Contextos e usos da categoria “armadilha...
Transcript of Contextos e usos da categoria “armadilha...
1
Contextos e usos da categoria “armadilha paradigmática” nas pesquisas em
Educação Ambiental em periódicos da área no período entre 2006 e 2016.
Gladis Teresinha Slonski – NUEG/PPGECT/UFSC
Mayana Lacerda Leal – NUEG/PPGECT/UFSC
Juliana Rezende Torres – DCHE/UFSCar Campus Sorocaba
Resumo: Diante da crise de identidade da Educação Ambiental (EA) brasileira e da carência
na formação de educadores ambientais na perspectiva crítica torna-se importante pesquisar
formas de enfrentamento dessas demandas da área. Esta pesquisa tem como objetivos
compreender em que consiste a categoria armadilha paradigmática (AP) na EA e como ela
vem sendo compreendida em publicações científicas da área. Selecionamos oito periódicos
online de acesso livre, com o escopo voltado para a pesquisa no campo da EA, em que foram
analisados nove artigos publicados entre 2006 e 2016. Investigamos os contextos e usos que
pesquisadores vêm fazendo da categoria e se esses trabalhos trazem propostas para a sua
superação. Dentre os principais resultados sinalizamos que maioria dos trabalhos encontram-
se situados no contexto escolar; que os usos da AP se voltam ao distanciamento entre pensar e
agir em EA e, que a superação da AP envolve a formação de educadores ambientais críticos.
Palavras-Chave: Armadilha Paradigmática, Formação de Educadores Ambientais, Educação
Ambiental Crítica.
Abstract: Faced with the identity crisis of the Brazilian Environmental Education (EE) and the
lack of training of environmental educators in the critical perspective, it becomes important to
search for ways to cope with these demands in the area. This research aims to understand
what constitutes the paradigmatic trap category (PT) in EE and how it has been understood in
scientific publications of the area. We selected eight open access online journals, with the
scope focused on research in the EE field, in which nine papers published between 2006 and
2016 were analyzed. We investigated the contexts and uses that researchers have been making
of the category and if these works bring proposals for its overcoming. Among the main results
we indicate that most of the works are located in the school context; that the uses of PT turn
to the distance between thinking and acting in EE and that overcoming the PT involves the
formation of critical environmental educators.
Keywords: Paradigmatic Trap, Environmental Educator Training, Critical Environmental
Education.
1. Introdução
Apesar da existência de registros de programas e projetos de Educação Ambiental
(EA) desde a década de 1970 no Brasil, segundo Loureiro (2006), é na década de 1980 que
ela começa a ganhar dimensões públicas de grande relevância, com sua inclusão na
Constituição Federal de 1988. A partir de então, a EA, conforme o inciso VI do §1º do art.
225 da Constituição Federal, deve ser promovida em todos os níveis de ensino (BRASIL,
1988).
Payne (2009), ao discutir tendências da EA praticadas nos países anglófonos, destaca
que desde os anos 1970 estamos vivenciando alterações de natureza conceitual, ontológica,
IX EPEA Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
2
epistemológica e metodológica na EA, inicialmente, visando transmitir conhecimentos
factuais sobre e no ambiente. Para o autor, na década de 1990, passou-se a considerar
perspectivas para uma educação política e socialmente crítica, inspiradas nos trabalhos de
Paulo Freire, dentre outros autores. Ele ainda sinaliza que, no final dessa década, houve uma
explosão de perspectivas de EA impulsionadas pela ascensão das tecnologias de informação e
pela lógica global da educação para o desenvolvimento sustentável. Em sua concepção, essa
diversidade pode ser celebrada como uma caraterística saudável para o campo por incluir
diferentes perspectivas teórico-metodológicas, todavia, também traz preocupações quanto ao
valor histórico e estratégico do campo e quanto à falta de coerência, identidade e propósitos
coletivos para a área de EA.
No Brasil, ao observarem a diversidade de atores, de concepções, práticas e posições
político-pedagógicas e o dinamismo que articula esses elementos, Layrargues e Lima (2011;
2014) identificaram três macrotendências convivendo e disputando a hegemonia simbólica e
objetiva do campo da EA: as macrotendências conservacionista, pragmática e crítica.
A macrotendência conservacionista possui um viés histórico, uma vez que foi a partir
dela que se iniciou a EA no Brasil. Essa tendência envolve a mudança de comportamentos
para a conservação da natureza e dos recursos naturais e estabelece uma relação afetiva entre
ser humano e natureza. Contudo, compreende o ser humano externo à natureza e,
consequentemente, não questiona a estrutura social vigente, tornando as mudanças
comportamentais vazias de reflexão. Forte e bem consolidada, a tendência conservacionista se
encontra atualizada sob as expressões que vinculam EA à “pauta verde”, como
biodiversidade, ecoturismo, unidades de conservação e biomas específicos, mas não parece
ser a tendência hegemônica no campo na primeira década do século XXI. Segundo
Layrargues (2012) esta macrotendência mantém relação com filosofia da natureza, ecologia
profunda, eco espiritualidade.
A macrotendência pragmática tem por base o ambientalismo de resultados,
reforçando também a mudança de ações em prol de uma conservação ambiental mascarada,
uma vez que está ligada ao neoliberalismo e não questiona o modelo de sociedade do
consumo, maior causador da crise ambiental. Essa ausência de reflexão deriva da crença na
neutralidade da ciência e da tecnologia e resulta em uma percepção superficial e despolitizada
das relações sociais e de suas interações com o ambiente (LAYRARGUES, 2012). A lógica
do mercado domina sobre as outras esferas sociais e a ideologia do consumo é a principal
utopia. São termos comuns o consumo sustentável, a economia e consumo verde,
responsabilidade socioambiental, certificações, mecanismos de desenvolvimento limpo e
ecoeficiência produtiva. Esta é a tendência hegemônica na EA atualmente. Layrargues e Lima
(2014) reconhecem que as vertentes conservacionista e pragmática representam duas
tendências e dois momentos de uma mesma linhagem de pensamento, o conservador, que se
atualizou em função das transformações do mundo contemporâneo. A vertente
conservacionista foi se ajustando às injunções econômicas e políticas do momento até ganhar
a face modernizada, neoliberal e pragmática que hoje a caracteriza.
