Cogumelos_Mágicos_Dissertação_UFPE_2008

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA COGNITIVA

    JOS ARTURO COSTA ESCOBAR

    Observao e explorao da percepo visual e do tempo em indivduos sob o

    estado ampliado de conscincia aps o consumo de cogumelos mgicos

    (Psilocybe cubensis)

    Recife

    2008

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    JOS ARTURO COSTA ESCOBAR

    Observao e explorao da percepo visual e do tempo em indivduos sob o

    estado ampliado de conscincia aps o consumo de cogumelos mgicos(Psilocybe cubensis)

    Recife

    2008

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Psicologia Cognitiva da Universidade

    Federal de Pernambuco como requisito para aobteno do ttulo de Mestre em Psicologia Cognitiva.

    rea de Concentrao: Cultura e CognioOrientador: Prof. Dr. Antonio Roazzi

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    Escobar, Jos Arturo CostaObservao e explorao da percepo visual e do tempo em indivduos

    sob o estado ampliado de conscincia aps o consumo de cogumelosmgicos ( Psilocybe cubensis) / Jos Arturo Costa Escobar. Recife: OAutor, 2008.

    158 folhas : il., fig., tab.

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. CFCH.Psicologia, 2008.

    Inclui: bibliografia e anexos.

    1. Psicologia cognitiva. 2. Estados de conscincia. 3. Psilocybe cogumelo.4. percepo visual. 5. percepo de tempo. I. Ttulo.

    159.9150

    CDU (2. ed.)CDD (22. ed.)

    UFPEBCFCH2008/79

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    Dedico esta Dissertao

    minha filha Hannah Vishnu, meus pais

    e a todos os amigos que cativei nessa vida.

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    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, pela fora que sempre deram, por todo

    carinho e compreenso, pelo apoio, mesmo distantes, posso sentir as vibraes positivas e toda a

    torcida por mim. Minhas buscas por conhecimento e entendimento pelos mistrios da vida vem

    de todo estmulo que me concederam.

    minha esposa, que me deu uma linda filha, vocs iluminam meu viver e so meu ponto de

    partida para tudo o que planejo.

    Aos meus queridos irmos, que assim como eu so vidos por conhecimento. Cada um

    trilhando seus prprios caminhos, mas na certeza de nossa inseparabilidade, mesmo na morte.

    Aos meus sogros, por todo o apoio, e a toda minha famlia, vocs so e foram imprescindveis

    para minha existncia at ento. De todo corao, amo todos vocs.

    Ao amigo, professor, orientador e conselheiro Antonio Roazzi, sem o qual eu no teria como

    desenvolver tal estudo. Sei que nossos caminhos se cruzaram por que assim era pra ser nessa

    nossa experincia singular da vida.

    Ao Alexsandro Nascimento por toda a orientao e apoio cientfico, importante para que eu

    iniciasse o caminho a ser trilhado na psicologia.

    Aos amigos da Psicologia Cognitiva Lysia, Leonardo, Natlia, Karine, Cludia, Tarciana,

    Rafaela, Carol e Daniela, fui muito feliz em poder compartilhar esses momentos com vocs. Aocasal Justi & Justi e ao Beto, pela troca de idias e debates animadssimos.

    s Veras, Elaine, Joo Paulo e ao Alexandre pela ajuda e pelo apoio.

    Aos queridos professores da Psicologia Cognitiva, Luciano, Selma, Alina, Sntria, Bruno,

    Jorge, Graa, Glria e Maninha, aprendi muito com vocs e sei que h muito o que aprender.

    Muito obrigado pela confiana e pela oportunidade.

    Aos amigos todos que fiz na Biologia e que me deram muita fora e luz. minha ex-

    orientadora e amiga Mriam Guarnieri e aos amigos do Laboratrio de Animais Peonhentos e

    Toxinas, Juliana, Lidiane, Jnior, Milena (e Spinelli), Lucas, Ilca e Marliete, meu interesse pela

    cincia parte de toda nossa convivncia como grupo.

    Ao Wagner Lira, vulgo Mago, meu compadre querido. Nosso interesse cientfico pelas plantas

    de poder parte de nossas tantas questes metafsicas, biolgicas, antropolgicas e conceituais

    levantadas em nossas diversas experincias conjuntas.

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    A todos os participantes do estudo pelo empenho e motivao. Sem a doao de vocs seria

    impossvel o desenvolvimento desse projeto.

    Ao professor Rick Strassman pelo apoio e fora no desenvolvimento desse projeto.

    Ayahuasca e ao Santo Daime, que muitas vezes me iluminaram, mesmo que na base da

    pia, para que eu refletisse sobre os caminhos de minha vida.

    Ao cogumelo divino do estrume,Di-shi-tjo-le-rra-ja, ponto principal da presente pesquisa, lhe

    agradeo os conselhos e os ensinamentos.

    Universidade Federal de Pernambuco pela oportunidade e ao CNPq pela concesso da bolsa

    de Mestrado.

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    H um mundo alm de ns, um mundo que muito remoto,

    prximo e invisvel. E l onde Deus vive, onde os mortos vivem,

    os espritos e os santos, um mundo onde tudo j aconteceu e tudo sabido.

    Esse mundo fala. E ele tem uma linguagem que sua.

    Eu relato o que ele diz.

    O cogumelo sagrado me pega pela mo e me leva ao mundo onde tudo sabido.

    E ele, o cogumelo sagrado, que me fala de uma maneira que eu possa entender.

    Eu pergunto a ele e ele me responde.

    Quando eu retorno da viagem que tive com ele, eu falo o que ele me disse

    e o que ele me mostrou.

    Mara Sabina, Xam Mazateca do sculo XX

    L, o olho no alcana,

    Nem a fala, nem a mente.

    No sabemos ou sequer entendemos

    Como poderia ser ensinado.

    Kena Upanishad, 3.

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    RESUMO

    Escobar, J. A. C. Observao e explorao da percepo visual e do tempo em indivduossob o estado ampliado de conscincia aps o consumo de cogumelos mgicos

    (Psilocybe cubensis). 2008. 158 f. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao emPsicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

    Os cogumelos do gnero Psilocybe so utilizados por culturas tradicionais indgenas hmilnios em rituais mgicos devido aos seus efeitos psicoativos e, seu uso ainda perduraentre os descendentes, principalmente na Amrica Central; na Amrica do Sul a utilizaotradicional mais recente desses cogumelos data de 300 anos a.C. No Brasil registrada aocorrncia de diversas espcies desses cogumelos capazes de produzir os compostossecundrios psilocina e psilocibina, potentes psicoativos em pequenas quantidades. Emborano haja registros do uso tradicional de cogumelos em nosso pas, sua utilizao no-

    ritualstica ou recreacional compartilhada por uma grande teia de usurios de diversaslocalidades, passando despercebido pelos censos epidemiolgicos, sendo a prtica de uso daespcie Psilocybe cubensis observada em Recife-Pernambuco. A ingesto de pequenasquantidades desses cogumelos proporciona uma experincia psicodlico-mstica, ondediversas funes mentais encontram-se alteradas e emergentes, percepo visual (de olhosabertos), sonora, tato, linguagem, imaginao criativa (percepo visual de olhos fechados),lgica, etc. O presente estudo visou explorar experimentalmente aspectos bsicos dapercepo visual e a percepo subjetiva de durao do tempo atravs de tarefas simples eobjetivas. Os aspectos gerais da experincia foram acessados atravs de testes psicomtricosem voluntrios humanos saudveis que j haviam ou no feito o uso de substncias

    psicodlicas. Vinte e oito pessoas participaram do estudo mediante a aceitao do Termo deConsentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi conduzida em ambiente no-laboratorial eno formato grupo-pesquisador. A percepo visual motora dos participantes no apresentoudiferenas significativas quando comparados o estado comum com o ampliado de conscinciae quando comparados com o grupo controle. Entretanto, observou-se um dficit significativoda memria de trabalho visual dos participantes aps consumo dos cogumelos. Osparticipantes, sob o efeito dos cogumelos, apresentaram diferenas significativas da perceposubjetiva do tempo em relao aos pr-testes. O tempo subjetivo se tornara mais lento, dessaforma houve uma tendncia ao atraso na contagem correta dos segundos. Os resultados sodiscutidos em termos qualitativos do funcionamento da cognio perceptiva entre os estados

    comum e ampliado de conscincia e quanto s caractersticas psicotomimtica e psicodlicada substncia.

    Palavras-chave: estados de conscincia, Psilocybe, percepo visual, percepo de tempo,

    cognio.

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    ABSTRACT

    Escobar, J. A. C. Observation and exploration of visual and time perception on humansunder amplified states of consciousness by the consumption of magic mushrooms

    (Psilocybe cubensis). 2008. 158 f. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao emPsicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

    The mushrooms of genus Psilocybe were used in Indians traditional culture for thousandyears in magic rituals due its psychoactive effects and its use continue between Indiandescendants, principally on Central America; on South America its more recent use date for300 years b.C. In Brazil occurs some species of these mushrooms that produces the secondarycomponents psilocin and psilocybin, high psychoactives in little quantities. Although there isno register of traditional use of magic mushrooms in our country, its not-ritualistic or

    hedonistic use is shared for many users in some localities, ignored by the epidemiologicalcensus and its use practices were observed in Recife-Pernambuco with the specie Psilocybecubensis. The ingestion of little quantities of these mushrooms causes a mystic-psychedelicexperience which some mental functions are altered like visual perception (with opened eyes),auditory, touch, language, creative imagination (visual perception with closed eyes), logic,etc. The way of the present study was to explore experimentally basic aspects of visualperception and subjective perception of time duration through the application of simple andobjective tasks, and general aspects of the experience through the application of psychometrictests in healthy humans volunteers that makes or not the use of psychedelic substances.Twenty and eight people participate of the research by the acceptance of the informed

    consent. The study was conducted in non-laboratorial set and in the format group-researcher.The motor visual perception of the participants did not presented significant differences whencompared the ordinary and amplified states of consciousness and compared to group control.Nevertheless, were observed a significant deficit on visual working memory of theparticipants after the consumption of the mushrooms. The participants under the mushroomseffects presented significant differences of the time subjective perception in relation to pre-tests. The subjective time became slower, showed by the retard in the correct counting ofthe seconds. The results are discussed in qualitative terms of the cognitive perception betweenordinary and amplified states of consciousness as by psychotomimetic and psychedeliccharacteristics of this substance.

