CONSIDERAÇÕES SOBRE SOLUÇÕES PARA RECUPERAÇÃO DE … · materiais e concreto armado da Escola...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE
CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS - CTG
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MESTRADO EM ENGENHARIA CIVIL
MODALIDADE ESTRUTURAS
CONSIDERAÇÕES SOBRE SOLUÇÕES PARA RECUPERAÇÃO
DE PRÉDIOS CONSTRUÍDOS COM
ALVENARIA RESISTENTE
Maurício Dias Campos
Orientador: Prof. Dr. Romilde Almeida de Oliveira
Recife – PE 2006
CONSIDERAÇÕES SOBRE SOLUÇÕES PARA RECUPERAÇÃO
DE PRÉDIOS CONSTRUÍDOS COM
ALVENARIA RESISTENTE
Maurício Dias Campos
Dissertação submetida ao Corpo Docente do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Título de Mestre em Engenharia Civil Modalidade Estruturas.
Recife – PE 2006
FICHA CATALOGRÁFICA
C198c Campos, Maurício Dias Considerações sobre soluções para recuperação de
prédios construídos com alvenaria resistente / Maurício Dias Campos. - Recife: O Autor, 2006.
xv, 134 f. : il. (algumas color.), gráfs., tabs.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Dpto. Engenharia Civil, 2006.
Inclui referências bibliográficas.
1. Engenharia Civil. 2. Alvenaria Resistente. 3. Alvenaria Estrutural. 4. Reabilitação. I. Título.
624 CDD (22. ed.) BCTG/2007-119
“A morada é um continente que responde a
certas condições e estabelece relação úteis entre
o meio cósmico e os fenômenos biológicos
humanos. Um homem (ou uma família) nela
viverá dormindo, andando, ouvindo, vendo e
pensando...”
Le Corbusier
iii
À
Celina Maia, João Henrique e
Pedro Eugênio (esposa e filhos) e
João de Deus Campos (meu pai)
Mestre da Arte de dobrar e armar
o aço para concreto.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, luz de nossa vida, por caminhar lado a lado comigo durante esta
produção, fortalecendo-me nos momentos difíceis e iluminando os meus passos em direção ao
conhecimento.
Ao professor Romilde Almeida de Oliveira, que mais do que um orientador foi um
amigo e dedicado incentivador, com idéias enriquecedoras deste trabalho e valiosa
contribuição para aprendermos a valorizar a alvenaria estrutural como sistema construtivo.
Ao engenheiro civil Juarez José Gomes, professor Adjunto da Universidade
Federal de Pernambuco – UFPE e ao engenheiro cartográfico Marconi Antão dos Santos,
professor do Centro Federal de Educação Tecnológica CEFET de Petrolina – PE., hoje em
João Pessoa na Paraíba, pela indicação e incentivos dedicados.
Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina – PE., pela minha
liberação, contribuindo para uma dedicação em tempo integral na realização deste mestrado.
Ao engenheiro civil Leonardo de Souza Ximenes, professor de resistência dos
materiais e concreto armado da Escola Politécnica – UPE, que como mestre no quadro-negro
da faculdade, na prancheta de desenho do escritório e no canteiro de obras me orientou e
ensinou a conhecer elementos de concreto armado.
Ao engenheiro civil Gabriel Costa Bacelar que através dos desenhos dos projetos
estruturais de concreto e cálculos de esforços seccionais obtidos nos diagramas desenhados
utilizando o método dos pontos fixos, contribuiu para a minha formação profissional.
A minha esposa Celina Maia e aos filhos João Henrique e Pedro Eugênio que
durante todo o percurso estiveram solidários, principalmente durante o ano de 2004, quando
se abdicando do conforto e comodidade do nosso lar em Petrolina e carinho dos familiares e
amigos se deslocaram até a cidade do Recife para juntos partilharmos desta caminhada.
v
Ao professor Fernando Artur Nogueira Silva pela revisão e sugestões
apresentadas.
Aos meus pais pela educação e instrução que nos proporcionou, fazendo referência
que seria o maior bem que nos deixariam sempre como prioridade e acima de qualquer
sacrifício de ordem material.
A todos os colegas de jornada que dentro das possibilidades de cada um
contribuíram para o êxito deste trabalho, principalmente no sentido de encurtar a distancia
entre a conclusão do curso de graduação e início desta jornada (vinte anos).
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ix
LISTA DE TABELAS xiii
LISTA DE AVREVIATURAS E SIGLAS xiv
RESUMO xv
ABSTRACT xvi
CAPITULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 Breve História da Alvenaria 1
1.2 Motivação do trabalho 12
1.3 Objetivos 13
1.4 Descrição dos Assuntos abordados 13
CAPITULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Sistema Construtivo 15
2.2 Retrospectiva de Soluções estudadas 30
2.3 Trabalhos desenvolvidos na USP, UFSC e UFSM 39
2.4 Indicações de estudos para Recife 57
CAPITULO 3 - PATOLOGIAS E ACIDENTES
3.1 Patologias 60
Conjunto Residencial – Recife 70
3.2 Acidentes 74
Caso 1 – Ed. Aquarela – Jaboatão dos Guararapes 76
Caso 2 – Ed. Éricka – Olinda 80
Caso 3 – Ed. Enseada de Serrambí – Olinda 85
Caso 4 – Ed. Ijuí – Jaboatão dos Guararapes 89
3.3 Quadro Atual das Construções 94
3.4 Pesquisas Tecnológicas 99
3.5 Soluções Empíricas 102
vii
CAPITULO 4 - ALGUMAS SOLUÇÕES DE REFORÇOS USADAS NA RMR
4.1. Algumas soluções utilizadas 108
Solução 1 - Introdução de novos elementos 109
Solução 2 - Aplicação de revestimentos com tela 113
4.2. Comentários críticos acerca das soluções 115
Solução 1 - Introdução de novos elementos 115
Solução 2 - Aplicação de revestimentos com tela 119
CAPITULO 5 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5.1. Conclusões 124
5.2. Sugestões para futuros trabalhos 126
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA 128
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Tijolo seco ao sol 2
Figura 1.2 – Componentes de alvenaria de pedra irregular 3
Figura 1.3 – Pirâmides do Egito 4
Figura 1.4 – Igreja de Santa Sophia (Hagia Sophia) 4
Figura 1.5 – Antigo Engenho de açúcar Poço Comprido 5
Figura 1.6 – Igreja do Carmo – Olinda –PE 5
Figura 1.7 – Paço Alfândega – Recife – PE 6
Figura 1.8 – Paço Alfândega – Detalhes dos arcos - Recife – PE 6
Figura 1.9 – Edifício Monadnock – Chicago 7
Figura 1.10 – Edifício Monadnock – Detalhe das paredes - Chicago 7
Figura 1.11 – Excalibur Hotel & Cassino 8
Figura 1.12 – Conjunto Habitacional Lapa com quatro pavimentos 9
Figura 1.13 – Conjunto Habitacional Lapa com doze pavimentos 9
Figura 1.14 – Conjunto Hotel com doze pavimentos 11
Figura 1.15 – Racionalização com Maxi-bloco 11
Figura 1.16 – Residencial Parque Tamboré 12
Figura 2.1 – Unidade de concreto, cerâmico e sílico-calcário 15
Figura 2.2 – Sistema estrutural em paredes transversais 19
Figura 2.3 – Sistema estrutural em paredes celulares 19
Figura 2.4 – Sistema estrutural complexo 20
Figura 2.5 – Carregamentos atuantes em uma parede estrutural 20
Figura 2.6 – Espalhamento do carregamento em paredes 21
Figura 2.7 – Interação de paredes em região com abertura 22
Figura 2.8 – Modelagem tridimensional em elementos finitos 23
Figura 2.9 – Ação e distribuição do vento 25
Figura 2.10 – Abas ou flanges nos painéis de contraventamento 26
Figura 2.11 – Prisma com dois blocos 27
Figura 2.12 – Estado de tensões atuantes nos tijolos e juntas de argamassa 29
Figura 2.13 – Paredinhas em tamanho real e reduzido 32
Figura 2.14 – Componentes especiais 33
Figura 2.15 – Substituição de fundações 34
ix
Figura 2.16 – Escoramentos auxiliares 35
Figura 2.17 – Reparo ou reforço de material 36
Figura 2.18 – Reforço com estaca prensada 37
Figura 2.19 – Reforço com estaca injetadas 38
Figura 2.20 – Reforço do solo com jateamento 39
Figura 2.21 – Localização das juntas de movimentação 41
Figura 2.22 – Juntas de movimentação: encontro parede-laje 43
Figura 2.23 – Corpos-de-prova para ensaio de arrancamento 46
Figura 2.24 – Corpos-de-prova para ensaio de ligação parede-pilar 46
Figura 2.25 – Gráfico Carga x Deformação 47
Figura 2.26 – Esquema para ensaio de compressão simples 49
Figura 2.27 – Injeção nos vazios de alvenaria 52
Figura 2.28 – Pregagens costura 54
Figura 2.29 – Refechamento de juntas 55
Figura 2.30 – Recalçamentos superficiais 56
Figura 3.1 – Fissuras verticais na alvenaria 61
Figura 3.2 – Rasgos na alvenaria para instalações 61
Figura 3.3 – Movimentações em laje de cobertura 62
Figura 3.4 – Fissuras em alvenaria proveniente de sobrecarga vertical 63
Figura 3.5 – Fissuras em alvenaria proveniente de carga concentrada 64
Figura 3.6 – Fissuras típicas em alvenaria com presença de abertura 65
Figura 3.7 – Fissuras inclinadas provocadas por recalques diferenciais 66
Figura 3.8 – Fissuras contínuas solicitadas por carregamento desbalanceado 66
Figura 3.9 – Locação dos blocos do conjunto residencial 70
Figura 3.10 – Manifestação na alvenaria de embasamento 72
Figura 3.11 – Vista do revestimento externa 72
Figura 3.12 – Blocos cerâmicos e de concreto 75
Figura 3.13 – Planta Baixa do Edifício Aquarela 77
Figura 3.14 – Corte genérico da fundação 78
Figura 3.15 – Vista geral dos blocos aos o colapso 78
Figura 3.16 – Planta baixa e corte do Edifício Éricka 81
Figura 3.17 – Parte posterior após o colapso do Edifício Éricka 84
Figura 3.18 – Parte do embasamento do Edifício Éricka 85
Figura 3.19 – Planta Baixa do Edifício Enseada de Serrambí 85
x
Figura 3.20 – Vista das fundações do Edifício Enseada de Serrambí 86
Figura 3.21 – Aspecto da alvenaria de embasamento do Edifício Enseada de Serrambí 88
Figura 3.22 – Planta Baixa do Edifício Ijuí 89
Figura 3.23 – Seção da sapata corrida 90
Figura 3.24 – Aspecto do Edifício Ijuí após o colapso 91
Figura 3.25 – Execução de edifício com bloco cerâmico 94
Figura 3.26 – Execução de edifício com bloco de concreto 95
Figura 3.27 – Execução de edifício com bloco silíco-calcário 96
Figura 3.28 – Execução sobre pavimento com estrutura convencional 97
Figura 3.29 – Execução com alvenaria estrutural em todos os pavimentos - SP 97
Figura 3.30 – Execução com alvenaria estrutural com vários pavimentos 98
Figura 3.31 – Execução de elementos em balanço 99
Figura 3.32 – Fissuras entre alvenaria e pilar 103
Figura 3.33 – Destacamento entre alvenarias 103
Figura 3.34 – Blocos fissurados 104
Figura 3.35 – Fissuras com tela de poliéster 104
Figura 3.36 – Fissuras com selante e argamassa flexível 105
Figura 3.37 – Fissuras com argamassa e tela metálica 106
Figura 3.38 – Fissuras com a utilização de tirante 106
Figura 4.1 – Corte esquemático: localização das estacas brocas e vigas baldrames 111
Figura 4.2 – Vista do reforço executado 112
Figura 4.3 – Retirada do piso e contra-piso 113
Figura 4.4 – Aberturas no embasamento para retirada de material para análise 114
Figura 4.5 – Detalhe genérico da sapata corrida 114
Figura 4.6 – Vista lateral da sapata corrida e posição dos tufos 115
Figura 4.7 – Parede com apoio estreito 116
Figura 4.8 – Parede com apoio largo 117
Figura 4.9 – Parede com maior número de apoios 117
Figura 4.10 – Parede com apoio contínuo 118
Figura 4.11 – Parede com apoio estreito e viga de grande rigidez 118
Figura 4.12 – Detalhe das armações dos reforços 119
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Peso específico da alvenaria 24
Tabela 2.2 – Resistência da alvenaria – Blocos vazados 28
Tabela 2.3 – Resistência da alvenaria baseada na resistência das unidades e da argamassa 28
Tabela 3.1 – Sais eflorescentes que podem desenvolver-se nas alvenarias 68
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABCI Associação Brasileira de Construção Industrializada
ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACI American Concrete Institute
AS Australian Standard
ASTM American Society for Testing Materials
BNH Banco Nacional de Habitação
BS British Standards Institution
CEF Caixa Econômica Federal
CP Corpo de Prova
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
EPUSP Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
ELS Estado limite de serviço
ELU Estado limite Último
EPU Expansão por umidade
ITEP Fundação Instituto Tecnológico de Pernambuco
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo
MPF Ministério Público Federal
MPPE Ministério Público de Pernambuco
NBR Norma Brasileira Registrada
PCAE Processo construtivo de alvenaria estrutural
PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat
RMR Região Metropolitana do Recife
SPT Standart Penetration Test
TECOMAT Tecnologia da Construção e Materiais ltda.
UFPB Universidade Federal da Paraíba – Campina Grande
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
USP Universidade de São Paulo
xiii
RESUMO
CAMPOS, M. D. (2006). Considerações sobre soluções para recuperação de prédios
construídos com alvenaria resistente. Recife, 2006. 134 p. Dissertação (Mestrado) –
Centro de Tecnologia e Geociência – CTG, Universidade Federal de Pernambuco –
UFPE.
A criação do Banco Nacional de Habitação (BNH) em 1966 e a necessidade de suprir o
déficit habitacional brasileiro, principalmente, para a faixa da população com menor
poder aquisitivo, direcionou o mercado da construção civil a procurar novos sistemas
construtivos como alternativa aos produtos e processos tradicionais. A alvenaria
resistente com blocos cerâmicos vazados ou blocos de concreto usados na alvenaria de
fechamento (vedação) passou a ser utilizada como forma de atender às necessidades do
momento. O sistema torna-se incompatível em função da baixa resistência do bloco
cerâmico e de concreto, devido aos inconsistentes processos de fabricação, produzindo
manifestações patológicas nas edificações, principalmente nas alvenarias de
embasamento tornando inadequada a sua utilização. Este trabalho se propõe a contribuir
na identificação de métodos, que sejam viáveis para a recuperação de alvenarias
resistentes atingidas por manifestações patológicas oriundas dos materiais utilizados
para as fundações.
Palavras-chave: Alvenaria resistente, alvenaria, alvenaria estrutural, reforço, reabilitação.
xiv
ABSTRACT
CAMPOS, M. D. (2006). Considerations about solutions for recovery of building
constructed with resistant masonry. Recife, 2006. 134 p. Dissertação (Mestrado) -
Center of Technologies and Geosciences - CTG - Federal University of Pernambuco -
UFPE.
The creation of the Banco Nacional de Habitação (BNH) and the necessity to supply the
Brazilian habitation deficit mainly for the band of the population with minor purchasing
power, directed the market of the civil construction to search for new constructive
systems as alternative to the products and traditional processes. The resistant masonry
with hollow ceramic blocks or blocks made of concrete to be used in closure masonry
(fence) to provide for the needs of the moment. The system becomes incompatible
because of the low resistance of the ceramic and concrete blocks, due to inconsistent
processes of manufacture, producing pathological manifestations in the constructions,
mainly in the masonry of basement becoming inadequate its use. This work intends to
contribute to the identification of methods that are viable for the recovery of resistant
masonry reached by deriving pathological manifestations of the materials used for the
foundations.
Keyword: Resistant masonry, masonry, structural masonry, recovery, reinforcement,
whitewashing.
xv
Capítulo 1 - Introdução
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
O homem na busca de proteção contra as intempéries da natureza (chuva, neve e
granizo) teve, inicialmente, como abrigo as cavernas e depois as cabanas feitas de madeira,
abundantes na natureza, na época. Na constante busca por melhores condições para se
proteger o homem foi desenvolvendo e aperfeiçoando os métodos para construir as
edificações que lhe dão abrigo (ULSAMER, 1975).
Entre os sistemas construtivos desenvolvidos ao longo da história, as edificações
executadas com paredes resistentes (alvenaria estrutural) têm se firmado como técnica de
construção. Bastante utilizadas na forma de habitações, monumentos, fortes e templos
religiosos, desde as mais antigas civilizações, nos diversos elementos estruturais como
paredes, colunas, arcos e abóbadas.
1.1 Breve História da Alvenaria
Encontra-se na literatura, em informações de 10.000 a.C., indícios das primeiras
construções em alvenaria executadas com a utilização de tijolos queimados ao sol, e em 3.000
a.C., queimados em fornos, pelos assírios e persas. Alvenaria como estrutura-suporte de
edifícios de grande altura, são encontradas nas grandes catedrais construídas nos séculos XII a
XVII e que se conservam até os dias atuais (BEALL, 1987).
Muitos materiais foram utilizados para a construção de alvenarias, destacando-se
sempre os disponíveis e convenientes em cada região. Tijolos moldados com materiais
retirados de depósito de aluviões foram utilizados por civilizações que viviam de plantações
às margens dos rios. Na Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates, os tijolos, secos ao sol,
1
Capítulo 1 - Introdução
foram produzidos com a lama retirada das suas margens. Nas regiões montanhosas ou de
solos rochosos, a pedra foi largamente utilizada. Edifícios monumentais foram construídos
pelos egípcios ao longo das margens rochosas do vale do rio Nilo utilizando blocos de pedras.
Nas regiões frias, blocos de gelo são utilizados para fazer iglus (BEALL, 1987).
A pedra é o material mais antigo dos utilizados para execução de alvenaria. É
considerado um dos mais importantes pela maioria dos homens pré-históricos e civilizados.
Na antiguidade foram utilizadas para dar formas às torres, templos e pontes. Inicialmente
foram utilizadas empilhadas umas sobre as outras, com o auxilio de terra, preenchendo os
vazios e fazendo o papel da futura argamassa. Eram pedras naturais selecionadas
considerando sua forma, possibilitando o apoio através do próprio peso.
O tijolo era feito com a lama (argila) retirada das margens dos rios, misturada com
palhas e estercos, para aumentar sua resistência, moldados em pequenas protuberâncias no
formato de charuto (Figura 1.1) e secos ao sol (adobe). Pela simplicidade de execução,
resistência e durabilidade foram utilizados durante muito tempo na Babilônia, Egito, Espanha,
América do Sul e Reservas Indígenas dos Estados Unidos, destacando, juntamente com a
pedra, a importância da alvenaria na história do homem.
Figura 1.1 – Tijolo seco ao sol, por volta de 8000 a.C.
(BEALL, 1987)
2
Capítulo 1 - Introdução
As alvenarias de pedra apresentam uma constituição interna bastante diversificada,
dependendo da época, dos costumes e do local de sua utilização (Figura 1.2). São
caracterizadas por possuírem uma grande irregularidade geométrica e falta de homogeneidade
material, resultante da diversidade de características (físicas, mecânicas e geométricas) dos
materiais utilizados que originam a presença de vazios (ROQUE, 2003).
Figura 1.2 – Componentes de alvenaria de pedra irregular
(ROQUE, 2003)
No mundo, grandes obras em pedra ou tijolos construídas durante a Antiguidade e
Idade Média têm mostrado ao longo dos tempos a resistência e durabilidade das alvenarias
como sistema construtivo. No Egito, as grandes Pirâmides, erguidas com blocos de pedras na
região de Giza por volta de 2500 a.C., a maior com 145 m de altura, erguida em homenagem
ao faraó Quéops, reconhecida como uma das sete maravilhas do mundo, resistem ao desgaste
movido pela ação do homem e do tempo. Estima-se que foram necessários 100.000
trabalhadores para sua construção. Grandes e notáveis monumentos foram construídos, no
primeiro século d.C., com a utilização de blocos de pedras definindo suas estruturas, como no
Coliseu e aqueduto de Segovia (Figura 1.3).
3
Capítulo 1 - Introdução
Figura 1.3 – Coliseu e aqueduto de Segovia
(CASTRO OLIVEIRA, 2003)
A igreja de Santa Sophia (Hagia Sophia), concluída no ano 537, em
Constantinopla / Istambul (Figura 1.4), com paredes bastante espessas e uma cúpula central
com 56 m de altura apoiada por duas semicúpulas nas laterais.
Figura 1.4 – Igreja de Santa Sophia (Hagia Sophia)
(CASTRO OLIVEIRA, 2003)
No Brasil, construções que formaram os primeiros engenhos de açúcar
nordestinos, (Figura 1.5) compostos basicamente de quatro edifícios: a moita (edifício da
fábrica), a senzala (residência dos escravos), a casa-grande (residência do proprietário) e a
capela. Ao lado de grandes catedrais e fortificações executadas a partir de 1530, também são
exemplos marcantes das edificações em alvenaria, suportes de arenito proveniente dos
arrecifes e calcário, pouco resistentes, compostas de unidades de tamanho variados.
4
Capítulo 1 - Introdução
Assentadas e rejuntadas com argamassa de cal e areia, formando paredes bastante espessas e
arcadas e abóbadas visando obter maiores vãos e conformação das aberturas de portas e
janelas. Também a taipa ou adobes de tijolos maciços de barro cru, de baixa resistência, usada
nas regiões de difícil obtenção da pedra, executadas sempre intuitivamente e utilizando
métodos empíricos que tornavam as paredes com 0,30 a 1,30 metro de espessuras.
Figura 1.5 – Antigo engenho de açúcar Poço Comprido
Vicência, PE, construído no século XVIII
(MONTEZUMA, 2002)
Alvenarias de pedras combinadas com tijolos de barro maciços foram utilizadas
nas construções de igrejas (Figura 1.6), a partir de 1530. Em Pernambuco, devido à influência
dos holandeses, foram utilizados muitos tijolos maciços vindo da Europa, transportados como
lastro de navios.
Figura 1.6 – Igreja do Carmo - Olinda, PE.
(MONTEZUMA, 2002)
5
Capítulo 1 - Introdução
Em Recife foram encontrados, através de prospecções arqueológicas e
arquitetônicas, no edifício Paço Alfândega (Figura 1.7) localizado no Recife antigo,
reformado a partir de 2000 elementos do passado e da técnica construtiva em alvenaria de
pedras e tijolos, construído em 1720, e passado por algumas modificações e até a ação de um
incêndio em 1922.
Figura 1.7 – Paço Alfândega – Recife - PE
Seu revestimento foi retirado em algumas paredes, deixando visíveis elementos
das diversas etapas da existência da edificação: espessura das paredes, combinação de tijolo
com pedra, argamassa com a utilização da cal e modulação da alvenaria em arco (Figura 1.8),
característica marcante do período inicial da construção.
Figura 1.8 – Paço Alfândega – Recife - PE
As fotos cujos créditos não estão indicados são do autor.
6
Capítulo 1 - Introdução
A invenção do cimento portland, em 1824 durante o período da Revolução
Industrial, juntamente com o refinamento na produção de ferro e o desenvolvimento da
Fornalha de Bessemer em 1854, direcionou a demanda de construção para edifícios elevados,
provocando uma redução no desenvolvimento da tecnologia nas construções em alvenaria
tanto de pedra como de tijolos cerâmicos. Neste período, destaca-se o Edifício Monadnock,
(Figura 1.9) construído entre 1889 e 1891 na cidade de Chicago, que é citado como o último
grande edifício na tradição da arquitetura antiga da alvenaria, com 16 pavimentos e 65 m de
altura em alvenaria de pedra e tijolo. Seu dimensionamento, ainda de forma empírica e
intuitiva produziu paredes no pavimento térreo com 1,80 m de espessura (Figura 1.10).
Utilizando a atual tecnologia esta espessura poderia ser reduzida para aproximadamente 40
cm.
Figura 1.9 – Edifício Monadnock - Chicago Figura 1.10 - Edifício Monadnock - Chicago
(Site: http: pastsabin.com/) (Site: www. emporis.com/)
Pesquisas extensivas a partir de 1920, visando encontrar novas alternativas aos
sistemas estruturais de concretos, focadas no desempenho de paredes, de lajes e de colunas
reforçadas de alvenaria conduziu a uma compreensão básica do comportamento estrutural da
alvenaria, produzindo-se as primeiras análises de confiabilidade matemática dos materiais
utilizados na execução da alvenaria, eliminando dados empíricos e permitindo a formulação
de teorias racionais de projeto.
7
Capítulo 1 - Introdução
Destacando-se em 1950, um edifício com treze pavimentos e 42 m de altura
construída pelo engenheiro Paul Haller, na Basiléia, Suíça. Executado em alvenaria estrutural
não armada, com paredes internas de 15 cm e externas com 37,5 cm, que indicam que para
seu dimensionamento foram utilizados procedimentos semelhantes aos atuais. Para as
paredes mais solicitadas a dimensão definida é exatamente a que se obteria através do
dimensionamento convencional utilizando qualquer uma das principais normas internacionais.