Já a macrotendência crítica questiona as desigualdades e as injustiças
socioambientais, procurando problematizar as contradições dos modelos de desenvolvimento
e de sociedade. Compreendendo o ser humano como integrante da natureza, defende que a
mudança ambiental não caminha separada da mudança social e cultural. Se nutre do
pensamento Freireano, Educação Popular, Teoria Crítica, Marxismo e Ecologia Política
(LAYRARGUES, 2012). Em decorrência dessa perspectiva, conceitos-chave como cidadania,
democracia, participação, emancipação, conflito, justiça ambiental e transformação social são
introduzidos no debate (LAYRARGUES e LIMA, 2014). Os autores destacam que a EA
Crítica cresceu significativamente na última década, notadamente no âmbito acadêmico, e que
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
3
tem mostrado grande vitalidade para sair da condição de contra hegemonia e ocupar um lugar
central no campo, atualmente ocupado pela macrotendência pragmática.
Apesar do crescimento da EA crítica no âmbito acadêmico, autores como Guimarães
(2004), Loureiro (2006), Lorenzetti (2008), Torres (2010) e Layrargues (2012) sinalizam
distanciamentos entre conhecimentos produzidos no âmbito acadêmico e as diversas ações
concretas da vivência pedagógica em EA. Sob esta ótica, Layrargues (2012) afirma que a EA
brasileira se encontra em um período de crise de identidade, manifestada por meio de dois
processos. Primeiro, na contradição entre teoria e prática, originada na armadilha
paradigmática da EA (GUIMARÃES, 2004). Segundo, na dificuldade de se superar o
pensamento e ação pragmática atualmente hegemônica na EA.
É na obra A formação de Educadores Ambientais que Mauro Guimarães (2004)
identifica que a EA existente nas escolas se encontra fragilizada. Para o autor há uma
limitação compreensiva e discursiva dos professores que buscam inserir a dimensão ambiental
na educação, limitação que ele chama de armadilha paradigmática (AP). E, para sua
superação, aponta a necessidade de um esforço concentrado na formação de educadores
ambientais. Concordamos com o autor quando destaca que, muito embora esta categoria tenha
sua gênese com base no distanciamento entre teoria produzida no âmbito acadêmico e prática
dos professores, suas reflexões se estendem aos educadores em geral e para além do contexto
escolar.
Diante da crise de identidade da EA brasileira anunciada por Layrargues (2012) e da
carência na formação de educadores ambientais em uma perspectiva crítica anunciada por
Guimarães (2004), torna-se importante pesquisar formas de enfrentamento dessas demandas
da área. Acreditamos que uma das possibilidades nessa direção seria melhor compreender em
que consiste a categoria AP de EA e como vem sendo compreendida, uma vez que, sua
superação, segundo o autor, sugere possibilidades de construção de novas práticas educativas
ambientais, na direção de uma EA crítica. Portanto, as perguntas que norteiam o
desenvolvimento desta pesquisa são: em que consiste a categoria armadilha paradigmática
de EA na concepção do autor e na concepção de outros pesquisadores da área? Quais os
contextos e usos dessa categoria nas pesquisas em EA? As pesquisas em EA investigadas
propõem superação da armadilha paradigmática?
2. Procedimentos Metodológicos
Inicialmente foi realizada uma revisão da literatura com leitura e sistematização de
ideias, com o objetivo de compreensão e explicitação dos fundamentos que giram em torno da
categoria AP (GUIMARÃES, 2004; 2011; 2014).
Tendo também como objeto de investigação as publicações científicas da área de EA
que utilizam a categoria AP, inicialmente foram identificados os periódicos científicos de EA
com circulação nacional. Foram selecionados os periódicos online de acesso livre, em língua
portuguesa e com o escopo voltado para a produção de conhecimentos no campo da EA, que
possuem Qualis com avaliação na área de Ensino, no âmbito da plataforma Sucupira/Capes
em 2015. Assim, foram selecionados oito periódicos para a análise: Ambiente & Educação,
Educação Ambiental em Ação, Pesquisa em Educação Ambiental, Revista Brasileira de
Educação Ambiental, Revista de Comunicação e Educação Ambiental, Revista Eletrônica do
Mestrado de Educação Ambiental, Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia
Ambiental e Revista Monografias Ambientais. Estas revistas são importantes meios de
divulgação das pesquisas da área de EA.
A partir dessa seleção, partimos para a procura das publicações científicas nos sites
dos periódicos. Buscamos a palavra-chave “armadilha paradigmática” nos buscadores
internos dos periódicos. O levantamento ocorreu pela presença da palavra-chave no texto
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
4
completo. Dentre os oito periódicos analisados, quatro continham artigos relacionados ao
tema, totalizando doze artigos publicados entre 2006 e 2016. Três destes artigos continham a
palavra-chave apenas em suas referências e por isso foram retirados da análise. Os nove
artigos selecionados foram identificados a partir do sistema alfanumérico: A1, A2, A3, ..., A9
(A= Artigo) e encontram-se listados no apêndice 1.
