Conceitos Basicos Em Intervencao Grupal

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CONCEITOS BÁSICOS EM INTERVENÇÃO GRUPAL RESUMO O ser humano é ser social e somente existe em função de seus relacionamentos grupais. O campo do conhecimento sobre a convivência em grupo e de suas relações com os outros grupos e com as instituições mais amplas foi denominado dinâmica dos grupos. Este artigo tem por objetivo explicitar elementos conceituais básicos em relação à dinâmica de grupos. Para tanto, objetivos, estrutura, necessidades interpessoais, tarefas e emoção na interação, papéis, entre outros elementos são destacados. A abordagem da dinâmica de grupos aplica-se as mais variadas estratégias de pesquisa e de intervenção em instituições. Presta-se ao serviço de transformação das relações humanas uma vez que põe em destaque o entrelaçamento de desejos pessoais e objetivos coletivos. Palavras-chave: Dinâmica de grupos; Grupo; Processo grupal; Intervenção Grupal. BASIC CONCEPTS OF GROUP INTERVENTION The human being is a social being and only exists due to the group relationships. The field of knowledge about living in a group and its relationships with other groups and with the wider institutions was called group dynamics. This article aims to make explicit basic conceptual elements in relation to group dynamics. Therefore, purpose, goals, structure, roles, interpersonal needs, tasks and emotion in interaction, and other elements are highlighted. The group dynamics approach is applied to the most varied strategies of research and intervention in institutions. It is useful for the service of transforming human relationships once it highlights the intertwining of personal desires and collective goals. Keywords: Group Dynamics; Group; Group process; Group intervention. Armando Sérgio Emereciano de Melo Osterne Nonato Maia Filho Hamilton Viana Chaves

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Intervencao Grupal

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  • CONCEITOS BSICOS EM INTERVENO GRUPAL

    RESUMO

    O ser humano ser social e somente existe em funo de seus relacionamentos grupais. O campo do conhecimento sobre a convivncia em grupo e de suas relaes com os outros grupos e com as instituies mais amplas foi denominado dinmica dos grupos. Este artigo tem por objetivo explicitar elementos conceituais bsicos em relao dinmica de grupos. Para tanto, objetivos, estrutura, necessidades interpessoais, tarefas e emoo na interao, papis, entre outros elementos so destacados. A abordagem da dinmica de grupos aplica-se as mais variadas estratgias de pesquisa e de interveno em instituies. Presta-se ao servio de transformao das relaes humanas uma vez que pe em destaque o entrelaamento de desejos pessoais e objetivos coletivos.

    Palavras-chave: Dinmica de grupos; Grupo; Processo grupal; Interveno Grupal.

    BASIC CONCEPTS OF GROUP INTERVENTION

    The human being is a social being and only exists due to the group relationships. The field of knowledge about living in a group and its relationships with other groups and with the wider institutions was called group dynamics. This article aims to make explicit basic conceptual elements in relation to group dynamics. Therefore, purpose, goals, structure, roles,

    interpersonal needs, tasks and emotion in interaction, and other elements are highlighted. The group dynamics approach is applied to the most varied strategies of research and intervention in institutions. It is useful for the service of transforming human relationships once it highlights the intertwining of personal desires and collective goals.

    Keywords: Group Dynamics; Group; Group process; Group intervention.

    Armando Srgio Emereciano de Melo

    Osterne Nonato Maia FilhoHamilton Viana Chaves

  • 2 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    INTRODUO

    O ser humano um ser social e somente existe em funo de seus relacionamentos

    grupais. O fato de que o indivduo nasce, aprende, trabalha e morre em grupo, torna

    evidente a necessidade do estudo da vida grupal. Para Zimerman e Osrio (1997), todo

    indivduo um grupo na medida em que, no seu mundo interno, h um grupo de

    personagens introjetados, como os pais, os irmos entre outros, que convivem e

    interagem entre si. Este fato indica que, se quisermos compreender o ser humano,

    devemos estudar sua vida em grupo.

    Grinberg, Sor e Bianchedi (1973) discutem a importncia da formao grupal e a

    sua consequente converso em objeto de observao e pesquisa. As pessoas reunidas em

    grupos apresentam maior riqueza e complexidade das qualidades da dimenso humana,

    dentre as quais a comunicao. Watzlawick, Beavin e Jackson (2007, p.44) afirmam que

    h, na verdade, uma impossibilidade de no comunicar. Ora, se no possvel no

    comunicar, ento toda observao tambm uma forma de comunicao e, portanto,

    algum tipo de interveno comunicativa. Assim, o estudo de um grupo no campo ao

    mesmo tempo observao, pesquisa e interveno e, por isto, uma pesquisa-ao.

    O campo do conhecimento sobre a convivncia em grupo e de suas relaes com

    os outros grupos e com as instituies mais amplas foi denominado dinmica de grupo.

    Seu desenvolvimento um fenmeno do sculo XX e deu-se de forma diferenciada dos

    estudos realizados nos sculos anteriores. neste perodo que, sobretudo, psiclogos e

    socilogos passaram a dar um tratamento mais cientfico ao estudo de grupo.

    A dinmica de grupo est intimamente ligada teoria de campo aplicada

    psicologia social. Kurt Lewin considerado o fundador da moderna dinmica de grupo.

    Com seu trabalho na Universidade de Iowa, por volta dos anos 1940, e, mais tarde, no

    Massachusetts Institute of Technology (MIT), Lewin estabeleceu esse campo de estudo e

    atraiu pesquisadores e recursos financeiros para este tipo de pesquisa. Os artigos de

    Lewin publicados na dcada de quarenta do sculo XX e depois reunidos nos livros

    Teoria de campo em Cincia Social (1965) e Problemas de dinmicas de grupo (1978),

    prepararam o terreno para investigaes e publicaes do ps-guerra.