A largura das paredes externas, de 37,5 cm, foi adotada provavelmente em função de
características relacionadas ao conforto térmico (RAMALHO, 2003). Contribuiu para a
difusão do sistema e criação de normas técnicas sobre o cálculo e procedimentos construtivos,
principalmente na Inglaterra, França, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
O Excalibur Hotel & Cassino (Figura 1.11), construído em Las Vegas, Estados
Unidos em 1990, é atualmente o mais alto edifício executado em alvenaria estrutural.
Inspirado na lenda do rei Arthur e os cavaleiros da Távora Redonda é formado por quatro
torres, com 4008 apartamentos distribuídos nos 28 pavimentos, em alvenaria armada de bloco
de concreto, com resistência a compressão especificada na base de 28 MPa (TÉCHNE,
2003). Suas paredes até o quinto pavimento têm 29 cm de espessura e 19 cm nos seguintes.
Na sua execução foram empregados 3,2 milhões de blocos de concreto. A escolha do sistema
foi determinada considerando seu desempenho diante de ações sísmicas, comuns naquela
região.
Figura 1.11 – Excalibur Hotel & Cassino
(Site: www.excalibur.com)
8
Capítulo 1 - Introdução
No Brasil as primeiras edificações construídas com blocos vazados estruturais,
surgiram em São Paulo, em 1966 com a execução, com blocos de concreto, de um conjunto
habitacional com quatro pavimentos (Figura 1.12). Em 1972, também em São Paulo, com
alvenaria armada, foi executado o Condomínio Central Parque Lapa, com quatro blocos com
12 pavimentos (Figura 1.13).
Figura 1.12 – Conjunto Habitacional Central Figura 1.13 – Conjunto Habitacional Central
Parque da Lapa – com quatro pavimentos Parque da Lapa – com doze pavimentos
(WISSENBACH, 1990) (WISSENBACH, 1990)
Somente a partir de 1977 se tem notícia da utilização de alvenaria estrutural
não-armada, com a execução de um edifício com nove pavimentos, com o uso de blocos
sílico-calcário, apresentando as paredes estruturais com 24 cm de espessura.
Em Recife, a Secretaria de Habitação do Estado e a Universidade Federal de
Pernambuco – UFPE, elaboraram em 1981, o projeto: O Processo da Alvenaria Estrutural
aplicado à Habitação popular do Tipo Multifamiliar, com oito pavimentos, apresentando uma
solução pioneira na região e um avanço na substituição da estrutura convencional de concreto
armado por paredes, funcionando como elementos portantes. O projeto apresentou
especificações detalhadas para construção e dimensionamento de obras em alvenaria
estrutural baseadas nas recomendações do American Concrete Institute (ACI) da época.
Apresentou também a utilização de soluções envolvendo grande número de detalhes a serem
9
Capítulo 1 - Introdução
considerados em obras de alvenaria e o estudo de custo comparativo das soluções em
alvenaria e em pórtico de concreto armado (HOROWITZ, ARAÚJO E OLIVEIRA, 1981).
Em 1989 é apresentada a primeira Norma Brasileira para o dimensionamento de
alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto (NBR – 10837), resultado dos trabalhos do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, que em contatos com a ABNT, chegaram ao
Professor Fernando Lobo Carneiro, que já havia desenvolvido um anteprojeto de Normas para
o Banco Nacional de Habitação BNH, em 1968. Participaram também professores da Escola
Politécnica de São Paulo (EPUSP) e técnicos do IPT, buscando respostas para as múltiplas
questões referentes ao estabelecimento de nível de qualidade final (WISSENBACH, 1990).
As primeiras edificações executadas em alvenaria resistente permitiram uma
redução de seu custo com a minimização do desperdício de materiais. Esta característica
incorporou ao sistema o preconceito de habitação popular em edifício com quatro ou cinco
pavimentos. Atualmente a construção de obras maiores, procurando a classe média, indicam
um crescimento e aceitação do sistema construtivo. O avanço de pesquisas, com a utilização
de métodos de cálculo que conduzem a resultados mais refinados, ensaios de laboratórios e a
elaboração de Normas Técnicas vêm contribuindo para o desenvolvimento do sistema
construtivo, chamado por alguns pesquisadores de “Moderna Técnica Milenar”.
Nas últimas décadas, em decorrência da existência de modernas Normas Técnicas
e à caracterização mecânica dos materiais existente, a alvenaria resistente têm sido largamente
utilizadas, destacando-se a Suíça onde se desenvolveu bastante com a utilização em
construção de duplex com três pavimentos com blocos cerâmicos. Nos Estados Unidos, com a
utilização de tijolos cerâmicos formando parede dupla preenchida com concreto, vêm sendo
utilizado para a construção de edifícios residenciais com quatro pavimentos e comerciais com
doze pavimentos (Figura 1.14).
10
Capítulo 1 - Introdução
Figura 1.14 – Hotel com doze pavimentos
(LOURENÇO, 2002)
Na Holanda, visando uma melhor racionalização na construção a proposta é o
desenvolvimento de maxi-bloco (Figura 1.15) com 1,00 metro de comprimento
(LOURENÇO, 2002).
Figura 1.15 – Racionalização com Maxi-bloco
(LOURENÇO, 2002)
No Brasil, a aceitação da alvenaria resistente como sistema construtivo tem
aumentado consideravelmente. Em Vitória - ES., um edifício com onze pavimentos destaca-se
por ser o mais alto utilizando a alvenaria estrutural com blocos de concreto. Em Fortaleza -
CE., também utilizando blocos de concreto o destaque é para um conjunto de edifícios com
11
Capítulo 1 - Introdução
oito pavimentos. Blumenau - SC., um prédio residencial com 12 pavimentos é o mais alto no
estado a adotar o sistema construtivo. Caxias do Sul - RS., contribui para a aceitação do
sistema com a construção de um conjunto residencial de dez prédios com cinco pavimentos
cada. No planalto central, na cidade de Águas Claras, distante 30 km de Brasília, a construção
chega a 14 pavimentos, sobre pilotis e garagens executados pelo sistema convencional de
concreto armado. Em São Paulo, concluídas em 2004, quatro torres com 14 pavimentos
(Figura 1.16), com apartamentos de 100 m2, estrutura e vedações foram executadas utilizando
a racionalidade da alvenaria estrutural de blocos de concreto (ABCP, 2005).
Figura 1.16 – Residencial Parque Tamboré
(ABCP, 2005)
1.2 Motivação do Trabalho
A alvenaria estrutural, depois do seu Renascimento (BEALL, 1987), após 1920,
alcançou grande avanço através das pesquisas com novos materiais: mais baratos, mais
resistentes, mais duráveis e mais leves, com procedimentos de dimensionamentos mais
definidos e o aperfeiçoamento de equipamentos industriais promovendo uma melhor
racionalização nas construções. Surgiram também as manifestações patológicas e com elas
situações de colapsos nas edificações.
12
Capítulo 1 - Introdução
A alvenaria além de sua finalidade como material estrutural se apresenta como
uma solução construtiva que valoriza os aspectos estruturais, estéticos, acústicos, térmicos, de
resistência ao fogo e de impermeabilização (LOURENÇO, 2002). Sua utilização é bem
competitiva quando comparada com a solução tradicional de concreto armado.
Na Região Metropolitana do Recife – RMR, existe atualmente cerca de seis mil
edificações apresentando manifestações patológicas consideradas de risco para seus
ocupantes. Cerca de dez edifícios de uso residencial, com quatro pavimentos, sofreram
colapsos, nos últimos anos na RMR com prejuízos materiais e humanos para a sociedade,
elevando para 1/500 o índice deste tipo de acidente. O recomendável internacionalmente é em
torno de 1/100.000.
1.3 Objetivos
Este trabalho tem como objetivo geral contribuir para a identificação de processos
de reabilitação de obras construídas com alvenaria portante, através da formalização de
procedimentos que possam ser aplicados à recuperação de estruturas de alvenaria em processo
de desgaste. Especificamente identificar processos de recuperação que possam ser utilizados
nas manifestações provenientes do desgaste das fundações e alvenarias de embasamento.
1.4 Descrição dos assuntos abordados
No capítulo 1 é abordado um pouco da história da utilização da alvenaria pelo
homem desde a antiguidade até os dias atuais. Seu desenvolvimento, materiais e
transformações sofridas para sua execução e afirmação como processo construtivo. Aborda-se
também neste capítulo, a motivação e os objetivos.
No capítulo 2 apresentam-se, segundo a Norma Brasileira NBR 10837 (1989), os
conceitos relativos à alvenaria resistente: sua classificação, tipos utilizados nas construções e
as características com blocos cerâmicos, concreto e silico-calcário. São apresentadas também
13
Capítulo 1 - Introdução
algumas soluções aplicadas às manifestações patológicas mais freqüentes surgidas nas
alvenarias resistentes.
No capítulo 3 são apresentados os conceitos relativos às Patologias das
construções, suas origens, manifestações e conseqüências para as edificações executadas em
alvenaria estrutural. São também relatados alguns acidentes ocorridos na Região
Metropolitana do Recife provenientes da ação das manifestações patológicas das construções
decorrentes tanto de falhas dos projetos como da utilização de materiais e processos de
execução inadequados.
No capítulo 4 são abordadas as soluções que vêm sendo utilizadas na Região
Metropolitana do Recife (RMR), envolvendo o sistema de alvenaria portante, apresentando
considerações críticas acerca das soluções adotadas.
No capítulo 5 são apresentadas as conclusões e sugestões para futuros trabalhos de
continuidade da pesquisa efetuada.
14
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A utilização da alvenaria estrutural tem se tornado cada vez mais intensa,
principalmente em empreendimentos residenciais populares e de padrão médio. Têm-se
exemplos de edifícios de luxo de grandes áreas de apartamento, inclusive com fachadas ricas
em detalhes construídos com alvenaria estrutural, porém pouco utilizado, mesmo
considerando uma alternativa interessante e competitiva (FURLAN JR., 2004).
2.1 Sistema Construtivo
O sistema construtivo se desenvolveu a partir do empilhamento das unidades,
tijolos ou blocos. Seu conceito estrutural sempre foi à transmissão de ações através de tensões
de compressão entre os componentes e elementos da alvenaria. Componentes, conforme
menciona a NBR 10837 (ABNT, 1989) – Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de
concreto, são os elementos que compõem a estrutura: blocos, ou unidades, argamassa, graute
e armadura e elementos à parte elaborada da estrutura formada por pelo menos dois
componentes, são: paredes, pilares, cintas e vergas.
Unidade - componente básico da alvenaria estrutural. São considerados os
principais responsáveis pela definição das características resistentes da estrutura e
denominados em função do material utilizado na sua fabricação em: unidades de concreto,
unidades cerâmicas e unidades sílico-calcáreas (Figura 2.1).
Figura 2.1 – Unidade de concreto, cerâmica e sílico-calcáreas
(TECHNE, 2005)
15
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
São denominados de tijolos quando maciços ou quando possuem até 25% da área
total formado por vazios e blocos quando vazados, são classificados em de vedação e
estruturais que são os indicados para a utilização em alvenaria portante.
Uma unidade é definida através de três dimensões principais: comprimento,
largura e altura. Uma relação de igualdade ou multiplicidade entre o comprimento e a largura
torna bastante simples a amarração das paredes, contribuindo para um significativo ganho em
termos de racionalização do sistema construtivo.
Sua resistência característica, medida em relação à sua área bruta, de acordo com a
NBR 6136 (1980) – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural, deve
atender aos seguintes limites de compressão:
Paredes externas sem revestimento - fbk > 6,0 MPa
Paredes internas ou externas com revestimento - fbk > 4,5 MPa
A NBR 15270 (2005) – Bloco Cerâmico para alvenaria, menciona que o valor
mínimo para a resistência dos blocos portantes cerâmico deve ser 4,0 MPa.
Argamassa - componente que possui as funções básicas de “solidarizar as
unidades, transmitir e uniformizar as tensões entre as unidades de alvenaria, absorver
pequenas deformações e prevenir a entrada de água e de vento nas edificações” (RAMALHO,
2003). São denominadas de argamassa de assentamento e produzidas com a utilização de
areia, cimento, cal e água, devendo apresentar, boas características de trabalhabilidade,
resistência, plasticidade e durabilidade, para o desempenho de suas funções. A NBR 10837
especifica diferentes valores para a tensão admissível à tração e ao cisalhamento para a
alvenaria em função da argamassa de assentamento utilizada. As tensões são distribuídas de
modo uniforme entre as unidades através da plasticidade da argamassa.
Graute - componente utilizado com a finalidade de preencher os vazios dos blocos,
com o objetivo de aumentar a área da seção transversal das unidades ou solidarizar os blocos
com eventuais armaduras distribuídas nos seus vazios. É um concreto produzido com
agregados de pequenas dimensões e bastante fluido para preencher totalmente os vazios
evitando a formação de nichos, devendo envolver a armadura, aderindo-a ao bloco formando
um conjunto único. A quantidade de cimento, cal e agregados utilizados para sua dosagem
16
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
(não experimental) é determinada na NBR 8798 – Execução e controle de obras de argamassa
estrutural de blocos vazados de concreto. A NBR 10837 determina que sua resistência
característica deve ser maior que duas vezes a resistência característica do bloco,
considerando que o bloco possui sua resistência referindo-se à sua área bruta e que seu índice
de vazios é usualmente 50%.
Armadura - componente utilizado envolvido pelo graute, distribuído no sentido
longitudinal do bloco para garantir o trabalho conjunto com os outros componentes da
alvenaria. Utiliza-se o mesmo aço empregado no concreto armado, podendo ser CA-50 ou
CA-60.
A alvenaria é o elemento considerado mais importante para o funcionamento do
sistema construtivo portante tendo o bloco como componente básico. A NBR 6136 especifica
duas larguras padronizadas: o bloco M – 15, com largura nominal de 15 cm e o bloco M – 20,
com 20 cm e para comprimento nos dois casos sempre 20 e 40 cm com 10 e 20 cm de altura.
A utilização de blocos com largura padronizada é determinante para se definir a
modulação de uma edificação. A modulação é necessária para se evitar perdas de materiais
(corte nos blocos) eliminando os enchimentos complementares que direcionam as paredes
para um funcionamento isolado, fazendo com que a distribuição das ações entre as diversas
paredes de um edifício seja feita de forma a penalizar em demasia alguns elementos e
conseqüentemente a economia do conjunto (RAMALHO, 2003). A modulação horizontal
deverá ser definida na concepção do projeto arquitetônico, procurando evitar a utilização de
trechos complementares ou de blocos especiais (compensadores), quase sempre necessários
nas ligações entre paredes de bordas ou cantos. A vertical torna-se bem definida com a altura
(pé direito) do pavimento considerando uma quantidade de fiadas definidas pela altura do
bloco, não interferindo na definição do módulo horizontal.
O funcionamento de uma estrutura de alvenaria portante é definido a partir do
projeto arquitetônico. Sua concepção determina quais as paredes serão consideradas
estruturais ou não-estruturais em relação ao seu peso próprio e as cargas atuantes. As paredes
são dimensionadas através de cálculo racionais e classificadas de acordo com a NBR 10837
(1989) em três categorias.
17
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
- Alvenaria estrutural não-armada: aquela constituída de blocos
assentados com argamassa podendo conter armadura com finalidade
construtiva ou de amarração, não consideradas na absorção dos
esforços calculados;
- Alvenaria estrutural armada: aquela em que as paredes são
constituídas de blocos assentados com argamassa, cujas cavidades
são preenchidas continuamente com graute que envolve uma
quantidade suficiente de armadura dimensionadas para absorver
esforços calculados, além daqueles com finalidade construtiva ou de
amarração;
- Alvenaria parcialmente armada: aquela em que algumas paredes são
construídas segundo as recomendações da alvenaria armada, e as
demais de acordo com as prescrições da alvenaria estrutural não-
armada.
Para a definição de quais paredes serão consideradas estruturais ou não-estruturais,
em relação à atuação das cargas verticais e à ação do vento, serão determinadas a partir da sua
concepção, considerando alguns fatores, como utilização da edificação, simetria da estrutura,
principalmente. Quanto à sua disposição são classificadas em paredes transversais, paredes
celulares e sistema complexo.
- Paredes transversais: sistema adequado para edificação com planta baixa
distribuída de forma retangular e alongada, onde as paredes externas no sentido
longitudinal não são estruturais e as lajes armadas em uma direção, se apoiando
sobre as paredes estruturais (transversais). Muito utilizada em edificações
destinadas ao funcionamento de hotéis, hospitais, escolas, salas comerciais
(Figura 2.2).
18
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.2 – Sistema estrutural em paredes transversais
- Paredes Celulares: sistema utilizado para edificação com planta baixa
apresentando dimensões horizontais e verticais com pouca diferença numérica
entre si, permitindo que todas as paredes sejam estruturais e as lajes armadas nas
duas direções apoiando-se em todo seu contorno. É bastante utilizado para
edificações de uso residencial (Figura 2.3).
Figura 2.3 – Sistema estrutural em paredes celulares
- Sistema complexo: corresponde à utilização do sistema transversal combinado
com o celular em regiões diferentes da edificação, em planta, com a utilização de
algumas paredes externas não-estruturais e uma região interna rígida,
apresentando todas as paredes com função estrutural (Figura 2.4).
19
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.4 – Sistema estrutural complexo
As estruturas portantes devem ser dimensionadas para resistirem aos esforços de
compressão, cisalhamento e flexões no plano e fora do plano da parede (Figura 2.5). Os
esforços de compressão são muito importantes, originam-se das cargas verticais de peso
próprio e das acidentais, definidas na NB 5. Geram tensões na alvenaria consideradas
importantes na definição do conjunto bloco-argamassa a ser utilizado na execução da
alvenaria.
Figura 2.5 – Carregamentos atuantes em uma parede estrutural
(PRUDÊNCIO JR., 2002)
20
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Os esforços de cisalhamento e flexão no plano das alvenarias atuam nas paredes de
contraventamento oriundos da transmissão de esforços das lajes nelas apoiadas. Recebendo
também as ações das paredes de fachada. Tensões adicionais de compressão são geradas por
flexão no plano em uma das extremidades das paredes e de tração na outra que determinam a
utilização de armaduras verticais quando não são neutralizadas pelas tensões de compressão
devidas ao peso próprio em determinadas paredes. A flexão fora do plano ocorre nas paredes
externas e são provenientes de esforços transversais de vento ou empuxo de terras, geram
esforços de tração que quando maiores que os de compressão exigem a utilização de
armaduras ou enrijecedores para aumentar sua inércia.
Os esforços provenientes da ação de carregamentos concentrados ou parciais nas
alvenarias são considerados distribuídos ao longo de sua altura segundo um ângulo de 45º,
conforme descrito na NBR 10837 (1989). Condição bem definida para situações de paredes
planas, mas que também pode ocorrer em cantos e bordos de paredes quando a amarração
entre os blocos intercalando-se em direção distinta, eliminando a existência de junta a prumo,
criando condições para comportamento semelhante (Figura 2.6).
Figura 2.6 – Espalhamento do carregamento em paredes
(RAMALHO, 2003)
Em paredes com abertura, mesmo sendo considerada como uma seqüência de
paredes independentes, devido a sua interrupção, existe a presença das forças de interação
entre os diferentes elementos. O espalhamento e uniformização de cargas apresenta o aspecto
da Figura 2.7.
21
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.7 – Interação de paredes em região com abertura
(RAMALHO, 2003)
O procedimento de distribuição das cargas verticais quando bem definido através
da interação entre paredes, produzirá um espalhamento do carregamento, com conseqüente
uniformização das cargas entre as mesmas. Como normalmente as paredes estruturais de uma
edificação estão submetidas à ação de carregamentos diferentes, o procedimento de
uniformização das cargas verticais ao longo da edificação produzirá uma redução das
resistências dos blocos a serem especificados ou uma redução significativa da segurança da
edificação caso não ocorra na prática a considerada uniformização (RAMALHO, 2003).
Para a distribuição das cargas nas paredes de um pavimento, deve-se considerar o
processo construtivo a ser utilizado. Soluções construtivas bem definidas, nos cantos e
bordos, contribuirão para a existência de forças de interação elevadas com conseqüente
uniformização das cargas verticais, também elevadas. As principais soluções construtivas são:
amarração das paredes sem juntas a prumo, execução de cintas sob a laje e à meia altura do
pavimento e laje maciça no pavimento. Nas aberturas a execução de vergas e contra-vergas
produzem um aumento das forças de interação e uniformização do carregamento vertical.
As ações das cargas verticais podem ser distribuídas sobre a parede, considerando-
a como elemento independente sem interação com as demais (paredes isoladas). É
considerado um procedimento simples e rápido de ser executado e bastante seguro já que na
falta de uniformização se considera a resistência mais elevada para os blocos. Atuam também
como grupo de paredes supostamente solidárias (grupo isolado de paredes), normalmente
limitados por aberturas (portas e janelas). As cargas são consideradas totalmente
uniformizadas em cada grupo de paredes, garantindo espalhamento e uniformização das
22
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
forças de interação em cantos e bordas para uma pequena altura. Os grupos isolados de
paredes quando interagem entre si produzem a existência de interação também sobre as
aberturas (grupo de paredes com interação). É um procedimento bem mais trabalhoso que os
anteriores, mas sendo trabalhado com programas de planilhas eletrônicas com a utilização de
computadores se obtém tensões médias menores.
A uniformização das cargas também pode ser efetuada através da compatibilização
dos deslocamentos ao nível de cada nó. É um procedimento onde se procura modelar a
estrutura discretizada com elemento de membrana ou placa, colocando-se os carregamentos
ao nível de cada pavimento, conhecido como modelagem tridimensional em elementos finitos
(Figura 2.8). Seus resultados, porém, apresentam alguns inconvenientes: definição de
elementos que possam representar o material alvenaria e dificuldade na montagem de dados e
na interpretação de resultados. Sua utilização ainda não é considerada viável para projetos
usuais, havendo necessidade de pesquisas adicionais, inclusive com o desenvolvimento de
elementos especiais para a simulação da alvenaria (RAMALHO, 2003).
Figura 2.8 – Modelagem tridimensional em elementos finitos
(BARRETO, 2002)
Ações consideradas também importantes são as denominadas de dano acidental.
São aquelas que mesmo não atuando diretamente no conjunto considerado para o projeto de
um edifício, produzem efeitos importantes na estrutura. São as ações devidas as explosões e
23
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
impactos. Sua importância tornou-se evidente a partir de um acidente, com colapso
progressivo, ocorrido em 1968 na Inglaterra, onde a explosão de um botijão de gás no 18º
pavimento no edifício Ronan Point, com 23 pavimentos produziu o colapso acima do nível
acidentado, conduzindo à ruína todo um canto da edificação. A prevenção da ocorrência do
colapso progressivo se consegue com a minimização da possibilidade da ocorrência do dano
acidental (RAMALHO, 2003).
As cargas atuantes nos elementos de uma alvenaria portante, definidas pela
Norma NBR 6120 (1980), dependem do tipo e da utilização do edifício. Nas edificações de
uso residencial as ações atuantes são as provenientes das lajes e o peso próprio das paredes,
nas de uso industrial há o acréscimo das oriundas de equipamentos, normalmente apoiadas
sobre pontes rolantes, todas atuando verticalmente.
As ações das lajes são transmitidas às paredes portantes que lhes servem de apoio.
Origina-se de cargas permanentes (peso próprio, contra-piso, revestimento ou piso, paredes
não estruturais) e variáveis (móveis, equipamentos).
As ações das paredes são provenientes do seu peso próprio e definida pela
expressão: p = e h, sendo:
p: peso próprio, por unidade de comprimento, da alvenaria;
: peso específico da alvenaria (tipo de bloco);
e: espessura da parede (bloco + revestimento);
h: altura da parede;
O peso especifico da alvenaria depende do material utilizado na confecção da
unidade (Tabela 2.1).
Tabela 2.1 – Peso especifico da alvenaria (NBR 6120, 1980)
Tipo de alvenaria Peso específico KN/m3
Blocos cerâmicos 12Blocos vazados de concretos 14Blocos vazados de concretos preenchidos com graute 24
24
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Horizontalmente, as edificações estão sujeitas às ações provenientes do vento e de
situações de desaprumo da edificação, decorrentes de falhas na execução ou efeitos de
recalques. O vento atua sobre as paredes que são normais à sua direção, que as transmitem as
lajes dos pavimentos consideradas como diafragmas rígidos, distribuindo para os painéis de
contraventamento, de acordo com a rigidez de cada um (Figura 2.9). A Norma NBR 6123
(1988), define os valores da ação do vento atuante nas edificações.
Figura 2.9 – Ação e distribuição do vento
(DUARTE, 1999)
A ação do desaprumo, aplicada no nível de determinado pavimento, é obtida
tomando o peso total do pavimento considerado multiplicando-se pelo ângulo formado entre o
eixo da estrutura e o desaprumo medido em radianos (DUARTE, 1999).
Outra ação horizontalmente considerada é a proveniente de sismos. Sua ação é
definida por normas específicas e válidas para regiões sujeitas ao fenômeno.
As cargas horizontais também podem ser distribuídas para melhorar a rigidez dos
painéis de contraventamento. Um procedimento recomendável é a utilização da contribuição
gerada por trechos transversais ligados aos painéis de paredes, conhecidos por “abas ou
flanges” (Figura 2.10) que, quando considerados solidários aos painéis alteram sua rigidez,
principalmente o momento de inércia relativo à flexão. Sua utilização produz um melhor
resultado na determinação da rigidez de cada painel que participa da estrutura de
25
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
contraventamento e aumentam em geral as inércias dos painéis, reduzindo as tensões a serem
obtidas na análise.
