Colégio Planeta Valorportal.colegioplaneta.com.br/wp-content/uploads/school_assets/... · frases...

9
Colégio Planeta Valor: Profs.: Marcela e Juliana Lista de Língua Portuguesa Data: 29 / 06 / 2018 Nota: Aluno(a): 3ª Série Turma: Lista de Recuperação Questão 01) Há notícias que são de interesse público e há notícias que são de interesse do público. Se a celebridade "x" está saindo com o ator "y", isso não tem nenhum interesse público. Mas, dependendo de quem sejam "x" e "y", é de enorme interesse do público, ou de um certo público (numeroso), pelo menos. As decisões do Banco Central para conter a inflação têm óbvio interesse público. Mas quase não despertam interesse, a não ser dos entendidos. O jornalismo transita entre essas duas exigências, desafiado a atender às demandas de uma sociedade ao mesmo tempo massificada e segmentada, de um leitor que gravita cada vez mais apenas em torno de seus interesses particulares. (Fernando Barros e Silva, O jornalista e o assassino. Folha de São Paulo (versão on line), 18/04/2011. Acessado em 20/12/2011.) A) A palavra público é empregada no texto ora como substantivo, ora como adjetivo. Exemplifique cada um desses empregos com passagens do próprio texto e apresente o critério que você utilizou para fazer a distinção. B) Qual é, no texto, a diferença entre o que é chamado de interesse público e o que é chamado de interesse do público? Questão 02) Os verbetes apresentados no texto 02 trazem significados possíveis para algumas palavras que ocorrem no texto intitulado Bicho Gramático, apresentado no texto 01: Texto 01 BICHO GRAMÁTICO Vicente Matheus (1908-1997) foi um dos personagens mais controversos do futebol brasileiro. Esteve à frente do paulista Corinthians em várias ocasiões entre 1959 e 1990. Voluntarioso e falastrão, o uso que fazia da língua portuguesa nem sempre era aquele reconhecido pelos livros. Uma vez, querendo deixar bem claro que o craque do Timão não seria vendido ou emprestado para outro clube, afirmou que “o Sócrates é invendável e imprestável”. Em outro momento, exaltando a versatilidade dos atletas, criou uma pérola da linguística e da zoologia: “Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático”. (Adaptado de Revista de História da Biblioteca Nacional, jul. 2011, p. 85.) Texto 02 Invendável: que não se pode vender ou que não se vende com facilidade. Imprestável: que não tem serventia; inútil. Aquático: que vive na água ou à sua superfície. Gramático: que ou o que apresenta melhor rendimento nas corridas em pista de grama (diz-se de cavalo). (Dicionário HOUAISS (versão digital on line), houaiss.uol.com.br) Descreva o processo de formação das palavras invendável e imprestável e justifique a afirmação segundo a qual o uso que Vicente Matheus fazia da língua portuguesa “nem sempre era aquele reconhecido pelos livros”. Questão 03) O ARRASTÃO 1 Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adjetivos porque eles fracassam em 2 dizer o sentimento que os fatos impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, 3 como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho às quatro 4 e meia das manhãs de todas as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e 5 seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como milhões de trabalhadores brasileiros, 6 é baleada em circunstâncias não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga no 7 porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é arrastada à morte, a céu aberto, 8 pelo asfalto do Rio. 9 Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados dos policiais. Todas as vozes 10 terão que ser ouvidas, e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes 11 das versões, o fato é que esse porta- malas, ao se abrir fora do script, escancarou um real que 12 está acostumado a existir na sombra. 13 O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas não se abrisse como abriu (por 14 obra do acaso, dos deuses, do diabo), esse seria apenas “mais um caso”. Ele está dizendo: 15 seria uma morte anônima, aplainada 1 pela surdez da praxe 2 , pela invisibilidade, uma morte não 16 questionada, como tantas outras. 17 É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja fora da realidade, mas porque 18 destampa, por um “acaso objetivo” (a expressão era usada pelos surrealistas 3 ), uma cena 19 recalcada 4 da consciência nacional, com tudo o que tem de violência naturalizada e corriqueira, 20 tratamento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao cúmulo, ignorância bruta 21 transformada em trapalhada transcendental 5 , além de um índice grotesco de métodos de 22 camuflagem e desaparição de pessoas. Pois assim como Amarildo 6 é aquele que desapareceu 23 das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos 24 soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo. 25 O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos ver no caso do desaparecimento 26 de Amarildo. A sua passagem meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que 27 escondemos. Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que 28 lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil. José Miguel Wisnik Adaptado de oglobo.globo.com, 22/03/2014. 1 aplainada − nivelada 2 praxe − prática, hábito 3 surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20 que enfatiza o papel do inconsciente 4 recalcada − fortemente reprimida 5 transcendental − que supera todos os limites 6 Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil. (Refs. 27-28) A sequência do emprego dos artigos em “de um Brasil” e “do Brasil” representa uma relação de sentido entre as duas expressões, intimamente ligada a uma preocupação social por parte do autor do texto. Essa relação de sentido pode ser definida como Generalização. Explique como o autor conseguiu esse efeito de sentido.

Transcript of Colégio Planeta Valorportal.colegioplaneta.com.br/wp-content/uploads/school_assets/... · frases...

