(CH 295) - SAGA DOS KAZANOV 1 - Patricia Grasso - Segredos de Um Príncipe

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Patricia Grasso – Segredos

de Um Príncipe

SAGA DOS KAZANOV 1

Copyright 2003 by Patricia Grasso

Originalmente publicado em 2003 pela Kensington Publishing Corp.

PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHlNG CORP.

NY, NY – USA Todos os direitos reservados.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou

mortas terá sido mera coincidência.

Título original: To Charm a Prince

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Tradução: Silvia Lúcia Sardo

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 – 102 andar CEP 05424-010

– São Paulo – Brasil

Copyright para a língua portuguesa: 2004 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

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Digitalização: Afrodite

Revisão: Ana Paula

Resumo:

Londres, 1812

Um conto de fadas, seria sonho... ou pesadelo?

Ele é um príncipe perseguido por um passado perigoso. Ela é uma jovem inocente e

sonhadora totalmente envolvida pelas promessas do belo príncipe. Juntos, viverão uma

aventura que provará que os contos de fadas podem se tornar realidade...

Depois que o pai de Samantha perdeu a fortuna e ela passou a viver com as irmãs em um

modesto chalé, começou a imaginar que sua vida nunca mais seria a mesma. Mas uma

reviravolta a leva para a Escócia, para os braços de um homem que ela teve certeza, desde o

primeiro instante, que era seu príncipe encantado, o homem com quem sonhara acordada

nas insones noites por qual passara pensando em como seria o futuro. Agora que o futuro

chegara na forma de Rudolf Kazanov, um príncipe russo, Samantha não sabia direito se

vivia realmente um sonho de amor ou um pesadelo!

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Capítulo I

Londres, Abril de 1812

Samantha Douglas atravessou o quarto mancando e parou na frente do espelho de

corpo inteiro.

“Esse defeito estraga tudo.”

O decote redondo do vestido de cetim amarelo-claro realçava o colo perfeito. Os

cabelos presos no penteado da moda eram adornados por floretes de diamantes que

brilhavam como estrelas no céu da meia-noite.

Samantha mirou seu reflexo. Gostou do que viu. Aos dezoito anos, nunca parecera

tão bonita. A julgar pela aparência,ninguém diria que não levava uma vida de luxo e pompa

como todos os membros da aristocracia.

Sentia-se uma princesa... Até começar a andar.

“Por que justo eu tinha de ter sido atropelada pela carruagem?Por que eu e não...”

Essas perguntas martelavam-lhe o cérebro sempre que se lembrava do acidente.

Tentava sufocá-las, pois desencadeavam pensamentos pouco caridosos. Jamais desejaria

um infortúnio daqueles a ninguém.

Afastou-se do espelho. Olhou ao redor. Não se cansava de admirar a decoração do

quarto. Só a cama de dossel era bem maior do que o quarto que dividira com as irmãs

enquanto moraram no chalé.

Fazia duas semanas que as irmãs Douglas moravam na mansão do duque de

Inverary, e Samantha ainda não se acostumara a tanta opulência. Era difícil acreditar que

seus pais tinham vivido quase a vida toda com tanto requinte.

– Já está pronta para enfrentar a nobreza? – A voz da irmã mais nova interrompeu-

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lhe os devaneios.

– Eu não vou ao baile.

– Está doente?

– Meu defeito impede-me de caminhar com graça. Imagine, então, dançar! –

Samantha resmungou com tristeza. Aleijada... Aleijada... Aleijada...

Voltou-lhe à memória o adjetivo cruel que ouvia desde que fora atropelada. A dor

de ser diferente bateu forte. A menina que mancava era sempre a última a ser chamada para

brincar com outras crianças. Não havia razão para imaginar que a jovem que mancava não

iria passar a noite sentada.

– Nenhum cavalheiro convidará uma patética aleijada para dançar. .

– Você tem apenas uma pequena deficiência, Samantha. Além do mais, temos

coisas mais importantes com que nos preocupar. Se alguém descobrir que somos uma

fraude, nunca arranjaremos marido!

– Não somos fraude! – Angélica, a mais velha das irmãs Douglas, adentrou o

cômodo. – Papai era o conde de Melrose, e desde que ele e mamãe morreram, eu sou a

condessa de Melrose!

– Papai perdeu a fortuna da farmília Douglas.

– Não, Victória. O que aconteceu é que Charles Emerson apossou-se indevidamente

de tudo o que era nosso.

– Mas não temos nada que nos recomende. Apenas nossa inteligência e a

generosidade do duque de Inverary. – Samantha abriu os braços num gesto de desolação. –

Estamos nos fingindo de ricas!

Angélica deu de ombros.

– Todos fingem ter muito mais do que têm.

– Tia Roxie disse que você vai se casar com o marquês e se tornará duquesa depois

que o duque morrer. – Victória suspirou.

– Com quem será que Samantha e eu nos casaremos?

Angélica apontou para a imagem refletida das três.

– Estamos prontas para ocupar nossos lugares na aristocracia.

– Não irei ao baile – Samantha repetiu.

– Vá chamar tia Roxie, Victória. – Depois, Angélica voltou-se para Samantha. – Por

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que não quer ir? Você está linda. Pense em como nos divertiremos em nosso primeiro baile.

Samantha fitou-a com ar de incredulidade.

– Desde criança ouço as pessoas me chamarem de aleijada. Não suportarei o olhar

de desdém dessa gente arrogante. Que cavalheiro me convidará para dançar?

– Minha irmã, não permita que uma simples limitação estrague seu futuro.

– É fácil falar, Angélica. Você é bonita, talentosa e inteligente. O marquês de Argill

a adora.

– Você também tem qualidades. Além de amorosíssima, é a criatura mais meiga e

caridosa que conheço.

– Os homens não valorizam gentileza e caridade. Preferem formosura, talento e

inteligência. – Ao ver a irmã arquear as sobrancelhas, sorriu, acrescentando: – Pensando

bem, talvez eles não valorizem, nem apreciem a inteligência numa mulher.

A porta se abriu de repente e as duas se viraram ao mesmo tempo. Era tia Roxie,

com seus cabelos ruivos e voluptuosos.

– Qual é o problema? – perguntou, autoritária.

– Eu já lhe disse, titia – Victória antecipou-se. – Samantha não quer ir à festa. Ela...

Roxie olhou para a sobrinha mais nova, e Victória calou-se de imediato.

– Samantha?

Os braços de Samantha penderam ao longo do corpo.

– Não irei, titia..

– Por que mudou de idéia?

– Charles Emerson atropelou-me com sua carruagem. Não tenho certeza de que

minha perna deformada e eu deveríamos comparecer à recepção na casa dele.

– Esse desafortunado acidente aconteceu há muito tempo, menina. Charles não teve

intenção de machucá-la.

– Acidente ou não, Emerson vai pagar por tudo o que fez aos Douglas.

Ignorando o comentário de Angélica, Roxie segurou a mão de Samantha.

– Querida, esqueça essa tolice de que é inferior. Não é defeituosa, Samantha. As

outras pessoas a aceitarão quando decidir se aceitar. – Sorriu de um jeito enigmático. – Não

quer conhecer um cavalheiro adorável e casar-se?

– Encontre um homem que não se importe que sua noiva seja deformada, e eu me

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casarei amanhã mesmo!

– Céus, você não é assim! Estou usando a herança de meus três falecidos maridos

para mantê-las vivas, e agora o duque de Inverary nos abriu suas portas. Sua Graça e eu

pretendemos acertar casamentos vantajosos para cada uma de vocês. Essa sua atitude é uma

afronta a minha idade avançada, Samantha

– Você não é idosa, titia, e eu agradeço por seu sacrifício e pela generosidade de

Sua Graça. – Os olhos de Samantha se encheram de lágrimas. – Nenhuma de vocês entende

como me é difícil e doloroso enfrentar a sociedade. Não tenho a beleza loira de Angélica,

nem o espírito livre de Victória.

– Mas possui outros dons. Um coração generoso e natureza amorosa.

– Os homens não ligam para isso, tia Roxie.

– Anjinho, eu os conheço melhor do que vocês três juntas. Acreditem em mim, eles

flertam com belezas loiras e espíritos livres, mas casam-se com naturezas afetuosas.

Angélica e Victória indignaram-se.

– Obrigada pelas palavras animadoras, tia Roxie. – Victória pôs as mãos na cintura.

– Seu comentário nos enche de esperança... – acrescentou Angélica.

Ignorando o jeito ofendido das duas, Roxie continuou, um tanto misteriosa:

– Samantha, já mencionei que seu futuro marido estará nobaile desta noite?

– Como assim?

– Tive uma daquelas minhas visões. Você desposará um cavalheiro que não é o que

parece. Todavia, é um príncipe entre os simples mortais.

Samantha olhou-a, desconfiada. Roxie fora abençoada com poderes especiais e

sabia das coisas antes mesmo que acontecessem.

Existiria mesmo alguém capaz de olhá-la além das aparências?

Victória suspirou, ansiosa.

– Se Angélica vai se casar com o marquês e Samantha com um príncipe, quem você

vê para mim?

Roxie soltou uma gargalhada.

– Ninguém! Morrerá solteirona!

– Não! Diga que está brincando, tia Roxie!

Angélica e Samantha riram da expressão assustada da caçula.

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– Lógico que estou, bobinha. Vejo um conde e um príncipe em seu caminho.

– Vou me casar duas vezes?

– Eu não disse isso.

– Ora, titia! Você fala por enigmas!

Roxie contemplou a sobrinha com um sorriso ambíguo, e depois estendeu as mãos

para Samantha.

– Confia em mim, meu bem?

Ela hesitou por uma fração de segundo antes de apertar os dedos da tia.

– Confio. Só não prometo divertir-me.

– Hoje irá vivenciar a experiência mais encantadora de sua jovem existência,

querida.

Samantha sentou-se ao lado de Victória no banco da carruagem ducal. Magnus

Campbell, o duque de Inverary, e tia Roxie acomodaram-se de frente para elas. O marquês

convencera Angélica a acompanhá-lo em seu veículo.

– Lembrem-se, meninas, não dancem mais de duas vezes com nenhum cavalheiro –

Roxie as instruiu assim que o veículo parou diante da mansão de Charles Emerson, em

Grosvenor Square.

– Não precisamos ser tão rigorosos. Afinal, essa é uma regra muito antiga..

– Não quero arriscar o futuro de minhas sobrinhas, Vossa Graça.

Samantha respirou fundo. Que futuro? Seu coração se apertou ao ver as mulheres

encantadoras e elegantes entrando na mansão Emerson. Nenhuma delas coxeava.

O duque de Inverary desceu da carruagem e ajudou as damas a descerem também.

Angélica e o marquês os esperavam na escadaria.

– Minhas irmãs, olhem bem para esta casa. – Angélica fez um gesto de cabeça. –

Nascemos aqui e aqui moramos até dez anos atrás.

Em vez de observar o imóvel, Samantha voltou-se para fitar a rua.

– Foi ali que a carruagem me atropelou?

– Esta noite esqueceremos o passado, meninas – tia Roxie interveio. – Vamos

entrar.

Samantha sentiu a mão de Angélica em seu ombro.

– Foi ali, sim, que tudo aconteceu.

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– Aquele dia desapareceu de minha memória.

– Emerson pagará por seus crimes contra você e nosso pai.

– Eu odeio aquele canalha!.

– Eu também, Victória.

– Ninguém o odeia mais do que eu. – Samantha meneou a cabeça.

– Já que todas estão de acordo quanto aos sentimentos por esse homem, acho que

podemos entrar – tia Roxie ordenou-lhes.

– Prefere voltar para casa, Samantha? – Robert Campbell, marquês de Argill,

indagou. – Meu cocheiro a levará, se quiser.

– Nem pensar! É imperativo que minha sobrinha participe deste baile.

– Estarei bem, milorde. – Samantha forçou um sorriso para o marquês. – Agradeço

por sua atenção.

Em instantes, subiam os degraus de mármore que levavam ao segundo pavimento,

onde ficava o salão. Parados no alto da escada, Charles Emerson, seu filho Alexander e a

filha, Venétia Emerson Campbell, recebiam os convidados.

Após os cumprimentos, o grupo entrou no recinto iluminado por candelabros de

cristal. A orquestra posicionada no outro extremo era composta de cinco músicos.

Angélica e Robert dirigiram-se à pista de dança. Samantha acompanhou-os com o

olhar. Eles formavam um casal perfeito. Talvez Roxie estivesse certa ao prever que

Angélica se casaria com Robert Campbell, marquês de Argill, e que um dia se tomaria

duquesa de Inverary.

De repente, Samantha passou a mão enluvada na nuca. Com a desconfortável

sensação de estar sendo observada, olhou ao redor.

Não percebeu ninguém lhe dispensando atenção especial. Mesmo assim, a

incômoda sensação persistiu.

Angêlica e Robert voltaram para junto deles. Com uma reverência, o marquês

estendeu a mão a Samantha.

– Dá-me a honra desta dança?

“Angélica me paga por essa brincadeira!” Samantha lançou à irmã um olhar

reprovador.

– Eu... eu... Robert, você se ofenderia se adiássemos nossa dança para mais tarde?

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Estou me sentindo um pouco sufocada comtanta gente.

Com um gesto, o marquês demonstrou sua compreensão. – Assim que se sentir

melhor...

– Eu danço com você! – Victória interrompeu-o.

– Tory, as damas nunca convidam os cavalheiros para dançar!

– Roxie repreendeu-a, escandalizada.

Sem dar tenção a ela, Robert, sorrindo, estendeu a mão para Victória.

Angélica cutucou Samantha. – Por que não quis dançar?

– Ora, Angélica, não tenho a menor intenção de tornar-me a atração principal!

– Que bobagem! Eu lhe asseguro que...

Samantha não ouviu mais nada. De novo, a estranha e desconfortável sensação. Sem

dúvida, alguém a observava. Tornou a analisar ao redor, e foi quando viu.

De braços cruzados, encostado na parede, o cavalheiro ignorava o círculo de

mulheres que o admiravam. Era o homem mais bonito que Samantha já vira. Ele a encarava

com tanta intensidade que a deixava com as pernas trêmulas.

O nobre manteve-se a fitar Samantha por um longo momento.

Em seguida, baixou os cílios e avaliou-a por inteiro, como se estivesse saboreando

cada curva de seu corpo. Ao tornar a encará-la, inclinou a cabeça, num cumprimento a

distância.

“Que criatura insolente!” Com o rosto e o pescoço em brasa,

Samantha lhe deu as costas. Um segundo depois, incapaz de controlar o impulso,

virou-se para olhá-lo.

Ele continuava ali parado, estudando-a. Os olhares se encontraram, e os cantos dos

lábios dele se curvaram num sorriso. Samantha inclinou de leve o rosto e sorriu também.

– Ouviu o que eu falei?

– Desculpe-me, Angélica, eu estava distraída.

– Não tem importância.

A dança terminou. Robert e Victória se aproximaram.

– Problemas à vista – Robert sussurrou.

Venétia, viúva do irmão do marquês, caminhava na direção deles. Com ela, o

cavalheiro que a estivera observando.

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– Lady Angélica, o príncipe Rudolf Kazanov quer cumprimentá-la – Venétia disse.

Samantha e Victória entreolharam-se contendo o riso. Angélica estava numa

enrascada. Tempos atrás, ela mentira para Venétia ao dizer que o príncipe russo a pedira em

casamento. E agora lá estava ele, talvez dispsto a desmascará-la.

– É uma honra revê-lo, Alteza – Angélica cumprimentou-o, sem demonstrar

constrangimento ou preocupação pela situação delicada. – Lembra-se de minhas irmãs,

Samantha e Victória?

Como ele poderia se lembrar delas se nunca as vira antes? A resposta do príncipe foi

surpreendente e tranqüilizadora: – Jamais poderia esquecer tanta beleza!

Venétia pousou a mão no braço do marquês.

– Robert, você ainda não dançou comigo.

– Eu estava ansioso por essa oportunidade querida cunhada. Assim que eles se

afastaram, Angélica sorriu para o príncipe. – Obrigada por não me desmascarar, Alteza.

– Não entendi muito bem, mas parece que fomos mais do que amigos, não?

Angélica fez um muxoxo charmoso.

– Digamos que sim, Alteza.

Rudolf deu risada, divertido com a brincadeira.

– E você me deixou com o coração despedaçado.

– Não sobrou pedra sobre pedra.

Samantha observava-o. Alto, ombros largos, cabelos e olhos negros, o príncipe

Rudolf era belíssimo.

Ele se voltou de repente para Samantha.

– Gostaria de dançar?

Aquilo a pegou de surpresa. Como poderia recusar o convitede um príncipe?

– Alteza, eu... eu... tenho um ferimento antigo e...

– Você está sentindo dor?

– Não, é... que... eu manco um pouco.

– Sendo assim, vai dançar comigo.

Nervosa e indecisa, Samantha não sabia o que fazer. –Mais do que tudo, queria

dançar com o príncipe, mas temia expor-se ao ridículo.

Por fim, deixou-se levar pelo instinto. Pousou a mão na que Rudolf lhe oferecia e

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sentiu-o apertá-la de leve, num gesto encorajador. Em silêncio, seguiram para a pista.

O príncipe valsava com perfeição e graciosidade. Rodopiando nos braços dele,

Samantha sentia-se flutuando no ar, inebriada pela música e por seu par.

As palavras de Roxie voltaram-lhe à memória, enchendo-a de esperança. Aquela

poderia ser uma noite encantadora e inesquecível.

– Sinto que todos estão olhando para mim.

– Não. É para mim, não para você. As pessoas ficam sempre muito curiosas quando

o assunto é a realeza. A propósito, saiba que dança divinamente.

– Vossa Alteza quer dizer divinamente para uma mulher coxa.– Samantha baixou os

olhos.

– Fale comigo, não com meu peito.

Ela voltou a fitá-lo.

– Eu quis dizer que você sabe dançar como nenhuma outra.

– Obrigada. Vossa Alteza também é esplêndido.

– Devo isso aos mestres que me ensinaram. .

Samantha achou graça.

– Tem um sorriso muito bonito, senhorita, e deveria mostrá-lo com mais freqüência.

– As pessoas que sorriem sem nenhuma razão aparente são consideradas

desequilibradas, Alteza.

– É uma lástima, mas é verdade. Por favor, chame-me de Rudolf.

– Não posso, Alteza. Familiaridade com alguém de sua posição seria inconveniente

e inadequado.

– Sou um homem também, e quero tratá-la por Samantha. Para isso, terá que tratar-

me por Rudolf.

– Muito bem, Rudolf, mas só quando ninguém estiver nos ouvindo.

A música terminou. Samantha fez menção de deixar a pista, mas Rudolf a impediu.

– Mais uma.

Roxie recomendara não mais de duas vezes com o mesmo cavalheiro, porém não

explicara se as danças poderiam ser seguidas.

– Bem...

– A realeza deve ser agradada, Samantha.

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Ela lançou um rápido olhar para a tia, e viu-a sorrindo e fazendo sinal de anuência.

– Com prazer, Rudolf.

Parecia um sonho estar dançando com o príp.cipe. Samantha atreveu-se a imaginar

que, afinal, seu medo fora uma tolice.

– É normal conversar durante a dança.

– Perdão, Rudolf.

– No que estava pensando? .

– Que você fala inglês com perfeição.

– Seus pensamentos não eram sobre meu inglês perfeito. Mesmo assim, vou

satisfazer sua curiosidade. Minha mãe é inglesa e ensinou-me seu idioma.

A música terminou e, de novo, o príncipe não a deixou ir.

– Sinto muito, Rudolf. Minha tia insistiu para não dançarmos mais de duas vezes

com o mesmo cavalheiro.

– Garanto que ela não gostaria que você ofendesse um príncipe. Dançar mais de

duas vezes com o mesmo cavalheiro é uma regra que se aplica só às plebéias.

– Sou a segunda filha de um conde. Isso faz de mim uma plebéia.

– Sendo assim, não vou quebrar o protocolo. – Com a mão nas costas dela, o

príncipe a guiou para fora da pista. – Gostaria de oferecer-lhe uma taça de champanhe.

– Obrigada.

Juntos, saíram do salão.

– Estranho eu não me lembrar do salão de baile, mas apenas do hall e do perfume de

minha mãe.

O príncipe olhou-a com curiosidade.

– Não entendi.

– Morei nesta casa até os sete anos.

– Seus pais venderam a mansão para os Emerson?

– Não. O vilão roubou-a de meu pai – Samantha deixou escapar, e logo se

arrependeu.

O príncipe parou de andar e a encarou, muito espantado.

-É mesmo?

– Eu falei demais. Por favor, Rudolf, não repita a ninguém o que eu disse.

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– Jamais trairia sua confiança, Samantha. Nessas circunstâncias, não compreendo

como seus pais aceitaram o convite de Emerson.

– Eles são falecidos. O cavalheiro que você viu é o duque de Inverary, e a senhora,

minha tia Roxie.

– Duque de Inverary? – As íris negras brilharam de genuíno interesse. – Gostaria de

ouvir sua história, Samantha.

– Outro dia, talvez. Não quero que me escutem.

– Então, vamos adiar nossa taça de champanhe. – Rudolf levou-a para a escada. –

Enquanto caminhamos pelo jardim, você me conta tudo.

Samantha parou.

– Será conveniente?

– Estará segura comigo. Eu jamais comprometeria sua reputação – respondeu.

Samantha tornou a hesitar. Queria passear com o príncipe, mas tinha certeza de que

tia Roxie não aprovaria.

Ao olhar para Rudolf, porém, foi incapaz de recusar. Se era para ter uma existência

solitária e miserável, deveria ter, pelo menos, a lembrança de uma noite maravilhosa.

Minutos depois, chegaram ao jardim. A noite de início de primavera criava um

clima de romance. Apesar da neblina rala, o céu estava claro e iluminado pela lua cheia.

Tochas espalhadas por todos os lados reforçavam a claridade para os casais que por ali

passeavam. A mescla do perfume de várias flores pairava na atmosfera.

Rudolf tomou a mão de Samantha e levou-a até uma árvore de hétula prateada.

– Fale-me sobre o duque de Inverary.

Samantha encostou-se na árvore. A solidez do tronco confortava-a.

– Sua Graça é um velho amigo de meu pai, e insistiu em abrir sua casa para mim e

minhas irmãs.

– Quanta generosidade!

– Vossa Alteza dançou com uma moça sem recursos. Não tenho nada que me

recomende.

O príncipe segurou-lhe o queixo com a ponta do dedo.

– Engano seu.

Samantha fitava-o, fascinada. O rosto bonito chegou mais perto. “Céus, ele vai me

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beijar!”

E foi o que aconteceu.

“Os lábios dele são quentes...” Samantha rendeu-se. Estar nos braços do príncipe e

beijá-lo parecia-lhe tão natural quanto respirar. E então, tudo acabou.

– Você é delicada como uma rosa búlgara e misteriosa como um jasmim asiático.

Embriagou meus sentidos, minha cara.

Atordoada e emudecida pela emoção, Samantha arregalou seus olhos azuis.

Rudolf acariciou-lhe a face.

– Obrigado pelo presente de seu primeiro beijo, Samantha.

O agradecimento arrancou-a do estado de torpor.

– Como... como sabe que eu nunca... nunca...

O príncipe Rudolf segurou-lhe o rosto.

– Sua pele arde, tamanho seu embaraço. É evidente prova do primeiro beijo.

Samantha sorriu, aliviada. Pelo visto, não fizera nada de errado.

– Fale mais de você, Rudolf.

– O que quer saber?

– Sobre a Rússia.

– Minha terra é fria.

– Você disse que sua mãe é inglesa. E os outros membros da família?

– São todos russos.

Samantha compreendeu que ele a provocava, e entrou na brincadeira

– Como os príncipes passam o dia?

Rudolf se encantava mais e mais com o jeito dela.

– Em geral, dando ordens aos subalternos enquanto ostentam as coroas.

– É preciso usar coroa para dar ordens?

– Um príncipe nunca deve separar-se da sua! – Um sorriso sedutor dançava nos

lábios dele. – Às vezes, nós, príncipes, salvamos donzelas como você de dragões.

– É o que está fazendo esta noite? Salvando-me dos dragões da sociedade?

– Acha que precisa ser salva, milady?

Samantha sentia como se ele pudesse enxergar sua alma e descobrir seus segredos,

receios e inseguranças. Apenas os familiares conheciam seus sofrimentos. Herdara o

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orgulho dos Douglas, e não permitiria que ninguém, muito menos aquele homem,

partilhasse sua dor.

– Como as jovens inglesas passamo dia? – Ante o silênciodela, Rudolf mudou de

assunto.

“Roubando carteiras até duas semanas atrás.” Mas Samantha, claro, não verbalizou.

– Eu toco violino.

– Promete tocar para mim um dia? – Será uma honra, Alteza.

– O que acha daquela taça de champanhe, minha rosa búlgara?

– Eu adoraria.

De mãos dadas com o príncipe, Samanthá voltou mancanado para a mansão. Na

porta, encontraram Angélica e o marquês indo para o jardim. Angélica lançou à irmã um

olhar significativo.

Samantha não se abalou. Seu futuro vislumbrava-se longo e sombrio. Não tinha

ilusões quanto ao interesse do príncipe por ela, mas Rudolf proporcionara-lhe momentos

memoráveis. Talvez algum cavalheiro mais apropriado, seguindo o exemplo do príncipe, se

interessasse por ela, em vez de desprezá-la pelo defeito físico.

– RudoIf, preciso fazer-lhe uma pergunta. – Samantha parou no hall. – Por que me

cortejou?

Adoro o modo como você olha para meu peito – ele brincou, sua voz soou

enrouquecida.

Ela o fitou e encantou-se com o sorriso dele.

Você é uma mulher bonita e desejável, Samantha. Por que não me sentiria atraído?

Ora, mas eu... manco...

Naquele instante, um estampido soou lá fora. Um tiro! Gritos de mulheres ecoaram

pela mansão.

Fique aqui – o príncipe ordenou, correndo para a saída.

Samantha seguiu-o

– Eu também vou.

Uma pequena multidão já chegara à rua. Samantha avistou Angélica e o marquês, e

se assustou quando um homem muito alto vestido de preto, surgiu das sombras,

bloqueando-lhes a passagem.

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–Boa noite, Alteza.

–Boa noite, Igor. – A voz ríspida refletia seu desagrado.

–Vladimir? Devolva o Vênus ao verdadeiro dono ou sofrerá as consequências. –

Com esse ultimato, Igor desapareceu na escuridão.

– O que está acontecendo? – Samantha quis saber, ainda muito assustada.

Ignorando a questão, Rudolf levou a mão dela aos lábios e beijou-a.

– Tenho de ir agora. Posso visitá-la?

A esperança despontou no coração dela.

– Sim, Rudolf, 1ógico que pode.

O príncipe contemplou-a com um sorriso devastador, e depois, desceu a escadaria

correndo. Samantha observou-o entrar numa carruagem.

Foi a última visão que teve do príncipe Rudolf da Rússia.

Ele nunca a visitou.

31 de dezembro de 1812

Debruçada na janela de seu quarto na casa de campo do duque de Inverary,

Samantha ouvia a conversa das irmãs.

– Alexander Emerson é tão maçante! – dizia Victória. – Não entendo por que ela

quer se casar com ele!

– Não fale assim! É feio!

– Mas é verdade, Angélica.

Samantha olhava, distraída, para o jardim.

Aquela seria uma noite especial. Além de celebrarem a entrada do ano-novo com

um baile de gala, seria anunciado seu noivado com Alexander Emerson. E no entanto, não

se sentia feliz.

Voltou-se para a caçula, exibindo um sorriso irônico.

– Quero me casar com Alexander Emerson justamente porque ele é maçante!

Passara uma semana inteira sozinha no velho chalé, meditando, tentando decidir o

que fazer. Na realidade, sua decisão fora até fácil. Afinal, Uma mulher com um defeito

físico e pobre não era nenhum bom Partido.

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– Deveria ter ido para Sweetheart Manor, em vez de refugiar-se no chalé. –

Angélica parecia ler os pensamentos dela. – Robert gastou uma fortuna para reformar e

redecorar a mansão, e ainda nem tive oportunidade de conhecê-la.

A Irmã mais velha de Samantha tricotava um casaquinho para o bebê que esperava.

O chalé de Primrose HiIl é mais perto que a Escócia. Uma mudança de cenário teria

lhe feito bem – Angélica ponderou.

–Você não deveria ter concordado com esse casamento Victória insistia. – Não ama

Alexander, Samantha! Papai e mamãe jamais aprovariam seu sacrifício.

Da boca das crianças sempre saem palavras sábias.

– Tenho quase dezessete anos, Angélica, não sou mais criança!

– Olhando para Samantha, Victória prosseguiu: – É uma pena o príncipe Rudolf

nunca mais ter aparecido...

O rosto de Samantha continuou inexpressivo, mas seu coração bateu mais forte à

menção do nome dele.

–Tory, não me diga que acreditou mesmo que um homem da origem do príncipe iria

me procurar.

–Não precisa se casar sem amor por temer que nenhum outro se interesse por você.

–Não tenho medo de nada, Tory, nem mesmo de ficar solterona

–Olá, queridas. – A entrada de tia Roxie acabou com a discussão – Estão animadas

para nossa festa?

–Mal posso esperar pela queima de fogos à meia-noite! Victória exclamou,

entusiasmada. – Sua Graça sabe como festejar a chagada do ano-novo.

– Sim, meu bem, sem dúvida. – Roxie sorriu com malícia.

Samantha e Angélica trocaram olhares. Logo depois do casamcnto de Angélica e

Robert, Roxie casou-se com o duque de Inverary, e ambos esbanjavam felicidade.

Roxie tirou do bolso uma corrente de ouro com um pingentede rubi.

– Eu lhe trouxe uni presente, Samantha.

Ela examinou a pedra antes que a tia pendurasse a jóia em seupescoço.

– Obrigada, mas o que eu fiz para merecer um presente tão bonito?

– Você merece ser coberta de jóias por ser assim tão maravilhosa. Além disso, esta

pedra possui poderes mágicos.

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Samantha tentou manter-se séria e abafar o riso.

– É mesmo? E que tipo de magia?

– Reza a lenda que este rubi toma-se vermelho-escuro, cor de, sangue, se sua dona

estiver em perigo ou ameaçada.

– Então, vou ficar de olho nele.

– Lembre-se, meu bem, nem sempre a vida segue o rumo que planejamos. – Roxie a

abraçou.

– Você teve outra visão? – Os olhos de Victória brilhavam de curiosidade.

– Diga-me, titia, que cavalheiro me pedirá para sentar-se a meu lado na ceia?

– Tory, você está começando a me causar dor de cabeça! Samantha queixou-se.

– Ora, você é um espinho...,

– Victória! – tia Roxie repreendeu-a.

– Preciso de ar fresco. – Samantha vestiu a capa de lã forrada de pele, pegou a caixa

do violino e andou em direção à porta.

– Até logo, querida. Divirta-se! – tia Roxie gritou. – Lembre-se de que seu rubi a

alertará em caso de perigo.

Samantha parou e virou-se para a tia.

– Eu não vou viajar, titia. Só irei até o jardim tocar um pouco.– Suspirou. – Mas,

sim, não me esquecerei do rubi.

Samantha desceu a escada, pensando nas palavras da tia. Sempre que Roxie se

comportava de forma misteriosa, alguma coisa, inesperada acontecia. E o inesperado

sempre trazia uma mudança para pior.

Dando de ombros, seguiu pelo corredor que levava aos fundos da mansão.

A tarde fria de dezembro recepcionou-a.

Parou de repente e olhou por sobre o ombro. Tinha a impressão de estar sendo

observada. Os cabelos da nuca se arrepiaram. Abriu a capa e examinou o rubi. A cor

permanecia inalterada.

Tentando ignorar a estranha sensação, continuou seu caminho. Avistou o jardim e

entrou no gazebo, que ficava quase nos limites do bosque.

