Competência socioemocional
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Vera Vale Do tecer ao remendar: os fios da competncia socio-emocional
e d u c a o / f o r m a o
Do tecer ao remendar: os fios da competncia socio-emocional
Vera do Vale
Escola Superior de Educao Instituto Politcnico de Coimbra
Resumo
A educao de infncia surge como uma importante estratgia de preveno ao ajudar as crianas a desenvolver com segurana as suas competncias sociais e emocionais. Por seu lado os educadores devem estar conscientes da importncia da competncia social e dos comportamentos interpessoais como requisito essencial para uma boa adaptao da criana, tanto no presente, como no seu desenvolvimento futuro.
Este artigo desenvolve-se em torno da reflexo acerca do desenvolvimento das competncias sociais e emocionais das crianas em idade pr-escolar.
Palavras-chave
Competncia emocional, Competncia social, Educao de infncia
Abstract
In this article, we present a reflection about the development of social and emotional competence in preschool age. Research provides extant evidence of the relation between social competence, mental health and academic success. The interpersonal contributors and the relational context in which socialization takes place is also considered. Finally, extant information is detailed on the modeling, contingency and teaching mechanisms of socialization of emotions.
Key-words
Emotional competence, Social competence, Early childhood education
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1. A Educao socio-emocional no jardim de infncia
A instituio Escola tem tido a seu cargo a tarefa de desenvolver nas crianas mais
novas competncias ao nvel da leitura, da escrita e da matemtica. Mas tambm misso
da escola preparar as crianas para desempenharem com sucesso os mltiplos papis que
as esperam no futuro. Com esta carga acrescida, a escola tem que alargar o seu mbito
de esforos para incluir outra gama de competncias, como seja ajudar as crianas a
desenvolverem atitudes pessoais, valores, competncias interpessoais que sirvam, ento,
de sustentculo para os papis que elas iro ter que assumir: serem estudantes, colegas,
amigos, membros de uma comunidade, pais. De entre estas competncias prefiguram-se
as competncias socio-emocionais.
Saarni (1999, p. 57) define a competncia emocional como a demonstrao da
eficcia pessoal nos relacionamentos sociais que evocam emoo. Esta definio
desmistifica um pouco a complexidade da competncia emocional, e fala da eficcia
pessoal aplicada aos relacionamentos sociais, como sendo a capacidade de alcanar um
resultado desejado. Quando a eficcia pessoal aplicada aos relacionamentos sociais, a
pessoa pode, ao mesmo tempo que reage emocionalmente, aplicar os seus conhecimentos
e a sua significao sobre as emoes. Fica assim implcito que as reaces emocionais
esto imbudas de um significado social: a competncia emocional inseparvel do
contexto cultural (Saarni, op. cit, p. 58). Toda a nossa relao social influencia as nossas
emoes e, por sua vez, as nossas emoes influenciam os nossos relacionamentos.
Saarni defende ainda que como a competncia emocional est ligada a conceitos como
compaixo, autocontrolo, justia e senso de reciprocidade, tambm no se pode separar
competncia emocional do senso moral.
A principal tarefa que se impe a uma criana que entra no jardim de infncia
precisamente a competncia emocional para gerir as suas emoes que, por sua vez, se
encontra directamente relacionada com as interaces sociais, as quais so fundamentais
para o aumento da capacidade de relacionamento com os outros (Saarni, 1990).
Para maximizar a competncia social necessrio perscrutar cuidadosamente
como que a competncia emocional permite criana mobilizar recursos pessoais e
ambientais, para se relacionar com os seus pares. Sabe-se que, se uma criana mostrar
determinados padres de expressividade ela provavelmente mais pr-social do que
outra que esteja sempre triste ou zangada, pois provavelmente esta estar mais sozinha.
As crianas que percebem melhor as emoes tm mais relaes positivas nas suas
interaces com pares. Os que percebem as emoes dos outros, interagem com mais
sucesso, quando um amigo se magoa ou est zangado. A criana que consegue falar das
suas emoes tambm melhor a negociar as disputas entre os seus pares (Denham,
1998). Esta percepo emocional ajuda a criana a reagir adequadamente, e a capacidade
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de regular as emoes ajuda-a a ter mais sucesso junto dos pares.
A educao pr-escolar surge, ento, como uma importante estratgia de preveno
para ajudar as crianas a desenvolverem com segurana as suas competncias sociais e
emocionais. Estas competncias incluem a auto-conscincia, o controlo dos impulsos, a
empatia, a escolha de perspectiva, a cooperao, a resoluo de conflitos, e tornam-se
ferramentas-chave quando a criana na adolescncia tem que fazer face a apelos, por
exemplo, ao uso de substncias ou violncia.