Colégio Planeta

Valor:

Profs.: Marcela e Juliana

Lista de Língua Portuguesa

Data: 29 / 06 / 2018 Nota:

Aluno(a): 3ª Série Turma: Lista de Recuperação

Questão 01)

Há notícias que são de interesse público e há notícias que são de interesse do público. Se a celebridade "x" está saindo com o ator "y", isso não tem nenhum interesse público. Mas, dependendo de quem sejam "x" e "y", é de enorme interesse do público, ou de um certo público (numeroso), pelo menos. As decisões do Banco Central para conter a inflação têm óbvio interesse público. Mas quase não despertam interesse, a não ser dos entendidos.

O jornalismo transita entre essas duas exigências, desafiado a atender às demandas de uma sociedade ao mesmo tempo massificada e segmentada, de um leitor que gravita cada vez mais apenas em torno de seus interesses particulares.

(Fernando Barros e Silva, O jornalista e o assassino. Folha de São Paulo (versão

on line), 18/04/2011. Acessado em 20/12/2011.)

A) A palavra público é empregada no texto ora como

substantivo, ora como adjetivo. Exemplifique cada um desses empregos com passagens do próprio texto e apresente o critério que você utilizou para fazer a distinção.

B) Qual é, no texto, a diferença entre o que é chamado de interesse público e o que é chamado de interesse do público?

Questão 02) Os verbetes apresentados no texto 02 trazem significados possíveis para algumas palavras que ocorrem no texto intitulado Bicho Gramático, apresentado no texto 01:

Texto 01

BICHO GRAMÁTICO

Vicente Matheus (1908-1997) foi um dos personagens mais controversos do futebol brasileiro.

Esteve à frente do paulista Corinthians em várias ocasiões entre 1959 e 1990. Voluntarioso e falastrão, o uso que fazia da língua portuguesa nem sempre era aquele reconhecido pelos livros. Uma vez, querendo deixar bem claro que o craque do Timão não seria vendido ou emprestado para outro clube, afirmou que “o Sócrates é invendável e imprestável”. Em outro momento, exaltando a versatilidade dos atletas, criou uma pérola da linguística e da zoologia: “Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático”.

(Adaptado de Revista de História da Biblioteca Nacional, jul. 2011, p. 85.)

Texto 02

Invendável: que não se pode vender ou que não se

vende com facilidade. Imprestável: que não tem serventia; inútil. Aquático: que vive na água ou à sua superfície. Gramático: que ou o que apresenta melhor

rendimento nas corridas em pista de grama (diz-se de cavalo).

(Dicionário HOUAISS (versão digital on line), houaiss.uol.com.br)

Descreva o processo de formação das palavras invendável e imprestável e justifique a afirmação segundo a qual o uso que Vicente Matheus fazia da língua portuguesa “nem sempre era aquele reconhecido pelos livros”.

Questão 03)

O ARRASTÃO

1 Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adjetivos porque eles fracassam em 2 dizer o sentimento que os fatos impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, 3 como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho às quatro 4 e meia das manhãs de todas as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e 5 seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como milhões de trabalhadores brasileiros, 6 é baleada em circunstâncias não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga no 7 porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é arrastada à morte, a céu aberto, 8 pelo asfalto do Rio. 9 Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados dos policiais. Todas as vozes 10 terão que ser ouvidas, e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes 11 das versões, o fato é que esse porta-malas, ao se abrir fora do script, escancarou um real que 12 está acostumado a existir na sombra.

13 O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas não se abrisse como abriu (por 14 obra do acaso, dos deuses, do diabo), esse seria apenas “mais um caso”. Ele está dizendo: 15 seria uma morte anônima, aplainada1 pela surdez da praxe2, pela invisibilidade, uma morte não 16 questionada, como tantas outras.17 É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja fora da realidade, mas porque 18 destampa, por um “acaso objetivo” (a expressão era usada pelos surrealistas3), uma cena 19 recalcada4 da consciência nacional, com tudo o que tem de violência naturalizada e corriqueira, 20 tratamento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao cúmulo, ignorância bruta 21 transformada em trapalhada transcendental5, além de um índice grotesco de métodos de 22 camuflagem e desaparição de pessoas. Pois assim como Amarildo6 é aquele que desapareceu 23 das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos 24 soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo.25 O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos ver no caso do desaparecimento 26 de Amarildo. A sua passagem meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que 27 escondemos. Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que 28 lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil.

José Miguel Wisnik Adaptado de oglobo.globo.com, 22/03/2014.

1 aplainada − nivelada 2 praxe − prática, hábito 3 surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20 que enfatiza o papel do inconsciente 4 recalcada − fortemente reprimida 5 transcendental − que supera todos os limites 6 Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais

Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil. (Refs. 27-28)

A sequência do emprego dos artigos em “de um Brasil” e “do Brasil” representa uma relação de sentido entre as duas expressões, intimamente ligada a uma preocupação social por parte do autor do texto. Essa relação de sentido pode ser definida como Generalização. Explique como o autor conseguiu esse efeito de sentido.

Questão 04)

Há alguns anos, uma emissora de TV anunciava que, em um de seus programas, seria entrevistada uma conhecida cantora brasileira e referia-se a ela como a “embaixatriz do Unicef no Brasil”.

