Pressupostos Teóricos Filosóficos Texto Final

38
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE DUQUE DE CAXIAS PROPOSTA PEDAGÓGICA VOLUME 1 PRINCÍPIOS TEÓRICO-FILOSÓFICOS Duque de Caxias - RJ 2002

description

educação

Transcript of Pressupostos Teóricos Filosóficos Texto Final

SECRETARIAMUNICI PALDEEDUCAO DE DUQUEDECAXI AS PROPOSTA PEDAGGICA VOLUME 1 PRINCPIOS TERICO-FILOSFICOS Duque de Caxias - RJ 2002 ii Prefeito Jos Camilo Zito dos Santos Filho Secretaria Municipal de Educao Roberta Barreto de Oliveira Subsecretaria Municipal de Educao Isabel Cristina Pinto de Paula Departamento Geral de Educao Roseli Duarte Torres Departamento de Planejamento e Controle Antnio Carlos de Almeida Coordenadoria de Educao Myrian Medeiros da Silva Coordenadoria de Recursos Educacionais Rachel Barreto de Oliveira Coordenadoria de Assistncia ao Educando Regina Clia Soares Ferreira Coordenadoria de Armazenamento e Supri mento Carmem Lcia Ferreira da Cunha Coordenadoria Administrativa Jane da Silveira Gomes Equipe de Educao Infanto-Juvenil Snia Pegoral Silva Equipe de Educao Infantil Maria da Penha Carreiras Equipe de Educao Especial Vera Lcia Alves dos Santos Corra Equipe de Ensino de Jovens e Adultos Ana Claudia Gomes Cunha Equipe de Orientao Educacional Jlia Paula Moraes da Silva Teixeira Equipe de Superviso Educacional Maria Celeste Rodrigues Pais Alves Equipe de Programas Educacionais e Comunitrios Silvania Maria de Souza Lima Equipe de Nutrio escolar Irany Bastos de Arajo Equipe de Tecnologia Educacional Dominique Maciel de Souza Equipe de Leitura Rosimeri Bitencourt dos Santos iii Secretaria Municipal de Educao de Duque de Caxias Av. Brigadeiro Lima e Silva, 151 Parque Duque Duque de Caxias RJ Tel.: (xx)21 2671-7527 E-mail: [email protected] Proposta Pedaggica da Secretaria de Educao de Duque de Caxias: Volume 1: Princpios Tericos Filosficos Duque de Caxias, RJ : SME, 2002. 1. Educao - Brasil. 2. Ensino Fundamental - Brasil. 3. Ensino Fundamental Currculos. ndices para catlogo sistemtico: 1. Currculos - Ensino Fundamental. 372.19 iv Sumr i o Apresentao_____________________________________________________________________________ v Prefcio_________________________________________________________________________________ vi Escola em Movimento____________________________________________________________________vii 1Introduo____________________________________________________________________________1 2Construindo Caminhos... ________________________________________________________________3 3As Lies de uma Escola: Uma Ponte para muito longe... ______________________________________8 4ESCOLA EM MOVIMENTO: PRESSUPOSTOS FILOSFICOS_______________________________9 4.1O Sujeito da Cultura e do Conhecimento: a Criana, o Adolescente, o Jovem e o Adulto._______10 4.2O Conhecimento e a Aprendizagem__________________________________________________15 4.3A Escola:_______________________________________________________________________20 5REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS_____________________________________________________30 v Apr esent ao Sonharnoapenasumatopoltico necessrio,mastambmumaconotaode forma histrico-social de estar sendo. Faz parte da natureza humana, que dentro da histria se acha em permanente processo de tornar-se. Paulo Freire Atualmente,aRedePblicaMunicipaldeEnsinodeDuquedeCaxiascompostade110 unidadesescolares,distribudaspelosquatrodistritosdomunicpio,ordenaopolticoadministrativa municipal, a saber: Duque de Caxias, Campos Elseos, Imbari e Xerm. No municpio, a rede escolar compostapordiferentesnveisemodalidadesdeensino,identificadasdeacordocomotipode atendimentoaquesedestinam,isto,EducaoInfantil,EnsinoFundamental,EducaoEspeciale Ensino Regular Noturno. As unidades escolares da Rede Municipal de Ensino so mantidas pela Prefeitura Municipal de Duque de Caxias e administradas pela Secretaria Municipal de Educao, de acordo com aslegislaes federal, estadual e municipal em vigor. Administrar,noentanto,noumatarefasimples,masaSecretariaMunicipaldeEducao aceitaosdesafiose,atravsdeaes,busca conceituare reconceituarseu trabalho juntoaosprofissionais daeducao,revelando,assim,umaconstanteintenoemdiscutireimplementaridias,prticase conceitoscontemporneos.Maisqueisso,procuranovasformasdeorganizaodasestruturas administrativas e pedaggicas para a melhoria do trabalho de todos os envolvidos com o processo educativo escolar.Nessetrajeto,no hlugarparadesnimonemdesistncia. Caminhamos,naperspectivadeum trabalho,cada vez maissintonizado comavidadonossotempo,queaponteparaumanovafilosofiade vida e de trabalho. procuradecaminhosquenospossibilitassemaconstruodeumaPropostaPedaggicada SecretariaMunicipaldeEducao,buscamosaparceria,adisponibilidadeparavivermosesseprocesso coletivamente,demodoaexistirespaoparaasdiferenas,asingularidade,aliandoexperincias, conquistaseobjetivos.Numavisodemocrtica,fundamentalquesejaaexpressodeumprocesso coletivo e no individual, ou de um pequeno grupo. Assim, a construo da Proposta Pedaggica da Secretaria Municipal de Educao compreendeu o segmento dos profissionais da educao relacionados estrutura organizacional da prpria Secretaria de Educao e de todos aqueles que atuam diretamente nas unidades de ensino. Dessa forma, asseguramos a construodeumapropostamltipla,ouseja,queexpressaasdiferenasegaranteoparticular, resgatandoasconcepeseprticaseducativasdaspessoasque,concretamente,produzemocotidianoda educao pblica municipal de Duque de Caxias. TemosaconvicodequeestaPropostaPedaggicanoficarfadadaaumapeaderetrica, pois envolveu os principais sujeitos do processo educacional, ou seja, os profissionais da rede municipal de ensino que, em diferentes ocasies, compartilharam tempo, espao, emoes, aprendizados. vi Pr ef ci o OprimeirovolumedaPropostaPedaggicadaSecretariaMunicipaldeDuquedeCaxias,Rio deJaneiro,intituladoPrincpiosTerico-Filosficos,reflete,emprimeirolugar,ocompromissodosque procuram tornar realidade o sonho de uma escola que contemple e que produza a dignidade humana com justiasocial.Osprincpiosaquiapresentadospartemdacompreensodequenobastaampliaro nmerodevagasnasescolasenembastapensaremumamelhorformadeensinar,masque fundamental reconhecer, antes de tudo, que sujeitos deseja formar, e com quais concepes. OsfundamentosaquiapresentadostmcomoeixocentralaidiadeMOVIMENTO,isto, instituem,demodohistricoesingular,umnovoparadigma:ossereshumanossoseresemconstruo, dinmicos e que se constituem na e pela ao. Essa ao, por sua vez, se d nos partilhamentos, nas trocas, na aceitao da diversidade como produtiva, no protagonismo de todos os atores da comunidade educacional enapreocupaocomacidadania.Inova-setambmnamedidaemquenoseconstituiemguiadecomo organizar a ao pedaggica, mas sim, preocupa-se em oferecer um texto fundador, que permite refletir sobre essas aes, que inspira a busca de alternativas, sem, contudo, fechar se em si mesma. Tendocomosujeitosdessemovimentoosprotagonistasplosdoprocessoeducacional(oprofessor comomediadordaaprendizagemeacriana,ojovemeoadultocomosujeitosativosnoprocessode construodoconhecimento)apostanoPROJETOHUMANOdeconstituiodeidentidadesede sujeitosticos,comprometidoscomatransformaosocial.Assim,ressaltaadimensohistrico-cultural, cujos princpios apontam para prticas coletivas a serem construdas de modo comprometido e responsvel, interaesaseremgarantidasenacompreensodequeosseresseconstituememdeterminadocontexto histrico e social. Reconhece que alterar prticas historicamente incorporadas no uma tarefa rpida e fcil, mas queexige,acimadetudo,respeitoeummododiferenciadodelidarcomconflitosprpriosdesseprocesso. Enfim, esse documento permite entender a educao, o ensino e a escola como fruto de esforos comuns por uma legtima mudana na vida das pessoas e na sociedade. Assim, este documento, fruto de um trabalho coletivopermitenosrefletirsobreasprticaseasconcepes,massignificaasescolhasfeitasporuma comunidade, configurando-se como uma travessia a caminho da concretizao dos direitos dos educando e dos professores - uma luta a ser, a todo momento, renovada e ressignificada.Osprincpiosterico-filosficosdestapropostaconcretizamasnovastendnciasenecessidadesdeuma educao no mundocontemporneo, seja pelas concepes aqui assumidas, seja pelo modo comoforam produzidos, seja pelo que apresentam de inovao e, principalmente, pelos objetivos que desejam alcanar. Gostaria de registrar um grande orgulho e contentamento, em nome das crianas, dos jovens e dos adultosexcludosdosseusdireitos,porreconhecernestedocumento,osencaminhamentospara,comos ps no cho, lutar por construir as utopias. Leiva de Figueiredo Viana Leal Doutora em Educao vii Escol aem Movi ment o ... a Escola em Movimento pressupe canais decomunicaoabertoseestemconstante (re)organizao, (re)definio e (re)avaliao. Miguel ArroyoEscolaemMovimento.assimqueaSecretariaMunicipaldeEducaodeDuquede Caxias define sua proposta de ao para as escolas da rede municipal de ensino. Movimentoembuscadeumaescolaparticipativa,dinmica,efetivamentevoltadaparatodose fundamentada na Pedagogia da Incluso. Movimento para a construo de um currculo, que respeite o desenvolvimento humano, inclusivo, estimulador das diferenas individuais e tenha por princpio a interdisciplinaridade. Movimentonadireodoalunoentendidoemtodaasuadimensohumanacomoserintegral, pleno,sujeitodahistria,comumtempoeritmoprprios,capazdeconstruirsuaidentidade, desenvolvendo o seu potencial e sua auto-estima. Movimentoparaestimularnovasediversificadasprticaspedaggicasquevalorizema criatividade, a originalidade, a aprendizagem e que resgatem o verdadeiro sentido de ensinar. Movimento com o aluno, com o professor, com a comunidade, reflexo de um tempo, de um espao, de uma vivncia, nascendo e se refazendo com a simplicidade e a certeza de no ser definitiva. Movimento ousado, renovador, transformador, audaz, desafiador, ldico, tico, solidrio, libertador... Sonia