Intervencao Urbana Cidade

42
Intervenção urbana na cidade pós-moderna: Rua Trajano Reis em Curitiba * Leticia Fontanella Souza Índice Introdução ............................. 2 1 Pós-Modernidade e a Cidade ................. 4 1.1 Pós-Modernidade ...................... 5 1.2 A Cidade Pós-Moderna ................... 13 1.2.1 A imagem da cidade .................... 15 1.3 Indíviduo na Cidade ..................... 16 2 Intervenção Urbana ...................... 17 2.1 Breve História da Intervenção Urbana ........... 19 2.2 Formas de Intervenção Urbana Artística .......... 21 2.3 Considerações sobre a Intervenção Urbana ......... 22 3 Intervenção Urbana na Rua Trajano Reis em Curitiba .... 26 3.1 Rua Trajano Reis ...................... 26 3.2 Intervenção Urbana na Rua Trajano Reis .......... 27 Considerações Finais ....................... 40 Referências ............................ 41 * Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Arte da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito à obtenção do título de Especialista, no ano de 2012.

description

Souza Leticia 2013

Transcript of Intervencao Urbana Cidade

  • Interveno urbana na cidadeps-moderna: Rua Trajano Reis em

    Curitiba

    Leticia Fontanella Souza

    ndiceIntroduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Ps-Modernidade e a Cidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 41.1 Ps-Modernidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51.2 A Cidade Ps-Moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131.2.1 A imagem da cidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151.3 Indviduo na Cidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162 Interveno Urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172.1 Breve Histria da Interveno Urbana . . . . . . . . . . . 192.2 Formas de Interveno Urbana Artstica . . . . . . . . . . 212.3 Consideraes sobre a Interveno Urbana . . . . . . . . . 223 Interveno Urbana na Rua Trajano Reis em Curitiba . . . . 263.1 Rua Trajano Reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263.2 Interveno Urbana na Rua Trajano Reis . . . . . . . . . . 27Consideraes Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    Monografia apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Comunicao, Culturae Arte da Pontifcia Universidade Catlica do Paran, como requisito obteno dottulo de Especialista, no ano de 2012.

  • 2 Leticia Fontanella Souza

    Resumo

    A pesquisa aborda as definies e as caractersticas da intervenourbana, como processo de manifestao do indivduo e remodelagemdo espao pblico da cidade. Por meio da descrio de imagens de ins-cries artsticas pblicas da rua Trajano Reis, em Curitiba, pretendeexemplificar e comprovar o conceito de ps-modernidade. Contextua-liza tal perodo histrico, para apresentar as abordagens realizadas so-bre o tema e mostrar o papel da cidade e do indivduo dentro destecontexto econmico, poltico, social, cultural e esttico. Como meto-dologia, optou-se pela pesquisa bibliogrfica e foram feitos registrosfotogrficos apresentados no trabalho, para observar na prtica a atua-o do indivduo em relao interveno na cidade e quais refernciasda ps-modernidade podem ser encontradas. Observa-se que a inter-veno urbana uma forma de comunicao alternativa, que pode fazerum crtica sociedade de consumo e da velocidade dos dias atuais. Emrelao a cidade, faz uma remodelagem do espao pblico, trabalhandocom a sua imagem e imaginabilidade. Ao mesmo tempo, manifesta apresena do indivduo no tempo e espao, efmeros na contemporanei-dade, e satisfaz os desejos individuais.

    Palavras-chave: Ps-modernidade. Cidade. Interveno urbana.Rua Trajano Reis.

    Introduo

    A CONTEMPORANEIDADE apresenta um contexto novo para a his-tria da humanidade, chamado de ps-modernidade. Ele iniciouem meados do sculo XX, manifestando-se principalmente nas artes ena arquitetura. Mas, foi nas dcadas de 70 e 80 que chegou ao auge datransformao, encerrando o perodo anterior.

    Estendendo-se para o indivduo, a sociedade e as instituies, trouxeuma srie de caractersticas que no haviam sido vivenciadas at en-to. Entre as principais esto: capitalismo fluido, estmulo ao consumo,sociedade informatizada, valorizao da informao e da velocidade,relaes de produo e de socializao mais flexveis, modificao dosentido de tempo e espao, instantaneidade, descrena no tempo futuroe necessidade da satisfao de desejos efmeros.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 3

    A cidade espao onde a maior parte da populao est situada etambm , ao mesmo tempo, o local dos centros de consumo e no qual ainformao favorecida, seja ela informacional ou publicitria. Assim,o sujeito no meio urbano est submetido s definies j citadas da ps-modernidade, convivendo com a cidade e dando a ela elementos reaisou imaginrios para preencher seus espaos vazios e formar uma redede comunidades mveis.

    Porm, tal cidade no mais vista apenas como configurao fsicaoposta ao campo, no sentido de agrupamento extenso e denso de indiv-duos socialmente heterogneos, como se pensava at o sculo XX. Osespaos urbanos existem para alm das ocupaes de territrio, cons-trues de edifcios e interaes materiais. Eles so considerados atual-mente levando em conta os processos culturais e imaginrios dos seushabitantes, que formam sobre ela uma imagem, isto , uma realidadeabstrata, segundo as particularidades de cada indivduo e o seu meiocultural.

    E o ncleo mais indivisvel da sociedade ps-moderna justamenteo indivduo, cujo consumo desenfreado e a velocidade do mundo con-temporneo afetam profundamente, proporcionando uma mudana denoo espacial e temporal e incentivando um hedonismo imediatista,que gera incertezas em relao aos vnculos sociais e ao futuro.

    Uma das formas contemporneas para manifestar sua presena notempo e no espao, alm de expressar sua subjetividade a interven-o urbana, que surge como expresso grfica no mesmo perodo emque a ps-modernidade chega em seu auge. A interveno artstica ur-bana refere-se a modos de inscrio em determinados espaos pblicosou privados, requalificando-os como regies de apropriao. O grafite,portanto, tem se desenvolvido nos ltimos quarenta anos e, percebe-seque vem se diversificando, incorporando novas tcnicas ao processo decriao e produo.

    Com base neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo de-monstrar as caractersticas da sociedade ps-moderna e do indivduo nacidade, por meio da interveno urbana. Pretende ainda caracterizaro perodo contemporneo e a relao do indivduo com a estrutura dacidade. Deseja tambm realizar uma abordagem histrica e descritivasobre a interveno urbana, como forma de manifestao do sujeito ede reformulao da cidade na contemporaneidade.

    www.bocc.ubi.pt

  • 4 Leticia Fontanella Souza

    Para tal, a metodologia escolhida divide-se em pesquisa bibliogr-fica sobre os temas pertinentes problemtica e pesquisa de campo coma observao e o registro fotogrfico de intervenes artsticas na ruaTrajano Reis, no bairro So Francisco, em Curitiba. O espao foi se-lecionado em razo da localizao, da movimentao demogrfica e dagrande quantidade de inscries, A partir das pesquisas, foi redigida afundamentao terica do trabalho e a descrio para tentativa de com-provao por meio das imagens.

    A linha de pesquisa seguida de Sisitema de Significao da Ima-gem e New Media, reunindo programas, pesquisas e projetos com enfo-que bsico na questo da imagem, em suas possibilidades de anlise edesenvolvimento, bem como incorporando estudos no campo das novastecnologias.

    O trabalho est estruturado em trs captulos. O primeiro trata docontexto e das caractersticas da ps-modernidade, abordando tambma questo da imagem da cidade e do indivduo inserido na sociedade. Osegundo captulo apresenta a interveno urbana, com contexto hist-rico e social, as principais modalidades e algumas consideraes a res-peito dos aspectos sociais e estticos. J o ltimo captulo une as duasprimeiras partes em uma descrio das inscries na rua Trajano Reis,para comprovar o que as teorias sobre a ps-modernidade apresentam.

    1 Ps-Modernidade e a CidadeA contemporaneidade apresenta um contexto econmico, poltico, so-cial, cultural e esttico novo para a histria da humanidade. A tentativade compreender o perodo vem sendo realizada por diversos autores,que o observam com algumas caractersticas semelhantes e o denomi-nam de ps-modernidade.

    Estima-se que a passagem do perodo anterior, a modernidade, parao contemporneo comeou a se delinear na metade do sculo XX, mar-cando o fim da reconstruo europeia, que seguiu a guerra, a bombaatmica, o incio da produo de bens de consumo e a deteriorao am-biental (Lyotard, 1988, p. 3). Estes, entre outros aspectos, promoveramuma mudana nas instituies e nos indivduos, culminada nas dcadasde 70 e 80.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 5

    1.1 Ps-ModernidadeJameson (2000, p. 27-28) afirma que a mudana da modernidade paraps-modernidade deu-se inicialmente nas artes, mas foi no mbito daarquitetura que as diferenas ficaram mais evidentes e que foram reali-zadas abordagens tericas mais consistentes, pensando na modificaodas estruturas e da utilizao dos edifcios. Passadas algumas dcadas,j possvel observar as instituies e os indivduos, entendendo as di-ferenas em relao modernidade, cujas caractersticas esto a seguir.

    A modernidade, perodo que se estendeu entre os sculos XVIII eXX, iniciou-se com a compreenso do fim da sacralidade e do espritode pertinncia e coeso da comunidade. Em linha gerais, entre seus con-ceitos centrais esto a epistemologia racional crtica, a universalidade,o ideal iluminista de progresso, a diferenciao estrutural, a integraofuncional e o determinismo. Para Shinn (2008, p. 46), ela incorporouduas correntes: emancipatria e tecnolgica.

