construcão de um novo modelo

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, ARTIGO/RESEARCH RE; -saúde materno infantil I Tendências para a assistência ao nascimento: bases para a construcão de um novo modelo # I Trends of assistance to birth: grounds for building a new model f Camilla Alexsandra RESUMO ScbneckI Este texto tem como finalidade apontar e discutir alguns aspectos Maria Luiza Gonzalez considerados importantes para a construção de um novo modelo de Riesco2 assistênéia ao nascimento. De modo particular, apresenta a utilização criteriosa de intervenções obstétricas como um elemento a ser incor- porado na elaboração de um novo modelo. Este tema também é o objeto de uma investigação que está sendo conduzida pelas autoras sobre o modelo assistencial proposto por um Centro de Parto Normal. DESCRITORES Enfermagem neonatal; Assistência perinatal; Obstetrícia ABSTRACT The present paper aims to point to and discuss some aspects consid- JEnfenneira Obstetra. Aluna do ered important for building a new model of assistance to birth. It Programade Pós-Graduação propounds specifically the thoughtful use of nurse-midwifery inter- da EEUSP Professora do Centro . 1 b . , un llersltáno vent ta e ao Paulo (UNASP). new model proposed. The paper's topic is also the focus of an inves- 2Enfenneira Obstetra. tigation the authors conduct on the assistance model proposed by a Proj Dr" do Departamento de Normal-Birth Center. Enfennagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de ' ~ Enfennagem da Universidade de KEYWORDS São Paulo Neonatal Nursing; Perinatal Assistance; Obstetrics \ ! \ ! CADERNOS. Centro Universitário S. Camilo, SãoPaulo, v. 9, n. 2, p. 9-15, abr./jun. 2003 9

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, ARTIGO/RESEARCH RE; -saúde materno infantil

I Tendências para a assistência

ao nascimento: bases para a

construcão de um novo modelo#

I

Trends of assistance to birth:grounds for building a new model

fCamilla Alexsandra RESUMO

ScbneckI Este texto tem como finalidade apontar e discutir alguns aspectosMaria Luiza Gonzalez considerados importantes para a construção de um novo modelo de

Riesco2 assistênéia ao nascimento. De modo particular, apresenta a utilizaçãocriteriosa de intervenções obstétricas como um elemento a ser incor-porado na elaboração de um novo modelo. Este tema também é oobjeto de uma investigação que está sendo conduzida pelas autorassobre o modelo assistencial proposto por um Centro de Parto Normal.

DESCRITORESEnfermagem neonatal; Assistência perinatal; Obstetrícia

ABSTRACTThe present paper aims to point to and discuss some aspects consid-

JEnfenneira Obstetra. Aluna do ered important for building a new model of assistance to birth. ItPrograma de Pós-Graduação propounds specifically the thoughtful use of nurse-midwifery inter-

da EEUSP Professora do Centro . 1 b . li t d . th d 1 t f th"i ., . Ad is d S -ventlons as an e ement to e aSSim a e m e eve opmen o e, un llersltáno vent ta e ao

Paulo (UNASP). new model proposed. The paper's topic is also the focus of an inves-2Enfenneira Obstetra. tigation the authors conduct on the assistance model proposed by a

Proj Dr" do Departamento de Normal-Birth Center.Enfennagem Materno-Infantil e

Psiquiátrica da Escola de '~ Enfennagem da Universidade de KEYWORDS

São Paulo Neonatal Nursing; Perinatal Assistance; Obstetrics

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CADERNOS. Centro Universitário S. Camilo, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 9-15, abr./jun. 2003 9

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INTRODUÇÃO variedade de práticas desenhadas para iniciat;corrigir a dinâmica, acelerat; regular ou moni-

Considerar~ o parto como um evento médi- torar o processo fisiológico do parto, com oco determina uma série de intervenções decor- objetivo de obter melhores resultados de mães erentes de sua concepção como "doença". Ao recém-nascidos, e algumas vezes para raciona-passo que a aproximação ao mesmo evento, con- lizar padrões de trabalho no caso do parto hos-siderandosua natureza fisiológica, abre possibili- pitalar" (OMS, 1996).dades para um outro modelo assistencial despi-do de intervenções desnecessárias. No entanto, o modelo de assistência ao nas-