Considerando que a cantora era a representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no Brasil, responda: nesse contexto, a palavra embaixatriz foi empregada adequadamente? Justifique. Questão 05) Examine as quatro tiras do cartunista americano Bill Watterson.

TIRA 01

TIRA 02

TIRA 03

TIRA 04

(Calvin e Haroldo: E foi assim que tudo começou, 2007. Adaptado.)

Por homonímia entende a tradição: “propriedade de duas

ou mais formas, inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica, os mesmos fonemas, dispostos na mesma ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentuação; como exemplo: “um homem são”; “São Jorge”; “são várias as circunstâncias”. Ela é possível sem prejuízo da comunicação em virtude do papel do contexto na significação de uma forma, como sucede com “são” nos exemplos dados.

(Evanildo Bechara. Moderna gramática portuguesa, 2009. Adaptado.)

Em qual tira o efeito de humor decorre, em larga medida, deste fenômeno linguístico? Justifique sua resposta. Elabore duas frases nas quais apareçam dois termos que, com significados diferentes, tenham a mesma forma gráfica e fônica (utilize termos diferentes daquele explorado pela tira e daquele citado pelo gramático Evanildo Bechara).

Questão 06) O texto foi enviado por um leitor ao jornal O Estado de S. Paulo, que o publicou juntamente com a ilustração:

SABOR DIFERENTE No anúncio da margarina Delícia, diz-se que colocaram quinhentas gramas na embalagem. Com tantas gramas, o sabor deve ser bem diferente.

Em O Estado de S. Paulo, 23/6/1991, página 2, Coluna F6rum dos Leitores

Segundo os padrões da norma culta, a expressão “quinhentas gramas” está correta? Explique. Questão 07)

Disponível em: <http://essaseoutras.xpg.uol.com.br/charges-engracadas-de-educacao-ensino-critica-alunos-e-professores>. Acesso em: 27 abr. 2017.

Na charge, ao afirmar que a filha está pronta para ir à escola, a mãe se refere a elementos hoje considerados necessários para adentrar o espaço escolar. Que elementos são esses e por que se fazem necessários? Utilize apenas um parágrafo para sua explicação. Questão 08)

HEAN. Projeto antinepotismo. Folha de S. Paulo, 23 abr. 2005.

A) O efeito cômico da charge se dá pelo jogo de sentido de

duas palavras. Indique-as. B) Que posicionamento o personagem à direita manifesta

sobre o nepotismo? Justifique com elementos verbais e/ou não verbais do texto.

Questão 09)

De acordo com as informações da charge, responda. A) Nessa tira de Laerte a graça é produzida por um

deslizamento de sentido. Qual é ele? B) Descreva esse deslizamento quadro a quadro, mostrando a

relação das imagens com o que é dito. Questão 10)

CIÇA. Pagando o pato. São Paulo: L & PM, 2006. p. 28.

Nos quadrinhos explora-se a polissemia na língua. Tendo isso em mente, responda. A) Qual palavra contida no primeiro quadrinho é tomada em

mais de um sentido pelas personagens? B) Quais interpretações dessa palavra ocorrem nos

quadrinhos?

Questão 11) Texto 01

QUINO. Que presente inapresentável. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. p. 87.

Texto 02

1 Revista de maior circulação no mundo, a Time

mostrou como ficaram tênues os limites entre a ciência e a ficção. 2 Em reportagem de capa, intitulada “Jovem para sempre”, não descarta nas entrelinhas a chance de que um dia, quem 3 sabe, se descubra não a cura das doenças, mas a cura da morte.

4 Menos sutilmente, estimula a esperança de que talvez

o ser humano possa chegar aos 300 anos. A revista 5 ancora o sonho em moscas e minhocas que, tratadas em laboratórios, passaram a viver muitas vezes mais. A suspeita 6 é de que, em algum lugar, seria possível desmontar um relógio que determina o aparecimento de rugas, seios caídos, 7 pernas flácidas, queda de cabelo.

8 Ao tentar separar fantasias e bom senso, a

reportagem estabelece como hipótese realista que, a partir das 9 descobertas médicas das próximas três décadas, a expectativa de vida suba para 120 anos. Seria a continuação do impacto 10 provocado pelo inglês Alexander Fleming, que descobriu o primeiro antibiótico.

11 Traduzindo: as crianças de hoje se lembrariam de

seus pais – ou seja, nós – como pessoas que morreram jovens 12 porque não completaram 80 anos. Assim como achamos que nossos tataravós morriam cedo porque não completavam 13 60 anos de idade.

14 Os novos mitos nutridos pela tecnologia reforçam o

absurdo brasileiro. Dezenas de milhares de crianças que 15 não completam parcos 12 meses de vida morrem anualmente, porque simplesmente não têm comida ou bebem água 16 contaminada.

DIMENSTEIN, Gilberto. Expectativa de vida. In: _____ . Aprendiz do futuro. São Paulo: Ática: 2004. (fragmento)

Considerando o emprego de algumas formas verbais no texto 02, é correto afirmar que A) “descarta” (Ref. 02) e “descubra” (Ref. 03) expressam fatos

possíveis num futuro próximo. B) “possa chegar” (Ref. 04) pode ser substituído por

“chegasse”, sem prejuízo para o sentido e para a coerência da frase.