    Para Lewin (1978), um grupo mais do que a soma de seus membros: consiste

    numa totalidade dinmica que no resulta apenas da soma de seus integrantes, tendo

    propriedades especficas enquanto totalidade, princpio da Escola da Gestalt. Possui

    estrutura prpria, objetivos e relaes com outros grupos. A essncia de um grupo no

    a semelhana ou a diferena entre seus membros, mas sua interdependncia. Lewin

  • caracteriza um grupo como sendo um todo dinmico, o que significa que uma mudana

    no estado de uma das suas partes provoca mudana em todas as outras.

    Nesse sentido, as tentativas com vistas realizao dos objetivos grupais criam

    no grupo um processo de interao entre as pessoas, que se influenciam reciprocamente e

    pode haver a produo de novos significados e metas.

    H que se reconhecer que, embora existam diversas orientaes tericas, vlido

    partir do princpio de que, basicamente, a essncia dos fenmenos grupais, a

    interdependncia entre seus membros, a mesma em qualquer tipo de grupo e o que

    determina as diferenas entre os distintos grupos o objetivo e fins para os quais foram

    criados e compostos e a diversidade da cultura (ZIMERMAN; OSRIO, 1997).

    Existem, portanto, grupos de diversos tipos. Uma subdiviso com implicaes

    quantitativas permite diferenciar os grandes grupos sociais e os pequenos grupos ou

    microgrupos. Na presente discusso estamos abordando o microgrupo, pois a qualidade

    das relaes entre os participantes nesse tipo de formao explicita mais claramente a

    fora do prprio grupo na dialtica da interao grupal. Neste sentido, para Luft (1970) o

    microgrupos :

    o estudo dos indivduos em interao dentro de grupos cujo nmero suficientemente limitado para permitir aos participantes estabelecerem entre si relaes explcitas e terem uma percepo recproca uns dos outros a expresso face a face resulta desta situao. (LUFT, 1970, p.15).

    Em outras palavras, nos microgrupos todos os participantes esto frente a frente

    e tm a possibilidade de estabelecer relacionamentos interpessoais sem a mediao de

    terceiros. Assim, a interdependncia grupal costuma possibilitar coeso grupal, clima

    gerado pelo compromisso assumido, possibilitando, entre outros aspectos, o ambiente

    acolhedor para a aprendizagem e a solidariedade.

    Devido a importncia que o objetivo do grupo tem para sua existncia parece-

    nos oportuno uma classificao que considere esta caracterstica como balizadora. Assim,

    h os grupos operativos e os psicoterpicos. Os operativos cobrem o campo institucional,

    organizacional, comunitrio, com foco psico-educativo, portanto, na modificao desses

    campos. Os psicoterpicos so classificados a partir da abordagem terica e tm

    perspectiva teraputica. Neste ltimo caso, temos as perspectivas psicodramtica,

    psicanaltica, cognitivo-comportamental e teoria sistmica (ZIMERMAN; OSRIO, 1997).

    Para o estudo dos microgrupos necessrio ter outras conceituaes. A partir de

    Mucchielli (1979) e Minicucci (1982), podemos estabelecer a seguinte classificao para a

    gnese dos microgrupos: naturais espontneos ou artificiais.

  • 4 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    Os naturais espontneos so caracterizados por relaes afetivas, enraizadas na

    existncia natural como a famlia, a comunidade de nascimento, entre outros. Os

    microgrupos artificiais caracterizam-se pelo fato de que a razo do agrupamento , pelo

    menos na origem, exterior vontade direta dos membros. Exemplo desses microgrupos

    so o servio militar obrigatrio e os cursos de graduao universitrios.

    Os microgrupos podem ser ainda momentneos ou durveis. Os microgrupos

    momentneos e caracterizam-se por uma limitada durao da sua existncia. Exemplos

    desses microgrupos so as reunies eventuais, como eventos de secretrios municipais

    de uma determinada rea de trabalho, ou os microgrupos de discusso por tema de uma

    comunidade, escola, entre outras. J o microgrupo natural e durvel pode ser

    exemplificado pela famlia e as organizaes militares.

    O DESENVOLVIMENTO DAS PRTICAS DE INTERVENO GRUPAL

    Por causa do seu carter amplo, a expresso dinmica de grupo nem sempre

    empregada num sentido acurado. Por isto, necessrio precisar o seu emprego. A

    expresso caiu em descrdito devido aplicao que, s vezes, dela se fez para se referir

    a atividades utilizadas com objetivos ilustrativos, recreativos, msticos, entre outros.

    Certamente, contribuiu para o descrdito a aplicao inconsequentemente realizada por

    profissionais descomprometidos tica e cientificamente.

    Utilizam-se expresses tais como: dinmicas ou tcnicas de relaes

    humanas, que confundem mais do que revelam o seu significado. Para Cartwright e

    Zander (1975), a expresso dinmica de grupo popularizou-se aps a segunda grande

    guerra e tem trs empregos mais conhecidos: numa concepo ideolgica; como um

    conjunto tcnicas aplicadas ao grupo destitudas de articulao terica; e o estudo dos

    grupos, de sua essncia e funcionamento. No caso da concepo ideolgica trata-se de:

    um tipo de ideologia poltica, interessada nas formas de organizao e direo dos grupos. Essa ideologia acentua a importncia da liderana democrtica, a participao dos membros nas decises e as vantagens, tanto para a sociedade quanto para os indivduos, das atividades cooperativas em grupos. (CARTWRIGHT; ZANDER, 1975, p.5).