    O componente emancipatrio da modernidade foi o Estado-nao,o qual introduziu caractersticas fundamentais para compreender o pe-rodo como cidadania, dever, burocracia, direitos, responsabilidadesinstitucionais e de fronteiras. Estas caractersticas estendiam-se do Es-tado para os indivduos, que, apesar de estarem em um perodo que exal-tava o individualismo, via-se um tipo de individualismo amplamentepadronizado, monitorado e disciplinado.

    J tratando da corrente tecnolgica, afirma-se que a tecnologia es-tava arregimentada em uma escala jamais vista e ligada ideologia deprogresso cientfico e humano (Shinn, 2008, p. 46). Embora a mo-dernidade represente um avano nos direitos e deveres individuais, atecnologia diminui a liberdade individual em razo dos imperativos dauniversalidade homogeneizadora, pela racionalidade inconstante e pelaintegrao e funcionalidade tecnologicamente imposta.

    Com a crise da cincia, iniciada nos ltimos decnios do sculo IX,acontece tambm o processo de modificao das instituies e dos in-divduos e da sua relao com o mundo. Para Lyotard (1988, p. VI),o que ocorre uma modificao na natureza da cincia provocada peloimpacto das transformaes tecnolgicas sobre o saber. Assim, a ps-modernidade comea a ser desenhada, designando o estado da culturaaps as transformaes que afetaram as regras dos jogos da cincia, da

    www.bocc.ubi.pt

  • 6 Leticia Fontanella Souza

    literatura e das artes a partir do final do sculo XIX. (Lyotard, 1988, p.XV).

    Para a economia, a ps-modernidade anuncia o advento do capita-lismo leve e flutuante, de acordo com Bauman (2001, p. 170), mar-cado pelo desengajamento e enfraquecimento dos laos que prendemo capital ao trabalho. Na prtica, significa menos regras e impostosmais baixos, estimulando a produo e o consumo, alm de um mer-cado de trabalho flexvel. Assim, a populao seduzida pela liberdade epelo consumo gerados, torna-se mais dcil, oferecendo menor resistn-cia organizada s decises que o capital venha a tomar. Os indivduoscontinuam dominados e remotamente controlados como antes, na mo-dernidade, porm, de uma maneira nova.

    Jameson (citado por Shinn, 2008, p. 53) reitera a afirmao, con-siderando o capitalismo contemporneo como sendo ps-moderno emseu modo de produo e em suas relaes sociais. uma forma de ca-pitalismo monopolista, na qual a tecnologia caracterstica eletrnica enuclear. Ele assenta na empresa multinacional, transformando, ento, omodo de produo e de distribuio. Neste sistema, a inovao tecnol-gica superior, tornando mais rpido o tempo de inovao, promovendotambm uma acelerao nas coisas materiais e nas pessoas.

    Considerando o indivduo na relao de produo, ele se torna auto-operante em uma nova dimenso temporal e espacial que ser abor-dada mais tarde , dando espao para recursos de imaginao e criativi-dade, criando uma nova forma de identidade.

    Com a flexibilidade de trabalho, os indivduos j no nascem maisem suas identidades a modernidade substituiu a definio da posiosocial pela autodeterminao compulsiva e obrigatria.

    Outra caracterstica do cenrio ps-moderno que ele se apresentaessencialmente imagtico, informtico e informacional. Logo, as so-ciedades mais desenvolvidas so informatizadas. Por conseguinte, ne-las, a circulao da informao e do conhecimento acontece em grandevelocidade. A capacidade de transmisso de dados nestas sociedades,segundo Lyotard (1988, p. 37), concede elementos para se pensar noque ele chama de exteriorizao do saber, transformando este saber emvalor de uso. Assim, o saber no pertence mais ao sujeito, mas , sim,depositado em aparatos artificiais de memria. O armazenamento e atransmisso de saber ocorre com grande desempenho e velocidade.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 7

    Considerando ento a produo de bens materiais e a transmisso desaber, ambas velozes no contemporneo, pode-se afirmar que o mundo da velocidade, Com a velocidade das transformaes que se seguem,Bauman (2001, p. 58) reconhece tambm que o mundo volta-se para oreconhecimento da natureza endemicamente indeterminstica (...) doenorme papel desempenhado pelo azar, e para a excepcionalidade, noa normalidade, da ordem e do equilbrio.

    Tendo uma base de dados bem desenvolvida e a velocidade da vidaem geral, o acesso informao, principalmente a eletrnica, torna-seum dos principais direitos do indivduo. Para Bauman (2001, p. 179),isto se prova considerando que o bem-estar da populao como um todo hoje medido, entre outras coisas, pelo nmero de domiclios equipa-dos com aparelhos de televiso.

    Este acesso informao facilitado primordialmente pelos meiosde comunicao de massa ou parte de grandes polos de comunicaomundial, com interesses econmicos e polticos, manifestando uma for-ma dominante de pensar e agir. Ou ainda,

    a tecnologia da sociedade contempornea , portanto, hip-ntica e fascinante, no tanto em si mesma, mas porquenos oferece uma forma de representar nosso entendimentode uma rede de poder e de controle que ainda mais difcilde ser empreendida por nossas mentes e por nossa imagina-o; a saber, toda a nova rede global descentrada do terceiroestgio do capital (Jameson, 2000, p. 65-66).

    Assim, percebe-se que as representaes de uma imensa rede com-putadorizada de comunicaes so apenas uma figurao distorcida detodo o sistema mundial do capitalismo multinacional dos dias atuais.Para Jameson (2000, p. 91), media evoca trs signos distintos. Na pri-meira modalidade, trata do artstica, pensando em uma forma especficade produo esttica. Em seguida, o signo tecnolgica, organizado emtorno de um aparato central ou mquina, que serve de suporte de pro-duo ou distribuio da informao. Por ltimo, apresenta-se comoinstituio social.

    Com a velocidade e consequente maior volatilidade das notcias, aesfera pblica tambm redefinida, como um palco em que as vidasprivadas so encenadas e expostas publicamente. O valor de interesse

    www.bocc.ubi.pt

  • 8 Leticia Fontanella Souza

    pblico promovido pela mdia e aceito amplamente pelos setores da so-ciedade altera-se e se expande, dando a sensao de que um deverencenar tais dramas em pblico e de que um direito assisti-los. Comoconsequncia desta nova forma de se pensar a esfera pblica, Bauman(2001, p. 83) afirma que h um desaparecimento da poltica como seconhece, expulsando o problema social ou coletivo das questes pbli-cas.

    Como j foi citado, a ps-modernidade modifica a percepo detempo e espao. A mudana em questo a nova irrelevncia do es-pao, disfarada de aniquilao do tempo (Bauman, 2001, p. 136).

    No universo da valorizao do software da viagem velocidade daluz, o espao pode ser atravessado em um tempo recorde, cancelandoa diferena entre longe e perto. As aes desenvolvem-se em escalaglobal, misturando ou fazendo desaparecer as localidades, o que con-verge em uma unidade global, fazendo com que a ideia de nao sejaeliminada. O espao no impe mais limites ao e seus efeitos.

    Logo, o tempo no mais um desvio ou dificuldade, desvalorizandoo prprio espao pela instantaneidade. Quando se pensa na relaotempo-espao, hoje, todas as partes do espao podem ser atingidas nomesmo perodo de tempo, sem um privilegiar um parte. Assim, setodas as partes do espao podem ser alcanadas a qualquer momento,no h razo para alcanar qualquer uma delas num dado momento enem tampouco razo para se preocupar em garantir o direito de acessoa qualquer uma delas (Bauman, 2001, p. 138).

    A instantaneidade, definida como anulao da resistncia do es-pao e liquefao da materialidade dos objetos (Bauman, 2001, p.145),faz com que cada momento parea ter capacidade infinita e esta capa-cidade infinita significa que no limites e que tudo est ao alcance emqualquer momento.

    Bem como as sociedades mais informatizadas so as dominantes, aspessoas que podem se mover e agir com maior rapidez so aquelas quedetm o poder de mando.

    A instantaneidade e a consequente crise da historicidade levam questo da organizao da temporalidade em geral, levando ao pro-blema da forma com que o tempo pode ser assimilado em uma culturadominada pela lgica espacial e do momento imediato. Considerando

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 9

    que o indivduo perdeu a capacidade de estender as pretenses em umtempo mais complexo e abrangente, a crena no futuro torna-se abalada.

    Quanto mais imediato o tempo presente se torna, menos o futuropode ser integrado ao projeto institucional ou individual. Tal futuro dividido, fatiando a vida como um todo em episdios fragmentados,descaracterizando o conceito de continuidade. A ideia de longo prazo redimensionada ou mesmo descartada em razo do curto prazo.

    Bauman (2001, p. 169) complementa:

    A continuidade no mais marca de aperfeioamento. Anatureza outrora cumulativa e de longo prazo do progressoest cedendo lugar a demandas dirigidas a cada episdioem separado: o mrito de cada episdio deve ser reveladoe consumido inteiramente antes mesmo que ele termine eque o prximo comece.