C) as ações expressas por “desmontar” (Ref. 06) e “separar” (Ref 08) não têm agente determinado no texto.

D) “morreram” (Ref. 11) está no pretérito, mas se refere a um fato possível de acontecer no futuro.

E) “completaram” (Ref. 12) e “completavam” (Ref. 12) traduzem fatos passados repetidos, que se prolongam até o presente.

Questão 12)

Crianças brincando

Uma psicóloga da PM-SP defende que crianças de oito anos podem manusear armas de fogo, “desde que acompanhadas pelos pais”. É normal, diz ela, que o filho de um policial tenha curiosidade sobre o instrumento de trabalho de seu pai, “assim como o filho do médico tem sobre o estetoscópio”. A recente tragédia em São Paulo, envolvendo o menino Marcelo Pesseghini, 13, suspeito de matar seus pais (ambos, policiais militares), a avó e a tia-avó, e que se matou em seguida, tudo a tiros, não abalou sua convicção.

Vejamos. É normal que o filho de oito anos de um piloto de aviação tenha curiosidade sobre o instrumento de trabalho do pai - o avião. Isso autoriza o piloto a pôr o filho na cadeira do copiloto e “acompanhá-lo” enquanto ele pousa o aparelho levando 300 passageiros? O filho de um madeireiro, apenas por ser quem é, estará autorizado a brincar com uma motosserra? E o filho de um proctologista estará apto a manipular o instrumento de trabalho de seu pai? (...)

A professora Maria de Lourdes Trassi, da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, rebate o argumento da psicóloga da PM, dizendo: “O cirurgião pode até dar o estetoscópio ou a luva [para o filho brincar]. Mas não vai lhe apresentar o bisturi”.

Também acho. E há muitas coisas com que o filho de um PM pode brincar - gás de mostarda, bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha -, sem ter de apelar para armas de fogo.

(Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 19.08.2013)

Levando em conta o aspecto do verbo na frase: “crianças de oito anos podem manusear armas de fogo”, afirma-se que a forma verbal está no Presente A) momentâneo, pois se refere ao manuseio de armas no

momento da fala. B) histórico, pois se refere a fatos sobre crimes ocorridos nos

passado. C) frequentativo, pois se refere a um fato que se repete ao

longo do tempo no noticiário criminal. D) universal, pois se refere à permissão do manuseio tida como

uma verdade supostamente aceita por todos. E) no lugar do futuro, pois a permissão para o manuseio de

armas se dará em época próxima.

Questão 13) Considere a passagem do romance Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901-1957):

Água-Mãe

Jogava com toda a alma, não podia compreender como um

jogador se encostava, não se entusiasmava com a bola nos pés. Atirava-se, não temia a violência e com a sua agilidade espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. Quando aquele back1, num jogo de subúrbio, atirou-se contra ele, recuou para derrubá-lo, e com tamanha sorte que o bruto se estendeu no chão, como um fardo. E foi assim crescendo a sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao novo Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia no clube, mas a sua vida era cada vez mais agitada. Onde quer que estivesse, era reconhecido e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as despesas que ele fazia e até mesmo nos ônibus, quando ia descer, o motorista lhe dizia sempre:

— Joca, você aqui não paga. Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham logo

meninos para perto dele. Sabia que agradava muito. No clube tinha amigos. Havia porém o antigo center-forward2 que se sentiu roubado com a sua chegada. Não tinha razão. Ele fora chamado. Não se oferecera. E o homem se enfureceu com Joca. Era um jogador de fama, que fora grande nos campos da Europa e por isso pouco ligava aos que não tinham o seu cartaz. A entrada de Joca, o sucesso rápido, a maravilha de agilidade e de oportunismo, que caracterizava o jogo do novato, irritava-o até ao ódio. No dia em que tivera que ceder a posição, a um menino do Cabo Frio, fora para ele como se tivesse perdido as duas pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava. Tinha sido a sua admiração, o seu herói. 1 Beque, ou seja, o zagueiro de hoje. 2 Centroavante.

(Água-Mãe, 1974.)

No primeiro parágrafo, predominam verbos empregados no A) pretérito perfeito do modo indicativo. B) pretérito imperfeito do modo indicativo. C) presente do modo indicativo. D) presente do modo subjuntivo. E) pretérito mais-que-perfeito do modo indicativo. Questão 14)

Da leitura do texto, é possível concluir que A) a evolução tecnológica permitiu uma mudança no papel da

mulher na sociedade. B) o texto mostra que as mulheres agora, além de terem que

aprender corte e costura, deverão também aprender a programar computadores.

C) em relação às tarefas femininas, houve apenas uma mudança tecnológica.

D) segundo o texto, falta às mulheres habilidade para manipular os avanços tecnológicos.

E) a tira denuncia a exclusão digital das mulheres modernas. Questão 15)

Escrever é um ato não natural. A palavra falada é mais velha do que nossa espécie, e o instinto para a linguagem permite que as crianças engatem em conversas articuladas anos antes de entrar numa escola.

Mas a palavra escrita é uma invenção recente que não deixou marcas em nosso genoma e precisa ser adquirida mediante esforço ao longo da infância e depois.

A fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa é uma das razões pelas quais as crianças precisam lutar com a escrita: reproduzir os sons da língua com um lápis ou com o teclado requer prática.

Mas a fala e a escrita diferem também de outra maneira, o que faz da aquisição da escrita um desafio para toda uma vida, mesmo depois que seu funcionamento foi dominado.

Falar e escrever envolvem tipos diferentes de relacionamentos humanos, e somente o que diz respeito à fala nos chega naturalmente.

A conversação falada é instintiva porque a interação social é instintiva: falamos às pessoas “com quem temos diálogo”. Quando começamos um diálogo com nossos interlocutores, temos uma suposição do que já sabem e do que poderiam estar interessados em aprender, e durante a conversa monitoramos seus olhares, expressões faciais e atitudes.

Se eles precisam de esclarecimentos, ou não conseguem aceitar uma afirmação, ou têm algo a acrescentar, podem interromper ou replicar.

Não gozamos dessa troca de feedbacks quando lançamos ao vento um texto. Os destinatários são invisíveis e imperscrutáveis, e temos que chegar até eles sem conhecê-los bem ou sem ver suas reações.

No momento em que escrevemos, o leitor existe somente em nossa imaginação.

Escrever é, antes de tudo, um ato de faz de conta. Temos de nos imaginar em algum tipo de conversa, ou correspondência, ou discurso, ou solilóquio, e colocar palavras na boca do pequeno avatar que nos representa nesse mundo simulado.

Adaptado de Steven Pinker,

Guia de Escrita

Depreende-se corretamente do texto que A) a escrita é uma atividade tão natural quanto falar, tanto que

seu aprendizado prescinde de treinamento direcionado. B) escrever e falar são atividades da linguagem humana

absolutamente equivalentes no seu modo de produção e resultado nas trocas interacionais.

C) a atividade da escrita implica aprendizagem e treinamento e pode ser melhorada e aperfeiçoada ao longo da formação educacional.

D) a presença física e real dos interlocutores na modalidade escrita facilita o processo de produção da escrita.

E) o diálogo efetivo entre escritor e leitor permite que os feedbacks constantes ampliem as possibilidades de interpretação de textos escritos.

Questão 16)

A era dos memes na crise política atual

Seria cômico, se não fosse trágico, o estado de irreverência do brasileiro frente à crise em que o país encontra-se imerso.

A nossa capacidade de fazer piada de nós mesmos e da acentuada crise político-econômica atual nos instiga a refletir se estamos “jogando a toalha” ou se este é apenas um “jeitinho brasileiro” de encarar a realidade.

A criatividade de produzir piadas, memes e áudios engraçados expõe um certo tipo de estratégia do brasileiro para lidar com situações de conflito:

“Tira a Dilma. Tira o Aécio. Tira o Cunha. Tira o Temer. Tira a calça jeans e bota um fio dental, morena você é tão sensual”. Eis uma das milhares de piadas que circulam nas redes sociais e que, de forma irreverente, estimulam o debate.

Não há aquele que não se divirta com essa piada ou outra congênere; que não gargalhe diante dos diversos textos engraçados que circulam por meio de postagens ou mensagens de celular, independentemente do grau de escolaridade de quem compartilha.

Seja por meio do deboche e do riso, é de “notório saber” que todas as classes estão conscientes da gravidade da situação e que, por conseguinte, concordam que medidas enérgicas precisam ser tomadas.

A diferença está na forma ideologicamente defendida para a tomada de medidas.

A “memecrítica” é uma categoria de crítica social que tem causado desconforto nos políticos e membros dos poderes judiciário e executivo, estimulando, inclusive, tentativas frustradas de mapeamento e controle do uso da internet por parte dos internautas. [...]

Por outro lado, questionar as contradições presentes apenas por meio da piada, em certo aspecto politizada, não garante mudanças sociais de grande impacto. Esses manifestos e/ou críticas de formas isoladas (ou uníssonas) podem, mesmo sem intenção, relegar os cidadãos brasileiros a um estado de inércia, a uma condição de estado permanente de sonolência eterna em “berço esplêndido”.

Já os manifestos, protestos e/ou passeatas nas ruas e demais enfrentamentos em espaços de poder instituídos ainda são os mecanismos mais eloquentes e potenciais para contrapor discursos e práticas opressoras que contribuem para o caos social.

É preciso o tête-à-tête, o diálogo crítico e reflexivo em casa, na comunidade e demais ambientes socioculturais.

Entretanto, um diálogo respeitoso, cordial, que busca a alteridade. Que apresente discordâncias, entretanto respeite a opinião divergente, sem abrir mão da ética e do respeito aos direitos humanos.

(Luciano Freitas Filho – Carta Capital (adaptado), junho/2017. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/06/07/era-

dos-memes-na -crise-politica-atual/>.)

Considere as avaliações dos memes enquanto prática social e determine o que se apresenta coerente com o proposto pelo texto. A) Em razão do seu modo de funcionamento, os memes não

têm o mesmo efeito que as manifestações convencionais. B) As tentativas de controle da disseminação dos memes no

espaço virtual, por parte dos poderes instituídos, têm gerado situações de desconforto.