Figura 2.10 – Abas ou flanges nos painéis de contraventamento
(NBR 10837, 1989)
A distribuição de ações das cargas para contraventamento considerando paredes
isoladas e paredes com abertura podem ser simétricas em relação à atuação da direção do
vento. Produz no caso uma translação dos pavimentos e assimétricas na mesma situação um
movimento de rotação além da translação.
A capacidade de suporte das diversas ações previstas para atuarem ao longo da
vida útil de uma edificação, garantindo a seu funcionamento conforme sua destinação, é
verificado através das solicitações sofridas nos elementos pelas deformações, tensões,
esforços e deslocamentos. A introdução de um coeficiente de segurança interno γi determina a
segurança de projeto através da análise pelo método das tensões admissíveis, com “a condição
de que as maiores tensões da estrutura não ultrapassem valores admissíveis, estabelecidos de
forma empírica, a partir da divisão de tensões de ruptura ou de escoamento pelo coeficiente
γi”, (RAMALHO, 2003), apresentando-se sob a forma:
S < R / γi,
com
S: máxima tensão atuante
γi: coeficiente de segurança interno
R: tensão de ruptura ou de escoamento do material
26
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
A segurança de uma estrutura também pode ser verificada considerando a idéia de
estado limite, definido como uma estrutura segura quando não atinge tais valores durante sua
vida útil e corresponde a:
- Estado limite último (ELU) - esgotamento da capacidade portante da estrutura e
que pode ser ocasionado pelos fatores: perda da estabilidade do equilíbrio, ruptura, colapso,
deterioração por fadiga ou deformação plástica excessiva.
- Estado limite de serviço (ELS) – determinado pelo excesso de deslocamento,
deformação, danos ou vibrações comprometendo o funcionamento ou estabilidade da
estrutura.
A partir do conceito da alvenaria estrutural, a transmissão de ações através de
tensões de compressão entre os componentes e elementos a resistência à compressão é
considerado o parâmetro mais importante para o funcionamento da alvenaria estrutural. A
resistência dos elementos é determinada a partir da influência dos seus componentes blocos,
argamassa, graute e armaduras. Sua verificação é efetuada através dos procedimentos:
- Resistência de Prismas – elemento formado pela superposição de dois
ou três blocos unidos com argamassa, destinado ao ensaio de
compressão axial (Figura 2.11), com valor e procedimento adotado
pela NBR 10837 (1989), que enfatiza: as tensões admissíveis para a
alvenaria não-armada e armada devem ser baseadas na resistência dos
prismas (fp) tomado aos 28 dias ou na idade na qual a estrutura está
submetida ao carregamento total.
27
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.11 – Prisma com dois blocos
(NBR 8215, 1983)
Através do ensaio do prisma pode-se verificar também sua eficiência, que é
definida como sendo a relação entre as resistências do prisma e dos blocos, representada por:
η = fpar / fb,
sendo
fpar = resistência do prisma e
fb = resistência do bloco
Da mesma forma pode-se verificar a eficiência entre a parede e o prisma. O ensaio
do prisma é regulamentado pela NBR 8215 (1983) – Prisma de blocos vazados de concreto
simples para alvenaria estrutural – preparo e ensaio à compressão.
- Resistência dos componentes – consiste na estimativa da resistência das paredes
através dos componentes considerando a compressão das paredes em função do tipo de
argamassa e da resistência das unidades apresentadas pelas tabelas 2.2 e 2.3 da NBR 10837.
Tabela 2.2 – Resistência da alvenaria – Blocos vazados com altura/largura entre 2,0 e 4,0
(RAMALHO, 2003)
Tabela 2.3 – Resistência da alvenaria baseada na resistência das unidades e da argamassa
(RAMALHO, 2003)
28
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
- Modelos teóricos de ruptura – formulações matemáticas de um modelo de parede
de alvenaria, através de prismas moldados com tijolos e blocos vazados preenchidos com
graute, considerando o comportamento elástico dos componentes tijolos e argamassa.
Submetidos a esforços de compressão axial produzindo tensões de tração nos tijolos
provocado pela deformação excessiva da argamassa (Figura 2.12) e adotando-se as seguintes
hipóteses para a formulação matemática (RAMALHO, 2003).
- Unidades estruturais de tijolos sólidos;
- Relação de Coulomb entre o valor da resistência à tração biaxial e à
resistência à compressão uniaxial, definindo a envoltória de ruptura
do tijolo submetida ao carregamento axial;
- Esforços de tração laterais uniformes na altura da unidade;
- Esforços de tração laterais iguais nas direções x e z;
- Aderência perfeita entre a argamassa e o tijolo.
Figura 2.12 – Estado de tensões atuantes nos tijolos e nas juntas de argamassa
(RAMALHO, 2003)
Prismas de blocos de concreto grauteados, quando submetidos a ensaios de
compressão axial iniciam o processo de ruptura a partir do surgimento de fissuras verticais
nos blocos. Quando a deformação lateral do graute e da argamassa é maior que a do bloco,
29
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
surgem fissuras que aumentam com o carregamento, produzindo uma prematura ruptura
(DRYSDALE, 1994).
Os procedimentos para o dimensionamento de elementos de alvenaria são
normalmente os considerados pela NBR 10837 (1989) – Cálculo de alvenaria estrutural de
blocos de concreto. As recomendações do Americam Concrete Institute (ACI) 530 – Building
Code Requirements for Masonry Structures e da British Standads Institution (BS) 5623 –
Code of practice for use of masonry, são também mencionadas e discutidas buscando
estabelecer comparação e apresentar sugestões para possíveis aprimoramentos a serem
incorporados a NBR10837 (1989) (RAMALHO, 2003).
2.2 Retrospectiva de Soluções estudadas
As manifestações que levaram à ruína por colapso generalizado algumas
edificações executadas com alvenaria estrutural, utilizando caixão perdido como sistema de
fundação, ocorreram entre os anos de 1990 e 2000 em torno de 12 (doze) anos em média após
a sua conclusão. Somente a partir de 2001 as pesquisas foram intensificadas no sentido de se
determinar soluções para combater os problemas. As maiores atenções têm sido direcionadas
para as alvenarias de embasamento, por ser a parte da edificação mais vulnerável e por se
encontrar em permanente contato com o solo, recebendo diretamente a ação da umidade e sais
solúveis do lençol freático.
O comportamento de edificações de alvenaria estrutural está estritamente
relacionado com a escolha da fundação mais adequada. Quando os carregamentos estão
aplicados diretamente sobre vigas baldrame ou sobre alvenarias de embasamento o ponto
crítico é o dimensionamento da estrutura de transição, como distribuir no solo os
carregamentos provenientes dos pavimentos superiores, ou seja, avaliar a forma como os
carregamentos são introduzidos ao longo dos apoios das paredes estruturais (CAMACHO,
2004).
A tendência natural é que as cargas sejam conduzidas para os pontos de maior
rigidez, no caso, os apoios, geralmente pilares nas estruturas de transição e nas fundações e
nas fundações pelos pontos de estacas ou tubulões, ocorrendo segundo a formação do efeito
arco, ligando diretamente à rigidez da viga de apoio. O efeito arco é caracterizado pela
30
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
concentração de esforços na região dos apoios, fazendo com que a suposição inicial de que o
carregamento esteja uniformemente distribuído sobre a parede estrutural não se verifique,
produzindo um aumento de tensões normais de compressão, podendo originar uma ruptura
por esmagamento da alvenaria na região. Sua quantificação dependerá da rigidez dos apoios,
de sua extensão, das distâncias (entre apoios) e dos parâmetros que dependem da
deformabilidade dos materiais envolvidos (CAMACHO, 2004).
A NBR 10837 (1989) determina a capacidade da resistência das paredes estruturais
como função de sua resistência à cargas uniformemente distribuídas, obtidas por ensaios de
prismas, segundo as expressões:
Alvenaria não armada Alvenaria armada
Para se obter uma fundação compatível com o sistema construtivo deve-se
considerar sua tendência de comportamento. Para alvenaria estrutural cuja característica
considera uma distribuição mais uniforme das tensões normais ao longo das paredes
estruturais a solução recomendada é a fundação corrida.
As soluções empregadas adotando fundação corrida têm sido utilizadas com
alvenaria de embasamento assentada sobre cinta corrida de concreto armado na forma de tê
invertido ou sobre bloco calha de concreto tipo trapezoidal. As patologias têm alcançado
maior incidência sobre a alvenaria de embasamento, em alguns casos com a aplicação de
blocos cerâmicos utilizados para a execução de alvenaria de fechamento ou elevação,
tornando-se um forte indicador para pesquisas de laboratórios, visando estabelecer uma
correlação de resistência à compressão axial e de deformações entre blocos, prismas e paredes
de alvenaria estrutural de concreto (CAMACHO, 2004).
CAMACHO (2004) utilizando prismas, executados em tamanho real e em escala
reduzida de 1:4, com três blocos justapostos, num total de doze corpos-de-prova e paredes
construídas de seis painéis com três blocos de largura e cinco fiadas de altura, empregando
uma argamassa industrial usada comercialmente. Com carregamento introduzido de forma
31
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
centrada e deformações medidas por relógios comparadores e de extensômetros elétricos,
obteve correlações entre escalas de resistências e deformações para os blocos, os prismas e as
paredes. Foram utilizados blocos com dimensões de 14 x 19 x 29 cm produzidos
comercialmente, atendendo aos requisitos de qualidade quanto à aparência, uniformidade,
resistência e variabilidade nos ensaios de caracterização, selecionados através de uma
inspeção visual, eliminando unidades deterioradas ou trincas. Os blocos em escala reduzida
possuíam dimensões de 3,5 x 4,75 x 7,25 cm, foram produzidos em laboratórios utilizando o
mesmo traço dos blocos com dimensões reais. Os corpos-de-prova foram ensaiados de acordo
com os procedimentos da NBR 7184 (1982) – Blocos vazados de concreto simples para
alvenaria – determinação da resistência à compressão (Figura 2.13).
Figura 2.13 – Paredinhas em tamanho real e reduzido
(CAMACHO, 2004)
Com os resultados obtidos tornou-se possível manter uma relação de
deformabilidade das unidades em diferentes escalas, observando também uma boa correlação
no comportamento da alvenaria nas duas situações (real e reduzido) para o resultados
fornecidos pelos prismas e paredes, criando condições para o melhor entendimento do
comportamento da alvenaria estrutural de blocos (CAMACHO, 2004).
As alvenarias deverão ser alvo de projeto específico, indicando disposições das
juntas de assentamentos e das amarrações, posição das aberturas de portas e janelas, presença
32
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
de vergas, contravergas, etc., verificando a coordenação entre dimensões das alvenarias e dos
blocos ou tijolos utilizando-se componentes especiais nos encontros entre paredes (Figura
2.14) e argamassas mistas compostas de cimento e cal hidratada. A utilização de argamassa
com cal hidratada devido ao seu poder de retenção de água produzirá menor módulo de
deformação das paredes aumentando seu potencial de acomodar movimentações da estrutura,
como recalques e variações higrotérmicas (THOMAZ, 1998).
Figura 2.14 – Componentes especiais
(THOMAZ, 1998)
Os métodos utilizados para reforçar fundações: sapatas corridas, os tradicionais
alicerces, com embasamentos executados com alvenaria estrutural são empregados em
ampliações ou elementos da edificação que não apresentam desempenho compatível com a
sua função. Os reforços utilizados nos processos de recuperação são na maioria das vezes,
empregados devido às patologias provenientes de recalques decorrentes de alterações das
características de resistência e deformabilidade do solo, que acontece pela utilização de
rebaixamento do lençol freático ou lavagem do terreno, pelo rompimento de tubulações e pela
erosão de solos porosos, pelo risco do atrito negativo, provocado pelo excesso de umidade
puxando a fundação para baixo.
Os reforços de fundação representam uma intervenção no sistema solo-fundação-
estrutura existente, visando modificar seu desempenho (HACHICH, 1998). Esta modificação
torna-se necessária quando as fundações existentes se mostram inadequadas para o suporte
das cargas atuantes ou quando há um aumento do carregamento, além da capacidade de
suporte da estrutura existente produzindo riscos e reduções consideráveis nos coeficientes de
segurança.
33
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
As manifestações podem ser verificadas nos elementos de uma fundação pela
deterioração com perda de resistência dos materiais componentes pela deformação excessiva,
perda de recobrimento da armadura, oxidação das barras de aço, esmagamento, ruptura,
fissuras nas peças de concreto armado, recalque e desaprumos. O reforço dos componentes
de uma fundação torna-se necessário quando os danos provocados nos elementos pelas
manifestações são estruturais, produzindo instabilidade na edificação, podendo levá-la ao
colapso.
Para se executar o reforço de uma fundação é necessário, segundo Hachich
(1998), considerar quatro tipos de serviços:
1 – Reforço permanente: utilizados quando se torna necessário em termos
definitivos, devido ao mau desempenho das fundações originais ou o caso de um aumento de
carregamento aplicado às fundações, devido a ampliações ou modificações na utilização da
edificação;
2 – Reforço provisório: empregado para permitir que sejam efetuados os reforços
permanentes ou para que a fundação possa ser sobrecarregada provisoriamente para atender
uma condição especial;
3 – Substituição da fundação: mais do que um reforço trata-se da substituição de
elementos originalmente existentes por outros, podendo ser de outro material. É um
procedimento que consiste na transferência do carregamento de um nível para outro mais
abaixo, conhecido como “submuração” (Figura 2.15).
34
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.15 – Substituição de Fundação
(HACHICH, 1998)
4 - Escoramentos auxiliares para a execução de reforço. Utilizados para reduzir ou
eliminar provisoriamente o carregamento atuante nas fundações, permitindo a execução dos
trabalhos de reforço ou substituição de elementos da fundação (Figura 2.16).
Figura 2.16 – Escoramento auxiliares
(HACHICH, 1998)
As soluções empregadas são variadas. Dependem das características que envolvem
os componentes, como: tipo de solo, fundação existente, níveis de carregamento, espaço físico
disponível e urgência na execução dos serviços, consistem em substituir elementos de apoio
ou reforçar o material de suporte das fundações. Os sistemas mais empregados são:
- Reparo ou reforço dos materiais: solução aplicada em situação de deterioração
dos elementos da fundação, tais como: agressão ao concreto e corrosão das
armaduras das sapatas isoladas ou corridas da fundação;
- Aumento da área de apoio: situação onde a transferência de carga para o solo
ocorre basicamente, pela superfície horizontal de contato da fundação com o
solo. Constitui-se em uma ampliação da seção em planta da sapata por meio de
“enxerto”, através do chumbamento de ferragens nos elementos existentes, com
35
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
a utilização de resinas colantes, após o apicoamento de suas superfícies e
aplicação de novo concreto com traço especial garantindo forte retração e melhor
ligação entre o concreto antigo e o novo (Figura 2.17).
Figura 2.17 – Reparo ou reforço do material
(HACHICH, 1998)
- Estacas prensadas, também conhecidas como estacas mega: consiste na
introdução de cilindro metálico ou de concreto com comprimento variando de
0,50 a 1,00 m sob a fundação existente, através de acessos escavados
ultrapassando em torno de 1,50 metro a profundidade da fundação original. As
estacas são cravadas com a utilização de macacos hidráulicos, sem provocar
vibrações no solo ou na estrutura, que poderiam aumentar os recalques, apoiados
na base da fundação, aumentando a sua capacidade de carga a cada aplicação. As
estacas de concreto são vazadas e comumente chamadas de tubo, recebem no seu
interior barras de aço e em seguida são concretadas, possibilitando certa
continuidade entre os diversos tubos (Figura 2.18).
36
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.18 – Reforço com estaca prensada – seqüência de execução
(HACHICH, 1998)
37
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
- Estacas injetadas, também conhecidas como estacas-raiz, microestacas e
pressoancoragens: recomendadas para serem utilizadas locais de difícil acesso e
pé-direito baixo. São aplicados com a utilização de água através de
equipamentos de pequeno porte que não produzem vibrações. Algumas situações
exigem a necessidade de se escorar as fundações antes da sua aplicação, podendo
tornar o custo do sistema bastante elevado (Figura 2.19).
Figura 2.19 – Reforço com estaca injetadas
(HACHICH, 1998)
- Melhoria das condições do solo: trata-se de melhorar as características de
resistência e compressibilidade dos solos de apoio das fundações. O tipo mais
utilizado consiste na injeção de calda de cimento no solo, jateada sob altas
pressões aumentando sua resistência e deformabilidade adequado à utilização. O
sistema pode ser aplicado a qualquer tipo de solo, porém é pouco recomendado
para terrenos turfosos, orgânicos ou com grandes vazios, como os existentes em
matacões, por provocar um amolecimento do solo ocasionando um aumento da
intensidade dos recalques e exige a utilização de escoramento em algumas
situações (Figura 2.20).
38
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.20 – Reforço do solo com jateamento
(HACHICH, 1998)
As situações que necessitam da substituição das fundações existentes por outras
com maior capacidades de carga, mesmo por outro tipo de material é um sistema muito
empregado em obras executadas sobre estacas. Outras situações exigem o enrijecimento da
estrutura visando diminuir eventuais recalques diferenciais através da utilização de vigas de
rigidez interligando as fundações e peças travando a estrutura.
2.3 Trabalhos desenvolvidos na USP, UFSC e UFSM
A incidência das manifestações apresentadas nas edificações executadas com
alvenaria estrutural, tornando sua utilização pouco adequada para a sua finalidade, têm sido
objeto de pesquisas experimentais, buscando soluções para a eliminação ou minimização dos
seus efeitos devastadores. Trabalhos experimentais com componentes e elementos utilizados
na execução de alvenarias portantes vêm sendo desenvolvidos em particular no departamento
de engenharia de construção civil da Escola Politécnica e a Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo – USP, da Universidade Federal de Santa Maria e
Universidade Federal de Santa Catarina.
39
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
VILATÓ (1998), em trabalhos desenvolvidos no departamento de Engenharia
Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – EPUSP propõe algumas soluções
e recomendações elaboradas a partir de levantamentos bibliográficos considerando várias
referências nacionais e estrangeiras. Considera que um dos aspectos de grande importância
em edificações de alvenaria estrutural para prevenir problemas patológicos futuros é a
utilização de juntas de movimentação entre elementos da alvenaria ou alvenaria e outros
elementos da estrutura, como por exemplo, o encontro de paredes com a laje de coberta. As
juntas de movimentação têm por função limitar as dimensões do painel de alvenaria no
sentido de impedir elevada concentração de tensões em função das suas deformações
intrínsecas, que podem ter origem em movimentações higroscópicas (capacidade que tem os
materiais de absorver ou liberar água), variações de temperaturas ou reações de expansão por
reações químicas dos materiais das juntas ou dos blocos.
O efeito real do movimento pode variar de acordo com a forma geral do edifício.
Por ser considerado um problema complexo de se resolver, devido à quantidade de fatores
envolvidos: movimento térmico e por variação de umidade, fluência, deformação imposta
entre outras, a magnitude das deformações não pode ser resolvida através de expressões
matemáticas. As diferentes pesquisas se limitam a fazer recomendações práticas sobre onde
localizar as juntas e definir seu espaçamento (Figura 2.21).
A distância entre juntas de movimentação para alvenarias não armada, segundo
recomendações das diversas normas, nunca deve exceder 15,00 metros, para alvenaria de
bloco cerâmico, que pode se expandir 1,00 mm/m durante a vida útil da edificação, devido às
variações de temperatura ou umidade. Para as alvenarias de bloco de concreto, devido à
tendência de retração reversível, a recomendação é a colocação de juntas a cada 6,00 m de
distância, porém considerando a ampla variação nas propriedades físicas dos diferentes
concretos dos componentes, a recomendação pode ser alterada, sem, no entanto exceder o
equivalente a duas vezes sua altura, devido ao risco de um aumento considerável das fissuras.
O princípio básico determina que a deformação longitudinal induzida na parede não seja
maior que sua capacidade de deformação.
40
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.21 – Localização das juntas de movimentação
(VILATÓ, 1998)
As recomendações do American Concrete Institute - ACI, mais gerais nas suas
recomendações, refere-se a localização de juntas apenas nas aberturas, considerando um
espaçamento de até 7,00 m ou três vezes a altura da parede. DRYSDALE (1994),
considerando fatores como: unidade relativa, localização da parede e o conteúdo de umidade
do componente do concreto, recomenda juntas a um intervalo de 6,60 m para paredes
interiores e 5,40 m para paredes exteriores. Para alvenaria com bloco cerâmico, em função do
seu coeficiente de expansão térmica ser menor do que o concreto a distância entre juntas pode
chegar até 9,00 m. Trabalhos desenvolvidos na EPUSP através de convênios com empresas de
construção civil estabeleceram critérios no sentido de se definir a posição das juntas. Para o
processo construtivo com alvenaria cerâmica a recomendação foi de 12,00 m os espaçamentos
entre as juntas, podendo ser reduzido para 9,00 m dependendo das condições climáticas e do
tipo de argamassa empregada. Tratando especificamente as alvenarias de vedação os
espaçamentos definidos foram de 12,00 m para as alvenarias sem aberturas e de 9,00 m paras
as com aberturas, com a utilização de blocos de concreto. Para as alvenarias com blocos
cerâmicos o recomendado foi de 14,00 m para as paredes sem aberturas e de 10,50 m para as
com aberturas. A diversidade de critérios associados à definição do espaçamento entre juntas,
mesmo considerando que os valores especificados são relativamente pequenos, o não
41
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
preenchimento das juntas verticais entre componentes deverá ser avaliado como solução de
projeto procurando a melhor contribuição para as deformações internas do painel de alvenaria,
adotando-se inclusive espaços entre juntas maiores desde que se possa avaliar o
comprometimento da capacidade resistente e desempenho da parede (VILATÓ, 1998).
As juntas de movimentação necessariamente deverão ter uma folga entre os
elementos e em algumas situações garantir sua estanqueidade, geralmente com a utilização de
produtos industriais a base de resinas e compostos químicos, que garantam os possíveis
movimentos de retração e expansão sem produzir esforços adicionais nos elementos. Os
materiais empregados apresentam diferentes propriedades em relação a sua capacidade de
deformação, nível de viscosidade, variações de temperatura a que podem ser expostos,
durabilidade, velocidade de cura, resistência ao intemperismo e capacidade de aderência.
Para a situação de junta de movimentação entre o encontro de paredes com lajes de
cobertura onde o processo de fissuração ocorre por diversos fatores: diferença entre os
módulos de elasticidade e coeficiente de dilatação térmica dos materiais que compõem a laje e
as paredes; e a vinculação que as paredes impõem à movimentação da laje (RAMALHO,
1997), recomenda-se três tipos de soluções (Figura 2.22):
- A disposição de juntas de dilatação na laje para reduzir o valor da tensão de
cisalhamento na parede;
- A colocação de papel betumado na superfície em que a laje se apóia sobre a
parede, para reduzir significativamente o coeficiente de atrito entre laje e parede;
- A utilização de aparelhos de apoio de borracha extrudada que buscam
permitir o livre deslocamento relativo entre os dois elementos para
desvincular a laje e a parede na direção longitudinal.
42
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.22 – Juntas de movimentação: encontro parede-laje de cobertura
(VILATÓ, 1998)
Para cada situação existem várias soluções possíveis para a especificação de
juntas; a solução dada às juntas da estrutura é fundamental tanto para garantir a capacidade
resistente da estrutura como para a racionalização da execução, considerando as
características do processo construtivo e que as recomendações de normas estrangeiras levam
à definição de várias juntas num prédio em alvenaria estrutural, considerando a necessidade
da realização de pesquisas em função das características dos materiais e das condições
próprias da região (VILATÓ, 1998).
MEDEIROS (1999) através de estudo experimental, propõe parâmetros e detalhes
construtivos a serem considerados no projeto de alvenarias e estruturas no sentido de se
combater o surgimento de fissuras. Através de realização de ensaios de paredes em escala
natural e a utilização de telas metálicas eletrosodadas, para se determinar o desempenho das
ancoragens na ligação de paredes e pilares de concreto armado.
O objetivo principal do estudo foi criar condições de se combater o surgimento de
fissuras e trincas nas alvenarias, principalmente as de vedação. A idéia foi definir no projeto
inicial da edificação, a adoção de reforços metálicos capazes de suportar as tensões atuantes
nas regiões mais solicitadas ou juntas de controle permitindo sua dissipação (MEDEIROS,
1999). Os reforços metálicos utilizados, também chamados dispositivos de ancoragem de
alvenaria são classificados (BEALL, 1987) de acordo com o seu uso em:
- Parede-estrutura (anchor): para ligação entre parede de vedação e um elemento
da estrutura de concreto;
43
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
- Parede-parede (ties): para unir alvenarias duplas (com cavidade internas) ou duas
ou mais paredes contíguas;
- Componente-parede (tasteners): para unir outros componentes da construção
(guarnição de portas, revestimentos, etc.) à alvenaria.
Observações de BEALL (1987) indicam que as ancoragens construídas com tela
resistem melhor a tração do que ao cisalhamento devendo ser consideradas conectores
flexíveis. Sua tecnologia de aplicação ainda não está consolidada, faltando normas que
definam as especificações de uso e técnicas construtivas adequadas. A durabilidade das
ancoragens e reforços empregados em alvenarias dependem da resistência dos materiais em
relação à corrosão, que acontecendo pode comprometera segurança do conjunto.