Analisando alguns dos programas dedicados educao socio-emocional (Bisquerra,
2000; Goleman, 1997; Valls & Valls, 2000) encontrmos objectivos gerais recorrentes
que agrupmos em cinco categorias:
1. Auto-conscincia emocional: adquirir um melhor conhecimento das prprias emoes, reconhecer as diferenas entre sentimentos e aces e compreender as causas dos sentimentos;
2. Gesto das emoes: desenvolver habilidades para controlar as prprias emoes, prevenir os efeitos prejudiciais das emoes negativas (por exemplo, melhorar a capacidade para expressar verbalmente a ira sem lutar), desenvolver habilidades de resistncia frustrao, desenvolver habilidades para gerar emoes positivas;
3. Controlar produtivamente as emoes: desenvolver habilidades de auto-motivao, maior capacidade de concentrao nas tarefas e maiores responsabilidades, desenvolver a capacidade de saber esperar por recompensas a longo prazo em detrimento de recompensas imediatas;
4. Empatia: desenvolver a capacidade de aceitar a perspectiva do outro, desenvolver sentimentos de empatia e sensibilidade com os outros, e desenvolver a capacidade de escuta;
5. Gerir relacionamentos: desenvolver competncias para resolver conflitos e negociar acordos, desenvolver a capacidade de cooperao, de partilha e de ajuda.
Todos estes objectivos tm como convergncia o aumento das capacidades sociais
e de relaes inter e intrapessoais satisfatrias, melhor adaptao escolar, social e
familiar, bem como a diminuio de pensamentos auto-destrutivos e violentos, o que
ajuda a construir uma boa auto-estima na criana. Assim, a educao socio-emocional
toma a forma de preveno primria para uma conduta anti-social, tentando minimizar
a vulnerabilidade s disfunes.
Mas uma questo se impe: a educao emocional mais uma rea de contedo a
somar s j existentes na educao pr-escolar? Apesar de termos tido acesso a vrios
programas de educao emocional, que se encontram implementados sobretudo nos
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EUA, e com ganhos positivos em termos de resultados, defendemos que os contedos da
educao emocional devem ser integrados, de forma transversal, nas prticas curriculares
para a educao pr-escolar. Se a educao socio-emocional vista como um processo
contnuo e permanente, no pode ser determinado um horrio durante a semana para
ensinar s crianas a gesto emocional. At porque no seio de um grupo de crianas,
as emoes so transmitidas tanto do adulto para a criana, como da criana para o
adulto, como de criana para criana. Muitos educadores no se do conta, por vezes,
dos sinais aos quais as crianas so mais susceptveis, muito menos das circunstncias
que provocam respostas emocionais nas crianas. O prprio ambiente fsico (estrutura
da sala, mobilirio, luz, acstica, ventilao) pode estimular emoes de prazer ou de
raiva. O mesmo se passa em termos da atmosfera da sala, do tom de voz do educador,
do barulho, do tamanho do grupo, das informaes ou das pistas visuais que o educador
transmite.
Por outro lado, as crianas acreditam que o educador sente aquilo que demonstra e
no seu comportamento que elas se vo concentrar. At ao perodo da adolescncia as
crianas no compreendem situaes emocionais complexas, nem to pouco percebem
as explicaes que se possam dar sobre determinadas intenes que no so visivelmente
explcitas. na primeira infncia que as crianas aprendem a rotular as emoes, mas s
muito mais tarde aprendem a distinguir as manifestaes emocionais comportamentais.
Se algum assume um tom de voz assustador, a criana interpreta isso como uma emoo
de raiva, por mais explicaes que se possa dar em contrrio.
Tambm as investigaes longitudinais que tm vindo a ser feitas demonstram que
existe uma relao entre a competncia social na infncia e o posterior desenvolvimento
psicolgico e acadmico. As relaes interpessoais so a mais importante fonte de
gratificao e prazer para a maioria das pessoas de todas as idades, traduzindo-se em
solido e angstia a incapacidade de iniciar e manter essas relaes (Ladd, 1990, citado
por Katz & MacClellan, 1997).
2. O educador e o desenvolvimento de competncias socio-emocionais na criana
fundamental que os currculos destinados educao pr-escolar contemplem
o desenvolvimento das competncias socio-emocionais e que os educadores se
consciencializem da sua importncia vital e criem um ambiente propcio sua
implementao.
O desenvolvimento de competncias socio-emocionais no pr-escolar vital para as
crianas por vrias ordens de razes: 1 porque na infncia que as crianas se encontram
mais permeveis a este tipo de aprendizagens; 2 porque as crianas passam muito do
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seu tempo dirio em contextos de atendimento infncia; 3 porque os educadores
podem evitar problemas de comportamento antes de eles aparecerem e estimular, assim,
o crescimento social saudvel das crianas, mesmo daquelas com menor habilidade ao
nvel do desenvolvimento social.
Um bom programa ao nvel do desenvolvimento das competncias sociais deve
permitir s crianas um alto grau de liberdade, ao mesmo tempo que mantm um certo
controlo por parte do educador (Marison, 1990, citado por Spodek & Saracho, 1998),
pois a forma de disciplina usada com a criana influencia o tipo de pessoa em que
ela se vai tornar. Os educadores que sistematicamente colocam limites s crianas e
dizem como elas se devem comportar, sem explicarem o porqu desse comportamento,
transmitem unicamente que o bom comportamento radica na aceitao das ordens e da
autoridade. Por outro lado, as crianas a quem no so postos limites podem ser levadas
a pensar que apenas os seus desejos determinam o que o comportamento adequado.
O desenvolvimento de um comportamento disciplinado requer o uso de habilidades
intelectuais (Spodek & Saracho, 1998, p. 157). Por outras palavras, as crianas devem
usar as competncias cognitivas para perceber o mundo social, ter conscincia dos
padres sociais aceitveis e do seu uso nas diferentes situaes. S assim se podem
desenvolver como indivduos autnomos e conscientes das liberdades e dos limites.