Reconhecer o trabalho de parto e o nasci- cimento praticado nas últimas décadas é carac-mento como eventos fisiológicos e acompanhar terizado pela institucionalização do parto e pelaseu curso, sem interferir de maneira desnecessá- utilização rotineira de práticas obstétricas. Esteria ou inapropriada apresenta-se, atualmente, modelo convive com altas taxas de cesariana ecomo um desafio e uma possibilidade para to- com indicadores desfavoráveis de saúde mater-dos os que de al~ma maneira estão envolvidos na e perinatal que também são influenciadoscom a assistência ao nascimento e parto. pelas dificuldades de acesso das mulheres ao

Nesse sentid<:>, es~e texto tem como final~- sistema de saúde, de maneira efetiva e pela mádade ap<:>ntar e d1scut1r al~ns aspec~os conS1- qualidade da assistência.derados 1mportantes para a construçao de um Segundo a Organização Pan-Americana denovo modelo de assistência ao nascimento. De S ' d (OP 'A

S) t ' d o d rt l.d d.au e "" , a axa me 1a e mo a 1 a e

modo part1cular, apresenta a utilização criteriosa t t. d ' d Am'..-,. ma erna es 1ma a para os pa1ses a enca

de mtervençoes obstetricas como um elemento L . C .b ' d 290 100 000 . d.-atma e an e e e por. naSC1 os

~ ser mcorporado na elaboraçao de um novo. .d 1 E t t ta b ' , b. t d V1VOS e, em 1995, 1SS0 representava 22.000 mor'-mo e o. s e ema m em e o o Je o e umainvestigação que está sendo conduzida pelas te~ maternas. Embora muitos i~?icadores deautoras sobre o modelo assistencial pro osto por saude, como a taxa global de fertil1dade e a taxaum Centro de Parto Normal. p bruta de nascimentos tenham atingido melhores

Segundo Riesco (1999) índices durante as duas últimas décadas, as ta-, xas de mortalidade materna permaneceram es-

"a conexão estabelecida entre tecnologia e tagnadas. As causas estavam enraizadas nasegurança no parto foi um dos fatores respon- inadequação de várias intervenções que visavamsáveis por sua crescente hospitalização após a a melhorar a saúde materna (OPAS, 2002).Segunda Guerra Mundial nos países desenvol- O modelo vigente tem sido fonte de gran-vidos, na América e na Europa. O modelo hos- de insatisfação por parte de mulheres que dão àpitalar seguido pela obstetrícia brasileira, forte- luz em hospitais públicos e privados dea Amé-mente definido, ensinado e praticado a partir rica Latina e muitas vezes se apresentam cultu-da década de 1970, fundamenta-se na concep- ralmente inadequados. A gravidez e o parto nãoção do parto como evento cirúrgico, distante da são doenças, mas as mulheres da América Lati-fisiologia, revestido de risco, centrado na figura na e Caribe estão morrendo pelas mesmas cau-hegemônica do médico e no uso dfj! interven- sas que aquelas dos países industrializados doções com adoção rotineira de amniotomia pre- início do século XX (OPAS 2002).coce, infusão endovenosa de ocitocina e episio- Este contexto tem sid~ o foco de estudost°f,miad' entre oudtras pr~ticas", culminando em que relacionam a intervenção excessiva e roti-e eva as taxas e cesariana. ...,ne1ra no naSClmento e parto com preJu1zos para

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mulher e o recém-nascido.As investigações têm como eixo a "medici-

"nas últimas décadas vimos uma rápida na baseada em evidências que é a utilizaçãoexpansão no desenvolvimento e uso de uma consciente da melhor evidência clínica disponí-

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vel para tomar decisões sobre o cuidado de pa- tomia foi utilizada em 25,0% das mulheres e ne-cientes individuais e que se tem estendido para nhuma foi submetida a anestesia local antes doelaboração de guias normativos" (MS, 2001). procedimento. Não foi observado o registro da