Inicialmente, MEDEIROS (1999) estudou experimentalmente o uso e desempenho
das telas soldadas como componentes de ligação no sentido de impedir o surgimento de
fissuras nas ligações entre parede e pilar, a partir de três conjuntos de variáveis identificadas
como: tipo de ancoragem; comprimento e espaçamento da ancoragem; tipo de fixação. Foram
efetuados ensaios com a utilização de corpo-de-prova de tamanho natural, moldados com
blocos cerâmicos, dos tipos utilizados para vedação com dimensões nominais de 250 x 250
mm e a utilização de argamassa industrializada com resistência a compressão de 5,20 MPa.
Foram utilizados dois tipos distintos de ensaios: arrancamento à tração e de cisalhamento em
paredinhas de alvenarias, considerando-se também a capacidade de absorção inicial e total dos
blocos (sucção) e aderência e resistência à compressão da paredinha buscando caracterizar o
conjunto bloco-argamassa, a partir de prismas executados com três blocos submetidos a
flexão após cura ao ar livre durante quatorze dias, obtendo-se o valor médio de 0,12 MPa e de
0,47 MPa para as paredinhas executadas com três fiadas de altura e três de largura.
Foram empregados três tipos de tela metálica com malha 15 x 15 mm e fio com
1,5 mm de diâmetro, malha de 25 x 25 mm e fio com 2,1 mm e malha 15 x15 mm com fio
1,65 mm, todas fabricadas com arame galvanizados por processo de zincagem à fogo com
camada de zinco em torno de 60 g/m2, com resistência à tração média de 500 MPa,
alongamento mínimo na ruptura de 12%, empregando-se para dispositivo cantoneiras, pinos
e arruelas de aço. Tendo como objetivo principal de se analisar o desempenho dos
dispositivos de ancoragem confeccionados de formas diversas (MEDEIROS, 1999),
possibilitando consubstanciar tecnicamente critérios e recomendações para o seu uso.
44
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Os ensaios de arrancamento através de tração direta dos dispositivos de ancoragem
foram realizados de três modos distintos e apresentando os seguintes resultados (MEDEIROS,
1999):
1 Arrancamento direto do dispositivo fixado ao elemento de concreto armado:
indicam a necessidade de existir barras ou fios transversais à junta horizontal
de argamassa para ancorar a armadura, resistindo ao seu escorregamento de
dentro na argamassa que é combatido pela aderência dos fios com a argamassa
e pelo travamento mecânico proporcionado pelos arames transversais da junta
horizontal;
2 Arrancamento do dispositivo da junta de argamassa de prisma de alvenaria:
considerando um comprimento de ancoragem total de 25 cm para os
dispositivos usados observou-se resultado semelhante para a utilização de tela
metálica e ferro cabelo dobrado. Quando utilizado o ferro sem dobra há perda
de aderência da junta de argamassa, provocando a ruptura do conjunto;
3 Arrancamento do dispositivo fixado ao elemento de concreto armado e a junta
de argamassa de prismas de alvenarias (Figura 2.23): os resultados apontaram
uma tendência de melhor ancoragem para a resistência de arrancamento de
telas nos prismas de blocos assentados com as faces alternadas. Quando
executada adequadamente, a dobra da tela de maior comprimento mostra-se
ser capaz de distribuir melhor as tensões pela junta de argamassa, como ocorre
também com as telas de maior comprimento de ancoragem nas juntas
horizontais.
45
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2. 23 – Corpos-de-prova para ensaio de arrancamento do
dispositivo concreto /argamassa de prismas de alvenaria
(MEDEIROS, 1999)
Para tornar possível a obtenção de critérios e parâmetros necessários para subsidiar
o projeto de alvenaria, os estudos experimentais foram executados a partir de ensaios de
ligação parede-pilar em escala natural. As paredes foram construídas sobre elementos de
concreto armado pré-moldado, posicionadas sobre viga metálica engastada em um pórtico
também metálico de elevada rigidez (Figura 2.24). O ensaio consistia na medida do
carregamento aplicado axialmente à parede e na sua correlação com o surgimento e
propagação de fissuras visíveis na interface, considerando duas leituras de deformação para
determinar o surgimento e propagação da abertura da fissura.
Figura 2.24 – Corpos-de-prova para ensaio de ligação
parede-pilar em escala natural do
(MEDEIROS, 1999)
46
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Os ensaios efetuados a partir das paredes com e sem a utilização de telas soldadas,
admitindo-se que as fissuras visíveis que atravessam completamente o revestimento de
argamassa com 20 mm de espessura tenham 1,00 mm, no terço médio superior da altura,
verifica-se ser necessário à aplicação de uma carga equivalente a 1800 kgf para a interface
com tela é três vezes maior que a parede sem tela, equivalente a 600 kgf (Figura 2.25).
Figura 2.25 – Gráfico Carga x Deformação do comportamento
da parede-pilar em escala natural sem e com tela
(MEDEIROS, 1999)
A partir dos resultados obtidos e das observações do comportamento das técnicas e
dispositivos empregados na ancoragem das paredes, MEDEIROS (1999) apresenta às
conclusões:
- A aderência e a resistência da argamassa são fatores que produzem grande
influência no funcionamento e desempenho do sistema;
- A aplicação de carga de compressão transmite considerável influência à
resistência ao arrancamento dos dispositivos de ancoragem e deve ser levada em
47
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
consideração já que carregamentos mínimos são suficientes para alterar
substancialmente os resultados;
- O correto preenchimento da junta horizontal com argamassa e o posicionamento
centralizado da tela produzem ganhos de eficiência, podendo chegar a 100% de
melhoria da resistência ao arrancamento;
- Na junta vertical formada entre pilar e parede o adequado preenchimento produz
um importante desempenho na ligação, visto que a aderência representa parcela
fundamental da capacidade do conjunto em resistir ao surgimento de fissuras na
interface;
- A tela metálica ao distribuir a seção resistente do esforço ao longo da seção da
junta e do seu comprimento de ancoragem, contribui diretamente para melhorar
a eficiência da ancoragem do conjunto.
Também através de estudos experimentais relacionando a recuperação estrutural
de construção com alvenaria portantes com o emprego de argamassa armada, obtém-se um
aumento da resistência, ductilidade e durabilidade das estruturas recuperadas. O reforço
estrutural em alvenaria com a utilização de argamassa armada consiste na utilização de
revestimentos resistentes para estudar seu comportamento no conjunto (alvenaria e
revestimento), desenvolvendo métodos de analise teórica e experimental, considerando as
paredes de alvenaria com e sem revestimento (OLIVEIRA, 2001).
A metodologia para a verificação dos resultados, orientada por OLIVEIRA (2001),
constou da análise experimental, com a realização de ensaios físicos de paredes de alvenaria
submetidas a diferentes tensões e da análise teórica através da aplicação de procedimentos
analíticos e numéricos para constatar a distribuição de tensões e ordem de grandeza dos
esforços nas alvenarias quando submetidas a solicitações. A análise experimental foi efetuada
através de ensaios de compressão axial conforme determina a NBR 8949 – Paredes de
alvenarias estrutural: ensaio à compressão simples, a NBR 7186 – Bloco vazado de concreto
simples para alvenaria com função estrutural e a NBR 8215 – Prisma de blocos de concreto
para alvenaria estrutural: preparo e ensaio à compressão, em paredes sem revestimento,
parede não danificada revestida com argamassa armada e parede danificada e recuperada com
48
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
revestimento de argamassa armada, confeccionadas com blocos vazados de concreto com
dimensões nominais de 40 x 20 x 14 cm, com a utilização de argamassa mista de cimento, cal
e areia e resistência nominal de 4,5 MPa. O revestimento resistente de argamassa de cimento,
areia grossa e areia fina com traço 1:1,5:1,5 e espessura de 1,5 cm foi aplicado manualmente,
sobre tela soldada de fios 2,77 mm de Aço – 60B, espaçados de 50 mm e posicionada junta
às faces da parede fixada por meio de arame recozido passados por furos efetuados nos
blocos.
Os corpos-de-prova foram moldados a partir de modelos com 120 x 260 cm e
ensaiados aplicando cargas axial através de macacos hidráulicos espaçados com capacidade
individual de compressão de 250 KN (Figura 2.26). Os resultados obtidos mostraram que a
utilização de argamassa para a recuperação de alvenarias danificadas produz um aumento de
resistência à compressão e aumento de rigidez da parede.
Figura 2.26 – Esquema para ensaio de compressão simples
(NBR 8949, 1985)
Foram ensaiados também corpos-de-prova por compressão diagonal em modelos
com as dimensões de 79 x 79 cm, utilizando-se procedimentos baseados na ASTM 519 (1993)
Standard test method for diagonal tension (shear) in masonry assemblages, com algumas
49
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
adaptações para melhorar a distribuição do carregamento, apresentando como resultado para
as paredes revestidas com tela soldadas uma disseminação das fissuras bem maior do que as
paredes revestidas com argamassa simples como também um aumento de resistência das
paredes.
O grupo, efetuados em paredes com as dimensões de 80 x 160 cm revestidas com a
utilização de telas soldadas, foi ensaiado por flexão, conforme o que determina a NBR 14322
– Paredes de alvenaria estrutural – Verificação da resistência à flexão ou à flexo-compressão.
Os ensaios foram realizados através da aplicação de carregamento colocado nos terços do vão
dos apoios objetivando forçar a ruptura por cisalhamento para verificar o eventual
escorregamento das placas de revestimento. Como resultado, constatou-se a existência de uma
boa aderência entre revestimento e substrato, para o nível de tensão de cisalhamento testado,
comportamento semelhante para tipos de revestimentos diferentes verificado pelo gráfico
força x deslocamento.
O revestimento das paredes, de modo geral, aumenta a sua capacidade resistente e
a sua rigidez, podendo, em determinadas condições, melhorar a sua ductilidade, sanar diversas
situações patológicas e a utilização de métodos numéricos, mesmo simplificados, podem
fornecer dados importantes para o projeto da reabilitação.
A partir de extenso estudo bibliográfico e experimental, PARSEKIAN (2002),
analisando diferentes tópicos, incluindo materiais e equipamentos mais utilizados, critérios
para o dimensionamento e detalhes construtivos, propõe recomendações para o projeto e
execução de alvenaria estrutural protendida. Fissuras, provenientes de recalques intensos da
fundação podem ser recuperadas com a utilização de armaduras atirantadas introduzidas na
alvenaria através da tecnologia de protensão de alvenarias.
A alvenaria estrutural protendida foi mais desenvolvida no Reino Unido, já
fazendo parte do código de normas desde 1985 e indicações de seu uso a partir dos anos finais
da década de 50 do século passado (PARSEKIAN, 2002). Na Austrália e Estados Unidos a
tecnologia de protensão de alvenaria já possui norma própria, mesmo sendo mais recente a
sua utilização. Seu uso é viável quando se tem parede sujeita a esforços laterais (ação
predominante do vento), muros de arrimo, reservatórios de água, silos, colunas para
50
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
sustentação de grandes áreas de telhado (galpões industriais), paredes sujeitas a impactos
acidentais, principalmente.
As recomendações partem através de ensaios efetuados em paredes protendidas em
balanço com 1,80 e 3,00 metros de altura, sujeitas a esforços laterais, em prismas com idades
variando de 3 a 28 dias, em paredinhas com deformação por retração e fluência monitoradas,
avaliadas a correlação entre torque e força quando utilizado torquímetro para protensão e
avaliados detalhes de protensão contra corrosão da barra e da emenda. A protensão da
alvenaria é executada usualmente com barras de aço com rosca em todo seu comprimento
para a utilização de luvas metálicas nas suas emendas.
Os blocos utilizados são os mesmos disponíveis no mercado para alvenaria
comum, possuindo resistências de 4,50 a 20 MPA, que atende plenamente a resistência
necessária para os esforços, variáveis de acordo com as solicitações e a forma de construção
da parede. Para seu assentamento é utilizada argamassa de elevada resistência à compressão e
de aderência. É recomendado a utilização de argamassa mista de cimento, cal e areia com
traço 1:0,5:4,5 (cimento: cal: areia, em volume).
O dimensionamento é efetuado considerando as hipóteses: ausência de tensão de
tração na alvenaria, as seções planas permanecem planas e as tensões se distribuem
linearmente na seção. Recomendações encontradas em todas as normas internacionais
pesquisadas, exceto na norma norte-americana, por considerar pequeno o aumento na força de
protensão devido à baixa resistência à tração da alvenaria e verificadas através dos ensaios
realizados. O cálculo da força de protensão é efetuado pelo método dos estados limites,
considerando os coeficientes de ponderação definidos na NBR 6118 (2000) e para a alvenaria
o método das tensões admissíveis de acordo às especificações da NBR 10837 (1989).
Técnicas utilizadas para a recuperação de paredes antigas de alvenaria também
poderão ser empregadas nas atuais alvenarias. Intervenções em estruturas antigas procuram
além de viabilizar sua segurança, respeitar a identidade cultural e o valor histórico das
construções (ROQUE, 2003). São intervenções de risco e perturbadoras do seu equilíbrio. As
técnicas empregadas podem diferenciar-se conforme as características dos materiais em
tradicionais ou inovadoras, considerando três caracteres fundamentais:
- Compatibilidade: as técnicas e os materiais são empregados procurando manter as
51
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
características, de rigidez da construção e do seu fundamento estrutural, além de
evitar o surgimento de novas patologias;
- Durabilidade: os materiais utilizados sejam compatíveis com a necessidade de
preservação das estruturas antigas, principalmente as históricas;
- Reversibilidade: os materiais empregados possam ser removidos no caso de se
tornarem inadequados na intervenção.
As técnicas mais utilizadas (ROQUE E LOURENÇO, 2003) são normalmente
associadas a soluções com injeções, pregagem, re-fechamento das juntas, desmonte e
reconstrução e encamisamentos.
As injeções são soluções de reforço “passiva” e irreversível que procuram
preservar o aspecto original exterior das paredes. São freqüentemente utilizadas em edifícios
de grande valor artístico ou arquitetônico e particularmente os executados em alvenaria de
pedra devido a existência de uma fina rede de vazios interiores, comunicantes entre si que
permite a emissão de uma calda fluída (cimentícia, hidráulica ou resinas orgânicas) para
preencher seus vazios interiores por cavidades previamente efetuadas e convenientemente
distribuídos. A dimensão das fendas determina a granulometria da calda a ser utilizada,
podendo variar de ligantes com água sem areia argamassa ou concreto com consistência fluída
(Figura 2.27).
Figura 2.27 – Injeção nos vazios de alvenarias
(ROQUE E LOURENÇO, 2003)
52
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
As características e tipos de manifestações das alvenarias determinam as
características da calda e o processo a ser utilizado. Podendo ser:
- Injeção sob pressão – para alvenarias degradadas, mas que possuam capacidade
para conter o impulso da pressão aplicada. A calda é injetada de baixo para cima
através de tubos de adução e dos extremos em direção ao centro, para evitar
desequilíbrios que possam afetar a estabilidade estrutural;
- Injeção por gravidade – para alvenarias bastante degradadas, injetadas através de
tubos de adução por tubos inseridos nas fissuras, ou cavidades das paredes por
seringas hipodérmicas atuando sobre tubos distribuídos na parede.
A pregagem consiste na utilização de ferragem para reforçar ou efetuar a ligação
entre elementos. Foi desenvolvida na Itália após a II Guerra Mundial, para reforçar e reabilitar
estruturas antigas de alvenarias. São utilizadas barras metálicas, com proteção anticorrosão,
com pequenos furos previamente abertos e colocadas cruzando os elementos a serem
reforçados e em seguida selados com caldas de injeção apropriadas. Para o reforço da
alvenaria são aplicadas pregagens generalizadas e transversais, para as ligações estruturais as
pregagens costuras e para melhorar a integridade global da estrutura as pregagens longas.
As pregagens generalizadas modificam o conjunto alterando suas propriedades,
tornando o material semelhante ao concreto armado, melhorando sua resistência à compressão
e sua capacidade de suporte aos esforços de tração e corte. É bastante utilizada para o reforço
de alvenarias ou elementos com espessura de 0,50 m a 2,00 m, contudo por se tratar de uma
solução associada são consideradas relativamente evasivas, de elevado custo e com resultado
práticos e durabilidade discutível (ROQUE E LOURENÇO, 2003).
As pregagens transversais são utilizadas para o confinamento transversal de
paredes de seção composta através da instalação de barras de aço anticorrosão com
dispositivo de ancoragem nas suas extremidades para facilitar sua amarração, podendo-se
aplicar um pré-reforço quando roscadas. Podem ser utilizadas combinadas com outras
técnicas de intervenção por ser uma solução prática e eficaz no controle da dilatação
transversal das paredes.
53
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
As pregagens da costura destinam-se a melhorar as ligações entre paredes
ortogonais e de cantos (Figura 2.28) com a utilização de tirantes curtos de aço duro, com
proteção anticorrosão. Atualmente são utilizadas barras de aço inoxidável através de bainhas
de algodão que abrigam a argamassa de selagem preenchendo as irregularidades dos furos e
impedindo o escoamento da calda para fora das fissuras. São também utilizadas como
pregagens longas para melhorar as ligações entre paredes paralelas tentando reduzir a
possibilidade de movimentos horizontais relativos entre si, porem é pouco recomendável para
paredes com espessura inferior a 50 cm.
a) Paredes ortogonais b) Paredes de canto
Figura 2.28 – Pregagens costura
(ROQUE E LOURENÇO, 2003)
As soluções por re-fechamento das juntas são utilizadas objetivando o
restabelecimento da integridade e proteção das fachadas através da substituição da argamassa
das juntas degradadas. As argamassas são parcialmente removidas, as juntas abertas, limpas e
após lavagem com água a baixa pressão são recompostas (Figura 2.29) individualmente em
cada face para não comprometer a estabilidade da parede. É uma solução também empregada
com a utilização de pregagens transversais, com a disposição de armaduras nas juntas,
melhorando o comportamento das estruturas, aumentando a sua resistência mesmo em
situações de elevados estados de compressão (ROQUE E LOURENÇO, 2003).
54
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
Figura 2.29 – Refechamento das juntas
(ROQUE E LOURENÇO, 2003)
Havendo a possibilidade da substituição de partes ou todos os elementos a
recuperação é efetuada através da ação de desmonte e reconstrução. É um processo que apesar
de trabalhoso torna-se muito eficaz melhorando a capacidade mecânica das alvenarias. Sua
operação requer a necessidade de escoramento aliviando temporariamente ações sobre os
elementos em reconstrução.
Para as intervenções de reabilitação das fundações o encamisamento com concreto
armado, procedimento semelhante aos revestimentos armados, porém com espessuras em
torno de 10 centímetros, é utilizado por apresentar bom desempenho mecânico. Sua
utilização, combinada com outro tipo de intervenção ou isoladamente é aplicada em situações
de alterações das condições da estrutura devido ao aumento de carga nas fundações,
ocorrências de recalques diferenciais ou de degradações ou insuficiência das fundações
existentes. Atuam sobre três tipos de situações: sobre o terreno da fundação, sobre as
fundações ou como medidas corretivas como a criação de juntas estruturais, redução de
cargas, redução ou ampliação ou ainda confinamento da estrutura, e são classificadas em
recalçamentos superficiais e profundos.
Para as estruturas de alvenarias vulneráveis a movimentos associados a
descompressões ou recalques diferenciais, as operações de recalcamento superficiais (Figura
2.30) são executadas para viabilizar sua segurança reduzindo eventuais situações de risco. São
executadas a partir de aberturas de poços laterais intercalados e previamente escorados,
55
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
contemplando: aumento da área de contato solo-fundação, rebaixamento das cotas de
fundação, reforço dos solos subjacentes e consolidação do material de fundação (ROQUE E
LOURENÇO, 2003).
a) Aumento da área
b) Rebaixamento
Figura 2.30 – Recalçamentos superficiais.
Os recalcamentos profundos são utilizados para situações de: insuficiente
capacidade resistente do solo de fundação superficial; dificuldade de execução de
recalçamentos superficiais; execução de ampliações sob a estrutura existente; realização de
obras nas proximidades e substituição ou reforço de estacas de madeira. Podem ser aplicados
sobre fundações diretas ou indiretas. Usualmente se utilizam microestacas cruzando as
fundações originais ou estacas de concreto armado cravadas através de poços subjacentes e
colocadas com o auxílio de macacos hidráulicos.
56
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
2.4 Indicações de estudos para a Região Metropolitana do Recife
A quantidade de edificações existentes na Região Metropolitana do Recife (RMR),
construídas utilizando a alvenaria estrutural como sistema, apresentando patologias
consideradas de risco para a sua utilização é bastante elevada. A ocorrência de colapso
também é bastante elevada (1/500) considerando as recomendações internacionais
(1/100.000). As edificações com presença de acentuadas manifestações patológicas e as que
sofreram colapsos nas suas estruturas apresentavam uma característica marcante quanto a sua
localização;
Manifestações patológicas:
Conjunto Residencial, Recife: limitando-se ao fundo, parte posterior, com um
canal (vala de drenagem) que recebe as águas pluviais.
Colapsos:
Caso 1 – Edifício Aquarela, Jaboatão dos Guararapes: área alagada pela incidência
de águas pluviais;
Caso 2 – Edifício Éricka, Olinda: região situada entre os canais do matadouro e rio
Morto;
Caso 3 – Edifício Enseada de Serrambí, Olinda: próximo à margem esquerda do
canal denominado de rio Morto;
Caso 4 – Edifício Ijuí, Jaboatão dos Guararapes: uma declividade no terreno no
sentido da parte posterior da edificação, contribuindo para uma
concentração de água junto à parede de embasamento;
A presença da água nas regiões das edificações que sofreram colapso e acentuadas
manifestações, agindo através do carreamento de materiais de suporte das fundações, pela
ação da expansão por umidade (EPU), corrosão das armaduras, lixiviação dos materiais, perda
de resistência e elasticidade dos componentes das alvenarias de embasamento, se constitui um
indicador marcante para a identificação das causas do seu surgimento e definição do tipo de
solução a ser adotada para o reforço ou recuperação das fundações de edificações que se
tornaram inadequadas à sua utilização.
57
Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica
As manifestações críticas que ocasionaram a ruína das estruturas das edificações
atingiram com maior incidência as alvenarias de embasamento, provocando seu colapso
generalizado. Algumas alvenarias de elevação, estruturais no caso, apenas sofreram incidência
das manifestações após o colapso, indicando que provavelmente nada sofreriam em situação
de um adequado funcionamento dos elementos das fundações, principalmente as alvenarias de
embasamento. Outro aspecto considerado relevante é o fato de as alvenarias externas do
embasamento sofrerem um carregamento lateral, proveniente do aterro externo e a outra face
livre, sem revestimento, recebendo diretamente à ação da água e sais solúveis enquanto que as
internas, com as duas faces sem revestimento e recebendo à ação da água (nas duas faces). As
alvenarias de elevação, considerando os materiais utilizados e as condições de execução da
edificação apresentam-se estáveis, portanto é viável a sua utilização para a execução de
alvenaria estrutural, confirmada através de estudos que indicam ser as propriedades elásticas
dos blocos e das argamassas fortemente variáveis, contribuindo assim para variabilidade de
resultados obtidos experimentalmente nos ensaios (BARRETO, 2002).
A maioria dos casos estudados apresentou deficiências nas suas alvenarias de
embasamento de bloco cerâmico ou concreto, atingidas principalmente pela expansão por
umidade (EPU) dos blocos cerâmicos e por desagregação nos blocos de concreto. O reforço
ou recuperação das edificações executadas com o sistema alvenaria estrutural deverá
inicialmente contemplar seus embasamentos, seguindo-se as patologias incidências,
principalmente as fissuras.
O processo de reforço ou substituição das alvenarias deverá ser precedido por
execução de escoramento que possibilite a eliminação temporária do carregamento atuante
nas paredes danificadas. O excesso de umidade deverá ser eliminado e o “caixão perdido”
aterrado com material fino (areia) em camadas compactadas e as lajotas que formam o piso da
primeira laje substituída por concreto formando uma laje de impermeabilização em todo o
pavimento térreo.
O procedimento de correção, após a identificação das manifestações patológicas,
deverá considerar alguns fatores para a sua efetivação: eficiência da intervenção; segurança;
materiais; equipamentos; custo e condições específicas da obra, temperatura, prazos,
agressividade do ambiente durante e após a execução (HELENE, 1988).
58
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
CAPITULO 3 - MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS E ACIDENTES
As construções antigas executadas utilizando a alvenaria como suporte tiveram
inicialmente suas estruturas concebidas intuitivamente e dimensionadas de forma empírica,
baseadas em erros e acertos, que produziram paredes com espessuras variando entre 0,30 e
1,30 metros. Eram pesadas, espessas e rígidas constituídas a partir da associação de unidades
(pedras, blocos e tijolos) e ligantes (as atuais argamassas) com propriedades mecânicas
intrínsecas capazes de construir elementos estruturais (ROQUE, 2003). As pedras utilizadas
nas alvenarias apresentavam irregularidades geométricas e falta de homogeneidade,
produzindo a presença de vazios internos e os tijolos fabricados com a utilização de material
argiloso, normalmente na forma de paralelepípedos, cozidos ao sol (adobe) ou em fornos de
lenhas, formavam paredes mais regulares e homogêneas.
As intensas pesquisas realizadas tornaram as paredes menos espessas e rígidas,
com o uso de materiais mais baratos, mais resistentes, mais duráveis e o mais leve possível,
apresentando baixa massa específica aparente: materiais vazados (blocos de concreto,
cerâmico, ou sílico-calcário) e proporcionaram o desempenho de outras funções como:
isolamento térmico-acústico e proteção contra-incêndio. Surgiram também com maior
freqüência problemas construtivos e de funcionamento que comprometeram sua utilização ao
longo do tempo. Tais problemas designados “Patologias das Construções (1)”, são atualmente
estudados buscando determinar técnicas convenientes para o reparo e a reabilitação das
alvenarias estruturais.