Apesar do frio, a tarde estava bonita. Céu azul, sol brilhante, nuvem de fumaça das

chaminés da mansão. E no entanto, Samantha não estava feliz nem de coração leve.

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Alexander Emerson era inteligente, gentil, loiro e bonito. Seria um excelente

marido, e ela pretendia ser a melhor das esposas.

A imagem do príncipe russo saiu das sombras de sua memória. Condoeu-se por

aquilo que jamais aconteceria. Ele não viera vê-la. Se Rudolf não tivesse dito nada,

Samantha não teria alimentado esperanças de revê-lo. Aguardara por semanas e meses por

uma visita que nunca se concretizara.

Deveria sentir-se grata por aquela noite fascinante e inesquecível. Muitas mulheres

jamais teriam tanto.

Tirou o violino e o arco da caixa e começou a tocar uma música melancólica que

traduzia seu sentimento de solidão.

Dois pares de olhos fitavam-na atravessar o gramado.

Da janela do escritório do duque, Robert Campbell e o príncipe Rudolf viram a

jovem de cabelos castanhos mancando em direção ao jardim.

– Samantha Douglas é uma mulher adorável – o príncipe quebrou o silêncio.

– É mesmo. Pena esse defeito na perna, que a faz coxear quando anda.

– Ela manca? Nem tinha percebido.

Robert lançou ao príncipe um olhar divertido, mas não disse nada. Foi até o bar e

voltou com dois copos de uísque.

– Aceita um drinque? – ofereceu ao príncipe. – Sinto muito, mais não tenho vodca.

Rudolf bebeu um gole e voltou a atenção para a dama sentada no gazebo. Samantha

parecia tão solitária quanto ele.

– Ela anunciará seu noivado com Alexander Emerson esta noite, Rudolf.

– Não havia um problema entre os Douglas e os Emerson?

– Alexander está determinado a corrigir os erros do pai.

– Ela merece um marido que a ame.

– Foi isso que eu falei para minha mulher hoje de manhã. Porém, a menos que

aconteça um milagre, Samantha e Alexander, realizarão um casamento sem amor de ambas

as partes.

Rudolf encarou o marquês.

– Samantha não o ama?

– Penso que não.

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Rudolf bebeu outro gole de uísque. Na certa Samantha Douglas o desprezava por

ele não tê-la visitado como prometera. Talvez em outras circunstâncias...

A porta se abriu, e o duque de Inverary entrou. Magnus Campbell era a versão mais

velha do filho: alto, forte, olhos negros, cabelos pretos começando a pratear nas têmporas.

– Estou a sua disposição, Alteza. – O duque indicou umacadeira na frente da

escrivaninha.

O príncipe sentou-se, e Robert acomodou-se na outra cadeira.

– Fazia tempo que não o víamos pela cidade. – Magnus Campbell sentou-se na

poltrona alta de couro.

– Estava em minha propriedade, em Sark Island, no canal.

Levei minha mãe e minha filha para lá, e decidi ficar um pouco com elas. Acabamos

de retomar a Londres.

– Você tem uma filha? – O marquês não escondeu o espanto, e Rudolf adivinhou

que Robert estava pensando na jovem cunhada.

– Sou viúvo.

– Sinto muito.

Magnus pigarreou.

– Seu inglês é perfeito, sem sotaque, Alteza.

– Minha mãe é inglesa. Elizabeth Montague. – Rudolf fez uma pausa, atento à

expressão do duque. – Pode ser que Vossa Graça se lembre dela.

Rudolf notou um lampejo, ainda que quase imperceptível, no olhar do duque. Mas

ele negou.

– Nunca tive o prazer de conhecê-la.

Magnus Campbell estava mentindo. Rudolf acreditava no que ela lhe contara sobre

o duque de Inverary. Afinal, ela ainda tinha momentos de lucidez.

- O que poderemos fazer por Vossa Alteza?

- Eu é que vim fazer por vocês, milorde.

Pai filho entreolharam-se intrigados.

-Vou explicar. Na primavera passada, meus homens piratearam um navio, pensando

que pertencia a meu irmão Vladimir. No entanto, tratava-se do The Tempest, pertencente a

vocês.

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Tirou um envelope do bolso e colocou-o sobre a escrivaninha. Sou um homem

honrado com mais dinheiro do que possa gastar. Aqui está uma nota bancária com o valor

que meus homesnsl roubaram. Com interesse, claro, espero que não apresentem queixa às

autoridades.

O duque e o marquês guardaram silêncio por um longo momento, por fim, Magnus

se pronunciou:

– Consideraremos o incidente como um mal-entendido, Alteza.

– Agradeço por sua generosidade, milorde.

– Você e seu irmão jogam duro um com o outro... – o marquês comentou.

Rudolf se reaproximou da janela. Samantha continuava no jardim. Sem pensar, ele

revelou:

Meu irmão me quer morto!

Pelo jeito, Rudolf atordoara de novo os Campbell, que o fitavam, atônitos.

Passado o momento de perplexidade, Magnus pigarreou mais uma vez.

– Você ficará para celebrar a passagem do ano conosco, claro.

A última coisa que Rudolf queria era testemunhar o noivado de Samantha Douglas

com Alexander Emerson.

– Não tenho roupa apropriada. Na verdade, vim sozinho e pretendia voltar à capital

hoje mesmo.

– Seu cavalo precisa descansar. – Robert aproximou-se dele. Somos quase do

mesmo tamanho. Poderá vestir um de meus trajes.

– Fazemos questão de que fique, Alteza – insistiu o duque.

Rudolf apreciava ainda a imagem doce e agradável de Samantha tocando violino.

– Aceito seu convite. Importam-se se eu for até o gazebo cumprimentar lady

Samantha?

– Estou certo de que ela apreciará seu gesto. – Mas a expressão de Robert dizia

alguma coisa mais.

Rudolf inclinou a cabeça e já ia saindo quando o duque Magnuso deteve:

– Posso perguntar sua idade, Alteza?

RudoIf arqueou uma sobrancelha e olhou para Robert, que parecia surpreendido.

– Completarei vinte e oito em 15 de maio. – Em seguida, saiu do escritório.

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Tentando afastar os pensamentos conflitantes, Samantha entregou-se ao violino.

Cerrando as pálpebras, deixou-se embalar pela melodia.

“Minha rosa búlgara...”

De repente, abriu os olhos e deparou com o principe. Seu coração disparou diante

do rosto bonito. Tentou falar, mas a voz não saiu. Só podia estar delirando.

Piscou, nervosa, mas a imagem continuava ali parada, olhando-a. Não era sonho.

Era real.

Por que RudoIf decidira procurá-la justo no dia de seu noivado com outro homem?

Que brincadeira de mau gosto!

– Vim visitá-la, mas você não parece muito satisfeita com minha presença.

– Vossa Alteza está um tanto atrasado.

– Rudolf – ele a corrigiu.

Samantha guardou o instrumento. Pendurou a alça da caixa no ombro e ficou de pé.

– Com licença, Alteza.

– Sente-se. Ela o encarou.

– Não sou uma de suas...

– Eu disse para sentar-se.

Samantha sentou-se, e com o movimento a capa se abriu. Mas, não sentiu frio. Seus

olhos cintilavam de raiva.

– Quero explicar-lhe por que não a procurei antes.

– Não é necessário.

– Sim, eu sei, mas quero fazê-lo assim mesmo. Tive uma emergência.

– Que durou oito meses?

– Tive de acomodar minha mãe e minha filha...

– Você tem uma filha?

Rudolf a fitou com expressão severa, numa muda reprimenda pela interrupção.

– Perdão... – Samantha baixou os cílios e percebeu que a estrela do rubi tomara-se

um vermelho forte, escuro como sangue. Franziu o cenho. Não acreditava que o principe

representasse um perigo.

Rudolf passou a mão pelos cabelos e continuou:

– Como eu dizia, precisava acomodar minha mãe e minha filha na propriedade que

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herdei de meu tio. Acontecimentos outros mudaram meus planos e impediram-me de vir

vê-la.

– Entendo. – Samantha se ergueu. – Se já disse tudo, Alteza, peço que me dê

licença.

– Não, Samantha, eu ainda não disse tudo. Quero que adie o anúncio de seu

noivado.

Ela meneou a cabeça, denotando incredulidade.

– É lógico que não vou fazer uma coisa dessas!

– Você não ama Alexander Emerson!

– Não sabe nada a meu respeito, Rudolfl

– Sei que é delicada como uma rosa búlgara e misteriosa como um Jasmim asiático

– murmurou com voz macia e um sorriso “encantador.

– Você vai me pedir em casamento? – desafiou-o.

– Não posso oferecer-lhe casamento neste momento. Quero conhecê-la melhor, mas

isso não será possível se você estiver noiva de outro homem.

– Quer que eu desfaça meu compromisso para conhecer-me melhor?

– Isso mesmo.

– Desculpe-me, não quero parecer indelicada, mas Vossa Alteza deve estar

delirando!

– Socorro! – gritou alguém no bosque.

Samantha e o príncipe se encararam.

– Socorro!

Ela correu, mas Rudolf segurou-a pelo braço.

– Fique aqui.

Samantha desvencilhou-se e continuou correndo. O crepúsculo começava a cair na

floresta densa, e ela mal conseguia enxergar por onde passava.,

– Socorro! – O pedido parecia “mais próximo agora.

De repente, um homem enorme pulou na frente deles, apontando uma arma para

Rudolf.

– Não! – Samantha avançou para cima do malfeitor.

Alguém a puxou pelo braço, mas ela ainda conseguiu pisar no pé do assaltante com

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o salto da bota.

– Ai! Essa maluca quebrou meus dedos!

– Que exagero! – disse outra voz masculina. – Ela não é tão pesada assim!

– Igor! – Samantha olhava para o gigante de revó1ver na mão.

– Sua pombinha lembra-se de mim, Alteza – Igor ironizou.

– Solte a moça antes de atirar em mim. Ela não tem nada a ver com as diferenças

entre mim e Vladimir.

Igor refletiu por alguns segundos. .

– Não posso soltá-la, agora que ela me reconheceu, mas também não vou matar um

príncipe. Se Vladimir o quer morto, que o mate ele mesmo. – Indicou uma trilha. – Vamos

andando rápido!

– Não irei a lugar algum! Esta noite vou anunciar meu noivado!

– Não o provoque, Samantha – Rudolf recomendou.

Ela torceu o nariz, mas não discutiu. Postou-se ao lado do príncipe e, escoltados

pelos bandidos, caminharam pela mata.

Em minutos, chegaram à estrada, onde uma carruagem os esperava. O sol já se

pusera, e a noite caía rápido. Um dos homens uhriu a porta do veículo. Samantha hesitou

em entrar.

– Eu protesto...

Igor aproximou-se com o revó1ver, e ela pulou para dentro. O ajudante bateu a

porta, e eles partiram.

– Sinto muito por envolvê-la nisso. – Rudolf enlaçou-a pelo ombro – Prometo

defendê-la com minha vida.

Samantha fitou-o. O rosto bonito era quase invisível no interior escuro.

– Vou ficar noiva...

– Não hoje, Samantha.

O sorriso satisfeito dele a irritou, e Samantha virou-se para a janela. Ajeitou a capa

ao redor de si. Passara seus dezoito anos vivendo à sombra da talentosa irmã mais velha,

que clamava por vingança, e da irmã caçula, vibrante e sonhadora, que só queria vingar-se.

Ninguém a notava, e jamais iniaginara que teria a sorte casar-se e ter sua própria família.

Até Alexander Emerson aparecer.

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Alexander não a amava, mas queria casar-se com Samantha para reparar os crimes

que o pai cometera contra a família Douglas. Sem dúvida teria sido um bom marido.E

agora? Mesmo que ela sobrevivesse àquela aventura, sua reputação estaria arruinada.

Nenhum cavalheiro sonharia em desposá-la, depois de ter desaparecido com um príncipe

russo. Nem mesmo o bem-intencionado Alexander Emerson. E pensar que o sonho estivera

em suas mãos e que escapara por entre seus dedos...

Samantha perdeu o controle das emoções. As lágrimas escorreram por suas faces, e

um soluço escapou-lhe da garganta.

– Lamento – o príncipe murmurou, puxando-a de encontroao peito.

Samantha sentiu a respiração morna em seus cabelos, e a fragânci de sândalo

inebriou-a.

Rudolf ofereceu-lhe o lenço.

– Peço desculpas pelo choro. – Enxugou as lágrimas. – Chorar nunca resolveu

nenhum problema.

– As lágrimas limpam a alma, eliminando todos os sentimentos negativos. Sei que

está assustada, mas teremos oportunidade de fugir.

– Não estou assustada, Alteza. Não temo coisa alguma, nem mesmo Igor. Também

não pretendo esperar uma oportunidade para fugir. Os Douglas fazem sua própria sorte.

– Muito bem. O que devemos fazer? Pular da carruagem em movimento? Isso

causaria nossa morte.

– Vamos morrer de qualquer forma, Alteza.

– Acho que não.

– Se eu não estivesse aqui, o que você faria?

– Pularia para fora.

– Então, é o que faremos.

– O violino poderá atrapalhar. Você terá de deixá-lo aqui.

– Alteza, eu e meu violino pularemos juntos. Com um pouco de sorte, voltarei à

mansão do duque a tempo de salvar minha reputação e meu compromisso.

– Muito bem. Mas eu levo o instrumento.

– Que seja!

Rudolf girou a maçaneta, mas a porta não abriu.

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– Igor trancou-a!

– Deixe-me tentar.

Rudolf não permitiu:

– Você acha que tem mais força do que eu?

Samantha se endireitou no assento e cruzou as mãos no colo.

– Tem outra idéia?

– Nenhuma no momento. – O príncipe Rudolf contemplou-a com um sorriso

radiante que a enfureceu ainda mais.

– Como pode estar tão alegre diante da possibilidade de morrer?

– Devo dizer que estou aliviado. Essa porta trancada evitou ferimentos.

– Não sou tão delicada quanto supõe.

– Eu estava pensando em mim, não em você – brincou.

Samantha não respondeu. Estava zangada demais, e se não se controlasse acabaria

por ofender o príncipe.

– Esse seu pingente é muito bonito, Samantha. A estrela dentro deste rubi é formada

por três espíritos benignos: Fé, Esperança e Destino,

– O espírito do destino não me parece muito benigno esta noite.

– Seu destino não cruza com o de Alexander Emerson.

– Ao que tudo indica, o que me espera é morrer com você. A

propósito, por que Vladimir quer matá-lo?

– Isso não é de sua conta.

Samantha virou o rosto. Não acreditava que iria para o túmulo sem saber o motivo

de sua morte!

– Foi Alexander quem lhe deu esse rubi?

– Não é de sua conta!

– Cuidado com a língua, milady.

Empinando o queixo, ela se levantou para sentar-se no banco da frente. O príncipe

sentou-se a seu lado. Ela fez menção de voltar ao outro banco, mas Rudolf a segurou e

aconchegou-a em seus braços.

– Não vai fugir de mim, meu amor.

Amor? Decididamente, o príncipe escolhera mal as palavras, ou era uma tentativa

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para acalmá-la diante do pergo eminente?

– Peço desculpas por não tê-la visitado, Samantha. Obrigações em demasia

impediram-me de fazer o que meu coração queria.

– Você não me deve explicações.

– Quando a conheci, senti que você seria capaz de compreender uma grande dor. –

Ele começou a acariciar-lhe o ombro. Também tenho sofrido muito na vida.

– Creio que todos sofrem, até mesmo os príncipes.

– Sobretudo os príncipes.

– Podemos nos conhecer melhor enquanto esperamos a hora passar, seria nosso

passamento – ela sugeriu, mordaz. – Fale-me sobre seus familiares.

– Eu trouxe minha mãe e minha filha para a Inglaterra. Com a morte de meu tio,

herdei Montague House.

– Vocêtem irmãos?

– Quatro, todos mais novos. Os gêmeos Vladimir e Viktor,:

Mikhail e Stepan.

“Então, Vladimir é irmão dele!”

– E seu pai?

– Prefiro não falar dele. Fale-me de você agora.

– Sou pobre. – Deu de ombros. – Não tenbo um centavo em meu nome.

– Eu avalio as pessoas pelo caráter, não pelas posses.

– É raro um príncipe possuir tão magnânima integridade.

O ruído característico dos cascos dos cavalos batendo no chão de pedras chamou a

atenção deles. Ansiosos, espiaram pela janela.

Apesar do horário e do frio, muita gente circulava pela rua estreita.

– Estamos em Londres – Rudolf concluiu. E, virando-se para Samantha, deu-lhe um

beijo suave, terno, que se transformou em outro mais ardente. Só a freada brusca os

separou.

– Fique atenta à chance de escapar – o príncipe sussurrou, seus lábios ainda roçando

os dela.

– Por que vamos morrer, Rudolf?

– Meu irmão me odeia. Vladimir se parece com nosso pai.

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A revelação espantou-a, mas não houve tempo para considerá-la, pois a porta do

veículo foi aberta.

– Desçam! – Igor ordenou.

Rudolf saiu primeiro e estendeu a mão para ajudar Samantha.

Com a caixa do violino a tiracolo, ela se apoiou na maçaneta. “Sem

trinco”, sua mente registrou. Olhou feio para o príncipe.

Rudolf sorriu como um garoto flagrado mentindo.

– Salvei-a de mim mesmo – justificou-se.

– Vamos andando. – Igor apontava-lhes o revólver.

Carregando lanternas, dois cúmplices iluminavam o caminho pela alameda que

terminava numa casa, na qual eles entraram.

Samantha notou um corredor que levava à cozinha. Outra porta foi aberta, e eles

desceram um lance de escada. Samantha desequilibrou-se e caiu sobre Igor.

– Droga! – o homem esbravejou e empurrou-a com força.

Com o impacto, Samantha bateu num dos bandidos, que, por sua vez, empurrou-a

também.

Rudolf a amparou.

– Encoste nela de novo e morrerá! – ele o desafiou.

– Estou com tanto medo, meu príncipe! -o bandido gargalhou. Insolente!

– Por favor, Rudolf. – Samantha segurou-o pelo braço. Não me machuquei. Se o

matarem, ficarei sozinha. Não faça nenhuma loucura.

O porão cheirava a mofo. A escuridão era quebrada apenas pela chama da lanterna.

– Igor, você não pode nos deixar aqui. Este lugar é insalubre!

Um dos bandidos soltou uma gargalhada.

– Vocês não viverão o suficiente para adoecer, príncipe!

– Ah, não! – Samantha exclamou.

Rudolf abraçou-a e pediu a Igor:

– Por favor, deixe-nos a lanterna pelo menos.

– A um gesto de cabeça do chefe, um dos bandidos colocou a lanterna no solo.

– Onde estão as chaves? – Igor vasculhava os bolsos. Virou-se para os cúmplices. –

Ei, Dimitri, vá buscar as cópias das chaves. E você, Yuri, traga vodca, queijo e pão.’

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– Vai alimentá-los? Que desperdício!

Igor urrou como um urso, e os dois homens subiram os degraus com a rapidez de

um raio.

– Sinto muito pelas acomodações, Alteza. Vladimir chegará dentro de um ou dois

dias e... – Não terminou a frase ao ver Yuri retomando com uma bandeja. – Aí está seu

jantar.

– Igor, sempre gostei de você. Se um dia deixar de trabalhar para meu irmão, haverá

lugar para você entre os meus empregados.

Antes que Igor pudesse responder, Yuri riu, ironizando:

– Mortos não têm empregados! E pegou a caixa do violino.

Vou levar isto. Conseguirei uns trocados com ele.

– Só se for por cima de meu cadáver! – Samantha segurava a caixa.

Rudolf apertou o pulso de Yuri, obrigando-a a soltá-la. Ao mesmo tempo, Igor

pegou o homem pelos ombros e jogou-o em direção à escada.

Espantado e zonzo, Yuri subiu, trôpego, os degraus, cruzando com Dimitri.

– Achei as chaves. – Dimitri entregou as cópias para o chefe.

– Aproveite a vodca, Alteza – disse Igor, subido a escada

atrás do cúmplice, e trancou a porta.

De lanterna na mão, Rudolf circulou pelo porão, à procura de uma rota de fuga. Sem

encontrar nenhuma, largou a lanterna no chão. .

– Mais um ou dois dias, e você terá o desprazer de conhecer meu irmão. – O

príncipe abriu os braços num gesto de impotência. Sinto muito por tê-la envolvido em

nossa guerra particular.

Samantha sentou-se no degrau.

– Não acredito que eu esteja aqui, neste porão úmido e mal cheiroso, quando

deveria estar participando de minha festa de noivado. Alexander nunca mais se casará

comigo.

– Você não o ama, Samantha. E parece que ele também não.

– Amor não tem nada a ver com casamento. Esse é um luxo reservado para uns

poucos afortunados... como os príncipes ricos e honitos.

– Merece um marido que te ame.

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– Você mentiu sobre a porta da carruagem – Samantha oacusou, ignorando o

comentário.

Foi a vez do príncipe ignorar as palavras dela.

– O que a faz pensar que não merece um casamento por amor?

– Ora, eu sou aleijada...

– Não é.

– Você é cego?! Não vê que tenho a perna defeituosa que me luz mancar?

– Dirija-se a mim num tom mais respeitoso. Afinal, sou príncipe da Rússia.

Em vez de intimidar-se, Samantha se enfureceu:

– Você é uma pedra real em meu sapato! Quem lhe deu direito de repreender meu

comportamento?! Desapareceu durante oito meses, e de repente, surge do nada, irrompe em

minha vida mudando meus planos e impondo-me à tortura de um seqüestro e cativeiro!

– Já pedi desculpas...

– Quem liga para suas desculpas?! Eu não o perdôo!

Rudolf sentou-se ao lado dela.

– O perdão não é um ato de caridade?

Samantha o encarou, espantada com o arrependimento dele.

– Vossa Alteza sempre pede desculpas às pessoas?

– Não que eu me lembre. – Bebeu um gole de vodca no gargalo e ofereceu-lhe a

garrafa..

– Não gosto de bebidas alcoólicas. Por que seu irmão quer, matá-lo? .

– Vladimir sempre teve ciúme de mim. Quer uma coisa que eu tenho, e pelo visto

pretende acabar comigo para consegui-la.

Samantha não entendia o que poderia ser tão importante para induzir um irmão a

matar o outro.

– O que você tem gue ele quer?

– O Kazanov Vênus.

Samantha lembrou-se do que Igor dissera na noite do baile dos Emerson.

– O que é isso?

– O Kazanov Vênus é um medalhão de ouro com a imagem entalhada da deusa

Vênus segurando a mão de Cupido. A peça pertence a minha fanulia há mais de cinco

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séculos, e sempre passando do pai para o filho mais velho. Aquele que possuir o medalhão

terá prosperidade e fertilidade.

– Se seu pai o entregou a você, não entendo...

– Ele ainda está vivo. Eu trouxe o Vênus quando saí da Rússia.

– Roubou-o de seu pai?

– Imagine! Apenas peguei o que é meu.

– Sendo assim, por que Vladimir pensa que ajóia deveria ser sua?

– Não sei o que se passa na cabeça de meu irmão, mas sei que seu coração está

cheio de maldade e inveja. – Rudolf a abraçou e surpreendeu-a com uma proposta

indecorosa: – Já que vamos morrer amanhã ou depois, por que não passamos a noite

fazendo amor?

Sumantha desvencilhou-se dele e encarou-o, indignada.

– Essa foi uma péssima idéia – Rudolf admitiu com um sorriso arrependido. –

Perdoe-me. Gostaria que as circunstâncias fossem diferentes para nós.

– Eu também.

Permaneceram sentados e calados por um longo tempo. O único ruldo era o dos

passos dos malfeitores no cômodo acima. Logo, o barulho cessou e a quietude tomou conta

da casa.

– Acho que nossos seqüestradores foram dormir – Samantha sussurrou.

– Parece que sim.

Ela tirou um molho de chaves do bolso e balançou-o na frente do príncipe.

– Podemos ir agora?

Rudolf olhou-a, boquiaberto.

– Como conseguiu?!

– Quando caí sobre Igor, tirei-as do bolso dele, sem ninguém perceber.

– Quer dizer que seu tombo até que foi benéfico. – Rudolf sorriu, ergueu e ofereceu-

lhe a mão.

– Que bobagem! Eu me joguei em cima daquele facínora mal cheiroso de propósito!

Por sorte ele não desconfiou de nada.

Rudolf pegou as chaves.

– Vamos?

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– Só um instante. – Samantha apoiou o pé no degrau e retirou uma adaga de dentro

do cano da bota. – Agora estou pronta.

O príncipe quase não acreditou no que viu.

– Costuma carregar uma adaga escondida na bota?

– Pois é... nunca sabemos o que pode acontecer, não é mesmo

Só não a tirei antes porque uma adaga não é páreo para uma pistola.

– Nem parece aquela jovem delicada com quem dancei no baile dos Emerson.

– Sou como sempre fui. Quer fugir ou discutir suas conjectura a meu respeito?

Sorrindo, Rudolf tirou a arma da mão dela.

– Leve a lanterna para iluminar o caminho.

– Temos de fazer o mínimo de barulho, Rudolf. É melhor ficarmos descalços.

Assim, subiram os degraus bem devagar e, pé ante pé, atravessaram o corredor.

Num instante estavam na rua.

– Vou apagar a lanterna para não sermos seguidos – Samantha avisou.

Caminharam rápido. Quando já estavam bem distantes da casa, pararam para se

calçar.

– Os londrinos estão comemorando a chegada do novo ano ela comentou, ouvindo

vozes vindas de não muito longe dali.

– Devemos nos misturar à multidão. Será mais seguro.

Sem demora, chegaram à rua principal, onde os cidadãos se aglomeravam.

– Iremos para minha propriedade – o príncipe determinou, e seguiram em frente o

mais depressa que conseguiram.

Por volta das dez horas, chegaram a Montague Rouse.

– Rudolf, se não for pedir muito, gostaria que seu cocheiro me levasse para a

mansão do duque.

– Não, Samantha. Você não pode sair daqui. A esta hora, Igor e seus comparsas já

estão em nosso encalço.

– Estarei em segurança com o duque de Inverary.

– Sua facilidade em reconhecer nossos assaltantes coloca sua vida em grande

perigo. – O príncipe a conduziu para a entrada.

Apesar do medo inconfessado, Samantha não permitiria que seu sonho se perdesse

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tão fácil.

– Ainda posso chegar a tempo de...

– Seu bem-estar é mais importante que o noivado com Alexander Emerson.

Diante do inevitável, Samantha suspirou e inclinou a cabeça. Deixou-se levar para o

hall e respirou aliviada quando Rudolf fechou a porta.

– Karl! – o príncipe chamou.

Um momento depois, apareceu um rapaz alto e moreno, aparentando ter a idade de

Rudolf.

– Vossa Alteza voltou! Eu pensei que...

– Sirva alguma coisa para comermos, Karl. Mande Bóris e Elke virem aqui.

– Sim, Alteza.

Rudolf e Samantha foram para a sala de jantar, tão luxuosa quanto à do duque de

Inverary.

O príncipe a acomodou na cadeira à cabeceira da mesa. Assim que Rudolf se

sentou, Karl e um casal de meia-idade entraram, carregando bandejas com rosbife, queijo,

pão e garrafas de bebidas.

– Acabamos de escapar de Igor. – A afirmação de Rudolf causou olhares surpresos

dos empregados. – Vladimir chegará a Londres amanhã ou depois. Bóris e Elke, façam as

malas de minha mãe e de minha filha. Karl os levará até meu navio. Digam ao capitão que

mandei levá-los de volta a Sark. Ele e o navio também deverão ficar por lá.

Com uma reverência, Bóris e Elke retiraram-se para cumprir as ordens.

– Providencie provisões para nós e prepare a carruagem, Karl.

– Sim, Alteza. – E o criado se foi.

– Samantha, conhece algum lugar para nos escondermos?

– Não posso ir com você, Rudolf. Isso arruinará minha reputação!

– Minha doce rosa búlgara, sua reputação vale menos que sua vida.

O argumento fazia sentido. De que adiantaria uma reputação imaculada se não

estivesse viva para desfrutá-la?

– Sua mãe e sua filha não estariam mais seguras com você?

– Vladimir procurará primeiro por mim. Caso nos encontre, quero minha mãe e

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minha filha em outro lugar. Se meus três irmãos estivessem aqui, elas poderiam ficar com

eles, mas só virão na primavera.

Lembrando-se de que Angélica mencionara Sweetheart Manor,

Samantha sugeriu:

– Podemos passar a noite em meu chalé, e amanhã cedo iremos para a Escócia.

– Escócia?

– Sim, Rudolf. Minha fanúlia é proprietária de Sweetheart Manor, localizada perto

de Dumfries. Como presente de casamento para minha irmã, Robert Campbell reformou-a

inteira.

– Nesse caso, vamos para lá. – Rudolf entornou um líquido incolor em dois copos e

passou um para ela. – Beba de um só gole.

Samantha cheirou o conteúdo. Inodoro. Seria uma bebida forte?

Olhou para o príncipe antes de beber, e flagrou o sorriso dele.

Engoliu a bebida como ele mandou. Seus olhos azuis arregalaram-se quando o

líquido bateu no estômago.

– Coma isto. – Rudolf deu-lhe um pedaço de queijo suíço.

Samantha o comeu e respirou fundo.

– Que bebida é essa?

– Vodca. – Rudolf tomou mais um copo.

Os empregados entraram na sala. Bóris carregava nos braços uma menina loira e

adormecida. Elke amparava uma mulher de cabelos pretos que parecia confusa.

O príncipe levantou-se e falou com a mãe como se ela fosse uma criança: – Mamãe,

preciso sair de” Londres por alguns dias. Bóris e EIke vão levá-las para Sark, e em breve eu

me juntarei a vocês.

– Para onde vai, filho?

Rudolf beijou as mãos dela.

– Tenho negócios na Escócia, e ficarei mais tranqüilo se vocês estiverem em nossa

casa em Sark.

A mulher sorriu de um modo ausente. Seu olhar parou em Samantha. Como uma

garotinha, apontou o dedo e indagou:

– Quem é?

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– Minha amiga Samantha. – Rudolf aproximou-se da filha e sorriu com ternura. –

Cuide de minha famíli, Bóris.

– Alteza, nós as guardaremos com nossas vidas.

– E você, Karl, assim que o navio partir, entre em duas ou três tavernas no cais do

porto e deixe saberem que trabalha para mim, e que estou de partida para a Escócia..

– Voltarei logo, Alteza. – Karl saiu da sala com os demais.

– Quer que seu irmão nos encontre?!

– Se Vladimir pretende nos perseguir, Samantha, quero que seja em direção oposta à

de minha fann1ia.

– Entendo.

– Onde fica o chalé? – Rudolf tomou a se sentar.

– Em Primrose Hill. Até quando ficaremos escondidos? Tenho que escrever ao

duque e a minha tia, explicando o que houve.

– Nada de cartas. Quanto menos pessoas souberem onde nos encontramos, menores

serão as chances de Vladimir nos achar. Por isso dei ordens para o navio permanecer em

Sark. Ninguém sabe que tenho uma propriedade lá.

Samantha examinou o rubi. A cor estava mais clara. Decididamente, tia Roxie tinha

poderes extra-sensoriais! Ela teria previsto...

O pensamento era absurdo demais para ser considerado.

– O que sua mãe tem? Ela parece um pouco... – Samantha hesitou, procurando o

termo certo.

– Alheia? – Rudolf sugeriu. – Você também ficaria se seu marido a trancafiasse

num manicômio durante quase quinze anos.

– Que maldade! Por quê?

– Meu pai decidiu interná-la quando seu período de fertilidade acabou.

Samantha não sabia o que dizer. Queria oferecer-lhe conforto, mas não imaginava

como.