Os autores citados apontam, mesmo, algumas directrizes que os educadores de
infncia devem observar numa abordagem disciplinar baseada no uso da razo. Assim,
importante que as crianas saibam que comportamentos so esperados delas. Um
comportamento inadequado pode resultar do desconhecimento da regra, pelo que as
instrues a dar criana devem ser claras e repetidas em vrios contextos, para que ela
as perceba. Depois, e no menos importante, as crianas necessitam saber o porqu dessas
regras, mesmo que no as percebam na sua totalidade e de imediato. tambm necessrio
que as crianas possam ter oportunidades de observar e praticar o comportamento
adequado pois, como referimos, esta faixa etria permevel aprendizagem por
imitao. Outra das directrizes apontada alerta para o facto de as crianas no serem
adultos, o que, sendo embora bvio, no muitas vezes suficientemente considerado
pelos educadores, que tendem a esperar da criana comportamentos que ultrapassam as
suas possibilidades. Na verdade, os educadores devem desenvolver expectativas razoveis
quanto ao comportamento das crianas, e tambm no esperar que elas se portem
adequadamente o tempo todo. Os educadores, por seu turno, devem ser coerentes no
seu prprio comportamento, pois transmitem, mesmo inconscientemente, mensagens
s crianas sobre o que aceitvel ou no.
Holtz (1972, citado por Spodek & Saracho, 1998) refere trs tipos de disciplina que
pode ser encontrada pela criana: disciplina da natureza, em que as crianas aprendem
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como as coisas funcionam; disciplina da sociedade, em que as crianas aprendem como
os adultos se comportam nos ambientes sociais; e disciplina coerciva, que imposta
pelos adultos para proteger as crianas das consequncias dos seus actos que ainda no
podem antecipar.
3. Implementao de uma disciplina positiva
A problemtica apresentada leva-nos questo de saber qual deve ser a actuao
do educador numa perspectiva de disciplina positiva. O estilo e a actuao do educador
devem pautar-se pela sua forma de agir e pela sua moral, em consonncia com as
estratgias de gesto de comportamento por si implementadas. Entende-se aqui a moral
como o sentimento que o educador tem sobre a sua dedicao profissional, baseado
na percepo que tem de si mesmo e na sua capacidade de organizao (Washington &
Watson, 1976).
Posada e Pires (2001) definem o professor positivo como algum que espera que os
seus alunos consigam altos objectivos, proporcionando-lhes oportunidades significativas
para resolverem os seus prprios conflitos e levando-os a reconhecer as suas condutas
positivas. Gardner (1993) acrescenta que os professores deveriam tomar conscincia que
o ponto de partida para o processo de aprendizagem no deve ser tanto o currculo, mas
sim a experincia e a complexidade das estruturas conceptuais que os alunos trazem
para a sala de aula.
Um estudo levado a cabo por Stipek, Daniels, Galguzzo e Milburn (1992, citados
por Formosinho, Katz, MacClellan & Lino, 1996), em que analisaram programas com
crianas pobres e de classe mdia, permitiu classificar esses programas com base em
duas dimenses: clima social positivo e directividade do professor. Os dados deste estudo
mostraram que os programas com cotaes mais elevadas na directividade do professor
so aqueles que tm mais baixas cotaes no clima social positivo, sugerindo que a
tnica colocada nas aprendizagens acadmicas e na directividade do professor parece
impedir um clima social positivo. Por outras palavras, quanto maior for a nfase posta na
instruo acadmica, menor ser a nfase nas relaes sociais positivas entre professores
e crianas.
Grande parte dos estudos efectuados nesta rea apela para a importncia do
estilo de interaco do professor, pois o estilo de interaco faz-se sentir ao nvel do
desenvolvimento e das vrias aprendizagens da criana.
Na verdade, para implementar uma disciplina positiva fundamental que o
educador se questione acerca das suas prticas educativas, do seu sentido de autoridade,
da sua segurana e capacidade de gerir e controlar problemas de comportamento na
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sua sala, e que reflicta, inclusivamente, sobre a sua auto-estima. importante que o
educador procure criar uma atmosfera educativa positiva, pois a criana constri a
sua personalidade atravs da imitao e das vivncias que lhe so proporcionadas. O
ambiente positivo tem o seu enfoque no nvel de coeso da relao entre o educador
e a criana (Rutter, Maughm, Mortimor, Ouston & Smith, 1979, citados por Posada
& Pires, 2001, p. 201). O educador , assim, o modelo por excelncia no contexto de
jardim de infncia, sendo muitas vezes a segunda figura de vinculao. Logo, o ambiente
um factor por excelncia, para que a criana se sinta bem consigo prpria, seja aceite
e estabelea relaes de empatia com os outros, o que contribuir decisivamente para a
consolidao de uma auto-estima positiva. Assumindo uma postura flexvel e dialogante,
ajudando as crianas a exprimirem as suas emoes, dando relevncia s opinies das
prprias crianas e fomentando momentos de partilha de vivncias e experincias, o
educador estar a contribuir para a maturao da criana e para a construo do seu
controlo interno.