    Entre as consequncias da percepo de tempo e espao, est o de-clnio da iluso da modernidade da crena no futuro. Como o instan-tneo produz e reproduz com velocidade, alterando o que h pouco eraconcreto, a sensao individual e coletiva de no h um caminho a sertrilhado com certeza ou mesmo que no haja um estado de perfeio aser alcanado, na busca de uma sociedade e vida privada justas e semconflitos.

    Recapitulando, o capitalismo ps-moderno propicia maior liberdadede produo e consumo. A sociedade informatizada e zela pela in-formao. J a nova noo de tempo e espao determina a urgnciados acontecimentos. Consequentemente, o consumo estimulado, masa satisfao com tal ato saciada e encerrada rapidamente, pois nomundo dos consumidores as possibilidades so infinitas, e o volume deobjetivos sedutores disposio nunca poder ser exaurido (Bauman,2001, p. 86). O desejo se torna o seu prprio propsito.

    A sociedade ps-moderna, portante, envolve os indivduos na con-duo de consumidores e no de produtores, prioritariamente. A vida organizada em torno do consumo, orientada pela seduo e pela va-riedade e volatilidade do desejo. Em tal sociedade, a procrastinao, naforma de adiamento da satisfao, deixa de ser um sinal de virtude mo-ral, para se tornar um princpio que assegura a durabilidade do desejo.

    www.bocc.ubi.pt

  • 10 Leticia Fontanella Souza

    tambm um tipo de sociedade, supostamente de indivduos livres,que fez da crtica uma parte inevitvel e obrigatria aos membros. Estesesto mais predispostos s crticas, porm um reclame mais raso eincapaz de afetar a agenda estabelecida para as escolhas do cotidiano.A sociedade no mais reconhece qualquer alternativa para si mesma e,portanto, sente-se absolvida do dever de examinar, demonstrar, justificar(e que dir provar) a validade de suas suposies tcitas e declaradas,afirma Bauman (2001, p. 32).

    A incerteza do presente uma grande fora individualizadora. Eladivide em vez de unir, pois com a incerteza do que acontecer no futuro,a ideia de interesse comum perde o valor prtico. Promove-se, assim,a dissoluo do vnculo social e a passagem da coletividade social aoestado de uma massa composta de tomos individuais. Lyotard (1988,p.31) afirma que esta atomizao do social em flexveis redes de jogosde linguagem pode parar bem afastada de uma realidade moderna queera burocrtica e bloqueada.

    Para o autor (Lyotard, 1988, p. 28), as relaes tornam-se aindamais complexas e mais mveis. Cada indivduo colocado em umacondio em mudam de destinatrios para remetentes ou referente, coma passagem de mensagens de naturezas diversas. A sociedade existe,ento, em uma constante atividade de individualizao, pois cada umreformula e renegocia as suas redes de entrelaamento. Um princpiocentral da ps-modernidade para sua insistncia na diferena. Elarequer pluralismo na escolha e ao individuais (Lyotard citado porShinn, 2008, p. 51). Bauman (2001, p. 39), define a sociedade como oemaranhado de tais redes de entrelaamento.

    Ainda com a individualizao, as relaes sociais passam por umprocesso de reificao (Jameson, 2000, p. 318), transformadas em coi-sas materiais, pelo apagamento dos traos de produo. Os indivduosno consideram o processo de produo e se distanciam dos envolvidos.

    Tratando dos laos sociais, Bauman (2001, p. 185) apresenta umexemplo que define tais relaes de indivduos ento individualizadosou em grupos de identidade:

    Os dois tipos de espao, ocupados pelas duas categoriasde pessoas, so marcadamente diferentes, mas interrelacio-nados; no conversam entre si, mas esto em constante co-

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 11

    municao; tm muito pouco em comum, mas simulam se-melhana. Os dois espaos so regidos por lgicas drastica-mente diferentes, moldam diferentes experincias de vida,geram itinerrios divergentes e narrativas que usam defini-es distintas, muitas vezes opostas, de cdigos compor-tamentais semelhantes. E no entanto os dois espaos seacomodam dentro do mesmo mundo e o mundo de queambos fazem parte o mundo da vulnerabilidade e da pre-cariedade.

    H enfraquecimento e decomposio dos laos sociais humanos edas comunidades, marcando a transitoriedade das parcerias. Como to-dos os outros objetos, o lao social no deve exigir um grande esforopara ser mantido e ainda deve proporcionar satisfao imediata. Casono cumpra seu papel de objeto de satisfao a ser consumido, pode serrompido a qualquer momento.

    Por outro lado, o desequilbrio entre a igualdade e a inseguranaindividual promovem um paradoxal sentimento de comunitarismo. ParaBauman, (2001, p. 196), as incertezas em relao ao caos urbano dopresente e ao futuro, unem os indivduos em comunidades, fsicas ouno, na promessa de um porto seguro.

    Assim, Bauman (2001, p. 111) prossegue com sua explanao abor-dando a comunidade definida por suas fronteiras vigiadas de perto eno mais por seu contedo, traduzida como o emprego de guardiespara controlar a entrada, indisposio com os possveis indivduos pe-rigosos, a compartimentao das reas pblicas em reas defensveise separao no lugar da vida em comum sendo essas as principaisdimenses da evoluo corrente da vida urbana.

    O que surge na vida urbana o conceito de civilidade, definida porSennet (citado por Bauman, 2001, p. 111-112) como a atividade queprotege as pessoas umas das outras, permitindo, contudo, que possamestar juntas. Para ele, necessrio usar uma mscara que permita asociabilidade pura, distante das relaes de poder e dos sentimentosprivados. Ou seja, civilidade para convivncia e, ao mesmo, proteo.

    Logo, pensar em espaos civis no meio urbano fundamental paraque, alm de suas fortalezas comunitrias, o indivduo possa compar-tilhar sua persona pblica, sem ser necessrio que tire sua mscara, e

    www.bocc.ubi.pt

  • 12 Leticia Fontanella Souza

    ainda permitindo uma expresso de sentimentos coerentes com a civi-lidade. Compartilhar o espao fsico com outros atores que realizamatividade similar d importncia ao, proporcionando a ao e tam-bm a interao. Porm, o espao urbano supe,e a cada dia em nmeromaior, de espaos pblicos no civis, os no lugares (Bauman, 2001,p. 119), que permitem a ao, mas sem espao para a interao. Soespaos que permitem a passagem necessria e o contato fsico com es-tranhos, mas no, necessariamente, a troca, como aeroportos,hotis outneis de passagem.

    Se, por um lado, o ser humano passa pelo processo de individuali-zao de aes e sensaes, e por outro, une-se em comunidade parasatisfazer seu desejo de segurana com civilidade, o paradoxo est ins-taurado. Porm, acrescente-se ainda que a unio dos tomos da redetambm ocorre em razo da auto-identificao. uma unidade emer-gente para a realizao conjunta de agentes engajados, unidade que resultado e no condio. Unidade criada pela renegociao, uma vezque a ps-modernidade encerra o determinismo das classes sociais eeconmicas. Para Bauman (2001, p. 205) esta a nica forma de estarjunto na ps-modernidade.

    Na ps-modernidade, a racionalidade, que tende a ser mais dicot-mica, inaceitvel, dando preferncia a uma multiplicidade de vecu-los de raciocnio que se estendem para alm da racionalidade mutilada(Shinn, 2008, p. 52). Ento, a unidade d lugar a tal multiplicidade,cujos limites so tambm confusos e mveis. Promovendo uma com-parao entre a sociedade e a esttica, Jameson (2000, p. 57) afirmaque os espectadores so chamados a ver muitas telas ao mesmo tempo,elevando o nvel de percepo a uma diferena radical.

    Para Jameson (2000), as artes e a arquitetura foram as primeirasreas a apresentar um conceito de ps-modernidade. Tal produo cul-tural hoje est integrada produo das mercadorias em geral, trazendoconsigo as mesmas caractersticas, como a urgncia em produzir novassries de produtos que cada vez mais paream novidades, com um ritmoacelerado, atribu[indo] uma posio e uma funo estrutural cada vezmais essenciais inovao esttica e ao experimentalismo (Jameson,2000, p. 30).

    Nas artes em geral, h o aparecimento de um novo tipo de falta deprofundidade e da falta de expresso, que promove a inviabilidade de

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 13

    um estilo pessoal, traduzido pela morte do sujeito e da releitura ou re-construo de fragmentos do passado. Jameson (2000, p. 45) afirmaque os produtores culturais no podem mais se voltar para lugar ne-nhum a no ser o passado: a imitao de estilos mortos, a fala atravsde todas as mscaras estocadas no museu imaginrio de uma cultura queagora se tornou global.

    Ainda para ele (Jameson, 2000, p. 118), no h mais a produo deobras monumentais como no modernismo, mas, sim, um embaralhar defragmentos de textos preexistentes, estendendo tal aspecto para a vidaindividual e coletiva em geral.

    Considerando que o sujeito perdeu a capacidade de estender de for-ma ativa suas pretenses em um complexo temporal e organizar seupassado e seu futuro como uma experincia coerente, fica difcil per-ceber como a produo cultural de tal sujeito poderia resultar em outracoisa que no um amontoado de fragmentos e em uma prtica da hete-rogeneidade a esmo.

    O principal espao para observar e reconhecer as caractersticas daps-modernidade citadas acima a cidade, espao de convivncia e tro-cas reais ou simblicas, no qual os indivduos esto inseridos.