    Key-words: states of consciousness, Psilocybe, visual perception, time perception, cognition.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Cogumelo coprfilo da espcie Psilocybe cubensis (Earle) Singer... 5

    Figura 2.Loops de retro-alimentao do modelo CSTC... 13

    Figura 3. Viso de Amaringo (n 42, Luna & Amaringo, 1993)... 17

    Figura 4. Deuses cogumelos de pedra... 23

    Figura 5. Cogumelos da espcie Psilocybe cubensis... 66

    Figura 6. Tarefa de bi-seco manual de linhas... 69

    Figura 7. Carto de memorizao... 70

    Figura 8. Exemplos da tarefa de percepo visual motora (MVPT-V)... 71

    Figura 9. Mdias dos escores nas sub-escalas do HRS-test obtidas pelos... 76

    Figura 10. Mdias de sentimentos afetivos subjetivos durante a experincia... 77

    Figura 11. Percepo subjetiva do tempo mensurado antes e aps o consumo... 78

    Figura 12. Evoluo das mdias (mm) dos participantes na tarefa de bi-seco... 80

    Figura 13. Desempenho dos participantes na tarefa de memria de trabalho visual... 83

    Figura 14. a-d,Psilocybe cubensis. a. Basidioma; b. Basdio; c. Basidisporos... 131

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Efeitos fisiolgicos da psilocibina em humanos saudveis... 26

    Tabela 2. Eficcias relatadas dos principais tratamentos para ataques de enxaqueca... 28

    Tabela 3. Percentuais de uso de substncias psicodlicas pelos participantes... 64

    Tabela 4. Categorizao do hbito de consumo de substncias psicodlicas... 64

    Tabela 5. Mdias ordenadas nas seis sub-escalas do HRS-test... 75

    Tabela 6. Mdias e desvios padro obtidas na tarefa de percepo do tempo... 78

    Tabela 7. Mdias e desvios padro obtidos pelos participantes na tarefa de bi-seco... 80

    Tabela 8. Diferenas e significncias encontradas entre a varivel Tipo de Dica... 81

    Tabela 9. Relaes de igualdade entre as mdias na tarefa de bi-seco... 82

    Tabela 10. Mdias de erros apresentadas nos diferentes tipos de funes visuais... 84

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    SUMRIO

    Resumo i

    Abstract ii

    Lista de Figuras iii

    Lista de Tabelas iv

    1. Prefcio 12. Introduo 4

    2.1.Histrico das Substncias Psicodlicas 62.2.Estudos Atuais com Substncias Psicodlicas 10

    2.2.1. Bases Neuroqumicas 102.2.2. Bases Psicolgicas e Psicoteraputicas 14

    2.3.Os Cogumelos Mgicos e a Psilocibina 212.3.1. Breve Histrico 212.3.2. Estudos Clnicos 242.3.3. Estudos Psicolgicos, Neuropsicolgicos e Psiquitricos 28

    2.4.O Fenmeno da Mente e da Conscincia Humana 382.5.Percepo Sensorial 47

    2.5.1. A Percepo Visual 472.5.2. A Percepo do Tempo 52

    3. Objetivos 593.1.Geral 603.2.Especficos 60

    4. Mtodo 614.1.Participantes 624.2.Material 654.3.Testes e Tarefas Experimentais 67

    4.3.1.

    Escala de Avaliao Alucinognica (HRS-test) 674.3.2. Tarefa de Percepo Subjetiva do Tempo 684.3.3. Tarefa de Bi-seco Manual de Linhas 684.3.4. Tarefa de Memria de Trabalho Visual 694.3.5. Tarefa de Percepo Visual Motora 70

    4.4.Delineamento Experimental 72

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    5. Resultados 745.1.Efeitos Subjetivos Agudos 755.2.Tarefa de Percepo Subjetiva do Tempo 775.3.Tarefa de Bi-seco Manual de Linhas 795.4.Tarefa de Memria de Trabalho Visual 825.5.Tarefa de Percepo Visual Motora 84

    6. Discusso 867. Concluso 106

    7.1.Perspectivas de Pesquisas Futuras 1098. Referncias 1109. Anexos 126

    Anexo 1 127

    Anexo 2 128Anexo 3 130

    Anexo 4 131

    Anexo 5 132

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    1. Prefcio

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    As substncias psicodlicas tm sido estudadas h pouco mais de um sculo, desde que a

    cincia ocidental descobriu os seus usos entre as culturas tradicionais. A partir desse perodo at

    nossos tempos de cincia contempornea, diversos estudos foram realizados em campos

    diferentes de acordo com as dcadas e com os interesses envolvidos no estudo dessas substncias.

    Aps um perodo de quase extino como linha de pesquisa, o retorno ao interesse envolvido

    com o intrigante fenmeno proporcionado pelos psicodlicos ocorre no final do sculo XX

    (dcada de 90) e continua seu reflorescimento em pleno sculo XXI.

    Apesar dos milhares de estudos desenvolvidos at ento, pouco se sabe e menos ainda

    desenvolvido no Brasil, pas que possui grande biodiversidade dessas substncias e variabilidades

    em suas formas de uso social. A cultura de uso de psicodlicos no Brasil e na Amrica em geral

    atrai os interesses de diversos grupos de pesquisas interessados nesse fenmeno, que tm gerado

    debates amplos nos campos da neurocincia, da cincia cognitiva e das cincias sociais,

    principalmente da antropologia e etnologia.

    As linhas de pesquisas que envolvem os estudos dessas substncias no Brasil so praticamente

    inexistentes, e muitas vezes encontram-se limitadas s cincias sociais e s cincias mdicas.

    Assim, devido s limitaes desses estudos nacionalmente foi buscado apresentar ao leitor o que

    houve de mais importante nos estudos desenvolvidos com psicodlicos na literatura e os modos

    de investigao contemporneos com essas substncias.

    A presente dissertao buscou apresentar primeiramente uma reviso condizente aos estudos

    gerais j realizados com as diversas substncias psicodlicas, onde foram includas as atuais

    linhas de pesquisa mais importantes, desenvolvida a partir do ltimo grande momento do estudo

    com tais substncias ainda no sculo XX (dcadas de 50 e 60).

    Apresentam-se tambm os diversos estudos desenvolvidos com os cogumelos do gnero

    Psilocybe e de seu princpio ativo mais importante, a psilocibina. Essa parte da reviso buscou

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    posicionar historicamente o interesse cientfico pelos cogumelos mgicos, bem como

    apresentar os diversos estudos acerca de seus efeitos clnicos e investigaes dos diversos

    fenmenos mentais envolvidos com o uso desse psicodlico.

    Embora o presente estudo no tenha se focado para a conscincia propriamente dita, buscou-se

    explorar aspectos bsicos da cognio humana, como a percepo visual e a percepo subjetiva

    do tempo, que so de qualquer maneira mediadas pelo processo consciente.

    Sendo o efeito mais importante dos cogumelos mgicos e dos psicodlicos em geral sua

    ao sobre a conscincia e em seus diversos processos e funes, apresenta-se uma breve reviso

    dos conceitos envolvidos no estudo da conscincia e em seguida acerca do atual conhecimento da

    percepo sensorial humana, em particular a viso e a percepo de tempo.

    Procurou-se explicitar de melhor maneira e o mais simples possvel os objetivos do estudo, o

    mtodo e os resultados, bem como a discusso dos achados, de acordo com as atuais teorias

    envolvidas no tema. As figuras e tabelas, juntamente com os anexos, devem facilitar a

    compreenso do que foi esboado e discutido na presente dissertao. Tambm foram tomados

    maiores cuidados de modo a tornar a leitura fcil e o mais didtica possvel.

    A importncia do desenvolvimento do presente estudo, juntamente com a reviso

    bibliogrfica, reside no crescente interesse cientfico que se apresenta no pas com a investigao

    das mais diversas substncias psicodlicas nos mais diferentes mbitos. Tambm se apresenta

    como um modo de divulgao do referido campo e de sua heterogeneidade, bem como uma

    forma de contribuir para um maior entendimento no estudo dessas substncias pela cincia

    contempornea.

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    2. Introduo

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    Figura 1. Cogumelo coprfilo da espcie Psilocybe cubensis (Earle) Singer(Agaricomycetideae), Recife-PE, 2007. (Foto: Jos Arturo C. Escobar).

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    2.1. Histrico do Estudo das Substncias Psicodlicas

    A prtica humana de promover estados alterados, incomuns ou ampliados de conscincia

    induzidos por substncias psicoativas bastante antiga, pr-data a histria escrita e atualmente

    empregada em vrias culturas em diversos contextos socioculturais e ritualsticos (Labate, 2004;

    Nichols, 2004; Schultes, Hofmann & Rtsch,2001; Schultes, 1998).

    Diversas substncias psicoativas conhecidas como alucingenas verdadeiras, tais como

    psilocibina, ergotamina, DMT (dimetiltriptamina), mescalina, LSD (dietilamida do cido

    lisrgico), entre outras de mesma natureza qumica podem, de acordo com as diferentesdescries dos seus efeitos serem denominadas de: (i) substncias psicotomimticas (mimetizam

    a psicose), no caso de estudos com o vis psiquitrico e neuropsicofarmacolgico, focados

    principalmente aos aspectos emergentes na experincia semelhantes s psicoses naturais e

    esquizofrenia; (ii) substncias psicodlicas (manifestantes mentais ou aquele que manifesta o

    esprito), no caso de estudos centrados na fenomenologia da experincia com nfase nos

    aspectos positivos; (iii) entegenos (experincias de significado espiritual), no caso de estudos

    centrados na utilizao ritual e religiosa dessas substncias (Nichols, 2004; Gordon-Wasson,

    Hofmann & Puck, 1980; Osmond, 1972; Watts, 1968; Gordon-Wasson, 1963; Metzner, 1963).

    De acordo com a denominao mais utilizada nos artigos e do que ser proposto investigao

    no presente estudo, essa classe de substncias ser tratada como psicodlicos, entretanto, os

    termos psicodlico e alucingeno sero usados de modo indistinto.

    O conhecimento moderno das substncias psicodlicas pela cincia se deu principalmente

    pelas excurses realizadas por Richard Spruce Amrica do Sul ainda no sculo XIX. A partir

    das observaes de Spruce acerca do uso ritual de plantas inebriantes, um interesse crescente

    acerca do fenmeno atrairia diversos antroplogos, mdicos, farmacuticos, bilogos e

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    aventureiros em busca de maiores informaes e contato com tais substncias. O trabalho de

    Spruce no diretamente relacionado ao uso de plantas psicoativas, mas um levantamento

    botnico acerca das espcies vegetais existentes na Amrica do Sul. O modo como o estudo

    expe algumas relaes dos povos locais com as diversas espcies de plantas que foi

    interessante e deu origem disciplina etnobotnica. Foi tambm a partir desse estudo que se

    fundaram as primeiras pesquisas com os alucingenos Ayahuasca (Banisteriopsis caapi) e Yopo

    (Anadenanthera peregrina), que se encontram ainda em progresso (Schultes et al., 2001).

    Diversos relatos pelos exploradores europeus acerca do uso de substncias foram realizados

    nos sculos XV, XVI e XVII, no qual eram condenados por se tratarem de plantas usadas para se

    comunicar com o Diabo. A igreja e sua Inquisio perseguiram a realizao dos cultos e

    condenou morte diversos praticantes e seguidores, o que provavelmente originou as mais

    diversas formas de sincretismos como estratgias de burlar os mecanismos que proibiam tais

    prticas condenadas. Assim, praticamente todos os cultos atuais que se utilizam de substncias

    modificadoras da conscincia apresentam aculturaes que envolvem a prtica do consumo das

    substncias mescladas com os aspectos da cultura crist (Schultes et al., 2001; Schultes, 1963).