______(1) Patologia: “falha, disfunção, defeito que prejudica a estética ou o desempenho da edificação ou de qualquer uma de suas partes”
Patologia das Construções: “ciência que procura, de forma metodizada, estudar os defeitos dos materiais, dos componentes, dos elementos ou
da edificação como um todo, diagnosticando suas causas e estabelecendo seus mecanismos de evolução, formas de manifestação, medidas de
prevenção e de recuperação”, segundo Thomaz (1990).
59
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
As manifestações patológicas geralmente se apresentam associando o
comportamento estrutural, aspectos: concepção/construção ao comportamento da alvenaria
como material: características dos materiais e técnicas construtivas utilizadas. Como material
estrutural se apresentam com pouca resistência à tração e ao corte, mecanismo de ruptura
frágil e resistência à compressão dependendo do volume de vazios. Como elemento estrutural:
deficiente integridade estrutural (ligação entre elementos estruturais), excessiva esbelteza,
deficiente contraventamento e reduzida ductilidade (ROQUE, 2003).
3.1 PATOLOGIAS FREQÜENTES EM ESTRUTURAS DE ALVENARIA
As primeiras manifestações patológicas identificadas foram associadas,
principalmente aos erros de concepção, pouco conhecimento das propriedades dos solos e dos
materiais de construção e ao ataque de elementos ambientais. Foram tratados com certa
reserva, colaborando com a ausência de um sistema de catalogação dos problemas
patológicos, como: ocorrência, gravidade, medidas corretivas adotadas além de proporcionar a
sucessiva repetição de erros (WISSENBACH, 1990). Atualmente as manifestações
patológicas mais comuns são as relacionadas direta ou indiretamente às alvenarias: fissuração,
formação de eflorescência, penetração de água em fachada, descolamento de revestimento e
alteração química dos materiais de construção.
As manifestações patológicas relacionadas à fissuração são decorrentes das tensões
de tração e de cisalhamento, devido ao baixo desempenho às solicitações de tração, flexão e
cisalhamento apresentado pelos componentes da alvenaria, que combinada com a argamassa
de assentamento, torna-se um material heterogêneo devido às suas diferentes propriedades
(resistência mecânica, módulo de deformação longitudinal, coeficiente de Poisson, etc.).
Estas diferentes propriedades: mecânicas e elásticas combinadas com a intensidade
das solicitações podem provocar a propagação das fissuras(2) pelas juntas verticais de
assentamento ou seccionar os componentes da alvenaria (Figura 3.1).
_______(2) São aqui consideradas:
Fissuras – espessuras maiores ou iguais 0,5 mm; Trincas – entre 0,5 e 5 mm e Rachaduras – maiores que 5 mm
60
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.1 – Fissuras verticais na alvenaria.
(WISSENBACH, 1990)
São também fatores que influenciam o comportamento das paredes: a geometria,
rugosidade superficial e porosidade da alvenaria; o índice de retração, poder de aderência e
retenção da água da argamassa de assentamento; esbeltez, eventual presença de armadura
(alvenarias armadas e parcialmente armadas), número e disposição das paredes contra-
ventantes; armação, cintamentos, disposição e tamanhos dos vãos de portas e janelas;
enfraquecimentos provocados pelo embutimento da tubulação, rigidez dos elementos de
fundação, geometria da edificação, etc. (THOMAZ, 1990)
As tubulações destinadas à execução das instalações hidro-sanitárias e elétricas
quando embutidas nas alvenarias são responsáveis pela redução de sua resistência mecânica
influenciando no seu comportamento. Deve-se evitar principalmente os rasgos distribuídos no
sentido horizontal (Figura 3.2). As tubulações para as instalações elétricas devem ser
executadas nos vazios dos blocos sempre na direção vertical e as destinadas as instalações
hidro-sanitárias no interior de poços verticais previamente previstos na concepção do projeto
arquitetônico e executados permitindo sua fácil manutenção sem a necessidade de se quebrar
paredes.
Figura 3.2 – Rasgos na alvenaria para instalações elétricas e hidráulicas.
(FURLAN JR., 2004).
61
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
As variações de temperatura a que são submetidos os elementos e componentes de
uma construção produzem variações dimensionais nos materiais de construção: dilatação ou
retração, que são restringidos pelos vínculos que envolvem os elementos e componentes,
desenvolvendo nos materiais tensões que podem provocar o surgimento de fissuras. Tais
fissuras também surgem por movimentações diferenciadas entre elementos de um
componente, entre componentes de um sistema e entre regiões distintas de um mesmo
material. Sua amplitude e rapidez de ocorrência são influenciadas pela localização geográfica
da obra (latitude e longitude) e zona climática (Figura 3.3). Ocorre, principalmente em função
de: junção de materiais com diferentes coeficientes de dilatação térmica, sujeitos às mesmas
variações de temperatura (movimentações diferenciadas entre argamassas de assentamento e
componente da alvenaria); exposição de elementos a diferentes solicitações térmicas naturais
(cobertura em relação às paredes); e gradiente de temperatura ao longo do mesmo
componente (faces expostas e protegidas de uma laje de cobertura), (THOMAZ, 1990).
Figura 3.3 – Movimentações em laje de cobertura sob a ação de diferentes solicitações
(THOMAZ, 1990)
As direções das fissuras, perpendiculares às resultantes de tração (σt), indicam o
sentido da movimentação térmica. Surgem também através da ação de ciclos alternados de
carga-descarga ou solicitação de tração-compressão, que podem provocar fadiga nos
componentes.
A umidade também produz fissuras através de mudanças higroscópicas,
provocando variações dimensionais nos materiais porosos: expansão com o aumento e
contração com a redução do teor de umidade. Sua contribuição ocorre através dos
componentes ligantes hidráulicos, da umidade produzida na execução dos serviços, umidade
relativa do ar, da chuva, do solo e da sua utilização enquanto obra concluída.
62
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
A ascensão capilar, movimento da água no sentido contrário à ação da gravidade
(VARGA, 1981), atua como um dos mecanismos mais importantes que regem a variação do
teor de umidade dos materiais. Os poros secam quando submetidos às forças de sucção,
responsáveis pela condução da água do interior à superfície do componente, onde se
evaporam. Quando sofre a ação da difusão, transporte de material através do movimento dos
átomos (CALLISTER JR., 2002), se estabiliza, produzindo a umidade higroscópica de
equilíbrio do material. A absorção produzindo expansão ou a evaporação contraindo os
componentes resulta nas movimentações reversíveis.
As movimentações higroscópicas são responsáveis pela maioria das fissuras
horizontais, apesar de pouco freqüentes. Ocorrem quando há excessivas deformações de lajes
ancoradas nas paredes, produzindo esforços de flexão laterais, por expansão das alvenarias,
principalmente nas fiadas inferiores, mais sujeitas à umidade, por apresentar maior expansão
em relação às fiadas superiores.
A ação de cargas verticais uniformemente distribuídas, previstas ou não em
projeto, notadamente nas alvenarias estruturais racionalizadas, em função principalmente da
deformação transversal da argamassa de assentamento e eventual fissuração de blocos ou
tijolos por flexão local, são responsáveis pela incidência de fissuras tipicamente verticais
(Figura 3.4). As alvenarias de tijolos maciços, devido à sua heterogeneidade e diferença de
comportamento entre tijolos e argamassa de assentamento, sofrem solicitações locais de
flexão nos tijolos. As deformações transversais da argamassa por sua incidência mais
acentuada que os tijolos, introduzem tensões de tração nas duas direções do plano horizontal e
são responsáveis pela incidência de fissuras verticais na alvenaria.
Figura 3.4 – Fissuras em alvenaria proveniente de sobrecarga vertical
(WISSENBACH, 1990)
63
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Nas alvenarias de blocos vazados, além das mesmas tensões apresentadas nos
tijolos, outras tensões são consideradas importantes. Nos blocos com furos retangulares
dispostos horizontalmente, a argamassa de assentamento apresenta deformações axiais mais
acentuadas no sentido vertical do bloco produzindo solicitação e flexão no sentido horizontal
que podem provocar sua ruptura, segundo análises de PEREIRA DA SILVA (1990). Ensaios
de compressão axial, realizados por GOMES (1990), em paredes de blocos cerâmicos
assentados com os furos dispostos verticalmente indicaram a ocorrência de ruptura por tração
interna dos blocos, provavelmente originada pela deformação transversal da alvenaria.
As solicitações provenientes de cargas uniformes distribuídas podem também
provocar fissuras horizontais. São as provenientes da ruptura provocada pela compressão dos
componentes da alvenaria ou argamassa de assentamento ou solicitações de flexo-compressão
da parede. Cargas concentradas poderão produzir ruptura dos componentes da alvenaria na
região de sua aplicação. Sua ação poderá também provocar o surgimento de fissuras
inclinadas a partir da mesma. A resistência à compressão dos componentes da alvenaria
determinará a predominância de ruptura ou fissura (Figura 3.5).
Figura 3.5 – Fissuras em alvenaria proveniente de carga concentrada
(THOMAZ, 1990)
Paredes com aberturas, portas ou janelas, desenvolvem as trincas a partir dos
vértices das aberturas e sob o peitoril (janelas), face à concentração de tensões no seu
contorno (vãos), devido a perturbações causadas na trajetória das isostáticas (Figura 3.6).
64
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.6 – Fissuras típica em alvenaria com presença de abertura
(WISSENBACH, 1990)
O surgimento de fissuras está também relacionado com o comportamento das
fundações. Interferem neste comportamento os valores variáveis da capacidade de carga e
deformabilidade dos solos. Dependem dos seguintes fatores, considerados mais importantes:
- Tipo e estado do solo (areia com compacidade variada ou argila com consistência
também variada);
- Disposição do lençol freático;
- Intensidade da carga, tipo de fundação (direta ou profunda) e cota de apoio;
- Dimensões e formato da placa carregada (quadrada, retangular, circular);
- Interferência de fundações vizinhas.
As fissuras surgirão provenientes de recalques diferenciais ocorridos,
rebaixamento do lençol freático, falta de homogeneidade do solo (Figura 3.7), consolidação
diferenciada de aterro e influência de fundações vizinhas. Manifesta-se de forma inclinada na
direção do ponto onde ocorreu o maior recalque e quando muito acentuadas, produzem
esmagamentos localizados, em forma de escamas.
65
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.7 – Fissuras inclinadas provocadas por recalques diferenciais da fundações
(WISSENBACH, 1990)
As fissuras também se manifestam sob a ação de carregamentos desbalanceados,
especialmente no caso de sapatas corridas ou vigas de fundação muito flexíveis. Manifesta-se
pela sobrecarga que se concentra nas vizinhanças de grandes aberturas existentes em um
painel de alvenaria (Figura 3.8), pelo surgimento de solicitação à flexão no trecho sob o vão e
surgem verticalmente na proximidade do peitoril da janela (THOMAZ, 1990).
Figura 3.8 – Fissuras contínuas solicitadas por carregamento desbalanceado
(WISSENBACH, 1990)
66
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
As fissuras surgidas em construções executadas em alvenaria resistente são
manifestações provenientes da perda de desempenho. São causadas por fatores diversos
como: retração da argamassa, deformação de outras estruturas, expansão térmica diferenciada
entre bloco e argamassa, recalque de fundação, entre outros. Podem acontecer pelo
surgimento de diferentes deformações na interação entre paredes estruturais e de vedação se
manifestam horizontalmente no meio da parede, devido à flexão provocada por excessiva
deformação em uma das paredes (OLIVEIRA, 2001).
As patologias provenientes da formação de eflorescência são originadas a partir da
acumulação de sal: sódio, potássio, cálcio e magnésio, solúveis ou parcialmente solúveis em
água, na superfície dos componentes da alvenaria. Formam-se com a evaporação da água da
solução saturada de sal, percolada através do material, em geral causada pela combinação dos
fatores (THOMAZ, 1990):
- Teor de sais solúveis eventualmente presentes nos componentes de alvenaria e/ou
na argamassa de assentamento ou revestimento;
- Presença de água para dissolver e carrear os sais solúveis até a superfície da
parede;
- Presença de alguma força, como pressão hidrostática ou a evaporação que faça a
solução aflorar na superfície da parede.
Sua incidência varia de acordo com a natureza dos produtos solúveis e das
condições atmosféricas: temperatura, umidade e vento. Origina-se a partir dos componentes
de alvenaria (tijolos, blocos, argamassa); reações químicas entre produtos existentes nos
diferentes componentes; da água utilizada na argamassa e/ou produção de componentes de
alvenaria à base de ligantes hidráulicos e da contaminação do solo.
Os componentes fabricados à base de cimento portland possuem na sua
constituição cal hidratada – Ca(OH)2, resultante das reações de hidratação dos principais
componentes do cimento (C3S e C2S), que podem ser lixiviados pela ação da água,
depositando-se na superfície do componente. A ação do anidrido carbônico transforma a cal
em carbonato de cálcio e água, pela reação:
67
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Ca(OH)2 + CO2 CaCO3 + H2O
hidróxido anidrido carbonato água
de cálcio carbônico de cálcio
(cimento) (ar)
Nos componentes cerâmicos, a maioria dos sais que poderão provocar
eflorescência origina-se durante sua queima através da reação dos vários componentes da
matéria-prima. Sulfatos de sódio e de potássio, quando presentes, após solubilização, poderão
constituir eflorescência, como resultante da reação de componentes da cerâmica combinados
com hidróxidos alcalinos do cimento, conforme a equação:
CaSO4 + 2 NaOH Na2SO4 + Ca(OH)2
K OH K2 SO4
sulfato hidróxidos sulfatos
de cálcio alcalinos alcalinos
(comp. cerâmico) (cimento) (eflorescência)
Raramente a eflorescência é responsável pela incidência de fissuras ou expansão
da alvenaria, em geral sua manifestação (tabela 3.1) produz apenas interferências no aspecto
estético das edificações.
Tabela 3.1 - Sais eflorescentes que podem desenvolver-se nas alvenarias (WISSENBACH, 1990)
Composição química Fórmula química Solubilidade em água Fonte provávelCarbonato de cálcio CaCO3 pouco solúvel carbonatação de cal lixiviada da argamassa ou concretoCarbonato de magnésio MgCO3 pouco solúvel carbonatação de cal lixiviada da argamassa de calCarbonato de potássio K2CO3 muito solúvel carbonatação dos hidróxidos alcalinos do cimento com elevado teor ce cálcio
Carbonato de sódio NaCo3 muito solúvel carbonatação dos hidróxidos alcalinos do cimento com elevado teor ce cálcio
Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 solúvel cal liberada na hidratação do cimentoSulfato de cálcio dihidratado CaSO42H2O parcialmente solúvel hidratação do sulfato da cálcio de componentes cerâmicosSulfato de magnésio MgSO4 solúvel componentes cerâmicos e/ou água de amassamentoSulfato de cálcio CaSO4 parcialmente solúvel componentes cerâmicos e/ou água de amassamentoSulfato de potássio K2SO4 parcialmente solúvel agregado contaminados, água contaminada ou reação entre constituintes do cimento e constituintes da cerâmica
Sulfato de sódio Na2SO4 parcialmente solúvel água de amassamentoCloreto de cálcio CaCl2 parcialmente solúvel água de amassamentoCloreto de magnésio MgCl2 parcialmente solúvel água de amassamentoNitrato de potássio KNO3 muito solúvel solo adubado ou contaminado por sais solúveisNitrato de Sódio NaNO3 muito solúvel solo adubado ou contaminado por sais solúveisNitrato de amônia NH4NO3 muito solúvel solo adubado ou contaminado por sais solúveis
As manifestações patológicas geradas pela penetração de água em fachadas estão
relacionadas com a forma que a água atua nas edificações. São próprias da obra: originadas
68
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
dos seus componentes durante a execução, e se mantendo durante um certo período após sua
conclusão; absorvidas do solo através das suas fundações e paredes; da chuva pela infiltração
nos componentes exteriores da edificação; provenientes do vapor da água condensada nas
superfícies ou interior dos componentes e as provenientes de vazamentos dos sistemas de
distribuição e coleta de águas pluviais.
Pesquisas realizadas no Brasil indicam que a ação da umidade é responsável por
cerca de 50% das manifestações patológicas manifestadas em uma edificação. Apresentando,
através da infiltração a maior incidência, em torno de 60% dos casos mencionados,
principalmente nas paredes de fachadas e nas coberturas, através da chuva incidente, nível de
lençol freático e instalações de águas pluviais. A incidência das infiltrações através dos
componentes da alvenaria depende de alguns fatores: espessura e rugosidade da parede;
qualidade do tratamento superficial (revestimento); tratamento arquitetônico dos elementos da
fachada (frisos, pingadeiras); orientação da fachada em relação aos ventos predominantes;
intensidade e duração das chuvas; propriedades dos materiais constituintes dos componentes
da alvenaria.
As manifestações patológicas provenientes dos descolamentos de revestimentos
estão relacionadas com incompatibilidades químicas entre revestimentos (tintas e vernizes) e
componentes aplicados. São associadas à qualidade dos materiais de revestimento,
preparações não adequadas da base, geralmente devido à presença de eflorescência e
substâncias gordurosas e a aplicação de revestimento (pintura) sobre superfície úmida que
poderá produzir eflorescências; superfícies excessivamente lisas pela incorreta aplicação do
chapisco; argamassas mal dosadas, preparadas com cales de baixa qualidade, aplicadas em
camadas muito finas ou muito espessas e sobre alvenarias ressecadas ou constituídas por
componentes com alto poder de absorção.
Os descolamentos de revestimentos são também produzidos pela utilização de
pastas ou argamassas constituídas por gesso, devido ao seu alto potencial de reação com
compostos aluminosos do cimento, responsáveis pelo processo de expansão de componentes.
As alterações químicas dos materiais constituintes das alvenarias, se manifestam
através de reações retardadas de hidratação de grânulos de cal virgem (CaO) presentes em
alguns componentes, precedidas de expansões volumétricas podendo originar a desagregação
69
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
localizada do componente. Contaminações de carbonato de cálcio ou de magnésio presentes
em argilas produzem da mesma forma desagregações localizadas em componentes cerâmicos.
Conjunto Residencial – Recife
As manifestações identificadas na Região Metropolitana do Recife (RMR)
apresentam características semelhantes às do edifício citado como exemplo a seguir:
Conjunto Residencial composto de sete blocos, cada um com quatro pavimentos,
um térreo e três elevados, com oito apartamentos por pavimento, totalizando 32 por bloco e
224 no conjunto. Edifício tipo “caixão perdido”, construído em 1993 (Figura 3.9). Está
localizado entre um conjunto residencial multifamiliar de características semelhantes e
algumas habitações unifamiliares, limitando-se ao fundo, parte posterior, com um canal (vala
de drenagem) que recebe as águas pluviais provenientes das áreas adjacentes.
Figura 3.9 – Locação dos Blocos do Edifício
De acordo com o projeto estrutural existente, sua fundação foi executada em sapata
corrida de concreto armado, na forma de “T” invertido, apoiada diretamente no solo, tendo
alvenaria de bloco cerâmico dobrada (20 cm de espessura) como embasamento até o nível do
1º piso, situado a uma altura média de 2,11 m acima do nível de assentamento das sapatas.
70
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
A parte elevada do edifício, também de acordo com o projeto estrutural, é
constituída de alvenaria portante de bloco cerâmico de oito furos assentados à galga, com
cintas de amarração e laje com espessura de sete centimetros, em concreto armado. A escada
de acesso aos pavimentos superiores, fica localizada na parte central do bloco sobre vigas
apoiadas em pilares que nascem da fundação e seguem até a laje da coberta, onde recebem
dois reservatórios de água com 18 m3 cada um, todos em concreto armado. Complementando
o sistema de abastecimento de água existe ao lado de cada bloco um reservatório inferior,
enterrado, em concreto armado, com profundidade de 1,20 m e capacidade de 50,00 m3
(SOBRINHO, 2003).
O esgotamento sanitário é composto de sistema fossa-filtro localizado na parte
posterior do terreno do conjunto, com escoamento das águas servidas juntamente com as
pluviais superficiais, provavelmente em direção ao canal existente no limite da área na parte
posterior.
As áreas de acesso a cada bloco do conjunto possuem pavimentação em pedra
granítica, paralelepípedo, e contornados por calçadas revestidas com piso cimentado
entornado por jardineiras e árvores de grande porte. Os espaços destinados aos
estacionamentos de veículos são regularizados e revestidos com brita fina.
As manifestações patológicas (Figura 3.10) surgidas nas alvenarias de
embasamento foram inicialmente identificadas no bloco I, mais próximo do canal de
drenagem, sendo em seguida, nos demais blocos. A intensidade das manifestações tornou
necessária a sua desocupação para possibilitar melhores condições de trabalho na coleta de
materiais dos componentes para a execução de ensaios.
71
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.10 – Manifestação na alvenaria de embasamento
Inicialmente, as observações efetuadas no local indicaram que trechos das sapatas
corridas foram executados apoiados diretamente sobre o solo, condição favorável ao seu
deslocamento tanto horizontal como vertical provocado pelo carreamento de matéria pela
ação da água do lençol freático, sobre as mesmas. Foi verificada também a inexistência de
camada de substituição do solo abaixo no nível da sapata e a utilização de resto de materiais
de construção para reaterro da fundação (SOBRINHO, 2003).
Toda alvenaria de embasamento somente apresentava revestimento na sua parte
externa acima do nível do terreno e nenhum nas partes internas (Figura 3.11). Os blocos
utilizados encontravam-se permanentemente úmidos, variando com o nível da água do terreno
e sem nenhuma resistência, desmanchando-se quando solicitados a esforços de compressão
manuais, indicando que não atingiram a fase cerâmica no seu processo de fabricação.
Atingindo percentuais entre 10 e 13% a proporção dos blocos com baixa resistência
Espessura bastante irregular, variando de 2,50 a 4,00 cm em alguns trechos. O cintamento
previsto no projeto estrutural foi identificado apenas sobre o embasamento externo.
Figura 3.11 – Vista do revestimento externo do embasamento
A laje do pavimento térreo foi executada com elementos pré-moldados do tipo
volterrama, com blocos de argamassa de cimento e areia com nervuras e capeamento (in loco)
executados em concreto armado, diferentemente do projeto estrutural que especificava laje de
concreto armado em todo bloco.
Para caracterização das manifestações patológicas foram, após a identificação das
fissuras efetuados monitoramentos, com a utilização de extensômetro com precisão de 10-2
72
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
mm, para verificação da sua evolução, em dez pontos considerados preocupantes quanto a sua
forma e localização: inclinadas e horizontais na base da edificação, verticais nas paredes da
superestrutura, nas lajes, inclinadas nas varandas e horizontais sobre portas e esquadrias
(SOBRINHO, 2003).
Os ensaios geotécnicos realizados de acordo com as recomendações das normas
NBR 8036, 6484, 6502 e 7250 da ABNT, identificaram uma camada de aterro com espessura
variável entre 0,45 e 1,90 m, seguindo-se camada de areia fina a média, argila com material
orgânico, pouco compacta, com espessura variável, com SPT variando entre 2 e 10. O nível
da água no terreno localizado a uma profundidade mínima de 0,70 m, seguindo-se uma
camada de argila siltosa muito mole, com espessura máxima de 1,05 m, uma camada de areia
fina, média e grossa de compacidade variável com espessura entre 2,70 e 4,05 m localizada a
uma profundidade média de 5,00 m abaixo do nível do terreno. Camada de areia média a
grossa com pedregulho intercalada a outras camadas de argila orgânica muito mole localizada
no limite da sondagem a aproximadamente 8,00 m de profundidade, solo com características
de estratificação cruzada e granulometria variável indicando sua origem a partir da
decomposição de sedimentos por via hídrica.
A determinação dos parâmetros químicos da água do subsolo segundo a
metodologia recomendada pelo Standard Methods for Examination of Water and Waste
Water, 1st Edition a análise de agressividade indicou água com pH elevado, em torno de 8,2,
considerada alcalina, com teores de bicarbonato, com 340 mg/L, com fenômeno
preponderante de carbonatação.
Os ensaios para a reconstituição de traços dos blocos foram efetuados pelo
Laboratório da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) São Paulo – SP.
Apresentaram como resultados: traço de concreto 1: 2,9: 6,6 (cimento, agregado miúdo, brita)
considerado muito pobre (índice de agregado muito alto em relação à quantidade de cimento);
traço de argamassa utilizado no embasamento 1:20 (cimento: agregado miúdo) e 1:7,5 para a
argamassa da superestrutura. A expressiva diferença entre a relação de cimento e agregado
miúdo das argamassa do embasamento e da superestrutura é apontada no laudo como sendo
provocada pelo fenômeno da carbonatação seguida de lixiviação, com perda de massa da
argamassa resultando em queda de sua resistência (SOBRINHO, 2003).
73
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Os ensaios para a verificação da expansão por umidade e a análise química das
propriedades físico-mecânicas foram realizados no Laboratório de Ciências dos Materiais da
UFPB, campus – Campina Grande, em amostras de blocos cerâmicos coletadas no
embasamento e na superestrutura apontaram valores superiores aos da Norma – Australian
Standard (AS) 1226, 5 (1984), que é de 0,3 mm/m.
3.2 ACIDENTES
Acidente quer dizer: acontecimento casual, fortuito, imprevisto, infeliz, casual ou
não, e de que resulta ferimento, dano, estrago, prejuízo, avaria, ruína (AURÉLIO, 2000).