Regina Scudese Dessemone Pinto 1 1I nt r odu o Somenteosutpicospodemserprofticos; somentepodemserprofticososportadoresde esperana... Paulo Freire Somuitososobstculosedesafiosaseremultrapassadosevencidos,quandoo assunto educao, particularmente num pas de contrastes como o nosso, onde convivem grandes desigualdades econmicas. Diante dessa conjuntura, coloca-se o desafio de que a educaonosejaumfatorsuplementardeexclusosocial,masquecontribuaparaa promoo e integrao de todos, voltando-se para a construo da cidadania, no como meta aseratingidanumfuturodistante,mascomoprticaefetivaquedeveserrealizadano momento presente. Isso no significa que a tarefasejaimpossvel. um desafio quepassano apenas pelos bancos escolares, mas que deve mobilizar o esforo comum e constante da sociedade como um todo. Trata-se, portanto, da busca de uma educao voltada construo do conhecimento e que reconhece a importncia deste em relao emancipao dos sujeitos e ao exerccio da cidadania. Refora-se, assim, a reorganizao da escola, baseada numa nova concepo de conhecimento, operando com teorias de aprendizagem e formas de organizao de ensino que superem as prticas pedaggicas tradicionais, centradas na memorizao mecnica e na reproduo de informaes, descontextualizadas, anacrnicas ou sem utilidade prtica. Assumirtalperspectivasignificasolicitaromelhordecadaumedetodosnse, assim, buscar a transformao da nossa realidade escolar, articulada realidade social mais ampla.Afinal,somosportadoresdaesperanadeumprojetodefuturo,pautadona responsabilidade solidria, onde no cabem procedimentos isolacionistas e individualistas. Nesteponto,pertinentesalientarque,aoassumirmosaSecretariaMunicipalde Educao de Duque de Caxias, nos comprometemos a trabalhar por uma educao pblica dequalidadeeporumasociedadejustaesolidria,poissempreacreditamosnos educadores, como sujeitos da ao educativa e de transformao social. Nessa trajetria, sempre estivemos desarmados de posies radicais e irreversveis e, por isso, nunca estivemos ss. A trajetria solitria sempre difcil e, na maioria das vezes, desalentadora, por trazer poucos resultados. Compartilhar com muitos uma perspectiva, um2 projeto,umdesejo,umaesperanaaforamaiorquesustentaonossotrabalhodirio, fortalecendo o nimo caminhada em busca de mudanas necessrias ao momento histrico vivido na educao do municpio, para a construo de algo novo, possvel, desejvel. O novo, todavia, no surge do nada. necessria a adaptao em alguns aspectos e, ao mesmo tempo, aintroduo demudanas, abrindo espao para o novo. Por outro lado, o discernimentofundamentalparapercebermosque,naquiloquejexiste,haspectos equivocadosprecisandoserrevistosedesmontados,comotambmelementosvlidosa serem resgatados. Cremos que o grande desafio a ser enfrentado consiste no fato de ter os ps no cho e ocoraonautopia,comoafirma,commuitapropriedade,CelsodosS.Vasconcelos (2001):...devemosterospsnocho,ocoraonautopia,osolhosnaestradaeno horizonte; a mente articulando, e as mos na histria, procurando transform-la.Atarefadifcil,masnoimpossvel.Amudanadesejadarepresentaumlongo caminhoaserpercorrido,seoprimeiropassonofordado.Noentanto,jestamosa caminho disso, abrindo novas perspectivas, mesmo que os passos possam ser considerados exguos. O importante que eles sejam conscientes, concretos, coletivos, para uma mesma direo,representandooresgatedoprazerpornossentirmoscapazesdefazeralgo.As aes continuadas vo construindo, no tempo, a mudana maior. Assim, o trabalho que se apresenta fruto da necessidade e do desejo de exercitar nossos ideaisdemocrticos,debuscaraliadosdispostosacompartilharsonhos,deafirmarum compromisso no somente com a educao das crianas, dos adolescentes, dos jovens e dos adultos que participam conosco do cotidiano de trabalho, mas tambm com o nosso prprio desenvolvimento de educadores. Ele parte de um processo de vivncias dialgicas entre os profissionais da educao da rede municipal de ensino de Duque de Caxias que, atravs da ao e da interao, corresponda necessidade e ao aprendizado do exerccio concreto da cidadania. Optou-se por reproduzir a Proposta Pedaggica da Secretaria Municipal de Educao em quatro volumes. Neste primeiro, esto registrados os Princpios Terico-Filosficos que nortearoaEscolaemMovimentoeque,certamente,traroaescriativase comprometidas com a qualidade de vida de todos os envolvidos neste processo de educao.3 2Const r ui ndo Cami nhos... precisolevaremconsideraoa singularidadedoserhumanoe,aomesmo tempo,respeitaradiversidadeeas semelhanas. Bernard Charlot No se pode negar a expanso do sistema educacional brasileiro nas ltimas dcadas do sculo XX, pelo menos, em relao educao bsica. No entanto, a escola, para alm dequestessociais,polticas,culturaiseeconmicas,aindasealiceraemestruturas tradicionais que interferem no processo pedaggico, embora reconheamos que j tenham ocorrido algumas experincias de inovao, vencendo obstculos e realizando rupturas. Assim,osaltosndicesdeevasoederepetnciapersistemnasdiferentesregies geogrficasdopase,portanto,noseriadiferentecomonossomunicpio.Taisndices demonstram uma realidade desfavorvel no campo educacional e, por isso, so motivos de reflexo e discusso por parte de todos aqueles que esto compromissados com a melhoria do ensino e a democratizao da escola pblica. No entanto, a democratizao do ensino no consiste apenas nainstalao de novas escolas com a misso de colocar a infncia nos bancos escolares. preciso universalizar o acesso escola, concomitantemente, garantir a permanncia nela e propiciar uma qualidade para todos, a qual no pode ser privilgio de minorias econmicas e sociais. O desafio grande, principalmente quando entendemos que assegurar a permanncia e o sucesso escolar daqueles que j se encontram freqentando o ensino fundamental, tambm se relaciona com a melhoria das condies gerais de vida da populao brasileira. E, nesse caso, pressupe-se ateno nas reas de habitao, de sade, de gerao de empregos, e de segurana. Asestatsticascomprovam que, quantomaisbaixo onvelde rendadasfamlias, maior o nmero de crianas que trabalham. Desta forma, segundo pesquisa da Fundao de Cincias Aplicadas (FCA), na faixa da populao com renda familiar per capita de at meio salrio mnimo, 27% dos brasileiros com idade entre 10 e 14 anos so trabalhadores, enquanto que, para as famlias com renda superior a dois salrios mnimos, o ndice de 6,3%.Nestecontexto,aerradicaodotrabalhoinfantilfundamentalparamelhoraro 4 acesso e o desempenhoescolare, como conseqncia,a diminuiodas taxas deevaso precoce. Por outro lado, o desafio de garantir a permanncia e o sucesso acadmico envolve a ofertadeumensinodequalidade.Aescolatemdeestabelecerametaqualitativado desempenhosatisfatrioparatodos,responsabilizando-sepelapermannciadaquelesque nela ingressarem. A qualidade implicaconscinciacrticaecapacidadedeao,sabere mudar (Demo 1994, p.19). Alm disso, entende-se que a qualidade do ensino ministrado na escola e seu sucesso natarefadeformarcidados,afimdeparticiparemdavidasocioeconmica,polticae culturaldopas,estorelacionadosformaoescondiesdetrabalho,elementos essenciais profissionalizao do magistrio. Somuitososobstculosedesafiosaseremultrapassadosevencidos,quandoo assunto educao, particularmente num pas de contrastes como o nosso, onde convivem grandesdesigualdadeseconmicas,sociaiseculturais.Porm,apesardoceticismo provocado pela resistncia das duras realidades no final do sculo passado, acreditamos ser possvelmudartaisrealidades.Nossacrenanaeducaoescolardemocrticagrande, sobretudo, no educador como sujeito de transformao social. Assim, confiando no aprimoramento da escola pblica e nos educadores, sujeitos de transformaosocial,incluindo-nosneste contexto, assumimos a SecretariaMunicipalde Educao h seis anos pela primeira vez. E foi considerando os problemas da escola pblica comodesafiadoresenodesanimadoresqueunimosesforosebuscamosalternativas estratgicas para enfrent-los. Hmuitoaindaparaserfeito.Estamoslongedechegaraondegostaramos,mas algunsindicadoreseducacionaisnodeixamdvidasquantoaosavanosobtidos.Nesta caminhada,nadadenovopoderiaterocorridosemaparticipaoeacolaboraodos profissionais da rede deensinoque, em seu trabalhocotidiano, contribuem para oferecer garantia visvel e sempre aperfeiovel da qualidade esperada no processo educativo. Em um breve histrico, possvellembrar que um dos primeiros desafios com que nos deparamos foi a necessidade de aumentar o nmero de unidades da rede municipal para a expanso da oferta de vagas no ensino fundamental. Assim, edificaram-se novas escolas, ampliaram-se as unidades de ensino j existentes, com a construo de novas salas de aula e promoveu-se a municipalizao de quatro Centros Integrados de Educao Pblica CIEPs e uma escola estadual. Tambm investimos na reforma dos prdios escolares, na aquisio demobiliriomaisadequado,dotandoasunidadesdemelhoresinstalaese, 5 conseqentemente, mais conforto e, finalmente, no enriquecimento do acervo de recursos tecnolgicos de apoio escola. Em vista da expanso da oferta de vagas, houve necessidade de contratao de novos profissionais da educao, atravs de concurso pblico. Chegamosaoanode2001,com70.000alunosmatriculadosnas109unidades escolares que compem a redemunicipal de ensino, distribudos pelos quatro distritos de DuquedeCaxias.TaisdadosrefletemosesforosfeitospelaSecretariaMunicipalde Educaoparaaumentaroquantitativodevagasnasunidadesescolaresdomunicpio, possibilitando assegurar o direito de todos educao, principalmente quando se verifica que,em1996,aredemunicipalcontavacom88escolaseumtotalde50239alunos. Enquantoonmerodeprofissionaisdaredepassoude2888para3612,em2001.Nos prximosanos,osdados,comcerteza,revelaroavanosaindamaioresnaexpanso quantitativadeacessoglobal,nosentidodequetodasascrianas,emidadeapropriada, ingressem na escola. Hqueressaltar,inclusive,aampliaodoatendimentoajovenseaadultos, tentando-sesaldaradvidasocialquerepresentaoatrasoescolareasegregaodessa parceladapopulaoaqualfoinegadaaescolaridadenaidadeprpria.Cabe,aqui, igualmente, realar a criao de oportunidades de educao infantil, como tambm o esforo deinclusoescoladecrianasedejovenscomnecessidadeseducativasespeciais, associadoainiciativasdeatendimentoeducacionalespecializado,focodenossasaes, conforme j dissemos na oferta de uma educao de qualidade e de melhorias das condies paraaquelesqueoraestofreqentandoasunidadesdaredemunicipalounelas ingressando. Nesta perspectiva, fez-se, pois, necessrio buscar a transformao do currculo escolar onde a criana, o jovem e o adulto fossem considerados como verdadeiros protagonistas do seu aprendizado, da sua vida e da comunidade em que vive, tendo o conhecimento como baseparasuasaes.Assim,aSecretariaMunicipaldeEducao,desde1997,procura garantir espaos de debate a fim de propiciar a reflexo coletiva dos educadores acerca de referenciais curriculares. Entendemos que a reestruturao curricular seja uma tarefa para aqueles que, na escola, atuam. Ela da responsabilidade de toda a equipe de educadores, que lhe dar corpo atravs do intercmbio de conhecimento, de estudos e de discusses. Esses espaos de debate no se limitaram ao currculo escolar, mas estenderam-se discusso da escola como um todo e suas relaes para com a sociedade. E nesse contexto que coube a cada escola, compromissada com a educao e o ensino, a construo do seu projeto poltico-pedaggico. 