    Ao final do sculo XIX, com a crescente tecnologia da qumica e bioqumica e do avano da

    cincia farmacutica, as substncias psicodlicas tiveram sua abertura com as exploraes da

    substncia psicodlica mais utilizada no mundo, o Peyote. Os estudos com a Lophophora

    williamsii foram realizados aps subseqentes estudos de auto-experimentao realizados e

    publicados em peridicos. Entre os principais pesquisadores envolvidos na pesquisa de

    purificao dos alcalides e reviso taxonmica do vegetal estavam Arthur Heffter e Louis

    Lewin, este ltimo publicou uma das mais importantes literaturas sobre substncias psicoativas,

    Phantastica em 1927 (Perrine, 2001; Schultes et al., 2001; Brand, 1967; Schultes, 1963).

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    parte dos estudos com o Peyote, utilizado nos cultos da centenriaNative American Church,

    e com a intensificao das excurses Amrica, outras substncias ganharam interesse por serem

    usadas em cultos mgicos como os cogumelos do gnero Psilocybe e o Ololiuqui (Turbina ex-

    Rivea corimbosa eIpomea violaceae). Este ltimo foi bastante estudado pela qumica do sculo

    XX, e foi a partir dessas pesquisas que se sintetizou o LSD-25, a mais potente das substncias

    psicodlicas (Schultes et al., 2001). A partir da descoberta acidental do LSD-25 em 1943, pelo

    Dr. Albert Hofmann, que trabalhava na empresa farmacutica Sandoz (Sua), uma nova gerao

    de estudos com tais substncias se iniciou nos mais diversos campos da medicina (Adaime, no

    prelo; Nichols, 2004; Schultes et al., 2001; Aghajanian & Marek, 1999; Grob, 1998; Gordon-

    Wasson, 1964; Hofmann, 1964).

    Os estudos com os cogumelos Psilocybe tm origem nas dcadas de 30 e 40, principalmente

    devido aos trabalhos exploradores de Roger Heim, Richard Schultes e Gordon-Wasson ao

    Mxico. Logo foram descobertas dezenas de espcies de cogumelos utilizados em rituais mgicos

    por xams, variveis de acordo com a regio e com as etnias indgenas. Atualmente, o Mxico o

    pas com maior diversidade desses cogumelos tanto biolgica quanto de uso enteognico ou

    mgico (Schultes et al., 2001; Folange, 1972; Heim, 1972; Heim & Gordon-Wasson, 1972;

    Gordon-Wasson, 1963; Schultes, 1963; Singer, 1958; Singer & Smith, 1958).

    O conhecimento botnico acerca das plantas alucingenas se expandiu bastante at meados do

    sculo XX, onde milhares de espcies foram catalogadas e algumas estudadas quimicamente com

    o isolamento de seus alcalides (Nichols, 2004; Schultes et al., 2001). Nesse perodo tambm se

    iniciaram os estudos psiquitricos com tais substncias, com nfase nos seus aspectos

    psicotomimticos (Osmond, 1972; Hoffer & Osmond, 1966).

    Com a descoberta do LSD, rapidamente as pesquisas com os alcalides naturais cederam

    espao a essa substncia sinttica, a mais potente dentre todas as outras. E ento, aps o grande

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    problema epidemiolgico do abuso do LSD na dcada de 60 e os diversos fatores polticos

    envolvidos, foram proibidas e finalizadas praticamente todas as pesquisas at o final dos anos 70

    com quaisquer dessas substncias (Nichols, 2004; Grob, 1998; Fort & Metzner, 1969; Metzner,

    1967; Stern, 1966; Unger, 1964; Ling & Buckman, 1964; Metzner, 1963). Somente na dcada de

    90 se reiniciaram seriamente as pesquisas com psicodlicos em humanos, principalmente devido

    aos esforos do Dr. Rick Strassman (University of New Mxico, EUA) e do Dr. Franz

    Vollenweider (Psychiatric University Hospital Zrich, Sua) (Vollenweider, Leenders,

    Scharfetter, Antonini, Maguire, Missimer & Angst, 1997a; Vollenweider, Leenders, Scharfetter,

    Maguire, Stadelman & Angst, 1997b; Vollenweider, 1994; Strassman, Qualls, Uhlenhuth &

    Kellner,1994; Strassman & Qualls, 1994).

    Atualmente as substncias psicodlicas constituem-se de elevado interesse farmacolgico e

    teraputico no tratamento de drogas de abuso, alcoolismo e certas desordens psiquitricas e ainda

    como ferramenta de investigao dos processos mentais. Essa grande importncia reflete-se no

    aumento de estudos presentes na literatura (Carter, Hasler, Pettigrew, Wallis, Guang, Liu &

    Vollenweider, 2007; Santos, Landeira-Fernandez, Strassman, Motta & Cruz, 2007; Anderson,

    2006; Griffiths, Richards, McCann & Jess, 2006; Moreno, Wiegand, Taitano & Delgado, 2006;

    Sewell, Halpern & Pope, 2006; Wittmann, Carter, Harsler, Cahn, Grimberg, Spring, Hell, Flohr

    & Vollenweider, 2007; Carter, Burr, Pettigrew, Wallis, Harsler & Vollenweider, 2005a; Halpern,

    Sherwood, Hudson, Yurgelun-Todd & Pope, 2005; Carter, Pettigrew, Burr, Alais, Harsler &

    Vollenweider, 2004; Harsler, Grimberg, Benz, Huber & Vollenweider, 2004; Labate, 2004;

    McKenna, 2004; Nichols, 2004; Benzon, 2003; Shanon, 2003a; Wiegand, 2003; Riba, 2003;

    Shanon, 2002; Krupitsky, Burakov, Romanov, Grinenko & Strassman, 2001; Callaway,

    McKenna, Grob, Brito, Raymon, Poland, Andrade, Andrade & Mash, 1999; Gouzoulis-

    Mayfrank, Thelen, Habermeyer, Kunert, Kovar, Lindenblatt, Hermle, Spitzer & Sass, 1999;

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    Pomilio, Vitale, Ciprian-Ollivier, Cetkovich-Bakmas, Gmez & Vzquez, 1999; Labigalini,

    1998; Ciprian-Ollivier & Cetkovich-Bakmas, 1997; Vollenweider et al., 1997a, 1997b; Grob,

    McKenna, Callaway, Brito, Neves & Oberlaender, 1996; Spitzer, Thimm, Hermle, Holzmann,

    Kovar, Heimann, Gouzoulys-Mayfrank, Kischka & Schneider, 1996; Strassman, Qualls & Berg,

    1996; Strassman, 1996; Strassman, 1995; Callaway, Airaksinen, McKenna, Brito & Grob,1994;

    Strassman e Qualls, 1994; Strassman et al., 1994; Vollenweider, 1994; Grof, 1987; Grof, 1980).

    2.2. Estudos Atuais com Substncias Psicodlicas

    2.2.1. Bases Neuroqumicas

    A importncia dos estudos dos psicodlicos em humanos reside na sua caracterstica de afetar

    funes cerebrais que constituem a mente humana (cognio, volio, ego e autoconscincia). As

    vrias formas de ego-desordem so caractersticas proeminentes dos psicodlicos e em psicoses

    naturais. Dessa maneira, estudos dos mecanismos neuronais da ao dessas substncias podem

    ser teis na patofisiologia de desordens psiquitricas e seus tratamentos, na biologia da

    conscincia como um todo, na biologia dos processos de estruturao do ego e na compreenso

    das teorias da depresso e esquizofrenia (Vollenweider & Geyer, 2001; Pomilio et al., 1999;

    Vollenweider, 1998; Ciprian-Ollivier & Cetkovich-Bakmas, 1997). A busca de correlatos neurais

    no suficiente para o entendimento das questes envolvidas nas patologias mentais, mas

    representa um espectro importante para o seu entendimento, no devendo ser ignorado e sim

    associado a outros campos de conhecimento (Wilber, 2000; Grof, 1987, 1980).

    As substncias psicodlicas so ainda uma poderosa base experimental para a investigao de

    correlaes biolgicas dos estados alterados de conscincia (Harsler et al., 2004; Dietrich, 2003;

    Shanon, 2002; Vollenweider & Geyer, 2001; Vollenweider, 1998; Vollenweider, 1994), cujo

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    estado psicolgico experienciado profundo e referido popularmente como experincia

    intensa, transcendental ou mstica (Anderson, 2006; Griffiths et al., 2006; Nichols, 2004;

    Shanon, 2001; Doblin, 1991; Richards, Rhead, DiLeo, Yensen & Kurkland, 1977; Watts, 1972;

    Pahnke, 1971; Watts, 1968; Prince & Savage, 1966; Unger, 1964; Leary, 1964; Barnard, 1963).

    Os princpios psicoativos psicodlicos no determinam os seus efeitos per si, mas sim a

    localizao dos receptores de ao dessas substncias, que agem principalmente nos receptores

    serotonrgicos (da serotonina, 5-HT) nos quais as estruturas neurais tm a sua funo alterada

    mediante o desbalanceamento qumico dos neurotransmissores. O crebro humano possui duas

    principais importantes vias de neurotransmissores: a serotonrgica e a dopaminrgica,

    distribudas diferentemente em diversos substratos neuroanatmicos envolvidos na cognio.

    Essas vias servem de base para as hipteses de hipo e hiperfrontalidade dos estados alterados de

    conscincia, relacionadas com a diminuio ou aumento da atividade neural no crtex frontal,

    respectivamente (Nichols, 2004; Vollenweider, 1998).

    A hiptese da hipofrontalidade prope que os estados alterados de conscincia induzidos por

    substncias psicoativas e por outros mtodos (hipnose, meditao, etc.) promovem um

    decrscimo temporal da viabilidade do crtex pr-frontal (CPF), ocorrendo a diminuio da

    atividade neural como consequncia direta da ao primria da substncia ou como consequncia

    secundria (Dietrich, 2003). Essa hiptese relacionada ao de diversas substncias sobre a

    via dopaminrgica como opiceos, nicotina, canabinides, cocana, fenciclidina (PCP),

    anfetaminas, lcool, benzodiazepnicos e barbitricos, mas nunca relatada aos psicodlicos (LSD,

    psilocibina, ketamina, mescalina, bufotenina, DMT, etc.) (Nichols, 2004).

    Dietrich (2003) sugere que os estados alterados de conscincia induzidos por psicoativos

    diminuem a expanso da mente, pois limitam a capacidade mxima da conscincia, evidenciada

    por diminuio da atividade neural.

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    sintomas psicticos se caracterizam por falhas na inibio de atividade mental intrusiva,

    sugerindo que uma deficincia nas funes do filtro talmico leva a uma sobrecarga do crtex

    cerebral, resultando em fragmentao da cognio e elevada absoro de informao sensorial,

    resultando em psicose (Vollenweider & Geyer, 2001; Vollenweider 1998; Vollenweider et al.,

    1997a, 1997b; Vollenweider, 1994).