    Observamos que os cientistas que trabalharam junto aos aliados ocidentais na

    poca da segunda guerra mundial foram fortemente influenciados pelos valores sociais

    dessa poca. No difcil imaginar o envolvimento dos pesquisadores dos pases aliados

    com certas ideias de democracia ao atriburem este significado aos estudos de dinmica

    de grupo, j que se est se contrapondo ali perspectiva autoritria de organizao social

    dos pases do eixo.

  • Alm disso, essa perspectiva comete o engano ao considerar semelhantes os

    processos grupais amplos da sociedade e do microgrupo, sem avaliar a diferena de

    contextos. A proposta de participao aplicada aos contextos da dinmica de grupos

    bem diferente da participao no contexto poltico-social mais amplo.

    A participao da populao nas decises do contexto poltico-social mais amplo

    pode redundar em democracia. Desta maneira, democracia implica em uma forma de

    participao com poderes de deciso que a participao no contexto da dinmica de

    grupo no logra. A proposta de participao dos membros do microgrupo nas

    intervenes grupais no tem as mesmas implicaes que a participao democrtica

    proposta para o contexto poltico mais amplo da sociedade. Para o contexto da dinmica

    de grupo, utiliza-se a participao como uma estratgia limitada s decises do escopo

    grupal, enquanto que a democracia situa-se no contexto maior das questes polticas da

    sociedade.

    Uma segunda definio de dinmica de grupo refere-se a um conjunto de

    tcnicas, tais como o desempenho de papis, grupos de discusso, feedback de processos

    coletivos, entre outras. Desta perspectiva resulta a expresso tcnica dinmica de

    grupo. A preposio de prope uma aplicao ampla em qualquer grupo,

    independente de sua finalidade e especificidade e, como sabemos, as tcnicas quando

    aplicadas sem o alicerce de uma teoria e uma perspectiva metodolgica mais ampla,

    desconstroem o espao grupal. Assim, a preposio de fornece expresso dinmica

    de, o sentido que pode ser aplicado a qualquer grupo em qualquer momento,

    desconhecendo que o termo dinmica implica foras interdependentes agindo no

    interior e no exterior de um campo mutvel como so os grupos e as pessoas que a eles

    se integram.

    Por isso estamos propondo o uso da preposio do(s) para d a expresso

    dinmica a intensidade e a versatilidade que precisa. Considerar a dinmica dos grupos

    apenas como tcnica, independente do mtodo e da teoria, destitui-a de implicaes

    sociais e psicolgicas mais amplas, que realmente lhe do sentido. Evidente que

    precisamos de tcnica, porm tcnica sem mtodo e teoria cegueira intelectual. neste

    sentido que denominamos este campo como dinmica dos e no de, como

    conhecido, apenas por sua prtica e no por sua teoria/mtodo.

    Um terceiro emprego apresentado pelos autores para a expresso dinmica de

    grupo se refere ao campo de pesquisa dedicado a obter conhecimento a respeito da

    natureza dos grupos, dos seus axiomas, de seu desenvolvimento e das interrelaes entre

    os indivduos, outros grupos e instituies mais amplas. lamentvel constatar que esse

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    campo de pesquisa teve um excelente momento na poca de sua fundao, mas que

    atualmente dispe de poucas pesquisas no mbito acadmico.

    O que se observa que as transformaes econmicas, tecnolgicas e culturais

    na sociedade tm promovido mudanas significativas em sua forma de perceber, pensar

    e agir nas organizaes humanas. Os grupos tm sido, na maioria das vezes, a via de

    acesso aos processos de mudanas e isso requer que as pessoas aprendam a trabalhar em

    grupo. Podemos juntar a esta necessidade o fato de que todas as pessoas trazem

    experincias de vida em grupo e tm um conhecimento tcito sobre o grupo. Ocorre que

    esse conhecimento algumas vezes insuficiente para coordenar e participar de grupos,

    mas algumas pessoas no se do conta desta caracterstica do conhecimento sobre grupos

    e enganam-se com o trabalho em e com grupos e seguem culpando os outros por sua

    prpria incapacidade de lidar com o mundo.

    Podemos concluir que a expresso dinmica de grupo continua sendo

    percebida como uma tcnica, que o sentido ideolgico do termo encontra-se valorizado e

    a pesquisa cientfica ausente. Mas no podemos nos esquecer de que as tendncias

    socioeconmicas tm proposto o trabalho em grupo como estratgia de gesto e, assim

    como na sua gnese, esse panorama pode trazer pesquisadores e recursos para investir

    em novas pesquisas.

    A DEFINIO DE PROCESSO GRUPAL

    Para Mucchielli (1979) a dinmica dos grupos, como passaremos a denominar a partir de

    agora esse campo de conhecimento, compreende dois conjuntos diferentes de processos:

    O conjunto dos fenmenos psicossociais que se produzem nos pequenos grupos, assim como as leis naturais que os regem. O conjunto dos mtodos que permitem atuar sobre a personalidade atravs dos grupos, assim como os que possibilitam aos pequenos grupos atuar sobre as organizaes sociais mais amplas (ou organizaes complexas intergrupais). (MUCCHIELLI, 1979, p.11).

    Nos dois sentidos atribudos pelo autor para a expresso dinmica dos grupos,

    podemos concluir que se trata de um campo da cincia, pois investiga os fenmenos de

    sujeitos em microgrupo; tambm se trata de uma cincia aplicada, pois se prope uma

    interveno.