– Sinto muito, Rudolf. – Foi tudo o que conseguiu falar.

Ele tomou-lhe a mão e beijou-a, como fizera com a mãe.

– Isso foi há muito tempo. – Forçoil um sorriso triste. Como você viu, eu a tirei do

sanatório e trouxe-a para a Inglaterra.

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Quando Karl retrnou, entregou uma capa ao príncipe.

– Eu os vi embarcar em segurança, Alteza. A carruagem está a sua disposição.

– Lady Samantha, este é Karl. – Rudolf ficou de pé. – Ele a servirá como serve a

mim.

Karl fez uma reverência.

– Prazer em conhecê-lo, Karl. Meu chalé fica em Primrose Hill.

A carruagem parou diante do último chalé no final da única rua da aldeia.

– Nos fundos, há lugar para abrigar os cavalos. – Samantha desceu ajudada pelo

príncipe.

– Leve o veículo para lá, Karl.

Samantha entrou na casa escura, acendeu a lanterna e, constrangida, disse:

– Foi aqui que cresci...

– Nunca deve se envergonhar de suas origens, minha pequena. Há coisas piores do

que a pobreza.

– Suas palavras são muito bonitas, Alteza, mas é fácil pronunciá-las quando nunca

se passou por privações. Vivi aqui desde os sete anos até o final do mês de março passado,

quando o duque de Inverary nos convidou para morarmos com ele.

– Muito generoso da parte de Sua Graça.

Samantha o olhou. Não lhe passou despercebida a entonação estranha do príncipe ao

mencionar o duque. E não era a primeira vez que ela notava isso. Seria uma ponta de

sarcasmo?

– Sua Graça era o melhor amigo de meu pai, e quis nos ajudar.

– Dez anos é muito tempo para quem deseja de fato oferecer ajuda a alguém.

– O duque não sabia onde nós estávamos, Rudolf. Quando papai morreu, tia Roxie

avisou-o, e no dia seguinte sua carruagemapareceu em nossa porta.

– Gostaria de tê-la conhecido em criança. Qual era seu quarto?

Samantha apontou a primeira porta.

– Eu o dividia com minhas irmãs.

Rudolf espiou o cômodo.

– Mal cabe uma pessoa aqui!

– Pois é.

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Karl retomou e acendeu as lareiras.

– É tarde – disse o príncipe, acariciando a face de Samantha.

Durma em seu antigo quarto, e saiba que estarei velando seu lado.

Ela assentiu, entrou no aposento e fechou a porta. Apesar do frio, tirou o vestido,

ficando só de combinação. Deitou-se, mas o sono não veio. Tento contar cameirinhos, mas

só a imagem de Rudolf lhe ocorria. Adormeceu contando príncipes russos, e cada um deles

era idêntico a Rudolf Kazanov.

O príncipe Rudolf sonhou com damas inglesas, e todas se pareciam com Samantha

Douglas. Em pé ao lado da cama dela, contemplava a mulher que o conquistara. Mesmo na

penumbra, era uma imagem etérea e muito mais adorável do que todas as mulheres que ele

conhecera antes.Ou seria sua beleza interior que a tomava tão atraente? Os cabelos

castanhos emolduravam_lhe o rosto. Samantha Douglas possuía uma beleza delicada e

cativante, bem diferente da formosuraloira e estonteante de Olga.

Rudolf debruçou-se e inalou seu perfume, que lembrava rosas e jasmins. Quis tocar

sua face, mas conteve-se.Ele a desejava. Como nunca antes. Sorriu, invadido por uma

sublime antecipação. Sim, ele a teria antes do final daquela jornada. Tocaria cada

centímetro de Sua pele sedosa e conheceria seu corpo melhor do que ela mesma. Samantha

era tudo com que sempre sonhara, tudo o que ele acreditara encontrar em Olga.

– Acorde, minha bela adormecida, para saudar o dia.

Samantha resmungou de um jeito pouco feminino. Rolando no colchão, cobriu a

cabeça com o travesseiro..

– Samantha, você precisa acordar.

– Vá embora!

Um sorriso infantil curvou os lábios do príncipe. Ele puxou a coberta, expondo-a, só

de camisola, ao frio da manhã.

Samantha sentou-se no colchão. Por um instante, pareceu confusa com o cenário,

mas logo o rubor cobriu-lhe as faces. Recorreu a capa para ocultar seu corpo seminu.

– Beba. – Rudolf entregou-lhe uma xícara com café quente.

– Ainda está escuro – reclamou, pegando a xícara. Com o gesto, os dedos de ambos

se tocaram.

Rudolf sentiu-a estremecer e fitou-a nos olhos. O toque excitara-a tanto quanto a

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ele.

– Logo vai clarear. Quero sair o mais cedo possível. Samantha tomou um gole e

torceu o nariz.

– Está forte!

– Coloquei um pouco de vodca para nos esquentar. – Rudolf afastou-se. – Eu trouxe

uma bacia com água quente para você se lavar. Faremos nosso desjejum na carruagem.

Por alguns momentos, ele ainda ficou ali, em silêncio, observando-a.

– Não poderei me lavar se você continuar aí parado – Samantha lembrou-o.

– Engraçado, você é ainda mais bonita assim sonolenta.

Ruborizada, Samantha baixou os dlios, e Rudolf se foi.

Minutos depois, ela entrou na sala, de capa e com a caixa de violino a tiracolo.

Ajoelhado diante da lareira, Rudolf terminava de apagar o fogo.

Ao vê-la, levantou-se e, sorrindo, fez uma reverência.

– Feliz ano-novo, milady.

– Feliz ano-novo, Alteza.

– Está pronta?

– Siin.

Karl já os aguardava com a carruagem à porta do chalé. Samantha fitou o horizonte.

O dia começava a amanhecer.

Rudolf ajudou-a a subir e sentou-se bem junto dela no banco, estendendo uma

manta de pele sobre os dois.

– Esta coberta é quente, e ficaremos mais aquecidos ainda se juntarmos o calor de

nossos corpos. – Ignorando a expressão de pânico de Samantha, ele a enlaçou pelos

ombros. – Ainda é cedo. Encoste a cabeça em meu ombro e durma.

Samantha o encarou com os enormes olhos azuis.

Rudolf arqueou as sobrancelhas, e ela desistiu, aceitando a sugestão dele. Jamais

admitiria que a proximidade assustava-a. Os Douglas nunca demonstravam fraqueza.

– Diga-me, minha rosa búlgara, como conseguiu tirar as chaves do bolso de Igor?

– Prefiro não dizer.

– Ora, vamos! Estou morrendo de curiosidade.

– Que horas são?

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– Não pense que irá se esquivar de minha pergunta.

– Diga-me as horas. – Samantha lançou-lhe um olhar maroto.

– Depois, eu falo o que você quer saber.

Rudolf endireitou-se para tirar o relógio do bolso. Como não o encontrou, vasculhou

os outros.

– Procurando isto, Alteza? – Samantha abriu a mão e exibiu a peça.

Rudolf deu risada.

– Como fez isso?

– Minhas mãos são mais rápidas do que meus pés. – Seu orgulho por tal talento era

evidente. Afinal, não tinha futuro com o príncipe. Por que não contar-lhe sobre sua

habilidade nada louvável? – Depois que meu pai perdeu a fortuna, precisávamos de

dinheiro para sobreviver. Tory e eu praticamos roubos de carteira até nos tomarmos

experts. Angélica especializou-se em trapacear nos dados e nas cartas.

– Alguém deveria ter cuidado de vocês.

Samantha não respondeu. Aconchegou-se nos braços dele, sentindo-se segura.

Examinou o rubi. A pedra continuava plácida.

Portanto, não corria perigo com o príncipe.

– Olhe para mim, Samantha.

Ela ergueu os olhos. O rosto dele estava muito próximo. Rudolf ia beijá-la, mas

quando os lábios dele encostaram no dela, seu estomago roncou de fome.

Samantha ficou mortificada.

– Você precisa comer. – O príncipe a beijou de leve, e apanhou a cesta no assento

de frente. Ofereceu-lhe um pedaço de pão preto com queijo e um frasco. – Temos de beber

um gole disto de hora em hora para nos mantermos quentes.

Ela tomou um pouco. O líquido desceu queimando até chegar seu estômago. Em

seguida, deu uma mordida no queijo.

– Você está aprendendo – ele brincou.

A carruagem passou pelos vilarejos de Harrow e Cookham. Em seguida vieram

Henley e Marlow, em Chiltems. Passaram por Oxlord e, no final da tarde, o veículo

atravessava a ponte Clopton sobre o rio Avon.

Samantha e Rudolf jantaram na Hospedaria Black Swan Inn. Ela comeu seu pedaço

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de carne em silêncio, lançando olhares furtivos para o príncipe.

A sombra das chamas da lareira brincava sobre as feições dele, e Samantha

admirava-lhe o perfil nobre, desde o nariz reto até os lábios sensuais. De repente, lembrou-

se da sensação daqueles láhios cobrindo os dela.

O local tomou-se de súbito abafado, e ela fitou as mãos dele, alisando os dedos

compridos. Como seria ter aquelas mãos acariciando-lhe a pele?

– Por que está vermelha? – Rudolf quis saber.

Samantha sentiu o rosto ardendo.

– Não estou vermelha. Quanto tempo você acha que ficaremos na Escócia? –

perguntou para disfarçar o embaraço.

Para sua surpresa, Rudolf apertou-lhe a mão.

– Espero que por muito tempo.

– Isso é inaceitável. Minha famíia ficará preocupada, e meunoivo... – Meneou a

cabeça, desolada. – Lógico que já nem tenho mais noivo.

– Eu a compensarei por essa perda.

– Como fará isso, Alteza?

– Pensarei em algo. Está pronta para recolher-se?

– Sim._

– Permita-me acompanhá-la até seu quarto.

Samantha pegou a caixa do violino e deixou-se conduzir até o andar Superior.

Rudolf abriu a porta do último quarto à esquerda e acendeu o castiçal.

Ela examinou o aposento. A cama de casal ocupava quase todo o cômodo pequeno.

Sentiu-se muito desconfortável. Tirando a capa, bocejou.

– Não vejo a hora de me deitar. – Ela ouviu o ruído do trinco e voltou-se rápido.

O príncipe tirava o paletó.

– Céus, o que significa isso?!

– Ora, eu vou dormir!

– Não pode dormir aqui!

– Estou cansado demais para discutir, Samantha.

– Pois trate de ir dormir em outro quarto, senão minha reputação ficará arruinada.

– Pensei que já estivesse. – E Rudolf esboçou um sorriso malicioso.

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– Então, saio eu!

– Princesa, não discuta. – Rudolf bloqueou-lhe a passagem. – Tire o vestido e deite-

se.

De repente, a indecisão. Como poderia dividir o leito com ele e não perder a

virtude? Mais cedo ou mais tarde...

Examinou o pingente de rubi, que continuava plácido. Ou tia Roxie mentira sobre os

poderes mágicos da pedra ou não corria mesmo perigo nenhum com Rudolf.

– Muito bem – capitulou.

Rudolf descalçava as botas, e ela começou a se despir. Olhou para o príncipe para

ver se a observava, mas ele dera-lhe as costas.

Antes de deitar-se, Samantha ajoelhou-se, cobriu o rosto com as mãos e, em

silêncio, começou a rezar.

– O que está fazendo?

Samantha entreabriu os dedos e viu-o. “Deus do céu, o príncipe tirou a camisa! Que

torso perfeito, que músculos!”

– Estou agradecendo a Deus.

– Pelo quê?

– Por... por... Ah, não é da sua conta!

– Não fale assim comigo. Sou o príncipe da Rússia, lembre-se. Ignorando-o,

Samantha se deitou, virada para o lado oposto a ele. Como conseguiria dormir com Rudolf

sob as mesmas cobertas? E então, ocorreu-lhe um pensamento alarmante.

– Nem se atreva a tirar a calça!

– Princesa...

– Por que está me chamando assim?

– Eu disse ao dono da hospedaria que você é minha mulher. Surpresa, Samantha se

voltou e assustou-se mais ainda ao vê-lo

Inclinado sobre ela. Uma fina camada de pêlos pretos cobria-lhe o peito largo.

– Você está seminu... – murmurou, logo se dando conta decomo soara infantil.

Rudolf contemplou-a com um sorriso sugestivo.

– Por que não segue meu exemplo?

Ela arregalou os olhos.

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– Estou brincando, princesa.

Os rostos de ambos quase” se tocavam. Samantha forçou-se a dormir enfeitiçada

pela intensidade do olhar dele.

– Durma bem, e tenha lindos sonhos. – Rudolf afastou alguns tios de cabelos da face

dela e acrescentou, rouco: – Só um beijo de boa noite.

Ele a beijou com carinho. Tanta ternura seduziu-a. Provocante, a língua de Rudolf

pressionava-lhe a boca. Em resposta, Samantha entreabriu-os, e o teor do beijo se tornou

bem diferente.

Ela espalmou as mãos no tórax dele. Em vez de empurrá-lo, cariciou-o, gostando de

sentir a rigidez dos músculos em sua pele. Depois, enlaçou-o pelo pescoço, excitada.

A sanidade arrancou-a daquele torpor ao ouvir o príncipe murmurar:

– Boa noite, princesa.

Sua reação aos carinhos de Rudolf a atordoou. Atônita, virou-separa a parede. Sua

feminilidade recém-desperta e as emoções tumultuadas confundiam-na. Como pudera

comportar-se com tantodespudor?

Uma parte dela sentia-se envergonhada por seu comportamento, mas a outra queria

mais. E então, lembrou-se de Deus.

“Decerto o Senhor não está contente comigo. Quero agradecer-Lhe por pennitir-me

outro beijo. Ficarei gratíssima se o Senhor, de alguma forma, salvar minha... reputação ou

virgindade?”

Um sorriso curvou seus lábios após de tomar a decisão: “Se o Senhor puder salvar

minha reputação”.

Samantha acordou cedo na manhã seguinte. No primeiro momento, sentiu-se

desorientada, mas logo entendeu onde estava e com quem. Com a face encostada no peito

do príncipe, sentiu o braço dele em suas costas, mantendo-a de encontro a si. Durante o

sono, ela enroscara as pernas nas dele, e agora sentia a masculinidade de Rudolf em sua

coxa. Abriu os olhos, e viu que a alça da combinação descera, expondo um dos seios..

O príncipe ainda dormia. Não queria acordá-lo, mas também não pretendia que a

flagrasse enroscada nele. Continuou imóvel, sem saber o que fazer. Sentiu, então, a mão

dele se movendo devagar.

O príncipe estava acordado!

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Prendeu a respiração quando a mão de Rudolf cobriu-lhe o seio exposto. Ele

apalpou a carne macia antes de contornar o mamilo, que enrijeceu com o carinho.

A intensidade de seu olhar e o dedo acariciando-lhe o mamilo enfraqueceram as

defesas dela. Sua respiração saía como soluços. Quase derretendo, experimentou o calor

intenso entre as pernas.

– Seus seios são bonitos, princesa, e os mamilos, tão sensíveis!– Rudolf endireitou

as alças da combinação para cobri-la.

Samantha se arrepiou, e ele sorriu...

A vida transformou-se numa longa viagem de carruagem. O cansaço impedia que

Samantha admirasse as belezas das cidades pelas quais iam passando.

Olhando distraída pela janela, sorriu por sua ingenuidade. Desde pequena, sonhava

passear com um príncipe bonito em sua carruagem de luxo. Ele seria seu cavaleiro, e

silenciaria os insultos das crianças da vizinhança. Deveria ter sido mais cuidadosa com seus

sonhos.

– Por que está sorrindo, princesa?

– Estava pensando que, em criança, sempre quis andar numa carruagem grande.

– Seu desejo foi realizado.

– Sim, Deus sempre encontra um jeito de atormentar-nos com aquilo que

desejamos..

Sob a manta de pele, Rudolf puxou-a até se encostarem. Fitando-a nos olhos, disse:

– Quero fazer amor com você.

O sorriso de Samantha desapareceu. O príncipe estava se tornando íntimo demais.

Nunca iria entregar-se a um homem que não lhe oferecia nenhum futuro.

Ele lançou-lhe um olhar e um sorriso divertidos, como se estivesse lendo seus

pensamentos.

– Mas agora peço que me ensine como roubar carteiras.

Samantha pegou-lhe a mão e estudou-a. Depois, encostou a suana dele, para

comparar os respectivos tamanhos.

– Suas mãos são muito grandes.

– Mas como eu faria, se quisesse?

Samantha enlaçou-o pelo pescoço e puxou-o até os narizes quase se tocarem.

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– Para ser um bom larápio são necessários anos e anos de prática. Uma distração

desvia a atenção do escolhido enquanto você vasculha seus bolsos.

Após a explicação superficial, Samantha beijou-o. Sentiu os braços dele a seu redor,

saboreando a sensação de sua boca cobrindo a dela. Os lábios dele eram quentes, e a língua

atrevida forçava-a a entreabrir os seus.

Reunindo todas as forças, Samantha empurrou-o e balançou relógio de ouro no ar.

– Entendeu o que eu quis dizer?

Rudolf soltou uma gargalhada.

– Costuma percorrer as ruas de Londres beijando os homens.

– Lógico que não! Por conta de minha perna defeituosa, costumo tropeçar, e esbarro

num cavalheiro que, naturalmente, me ampara para eu não cair.

Rudolf acariciou-lhe a ponta do nariz.

– Onde aprendeu a seduzir um príncipe?

Samantha corou..

– Talvez, algumas pessoas sejam seduzidas com mais facilidade, Alteza..

Ao passarem por Derbyshire, Samantha pensou em pedir para pararem no mercado

da cidade de Derby, conhecido por suas rendas e sedas. Tinha um único vestido, e não

poderia passar o resto da vida sem trocar de roupa.

Deixando Derby para trás sem pararem, entraram em Yorkshire. Com uma beleza

austera, a paisagem exibia muitas facetas, desde as fazendas cercadas por pedra até

charnecas desoladas e vales profundos e solitários. A cerca de quinze quilômetros a oeste

de Leeds ficava Bradford, num vale na encosta dos Pennines.

Logo depois da igreja de Saint Peter, Karl parou o veículo diante do Boar’ s Head

Inn. Samantha e Rudolf desceram, entraram no restaurante da hospedaria e escolheram uma

mesa perto da lareira. Já estavam comendo quando Karl entrou e aproximou-se deles.

– Alteza, amanhã bem cedo partiremos para Carlisle. Durnfrles fica a meio dia de

viagem daqui..

– Tudo bem, Karl. Vá jantar agora.

– Gostaria de sentar-se conosco? – Samantha o convidou. Karl surpreendeu-se com

o convite.

– Não, obrigado, milady. – Com uma reverência, afastou-se em direção ao bar.

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Samantha virou-se para Rudolf, que sorria.

– Você é a mulher mais encantadora que já conheci.

– Obrigada.

– Fale mais sobre a disputa entre os Douglas e os Emerson. – Ela já foi resolvida.

Ou teria sido se eu tivesse ficado noiva de Alexander.

À menção do nome Alexander Emerson, Rudolffranziu o cenho. – Conte-me essa

história.

– Quando eu era criança, Charles Emerson enganou meu pai, apossando-se de quase

toda a fortuna dos Douglas. Mais tarde, meu pai perdeu o restante, tentando recuperar suas

posses no jogo. Fomos obrigados a deixar a mansão em Grosvenor Square, e nosso último

dia lá foi justo quando eu... sofri o acidente que feriu minha perna.

– Charles Emerson atropelou-a com a carruagem?!

Samantha fez que sim.

– O melhor amigo de meu pai, o duque de Inverary, teria nos ajudado, mas estava na

Escócia na ocasião.

– E depois que Sua Graça voltou da Escócia?

– Meu pai era orgulhoso demais para pedir ajuda. – Com o garfo, Samantha fazia

desenhos imaginários na toalha de mesa. Além disso, o duque não sabia onde morávamos.

Durante dez anos, minhas irmãs e eu planejamos nos vingar de Emerson, sobretudo depois

que meu pai adoeceu de tanto beber:

– Como três jovens poderiam vingar-se dele?

– Minha irmã mais velha é especialista em trapacear nos dados e nas cartas, como

lhe disse, mas não conseguimos nos introduzir nos salões de jogos.

– Então, como seria?

– Por acaso, Angélica conheceu Robert Campbell, sem saber que ele era ftlho do

duque. Quando meu pai morreu, tia Roxie escreveu uma carta a Sua Graça, e sem demora

ele nos convidou a morar com ele. – Samantha fez uma pausa, e puxando pela respiração

prosseguiu: – Robert prpmeteu vingar-se por nós. No entanto, antes que isso acontecesse,

Venétia Emerson Campbell, viúva do irmão de Robert e irmã de Alexander, tentou matar

Angélica.

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– Por quê?

– Angélica ainda era noiva de Robert, e mesmo sendo viúva do filho mais velho do

duque, Venétia ambicionava tomar-se” duquesa de Inverary. Por esse motivo, ao que tudo

indica, Venéti teria matado sua irmã mais nova, a falecida esposa de Robert.

– Que loucura!

– Na tentativa de evitar um escândalo, Sua Graça sugeriu que Venétia e seu pai

passassem algum tempo na Austrália. Alexander! herdou o título de conde de Winchester e

a fortuna da família.

– Por que Alexander ficou em Londres?

– Alexander era inocente de todas as tramóias. Na realidade, Emerson até tentou

mandar assassiná-lo...

– Ele quis matar o próprio filho?!

– Sim, mas não sei o motivo. Alexander queria reparar a situação casando-se

comigo. As terras e a fortuna dos Douglas voltariam a minhas mãos, ainda que de forma

indireta, em razão de nosso casamento.

– Você seria a mártir da família?

– Não diga uma coisa dessas!

– Sei que não o ama.

– Mas o respeito. – Baixou os olhos, ruborizada. – As moças que mancam não são

exatamente a mulher dos sonhos dos homens. Rudolf apertou-lhe a mão.

– Princesa, seu defeito físico é irrelevante.

– Não para mim! Diga-me, por que seu pai prefere Vladimir?

A expressão do príncipe mudou por completo. O sorriso desapareceu dos lábios e

dos olhos, dando lugar à raiva e alguma coisa mais.

Seria dor? Era natural que Rudolf se ressentisse pelas atitudes tirânicas do pai em

relação a sua mãe e a ele mesmo, privando-o de seu amor. Por que um homem fazia

tamanha maldade à mulher que amava? E por que um pai rejeitava o filho mais velho em

favor do segundo?

Incapaz de suportar a expressão melancólica do príncipe, Samantha desviou-se.

Arrependia-se de ter feito a indagação.

– Vamos subir. – Rudolf levantou-se e a ajudou a fazer o mesmo.

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No quarto, Samantha tirou a capa e o vestido. Protestar contra a presença dele seria

inútil.

Ajoelhou-se ao lado da cama e, como na véspera, cobriu o rosto com as mãos. Em

silêncio, rezou.

– Samantha?

Ela espiou entre os dedos. O príncipe estava sentado na beira do colchão, tirando as

botas. Teve a já familiar sensação na boca do estômago ao vê-lo sem camisa.

– Desculpe-me por minha grosseria. Não pretendo falar sobre meu pai. Por favor,

não toque mais nesse tema.

O príncipe era um homem que não estava acostumado a se desculpar, mas

esforçava-se.

– Respeitarei sua vontade, Rudolf.

Ele balançou a cabeça, num gesto de entendimento. “Obrigada, Senhor, pelo pedido

de desculpas do príncipe”, Samantha rezou. Deitou-se e puxou as cobertas até o pescoço.

Rudolf se ajeitou a seu lado. Sem pedir-lhe permissão, puxou-a para mais perto de

si.

– Venha cá, princesa.

Debruçada sobre ele, Samantha o encarou, vendo a luz da vela refletida nas íris

negras.

– Quero um beijo de boa noite, princesa.

Samantha sorriu e obedeceu. Roçou os lábios nos dele de um jeito provocante.

Depois, beijou-o de verdade, com todo ardor.

Com a língua, forçou-o a entreabrir a boca, do jeito como ele fizera com ela. Com

satisfação, ouviu-o ofegar, e ambas as línguas se tocaram num duelo de desejo e carinho.

Rudolf abraçou-a com firmeza, e num movimento rápido, posicionou-se sobre ela.

Beijava-a com avidez, não lhe dando chance para raciocinar ou protestar. Beijava-a nos

olhos, nas têmporas, no nariz, no pescoço.

– Quero tocar você, Samantha. Só tocá-la. – E não esperou o consentimento.

Beijou-lhe a boca outra vez, e começou a acariciar-lhe o rosto, o pescoço, o colo até

chegar à curva dos seios.

Um forte entorpecimento correu pelas veias de Samantha, que ansiava por mais

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afagos em cada centímetro de seu corpo virgem. Movia-se por instinto nas mãos dele, onde

quer que a tocasse.

Rudolf introduziu a mão sob a camisola para tocar a pele macia dos seios. Samantha

gemia, contorcendo-se à medida que os dedos dele desciam, traçando um caminho de fogo

pelo ventre, pela curva do quadril, para atingir o ponto sensível entre as pernas.

– Linda... – murmurou o príncipe. .

Rudolf afastou as alças da combinação. Devagar, foi puxando-a para baixo até

descobrir-lhe os seios.

Samantha pressionou-se contra ele, querendo, necessitando, ansiando por mais

carícias. Pensou que morreria de prazer ao sentir a boca de Rudolf em seus seios, beijando-

os, mordiscando-os, sugando-os. Gemendo, arqueou-se, desejando... desejando... Ela não

sabia o quê.

Emitindo um som gutural, o príncipe afastou-se. Samantha abriu os olhos. Rudolf

arfava.

– Durma, princesa. – Ele ajeitou-lhe a combinação, deitou-se e abraçou-a. –

Amanhã teremos uma longa jornada.

Samantha resmungou, mais por constrangimento do que pela perspectiva de mais

um dia na carruagem.

Enterrou o rosto nos peito dele. De repente, ocorreu-lhe outro pensamento. Como o

encararia depois de seu comportamento tão leviano? Fingiria que nada tinha acontecido, e

na próxima noite, exigiria que dormissem em quartos separados.

Na manhã seguinte, aconchegada sob a pele de urso, Samantha mantinha o rosto

virado para a janela.

– Rudolf?

– Sim, princesa.

A paisagem era desoladora: árvores nuas e campos cobertos de neve, mas ela se

recusava a encará-lo para não perder a coragem.

– Eu... quero um quarto só para mim esta noite.

O príncipe não respondeu.

– Ouviu o que eu disse? – Ela se voltou. – Quero um...

– Não.

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– Eu insisto!

– Meu dever é protegê-la. Será difícil cumprir minha missão com você dormindo

em outro cômodo.

– Sei cuidar de mim mesma. Não esqueça que carrego uma adaga na bota!

Sem cerimônia, Rudolf ergueu a ponta da manta e pegou a arma escondida no cano

do calçado dela.

– Devolva-me isso!

Rudolf jogou a adaga pela janela e sorriu-lhe de modo irritante. – Agora você não

carrega mais uma adaga na bota!

– Era minha adaga da sorte!

O príncipe caiu na gargalhada, o que não agradou Samantha.

– Como se atreve a roubar um objeto meu? Pode ser o prínci da Rússia, mas

estamos na Inglaterra, e aqui não é ninguém! .

– Cuidado com as palavras.

– Ou o quê?! – desafiou-o. – Vai me seqüestrar e levar-me para a Escócia?

– Eu não a seqüestrei. Apenas assumi a responsabilidade de cuidar de seu bem-estar.

– E quem está me protegendo contra você?

– Não quero mais discutir isso.

– Você é arrogante e autoritário. Não precisava ter me trazido junto. Sua Graça me

protegeria..

– Pareceu-me uma boa idéia naquela hora.

– E agora?

– Já não tenho tanta certeza. – Rudolf deu de ombros.

– Você arruinou minha vida por um capricho.

– Eu a salvei de um casamento infeliz.

– Por acaso, eu lhe pedi para salvar-me? Você me condenou a uma existência infeliz

e solitária de solteirona!,

-Ficar sozinha é uma escolha mais sensata do que viver casada com um homem que

não a ama.

– Não tive escolha. Você escolheu por mim. Nenhum homem vai me amar ou casar-

se comigo agora.

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– Não seja dramática, princesa.

– Sou realista, Alteza. A menos que... Está me propondo casamento?

Num piscar de olhos, o príncipe Rudolf fechou o cenho.

– Não posso fazer isso.

– Não pode ou não quer, Alteza?

– Isso não faz a menor diferença.

Samantha sustentou o olhar dele por um longo momento, antes de erguer a cabeça

num gesto desafiador.

– Eu não me casaria com você nem que fosse o único homem solteiro da Inglaterra,

Rudolf Kazanov. A propósito, chega de referir-se a mim como sua esposa. Do contrário,

isso me tornará sua esposa por direito, de acordo com as leis escocesas.

– Obrigado pelo aviso.

Mais do que as palavras, a entonação de desprezo dele a magoou demais. Samantha

virou o rosto depressa, para esconder os olhos cheios de lágrimas. Era incrível a capacidade

de Rudolf para feri-la e fazê-la chorar. Afinal, em criança, conseguira erguer uma barreira

que a protegia contra as pessoas que conheciam seu sofrimento. Se não fosse assim, o

comportamento das outras crianças teria sido pior, muito pior.

Rudolf observou-a de soslaio. “Meu bom Deus, eu a fiz chorar”, repreendeu-se por

ter sido tão cruel. Não pretendera ofendê-la. Só queria preservar-se de relacionamentos

complicados. A última coisa de que precisava era amar uma mulher.

Reconhecia que Samantha estava certa. Ele não deveria tê-la forçado a acompanhá-

lo na fuga. O duque de Inverary a protegeria. Não queria alimentar as esperanças dela para

um casamento impossível. Depois de perder Olga, prometera jamais tornar a casar-se. E

pretendia cumprir a palavra. Rudolf pegou-lhe a mão sob a manta. Mesmo sem olhá-lo,

Samantha tentou desvencilhar-se, mas ele não a soltou.

– Prometo não avançar mais. Por favor, entenda, perder Olga foi muito doloroso.

Não posso permitir-me amar de novo.

– Nesse caso, entregue o Kazatov Vênus a Vladimir – Samantha sugeriu, seca. –

Você não necessita da magia da fertilidade.

Rudolf riu e sentiu-a relaxar. A tempestade passara, afinal.

– Chegaremos a Carlisle a tempo de fazermos compras.

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Rudolf pretendia retribuir o favor de Samantha, oferecendo-lhe um presente.

– Comprar o quê?

– Karl trouxe minha mala de roupas. Mas você não tem nada, e não poderá usar

sempre o mesmo vestido.

– Não se preocupe comigo, Alteza. Não tenho dinheiro.

– Eu possuo mais do que o suficiente, e ficarei honrado em comprar-lhe alguns

vestidos.

– Honrado? – Samantha repetiu, arqueando uma sobrancelha.

– Aceito sua oferta, mas reembolsarei todas as despesas assim que voltar a Londres.

– Não será necessário.

– Mas eu insisto. – Sorriu, doce. – Você pode comprar-me outra adaga também.

– Pensarei a respeito.

Situada às margens do rio Eden, Carlisle ficava apenas a alguns: quilômetros da

fronteira com a Escócia. No começo da tarde, ele pararam na High Street, onde se

concentravam as lojas.

Karl foi direto ao Royal Rooster Inn com ordens do príncipe para reservar

acomodações. Após pedir algumas informações, Rudolf e Samantha seguiram para o

estabelecimento de madame Andrews, o mais requintado de Carlisle.

– Posso ajudar, sir? – ofereceu-se uma senhora de meia-idade, avaliando-os dos pés

à cabeça, mal impressionada com a aparência deles.

– Acho melhor irmos embora – Samantha murmurou. Ignorando-a, Rudolf

contemplou a mulher com seu sorriso mais encantador.