6 Naquelaocasio,1997,todoscompreenderamquenosetratavameramentede elaborarumdocumento,comoprovadocumprimentodeexignciasdanovaLeide DiretrizeseBasesdaEducaoNacional,mas,fundamentalmente,deimplantarum processo de ao-reflexo, que exigia a unio de esforos, para que ele fosse construdo e assumido vivenciado pela comunidade, sobretudo a comunidade dos pais e dos profissionais da educao. Assim sendo, realando no s o momento, mas refletindo sobre as condies scio-econmico-culturaisdenossascrianas,nossosjovenseadultosesuasfamlias,a nossa prpria realidade de profissionais da educao, bem como considerando a realidade local e do pas, em seu tempo histrico construiu-se um documento cujo ttulo Diretrizes para a Construo Coletiva do Projeto Poltico-Pedaggico das Escolas Municipais, o qual foi o gerador, nas escolas, de ambiente de estudo e de preparo conjunto de trabalho para a construo de seus prprios projetos poltico-pedaggicos. Isto realmente necessrio, para que se instale um movimento de recuperao da qualidade em todas as escolas da rede. Nessesentido,investirnaformaocontinuadadoprofessorpropiciao desenvolvimento profissional dos educadores da redemunicipal, em articulao com suas escolasecomseusprojetosetambmpossibilitaaprogressofuncionalbaseadana qualidade e na competncia dos profissionais. Por isso, a cada ano, sentimos necessidade de disponibilizarmaisrecursos para aformao contnua dos educadores,centradanassuas prprias necessidades, bem como para a melhoria das condies de trabalho para todos. Aproveitamos este ponto para dizer que, a favor da valorizao de todos ns, garantindo aperfeioamentopermanente,contamoscominmerosencontrosedilogosentrediferentes profissionais de vasta experincia e reconhecimento, em mbito regional e nacional, e que esto comprometidos com a valorizao da escola pblica e, conseqentemente, com uma educao voltadaparaaemancipaohumana.Comcerteza,todoselespossibilitaramdiscussese reflexes a respeito de sonhos possveis, isto , transformar a realidade que se tem, edificando uma escola para crianas, jovens e adultos, onde suas diferenas, suas histrias de vida, suas formasdeinteraocomomundo,seusmecanismosdeconstruodeconhecimento,seus processos de desenvolvimento, suas relaes e expectativas sociais sejam consideradas e que nossasprticaspedaggicastenhammaisconsistnciacomacomplexidaderespaldadano compromisso de uma educao para todos. Considerandoojexposto,soinegveisosavanos,mastambmaexistnciade problemasqueapontamoquantohporavanar.Porm,osproblemasnoso consideradoscomoimpedimentosabsolutos,mascomolimitesreaisqueprecisamser ultrapassados.Reconhec-loscondioparamudar.Assim,nabuscadesolues, 7 procuramostomarprovidnciasadministrativasepriorizarasquestespedaggicas,de modoacombinarascontribuies,arespeitareexpandirlimites,abuscaralianase parcerias. Nesse trajeto, no h lugar para o desnimo nem desistncia. Caminhamos, numa perspectivadeumtrabalho,cadavezmaissintonizadoscomavidacontempornea,que aponte para uma nova filosofia de vida e de trabalho. No corrente ano, entendemos ser necessrio retomar os trabalhos para a concretizao dapropostapedaggica.Odesafiocentralfoiodedarcontinuidadeaotrabalho desenvolvidoanteriormente demodoaassegurar o seufechamento.Assim,inicialmente, procuramosrealizaraleituradosdiversostiposderegistroproduzidosatentopelos profissionais da rede, j que eles possibilitam o resgate, a qualquer instante, da histria de nossostrabalhos.Oregistro,almdetrazermenteocaminhopercorrido,comsuas contradies e conflitos, ofereceu indicaes de passos subseqentes, que se materializaram como planejamento do trabalho que deveria ser realizado a seguir.Reconhecemos,assim,anecessidade,atravsdediferentesaes,deretornara discusso em torno dos pressupostos filosficos com o intuito de conferir uma unidade ao trabalho que vinha sendo definido em diferentes momentos de interao, de explicitao, de confrontodevalores,devivncias,deconhecimentosaolongodosltimosanos.Desta forma, abrimos novos espaos de estudo e debate que nos ofereceram os subsdios para a definio e asistematizao coletivasdos pressupostos queintegram o texto da Proposta Pedaggica da Secretaria Municipal de Educao de Duque de Caxias. E por ltimo, cabe enfatizar que, aoinvsdese reunir uma equipe de especialistas comobjetivodeorganizarumapropostaeducacional,apostamosnumcaminhode construo coletiva com a participao dos profissionais que, concretamente, produzem o cotidiano escolar. A elaborao dos Pressupostos Filosficos da Rede Municipal de Ensino nofoi uma tarefasolitria. Ela envolveumuitas autorias,pois,naverdade,seusautores somos todos ns, profissionais da rede municipal de educao que, em diferentes ocasies, compartilhamos tempo, espao, emoes, aprendizados. Fica, portanto, o nosso compromisso de manter e ampliar os espaos de interao, de integrao, dedebate, deconstruoconjuntada proposta queno estfinalizadae que, portanto, dever serampliada eenriquecida. Oexerccio continuado do trabalhocoletivo fortalecer o compromisso e a competncia de todos ns, educadores. Aqui ficam abertas as possibilidades para um recomeo. 8 3As Li es de uma Esc ol a: Uma Pont e par a mui t o l onge... Ademar Ferreira dos Santos* No cobio nem disputo os teus olhos no estou sequer espera que me deixes ver atravs dos teus olhos nem sei tampouco se quero ver o que vem e de modo como vem os teus olhos Nada do que possas ver me levar a ver e a pensar contigo se eu no for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo No me digas como se caminha e por onde o caminho deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser Se o caminho dos teus passos estiver iluminado pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias mesmo que tu me percas e eu te perca algures na caminhada certamente nos reencontraremos No me expliques como deverei ser quando um dia as circunstncias quiserem que eu me encontre no espao e no tempo de condies que tu entendes e dominas Semeia-te como s e oferece-te simplesmente colheita de todas as horas No me prendas as mos no faas delas instrumento dcil de inspiraes que ainda no vivi Deixa-me arriscar o barro talvez imprprio na oficina onde ganham forma e paixo todos os sonhos que antecipam o futuro E no me obrigues a ler os livros que eu ainda no adivinhei nem queiras que eu saiba o que ainda no sou capaz de interrogar Protege-me das incurses obrigatrias que sufocam o prazer da descoberta e com silncio(intimamente sbio) das tuas palavras e dos teus gestosajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha prpria vida*. *In ALVES, R. A Escola que sempre sonhei semimaginar que pudesse existir. So Paulo: Papirus, 2001 9 4ESCOLA EM MOVI MENTO: PRESSUPOSTOS FI LOSFI COS Estar no mundo sem fazer Histria, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem tratar sua prpriapresenanomundo,semsonhar,sem cantar,semmusicar,sempintar,semcuidar da terra (...), sem aprender, sem ensinar, sem idiasdeformao,sempolitizarno possvel.nainclusodoser,quesesabe comotal,quesefundaaEducaocomo processo permanente Paulo Freire A Escola semelhante a um organismo vivo: dinmica e emmovimento. partee espelho da comunidade na qual est mergulhada, revelando o movimento social mais amplo, suas conquistas e contradies. Constitui os que a ela pertencem e por eles constituda. Assimsendo,aescolaexpeomovimentohumanoesocialqueaintegra.plurale complexa, constituda na Histria e construtora de uma histria particular. Podemos dizer que as prticas vigentes na escola refletem as vises de mundo e as concepesdesujeito(criana,jovem,adulto),deaprendizagemedeconhecimentodos atoresqueacompem.Portanto,apontarospilaresterico-filosficosquesustentama escolaimplicaem discernirasconcepes de sujeito, de aprendizagem, de conhecimento que compem o imaginrio daqueles que a constituem. importanteconsiderarqueoterrenodaprticaemsuadimensocontraditriae sempreemmovimentonoumretratoobjetivodestasconcepes.Istoapontaparaa necessidade de discutirmos permanentemente estes parmetros no interior das escolas, no acontecimento pedaggico, na dimenso dos fazeres cotidianos. Asidiasqueestoexpostasnotextoquesesegueforamproduzidaspelos profissionais que compem as diversas equipes da Secretaria Municipal de Educao, pelos que atuam nas diferentes Unidades Escolares e, tambm, tendo em vista os projetos poltico-pedaggicoselaboradospelasescolasdaredepblicamunicipal,aexperinciados profissionais da Educao deste municpio, leituras e estudos diversos. Alm disto, buscou-se a relao entre as idias produzidas pelos membros desta rede e os autores/tericos que as alimentam, ampliam e confirmam. 