    Figura 2.Loops de retro-alimentao do modelo CSTC. O loop lmbico cortico-estriado-talmico(CST) est envolvido na memria, aprendizagem e na descriminao do prprio e no prpriopela ligao categorizada cortical da percepo exteroceptiva com estmulos internos do sistemade valores. A funo do filtro do tlamo, sob o controle dos loops de re-entrada/retro-alimentaodo CSTC, postulado para proteo do crtex da sobrecarga de informao sensorialexteroceptiva, bem como da informao interna. O modelo prediz que a sobrecarga sensorial docrtex e a psicose podem resultar de deficincias na entrada talmica, que podem ser causadaspela ketamina atravs do bloqueio da via NMDA-mediada corticoestriada glutamatrgica (Glu)e/ou pelo aumento da neurotransmisso dopaminrgica mesolmbica (DA). A estimulaoexcessiva dos receptores 5-HT2 pela psilocibina pode levar a um desbalano similar deneurotransmisso nos loops CSTC, resultando novamente em uma abertura do filtro talmico,sobrecarga sensorial do crtex e psicose. (Legenda: ventr.str., striatum ventral; ventr.pall.,pallidum ventral; VTA, rea tegmental ventral; SNc, substantia nigra pars compacta; corp.ma,corpus mamillaria; 5-HT, serotonina; Ach, acetilcolina; DR, ncleo da rafe). (figura reproduzidade Vollenweider & Geyer, 2001).

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    H, entretanto, uma outra linha de pesquisadores que consideram os sintomas psicticos e

    outros estados conscientes (por exemplo, devaneios, dj e jamaisv, estados extticos)como

    partes do funcionamento normal e potencial da mente e da conscincia, isto , estados alterados

    de conscincia seriam constitutivos da mente, estados incomuns de conscincia e no estranhos,

    acessados ou habilitados por diferentes vias e motivos, e que permitem uma evoluo no

    estabelecimento e manuteno da conscincia e da personalidade dos indivduos (Labate, 2004;

    Wilber, 2000; Grof, 2000; Grof, 1987; Jung, 1985).

    2.2.2. Bases Psicolgicas e Psicoteraputicas

    O grande divisor de guas dos estudos de substncias psicodlicas que toda a pesquisa

    cientfica est dividida em duas categorias: a das cincias naturais (botnica, etnobotnica,

    farmacologia, bioqumica e fisiologia do crebro) e a das cincias sociais, em particular a

    antropologia. Como notado pelo psiclogo cognitivo Benny Shanon (The Hebrew University),

    nenhuma destas vai ao cerne da questo. Os efeitos promovidos pelos psicodlicos envolvem as

    experincias subjetivas das pessoas, portanto esto mais relacionadas com o funcionamento da

    mente humana do que com o crebro ou a cultura, no entanto, sem desmerecer a importncia

    desses estudos (Shanon, 2003a; Wilber, 2000; Grof, 2000, 1987, 1980, 1970).

    Shanon analisou as vises de usurios da ayahuasca em diversos contextos culturais, religiosos

    ou no, encontrando vises que refletem papis, funes ou padres psicolgicos gerais, mas

    antes de tudo contedos semnticos especficos. A base metodolgica do autor consistiu em

    categorizar os contedos visuais de acordo com os seus sentidos semnticos, construindo uma

    srie de corpora em que se realizou a frequncia de aparies de cada contedo quando

    comparados. Shanon acredita que os contedos experienciados pela Ayahuasca no podem ser

    reduzidos a um fundo comum da experincia humana e s inquietaes da existncia. O autor

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    levanta as seguintes questes: seriam as recorrncias visuais reflexo de repositrios de

    informaes inconscientes distintos daqueles postulados pela literatura psicolgica padro? Ou

    sugerem, talvez, a existncia de outras dimenses da realidade, do tipo platnico, e que no

    dependem da psicologia pessoal do indivduo (Benzon, 2003; Shanon, 2003a, Shanon, 2002)?

    Tais questionamentos foram tambm elaborados por Carl Jung em seus estudos sobre o

    inconsciente na construo de sua teoria psicolgica dos fenmenos mentais para o espiritismo,

    reconheceu 30 anos depois da criao de sua teoria (em 1919) que esta se mostrava ser

    insuficiente para abarcar e explicar todos os fenmenos vivenciados pelos seus pacientes (Jung,

    1986).

    Dentre todos os estudos psicolgicos conduzidos at ento com essas substncias, os nicos de

    cunho cognitivo associados diretamente conscincia so os conduzidos por B. Shanon (2004,

    2003a, 2003b, 2002, 2000, 1998, 1997) e A. Nascimento (em preparao, comunicao pessoal)

    com a substncia Ayahuasca.

    Segundo Shanon, sua perspectiva fenomenolgica-estrutural parte do entendimento da

    conscincia enquanto totalidade da perspectiva humana direta e subjetiva, culminando em uma

    abordagem de se interrogar o fenmeno da conscincia em relao s caractersticas estruturais

    da mesma. O autor tem esboado uma abordagem questo da conscincia promovendo um

    incremento de conhecimento no que tange a tpicos cognitivos como imagens mentais, sonhos,

    atividades mentais dependentes da linguagem, sinestesia, entre outros, no mbito da conscincia

    de viglia (Shanon, 2004, 2003a, 2003b, 2002, 2000, 1998, 1997).

    A perspectiva fenomenolgica-estrutural da conscincia assenta-se em um conjunto definido

    de parmetros e de valores assumidos variadamente, descobertos pela pesquisa com a substncia

    indutora de estados alterados da conscincia a Ayahuasca (cujo princpio ativo a

    dimetiltriptamina - DMT). Os parmetros da conscincia so descritos em dois trabalhos

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    fundamentais de Shanon, o mais antigo propondo uma tipologia mais condensada dos ditos

    parmetros com descrio de apenas 4 deles e o trabalho mais recente com um detalhamento da

    estrutura da experincia consciente a partir da atuao de 8 parmetros fundamentais (Shanon,

    2004, 2003a, 2002).

    A tipologia breve descrevendo a maneira como os seres humanos experienciam seus mundos

    interno e externo repousa no trabalho cognitivo dos parmetros nomeados de (1) Agncia, (2)

    Self, (3) Identidade, e (4) Tempo (Shanon, 2002). Sem negar a tipologia anterior, Shanon (2004,

    2003a) a assume inteiramente em teorizao mais recente e a expande em uma mais detalhada

    descrio, compondo um arcabouo criterioso da estrutura da conscincia com os organizadores

    (1) Mediao, (2) Identidade Pessoal, (3) Unidade, (4) Limites e diferenciaes de estados, (5)

    Individuao do self, (6) Calibrao, (7)Lcus da conscincia e (8) Tempo (maiores detalhes ver

    Shanon 2004, 2003a). Tais categorizaes do estudo de Shanon colocam a cognio em um plano

    muito prprio de investigao, necessitando assim de explicaes inerentes ao campo psicolgico

    e evitando reducionismos normalmente realizados nas neurocincias.

    Os estudos de Shanon apresentam elevado interesse para a psicologia devido aos intrigantes

    achados entre semelhanas de contedos encontrados em suas investigaes com um nmero

    bastante diverso de participantes entrevistados. Entre seus dados encontram-se os corpora

    produzidos a partir de suas prprias experincias em diversos contextos (140 ao total, religiosos

    ou no), de dados coligidos de outras pessoas (178 pessoas) e de dados coligidos da literatura,

    contidos no Livro das Miraes de Alex Polari, na literatura antropolgica e a partir das pinturas

    do xam e artista plstico Pablo Amaringo (Shanon, 2003a; Luna & Amaringo, 1993; Polari,

    1984).

    As pinturas de Amaringo apresentam texturas e coloraes e representam vises

    proporcionadas pela Ayahuasca. Interessantemente, o corpus de vises internas de Amaringo sob

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    o efeito da ayahuasca se assemelhou com o corpus construdo a partir de diversos usurios da

    bebida de diferentes culturas nos mais diferentes contextos (mestios, tradicionais, urbanos no-

    mestios, uso religioso ou hednico) (Figura 3) (Shanon, 2003a; Luna & Amaringo, 1993).

    Figura 3. Viso de Amaringo (n 42, Luna & Amaringo, 1993). As pinturas de Amaringoapresentam contedos que parecem ser compartilhados com bebedores de ayahuasca de diversoscontextos, segundo Shanon.

    O psiquiatra e psicoteraputa Stanislav Grof apresenta a construo de um novo entendimento

    das questes envolvidas no uso das substncias psicodlicas e/ou na habilitao de estados

    incomuns da conscincia. A origem das teorias de Grof se encontra em seus estudos

    investigativos e psicoteraputicos com o uso de LSD em pacientes terminais de cncer nos anos

    70, na Iugoslvia. Suas teorias so ainda pouco aceitas no meio acadmico, mas foram

    responsveis pelo avano da Psicologia Transpessoal. Atravs de uma srie de estudos

    posteriores, suas teorias do nfase a uma viso da mente englobando aspectos pr-pessoais,

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    pessoais e transpessoais, resgatando os conceitos de mente-corpo sob as perspectivas oriental e

    das sociedades tradicionais, no-dualista, contrariando os conceitos de nossa sociedade e cincia

    ocidentais (Grof, 2000; Grof, 1987).

    O modelo proposto por Grof para o entendimento das experincias causadas pelo consumo de

    substncias psicodlicas em muito se assemelha e est baseado nas concepes de conscincia

    apresentados por Ken Wilber. Para Wilber (2000) a conscincia apresenta um amplo espectro

    multifacetado, estudados separadamente e compreendidos de maneira no-integral. Para ele a

    conscincia humana estaria conformacionada em: (i) funes (percepo, desejo, vontade e ao);

    (ii) estruturas (corpo, mente, alma e esprito); (iii) estados, normal (viglia, sonho e sono) e

    alterado (incomum e meditativo); (iv) modos (esttico, moral e cientfico); (v) desenvolvimento

    (abrangendo os espectros que vo do pr-pessoal ao pessoal e ao transpessoal, do subconsciente

    ao consciente e ao superconsciente, do id ao ego e ao esprito) e (vi) aspectos relacional e

    comportamental, que referem-se sua interao mtua com o mundo objetivo, exterior, e com o

    mundo sociocultural dos valores e das percepes compartilhados.

    Tais conformaes da conscincia acima apresentadas derivam dos estudos realizados em

    pocas pr-modernas, modernas e ps-modernas. Consiste em uma integrao de dados e teorias

    desenvolvidas para o estudo e entendimento do humano. A questo central que estes foram

    desenvolvidos em nveis e limites diferentes do espectro da conscincia humana, necessitando de

    integrao e ordenao quanto a especificidade e alcance de cada estudo (Wilber, 2000).

    O sistema de Grof se mostra como uma alternativa aos modelos tradicionais da psiquiatria e

    psicanlise, estritamente personalsticos e biogrficos, fixando novos nveis, mbitos e

    dimenses, que segundo o autor devem ser essencialmente proporcionais totalidade da vida e do

    universo. Didaticamente divide a psique humana em quatro nveis ou dimenses: (i) a barreira

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    sensorial; (ii) o inconsciente individual; (iii) o nvel de nascimento e de morte e (iv) o domnio

    transpessoal (Grof, 1987).