    1.2 A Cidade Ps-ModernaO sculo XX apresenta uma nova perspectiva em todas as reas dasociedade, caracterizadas no conceito de ps-modernidade. A partirda segunda metade do sculo, verifica-se os efeitos de tal perspectiva,com o auge do movimento demogrfico e de processos de urbaniza-o. Observa-se, ento, um crescimento sem precedentes das cidades ea conquista da velocidade, tanto na mobilidade, como de comunicao.Em consequncia, as funes urbanas foram descentralizadas, dandoorigem s grandes metrpoles.

    No final do sculo XX, pela primeira vez na histria da humanidade,a populao vivendo nas cidades, superou a do meio rural (Coelho Jr,2010, p. 26). , portanto, neste espao que as pessoas nascem, crescem,vivem e promovem as suas trocas reais e simblicas ao longo da vida.

    Porm, a cidade no mais vista apenas como configurao fsicaoposta ao campo, no sentido de agrupamento extenso e denso de indiv-duos socialmente heterogneos, como se pensava at o sculo XX. Os

    www.bocc.ubi.pt

  • 14 Leticia Fontanella Souza

    espaos urbanos existem para alm das ocupaes de territrio, cons-trues de edifcios e interaes materiais. Eles so considerados atual-mente levando em conta os processos culturais e imaginrios dos seushabitantes, que formam sobre ela uma imagem, isto , uma realidadeabstrata, segundo as particularidades de cada indivduo e o seu meiocultural. Uma cidade uma organizao mutvel com fins variados, umconjunto com muitas funes criado por muitos, de um modo relativa-mente rpido.

    Como afirma Ianni (1999, p. 53),

    ...raramente a cidade apenas uma funo e um lugar nomapa da sociedade nacional ou no da global. Em geral, ela diversa, mltipla, ainda que a predomine esta ou aquelacaracterstica. Na cidade esto presentes as condies e osprodutos da dinmica das relaes sociais, do jogo das for-as polticas e econmicas, da trama das produes cultu-rais.

    Alm disso, a cidade acompanha o desenvolvimento do capitalismoe da informatizao no contexto ps-moderno, fazendo parte de ummundo globalizado. Ainda Ianni (1999, p. 57).

    A cidade global que se torna realidade em fins do sculoXX a que se produz como condio e resultado da glo-balizao do capitalismo. Torna-se uma realidade propria-mente global na poca em que o capitalismo, visto comoprocesso civilizatrio, invade, conquista, assimila, desafia,recobre, convive, acomoda-se ou mesmo recria as mais di-versas formas de vida e trabalho, em todos os cantos domundo.

    Assim, o espao urbano pode ser visto como um organismo vivo,reconstrudo permanentemente em sua forma fsica e em significados,atravs da exposio aos fatores locais e globais, e a interpretao con-tnua de suas etapas de desenvolvimento, atividades e signos.

    A permanente transformao do meio em que se vive, resultantede causas naturais imprevisveis e da ao do homem sobre o mundo,

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 15

    conduzida por desejo, convenincia ou necessidade e moldada pelas cir-cunstncias de sua realidade, afeta diretamente o modo de vida, a orga-nizao dos espaos e a percepo e interpretao sobre o mundo. Odesign de uma cidade , assim, uma arte temporal, mas raramente podeusar as sequncias controladas e limitadas de outras artes temporais(Lynch, 1997, p. 11). Dependendo da ocasies e dos indivduos, assequncias so invertidas, interrompidas, abandonadas, anuladas.

    1.2.1 A imagem da cidade

    A percepo individual da cidade parcial e fragmentada. As imagensdo ambiente urbano so o resultado de um processo bilateral entre o ob-servador e o meio. Segundo Lynch (1997, p. 16), o processo aborda omeio ambiente, que oferece sugestes e relaes, e o observador, que, apartir de suas referncias e desejos, seleciona, organiza e d sentido aoque v. Os valores podem ser percebidos de diversas formas, de acordocom a sensibilidade e repertrio de cada um, dependendo de diferenasculturais e variando entre diferentes grupos, pocas e localidades (Ma-ras, 2004, p. 465 469). Agora, com a imagem criada, so dadas nfasesao que observado. Mas, a prpria imagem reiterada ou modificadapelo observador em uma constante interao.

    Parece haver uma imagem pblica de uma cidade que a sobre-posio de imagens de muitos indivduos. Ou talvez, haja uma sriede imagens pblicas, criadas por um nmero significativo de cidados.(Lynch, 1997, p. 57). E estas imagens, pblicas ou individuais, podemdiferir de acordo com o ponto de vista e referencial, como tambm pelahora do dia ou estao do ano. Os valores podem ser percebidos de v-rias formas, em decorrncia da sensibilidade e repertrio de cada um,dependendo de diferenas culturais e variando entre diferentes grupos,pocas e localidades (Maras, 2004, p. 465-469).

    Uma imagem do espao urbano pode ser analisada em trs compo-nentes (Lynch, 1997, p. 18): identidade, estrutura e significado. Istoporque uma imagem vivel requer a identificao de um objeto, o queimplica distingui-lo de outras coisas. Deve incluir tambm a relaoestrutural ou espacial de determinado objeto com o observador. Por l-timo, precisa ter um significado prtico ou emocional para o observador.

    Lynch (1997, p. 20) afirma tambm que outro conceito importante

    www.bocc.ubi.pt

  • 16 Leticia Fontanella Souza

    para se pensar o espao urbano a imaginabilidade, ou seja aquelaqualidade de um objeto fsico que lhe d uma grande probabilidade deevocar uma imagem forte num dado observador. Quanto mais imagi-nvel aparente, legvel, visvel uma cidade, mais chama a atenodos habitantes ou visitantes. Uma cidade com imaginabilidade pode sercompreendida alm do seu tempo com modelo de continuidade, commuitas partes interligadas de forma precisa. O observador poderia ab-sorver novas informaes estticas, sem aniquilar a imagem bsica.

    A interveno urbana surge como o fenmeno determinante para aafirmao da cidade como smbolo da cultura global, pois pode ser umagrande obra da coletividade humana e meio possvel para a convivnciasocial.

    1.3 Indviduo na CidadeO indivduo ncleo mais indivisvel da sociedade ps-moderna. Hoje,como j foi citado, est, em sua maioria, nos centros urbanos, submeten-do-se a sua estrutura e a seu movimento. Esta submisso , ao mesmotempo,a condio de sua libertao.

    Segundo Bauman (2001, p. 28), a liberdade para o homem ps-moderno consiste em no estar sujeito s foras fsicas imprevisveis eele chega a isso impondo-lhes a fora da sociedade, abrigando-se sob asua proteo. Ao colocar-se sob as asas da sociedade, ele se torna, atcerto ponto, dependente dela. Mas uma dependncia libertadora; noh nisso contradio (Bauman, 2001, p. 28).

    Cada indivduo est inserido em comunidades por proteo ou porafinidade, alternando suas mscaras de acordo com o espao em queesto e as relaes que mantm com os demais membros de determi-nada comunidade. Este ponto reitera a questo da complexidade e damobilidade e das relaes sociais (Lyotard, 1988, p. 28). O indivduodesempenha, assim, uma variedade de papeis, como remetente, desti-natrio ou referente dentro de um mesmo grupo social ou em vriosdeles.

    Considerando que a vida nas grandes cidades torna-se estetizada, osindivduos so bombardeados por imagens e objetos descontextualiza-dos, mas que evocam sonhos e desejos para um consumo desenfreadocujo resultado o aumento indefinido dos lucros no capitalismo tardio.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 17

    Nestas circunstncias, provvel que a maior parte da vida dos in-divduos consuma-se na escolha de objetivos e no na procura de meiospara realiz-los. A infinidade de oportunidades, incentivada pelo con-sumo, preenche os espaos vazios individuais. Para Bauman (2001, p.73), o que est em pauta a questo de considerar e decidir, em face detodos os riscos conhecidos ou adivinhados, quais dos muitos fins quepodem ser perseguidos devem ter prioridade dada a quantidade demeios disponveis e levando em considerao as chances de sua utili-dade duradoura. Portanto, cabe ao indivduo descobrir o que capaz defazer, otimizar esta capacidade, escolhendo os fins a que podero servirpara a mxima satisfao.

    A medida em que a liberdade do indivduo fundada na escolha deconsumidor, especialmente a liberdade de auto-identificao pelo usode objetos produzidos e comercializados em massa, percebe-se que talliberdade no funciona sem dispositivos de mercado disponveis, recon-siderando a gama de possibilidades de satisfao.

    A cidade espao onde a maior parte da populao est situada etambm , ao mesmo tempo, o local dos centros de consumo e no quala informao favorecida, seja ela informacional ou publicitria. Logo,os indivduos do meio urbano esto submetidos as definies j citadasda ps-modernidade, convivendo com a cidade e dando a elas elementosreais ou imaginrios para preencher seus espaos vazios e formar umacomunidade de proteo ou semelhana.

    E uma das formas contemporneas para manifestar sua presena notempo e no espao, alm de expressar sua subjetividade a intervenourbana, que surge como expresso grfica no mesmo perodo em que aps-modernidade chega em seu auge, nas dcadas de 70 e 80. Assim,faz-se uma descrio de tais manifestaes, observando as caractersti-cas perpassadas pelos indivduos interferindo na cidade como seres davelocidade, da instantaneidade e da complexidade.