Termos que reproduzem exatamente as condições apresentadas nos colapsos ocorridos em
alguns prédios executados com alvenaria estrutural. Projetados normalmente de forma
empírica e executados com a utilização de materiais e acompanhamento pouco adequados
para o seu pleno e normal funcionamento.
A morada, que como descreveu LE CORBUSIER: “um homem (ou família) nela
viverá dormindo, andando, ouvindo, vendo e pensando”, ou seja, exatamente “o local onde as
pessoas deveriam sentir-se mais seguras: a própria casa” (HANAI, 2002), tem sido alvo de
acidentes em proporções consideradas inaceitáveis, pelos padrões internacionais, provocados
por colapsos de suas estruturas, decorrentes de manifestações patológicas diversas, associadas
à elaboração de projetos ou a utilização de materiais não conformes com a realidade.
As edificações a seguir (casos de 1 a 4) são prédios na sua maioria com quatro
pavimentos, um térreo e três elevados, do tipo chamado “prédios caixão” onde uma laje de
piso (térreo), geralmente pré-moldada, elimina o aterro da área limitada pelo embasamento da
obra, deixando um espaço vazio entre o nível do terreno, em muitos casos desnivelados. As
lajes são apoiadas em alvenaria de blocos cerâmicos furados, produzidos para alvenaria de
vedação, com os furos dispostos horizontalmente ou blocos de concretos assentados sobre
blocos trapezoidais, também de concreto (Figura 3.12), que distribuem horizontalmente no
solo todas as cargas provenientes da edificação.
74
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.12 – Blocos: cerâmico e de concreto
A variação do nível do lençol freático, dentro do caixão perdido, em contato com
os componentes cerâmicos da alvenaria de embasamento, em presença do oxigênio na sua
forma livre e os sais solúveis presentes em águas impuras ou carreados do solo, combinados
produzem alterações químicas dos materiais, originando manifestações patológicas, criando
fissuras em alguns casos e em outros levando ao colapso total da estrutura.
Situações de colapsos das alvenarias portantes ocorreram de maneira generalizada,
decorrentes de colapso progressivo, indicando a ausência de elementos que possibilitassem a
redistribuição das cargas, no caso de uma falha localizada.
No Brasil casos de edificações em alvenaria estrutural com manifestações
patológicas, notadamente, fissuras têm sido identificados. São fissuras provenientes de
origens diversas, ligadas à forma de execução e aos materiais utilizados. E em alguns casos de
uso (alteração estrutural) e manutenção com visíveis sinais de deterioração dos revestimentos.
Na região Metropolitana do Recife, especificamente em Olinda e Jaboatão dos
Guararapes, foram identificados colapsos com perda total das edificações em prédios de
quatro pavimentos, ocasionados por “ruína por esmagamento das paredes de alvenaria de
embasamento” (OLIVEIRA et al, 2002).
As falhas apresentadas pelo sistema “prédio caixão”, representam um indicador da
existência de vários outros edifícios com manifestações patológicas semelhantes aos que
75
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
sofreram colapsos em suas alvenarias de embasamento, entre os vários prédios construídos na
Região Metropolitana do Recife.
Prédios com risco de desabamento têm sido identificados através da Defesa Civil
do estado de Pernambuco, pela solicitação de vistorias, cerca de dez por dia desde janeiro de
2005. Afundamento de piso, fissuras e estalos são as manifestações mais notificadas. Alguns
dos acidentes de maior notoriedade, pelas proporções e perdas materiais e humanas, de
colapsos generalizado são descritos a seguir.
Caso 1 – Ed. Aquarela – Jaboatão dos Guararapes
Edificação tipo “caixão perdido”, executada em 1986, composta por quatro
pavimentos: um térreo e três elevados, formados por dois blocos com dois apartamentos por
bloco, totalizando dezesseis unidades, interligados pela caixa da escada (Figura 3.13).
76
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.13 – Planta Baixa do Pavimento Térreo
Com indicação dos apartamentos
O colapso da estrutura ocorreu onze anos após sua conclusão, em 1997. Sua
fundação foi executada em sapata corrida de concreto armado, na forma de “T” invertido,
assentada a 0,60 m abaixo do nível do terreno natural. O embasamento em alvenaria de bloco
cerâmico de seis furos, com dimensões de 10 x 11 cm, assentado ao chato (11 cm de
espessura), em desacordo com o projeto estrutural que previa espessura igual a 20 cm. As
lajes eram todas pré-moldadas do tipo volterrana. A laje do primeiro piso, formando o “caixão
perdido”, estava situada a 1,10 m de altura a partir do nível superior da sapata corrida (Figura
3.14). Em todos os pavimentos, foram previstas cintas de amarração e distribuição de cargas
com seção transversal de (10 x 30 cm) para as paredes externas e (10 x 20) para as internas e
vigas sobre as aberturas (vãos) maiores, todas em concreto armado, apoiadas diretamente
sobre as alvenarias no nível do pé direito. Na região do reservatório superior, vigas se
apoiavam sobre quatro pilares.
Figura 3.14 – Corte genérico da fundação
O colapso da estrutura se caracterizou pelo “afundamento generalizado de todo
pavimento térreo dos dois módulos (blocos) que constituíam o edifício” (OLIVEIRA, 1997),
apresentando as lajes de piso do pavimento térreo rupturas de formas generalizadas situadas
em cotas diferentes (inferiores) às originais. Os apartamentos com terminação 01 e 02, do
77
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
bloco frontal, afundaram 1,06 m, ficando 0,51 m desnivelados em relação apartamentos 03 e
04, do outro bloco que afundaram 0,55 m (Figura 3.15).
Figura 3.15 – Vista geral após o colapso
(OLIVEIRA et al, 1997)
Amostras dos materiais das ruínas da estrutura foram coletadas para se efetuar
análise de suas características. Foram realizados estudos geotécnicos através de sondagens à
percussão e de reconhecimento pelo método geofísico de reflexão. A sondagem à percussão
para identificação das diversas camadas do solo de fundação e estimativa de suas resistências
apresentou como resultados: uma camada inicial de aterro com espessura variando de 0,95 a
1,95 m, seguindo-se solo arenoso com profundidade média de 8,00 m e camada predominante
de argila orgânica, até 18,00 m de profundidade, tornando-se impenetrável ao trépano.
A sondagem de reconhecimento pelo método geofísico de reflexão
eletromagnética, que tem como princípio a geração de impulsos eletromagnéticos na
superfície, introduzidas nas subsuperfícies por meio de antena emissora, são refletidos,
refratados e difratados por antena receptora enviando sinais para uma unidade de
processamento. Os resultados confirmaram a classificação e identificação das diversas
camadas obtidas através da sondagem à percussão e mostraram que as sapatas continuavam
uniformemente apoiadas no solo, pela identificação das suas armaduras, como indicado no
78
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
projeto estrutural, confirmando a ausência de qualquer fenômeno geotécnico que justificasse
sua ruptura (OLIVEIRA, 1997).
Os ensaios de resistência à compressão dos tijolos cerâmicos realizados pelo
laboratório de estruturas do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), pela Fundação Instituto Tecnológico de Pernambuco (ITEP) e empresa
TECOMAT a partir de inspeções no local e da análise da distribuição das tensões na
estrutura, confirmaram a ruptura das alvenarias de embasamento. Os ensaios efetuados,
conforme as recomendações da NBR-6461 (1983), nos tijolos retirados da alvenaria de
elevação apresentaram os valores médios da resistência a compressão de σ= 1,2 MPa para o
tijolo assentado à galga e de σ= 2,0 MPa para o assentado ao chato.
A análise química da água, efetuada pelo ITEP, apresentou um PH= 7,4,
considerado neutro, baixos teores de cloretos e sulfatos, condição que indica a pouca
probabilidade de agressão à alvenaria de embasamento e ao material utilizado no aterro. Os
tijolos analisados apresentaram teores de sulfatos considerados normais. Os ensaios de
resistência à compressão dos tijolos apresentaram valores médios de σ= 1,8 MPa, para o tijolo
assentado à galga e σ= 3,0 MPa para o a chato. Os prismas extraídos das alvenarias de
embasamento e elevação: σ= 2,40 MPa para assentamento a chato no embasamento; σ= 1,6
MPa para elevação à galga e σ= 2,9 MPa para elevação ao chato.
As amostras analisadas pelo laboratório de cerâmica e argilas do departamento de
engenharia de materiais do Centro de Ciências e Tecnologia da UFPB – Campina Grande
identificaram baixa salinidade e teores de agentes agressivos, como sulfatos e cloretos nulo ou
muito baixo. Os tijolos da alvenaria de embasamento provavelmente devido a dissolução nas
águas do lençol freático por sua baixa salinidade, não apresentaram nenhum teor de
salinidade, os da alvenaria de elevação apresentaram pouca salinidade.
Os ensaios de flexão, foram efetuados aplicando uma carga concentrada no centro
do corpo de prova de dimensão 6 x 2 x 1 cm, extraído dos tijolos das alvenarias de
embasamento e elevação. Analisados totalmente seca em estufa a 110º C e saturados pela
imersão em água durante 72 horas, visando a verificação do efeito da umidade sobre a
resistência mecânica dos tijolos, comprovaram a perda de resistência mecânica da alvenaria
de embasamento, que se apresentavam sob a ação de elevadas tensões. A ruptura localizada,
79
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
em uma dada região, através da transferência de carga aos trechos vizinhos e a acentuada
contribuição do empuxo lateral nas alvenarias externas do embasamento, originaram a ruptura
generalizada.
Caso 2 – Ed. Éricka – Olinda
Edificação tipo caixão com fundação em “caixão perdido”, lâmina com 103 m2
distribuído em duas unidades habitacionais, hall e caixa de escada, composto de oito
unidades, duas por pavimento: um térreo e três elevados (Figura 3.16), localizado em uma
região situada entre os canais do matadouro e do rio morto, na cidade de Olinda, construído
sobre trecho aterrado, doze anos antes do colapso (1987).
Figura 3.16 – Planta e corte do Edifício Éricka
Parte atingida pelo colapso e nível de água do lençol freático.
80
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Sua fundação foi executada com blocos pré-moldados de concreto, com seção
trapezoidal, sobre o solo natural assentada em diferentes níveis em relação ao nível da
primeira laje (-1,72, -2,06 e 2,42 m). Na alvenaria de embasamento foram empregados blocos
de concreto (14 x 19 x 39 e 14 x 19 x 19) cm e blocos cerâmicos de seis furos (9 x 9 x 20) cm.
Alguns trechos foram executados com a utilização simultânea de blocos de concreto e
cerâmico. As lajes, todas pré-moldadas, do tipo volterrama, com lajotas de concreto,
assentadas diretamente sobre a alvenaria de embasamento sem cinta de amarração ou
distribuição. Todas as alvenarias portantes, para resistir às cargas atuantes, e atuar como
divisórias, foram executadas com blocos cerâmicos vazados de forma singela (à galga).
O edifício possuía dois reservatórios: um inferior enterrado, construído com
bloco cerâmico dobrado sobre laje de concreto armado e tampa pré-moldada e outro elevado,
executado com as mesmas características, mas com paredes singelas, construídos
simultaneamente com o prédio e localizados na área correspondente a caixa da escada. Um
terceiro reservatório, enterrado, foi construído durante a sua utilização fora da lâmina dos
apartamentos, localizado ao lado da caixa da escada, executados com as mesmas
características, com alvenaria singela. A escada de acesso ao primeiro pavimento foi
executada com placas pré-moldadas de concreto e fechamento lateral com bloco cerâmico. Os
demais lances em concreto armado, moldados no local.
O sistema de esgotamento sanitário, constituído por fossa séptica, foi executado na
área frontal do edifício, sob o espaço reservado para o estacionamento.
As alvenarias de embasamento do apartamento da parte posterior do prédio
sofreram colapso generalizado provocando um seccionamento das paredes de elevação
(portantes) e lajes que as interligavam ao apartamento da parte frontal. A parte frontal do
edifício a partir do seccionamento ficou comprometida em função das fissuras produzidas
pelo empuxo provocado pela outra parte, obrigando sua total demolição para se evitar danos
às edificações vizinhas e criar condições de sondagem na sua fundação, para parâmetro de
comparação com a parte colapsada.
Após o colapso da estrutura, materiais do edifício foram coletados e analisados
através de ensaios de laboratórios: geotécnicos (sondagens), análise da água do terreno,
81
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
resistência à compressão (blocos cerâmicos e de concreto), densidade de paredes e laje pré-
moldadas (medição e pesagem), expansão por umidade (EPU), reconstituição do traço dos
blocos de concreto e da argamassa de assentamento e caracterização por difratometria de
raios X.
Os resultados dos ensaios geotécnicos efetuados identificaram a existência de
aterro executado, parte com material proveniente de jazida e parte com areia e resto de
materiais de construção, com baixa compacidade e lençol freático a 2,40 m em relação ao piso
(1,80 m abaixo do nível do terreno). Terreno sob a camada de aterro formado por diversas
camadas de areia com matéria orgânica, com pedregulhos e fragmentos de conchas com
compacidade fofa ou medianamente compacta, seguidas de camadas de argila siltosa
variegada e siltosa com conchas, com características de ambiente típico de transgressão e
regressão marinha com consistência média e dura (SOBRINHO, 2000).
Conforme o relatório apresentado foi observado em todas as camadas de solo da
topo-seguência do aterro a presença de carbonato de cálcio, confirmando a procedência da
formação gramame do material, depositado no local pela ação de transporte hídrico.
A água presente nas amostras coletadas apresentaram alta concentração de cálcio,
Ph elevado (8,3) classificada como água salica-alcalina de agressividade fraca a média, com
carbonatação acompanhada de lixiviação, como fenômeno preponderante e salobra com grau
de agressividade forte, responsável pela expansão por formação de gipsita e/ou etringita
acompanhada de lixiviação. A difratometria de raios-X confirmou a presença de etringita.
A reconstituição do traço da argamassa utilizada na fabricação dos blocos de
concreto apresentou uma relação de cimento e areia de 1:20, desagregando-se facilmente em
função da alta concentração de sulfatos solúveis no solo. A relação usual é de 1 : 6 a 1 : 8.
Os ensaios de resistência e densidade dos blocos cerâmicos de oito furos da
alvenaria de embasamento apresentaram valores de resistência média de σ = 0,40 MPa para as
amostras de materiais coletados na parte atingida pelo colapso e de σ= 3,12 MPa, para a parte
restante. Para as alvenarias situadas acima do nível da primeira laje, os valores apresentados
foram: bloco cerâmico σ= 3,59 MPa e bloco de concreto σ= 2,13 MPa.
82
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
A difratometria de raio-X identificou em todas as amostras coletadas a presença de
etringita, em concentrações maiores que a normalmente encontrada em constituintes típicos
de pastas hidratadas de cimento. SOBRINHO (2000) acrescenta que observações
complementares através do microscópio estereoscópio revelam que esses minerais (etringita)
constituem cristais aciculares dispostos principalmente nos poros das argamassas (pontos
brancos) o que sugere que a etringita é secundária e proveniente de um ataque sulfático.
O colapso da estrutura se caracterizou pela ruptura brusca, por esmagamento das
alvenarias de embasamento, a partir da área delimitada pelas paredes dos dois quartos do
apartamento da parte posterior; tração horizontal puxando a parte remanescente (frontal) para
trás (escorregamento das nervuras); (Figura 3.17); transferência de cargas para os trechos
vizinhos, após ruptura do primeiro trecho, sobrecarregando-os além dos seus limites de
resistência.
Figura 3.17 – Parte posterior (ruínas) desligada da frontal
(OLIVEIRA et al, 2000)
Seguindo-se o processo de colapso progressivo da estrutura, com esmagamento
devido à perda de resistência dos blocos de concreto dos embasamentos externos, deteriorados
83
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
ao longo do tempo, em decorrência do ataque de sulfatos presentes na água do sub-solo e a
adoção de um sistema construtivo pouco adequado, com o uso de “caixão perdido”
apresentando os seguintes aspectos desfavoráveis:
- paredes externas singelas, com 14 cm de espessura, como contenção (arrimo),
contato permanente do aterro com os blocos (alta porosidade) de embasamento externo
(Figura 3.18), com uma das faces livre para evaporação, uso de vários tipos de blocos
(concreto e cerâmico);
- confirmação do fenômeno de expansão por umidade (EPU) com perda de
resistência dos tijolos cerâmicos presentes nas alvenarias de embasamento.
Figura 3.18 – Parte do embasamento do Edifício Éricka
(OLIVEIRA et al, 2000)
Caso 3 – Ed. Enseada de Serrambí – Olinda
Edificação construída utilizando fundações do “tipo caixão”, em uma região com
nível d´água elevado, devido à influencia da rede hidrográfica local, localizado próximo a
margem esquerda do canal denominado do Rio Morto, aterrada nas vias de acesso, na época
da sua ocupação há mais de trinta anos. Formado por dois blocos “A e B”, com quatro
pavimentos: um térreo e três elevados com dois apartamentos por pavimento (Figura 3.19).
84
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.19 – Planta Baixa do Edifício Enseada de Serrambí
Sua fundação foi executada em sapata corrida, na forma de “T” invertido e
algumas sapatas isoladas em concreto armado, todas assentadas sobre concreto magro,
recebendo a alvenaria de embasamento composta de tijolos cerâmicos vazados de oito furos,
assentados à galga com 9 cm de espessura e sem revestimento, situadas a 1,60 metros abaixo
do nível do 1º piso (Figura 3.20).
Figura 3.20 – Vista do Edifício Enseada de Serrambí
(OLIVEIRA et al, 2000)
Todas as lajes eram do tipo convencional, formadas por blocos de argamassa de
cimento e areia apoiados sobre nervuras de concreto armado, capeadas com espessuras
consideradas fora dos padrões normais (12 cm), algumas com 19,5 cm no pavimento térreo e
85
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
28 cm nos pavimentos superiores, assentadas diretamente sobre a alvenaria sem cintas de
amarração ou distribuição das cargas provenientes das lajes e alvenarias. As alvenarias eram
de tijolos cerâmicos vazados de oito furos, singelas, com assentamento à galga, algumas
apresentavam espessuras elevadas, com até 22 cm. As escadas de acesso aos pavimentos
superiores eram construídas em concreto armado (S0BRINHO, 2000).
O prédio possuía dois reservatórios: um inferior com capacidade para 40 m 3,
construído em alvenaria a galga de tijolos cerâmicos sobre laje de concreto armado com laje
da tampa pré-moldada e um superior todo em concreto armado com capacidade para 16 m3.
As águas servidas, provenientes do sistema de esgotamento sanitário eram todas lançadas
diretamente no canal do rio Morto, distante 14,00 m do bloco “B”. O colapso da estrutura
ocorreu com o desabamento total do bloco “B”, com pequena inclinação na direção do bloco
“A”, influenciado pela localização do reservatório superior.
Os ensaios geotécnicos, visando a identificação das camadas formadoras do perfil
geotécnico do terreno, foram realizados de acordo com as recomendações das normas NBR
8036, NBR 6484, NBR 6502 e NBR 7250 da ABNT. Os furos efetuados identificaram uma
camada de aterro constituída por parte de areia fina a média com restos de construção com
compacidade fofa e espessura variando entre 0,30 e 1,05 m. Lençol freático superficial com
profundidade média de 1,00 m abaixo do nível do terreno, camada de areia com matéria
orgânica, areia com pedregulho e areia com fragmentos de conchas com compacidade fofa a
compacta. Seguidas de uma camada de argila siltosa, indicando um ambiente típico de
transgressão e regressão marinha, com consistência rija a dura, seguindo-se uma camada de
calcário argiloso de cor cinza, a uma profundidade média de 6,00 m. Os ensaios geotécnicos
também confirmaram a presença de material proveniente da formação Gramame depositado
no local pela ação do transporte hídrico, através da presença de carbonato de cálcio.
Foi efetuada a análise da água objetivando identificar sua agressividade, na cota da
fundação. Analisada segundo a metodologia para determinação dos parâmetros químicos
recomendados pelo Standard Methods for Examination of Water and Wastewater, 1st Edition,
identificou-se água salobra com grau de agressividade médio com relação ao fenômeno de
agressividade caracterizada por expansão com formação de gipsita e/ou etringita
acompanhada de lixiviação.
86
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Para se verificar a resistência à compressão dos tijolos cerâmicos foram realizados
ensaios em diversas amostras coletadas do embasamento e da alvenaria de elevação
(portantes) segundo as normas NBR 6461 e NBR 15270. Os tijolos cerâmicos sem contato
permanente com a umidade proveniente do solo e do lençol freático, retirados das paredes
situadas acima do nível do pavimento térreo, de oito furos com 9 x 19 x 19 cm apresentaram
resistência média à compressão de σ=4,61 MPa. As alvenarias de embasamento apresentaram
diferentes comportamento ao longo do tempo, especialmente no que se refere à expansão por
umidade (EPU) e uma resistência média σ= 4,42 MPa.
Ensaios de difração por raios-X, indicaram a presença de quartzo, feldspato, mica
e caulinita nos constituintes dos fragmentos de concreto dos pilares do nível de embasamento,
associados ao agregado miúdo (areia quartzosa). Identificada também a presença de calcita
(CaCO3), mineral proveniente da carbonatação do ligante que é solúvel, e tem características
deletérias que provocam a redução da passividade do aço.
As análises dos resultados de expansão por umidade (EPU) indicaram
características de absorção, porosidade e massa especifica similares nos tijolos cerâmicos de
oito furos utilizados na execução das alvenarias de embasamento e elevação (portantes).
Apresentaram valores entre 1,06 a 1,41 mm/m para as amostras do embasamento e 1,18 mm/
m para as da elevação. Valores elevados comparando-se com os encontrados na literatura
especifica que é de 0,3 mm/m (S0BRINHO, 2000), contribuindo para a sua degradação
através do comportamento mecânico não adequado das alvenarias, principalmente as de
embasamento. O colapso ocorreu sem haver ruptura do solo da fundação em nenhum trecho
analisado, apresentando apenas um desnível em torno de 5,00 cm, com esmagamento das
alvenarias de embasamento em uma altura em torno de 0,70 m. Toda fundação se encontrava
5 cm abaixo do nível médio das águas do lençol freático (Figura 3.21).
87
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.21 – Aspecto da alvenaria de embasamento de
Edifício Enseada de Serrambí após o colapso
(OLIVEIRA et al, 2000)
Caso 4 – Ed. Ijuí – Jaboatão dos Guararapes
Edifício, tipo caixão perdido, formado por dois blocos, com um pavimento térreo e
três elevados, interligados pela caixa de escadas, com quarto apartamentos por pavimento,
totalizando oito apartamentos por bloco. Sua execução ocorreu seis anos antes de acontecer o
colapso (Figura 3.22).
88
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.22 – Planta Baixa do conjunto
com indicação da parte com colapso
Sua fundação foi executada em sapata corrida de concreto armado, na forma de
“T” invertido, com dimensões variando conforme a carga total distribuída (Figura 3.23),
assentada sobre terreno natural composto de areia fina e média, pouco compacta, com
fragmentos de conchas e presença de materiais orgânicos, conforme resultados apontados em
relatórios de sondagens efetuados na época da construção e após a ocorrência do colapso. O
embasamento em blocos de concreto, de vedação, com as dimensões: 39 x 19 x 9 cm,
assentados sobre a sapata corrida, com altura variável até o primeiro piso, coroada por cintas
corridas em concreto armado (OLIVEIRA et al, 2001).
As alvenarias de vedação foram construídas utilizando blocos de concreto iguais
aos do embasamento, com a última fiada em bloco calha, também de concreto e com mesmas
dimensões com ferragem e preenchidos com concreto, fazendo a ligação com as lajes, todas
pré-moldadas capeadas com concreto estrutural. Reservatório inferior em concreto armado
com tampa pré-moldada. Reservatório superior, localizado sobre a caixa da escada, ambos em
concreto armado.
89
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.23 – Corte da seção da sapata corrida
O edifício possuía sistema de esgotamento sanitário constituído por fossa séptica,
localizada na área do recuo frontal e valas de infiltração, com 0,60 m de profundidade nas
áreas de recuo lateral, possuindo uma camada de concreto atuando como camada
impermeabilização e servindo de piso para o estacionamento.
O colapso ocorreu de forma “generalizada com a ruptura no contorno das paredes
divisórias da sala, circulação e quarto reversível” dos apartamentos (03) do pavimento térreo e
dos três elevados (Figura 3.24). Os apartamentos com indicação (01) e (02) localizados na
parte frontal não sofreram influência aparente direta do desabamento. O (04) ficou bastante
danificado, apresentando instabilidade em todo o conjunto após o colapso, comprometendo a
segurança das edificações vizinhas: lado direito, lado do desabamento, prédio com as mesmas
características, e do lado esquerdo, edificação residencial térrea, gerando uma situação de
imediata demolição do restante do conjunto (OLIVEIRA et al, 2001).
90
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.24 – Aspecto do edifício após o colapso
(OLIVEIRA et al, 2002)
Os ensaios efetuados visando caracterizar o solo foram realizados através de
sondagem tipo SPT conforme recomendações das Normas NBR 8036, 6468, 6502 e 7250 da
ABNT, efetuados pelo ITEP, identificaram solo local com características predominantemente
arenosa, constituído de areia fina fofa, pouco compacta e de baixa compacidade com grande
susceptibilidade à lixiviação, e uma declividade no terreno no sentido da parte posterior da
edificação, contribuindo para uma concentração de água junto à parede de embasamento.