    A expresso dinmica foi primeiramente utilizada neste contexto por Kurt

    Lewin. Como j destacamos anteriormente, ele utilizou a expresso em oposio ao

    termo esttica, que significa sem movimento como a fsica o define. Em tempo, Lewin

    graduou-se em fsica antes de estudar psicologia. Cabe destacar que a expresso

    dinmica enfatiza o movimento. Que movimento esse? Denominamos movimento o

  • conjunto de processos e atividades na direo da realizao grupal e esse um o conceito

    fundamental para quem pretende trabalhar com e em grupo. Mas o grupo no apenas

    um processo, como destaca Ribeiro (1994, p.34) quando afirma que o grupo tem um

    elemento permanente, que chamamos matriz, e um transitrio, que chamamos processo,

    mas ambos contm em si permanncia e transitoriedade, ao seu modo. Para ele, o termo

    processo encerra a ideia de movimento existencial e transformao. De acordo com

    Zimerman e Osrio (1997), embora o grupo sofra influncias externas, o locus do processo

    endgeno, ou seja, o lugar do processo determinado pela identidade do grupo e suas

    possibilidades. Isto traz implicaes para a coordenao do trabalho em grupo, to

    peculiar pesquisa-ao. Significa dizer que a mudana prevista na pesquisa-ao uma

    interveno nos processos internos e corresponde a uma modificao na estrutura do

    grupo.

    Para Schein (1982, p.128) os grupos funcionam a partir dos padres de

    comunicao, mtodos de tomada de deciso, tcnicas de resoluo de problemas,

    atividades formadoras de normas, sentimentos e percepes interpessoais e formao de

    simpatias e antipatias. No entanto, mais importante que sua funo sua

    intencionalidade.

    Nesse sentido, para Pichon-Rivire (1994), o processo grupal decorre da

    mudana inerente realizao do objetivo do grupo. No processo de mudana, os grupos

    convivem com dois medos bsicos, relativos a perdas de suas conquistas e aos desafios

    diante do novo. Medo de perder o equilbrio conseguido; medo de ser atacado ao

    enfrentar situaes novas em que os antigos parmetros de ao j no valem e os novos

    ainda no esto postos e, portanto, no so suficientes. Assim, instalada uma resistncia

    no grupo que requer a elaborao desses medos como condio para a realizao da

    tarefa grupal. Noutras palavras, a caracterstica de mudana (transitoriedade), que os

    processos grupais apresentam, tem como consequncia a necessidade de vencer os

    medos que geram resistncia. Apenas assim a aprendizagem implcita no processo

    grupal transformar a questo central do processo coletivo: a elaborao do medo e da

    resistncia s mudanas.

    Por fim, importante estabelecer a diferena entre processo (mtodo) e

    procedimento (tcnica). Scholtes (1992) define procedimento como a descrio detalhada

    de aes necessrias para alcanar determinado resultado. Assim, o que caracteriza o

    procedimento no o tipo de resultado esperado, mas a descrio minuciosa e rgida dos

    passos que devem ser obedecidos para atingir o resultado definido. J nos processos

    encontramos tambm a definio de um resultado a ser alcanado, mas os resultados so

  • 8 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    definidos de forma a permitir diversas estratgias de ao. Em um grupo, o resultado do

    processo a realizao do objetivo do grupo e o processo de realizao da tarefa.

    OS OBJETIVOS E NECESSIDADES GRUPAIS

    Para Amado e Guittet (1982, p.99), os grupos nascem da tomada de conscincia de

    indivduos isolados de seus interesses comuns e de sua interdependncia.

    Compreendidos assim, os grupos so fundados a partir do compartilhamento de fins que

    justificam sua existncia e pelo reconhecimento da dependncia em relao ao outro

    para alcanar esse resultado. Os objetivos direcionam as aes grupais. Quando

    trabalhamos com grupos, devemos saber como o objetivo do grupo foi estabelecido,

    como o objetivo grupal est em interao com os objetivos de cada membro e como o

    objetivo do grupo influenciou o processo de incluso grupal. Quando os motivos que

    levam os indivduos a fazerem parte de um grupo ficam muito destoantes entre si h

    uma tendncia a surgirem insatisfaes e angstias que geram estresses e conflitos. Os

    objetivos individuais e grupais podem modificar-se ao longo da existncia do grupo.

    Assim, necessrio rever os objetivos atravs de uma discusso explcita no grupo.

    Merece ateno especial e acompanhamento sistemtico da relao entre os objetivos

    individuais e coletivos.

    Seguindo os achados de Lewin (1978) sobre os efeitos favorveis da cooperao e

    da solidariedade nas relaes interpessoais para a eficcia grupal, Schutz (1989) formulou

    uma teoria sobre as necessidades interpessoais e sua relao com os objetivos grupais.

    Para ele, as pessoas em um grupo no consentem em integrar-se seno a partir do

    momento em que certas necessidades podem ser satisfeitas. O autor postula que o ser

    humano que se rene em grupo tem, em maior ou menor grau, necessidades especficas

    e que apenas no grupo e atravs do grupo que estas necessidades podem ser satisfeitas.

    Ele identificou trs necessidades interpessoais tpicas: necessidades de incluso,

    necessidades de controle e necessidades de afeio. Estas necessidades so

    experimentadas por todas as pessoas, ainda que em graus diferentes.