    2 Interveno UrbanaDesde que a humanidade descobriu a expresso grfica, h rabiscos nasparedes. Ao longo da histria, porm, estes rabiscos foram sendo apri-morados e adquiriram novos significados. Hoje, tornaram-se uma dasprincipais manifestaes artsticas da sociedade urbana ps-moderna.

    www.bocc.ubi.pt

  • 18 Leticia Fontanella Souza

    Segundo Roncayolo (citado por Pallamin, 2000, p. 31), a interven-o artstica urbana refere-se a modos de inscrio em determinadosespaos, requalificando-os como regies de apropriao. Ela de na-tureza social e temporal, no podendo ser dissociada das instituiesnas quais esta se organiza. Tal interveno e sua territorialidade sofenmenos culturais e multidimensionais, essencialmente coletivos, in-cluindo aspectos de ordem psicolgica, econmica e geogrfica.

    A interveno urbana ocorre de modo espontneo, sem regras, demaneira aleatria e inesperada na paisagem urbana. Assim, passa a fa-zer parte do tecido da cidade e a transforma de forma contnua. Logo, parte do cenrio urbano e se interliga com as ruas, os prdios, as mo-radias, as praas, os muros e os monumentos. Integra o cotidiano dacidade, ao mesmo tempo em que conta a histria de seus habitantes, pormeio do poder simblico da representao individual ou coletiva.

    As manifestaes artsticas urbanas envolvem o uso de elementos eequipamentos urbanos como suporte de produo. A rua o lugar privi-legiado por seus autores que, em grande parte, optam pela via anrquicapara proptestar contra os sistemas sociopoltocos e economicocultural epara afirmar sua identidade e a sua presena no contexto da globaliza-o, massificante e efmero. Anarquia, segundo Prosser (2010, p. 23),retrata no apenas uma desordem, mas principalmente a no aceitaode padres ou de uma organizao preestabelecida.

    Para Pallamin (2000, p. 29-30), a interveno artstica no espaopblico como uma modulao na trama. Ela evita o entendimentoobjetivista da arte, baseada no dissociao entre obra e espao, entre es-pao e pblico ou entre obra e pblico. O meio urbano pblico mostra-se, ao contrrio, repleto de articulaes, segregaes e rupturas, cujosignificados tornam-se especficos.

    Assim, a cidade torna-se uma mdia alternativa (Prosser, 2010, p.27). Vira o suporte da arte e do dilogo entre aqueles que a elaboram eos que a lem, indivduos contemporneos e inseridos na sociedade ps-moderna. A inscrio torna-se a comunicao direta entre o grafiteiro eo outro, no mediada po qualquer meio, sendo a cidade, ento, o prprioveculo de comunicao.

    Segundo Prosser (2010, p.30), uma representao transitria, nocomercial, no oficial, que se d fora da academia e do museu.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 19

    livre ao mesmo tempo em que fugaz pela rapidez com que surge edesaparece.

    2.1 Breve Histria da Interveno UrbanaAntes mesmo da inveno da escrita, o homem j desenhava sinais nasparedes da caverna para informar sua localizao e o seu percurso hist-rico. Os romanos escreviam nos edifcios das cidades que conquistavame esta escrita j era conhecida como graffiti (Bacelar, 2012, p. 3).

    A pichao e o grafite, portanto, no so uma exclusividade dassociedades atuais. As paredes das cidades antigas eram to pichadasquanto as de hoje e com grande variedade temtica. Em Pompeia, naItlia (Gitahy, 1999, p. 20), por exemplo, encontraram-se inscriesdatadas de 70 d.C, com xingamentos, cartazes eleitorais, anncios, poe-sias, entre outras inscries. J na Idade Mdia, os padres pichavam asparedes dos conventos de outras ordens que no lhes eram simpticas.

    Mas foi na dcada de 60, na Frana, que o grafite comeou a sedesenvolver da forma como conhecido hoje (RamoS, 2007, p. 1261-1267). A partir de maio, em 1968, culturas jovens e populares comea-ram a ocupar alguns espaos de Paris, na Frana. Estes grupos estavamisentos de qualquer obrigao artstica, moral ou social e no tinham ou-tro meio para se manifestarem. Entre as vrias aes de protesto, comopanfletos e jornais, frases curtas eram inscritas nos muros da cidade,marcando a presena de tais jovens no protesto e projetando as ideia dainscrio como forma de viver a cidade como espao de comunicaopara outras cidades. Vrios espaos criados e protegidos pelos projetosurbanos, como tneis, viadutos, muros e monumentos, passaram a seralvo dos grafiteiro.

    Em seguida, a cidade de Nova Iorque, palco da multiculturalidade eda marginalizao social, presenciou a invaso e proliferao da frases,dos desenhos e das caligrafias elaboradas. Os jovens, principalmentehomens, chamados de writers, passaram a assinar seus nomes ou apeli-dos com letras grandes e estilizadas, conhecidos como tags, nas lateraisdos trens subterrneos. Assim, surpreenderam a populao da cidadee logo cones e frases da cultura pop americana comearam a aparecercomo contedo das inscries. A partir de ento, imagem e imagina-o passaram a circular nos trens da cidade de Nova Iorque (Ramos,

    www.bocc.ubi.pt

  • 20 Leticia Fontanella Souza

    2007, p. 1262). Motivados pela competio, os grafiteiros de NovaIorque procuravam novas soluo para que as tags fossem mais pre-sentes e, assim, passaram a se reunir em grupos, chamados de crews,para pintar melhor em grandes reas. com uma expressividade cada vezmais marcada. Assim, o graffiti contemporneo muito mais do que oresultado da vontade de mutilar ou desfigurar equipamentos coletivos,podendo-se considerar antes como um modo atrevido de revelao dacriatividade, mestria e arrojo do graffiter (Bacelar, 2012, p. 3).

    Observou-se que a maior parte dos writers de Nova Iorque, nos anos70, eram estudantes de artes ou designers que se interessam pela arte epor sua histria. Eles procuravam exercer as habilidades para o dese-nho, desenvolviam pesquisas e trocavam ideias sobre tcnicas, estilos,materiais, locais, entre outros.

    Para a histria contempornea do grafite, o Muro de Berlim, na Ale-manha, um dos espaos mais polmicos. Do lado leste, o muro eratotalmente branco, mas no lado oeste, a partir de meados da dcada de80, passou a receber inscries de diversas manifestaes a favor oucontrrias a sua instalao. Artista, ativistas ou turistas de todas as par-tes do mundo e de todas as classes sociais dividiram o espao do muroem uma competio criativa.

    No Brasil, So Paulo foi a primeira cidade a registrar o grafite con-temporneo. As performances comearam com a vinda de Vallauri, umetope com passagem por Buenos Aires e Nova Iorque, e que surpreen-deu os paulistas com a imagem repetida de uma bota feminina, extradada fbrica de carimbos Dulcemira Ltda e carimbada com a tcnica damscara e spray em muros, porta de lojas, supermercados, entre outros.A partir de ento, muitas outras cidades brasileiras passaram a convi-ver com essa manifestao. A cidade passa ser um suporte para escritasem delimitao de espao, mensagem ou mensageiro (Ramos, 2007,p. 1267).

    Para Gitahy (1999, p. 28-29), h quatro fases da pichao no Brasildesde a dcada de 80. Na primeira, havia apenas a repetio exaustiva,como um carimbo, do prprio nome do pichador pela cidade. O desejoera chamar a ateno para si, apropriando-se de todas as superfciespossveis. Na segunda fase, surgiu a competio pelo espao, na qual ospichadores trocaram os nomes por pseudnimos ou smbolos, utilizandoletras chamativas. nesta fase que h a saturao do espao fsico da

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 21

    cidade. Na sequncia, na terceira fase, os pichadores passam a competirpelos lugares mais altos e investem nos monumentos pblicos, tendoassim que ser rpidos e objetivos na inscrio. J ltima fase, a pichaoatinge o seu auge, quando os pichadores atentam para a mdia, querendofazer a inscrio que gerasse mais polmica na sociedade.

    H pelo menos duas dcadas a tcnica do grafite tem se deslocado doespao pblico, em direo ao interior das casas e das galerias de arte,ou seja, dos ambientes privados. A atividade deixou de ser associadaa outras prticas juvenis delinqentes e conquistou o recente status demanifestao artstica..

    2.2 Formas de Interveno Urbana ArtsticaO grafite, como forma de expresso grfica, tem se desenvolvido nosltimos quarenta anos. Observando o ambiente, porm, percebe-se quea interveno urbana vem se diversificando, incorporando novas tcni-cas ao processo de criao e produo. O chamado ps-grafite umfenmeno recente, surgido no incio do sculo XXI, com a legitimaoda concepo de interveno urbana (Souza, 2008, p. 74). Os artis-tas de rua foram atrs de novas tcnicas e passaram a explorar outrasferramentas, como papel, adesivos e psteres em vrias dimenses.

    Sticks so ilustraes em papel adesivo, que podem ser em pequenasdimenses, tamanho A4 ou psteres fixados com cola de trigo, presosem paredes, postes, pisos, tetos e placas nas ruas. J adquiriram o statusde manifestao esttica e constituem uma das principais vertentes dops-grafite. Segundo Souza (2008, p. 75), o propsito constituir umaresposta massificao da propaganda, com a qual disputam espao emmeio poluio visual da cidade.