Assim, o modelo intervencionista tradicio- indicação para episiotomia.nalmente reproQuzido na assistência ao nasci- Kaczorowski et aI. (1998) estudaram práti-mento pode ser questionado em face da existên- cas utilizadas na assistência ao nascimento emcia de evidências que relacionam a utilização Qa 523 hospitais canadenses (91,4% do total) quetecnologia de maneira inapropriada, com con- oferecem serviço de maternidade.

i seqüências desfavoráveis para o bem-estar da O estudo constatou restrição na utilizaçãomulher e do recém-nascido. dos procedimentos nos hospitais participantes

O mesmo questionamento pode ser dire- nas seguintes proporções: tricotomia do períneo,cionado à utilização abusiva e, muitas vezes, em 74,8%; lavagem intestinal, em 60,8%; infusãodesnecessária de intervenções que, ao alterarem intravenosa contínua, em 35,1%; monitorizaçãoo curso fisiológico do parto e do nascimento, eletrônica fetal no início da internação, em 23,4%desencadeiam uma cascata de eventos em que e monitorização eletrônica fetal contínua em

uma intervenção condiciona a outra e, ao au- 47,4%.mentar progressivamente o nível de complexi- Os referidos autores estudaram a utilizaçãodade do procedimento, associam-se ao aumen- da episiotomia de maneira separada parato do risco decorrente delas. primíparas e multíparas. Cerca de 70% dos hos-

Em outros países, alguns estudos apresen- pitais apresentaram dados sobre as taxas detam dados sobre a utilização de práticas obsté- episiotomia, tanto para primíparas como paratricas na assistência ao parto e ao nascimento e multíparas. A média de uso da episiotomia foiexpressam a preocupação com a necessidade 62,6% e 41,8% para primíparas e multíparas,de se utilizar a tecnologia de maneira apropria- respectivamente, nos hospitais que mostraramda para assistência ao nascimento. dados sobre o emprego da episiotomia.

No Reino Unido, Fleissig (1993) encontrou Diante destes achados, Kaczorowski et aI.redução de taxas de procedimentos obstétricos (1998) consideram que a utilização rotineira dasao comparar a prevalência destes nos anos de práticas obstétricas no Canadá está, de certo1984 e 1989. Ao observar o decréscimo das ta- modo, mais baseada em "velhos hábitos" [oxas de intervenções no parto, comparando es- destaque é nosso] do que na existência de evi-ses anos, a autora aponta mudanças na utiliza- dências científicas. Os autores consideram queção de práticas obstétricas e recomenda um o uso rotineiro de práticas obstétricas é desne-monitoramento regular, ç:ompleto e preciso de cessário e potencialmente prejudicial. Apontamdados nacionais sobre essas intervenções. a necessidade de empreender estratégias efeti-

Em estudo piloto, realizado no Zâmbia, Yas para promover uma mudança na atuaçãoMaimbolwa et aI (1997) observaram a assistên- dos médicos e nos resultados da assistência.cia ao nascimento em uma população de 84 Os estudos citados apontam diferenças sig-mulheres, em 11 hospitais das áreas rural e ur- nificativas no uso de práticas obstétricas entrebana. os países. Mas a prática ainda tem se dado de

Na investigação, os autores constataram o maneira rotineira, apesar da preocupação comabandono do uso de tricotornia do períneo nos o tema em alguns países.

hospitais da área urbana e de enema em 50,0%das mulheres na área rural. Em relação ao cui- UM MODELO ASSISTENCIALdado no primeiro período do trabalho de parto, MENOS INTERVENCIONISTA

observaram restrição ao leito e de ingesta hídrica,! desde a admissão até o término do terceiro No Brasil, partir do início dos anos 1980,

período, para todas as mulheres. A taxa de rotur4 algumas iniciativas gestadas no movimento fe-artificial de membranas foi 16,0%; a média do minista, presentes na Reforma Sanitária e con-número de exames vaginais foi 2,4 e 2 na área temporâneas ao movimento de redemocratização

f urbana e na rural, respectivamente; somente em do país, lançaram bases para mudanças na as-