    A necessidade que toda pessoa tem de sentir-se fazendo parte do grupo e de

    sentir-se aceito, valorizado e respeitado definida pelo autor como necessidade de

    incluso. Nesta fase, as pessoas procuram evidncias de que so aceitas pelos membros

    do grupo. A incluso se processa na plenitude quando o indivduo sente-se fazendo

    parte dos processos decisrios do grupo. A incluso se refere ao estabelecimento de

    interao com outras pessoas: manter contatos, travar conhecimentos, comunicar-se,

    participar de encontros e cultivar o companheirismo e a cooperao. As pessoas que tm

  • alto nvel de incluso se do facilmente com todos e tm grande crculo de relaes,

    gozam de prestgio, valorizam a fama e a popularidade. As pessoas que tm incluso

    negativa so retradas, desligam-se das funes sociais e apreciam o isolamento.

    A necessidade de controle se refere ao estabelecimento de relaes de comando e

    de autoridade (poder). Diz respeito ao domnio e aos termos do processo decisrio entre

    as pessoas. Na fase de controle, a necessidade de relacionamento implica no respeito pela

    competncia e pela responsabilidade dos outros e a considerao dos outros por sua

    prpria competncia e responsabilidade. As pessoas que tm alto ndice de controle

    gostam de influir, de liderar, de persuadir e de chefiar. As pessoas que expressam

    controle negativo no dominam, pelo contrrio, ou so submissas e seguidoras, ou so

    rebeldes e resistentes. Isto , ou se submetem ao controle dos outros ou a ele se opem,

    mas no assumem o controle delas prprias.

    A necessidade de afeio se refere ao estabelecimento de relaes afetivas, de

    sentimentos ntimos e particulares e de contatos amistosos no indiscriminados, mas

    efetivos. Concerne aproximao emocional. Esta necessidade est ligada ao sentimento

    de amar e ser amado e de sentir-se amvel, ou seja, ao sentimento de amor mtuo e

    recproco. As pessoas buscam no grupo a afirmao de que sua presena e isso

    fundamental, pois mostra um grande desejo de interao emocional. Os sujeitos com

    afeio negativa so mais distantes, menos amorosos, menos ntimos e confidenciam

    menos.

    Todos ns usamos as trs formas de interao: ora uma, ora outra, mas uma

    delas predomina no nosso estilo pessoal. Schutz (1989) ainda destaca que as trs

    necessidades ocorrem em diferentes momentos ou fases dos grupos (incluso, controle e

    afeio).

    A fase de incluso se apresenta sempre no perodo inicial do grupo quando os

    participantes, confrontando-se uns com os outros, buscam e encontram o lugar que lhes

    convm. o momento em que o grupo estabelece seus limites e cada um decide se vai

    implicar-se ou comprometer-se, at que ponto vai tornar-se membro do grupo e ser

    aceito e respeitado. neste perodo que cada um avalia com quem pretende comunicar-

    se e ter contato. Os subgrupos so criados a partir do momento em que cada um escolhe

    seus parceiros. A ideia inicial do objetivo e da composio do grupo, assim como o tipo

    de papel que se espera representar formada nesta fase. Na teoria do grupo operativo de

    Pichon-Rivire (1994), a incluso recebe, nos momentos iniciais de um grupo, a

    denominao de afiliao e, quando plenamente construda, gera o sentimento de

    pertena.

  • 10 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    J includas pelo grupo, as pessoas sentem-se responsveis por tudo aquilo que

    constitui o grupo, passando fase de controle. Esse momento corresponde ao momento

    no qual o jogo de foras assume carter importante, uma vez que os membros, ao

    procurarem firmar seu lugar no grupo, tentam tambm a mostrar seu poder de

    influncia. Compreendem as lutas, as disputas pessoais pela liderana e pela distribuio

    de poder; refere-se ao domnio entre as pessoas, competio fraternal, s discusses

    sobre os objetivos, s normas, organizao interna e aos mtodos de ao e a tomada de

    deciso.

    Na afeio, por sua vez, o grupo torna-se mais produtivo, criativo, construtivo,

    interdependente, sinrgico e amoroso. Em contrapartida, tambm aparecem o cime, a

    hostilidade e as manifestaes de sentimentos negativos. Cada indivduo estabelece sua

    norma pessoal no que concerne a dar e a receber afeto. Nesta fase, o grupo sente

    confiana de expressar sentimentos de qualquer natureza na busca do crescimento

    individual e grupal.

    A compreenso de como as necessidades interpessoais apresenta-se no grupo

    importante para situar seus integrantes (membros, coordenadores e lideres). Possibilita o

    entendimento dos momentos vivenciados nos grupos e por isso possibilita fundamentar

    as intervenes que contribuem para a eficcia grupal.

    Com a aproximao do fim do grupo, costumam emergir momentos afetivos

    como a avaliao e feedback em relao aos sentimentos vividos coletivamente. Algumas

    tomadas de conscincia tornam-se claras nessa etapa. Quanto maior o nvel de

    envolvimento afetivo do grupo, maior o estado de coeso grupal. Uma dinmica emerge

    e pode-se observar a inverso das fases anteriores na seguinte ordem: afeio, controle e

    incluso.

    Como decorrncia desta teoria, Schutz elaborou tcnicas de diagnostico capaz de

    mensurar como essas necessidades se manifestam nas pessoas e de tcnicas para a

    construo de relaes interpessoais grupais saudveis, produtivas e articuladas com os

    objetivos grupais.

    GRUPO ESTRUTURA, ESTRUTURA GRUPO: COMPOSIO

    A estrutura do grupo se define pelas posies especficas que as pessoas ocupam nele.

    Reflete as relaes internas entre os membros do grupo e representam a maneira pela

    qual as pessoas e seus papis estabelecem esses relacionamentos. Segundo Cartwright e

  • Zander (1975, p.802), parece quase impossvel descrever o que acontece nos grupos sem

    usar termos que indicam o lugar dos membros na sua relao mtua.