10 Vivemos num mundo plural e complexo. Nossa viso de educando, de professor, de escolaedeconhecimentoprecisaabrangerano-linearidadeeastensespresentesna realidade atual. Assim, alarga-se a funo social e humana da escola, discute-se as relaes entreoqueuniversal/globaleassolueslocais,compreende-seadiversidadecomo riqueza, considerando os saberes presentes na escola para alm de sua dimenso cientfica, objetivvel.ticaeesttica,humanidadeecompromissosocialalinhavamoprojetode educao que vemos consolidar-se neste Municpio. Nestaperspectiva,privilegia-seaconceposcio-interacionistaeseusprincpios como pilares desta proposta pedaggica sem, no entanto, absolutiz-la e/ou desconsiderar a validadedeoutrasconcepes(outrosreferenciaisseroapropriadospelasaes administrativo-pedaggicassemprequenecessrio).Entende-se,pois,osujeitoemsua dimenso social, produzido na Histria e construtor de histria, marcado pela organizao cultural que pertence e construtor de cultura. A aprendizagem, o confronto com a alteridade e, conseqentemente, o desenvolvimento das competncias de cada um, acontecem no seio dasinteraessociais.Estacompreensodosujeitohumanotrazparaprimeiroplanoa dimenso do intercmbio de experincias no interior das escolas, a valorizao dos saberes de todos os envolvidos no processo educacional, a articulao da cultura legitimada com a produo do novo. 4.1O Sujeito da Cultura e do Conhecimento: a Criana, o Adolescente, o J ovem e o Adulto. importante dizer que, no lugar do aluno, preferiu-se a referncia criana, ao jovem ou ao adulto sujeitos de processos de aprendizagem e constituio social. Quando se fala do aluno, o lugar institucionalizado, lugar previsto e burocratizado acionam-se os registros simblico-representacionais de cada um. A etimologia da palavra aluno (aquele que no tem luz, que no tem conhecimentos1) j indica a viso cristalizada que a escola constitui. De um modo geral, a instituio escolar julga que lhe cabe iluminar, atravs do conhecimento formal,avidadacrianaoudojovemsobsuatutela.Nestaperspectiva,oprofessor encarna o papel de transmissor, ou seja, aquele que dever suprir o aluno do conhecimento que lhe falta. DeacordocomAris(1978),aprpriahistriadaconstituiodaescolanas sociedademodernas,explicitaacolocaodoaluno,oaprendiz,comoquemdeveser 11 iluminado, disciplinado, adestrado, retirado de uma condio de falta, menoridade, rumo ao ideal racional, adulto. Para ele: Aescolasubstituiuaaprendizagemcomomeiodeeducao.Isto querdizerqueacrianadeixoudesermisturadaaosadultosede aprender a vida diretamente, atravs do contato com eles (...) A criana foiseparadadosadultosemantidadistncia,numaespciede quarentena, antes de ser solta no mundo. Esta quarentena foi a escola, o colgio. Essa separao essa chamada razo das crianas deve ser interpretada como uma das faces do grande movimento de moralizao dos homens... (Aris, 1978, p.11) Hoje, a viso sobre a criana, o jovem e o adulto refere-se ao sujeito, ser humano, ser afetivo,quetemsentimentos,emoes,umacultura,umarealidadesocial,com potencialidades e experinciasmltiplas e particulares, a serem consideradas na dinmica das interaes, do interior das escolas. Ou seja, procura-se recuperar a riqueza das relaes sociais entre as diferentes geraes que compem a realidade escolar, entendendo que na troca de experincias, na expresso dos saberes de cada um que se do as aprendizagens e os processos de mudana. A escola inclui sujeitos com variados pertencimentos, constituindo-se subjetivamente noentrelaamentodestasmltiplasrelaes.Osujeitotrazumahistriaqueprecisater espao para ser contada, uma experincia a ser contemplada no contexto educacional. Trata-se de considerar processos de formao contnua que envolvem o ser humano em processos de aprendizagem. Professores e educandos, ambos sujeitos sociais, aprendizes, produtores de cultura, encontram-se como representantes de variadas geraes que demandam espao de confronto, conflito, negociao, alegria e dilogo na escola. Assim: (...)descobrimososeducandos,ascrianas,adolescentesejovens como gente e no apenas como alunos. Mais do que contas bancrias, onde depositamosnossoscontedos.Vendoosalunoscomogente,fomos redescobrindo-nos como gente, humanos, ensinantes de algo mais do que a nossa matria (...) (Arroyo, 2000, p.53). Hoje, entende-se a criana como sujeito de direitos. Os dispositivos legais e sociais da atualidade dispem sobre a criana na perspectiva de compreend-la como protagonista do processoeducacional.Assim,suapalavra,atuaoesuasexperinciasculturaisganham relevo na construo do cotidiano escolar. Do mesmo modo, entendemos que o adolescente eoadulto,oseducandoseosprofessores,constituem-secomosujeitosdedireitos: 1 Ver Buarque de Holanda, 1988. 12 palavra, expresso, formao, em sua dimenso ampla, que inclui o desenvolvimento de possibilidades ticas e estticas.Falaremsujeitoshumanosimplicaemfalardediferenas.ARedeMunicipalde Ensino de Duque de Caxias atua em uma realidade marcada por diferentes matrizes sociais nasquaisconvivemoseducandos:afavela,asclassespopulares,asclassesmais favorecidas. A diversidade no sinnimo de exceo; muito pelo contrrio, o principal marcodocontextoescolaretraduzariquezanaspossibilidadesdeinterao,e experimentao que favorece. Abordar a perspectiva da diversidade implica na incluso, ou seja, considerar a importncia de abrir espao na escola para as realidades particulares das diferentescrianas,adolescentes,jovenseadultosquecompemnossomunicpio. oportuno destacar que : (...)enquantolutamosparaconquistarcondiesconcretaspara uma escola de qualidade para todos, o desafio mais srio que precisamos enfrentarnaescola,naverdade,umdosmaispesadosedifceis problemasdanossaprpriacondiohumana:oapagamentodas diferenas,onoreconhecimentodequeaquiloquecaracterizanossa singularidade- de ns, seres humanos justamente nossa pluralidade (...) (Kramer, 1995, p.67) Compreende-sequeapluralidadedenossapopulaoprecisaserconsiderada,no sentido da incluso. Da, surge a pergunta: trata-se de considerar a incluso, mas incluir o educando no qu? No s na escola, no sentido de garantir o acesso, mas contribuir com as condies para a permanncia na escola. A incluso explicita-se na metodologia, ou seja, emcomoocotidianoabarcaossaberesdoseducandos,suasrealidadeseexperincias, acolhendo-asediscutindo-as.Ainclusoconcretiza-senodia-a-dia daescola,quandose levam em conta questes especficas das vidas em jogo naquela comunidade para planejar e realizar o trabalho: crianas que trabalham, crianas que cuidam de outras menores, jovens queestudametrabalham,envolvimentodosadolescentescomdrogas,osbailesea violncia,invasodospadresculturaisdamdia,culturadoconsumo,dentreoutras questes scio-culturais que nos afetam. Procura-se, neste contexto, compreender que: asegregaosedpordiversasrazes:raa,cor,classesocial, sexo,deficincia,etc.precisoidentificarecorrigirtaisatitudesque provocamadesvalorizaooudiscriminaodealunos,porqualquerque sejamestesmotivos(...)criarcondiesfsicasadequadas importantssimo,criarumambientefavorvel,condiesdignasde 13 trabalho, e profissionais qualificados tecnicamente (...), mas especial uma tomada de posio do educador, como sendo ele prprio um instrumento de transformao (Cestari, 1999, p.58) Emsntese,pode-sedizerqueacrianaeojovemdesenvolvem-senoambiente familiarenos grupos de amizade para, em seguida (e aomesmo tempo),ingressaremna escola, espao do conhecimento formal, sistematizado. Ento, partindo-se do pressuposto de que participam de outros espaos de socializao e contato com o mundo, importante levar em conta os seus saberes, desejos, movimentos, quando se planeja a integrao com o saber formal, na escola.Num outro prisma, focalizar os sujeitos que constituem a escola (a criana, o jovem, o adulto)enquantosujeitosdaculturaedoconhecimentoapontarparaomovimentode reflexoequestionamento,nosentidodabusca,doconhecerparaalmdarealidade imediata e prxima. O sujeito humano ativo, crtico e criativo, esboando seu saber sobre a realidade, produzindo hipteses sobre o que no conhece, mostrando-se inquieto diante do novo. na articulao dos saberes do professor e do educando, do universo legitimado e da experincia cotidiana que se propaga e se transforma a cultura. na ao destes atores, envolvidos na produo de conhecimento, que este ganha vida no contexto educacional, pois: aao,reflexocrtica,curiosidade,questionamentoexigente,a inquietao, a incerteza todas estas virtudes so indispensveis ao sujeito cognoscente(...)oenvolvimentoapaixonadocomaaprendizagem,a motivao de saber que voc est descobrindo novos territrios. O professor precisa ser um aprendiz ativo e ctico, que convida os estudantes a serem curiosos e crticos (...) ( Freire e Shor, 1986, p.18) Porumlado,aguaraescuta;poroutrolado,favorecerodilogosoatitudesque implicam no desenvolvimento do ser-educando e ser-professor humanos, vivos, interativos. Pode-seafirmarqueoserhumanoumtodoindivisvelaspectossociais, psicolgicos,culturais,emocionais,atitudinaissotoimportantesquantoos conhecimentos tradicionais, com que a escola sempre se ocupou em trabalhar. Todos estes aspectosemdesenvolvimentodevemserconsideradosdeformaintegrada.Osujeitoda aprendizagemcrticoeativo,emdesenvolvimento,emmovimentopsicolgico,motor, afetivo, cognitivo, social e cultural. 