Considerações Acerca de Fundamentos Filosóficos para a ... · PDF...
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1 Histria, Filosofia e Sociologia da Cincia na Educao em Cincias
Atas do IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educao em Cincias IX ENPEC guas de Lindia, SP 10 a 14 de Novembro de 2013
Consideraes Acerca de Fundamentos Filosficos para a Qumica e o seu Ensino
Considerations about Philosophical Foundations for
Chemical and their teaching
Daysilane das Mercs Frade Silva Universidade Federal de So Joo del-Rei
Resumo
Neste trabalho, apontamos algumas consideraes referentes ao reducionismo epistemolgico
e ontolgico da Qumica. Balizados em Bakhtin e Husserl que entendem o mundo objetivo da
cincia como mundo autnomo, mas no separado do mundo da vida, problematizamos a
propsito da autonomia ontolgica da Qumica. E, ainda, sob a tica responsiva de Mikhail
Bakhtin, assinalamos a respeito da dimenso axiolgica na aplicabilidade do conhecimento
qumico e de seus produtos.
Palavras chave: ensino, filosofia, qumica
Abstract
In this paper, we point out some considerations regarding the epistemological and ontological
reductionism of Chemistry. Based in Bakhtin and Husserl who understand the objective world
of science as autonomous world, but not separate from the world of life, we problematized the
purpose of ontological autonomy of chemistry. We reflect too, under the perspective the
responsible act of Mikhail Bakhtin, about the axiological dimension on applicability of
chemical knowledge and its products.
Key words: teaching, philosophy, chemistry
mailto:[email protected]
2 Histria, Filosofia e Sociologia da Cincia na Educao em Cincias
Atas do IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educao em Cincias IX ENPEC guas de Lindia, SP 10 a 14 de Novembro de 2013
Introduo
Mikhail Bakhtin (2010) nos diz sobre o lugar da filosofia. Ela comea onde termina a
cientificidade exata e comea a heterocientificidade. Pode ser definida como metalinguagem
de todas as cincias (e de todas as modalidades de conhecimento e conscincia) (p. 400).
Partindo destes dizeres de Bakhtin, talvez, encontramos abertura para problematizar sobre o
lugar da Filosofia da Qumica.
Ribeiro (2008), em seu artigo Filosofia e Qumica: Miscveis Quais as implicaes da
Filosofia da Qumica para o Ensino de Qumica?, faz referncia a diversos trabalhos de
Schummer que evidenciam a necessidade da Filosofia da Qumica na pesquisa em Qumica
e em Educao Qumica (p. 4). O autor discute, tambm, o reducionismo das questes
filosficas da Fsica recolocado na Qumica. Segundo Ribeiro, dentre os principais problemas
discutidos pela Filosofia da Qumica, desde o surgimento do internacional Journal for the
Philosophy of Chemistry (1995), esto a autonomia da Qumica e sua reduo Fsica (p.
5).
Buscamos o artigo The philosophy of chemistry de Schummer, 2003, para entender um pouco
mais sobre a crtica ao reducionismo da Qumica Fsica e, tambm, Filosofia da Cincia
direcionada ao enfoque da Mecnica Quntica (Filosofia geral). De acordo com o autor, esta
crtica diz respeito a uma necessidade de investigaes histricas e filosficas para
desenvolver uma Filosofia especfica da Qumica. Logo, os conceitos da Filosofia tradicional
da Cincia precisam ser revisados antes de qualquer aplicao Qumica. Schummer
argumenta que o interesse de estudos na Qumica, que tem se concentrado em mtodos
prticos (experimentao e instrumentao) e em mtodos cognitivos (linguagem qumica,
construes de modelos e representaes), ainda so de enfoque classificatrio.
Em 2005, Labarca em seu texto La Filosofa de la Qumica en la Filosofa de la Ciencia
Contempornea traz uma concluso importante a respeito do lugar da Filosofia na Qumica:
A partir do senso comum normalmente se pensa que a filosofia e a qumica so disciplinas
completamente alheias entre si. Por outro lado, em geral os prprios qumicos consideram ftil o
aporte da filosofia para o que eles consideram como problemas especficos que requere m solues
especficas. No entanto, esta perspectiva limita fortemente seu prprio trabalho cientfico. O
mundo qumico muito mais que refletir acerca de snteses de substncias, instrumentos,
equaes, experimentao e informtica. A qumica, como qualquer disciplina cientfica, tem sua
complexidade e suas prprias peculiaridades que a caracterizam como tal. A introduo da
filosofia na qumica proporciona uma ferramenta de anlise til tanto aos qumicos como aos
educadores da qumica. Felizmente, durante os ltimos anos iniciou-se uma superao dos
obstculos que impediam a reflexo filosfica acerca da qumica: o crescente interesse dos
filsofos da cincia fez com que a filosofia da qumica adquirisse forte momento, sendo a
subdisciplina que mais cresce dentro da filosofia da cincia contempornea (p. 167).