As águas encontradas na fundação coletadas em períodos distintos foram
analisadas conforme metodologia da Norma (CETESB L 1007), indicaram água classificada
como não salina ácida, com grau de agressividade de nulo a fraco e fenômeno preponderante
de lixiviação.
Para avaliar os níveis de comprometimento das características dos blocos de
concreto utilizados na fundação em função da agressividade da água e seus condicionantes
locais, foram realizados análises de caracterização mineralógica e reconstituição de traço, na
ABCP – SP (Associação Brasileira de Cimento Portland – São Paulo), em amostras de bloco
de concreto retiradas da fundação e alvenaria de elevação. Os resultados mostraram que não
houve perda significativa de massa nas amostras analisadas, indicando uma relação
cimento/areia na ordem de 1/13 para os blocos da fundação e 1/12 para os da elevação.
91
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Os resultados dos ensaios para verificação da resistência à compressão das
amostras dos prismas e blocos apresentaram os valore de σ= 4,60 MPa, σ= 4,67 MPa
respectivamente para as amostras da fundação e elevação. Amostras isoladas de bloco da
fundação apresentaram resultados médios de σ= 6,35 MPa.
O colapso, de forma generalizada, ocorreu a partir da parte extrema esquerda
(posterior) devido ao carreamento de partículas do solo pelo fluxo da águas pluviais e
servidas, proveniente de vazamentos, na direção da parte mais baixa do terreno. As sapatas
assentadas à superfície do terreno natural, sem embutimentos adequados, situadas nesta parte,
sofreram nas suas extremidades, um descalçamento ficando em balanço e sob a ação de
momentos fletores que provocaram o surgimento de trincas. Os deslocamentos produzidos a
partir das trincas nas alvenarias de embasamento transmitidos à laje de piso do pavimento
térreo desencadearam o processo de colapso generalizado (OLIVEIRA et al, 2001).
Os quadros a seguir, apresentam algumas características consideradas marcantes
das manifestações patológicas e acidentes com colapsos das estruturas.
Manifestações patológicas
Edifício
Localização
Terreno
Ano
de
exec
ução
Ano
das
m
anife
staç
ões
Estrutura
Tipo defundação
Alvenaria de embasamento
Alvenaria de elevação
Lajes Amarração da estrutura
PH da água
Expansão por umidade
Manifestações
Residencial do Cordeiro
Recife
Inclinado limitando ao fundo com o canal (vala de drenagem) de água pluviais
1993 2003 Caixão perdidocom 2,11 m de altura
Sapata corrida de concreto na forma de T invertido
Bloco cerâmico com seis furos c/20 cm de espessura
Bloco cerâmico com oito furos, agalga
Concreto armado com7 cm de espessura
Cintas de concreto armado
8,2 Elevado, considerado alcalino
Valores superiores aos da Norma Australiana AS
Carreamento de material sob as sapatas pela ação da água do lençol freático
Fissuras nas alvenarias de embasamento
Acidentes com colapsos
92
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Edifício
Localização
Terreno
Ano
de
exec
ução
Ano
do
cola
pso Estrutura
Tipo defundação
Alvenaria de embasamento
Alvenaria de elevação
Lajes Amarração da estrutura
PH da água
Expansão por umidade
Colapso
Aquarela
Jaboatão dos Guararapes
Área alagadapela incidência das águas pluviais
1986 1997 Caixão perdidocom 1,10 m de altura
Sapata corrida de concreto na forma de T invertido
Bloco cerâmico com seis furos c/11 cm de espessura
Bloco cerâmico com oito furos
Pré-moldada convencional
Cintas de concreto armado
7,4Considerado Neutro
Baixa salinidade e teores de agentes agressivos
Afundamento generalizado de todo pavimento térreo
Rupturas generalizadas nas lajes de piso do pav. térreo
Éricka
Olinda
Inclinado entre os canais do matadouro e do Rio Morto
1987 1999 Caixão perdidocom altura variando entre 1,72 e 2,42 m
Bloco de concreto na forma trapezoidal
Bloco de concreto c/ 14 cm e cerâmico com seis furos c/9 cm de espessura
Bloco cerâmico com oito furos, agalga
Pré-moldada tipo Volterrama
Ausência de cintas
8,3Elevado, classificada como salica-alcalina e salobra
Perda de resistência dos tijolos cerâmicos
Ruptura brusca, por esmagamento das alvenarias de embasamento com seccionamento das paredes de elevação da parte frontal
Enseada de Serrambí
Olinda
Próxima a margem esquerda do Rio Morto
2000 Caixão perdidocom 1,60 m de altura
Sapata corrida de concreto na forma de T invertido e sapatas isoladas de concreto
Bloco cerâmico com oito furos c/9 cm de espessura
Bloco cerâmico com oito furos, agalga
Pré-moldada com 19,5 e 28 cm de espessura
Ausência de cintas
Elevado, identificada água salobra com formação de gipsita e/ou etringita
Valores elevados 1,06 a 1,41 mm/m (normal: 0,03 mm/m)
Sem haver ruptura do solo da fundação com esmagamento das alvenarias de embasamento em uma altura em torno de 0,70 m
Ijuí
Jaboatão dos Guararapes
InclinadoAcentuada declividade contribuindo para uma concentração de águas pluviais
1994 2000 Caixão perdido
Sapata corrida de concreto na forma de T invertido
Bloco de concreto com 9 cm de espessura
Bloco de concreto com 9 cm de espessura
Pré-moldada convencional
Bloco calha de concreto e cintas corridas de concreto armado
Água não salina ácida e fenômeno preponderante de lixiviação
Ruptura generalizada das paredes divisórias da sala, circulação e quarto de serviço devido ao carreamento de partículas solo pelo fluxo das águas pluviais
3.3 Quadro Atual das Construções
93
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
As edificações executadas com alvenaria estrutural, tradicionalmente, estiveram
ligadas ao conceito de solução construtiva limitada, de qualidade questionável e destinada a
obras populares, desde os anos 60. A literatura existente sobre patologias estabelece um
estreito relacionamento entre prevenção e as características de elaboração dos projetos, do
controle sistemático e eficiente dos materiais, a execução criteriosa e com equipamentos
adequados além, da sua correta utilização e manutenção corretiva, quando necessário.
As pesquisas efetuadas buscando materiais com características que atendam às
condições de utilização têm-se direcionado principalmente para o componente bloco:
cerâmico, concreto ou sílico-calcário, pela sua função nas fundações, notadamente nos tipos
“prédio caixão” e paredes de vedação e atuantes como elementos estruturais. Quanto ao
componente argamassa as pesquisas se direcionam no sentido de se obter melhores resultados
na sua trabalhabilidade, reduzindo sua expansão/contração e estanqueidade da água nas juntas
das faces externas das alvenarias.
Os blocos cerâmicos, que chegam a atingir 18 MPa de resistência, com modulação
de 15 x 20 x 30 e 20 x 20 x 40 cm e septos distribuídos no sentido vertical são atualmente, na
categoria cerâmica, os mais indicados para a utilização na execução de alvenaria portante
(Figura 3.25).
Figura 3.25 – Execução de edificação com bloco cerâmico com furos verticais
(TÉCHNE, 1998)
Os blocos de concreto, atingem uma resistência de 20 MPa, são fabricados com as
modulações: 15 x 20 x 30, 12 x 20 x 40 e 20 x 20 x 40 cm, ainda são pouco utilizados na
94
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
RMR considerando a existência da norma NBR 10.837 – Cálculo de alvenaria estrutural de
bloco vazado de concreto (Figura 3.26 ).
Figura 3.26 – Execução com bloco de concreto
(TÉCHNE, 2006)
Os blocos sílico-calcários são fabricados por prensagem com a utilização de uma
mistura de cal viva em pó e areia silicosa. São produzidos para atingir até 15 MPa de
resistência , são maciços perfurados verticalmente e com a modulação 12,5 x 25 e 20 x 40 cm
(Figura 3.27). São mais pesados que os blocos cerâmicos e já foram empregados em
edificações de até 14 pavimentos.
95
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.27 – Execução com bloco sílico-calcário
(TÉCHNE, 1994)
A alvenaria com função estrutural vem sendo utilizada com maior freqüência em
obras de diferentes perfis e dimensão, em virtude da possibilidade de se reduzir etapas de
execução, obtendo-se uma maior racionalização, com redução de custo. A oferta de materiais,
principalmente blocos (cerâmicos e de concreto) com melhor qualidade com características de
vedação e estrutural, aliada ao controle rigoroso sobre a especificação, fornecimento e sua
utilização direcionam para uma maior aceitação do sistema construtivo.
Na região sul do Brasil a alvenaria estrutural é utilizada com freqüência na
execução de prédios com cinco pavimentos (Figura 3.28). O primeiro pavimento executado
destinado a utilização como garagem, lojas ou apartamentos, em estrutura convencional de
concreto armado, o segundo e terceiro pavimentos com a utilização de tijolos cerâmicos
maciços e os restantes com bloco cerâmico comum, os mesmos utilizados para alvenaria de
vedação (CAVALEIRO, 1991).
96
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.28 – Execução sobre pavimento com estrutura
convencional de concreto armado
(TÉCHNE, 1996)
Edifícios com cinco pavimentos, com um térreo e quatro superiores também têm
sido executados como forma de atender a demanda dos programas habitacionais. São
edificações executadas com a utilização de blocos de concreto com comprimentos variados,
20, 35 e 40 cm, possibilitando um melhor racionamento para melhor atender a modulação
prevista nos projetos executivos de arquitetura (Figura 3.29).
Figura 2.29 – Execução com alvenaria estrutural
Conjunto Residencial Cingapura - São Paulo-SP.
(TÉCHNE, 1996)
97
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
As alvenarias estruturais vêm sendo utilizadas também para a execução de
edifícios compostos de unidades habitacionais com padrão direcionado para parte da
população com poder aquisitivo diferenciado. São edifícios com 10, 12, 14 ou mais
pavimentos (Figura 3.30), onde são utilizados blocos de concretos de resistências
diferenciadas: 14, 10 e 6,5 MPa, de acordo com sua altura. Muitas vezes superando o
preconceito de que a alvenaria estrutural impõe limites ao traçado arquitetônico dos projetos e
confirmando a afirmação “sempre existirão obstáculos para o arranjo arquitetônico quando se
utiliza a alvenaria estrutural, como também em qualquer outro sistema estrutural implica
limitações arquitetônicas” (RAMALHO, 2003).
Figura 3.30 – Execução com alvenaria estrutural com vários pavimentos
(TÉCHNE, 2003)
Soluções como a criação de lajes em balanço para serem utilizadas como terraço
são viabilizadas, nas edificações executadas com blocos de concreto, de acordo com as
normas vigente para cálculo, execução e controle em obras de alvenaria estrutural (Figura
3.31)
98
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.31 – Execução de elementos em balanço
(TÉCHNE, 1994)
3.4 Pesquisas Tecnológicas
O desenvolvimento de novos equipamentos industriais capazes de produzir
componentes de concreto (fabricação de blocos) com melhor qualidade e a padronização de
procedimentos, impulsionaram a aceitação do sistema construtivo e a necessidade de maiores
pesquisas no sentido da prevenção e recuperação das obras executadas com alvenaria
estrutural. As maiores incidências das manifestações patológicas têm ocorrido sobre os
componentes: tanto de cerâmica quanto de concreto. Os componentes cerâmicos em função
principalmente de problemas relacionados com a sua queima apresentavam um desvio-padrão
muito grande entre peças de uma mesma fornada, comprometendo a modulação, o esquadro e
o prumo das paredes. Os de concreto por possuírem alto índice de vazios (porosidade),
decorrentes de uma cura inadequada e pouca prensagem durante seu processo de fabricação,
comprometendo sua capacidade de suporte (resistência).
As principais incidências patológicas nas alvenarias são oriundas da ação da água do
solo nas faces expostas dos mesmos, notadamente nas edificações que usam paredes de
alvenaria como fundações (embasamento). A água do solo chega a atingir, por capilaridade,
até cerca de 80 cm acima do nível de piso acabado, manifestação que pode ser combatida com
uma adequada impermeabilização dos elementos: pisos e paredes. Em situação de contato
constante da água com a alvenaria, geralmente de embasamento, ocorre aumento das
dimensões dos materiais cerâmicos, principalmente blocos e revestimentos, produzidos pela
99
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
adsorção de água. O aumento ocorre lentamente, é relativamente pequeno, porém suficiente
para conduzir ao surgimento de fissuras nos blocos quando as tensões geradas pela
deformação contida das peças excedem a resistência limite dos materiais (MENEZES, 2003).
A Expansão por umidade (EPU) é o fenômeno que ocorre com os materiais
cerâmicos através da adsorção de água (hidratação) pelos seus poros e aumento do seu
volume (expansão) ao longo do tempo alterando o estado funcional da parede e reduzindo a
resistência destes elementos. Quando combinada com o ataque de sais solúveis a EPU torna-
se causa mais comum de deterioração de blocos cerâmicos. Sua ação tem atraído a atenção de
cientistas, notadamente na África do Sul, Austrália, Estados Unidos e alguns países da
Europa, desde 1926. Porém somente a partir de 1956 é que surgiram artigos relacionando a
EPU a danos em edificações.
Após a segunda guerra mundial, na Inglaterra e Austrália foram observados colapsos
nas alvenarias e estruturas de edificações, que mais tarde foram atribuídas à EPU. Pesquisas
destacando com maior profundidade a influência da composição mineralógica e
microestrutural na EPU dos corpos cerâmicos foram realizadas mostrando que devido à
atração intermolecular, a superfície de um sólido possui a característica que para os líquidos é
chamada tensão superficial que é responsável por uma compressão no interior do sólido,
sendo reduzida quando à água ou outro liquido atuante é adsorvida à superfície, produzindo
no sólido comportamento elástico levando-o a se expandir, quando a tensão é reduzida
(MENEZES, 2003).
As fases amorfas são as mais reativas com a umidade e, por conseguinte, mais
susceptíveis de provocarem elevada expansão por umidade. As fases vítreas e cristalinas são,
menos reativas com a umidade, evidenciando a influência do teor de álcalis, das razões de
óxido (especificamente alumina/sílica e álcalis/sílica) e da composição mineralógica na EPU
dos corpos cerâmicos. Mesmo sendo o fenômeno da EPU muito dependente da composição
mineralógica das matérias primas que compõem a massa cerâmica há uma estreita relação
entre a composição do corpo e a temperatura e o tempo de queima, no que se refere aos seus
efeitos sobre a EPU. Condições em que, quando não atendida, tornará o corpo cerâmico
resultante propenso a conter uma elevada porosidade com grande quantidade de fases vítreas
e/ou amorfas e fases residuais reativas com a água.
100
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
As pesquisas relacionando os efeitos da EPU nos materiais cerâmicos têm-se
direcionado mais para os aplicados em revestimentos (pisos e paredes), provavelmente devido
à maior incidência das manifestações dos mesmos, por se situarem nas partes das edificações
que são visíveis e por interferirem no seu aspecto estético. Os materiais cerâmicos das
alvenarias de fundação por estarem cobertos, em algumas situações confinados no terreno e os
de elevação revestidos (argamassa ou cerâmica) onde as manifestações da EPU não são
aparentes, mesmo já se conhecendo seu efeito, têm-se desenvolvido a partir de trabalhos
isolados, mas já com alguns resultados práticos, principalmente para as alvenarias de
embasamento.
A Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Fundação Instituto de
Tecnologia de Pernambuco (ITEP) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em
convênio com o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT),
através do FINEP (Financiadora de estudos e projetos) através de revisão bibliográfica e a
catalogação de casos de manifestações patológicas e acidentes ocorridos em edificações
executadas com alvenaria resistente, procuram determinar a influência da argamassa de
revestimento e o desenvolvimento de métodos para a sua recuperação. São pesquisadas
técnicas que empreguem as propriedades elásticas médias da estrutura através da utilização
de princípios matemáticos consistentes, pela análise numérica de painéis de alvenaria
estrutural utilizando propriedades de homogeneização, avaliação das alturas máximas de
edifício construídos em alvenaria estrutural com blocos de concreto de variadas resistências,
modelagem numérica dos efeitos da expansão por umidade (EPU) em painéis de alvenaria
estrutural e análises de painéis de alvenaria dotados de aberturas.
Pesquisas em andamento utilizando argamassa com traços executados com cimento,
areia e cal e cimento com saibro, procuram determinar a influência da argamassa de
revestimento na resistência à compressão axial em prismas de alvenaria resistente de blocos
cerâmicos (MOTA E OLIVEIRA, 2005).
101
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
3.5 Soluções Empíricas
As soluções adotadas visando devolver às edificações condições de habitabilidade,
principalmente na segurança da parte estrutural, têm-se concentrado essencialmente na
recuperação de alvenarias com fissuras ou destacamentos, a partir do diagnóstico estabelecido
juntamente com o conhecimento das conseqüências das patologias nos comportamento das
edificações.
As principais soluções empíricas empregadas, baseadas nos conhecimentos
acumulados ao longo dos tempos em que a alvenaria vem sendo utilizada como sistema
construtivo, refere-se geralmente às partes visíveis, que interferem no aspecto estético da
edificação (paredes e lajes). As partes protegidas pelo terreno (fundações) e lajes de piso do
pavimento térreo, nas edificações tipo caixão somente se tornam visíveis quando os
componentes se apresentam em adiantado processo de deterioração, quase sempre chegando
ao colapso.
São soluções empregadas normalmente após a verificação do comprometimento das
fissuras no funcionamento da estrutura a partir de situações de desaprumos muito acentuados,
danos às instalações hidro-sanitárias e de águas pluviais e redução de áreas de apoio de lajes,
principalmente.
O processo de recuperação é “direcionado no sentido de suprimir ou minimizar as
causas reais da patologia” (WISSENBACH, 1990), já que o surgimento das fissuras ou
destacamentos são efeitos decorrentes de outros problemas manifestados na construção. O
processo de recuperação envolve:
- Consolidação do terreno e reforço de fundação;
- Recuperação ou reforço de componentes estruturais;
- Introdução de junta na construção;
- Recuperação ou introdução de sistema de impermeabilização
- Criação ou recuperação de sistema de coleta de águas pluviais (superficiais ou
embutidas).
A recuperação de fissuras provenientes do destacamento entre paredes e pilares de
concreto (geralmente situados na caixa de escada e reservatório elevado) é realizada através
102
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
da utilização de material flexível (tela metálica) no encontro parede / pilar inserida sob a nova
argamassa a ser aplicada, transpassando o pilar em cada lado como mostra a Figura 3.32.
Figura 3.32 – Fissura entre alvenaria e pilar
(WISSENBACH, 1990)
Para destacamentos entre alvenarias são utilizados à adição de ferragem de
armação e selante flexível (poliuretano, silicone etc.) aplicado na região. A tela é aplicada
sobre a região da fissura (Figura 3.33) recebendo em seguida revestimento de argamassa.
Figura 3.33 – Destacamento entre alvenaria
(TECHNE, 1998)
Fissuras envolvendo alvenaria de bloco aparente são corrigidas através da
substituição dos blocos comprometidos e adição de ferragem embutida nas juntas de
assentamento. As juntas são raspadas até uma profundidade de aproximadamente 15 mm para
103
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
a introdução e chumbamento da ferragem que deverá ter diâmetro de 4,0 a 5,0 mm e
transpasse para os lados como mostra a Figura 3.34.
Figura 3.34 – Blocos fissurados
(WISSENBACH, 1990)
Em paredes com blocos revestidos, as fissuras são eliminadas com a aplicação de
material acrílico reforçado com tela de poliéster. Após a retirada do revestimento
comprometido e fechamento da junta (Figura 3.35) é realizado a aplicação do material acrílico
reforçado com a tela e em seguida recomposto o revestimento.
Figura 3.35 – Fissuras com tela de poliéster
(THOMAZ, 1990)
104
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Fissuras ativas com movimentações pouco acentuadas podem ser recuperadas a
partir da utilização de selantes (poliuretano, silicone etc.) e argamassa flexível, inseridos na
região da trinca através de sulco aberto em forma de vê com 2,00 cm de largura por 1,00 cm
de profundidade aproximadamente (Figura 3.36).
Figura 3.36 – Fissuras com selante e argamassa flexível
(TECHNE, 1998)
Fissuras localizadas em paredes podem ser recuperadas com a introdução
bandagem na argamassa de revestimento ou tela de náilon na pintura. Sendo a trinca
acentuada, para se obter um resultado mais uniforme, usa-se armadura no trecho fissurado ou
tela metálica, também no revestimento (Figura 3.37).
105
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Figura 3.37 – Fissuras com argamassa e tela metálica
(TECHNE, 1998)
Fissuras acentuadas em alvenaria, proveniente de recalques intenso da fundação, são
recuperadas com a utilização de armaduras atirantadas (Figura 3.38) introduzidas na
alvenaria. Algumas situações permitem a introdução de armaduras nas alvenarias,
posicionadas perpendicularmente às trincas e chumbadas com argamassa com teor de cimento
elevado.
Figura 3.38 – Fissuras com a utilização de tirante
(THOMAZ, 1990)
106
Capítulo 3 - Manifestações Patológicas e Acidentes
Manifestações em forma de fissuras, trincas ou rachaduras, atuantes nas alvenarias
das fundações (embasamento) provenientes da ação de sais solúveis, expansão por umidade
(EPU) ou de recalques parciais ou totais são as que produzem danos com maior intensidade,
provocando o colapso da estrutura em algumas situações. Sua recuperação depende do tipo de
manifestação atuante, podendo variar da simples substituição dos componentes (bloco,
argamassa de assentamento, revestimento) até a criação de novos elementos de apoio das
fundações (sapatas isoladas ou corridas, estacas).
107
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
CAPÍTULO 4 - ALGUMAS SOLUÇÕES DE REFORÇOS USADAS NA RMR
As manifestações patológicas surgidas nas edificações executadas com alvenaria
resistente na região metropolitana do Recife (RMR) entre os anos de 1975 e 1990 apresentam
características semelhantes no seu sistema construtivo, principalmente com a utilização de
caixão perdido como fechamento das suas fundações construídas com alvenaria de blocos
cerâmicos vazados nos seus embasamentos. A grande incidência de patologias e as situações
de colapsos generalizados ocorridos tornaram sua utilização inadequada como sistema
construtivo. As soluções que vêm sendo usadas na Região Metropolitana do Recife (RMR),
têm apresentado como principal ponto a substituição ou reforço das alvenarias de
embasamento e recuperação dos elementos da superestrutura: fechamentos de fissuras e
ligações entre lajes e alvenarias.
4.1 Algumas soluções utilizadas
A Caixa Econômica Federal (CEF) como principal gestora de financiamentos para
a execução de edificações em alvenaria portante, aprovou documento onde apresenta
requisitos e critérios mínimos a serem atendidos para solicitação de financiamento de
edifícios em alvenaria estrutural que empreguem blocos cerâmicos com função estrutural ou
blocos vazados de concreto (SABBATINI, 2002). Para a sua elaboração foram considerados e
incorporados os objetivos do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat –
PBQP-H e as especificações das Normas Brasileiras vigentes, destacando a NBR 15270 para
blocos cerâmicos e a NBR 7173 para blocos vazados de concreto.
108
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
O documento visa atender edifícios multifamiliares de três a cinco pavimentos que
empreguem processos construtivos de alvenaria estrutural com uma das seguintes tipologias:
de alvenaria não-armada e parcialmente armada, paredes de alvenaria de blocos cerâmicos
com função estrutural ou de blocos vazados de concreto. Estabelece critérios e exigências
para a construção da estrutura de edifícios habitacionais quando executada essencialmente de
paredes resistentes de alvenaria a partir da situação calamitosa depois dos desmoronamentos
de prédios na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Como principais causas desta situação se consideram: projetos elaborados de
maneira empírica, uso de materiais inadequados (principalmente blocos), métodos executivos
incorretos e ausência quase que total de controle tecnológico dos materiais e da construção.
Destaca também que os projetos e as construções não-racionais não são a regra do setor e que
a maioria dos edifícios construídos no país possui um grau de segurança adequado. Considera
ainda que um dos fatores que contribuem para as ocorrências destes fatos é a ausência de
normalização brasileira específica do Processo Construtivo de Alvenaria Estrutural que
empregue blocos cerâmicos (SABBATINI, 2002).
O documento da Caixa Econômica Federal é direcionado para as novas
edificações, novos projetos elaborados a partir da sua divulgação. Para a recuperação as
soluções empregadas têm-se concentrado na substituição ou reforço das fundações,
principalmente as alvenarias de embasamento. São soluções empregadas de acordo com as
condições e características da edificação, de um modo geral empíricas. São reforços do
embasamento pela incorporação de novos elementos (estacas e vigas) e através da aplicação
de revestimentos de argamassa com tela soldada nas duas faces interligadas por tufos de
concreto armado.
Solução 1 – Introdução de novos elementos
A solução com a introdução de novos elementos foi utilizada em uma edificação
que apresentava as seguintes características e ocorrências:
109
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Características: conjunto residencial, com idade aparente de doze anos, constituído
por quatro pavimentos executado em alvenaria estrutural com a utilização de bloco cerâmico
de seis furos. Sua fundação dimensionada para uma taxa admissível do solo igual a 1,00
kgf/cm2 foi executada com a utilização de sapata corrida de bloco de concreto simples na
forma trapezoidal assentados sobre colchão de areia com largura variando entre 0,40 e 0,60
metros. O embasamento executado com alvenaria dobrada nas partes externas e singela nas
internas. Sobre toda alvenaria de elevação completando a altura do pé direito, utilizou-se
bloco de concreto tipo calha com 9 x 19 x 19 cm para apoio das lajes todas pré-moldadas do
tipo volterrana.