– Vossa Alteza – ele a corrigiu.

A mulher ficou confusa.

– Desculpe, não entendi.

– Sou o príncipe Rudolf Kazanov, e esta é minha esposa. Ergueu a mão de

Samantha e beijou-a. – Sua Alteza, princesa Samantha.

Os olhos da mulher corriam de um para o outro. Seu rosto revelava total

incredulidade.

– Perdoe-nos por nossos trajes. – Rudolf tirou do bolso um maço de notas e

entregou-o à senhora. – Estamos vindo do Norte com poucas roupas. Por esse motivo,

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viemos aqui.

– É uma honra, Alteza. Sou a madame Andrews.

– Minha esposa e eu partiremos para a Escócia amanhã cedo. Levaremos alguns

vestidos, se a senhora garantir que fará os ajustes necessários a tempo.

– Sem dúvida. – Madame Andrews sorriu para Samantha.

Por favor, Alteza, venha comigo. Vou tirar suas medidas.

Samantha lançou a Rudolf um olhar de censura e acompanhou madame Andrews

até a sala de provas.

Sorrindo, Rudolf acompanhou-as. Afinal, o que sua rosa búlgara poderia fazer?

Reclamar que o marido a veria só de combinação?

Sentando-se numa poltrona de couro, Rudolf esticou as pernas,ordenando:

– Mostre-nos muitos vestidos.

Madame Andrews saiu da sala.

– Vai ficar aí sentando, olhando?

– Não é o que faria um marido apaixonado, princesa?

– Você não é meu marido!

A entrada de madame Andrews impediu-o de responder. Ela espalhou as roupas

sobre uma mesa comprida para a apreciação de Samantha. Eram todas confeccionadas com

materiais da melhor qualidade: seda, veludo, tafetá, renda.

– Escolhi cores que combinam com Vossa Alteza.

– Levaremos o de musselina branca – Rudolf determinou.

– Gosto daquele de seda rosa e do de seda azul-claro.

Sem permitir que Samantha se manifestasse, seguiu avante: – Separe aqueles dois

de veludo: o vinho e o azul-escuro. E o de tafetá cor de ametista. Ah! E também o traje

verde de montaria.

– São muito caros! – Samantha protestou.

– Compre apenas... – Minha esposa ainda não se acostumou a gastar meu dinheiro

– Rudolf explicou à modista.

Madame Andrews achou graça.

– Aproveite o momento, Alteza. É muito fácil acostumar-se a gastar.

– A senhora tem razão, madame. – Rudolf meneou a mão.

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– Samantha precisará de xales de cashmere, sapatos que combinem com cada

vestido, combinações de seda e renda, meias de seda com ligas de renda, camisolas e

penhoares.

– Só confecciono vestidos, Alteza..

– Gostaria que procurasse para nós, madame. Eu pagarei o triplo por seu trabalho.

Madame Andrews inclinou a cabeça.

– Ficarei honrada em servi-lo, Alteza.

Com a fita métrica na mão, ela se virou para Samantha.

– Preciso tirar suas medidas, Alteza.

Samantha olhou para Rudolf e abriu a boca para contestar a presença dele ali, mas

logo mudou de idéia. Virando-se de costas, permitiu que madame desabotoasse seu vestido.

Ao vê-la só de combinação, Rudolf não resistiu à tentação de admirar seu corpo.

Seus olhos pousaram na curva dos seios sob o tecido fino, e lembrou-se da maciez e do

gosto deles. Sentiu sua masculinidade latejar e repreendeu-se por sua insanidade. Por que se

torturava? Quanto mais a olhava, mais a desejava.

Madame Andrews terminou de tirar as medidas e se ausentou por um momento.

Samantha vestiu-se. Rudolf levantou-se de um salto.

– Deixe que eu abotôo.

– Você prometeu, Rudolf.

– Estou representando para a modista.

– Ela saiu da sala.

– Ah, nem percebi! – sussurrou, beijando-a no pescoço. Madame Andrews retornou.

– Onde devo entregar a encomenda amanhã cedo, Alteza?

– Estamos no Royal Rooster Inn. – O príncipe ajudou Samantha com a capa e

ofereceu-lhe o braço.

E assim, saíram da loja e seguiram pela High Street, rumo à hospedaria.

Mais tarde, sentados à mesa perto da lareira, Rudolf observava Samantha comendo

a sobremesa.

Seu humor melhorara muitíssimo. Muitas mulheres adoravam fazer compras,

sobretudo com o dinheiro dos outros. Olga costumava gastar fortunas cada vez que ia às

lojas.

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– Alteza? – Karl aproximou-se.

– Sim?

– As providências já foram tomadas. Está tudo pronto. Rudolf inclinou a cabeça.

– Obrigado, Karl.

– O que ele quis dizer? – Samantha indagou, assim que o criado se afastou.

– Tenho uma surpresa para você.

– Adoro surpresas!

– Mais do que dos merengues?

Ela sorriu como uma criança.

– Ah, muito mais!

– Foi o que imaginei. Vamos subir?

Samantha deixou-se levar até o quarto. Rudolf abriu a porta e acendeu as velas.

Ela não acreditou no que viu: no canto do quarto, uma tina de madeira com água

quente para um... banho!

– Que maravilha, Rudolf!

– Amanhã, quando chegannos a Sweetheart Manor, teremos de causar boa

impressão aos criados. Não podemos aparecer sujos e com roupas amassadas.

Samantha testou a temperatura da água com a mão.

– Está quente...

Rudolf entregou-lhe um sabonete.

– Deixe um pouco de água quente para mim – pediu, afastando-se.

Logo após o banho, Samantha se deitou e cobriu-se. Atenta aos ruídos de Rudolf,

imaginava-o enxugando-se e terminando de banhar-se. A isso, seguiu-se um longo silêncio.

Curiosa, voltou-se e deparou com o príncipe ajoelhado em prece. – O que está

fazendo? Agradecendo a Deus?

– Não, princesa. – Ele sorriu com malícia. – Peço a Ele um favor.

– Que favor?.

– Não é de sua conta

Samantha deu-lhe as costas. Rudolf deitou-se a seu lado.

– Samantha?

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– Sim.

– Olhe para mim.

Ela o obedeceu. Rudolf estava debruçado sobre ela, os olhos brilhando muito.

– Sinto muito, princesa, mas não vou cumprir minha promessa. – Sem lhe dar tempo

para nada, beijou-a.

Deixando-se arrastar pelo momento de paixão, Samantha enlaçou-o pelo pescoço e

correspondeu ao beijo com o mesmo calor, deliciando-se com a sensação do corpo dele

colado ao seu.

O beijo intensificou-se. As línguas se tocaram, enrolaram-se, devoraram-se numa

dança primitiva e avassaladora. Samantha rendeu-se e, gemendo, o príncipe apertou-a como

se quisesse prendê-la para sempre..

– Minha querida... – murmurava Rudolf, cobrindo-a de beijos, Samantha sentia

calor e frio ao mesmo tempo. Ansiando instintivamente por alguma coisa mais, gemia e se

arqueava.

Rudolf afastou as alças da camisola e puxou-a para baixo, de modo a expor os seios

dela.

– Tão bonitos, tão perfeitos! – sussurrou, beijando-os.

– Sim, Rudolf, beije-me aí!

Samantha sentiu um tremor. Os lábios dele em seus mamilos, mordiscando-os,

sugando-os, fizeram com que o ponto mais escondido entre suas pernas latejasse,

enlouquecendo-a.

As mãos dele acariciavam-na sem cessar, até tocarem o centro de sua feminilidade.

Samantha contorceu-se, e com os dedos, Rudolf iniciou movimentos delicados.

Ela abriu os olhos, assustada. Tudo aquilo era novo, desconhecido.

– O que você está...

Rudolf silenciou-a com outro beijo apaixonado, enquanto sua mão continuava a

excitá-la, fazendo-a gemer e contorcer-se de prazer. Esquecida do protesto, Samantha

entreabriu as pernas, e os quadris começaram a acompanhar o ritmo da mão dele.

– Princesa, deixe-me fazer amor com você. Deixe-me mostrar-lhe o paraíso.

– Sim... sim!

Rudolf tirou-lhe a camisola. Ao vê-la nua, quase perdeu o controle.

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– Olhe para mim, Samantha. Você é bonita. Muito bonita.

Samantha jogou a.cabeça para trás. De tão vulnerável ao olhar e ao toque dele, ela

não sentia medo. Só a vontade de colar-se a ele até tomarem-se um só.

Rudolf beijou o vale entre as pernas dela. Beijou-a na intimidade, inebriando-se

com o perfume de sua intimidade. A urgência de possuí-la, de enterrar-se nela, sufocava-o.

– Gosta que eu a beije assim?

– Sim, Rudolf! – balbuciou, movendo-se sob os lábios dele.

– Abra os olhos, princesa. A partir desta noite, você pertencerá a mim e a mais

ninguém. – Inclinando-se, beijou-lhe a carne latejante.

Samantha soltou um gemido abafado. Seu corpo jovem estava em brasas.

– Devo satisfazer seus desejos, querida?

– Por favor... – Seguindo seus instintos, puxou-o a seu emcontro, esquecida de todo

e qualquer pudor.

Por fim, Rudolf a possuiu, penetrando-a com um impulso tão poderoso que lhe

arrancou um grito abafado. Ele hesitou por um instante, mas quando Samantha começou a

movimentar-se, um arrepio o sacudiu, integrando-o na frenética dança do amor.

Sarnantha gritava, arrastada pelas ondas de prazer que a envolviam. Ouviu-o

suspirar, sentindo as investidas fortes e profundas. E então, Rudolf começou a tremer, e ela

sentiu um turbilhão quente e úmido dentro de si.

Em questão de segundos, Sarnantha percebeu o que acontecera. Apaixonara-se pelo

príncipe e entregara-lhe sua virgindade, arruinando para sempre sua chance de casar-se e ter

filhos.

Perdera seus sonhos. Jogara-os fora em troca de um momento de lascívia.

Lágrimas de arrependimento escorreram-lhe pelo rosto. Mordeu o lábio, sufocando

os soluços. Mas não conseguia conter o pranto.

– O que houve? – O príncipe abraçou-a. – Eu a machuquei princesa?

Samantha fez que não.

– Então, por que chora?

Um soluço escapou-lhe da garganta, e num tom quase inaudível confessou:

– Estraguei minha vida. Nenhum homem vai querer se casar comigo agora. Nem

mesmo Alexander Emerson.

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– Não precisa se casar com Alexllnder Emerson, princesa. Eu cuidarei de você.

– Está me propondo casamento?

O rosto do príncipe anuviou-se, tomando-se impenetrável. De novo. Aquele gesto

lembrava muito o duque de Inverary e seu filho, Robert. Pelo visto, os homens tinham

muitas coisas em comum, ainda mais quando o assunto era casamento.

– Não posso fazer isso, Samantha.

Ela se desvencilhou dele e deu-lhe as costas.

– Princesa, não fuja de mim!

– Deixe-me em paz, Alteza. – Estremeceu ao sentir o dedo dele acariciando-lhe a

espinha dorsal.

– Pense nos vestidos adoráveis e nos complementos que serão seus amanhã.O

príncipe não poderia ter escolhido palavras piores.

Samantha virou-se rápido, pegando-o de surpresa. Mais rápida ainda, sentou-se e

desferiu-lhe um tapa no rosto, com toda a força.

– Minha virgindade vale mais do que alguns vestidos e complementos, Alteza. Se

você não tivesse me obrigado a sair de Londres, jamais precisaria deles! E nunca teria saído

de Londres, se você não tivesse me seqüestrado e quase me matado. Salvei seu traseiro real,

roubando as chaves do bolso de Igor. E me recompensou roubando meus sonhos!

Ofegando, Samantha deitou-se de novo, de costas para ele. Esperava que o príncipe

explodisse de ira. Mas isso não aconteceu.

– Você está certa. O pior é que nenhum pedido de desculpas trará seus sonhos de

volta. Parece que não consigo fazer ninguém feliz, nem mesmo a mim.

Samantha estranhou aquela afirmação, mas não fez nenhum comentário. Com as

lágrimas escorrendo-lhe pelas faces, prometeu a si mesma que encararia com dignidade e

vigor seu futuro sombrio e insípido. Seu sofrimento era grande demais para se preocupar

com as mágoas dele.

Opríncipe Rudolf olhou-a com admiração.

. – Você está linda com esse vestido púrpura.

Samantha lançou-lhe um olhar enviesado.

– É ametista, não púrpura.

– Não há diferença. Ametista e púrpura são a mesma cor.

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– Ametista é violeta-azulado. Púrpura é púrpura mesmo.

– Então, ametista é púrpura falsa?

Irritada com a provocação, Samantha empinou o nariz e virou a cabeça, para

apreciar a paisagem pela janela.

– Está zangada comigo, Samantha?

– Não. Comigo mesma.

– Não fique assim. Sua reputação já estava arruinada. Samantha o encarou furiosa.

– Vai me bater de novo? – Rudolf fingiu-se de amedrontado.

Ela teve vontade de rir, mas controlou-se. Perder a virgindade não era motivo de

riso.

– Admita, princesa, que se divertiu com nossos momentos de intimidade.

– Se queria diversão, Alteza, deveria ter seqüestrado minha irmã Victória.

– Eu não a seqüestrei. Diga-me do que você gosta, querida.

Samantha forçou seu melhor sorriso.

– Adoro cavalheiros aborrecidos. E pessoas que cumprem suas promessas. E que me

deixem em paz quando não estou com paciência para conversar.

– Perdoe-me por incomodá-la. – Rudolf cruzou os braços e voltou-se para a janela.

Samantha sentiu uma ponta de arrependimento. O príncipe não a obrigara a nada. A

fraqueza de caráter moral era dela, não dele.

– Rudolf? – Tocou-lhe o braço. – Desculpe-me, reconheço que fui rude.

– Agradeço por seu gesto. – Ele pegou-lhe a mão. – Mas sou eu quem lhe deve

desculpas. Eu me casarei com você antes de voltarmos a Londres e salvarei sua honra.

– Não, obrigada.

– Não?!

– Não posso me casar com um homem que só quer salvar minha reputação.

– Estava prestes a casar-se com Alexander Emerson, Samantha!

– Era diferente.

– Como púrpura e ametista? – indagou, com sarcasmo.Por que não me quer para

marido para salvar sua honra?

“Eu te amo, Rudolf, e não posso ser sua mulher a menos quevocê me ame.”

– E então, Samantha?

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Ela não disse nada. Não iria partilhar os segredos de seu coração com ele.

Entregara-lhe o corpo, e isso já fora demais.

– Por que ia se casar com ele, mas recusa meu pedido?

Rudolf insistiu.

– Estou com dor de cabeça. Por favor, deixemos para discutir isso em outra hora,

sim?

– Como queira.

Samantha encostou a cabeça no banco e cerrou as pálpebras.

Alexander e ela tinham bons motivos para casarem-se. Ele queria reparar os erros

do pai; ela, constituir uma famí1ia. Nenhum deles estava apaixonado.

O príncipe Rudolf era outra história. Ele se prontificara a casar-se só por obrigação.

Ela o amava e seria insuportável tê-lo por marido sabendo que Rudolf não a amava.

Após duas horas de quietude constrangedora, eles avistaram Sweetheart Manor,

localizada em New Abbey Village, nos arredores de Loch Kindar.

O solar era composto de três construções ‘interligadas. A casa principal fora erguida

no início da era georgiana. A construção do meio datava do reinado de William e Mary. A

original datava da época dos Tudor.

Três homens apareceram assim que Karl parou a carruagem. Outro alto, de

uniforme, abriu a porta principal.

Samantha desceu da carruagem e admirou a imponência do solar. Quase não

acreditava que estava diante da casa onde seu pai nascera.

– Deixe que eu faço as presentações – ele murmurou ao ouvido dela.

Samantha inclinou a cabeça e enlaçou-lhe o braço.

– Bem-vindos a Sweetheart Manor – o mordomo os cumprimentou. – Sou Durwin, e

presumo que o senhor seja o marquês de Argill.

– Olhou para Samantha: – E a senhora, a marquesa de Argill, filha do falecido

conde.

– Sou o príncipe Rudolf Kazanov, da Rússia. Minha esposa, a princesa Samantha, é

irmã da marquesa de Argill.

Mesmo sem demonstrar, Samantha surpreendeu-se com a declaração do príncipe.

Ela o prevenira de que um anúncio público tomava-a sua mulher de fato e de direito.

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– Bem-vindos a Sweetheart Manor, Altezas. – E Durwin os conduziu até o hall,

onde os empregados estavam alinhados para inspeção. – Meu pai foi mordomo do pai do

falecido conde. Muitos de nossos serviçais têm história com os Douglas.

– A tradição dá ao homem raízes fortes – o príncipe afirmou. O hall era todo

revestido de mármore italiano. Uma escada emcaracol levava ao nível superior. Muitas

estátuas clássicas decoravam o espaço, e Samantha percebeu o toque refinado do cunhado

nas flores e nas folhagens que alegravam o que deveria ter sido um ambiente austero.

– Este é o príncipe Rudolf Kazanov, da Rússia – anunciou Durwin. – Sua esposa, a

princesa Samantha, é uma das filhas do falecido conde.

A criadagem aplaudiu, demonstrando sua aprovação.

Rudolf fez uma reverência, dizendo:

– O marquês demonstrou sabedoria conservando o pessoal do falecido conde.

– Annie e Sally, desfaçam as malas da princesa Samantha Durwin instruiu. – Kevin,

ajude o criado do príncipe a levar a bagagem para cima. Os demais podem retomar as suas

tarefas.

Os empregados se retiraram..

– Vou acompanhá-los até o quarto. Suas Altezas ficarão na suíte principal, claro.,

– Durwin, os membros realeza russa costumam se instalar cada um em seu aposento

– Samantha mentiu, arrancando um olhar de reprovação do príncipe.

– Como quiser, Alteza.

Samantha pegou no braço de Rudolf e sorriu com doçura. Ele parecia contrariado.

Pelo visto, ela estragara seus planos de seduzi-la de novo.

Subiram a escadaria e seguiram por um corredor.

– Chegamos. – Durwin abriu uma porta. – O marquês desejava os aposentos mais

isolados e sossegados, com vistas para o jardim.

A suíte era bem grande, decorada em tons de vermelho e azul, tudo com muito

requinte e conforto. As janelas em forma de arco davam para o jardim dos fundos do solar,

e ao longe, Loch Kindar oferecia uma paisagem serena.

– É de seu agrado, Alteza?

– Sem dúvida. – Rudolf sorriu.

Durwin atravessou o cômodo e abriu uma porta de comunicação.

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– Seus aposentos, princesa.

Samantha lançou a RudoIf um olhar rápido. Ele pareceu contente por os dormitórios

serem conjugados.

O quarto de dormir, menor que o outro, era decorado em azul e dourado. Um

empregado já acendia a lareira. Duas jovens desfaziam as malas de Samantha e

penduravam os vestidos no closet.

– O quarto é adorável – Rudolf observou. – Não acha, princesa?

– Adorável e aconchegante, Alteza.

A um sinal de Durwin, os empregados se retiraram.

– Desejam mais alguma coisa, Altezas?

– Não, Durwin, obrigado.

– A que horas devo servir o jantar?

– A viagem foi longa e exaustiva. – Rudolf olhou para Samantha. – Vamos

dispensar o chá e jantaremos cedo. Digamos,às cinco horas.

O mordomo deu meia-volta e parou.

– Alteza, como não esperávamos sua visita, planejamos uma festa para a véspera do

dia de Reis no hall Tudor. Seria conveniente?

– Não cancele sua celebração por nossa causa. Durwin fez uma reverência,

agradecido.

– Obrigado, Alteza.

– Esta porta tem chave? – Samantha indicou a porta de comunicação.

– Chave? – o mordomo repetiu, confuso.

– Samantha, meu amor... – A voz do príncipe soou com uma nota de advertência.

– Deixe para lá. Pode ir, Durwin.

Assim que o mordomo saiu, Samantha virou-se para o príncipe.

– Nunca mais cause embaraço a mim ou a você mesma diante dos serviçais – ele

ordenou com extrema frieza.

Samantha inclinou a cabeça.

– Gostaria de descansar um pouco.

Em vez de sair, Rudolf aproximou-se. Sorridente, segurou-lhe o rosto entre as mãos.

– Não me tire as esperanças, princesa. Isso pode ser tudo que me resta.

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– Quem poderá saber, Alteza? – Ela retribuiu o sorriso, admitindo que Rudolf sabia

como usar seu charme. – Milagres acontecem todos os dias.

– Espero mesmo que sim. Deixe-me desabotoar seu vestido.

Samantha deu-lhe as costas. Rudolf abriu logo os botões e a acariciou. Afastou a

massa de cabelos castanhos e beijou-a na nuca, provocando-lhe arrepios deliciosos.

Samantha se recusava a sucumbir aos encantos dele. Assim, voltou-se, pronta para a

batalha, mas o príncipe recuou.

– Eu a encontro na sala de refeições, querida. – Rudolf saiudo quarto e fechou a

porta.

Samantha e Rudolf jantaram e logo se recolheram.

Assim que entrou em seu quarto, Samantha empurrou a cômoda para bloquear a

entrada. O príncipe era um homem honrado, mas era um homem antes de tudo, e de

repente, poderia querer visitá-la durante a noite, surpreendendo-a num estado de fraqueza.

Com a porta devidamente bloqueada, Samantha deitou-se. Em seguida, ouviu

batidas fortes.

– Samantha? – Rudolf a chamou.

Ela ficou em silêncio. A melhor estratégia seria fingir que dormia.

– Samantha, está acordada? Que barulho foi esse?

Resmungando palavras em russo, Rudolf tentava abrir a porta. Um minuto depois,

ele adentrava o quarto pela entrada do corredor. Samantha sentou-se na cama. Furioso, ele

entrou no dormitório e empurrou a cômoda de volta ao “lugar original.

– Como se atreve?! – Samantha esbravejou.

– Se uma criada entrar aqui e vir isso, ambos estaremos perdidos! Os empregados

poderão duvidar de nossa identidade e mandar uma mensagem ao marquês. Isso, decerto,

trará Vladimir até nós!

– Que exagero, Rudolf!

– Acha que eu mentiria?

– Sim.

– As pessoas do povo estão sempre de olho na realeza. Qualquer coisa é motivo de

comentário. – Passou a mão pelos cabelos pretos.– Você quer isso?

Samantha não respondeu.

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– Não há necessidade de bloquear a passagem. Está segura comigo.

– De que adiantou sua segurança ontem à noite? Eu perdi minha virtude..

– Virgindade não tem nada a ver com virtude, Samantha.

Ele já ia saindo, quando ela reparou no roupão vermelho de Rudolf. Achou

engraçado. De todas as cores do mundo, nunca imaginara que o príncipe usaria vermelho.

– Alteza? – chamou-o, contendo o riso.

– O que foi agora?

– Esse vermelho é verdadeiro ou falso?

– Vermelho é vermelho. Púrpura é púrpura. – Assim dizendo ele a deixou, fechando

a porta de comunicação.

Samantha deitou-se, mas demorou a dormir. Sentia-se aliviada por ter resolvido a

questão das entradas sorrateiras do príncipe em seu quarto, mas admitia que a cama parecia

grande demais, solitária demais sem ele. Já se acostumara ao calor do príncipe junto a si.

Senti sua falta esta noite, Samantha.

– Deliciando-se com o desjejum, ela olhou para Rudolf, mas não disse nada. O que

poderia dizer? Que também sentira falta dele? Nunca!

Continuou comendo seu mingau de aveia.

– Adoro manteiga derretida exclamou, pegando um bolinho de trigo. – Como está

sua truta?

– Deliciosa! Assada no ponto! Você está muito bonita de vestido branco. Gosto do

contraste com o xale preto.

– Por que estamos sentados em extremidades da mesa diferentes de ontem à noite? –

Samantha indagou, mais uma vez fugindo dos assuntos pessoais.

– Visto que ficaremos algumas semanas aqui, achei que seria divertido variarmos de

lugar a cada refeição. Mudar de lado faz um bem enorme para as opiniões das pessoas.

Uma começa a compreender o modo de pensar da outra.

Ela deu uma mordida no bolinho, e perguntou quase com desinteresse:

– O que isso significa?

– Se você modificar seu ponto de vista, o mundo se modificará também.

Intrigada, Samantha ergueu as sobrancelhas bem delineadas. – Está tentando me

dizer algo, Rudolf?

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– Você pensará de um modo diferente sobre nós, se enxergar a situação por meu

ponto de vista.

– Não há “nós”, Alteza. Além disso, o que há de errado com meu ponto de vista?

Por que você não tenta ver as coisas através de meus olhos?

O príncipe percebeu a curiosidade de Durwin e do copeiro, e com um gesto,

dispensou-os. Esperou o mordomo fechar a porta para continuar.

– Os danos contra sua reputação já estão feitos, Samantha. Então, por que não

relaxar e divertir-se?

– Eu lhe disse ontem...

– Minta sobre sua virgindade –Rudolf interrompeu-a com uma ponta de amargura

na voz, completou: – Muitas mulheres mentem.

– Seria desonesto!

Rudolf deu risada.

– Princesa, até bem pouco tempo atrás você roubava carteiras na rua!

– As circunstâncias obrigaram-me a isso. Minha família precisava comer.

– Não estou criticando seu comportamento, mas apenas... Ah! Esqueça!– Respirou

fundo. – Termine de comer seu mingau.Depois, iremos conhecer a propriedade.

Momentos depois, saíram da sala. Durwin esperava-os do lado de fora.

– Apresente meus cumprimentos ao cozinheiro, Durwin.

– Obrigado, Alteza.

– Eu gostaria que você nos acomodasse em lugares diferentes a cada refeição – o

príncipe o instruiu.

Durwin hesitou por um segundo, estranhando o pedido, mas logo se recompôs.

– Como quiser, Alteza.

– Estamos começando nossa excursão por Sweetheart Manor. É por aqui que se

chega à sala de visitas principal?

– Sim, Alteza. Devo acompanhá-los?

– Obrigado, Durwin, minha esposa e eu preferimos percorrer o solar sozinhos. –

Virou-se para Samantha. – Vamos, minha querida!

Samantha sorriu para o príncipe e pegou-lhe o braço.

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A sala de visitas era fonnal, mas confortável. Na decoração, predominava o

vermelho, mesclado com várias tonalidades de bege. Sobre a lareira de mánnore, alguns

objetos de arte. Porém, o que mais chamou a atenção dela foram os retratos dos Douglas

pendurados ao longo das paredes. Era a primeira vez que via os ancestrais ilustres, dos

quais ouvira tia Roxie falar.

– Este é sir James Douglas. – Samantha indicou um dos retratos. – Lutou e OlTeu

com William WalIace, o maior herói das guerras pela independência da Escócia.

– Independência?

– A Escócia não esteve sempre unida à Inglaterr. – Samantha leu o nome gravado

no retrato seguinte. – Este é Archibald, o Feio, filho bastardo de sir James. Quando se

extinguiu a legítima linha gem dos Douglas, Archibald tomou-se o terceiro conde Douglas.

– Um conde bastardo?

Samantha confinnou com um gesto de cabeça.

– O filho dele, o quarto conde Douglas, lutou com Joana D’ Arc contra os ingleses.

– Seu pai não era conde Douglas.

– Não, ele era o conde de Melrose, título conferido mais tarde a um ramo do clã

Douglas.

– Muito interessante. Agora, vamos conhecer a cozinha.

Ao se aproximarem, ouviram o burburinho e as risadas dos criados. Ao vê-los

entrar, todos se calaram, surpresos.

– Meus cumprimentos – Rudolf dirigiu-se ao cozinheiro. Eu não comia tão bem

desde que deixei minha terra natal.

O criado fez uma reverência.

– Obrigado, Alteza.

Samantha olhou ao redor e percebeu o olhar de cobiça de Sally para o príncipe.

Sentindo uma fisgada de ciúme, ela pegou no braço de Rudolf e sorriu, encantadora.

– Querido – murmurou, imitando a fala arrastada da tia. Estão todos muito ocupados

com os preparativos da festa. Vamos continuar nosso passeio pelo solar.

– Tem razão, meu amor. – Rudolf apertou-lhe os dedos e tomou a falar para o

cozinheiro: – Mal posso esperar pela próxima,refeição.

– Muito agradecido, Alteza.

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Eles saíram da cozinha sob os olhares curiosos dos empregados.

Depois, entraram no escritório do marquês. Rudolf verificou alguns papéis

empilhados sobre a mesa de carvalho.

– O que é isso? – Samantha quis saber.

– Karl trouxe os documentos relativos a meus negócios.

– Que tipo de negócios?

– Navegação, a maior parte.

– Meu cunhado possui linhas de navegação.

– Eu sei. O marquês é um de meus concorrentes. – Ajeitou a pilha de papéis. – Mais

tarde, você poderá ler um livro aqui, enquanto eu trabalho.

– Gostaria muito.

A parada seguinte foi na capela. Samantha espiou pela porta, mas não entrou.

– Não quer entrar e agradecer a Deus por alguma coisa? Ele a provocou.

– Não preciso de capelas para falar com Deus. Ele me ouve onde quer que eu esteja.

Também foram à biblioteca de dois andares, que ficava na ala georgiana, e era

enorme.

– Nunca vi tantos livros em toda minha vida! – Samanthaexclamou.

O salão de baile da segunda ala de Sweetheart Manor era espetacular. Rudolf e

Samantha atravessaram-no a caminho da ala Tudor. De repente, Rudolf parou e fez uma

reverência.

– Dá-me a honra desta dança, milady? – Estendeu-lhe a mão, repetindo a cena da

noite em que eles se conheceram.

Entrando na brincadeira, Samantha sorriu com afetação.

– Suas intenções são honradas, Alteza?

–Não.

– Nesse caso...

Samantha pousou a mão na dele e deixou-se enlaçar. Com Rudolf assoviando uma

valsa, rodopiaram, felizes. Flutuando nos braços do príncipe, Samantha desejou muito que

o retomo a Londres acontecesse num futuro bem distante.

– Uma sombra anuviou seu lindo sorriso.

–Em que está pensando, anjo?

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Samantha corou, mas não disse nada.

– Você teve um pensamento que não pode ser partilhado?

Ela inclinou a cabeça.

– Nesse caso, vou mostrar como eu danço com Zara. Isso trará o sol de volta a seu

sorriso.

– Zara? – ela repetiu com desconfiança.

– Zara é minha filha. Ela tem cinco anos. Tire os sapatos.

Samantha olhou-o meio intrigada, mas obedeceu.

– Agora, pise em minhas botas.

– Você quer que eu... – O riso impediu-a de terminar a frase. – Pise e segure-se em

mim.

Ela seguiu as instruções, e, conduzida pelo príncipe, começaram a dançar.

Samantha ria a gosto. Incapaz de conter-se, interrompeu a dança.

– Engraçado, Zara reage da mesma maneira quarido danço com ela...

Samantha fitou-o com os olhos azuis cheios de amor. O príncipe amava sua filha e

era bom pai. Rudolf era o tipo de homem com quem ela gostaria de constituir fanu1ia.

– Vamos dar uma volta pelo jardim, minha princesa.

Apesar da aridez do inverno, o jardim parecia agradável. Havia um lago artificial, e

uma ponte de madeira levava ao gazebo sustentado por cinco colunas dóricas. Leões de

pedra guardavam o relógio de sol do outro lado.

Samantha inalou fundo o ar gelado.

– Isto aqui deve ser um paraíso no verão.

– Minha propriedade em Sark Island é um paraíso na terra. Você precisa conhecê-lo.

Samantha forçou um sorriso. Não queria pensar na vida deles fora do solar. Quando

o perigo passasse, eles retomariam à capital inglesa e seguiriam caminhos separados.

Assim, nunca conheceria Sark Island

– Olhe aquilo. – Samantha apontou para a outra margem do lago.Era uma enorme

casa de bonecas. Bem perto, presa nos galhos do velho carvalho, outra de madeira.