Esta fundamentao filosfica contribui tanto para compreender melhor e mais amplamente
uma cincia natural quanto para compreenso geral do pensamento cientfico
(LABARCA, 2005, p. 167). De acordo com Labarca, uma fundamentao filosfica pode
tambm produzir efeitos positivos sobre a educao atravs de uma concepo mais
abrangente e profunda (p. 167) da Qumica.
O reducionismo epistemolgico e ontolgico da Qumica
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Atas do IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educao em Cincias IX ENPEC guas de Lindia, SP 10 a 14 de Novembro de 2013
No artigo, Es posible una filosofa de la qumica?, de Anna Estany (2011) encontramos uma
anlise sobre as principais razes da falta de interesse pela Qumica por parte da filosofia
da cincia e o apontamento de uma srie de desafios que a filosofia da qumica deve
enfrentar no sculo XXI (p. 52). Diante do esquecimento da Qumica pela Filosofia da
Cincia, a autora distingue as razes que se referem a questes epistemolgicas, ontolgicas
e metodolgicas relacionadas com a qumica aplicada. A propsito do reducionismo, a
autora refere-se a dois grupos de pesquisadores: um partidrio do reducionismo do qual se
tem frente H. Eyring, J. Walter e G. E. Kimball e outro que conta com os especialistas G.
K. Vemulapalli e H. Byerly que consideram que devemos distinguir o reducionismo
epistemolgico do ontolgico e que refutar o primeiro suficiente para garantir a autonomia
da qumica (p. 52). Neste segundo grupo, a autora inclui alguns filsofos como Olmpia
Lombardi da Universidade de Buenos Aires e Martn Labarca da Universidade Nacional de
Quilmes que vo mais alm, ou seja, refutam tambm o reducionismo ontolgico e
defendem o pluralismo ontolgico em qumica (p. 52-53). Quanto aos desafios da Filosofia
da Qumica, Estany enumera cinco:
Em primeiro lugar, dado o desenvolvimento da qumica terica, se espera uma consequente
reflexo filosfica da qumica, sem a restrio do reducionismo. [...] Em segundo, a qumica
proporciona parte da base terica de concepes de cincias como a farmacologia, a medicina e as
cincias ambientais, entre outras. Uma reflexo filosfica deve considerar isto. Em terceiro lugar,
indiscutvel que a filosofia da cincia experimental tem constitudo quadro para a filosofia da
qumica, j que pode fornecer estudos, histricos e atuais, nos quais os experimentos
desempenham uma funo relevante. Um quarto desafio consiste em melhorar a visibilidade da
qumica naqueles campos disciplinares de que faz parte. E, por ltimo, tendo em conta a
importncia da qumica para a indstria, resulta imprescindivelmente uma reflexo tica sobre
suas aplicaes. Isso poderia resultar-se num campo filosfico denominado quimiotica, da
mesma forma que j existe a biotica (2011, p. 53).
Mikhail Bakhtin em sua obra Para uma Filosofia do Ato Responsvel apresenta uma tese que
diz respeito a no separao dos atos que realizamos de seus produtos. Tomando os estudos
de Amorim (2003), entendemos que a dimenso tica em Bakhtin est vinculada
responsabilidade. Ainda neste trabalho considerando o fazer Qumica, bem como seu ensino,
como ato que realizamos, faremos uma breve problematizao referente a esta dimenso
axiolgica em Qumica fundamentada na tese de Bakhtin.
Voltando ao reducionismo, Labarca (2005) confirma que, embora os argumentos particulares
diferem entre si, h uma concordncia de vrios autores em considerar que as descries e
os conceitos qumicos no podem derivar-se dos conceitos e das leis da fsica tal como
supem o reducionismo epistemolgico (p. 161). Por outro lado, nos diz que os filsofos
da qumica no duvidam acerca da reduo ontolgica: quando se analisa, com profundidade,
as entidades qumicas no so mais que entidades fsicas (p. 162).
Olmpia Lombardi e Martn Labarca (2006) argumentam que a noo de dependncia
ontolgica filosoficamente clara e significativa, contudo, esses autores referem-se s
ontologias descritas por teorias no relacionadas com a reduo epistemolgica para defender
o pluralismo ontolgico. Dependncia ontolgica uma relao assimtrica entre
ontologias. De acordo com o pluralismo ontolgico, defendido por Lombardi e Labarca,
tem-se o contrrio dessa relao assimtrica, ontologias so simetricamente relacionadas:
mesmo que ontologicamente ligadas, nenhuma delas depende das outras para existir (p. 86).
Os autores, ainda, nos dizem: obviamente as concluses fundamentadas