3.1. Atitudes do educador positivo
Para Posada e Pires (2001), o educador positivo aquele que compreende e aceita
as razes que a criana manifesta atravs do seu comportamento sem as sancionar, mas
fazendo com que a criana entenda, se for caso disso, que a sua forma de agir no foi a
mais correcta. Deve ter uma atitude de orientador, indicando o caminho a seguir, mas
respeitando a liberdade de cada um, tendo a conscincia que tambm um modelo para
as crianas, mas no no sentido de imposio de condutas. no entanto fundamental
estabelecer limites liberdade, ajudando a criana a desenvolver a capacidade de se
colocar no papel do outro. Esta atitude em concreto permite criana desenvolver a
sua conscincia social. Saber esperar uma das regras vitais, tanto do ponto de vista
cognitivo como emocional. A espera facilita o pensamento e a reflexo, alm de promover
a interiorizao dos sentimentos e a sua adequada exteriorizao.
O educador, na opinio dos mesmos autores (op. cit.) deve ter uma atitude positiva
na interaco com as crianas, no fomentando a crtica, evitando as acusaes e todo
o tipo de comportamento vexatrio ou que, de alguma forma, possa contribuir para a
sinalizao individual de uma criana, quer seja de forma directa, mediante insultos
ou humilhaes frente ao grupo, quer de forma dissimulada, atravs de linguagem no
verbal. Mantendo uma atitude positiva, o educador pode contribuir para que as crianas
desenvolvam uma imagem positiva de si prprias, estimulando uma atitude cooperativa
entre elas. ainda fundamental que o educador apresente alternativas s suas negaes,
alm das possveis explicaes, pois ensina tambm s crianas quando dizer no.
Um dos objectivos fundamentais que preside actuao do educador prende-se com
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a promoo da motivao intrnseca. crucial que, desde cedo, se fomente na criana
a capacidade de tomar decises e assumir as consequncias das decises tomadas.
necessrio criar um clima emocional adequado que permita que as crianas exprimam
as suas emoes, ajudando-as tambm a express-las, pois da deriva uma melhor
compreenso das crianas, uma melhor integrao do grupo, uma melhor predisposio
para a aprendizagem, uma maior harmonia ao nvel do sistema de relacionamentos,
um crescimento da auto-estima e o bem-estar geral. necessrio que o educador seja
sempre claro e mostre firmeza (no confundir com rigidez) e deciso na transmisso de
mensagens, e prepare as crianas para as transies que ocorrem ao longo da actividade
educativa, promovendo tambm momentos de busca e descoberta por parte das crianas,
pois, desta forma, est a contribuir para a autonomia e independncia das crianas como
pessoas e como alunos que tm ainda que percorrer uma longa vida acadmica.
4. Os problemas emocionais e o comportamento anti-social
4.1. As dificuldades sociais
Como j referimos, a aceitao e a popularidade parecem jogar um papel importante
na socializao infantil. As capacidades sociais proporcionam s crianas uma forma
de dar e receber recompensas sociais positivas, as quais vo, por sua vez, aumentar a
interaco social.
Um leque variado de estudos tem vindo a demonstrar, no entanto, que h crianas
que no conseguem atingir uma competncia satisfatria nas suas relaes sociais, ou
porque no adquiriram competncias ou porque simplesmente no as conseguem usar
com confiana, o que as vai tornar socialmente retradas ou mesmo rejeitadas.
Um estudo levado a cabo por Corsaro (1985, citado por Katz & MacClellan, 1997)
concluiu que no jardim de infncia uma grande percentagem da interaco social que
as crianas estabelecem entre si diz respeito tentativa de entrar em grupos de jogos
apelando a que a criana faa, assim, uso das suas capacidades de participao e sucesso
social. H, no entanto, outros comportamentos ligados com a capacidade social e com
a aceitao, como o dar ateno aos outros, o solicitar informaes, ou at o contribuir
para uma discusso em grupo (Bierman & Furman, 1984; Coie & Krehbiel, 1984; Gottman
& Schuler, 1976; Mize & Ladd, 1990; todos citados por Katz & MacClellan, op. cit.).
Algumas crianas entram no jardim de infncia desprovidas deste repertrio de
capacidades e vo sentir grandes dificuldades. Por vezes, a causa pode encontrar-
se ao nvel do controlo dos impulsos, que ainda feita deficientemente, o que leva a
que no sejam bem sucedidas nas interaces respeitantes resoluo de conflitos.
Outras crianas desconhecem, ou no experienciaram ainda, interaces sociais com
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pares. H crianas que tm o seu primeiro relacionamento com outras crianas s no
jardim de infncia, e que por isso desconhecem estas estratgias. No entanto, outras h
que apesar de j terem adquirido determinadas capacidades sociais no as usam com
confiana a fim de serem bem sucedidas. Mas a causa pode ficar a dever-se, tambm,
falta de capacidade para exprimirem os seus sentimentos e desejos ou dificuldade em
explicar as razes das suas preferncias. Por fim, h crianas que so to dependentes do
adulto que interrompem constantemente qualquer brincadeira para pedir ajuda (Katz &
MacClellan, op. cit.).
Todas estas causas podem repercutir-se no comportamento da criana, e encontramos
crianas que sistematicamente se recusam a cumprir rotinas ou que rejeitam normas do
jardim de infncia. Estes comportamentos no cooperativos, podem, no entanto, ter uma
explicao que pode ser exterior vida no jardim de infncia, sintoma de que existe uma
perturbao emocional, ou podem derivar de um desajuste entre a prpria criana e a
instituio pr-escolar.