    Segundo Grof, a explorao da psique humana se mostra como uma alternativa promissora no

    tratamento das psicopatologias, e a partir da que reside a importncia psicoteraputica das

    substncias psicodlicas e de outras tcnicas auto-exploradoras, permitindo que o prprio

    paciente mergulhe mais alm em suas memrias e solucione adequadamente os problemas

    atravs da compreenso da existncia do mesmo. Para isso o paciente deve ultrapassar a barreira

    sensorial, que deve ocorrer atravs da estimulao dos rgos sensoriais, e segue-se ativao de

    memrias carregadas de contedo emocional (Grof, 2000, 1987).

    A estimulao da explorao dessas memrias o cerne da questo central do sistema de Grof,

    e a partir desse ponto o paciente pode atingir as memrias perinatais (da vida intra-uterina) e

    experienciar os traumas fsicos sofridos durante esse perodo. Nesse sistema, a importncia do

    nvel perinatal crucial para toda a gama de comportamentos a serem desenvolvidos pelos

    organismos aps o nascimento. Os traumas fsicos sofridos geram emoes residuais e as

    sensaes fsicas, provindas de ameaas sobrevivncia ou integridade fsica do organismo,

    parecem ter um papel significativo no desenvolvimento de vrias formas de psicopatologia, mas

    no ainda reconhecidas pela cincia acadmica (Grof, 1987).

    Segundo o autor, o trabalho experiencial demonstra que traumas envolvendo ameaas vitais

    deixam marcas permanentes no sistema e contribuem significativamente para o desenvolvimento

    de desordens emocionais e psicossomticas. As experincias de traumatismos fsicos srios

    representam ento uma transio natural entre o nvel biogrfico e o setor cujos principais

    constituintes so os fenmenos gmeos de nascimento e morte. Tais fenmenos abrangem a vida

    do indivduo e so, portanto, biogrficos por natureza. medida que se aprofunda o processo de

    auto-explorao experiencial, o elemento da dor emocional e fsica pode alcanar intensidades

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    extraordinrias que normalmente interpretado como o ato de morrer. Nesse nvel as

    experincias so geralmente acompanhadas por dramticas manifestaes fisiolgicas como

    vrios graus de sufocao, pulsao acelerada, palpitaes, nusea, vmitos, oscilao da

    temperatura corporal, erupes espontneas, machucaduras na pele, tremores, contores e outros

    fenmenos impressionantes (Grof, 1987, 1980).

    A profundidade de auto-explorao, a confrontao experiencial com a morte tende a

    entrelaar-se intimamente com vrios fenmenos relacionados ao processo de nascimento. Os

    indivduos que se envolvem em experincias desse tipo no tm apenas a sensao de luta para

    nascer ou dar luz, mas tambm sentem muitas mudanas fisiolgicas associadas, concomitantes

    ao nascimento. Mostra-se bastante profunda e especfica a conexo entre o nascimento biolgico

    e as experincias de morrer e estar nascendo. As experincias de morte-renascimento ocorrem em

    grupos temticos tpicos, suas caractersticas bsicas podem ser logicamente derivadas de certos

    aspectos anatmicos, fisiolgicos e bioqumicos, correspondentes aos estgios de nascimento

    com que se associam. Apesar de sua estrita conexo com o nascimento, o processo perinatal

    creditado por transcender a biologia e apresentar importantes dimenses filosficas e espirituais

    (Grof, 2000, 1987, 1980).

    O pensamento de Grof, atualmente aplicado no campo da Psicologia Transpessoal como

    mtodo psicoteraputico, mostra-se bastante interessante e promissor quanto a um entendimento

    global dos fatores envolvidos na experincia psicodlica e na experincia humana. As questes

    envolvidas mostram-se bastante metafsicas, de difceis discusses no arcabouo da cincia

    contempornea ocidental, como os fatos anedticos de habilidades paranormais observados em

    estudos clnicos conduzidos ao longo dos anos (Grof, 1980; Osmond, 1972; Paul, 1966; Drake,

    1965).

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    O estudo das substncias psicodlicas retorna, aps 20 anos de estagnao, principalmente nas

    disciplinas relacionadas s cincias naturais e psiquiatria. Quanto aos estudos no campo da

    psicologia, ainda se encontram adormecidos e o retorno ao interesse ainda bastante sutil. A

    psicologia cognitiva apresenta uma perspectiva nova e muito apropriada para a investigao do

    fenmeno psicodlico, uma vez que o direcionamento cognitivo da pesquisa oferece um

    mapeamento sistemtico dos efeitos e conceitualizao em termos do conhecimento emprico e

    terico corrente sobre o funcionamento da mente humana.

    Os efeitos mpares produzidos pelos psicodlicos fornecem panoramas para o estudo da mente

    em geral e da conscincia humana em particular. Permitem a explorao de diversos parmetros e

    mecanismos atrelados ao processo consciente, como a percepo sensorial e a autoconscincia,

    enquanto a abordagem cognitiva sob estes fenmenos pode lanar luz sobre questes

    pertencentes a outras disciplinas, como a filosofia e o estudo da cultura.

    2.3. Os Cogumelos Mgicos e a Psilocibina

    2.3.1. Breve Histrico

    Di-shi-tjo-le-rra-ja o nome Mazateca dado ao cogumelo mgico da espcie Psilocybe

    cubensis, que significa o cogumelo divino do estrume, provavelmente o mais cosmopolita dos

    fungos neurotrpicos, isto , com efeitos psicodlicos. Em geral, os cogumelos popularmente

    chamados de mgicos so aqueles cujos princpios ativos so a psilocibina e a psilocina,

    presente nos fungos em todo o mundo nos gneros Psilocybe (116 espcies), Gimnopilus (14

    espcies), Panaeolus (13 espcies), Copelandia (12 espcies), Hypholoma (6 espcies), Pluteus

    (6 espcies), Inocybe (6 espcies), Conocybe (4 espcies), Panaeolina (4 espcies), Gerronema

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    (2 espcies) e Agrocybe, Mycena e Galerina (1 espcie cada) (Wartchow, Carvalho, Sousa &

    Cortez, 2007; Schultes et al., 2001; Guzmn, Allen & Gartz, 2000).

    No Brasil, a psilocibina foi encontrada nos cogumelos do gnero Psilocybe, Inocybe,

    Panaeolus e Pluteus (Guzmn et al., 2000; Stijve & Meijer, 1993), sendo reportado a ocorrncia

    de pelo menos 21 espcies neurotrpicas pertencentes ao gnero Psilocybe em nosso pas

    (Wartchow et al., 2007; Guzmn & Cortez, 2004). O Mxico o pas que apresenta a maior

    diversidade de usos rituais envolvendo diversas espcies, sendo a principal espcie utilizada o

    Teonancatl ou carne de Deus (Psilocybe mexicana) (Wartchow et al., 2007; Castaeda, 2006;

    Schultes et al., 2001; Guzmn et al., 2000; Grob, 1998; Folange, 1972a, 1972b; Heim, 1972;

    Gordon-Wasson, 1963; Schultes, 1963; Singer, 1958).

    No existe qualquer evidncia do emprego cerimonial dos cogumelos mgicos por culturas

    tradicionais na Amrica do Sul, exceto achados arqueolgicos no norte da Colmbia datando de

    300-100 anos a.C., conquanto seu uso ritualstico ainda observado em outras partes do

    continente americano, principalmente Mxico e pases vizinhos. Acredita-se que o ritual com

    cogumelos por povos indgenas no Mxico exista h pelo menos 2.200 a 3000 anos, como

    demonstra a datao de achados arqueolgicos de esculturas de pedra em forma de cogumelos

    (Adaime, no prelo; Berlant, 2005; Schultes et al., 2001; Schultes, 1998; Folange, 1972a, 1972b;

    Heim, 1972). Um estudo recente sugere que o uso de cogumelos mgicos, provavelmente

    Psilocybe cubensis, tambm tenha ocorrido na histria do Egito antigo, utilizado ritualmente e

    descrito no Livro Egpcio dos Mortos (Berlant, 2005).

    Embora haja registros de apreenso policial para o LSD, proibido desde 1965 nos EUA, no

    h dados epidemiolgicos na literatura acerca do uso de cogumelos ou outros psicodlicos no

    Brasil (Galdurz, Noto, Nappo & Carlini, 2004; Noto, 1999; Galdurz, Figlie & Carlini, 1994). A

    utilizao contempornea de cogumelos, na Amrica do Sul e em diversas localidades do mundo,

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    ocorre em sua maioria de maneira recreacional ou hedonstica, devido facilidade de comrcio

    pela internet, inexistncia de legislao reguladora (no caso do Brasil) e pela facilidade de serem

    encontrados em condies naturais.

    O interesse dos cogumelos pela cincia aconteceu no incio do sculo XX, quando o gegrafo

    alemo Carl Sapper descreveu em 1898 esculturas de pedra com formas de cogumelos (Figura 4),

    por ele interpretadas como representaes flicas, mais tarde evidenciadas por se tratarem dos

    cogumelos que h muito eram utilizados em rituais mgicos. O nico conhecimento acerca do

    uso ritual de cogumelos consistia nas descries de um guia de missionrios de 1656 contra as

    idolatrias indgenas, incluindo a ingesto de cogumelos e recomendando sua extirpao (Schultes

    et al., 2001; Schultes, 1998). Outros documentos antigos que parecem citar o uso de cogumelos

    na antiguidade so o Rig Veda (ndia) e o The Westcar Papyrus (Egito), tambm havendo

    possibilidade de os gregos terem utilizado (Berlant, 2005; Gordon-Wasson et al., 1980; Gordon-

    Wasson, 1968).

    Figura 4. Deuses cogumelos de pedra. (A) Cogumelo de pedra Maya de El Salvador, perodoformativo em anos de 300 a.C. 200 d.C. Altura de 33,5 cm. (Retirada de Schultes et al., 2001).(B) Cogumelos de pedra encontrados na Guatemala, datao em anos de 1000 a.C. 500 d.C.(Retirada de www.botany.hawaii.edu).

    A B

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    Apesar das evidncias de que cogumelos psicoativos pudessem ter sido usados em rituais

    religiosos indgenas, somente a partir da dcada de 40 em diante do sc. XX que se

    intensificaram a realizao de estudos taxonmicos, qumicos, etnobotnicos e etnomicolgicos

    (Schultes et al., 2001; Guzmn et al., 2000; Schultes, 1998; Gordon-Wasson et al., 1980;

    Folange, 1972a, 1972b; Heim, 1972; Gordon-Wasson, 1968; Gordon-Wasson, 1963; Schultes,

    1963; Singer, 1958; Singer, Stein, Ames, & Smith, 1958; Singer & Smith, 1958).

    A maioria dos estudos com esses tipos de cogumelos aprofundou o entendimento de suas

    relaes etnomicolgicas e taxonmicas, enquanto estudos exploratrios em relao aos efeitos

    psquicos e orgnicos foram escassamente desenvolvidos, devido provavelmente ao interesse da

    cincia s investigaes nessa rea com o LSD, descoberto em 1943 (Nichols, 2004; Grof, 1987,

    1980; Hollister, 1961; Isbell, 1959; Singer et al., 1958). Somente a partir da dcada de 90 que

    foram reiniciadas as investigaes com a psilocibina nas reas da Sade.