    Quando um grupo adquire estabilidade na disposio entre seus membros, diz-

    se que est estruturado. Sabe-se que os vnculos estabelecidos podem se tornar rgidos e

    dificultar as mudanas necessrias realizao dos objetivos grupais. Assim, a rigidez

    torna difcil o relacionamento interno. Por outro lado, a ausncia de uma estrutura

    interna, ou mesmo a informalidade num grupo pode levar a dificuldades para se lidar

    com seus problemas.

    As pessoas levam seu universo pessoal ao grupo: experincias de vida,

    conhecimentos pessoais fazem parte deste background. Ao se encontrarem numa situao

    grupal, os indivduos agem a partir deste conjunto basilar, mas, uma vez em grupo,

    num processo de interao que as aes e as reaes individuais influem e so

    influenciadas pelo grupo.

    Pags (1975) define os grupos como conjuntos de pessoas que, em razo de sua

    histria individual, de relaes interpessoais anteriores ou de sua cultura, demonstram

    um conflito efetivo sentido por um conjunto mais vasto de pessoas do qual fazem parte,

    destacando a composio como uma categoria importante de anlise da eficcia grupal.

    Uma vez observadas as caractersticas pessoais dos membros do grupo, deve-se

    atentar s semelhanas e s diferenas entre eles. As pessoas levam para o grupo as suas

    vivncias pessoais, as caractersticas de sua personalidade e a experincia profissional

    para compor o seu background.

    O motivo para ingressar no grupo e a experincia de vida so consideradas

    como componentes influentes naquilo que Pichon-Rivire (1994) denominou

    heterogeneidade do grupo. A tese do autor a de quanto mais heterogneo um grupo,

    maior a probabilidade de ser eficaz e atingir o seu objetivo. A homogeneidade e

    heterogeneidade de um grupo afetam os seus resultados. Para Pichon os grupos

    heterogneos apresentam mais recursos, pois a presena de mais diferena pode implicar

    em mais diversidade para a troca do que em grupos homogneos. Entretanto os grupos

    heterogneos, pela sua diversidade, apresentam maior dificuldade em seu

    funcionamento do que os grupos homogneos, porm o processo de crescimento torna-se

    mais eficaz em funo das trocas interpessoais.

    Ao trabalhar com o grupo, o coordenador grupal deve levar em considerao

    estas caractersticas pessoais, interpessoais, profissionais (econmico-sociais) e culturais.

    Neste contexto, de fundamental importncia que o coordenador compreenda a

  • 12 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    realidade scio-histrica na qual esto inseridos ele prprio e as pessoas que participam

    do grupo.

    DESEMPENHO DE TAREFAS E A COMUNICAO GRUPAL

    Para a realizao do objetivo grupal ocorre necessariamente a interao entre os membros

    do grupo. Bales (1970), em seu estudo sobre a tomada de deciso na soluo de problema

    em grupo, identificou, atravs da observao da comunicao, categorias que

    representam os seus principais momentos.

    Ele observou, na execuo das atividades grupais, uma distribuio diferenciada

    das atribuies entre os membros do grupo. Uma parte dos membros buscava manter o

    grupo unido enquanto outra parte esforava-se pela execuo da tarefa grupal. Essa

    classificao de atribuies corresponde principal distino entre as categorias grupais.

    Assim tais categorias foram agrupadas em nveis ou processos de ocorrncia: o

    da tarefa e o scio-emocional ou interpessoal. O nvel da tarefa abrange as atividades

    relacionadas diretamente realizao do objetivo do grupo enquanto que o nvel scio-

    emocional abrange os processos interpessoais responsveis pela manuteno de um

    clima favorvel realizao da tarefa grupal. As atividades relacionadas com o nvel

    scio-emocional remete para os sentimentos e as trocas afetivas gerados na convivncia

    do grupo.

    Numa perspectiva psicanaltica, Bion (1975) identificou dois modos de soluo

    dos problemas grupais semelhantes aos nveis de Bales (1970). Para Bion so dois os

    planos no qual os grupos agem: o plano do trabalho-tarefa e o plano da emoo. No

    plano do trabalho-tarefa a estratgica caracteriza-se por esclarecer a situao, buscar

    informaes relevantes, elaborar alternativas e test-las. Este um modo racional de

    reagir que Bion denominou trabalho-tarefa. Esta modalidade refere-se maneira racional

    e consciente de um grupo buscar solues para suas dificuldades.

    Porm, no plano da emoo que os grupos se defrontam com as dificuldades

    maiores em lidar com os problemas e seus reflexos recaem sobre o plano da tarefa,

    impedindo muitas vezes de um grupo realizar seu objetivo. no plano da emoo que se

    inserem as necessidades interpessoais e que do o clima para a realizao da tarefa

    grupal.

    Para Bion (1975), as respostas emocionais podem apresentar uma das seguintes

    hipteses: a dependncia, a luta-fuga e a unio ou acasalamento. A dependncia refere-se

  • condio que toda pessoa apresenta de depender de algo ou algum para a realizao

    de seus objetivos. Pressupe que um dos motivos para os indivduos buscarem os grupos

    a necessidade primria de obter deles a segurana, cuidado e proteo. Assim, a fase da

    dependncia caracteriza-se pela necessidade grupal de um lder, ou seja, de esperar que

    algum diga o que o grupo deve fazer, como e quando realizar aes.

    O grupo tem necessidade de centrar o poder em algum, que normalmente

    representa a figura de autoridade. H tambm, nessa fase, a necessidade de se estabelecer

    normas explcitas e cdigos de funcionamento que sejam respeitados por todos, pois tais

    aspectos marcam a formao da cultura humana.