A próxima etapa consistiu na leitura dos trabalhos completos a fim de analisar os
contextos e usos que os pesquisadores de EA vêm fazendo da categoria AP e se esses
trabalhos trazem propostas para a superação da armadilha. Por contextos entendemos os
ambientes escolar e não escolar.
3. A armadilha paradigmática na EA
Segundo Guimarães (2004), os professores, na escola ou em formação, são aqueles
que estão prisioneiros na AP da sociedade moderna. Nesse contexto, como proposta para a
formação de educadores ambientais, o autor destaca como um dos eixos formativos, trabalhar
o esforço de ruptura da AP.
Ao buscarmos a origem da categoria AP percebemos que Guimarães (2011) toma
como ponto de partida a crise ambiental que vivemos hoje, uma crise de um modelo de
sociedade e de seus paradigmas, modelo que apresenta um caminho único a seguir.
Para o autor, baseado no conceito de paradigma de Edgar Morin1, os paradigmas
tendem a nos levar a pensar e agir de acordo com algo pré-estabelecido que é consolidado por
uma visão de mundo que nos leva a confirmar uma racionalidade dominante. Eles orientam
inconscientemente nossa compreensão e ação, individual e coletiva, no mundo. E é essa visão
de mundo construída por uma perspectiva cientificista, geradora da separação dos homens
com a natureza, que se manifesta na crise ambiental vivida hoje, “criando uma dinâmica que
se auto perpetua e é reprodutora de uma realidade já estabelecida” (GUIMARÃES, 2011, p.
22):
Os paradigmas da sociedade moderna, chamados por Morin de paradigmas
da disjunção por simplificar e reduzir a compreensão da realidade, limitam o
entendimento do meio ambiente em sua complexidade. Essa compreensão do
mundo não vem dando conta para estabelecer uma relação equilibrada entre
essa sociedade e a natureza, o que se manifesta pela crise ambiental
(GUIMARÃES, 2011, p. 22).
Essa abordagem reduzida e essa simplificação na análise e compreensão do real que,
para Guimarães (2012), é importante para a manutenção de um status quo, leva a uma
compreensão inadequada da complexa problemática ambiental. Diante disso, não superar essa
lógica de pensar e agir sobre o mundo, é para Guimarães (2012), estar aprisionado de forma
inconsciente a uma AP.
A AP, ao limitar nossa compreensão de mundo, nos incapacita para fazer diferente e
tende a gerar uma prática em EA com caráter ingênuo e conservador. Ingênuo, que por ser
reduzido, não percebe os conflitos e as relações de poder que produzem a realidade
socioambiental. Conservador, por ser limitado e incapaz de transformações significativas
dessa realidade. Sob esta ótica, os professores, que são formados em uma perspectiva
conservadora de educação que reproduz e é reproduzida na AP, apesar de bem-intencionados,
apresentam uma prática informada pelos paradigmas da sociedade moderna (GUIMARÃES,
2011). Neste contexto, o autor explicita o que entende por AP:
1 Estruturas de pensamento que, de modo inconsciente, comandam nosso discurso (MORIN, 1997 apud
GUIMARÃES, 2011, p. 20).
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
5
É a essa dinâmica que estou chamando de armadilha paradigmática, quando
por uma “limitação compreensiva e uma incapacidade discursiva” (Viégas,
2002), o educador por estar atrelado a uma visão (paradigmática)
fragmentária, simplista e reduzida da realidade, manifesta
(inconscientemente) uma compreensão limitada da problemática ambiental e
que se expressa por uma incapacidade discursiva que informa uma prática
pedagógica fragilizada de educação ambiental, produzindo o que Grün
(1996) chamou de pedagogia redundante. Essa prática pedagógica presa à
armadilha pedagógica não se apresenta apta a fazer diferente e tende a
reproduzir as concepções tradicionais do processo educativo, baseadas nos
paradigmas da sociedade moderna. Dessa forma, se mostra pouco eficaz para
intervir significativamente no processo de transformação da realidade
socioambiental para a superação dos problemas e a construção de uma nova
sociedade ambientalmente sustentável (GUIMARÃES, 2011, p. 23-24).
Os professores, presos inconscientemente à armadilha, tendem à reprodução de
práticas educativas comportamentalistas, acreditando que transmitindo aos educandos os
conhecimentos necessários e provocando neles uma sensibilização pela questão ambiental
podem transformar seus comportamentos ditos incorretos. Nessa lógica, ao final, teremos
como resultado da soma destes indivíduos transformados, uma sociedade transformada.
Guimarães (2004) usa a metáfora da correnteza de um rio para demonstrar o esforço
que os professores precisam fazer na ruptura com a AP: “se não houver, de nossa parte, um
esforço para mudarmos de rumo, seremos empurrados e seguiremos na direção da correnteza”
(GUIMARÃES, 2004, p.124). O autor, tomando como referência Paulo Freire, acredita que
uma forma de romper com essa armadilha se dá através da reflexão crítica que se realiza na
práxis, por ser radical e questionadora de uma realidade pré-determinada.
Nesse movimento contra a corrente, Guimarães (2004) aposta no potencial da EA em
sua vertente crítica como força propulsora que pode contribuir de maneira efetiva para a
formação de educadores ambientais com condições de romper com a AP. A EA crítica tem
este potencial, por estar voltada para um processo educativo desvelador e desconstrutor dos
paradigmas da sociedade moderna e comprometido com o processo de transformações da
realidade socioambiental (GUIMARÃES, 2011). Com efeito, nos perguntamos qual EA
Crítica daria conta da superação da AP?
4. A Armadilha paradigmática nas pesquisas em EA
Neste item apresentamos pesquisas em EA que fazem menção à categoria AP, tendo
em vista investigar os contextos e usos do termo pelos pesquisadores em EA, bem como suas
propostas de superação.