Ocorrências: ameaça de desmoronamento (desabamento de paredes, viga ou
elemento estrutural), perda de resistência das alvenarias do embasamento, presença de trincas
observadas externamente (fachadas), classificação de vício de construção proveniente de
causa externa, do uso e desgaste e pela falta de conservação.
O laudo de vistoria foi elaborado após verificação dos elementos de fundação da
edificação e realização de ensaios de amostras das alvenarias do embasamento, destacando-se
os seguintes pontos:
- Edificação estruturada em alvenaria auto-portante com quatro níveis de laje
armadas no local maciçamente com vãos contra-ventados a 4,00 metros no máximo;
- Para este sistema estrutural quaisquer alterações nas alvenarias seja retirada ou
criação de outras, provocam modificações na concepção estrutural, redistribuindo cargas para
pontos menos solicitados;
- Registra que a edificação em questão apresenta um grau de conservação aceitável
e a ocorrência de pequenas fissuras que não caracterizam momento de instabilidade;
- Alvenarias singelas de tijolos cerâmicos de seis furos em processo de
deterioração, com radier pré-moldado;
- Resultados dos ensaios das amostras das alvenarias do embasamento,
comprovam a baixa resistência, o que sugere a necessidade de recuperação;
110
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
- Apesar da estrutura da edificação não apresentar características de risco iminente,
acha-se que os materiais de construção sofrem fadiga (envelhecimento) com o uso ao longo
do tempo;
- A recomendação do parecer técnico é que seja recomposto o embasamento
executado com materiais de maior estabilidade à deterioração e momento de inércia, dando
uma característica de maior durabilidade;
- É prudente salientar que a edificação não apresenta nenhuma característica de
recalque das fundações e sim deterioração do embasamento.
Os novos elementos introduzidos foram: estaca do tipo “broca” executadas
paralelamente às alvenarias nos dois lados (interno e externo), localizadas em função da
geometria da planta baixa da edificação com objetivo de criar novos pontos de apoio,
eliminando a ação das cargas provenientes dos elementos de elevação da estrutura (alvenarias
e lajes) aplicadas diretamente sobre os embasamentos, alterando conseqüentemente seu
funcionamento, passando de sapata corrida para pontos isolados (estacas) e vigas apoiadas
sobre as estacas (figura 4.1). Foram adicionadas vigas de concreto armado no nível do piso do
pavimento térreo, sob a camada impermeabilizadora (contra-piso) interligando as estacas
brocas, no sentido longitudinal do embasamento existente.
Figura 4.1 – Corte esquemático: localização das estacas brocas
e vigas baldrames
111
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Transversalmente unindo as duas vigas (internas e externas aos embasamentos)
uma laje, também em concreto armado foi criada, formando o novo elemento adicionado ao
conjunto (figura 4.2). Direcionando as ações do carregamento através das vigas baldrames
para os pontos de maior rigidez que são as estacas brocas e eliminando a atuação do
carregamento nas alvenarias de embasamento, parte comprometida da fundação.
Figura 4.2 – Vista do reforço executado.
As estacas “brocas” foram executadas em poços escavados manualmente para não
aumentar o comprometimento existente no embasamento, com profundidade variando em
cerca de três metros e concretadas, após a colocação da ferragem, em camadas socadas
manualmente até atingir o nível desejado. A ligação das vigas através das lajes foi executada
por trechos alternados substituindo a parte do embasamento comprometido. Para a execução
dos trabalhos foi necessário demolir todo piso, contra-piso e instalações hidráulicas e
sanitárias existentes (figura 4.3), sendo refeitas após a conclusão dos serviços.
112
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Figura 4.3 – Retirada do piso e contra-piso
As cargas são naturalmente conduzidas para os pontos de maior rigidez, os apoios,
segundo a formação de um arco (efeito arco) diretamente ligado à rigidez da viga de apoio,
através de uma concentração de esforços na região dos apoios tornando a suposição inicial de
carregamento uniformemente distribuído sobre a parede estrutural inexistente e produzindo
um aumento das tensões normais de compressão (CAMACHO, 2000).
Solução 2 – Aplicação de revestimentos com telas
A solução utilizando revestimentos de argamassa com telas soldadas nas duas
faces interligadas por tufos de concreto armado foi apresentada para uma edificação
executada com fundação em concreto armado no formato de “T” invertido, em um terreno
com acentuada declividade. Medindo um metro de altura na parte frontal e em torno de 0,30
metro na parte posterior, com a alvenaria de embasamento em bloco cerâmico de uma vez,
com assentamento apresentando as juntas de forma incompatível. Da parte comprometida da
fundação, a alvenaria de embasamento, foram retiradas amostras para análise dos elementos:
blocos e argamassa de assentamento (figura 4.4).
113
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Figura 4.4 – Aberturas no embasamento para
retirada de material para análise.
A proposta consta da execução do reforço nas duas faces da alvenaria de
embasamento (figura 4.5) interligadas em pontos alternados, por tufos (figura 4.6) também de
concreto para garantir sua aderência e imobilização junto às alvenarias comprometidas. Para
cada trecho reforçado foi previsto uma armação formando uma malha dupla, substituindo a
tela soldada, envolvendo a alvenaria de embasamento comprometida.
Figura 4.5 – Detalhe genérico da sapata corrida.
114
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Figura 4.6 – Vista lateral da sapata corrida e posição dos tufos.
4.2 Comentários críticos acerca das soluções
As soluções apresentadas são pouco eficientes quando analisadas considerando o
desempenho do conjunto e as determinações das NBR vigentes da Associação Brasileira de
Normas Técnicas.
Solução 1 – Introdução de novos elementos
A solução apresentada com a introdução de novos elementos, tais como estacas
“broca” e vigas de concreto armado, modifica o funcionamento da estrutura, altera o conceito
de sapata corrida, pois concentra as cargas nos pontos de maior rigidez que são as estacas,
transmitindo a partir daí as reações ao solo. A estrutura torna-se reticulada e as vigas com
dois ou mais apoios sofrem a ação de esforços seccionais, sendo necessário o seu
dimensionamento para combater os cortantes e momentos fletores: positivo e negativo.
Numericamente através “de pontos discretizados de apoio, os vãos entre os
mesmos devem ser diminuídos em relação às soluções habituais. Em situação em que isso não
seja possível, atenção especial deve ser dada à rigidez das vigas e à extensão efetiva dos
115
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
apoios” (CAMACHO, 2002). Utilizando como elemento de apoio uma viga com seção de 20
x 30 cm, com módulo de elasticidade de 30 GPa sob uma parede com 14 cm de espessura
com comprimento total de 4,00 metros, com módulo de elasticidade de 6 GPa e coeficiente de
Poisson igual à 0,20 para os dois materiais. Considerando um carregamento distribuído
uniformemente de 200 KN/m, impondo uma tensão média na parede de 1,40 MPa (figura
4.7), e apoio estreito com vão livre de 3,80 metros, para a estrutura indeformada o
espraiamento de tensões nos apoios e meio do vão apresentou valores iguais a 4,75 MPa e
0,06 MPa respectivamente.
Figura 4. 7 – Parede com apoio estreito
(CAMACHO, 2002)
Considerando a estrutura deformada (figura 4.8) e aumentando os apoios (apoio
largo) os valores para espraiamento de tensões passam para 2,89 MPa nos apoios e 0,10 MPa
no meio do vão, apresentando uma redução de 39% no apoio em relação a situação
indeformada.
116
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Figura 4. 8 – Parede com apoio largo.
(CAMACHO, 2002)
Com a introdução de um apoio intermediário, aumentando os pontos de reação do
solo, diminuindo a dimensão do vão livre para 1,70 metros (figura 4.9) e considerando a
estrutura deformada o espraiamento passa para 3,93 MPa nos apoios, com uma redução de
38% em relação a situação inicial e de 0,38 MPa no meio do vão.
Figura 4. 9 – Parede com maior número de apoios.
(CAMACHO, 2002)
117
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Para uma situação de parede com apoio contínuo (figura 4.10) com as mesmas
condições da situação inicial a redução apresentada foi de 65%, para valores de espraiamento
de 1,64 MPa nas extremidades e de 1,12 MPa no meio da parede, valores quase uniformes nas
tensões da base, “situação próxima do modelo de dimensionamento usualmente admitido para
as paredes de alvenaria estrutural” (CAMACHO, 2000).
Figura 4. 10 – Parede com apoio contínuo.
(CAMACHO, 2002)
Para uma situação considerando a alteração da altura da viga (30 cm na situação
inicial) para 60 cm aumentando sua rigidez (figura 4.11). Os valores de espraiamento de
tensões foram 4,25 MPa nos apoios e de 0,25 MPa no meio do vão, uma redução de apenas
11%.
Figura 4. 11 – Parede com apoio estreito e viga de grande rigidez.
(CAMACHO, 2002)
118
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
A tensão admissível de parede considerada em situação normal de
dimensionamento é de 1,40 MPa, valor referencial para a aquisição dos blocos para a
alvenaria estrutural de elevação. Comparando com os valores obtidos para a situação inicial,
com apoios estreitos, o valor real da máxima tensão na alvenaria aumentaria em 340% em
relação à situação com apoio contínuo. Considerando os resultados obtidos numericamente a
solução adotada tende a aumentar os valores das tensões atuantes nas paredes situadas sobre
os novos elementos introduzidos na fundação. Situação favorável ao surgimento de novas
fissuras, comprometendo a integridade do conjunto estrutural.
Solução 2 – Aplicação de revestimentos com telas
A solução que utiliza a aplicação de revestimentos de argamassa com telas
soldadas nas duas faces, interligadas por tufos de concreto armado é inexeqüível,
considerando os seguintes itens do projeto executivo proposto.
A utilização de uma malha dupla substituindo a tela soldada (figura 4.12) não está
claro se a medida de 3 cm para o estribo é interna ou entre eixos dos dois ramos. Sendo
interna, 3 cm é o mínimo para o dobramento pois a NBR 6118/2003 exige um diâmetro
mínimo de 3φ , resultando a largura mínima 2 x 3 x 0,5 = 3 cm. Neste caso, resultaria um
cobrimento absurdo de 0,5 cm. Se a medida for entre eixos, é impossível dobrar o estribo.
Figura 4.12 – Detalhe das armações dos reforços.
119
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
O projeto não especifica a dimensão máxima do agregado. Para a largura 5 cm, a
brita máxima é 50 /4 = 12,5 mm.
Considerando 3 cm como medida interna, hipótese favorável para distribuição da
armadura longitudinal, duas barras de 8.0 mm ficarão com uma distância entre si igual a 1,4
cm, o que é insuficiente. A norma exige distâncias mínimas, superiores ao espaço disponível
de 1,4 cm, ou seja, 2 cm para atender à aderência e 1,2 vezes a dimensão do agregado. Se for
considerada a dimensão máxima, o valor seria 1.2 x 1.25 = 1,5 cm que também ultrapassaria o
espaço disponível.
A largura da capa de revestimento é inexeqüível com forma lateral porque não
permite a concretagem. Têm-se dois níveis com duas barras de 8.0 mm e cinco níveis
intermediários de duas barras de 5.0 mm. Não há possibilidade do concreto fluir ao longo da
peça com a forma lateral. Mesmo que se conseguisse de alguma maneira efetuar a
concretagem, o recobrimento ficaria insuficiente. Ter-se-ia disponível no máximo 1 cm,
enquanto que a NBR 6118 exige no mínimo 3 cm.
O estribo tem altura 82 cm para uma altura total de 85 o que dará um recobrimento
máximo de 2 cm se fosse deixado 1 cm na parte inferior, junto ao bloco.
No relatório há referências sobre o tratamento que deveria ser dado às peças de
concreto, no caso de se encontrarem fortemente oxidadas. Existem apenas quatro pilares em
todo o edifício que suportam a escada e reservatório superior. Não há referências ao
tratamento que deve ser dado ao embasamento, antes de executar o reforço de concreto.
Deveriam ser recomendadas, no mínimo, limpeza das superfícies e algumas considerações
sobre a aderência ou não dos tijolos cerâmicos com o concreto novo.
O fato de não existir o Tê invertido e sim um bloco de fundação, acarretaria
alteração no detalhe, em virtude da maior possibilidade de flambagem da capa de concreto. O
detalhe apresentado não é convincente quanto à transmissão de cargas para as capas de
concreto introduzidas. A distância de 100 cm se torna insuficiente por não assegurar a
integridade do trecho de alvenaria ou evitar com a seção 10 cm x 10 cm que as capas de
concreto permaneçam estáveis. Se a alvenaria romper entre as placas, a estrutura ruirá da
120
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
mesma forma. Só haverá transmissão de cargas se houver deformação adicional ao estado
atual dos embasamentos, ou seja, praticamente numa situação de ruptura das fundações.
As dimensões de 7 cm e 27 cm previstas para o estribo dos tufos não permitem o
recobrimento preconizado pela NBR 6118/2003. O fato dos dois estribos terem a mesma
dimensão agrava o problema do revestimento nas suas faces.
Os cruzamentos dos estribos dos tufos com barras da capa de recobrimento, torna a
execução inviável por não ter espaços para alojamento das barras. Se insistir em situar os
tufos entre as malhas formadas pelos estribos e barras longitudinais da capa de concreto
criada, a armação dos tufos fica presa em concreto simples. Isto não dá aos tufos o papel que
se pretende.
A solução com a utilização de revestimento armado com tela, quando detalhada e
executada corretamente pode aumentar a capacidade resistente de paredes submetidas a
esforço de compressão axial, cisalhamentos e à flexão simples. Para a situação de esforços de
compressão axial, havendo concentração de tensões ou má distribuição de forças no conjunto
e considerando os complexos mecanismos de resistência a solução pode apresentar resultado
pouco eficiente. Para os esforços de cisalhamento a eficiência dependerá da qualidade da
aderência das argamassas de assentamento dos blocos e de revestimentos do conjunto. Para a
situação de paredes submetidas à flexão simples o aumento substancial da sua capacidade
resistente fornece um bom indicador para o desempenho da aplicação da solução em paredes
de alvenarias submetidas à esforço de compressão (LORDSLEEM JÚNIOR, 1997).
Após o embargo por determinação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE)
a autorização para construção de prédio caixão na Região Metropolitana do Recife (RMR)
tornou-se vigente para a cidade do Recife. A partir de novos parâmetros estabelecidos pela
Legislação Nacional, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e empresas de
construção civil somente serão permitidas novas construções utilizando alvenaria estrutural
como sistema construtivo satisfazendo às normas nacionais e internacionais, não sendo mais
admitida simplesmente alvenaria resistente. A deliberação determina a eliminação total de
fundação executada com alvenaria e estabelece que decorridos cinco anos da execução da
construção sejam efetuados vistorias e emitidos laudos determinando ou não a necessidade de
se executar reparos preventivos ou corretivos.
121
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
Novas edificações utilizando alvenaria estrutural somente poderão ser executadas a
partir da utilização dos critérios determinados na Lei nº 17.184/2006, publicada em 16 de
janeiro de 2006, na cidade do Recife, que “dispõe sobre edificações utilizando-se a técnica de
alvenaria resistente ou portante e estrutural”.
Os projetos para execução de novas edificações em alvenaria resistente deverão
atender, além das disposições contidas nas diversas NBR da ABNT, as seguintes exigências:
- Sondagem de reconhecimento das características do solo e análise físico-
química da água e do solo subterrâneos onde serão assentadas as fundações;
- Utilização de material para a fundação resistente ao ataque de sulfatos e
cloretos, atestados por laboratórios de comprovada idoneidade;
- Aterro compactado em toda área da edificação, eliminando o espaço vazio
entre o nível do terreno e a laje de impermeabilização do primeiro piso;
- Tubulações das instalações sanitárias convenientemente executadas de forma a
impedir o carreamento do material do aterro em situações de vazamentos;
- Pavimentação em todo o contorno da edificação para minimizar o efeito da
chamada “molhação de pé de parede”, considerando uma faixa mínima de 1,00
m de largura;
- Caixas de inspeção, de passagem ou sifonadas das instalações sanitárias e da
águas pluviais executadas obedecendo a um afastamento de 1,00 m do limite
da edificação e convenientemente impermeabilizadas. As águas das instalações
sanitárias deverão ser direcionadas para a rede coletora do sistema público ou
na inexistência deste para sistema próprio de destinação final e as pluviais para
o logradouro público;
- Atestado de qualidade das lajes pré-moldadas a serem empregadas;
122
Capítulo 4 - Soluções usadas na RMR
- Controle tecnológico do concreto e dos seus componentes, ensaios de prisma
para blocos estruturais e de resistência à compressão da argamassa de
assentamento da alvenaria;
- Redução de rasgos horizontais para as diversas instalações;
- Paredes com dimensões mínima de 0,14 m, esbeltez máxima de 0,20 m e
resistências mínimas de 4,5 MPa para blocos revestidos e de 6,0 MPa para
blocos aparentes.
A Lei nº 17.184/2006 proíbe a utilização de blocos cerâmicos nas alvenarias de
embasamento até que venha a ser regulamento seu uso pela norma correspondente da ABNT e
determina a realização de vistoria técnica na edificação entre o terceiro e o quarto ano após a
concessão do habite-se e emissão laudo de vistoria devidamente registrado no Conselho
Regional de Engenharia e Arquitetura – CREA, atestando as condições de habitalidade da
edificação. Havendo comprometimento das condições de estabilidade e segurança, de
responsabilidade da execução, a imediata recuperação deverá ser efetuada, fazendo constar no
Termo de Responsabilidade Técnica firmado pelos responsáveis pela execução de acordo com
a Anotação de Responsabilidade Técnica – ART CREA. Determina também que proprietário
ou usuário a qualquer título da edificação proceda a uma vistoria qüinqüenal no imóvel,
decorridos cinco anos da sua conclusão, por profissional ou empresa legalmente habilitados. E
que a não apresentação do Laudo de Vistoria poderá acarretar a interdição da edificação pela
municipalidade, com desocupação do imóvel e cancelamento dos alvarás de localização e
funcionamento até serem adotadas providências cabíveis que atestem a estabilidade e
segurança do imóvel.
A Prefeitura da Cidade de Olinda incorporou no Código de Obras, em sua versão
de 2002, exigências acerca das construções de edifícios em alvenaria. Entre outras
prescrições, impõe que o projeto seja efetuado em alvenaria estrutural, além de exigir
projetos, relatórios de sondagens à percussão e outros requisitos. Em realidade, prescreve
condicionantes equivalentes às exigências legais estabelecidas pela Prefeitura da cidade do
Recife, antecipando-se desta forma a tais recomendações. Estas normativas criam
indiretamente critérios a serem seguidos pelos demais municípios componentes da Região
Metropolitana do Recife.
123
Capítulo 5 - Conclusões e Sugestões
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
O procedimento de recuperação de uma estrutura restituindo sua condição de
segurança, estética e funcionalidade dentro da sua finalidade (residencial ou comercial)
deverá sempre considerar os fatores relacionados à eficiência da intervenção, materiais e
equipamentos disponíveis, custo e condições da execução dos serviços e principalmente a
segurança do conjunto: estrutura e equipe de trabalho. A pesquisa bibliográfica efetuada sobre
as causas das patologias e suas manifestações, os acidentes com colapso total das estruturas,
as técnicas de reforço e recuperação de edificações executadas com alvenaria portante de
blocos (cerâmico ou de concreto) a presença de água residual interferindo no comportamento
das alvenarias de embasamento, apontam para sua recuperação através dos procedimentos de
substituição ou reforço dos materiais empregados nas fundações.
5.1 Conclusões
A substituição dos materiais poderá ser parcial ou total. Havendo ainda
integridade das unidades cerâmica ou de concreto, a argamassa de assentamento deverá ser
substituída através de procedimentos de remoção e refechamento das juntas com a utilização
de argamassa de resistência adequada e compatível com a unidade. Na impossibilidade de se
manter a unidade, sua substituição será efetuada através do procedimento conhecido como
submuração, com a utilização de unidade com características compatíveis para a nova
finalidade. Sua execução deverá ser precedida de escoramentos auxiliares apropriados,
aliviando temporariamente o carregamento enquanto se realiza o procedimento e através de
pequenos trechos alternados permitindo sua cura em condições favoráveis.
124
Capítulo 5 - Conclusões e Sugestões
O procedimento de substituição dos elementos da fundação poderá ser
complementado através da eliminação do “caixão perdido”, impedindo através da execução
de aterro compactado com a utilização de material fino em camadas de pouca espessura, a
ação da umidade do terreno por capilaridade ou o contato da água sujeita a variação do nível
do lençol freático ou livre, nas faces expostas das alvenarias de embasamento. O aterro deverá
ser executado por aberturas efetuadas na laje de piso (cobertura do caixão perdido) através da
retirada de parte das lajotas e posterior preenchimento com concreto completando a nova laje
de impermeabilização, permitindo seu funcionamento como superfície isolante entre as
alvenarias de embasamento e elevação para impedir a ascensão da água do solo por
capilaridade.
O reforço poderá ser empregado quando comprovada ainda a eficiência dos
elementos da fundação. Injeções de calda fluída cimentícia, hidráulica ou de resinas orgânicas
aplicadas nas fissuras ou furos estrategicamente efetuados nas alvenarias de embasamento se
constituem em soluções considerada “passiva e irreversível” que também conservam o
aspecto original, quando necessário, do conjunto além recuperar o seu desempenho mecânico-
estrutural. As injeções sob pressão ou por gravidade deverão ser aplicadas de acordo com as
condições das alvenarias a serem reabilitadas. Possuindo capacidade de conter o impacto
produzido pela sua utilização a injeção sob pressão será a alternativa conveniente enquanto
que a por gravidade será destinada a situações de grandes degradações onde seja impossível a
utilização de pressão.
O reforço poderá também ser complementado com a utilização de chumbadores
reforçando ou promovendo as ligações entre os elementos da estrutura. Isoladamente ou
associado com outro tipo de reforço, principalmente as injeções, melhoram a integridade das
estruturas, chegando a modificar as propriedades mecânicas da alvenaria, tornando-as capazes
de resistir a esforços de tração.
A utilização de qualquer tipo de reabilitação: substituição ou reforço dos
elementos da estrutura deverá sempre ser associada à eliminação ou considerável redução da
contribuição da água livre em contato com as fundações ou alvenaria de embasamento
garantindo sua integridade e normal funcionamento com elemento estrutural. A ação da
umidade na região da fundação poderá ser minimizada através do confinamento dos
elementos com a utilização de produtos químicos impermeabilizantes nas unidades e
125
Capítulo 5 - Conclusões e Sugestões
argamassa de assentamento ou revestimento e a execução de aterro compactado nas áreas
vazias das fundações.
A criação de juntas de movimentação para impedir as elevadas concentrações de
tensões em função das suas deformações intrínsecas que podem se originar de movimentações
higroscópicas, variações de temperatura ou reações de expansão por reações químicas dos
materiais das juntas ou dos blocos poderão também ser associadas à substituição ou reforços
das estruturas. Combater o surgimento de colapso progressivo com a criação de elementos
para a formação de mecanismo resistente nas alvenarias de embasamento possibilitando sua
integridade em uma eventual falha localizada com perda da capacidade do elemento.
Não permitir a utilização de blocos cerâmicos nos procedimentos de substituição
das alvenarias de embasamento, até mesmo os com furos dispostos verticalmente até que se
possa obter resultados de ensaios laboratoriais que comprovem sua eficiência, em função do
controle, pouco eficiente sobre a temperatura de queima da cerâmica abaixo de 900º C que os
tornam vulneráveis aos ataques de sais solúveis presentes nas águas do lençol freático.
A recuperação dos elementos comprometidos da superestrutura decorrente das
manifestações ocorridas nas fundações também poderá ser realizada com a utilização de
reforço ou substituição dos mesmos. O controle ou eliminação de fissuras na laje do último
pavimento (cobertura) na junção de materiais com diferentes coeficientes de dilatação
térmica, sujeitos às mesmas variações de temperatura e expostos a diferentes solicitações
térmicas (paredes e lajes) deverá ser também associado à reabilitação da estrutura.
5.2 Sugestões para futuros trabalhos
Para continuidade desta pesquisa, considera-se como de fundamental importância
no sentido de determinar soluções que atendam à necessidade de reforçar ou recuperar
estruturas, mais especificamente, as fundações de edificações com alvenarias de embasamento
executado com blocos cerâmicos ou de concreto.
O estudo numérico ou experimental para verificar a possibilidade de recuperação
de estrutura com alvenaria de embasamento comprometida por expansão por umidade (EPU)
126
Capítulo 5 - Conclusões e Sugestões
nos blocos cerâmicos ou deterioração dos componentes dos elementos de concreto, através do
reforço ou substituição da alvenaria e do aterro do “caixão perdido” com material fino por
abertura efetuada entre as nervuras com a retirada das lajotas do pavimento térreo e posterior
concretagem das aberturas formando uma laje que gere maior rigidez na estrutura.
Estudo numérico ou experimental considerando a substituição por etapa e
alternada dos elementos comprometidos da alvenaria de embasamento utilizando um
procedimento semelhante ao processo conhecido como “submuração” que consiste na
substituição da fundação com transferência do carregamento para outro nível geralmente
inferior.
Estudo numérico para verificação do comportamento da estrutura considerando a
eliminação da laje de cobertura objetivando eliminar a incidência de fissuras provocadas pela
ação de variação de temperatura e redução do peso próprio do conjunto estrutural.
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