– O marquês deve estar planejando uma fanmília numerosa.

– Eu sempre quis ter uma dúzia de filhos – Rudolf confessou, com uma ponta de

tristeza na voz.

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– Seu desejo ainda pode ser realizado, Alteza. Você possui Kazanov Vênus...

– Nunca tomarei a me casar. O sofrimento foi grande demais.

Retomando o mesmo caminho, Rudolf parou perto do piano.

– Qualquer dia destes, tocaremos em dueto.

– Você toca? – Samantha se espantou.

Como resposta, o príncipe sentou-se. Flexionou os dedos e começou a tocar. A

energia da música elevava seu espírito, levando um sorriso suave a seus lábios.

– Sua Alteza toca muitíssimo bem – ela o cumprimentou ao final.

Rudolf contemplou-a com um olhar devastador.

– Tenho certeza de que tocaremos lindas músicas juntos, meu bem.

Samantha só tinha uma certeza: apaixonara-se por um príncipe que usava robe

vermelho de seda, tocava piano como um expert e dançava com a filha de cinco anos.

À tarde, depois do almoço, sentada numa poltrona do escritório, Samantha

observava Rudolf trabalhando e resmungando frases em russo.

– Desculpe-me por minha impaciência, Samantha. Quando penso em tantos

assuntos pendentes e eu escondido aqui... – Fezum gesto evasivo e sorriu. – Ainda bem que

tenho sua presença agradável e meiga, que toma minha tarefa muito mais fácil.

Samantha enrubesceu.

– Agora eu entendo por que todas aquelas damas gravitavam a seu redor no baile

dos Emerson.

– E por quê?

– Você é um bajulador incorrigível.

– Que exagero!

Rudolf voltou a atenção para as tarefas, e Samantha, aos livros que tirara da estante.

De vestido de veludo cor de vinho, Samantha bateu na porta de comunicação. O

príncipe abriu-a e afastou-se, dando-lhe passagem.

– Poderia, por favor... – Ela fez um gesto sobre o ombro, indicando os botões.

– É um prazer, minha querida. – Depois de abotoá-los e beijar-lhe a nuca, Rudolf

virou-a de frente. –Seu rubi combina com o vestido.

– O vestido é bordô.

– Para mim, é vermelho. – E deu-lhe um beijo leve nos lábios.

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O príncipe pegou uma caixa de madeira pintada, e Samantha ficou curiosa.

– O que é isso?

– Surpresa. – Ele ofereceu-lhe o braço. – Vamos?

Na sala de jantar, Durwin e dois copeiros já estavam a postos.

Samantha sorriu ao ver que o mordomo colocara os pratos lado a lado, bem no

centro da mesa.

– Vejo que lembrou-se de meu pedido – Rudolf disse ao mordomo.

– Lembrar-me de seus pedidos é minha função, Alteza.

Sob a supervisão de Durwin, os copeiros serviram a sopa, e depois, o prato

principal.

– Notei que o vermelho predomina na decoração do solar. O marquês deve apreciar

esse tom.

– Você também, a julgar por seu roupão – Samantha brincou

Rudolf não respondeu. Apenas olhava fixo para o decote do vestido dela, até deixá-

la sem graça.

– Sem dúvida, o rubi combina com essa roupa, mas você precisa de jóias para

complementar os demais trajes. Diamantes e pérolas ficarão bem em você. Quando formos

a Durnfries comprar sua nova adaga, escolherei um presente para lhe dar.

– É muita generosidade, mas desnecessária.

– Vai me privar também dessa alegria, princesa?

Samantha ficou sem graça, compreendendo muito bem a que outra alegria ele se

referia.

Ao final da refeição, Rudolf levantou-se, pegou a caixa de madeira pintada e

estendeu a outra mão a Samantha.

– Princesa, vamos para a sala de estar. Assim, estes senhores poderão participar da

festa que prepararam.

Lá, Samantha sentou-se numa poltrona junto à lareira. Rudolf puxou uma mesa

pequena e se acomodou em frente dela. Abriu a caixa, que transformou-se num tabuleiro de

xadrez.

– Vou ensiná-la a jogar. Estas peças representam os heróicos guerreiros da Grande

Batalha no Gelo.

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Naquele momento, os primeiros acordes de música chegaram aos ouvidos deles.

– Parece que será divertido.

– Vamos deixar nossa lição de xadrez para outro dia. – Rudolf ficou de pé. – Iremos

à festa. Assim, aproveitarei para falar com Karl.

– Nós nos retiraremos se eles se sentirem desconfortáveis comnossa presença.

– Sempre pensando nos outros primeiro, meu bem. Sairemos quando você quiser. –

Ele segurou-lhe a mão e beijou-a. – Princesa, seus desejos são ordens.

Samantha riu..

– Eu não disse que você é mesmo bajulador?

A música e as conversas cessaram assim que Rudolf e Samantha adentraram o

grande hall Tudor. Todos se voltaram, surpresos pela presença dos príncipes.

– Não devíamos ter vindo – ela murmurou.

– Deixe comigo. – Rudolf contemplou-os com seu melhor sorriso. – A música nos

atraiu, e além disso preciso falar com meu criado, que, espero, tenha contribuído com as

festividades, oferecendo vodca a todos.

O príncipe correu os olhos pela multidão até localizar Karl, que inclinou a cabeça

num gesto afirmativo.

– Continuem com as atividades – Rudolf pediu – A princesa e eu gostaríamos de

assistir a esta tradicional festa escocesa.

Ninguém se moveu. Rudolf fitou os músicos. Eles começaram a tocar de imediato, e

a festa recomeçou.

– Estão todos constrangidos – Samantha disse em voz baixa. Rudolf enlaçou-a pelo

ombro e beijou-a de leve na têmpora. – Um pouco de vodca os deixará à vontade.

Durwin aproximou-se.

– Alteza, permita-me levá-los até nosso bufê. Temos algunspratos tradicionais da

Escócia. .

– Obrigado, Durwin. Eu gostaria de prová-los.

Dispostos sobre a mesa de carvalho, viam-se vários pratos quentes e frios. Samantha

não reconheceu a maioria deles. A um canto, garrafas de cerveja, uísque e vodca.

– Nós mesmos nos servimos, Durwin. – Rudolf pegou dois pratos, entregou um a

Samantha, e começou a escolher a comida.

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Samantha indicou uma travessa fumegante.

– Quero um pouco disto. – Ela provou, e gostou. – Que delícia! O que é, Durwin?

– Haggis, Alteza. – O criado não escondeu o espanto pela falta de conhecimento

dela.”

Samantha corou.

– Meus pais nunca nos contaram muito sobre a Escócia...

– Haggis são miúdos de carneiro moídos com cebola, farinha de aveia e temperos.

A mistura é cozida no estômago do carneiro.

Samantha forçou um sorriso e olhou para o príncipe, que reprimia o riso. Com

grande dificuldade, ela conseguiu engolir a porção que tinha na boca.

– Não estou com fome. – E deixou o prato na mesa.

Sob os olhares do mordomo e de Rudolf, Samantha despejou vodca num copo.

Bebeu-a num só gole e comeu um pedaço de queijo.

Rudolf achou graça.”

– Daragaia, você deve ter um pouco de sangue russo! – E voltando-se para o

mordomo: – Durwin, pode nos dar licença? Preciso falar com Karl.

– Claro, Alteza.

Eles atravessaram o hall, desviando-se dos casais que dançavam. Samantha notou

que algumas mulheres observavam o príncipe com admiração. De novo, sentiu uma

pontada de ciúme.

– Karl, quero a carruagem pronta para amanhã depois do almoço.

– Para onde vamos, Alteza?

– Você não irá a lugar algum. Eu vou levar Samantha para conhecer a abadia de

Sweetheart.

– Sim, Alteza.

– Espero que não tenha oferecido todo nosso estoque de vodca.

Karl sorriu.

– Jamais faria isso, Alteza. Além do mais, parece que esses escoceses preferem

uísque.

Sally escolheu aquele momento para aproximar-se deles. Samantha não pôde deixar

de notar o olhar malicioso, os seios fartos e o decote generoso da jovem.

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– Sua Alteza dança comigo? – Sally o convidou. – Eu adoraria poder contar a meus

netos sobre a noite em que eu dancei com um príncipe.

– Sally – Durwin chamou-a num tom de censura, caminhando na direção deles.

Parou a um gesto de Rudolf.

– Você não parece ter idade suficiente para ser avó – o príncipe zombou, sempre

com um sorriso encantador nos lábios.

Sally enrubesceu e riu, nervosa.

Rudolf levou a mão de Samantha aos lábios e beijou-a.

– Daragaia, importa-se se eu a deixar por alguns momentos? Disfarçando a

contrariedade, Samantha inclinou de leve a cabeça, e logo via o príncipe e Sally indo para a

pista.

Sem pensar, encheu um copo com vodca e bebeu de um gole só. Em seguida, comeu

um pedaço de queijo.

– A senhora bebe vodca como uma russa! – Karl comentou. Acompanhando o

príncipe com o olhar, Samantha achou graça. – Tive um bom professor. A propósito, Karl,

o que significa daragaia?

– É “querida”, Alteza.

– Obrigada.

Seus sentimentos afetivos por Rudolf despertaram, abafando a sombra do ciúme.

Assim que a música terminou, Rudolf voltou para junto dela.

– Todas as mulheres querem dançar com um príncipe – ele resmungou. – Vamos

sair daqui, antes que outra criada venha tirar-me para dançar.

– Você poderia recusar.

Rudolf abraçou-a e levou-a em direção à porta.

– Jamais recusaria uma dança a nenhuma mulher, nem mesmo a uma criada. Isso só

feriria os sentimentos dela desnecessariamente.

Foram para o jardim. Samantha sentia-se relaxada, depois de duas doses de vodca.

Fazia frio. Rudolf tirou o paletó e ajeitou nos ombros dela.

– Obrigada, Rudolf, mas você poderá se resfriar.

– Apenas sua presença já é suficiente para aquecer-me.

– Está me bajulando de novo?

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– Como adivinhou, princesa?

Samantha olhou para o céu estrelado e de lua cheia.

– A beleza noturna não deixa nada a dever para o sol esfuziante.

– Uma noite sedutora é muitíssimo mais bonita que o sol. Veja as estrelas,

Samantha. Na véspera do ano-novo, as estrelas da meia-noite voltam à posição original

como os cavalos retomam ao estábulo.

– Que pensamento bonito, Rudolf!

– Está vendo aquela constelação? É Ócion. – Abraçando-a por trás, ele apontou para

outra direção.

Rudolf discorria sobre as constelações, e Samantha sonhava e deliciava-se com o

calor que emanava do corpo dele colado ao dela.

– Mas você está gelada, querida! Vamos entrar.

Lembrando-se dos olhares famintos das criadas, Samantha pediu:– Sigamos pela

frente. Não quero voltar para a festa.

Minutos depois, entraram no hall vazio e subiram a escadaria em direção aos

aposentos.

De novo, Rudolf entrou no quarto dela.

– Só vou desabotoar o vestido, princesa. – Ele abriu os botões devagar, e como

sempre beijou-a na nuca. – Tenha bons sonhos.

Samantha se virou, mas Rudolf já estava a caminho de seus aposentos.

– Não deveria dar tanta liberdade às criadas – as palavras saíram antes que ela

pudesse censurá-las. – Você só está encorajando a insolência delas.

– O quê? – Rudolf se virou, intrigado.

– Eu falei que você não...

– Está com ciúme?

– De modo algum!

– Princesa, não minta! – Tomou a aproximar-se. – Agora você sabe como me sinto

quando fala de Alexander Emerson.

O humor de Samantha melhorou com a confissão de Rudolf. Ao mesmo tempo, deu-

se por conta de que quase não se lembrava mais do pretenso noivado. E experimentou um

grande remorso.

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– Tem ciúme de Alexander?

– Estamos falando de seus sentimentos, não dos meus. – Beijando-lhe a mão,

acrescentou: – Você precisa ter mais confiança em mim. Eu jamais me deitaria com uma

serviçal.

– Nem mesmo com uma jovem bonita e fogosa como Sally?

– Não. Como príncipe e patrão, tenho obrigação de respeitar meus empregados,

assim como eles me respeitam. Seduzir uma criada é desrespeito. Boa noite, meu amor.

Samantha acordou tarde na manhã seguinte. Levantou-se e foi até a janela. Uma fina

camada de neve cobria as árvores e o gramado, e o sol brilhava fraco no frnnamento claro e

sem nuvens.

Depois do almoço, Samantha e Rudolf deixaram o solar em direção a Dumfries. Ela

usava o conjunto de montaria verde-floresta.

– Que cor é essa? – Rudolf a ajudava a acomodar-se no assento do cocheiro.

Samantha riu.

– Verde.

– Que tipo de verde?

Ela encolheu os ombros.

– Verde é verde, Alteza.

Rudolf sentou-se a seu lado. Com as rédeas nas mãos, conduziu a carruagem para

fora da propriedade em direção à estrada.

– Se é mesmo um príncipe, por que nunca o vi com sua coroa? – Samantha o

provocou.

– Sou um homem modesto que não gosta de exibir-se.

Samantha tomou a rir, ganhando um sorriso dele.

– Em criança, sonhava usar uma tiara. Na inocência, pensava que se eu fosse

princesa, as outras crianças não zombariam de meu defeito físico, e também eu não seria a

última a ser chamada para as brincadeiras.

Ante a quietude de Rudolf, teve a humilhante sensação de ter exposto demais suas

fraquezas. Fitou-o. Ele estava sério.

Samantha arrependeu-se pela revelação. O príncipe sentia piedade. Ela suportaria

tudo, menos isso. Sua perna poderia estar deformada, mas o orgulho que herdara dos

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Douglas permanecia forte e intacto.

– Pare! – Samantha gritou ao ver um cachorro atravessar na frente da carruagem.

Um uivo de dor cortou o ar. Rudolf puxou as rédeas e desceu. – Fique aí.

Ignorando a ordem, Samantha seguiu-o. Ajoelhou-se ao lado dele, que tentava

examinar o animal sem tocá-lo.

Choramingando, o enorme deerhound fitava-os com olhar súplice.

– Não há sangue.

– Ele pode estar sangrando internamente, Rudolf.

O cão tentou levantar-se. Recuou quando Samantha estendeu a mão para tocá-lo.

Por fim, ficou sobre as pernas, mas manteve a pata machucada suspensa no ar.

– Nunca toque num cachorro estranho, ainda mais se ele estiver ferido.

– Bobagem – Samantha retrucou, vendo o cachorro lamber-lhe a mão. – Vamos

colocá-lo na carruagem e levá-lo para o solar.

– Este cachorro deve ter um dono.

– Ele é nosso – informou uma voz infantil às costas deles.

Samantha fez menção de virar o rosto, mas sentiu o cano de uma pistola na nuca.

Com o canto dos olhos, viu que Rudolf também tinha uma arma encostada na cabeça.

– Se vocês prezam a vida, não se movam.

– Não queremos matá-los – acrescentou outra criança.

“Céus! São meninos, não homens adultos!”

– Ninguém será ferido se fizerem o que eu mandar – o primeiro garoto avisou.

– Mãos para cima!

– Quem dá as ordens aqui sou eu! – esbravejou o primeiro.

– Levantem-se devagar e virem-se.

Rudolf e Samantha obedeceram. Entreolharam-se surpreendidos ao verem os

assaltantes.

Pela aparência, os meninos não teriam mais de dez anos. Sem dúvida irmãos,

tinham olhos e cabelos pretos, e estavam sujos e maltrapilhos.

– Não tivemos intenção de machucar seu cachorro – Rudolf lentou desculpar-se.

O menino mais velho estalou os dedos para o animal.

– Venha.

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Mancando, o deerhound foi ao encontro do dono.

– Acabou – disse o mais novo, e o cão parou de mancar.

– Esse cachorro sem-vergonha é um ator! – Samantha exclamou surpresa.

Rudolf abriu a boca para falar, mas ela o cutucou.

– Deixe que eu cuido disso. – Com as mãos na cintura, perguntou aos garotos: –

Quantos anos vocês têm?

– Tenho oito. Meu irmão, dez.

– Não diga nada! – ordenou o mais velho.

– Onde vocês moram?

– Não é de sua conta.

Samantha arqueou a sobrancelha, demonstrando sua reprovação pela atitude dele.

– O pai de vocês ficará muito bravo quando souber que os filhos estão tentando

roubar pessoas na estrada!

– Nós não temos pai.

– Ele morreu?

– Não sabemos. Nunca o vimos.

– E sua mãe? Ela ficará muito triste com vocês.

De novo, foi o menor quem respondeu:

– Ela não está aqui.

– Onde está?

– Foi para Edinburgh no verão passado e nunca mais voltou.

– Não diga mais nada! – repetiu o mais velho.

Samantha sentiu o coração apertado. Como uma mulher tinha coragem de

abandonar os próprios filhos?

– Como se chamam?

– Eu sou Drake Morton. Drake quer dizer dragão – explicou o menino de oito anos,

com orgulho. – Este é meu irmão Grant. O nome dele significa grande.

– Cale a boca, idiota! – Grant ordenou. – Agora eles sabem quem vão mandar para a

forca!

– Ninguém vái para a forca – Rudolf interveio.

– Sou Samantha Douglas. Os Morton são parentes distantes dos Douglas. Este

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cavalheiro é o príncipe Rudolf da Rússia.

– Onde fica a Rússia? Lá nas montanhas?

Rudolf sorriu.

– Não. A Rússia fica na Europa, além do mar.

– Você é um príncipe de verdade? – Grant parecia não acreditar.

– Asseguro que sou mesmo o príncipe Rudolf.

– Entregue seu dinheiro. – Grant apontou-lhe de novo a arma. .

– Meus criados carregam o dinheiro para mim. Como você pode ver, não trouxe

nenhum criado nesta viagem.

– Por que não?

– Eu queria ficar sozinho com minha .esposa.

Grant refletiu por alguns segundos.

– Então, sua esposa ficará como refém até você voltar com o

dinheiro.

Rudolf soltou uma gargalhada.

– Nenhum homem deixaria sua mulher com dois ladrões.

De repente, o deerhound correu na direção de Samantha. Sentou-se nas patas

traseiras e ergueu dianteiras.

– Não adianta pedir, Giles – Drake avisou-o. – Ela não tem

comida.

Surpresa, Samantha cobriu a boca com as mãos.

– Você o chamou de Giles?

– Esse é o nome dele!

– Isto é um sinal! – Ela olhou para o príncipe.

– Do que você está falando?

– Giles é o santo padroeiro dos aleijados! O cachorro com o

nome de Giles é um sinal de Deus. Vou levá-los para casa e cuidar deles!

Samantha entusiasmou-se com a idéia. Com a reputação arruinada, jamais se

casaria, mas isso não significava que não poderia ter sua própria fanulia: dois filhos e um

cão.

– Não pode roubar os filhos de outra mulher, Samantha.

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– Não estou roubando, Alteza, estou salvando.

– Quem cuidará deles? Você vai dar um emprego aos meninos e colocá-los para

dormir nas dependências da criadagem? E se os outros criados não os aceitarem?

– Meus filhos adotivos não serão criados! Eu cuidarei deles, e ambos dormirão em

meu quarto.

– Onde você vai dormir?

– Em seu quarto.

– E onde eu vou dormir?

Samantha esboçou um sorriso angelical.

– Comigo.

Aquilo era suborno, puro e simples. Samantha sabia mas os meninos precisavam

dela. Além disso, teria uma desculpa para dividir a cama com o príncipe e viver algumas

semanas de felicidade. Fingiria que Rudolf era mesmo seu marido, e os meninos, filhos

deles.

– Entreguem as pistolas para o príncipe e entrem no veículo – Samailtha ordenou,

autoritária.

Sem esperar resposta, foi até a carruagem e abriu a porta. Olhou para os meninos e

para Rudolf, mas ninguém se moveu.

– Quem é você? – Grant indagou, desconfiado de tanta gentileza.

– Sou uma fada madrinha, e este é o dia de sorte de vocês dois. Agora, tratem de

entrar na carruagem. E bem rápido.

– E Giles? – Drake choramingou.

– Ele vai também.

Os meninos continuavam ali parados, hesitantes e desconfiados.

Samantha fitou o príncipe, pedindo ajuda. Rudolf estava se esroçando-se para não

rir.

– Não discutam com ela, rapazes. – O príncipe tirou as armas das mãos deles. –

Vocês não conseguirão vencê-la.

– Minha nossa! – exclamou Drake, entrando no hall do solar.

– O que é isso?! – Grant andava devagar, olhando ao redor.

Atrás deles, Samantha e Rudolf observavam a reação dos meninos. Pelo jeito, eles

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nunca tinham visto nada tão grandioso.

Ela se lembrou da primeira vez que entrara na mansão do duque de Inverary, depois

de ter passado quase toda a vida no chalé nos confins de Prirnrose House. Sua reação fora

muito parecida com a dos garotos.

– Altezas? – Durwin entrou no hall. – Por que voltaram tão... – Arregalou os olhos.

– Vagabundos! Fora desta casa, meninos sujos!

Horrorizado, o criado atravessou o hall na direção deles. Passado o momento de

perplexidade, Samantha pôs-se na frentedos garotos.

– O que você vai fazer?

Durwin estacou, surpreendido por ela estar protegendo as crianças.

– Alteza, esses meninos são...

– ...meus convidados. – Seus olhos azuis brilhavam de raiva

e revolta.

Durwin não escondia a indignação.

– Sua Alteza não está pensando em abrigar esses dois vadios!

– Não admito que desconsidere meus futuros filhos adotivos – Samantha

repreendeu-o, para espanto maior do mordomo.

Vendo Giles ao lado das crianças, acrescentou: – Ou o cachorro deles.

Boquiaberto, Durwin voltou-se para Rudolf, buscando se

apoio. Samantha também olhou para o príncipe, que ria.

– Do que está rindo? – Samantha se irritou por sua omissão

– Cuidado, princesa. Lembre com quem você está falando.

– É verdade, senhora – Grant interveio. – Você deve respeitar seu marido. Ele é seu

senhor.

Perplexa com atitude tão inesperada quanto surpreendente de Grant, Samantha os

encarou com indignação. Ao que tudo indicacava, os homens estavam sempre unidos contra

as mulheres.

Drake pegou a mão dela e apertou-a. Samantha fitou-o, e ele sorriu, num gesto de

solidariedade..

– Diga ao cozinheiro para preparar uma montanha de comida para os meninos e o

cachorro, Durwin. Quero que acendam a lareira no hall Tudor e preparem tinas com água

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quente. Pegue roupas limpas emprestadas dos cavalariços. Meu marido os reembolsará. E

mande Sally transferir o que é meu para os aposentos do meu marido. Os meninos dormirão

em meu quarto.

Durwin ainda tentou protestar:

– Mas, Alteza...

– Pode ir, Durwin.

– Alteza? – o mordomo recorreu ao príncipe, inconformado.

– Faça como ela manda. No futuro, não discuta as ordens de minha esposa.

– Sim, Alteza. – Durwin afastou-se, rápido.

Samantha acompanhou-o com o olhar. Depois, voltou-se para Rudolf.

– Eu já estava me perguntando se ia me apoiar ou não.

– Como pôde duvidar de minha lealdade? Aliás, você dá ordens como se tivesse

nascido aqui. Bem, é melhor os garotos comerem primeiro. Eles ficarão mais receptivos à

limpeza geral com o estômago cheio.

– Mas estão com as mãos sujas!.

– Eles comem com as mãos sujas há meses. Uma refeição a mais não fará diferença.

– Sua Alteza é o mais sábio dos homens! – Samantha exclamou.

Ele ergueu as sobrancelhas.

– Um dia, hei de lembrá-la dessas palavras.

Grant e Drake ficaram ainda mais impressionados com a sala de jantar.

– Nunca vi uma mesa tão grande assim.

– Nem eu – Drake concordou com o irmão, ainda de mãos dadas com Samantha.

– Vamos nos sentar enquanto esperamos a refeição.

– Você está dizendo que podemos mesmo nos sentar aqui?

Grant apontou o dedo para as cadeiras luxuosas.

Rudolf achou graça, e colocou a mão no ombro do menino.

– E você acha que vamos deixá-los comer sentados no chão?

– A senhora é minha fada madrinha de verdade. – Drake encarava Samantha com os

olhos cheios de ternura.

Samantha emocionou-se. Sempre sentira-se insegura por conta da perna defeituosa,

mas tivera pais que a amavam. Pior era a situação daquelas pobres crianças, que não tinham

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nada.

Rudolf e Grant sentaram-se num lado da mesa. Samantha e Drake, de frente para

eles. Giles escolheu a cadeira ao lado de Samantha, e apoiou a cabeça na mesa.

– Minha esposa e eu brincamos de nos acomodar a cada dia numa cadeira diferente

– Rudolf disse. – Talvez vocês queiram brincar conosco.

Como se tivessem combinado, os dois irmãos assentiram com um gesto de cabeça.

– Ah, aí está a comida! – Samantha anunciou.

Sob as vistas de Durwin, três copeiros entraram na sala, cada um com uma travessa

nas mãos. A primeira continha carne de carneiro picada; a segunda, batata frita e cebola; a

terceira, pão comum, manteiga, pão de gengibre e um pote com creme de nata.

– Quero um pouco daquilo, por favor – Drake pediu, mostrando o pão de gengibre.

– O pão é para a sobremesa – Samantha avisou-o, servindo-lhe um prato com carne

e batata.

– V ocês sabem ler?

Os dois fizeram que não à indagação do príncipe, sem parar comer, como se não

comessem havia dias.

– Eu sei o alfabeto – Grant falou, enchendo a boca com ou colherada de carne.

– Eu também. – Drake mastigava depressa.

– Conhecem os números?

– Não. Mas conhecemos dinheiro. – A voz de Grant soou abafada pela quantidade

de comida que tinha na boca.

– Nós gostamos de dinheiro.

– Vocês não precisam colocar tanta comida na boca de uma só vez, nem comer tão

rápido.

– Samantha se dirigiu a Rudolf– Acho bom acrescentannos aulas de etiqueta à lista

do que elesprecisavam aprender.

– O que é isso? – Drake olhou-a com curiosidade.

Samantha encheu o prato do cachorro e colocou-o no chão.

– A etiqueta ensina, por exemplo, como se deve comer de maneira apropriada...

– Nós sabemos comer! – Grant protestou. – Põe-se a comida na boca, mastiga-se e

engole-se. Pronto!

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– Neste momento, você está pulando o ato de mastigar.

–Rudolf fez uma areta brincalhona.

– Como eu estava explicando, vocês devem comer sem deixar ninguém nauseado.

– O que é nauseado? – Drake quis saber.

– Nauseado quer dizer ficar ruim do estomago.

– Oh! Como VOmitar?

-Sim.

– Senhora, como devemos chamá-la?

“Mamãe.” Samantha respirou fundo.

– Podem tratar-me por lady Samantha. O príncipe é Vossa Alteza.

– Em particular, podem tratar-me por sir – Rudolf autorizou.

– Lady Samantha?

Ela olhou para Drak:e.

– Sua perna está machucada?

– Refere-se a meu defeito?

–Sim.

– Quando eu era pequena, fui atropelada por uma carruagem.

Uma perna ficou mais curta que a outra. Por isso eu manco.

– Aposto como dói.

– Faz tanto tempo que nem dói mais.

Drake parou de comer e segurou a mão dela.

– Mas às vezes deve doer.

Samantha apertou com carinho os dedinhos dele.

– Quando fico em pé por muito tempo, sinto dores nos quadris.

– Você nunca me contou isso. – Rudolf a encarou.

Ela não gostou do tom condescendente do príncipe.

– Você nunca me perguntou. Além do mais, é irrelevante. Desviando-se, Samantha

cortou dois pedaços de pão de gengibre, colocou-os nos pratos e espalhou uma porção de

creme de nata por cima. Passou um prato para Grant e o outro para Drake.

– O que você está fazendo, Drake?

– Vou guardar no bolso para comer mais tarde, lady Samantha.

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– Boa idéia! – Grant aprovou, esticando o braço.

Rudolf segurou o pulso do menino.

– Nada disso. Se vocês já estão satisfeitos e não querem comer o pão agora, deixe-o

no prato.

– E vamos ficar sem o pão?

– Se quiserem comer mais tarde, é só pedir – Samantha explicou.

Os meninos entreolharam-se meio desconfiados, mas obedeceram.

As três tinas com água quente estavam alinhadas diante da lareira do grande hall da

ala Tudor. O soljá se pusera. Ao longo das paredes, alguns archotes estvam acesos,

iluminando a penumbra do halI.

– Tirem a roupa e entrem nas banheiras. – Samantha parecia um general diante da

tropa. – Há sabão e escovas em cada uma.

Esfreguem as costas e não se esqueçam de lavar atrás das orelhas.

Os garotos obedeceram. Rudolf pegou as roupas sujas do chão e entregou-as a

Durwin..

– Mande alguém queimar isto.

Com evidente repugnância, o mordomo segurou as peças com as pontas dos dedos e

passou-as logo para um criado.

– Giles, entre na tina – Rudolf chamou-o, enrolando as man gas da camisa.

O cão sentou-se e abanou a cauda.

– Ele não entende.

– Princesa, o cão entende, sim. – O príncipe se voltou para o animal: – Entre na tina.

Giles deitou-se e apoiou a cabeça nas patas dianteiras. Samantha

e os meninos riram, e Giles tomou a abanar a cauda. Rudolf apontou o dedo para a

tina.

– Giles, entre ali.

Dessa vez, o cachorro atendeu ao tom imperioso do príncipe.

Giles se jogou na água, espalhando-a por todos os lados.

– Bom menino! Durwin, quer lavar o cachorro?

O mordomo recusou-se com um movimento veemente da cabeça. Atrás dele, o

criado sorriu.

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Rudolf começou a ensaboar o cão. Samantha deu risada.

– Qual é a graça?

– Nunca imaginei ver um príncipe dedicando-se a uma tarefa tão humilde!

– Eu sou um homem também. – Rudolf acariciou-lhe o corpo com olhar malicioso.

Samantha corou. Se ela ruborizava apenas com as palavras e o olhar dele, como

sobreviveria partilhando a mesma cama?

– Fora! – o príncipe ordenou, assim que tenninou o banho

de Giles.O cão pulou da tina e chacoalhou-se para retirar o excesso de

água.

– Estou todo enrugado – Drake reclamou.

Samantha verificou as orelhas e os pescoços deles, e entregou

uma toalha a Grant.

– Enxugue-se. – E voltando a atenção para o menor: – Levante-se, Drake. –

Começou a enxugá-lo. – Traga as roupas limpas, Durwin.

Rudolf terminou de cuidar de Giles e foi ajudar Grant a vestir

as roupas limpas.

Minutos depois, com as mãos na cintura, Samantha inspecio nava os garotos e o

cachorro..

– Agora sim estou enxergando esses rostinhos bonitos. – Ela os avaliou dos pés à

cabeça, e eles sorriram. – Giles, eu jamais acreditaria que você tem manchas brancas nesse

seu pêlo cinza!

– Venham conosco – Rudolf chamou-os.

Grant pegou a mão do príncipe, e Drake agarrou-se na de Samantha. Retomaram à

casa principal e foram conhecer os aposentos.

– Minha nossa!

– O que é isso?!

Parados no meio do quarto imenso, Grant e Drake pareciam não crer no que viam.

Boquiabertos, admiravam tanta opulência.

– Ajoelhem-se ao lado da cama, rapazes.

Os irmãos entreolharam-se, intrigados.

– Por quê?

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– Vocês precisam agradecer a Deus todas as noites pelas bênçãos recebidas.

– Isso é fácil. – Drake ajoelhou-se e, de mãos postas, disse:

– Obrigado, Deus, por nos ter mandado uma fada madrinha.