O trabalho de A1 apresenta o Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Ambiental,
Diversidade e Sustentabilidade (GEPEADS) da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, que atua em dois campi da Instituição. O grupo trabalha com a “[...] inserção da
reflexão sobre a relação Educação – Meio Ambiente – Sociedade no contexto da formação de
Ensino Superior em sua tríplice vertente – Ensino-Pesquisa-Extensão [...]”.
Os trabalhos desenvolvidos pelo GEPEADS se encontram demarcados pela vertente
Crítica da EA, na qual os pesquisadores do grupo se debruçam na tentativa de estabelecer
uma identidade. Nesse percurso, destacam a importância dos espaços de formação de
educadores em caráter formal e não formal que, baseada nessa vertente, buscam a superação
da AP. Como fundamentação teórica, os autores compreendem a atualidade como um
momento de crise socioambiental, cujo referencial de apoio se encontra em Morin, com as
categorias racionalidade instrumental e paradigma da disjunção, e concebem a superação
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
6
dessa realidade a partir da práxis trazida pelo referencial freireano, compreendendo a
mudança através da transformação social e da emancipação dos sujeitos. Assim,
compreendem como “[...] princípio metodológico para a realização de uma educação
ambiental crítica, uma práxis educativa de intervenção sobre a realidade [...]” (A1) que deve
promover um espaço de formação que leve à superação do “[...] comportamento individual
inconsciente, para práticas coletivas conscientes [...]” (A1).
Nesse sentido, o uso da categoria AP por A1 parece ir ao encontro da proposta e dos
referenciais teóricos trazidos por Guimarães (2004) e, dentro do contexto escolar e não
escolar de educação, propõe a superação da AP através da formação de educadores
ambientais, com destaque para o potencial presente na tríade Ensino-Pesquisa-Extensão no
Ensino Superior.
A2 traz um relato de experiência de práticas de EA realizadas no Museu de
Astronomia e Ciências afins (MAST) no Rio de Janeiro, que funciona como um centro
atuante na pesquisa e intercâmbio científico, treinamento, formação e aperfeiçoamento no
âmbito da Ciência e Tecnologia. Os autores defendem a incorporação da problemática
socioambiental pelos diversos setores da sociedade que, em conjunto com a Escola, poderiam
realizar uma prática educativa mais efetiva. Devido a influência da ciência e da tecnologia na
chamada crise ambiental, apostam que a articulação da Educação em Ciências com a EA
Crítica poderia ser uma grande contribuição para a área. Além disso, defendem que a
associação do ensino formal ao ensino não formal, no caso, através do MAST, seria uma
parceria interessante, pois tendo este último uma flexibilidade espaço-tempo maior do que a
Escola, haveria maior possibilidade de exercício da transdisciplinaridade e contextualização
que o tema exige. De acordo com os autores, com essas ações, a partir do referencial
moriniano da complexidade e do diálogo, torna-se possível a superação da AP. Os museus devem ser “ambientes educativos” (Guimarães, 2004) propícios à
vivência de experiências significativas em uma abordagem relacional, apta à
superação de uma “armadilha paradigmática” (Guimarães, 2004) presente
dominantemente nos processos educativos, proporcionando a construção de
conhecimentos, opiniões, visões de mundo na perspectiva da complexidade
(A2).
Assim, alicerçado no referencial moriniano de complexidade, A2 sugere uma possível
superação da AP a partir das articulações entre EA-Educação em Ciências e Ensino formal-
Ensino não formal. Para isso, aposta na complementaridade desses espaços formativos tanto
para formação de estudantes, quanto para a formação inicial e continuada de educadores
ambientais.
O artigo A3 apresenta uma discussão que tem por objeto a descoberta, apreensão e
decodificação dos desafios pedagógicos inerentes à pós-modernidade, mais especificamente
no ensino superior do turismo. Seu objetivo é a emersão de uma fenomenologia docente rumo
a uma nova racionalidade que privilegie o bem-estar psicossocial e econômico de todos os
seres humanos. Fazendo uso do referencial moriniano, a autora utiliza-se da categoria AP ao
discutir a intenção de reunir as urgências socioambientais nos currículos oficiais, através da
inserção transversal da EA em todas as disciplinas e cursos oficiais. Para a autora: Destarte, tal intenção nobre esbarra novamente na dificuldade encontrada
por parte dos docentes quanto ao processo didático-pedagógico adjacente ao
raciocínio/ação interdisciplinar (Pedagogia Acadêmica) e transdisciplinar
(Pedagogia Humana) em sala de aula – o que Guimarães (2004) denomina
em E.A. como “limitação compreensiva e incapacidade discursiva” - datum
da “sociedade dos especialistas” no contexto das questões socioambientais,
cujos interstícios estão presentes, ainda, até mesmo na formação inicial dos
futuros professores (licenciatura) (ANDRÉ et al., 1999) e na pós-graduação
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
7
lato sensu - neste último caso, em se tratando dos professores universitários
(A3).
Aqui a autora entende que, no âmbito do ensino superior do turismo, o único caminho
viável para a superação da AP é uma proposta emancipatória de formação de professores e,
para tanto, conclui sua discussão apresentando alguns dos eixos formativos que Guimarães
(2004) propõe para a formação de educadores ambientais no contexto da formação no
turismo.
O artigo A4 discute como a EA pode contribuir na formação de cidadãos conscientes.
Para a autora do trabalho a EA crítica é um caminho para a formação cidadã, a ecocidadania.