    Outra forma de interveno do ps-grafite o estncil. Semelhante auma tela de estampar roupas, uma tcnica que utiliza moldes vazadosem telas de papelo atravs das quais o spray transfere para a superfcieescolhida o desenho ali contido,

    O grafite e a pichao so muitas vezes confundidos como moda-lidades de interveno semelhantes. Souza (2008, p. 76-79), porm,esclarece as diferenas de processo e de esttica entre os dois.

    A pichao uma prtica definida por intervenes na forma deassinaturas monocromticas, chamadas de tags, em tinta spray. Advm,

    www.bocc.ubi.pt

  • 22 Leticia Fontanella Souza

    portanto, da escrita e privilegia a letra. caracterizada por sua vocaoclandestina e por seu aspecto esttico com traos rpidos e apressados,cuja premissa a divulgao atravs da repetio.

    H entre as pichaes, muitos rabiscos, sem inteno alfabtica,que violam, preferencialmente, os monumentos, as igrejas, os prdios.(Ramos, 1994, p. 75). Na pichao, logo, no h um trao estticoqualitativo obrigatrio, nem na forma nem em relao ao contedo.

    O graffiti, por outro lado, uma atividade relacionada apropria-o do espao urbano para o desenvolvimento de painis elaborados emtinta spray ou outros materiais, porm no monocromticos e nem comtraos econmicos, mas sim extremamente complexos e coloridos. Estrelacionado s artes plsticas, pintura e gravura, com maior preocu-pao em relao ao desenho e representao plstica da imagem.

    H ainda uma modalidade intermediria entre a pichao e o grafite,conhecida como grapicho (Souza, 2008, p. 78). uma tcnica que serelaciona estilizao do apelido do grafiteiro em letras elaboradas ecoloridas, com contorno e preenchimento. Estabelece conexes com ografite pelo fato da elaborao e do detalhamento dos trabalhos, e coma pichao, por constituir algo semelhante a uma assinatura.

    Em um passado recente, o grafiteiro apropriava-se de outro grafite,completando-o, questionando-o, usando-o como moldura para seu tra-balho e interferindo no supostamente pronto. Hoje, ao contrrio, hum respeito tico pelo grafite alheio, sendo desconsiderado o grafiteiroque interfere na arte de outro companheiro de grafite (Ramos, 2007, p.1261).

    2.3 Consideraes sobre a Interveno UrbanaO grafite, compreendido como todo risco, rabisco, trao, (ordenadosou no), linhas, formas feitas em qualquer suporte que d caracters-ticas de inscrio urbana (Ramos, 1994, p. 26), existe, como j foicitado, desde os tempos parietais. Neste perodo, os moradores eramnmades e registravam o cotidiano da regio nas imagens para comuni-car aos prximos habitantes o que acontecia no local. Hoje, ainda h anecessidade do registro por meio da expresso grfica, mas h tambmoutros objetivos para a interveno urbana.

    Para Gitahy (1999, p. 16),

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 23

    Atravs de um repertrio imagtico variado abarca temascomo: crtica sociedade e/ou poltica, personagens repre-sentando grupos sociais menos favorecidos, alm de enig-mticas imagens, muitas das quais repetidas exausto caracterstica herdada da pop art.

    Os significados, assim, da arte urbana desdobram-se nos mltiplospapis por ela exercidos, cujos valores so definidos na sua relao como pblico e nos seus modos de apropriao pela coletividade.

    O grafite ganha fora nos centros urbanos por constituir um canalpor meio do qual o indivduo pode representar sua subjetividade, ma-terializar algumas de suas impresses sobre o mundo. Os grafiteirosfazem uma remodelagem da cidade e devolvem a ela um carter de co-municao compartilhada, de recepo de novos significados, tensese mudanas. Eles promovem espaos de opinio, dilogo e arte no es-pao pblico, articulando a informao dominante com a comunicaoe a opinio dos agentes urbanos. Estabelecem, assim, a democratizao,a horizontalidade das relaes polticas de ocupao e dominao daspolticas urbanistas programadas (Ramos, 2007, p. 1269).

    J aos pichadores, por exemplo, interessa mais o ato, o rito, o apa-recer e o transgredir, e menos o processo criador. A eles o resultado es-ttico secundrio ou no chega a ser uma preocupao. Porm, umaesttica dissonante que busca o rabisco, o sujo, tambm transgride echama a ateno (Ramos, 1994, p. 49). Em alguns casos apenas paramarcar que determinado indivduo esteve ou ocupa aquele espao.

    Em qualquer uma das circunstncias, a interveno urbana con-duzida pela inteno e vontade do homem, traduzida em atos polticosempreendidos como parte do jogo de poder e domnio. uma forma deexpresso que modifica e complementa a imagem da cidade.

    A interveno urbana uma prtica eminentemente associada ci-dade e ao espao pblico, e exerce, assim, um papel relevante no seucontexto. A cidade o produto de muitos construtores que, por razesprprias, a modificam constantemente. Citando Lynch, Prosser (2010,p. 35), diz que apesar de aparentemente estvel, a urbe modifica-sede maneira vertiginosa nos detalhes. uma mudana contnua e nolinear, que se d em todas asdirees, sendo organismo vivo, no qualno h um resultado final.

    www.bocc.ubi.pt

  • 24 Leticia Fontanella Souza

    Destaca-se ainda que h uma multiplicidade de fenmenos e vozesque envolvem a cidade, tornando-se um espao polifnico,com vozesque se encontram e se cruzam em harmonia ou dissonncia. As inter-venes urbanas mostram esta trama, estabelecendo na inscrio fsicatal polifonia. So tambm um espelho da sociedade e da atualidade,formada por pessoas de grupos sociais diferentes social, econmica ouculturalmente. A arte produzida pela interveno urbana mostra a plu-ralidade destes habitantes da cidade.

    Considerando que a sociedade ps-moderna imagtica e informa-cional, observa-se que a interveno urbana , por si s, uma forma demanifestao ps-moderna em seu resultado, tranformando a cidade aoacrescentar imagens e consequentes informaes ao cotidiano dos ha-bitantes. Na produo e no sentido, tambm possvel destacar queo interesse do grafiteiro est intimamente ligado ao que se entende doindivduo e seus questionamentos na contemporaneidade.

    Para Prosser (2010, p. 23), h vrios componentes da intervenourbana, que condizem com esta contemporaneidade, como inconfor-mismo, brincadeira, indigno, protesto, irreverncia, revolta, ternura,violncia, humor, crtica, denncia, toamda de conscincia, jogo, cha-mada ao, desafio, entre outros. Assim, percebe-se que a temticaabrange vrias aspectos da sociedade atual.

    As inscries trabalham com a questo do estmulo produo eao consumo, da globalizao, da industrializao e das consequnciascomo padronizao, desigualdade social e problemas do meio ambiente.Mas, ao mesmo tempo em que trazem tona questes globais e comu-nitrias, so, no fundo, um desejo individual do grafiteiro de mostrar-sepresente e pensante em uma sociedade massificada.

    Na sociedade ps-moderna, organizada pelo consumo, a interven-o pode ser uma reao publicidade. uma forma de comunicaoalternativa que utiliza o espao pblico como suporte de produo, semmediao. Ou seja, liga o produtor ao leitor de forma direta, mostrandoque a comunicao informacional ou publicitria no so nicas no es-pao da cidade.

    Outra relao entre a interveno urbana e o perodo ps-modernofaz-se possvel quando se observa a relao entre as inscries, enten-dendo-se aos produtores. H uma fora individualizadora no presente,seja na produo da interveno ou no cotidiano do indivduo. Cada

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 25

    trabalho diz-se nico e individual, porm, de forma complexa, mvel econtnua, uma inscrio est ligada a outras e aos traos da prpria urbe.

    Ao mesmo tempo em que realiza um desejo individual, caracters-tica do indivduo ps-moderno, proporciona uma alterao na cidade,marcando o presente e fornecendo um prova de tal presente. Estandono espao pblico, a inscrio tambm pode ser compreendida comoefmera, porque pode ser apagada ou mesmo ignorada pelo pblico.Acima de tudo, a arte urbana uma prtica social. As obras permitema apreenso de relaes e modos diferenciais de apropriao do espaourbano, envolvendo em propsitos estticos, os significados sociais eum modo de tematizao cultural e poltica (Pallamin, 2000, p. 23-24).

    Para Prosser (2010, p. 67), a interveno urbana ainda demons-tra agressividade ou violncia, o que transparece a velocidade do ps-moderno. Em todas as formas de interveno, pretende-se modificar ostatus quo e, para tal, utiliza uma esttica de fora e de violncia boae provocadora (Shusterman citado por Prosser, 2010, p. 68-69), pro-duzindo um efeito no fluco da experincia cotidiana, pelo poder rpidoe enfeitiante da experincia esttica. Pela grande carga de expressivi-dade, o leitor participa e modificado pela arte de rua.

    Sob o ponto de vista do processo artstico, a relao entre arte p-blica e espao urbano no de justaposio. Para Pallamin (2000, p.17) evita-se a noo de acomodao ou adequao da arte, porqueela inscrita no desenrolar das transformaes do urbano, inovando adimenso artstica o tempo todo.