C) A adesão ao conteúdo dos memes se apresenta de modo convergente para pessoas de diferentes classes sociais e posições políticas.

D) Por se revestirem simultaneamente de caráter de crítica e de deboche, os memes são a melhor forma de embate tête-a-tête.

E) Apesar de sua força expressiva, os memes não constituem recurso para mudanças sociais efetivas, porque seu lugar de circulação não goza de legitimidade.

Questão 17)

Palavras: uma questão de estilo

A construção de um bom texto depende da criatividade de quem o escreve.

Veja como o uso das palavras exerce um papel importante nesse contexto.

João Ribeiro, eminente gramático e profundo

conhecedor da língua portuguesa, disse certa vez, em entrevista que deu ao jornalista carioca João do Rio (O Momento Literário), que o estilo seria, antes de tudo, “a ideia precisa e exata na sua forma exata e precisa”.

De fato, não são poucos os que acreditam que o estilo depende, basicamente, da conjunção precisa entre forma e fundo, ideia em si mesma legítima, embora se saiba que até mesmo o que se considera erro, lacuna, falha ou desvio pode ser, no limite, considerado… uma questão de estilo.

Falar em estilo na língua portuguesa remete-nos, imediatamente, a certa escala de valores que não apenas as frases, as orações e os períodos contêm, mas que também as palavras, isoladamente ou não, possuem.

Assim, da mesma maneira que temos, no que compete à gramática da língua, as categorias essenciais (substantivos, verbos, adjetivos), auxiliares (artigos, preposições) e determinantes (advérbios, numerais), nas quais os vocábulos se subdividem, em termos de estilo essas categorias são também fundamentais para que possamos apreender a língua não em sua estrutura morfossintática, mas em sua configuração estilística.

Uma frase como “Aires não pensava nada, mas percebeu que os outros pensavam alguma cousa”, retirada do romance Memorial de Aires, de Machado de Assis, é reveladora não apenas pelo sentido que ela tem para a economia do romance, mas também em razão do peso que os verbos possuem no período, ora pelo jogo de oposições entre singular e plural (pensava / pensavam); ora pela dicotomia entre afirmação e negação (pensava / não pensavam); ora pela mediação, entre os dois vocábulos, realizada pelo verbo percebeu (pensava / percebeu / pensavam); ora ainda pelo contraste entre dois tempos verbais, o pretérito imperfeito (pensava / pensavam) e o perfeito (percebeu).

Tudo isso se torna significativo, literariamente falando, para a narrativa e, mais do que um traço morfossintático, é um traço estilístico marcante na escala de valores a que aqui nos referimos e que pode, ainda, ter uma natureza sinestésica, estando ligada a determinados sentidos humanos.

Por exemplo, é muito comum associarmos determinadas palavras a determinados sentidos, criando assim – no âmbito da percepção estilística – imagens visuais, auditivas, táteis, olfativas ou gustativas. A respeito das ideias presentes no texto, é correto afirmar que A) o autor que busque um estilo narrativo marcante deve

preterir a conjunção precisa entre forma e fundo. B) a compreensão e a análise do estilo de um autor devem se

restringir ao estudo da palavra como unidade isolada no texto.

C) as características que definem o que é estilo, para João Ribeiro, são a exposição de ideias de forma prolixa e a ausência de incorreções gramaticais.

D) o estilo transcende as conceituações morfossintáticas, pois as palavras não são consideradas apenas individualmente, mas em seu papel no conjunto do texto.

E) o emprego das normas gramaticais para a construção de um bom texto é uma questão de estilo, por isso a informalidade da linguagem é inadmissível.

Questão 18) As tiras frequentemente nos surpreendem pela profundidade das reflexões que provocam em sua síntese visual e linguística. É o que ocorre na de Adão Iturrusgarai, que nos leva a refletir sobre as motivações dos desabafos da personagem.

(ADÃO ITURRUSGARAI, O mundo maravilhoso de Adão Iturrusgarai, www.adao.blog.uol.com.br/images/tira-pro-site.gif. Adaptado.)

Embora pareça contraditória e inconsequente sob o ponto de vista psicológico a atitude da personagem, no último quadrinho, de se declarar insatisfeita com a nova aparência obtida, podemos encontrar, numa releitura mais atenta da tira, uma causa objetiva para essa insatisfação. Aponte essa causa, levando em consideração o jogo de palavras que ocorre entre “aparência pessoal” e “aparência impessoal”. Questão 19) Os cartuns denunciam, com humor, problemas sociais e políticos, constituindo, assim, um poderoso instrumento de reflexão e formação de consciência crítica:

Explicite qual o problema social denunciado no cartum abaixo, justificando sua resposta com base em elementos apresentados, principalmente, no último quadrinho.

Questão 20) Tira 01

BROWNE, Dik. O melhor de Hagar, o Horrível – Vol. 4. Porto Alegre: L & PM, 2009. p. 31.

Tira 02

BROWNE, Dik. O melhor de Hagar, o Horrível – Vol. 4. Porto Alegre: L & PM, 2009. p. 91.

A) Nas duas tirinhas acima, a fala de Eddie Sortudo joga com o

sentido metafórico/literal de expressões da língua. Transcreva uma expressão de cada tirinha que exemplifique isso.