    2.3.2. Estudos Clnicos

    Os efeitos induzidos pelo consumo de cogumelos do gnero Psilocybe devem-se presena

    dos princpios ativos psilocibina e psilocina, de naturezas qumicas semelhantes ao

    neurotransmissor serotonina (5-HT, 5-hidroxitriptamina), que exerce considerada influncia

    sobre o ato de despertar, percepo sensorial, emoo e importantes funes cognitivas

    (Shepherd, 1994a). A ao fisiolgica da psilocibina em humanos deve-se sua ligao primria

    aos receptores serotonrgicos cerebrais de maneira agonista, promovendo maior absoro de

    serotonina na fenda sinptica, sendo o receptor 5-HT2A o de maior afinidade. Esses efeitos se

    caracterizam por alterao dos processos cognitivos, sendo considerados fisiologicamente

    seguros e no produzindo dependncia ou vcio (Nichols, 2004; Schreiber, Brocco, Audinot,

    Gobert, Veiga & Millan, 1995; Peroutka, 1994; McKenna & Peroutka, 1989; Osmond, 1972).

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    Diversos estudos recentes com a psilocibina, princpio ativo isolado dos cogumelos mgicos

    do gnero Psilocybe, foram realizados at o momento. Os mais importantes provm do grupo de

    pesquisas coordenado pelo Dr. Franz Vollenweider, no qual j se realizaram estudos clnicos e

    neuropsicolgicos, com interesses de encontrar bases neurobiolgicas associados aos efeitos

    proporcionados pela substncia (Carter et al., 2007; Wittmann et al., 2007; Carter et al., 2005a,

    2004; Harsler et al., 2004; Vollenweider & Geyer, 2001; Vollenweider, 1998; Vollenweider et

    al., 1997a; Vollenweider, 1994).

    Estudos clnicos conduzidos com a psilocibina demonstraram a ocorrncia de uma pequena

    elevao da presso sangunea e da temperatura do corpo (Gouzoulis-Mayfrank et al., 1999;

    Isbell, 1959). Esses dados se assemelham com aqueles encontrados com a substncia psicodlica

    Ayahuasca ou a DMT (Callaway et al., 1999; Strassman et al., 1996; Strassman & Qualls, 1994;

    Strassman et al., 1994). Entretanto, diferentemente com o que acontece com essas ltimas

    substncias, a psilocibina no causou alteraes significativas nos nveis plasmticos de

    hormnios como cortisol, prolactina e ACTH (adrenocorticotrofina) (Gouzoulis-Mayfrank et al.,

    1999), nem foram observadas alteraes significantes em parmetros do hemograma como

    colesterol, fosfatase alcalina, colinesterase e aspartatamino-transferase (Hollister, 1961).

    Em estudos mais recentes, Harsler et al. (2004) mensuraram efeitos agudos psicolgicos e

    fisiolgicos aps a administrao de psilocibina em humanos, utilizando-se de quatro dosagens

    (muito baixa, baixa, mdia e forte) (Tabela 1). Os objetivos eram explorar as relaes potenciais

    dose-dependente da administrao de psilocibina em humanos, cruzando diversos parmetros

    neuropsicolgicos e fisiolgicos, bem como estimar a segurana e possveis riscos associados

    com o uso dessa substncia. Foi observado que a psilocibina no promoveu, independentemente

    da dose, quaisquer alteraes significantes no eletrocardiograma. Alteraes da presso

    sangunea so significantes somente na dosagem forte, onde atingem um mximo de 150/90

    mmHg

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    mmHg, semelhantemente ao que acontece com a DMT presente na Ayahuasca (Callaway et al.,

    1999; Strassman et al., 1996; Strassman & Qualls, 1994; Strassman et al., 1994).

    Acessos a diversos nveis plasmticos de hormnios (ACTH, prolactina, cortisol e TSH hormnio estimulante da tireide) demonstraram alteraes significantes em todos aps 105 min

    da administrao da psilocibina, que retornam aos seus nveis normais aps 300 min (Harsler et

    al., 2004). Esses resultados se mostraram significantes, ao contrrio do que foi encontrado no

    estudo de Gouzoulis-Mayfrank et al. (1999), mas esto de acordo com os encontrados com a

    Ayahuasca e DMT (Callaway et al., 1999; Strassman et al., 1996; Strassman & Qualls, 1994;

    Strassman et al., 1994).

    Anlises de parmetros do hemograma (sdio, potssio, cloro, uria, creatinina, lactato

    desidrogenase, -glutamiltransferase, alaninamino-transferase, aspartatamino-transferase e

    fosfatase alcalina) no apresentaram alteraes significantes, exceto para as duas enzimas do

    fgado, -glutamiltransferase e aspartatamino-transferase, significantes somente na dosagem

    forte, o que est parcialmente de acordo com os achados de Hollister (Harsler et al., 2004;

    Hollister, 1961).

    Um outro estudo clnico-epidemiolgico curioso envolvendo a psilocibina foi conduzido na

    Universidade de Harvard. Neste a psilocibina no foi administrada, mas iniciou-se uma larga

    pesquisa de localizao de indivduos enxaquecosos que utilizaram psilocibina ou LSD, em doses

    sub-alucinognicas ou no, para o tratamento de enxaquecas. Dados importantes foram

    encontrados quando se observou que a eficcia dessas substncias psicodlicas era maior do que

    as atuais formas de tratamento de enxaquecas (Tabela 2). Esse estudo est sendo aprofundado

    pelos autores, que no momento esto a selecionar voluntrios para o desenvolvimento de um

    estudo sistemtico (Sewell et al., 2006).

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    No encontramos outros trabalhos envolvendo pesquisas clnicas em seres humanos com a

    psilocibina, no entanto, os que at ento foram desenvolvidos demonstram a segurana orgnica

    dos sujeitos humanos expostos ao da psilocibina, bem como da segurana da administrao

    de outras substncias anlogas, alm de suas potencialidades biomdicas (Harsler et al., 2004;

    McKeena, 2004; Nichols, 2004; Gouzoulis-Mayfrank et al., 1999; Vollenweider, 1998; Hollister,

    1961; Isbell, 1959).

    Tabela 2. Eficcias relatadas dos principais tratamentos para ataques de enxaqueca, perodos deenxaqueca e extenso de remisso*, de acordo com Sewell et al. (2006).

    Medicao Totaln

    Efetivon (%)

    Parcialmente

    efetivon (%)

    Inefetivon (%)

    Tratamento AgudoOxignio 47 24 (52) 19 (40) 4 (9)Triptanos 45 33 (73) 8 (18) 4 (9)Psilocibina 26 22 (85) 0 (0) 4 (15)LSD 2 1 (50) 0 (0) 1 (50)

    ProfilticoPropanolol 22 0 (0) 2 (9) 20 (91)Ltio 20 1 (5) 8 (40) 11 (55)Amitriptilina 25 0 (0) 4 (16) 21 (84)Verapamil 38 2 (5) 22 (58) 14 (37)Predinisona 36 15 (45) 5 (14) 15 (42)Psilocibina 48 25 (52) 18 (37) 3 (6)LSD 8 7 (88) 0 (0) 1 (12)

    Extenso de remissoPsilocibina 22 (31)** 20 (91) NA 2 (9)LSD 5 (7)** 4 (80) NA 1 (20)

    * Extenso de remisso referente ao prolongamento dos perodos entre um ataque de enxaqueca e outro, naquelesque portam enxaqueca episdica. Tais intervalos no so aplicveis aos enxaquecosos crnicos.** Nove indivduos adicionais tomaram psilocibina e dois adicionais tomaram LSD propositalmente para a extensoda remisso, mas no devido a outro perodo de enxaqueca no momento da avaliao; assim, para estes, a eficciano pde ser calculada.

    2.3.3. Estudos Psicolgicos, Neuropsicolgicos e Psiquitricos

    A maioria dos estudos conduzidos com substncias psicodlicas, em qualquer linha de

    pesquisa no sculo passado, so mais referenciais para o LSD. Isso se deve s caractersticas de

    ao dessa substncia, a mais potente de todas, com uma experincia de cerca de 10-14 h de

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    durao. No entanto, pode-se dizer que a psilocibina a segunda mais estudada, em termos de

    pesquisa psicofarmacolgica (Nichols, 2004).

    Os primeiros interesses pelos efeitos psquicos causados pelos cogumelos partiram de

    etnomicologistas, taxonomistas, etnobotnicos, antroplogos e psiquiatras. Diversos desses

    pesquisadores realizaram auto-experimentaes e entrevistas com xams com o intuito de

    descrever o fenmeno mental provocado atravs da ingesto dos cogumelos (Castaeda, 2006;

    Schultes et al., 2001; McKenna, 1992; Folange, 1972a, 1972b; Heim, 1972; Osmond, 1972;

    Gordon-Wasson, 1968; Watts, 1968; Paul, 1966; Swain, 1963; Watts, 1963; Singer et al., 1958).

    Os debates gerados pela importncia e compreenso dos efeitos mentais dos cogumelos

    mgicos (Schultes et al., 2001; Osmond, 1972; Watts, 1968; Hoffer & Osmond, 1966; Huxley,

    1954) levaram cincia contempornea a busca de correlatos neurais, com o intuito de

    desenvolvimento de uma teoria neuroqumica de compreenso dos estados de conscincia

    (Vollenweider & Geyer, 2001; Vollenweider, 1998).

    Estudos recentes com Tomografia por Emisso de Psitrons (PET Positron Emission

    Tomography) demonstraram que a psilocibina promove uma hiperfrontalidade, ou seja, h

    aumento de ativao neuronal no crtex pr-frontal e diversas mudanas metablicas em regies

    especficas do crebro, principalmente aquelas ligadas neurotransmisso de serotonina. Desse

    grupo de estudos parte um novo modelo de funcionamento cerebral de modo a lidar com os

    diversos estados alterados de conscincia (psicoses, depresses, esquizofrenia e a experincia

    psicodlica). Esse modelo prev que os estados psicodlicos se devem ao de psilocibina nos

    sistemas responsveis pelo processamento e filtragem de informao sensorial, causando uma

    maior intruso de informaes no sistema e consequente hiperativao do CPF (crtex pr-

    frontal). O modelo ainda incorpora teorias cujos estados de conscincia sejam causados por

    desbalanceamento em outras vias de neurotransmissores. Estudos dos mecanismos neurais com

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    psicodlicos podem prover no somente novos insights sob a patofisiologia de transtornos

    psiquitricos e seus tratamentos, mas tambm na biologia da conscincia como um todo, por

    exemplo, na biologia dos processos de estruturao do ego (Vollenweider & Geyer, 2001;

    Vollenweider, 1998; Vollenweider et al., 1997a, 1997b).

