movimento subiria de pata-mar no coração da Inglaterra industrial, Manchester, que deu vida às ideias co-operativistas de reformadores sociais

Uma utopia possível

como Robert Owen, Charles Fourier e Louis Blanc. Em 21 de dezembro de 1844, 28 operários, a maioria tece-lões, do bairro de Rochdale, reuniram 28 libras e fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, uma cooperativa de consumo que oferecia, a preços acessíveis, açúcar, manteiga, farinha, chá e tabaco.

O movimento foi um sucesso e, em dez anos, já havia mais de mil coope-rativas na Grã-Bretanha. Apesar de não ter sido a pioneira, a cooperativa de Rochdale se tornou um protótipo para as cooperativas da Grã-Bretanha. A tal pon-to que os Princípios de Rochdale – ade-são voluntária; controle democrático; neutralidade política; vendas à vista e em dinheiro; devolução de exceden-tes; interesse limitado sobre o capital e educação contínua – formaram as bases das cooperativas de todo o país, tornando-se, posteriormente, modelo para todo o mundo. l

por Cláudio Camargo

O cooperativismo nasceu em 1844 na Inglaterra como uma alternativa concreta dos trabalhadores às terríveis condições da industrialização

il Quarto Stato (o Quarto estado), de Pelliza da Volpedo (1868-1907), que retrata a luta dos trabalhadores

14 DE OUTUBRO DE 1970 É O MARCO DA UNIFICAÇÃO DO

COOPERATIVISMO EM SÃO PAULO.

A OCESP NASCEU DO BOM SENSO E ATITUDE DE PESSOAS

QUE ESCOLHERAM O CAMINHO DO BEM MAIOR.

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14 DE OUTUBRO DE 1970 É O MARCO DA UNIFICAÇÃO DO

COOPERATIVISMO EM SÃO PAULO.

A OCESP NASCEU DO BOM SENSO E ATITUDE DE PESSOAS

QUE ESCOLHERAM O CAMINHO DO BEM MAIOR.

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Roque Antônio Carrazza Professor-Titular de Direito Tributário – PUC/SP

Pedro Paulo Manus Ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST)

XIV FÓRUM DE ASPECTOS LEGAIS DO COOPERATIVISMOO IMPACTO DAS DEMANDAS TRIBUTÁRIAS E JUDICIAIS EM COOPERATIVAS E OS SEUS REFLEXOS

O tradicional encontro promovido pelo Sescoop/SP aborda este ano as questões tributárias, judiciais e trabalhistas que influenciam na gestão das cooperativas. O evento é destinado aos advogados, contadores e dirigentes cooperativistas, além de outros profissionais com interesse no assunto.

TEMAS EM DESTAQUE COM A PRESENÇA DEO alcance do Ato Cooperativo

Reflexões acerca da contribuição previdenciária do tomador de serviços e a nova sistemática do PIS e da Cofins

O cooperativismo no cenário nacional

4 DE MAIOAUDITÓRIO DO SESCOOP/SPSÃO PAULO/SP

INSCREVA-SE ATÉ 30/4www.sescoopsp.org.br/aspectoslegais2016