B) Explique o sentido pretendido pela personagem em cada tirinha ao usar essas expressões.

Questão 21)

Equilibre suas atitudes

Para melhorar a expectativa de vida, atitudes como dietas balanceadas, prática de atividades físicas e relacionamentos interpessoais são de extrema importância. No entanto, um fator pouco lembrado pelas pessoas pode representar um papel ainda maior para uma vida mais longa e saudável: o estudo. Segundo o psiquiatra Daniel Barros, pessoas que estudam mais tendem a elevar a expectativa de vida. “Existem diversas pesquisas mostrando que cada ano investido em conhecimento se reverte em anos a mais na vida do indivíduo”, afirma. Os benefícios do estudo para a longevidade e qualidade de vida são resultados de um efeito global causado no indivíduo. “O impacto não é explícito no organismo; são as atitudes, os comportamentos da pessoa que vão mudando conforme ela ganha conhecimento”, explica o psiquiatra. De acordo com Barros, a principal habilidade adquirida por meio do estudo “é conseguir saber a hora de adiar as gratificações. Então, em detrimento de um prazer imediato, a pessoa consegue pensar no futuro e fazer um planejamento no longo prazo para aproveitar melhor sua vida”. Para uma maior qualidade de vida, a dica do especialista é equilibrar atitudes. “Claro que é importante malhar, praticar atividades físicas, comer saudavelmente, mas não somos feitos somente de ‘corpo’. Não podemos nos esquecer da mente”, observa.

O Estado de S. Paulo, 12/07/2015(FGV /2016)

Destoam da variedade linguística predominante no texto o substantivo “dica” e um verbo. Indique esse verbo.

Questão 22)

Paixão, ódio, traição, amor, lágrimas, paz, suspense, morte, sexo, alegria, ficção, terror, aventura, humor, dor, medo, ambição, sonho, história, matemática, geografia, surpresa, espionagem, saudade e guerra no Riocentro.

IV Bienal do Livro

A) Aponte um substantivo próprio no texto. B) Aponte um substantivo derivado no texto. C) Aponte um substantivo composto no texto. Questão 23)

Revelação do subúrbio

Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a [vidraça do carro*,

vendo o subúrbio passar.

O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa, com medo de não repararmos suficientemente em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.

A noite come o subúrbio e logo o devolve, ele reage, luta, se esforça,

até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais e à noite só existe a tristeza do Brasil.

Carlos Drummond de Andrade,Sentimento do mundo, 1940.

✓ carro: vagão ferroviário para passageiros. Considerados no contexto, dentre os mais de dez verbos no presente, empregados no poema, exprimem ideia, de habitualidade e continuidade em A) “gosto” e “repontam”. B) “condensa” e “esforça”. C) “vou” e “existe”. D) “têm” e “devolve”. E) “reage” e “luta”.

Texto para responder às questões 24 e 25

A situação favorável, do ponto de vista das oportunidades de trabalho, que existia na região cafeeira, valeu aos antigos escravos liberados salários relativamente elevados. Com efeito, tudo indica que na região do café a abolição provocou efetivamente uma redistribuição da renda em favor da mão-de-obra. Sem embargo, essa melhora na remuneração real do trabalho parece haver tido efeitos antes negativos que positivos sobre a utilização dos fatores. (...) O homem formado desse sistema social está totalmente desaparelhado para responder aos estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação de riqueza lhe é praticamente estranha. Demais, seu rudimentar desenvolvimento mental limita extremamente suas “necessidades”. Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação de seu salário acima de suas necessidades – que estão definidas pelo nível de subsistência de um escravo – determina de imediato uma forte preferência pelo ócio. Dessa forma, uma das consequências diretas da abolição, nas regiões em mais rápido desenvolvimento, foi reduzir-se o grau de utilização da força de trabalho.

(Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil)

Questão 24) Segundo o autor, é correto afirmar que A) a situação favorável fez o negro, uma vez ocupado fora do

regime escravocrata, preferir o ócio. B) a preferência pelo ócio deriva diretamente da condição de

trabalhador assalariado em país latino-americano. C) o repertório de necessidade do escravo era limitado pelo

nível de subsistência a que a região cafeeira o condenava. D) o negro, não dispondo de hábitos de vida familiar, não se

interessava em acumular capital. E) não houve utilização de fatores, quando se tratou de

provocar redistribuição de renda na economia cafeeira.

Questão 25) O final do texto faz uma referência ao fato de a abolição provocar um(a) A) exclusão radical do trabalho negro nas regiões agrárias

desenvolvidas. B) processo de substituição da mão de obra escrava na

cafeicultura. C) quadro ideológico favorável ao desenvolvimento econômico

do país. D) alteração significativa na forma de produção agrícola no final

do século XIX. E) migração dos ex-escravos para atividades de trabalhos

domésticos e serviços urbanos.

Questão 26)

Consideremos, por exemplo, a questão da morte, que, pelo menos à primeira vista, parece ser um indicador fidedigno de que se perdeu a luta darwiniana. Os ricos também morrem, é claro – só que não tão cedo. Levam uma vida mais longa e mais sadia do que o resto de nós. Diz o velho clichê que todo dinheiro do mundo não significa nada quando não se tem saúde, mas as pessoas endinheiradas geralmente a têm.