14 Sehojepodemosconstituiresteentendimentodainfnciae,conseqentemente,do sujeitohumanoemformao,istofrutodaHistria,quenopresentevapotnciado humano.Antes, colocava-sea criananolugardafalta, doviraser, daincompletude, comoetapadeumafase.Conseqentemente,oprofessorocupavaopapelde instrumentalizador,especialista,recursodeumaaoeducativaeficiente.Atualmente, entendemosacriana,oadolescente,oeducandocomosujeitosdedireitos-direito palavra,ao,assistncia,educao,aumavidasocialdigna.Poroutrolado,o professor agente de reflexo e transformaes em si mesmo e no outro. no espao do relacionamento, do encontro e da escuta que se daro os aprendizados, as construes culturais. Portanto: O ofcio de mestre, de pedagogo vai encontrando seu lugar social na constataodequesomenteaprendemosaserhumanosemumatrama complexaderelacionamentocomoutrossereshumanos.Esseaprendizado s acontece em uma matriz social, cultural, no convvio com determinaes simblicas, rituais, celebraes, gestos. No aprendizado da cultura. Da que aescolaumprocessoprogramadodeensino-aprendizagem,masno porqueoprofessorchegarnasaladeaulaparapassaramatria,mas porqueumtempo-espaoprogramadodoencontrodegeraes.Deum lado, adultos que vm se fazendo humanos, aprendendo essa difcil arte, de outrolado,asjovensgeraesquequeremaprenderaser,imitaros semelhantes. Receber seus aprendizados. Os aprendizados e as ferramentas da cultura. (Arroyo, 2000, p.54) Numaoutraperspectiva,nosepodemnegarosparadoxosdaorganizao contempornea,que,nacontramodoolharparaacrianacomosujeito,submete-aa padresdasociedadedoconsumo,coisificando-amuitasvezesouaprisionando-aa contextos de explorao (criana como mo-de-obra barata, explorao dos filhos por parte dasmes,etc).Porumlado,acrianaparticipadomundodotrabalho,muitasvezes auxiliandoemcasaeestaumacondiodainfnciacontempornea.Poroutrolado, precisoquenosperguntemossobreofenmenodaadultizaodascrianasesobrea importncia de que se mantenham os espaos para o brincar, o criar, a liberdade e o direito a no fazer nada. Ratifica-seaquioentendimentodacriana,doadolescente,dojovemedoadulto como produtores de cultura. Ao mesmo tempo que confirmam as marcas do todo social do qual fazem parte, elaboram espaos de criao e inventividade. Para alm do olhar sobre o humano na dimenso da reproduo cultural, preciso ativar na escola a considerao sobre 15 as relaesdeproduo donovo asingularidade, a palavra, osinteressesedesejos de todososenvolvidosnosprocessosdeformao.Nocontextoeducativofundamentalo movimento de contato com o saber legitimado; mas, considerando a experincia, o desejo, a potncia e a singularidade do sujeito-aprendiz tambm fundamental o movimento de re-criaocultural,nosentidodatransformao,dareelaboraoporpartedecadaumdos significados que lhe so transmitidos pelo grupo cultural. Nesta perspectiva: nalinguagemepormeiodelaqueconstrumosaleiturada vidaedanossaprpriahistria.Comalinguagem,somoscapazesde imprimirsentidosque,porseremprovisrios,refletemtransitoriedadeda prpriavida(...)Aomesmotempo,alinguagemregistraaquiloque permanece no mundo como fato humano, relacionando-se do mesmo modo e comamesmaintensidade,quersejacomoefmero,quersejacomo permanente (...) (Jobim e Sousa, 1994, p.21) Sendo assim, na linguagem viva, no dilogo, no intercmbio entre fantasia e realidade, experincia esttica e experincia cientfica que a cultura se propaga e, ao mesmo tempo, reelaborada a cada dia. 4.2O Conhecimento e a Aprendizagem O conhecimento construo humana, fruto de interaes sociais. No est nos objetos a serem submetidos aos sujeitos, por meio de treinamento e repetio. No est no sujeito, pronto a amadurecer diante de condies favorveis. Mas, constitui-se na interao do sujeito com o meio social. Neste sentido, supera-se a viso inatista ( que coloca a fora no fator interno) e a viso ambientalista (que coloca a fora no fator externo), sendo compreendido como elaborao do sujeito na relao com os objetos, os outros sujeitos, palavras e organizaes culturais que o circundam. Assim, no movimento de conhecer, o sujeito se modifica na relao com o meio cultural, que por ele tambm modificado, o que configura a perspectiva socio-interacionista. O significado da ao subjetiva e seus desdobramentos ganham contorno na realidade social na qual o sujeito encontra-se mergulhado. Navisosocio-interacionista,oconhecimentofrutodasinteraessociaisquese estabelecem pela mediao dos signos culturais constitudos na coletividade. O sujeito social, criadorerecriadordecultura,sendotransformadopelosvaloresculturaisdoambiente,ao mesmo tempo que o transforma. No contato com os outros membros do grupo social, mergulha nos significados dominantes, apropriando-se deles re-significando-os. Neste sentido: 16 (...)desdeosprimeirosdiasdodesenvolvimentodacriana,suas atividades adquirem um significado prprio num sistema de comportamento sociale,sendodirigidasaobjetivosdefinidos,sorefratadasatravsdo prisma do ambiente da criana. O caminho do objeto at a criana e desta atoobjetopassaatravsdeoutrapessoa.Estaestruturahumana complexafrutodeumprocessodedesenvolvimentoprofundamente enraizadonasligaesentrehistriaindividualehistriasocial (Vygotsky, 1989, p. 33) Destaforma,aprenderentrarnojogodasinteraessociais,internalizara organizao cultural, ao mesmo tempo que expor pontos de vista e formular questes, num movimento de re-elaborao da histria e dos saberes acumulados e sistematizados, numa dinmica que envolve a constituio da histria individual na relao com a histria social. oaprendizadohumanopressupeumanaturezasocialespecficae umprocessoatravsdoqualascrianaspenetramnavidaintelectual daqueles que as cercam (...) um aspecto crucial do aprendizado que ele cria a zona de desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta processos internos de desenvolvimento, que so capazes de operar somente quandoacrianainteragecompessoasemseuambienteequandoem cooperao com seus companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-separtedasaquisiesdodesenvolvimentoindependenteda criana.Dessepontodevista,(...)oaprendizadoadequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e pe em movimento vrios processosdedesenvolvimentoque,deoutraforma,seriamimpossveisde acontecer (Vygotsky, 1989, p.99, 100) importante sublinhara qualidadesocial da aprendizagem; ou seja,na perspectiva scio-interacionista,aprenderentrarnocursodeinteraescomparceiros,recursos diversos, desafiadores, queimpulsionam o desenvolvimento. Assim, pode-se dizer que as formaspsicolgicasmaissofisticadasemergemdavidasocial.Odesenvolvimentodo psiquismosempremediadopelooutro(outraspessoasdogrupocultural),queindica, delimita e atribui significado realidade. De acordo com Vygotsky (1987), no entrelaamento dos conhecimentos cotidianos (constitudos na relao espontnea com o mundo, no mediada pelo conceito escolar) com os conhecimentos cientficos (escolares e formalizados), que o sujeito humano desenvolve sua capacidade de abstrair, simbolizar, colocar-se sob um ponto de vista alheio, memorizar, tornar uma atividade espontnea em atividade consciente. O contexto de ao da criana, suas experincias prvias e hipteses so complexificados e re-organizados no contato com 17 osconceitoscientficos,sistematizados;aomesmotempo,osconhecimentoscientficos aproximam-se da experincia, quando significados, contextualizados. Segundo Vygotsky: aaprendizagemcomoumprocessoessencialmentesocialque ocorrenainteraocomadultosecompanheirosmaisexperientes,ondeo papeldalinguagemdestacadopercebe-sequenaapropriaode habilidadeseconhecimentossocialmentedisponveisqueasfunes psicolgicas humanas so construdas (Freitas, 1994, p.104) O conhecimento implica constituio de significados e ampliao de vises de mundo. dinmico,processual,sempreemmovimento.Implicaconstrues/reconstrues sucessivas da realidade por parte do sujeito. Em cada contexto social, poltico e histrico, transformam-seasdimensesdoconhecimento,medidaquesore-construdas. Conhecimentomovimento;portanto,histrico;modifica-secomaintervenodos sujeitosqueoproduzem.Nestesentido,aponta-separaavisosocialdaproduodo conhecimento. Assim,conhecerapropriar-sedaculturaeproduzircultura.Relaciona-secomo saber formal e cientfico, mas vincula-se estreitamente ao prazer, imaginao, s emoes, significatividadedasexperincias.Ojogo,abrincadeira,afantasiaampliama compreensodorealpelaviadoimaginrio,almdecolocarememcenaoarbitrrio,a regra, conduzindo s relaes da criana com o contexto scio-cultural que ela participa.Nestesentido,conhecimentoeafetividadeinterligam-seestreitamente.Naviso scio-interacionista, as necessidades, interesses de quem aprende e suaimplicao com o objeto de conhecimento so componentes essenciais nos processo de ensino-aprendizagem.Considera-se: aexistnciadeumsistemadinmicodesignificadosemqueo afetivo e o intelectual se unem . Isto mostra que cada idia contm uma atitude afetiva transmutada com relao ao fragmento de realidade ao qual se refere (Vygotsky, 1987, p.7). DeacordocomaperspectivadeWallon(1988),adimensoafetivacentralna construo da subjetividade e na constituio do conhecimento. Para este autor, a cognio e a afetividade relacionam-se reciprocamente ao longo do desenvolvimento humano. Ele constri o que se denomina uma teoria da emoo, discriminando como o substrato biolgico, ou seja, a raizorgnicadorecm-nascidoganhahumanidadenasinteraessociais,nastrocasonde emooconverte-seemcomunicaoe,paulatinamente,organizaoracional.Nesta perspectiva, toda alterao emocional produz mudana no tnus muscular, isto , afeta o corpo e 18 sua estruturao orgnica. A emoo esculpe o corpo, imprimindo-lhe forma e consistncia. Ao mesmo tempo, a expresso emocional marcada por seu poder epidmico, medida que contagia o outro, comunicando e afetando o entorno. Desta maneira, situa-se a complexidade da atividade emocional: social e biolgica; concretiza a passagem entre o estado orgnico do ser e as conquistas cognitivas, racionais, efetivadas atravs da mediao social. Ascontribuies deWallon (1988)so especialmente relevantesna estruturao da visosocio-interacionistadodesenvolvimentoeconhecimentohumanos,medidaquea mediaoculturalentendidacomobasedodesenvolvimentodosergeneticamente social.Desdeonascimentodacriana,movimentosinicialmenteimpulsivostornam-se expressivos no contato com os parceiros sociais e outros membros da cultura. O ato mental, a inteligncia, nasce da estrutura corprea, do ato motor, referido nas interaes socais. A tendncia do curso