    A luta-fuga refere-se ao desejo de no mais depender do outro e de perceber a

    relao de dependncia como uma ameaa. A relao percebida como perigosa e a

    forma de neutraliz-la passa a ser a agresso ou a fuga do grupo. Assim, na fase de luta-

    fuga o grupo sente desconforto pela condio de dependncia e o demonstra com

    manifestaes de sentimentos de raiva, hostilidade e agresso dirigidos aos membros ou

    ainda ao coordenador ou lder. Os conflitos tornam-se mais evidentes, bem como se

    acentuam as diferenas individuais. Neste momento, surgem o esvaziamento do grupo, a

    queda de energia para realizao de tarefas, o descrdito e possveis questionamentos

    sobre o sentimento de pertena ao grupo.

    A unio ou o acasalamento refere-se ao momento em que os integrantes do

    grupo no se sentem mais ameaados pelos sentimentos advindos da relao de

    dependncia e buscam, ento, uma forma mais saudvel de se agrupar com vistas a

    alcanar os seus objetivos. Uma vez atingida a fase da unio, o grupo apresenta

    maturidade para tratar os conflitos, as diferenas individuais, as incertezas e as emoes.

    Vale lembrar, no entanto, que a fase de unio no significa necessariamente que o grupo

    atingiu o ideal de crescimento, mas sim que este foi capaz de integrar as diferenas em

    prol de um objetivo comum.

    A habilidade para trabalhar em grupo est diretamente relacionada ao modo

    como os indivduos lidam com suas emoes e como estas impactam o plano da execuo

    das tarefas. A emoo difcil de ser apreendida (percebida), pois se localiza no territrio

    privado e pessoal. , portanto, difcil de ser acessada, mutvel e transitria e est no

    mbito da subjetividade. Essa subjetividade permeia o grupo como uma teia que

    entrelaa as relaes interpessoais. O modo como os indivduos se relacionam e

    trabalham em grupo est implicado com a forma como se processam seus desejos, suas

    frustraes, seus temores, suas fantasias. Os aspectos subjetivos em uma pesquisa-ao

  • 14 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    so to relevantes quanto tarefa de coordenao e interveno grupal, a tal ponto que se

    no dermos conta deles, estaremos fadados ao fracasso em facilitar esse processo.

    A comunicao no grupo reflete como este est estruturado e como os papis

    assumidos pelos participantes atuam na realizao do objetivo grupal. O canal de

    comunicao mais utilizado o verbal. atravs da comunicao oral que o lder do

    grupo prepara a utilizao de outros canais. Para a observao da comunicao,

    recomenda-se atentar tambm comunicao no verbal e ao que percebido (sentido)

    no clima do grupo. Ou seja, devemos considerar o que Watzlawick, Beavin e Jackson

    (2007) denominaram metacomunicao.

    Para Lewin (1978) o ideal que a comunicao entre os integrantes de um grupo

    seja autntica. Decorre da aceitao da proposio de autenticidade nas comunicaes de

    Lewin que os membros de um grupo devem ter as condies para concretizar a

    comunicao autntica. Para tanto, devemos observar como o grupo na resoluo de seus

    problemas relativos tarefa grupal trata as diferenas em termos de manifestaes

    discursivas. Um grupo que no apresenta espao interno para que seus integrantes

    possam ser autnticos e se comunicarem em todos os nveis, apresenta a possibilidade de

    desenvolver redes paralelas e informais externas ao grupo, esvaziando, com isto, a fora

    do grupo.

    O EXERCCIO DE PAPIS E A LIDERANA

    Segundo Moreno (1991), os papis representam as atitudes que o indivduo assume no

    momento em que reage a uma situao especfica ou age sobre ela, em que outras

    pessoas ou objetos esto envolvidos. Afirma tambm que os papis tm caractersticas e

    especificidades prprias da cultura em que foram estruturados. Na maioria das vezes, os

    papis so referendados pelas normas de funcionamento de um grupo.

    Pichon-Rivire (1994) destaca que os papis podem ser impostos ou escolhidos.

    Por isto, no trabalho grupal, deve-se observ-los a fim de identificar aqueles que os

    membros do grupo assumem de forma espontnea ou imposta. Deve-se observar, ainda,

    como o grupo lida com os papis assumidos formal e informalmente. Para Schein (1982),

    os papis informais surgem de espaos onde a organizao formal no responde

    adequadamente s demandas do grupo, mas que no so assumidos publicamente.

    Assim a gnese dos papis informais permeada por contedos subjetivos pessoais e

    grupais.

  • Para Bleger (1998, p.87), alm da necessidade de um conjunto de pessoas que

    atuem em interao entre si, no grupo fundamental que uma sociabilidade seja

    estabelecida a partir de um intercambio dos diferentes papis grupais para que entre eles

    possa emergir uma mudana, com os papis individuais refaz-se, no grupo, o processo

    total da aprendizagem, tendo em conta que cada integrante pode assumir

    funcionalmente papis diferentes conforme o tema, os momentos ou nveis da

    aprendizagem.

    Entendido assim, o trabalho com grupos auxilia os participantes a exercitarem os

    papis dinamicamente, o que permite avaliar se os mesmos facilitam ou dificultam o

    desenvolvimento do prprio grupo. Diante dos problemas grupais alguns membros so

    capazes de alternar papis com outros membros de acordo com uma tarefa especfica,

    tornando possvel o fluxo e a troca de experincias. Um grupo cujas pessoas assumem

    papis rgidos tende a ser um grupo com dificuldades de adaptar-se s mudanas e com

    grande possibilidade de conflito interpessoal futuro.