! um hospital foi utilizada petidina injetável como sistência à saúde da mulher.medida de analgesia. Durante o segundo perío- r Até então, institucionalmente a saúde dado do parto, nenhuma mulher pôde escolher a mulher era concebida apenas em relação a suaposição e todas as primigestas, em área urbana, função reprodutiva. Questões como contracep-

\ tiveram o parto em posição litotômica. A episio- ção, problemas ginecológicos, doenças sexual-

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mente transmissíveis, aborto e direitos reprodu- .ausculta intermitente dos batimentos car-tivos não eram sistematicamente considerados diofetais;no planejamento e na programação institucional .restrição do número de exames vaginais;em saúde. .utilização de fármacos sob estrita indica-

Considerando a necessidade de uma nova ção;concepção sobre a saúde das mulheres, diante .orientação à mulher sobre suas condi-da crescente presença da mulher na força de ções e inclusão da família quando possíveltrabalho e de seu papel fundamental no núcleo [o destaque é nosso];familiar, o movimento feminista e outras deman- .promoção do contato imediato entre mãedas da sociedade tiveram participação ativa na e filho;elaboração conceitual do Programa de Atenção .uso de episiotomia com indicação (partoIntegral à Saúde da Mulher (PAISM). de feto prematuro, perÍneo com reduzida elasti-

O PAISM foi criado em 1984 pelo Ministério cidade, parto pélvico, parto múltiplo, parto com~da Saúde (MS), após intenso trabalho com a uso de fórcipe);

participação de diversos segmentos da socieda- .indicações para realização de cesariana.de. Propôs o modelo de atenção integral à saú- Assim, esse documento incorpora, em par-de da mulher, com "ações de saúde dirigidas te, as recomendações feitas na "Conferênciapara o atendimento global das necessidades sobre Tecnologia Apropriada para o Nascimen-prioritárias desse grupo populacional e de apli- to", promovida pela OMS e realizada em Forta-cação ampla no sistema básico de assistência à leza em 1985 (WHO, 1995).saúde" (MS, 1984). A Conferência de Fortaleza constituiu um I

Dentre os principais problemas identifica- marco na revisão das tecnologias adota das nodos na população feminina, estavam a assistên- nascimento e no parto. Uma cuidadosa revisãocia ao parto como um ponto crítico da saúde da dos conhecimentos atuais a respeito dessas tec-mulher, caracterizado pela peregrinação para a nologias levou à adoção de uma série de reco-assistência, a excessiva medicalização do parto mendações consideradas relevantes. Estas reco-e a crescente taxa de cesarianas. O programa mendações consideram a presença do acompa-faz, ainda, referência às "práticas obstétricas ina- nhante como um benefício para a mulher, criti-dequadas para a assistência ao parto" (MS, 1984). cam procedimentos prejudiciais à mãe e ao bebê,

Em 1991, o MS publicou um manual sobre as cesarianas desnecessárias e incentivam o partocuidados durante a assistência ao nascimento. O ativo. Incentivam ainda a percepção do partodocumento de caráter técnico já continha algu- como um evento fisiológico e recomendam amas considerações importantes sobre o ciclo abolição das intervenções que interferem nagravídico-puerperal, no que diz respeito à pos- evolução normal do parto (Osava, 1997).sibilidade de construção de um novo modelo de Posteriormente, outras iniciativas surgiram,assistência ao nascimento (MS, 1991). como a Carta de Campinas, em 1993, elaborada

Esse documento faz considerações a res- por participantes de uma reunião, organizadapeito do início precoce da interação mãe e filho de maneira autônoma e independente para deba-com fundamento para a formação do vínculo e ter a situação do nascer (Osava, 1997).sobre a assistência ao nascimento ressaltando a Ainda segundo a mesma autora, na ocasiãonecessidade de protege~ a espontaneidade do criou-se a Rede pela Humanização do Parto etrabalho de parto, apesar de não serem o foco Nascimento -Rehuna, com a pretensão de di-desta publicação. rigir-se a mulheres homens, setores da socieda-