do desenvolvimento humano conduz a que o mental iniba a expresso do motor, ocupando a supremacia do humano. Ao mesmo tempo que se forma a atuao autnoma da criana sobre a realidade, no contatocomoscdigosdacultura,elasetornacapazdetranscenderestasuarealidade, reformulando-a.Nesteprocessodenegociaocomooutro,vaiseconfigurandoa construo do eu. Conflitos, identificaes e diferenciaes vo marcando este caminho da emergncia do sujeito.Sobre a funo da Educao neste contexto da construo do eu, pode-se dizer que: (...) esta exige espao para todo o tipo de manifestao expressiva: plstica,verbal,dramtica,escrita,diretaouindireta,atravsde personagenssuscetveisdeprovocaridentificao.Umadietacurricular exclusivamenteconstitudadeatividadesdeconhecimentodarealidade estaria obstruindo grandemente o desenvolvimento (Dantas, 1992, p.95) Nocontatocomacultura,apersonalidadevaisetornandopolivalente,capazde ocupar diferentes funes, explicitando os mltiplos modelos e referncias disponveis. Ao mesmo tempo, a expressividade e a disposio afetiva marcam as possibilidades e limites do corpo e da emoo na relao com o conhecimento e o mundo objetivo. importante sublinhar que no mbito da viso socio-interacionista, o papel da linguagem central,medidaquenalinguagemquesefundamastrocassocais,asinteraesea organizao cultural dos grupos humanos. A linguagem tem duas funes: a comunicao e a organizao do real (generalizao). Na palavra e na fala que se concretizam estas funes, de modoespecial.Odiscursoexterioreodilogopossibilitamaexpressoeaconstante 19 organizao e reorganizao do pensamento. Sob o ponto de vista socio-interacionista, na troca social, na linguagem, que o pensamento toma forma e se transforma.Ratifica-se que: Opensamentonosimplesmenteexpressoporpalavras,por meiodelasqueelepassaaexistir(...)arelaoentrepensamentoe palavra um processo vivo; o pensamento nasce atravs da palavra. Uma palavradesprovidadepensamentoumacoisamorta,eumpensamento noexpressoporpalavraspermaneceumasombra(...)acaracterstica fundamentaldaspalavrasumareflexogeneralizadadarealidade(...) Umapalavraomicrocosmodaconscinciahumana(Vygotsky,1989, p.131) Vale destacar que o significado das palavras faz a ligao entre pensamento e palavra, caracterizando o pensamento verbal. O sentido que as palavras ganham na interao social possibilita a organizao do real e a comunicao entre os membros da cultura, favorecendo aexpressividadeeaconstituiodaidentidadedecadaum.Alinguagemconstituie constituda pelos sujeitos. medidaqueseentendeacrianadeummodointegrado,considerandoo entrelaamentodosfatoresticos,culturais,estticos,cognitivosnaconstituioinfantil, compreende-seoconhecimentoparaalmdasuadimensoracionalelgico-formal.A produo de conhecimento que tem lugar na escola diz respeito afetividade, dimenso criativa, artstica e linguagem em sua pluralidade. Oconhecimentoimplicabuscadecompreensodarealidade.Aconteceapartirda necessidade do sujeito em constituir significao do mundo. bagagem scio-cultural que a crianatraz,configuradaemsuasexperinciase,aomesmotempo,possibilidadede expanso,nummovimentodedilogoeinter-relaoentreoqueacrianaconheceeo saber formal.O conhecimento emjogo na realidade escolar ultrapassa a necessidade de formao tcnica,nosentidodaquantidadedesaberes,desuacorreoeaplicabilidadeimediata. Deve sugerir, acima de tudo, auto-reflexo, dilogo, contextualizao e significatividade.Assim: quandoseparamosoproduzirconhecimentonovodoconhecero conhecimento existente, as escolas se transformam facilmente em espaos para venda de conhecimento, o que corresponde ideologia capitalista (...) Aeducaodeveserintegradoraintegrandoosestudanteseos professoresnumacriaoere-criaodoconhecimentocomumente partilhado(...). (Freire & Shor, 1986, p.19)20 4.3A Escola: Naperspectivasocio-interacionistaaescola considerada espao deampliao das vises de mundo, objetivando a formao do sujeito crtico, construtor de conhecimento na interao com o outro. No se trata de impor a realidade ou de apresent-la ao sujeito da aprendizagem, mas de discuti-la, reconstruindo-a e reinventando-a no contexto educativo.Assim, a escola lugar da diversidade, comparao de diferentes pontos de vista, ao mesmotempoquesecomprometecomatica,ocontextosocialqueaenvolve.Nela, vivemos a construo e o exerccio da cidadania, enquanto comprometimento com a prpria histria e singularidade e com o universo social a que pertencemos. O individual e particular encontram-seeredimensionam-senarelaocomacoletividade,suasnecessidadese demandas. Portanto, h na escola o compromisso com a formao de cada sujeito, articulada com a formao da sociedade, de forma mais ampla. Nesteespao,nainteraocomooutro,constituem-seidentidade,afetividade, auto-estima,auto-confianaeautonomia.Oconhecimentodesiaconteceaomesmo tempo que a ampliao do conhecimento do mundo. As capacidades que cada um traz emsisopotencializadase,paralelamente,soampliadasedesafiadasnocontexto educacional. Desse modo: (...)aexperinciacomaproduoculturalcontribuidemaneira bsicanaformaodecrianas,jovenseadultos,poisresgatahistriase relatos,provocaadiscussodevalores,crenaseareflexocrticada cultura que produzimos e que nos produz, suscita o repensar do sentido da vida,dasociedadecontemporneae,nela,opapeldecadaumdens (Kramer, 1998, p.15) Aescolalugardeproduoderelacionamentos,compromissosocialecultural, envolvimentocomooutro.Engajar-secomasquestesdenossotempo,cuidar coletivamentedasproblemticasqueafetamaNaturezaouoambientequepartilhamos, comprometer-se com a valorizao da cultura da comunidade e sua ampliao so papis importantes da escola hoje. Emconsonnciacomestaviso,aRedeMunicipaldeEnsinodeDuquedeCaxias produziu coletivamente seus objetivos gerais formadores, comprometidos com a formao dosujeitoscio-histrico-cultural,reflexivo,atuante,cientedesuascapacidadese comprometidocomosinteressescoletivos,numaperspectivatica.Estesobjetivos relacionam-seestreitamentecomosprincpiossocio-interacionistasdecompreensodo 21 homemesuarelaocomomundo,expondoocompromissocomaexpressividade,a transformao social, a cidadania.Partindodopressupostodequebuscamosformarsujeitoscomprometidoscoma coletividade que pertencem, importante: Conhecer o prprio corpo, suas reaes e transformaes, desenvolvendo atitudes de respeito para a preservao da vida humana. Utilizar as diferentes linguagens do ser humano para expresso do pensamento e das emoes e para organizao e anlise das informaes recebidas. Compreender a natureza dialtica do ecossistema, entendendo a inter-relao dos fatores polticos, econmicos, sociais e culturais com a natureza. Conhecer, respeitar e valorizar a riqueza e a diversidade cultural. Participar como ser atuante do processo de construo do conhecimento, visando a autonomia no pensar e agir. Compreender os vrios aspectos da vida, do trabalho e ser capaz de assumir seu prprioprocessodeaperfeioamentocontnuoparaodesenvolvimentodesua funo e da melhoria constante de suas condies de trabalho na sociedade. Atuar como cidado crtico, participando do grupo social no qual est inserido, atravs da reivindicao dos seus direitos, do cumprimento dos seus deveres e da intervenodeformaconscienteecriativanavidaemsociedadeparaa transformao da realidade. Estesobjetivosdevemestarpresentesnaatuaodasescolas,nosentidode concretiz-las como fontes de informao e como espaos de troca, ao e reflexo. Alm disto, importante que a escola se confirme como lugar de prazer e alegria. No o nico lugar social de construo do saber e, por isto, deve relacionar-se estreitamente com outras instncias no sentido de concretizar seu papel cultural, socializador, dialgico e formador.Almdaproximidadecomasfamlias,importanteocontatocomoutras entidadesscio-culturaisdacomunidade:centrosculturais,bibliotecas,teatros,cinemas, igrejas, etc.O movimento da incluso e integrao vivido medida que a escola constituda pela comunidade. Seus membros, funcionrios, educandos, famlias so os atores da escola, enquanto que os outrosmembros dacomunidade (estabelecimentos culturais, comerciais, vizinhos, outros servios) vo se constituindo como aliados, parceiros da funo educativa da escola, entendida de forma social mais ampla. 22 Detodaforma,oambientefavorecedordoentrosamentonosespaossociais internos eexternos escola.Assim,quando considerada como ativaculturalmente,em estreita relao com o exterior, a escola se torna inclusiva. importante conhecer sobre a vida do educando, suas condies e especificidades e, sobretudo, sobre as questes familiares tendo em vista que: Aescola(...)devetratarcomtodasascrianasecomtodosos pais,emsuadiversidade,inclusivesobongulodesuascapacidadesde comunicao(...)odilogocomospaisumaquestodeidentidade,de concepo de dilogo, de relao com a profisso, de diviso de tarefas com afamlia(...)informareenvolverospais,portanto,umapalavrade ordem(...)Trata-sededirigirreuniesdeinformaesedebates,fazer entrevistas,envolverospaisnaconstruodossaberes...