Mas outras razes poderemos elencar como estando directamente ligadas com a
forma de organizao e gesto do processo educativo que se desenvolve dentro do jardim
de infncia. Seno vejamos. O prprio clima que a vivido, quer seja autoritrio, quer
seja permissivo, pode levar a comportamentos pouco colaborativos das crianas ou at a
manifestaes de problemas sociais entre elas. O ambiente pode ser mesmo considerado
como um segundo educador. Montessori (1964, citada por Katz & MacClellan, op. cit.)
defendia que se devia preparar o ambiente, pois as crianas respondem em funo
do meio que as rodeia, o que pode ter importantes efeitos no seu desenvolvimento
intelectual, social e espiritual. Barker (n.d., citado por Posada & Pires, 2001), um dos
pioneiros da psicologia ambiental, refere que os ambientes so sinomrficos, assumem
a personalidade das pessoas que os constroem, pelo que o clima afecta as condutas dos
sujeitos. O mesmo se passar em relao s normas. Se a criana no tiver participado na
sua discusso e elaborao, elas podero no ter qualquer significado para ela, podendo
ocasionar a manifestao de comportamentos disruptivos. As prprias actividades podem
no ter qualquer relevncia para a criana, podendo ser to rotineiras que no despertam
qualquer interesse, ou estarem to desfasadas do seu nvel de desenvolvimento que
geram perturbaes. As transies entre as actividades podem ainda no ser perceptveis,
gerando confuso. Outro factor pode estar ligado falta de respeito pelas diferenas
individuais, nomeadamente no que se refere s crianas que necessitam de mais tempo
para realizar as tarefas. Mas, o facto de surgirem dificuldades sociais na sala pode tambm
indiciar que as crianas so novas demais para passarem um to grande nmero de horas
num contexto onde existem mais crianas. Caber ao educador procurar minimizar o
stress que as crianas possam sentir quando esto em grupos de pares durante muito
tempo (Katz & MacClellan, 1997).
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A investigao sugere ainda que com a idade no melhora a falta de competncia social
de muitas crianas. As crianas no assertivas mantm os seus dfices de habilidades
sociais na vida adulta. Michelson, Sugai, Wood e Kazdin (1997) falam em dois tipos
de dfices sociais. Por um lado, temos as crianas passivas, com um comportamento
tmido, isolado e quase letrgico, que no estabelecem interaco com os companheiros,
podendo essas respostas passivas provocar sentimentos de insuficincia, depresso e
incompetncia, resultando num baixo nvel social. Ora parece provado que a popularidade
est associada ao xito escolar, bem como ao desenvolvimento cognitivo e emocional
(Hartup, 1970). Vrios estudos, analisados por Gottman, Gonso e Rasmussen (1975,
citados por Michelson, Sugai, Wood, & Kazdin 1997), levaram concluso de que havia
uma estreita relao entre a popularidade e o posterior funcionamento na vida adulta,
sendo as crianas pouco populares as que mais recorriam ao apoio psiquitrico na vida
adulta. Encontra-se, assim, uma correlao entre o comportamento passivo e processos
de m adaptao na vida futura. No outro extremo dos dfices sociais, encontram-se as
crianas que apresentam um comportamento dirigido ao exterior e que so, tipicamente,
agressivas e no cooperativas. Estas crianas fracassam quando tentam demonstrar
capacidades sociais para levar a cabo interaces sociais efectivas. Comportam-se de
uma forma que reprovada pelos outros, e que conduz humilhao e baixa auto-
estima. Estas crianas apresentam dificuldades escolares, obtendo nveis mais baixos do
que os colegas, manifestando, na vida adulta, uma maior incidncia de comportamento
anti-social.
4.2. O comportamento anti-social
O comportamento anti-social entendido como um padro de violaes dos direitos
dos outros ou das normas de uma determinada sociedade (Fonseca, 2001). Vrios estudos
longitudinais apontam para uma continuidade intergeracional dos comportamentos
anti-sociais e algumas das explicaes que tm sido avanadas esto ligadas com a
modelao de comportamentos, influncia gentica, atitudes dos pais em relao a esses
comportamentos e influncias do meio partilhado.
As consequncias negativas do comportamento anti-social da criana no se
expressam na sua vida futura apenas sob a forma de agressividade, delinquncia ou
criminalidade. Elas podem tomar formas mais diversificadas, como o abuso fsico dos
filhos e dos cnjuges, a instabilidade no emprego, o abuso de drogas, a propenso
para acidentes, a promiscuidade sexual, entre outras. Zoccolillo (1992, citado por
Fonseca, 2001) verificou que uma grande percentagem de indivduos com distrbios
de comportamento na infncia apresentava, mais tarde, problemas de adaptao social,
como sejam as dificuldades de relacionamento interpessoal, de adaptao ao trabalho e
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conflitos na famlia. J Gluek e Glueck (1950) haviam verificado, atravs de um estudo
longitudinal, o comportamento anti-social na criana se revelava um bom preditor do seu
estatuto educacional, econmico, profissional e familiar 18 anos mais tarde. Constata-
se, assim, que a ideia generalizada de que o comportamento anti-social um fenmeno
tpico da adolescncia e se resolve com o tempo, no to linear quanto isso.