Ela destaca alguns pontos importantes para essa formação como a politização do que acontece
no mundo e o estímulo dos educandos para uma aprendizagem em favor de uma ética
ambiental e cidadã. Propõe aos educadores que abandonem a escola informativa e adotem
uma escola formativa para o desenvolvimento da consciência ambiental. Ela destaca que o
papel do educador é ajudar os educandos a ver, compreender, expressar, descobrir e assumir a
realidade que eles vivem. De acordo com a autora, os educadores através um processo
pedagógico aberto, democrático e dialógico com os alunos, com a escola e com a comunidade
podem romper com a AP da força hegemônica de segmentos sociais dominantes.
No artigo, em alguns momentos, parece que a própria autora se encontra em uma AP
já que discute um referencial crítico de EA para a formação da cidadania, mas quando destaca
algumas ações da prática pedagógica, estas são comportamentalistas: Para chegar a esses ideais o desenvolvimento sobre esses assuntos a
mudança comportamental precisa ser delineada por uma educação que além
de específica deve ser interdisciplinar no ambiente escolar [...] Dessa forma
a participação dos educadores na construção de meios pedagógicos que
inserem o educando no desenvolvimento de comportamentos voltados para a
cidadania é essencial [...] (A4, grifo nosso).
Nesse contexto, em A4, a autora considera que os professores são capazes de fazer
com que seus alunos superem a AP não apenas por intervenções, mas por conscientização e
sensibilização promovendo o sentimento de pertencimento à natureza.
No artigo A5 os autores consideram a formação crítica de educadores ambientais um
dos instrumentos necessários para compor a intervenção pedagógica sobre a atual
problemática socioambiental. Sob esta ótica, descrevem uma oficina realizada com
graduandos de Licenciatura em Ciências Agrícolas da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro que teve como objetivo promover um momento de reflexão individual e conjunta
sobre a problemática socioambiental, incentivando os participantes a uma prática de
intervenção pedagógica sobre a realidade local/global. Para eles as propostas de intervenção
elaboradas pelos graduandos evidenciaram preocupação com as questões socioambientais,
embora tenham sido frágeis e até ingênuas. Acreditam que isso se justifica por se tratar de
estudantes em processo de graduação que, como os mesmos relataram, pouco ou quase nada
discutem sobre meio ambiente e EA por um viés crítico em seu curso de graduação e em sua
trajetória escolar. Destacam ainda, que a AP cria mecanismos de reprodução, utilizando-se da
crença de que a simples mudança de hábitos, a eficiência tecnológica e as tecnologias limpas
são suficientes para a salvação do planeta. Segundo os autores: Essa armadilha acaba por corroborar com que os educadores caminhem
ingênua e alienadamente, uma vez que se dicotomiza ou, de modo simples,
se exclui ou se oculta a relação dialética entre sociedade e meio ambiente.
Dessa forma, a Educação Ambiental de caráter conservador é
ideologicamente produzida pela lógica do capital e institucionalizada na
escola, onde os professores, de maneira ingênua, reproduzem-na, caindo na
“armadilha paradigmática” tão presente nas práticas escolares, cuja função
social, nesse caso, é, sobretudo, manter e legitimar o status quo (A5).
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
8
Neste trabalho as autoras entendem que a superação da AP se dá pela formação de
educadores ambientais em uma perspectiva freireana e crítico-transformadora.
Os autores de A6 associam as reflexões do movimento Ciência, Tecnologia, Sociedade
e Ambiente com a EA Crítica ao apresentarem os resultados de uma pesquisa realizada com
público espontâneo da exposição Energia Nuclear, na Casa da Ciência da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Ao analisar a percepção ambiental de adultos e crianças constatam
a existência de três ideias centrais associadas a paradigmas distintos: a mudança
comportamental soluciona os problemas ambientais; a resolução das questões socioambientais
se deve a decisões racionais; e o desenvolvimento deve ser pensado a partir de bases
sustentáveis e das necessidades locais. Ao discutirem seus resultados observam a emergência
de um novo paradigma pautado pela lógica ambiental, mas também concluem que AP inibem
a percepção da complexidade da problemática ambiental conforme discutem abaixo: Outro aspecto identificado foi à existência de uma “armadilha
paradigmática”, associada à concepção de Guimarães (2006), que se
apresentou a partir da ideia de que “a mudança comportamental soluciona os
problemas ambientais”, ou seja, apesar do discurso diagnosticar a crise
ambiental entende a mudança comportamental como uma forma de
solucionar os problemas socioambientais, reduzindo a amplitude da questão
ao âmbito das mudanças de atitude individuais (A6).
Aqui os autores extrapolam a AP para o contexto da sociedade, observando uma
limitação discursiva dos entrevistados que em geral, acreditam que com a transformação de
comportamentos ditos incorretos teremos a solução dos problemas ambientais. Apontam a
existência da AP nos discursos dos visitantes mas não sinalizam de que formas ela pode ser
superada.
O estudo A7 apresenta uma síntese das questões e discussões realizadas no GPD
Educação Ambiental no Contexto Escolar durante o VIII Encontro de Pesquisa em Educação
Ambiental, as quais giraram em torno dos seguintes aspectos: abordagens teórico-
metodológicas, currículo, políticas públicas, formação de professores, EA crítica e programas
implementados no contexto escolar. Busca refletir sobre o que foi identificado e apresenta
encaminhamentos que possam indicar contribuições para os pensares e fazeres que
constituíram os caminhos e dilemas debatidos. Os trabalhos apresentados foram classificados
em seis eixos, um deles sobre “Concepções e representações de meio ambiente e EA de
alunos e professores” menciona: Se faz mister avançar no sentido do que fazer com essas concepções, pois,
ainda está presente a visão dicotômica, apesar de que, quando consultados,
professores e alunos apresentam o conceito complexo-integrado do ambiente,
no entanto, ainda não se evidencia nas práticas desenvolvidas na escola,
avanços significativos na formação ambiental dos estudantes, aqui podemos
inferir que se trata do que Mauro Guimarães denomina de Armadilha
Paradigmática. O que se constitui um grande dilema, visto que os
pesquisadores ficam no discurso não intencional - aquele que é dito sem que
conheça, a fundo, o assunto abordado (A7, grifo nosso).