A respeito de algumas práticas obstétricas de civil organizada, profissionais da saúde e edu-considera: cação e planejadores para:

.presença de visitas [o destaque é nosso] .mostrar os riscos à saúde de mães e be-no pré-parto; bês pelas práticas obstétricas inadequadamente

.possibilidade de deambulação e ~scolha intervencionistas;da posição durante o trabalho de parto e na .resgatar o nascimento como evento exis-expulsão fetal pela mulher; I tencial e sociocultural crítico com profundas e

.sistematização dos registros da assistên- amplas repercussões pessoais; revalorizar o nas-cia, com utilização de partograma; cimento humanizando as posturas e condutas

em face do parto e do nascimento;1 F b - b .d" d lh .aliar conhecimento técnico e científico.az o servaçao so re a evI encla e me ores. ., ..

resultados maternos e perinatais com posições mais verti- sistematizado e comprovado a praticas humaru-calizadas. zadas de assistência ao parto e ao nascimento.

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Naquela ocasião, a Rehuna declarou ade- Em 2000, outra medida do governo insti-são às recomendações da Conferência de Forta- ruiu o "Programa de Humanização do Pré-Natalleza. e Nascimento"3, a ser executado de maneira

Em 1996, a OMS lançou o "Guia Prático articulada entre o Ministério da Saúde e as se-para a Assistência ao Parto Normal" (WHO, cretarias estaduais e municipais de saúde.1996). Essa publicação foi elaborada por uma Nesse programa, um de seus aspectos:

equipe de especialistas de todas as regiões daOMS e classifica as práticas obstétricas em qua- "( ..) se refere ã adoção de medidas e pro-

I tro categorias. cedimentos sabidamente benéficos para o acom-A 1 ifi - t b b da panbamento do parto e do nascimento, evitan-

c ass Icaçao em por ase a a or gemd di .b d .d ~' -do prancas zntervenczontStas desnecessarias, que

a me cma asea a em evI enclas como meto-d '1. d d 1. d' b embora tradIcIonalmente reahzadas nao bene-

o para ana Ise e estu os rea Iza os so re as fi " lb -. d, ., ..zczam a mu~ er e o recem~nascz o e que com

praticas obstetrícas, com a finalIdade de obtenção fi ..A. ...'.~ requencza acarre,am maJores rncos para am-

da melhor evidencia para uma decisão clínica. bos" (MS 2000).Na Categoria A, estão incluídas as práticas '

demonstradas úteis que devem ser encorajadas. A partir de 1999, o MS instituiu o Prêmio

Na Categoria B, estão as práticas claramente Nacional Galba de Araúj04 concedido às institui-danosas ou não efetivas que devem ser elimina- ções que se destacam no atendimento à gestan-

das. A Categoria C contém as práticas ruja evi- te e ao recém-nascido, considerando a qualida-dência é insuficiente e que necessitam de mais de da assistência, como acolhimento, práticaspesquisas. E, finalmente, na Categoria D inclu- obstétricas adequadas e inovações que visem àem-se as práticas freqüentemente utilizadas de humanização, à organização institucional e àmaneira inapropriada. satisfação dos usuários.

Em 2000, o documento foi traduzido para a Dentre as medidas institucionais descritaslíngua portuguesa e a introd~ção para a edição acima destaca-se, ainda, a criação do Centro deem português, elaborada pelo Ministério da Saú- Parto Normal (CPN) no âmbito do SUS.de, refere-se às características do modelo de as- O CPN é um estabelecimento destinado àsistência proposto: assistência ao parto normal que pode funcionar

de maneira intra ou extra-hospitalar, mantendo"um conjunto de práticas que visam d pro- o ambiente hospitalar como referência para re-

moção do parto e nascimento saudáveis e ã moções em um período máximo de uma hora;prevenção da mortalidade materna e perinatal. deve ainda permitir a presença de acompanhan-Estas práticas incluem o respeito ao processo tes (Brasil, 1999).fisiológico e ã dinâmica de cada nascimento, O espaço institucional para assistência aonos quais as intervenções devem ser cuidado- parto normal tem características diferentes dosas, evitando-se os excessos e utilizando-se cri- ambiente hospitalar e cria uma estrutura que