Samantha sentiu lágrimas nos olhos.

– Obrigado, Deus, por nos mandar o príncipe. – Grant se ajoelhara ao lado do irmão.

– Agora, deitem-se. – Samantha ajeitou as cobertas sobriu eles. – Estarei no outro

quarto, se precisarem de mim.

– Lady Samantha?

– Sim, Drake?

– As fadas madrinhas dão beijos de boa noite nas crianças?

Emocionada, Samantha beijou-os na testa, pensando que era assim a vida em

família. Talvez não estivesse destinada a viver como sonhara, mas, muitas vezes, era

preciso fazer acontecer.

Mancando, ela seguiu em direção à porta de comunicação, onde o príncipe a

aguardava. Parou ao ouvir a voz de Drake:

– Lady Samantha?

–Sim?

– Por que está chorando?

– Minhas lágrimas são de felicidade, não de tristeza. Boa noite, meninos.

– Eu lhe disse que as meninas são bobas – Grant murmurou.

– Ela é uma moça, não uma menina.

– As moças são meninas grandes, e bobeira não tem cura, Drake.

Sorrindo, Samantha fechou a porta.

– Imagino que queira descansar. – Rudolf apontou o leito.– Fique à vontade,

princesa. Eu a chamarei antes do jantar.

– Obrigada, Rudolf.

Assim que ele se foi, ela despiu o traje de montaria e pendurou-o no closed, ao lado

das roupas do príncipe. Entre um homem e uma mulher, poucas coisas eram mais íntimas

do que dividir um closed.

Seu coração bateu mais forte, impulsionado pelo amor que crescia dentro de seu

peito.

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Se Rudolf não fosse um príncipe... Se ao menos Roxie estivesse lá para orientá-la,

saberia como conquistar o amor do príncipe. Se o impossível fosse possível!

Mesmo sabendo que Deus não aprovaria, decidiu agarrar aquelas poucas semanas

de felicidade. Fingiria que Rudolf era seu marido. Ajoelhou-se. Ainda não era hora de

dormir, mas alguns agra decimentos não poderiam esperar.

– Obrigada, Senhor, por enviar-me Grant e Drake. Prometo amá-los e cuidar deles

com carinho e dedicação. Giles foi um sinal inesperadamente agradável também...

Sozinho na biblioteca, Rudolf saboreava um copo de conhaque, pensando. Tentava

encontrar uma solução para afastar Vladimirde seu caminho sem ter de matá-lo. Entretanto,

a imagem de Samantha deitada em sua cama invadia seu devaneio.

“Trinta minutos é tempo suficiente para ela atender a suas necessidades pessoais.”

Assim decidido, ergueu-se, mas tornou a se sentar. Agora que ela estava onde a queria, ele

relutava em procurá-la. Samantha Douglas era tudo o que Rudolf quisera encontrar numa

mulher: leal, sensível, carinhosa.

Apesar de sua força interior, possuía uma aura de vulnerabilidade que o impelia a

querer protegê-la. Ela era tudo o que ele, por ingenuidade, acreditara que Olga fosse. Seu

amor por Olga só lhe trouxera sofrimento.

E Zara, Rudolf corrigiu-se. Sua filha compensava todas as dores e decepções.

Bebeu um gole e esticou as pernas. Embora tivesse proposto casamento a Samantha

para salvar-lhe a reputação, sentira-se muito aliviado com sua recusa. Não podia arriscar-se

a cometer outro erro. Não queria casar-se de novo, mesmo com a mulher que amava,

Porque ele a amava.

Remexeu-se no assento. Sim, amava-a, mas pretendia seguirseu próprio conselho. O

amor levava à miséria e à dor. Sempre.De novo, a imagem de Samantha deitada em sua

cama torturou-o. Não resistiu e voltou ao quarto.

Quem poderia saber como seria seu desventurado amanhã? Rudolf agarraria aquelas

poucas semanas de felicidade e fingiria que ela era sua esposa.Com a decisão tomada, saiu

da biblioteca. Subiu os degraus de dois em dois e só parou para tomar fôlego à soleira da

suíte.Hesitou. E se Samantha o rejeitasse? Ela só estava ali por quereros meninos dormindo

nos aposentos dela.

Respirou fundo e entrou. Olhou direto para o leito. Só de combinação de seda e

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renda, Samantha adormecera por cima da colcha. Tirou a roupa e vestiu o roupão vermelho.

Aproximou-se e, por um longo momento, admirou a beleza da mulher adormecida.

Ajoelhou-se e cobriu o rosto com as mãos. Sem dúvida, Samantha era uma boa

influência. Graças a ela, ele começava a falar com Deus de novo.

– Você está pedindo ou agradecendo?

Rudolf olhou. Ela sorria.

– Eu agradecia a Deus por trazê-la de volta a meu leito. E estava pedindo...

Então, Samantha fez o inesperado. Abriu os braços num convite. Com um gemido

de alívio e desejo, Rudolf deitou-se e abraçou-a forte. Seus lábios apossaram-se dos dela

num beijo ardente,voraz, arrebatador... um beijo cheio do amor que ele se recusava a

expressar com palavras. Samantha retribuiu com a mesma intensidade. Pressionou seu

corpo suave contra o dele, tentando transformar os dois em um só.

– Deixe-me fazer amor com você, Samantha.

–Sim!

Rudolf tornou a beijá-la, a língua invado-lhe a boca, provocante e sensual. Sem

desgrudar os lábios dos dela, começou a acariciar-lhe o pescoço, os ombros delicados, a

curva dos seios.

– Tão macios, tão doces!

Samantha enlaçou-o pelo pescoço. Puxou-o até as bocas se tocarem de novo.

Contornou-lhe os lábios com a língua, antes de capturá-los num beijo ávido. Rudolf gemia,

deleitando-se com a iniciativa apaixonada de Samantha.

Devagar, ele se levantou. Ela protestou, e ele pediu:

– Abra os olhos, daragaia.

Assim que Samantha o encarou, Rudolf tirou o robe. As pupilas dela brilharam de

volúpia ao vê-lo excitado. Em seguida, Rudolf livrou-a da camisola. Queria tocá-la por

inteiro, admirar-lhe as formas nuas.

Ele tocava e beijava cada centímetro do corpo bem-feito, saboreando o calor que

emanava dela, feliz por fazê-la descobrir como sentir prazer.

Samantha contorcia-se, a urgência crescendo ao toque das mãos dele, tão firmes e

seguras.

O príncipe tomou-lhe os mamilos intumescidos, sugando-os até ela gritar de paixão.

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– Seus seios são bonitos, amor. – Rudolf introduziu a mão entre as pernas dela, e

acariciou-a.

Sentindo-a perder o controle, o príncipe deitou-se sobre ela. Samantha se entregou,

arqueando-se. E quando ele a penetrou, ela enroscou as pernas em sua cintura, e começou a

acompanhar seusmovimentos.

De repente, Samantha viu-se tomada por convulsões. Agarrou-se a Rudolf,

gemendo, contorcendo-se. Então, ouviu-o murmurar seu nome num tom rouco, apaixonado,

ao mesmo tempo que era sacudido por espasmos.

Segundos depois, Rudolf descerrou as pálpebras e fitou-a. Queria o coração e a alma

dela também.

– Meu anjo, pensei que você ia me matar.

Samantha apoiou-se no cotovelo e, com os olhos cheios de amor,encarou-o.– Da

próxima vez que fizer suas orações noturnas, seja mais cuidadoso com seus pedidos,

Alteza.

O sol de inverno já ia alto quando Samantha acordou, no dia seguinte. As

lembranças da noite de amor voltaram-lhe à mente. Apesar do frio, um calor agradável a

invadiu.

“Você não é esposa dele”, lembrou-a uma voz interior, despertando uma ponta de

culpa.

Tratou de afastá-la. Sua reputação já estava perdida, independente de dormir com o

príncipe ou não. Teria tempo de sobra para remoer seus pecados, depois que voltasse a

Londres.

Após lavar-se, vestiu a roupa de musselina branca. Estava ansiosa para ver seu falso

marido.

No hall, encontrou Giles amarrado no corrimão. Ao vê-la, o animal abanou a cauda.

– O que você está fazendo aqui? – Ela o desamarrou. Venha comigo.

Entraram na sala de jantar. Apenas o mordomo e o copeiro estavam lá.

– Eu me perguntava quando a senhora ia descer. – Durwin colocou uma xícara de

café diante dela. – Sua Alteza disse-me para não perturbá-la. Milady quer almoçar ou

prefere que o cozinheiro prepare o café da manhã?

– Se o almoço estiver pronto, eu almoço. – Acenou para o cachorro. – Sente-se

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perto de mim, Giles.

O deerhound sentou-se na cadeira ao lado e descansou a cabeça no colo de

Samantha.

Não demorou muito e a refeição foi servida.

– Onde estão Sua Alteza e as crianças?

– Sua Alteza levou os meninos até Durnfries para comprar roupas.

A ponta de decepção por não encontrar o príncipe a sua espera desvaneceu-se com a

informação do mordomo. Era gratificante saber que Rudolf preocupava-se com os garotos.

– Quando Sua Alteza voltar, diga-lhe que estou na sala de música – Samantha

pediu, assim que terminou de almoçar.Vamos, Giles.

Ela subiu as escadas, seguida pelo cão. Na sala de música, sentou-se no sofá junto à

lareira.

– Aqui, Giles.

Giles acomodou-se no sofá, com a cabeça no colo de Samantha.

Afagando-o, ela recostou-se e fechou os olhos.

A imagem do príncipe surgiu diante dela, que se deliciou rememorando os

momentos de intimidade e os murmúrios de frases de amor. E então, uma sensação de

insidiosa insegurança envolveu-lhe o coração.

Ela amava o príncipe e jamais poderia casar-se com Alexander Emerson, mesmo

que ele ainda a quisesse. Sentia que Rudolf gostava dela também, mas isso não era garantia

de matrimônio. Seria uma pária social assim que retomasse a Londres.

– Lady Samantha?

– Estou aqui – respondeu, reconhecendo a voz de Drake. Ele e Grant entraram

correndo. Carregado de pacotes, Rudolf entrou em seguida.

– O príncipe nos comprou roupas novas! – Os olhos de Drake brilhavam de alegria.

De tão entusiasmado, Grant ria alto.

– Ele deu ordens a Durwin para pendurar nossos trajes no quarto.

– Almoçamos numa hospedaria de verdade!

– Fico contente por vocês terem se divertido. – Samantha voltou-se para o príncipe.

– Por que não me acordou?

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Rudolf não respondeu. Seus olhos estavam fixos no deerhound.

– Não permita que o cachorro deite no estofado. Desça, Guiles. Obedecendo ao tom

imperativo, o animal desceu do sofá e deitou-se aos pés do príncipe.

– E, respondendo a sua pergunta, princesa, você estava dormindo tão bem que não

quis acordá-la.

Pegando a mão de Samantha, Drake sussurrou-lhe ao ouvido

– Nós compramos presentes para você.

– É mesmo? Adoro surpresas!

– Todas as meninas adoram surpresas.

– E os meninos também, Grant – Rudolf completou.

Samantha afagou os cabelos de Drake.

– Você gosta de surpresas?

– Sim, milady. Mas gosto ainda mais da minha fada madrinha.

Samantha enterneceu-se com as palavras do menino. As lágrimas embaçaram-lhe a

visão, mas tentou contê-las.

– Meu Deus, ela está chorando de novo! – Grant cutucou o irmão.

Samantha riu entre lágrimas. Olhou para o príncipe, que piscou-lhe.

– Dê isto para lady Samantha. – Rudolf entregou uma caixa para Grant.

– Fui eu que escolhi.

A caixa continha uma bengala. Era feita de bambu, com cabo de resina endurecida e

bronze. Para deixá-la mais chamativa, o artesão pintara flores em toda sua extensão.

– Que bonita! – Samantha escondeu a decepção.

A última coisa que queria era uma bengala. Mancar já era ruim demais. Não

precisava alardear ainda mais seu defeito físico apoiando-se naquilo.

– Você poderá usá-la quando sentir dores nos quadris – Drake justificou.

– Bem pensado. Obrigada.

– Mas essa não é a melhor parte. – Grant tirou-lhe a bengala das mãos. – Olhe aqui.

O menino puxou o cabo e exibiu um estilete italiano.

– Eu a levarei por onde eu for e me sentirei segura, mesmo se estiver sozinha.

– Quem vai entregar este aqui? – Rudolflevantou outra caixa.

– Eu. – Grant adiantou-se, e ao perceber a expressão decepcionada do irmão,

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ofereceu: – Você dá o outro.

Samantha aceitou o presente e abriu-o.

– Que sombrinha linda!

Adornada com fitas e rendas, o objeto tinha cabo de marfim incrustado com pedras

semipreciosas..

– As sombrinhas transmitem os pensamentos de uma mulher – Samantha revelou. –

Se Sua Alteza nutrir afeto por mim, pedirá para carregá-la. Se eu a abrir de um jeito

decidido, estou querendo dizer à Sua Alteza que não gosto do tema da conversa, e que ele

está sendo atrevido demais com suas atenções.

Os meninos acharam a explicação engraçada.

– Drake aqui está seu presente pará tady Samantha.

O menino pegou o embrulho retangular que o príncipe lhe estendia e olhou para ela.

– Eu escolhi isto para você.

Era um leque de seda azul com plumas. Aberto, representava um pavão perfeito.

– Adorei! V ocês sabiam que posso comunicar-me com o leque também?

– Não – responderam os irmãos em uníssono.

– Querem que eu demonstre com o príncipe?

Grant e Drak.e assentiram com um gesto de cabeça.

– Está pronto, Alteza?

– Estou sempre pronto para você, meu amor.

Samantha fechou o leque e tornou a abri-lo, mostrando apenas três varetas.

– O que estou querendo dizer?

– Que você quer encontrar-me às três horas.

– Correto, Alteza.

Os meninos pareciam impressionados.

Ela tomou a fechar o leque e apontou-o para a porta.,

– Você está me castigando por meu atrevimento – Rudolf interpretou.

– Isso mesmo. – Samantha cobriu a orelha esquerda com leque.

– Ela quer que eu guarde seu segredo.

Samantha levou o leque meio aberto ao lábios. Num instante, Rudolf estava a seu

lado. Tomou-a nos braços e beijou-a.I

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– O que milady disse?

– A senhora deu-me permissão para beijá-la, Drake. – Rudolf entregou-lhe duas

caixas, dizendo: – Meus presentes para você, daragaia.

Samantha abriu a primeira e sorriu. Era uma adaga. A segunda continha uma tiara

com cristais e pedras semipreciosas.

Emocionada e emudecida, ela apenas contemplava a jóia. Rudolf tirou-a da caixa e

colocou-a na cabeça dela.

– Ninguém mais rirá de você por conta de sua perna, e você será sempre a primeira

a ser escolhida para os jogos.

O pranto escorreu pelo rosto dela, e os lábios tremeram com o esforço de contê-las.

Embaraçada, baixou os cílios.

Rudolf secou-lhe as lágrimas e beijou-a.

– Obrigado, querida, pelos momentos mágicos que você tem me proporcionado.

– Digo-lhe o mesmo, Rudolf. – Samantha olhou para os meninos. – Este é o melhor

dia de minha vida, e estou muito feliz.

– Lady Samantha, por que você chora quando está feliz?

– Drake quis saber. – Eu só choro quando estou triste.

– Ela chora porque é muito sensível – Rudolf interveio. As emoções das mulheres

são diferentes das dos homens.

– Entendo... – Grant parecia cético.

– Eu não – Drake afirmou.

– Por enquanto, vocês não precisam se preocupar com as emoções das mulheres.

Deixem isso para quando forem adultos.

Samantha ficou de pé. – Por que não vamos brincar no salão?

Três horas depois, de vestido de seda rosa, xale e tiara, Samantha saiu do quarto em

direção à sala de jantar. Rudolf já descera com as crianças.

Ao entrar, ela sorriu, encantada com a nova aparência dos meninos. Ambos estavam

de calça azul-escura, colete, camisa branca e gravata azul. Em pé, atrás das respectivas

cadeiras, eles e o príncipe esperavam por ela. .

– Oh, céus, como vocês estão lindos!

– Os garotos são simpáticos, não bonitos – Grant corrigiu-a.

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– Eu estou sufocando. – Drake apontou para a gravata.

– Os cavalheiros sempre usam gravata para jantar. Sua Alteza põe gravata há anos, e

ainda não morreu sufocado.

Rudolf sentou-se à cabeceira. A sua direita, Samantha os meninos, à esquerda.

– Esta noite, vamos aprender sobre boas maneiras à mesa,crianças.

Com a ajuda do príncipe e sob os olhares de aprovação de Durwin, Samantha falou

sobre o uso do guardanapo, dos talheres, dos copos.

Ao fim da explicação, os irmãos pareciam confusos.

– Não sei se vou me lembrar de tudo.

– A prática leva à perfeição, Grant. Logo estarão seguindo as normas sem perceber.

– Samantha sorriu, encorajando-os. – Agora, vamos comer. Bom apetite!

Samantha ajudava os meninos a prepararem-se para dormir. Encostado na porta de

comunicação, de braços cruzados, Rudolf observava-a com um sorriso enigmático.

– Não se deitem ainda. Vocês precisam agradecer a Deus pelo dia de hoje.

Os irmãos se ajoelharam e juntaram as mãos em prece. Grant falou primeiro:

– Obrigado, Senhor, pelas roupas novas e pelo príncipe.

Depois, deu uma cotovelada no irmão.

– Obrigado, Senhor, pelas roupas novas, pelo príncipe e por

lady Samantha.

Ela os beijou na fronte e voltou-se em direção à saída. Rudolf permanecia na mesma

posição, ostentando o mesmo sorriso misterioso. O que estaria pensando?

– Lady Samantha?

– Sim, Drake?

– Os príncipes dão beijos de boa noite?

Rudolf aproximou-se deles.

– Dão, sim. – Inclinando-se, beijou as testas dos meninos. Samantha se emocionou

com a atitude dele.

– Boa noite outra vez, lady Samantha.

– Boa noite, Drake – ela respondeu, com voz embargada.

– Ah, não, ela está chorando de novo! – Grant resmungou.

Na intimidade do quarto deles, Rudolf enxugou-lhe o rosto.

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– Por que as meninas são tão choronas? – imitou Grant. Vire-se para eu desabotoar

seu vestido.

Depois de abrir os botões, ele beijou-lhe a nuca, causando nela um arrepio. Puxou-

lhe a roupa para baixo, deixando-a cair no chão. Tirou os grampos dos cabelos dela,

soltando-os. Afastou as alças da combinação, que deslizou pelo corpo delgado até o solo.

– Você é tão bonita, meu anjo!

Ruborizada, Samantha baixou os cílios. Rudolf ergueu-lhe o queixo, forçando-a a

encará-lo. E ali, diante do olhar dela, ele se despiu.

– Tenho uma bela noite de amor para oferecer-lhe; Samantha.

Três meses se passaram.

A vida de Samantha entrou na rotina. Grant e Drake ocupavam seus dias. De manhã,

ela ensinava-lhes gramática e leitura, enquanto o príncipe encarregava-se da aritmética.

Depois de almoçarem como uma família de verdade, passavam as tardes brincando, e

Samantha era sempre a primeira a ser escolhida para as brincadeiras.

As noites pertenciam a Rudolf. Fingir ser sua esposa tornara-se mais fácil do que ela

imaginara. Quando fechavam a porta de seus aposentos, Sarnantha entregava-se sem

reservas ao príncipe, sem culpa ou remorso.

Em janeiro, os dias se arrastaram. Crepúsculos melancólicos, cheiro de fumaça no ar

e sons ritmados do piano e do violino marcaram a passagem do mês.

O céu plúmbeo de fevereiro trouxe chuva e, em seguida, sol quente. Os dias

tornavam-se mais longos, e os amentilhos começavam a pender dos galhos das árvores.

O açafrão abriu suas pétalas quando o céu azul de março chegou. Os pássaros

migratórios começaram a aparecer, e os torninhos trocaram a plumagem.

Naquele dia, Samantha sentou-se no gazebo, observando os meninos brincando na

casa da árvore. A seu lado, Giles. Ela também teria subido nas árvores, se não estivesse um

pouco enjoada pelo tanto que comera no almoço.

À medida que o tempo passava, Samantha tornava-se mais e mais apreensiva com a

idéia de retomar a Londres. Seu desejo era ficar para sempre na Escócia com o príncipe e os

garotos. A única coisa que a esperava na capital era a realidade cruel e sombria.

Olhou para os pequenos brincando, despreocupados. A alegria deles seria um

consolo para seu futuro de solidão.

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– Alteza? – Durwin chamou-a. – O príncipe Rudolf pede sua presença na biblioteca.

– Você pode ficar com os meninos até eu voltar?

– Claro, Alteza.

Samantha percebeu que havia alguma coisa errada no momento em que entrou.

Rudolf estava sério e de cenho franzido. Então, ela viu o homem sentado numa cadeira.

Seu coração começou a bater mais forte, e sentiu náuseas só de pensar que poderia

perder Grant e Drake.

Rudolf e o estranho levantaram-se assim que ela entrou.

– Sente-se, por favor. – Rudolf indicou-lhe uma cadeira. Samantha se acomodou,

forçando-se a parar de tremer.

– Este é o sr. Stockwell, emissário do duque de Inverary. Samantha sentiu o coração

apertado. Não queria voltar à Inglaterra. Preferia permanecer na Escócia com sua família

falsa.

– O sr. Stockwell informa que Sua Graça exige nosso retorno imediato a Londres.

– Farei os preparativos necessários, Alteza. Os meninos poderão ir conosco?

Rudolf inclinou a cabeça, concordando.

Quando mais tarde se recolhiam aos aposentos, Samantha não pôde evitar o

pensamento de que aquela seria a última noite em que ela e Rudolf subiriam aquela escada

juntos. A última em que os dois ouviriam as preces dos meninos, e em que eles dormiriam

na mesma cama.

Rudolf quase não conversara desde a chegada do sr. Stockwell, e Samantha já sentia

sua falta. Aquele era o primeiro dia da realidade cruel e sombria. As lágrimas não

mudariam nada, apenas preocupariam o príncipe e os garotos.

– Obrigado, Senhor, por Sua Alteza e por lady Samantha

Drake agradecia, ajoelhado ao lado da cama.

– Obrigado, Senhor, por nos mandar o sr. Stockwell. Agora, vamos fazer uma

viagem a Londres!

– E se não gostarmos de lá, Grant?

– Não se preocupe com isso agora.

– Eu estarei feliz onde lady Samantha estiver. – Drake sorriu para ela.

– Pelo amor de Deus, irmão, você quer fazê-la chorar?

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Após beijarem os garotos, Rudolf e Samantha retiraram-se em silêncio. No

dormitório deles, ela trocou o vestido pela camisola, ficou de joelhos e cobriu o rosto com

as mãos.

Rudolf sentou-se no colchão.

– Você também está agradecendo pela vinda do sr. Stockwell? Ainda com o rosto

coberto, ela negou com um gesto.

– Estou pedindo a Deus que... – E caiu em prantos, seu corpo sacudido pelos

soluços.

Chorava por uma vida inteira de sofrimento e insegurança, por

seu futuro vazio e solitário, pelo amor perdido tão cedo.

– Por que chora, meu bem? – Rudolf a abraçou.

Samantha encostou a cabeça no ombro dele. Não tinha coragem de encará-lo.

– Não quero voltar à capital.

– Você sabia que, mais dia menos dia, isso teria de acontecer.

– Fingir que esse momento nunca chegaria foi tão fácil, Alteza! Estou muito feliz na

Escócia.

– Olhe para mim, princesa. – Ele segurou-lhe o queixo e esperou até ser obedecido.

– Felicidade é um caminho, não um local. Se você é feliz aqui, será feliz lá também.

– Não acho.

Rudolf beijou-a e deitou-a na cama. O beijo foi longo e arrebatador. Samantha

depositou todo seu amor, toda sua necessidade e urgência naquela carícia.

O príncipe correspondeu, misturando suas próprias emoções não reveladas.

Fizeram amor com ternura e desespero. Rudolf reverenciou as formas dela com as

mãos e os lábios. Seus carinhos eram suaves, mas muito excitantes. Ele a fez esquecer que,

como Adão e Eva, estavam prestes a perder o paraíso.

Enfim, adormeceram abraçados, aconchegados um nos braços do outro.

A carruagem entrou em Londres no primeiro dia de primavera. A viagem de volta

para casa pareceu mais rápida do que a fuga

para a Escócia.

– Nossa, quanta gente! – Grant espiava pela janela.

– Eu não sabia que havia tantas pessoas no mundo – Drake declarou, espantado.

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Samantha e Rudolf entreolharam-se e sorriram. Ele levou a mão dela aos lábios.

– Está com medo, daragaia?

– Estou preocupadíssima.

– Ficarei a seu lado – ele prometeu, beijando-lhe a mão outravez.

Samantha respirou fundo quando o veículo parou diante da mansão do duque de

Inverary.

– Chegamos, meninos.

Sem esperar por Karl, Rudolf desceu e estendeu a mão para Samantha e as crianças.

Giles saltou por último e seguiu-os em direção a casa.

O hall estava repleto. Não só Tinker, o mordomo do duque, que abrira-lhes a porta,

mas toda a família os aguardava.

Magnus Campbell, duque de Inverary, e tia Roxie estavam em pé, juntos. Angélica

e Victória, sentadas, e Robert Campbell, encostado na parede, como que esperando pelo

início do espetáculo.

– Minha querida! – Roxie abraçou-a. – Temi tanto por sua segurança!

– Sinto muito por ter causado tanta preocupação, titia. Roxie olhou para os meninos

e o cachorro.

– Quem são eles?

– Meus filhos, Grant e Drake. – Samantha fingiu não ouvir a risada do marquês e do

príncipe. – Este é nosso cachorro, Giles. Roxie não escondeu a surpresa.

– Como disse?

– Eu disse, este cachorro é...

– Isso eu ouvi. O que você falou antes?

Samantha segurou a mão dos meninos, puxou pela respiração e repetiu num tom que

não permitia contestações:

– Grant e Drake são meus futuros filhos adotivos. – Olhando para o duque,

acrescentou: – Espero que Vossa Graça concorde em ajudar-me com o aspecto legal da

adoção.

Antes que o duque tivesse tempo de responder, Roxie recobrou se do choque.

– Bem-vindos a Londres, meus queridos. Sou tia Roxie. E estas são suas tias

Angélica e Victória, que irão acompanhá-los até seus aposentos.

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Entendendo a mensagem, as duas levantaram-se e sorriram para os meninos.

Angélica, grávida de oito meses, estendeu a mão para Grant.

– Nós temos o quarto perfeito para vocês e o cão.

Percebendo o olhar fascinado de Grant para sua barriga, Angélica explicou:

– Logo eu vou ter meu bebê.

– Pensei que os bebês vinham de Edinburgh! – Grant respondeu, confuso.

Angélica riu.

– Quando você for um pouco mais velho, eu contarei de onde realmente eles vêm.

Grant não estranhou as pessoas, mas Drake não desgrudou de Samantha. Diante da chance

de fugir, ela fez menção de seguir as irmãs.

– Ele está assustado. Vou acomodá-los no dormitório.

– Nem pense em subir aquela escada – tia Roxie avisou-a.

– Sua Graça tem assuntos para discutir com você e Sua Alteza. Samantha afagou os

cabelos de Drake.

– Você vai com Tory, não vai? Prometo que estará em segurança. Tory adora

brincadeiras, como você.

Drake sorriu, tímido, para Victória, e acompanhou-a sem protestar. .

– É melhor acabarmos logo com isso – Rudolf declarou, assim que os meninos se

afastaram.

– Você está certo – o duque assentiu.

Antecipando os acontecimentos, Samantha sentiu-se desfalecer. Admitia que não

poderia culpar ninguém por aquela situação, só a si mesma. Se não tivesse entregado sua

virgindade ao príncipe, poderia assumir uma postura de ofendida e jurar que nada

acontecera. Entretanto, nunca soubera mentir direito.

– Você está pálida, querida. – Rudolf segurou-a pelo braço.

– Não prefere deitar-se em vez de nos acompanhar?

O príncipe estava lhe oferecendo a oportunidade de escapar.

Samantha forçou um sorriso.

– Estou bem.

– Você esteve doente? – tia Roxie indagou, preocupada.

– Samantha tem se sentido meio enjoada – Rudolf antecipou-se.

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– Como você sabe?

– Reparo muito em você, daragaia.

Magnus pigarreou e fez um gesto em direção à escada.

– Conversaremos em meu escritório.

Todos se acomodaram ao redor da escrivaninha do duque. Sentada ao lado de

Samantha, Roxie afagou-lhe a mão.

– Dará tudo certo, querida Samantha.

– Alteza, importa-se de dar uma explicação sobre os últimos

três meses?

– Não, Vossa Graça, não me importo. – Rudolf inclinou a cabeça. – Samantha e eu

fomos seqüestrados pelos homens de Vladimir, que nos trouxeram para Londres.

Conseguimos fugir do cativeiro e fomos para Sweetheart Manor, onde pretendíamos

continuar escondidos até a primavera, quando meus outros irmãos chegariam à Inglaterra.

– Que experiência assustadora! – Roxie levou os dedos aos lábios.

– Conseguimos manter o desaparecimento de vocês em segredo – o duque revelou.

– Dissemos que Samantha estava visitando amigos na Escócia, e que Vossa Alteza viajara

ao continente a negócios.

– Agradeço muito.

Samantha olhou para o príncipe. Ele parecia mais descontraído.

A situação não era tão ruim quanto imaginara.

A partir daquele momento, ela e o príncipe seguiriam caminhos separados. Seu

coração se apertou, o estômago revirou e a cabeça girou. Teve de lutar contra a náusea.

– Nesse caso, então...

O duque de Inverary não o deixou terminar a frase:

– Alteza, tomei a liberdade de anunciar seu noivado com Samantha no Times.

– O quê?! – Samantha ficou perplexa.

– Minha querida, será o casamento do ano, senão da década!– Roxie alvoroçava-se.

Samantha não acreditava no que acabara de ouvir, e de repente,

a voz de Rudolf arrancou-a do torpor:

– Não posso me casar com Samantha!

– Não pode ou não quer? – Magnus Campbell arqueou uma sobrancelha.

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– Que diferença faz? Não haverá casamento.

– Está rejeitando Samantha por causa do defeito na perna? Robert interveio.

– Como se atreve a dar voz a tal sugestão?! – Rudolf rebateu.

Samantha inclinou a cabeça, abatida e humilhada. Sentia-se dispensada como se

fosse uma roupa velha.

A sala começou a girar, deixando-a ainda mais enjoada. Ouviu a pressão do sangue

pulsando nos ouvidos. Depois de uma vida inteira de rejeição, não suportaria mais uma.

Tinha de sair dali.

– Vou para meu quarto. – Ela se levantou, sentindo as pernas fracas.

Com toda a dignidade que conseguiu reunir, caminhou em direção à porta. Uma

mão tocou-lhe o braço, tentando impedi-la de sair, e então, ouviu o príncipe dizer:

– Meu amor...

– Não me chame assim!

– Não entende, Samantha? Minha recusa não tem nada a ver com você.

Samantha olhou para a mão dele em seu braço, e encarou-o com olhar frio.

– Entendo muito bem. Solte-me.

Rudolf não soltou.

– Por favor, deixe-me ir.

O príncipe desistiu, e ela se foi.

“Não consigo fazer ninguém feliz.” Rudolf ficou olhando para a porta fechada.

Nunca fizera Olga feliz, e agora causara sofrimento a Samantha.

O príncipe correu até a porta, mas a duquesa bloqueou-lhe o caminho.

– Aonde pensa que vai, Alteza?

– Samantha entendeu tudo errado. Preciso explicar e fazê-la compreender.