    Como uma das principais caractersticas do perodo ps-moderno a efemeridade e o instantneo, a interveno urbana se presta bem comoarte de representao deste perodo, uma vez que estas so caractersti-cas presentes ao seu processo e ao produto. A transitoridade, pela fra-gilidade, pela ao do clima ou pela disputa de espao pelos grafiteiros,proprietrios privados ou autoridades pblicas fazem com que a obraseja aberta no apenas para a leitura, mas tambm em uma reproduoe ressignificao constantes. Por mais que a inscrio, portanto, estejafocada na fora anrquica e transgressora, ao mesmo tempo, encontra afragilidade no ambiente em que se produz, pois, outro indivduo podese apossar da obra, apag-la ou alter-la.

    www.bocc.ubi.pt

  • 26 Leticia Fontanella Souza

    3 Interveno Urbana na Rua Trajano Reis emCuritiba

    A interveno urbana caracteriza-se, portanto, como um processo eum resultado ps-modernos, de interferncia individualizada na cidadecomo crtica, passiva, sociedade do consumo e da comunicao publi-citria. uma manifestao da subjetividade do indivduo inserido nasociedade contempornea. Por isso, possvel, por meio dela compre-ender ou comprovar algumas caractersticas j citadas do perodo.

    Para a observao e descrio prtica da interveno urbana foi rea-lizado um recorte espacial, escolhendo a rua Trajano Reis, no bairroSo Francisco, em Curitiba, como local de pesquisa. A escolha foifeita, considerando a localizao central, a movimentao demogrficae a grande quantidade e variedade de inscries artsticas do espao.No ms de maro de 2012, a autora realizou uma observao para pos-terior mapeamento da rua, fazendo o registro fotogrfico das inscries,conforme segue.

    3.1 Rua Trajano ReisA rua Trajano Reis est localizada no bairro So Francisco, regio cen-tral de Curitiba, no Paran. Com aproximadamente 750 metros de ex-tenso, inicia na rua Sen. Xavier da Silva e termina na rua Jaime Reis,cruzando a ruas Baro de Antonina, Incio Lustosa, Paula Gomes, Car-los Cavalcanti e Treze de Maio. Na primeira quadra, prximo a ruaSen. Xavier da Silva est o Cemitrio Municipal de Curitiba e Praado Gacho. Acaba em encontro com o centro histrico da cidade, ondeinstalaram-se os primeiros moradores de Curitiba.

    A arquitetura predominantemente antiga, contando tanto com edi-fcios reformados, como com outros abandonados ou dos quais apenasa fachada foi preservada. S h um edifcio com mais de quatro andaresna rua, utilizado para fins residenciais. Segundo mapeamento realizadopela autora, os imveis e espaos fsicos esto ocupados da seguintemaneira:

    a. o lado direito de quem trafega da rua Sen.Xavier da Silva paraa rua Jaime Reis: uma praa, quatro edifcios residenciais, uma

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 27

    residncia, quatro edifcios sem uso, quatro fachadas conserva-das, duas funerrias, trs estacionamentos, trs restaurantes, doisbares, duas padarias, dois edifcios comerciais, dois escritrios,duas lavanderias, duas lojas de vesturio, trs sales de cabeleirei-ros,uma mercearia, uma loja de ferragens, uma loja de molduras,uma banca, uma grfica,um chaveiro e muro lateral de igreja;

    b. Do lado esquerdo, oposto, so: trs residncias, quatro prdiosresidenciais, um posto, uma funerria, trs escritrios, duas lojasde informtica, uma faculdade, um colgio, duas fachadas con-servadas, um restaurante, um estacionamento, cinco bares, umaloja de tapetes, uma mercearia, uma marquise abandonada, cincolojas de roupas, quatro construes sem uso, dois emprios, umaloja de decorao e lateral de uma igreja.

    Apesar da pequena extenso, como se pode perceber, a rua possuiuma grande variedade de edifcios residenciais e de servio. Conside-rando a observao, pode-se dizer que conta com um movimento demo-grfico grande, no havendo dados sobre a preciso de tal movimento.Durante o dia passagem dos bairros para o centro e rota e parada denove nibus do transporte coletivo, alm de disponibilizar os servios jcitados. noite, tambm conta com movimentao por causa dos baresda rua e das proximidades.

    3.2 Interveno Urbana na Rua Trajano ReisNa rua Trajano Reis, ao longo de 750 metros, a fachada da maioria dosimveis est alterada por algum tipo de interveno urbana, sendo gra-fite, pichao, grapicho, stick ou estncil. As formas e as cores variam,bem como a temtica, que contm de referncias a arte pop a inscriessobre violncia sexual, ou mesmo, no esto produzidos em cdigoscompreensveis para aqueles que no so do grupo.

    O que possvel inferir sobre as inscries em geral na rua que,alm de objetivos secundrios, h dois propsitos principais: demar-cao de territrio por grupos de pichadores distintos e apresentaode trabalho artstico ou ideologia, ambos aproveitando o movimento darua.

    www.bocc.ubi.pt

  • 28 Leticia Fontanella Souza

    O primeiro propsito observa-se nas pichaes, no sentido de queas inscries de autores diferentes, com tags, traos ou cores diferentes,esto sobrepostas no mesmo espao e percebe-se ainda que so reali-zadas em perodos diferentes, pela observao na passagem do tempoou mesmo da secagem e conservao da pintura. So realizadas lado alado ou umas em cima das outras.

    O segundo propsito trata mais das intervenes de grafite, grapi-cho, stick ou estncil, uma vez que esto mais voltadas para a expres-so artstica ou a manifestao de pensamentos e desejos individuais.Aproveitam-se da movimentao diurna e noturna da rua e da sua com-preenso como espao de arte e de comunicao para coexistirem e dei-xarem mensagens aos transeuntes, como leitores.

    No possvel inferir, neste registro, o nmero de intervenes, pelagrande quantidade e a sobreposio. Mas, pode-se fazer um levanta-mento geral das caractersticas que perpassam todas as inscries.

    O capitalismo fluido que gera a sociedade de consumo a principaltemtica das crticas inscritas. Em geral so crticas breves, com fra-ses curtas e irnicas, abordando vrios aspectos de tal contexto, comoinformatizao, leis de mercado e individualidade egosta.

    Estes aspectos geram incertezas no indivduo tanto no futuro, comona relaes de produo e de socializao da sociedade. Na primeirainscrio (Figura 1), observa-se a utilizao de sticks para abordar ques-to da informao, do armazenamento do saber e da robotizao da pro-duo.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 29

    Figura 1 Registro feito pela autora, 2012

    Na segunda inscrio (Figura 2), o questionamento sobre as leis demercado mostra a passagem do tempo e o encarecimento de produtos. um estncil que se repete vrias vezes ao longo da rua. Infere-se aindasobre a idade jovem dos produtores, uma vez que a crtica realizadacom argumento de um produto alimentcio infantil.

    Figura 2 Registro feito pela autora, 2012

    Na Figura 3, a inscrio um grafite que trata de uma questo daindividualizao da sociedade ps-moderna, com uma frase citada por

    www.bocc.ubi.pt

  • 30 Leticia Fontanella Souza

    uma criana, mantendo os erros de portugus, para deixar claro o con-traste entre a simplicidade do narrador e a importncia do que dito. Osdesenhos que completam a inscrio so voltados para a alimentao eo meio ambiente.

    Figura 3 Registro feito pela autora, 2012

    Como afirma Bauman (2001, p. 32), a crtica na sociedade ps-moderna quase obrigatria para os indivduos, mas, ao mesmo tempo, superficial, modelada pelo slogan da publicidade. Vrios estncis tra-zem frases de contestao ou apenas uma imagem (Figura 4 e Figura 5).A inscrio (Figura 4) traz a frase Deus preta de forma repetida, semelaborao esttica, focando, assim, na informao escrita. Aborda doisconceitos da religio ocidental, que apresenta deus homem e branco.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 31

    Figura 4 Registro feito pela autora, 2012

    Na Figura 5, h apenas uma imagem tratando de questes de religi-osidade, sacro, ligado a conceitos da esttica da pop art, profano. umestncil pequeno, inscrito vrias vezes ao longo da rua. Compe comoutras imagens.

    Figura 5 Registro feito pela autora, 2012

    Apenas um stick traz um contedo aprofundado (Figura 6), tratandoda questo da violncia em relao mulher. Trabalha com a imagemda presidente do Brasil, Dilma Rouseff, como fora de poder, ao mesmo

    www.bocc.ubi.pt

  • 32 Leticia Fontanella Souza

    tempo em que cita dados e argumentos em relao violncia. H vriascolagens ao longo da quadra mais movimentada no perodo da noite,que vai da rua Incio Lustosa a rua Paula Gomes.

    Figura 6 Registro feito pela autora, 2012

    A pichao, compreendida como ocupao do espao pblico pormeio das tags est marcada na rua. Percebe-se ao longo da rua ou emuma mesma parede que so vrios grupos diferentes demarcando ter-ritrio, coexistindo com o outro,sem a interao, como define a ideiade convivncia no espao urbano civil da ps-modernidade, porm, pormeio do desenho, como possvel observar nas Figuras 7 e 8. Noh desenhos em pontos mais altos ou difceis, como ocorre quando hdisputa entre crews, apenas a demarcao de territrio.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 33

    Figura 7 Registro feito pela autora, 2012

    Figura 8 Registro feito pela autora, 2012

    Os traos e as cores so diferentes e, com a passagem do tempo,aumentam em nmero ao longo da rua. Variam entre tags pequenas einscries semelhantes a frases cifradas e coexistem, ainda, com outras

    www.bocc.ubi.pt

  • 34 Leticia Fontanella Souza

    formas de interveno. No possvel fazer uma contagem ou distin-o mais elaborada das inscries sem um estudo esttico dos traos.Normalmente, esto em lugares mais baixos e so feitas de forma sim-ples e rpida, com observao da prpria tinta escorrendo em algumasinscries.