Estes estudos permitiram tambm chegar concluso de que h vrios factores que,
de modo directo ou indirecto, contribuem para o aparecimento e a continuidade dos
problemas anti-sociais. Fonseca (2001) apresenta-os classificados em trs categorias:
factores individuais (micro-sistemas); factores psicossociais (mesosistema) e factores da
comunidade ou scio-culturais (exosistema).
Iremos, resumidamente, fazer aluso a estas trs categorias, que tm estado, de
alguma forma, presentes ao longo deste artigo.
4.2.1. Factores individuais
Durante muito tempo a tnica foi posta nos factores de ordem social e cultural, mas
actualmente, fruto das recentes investigaes, regista-se uma viragem para os factores
de natureza individual, os quais apresentam uma imensa diversidade que tem levado a
vrias propostas de classificao. Nas ltimas dcadas, os factores que tm suscitado
mais investigaes tm sido o temperamento, a hiperactividade, e a idade precoce dos
primeiros comportamentos anti-sociais.
No que se refere ao temperamento, Caspi (2000), baseando-se em estudos
longitudinais de Dunedin, chegou concluso que, comparadas com colegas sem
problemas de temperamento, as crianas com temperamento difcil tinham 2.9 vezes
mais probabilidades de terem um diagnstico de personalidade anti-social, 2.2 vezes mais
a probabilidade de se tornarem criminosos reincidentes e 4.5 vezes mais a probabilidade
de serem condenados por crimes violentos. Entre as caractersticas ou dimenses do
temperamento que se encontram associadas a futuros problemas do comportamento
encontram-se a emocionalidade, a resistncia ao controlo, a fraca auto-regulao e a
impulsividade (Sanson & Prior, citados por Fonseca, 2001).
No que se refere hiperactividade, a posio dominante aponta para que ela constitui
um dos factores de risco mais importantes do comportamento anti-social. Satterfield
(1987) verificou que um grupo de crianas diagnosticadas como hiperactivas apresentava
mais tarde, aos 17 anos, taxas significativamente mais elevadas de comportamento anti-
social do que indivduos de um grupo de controlo normal. Moffitt (1990) verificou que
a hiperactividade aparecia associada s formas mais graves de comportamento anti-
social.
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Quanto aos problemas de cognio social, existe tambm um conjunto de
investigaes recentes que mostram que os indivduos agressivos se diferenciam dos seus
pares bem adaptados na maneira como processam e utilizam a informao relativa s
outras pessoas, pois tm tendncia, por exemplo, na fase de codificao, a terem mais
sensibilidade aos sinais de agresso, na interpretao, a atriburem intenes hostis, na
procura de eventuais respostas, acesso mais fcil a respostas agressivas, na escolha de
um determinado tipo de respostas, consideram como aceitvel uma resposta anti-social
e finalmente, na execuo dessa resposta, a incapacidade de utilizar respostas verbais
e problemas de auto-controlo (Fonseca, 2001). Mas, as diferenas no se reportam s
fase inicial do processamento de informao, pois estes indivduos tambm apresentam
um repertrio reduzido de estratgias de resoluo de conflitos.
No que se refere idade precoce do aparecimento dos primeiros comportamentos
anti-sociais, os estudos apontam para que se trata de um bom preditor da continuidade
desses comportamentos atravs da infncia e adolescncia. Loeber e Southamer
(1986, citados por Fonseca, 2001) referem como preditores da delinquncia juvenil os
distrbios de comportamento da criana e White, Moffitt, Earls, Robins, e Silva (1990)
verificaram que os problemas avaliados pelos pais, entre os 3 e os 5 anos, discriminavam
bem os indivduos delinquentes aos 11 anos. Com base nos estudos realizados nesta rea,
foi proposta uma classificao dos comportamentos anti-sociais que aponta para duas
categorias: uma com incio precoce, com comportamentos mais graves e mais resistentes
interveno, e outra de incio tardio ou durante a adolescncia (Hinshaw et al. 1993;
Moffitt; 1993, citados por Fonseca, 2001).
4.2.2. Factores psicossociais
No campo dos factores psicossociais tm tomado particular relevo as variveis ligadas
famlia, escola e aos colegas.
Na famlia, as caractersticas que tm sido identificadas prendem-se com o baixo
nvel econmico, o baixo nvel escolar dos pais, os lares desfeitos, a falta de competncias
educativas dos pais, a hostilidade, os estilos coercivos, conflitos no casal, modelos
criminosos na famlia, e a psicopatologia dos pais, entre outros. Contudo, desta panplia
de variveis as que se tm revelado mais determinantes tm sido a falta de competncias
parentais, as interaces hostis e coercivas com a utilizao inconsistente de prmios
e castigos, as falhas de comunicao entre pais e filhos e a existncia de modelos anti-
sociais na famlia (Fonseca, 2001).
Outra das variveis que tem sido objecto de bastantes estudos a escola. Rutter e
colaboradores (1979, citados por Fonseca, op. cit.) mostraram que a escola, atravs do
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seu funcionamento, contribui efectivamente para a ocorrncia de comportamentos anti-
sociais no aluno. Vrios aspectos tm sido considerados responsveis pelo despoletar de
comportamentos anti-sociais, desde o recurso a estratgias pedaggicas e disciplinares
demasiado coercivas ou demasiado laxistas face aos alunos, baixas expectativas em
relao aos progressos dos alunos, at falta de motivao dos professores.