– Vou ver se minha sobrinha precisa de mim. Explique-se com Sua Graça. E não

saia daqui até eu voltar. – Roxie se virou para o marquês.

– Se necessário, eu o amarrarei na cadeira – garantiu Robert Campbell.

Satisfeita, Roxie deixou o recinto.

– Sente-se, Alteza, e explique-se – o duque pediu-lhe.

O duque de Inverary parecia muito mais relaxado do que antes. Ao contrário de

Rudolf, que sentia o estresse crescendo sem cessar em seu íntimo. Os aristocratas ingleses

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jamais aceitariam seus motivos. Ele estava acuado, e cairia mais uma vez no jugo do

casamento. Como pudera cair na própria armadilha?

Tentando mostrar-se calmo, sentou-se e esticou as pernas. Olhou

fixo para o duque.

– Casando-me com Samantha, estarei expondo sua vida ao perigo. Vladimir quer

matar-me, e não hesitará em usá-la contra mim.

– Então, na realidade, não está se opondo ao matrimônio?

– Generalizando, eu sou contra, sim. Nada de bom vem do casamento. Fora isso,

não tenho nada contra Samantha.

– Fico feliz por ser assim, Alteza. – Magnus reclinou-se. Minha mulher marcou a

data para 23 de abril. Os convites foram enviados a seiscentos de nossos amigos mais

próximos.

“Céus...” Sua recusa em casar-se com Samantha não só a magoara, como também a

humilharia diante de seiscentos aristocratas.

– E se eu me recusar? – Rudolf ergueu uma sobrancelha, num gesto idêntico ao do

duque.

– Já mencionei que sua mãe e sua filha estão hospedadas em minha propriedade

rural? – O duque contemplou-o com um meio sorriso nos lábios.

– Seu bastardo inescrupuloso!

Como aquele homem se atrevera a envolver sua família naquele disparate?!

O marquês reagiu ao insulto a seu pai:

– Olhe aqui...

O duque silenciou o filho com um aceno.

– Eu asseguro, Alteza, que meus pais eram casados. Rudolf abominava ser forçado a

tomar atitudes, sobretudo poraquele homem.

– Você pode ser legítimo, mas não teve escrúpulos em deixar sua marca aqui e ali.

O marquês investiu sobre o príncipe.

– Sente-se, Robert – o duque ordenou ao filho. – Mas ele...

– Eu disse sente-se.

– Você está me chantageando, duque?

– Considere como um incentivo. Não me importo se você se

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casar com a sobrinha de minha esposa num mês e pedir o divórcio no outro. Só não

permitirei que comprometa sua honra recusando-se a agir como um cavalheiro honrado.

– Eu acho muito engraçado ouvir a palavra “honra” saindo de sua boca.

Robert cerrou os punhos. Com um olhar, Magnus recomendou lhe calma.

– Quero que minha mãe volte a Sark Island, acompanhada de Bóris e Elke – Rudolf

insistiu. – Ela fica perturbada com gente estranha por perto. Quero que tragam minha filha

para esta casa, e que ela fique aqui até eu resolver meus problemas com Vladimir.

– Posso fazer isso. Você acha que demora para tudo ser resolvido?

– Meus outros irmãos logo chegarão à Inglaterra e vão negociar com Vladimir.

– Ele instalou-se em Montague House, Alteza. Aconselho-o a deixá-lo lá até tudo se

resolver. Eu o manterei sob vigilância. Por que você não fica aqui? Assim, estará perto de

sua filha e de Samantha. Concorda com o casamento?

Rudolf inclinou a cabeça, assentindo. Depois, olhou fundo nos olhos do duque.

– Você viverá para arrepender-se. Não sabe quem sou realmente.

– Como assim?

– Eu não sou príncipe.

– É impostor?

– Não. Sou o príncipe Rudolf Kazanov. Entretanto, não sou filho de meu pai, mas

sim de um bastardo. Piotr Kazanov é orgulhoso demais para repudiar seu primogênito e

admitir que sua noiva inglesa não era mais pura. Minha mãe pagou caro por ter me dado à

luz.

O duque remexeu-se no assento.

– Como assim?

– Se você a viu, deve ter percebido que ela tem lapsos de memória, momentos de

ausência.

– Sim, eu notei. Ela nem ao menos me reconheceu.

– Você conhecia a mãe dele? – Robert fitou o pai cheio de curiosidade.

O duque e o príncipe ignoraram-no. Os olhos pretos de ambos enfrentavam-se numa

batalha silenciosa.

Quando Rudolf falou, já não disfarçava a hostilidade:

– Minha mãe me carregava na barriga quando se casou com

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Piotr Kazanov. Depois, ela teve mais quatro filhos, e quando seu período de

fertilidade acabou, Piotr a internou num manicômio. Minha mãe passou quinze anos

internada antes que eu pudesse libertá-la e trazê-la para a Inglaterra.

O duque de Inverary tornou-se muitíssimo aflito com o rumo da conversa.

– Que monstro! – Robert exclamou.

Rudolf não o ouviu. Sua atenção estava toda concentrada no duque. Num tom de

fria acusação, completou:

– Ela sofreu as penas do inferno por sua causa.

– Você sabe?

Rudolf fez que sim.

– Minha mãe tem momentos de lucidez, já disse.

– O que o príncipe sabe, papai?

O duque Magnus ficou em silêncio por longos e desconfortáveis momentos.

Respirando fundo, confessou:

– Sua Alteza sabe que eu sou seu pai natural.

Robert arregalou os olhos.

– Seu pai está admitindo que sou seu meio-irmão, embora do lado errado do lençol

– Rudolf ironizou, sem deixar de encarar o duque.

– Sou um velho que não liga a mínima para sua reputação e que reconhecerá a

paternidade, se você quiser.

– Não preciso do seu reconhecimento, Inverary.

Aquilo pareceu magoar o duque, e Rudolf sentiu uma ponta de remorso. Tratou de

sufocá-la, porém. Por que se importaria com os sentimentos dele? Magnus nunca se

importara com ele ou com sua mãe.

– Piotr Kazanov o reconhece como seu primogênito. Para o mundo, você continuará

sendo o príncipe herdeiro.

– Não quero que Samantha ou quem quer que seja saiba de nosso parentesco, nem

de minha origem.

– Robert e eu guardaremos seu segredo. Posso chamá-lo de Rudolf?

– Não. Vossa Graça continuará me tratando por “Sua Alteza”. Magnus Campbell

assentiu..

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– Espero que um dia você possa me perdoar pelo mal que causei a sua mãe e a você.

Rudolf perscrutou o semblante do duque. Magnus Campbell parecia sincero, mas

ele não poderia apagar o sofrimento de vinte e oito anos.

– Quem sabe o que trará o porvir? – Rudolf disse, por fim. – Passei minha vida

inteira esperando este momento, planejando sua desmoralização das maneiras mais terríveis

imagináveis. E agora que a hora chegou, estou sufocado por outros problemas mais

importantes.

Rudolf sorriu, mas o sorriso não se refletiu nos olhos tão parecidos com os do

duque.

– No fundo, acho que tenho de agradecer a Vossa Graça. O pensamento de derrubá-

lo só me deixava mais forte quando Piotr me batia.

– Eu sinto muito mesmo... – A voz do duque soou enrouquecida pela emoção.

Rudolf sentiu-se inesperadamente tocado pela reação de Magnus. No entanto, tratou

de endurecer o coração. Aprendera a duras penas a desconfiar das pessoas.

– Entendo sua amargura, Alteza.

– Não me bajulem. – Rudolf ficou de pé. – Vocês nunca entenderão o que significa

para um homem ser bastardo e a causa do desespero da própria mãe.

Robert inclinou a cabeça. Depois, indagou:

– Por que Vladimir quer matá-lo?

– Ele sabe que é o legítimo herdeiro.

– Se você deixar a Rússia de uma vez por todas e renunciar a seus direitos, ele

herdará tudo.

– Vladimir roubou-me coisas muito valiosas, Robert. Em contrapartida, eu trouxe da

Rússia muitos objetos menos valiosos, e que não têm muito significado para o herdeiro.

Considero isso como uma reparação para os danos causados a minha mãe.

O duque sorriu.

– Creio que você herdou alguns dos melhores traços de meu caráter.

Rudolf não devia e não podia sensibilizar-se com o que ouvia do duque. Assim,

olhou em direção à porta, perguntando:

– Por que Sua Graça, a duquesa, está demorando tanto?

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Roxie entrou no quarto e encontrou Samantha debruçada sobre a bacia de ágata.

– Meus temores estão confirmados – a duquesa murmurou. Samantha se virou. Suor

e lágrimas misturavam-se em seu rosto.

Confortada pelos braços da tia, Samantha entregou-se ao desespero. Soluçava sem

parar, provocando ainda mais o vômito. Roxie ajudou-a a levantar-se e a conduziu até a

cama.

– Coma isto. – A duquesa ofereceu-lhe um pedaço de pão.

– Não consigo comer.

– Obedeça-me sem discutir.

Samantha fez o que ela mandou. Fechou os olhos e respirou fundo.

– Estou tão cansada... – Deu outra mordida no pão.

– Não vá dormir, querida. Você precisa voltar ao escritório.

– Não, eu não descerei.

Roxie sentou-se na beira do colchão.

– Samantha, os preparativos do casamento não podem esperar.

– Não há necessidade de casamento.

A duquesa caiu na gargalhada como se tivesse acabado de ouvir uma piada muito

engraçada.

– Quer dizer, então, que não houve intimidade física entre você e o príncipe?

– Isso mesmo. – Samantha empinou o queixo, apesar do rubor que lhe cobria as

faces.

– Não minta para mim.

Samantha desviou o olhar.

– Sim, o príncipe e eu... – Não conseguiu terminar a frase.

– Está se sentindo mal, querida? Enjoada? Náuseas? Tontura, talvez?

Olhando desconfiada para a tia, Samantha fez que sim. Aonde a tia queria chegar?

Sua saúde não tinha nada a ver com seu enlace com Rudolf. De repente, encárou Roxie

horrorizada.

– Quando você teve as últimas regras, meu bem?

Samantha cerrou as pálpebras, recusando-se a enfrentar a realidade. Ela não se

lembrava da última vez. Decerto, antes de ir para a Escócia.

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– Foi o que imaginei. – A duquesa esboçava um largo sorriso.,

– Tontura e enjôo sem menstruação significa que você está carregando um fllho do

príncipe.

– Rudolf não me ama. Não posso me casar se ele não me ama! – Mas estava pronta

para casar-se com Alexander Emerson.

Samantha não conteve um soluço.

– Eu amo Rudolf e não suportaria o ódio dele.

– Por que Rudolf a odiaria? As atitudes do príncipe dizem o contrário.

– Não entende, titia? – De novo, as lágrimas escorriam-lhe pelas faces. – Rudolf

acabará me odiando porque vocês... minha gravidez... forçaram-no a um matrimônio

indesejado.

– Todos os homens consideram os casamentos indesejados. – Roxie afagou as mãos

da sobrinha. – Querida, os lábios do príncipe dizem “não”, mas o olhar dele grita que te

ama.

– Como assim, titia?

– Se você quer conhecer a mente de um homem, observe o que ele faz, não o que

ele diz. – Ao vê-la baixar o olhar para as mãos cruzadas no colo, Roxie acrescentou: – Isso

exige que erga com orgulho a cabeça, meu bem. Você tem de olhar as pessoas nos olhos,

em vez de ficar mirando o tapete só porque resolveu acreditar que é inferior.

Samantha encarou a tia. Sim, ela se considerava inferior às outras mulheres. Tia

Roxie teria esquecido sua perna defeituosa?

– Assim é melhor. – A duquesa segurou o rosto da sobrinha entre as mãos. – Vamos

voltar ao escritório. O príncipe precisa saber sobre sua iminente paternidade.

– Não posso, tia Roxie. A situação é humilhante demais.

A duquesa ficou de pé e estendeu o braço.

– Querida, seu casamento está marcado para daqui a um mês.

Os convites já foram distribuídos. Precisamos acertar todos os pormenores antes que

a sociedade saiba que vocês retomaram à capital. – Roxie fitou-a, muito séria. – Venha por

vontade própria ao escritório, ou eu a arrastarei até lá.

– Por favor, titia, dê-me alguns minutos para eu me arrumar. Você poderia... isto é,

você...

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– Eu falarei com o príncipe sobre seu estado – Roxie a tranqüilizou. – Não será

submetida a nenhuma reação inicial, querida.

–Eu te amo, titia.

– E eu amo você, querida.

Samantha forçou um sorriso.

– Estou me sentindo bem melhor depois que comi o pão. Mas por que você tinha um

pedaço de pão no bolso?

– Tive a sensação de que isso ia acontecer. – Sorrindo com malícia, a duquesa saiu

do quarto.

Seu sonho estava se tomando realidade, Samantha concluiu, mas não da maneira

como sonhara. O príncipe poderia até desprezá-la por envolvê-lo num matrimônio forçado.

Lavou o rosto e penteou os cabelos. Atravessou o aposento, mas parou à soleira.

Sentiu o eoração na garganta. Como suportaria quando Rudolf começasse a ter

casos extraconjugais?.

No escritório, Rudolf se mostrava impaciente. – Por que a duquesa está demorando

tanto?

Como que respondendo à pergunta do príncipe, Roxie abriu a porta e entrou no

recinto.

Os cavalheiros se levantaram, mas a um gesto dela sentaram-sede novo.

– Magnus, espero que Sua Alteza tenha reconsiderado sua posição e esteja

preparado para agir de maneira honrada.

O duque de Inverary fez um gesto afirmativo. Roxie voltou-se para o príncipe:

– Parabéns, Alteza.

Rudolf lançou-lhe um olhar enviesado. Intrigado, assistiu à duquesa tocar quase

todos os dedos, como se estivesse contando. Roxie contemplou-o com um sorriso radiante.

– Em novembro, minha sobrinha o fará pai outra vez. Rudolf pulou da cadeira.

– Impossível!

– Você manteve relações sexuais com minha sobrionha?

O príncipe teve o pudor de enrubescer.

– Mantive sim.

– Minha sobrinha era virgem na primeira vez em que se relacionou com você?

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Rudolf sentia os maxilares se contraindo.

– Sim, era.

– Minha sobrinha envolveu-se fisicamente com outro homem nesse período?

– Claro que não!

– Sendo assim, sem a menor sombra de dúvida, você é o pai da criança que ela está

esperando – a duquesa declarou, sem parar de sorrir.

– Samantha deverià ter me contado.

Roxie gargalhou.

– Ela não sabia.

O duque e o marquês riram também. Rudolf lançou-lhes um olhar de reprovação.

– Como Samantha não sabia?

– Fico constrangida por falar de forma tão íntima com você – Roxie afirmou sem o

menor constrangimento. – Apesar de tudo o que houve, Samantha é muito inocente. Ela

admitiu a falta da menstruação, e eu a surpreendi passando mal.

– Ela está doente? Preciso vê-la!

Magnus e Robert riram da reação dele. A duquesa impediu-o de sair.

– Sente-se, Alteza – ordenou. – Seu pânico é entediante.

– Mas Samantha...

– Calma. Minha sobrinha já está descendo.

Parada do lado de fora, Samantha transpirava. Nunca se sentira tão miserável em

toda sua vida. O príncipe repetira tantas vezes que não poderia oferecer-lhe casamento, e

agora seus familiares o forçavam a casar-se. Rudolf jamais a perdoaria. Diante do

inevitável, entretanto, endireitou os ombros e empinou o queixo. Bateu de leve na porta e

entrou.

Rudolf aproximou-se e conduziu-a até a cadeira.

– Como está se sentindo?

Ruborizada, ela baixou a cabeça.

– Bem. – Recusava-se a enfrentar o olhar dele.

Rudolf comportava-se com magnânima gentileza.

– Samantha querida – o duque Magnus começou a falar.

Ouça o que planejamos para...

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– Eu gostaria de dizer alguma coisa antes de Vossa Graça continuar.

Ouvindo o tremor de sua voz, Samantha recriminou-se em pensamento. Gostaria de

ser mais firme e convincente.

– Estamos esperando. – Rudolf franziu o cenho.

Ela olhou para o príncipe. Sua proximidade era intimidante.

Voltou-se para o duque, seu guardião legal.

– Recuso-me a me casar com Sua Alteza. – As palavras saíram de um só fôlego.

Todos ficaram estupefatos. Menos o príncipe.

– Assim como eu, você não tem escolha, Samantha. Devia ter pensado antes. Agora

é tarde. . Ela sentiu o rosto queimando de tanta aviltação. Como o príncipe se atrevia a

insultá-la? O orgulho dos Douglas cresceu dentro dela. Impulsionada pela altivez e pela

raiva, ergueu-se e encarou Rudolf.

– Se Vossa Alteza bem lembra, eu exigi quartos separados.

– Você deveria ter insistido. Sabia que eu não pretendia voltar a me casar.

– Eu insisti! Você recusou-se a me dar ouvidos. Até me apresentava como sua

esposa...

– Samantha querida... – Roxie começou.

– Quieta! – Samantha gritou, surpreendendo a todos, e sobretudo a ela mesma.

Nunca falara com tanta rudeza com ninguém.

O duque também tentou acalmá-la:

– Samantha...

– Fique quieto também!

Samantha fitou o cunhado. O marquês ergueu as mãos num gesto de quem não

pretendia entrar na discussão.

Voltou-se para o príncipe e viu seu sorriso. Do que ele ria, afinal?

– Vossa Alteza não precisa se casar comigo.

– Não seja ridícula. – O sorriso dele desapareceu. – Você não tem nada, e não pode

viver para sempre da generosidade alheia.

– Não sou ridícula! – As lágrimas queimavam-lhe os olhos.

Respirou fundo para não chorar. Mais calma, prosseguiu: – Vou

morar no chalé com Drake e Grant.

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– Sente-se – Rudolf ordenou.

Acostumada a obedecer sempre, Samantha sentou-se.

– Sempre fui muito cuidadoso para não deixar fllhos espalha dos por aí. Nenhum

filho meu crescerá bastardo. Entendeu?

As palavras do príncipe humilharam-na ainda mais. Mas seu orgulho impedia-a de

sucumbir ao medo.

– Que diferença faz se ele crescer bastardo ou não, Alteza? Eu o amarei do mesmo

jeito.

Sem a menor delicadeza, Rudolf segurou-lhe o queixo, forçando-a a encará-lo.

– Não tem idéia do que é ser bastardo! Você não tem o direito de condenar uma

pobre criança a uma vida de angústia inimaginável!

Samantha começou a soluçar.

– Eu... não quero obrigá-lo a... casar-se comigo...

– Ninguém me obriga a nada! Quero dar meu nome a meu filho.

– Mas você não me ama!

– O amor não tem nada a ver com casamento. Você entenderá isso, com o passar do

tempo.

Então, Rudolf ajoelhou-se e pegou a mão dela.

– Eu não poderei viver em paz com minha consciência se meu filho nascer bastardo.

Por favor, princesa, case-se comigo.

Samantha impressionou-se com o apelo, com a aflição dele.

– Aceito...

– Muito bem, Alteza! – tia Roxie exclamou. – Minha sobrinha me deu um susto e

tanto!

Rudolf sentou-se ao lado de Samantha, e olhou para o duque,que sorria largo para

ele.

– Estou à disposição de Vossa Graça para discutir os detalhes.

O duque se dirigiu a Samantha:

– O príncipe ficará hospedado aqui porque seu irmão instalou-se em Montague

House.

– Zara virá para cá e ficará sob vigilância – Rudolf informou.

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– Espero que você se aproxime dela.

Samantha lembrou-se da menina loira que vira de relance na casa do príncipe. Grant

e Drake adorariam a pequena Zara.

– Eu cuidarei dela – prometeu, satisfeita com a tarefa. – Sei que você sente falta de

Zara, mas não seria mais seguro se a pequena permanecesse em Sark Island?

– Na verdade, a menina não... – o duque começou a explicar, mas a um gesto de

Rudolf, ele se calou.

– Quero deixar bem claro que não tolerarei que minha esposa questione meus

julgamentos. Se eu decidi que Zara deve ficar aqui é porque considero que ela estará mais

segura.

– Só perguntei, Alteza.

– Perguntar é questionar.

Samantha não compreendia por que se apaixonara por ele. O príncipe encantado de

seus sonhos evaporara no ar. No lugar dele, encontrava um déspota absoluto.

Ela deu de ombros.

– Faça como quiser, Alteza.

– É o que farei. De preferência, sem ser questionado.

Samantha não respondeu. Seu rosto ardia pelo embaraço por ser repreendida em

público. Duvidava que fosse capaz de sobreviver muito tempo com aquele estranho. Ficar

solteirona e tomar-se uma pária da sociedade parecia mais interessante do que ser esposa do

príncipe.

O duque tossiu de leve.

– O matrimônio está marcado para 23 de abril. Como é dia de São Jorge, garanto

que seu marido nunca esquecerá o aniversário de casamento.

– Estou começando a pensar que eu adoraria esquecer essa data – Samantha

resmungou.

– Cuidado com a língua, princesa. – Rudolf arqueou umasobrancelha.

– Você usará o vestido de noiva de sua mãe – tia Roxie afirmou, com uma alegria

forçada. – Não é excitante?

Samantha fitou o príncipe, indagando:

– Estou excitada ou não?

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Ela ouviu o riso abafado de Robert e viu os músculos do rosto do príncipe saltarem.

– Creio que mil libras por mês para os gastos pessoais de Samantha seja uma

quantia razoável, Alteza.

– Eu não preciso de dinheiro, milorde! – Samantha protestou.

– Isso quem decide sou eu – Rudolf sentenciou.

– Esta noite, o contrato matrimonial ficará pronto para ser assinado – o duque

informou.

– Assim que Karl terminar de descarregar a carruagem, eu sairei para comprar o

anel de noivado.

De repente, um anel parecia ter um peso insuportável para Samantha.

– Não quero anel de noivado.

– Isso quem decide sou eu – o príncipe repetiu.

O duque Magnus levantou-se, indicando que a reunião terminara. Estendeu a mão

para o príncipe, que hesitou por uma fração de segundo antes de apertá-la.

Todos saíram do escritório. Samantha pretendia beber uma xícara de chá dar uma

olhada nos meninos e depois fechar-se no quarto pelo resto do dia.

No momento em que pisavam no hall, Alexander Emerson entrava na mansão. Ao

vê-los, Alexander aproximou-se com passos rápidos e, sem nenhuma palavra, acertou um

soco no príncipe.

Desprevenido, Rudolf cambaleou para trás, mas foi amparado pelo marquês.

Samantha gritou.

– Seu bastardo forasteiro! – Alexander espumava de raiva.

Rudolf soltou-se de Robert com os punhos cerrados e erguidos, investiu sobre

Alexander. Samantha correu e colocou-se entre os dois. O movimento dela foi tão rápido

que Rudolf acabou por atingi-la.

– Oh, meu Deus! – Roxie berrou.

Samantha desabou no chão. Estava consciente, mas com muita dor no rosto.

– Desculpe, desculpe! – Rudolf ajoelhou-se a seu lado. Eu não tinha intenção.

Jamais a machucaria de propósito. – E olhando para o espantado mordomo ordenou: – Vá

buscar uma toalha molhada em água fria.

– Eu estou bem – Samantha assegurou-lhe. – Você não teve culpa. Eu me pus a sua

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frente.

O príncipe pousou a mão na barriga dela.

– Tem certeza de que está tudo em ordem?

– Sim.

Tinker retomou com a toalha. Rudolf colocou-a na face de Samantha.

– Pode se levantar?

Ela confirmou, e ele auxiliou-a a ficar de pé, sempre com o braço em sua cintura.

– Talvez seja melhor Alexander voltar mais tarde – o duquesugeriu.

– Este assunto precisa ser resolvido agora – tia Roxie discordou do marido. –

Samantha não está machucada. – Voltou-se para o príncipe. – Alteza, veja se seu criado

está descarregando a carruagem.

E para Samantha:

– Leve Alex até a sala de visitas e explique a situação.

A última coisa que Samantha queria era dizer a Alexander Emerson que não se

casaria com ele. Tremia só de pensar em revelar que já estava esperando o filho do

príncipe. Alexander não a amava, mas ainda assim ficaria magoado. Toda sua coragem e

força interior tinham se esvaído na discussão com Rudolf.

– Meu rosto está doendo e estou muito cansada, tia Roxie.

A duquesa estreitou os olhos.

– Você se sentirá pior se não fizer o que estou dizendo, querida.

– Minha futura esposa não conversará com o ex-noivo, a menos que eu esteja

presente. – Rudolf a enlaçou com mais força.

Roxie inclinou a cabeça.

– Como quiser, Alteza.

Desvencilhando-se do príncipe, Samantha foi para a sala de visitas, acompanhada

por Rudolf, Alexander e do cunhado.

– Você vem também, Robert?

– Não vai querer ficár sozinha com esses dois, Samantha.

O marquês fechou a porta, e todos se sentaram.

Samantha não sabia por onde começar. Nunca imaginara que teria um marido, e

agora tinha dois homens brigando por ela. E não estava gostando nada..

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– Alexander está esperando – Robert lembrou-a.

Samantha respirou fundo e encarou o ex-noivo.

– Lamento por essa estranha mudança de acontecimentos, Alex. Sua Alteza não me

seqüestrou. Estávamos conversando no gazebo e ouvimos um pedido de socorro vindo do

bosque. Saímos para averiguar, e alguns homens, empregados do irmão de Sua Alteza,

seqüestraram-nos e nos trouxeram a Londres. Mas conseguimos fugir.

Ela fez uma pausa. Olhou para as mãos cruzadas no colo, rememorando aquela

ocasião. Como sua vida mudara desde então!

– Rudolf achou que deveríamos nos esconder por algum tempo. O irmão dele estava

a caminho da Inglaterra para resolver um problema familiar.

Samantha remexeu-se no assento. Sentiu náuseas, mas disfarçou o mal-estar.

Respirando fundo, criou coragem para declarar:

– Eu... não posso mais me casar com você, Alex. Espero que possa perdoar-me um

dia.

Alexander lançou ao príncipe um olhar rápido e disse:

– Eu me casarei com você de qualquer maneira.

Samantha suspirou. Seria mais difícil do que supusera.

– Mas não me ama, Alex. .

– Gosto de você e a respeito muito. Sei que será uma excelente esposa e mãe.

Lutando contra as lágrimas, Samantha não conseguia conter o tremor dos lábios.

– Vou me casar com o príncipe.

– Não tem de se casar com ele! – Alexander argumentou.

– Ela tem, sim. – A reação de Rudolf foi imediata e ríspida.– Conte, Samantha.

Ela hesitou, ruborizada e constrangidíssima. Depois, cabisbaixa, admitiu:

– Estou esperando um filho do príncipe.

– Seu miserável! Você a coagiu a ir para a Escócia e aproveitou-se de sua inocência!

Eu deveria fazê-lo pagar por isso!

Antes que o príncipe aceitasse o desafio, Samantha caiu em prantos.

– Oh, não... não, por favor...

– Se precisar de mim, Samantha, não hesite em chamar-me. – Alexander se ergueu

e, voltando-se para o príncipe, avisou: Se você a magoar, eu o mato!

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Saíram da sala em silêncio. Roxie esperava-os do lado de fora.

Segurou o braço de Alexander.

– Espere um momento – pediu-lhe. – Quero falar com você.

Sem despedir-se de ninguém, Samantha afastou-se em direção à escada..

Rudolf tomou-lhe a mão.

– Aonde vai?

Samantha desvencilhou-se.

– Para o meu quarto descansar. Prometo que não sairei de casa. Se não confia em

mim, minha tia vigiará meus passos quando você não estiver por perto.

Rudolf franziu o cenho. Ele confiava nela. Como Samantha se atrevia a sugerir tal

coisa?

O marquês gargalhou.

– Ela está parecendo minha mulher, Rudolf. Nunca imaginei que a doce Samantha

fosse tão geniosa quanto a irmã. A maternidade a deixará mais calma.

Dando-lhes as costas, Samantha subiu os degraus. Nunca se sentira tão exausta. E,

para piorar, seu rosto estava doendo muito.

Samantha se mirava no espelho. Estava com o rosto inchado e o olho roxo.

Apesar da decepção com Rudolf, queria ficar atraente para ele, e escolheu o vestido

rosa de seda. O casamento seria uma farsa, mas até mesmo uma noiva indesejada merecia

lembranças agradáveis. Ela teria apenas um noivado e um matrimônio em sua existência.

Não queria olhar para trás com amargura.

Saiu do quarto e foi direto para os aposentos dos meninos. Não os encontrou lá.

Assim, desceu a escadaria e dirigiu-se à sala de estar, onde todos se reuniam antes do

jantar. Esperava que os dois se comportassem.

– Lady Samantha! – Drake e Grant viram-na ao mesmo tempo e correram a abraçá-

la.

– A duquesa levou Giles para comer na cozinha – Grant foi logo contando..

– Ela é muito mandona... – Drake resmungou.

Sorrindo, Samantha fez um trejeito ao sentir o rosto latejando.

– O que houve? Seu olho está roxo e você parece doente.

– Eu bati na quina da porta, Grant.

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– Você chorou?

– Não, Drake.

– Mas machucou.

– Sim.

Drake fez um gesto com a mão, pedindo-lhe para aproximar-se dele. Enlaçando-a

pelo pescoço, disse-lhe:

– Vou dar um beijo para parar de doer. – Depois de beijá-la, quis saber: – Sente-se

melhor?

– Muito melhor. Obrigada por me ajudar.

– Eu também quero beijá-la. – Grant imitou o irmão, dando-lhe um beijo.

– Estou me sentindo quase nova, meninos. Quando eu estiver indisposta, já sei a

quem chamar.

Grant e Drake sorriram, orgulhosos. O irmão menor pegou-lhe os dedos e puxou-a

para dentro da sala.

– O príncipe Rudolf também está indisposto, mas não acho que ele queira um beijo.

– Sua Alteza falou que não está bem, Drake?

– Não, mas ele está muito rabugento.

Ao vê-la, Rudolf foi ao seu encontro.

– Sinto muito, daragaia. – Ele tocou-lhe a face inchada. Você me perdoa?

Samantha fitou-o nos olhos. O que acontecera para Rudolf dispensar-lhe aquele

tratamento carinhoso? O humor do príncipe a confundia.

– Não o culpo, Alteza. Aprendi a nunca mais tentar apartar briga.

– Se você a beijar, ela se sentirá melhor – Drake sugeriu.

Embaraçada, Samantha baixou os cílios. Rudolf ergueu-lhe o queixo e beijou-a nos

lábios.

– No rosto, Alteza, não na boca – o garoto o corrigiu, fazendo todos rirem.

Rudolf beijou com delicadeza o rosto machucado.

Samantha estremeceu, e ele notou.

– Está com dores. Jamais me perdoarei.

Samantha ficou sem graça. Fitou ao redor. Roxie, o duque e Victória sorriam. Só

então notou que os três usavam trajes de gala.

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– Vocês vão sair?.

– Iremos à ópera – Roxie respondeu.

– E depois, ao baile de lady Mayhew. – Victória não cabia em si de euforia.

Samantha se dirigiu ao príncipe.

– Eu gostaria de ir à ópera também.

– Querida Samantha, sua aparência está alterada – tia Roxie ponderou. – Queremos

evitar. especulações.

– Como assim?

– Sua tia quer dizer que você não sairá de casa enquanto o hematoma não

desaparecer – Rudolf explicou-lhe.

Samantha irritou-se. Estava prisioneira na casa do duque?

– E se o hematoma não desaparecer até 23 de abril?

– Um véu o cobrirá de maneira encantadora – o príncipe ironizou.

– Angélica mandou a sra. Sweeting para cuidar das crianças – tia Roxie contou

durante o jantar. – Ela está desfazendo as malas.

– Já conheceram a sra. Sweeting, queridos? Ela foi minha babá quando eu era

criancinha.