(Perrenoud, 2000, p.114) Participao e pertencimento so movimentos que asseguram a relao da escola com a famlia e a comunidade. A relao famlia/escola e a funo da escola na sociedade so aspectos fundamentais na estruturao do projeto pedaggico, na elaborao curricular e no funcionamento cotidiano da escola. Vale ressaltar a importncia do Conselho Escolar neste processo. Alm disto, destaca-se a criao de novos espaos de participao e incluso, no sentidodointercmbioentrecomunidade/escola:realizaodepalestras,encontrossobre temasrelevantes,oficinas,visitasscasas,reuniesondesepossamdiscutiras possibilidades e limites na interao escola/famlia/comunidade. Estes espaos surgem com a demanda de discusso de aspectos da educao comuns escola e famlia, no sentido de entendermos a complementariedade destes dois universos de socializao.A busca de parceria tambm com outras instituies (na rea social e da sade, por exemplo) favorece o esclarecimento do papel da instituio educacional no universo social. Trata-sedeummovimentodehumanizaodaescola,abertaaodilogoe oportunizando participaes. A possibilidade de escutar as experincias, os questionamentos e os pontos de vista do outro, conduzem a escola ao movimento de acolhida, fundamental ao exercciodesuafunosocial.Poroutrolado,permitequeaescoladefinaquaissuas funes e seus limites no atendimento s famlias. Paraalmdadinmicadentrodosseusmuros,hocompromissocomavidada comunidade,ouseja,refletirsobrearealidadeemtorno,envolvendo-secomela, concretizandoaparticipaocoletiva.Tantoasquestesquedizemrespeitosfamlias, quantoasproblemticasqueafetamobairroeacidadesoabraadaspelaescola,no sentidodepartilhardesafiosepromoverespaosdediscussocrtica,construode 23 alternativas,produodeconhecimentoecultura.precisodiscutiraimagemdeescola como depsito, a desresponsabilizao dos pais, possibilidades e limites da parceria com as famlias. A Escola em Movimento sugere vida, dinamismo e construo. Para que se efetivem estas aes, necessrio discutir com os pais dos educandos seu novo olhar, expondo suas prticas.Acomunidadeescolarprecisaverestaescolacomoagentemodificadorda realidadeenosomentecomoreceptoraetransmissoradeconhecimentoseaes acumulados. Trata-sedediscutirnacomunidadevisesdistorcidassobreaescola,taiscomo escola como depsito, local pblico de funo assistencialista e provedora do que falta famlia.Aescolatemumafunoscio-cultural,complementarfamliaeno substituta. Promove encontro, debates, produo de cultura e conhecimento. Estas faces da instituio precisam ser ressaltadas no contato com a comunidade. Vive-se numa sociedade excludente e competitiva, que valoriza um padro nico de crianaeserhumano,noselevandoemcontaasdiferenasculturais,econmicase sociais.precisoconsiderarestaestruturaexcludenteparanoreproduzi-la.Trata-sede buscar formas de incluso, no s no espao fsico (garantia de matrculas), como tambm no cotidiano (abarcando a cultura da criana) e na sociedade, no mundo dos direitos, numa dimenso mais larga da cidadania. Considera-serelevanteocompromissodaescolacomocontexto,asociedade,o movimento domundo. Elano podeserumarealidadeparte. Trata-sede trazer tona o cotidiano, os interesses de todos os envolvidos no processo educacional. Isto no significa trazer a realidade para nela permanecer, num movimento segregador e seletivo, nem se colocar no lugar de compensar as possveis carncias localizadas nas classes sociais desfavorecidas. A realidade importante no sentido de ser ampliada e estendida criticamente, em novas e outras direes, no contato com o conhecimento legitimado e com outras formas culturais.Seria importante, como afirma Kramer: partir daquilo que a criana conhece e domina, no dos contedos e habilidades que lhe faltam: partir do que ela , e no do que ela no . Emseguida,aescolalhedariaosinstrumentosbsicosnecessriospara queacrianaadquirisseaculturapadro,dominante,masdeforma crtica, ou seja, possibilitando a sua compreenso do mundo e da realidade em que vive, da sociedade e da sua prpria insero na classe social a que pertence.(Kramer, 1992, p. 45) 24 Oqueseafirmaacimasobreopapeldaescolanarelaocomacrianapodeser entendidotambmnarelaocomoadolescenteeoadulto,ouseja,escapar desvalorizao das classes populares, sem esconder a explorao que muitas vezes sofrem, implicaempotencializaroqueproduzemcomodiferena(enosdeficincia,como maiscomum),permitindo-lhescompreenderadominaoquesofrem,questionando-ae atuando nessa sociedade desigual que as tornam carentes.Considerando a diversidade e complexidade nas condies de vida das populaes de nossos bairros, buscamos assegurar igualdade de oportunidades, no sentido da garantia de expresso, direito palavra e formao cultural, destacando-se que: (...) a cultura o contedo substancial da educao , sua fontee sua justificao ltima: a educao no nada fora da cultura e sem ela. E,atravsdaeducaoqueaculturasetransmiteeseperpetua:a educaorealizaaculturacomomemriaviva,reativaoincessante,fio precrioepromessanecessriadacontinuidadehumana(...)educaoe culturasoduasfaces,recprocasecomplementares,deumamesma realidade (Forquin, 1993, p.13) A escola faz a mediao do contato do sujeito com o mundo. veculo de reproduo etransformaodoconhecimentofrenteaosdesequilbriosere-equilbriosdosquea compem.Nestesentidoquesedaintervenodoprofessor.Trata-sedeproduziro contato com o conhecimento sistematizado, ao mesmo tempo que se valoriza a criao e re-criao do conhecimento, as singularidades de todos como aprendizes. Aintervenoacontecenainterao,numprocessodeescutadosujeitoda aprendizagem:asinformaesquetraz,asperguntasqueformula,etc.Assim,intervir mediar, ou seja, o papel do professor de abrir espao a diferentes pontos de vista sobre as questesdiscutidas,trazerdiversasfontesdeinformao,favorecerarelaoentrea experinciaesaberdacrianaeosaberlegitimado.Destaforma,tambmfavorecea superao dos dualismos (razo/emoo; totalidade/particularidade, etc.), podendo discutir a dimenso complexa do conhecimento no mbito social. Este modo de funcionamento da relao professor/educando/conhecimento concretiza aescolacomoconstruocoletiva,lugardemediao,espaodesocializaodo conhecimento, integrao entre as diferentes geraes, encontro do passado/presente/futuro, resgatando a histria, comprometendo-se com a construo e reconstruo da cultura. Nestaperspectiva,aescolabuscadarcontadoconhecimentoacumuladoedoser-cidado(histrico,scio-poltico,cultural),tornando-seespaodecompreenderpara atender, o que aponta mais uma vez para a importncia da escuta e de considerar o outro. 25 Enquanto instituio secular, a escola funciona tendo a reproduo como mecanismo demanutenodaordemestabelecida.Ento,nomovimentodecriaodonovo, transformao,inclusodosseusmembroseabertura,fundamentalqueseinstitua permanentemente espao para a reflexo crtica e a formao, entendidas como mecanismos de desnaturalizao do institudo e enrijecido. A escola em sua funo social e socializadora desaberes/conhecimentos/aprendizagens,assume-secomoumespaodereflexoonde permanentemente contextualiza-se, (re)significa-se, argumenta-se, cria-se. Assim, assume a reflexosobreseulugarnarealidadeeseufuncionamentosocialcomoaspectos fundamentais em seu cotidiano.Aformaopermanentedosprofessores,adiscussotambmpermanentesobreas rotinas, tempos e espaos, planejamentos e projetos, constituem elementos que do vida ao dia-a-dia escolar. Trata-se de entender a formao do professor como formao cultural tambm, ou seja, direito ao acesso Literatura, a museus, a teatros e produo de textos, a falas, palavra viva, expressividade. Neste sentido, as reflexes sobre a prtica, as articulaes entre teoria e prtica tornam-se movimentos presentes e constantes na dinmica escolar. O campo educacional focaliza a conexo entre discurso e prtica. Na garantia da coerncia, na busca de alicerces e fundamentos para os fazeres cotidianos, o dilogo e a construo coletiva, aformaopermanente,osespaosdediscussoeaconstruodecompetnciacrticaso movimentosfundamentais.Constituiraidentidadedaescolanosignificacongel-laem significaes estanques. Uma dinmica que supe a reflexo crtica pressupe a reviso constante das contradies e incoerncias, presentes nos movimentos humanos.Aconstnciaeefetividadedasreuniesdeestudonasunidadesescolaresum importanteinstrumentono sentido degarantircoerncia e consistnciano discurso enas prticas da escola. Teorias e leis, textos e proposies legais, como o Estatuto da Criana e do Adolescente precisam ter espao para discusso e apropriao coletivas.Tambm, a idia da escola em permanente construo, re-construo, no sentido da sistemticareflexo/estudo,respondesdemandasdeumasociedadeemacelerada mudana. Nosso contexto scio-cultural, atravessado pela emergncia do novo a cada dia, convida-nosarepensarnossasprticaseareestruturar-noscontinuamente.Levandoem conta o compromisso tico, esttico e de formao cultural em que se funda a escola, vamos buscandooscaminhosqueatecnologiaeasnovasformasdecomunicaoinstalamna sociedade. Hoje, no contexto intra-escola, torna-se um imperativo buscar o caminho dos avanos tecnolgicos.importantedisponibilizareusarosrecursosnosentidodeampliaras 26 possibilidades de pesquisa e expresso no interior da escola. preciso cuidado crtico com o enfoque tecnicista que a insero da tecnologia no cotidiano pode envolver. O contato com a Informtica, por exemplo, importante como mais uma forma de relao com a cultura, no se esgotando em si mesma. Opapeldaescoladeumaformaoamplaehumana,nofragmentadaou compartimentalizada em saberes isolados. A participao crtica, e coletiva, a narrativa dos educandos compe-se de diversas formas de expresso: oral, escrita, gestual, dentre outras.Ressalta-se que: Onarradornoestdefatopresenteentrens,emsua atualidade viva. Ele algo distante (...) A arte de narrar est em vias de extino. (...) como se estivssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienvel: a faculdade de intercambiar experincias (...) aimagemdomundoexterioredomundoticosofreramtransformaes que antes no julgaramos possveis (..) cada manh recebemos notcias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histrias surpreendentes. A razo que os fatos j chegam acompanhados de explicaes...quase nada estaserviodanarrativaequasetudoestaserviodainformao (Benjamin, 1993 p.197) Aformaocultural,prpriadaescola,materializa-senagarantiadaformaode escritores e leitores no sentido amplo destes termos, na perspectiva do Letramento, ou seja, do exerccio da leitura e escrita em suas funes e dimenses sociais. O contato estreito com aLiteratura,comdiversostiposdetextos,imagenseformasdecomunicaolegitimaa escolacomoespaocultural.Oresgatedanarrativa,ointercmbiodeexperincias,a valorizao dos saberes dos professores e educandos tornam a escola viva, humana, aberta, e sensvel. TodosestesaspectostmsidorefletidosnosProjetosPoltico-Pedaggicos,que explicitamarealidadedasunidadesescolaresesoconstitudoscoletivamente.Na elaboraodeseuprojeto,aescolasetornapesquisadoradarealidadedacomunidade, inclusiva, comprometendo-se