A influncia dos colegas outro dos factores psicossociais que tem influncia no
agravamento dos comportamentos anti-sociais. No entanto, a questo que se coloca a de
saber se de facto h uma influncia dos pares delinquentes na origem do comportamento
anti-social, ou se em primeiro lugar os indivduos procuram colegas delinquentes de
acordo com as suas prprias tendncias. Thornberry (1993, 1998, citado por Fonseca,
op. cit.) mostrou que a entrada num gang aumenta efectivamente a probabilidade de
cometer actos delinquentes, e o seu abandono leva diminuio do crime violento. Esta
influncia do grupo pode exercer-se atravs de um aumento na auto-estima, partilha de
valores anti-sociais, presso dos colegas, conquista de um estatuto superior dentro do
grupo ou benefcios da actividade do grupo.
4.2.3. Factores sociais e culturais
Os factores sociais e culturais mais referidos na literatura so a pobreza, a violncia,
o desemprego, a insegurana na comunidade e de uma forma geral a desorganizao
social na comunidade. Na verdade, encontram-se taxas mais elevadas de comportamento
anti-social nas zonas desfavorecidas das grandes cidades, particularmente quando h
falta de coeso e controlo social (Sampson et al.,1997, citados por Fonseca, op. cit.).
Outro factor scio-cultural, que tem originado muitos estudos nas ltimas dcadas, tem
sido a influncia dos mass mdia, sobretudo da televiso. Huesman e Eron (1984, citado
por Fonseca, op. cit.) mostraram a existncia de um efeito estatisticamente significativo,
ainda que modesto, da violncia filmada no aumento do comportamento anti-social e do
crime.
5. A preveno dos problemas emocionais
Quando as emoes no se expressam, no se dominam, ou no se adequam s
situaes, podem aparecer as disfunes. As disfunes emocionais infantis revelam-se
quando uma criana demonstra falta de adequao das suas reaces face s situaes ou
quando faz m interpretao das emoes dos outros.
Os pais so quem melhor pode ajudar a prevenir (expresso latina prevenire, que
significa antes de vir) os problemas emocionais. So os pais que estabelecem mais
estreitamente relaes afectivas com a criana e, presumivelmente, so quem melhor
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a conhece, e nos primeiros anos de vida so tambm quem passa mais tempo com ela.
A teoria de vinculao de Bowlby (1982) situa-se precisamente volta da importncia
destas relaes precoces, assim como do papel que as mesmas desempenham no
desenvolvimento posterior da criana. Um estudo efectuado por Soares (1996) procurou
constatar se havia concordncia entre o estilo de vinculao da me e a representao
sobre ele que o filho ou filha tinham na adolescncia. A autora concluiu existir uma
concordncia na representao da vinculao me-filho a representao segura da
me pode constituir em si mesma uma referncia ou uma base segura a partir da qual
o(a) filho(a) pode organizar internamente as suas experincias de vinculao de modo
seguro (Soares, op. cit., p. 304).
Qualquer pessoa que mantenha este tipo de relao pode assumir tambm, e com
xito, o papel preventivo. Estamo-nos a referir aos educadores de infncia, que na maior
parte das vezes so a segunda figura de vinculao das crianas. Sabemos que o que
caracteriza a vinculao o comportamento que promove uma proximidade ou um
contacto da criana com uma ou mais figuras a que ela se encontra vinculada (Ainsworth
et al., 1978, citado por Moreira, 2001) e que lhe transmitem segurana. Classicamente, a
funo social e emocional era atribuda aos pais, e aos professores a funo intelectual.
Hoje em dia essas fronteiras encontram-se diludas, e pais e educadores entram por
vezes em conflito no que diz respeito aos sistemas de valores. Uma preveno que
realmente previna fundamenta-se numa educao emocional adequada, precoce e
concertada entre pais e educadores. Deve acabar-se com o mito de que muito pequeno
para aprender, tem tempo, e ainda est longe de qualquer situao problemtica, pois como
j vimos anteriormente, o desenvolvimento emocional fortemente influenciado pelos
primeiros anos de vida, sendo precisamente nas etapas mais precoces que se inicia toda
a organizao em relao ao ambiente que rodeia o beb e da qual vo depender as
organizaes posteriores.
Por outro lado, muitas vezes s se reconhece a necessidade de intervir quando a
criana comea a apresentar comportamentos desajustados. Uma investigao levada a
cabo por Kochanska (1987, citado por Barrio, 2002) mostrou que mes que iniciaram a
educao emocional dos seus filhos entre os 15 e 30 meses, tiveram mais xito na gesto
da raiva, do que as que apenas iniciaram essa educao entre os 30 e os 42 meses, usando
as mesmas tcnicas.
Outro ponto fundamental a ter em conta, e reforando a ideia que temos vindo a
expor ao longo deste artigo, o de que a vida emocional da criana o trampolim de
integrao no mundo, visto que a sua evoluo emocional muito mais precoce do que a
sua maturao mental: as razes do corao so as nicas que uma criana abaixo dos
seis anos entende verdadeiramente (Barrio, op. cit. p. 173).