    Outros estudos neuropsicofarmacolgicos foram conduzidos recentemente, atravs do

    emprego de metodologias neuropsicolgicas, psicofsicas e psicomtricas, demonstrando

    correlaes de desenvolvimento de tarefas cognitivas (memria, percepo visual, ateno e

    percepo de tempo) com regies cerebrais especficas, principalmente envolvidas com os

    receptores serotonrgicos 1A e 2A (Carter et al., 2007; Wittmann et al., 2007; Carter et al.,

    2005a, 2004).

    Carter et al. (2004) analisaram o efeito da psilocibina sobre a percepo de deslocamento,

    isto , a habilidade de ao do psicodlico de induzir iluses de deslocamento em objetos

    estticos ou superfcies texturizadas. Foiobservado que a psilocibina seletivamente via receptor

    5-HT1A/2A promove disfunes do deslocamento global, mas no o processamento do

    deslocamento local. A experincia visual subjetiva com o uso dessa substncia psicodlica se

    estabeleceu como uma percepo das superfcies de modo pulsante em profundidade e/ou

    adquirindo uma textura constituda de padres dinmicos intricados, mas a organizao espacial

    dos objetos e arredores permaneceu relativamente estvel.

    Carter et al. (2004) tambm analisaram os efeitos da psilocibina em relao sensitividade

    do olho ao contraste no encontrando diferenas significativas, indicando que a experincia

    visual sob efeito dessa substncia no est relacionada mudana de reflexos ao nvel da retina

    ou na transferncia de informao da retina atravs do ncleo geniculado lateral ao crtex visual

    primrio. Esses achados levam a concluso de que a percepo de deslocamento experienciada

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    pelo consumo da psilocibina regulada de algum modo pelos receptores 5-HT1A/2A presentes em

    reas visuais do crebro humano.

    A regulao fisiolgica da ateno pelos receptores 5-HT1A/2A e pela atividade do crtex

    frontal tem sido demonstrada em estudos com fMRI (ressonncia magntica funcional) (Culham,

    Cavanagh & Kanwisher, 2001). Estudos de Carter et al. (2005a) com a psilocibina demonstraram

    a reduo de ateno na habilidade de rastreamento de objetos, no entanto no alterou a memria

    de trabalho espacial. Assim, sugerida a existncia de independncia entre a ateno e a memria

    de trabalho, normalmente atribudas por se tratarem de mecanismos funcionalmente dependentes,

    ou mesmo que a co-dependncia desses processos seja mais limitada do que sugere a literatura

    atual (Carter et al., 2005a). Tal independncia desses dois processos sugerida e discutida na

    reviso da literatura neurocognitiva de Tassi &Muzet (2001).

    Resultados semelhantes aos de Carter et al. (2005a) sobre os mecanismos da memria de

    trabalho espacial foram encontrados por Wittmann et al. (2007). Recentemente, Carter et al.

    (2007) demonstrou a influncia do receptor 5-HT2A e a ligao dos mecanismos de ateno e os

    nveis subjetivos de despertar na taxa de interrupo da rivalidade binocular com o uso da

    psilocibina. Foram observados a diminuio nas taxa de interrupo da rivalidade binocular e um

    aumento na transio e confuso da experincia perceptual. Interessantemente, tambm se

    observa mudanas significativas na rivalidade perceptual em monges tibetanos budistas aps

    sesses de meditao (Carter, Presti, Callistemon, Ungerer, Liu & Pettigrew, 2005b), sugerindo

    certa aproximao qualitativa dos estados psicodlicos com estados meditativos, j apontada por

    outros autores (Griffiths et al., 2006;Grof, 2000, 1980, 1987; Leary, 1964).

    Acessos das alteraes da psilocibina nos mecanismos perceptuais subjetivos do tempo

    tambm foram realizados. Foi encontrado que a psilocibina promove decrscimos na habilidade

    dos participantes em reproduzir corretamente a durao de intervalos sonoros mais longos que

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    2,5 segundos, em sincronizar intervalos entre batidas mais longos que 2 segundos, alm de

    demonstrar uma preferncia individual dos participantes em criar intervalos sonoros mais lentos

    aps o consumo da substncia. Tais distrbios no senso de tempo foram acompanhados por

    deficincias na memria de trabalho e mudanas subjetivas nos estados de conscincia como os

    fenmenos de despersonalizao e desrealizao. Os achados sugerem que o sistema

    serotonrgico est seletivamente envolvido na durao do processamento de informaes de

    intervalos mais longos que 2 a 3 segundos e no controle involuntrio da velocidade de

    movimento(Wittmann et al., 2007).

    Tambm foram conduzidos estudos com relao aos efeitos da psilocibina sobre a linguagem de

    sujeitos normais. Spitzer et al. (1996) administraram a tarefa de reconhecimento de palavras em

    sujeitos sob o estado de conscincia alterado pela psilocibina. Essa tarefa busca encontrar

    relaes no priming semntico, que consiste em relacionar pares de palavras em relao ao

    lxico, por exemplo, preto e branco (diretamente relacionadas), doce e limo (indiretamente

    relacionadas) ou nuvem e queijo (no relacionadas). Foi encontrado um aumento da realizao de

    priming semntico com palavras direta e indiretamente relacionadas nos participantes em relao

    ao placebo. Tambm se verificou um aumento no tempo de reao, isto , no tempo de associao

    dos pares de palavras, que pode ser explicado pela ao da psilocibina em promover o atraso na

    durao subjetiva do tempo, como mostram os resultados do estudo de Wittmann et al. (2007).

    Elevados ndices do priming semntico indireto tambm so observados em pacientes

    esquizofrnicos, contudo a diferena do estado psicodlico com este ltimo o aumento em

    ambas as condies depriming (direto e indireto) (Salom, Boyer & Fayol, 2001; Spitzer et al.,

    1996).

    Segundo Spitzer et al. (1996), o aumento no priming semntico indireto acontece, pois a

    psilocibina via modificao do funcionamento mental, leva a um aumento da avaliabilidade de

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    associaes remotas que podem trazer tona contedos cognitivos normalmente desativados sob

    condies normais. O decrscimo geral do desempenho (tempo de reao) sugere que o aumento

    dopriming semntico indireto ocorre devido a um decrscimo da capacidade em usar informao

    contextual para o foco do processamento semntico. Dessa forma, a experincia subjetiva pode

    refletir-se como um aumento da criatividade bem como de ampliao do funcionamento da

    conscincia, no entanto, ocorrendo um decrscimo paralelo no desempenho em medidas

    objetivas. sugerido pelos pesquisadores que as substncias psicodlicas podem de fato ampliar

    a conscincia tornando associaes mentais remotas mais acessveis (Salom et al., 2001;

    Baggot, 1996-97; Spitzer et al., 1996).

    Podemos sugerir com os resultados de Spitzer et al. (1996) a possibilidade de abertura

    cognitiva a contedos inconscientes, como sugere o estudo de Hoffmann, Hesselink, Barbosa &

    Yatra-W. (2001) realizados com o psicodlico Ayahuasca. Neste foram realizadas leituras

    eletroencefalogrficas (EEG) de sujeitos sob o estado ampliado de conscincia pela Ayahuasca,

    encontrando aumentos significantes das ondas cerebrais Alpha [relacionada com a conscincia

    desperta (awareness)] e ondas Theta (relacionadas com estados inconscientes sonhos,

    sentimentos, transe). Segundo os autores os resultados evidenciam a particularidade da ayahuasca

    em permitir aos indivduos a conscientizao de contedos que agem sob a esfera do

    inconsciente. A possibilidade de resultados parecidos para a psilocibina e substncias anlogas

    podem ser sugeridos visto a semelhana de efeitos subjetivos e ao neuroqumica dos diversos

    psicodlicos (Nichols, 2004).

    Os estudos em busca de correlaes neurais da experincia psicodlica so conduzidos de

    forma a estabelecer relaes comuns entre todos os estados de conscincia possveis. Quando se

    buscam correlaes e comparaes dos estados psicodlicos com os estados psicticos ou

    esquizofrnicos, a substncia est sendo empregada sob o ponto de vista psicotomimtico (que

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    de induzirem tal experincia (Doblin, 1991; Osmond, 1972; Pahnke, 1971; Pahnke, 1969; Leary,

    1964; Leary et al., 1963). O estudo de Griffiths et al. (2006) busca solucionar problemas

    metodolgicos dos achados do mais relevante estudo nessa rea conduzido na dcada de 60 pelo

    Dr. Walter Pahnke, sob orientao do Dr. Timothy Leary, que apresenta resultados positivos

    mesmo acessados 25 anos aps o experimento (Doblin, 1991; Pahnke, 1963).

    A importncia do aspecto das substncias psicodlicas como a psilocibina (ou cogumelos

    mgicos) em induzirem estados meditativos, msticos e de elevada significncia pessoal e

    espiritual apontam perspectivas muito nicas para o tratamento de desordens mentais e

    dependncias psquicas (Griffiths et al., 2006; Moreno et al., 2006; Labigalini, 1998; Doblin,

    1991; Grof, 1987, 1980; Pahnke, 1963).

    O estudo recentemente publicado de Moreno et al. (2006) buscou observar a segurana,

    tolerabilidade e eficcia da psilocibina no tratamento de pacientes com TOC (Transtorno

    Obsessivo Compulsivo). A administrao de psilocibina se mostrou segura e bem tolerada nos

    voluntrios, sendo observada uma reduo significante dos sintomas agudos do TOC

    demonstrado pela Escala Obsessiva Compulsiva de Yale-Brown (YBOCS). Os autores sugerem

    que a ingesto de psilocibina e substncias similares podem facilitar os sujeitos a experienciar um

    estado de conscincia que podem lev-los ao desenvolvimento de poderosos insights e

    resoluo de profundas questes existenciais e espirituais (Moreno et al., 2006; Wiegand, 2003).

    Mais uma vez se apresenta a importncia de substncias psicodlicas como a psilocibina e a

    Ayahuasca em promover associaes mentais remotas e/ou acessos ao inconsciente, que

    permitem os sujeitos a resolverem/refletirem questes pessoais podendo levar s suas resolues

    ou maior conscientizao do problema suscitando em cura ou menores prejuzos, como sugerem

    abordagens psicoteraputicas com tais substncias (Anderson, 2006; Moreno et al., 2006;Grof,

    1987, 1980).

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    Embora os psicodlicos no causem dependncia qumica ou psicolgica, a literatura

    apresenta casos clnicos do que so chamados flashbacks (ou seja, o retorno repentino de

    sintomas da experincia psicodlica, normalmente perceptuais, sem uso da substncia),

    atualmente denominado Distrbio Persistente de Percepo Alucinognica (HPPD;Hallucinogen

    Persisting Perception Disorder) de acordo com a Associao Americana de Psiquiatria (DSM-

    IV) (Nichols, 2004).

    A reviso de literatura apresenta casos muito anedticos que podem no estar relacionados

    com o uso do alucingeno em si, mas em questes referentes aos estados emocionais,

    personalidade e antecedentes psiquitricos do usurio. A importncia dos fatores

    extrafarmacolgicos crucial para o melhor entendimento dos efeitos dessas substncias. Na

    maioria dos artigos se apresentam dados clnicos da ocorrncia de flashbacks sobre o abuso de

    LSD, mas tanto usurios da substncia quanto no usurios apresentaram tambm o referido

    distrbio (Halpern & Pope, 2003; Strassman, 2001; Halpern & Pope, 1999; Myers, Watkins &

    Carter, 1998; Del Porto & Masur, 1984; Strassman, 1984; Grof, 1980).