com o contexto coletivo. O Projeto Poltico Pedaggico de cada Unidade Escolar busca refletir os princpios da Rede e, ao mesmo tempo, a singularidade da unidade. Por um lado, alguns princpios so comuns, re-definidos constantemente, expostos ao crivo crtico do coletivo, mas reveladores deumaunidade,aidentidadedaRedeMunicipaldeDuquedeCaxiasquepodeser traduzidaemalgumaspalavras:movimento,participao,cultura,auto-estima, 27 compromisso tico,valorizaohumana. Por outro lado, o projeto da escolaexpe asua experincia particular, seu contexto, movimento e vida que so prprios. OProjetoPoltico-Pedaggicotemquerefletiraescola,sendoelaboradocoma participaodetodososqueacompem.Trazemsiavisodemundoeeducaodos elaboradores;ressaltaaformadeacompanharerelacionar-secomoseducandos,dispe sobre a avaliao, as formas de comunicao, e as parcerias que do vida Unidade Escolar emquesto.Assim,materializa-seacriaodemecanismosparaencontrarsolues,a cooperao e interao. Educarimplicaemhumanizar,sublinhandovalorescomosolidariedade,respeito,auto-organizao. A cooperao e coeso devemser perseguidas pela equipe dos profissionais da Escola e pela equipe da Secretaria de Educao, no sentido de constituio de unidade na diversidade.Apesardasadversidades,docontextosocialconturbado,aescolatemum compromisso com a tica, com a formao de sujeitos crticos e atuantes, na perspectiva do exerccio da cidadania. Para almda tcnica (prepararpara omercado de trabalho),para almdatransmissodecontedossistematizados,aescolaformaosujeitocrtico, comprometido com a sua histria, com a transformao do seu entorno. espao de prazer, discusso, reflexo, ao concreta sobre a realidade. Perspectivas, tais como a preparao para o mundo do trabalho ou para o vestibular acabam alijando a escola de seu compromisso com o presente, j que o objetivo favorecer aconstruodesujeitosque,posteriormente,poderoedevero,demodoconsciente, chegar s Universidades e inserir-se no mercado do trabalho. Nossa perspectiva favorecer aconstruodesujeitossociais,produtoresdeculturahojequesepotencializamno presente, na construo de si e do mundo . A Escola em Movimento compromete-se com a expressoampladoserhumano,corporal,musical,gestual,dramtica.Paratal,deve-se buscar a constituio e manuteno de espaos vivos.Valoriza-se a relao de coerncia e dilogo entre especialistas, direo e professores, nosentidodaconstruodaescolaparticipativa,plural,compromissadacomo conhecimento,atica,acultura.Todooesforonaproduododilogoimplicano alargamento de relaes solidrias entre sujeitos com capacidade de criticar, dar sugestes, auto-avaliando-seeco-responsabilizando-senoprocessoeducacionalquetemlugarna escola.Outro aspecto de fundamental relevncia na dinmica escolar diz respeito instituio de prticas de avaliao continuada, que permitam ver o movimento, o desenvolvimento dos 28 educandosdeformadinmica,considerandodeformaespecialosritmos,conquistase dificuldades particulares. Nesta perspectiva de escola, torna-se um desafio: individualizarediversificarospercursosdeformao,introduzir ciclos deaprendizagem, direcionar-se para uma avaliao mais formativa doquenormativa,conduzirprojetosdeestabelecimentos,desenvolvero trabalhoemequipedocenteeresponsabilizar-secoletivamentepeloaluno, colocaracriananocentrodosprocessos,recorreramtodosativos, procedimentosporprojetos, ao trabalhoporproblemas abertos, (...) educar para a cidadania (Perrenoud, 2000, p.14) Solidariedade, democratizao do saber, reflexo e auto-reflexo, valorizao do ser humano, integrao social, formao cultural devem ser princpios marcantes das aes da Escola em Movimento, na perspectiva de garantir a concretizao da funo social da Educao.Assim preciso dizer:...Derestoaeducaoissomesmo-umpermanente movimento...- o momento em que, finalmente, podemos comear a escrever a nossa prpria vida, nica e irrepetvel.(Alves, 2000, p.9-10) O compromisso da educao transcende a construo da prpria histria, perpassando pela busca do bem comum, da coletividade, mantendo viva a chama da esperana. A Escola em Movimentoacredita no sonho e na fora da utopia, enfim, no caminhar, mesmoqueestecaminharnecessitedemuitospassos,deconstruoereconstruo,de esperana, de superao de aprendizado. A construo da histria de nossas vidas, da vida de nossas crianas, jovens e adultos traz um nico desafio: o de olhar para frente em busca do horizonte. E assim crescermos com o outro sendo essncia do outro. Nessa construo intensa... vamos precisar de todo mundo, um mais um sempre mais que dois, para construir a vida nova... (Beto Guedes) 29 Agradecemos a participao e o envolvimento de todos que caminham na histria da Educao do municpio de Duque de Caxias. Agradecemos a dedicao da equipe da Coordenadoria de Educao: Ana Lcia Siqueira de Oliveira Jacqueline Domingues Peanha Moreiro Maria Cristina Vieira M. de L. Rodrigues Maringela da Silva Monteiro Myrian Medeiros da Silva Regina Clia Sanches Lopes Vianna Suzy Souza Siqueira Vani Maria Pereira dos Santos 30 5REFERNCI AS BI BLI OGRFI CAS ALVES, R. A Escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. So Paulo: Papirus, 2001 ARIS, P. Histria social da criana e da famlia. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. ARROYO, M. Ofcio de Mestre: imagens e auto-imagens. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. BENJAMIN, W. Reflexes: a criana, o brinquedo, a educao. So Paulo: Summus, 1984. _______________ Obras escolhidas: magia e tcnica, arte e poltica. So Paulo: Brasiliense, 1993. CESTARI M. Incluso Exerccio de Cidadania. In: Anais 10 Congresso Nacional de Reorientao Curricular, Blumenau: Prefeitura Municipal, FURB, 1999 DANTAS H. Do ato motor ao ato mental: a gnese da inteligncia segundo Wallon In: LA TAILLE, OLIVEIRA & DANTAS. Piaget , Vygotsky e Wallon: teorias psicogenticas em discusso. So Paulo: Summus, 1992. DAUSTER, T. Umainfnciadecurtadurao-osignificadosimblicodotrabalhoedaescolaeaconstruosocialdo fracassoescolarnascamadaspopularesurbanas,In:Revista EducAo.PUC-Rio:DepartamentodeEducao,n.3, dezembro/1991. EDWARDS, GANDINI & FORMAN. As cem linguagens da criana. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1999 FAZOLO E.; CARVALHO M.C., LEITE M.I. & KRAMER S. (orgs). Educao Infantil em Curso. Rio de Janeiro: Ravil, 1997. FREITAS M. T. Vygotsky e Bakhtin Psicologia e Educao: um intertexto. So Paulo: Atica, 1994. _______________ O pensamento de Vygotsky e Bakhtin no Brasil. So Paulo: Papirus, 1994 _______________ Vygotsky: um sculo depois. Juiz de Fora: EDUFJF, 1998 FREIRE, M. A paixo de conhecer o mundo. Rio e Janeiro: Paz e Terra, 1976. FREIRE, P. Ao cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1976. FREIRE P. & SHOR I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. _______________ Professora sim, tia no: cartas a quem ousa ensinar. So Paulo: Olho D gua, 1993. _______________ Pedagogia da Esperana um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. _______________ Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo: Paz e Terra, 1996. FORQUINJ.C.EscolaeCulturaasbasessociaiseepistemolgicasdoconhecimentoescolar.PortoAlegre:Artes Mdicas, 1993. GERALDI W. Portos de Passagem. So Paulo: Martins Fontes, 1991. GROSSI E.P. & BORDIN J. Construtivismo ps-piagetiano. Rio de Janeiro: Vozes, 1993. JOBIM E SOUZA, S. Infncia e linguagem. Bakhtin, Benjamin e Vygotsky. So Paulo: Papirus, 1994._______________ & KRAMER, S. O debate Piaget/ Vygotsky e as polticas educacionais, In: Cadernos de Pesquisa. So Paulo: Fundao Carlos Chagas, n. 77, maio/1991. _______________ (org) Histria de professores. So Paulo: tica, 1993. KRAMER S. A poltica do pr-escolar no Brasil: a arte do disfarce. So Paulo: Cortez, 1992. _______________ Por entre as pedras: arma e sonho na escola. So Paulo: tica, 1993. _______________ Questes raciaiseeducao.Entrelembranasereflexes, In: Cadernos de Pesquisa. So Paulo: Fundao Carlos Chagas, n93, maio/95. _______________ & LEITE, M.I. (orgs.). Infncia: fios e desafios da pesquisa. So Paulo: Papirus, 1996. KRAMER, S.& LEITE, M.I. (orgs). Infncia e Produo Cultural. So Paulo: Papirus, 1998. 31 LA TAILLE, OLIVEIRA & DANTAS. Piaget , Vygotsky e Wallon: teorias psicogenticas em discusso. So Paulo: Summus, 1992. MATA, M. M. & DAUSTER, T. Avidaobrigaasercrianaeadulto:umestudoetnogrficocomcrianasdecamadas populares urbanas, In: Revista EducAo. PUC-Rio: Departamento de Educao, n. 9, setembro/1993.MEDEIROS, L. A criana da favela e sua viso do mundo: uma contribuio para o repensar da escola. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986. MORIN E. A cabea bem feita. Repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. MORIN E. Os sete saberes necessrios educao do futuro. So Paulo: Cortez; Brasilia: UNESCO, 2000. OLIVEIRA K. M. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo scio-histrico. So Paulo: Scipione, 1993 PERRENOUD P. Novas competncias para ensinar. Porto Alegre: Artes Mdicas, 2000. PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criana. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959. _______________ Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro-So Paulo: Forense, 1973. _______________ & INHELDER, Brbel. A psicologia da criana. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1994. SMOLKA A L.B. A criana na fase inicial da escrita a alfabetizao como processo discursivo. So Paulo: Cortez, 1988. SMOLKA, A.L.B. & GES, M.C.R. DE (orgs.). A linguagem e o outro no espao escolar. So Paulo: Papirus, 1993.SOARES M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. So Paulo: tica, 1989. VYGOTSKY, L. La imaginacion y el arte en la infancia (ensayo psicologico). Mexico: Ed. Hispanicas, 1987. _______________ Pensamento e linguagem. So Paulo, Martins Fontes, 1987. _______________ Formao social da mente. So Paulo: Martins Fontes, 1989WALLON, H. As origens do pensamento na criana. So Paulo, Manole, 1988.