,I teriosamente os recursos tecnológicos disponí- poss~bili.ta a adoção de um m:>delo menos inter-veis" (OMS, 19%). venclorusta, que de fato considere o parto como

um processo fisiológico. Também propõe a en-Paralelamente a estas iniciativas, a partir da fermeira obstetra como coordenadora da assis-

segunda metade dos anos 1990, surgiram no tência.Brasil proposições em âmbito federal, relaciona- Dentre as experiências pioneiras de CPN,

das à legislação e às políticas públicas para a destacamos a Casa do Parto de Sapopemba,saúde da mulher. vinculada ao Programa de Saúde da Família na

Destacam-se as ações do MS, como a inclu- cidade de São Paulo.

I são na tabela de pagamento do Sistema Único

de Saúde (SUS), do parto normal sem distócia 3. Portarias n. 569, 570, 571 e 572 de 01/06/2000, dorealizado por enfermeira obstetra; a capacitação Ministério da Saúde.de recursos humanos para a assistência ao par- -4. Portaria n. 2.883 de 04/06/1998 do Ministério da,

i to, financiando cursos de especialização em Saude.I ~ ' ,. Receberam este Prêmio em 1999, 2000 e 2001, res-

en ermagem obstetríca e a defmlçao de mdlces pectivamente Maternidade Sofia Feldman -Belo Hori-decrescentes para o pagamento de cesáreas2. zonte (MG), Hospital Geral de Itapecerica da Serra (SP) e

Maternidade de Betim (MG), pela região Sudeste. A Mater-nidade Mater de Ribeirão Preto (SP) foi a indicada no Estado

2. Portarias n. 2.815 de 29/05/1998, n. 2.816 de 29/ de São Paulo para concorrer ao Prêmio pela Região Sudeste,05/1998 e n. 163 de 22/09/1998, do Milli$tério da Saúde. em 2001.

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o relatório sobre as atividades desse servi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASço apresenta, de maneira sistematizada, dadossobre sua produção no período de outubro de BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 985, de1998 a junho de 2000. A taxa de períneo íntegro agosto de 1999. Cria o Centro de Parto Normalem nulíparas variou de um mês a outro, apre- -CPN, no âmbito do Sistema Único de Saúde.sentando uma média de 43,5%. A taxa de uso de Disponível em: <http://www.Saude.gov.br/doc/ocitocina encontrava-se além dos 10,0%, preco- Portarias/1999/b%20985%20CEN1R0%20DE%20nizados pela OMS. Em relação ao procedimento PARTO%20NORMAL-CPN.rtf>. Acesso em: 06de toque vaginal, a porcentagem de mulheres jun. 2001.que receberam menos de quatro toques foi 79,90/0 FLEISSIG A P I f d . h 'ld(O 2000) , .reva ence o proce ures rn c 1 -

sava,. ...birth. BMJ v. 306 .494-5 1993.Recentemente a Casa de Mana fOl rnaugu- " p ,

rada e localizada no bairro do Itaim Paulista, KACZOROWSKI, J.; LEVITT, C.; HANVEY, L. etmunicípio de São Paulo. É uma experiência de aI. A national survey of use of obstetrics pro-CPN peri-hospitalar, pois funciona anexa a uma cedures and technologies in canadian hospitaIs:maternidade. routine or based on existing evidence? Bi1-th, v.

Outras experiências interessantes são as do 25, n. 1, p. 11-8, 1998.