As autoras sinalizam que, muito embora, professores e alunos apresentem um conceito
complexo-integrado de meio ambiente, não se evidencia nas práticas desenvolvidas na escola
avanços significativos na formação ambiental dos estudantes - o que elas relacionam com a
AP. Elas também sinalizam que os pesquisadores (autores dos trabalhos apresentados) podem
não conhecer a fundo o assunto. Portanto, alunos, professores e pesquisadores podem estar
em uma AP. Assim, em A7 o contexto em que a categoria AP emerge é o ambiente escolar, é
utilizada para sinalizar que a AP parece estar atrelada ao fato de haver uma intencionalidade
de desenvolvimento de práticas educativas ambientais voltadas à conscientização e também à
mudanças comportamentais, mas que o discurso pode ficar limitado à uma visão ingênua de
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
9
realidade, causando uma compreensão limitada da problemática ambiental. O trabalho A7 não
propõe formas de superação da AP, muito embora, concorde que “para o processo formativo,
em uma vertente crítica, romper com essa armadilha é oportunizar uma reflexão crítica em
práticas diferenciadas de intervenção na realidade, que possam, pela intencionalidade da
construção de outra realidade, manifestar uma práxis pedagógica (A7)”.
O artigo A8 traz uma síntese das discussões e encaminhamentos relativos ao Grupo de
Discussão de Pesquisa em “Educação Ambiental e Formação de Educadores/Professores”
constituído durante o VII EPEA onde foi debatida a relação colaborativa entre a universidade
e a escola na formação do educador ambiental, a inserção da dimensão socioambiental na
formação inicial e continuada, os referenciais teóricos que podem subsidiar a pretendida
formação e, as políticas públicas de EA. Os autores de A8, ao discorrerem sobre a relação
entre pesquisa em EA e formação de educadores ambientais com base nos artigos de pesquisa
inscritos no GDP, destacam a EA crítica como possibilidade de superação do distanciamento
entre trabalhos que apontam a práxis e a participação como elementos fundantes da formação
dos educadores e àqueles voltados apenas à sensibilização em que a EA “é vista como um
treinamento, com atividades pontuais, estanques, sem maiores reflexões com o todo, não
abarcando a complexidade socioambiental” (A8). Para compreender a complexidade da questão socioambiental a partir da
prática da educação ambiental, é preciso superar e romper com a perspectiva
tradicional de Educação, que perpetua a hegemonia conservadora no fazer
educativo, em que os educadores têm uma compreensão reduzida da questão e
acabam por reproduzir práticas ingênuas.
Vale enfatizar que essa armadilha paradigmática cria mecanismos de
reprodução, utilizando-se da crença de que a simples mudança de hábitos, a
eficiência tecnológica e as tecnologias limpas do assim designado
desenvolvimento sustentável, são suficientes para a salvação do planeta. Essa
armadilha acaba por corroborar para que os educadores caminhem ingênua e
alienadamente, uma vez que a relação dialética entre sociedade e meio
ambiente – diante de tal armadilha – se traduz numa dicotomia ou
simplesmente desaparece (A8).
Portanto, em A8, o contexto da pesquisa se volta à discussão sobre a formação de
educadores ambientais, mais especificamente, em âmbito escolar, em que a AP é usada para
sinalizar um limite dos educadores que têm uma compreensão reduzida da questão e acabam
por reproduzir práticas ingênuas. Os autores apontam a superação da AP através da realização
de processos formativos de EA crítica viabilizados nos cursos de formação inicial de
professores.
O estudo A9 apresenta algumas aproximações entre Estética, EA e a Epistemologia da
Complexidade de Morin. O objetivo das autoras foi contribuir com o entendimento da
situação socioambiental vigente, acreditando que as transformações dos valores éticos e
estéticos modificam atitudes e comportamentos nas relações dos sujeitos com o meio
ambiente. Ao discorrerem sobre a Complexidade (com base em Morin) e EA (Sato e
Layrargues) sinalizam que há atividades de EA que apresentam uma concepção conservadora,
dicotomizando ser humano e natureza. A razão disso, segundo Guimarães (2004), é que essas práticas estão presas a
uma armadilha paradigmática, ou seja, inconscientemente uma visão
preponderante de mundo controla os modos de pensar e agir da sociedade,
visíveis através dos próprios movimentos dominantes nela revelados (A9,
grifo nosso).
Para as autoras, essas práticas estão presas à uma AP pelo fato de existir uma visão de
mundo que controla os modos de pensar e agir da sociedade, inconscientemente. Portanto, a
categoria AP aqui se relaciona com o pensar e o agir. E se este agir é limitado é porque o
pensar também o é. Acreditam que a superação da armadilha se dá como uma das tarefas mais
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
10
instigantes da EA, a de redirecionar o indivíduo para a sua inerente capacidade criativa e
dialógica, afastando-o de uma percepção de mundo puramente racional.
5. Considerações Finais
A pesquisa teve como objetivos compreender em que consiste a categoria armadilha
paradigmática na Educação Ambiental e como ela vem sendo compreendida em publicações
científicas da área. Nos artigos analisados investigamos os contextos e usos que os
pesquisadores vêm fazendo da categoria AP e se esses trabalhos trazem propostas para a sua
superação.