    Em algumas paredes no apenas os traos e cores divergem, mas asmodalidades de interveno (Figura 9 e Figura 10). Porm, no h a re-lao tica entre os grupos, com imagens que se redefinem mutuamenteem um processo gestltico, formando uma obra fragmentada, aberta ainterveno do prximo artista, alm da participao do espectador.

    Na figura 9, observa-se um grafite complexo e composto de escritase desenhos, alm de pichaes feitas sobre o desenho. Ao longa dafachada ainda h estncis que no esto diretamente sobre o desenho,mas ocupam espaos em branco do mesmo.

    Figura 9 Registro feito pela autora, 2012

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 35

    Figura 10 Registro feito pela autora, 2012

    Pode-se considerar ainda, em casos especficos, inscries sobre avida privada levada esfera pblica (Figura 11), crena na mudana,mostrando a identidade flexvel (Figura12) e tentativa de fugas dos pa-dres globalizados (Figura 13). As figuras so estncis que tambmse repetem ao longo da rua. Utilizam frases curtas e irnicas, alm decone da cultura pop.

    www.bocc.ubi.pt

  • 36 Leticia Fontanella Souza

    Figura 11 Registro feito pela autora, 2012

    Figura 12 Registro feito pela autora, 2012

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 37

    Figura 13 Registro feito pela autora, 2012

    A interveno e a lgica de mercado convivem tambm na rua Tra-jano Reis, pois alm de estar junto das placas e fachadas, alguns esta-belecimentos comerciais utilizam do grafite para trazer o consumidorsegmentado (Figura 14 e Figura 15).

    Figura 14 Registro feito pela autora, 2012

    www.bocc.ubi.pt

  • 38 Leticia Fontanella Souza

    Figura 15 Registro feito pela autora, 2012

    Como h muita informao circulando, h tambm na intervenoespao para divulgar a arte, como literatura (Figura 16), alm da expres-so grfica. Foi registrado apenas um stick com contedo literrio, comuma poesia chamada Suicdio Social. H outra inscries que tratamde chamadas a eventos de literatura, msica, cinema e teatro. Porm,nenhuma apresenta o produto artstico, alm da expresso grfica, ser-vem apenas como convite.

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 39

    Figura 16 Registro feito pela autora , 2012

    Percebe-se que as pichaes esto em todos os imveis com pin-tura antiga, mas as outras modalidades de interveno concentram-seem fachadas de espaos no habitados ou no mobilirios urbanos, comolixeiras e telefones pblicos. Entre as ruas Sem. Xavier da Silva e In-cio Lustosa, h maior nmero de grafites e pichaes, por ser menosmovimentada noite. J na sequncia da Trajano Reis, entre as ruasIncio Lustosa e Carlos Cavalcanti, esto os trabalhos mais elaboradosde grafite e maior quantidade de estncil e stick. Nas demais quadras,h pichaes e grafites encomendados para a fachada de lojas ou resi-dncias, porm, muitas esto com pintura nova.

    Como a sociedade do consumo preconiza h uma grande quanti-dade de informao nas inscries da rua, fazendo com que o especta-dor esteja exposto a vrias imagens tambm para absorver a comunica-o alternativa. So interferncias de todos as modalidades inscritas emperodos diferentes, marcando o tempo e o espao, efmeros nos diasatuais.

    www.bocc.ubi.pt

  • 40 Leticia Fontanella Souza

    Consideraes FinaisCom este trabalho, conclui-se que a interveno artstica pode represen-tar a sociedade contempornea, pois manifesta a subjetividade dos in-divduos inseridos nas comunidades e nas cidades. Tal sociedade apre-senta um contexto novo para a histria da humanidade, que inicia nops-guerra e tem seu auge nas dcadas de 70 e 80, chamado de ps-modernidade.

    Entre as principais caractersticas da ps-modernidade esto o ca-pitalismo fluido, o estmulo ao consumo, a sociedade informatizada, avalorizao da informao e da velocidade, as relaes de produo ede socializao mais flexveis, a modificao do sentido de tempo e es-pao, a instantaneidade, a descrena no tempo futuro e a necessidade dasatisfao de desejos efmeros.

    Em primeiro lugar, a mudana de comportamento do indivduo re-flete-se na produo da interveno urbana. O contedo informacional epublicitrio na cidade, espao no qual a maior parte da populao passaa viver no sculo XX, pode oprimir o indivduo e cham-lo ao e areflexo. E tal ao pode vir por meio da expresso artstica e da inter-veno urbana, como ocupao de espao pblico. Seja para destacar asua presena em meio massa ou para fazer crticas embasadas e cha-mar ao. Ao mesmo tempo, o indivduo que no desenvolve tal ao, atingido pela interveno, no caminho que percorre no cotidiano, aoobservar os muros e as fachadas.

    A esttica da interveno tambm est voltada para o ps-moderno,com caractersticas da cultura pop e da publicidade atual. So utilizadosmais desenhos que palavras, com traos comuns ao grafite ou cones dacultura pop, frases curtas e diretas, uso de ironia, sarcasmo e humor,bem como a publicidade. As inscries pequenas so repetidas diver-sas vezes ao longo da rua, como a informao, e as maiores repetemtemticas, cores e traos. A repetio tambm est nas pichaes, poisobservam-se as mesmas tags em locais diferentes.

    Quanto temtica, reafirmam e fazem crticas as principais carac-tersticas do ps-modernismo, como informatizao, informao, velo-cidade, individualizao, sentido de tempo e espao, instantaneidade,descrena no tempo futuro, entre outros.

    Enfim, percebe-se que a expresso artstica comprova-se como refe-

    www.bocc.ubi.pt

  • Interveno urbana na cidade ps-moderna 41

    rncia de seu tempo. A interveno urbana, alm deste registro e mani-festao, assume o papel de, paradoxalmente, modificar a realidade doespao urbano, trazendo novas configuraes urbe e promovendo umareflexo nos prprios cidados contemporneos sobre as estruturas so-ciais estabelecidas e o papel do indivduo em uma cidade em constantemovimento.

    Na Rua Trajano Reis, o grande nmero e a variedade de inscriespermitem fazer uma observao mais detalhada sobre tal expresso ar-tstica e de contedo, alm de demonstrar as caractersticas de uma so-ciedade complexa, global e flexvel.

    RefernciasBacelar, J. (s.d.). Notas sobre a mais velha arte do mundo. Disponvel

    em: www.bocc.ubi.pt. Acesso em: 7 mai. 2012.

    Bauman, Z. (2001). Modernidade lquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

    Coelho Jr, M. (2010). Processos de interveno urbana: Bairro da Luz.So Paulo. 327 f. Digitado. Tese apresentada Faculdade de Ar-quitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo. Orientao:Prof. Dr. Lus Antnio Jorge.

    Gitahy, C. (1999). O que graffiti. So Paulo: Brasiliense.

    Ianni, O. (1999) A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilizao Bra-sileira.

    Jameson, F. (2000). Ps-modernismo: a lgica cultural do capitalismotardio. So Paulo: Editora tica.

    Lynch, K. (1997). A imagem da cidade. Lisboa: Edies 70.

    Lyotard, J.-F. (1998). O ps-moderno. Rio de janeiro: Jos OlympioEditora.

    Maras, J. (2004). Histria da Filosofia. So Paulo: Martins Fontes.

    Pallamin, V. (2000). Arte urbana: So Paulo. Regio Central (1945-1998): obras de carter temporrio e permanente. So Paulo:Fapesp.

    www.bocc.ubi.pt

  • 42 Leticia Fontanella Souza

    Prosser, E. (2010). Grafitti Curitiba. Curitiba: Kairs.

    Ramos, C. (1994). Grafite, pichao & cia. So Paulo: Annablume.

    _____ (2007). Grafite & pichao: por uma nova epistemologia dacidade e da arte, in 16o Encontro da Associao Nacional de Pes-quisadores em Artes Plsticas, Anais do 16o Encontro da Associa-o Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas. Florianpolis,v. 1.

    Shinn, T. (2008). Desencantamento da modernidade e da ps-moderni-dade: diferenciao, fragmentao e a matriz de entrelaamento,in Revista Scientiae Studia, So Paulo, v. 6, no 1, pp. 43-81.

    Souza, D. (2008). Graffiti, pichao e outras modalidades de inter-veno urbana: caminhos e destinos da arte de rua brasileira, inRevista Enfoques on-line: revista rletrnica dos alunos do Pro-grama de Ps-Graduao em Sociologia, Universidade Federal doRio de Janeiro: Rio de Janeiro. V. 7, no 1, pp. 73-90, mar.

    www.bocc.ubi.pt

    IntroduoPs-Modernidade e a CidadePs-ModernidadeA Cidade Ps-ModernaA imagem da cidade

    Indviduo na Cidade

    Interveno UrbanaBreve Histria da Interveno UrbanaFormas de Interveno Urbana ArtsticaConsideraes sobre a Interveno Urbana

    Interveno Urbana na Rua Trajano Reis em CuritibaRua Trajano ReisInterveno Urbana na Rua Trajano Reis

    Consideraes FinaisReferncias