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De acordo com Denham (1998), a educao emocional fundamenta-se em trs pilares:
os modelos, o treino de competncias e a adequao s contingncias.
4.1. Os modelos
At aos seis anos de idade o mtodo de aprendizagem mais forte a imitao. A
criana copia as aces que observa. No serve de nada dar conselhos verbais de auto
controlo a uma criana, se os adultos de referncia na sua frente so agressivos, no
respeitam as normas ou impem a sua vontade arbitrariamente e perdem o controlo
facilmente. A criana imitar o que v, em vez de seguir o que escutou. O mesmo se passa
quando se pede criana, gritando, que deixe de gritar. Prevalecer sempre a aco em
detrimento do contedo verbal. Mas, se solicitarmos ideias e informao s crianas,
poderemos modelar nelas um estilo interactivo de relacionamento com os outros, e a
busca activa de solues para os problemas.
Os modelos emocionais proporcionam criana uma gestalt ou forma de
entendimento da situao que configura as tendncias de aco (Barrio, 2002, p. 175).
Por outras palavras, os modelos emocionais configuram-se como guies que orientam
o comportamento, por isso, pais e educadores tm que ter presente o modelo que esto
a transmitir e o modelo que so, uma vez que a modelao uma forma poderosa de
aprendizagem.
5.2. O treino de competncias
Alm de aprender por imitao, a criana aprende tambm por repetio da aco.
O treino de competncias est principalmente a cargo dos pais e traduz-se em coisas to
simples como dar nome s emoes, express-las e control-las e assumir as regras de
comportamento que so aceitveis pela sociedade de referncia.
As etiquetas verbais, ou rtulos, comeam a adquirir-se atravs de pequenas
conversas com a criana. Brown e Dunn (1991, citados por Barrio, 2002) afirmam que
as primeiras conversas emocionais entre mes e filhos se situam, em mdia, por volta
dos 18 a 36 meses de idade e incluem questes to simples como perguntar-lhes por
que esto tristes ou zangados. A conversao entre o adulto e a criana alm de gerar
hbitos de comunicao em torno destes problemas, ajuda a criana a generalizar a
conduta a outras situaes, e evita a acumulao de tenses e mal entendidos que pode
desencadear violncia.
Outro aspecto que se torna relevante para ensinar as crianas a gerir as suas emoes
ensin-las a lidarem com a frustrao. Todos temos conscincia que, no mundo
ocidentalizado onde vivemos, a maioria das crianas pode realizar quase todos os seus
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desejos, mas tambm verdade que medida que a criana cresce essa realizao
torna-se mais difcil. Se a criana foi adquirindo hbitos de no-frustrao portadora
de nveis baixos de frustrao, o que se pode tornar intolervel. Assim, deve-se treinar
precocemente competncias de resistncia frustrao, para que a criana possa pr
em marcha mecanismos de resistncia, que lhe iro permitir fazer face s adversidades,
sem recorrer, por exemplo, a substncias aditivas para o seu alvio. Patterson et al.
(1992, citados por Barrio, op. cit.) recomendam que para gerir e controlar as emoes
das crianas se usem estratgias como imposio de uma disciplina consistente, uso de
reforos positivos e aquisio de habilidades de resoluo de problemas.
5.3. Adequao s contingncias
O que a autora (Denham, 1998) quer dizer com a adequao s contingncias que
qualquer conduta produz determinadas consequncias, quer positivas, quer negativas,
e que se torna fundamental que, quer os pais, quer os educadores, saibam manejar
adequadamente essas consequncias de modo a que a criana aprenda a manter e
consolidar as que podem trazer-lhe benefcio e a extinguir as que no so benficas.
Quando uma criana tem uma conduta inconveniente, como insultar ou bater, isto
deve ter para ela um certo custo de resposta, como por exemplo uma consequncia.
Mas esta consequncia tem que ser bem escolhida, sempre que possvel decidida
previamente com a criana, para que se consiga ter algum resultado. Se a consequncia
no adequada conduta, alm de no surtir efeito, pode levar revolta.
Concluso
Em jeito de concluso podemos reconhecer que fundamental o educador ser
disponvel e responsivo face s necessidades de todas as crianas da sua sala. Quando o
educador responde de forma consistente a uma criana ele est a ajud-la a desenvolver
pontos de vista alternativos face aos relacionamentos. Quando o educador confivel e
responsivo ensina s crianas que a experincia emocional no precisa de ser opressiva,
pode ser controlada e com o tempo as crianas aprendero a gerir as suas emoes com
pouca ou at nenhuma ajuda.
Tambm a preveno no pode ser vista como um conjunto de estratgias que se
implementam de um momento para o outro, em mdulos pr-fabricados, prontos a
usar e de tamanho nico, e que, no final, como por magia, fazem com que todos os
factores de risco se diluam. Uma verdadeira preveno deve ser transversal e ecolgica
e deve comear na primeira infncia, seno em vez de tecermos corremos o risco de s
remendarmos. Para atingir estes objectivos necessrio que os currculos de formao
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dos educadores incluam o desenvolvimento de competncias socio-emocionais, para
que eles possam providenciar mtodos e estratgias apropriados para a socializao
emocional.
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Correspondncia
Vera do Vale
Escola Superior de Educao de Coimbra
Praa Heris de Ultramar-Solum,
3030-329 Coimbra
09A-vera-vale_pp_129-146