Em relação aos contextos e usos em que se situa a AP nos trabalhos analisados, a
maioria se encontra em âmbito escolar (A3, A4, A5, A7 e A8). Dos nove trabalhos, dois (A1
e A2) trazem a articulação da EA escolar e não escolar como um fator importante para a
superação da AP, enquanto outros dois, A6 e A9, não abordam o contexto escolar. Mais
pontualmente, identificamos que no trabalho A3 a AP está nos professores que atuam no
Ensino Superior e em A5, está nos alunos em formação inicial. Dois trabalhos, A7 e A8,
apresentam os Grupos de Discussão de Pesquisa constituídos no EPEA: um deles sobre EA
no Contexto Escolar, em que os autores consideram que alunos, professores e pesquisadores
se encontram na AP e, no outro, sobre EA e Formação de Educadores/Professores, a AP
resulta de uma concepção tradicional de educação, que leva os educadores à uma
compreensão limitada das questões ambientais e, consequentemente, à práticas educativas
ingênuas. Duas pesquisas, A2 e A6, situam os museus como espaço para o desenvolvimento
de EA. Em A2, para os autores, a AP se encontra nos processos educativos em geral. Já em
A6, a AP aparece nos discursos dos entrevistados espontâneos que frequentaram o museu no
período da pesquisa, os quais acreditam que a mudança comportamental soluciona os
problemas ambientais. O trabalho A4 aborda a AP no contexto da Educação Básica, em que
os alunos se encontram presos à AP. Por fim, A9 considera que visões antropocêntricas de
mundo presentes na sociedade conduzem à práticas de EA que, por sua vez, se encontram
presas à uma AP. De modo geral, os contextos e usos da AP, nos trabalhos analisados,
referem-se ao contexto escolar e não escolar, conforme Guimarães (2004) sinaliza.
Identificamos que a AP, segundo os autores dos trabalhos, podem estar nos alunos,
professores e pesquisadores, tanto da educação básica, quanto do ensino superior, bem como
na sociedade em geral.
No que se refere à proposta de superação da AP, identificamos que a maioria dos
trabalhos (A1, A2, A3, A5 e A8) apostam no investimento da formação de educadores
ambientais. Destes, três (A1, A2 e A8) defendem a inserção da perspectiva de EA crítica
nessa formação. A5 aposta na perspectiva freireana, trazendo a necessidade de uma formação
em EA crítico-transformadora e, A3 traz uma proposta emancipatória de formação de
professores de acordo com os eixos formativos de Guimarães (2004). Outra possibilidade de
superação da AP surge no trabalho A4 com a proposta de formação de estudantes, com
enfoque na ecocidadania. Uma última possibilidade de superação aparece em A9, com a
proposição da incorporação dos valores éticos e estéticos na EA. Dois deles, A6 e A7, não
apresentam propostas.
No que se refere às propostas de superação da AP de EA, resulta dos trabalhos
investigados a aposta na formação de educadores ambientais em uma perspectiva crítica. Mas,
como anunciam Layrargues e Lima (2011; 2014) existem várias abordagens críticas no
âmbito da macrotendência de EA Crítica. Com efeito, retomamos a questão feita
anteriormente “qual EA Crítica?” e vamos ao encontro da indicação feita pelo próprio
Guimarães (2004): aquela fundamentada em Paulo Freire. O trabalho A5 também compartilha
desta proposição. Neste contexto, sinalizamos a urgência do desenvolvimento de processos
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
11
formativos de educadores ambientais pautados em uma concepção de EA crítico-
transformadora (LORENZETTI, 2008; TORRES, 2010; LOUREIRO e TORRES, 2014), ou
seja, aquela que envolve para além de alguns pressupostos freireanos de educação,
explicitando uma abordagem teórico-metodológica fundamentada na Investigação e Redução
Temática de Freire (1987) que envolve a formação de educadores, a elaboração de programas
educativos e a efetivação de práticas educativas a partir de contradições sociais vividas
localmente e articuladas à macroestrutura material, social e cultural: a Abordagem Temática
Freireana (DELIZOICOV, 1982; 2008; DELIZOICOV, ANGOTTI, PERNAMBUCO, 2002;
SILVA, 2004). Tal explicitação se encontra em Torres (2010) e Torres, Ferrari e Maestrelli
(2014). Compartilhamos assim, as ideias dos autores de A5 em que a EA Crítico-
Transformadora, visão emancipatória que comunga com as ideias de Paulo Freire, é a
desconstrução da armadilha paradigmática presente no sistema educacional da sociedade
moderna.
Por fim, consideramos igualmente importante tecer articulações teóricas entre a
categoria armadilha paradigmática de EA (GUIMARÃES, 2004) e categorias freireanas, a
exemplo de contextualização, situação-limite, tema gerador, conscientização, dialogicidade
(FREIRE, 1987).
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição nº 1, de 5 de outubro de 1988. Constituição da
República Federativa do Brasil. Brasília, DF.
DELIZOICOV, Demétrio. Concepção Problematizadora do Ensino de Ciências na Educação
Formal. 1982. Dissertação (Mestrado) - Pós-graduação em Ensino de Ciências, Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.
________. La Educación en Ciencias y la Perspectiva de Paulo Freire. Alexandria Revista de
Educação em Ciência e Tecnologia, Florianópolis,v.1, n.2, p.37-62, jul. 2008.
________.; ANGOTTI, J. A. P.; PERNAMBUCO, M. M. C. A. Ensino de Ciências:
Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GUIMARÃES, Mauro. A formação de educadores ambientais. Campinas: Papirus, 2004. 174
p.
GUIMARÃES, Mauro. Abordagem relacional como forma de ação. In: GUIMARÃES,
Mauro (Org.). Caminhos da Educação Ambiental: da forma à ação. Campinas: Papirus, 2012.
Cap. 1. p. 9-16.