    De fato, so catalogados distrbios perceptuais em pessoais normais no usurias de drogas,

    bastante semelhantes aos observados no HPPD. Os sintomas que se apresentam parecem estar

    correlacionados com outros diagnsticos tais como epilepsia, pnico, esquizofrenia e distrbios

    de humor. Sugere-se muitas vezes que os psicodlicos poderiam funcionar como uma chave

    para a emergncia desses distrbios. No entanto, no so normalmente observados tais distrbios

    em usurios de mescalina (Peyote) nem entre os usurios de Ayahuasca (Halpern et al., 2005;

    Nichols, 2004; Halpern & Pope, 2003; Halpern & Pope, 1999; Myers et al., 1998; Grob, 1998;

    Grob et al., 1996; Strassman, 1984).

    Desde a descoberta do LSD em 1943 at a atualidade h centenas de casos de indivduos que

    buscaram auxlio psiquitrico para o tratamento de reaes adversas do uso de LSD, entretanto,

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    aps subseqentes cuidadosas revises dos casos descritos na literatura, foi concludo que quase

    todos os estudos apresentam srios problemas metodolgicos, impedindo uma relao direta do

    uso da substncia e a ocorrncia de HPPD. Alm do mais, os estudos desenvolvidos com sujeitos

    em ambos os aspectos experimentais e psicoteraputicos apresentaram uma incidncia de reaes

    adversas prolongadas muito remota, no havendo tambm relatos de HPPD entre os recentes

    estudos desenvolvidos com essas substncias em seres humanos (Halpern & Pope, 2003; Halpern

    & Pope, 1999; Myers et al., 1998; Strassman, 1984).

    Recentemente foi relatado em um case report(Frana) a ocorrncia de HPPD aps o consumo

    de cogumelos, onde o paciente sozinho consumiu uma quantidade de 40 cogumelos em infuso

    (Psilocybe semilanceata, cerca de 3 vezes mais rica em psilocibina que a espcie Psilocybe

    cubensis). Entretanto, o mesmo apresentava um histrico psiquitrico de ansiedade, sendo o

    histrico familiar constitudo de depresso, tentativas de suicdio e alcoolismo, por parte da me,

    e anorexia por parte da irm. O tratamento realizado com amisulpride e olanzapine foi eficiente

    para o paciente (Espiard, Lecardeur, Abadie, Halbecq & Dollfus, 2005).

    medida que se busca entender certos aspectos negativos do uso dos psicodlicos,

    apresentam-se dados importantes que vm gerar o valor teraputico presente nessas substncias.

    Por exemplo, o uso ritualizado da ayahuasca tem sido considerado como uma alternativa

    teraputica do tratamento do alcoolismo (Labigalini, 1998). Grob et al. (1996) observou efeitos

    benficos indiretos no tratamento de drogas de abuso (alcoolismo e tabagismo) sem evidenciar

    qualquerdeteriorao dos traos da personalidade ou da cognio, em usurios brasileiros. Os

    dados psiquitricos demonstraram que os sujeitos usurios de ayahuasca se apresentam sob o

    ponto de vista psiquitrico como indivduos reflexivos, rgidos, esticos, leais, frugais,

    disciplinados e persistentes, de comportamentos consistentes e elevada sociabilidade e

    maturidade emocional. As escalas utilizadas no estudo classificaram os sujeitos como

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    confidentes, relaxados, otimistas, desinibidos, despreocupados, ativos, enrgicos, com

    caractersticas de alegria, hipertimia, obstinao e elevada confidncia (McKeena et al., 1998;

    Grob et al., 1996).

    Outros estudos teraputicos com psicodlicos foram ou esto sendo desenvolvidos ou

    apresentam um elevado potencial mdico e biomdico (McKenna, 2004; Nichols, 2004;

    Wiegand, 2003; Halpern & Pope, 2003; Kruptsky et al., 2001; Mithoefer, 2001; Perrine, 2001;

    Grof, 1980; Halpern & Pope, 1999; Myers et al., 1998; Nichols, 1998; Grof, 1987). Maiores

    detalhes de estudos sendo atualmente desenvolvidos com psicodlicos em www.heffter.org,

    www.maps.org e www.cottonwoodresearch.org.

    Como revisado, a psilocibina e outras substncias psicodlicas apresentam elevado interesse

    para a medicina atual, no entanto, preciso rever importantes conceitos envolvendo a prtica da

    medicina tradicional ocidental, para um uso seguro e aceitvel dessa substncia e o alcance dos

    resultados desejveis.

    2.4. O Fenmeno da Mente e da Conscincia Humana

    Diversas noes podemos ter acerca do termo conscincia. Esse termo pode se referir

    percepo pela qual podemos ter noo de nossa prpria existncia e julgar a prpria realidade;

    uma faculdade que tem razo de julgar os prprios atos; conhecimento; senso ntimo que leva-nos

    a preferir o certo ao errado (Rios, 1999; Sacconi, 1996).O termo em si, a palavra, gera bastante confuso, pois no traz consigo uma significao nica

    atrelada. Podemos observar a distino que a lngua inglesa faz entre awareness e

    consciousness, cujas lnguas latinas (francs, espanhol, portugus) no o fazem. No primeiro h

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    uma idia de conscincia que experienciamos quando despertos, o segundo, mais global, abarca

    os demais fenmenos associados conscincia (Tassi & Muzet, 2001).

    Bosinelli distingue trs tipos da conscincia desperta (awareness): 1) conscincia como um

    fenmeno de experincia dos objetos (conscincia de); 2) conscincia como meta-conscincia

    (conscincia de ter a conscincia de) e 3) conscincia como autoconscincia (sentimento de si

    prprio a conscincia de ser a si mesmo) (Bosinelli, 1995).

    Damsio distingue dois tipos de conscincia (consciousness): mago da conscincia e

    conscincia expandida. O mago da conscincia corresponde ao processo transitrio que

    incessantemente gerado relativo a qualquer objeto que um organismo interage, onde um senso de

    saber e de propriedade transitrios so automaticamente gerados. O mago da conscincia no

    necessitaria de linguagem ou da memria de trabalho, mas de apenas memria de curto prazo. A

    conscincia expandida seria um processo mais complexo que dependeria da construo gradual

    do self autobiogrfico, de um escopo de memrias conceituais pertencentes ao passado e

    experincias prvias de um indivduo, requerendo tambm a memria convencional. A

    conscincia expandida seria intensificada pela linguagem. Nesse sentido, a conscincia poderia

    ser considerada como um sentimento de conhecimento. Essa distino pode tambm nos levar a

    conceber a conscincia como um fenmeno existente nos animais, sendo o segundo tipo de

    conscincia exclusivamente humano (Damsio, 1998).

    Searle define conscincia como um aspecto primrio daquilo que denominamos mente,

    caracterizada por processos internos qualitativos e subjetivos, fruto de processos cerebrais

    complexos, sendo assim considerada um fenmeno biolgico. Sendo a conscincia um aspecto da

    mente, ela primria e ocupa a noo mental central, pois outras atribuies mentais

    (intencionalidade, subjetividade, causao mental, inteligncia, etc.) estariam necessariamente

    intermediadas e relacionadas pelo processo consciente (Searle, 2000; Searle, 1997). Damsio,

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    assim como Searle, concorda em atribuir um sentido biolgico ao fenmeno da conscincia, isto

    , deve ser vista como um processo selecionado no decorrer da evoluo das espcies (Damsio,

    1998).

    De um ponto de vista neurobiolgico a conscincia humana poderia ser definida como uma

    expresso de diversos atributos das atividades cerebrais como a auto-reflexo, ateno, memria,

    percepo, humor, etc., organizada em camadas de conscincia e associada organizao

    funcional hierrquica do crebro. considerada uma funo global do funcionamento

    operacional do crebro como um todo, entretanto, as diferentes reas cerebrais no contribuem

    igualmente para a sua formao; ainda parte de um processo gradual relatado ao continuum

    sono-viglia, sendo alta durante a viglia e reduzindo-se no estado de sono (Dietrich, 2003;

    Coenen, 1998).

    Tassi & Muzet (2001) discordam de que os diversos processos mentais estejam primariamente

    atrelados conscincia trazendo definies mais cuidadosas e dando um carter biolgico mais

    independente a determinados fenmenos classificados como funes da conscincia. A

    conscincia (awareness) e seus diferentes nveis referem-se essencialmente construo de

    representaes mentais com ou sem a possibilidade de exposio verbal. O estado de vigilncia

    (vigilance) e seus diferentes nveis refletem a capacidade atencional a cada momento, em outras

    palavras, a avaliabilidade das fontes atencionais depende dos nveis do despertar e conscincia. O

    despertar (arousal/arouse) seria o estado imediatamente dependente do status eletrofisiolgico,

    mas sem qualquer pr-requisito concernente ao potencial de vigilncia ou conscincia.

    Finalmente, o estado de alerta (alertness) refletiria o sentimento subjetivo de ser, relatado aos

    nveis de despertar e vigilncia. Se Searle (2000, 1997) e Damsio (1998) concordam entre si em

    caracterizar a conscincia como um fenmeno biolgico, Tassi & Muzet (2001) vo alm

    diferenciando a conscincia de outras qualidades tambm consideradas como conscincia,

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    tornando-as entidades fsicas distintas e identificveis, passveis de estudos mais objetivos

    concernentes s cincias do crebro.

    A formao da mente humana considerada um processo de construo gradual desde a

    infncia at o estado adulto, bastante dependente do processo maturacional e da experincia e,

    estritamente dependente das interaes sociais (Piaget, 1983; Vygotsky, 1998). Na concepo de

    Yunes (2005) a mente humana foi estruturada para a aquisio das estruturas lgico-matemticas

    inerentes formao e organizao do universo e consequente representao interna do mundo

    externo e de si prprio. Presses evolucionrias forariam as estruturas neurais continuamente de

    maneira a aumentar a integrao entre si e a complexidade do processamento da informao

    (Dietrich, 2003).

    A informao considerada como um guia para a organizao, que na conotao fsica uma

    medida de ordem uma medida aplicvel para qualquer estrutura, qualquer sistema. A evoluo

    da mente humana seria baseada em como os organismos vivos e o ambiente trocam matria,

    energia e informao, e na interpretao ontolgica da realidade onde as estruturas lgico-

    matemticas so consideradas partes constitutivas. Assim, os organismos vivos so sistemas

    dinmicos complexos auto-organizados pela informao, que possuem em si-mesmo uma

    representao matemtica (em termos de estruturas lgico-matemticas) do funcionamento

    universal (Yunes, 2005; Piaget, 1983).

    Consequentemente, podemos com base nessa idia atribuir a possibilidade de percepo de

    outros modos ou caractersticas da realidade quando em outras formas de funcionamento da

    conscincia, tal como afirmam gran