E, em média, quanto mais dinheiro têm, melhor é sua saúde. O estudo Longitudinal de 1990, no Reino Unido, constatou que os donos de casa própria que têm um automóvel tendem a morrer mais moços do que os que têm dois, e assim sucessivamente, num “gradiente contínuo” de redução de mortalidade que vai das áreas mais desprivilegiadas até as mais opulentas. (O estudo considerou a posse de automóveis meramente como uma medida conveniente da riqueza; não pretendeu implicar que ter vinte carros qualificaria Elton John para a imortalidade.)

Outras pesquisas indicaram que as pessoas abastadas tinham vida mais longa no passado. Numa das mais estranhas pesquisas demográficas de que se tem notícia, uma equipe de epidemiologistas e psicólogos vasculhou o cemitério de Glasgow, em meados dos anos 90, munidos de varas de limpar chaminés. Usaram-nas para medir a altura de mais de oitocentos obeliscos do século XIX. As pessoas enterradas sob os obeliscos tendem a ser abastadas, e os pesquisadores presumiram que os obeliscos mais altos marcariam as sepulturas mais ricas. O estudo revelou que cada metro extra de altura do obelisco traduzia-se em quase dois anos de longevidade adicional para a pessoa sepultada sob ele.

(História natural dos ricos, 2004. Adaptado.)

“Diz o velho clichê que todo dinheiro do mundo não significa nada quando não se tem saúde”. Assinale a alternativa que estabelece a correta relação entre o texto e o clichê citado. A) O texto relativiza o clichê, notando que há uma correlação

direta entre a saúde das pessoas e o dinheiro que elas têm. B) O texto confirma a afirmação do clichê, trazendo dados

numéricos e rigor científico ao que o clichê afirmava a partir da sabedoria popular.

C) O texto contesta o que o clichê diz, afirmando que, mesmo para pessoas com saúde debilitada, o dinheiro pode amenizar os sofrimentos durante o tempo que precede a morte.

D) O texto relativiza o clichê, questionando com dados e pesquisas científicas atualizadas os dados em que o clichê se baseia.

E) O texto contesta a validade do clichê, afirmando que pessoas mais saudáveis tendem a ganhar mais dinheiro.

Questão 27)

Visita ao Passado

Ouvi dizer que os tabuleiros onde desciam as naus vão ser contaminados. Antes que viesse a ordem, fui lá dar uma última olhada. Quando crianças eu e Rudêncio brincávamos lá com outros garotos apesar de ser um lugar mais ou menos amaldiçoado já naquele tempo. Hoje quase ninguém se aventura por aqueles lados por causa do matagal que tomou conta de tudo. Da última vez que estive lá com mamãe à procura de ervas, faz uns dois anos, voltamos com as pernas lanhadas e com os pés castigados por espinhos cabeça-de-boi e ramos secos de malícia. Saí cedo, antes que o sol esquentasse, levando bodoque e lança e o caderno de desenho, se vão mesmo contaminar o lugar quero guardar uma lembrança dele como é agora. Não está proibido visitar os tabuleiros nem fazer desenhos do que existe lá, pelo menos que eu saiba. Em todo caso, escondi precavidamente o caderno debaixo da túnica, e dei umas voltas manhosas antes de pegar a estrada certa. Estão construindo um conjunto de ranchos comunais naquela zona, há

muito trabalhador estranho tirando bambu, amassando barro, fincando estacas por toda parte, e eu não queria correr o risco de ser notado por algum olheiro disfarçado entre eles. Felizmente ninguém se interessou por mim, e eu passei boa parte do dia zanzando pelos tabuleiros, fazendo rascunhos, copiando inscrições, ponderando sobre a finalidade daquelas construções, as paredes feitas de um material duro como pedra, as pistas divididas em grandes quadrados do mesmo tamanho, parece que do mesmo material das paredes, a torre circular erguida numa extremidade do campo. [...] Fiz várias páginas de desenhos do caminho de lajes, dos nichos, da torre e da inscrição que existe numa placa de ferro embutida num pilar de pedra na entrada dos tabuleiros. Pena que ninguém aqui conheça a língua da inscrição. Mas vou guardar o caderno bem guardado. Se o lugar vai mesmo ser contaminado, pode ser que um dia, daqui a muitos anos, alguém o encontre e fique sabendo como eram os tabuleiros onde baixavam as naus celestes e até decifre a inscrição.

(VEIGA, José J. Os pecados da tribo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 29-31.)

No último período do texto, o verbo “poder” associado ao verbo “ser”, formando a construção “pode ser”, indica A) permissão. Como autoridade máxima do texto, o narrador

permite ao leitor vislumbrar o futuro do tabuleiro das naus. B) possibilidade. O narrador formula uma hipótese do que é

possível ocorrer no futuro em relação ao lugar registrado nos desenhos.

C) dúvida. Ao visitar o lugar, o enunciador confunde-se entre o passado e o futuro, revelando um presente também incerto.

D) habilidade. O enunciador mostra-se capaz de modificar o rumo da história, prevendo o destino do lugar.

E) indecisão. O narrador não soube formular uma descrição em relação ao futuro do tabuleiro das naus.