GUIMARÃES, Mauro. Armadilha paradigmática na educação ambiental. In: LOUREIRO,
Carlos Frederico B. (Org.). Pensamento Complexo, Dialética e Educação Ambiental. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 2011. Cap. 1. p. 15-29.
LAYRARGUES, Philippe Pompier. Para onde vai a Educação Ambiental? O cenário político-
ideológico da Educação Ambiental Brasileira. Revista Contemporânea de Educação, Rio de
Janeiro, v. 7, n. 14, p.398-421, ago. 2012.
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
12
LAYRARGUES, Philippe Pompier; LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. As macrotendências
político-pedagógicas da educação ambiental brasileira. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v.
17, n. 1, p.23-40, jan. 2014.
LAYRARGUES, Philippe Pompier; LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Mapeando as macro-
tendências político-pedagógicas da Educação Ambiental contemporânea no Brasil. In:
ENCONTRO PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 5., 2012, Ribeirão Preto.
Anais... Ribeirão Preto: Usp, 2011. p. 1 - 15.
LORENZETTI, Leonir. Estilos de pensamento em educação ambiental: uma análise a partir
das dissertações e teses. 2008. 406 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-graduação em
Educação Científica e Tecnológica, Centro de Ciências Físicas e das Matemáticas,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
LOUREIRO, Carlos Frederico B.. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São
Paulo: Cortez, 2006. 165 p.
LOUREIRO, Carlos Frederico B.; TORRES, Juliana Rezende. Educação Ambiental:
dialogando com Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2014. 184p.
PAYNE, Phillip G.. Framing Research: Conceptualization, Contextualization, Representation
and Legitimization. Pesquisa em Educação Ambiental, São Paulo, v. 2, n. 4, p.49-77, jul.
2009.
SILVA, A. F. G. A construção do currículo na perspectiva popular crítica: das falas
significativas às práticas contextualizadas. 2004. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-graduação
em Educação e Currículo. Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2004.
TORRES, Juliana Rezende. Educação ambiental crítico-transformadora e abordagem
temática Freireana. 2010. 456 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-graduação em Educação
Científica e Tecnológica, Centro de Ciências Físicas e das Matemáticas, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.
TORRES, Juliana Rezende; FERRARI, Nadir; MAESTRELLI, Sylvia Regina Pedrosa.
Educação ambiental crítico-transformadora no contexto escolar: teoria e prática freireana. In:
LOUREIRO, Carlos Frederico B.; TORRES, Juliana Rezende (Org.). Educação Ambiental:
dialogando com Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2014. Cap. 1. p. 13-80.
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
13
APÊNDICE A – Artigos selecionados para a pesquisa
ARAUJO, Maria Inêz Oliveira; MODESTO, Mônica Andrade; SANTOS, Tatiana Ferreira.
Caminhos e dilemas da Educação Ambiental no contexto escolar. Pesquisa em Educação
Ambiental, [s.l.], v. 11, n. 2, p.126-133, 31 out. 2016. Departamento de Educação da
Universidade Estadual Paulista – UNESP.
GUIMARÃES, Mauro QUEIRO , Edileuza Dias de P CIDO, Patrícia de Oliveira.
Reflexões sobre a pesquisa na Formação de professores/educadores ambientais. Pesquisa em
Educação Ambiental, [s.l.], v. 9, n. 1, p.110-119, 18 jun. 2014. Departamento de Educação da
Universidade Estadual Paulista – UNESP.
LEÃO, Morgana. Tradição, modernidade, pós-modernidade e Educação ambiental no ensino
superior do turismo. Educação Ambiental em Ação, Novo Hamburgo, v. 10, n. 37, p.1-14, set.
2011.
MONTEIRO, Renata; SÁNCHEZ, Celso; RODRIGUES, Camila. A percepção
socioambiental do público da exposição “Energia Nuclear” mediante as relações Ciência,
Tecnologia, Sociedade e Ambiente: entre a emergência e a armadilha paradigmática. Revista
Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v. 28, n. 1, p.100-113, jan.
2012.
OLIVEIRA, Aline de Sousa. Reflexões sobre a Educação Ambiental: sua contribuição na
formação de cidadãos conscientes. Educação Ambiental em Ação, Novo Hamburgo, v. 10, n.
37, p.1-7, set. 2011.
RODRIGUES, Jéssica do Nascimento; PLÁCIDO, Patrícia de Oliveira. Formação crítica e
práxis de intervenção pedagógica: a análise de uma experiência em Educação Ambiental.
Educação Ambiental em Ação, Novo Hamburgo, v. 11, n. 43, p.1-12, mar. 2013.
SOARES, Ana Maria Dantas; GUIMARÃES, Mauro; OLIVEIRA, Lia Maria Teixeira de.
Grupo de estudos e pesquisa em Educação Ambiental, diversidade e sustentabilidade –
GEPEADS/UFRRJ. Ambiente & Educação, Rio Grande, v. 14, n. 2, p.101-108, ago. 2009.
TAVARES, Claudia Moraes Silveira; BRANDÃO, Claudia Mariza Mattos; SCHMIDT,
Elisabeth Brandão. Estética e Educação Ambiental no paradigma da complexidade. Pesquisa
em Educação Ambiental, Ribeirão Petro, v. 4, n. 1, p.177-193, jan. 2009.
VASCONCELLOS, Maria des Mercês Navarro; GUIMARÃES, Mauro. Educação Ambiental
e Educação em Ciências: um esforço de aproximação em um museu de ciências – MAST.
Ambiente & Educação, Rio Grande, v. 11, n. 1, p.165-174, mar. 2006.
Juiz de Fora - MG 13 a 16 de agosto de 2017 Universidadre Federal de Juiz de Fora
IX EPEA -Encontro Pesquisa em Educação Ambiental