    Em sntese, os papis construdos no grupo podem ser relacionados s

    categorias de interao em dois nveis. Assim, no mbito da tarefa h membros do grupo

    que propem o incio das atividades, que sugerem ao grupo alternativas ao que deve ser

    realizado para alcanar os objetivos ou formas de abordar as tarefas; enquanto outros

    membros iro articular os integrantes do grupo para uma melhor qualidade dos

    resultados; outros, ainda, podero ficar mais como observadores.

    No que diz respeito ao nvel scio-emocional, algumas pessoas sugerem

    atividades que aliviem as tenses surgidas no grupo, outras articulam as divergncias

    para que elas no paralisem o curso da interao do grupo, evocando a solidariedade

    entre os membros do grupo.

    A liderana exerce papel importante no processo de produo do grupo. Os

    grupos de trabalho apresentam, inevitavelmente, lideranas formais, geralmente

    delegadas em funo da estrutura organizacional. O que se pretende, ao se desenvolver

    grupos, verificar em que grau a liderana impacta no objetivo do grupo e o quanto o

    grupo absorve, aceita e legitima a liderana.

    Por outro lado, sabe-se que, durante o processo, o grupo abre espao para

    emergirem lideranas que tm um papel catalizador das tenses grupais. Estas lideranas

    podem ter maior competncia para lidar com os processos grupais da tarefa ou

    emocionais. Isto , ao deparar-se com dificuldades na soluo de problemas, podem

    emergir no grupo pessoas com maior facilidade de lidar com um determinado processo

    que auxiliaro o grupo na transposio das adversidades.

  • 16 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    Tanto no processo da tarefa quanto no processo interpessoal o grupo apresenta o

    mesmo procedimento, atribuindo a uma ou mais pessoas a liderana. Esta distribuda

    alternadamente para diferentes membros, no sentido de facilitar a resoluo do problema

    que a todos incomoda. Neste momento so equacionadas as trocas emocionais do grupo

    e, quanto tarefa, se estabelece uma estratgia geral de como atingir os resultados

    desejados. Entre os membros do grupo que exercem a liderana, todos tm competncia

    nos dois processos com qualidades e em quantidades diferentes (PICHON-RIVIRE,

    1994).

    GRUPO CULTURA, GRUPO PRODUZ CULTURA: NORMAS E VALORES

    Segundo Schein (1982), cultura um conjunto de pressupostos bsicos desenvolvidos

    (utilizados, inventados, descobertos) por um determinado grupo medida que ele

    aprende a lidar com seus problemas de adaptao externa e integrao interna. Todo

    grupo adquire, portanto, a partir das crenas, das normas, dos valores e de cdigos

    implcitos e explcitos, padres de comportamento que formam sua cultura. Assim, uma

    organizao contm as diversas culturas dos grupos por ela formados.

    Os participantes de um grupo tendem a se associar ou a escolher em subgrupos

    os integrantes com quem compartilham valores semelhantes. Sempre que um grupo se

    forma, os membros discutem o que devem fazer, como funcionar e como se comportar

    para atingir os objetivos grupais. Assim, as normas so as regras de conduta que nascem

    pouco a pouco num grupo. As normas so estabelecidas atravs de processos de

    identificao, incorporao, aprendizado (MILLS, 1970).

    Para Freitas (1991), as normas so comportamentos sancionados, atravs dos

    quais as pessoas so recompensadas ou punidas, confrontadas ou encorajadas, ou postas

    em ostracismo quando as violam. Se uma pessoa deseja continuar a pertencer ao grupo,

    deve considerar-se dentro das normas. As normativas e cdigos tm a funo de proteger

    o grupo quanto a fatores internos e externos que possam vir a ameaar seu

    funcionamento, para isso o grupo faz uso de controles e sanes.

    CONSIDERAES FINAIS

  • A abordagem da dinmica dos grupos aqui proposta aplica-se as mais variadas

    estratgias de interveno e pesquisa em instituies. Presta-se ao servio de

    transformao das relaes humanas uma vez que pe em destaque o entrelaamento de

    objetivos pessoais e objetivos coletivos.

    Destacam-se, assim, os papis assumidos e como estes corroboram na

    manuteno da existncia grupal ou mesmo desafiam sua preservao. Com isso,

    podemos destacar que o grupo no uma entidade que naturalmente se compe, mas

    preciso que haja a interveno da cultura, dos atributos humanos.

    Isso provoca a emergncia de uma rede colaborao e de outra parte, a

    explicitao dos conflitos que, a depender da articulao de seus membros,

    particularmente da liderana, pode provocar transformaes estruturais na identidade

    grupal.

    REFERNCIAS

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    _____________. Psicodrama. 9 ed. So Paulo: Cultrix, 1991.

    MUCHIELLI, R. Dinmica de grupos: conhecimento do problema. Rio de janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos, 1979.

    PAGS, M. A vida afetiva dos grupos: esboo de uma teoria da relao humana. 2 ed. Petrpolis: Vozes, 1982.

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  • 18 Conceitos Bsicos em Interveno Grupal

    RIBEIRO, J. P. Gestalt-terapia: o processo grupal - uma abordagem fenomenolgica da teoria do campo e holstica. So Paulo: Summus, 1994.

    SCHEIN, E. H. Psicologia organizacional. 3 ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1982.

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    SCHUTZ, W. Profunda simplicidade: uma nova conscincia do eu interior. So Paulo: gora, 1989.

    WATZLAWICK, P.; BEAVIN, J. H.; JACKSON, D. D. Pragmtica da comunicao humana: um estudo dos padres, patologias e paradoxo da interao. 17 ed. So Paulo: Cultrix, 2007.

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