CPN do Hospital Geral de Itapecerica da Serra MAIMBOLWA, M.C.; RANSJO-ARVIDSON, A-B,(HGIS) e Hospital Estadual da Vila Alpina NG' ANDU, N. et aI. Routine care of women(HEVA), ambos sob a gestão do Seconci-SP. Ca- experiencing normal deliveires in Zambian ma-racterizam-se como centro de parto normal intra- ternity wards: a pilot study. Midwifery, v. 13, n.hospitalar e vêm apresentando taxas reduzidas 3, p. 125-31, 1997.de intervenções, com maior participação da mu- ..,. , ~lher e de seu acompanhante (Silva et al 2000. BRASIL. Mrnlsteno da Saude. Assistencia Inte-Schneck, Riesco, 2002). " gral ~ .Saúde ~ Mulher: bases de ação pro-

Estas experiências recentes no cenário bra- g~amatlca: ~r~s~ha, DF:,Centro de ~o.cumenta-

sile lfo de v em ser b . t d tud .-çao do Mrnlsteno da Saude, 1984. (Sene B: Tex-

o Je o e es os, pO1S o co B " d S ' d 6)tos aS1COS e au e .nheclmento slstematlzado sobre esses servlços '

apresenta-se, atualmente, como uma demanda BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacio-de investigação e contribui para consolidar as nal de Assistência à Saúde. Departamento debases de um modelo de assistência que vem se Programas de Saúde. Divisão Nacional de Saúdecomportando como uma tendência. Matemo-Infantil. Assistência institucional ao

parto, ao puerpério e ao recém-nascido.CONSIDERAÇÕES FINAIS Brasília, DF: Centro de Documentação do Minis-

tério da Saúde, 1991. (Série A: Normas e Ma-

.1' -.. d .nuais Técnicos).A utllzaçao cntenosa e rntervenções obs-

tétricas surge como um elemento a ser conside- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva.rado na elaboração de um modelo de assistência Prog1Wdma hwnanização do parto: humanizaçãoao parto que responda à necessidade de redu- no pré-natal e nascimento. Brasília, DF: Centro deção da morbimortalidade materna e perinatal. Documentação do Ministério da Saúde, 2000.

As intervenções obstétricas devem ser ba- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políti-seadas nas evidências e as intervenções que são cas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher.efetivas somente em grupos de alto risco não Parto, aborto e puerpério: assistência huma-devem ser usadas rotineiramente. Por outro lado, nizada à mulher. Brasília, DF: Centro de Docu-muitas práticas benéficas não sào rotineiramen- mentação do Ministério da Saúde, 2001.te usadas nem incluídas nas normas de prática -,clínica de hospitais e maternidades (OPAS 2002). ORGANIZAÇAO MUNDIAL DA SAUDE (OMS).

Em um movimento de convergência com Assistência ao parto normal: um guia práti-

estas considerações, temos experimentado uma co. Genebra: OMS, 1996. (OMS/SRF/MSM/96.24)

crescente demanda de mulheres que buscam ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDEuma assistência segura, sob um modelo em que (OPAS) Organização Mundial da Saúde. 130aa premissa do controle e da intervenção esteja Sessão do Comitê Executivo. Estratégia regio-subordinada à cidadania e ao direito a uma as- nal para a redução da mortalidade e mor-sistência com qualidade e significativa quanto à bidade materna. Disponível em: <http://experiência de parir. www.who.org >. Acesso em: 16/11/2002.

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r'OSAVA, R,H, Assistência ao parto no Brasil: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEMo lugar dos não médicos, 1997, Tese (Doutora- OBSTÉTRICA E NEONATAL, 3, Salvador, 2002-do) -Faculdade de Saúde Pública, Universida-d d S- P I 1997 SILVA,.S,F,; COSTA, A.S.C.; RIESCO, M.G;L. et aI..

e e ao auo, .A . dOcorrenc1a e episiotomia e rotura perineal noOSAVA, R.H. Relatório descritivo de ativida- Centro de Parto Normal do Hospital Geral dedes: outubro de 1998 a junho de 2000. São Paulo: Itapecerica da Serra -SP. 1n: CONFERÊNCIAFundação Zerbini, Secretaria de Estado da Saú- INTERNACIONAL SOBRE HUMANlZAÇÃO DO

\ de de São Paulo/Programa de Saúde da Família PARTO E NASCIMENTO, 1, Fortaleza. Anais...r -Qualis Sudeste, 2000, 53p. (Mimeografado) Fortaleza, CE: ]ICA, 2000. p. 32.

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Recebido em 30 de outubro de 2002I Aprovado em 8 de janeiro de 2003

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