– Nossa, faz tempo, hein! – Grant exclamou. E, fitando a duquesa, acrescentou: – A

senhora não acredita, mas nós não tínhamos boas maneiras à mesa antes.

-É mesmo?

– Lady Samantha nos ensinou. – Drake olhou para ela, cheio de carinho. – E

ensinou-nos a ler também.

– Sua Alteza nos fez aprender os números.

– Como vocês conheceram o príncipe e minha sobrinha? Roxie quis saber.

– Eles estavam seguindo um péssimo caminho. – Depois que o príncipe terminou de

revelar as circunstâncias do encontro deles com os irmãozinhos, Samantha aproveitou para

falar sobre Zara.

– A filha do príncipe Rudolf chegará dentro de alguns dias, meninos. Espero que

sejam gentis com a princesa Zara e que a incluam em suas brincadeiras..

– Eu vou brincar com ela, sim. – Drake mostrou-se entusias mado com a novidade.

– Gosto das meninas.

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– Também gosto, mas elas são bobas.

– Por que diz isso, Grant? – a duquesa estranhou.

– As meninas choram o tempo todo. Lady Samantha vive chorando, de alegria e de

tristeza.

De novo, Samantha corou. Arriscou um olhar ao príncipe e viu que sorria.

– Quer dizer que lady Samantha é boba? – Roxie o provocou.

–Sim.

– Mas nós a amamos mesmo assim – Drake emendou, sorrindo para Samantha.

– Eu não queria ser Sua Alteza – Grant confidenciou à duquesa, não tão baixo que

os outros não pudessem ouvir. – Ele tem sempre de fazê-la sorrir quando ela chora.

– E como o príncipe faz isso?

– Nós não sabemos, porque costuma levá-la para o quarto. Todos riram, menos

Samantha.

Enfim, o jantar terminou, e eles foram até o escritório do duque.

A sra. Sweeting levou os garotos para o dormitório. Com a desculpa de pegar sua

capa, Victória seguiu-os.

Todos se acomodaram, e o duque Magnus entregou um documento para Rudolf.

– Gostaria de ler antes, Alteza?

O príncipe leu rápido o documento e assinou-o. Como guardião legal de Samantha,

o duque taambém deu sua assinatura antes de mostrar a ela,

Umedecendo os lábios secos pelo nervosismo, Samantha começou a leitura.

– Assine, princesa. – O príncipe aproximou-se dela. – Independente do que estiver

escrito, você está grávida e não tem escolha.

Sem tomar conhecimento do que ouviu, Samantha pegou a pena da mão dele e

assinou. A partir daquele momento, estava realmente presa.

O príncipe e o duque apertaram-se as mãos. Ninguém preocupou-se em

cumprimentá-la.

– Alteza, importa-se de dizer boa noite aos meninos? – Ela se levantou.

Sem responder, Rudolff tirou uma caixa de veludo do bolso. Abriu-a, retirou o anel

de brilhante ali exposto e colocou-o no dedo anular da mão direita de Samantha.

– Os diamantes são gemas de valor inestimável. Como você, minha querida.

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Roxie suspirou. Samantha encarou o príncipe.

– Obrigada pelo anel e pelo pensamento..

Calados, Rudolf e Samantha subiram a escada até os aposentos dos garotos.

– Agradeçam a Deus pelas bênçãos de hoje, queridos.

Grant foi o primeiro:

– Obrigado, Deus, por Sua Alteza e lady Samantha. Ah! E obrigado também pela

sra. Sweeting. – Cutucou o irmão.

– Obrigado, Senhor, por mandar uma menina para brincar conosco.

Rudolf e Samantha se entreolharam, mas nenhum dos dois comentou nada. Depois

de beijarem as crianças, saíram dos aposentos.

– Qual é seu qüarto?.

Ela apontou para o final do corredor. Surpreendendo-a, Rudolf conduziu-a até lá.

– E o seu?

– É o pegado ao seu. Eu insisti. – Levou os dedos dela aos lábios e beijou-os. –

Sinto muito por tê-la atingido hoje cedo.

– Foi um acidente, Alteza. – Hesitou por um instante. Posso fazer-lhe uma

pergunta?

Rudolf inclinou a cabeça, assentindo.

– Não ficará irritado?

– Depende.

– Por que você mudou?

Intrigado, o príncipe fez uma expressão de quem não entendera nada.

– Você não é o mesmo homem que conheci na Escócia. Rudolf fitou-a com ironia.

– Quem sou eu?

– Eu não gostaria de dizer, Alteza.

Rudolf segurou-a pelo queixo, e quando os olhares se encontraram, disse:

– Sou como sempre fui.

– Seu comportamento está tão diferente. Seu humor...

– Bobagem! Afinal, nenhum homem obrigado a casar-se contra a vontade ficaria

mal-humorado, não é?

As palavras dele magoaram-na demais. Porém, disfarçou a decepção.

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– Por que está tentando manter-me prisioneira nesta mansão?

– Aprendi a guardar muito bem o que me pertence quando Vladimir está por perto.

Como minha futura esposa e mãe de meu filho, você me pertence.

– Eu pertenço a mim mesma. Não sou sua propriedade!

– De acordo com a lei, a esposa e os filhos são propriedades dos homens, que

podem fazer o que quiser com eles. Dentro dos limites, óbvio.

– Vossa Alteza não está na Rússia. Isto aqui é a Inglaterra.

– As leis às quais me refiro são inglesas.

Samantha ficou estarrecida. Não tinha a menor idéia de que sua própria pátria

considerava as mulheres como bens dos homens. Sua falta de conhecimento daquela lei em

particular era, de certa forma, compreensível. Desde que seu falecido pai perdera a fortuna

dos Douglas, vivera em rara liberdade.

Empinou o nariz e, com altivez, declarou:

– A lei é uma droga!

– Lei é lei. E violeta é violeta. – Assim dizendo, o príncipe deixou-a ali parada e

entrou em sua suíte.

Sentindo-se desprezada, Samantha trancou-se no quarto. As lágrimas escorriam à

vontade pelas faces. Enxugou-as com as costas da mão.

As emoções turbulentas e a gravidez tiveram o efeito de um sonífero. Assim que

encostou a cabeça no travesseiro, adormeceu.

Acordou apenas na manhã seguinte. Sentia-se melhor, mas ainda um pouco enjoada.

Encontrou um pedaço de pão sobre a mesa-de-cabeceira. Ao lado do prato havia um

bilhete: “Coma isto”. Sem assinatura.

Ela comeu o pão e recostou-se na guarda do leito. Quem teria se esgueirado ali

dentro enquanto dormia? Talvez Roxie.

Minutos depois, o mal-estar passou sem que ela tivesse a cós tumeira ânsia de

vômito. Comer pão deveria ser mesmo benéfico.

Após a higiene pessoal, colocou o vestido branco de musselina.

Fazia muito tempo que não se sentia tão bem pela manhã. E faminta!

A sala de jantar estava vazia. Seus familiares deveriam dormir ainda, depois do

baile. Esperava encontrar o príncipe e os meninos.

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– Onde estão todos? – perguntou ao mordomo.

– As crianças já tomaram o desjejum, milady. Sua Alteza ainda não desceu.

Samantha serviu-se de ovos mexidos com cogumelos, uma fatia de presunto e pão.

Sentou-se e abriu o Times enquanto se alimentava. A coluna social, publicada na terceira

página, comentava sobre o baile de lady Mayhew e chamou-lhe a atenção. Leu e releu a

nota. E quanto mais lia, mais escura ficava sua manhã.

Recentemente chegado do continente, o príncipe Rudolf Kazanov, como sempre, fez

sucesso com as mulheres mais lindas da Inglaterra. Todas, independente da idade,

gravitaram ao redor de Sua Alteza a noite inteira. Mas onde estará sua noiva de cabelos

castanhos? O príncipe teria reconsiderado a proposta de casamento? Afinal, é público e

notório que Sua Alteza sempre preferiu as loiras.

– Aquele canalha! – Samantha praguejou, os olhos cheios delágrimas.

Rudolf a acompanhara até o quarto, e depois trocara de roupa para ir ao baile de

lady Mayhew. Empurrando o prato, Samantha cobriu o rosto com as mãos e abafou os

soluços.

– Milady, a senhora não está bem? – Tinker aproximou-se dela.

Samantha apenas apontou o jornal. O mordomo debruçou-se na mesa e leu.

– Eu não acreditaria nisso, minha senhora. Se esses repórteres não escreverem

mexericos picantes, perdem o emprego.

Ela não respondeu. Quebrando todas as regras de etiqueta, Tinker sentou-se a seu

lado.

– Vou lhe contar uma história interessante que aconteceu durante sua ausência,–

milady. No caminho para a abertura do Parlamento, o regente e o primeiro-ministro iam na

mesma carruagem puxada por oito cavalos brancos...

Samantha descobriu o rosto e fitou o mordomo com os olhos marejados. À medida

que Tinker ia falando, seu interesse crescia, para alegria dele. E quando Tinker terminou a

narrativa, ela caiu na gargalhada.

Satisfeito, Tinker levantou-se.

– Vou servir-lhe uma xícara de chá, milady.

– Prefiro café.

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– Café está proibido para a senhora. Suas condições, miladysabe.

– A criadagem está a par de meu estado?

– Receio que sim. – Tinker serviu-lhe o chá. – Por favor, milady, coma mais um

pouco. – E se afastou, para postar-se junto ao bufê.

Puxando o prato, Samantha comeu os ovos mexidos e pão sem manteiga. O som de

passos no hall alertou-a.

Rudolf entrou no recinto.

– Bom dia, princesa.

Samantha ficou muda. Observou-o servir-se de comida e café.

Ele se voltou para olhá-la, e Samantha baixou os olhos para o jornal.

O príncipe se acomodou e repetiu:

– Eu lhe desejei um bom dia.

– Sinto muito, Alteza. Seus desejos chegaram tarde demais.

– Como assim?

– Leia isto. – Ela lhe entregou o periódico.

Depois de ler o artigo, Rudolf a encarou. Seu rosto era a máscara da indiferença..

– O artigo estragou seu dia?

Irritada com tanta falta de sensibilidade, Samantha rebateu: – Estragou, sim!

A expressão do príncipe mudou. Ele ficou sério, de cenho franzido, um brilho de

raiva nas pupilas.

– Fale com mais respeito comigo.

– Ou o quê?! – Samantha desafiou-o, alterada. – Vai me obrigar a voltar à Escócia?

Ou tirar minha virgindade? Dará vivas por ser obrigado a casar-se comigo? Samantha

tomou fôlego. E então, notou os maxilares dele se contraindo, e por um instante, temeu a

reação do príncipe.

– Não vou lhe responder.

Ela se levantou e, de cabeça erguida, deu alguns passos em direção à porta.

– Aonde vai?

– Para bem longe de você, Alteza.

– Não saia desta sala. Eu ainda não a dispensei.

Samantha recusou-se a acreditar no que ouvira. Virando-se, encarou-o.

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– Você não é meu príncipe!

– Mas sou seu noivo e logo serei seu marido. Isso significa que me deve obediência.

– Ora! – Deu de ombros e fez menção de sair.

– Fique! – E, num tom mais brando, acrescentou: – Não gosto de comer sozinho.

Sente-se enquanto faço meu desjejum.

– Fazer-lhe companhia não consta do contrato nupcial, Alteza.

Rudolf sorriu.

– Mas obediência, sim. Sente-se.

Resmungando, ela voltou, mas não se sentou. Aproximou-se do

bufê, apanhou um prato e serviu-se de arenque e batatas fritas.

Depois, encheu uma xícara com café e sentou-se diante do príncipe.

– Você não vai comer isso, Samantha. Aliás, já fez seu desjejum. Por que comerá de

novo?

Como resposta, ela enfiou um pedaço de arenque na boca. Seguiu-se um pedaço de

batata regado por um gole de café.

– Não deve ingerir fritura.

– Os cardápios não constam no contrato nupcial, Alteza. Portanto, comerei quanto

eu quiser.

O príncipe encolheu os ombros e continuou comendo. Lia o jornal enquanto isso,

mas sempre lançando a Samantha olhares rápidos. Nos lábios, um sorriso sarcástico.

Ela mantinha o olhar fixo no príncipe, e cada vez que ele a fitava, Samantha comia

arenque e batata.

Assim que engoliu o último pedaço de arenque, experimentou um terrível mal-estar.

Enjôo e náuseas, que aumentavam a cada minuto que passava. Tentando acalmar-se,

colocou uma mão na barriga e a outra no pescoço. Tinha de sair da sala e, no entanto, o

príncipe continuava comendo devagar.

Rudolf a observou, colocou o guardanapo sobre a mesa e ficou

de pé.

– Está dispensada..

Samantha saiu depressa. Rezava para conseguir chegar a tempo aos aposentos.

Rudolf alcançou-a no halI. Enlaçou-a pela cintura e pegou um vaso enorme com

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flores artificiais. Jogou as flores no chão e forçou Samantha a debruçar-se sobre o vaso.

Depois de aliviada, ela encostou a cabeça no ombro dele, fechando os olhos. Nunca

se sentira tão mortificada em toda sua vida. Começou a chorar de vergonha.

Rudolf pegou-a no colo e carregou-a até o quarto. Abriu a porta com o pé e colocou-

a com toda a gentileza na cama. Samantha fitou-o através da cortina de lágrimas.

Sentado na beira do colchão, Rudolf afastou alguns fios de cabelo do rosto dela.

– Está melhor agora?

– Estou, obrigada.

– Sei que algumas comidas não lhe fazem bem.

– Como você sabe?

– Já passei por isso antes. Sente-se fraca?

Samantha fez que sim.

Ele a beijou na testa e levantou-se.

– Garanto que se dormir agora irá se sentir bem melhor ao acordar.

Ela o viu sair. Seu beijo fora quase paternal, e suas exigências tinham a conotação

de disciplina familiar.

No final da tarde, Samantha sentou-se na sala de estar com a sra. Sweeting e os

garotos. Depois de algumas horas de sono, acordara bem melhor.

– Angélica está tendo o bebê – Victória anunciou, ao entrar.

– Tia Roxie foi ajudar a parteira. Imagine, seremos tias!

– Tia Roxie falou se vai demorar muito?

– Ela não disse nada. – Victória abriu os braços num gesto resignado. – Isso

significa que ficarei trancada aqui esta noite.

– Por que não lê um bom livro?

– Engraçadinha! Você sabe que odeio ler. – Victória se dirigiu aos meninos. – O que

acham de brincar de esconde-esconde?

Os três correram para o jardim.

– Sweeting, vou até a casa de minha irmã. Talvez eu possa ajudar de alguma forma.

Samantha subiu até os aposentos e apanhou a capa. Pensou em deixar um recado

para o príncipe, mas Tinker não estava à vista.

Na rua, caminhou apressada em direção à residência da marquesa, na mesma

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calçada da mansão do duque. De repente, alguém a deteve. Era Rudolf.

– Eu disse para você não sair de casa. –A irritação dele era evidente. – Aonde vai?

– Minha irmã está tendo o bebê. – Samantha apontou a mansão duas portas adiante.

– Ela mora logo ali.

Rudolf relaxou. Olhando por sobre o ombro, dispensou Karl. – Eu a acompanho.

Webster, o mordomo do marquês, abriu-lhes a porta. Sorriu, reconhecendo

Samantha.

– O marquês está em casa? – Rudolfperguntou. – Vou visitá-lo enquanto minha

noiva estiver ajudando a irmã.

– Eu o acompanho até o escritório, senhor...

– Alteza – Samantha murmurou.

– Alteza, o marquês ficará agradecido por sua presença.

Webster olhou para Samantha: – Acredito que saiba o caminho, milady.

– Obrigada, Webster.

Ela se encaminhou aos aposentos da irmã. No corredor, ouviu-a gemendo. Parou,

indecisa.

Reunindo coragem, girou a maçanetajusto no momento em que Angélica gritou. A

parteira apalpava-lhe a barriga.

– Vai demorar horas até esse bebê chegar – a mulher previu.

– A criança é grande. Estou desconfiada de que são duas.

– Talvez seja melhor chamarmos o médico.

– Ainda não há necessidade, duquesa. – Ao ver Samantha, a parteira indagou: –

Quem é ela?

– O que está fazendo aqui, Samantha?

– Pensei que poderia ajudar, titia.

Roxie a empurrou para fora do dormitório.

– Você já nos ajudará ficando fora do caminho. – E fechou a porta em seu nariz.

Samantha sentou-se no sofá, no corredor. Os gritos da irmã quebravam o silêncio

reinante.

Uma criada veio correndo, trazendo água quente e toalhas. Bateu de leve na porta e

entregou tudo a Roxie, que cochichou-lhe alguma coisa ao ouvido. Em seguida, a

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empregada tornou a desaparecer.

Minutos depois, Rudolf sentava-se ao lado de Samantha. Enlaçou-a pelo ombro.

– Sua tia disse à criada que você precisava de mim. O que houve?

Samantha suspirou.

– Estou com medo.

Ela é tão jovem! De repente, Rudolf deu-se conta da inexperiência de Samantha.

Sua noiva tinha o olhar assustado de um guerreiro novato depois de sua primeira

batalha. Aos vinte e oito anos, ele esquecera o quanto uma jovem de dezoito era ingênua.

– Está com medo de mim?

Samantha fez que não.

Aquilo era bom, Rudolf pensou, aliviado.

– O que teme, anjinho?

Naquele momento, Angélica soltou um grito desesperado. Samantha pousou a mão

na barriga, arregalando os olhos.

Rudolf sabia o motivo dos temores, mas insistiu:

– Diga-me do que tem medo, daragaia.

Samantha fitou-o com os olhos azuis muito abertos.

– Sou experiente com a dor, mas tenho pavor de dar à luz.

– Não há por quê. – Rudolf beijou-a de leve na têmpora.

Quando sua hora chegar, contratarei a melhor Parteira e o melhormédico do país.

– Você ficará comigo?

– Se é o que quer, princesa, ficarei.

Rudolf sentiu que Samantha confiava nele. Apesar de suas palavras duras, ela se

sentia segura a seu lado.

Não deveria estar aqui, acompanhando o trabalho de sua irmã. – O príncipe ficou de

pé e ofereceu-lhe a mão. – Vamos embora.

Samantha não protestou. De braços dados, retomaram à mansão do duque.

No dia seguinte, Samantha acordou mais animada. Os gritos da irmã pareciam

apenas um sonho ruim. Além disso, o príncipe gostava dela. Afagou a barriga e decidiu que

suportaria a dor. O importante era dar um filho ao príncipe e fazê-lo feliz.

“Observe o que o homem faz, não o que ele diz.” As palavras de tia Roxie voltaram-

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lhe à memória. Se Rudolf não gostasse dela um pouco que fosse, ele teria ignorado seus

temores. Mas não. Embalara-a até ela adormecer. Talvez o príncipe não quisesse se casar,

mas seria um bom marido. E ela, a melhor esposa.

Sentou-se na cama e viu o pão que a tia deixara na mesa-decabeceira. Comeu-o e

esperou quinze minutos até o pão realizar sua mágica. Só aí, levantou-se e vestiu-se.

Encontrou Victória terminando o desjejum quando entrou nasala.

– Bom dia, titia Samantha. – Victória ergueu dois dedos no ar. – Somos orgulhosas

titias de um menino e uma menina. – Angélica teve gêmeos?!

– Douglas e Amber CampbeIl. – E a garota deixou o cômodo. Samantha serviu-se

de uma pequena porção de ovos mexidos, uma fatia fina de presunto e pão sem manteiga.

Pegou o Times e se acomodou.

– Desculpe-me por meu atrevimento, milady, mas sua refeição não é suficiente para

sustentar uma mosca. Por favor, pegue um pouco mais.

– Agradeço por sua preocupação, Tinker, mas assim está bem. – Como quiser... –

Tinker serviu-lhe uma xícara de chá.

Rudolf chegou, colocou uma pasta sobre a mesa e sentou-se perto dela.

– Como se sente? – Ele beijou-lhe o rosto.

– Bem melhor, obrigada. Angélica teve gêmeos, um menino e uma menina.

– Excelente novidade! Se eu tiver tempo, mais tarde iremos até Bond Street e

compraremos presentes para os bebês. Quando você visitar sua irmã, verá que ela está tão

radiante com os filhos que nem se lembra mais das dores do parto.

– Com licença, Alteza. – Tinker aproximou”se. – Posso servir seu desjejum?.

– Por favor, Tinker. Quero o mesmo que lady Samantha está comendo.

Segundos depois, o mordomo voltava com o prato igual ao de Samantha, inclusive

na quantidade. Rudolf fitou a comida e o criado. Tinker arqueou uma sobrancelha e olhou

para Samantha.

– Querida, você precisa comer mais do que isso. Tinker, traga dois pratos com ovos,

fatias de presunto e pão com manteiga.

O mordomo não demorou nada para retomar com o pedido.

Antes de se afastar, sorriu, triunfante, para Samantha.

– Obrigada, Tinker – ela agradeceu, admitindo a vitória dele para fazê-la comer

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mais.

Rudolf abriu a pasta e passou a ler uma folha de papel.

Com a presença do príncipe, Samantha sentiu renovado apetite. Não queria

perturbar o trabalho dele. Assim, tornou a se concentrar no Times. De novo, a coluna social

chamou-lhe a atenção.

Desde que voltou do continente, o príncipe Rudolf Kazanov tem sido visto em vários

bailes, entre os quais o de‘lady Wesleye o da condessa de Bedford. Desnecessário dizer

que as damas, todas loiras, não se afastaram um minuto sequer do belo e charmoso

príncipe. Onde, eu me pergunto, estará escondida sua noivinha?

O ciúme e a raiva se apossaram dela. Devagar, levantou-se da cadeira, dizendo:

– Tinker, você poderia nos deixar a sós, por favor? E feche a porta ao sair.

Rudolf a encarou.

– Algo errado?

Samantha esperou o mordomo ir.

– Como teve coragem?! – Ela jogou o jornal na frente dele.

– Seu cínico! Canalha! Depois de todo aquele carinho, saiu para continuar sua vida

social!

– Você não entendeu direito, Samantha. Sente-se.

Ele não a estava levando a sério. Isso a zangou ainda mais. – Posso ser uma aleijada

patética para você e esse repórter, mas não sou idiota! – Samantha deu um passo para sair,

mas Rudolf a deteve.

– Eu não acho você...

Samantha cerrou o punho direito e acertou o rosto do príncipe. Boquiaberto e

perplexo, Rudolf ficou a olhá-la em silêncio.

Samantha cobriu a boca com a mão, tão estarrecida quanto ele com o que acabara de

acontecer. Tremendo correu para fora da sala em direção a seus aposentos. Lá, jogou-se na

cama e chorou.

Como pudera deixar-se enganar de novo pelo príncipe? Céus, todos deveriam estar

rindo dela!

Ouviu batidas na porta, mas as ignorou. Decerto Rudolf queria puni-la por tê-lo

desrespeitado. Ainda bem que ela tivera a brilhante idéia de dispensar os criados antes de

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agredi-lo.

– Samantha!

– Sim?

– Posso entrar?

Sem esperar o consentimento, Rudolf entrou.

Samantha viu o hematoma em seu rosto bonito.

– Perdão por tê-lo agredido. Imagino que você não acreditará, mas esta foi a

primeira vez que bati em alguém.

– Acredito, sim. – Rudolf estendeu-lhe a mão.

– Estou muito cansada. – Samantha recuou alguns passos.

– Poderia punir-me mais tarde?

– Nunca pretendi ferir seus sentimentos; Samantha.

– E não o fez. – O orgulho a impedia de admitir que ele a magoara, sim. – Mesmo

que tivesse, sei que não era sua intenção.

– Princesa...

– Não sou sua princesa. Você não queria casar-se de novo, e minha gravidez

obrigou-o a isso. Talvez haja outra solução para este dilema.

Rudolf cruzou os braços. Seu olhar punha-a nervosa. .

– O problema é que você não quer se casar comigo, Rudolf, mas quer que essa

criança nasça, digamos, do lado certo dos lençóis. Vou escrever uma carta para Alexander

Emerson. Ele ainda quer se casar...

Rudolf não a deixou terminar. Adiantou-se, tomou-a pelos ombros e os apertou.

– Nem pense em fazer uma coisa dessas ou serei forçado a matá-lo! .

Samantha se apavorou. Não duvidava que Rudolf cumpriria a ameaça.

Ele a soltou e, com as mãos nos bolsos, caminhou pelo quarto.

Minutos depois, parou.

– Zara chegará esta tarde. Espero que não desconte sua raiva nela.

– Como pode passar por sua cabeça que eu teria coragem de maltratá-la?!

Rudolf sorriu.

– Não, claro que não teria. Sei que você será gentil com minha filha.

– Estou exausta, Rudolf.

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– Eu já vou. – Ele se inclinou para beijá-la, mas Samantha esquivou-se.

Observou-o sair. Rudolf deixara-a sem um pingo de energia, e para piorar, seus

quadris doíam muito.

No final da tarde, Samantha sentou-se com a sra. Sweeting no banco de pedra do

jardim. Os meninos jogavam bola no gramado.

– Lady Samantha, quer jogar conosco?

– Só vou assistir, Grant.

Drake aproximou-se dela, e ao ver a bengala, preocupou-se:

– Está doendo hoje? .

– Meu quadril está um pouco cansado, meu bem.

O menino enlaçou-a pelo pescoço e beijou-a, num gesto de conforto.

Sentindo-se observada, Samantha virou o rosto e avistou Rudolf parado à soleira,

segurando a mão da filha.

Ela se levantou e, apoiada na bengala, caminhou até eles.

– Olá, Zara. Seja bem-vinda.

A menina sorriu, mas encolheu-se junto ao pai. De cabelos loiros e olhos azuis, Zara

não parecia nada com o príncipe.

Samantha voltou-se para Rudolf, mas ele fitava a bengala.

– Tenho alguns amigos e gostaria que você os conhecesse

Samantha continuou falando com a: menina.

– Você está com dor? --– Rudolf quis saber.

– Meus quadris doem um pouco.

– Carregar uma criança não fará bem a eles.

– Eu ficarei bem. Não se preocupe– Samantha assegurou:-lhe.

– Sou Drake – disse o menino atrás dela. – Meu nome significa dragão.

– Meu nome é Grant, que significa grande.

Parados um de cada lado de Samantha, os meninos olhavam para Zara.

– Aquela senhora é Sweeting. – Grant apontou para a babá.

– Ela vai fazer você lavar atrás das orelhas.

– O cachorro é Giles. – Drake apresentou-o à princesa.

Como se chama?

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– Zara.

– O que significa? – Drake quis saber.

– Zara significa princesa – Rudolf respondeu pela filha.

– Drake e Grant estão brincando com a bola. Quer brincar com eles? – Samantha

convidou-a..

Quase escondida atrás do pai, Zara fez um gesto negativo com a cabeça.

– Minha filha não está acostumada com brincadeiras.

– Oh! – Samantha exclamou. E para os meninos: – Continuem jogando bola, Zara

irá depois. – Estendeu a mão para a

menina. – Quer sentar-se comigo no banco?

A pequena consultou o pai. Por um momento, Samantha pensou que ela recusaria,

mas então soltou-se de Rudolf.

De mãos dadas, as duas atravessaram o jardim até o banco de pedra.

– Sente aqui, Zara. Do que você gosta de brincar?

A menina continuou calada. Samantha insistiu:

– Quando faz calor, adoro me deitar na grama.e ficar vendo as nuvens fazerem

desenhos no céu. E você?

Zara fez que sim.

Samantha olhou para o príncipe ainda parado na porta, estudando-as, parecendo

aflito. Ela o compreendia. Afinal, Zara era tudo o que a mulher amada lhe deixara.

– E quando faz frio? – Zara indagou.

– Bem, quando chega o inverno, faço bonecos na neve. Já fez

bonecos de neve?

– Não, mas eu gostaria.

Giles aproximou-se e parou diante da menina. Sentou-se nas patas traseiras e ergueu

uma dianteira no ar.

– Giles está contente por conhecê-la e gostaria de apertar sua mão – Samantha

explicou-lhe.

Zara hesitou, mas tocou a pata do cachorro.

– Prazer em conhecê-lo, Giles.

Samantha virou o rosto. Rudolf não estava mais lá. Pelo jeito, ela passara no teste

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para cuidar da filha dele.

Menos de uma hora depois, Zara já brincava com Drake e Grant.

Seguidas por Sweeting, as crianças entraram na mansão. Giles permaneceu com

Samantha no jardim. Sentou-se ao lado dela e pousou a cabeça em seu colo.

– Você quer carinho, não é? – E afagou-o.Ao inclinar-se para olhá-lo, reparou que o

rubi escurecera. Ou seria efeito da luz do dia?

Aproveitando o calor do sol, Samantha cerrou as pálpebras, sempre acariciando a

cabeça de Giles.

De repente, o cachorro começou a rosnar.

– Boa tarde, milady.

Samantha abriu os olhos. Deparou com um homem alto, forte, de cabelos pretos

parado a sua frente. Seus olhos azuis eram frios, e o mevimento dos lábios sugeria

crueldade.

– Calma, Giles.

O deàhound parou de rosnar, mas seu olhar estava fixo no estranho.

– Esta é uma propriedade particular, senhor. Está à procura de alguém?

O homem ignorou a pergunta.

– Esta é a mansão do duque de Inverary, não é?

– Sim. Quem é o senhor?

– Príncipe Vladimir Kazanov – ele se apresentou com uma reverência.

Samantha apertou o cabo da bengala e arregalou os olhos de surpresa.

– Vejo que reconheceu meu nome. Quem é você?

– Samantha Douglas..

– Ah, a próxima vítima de meu irmão! Gostaria de falar-lhe. Samantha o encarou.

– Fale e vá embora.

– Estou disposto a pagar-lhe uma grande quantia em dinheiro se me ajudar a

resolver uma pequena questão de farmí1ia.

– E o que seria?

– Quero que roube o Kazanov Vênus para mim. Trata-se de...

– Sei do que se trata. Eu não me vendo, Alteza.

– Aquele medalhão é meu por direito de nascimento! – Vladimir deu um passo à

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frente.

Giles rosnou e ficou em pé, pronto para atacar o príncipe.

– Sente-se, Giles. – Samantha levantou-se do banco e, ao mesmo tempo,

desenroscou o cabo da bengala, apontando o esti1lete para Vladimir. – Seus homens

tentaram me matar.

– A vançou na direção dele, e Vladimir recuou..

– Peço desculpas por esse mal-entendido, milady.

– Não, você não parece arrependido.

– Vladimir! – Rudolf atravessou o jardim para enfrentar o irmão. – Fique longe de

minha família, ou eu o mato!

– Eu soube que estava procurando por mim, irmão.

– Meu assunto com você não tem nada a ver com minha família.

– Cuidado com ele, milady. Eu não entendo como você pode ser leal a um...

– Saia deste jardim agora mesmo! – Rudolf interrompeu-o.

– E fique bem longe de minha família!

Vladimir soltou uma gargalhada.

– Ela não sabe ainda? Minha querida, seu noivo guarda segredos.

– Não sou sua querida! – Samantha ainda empunhava o estilete.

– Se mudar de idéia, milady, estou em Montague House.

E o príncipe se foi.

– O que ele queria, Samantha?

– Que eu roubasse o Kazanov Vênus. – Samantha recolocou o estilete na bengala. –

O que eu ainda não sei?

– Nada. Vladimir só quer causar mais problemas.

Samantha sabia que Rudolf mentia.

– Por que não confia em mim?

– Não confio em ninguém, Samantha.

– Por que quer se casar com uma mulher em quem não confia?

– Não quero me casar com você. Quero salvar meu filho do estigma de bastardo.

As palavras dele tiveram o efeito de um soco no estômago.

Samantha puxou pela respiração, e sem dizer nada, afastou-se em direção à casa.

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Olhando sobre o ombro, chamou o cachorro:

– Vamos, Giles.

Magoada demais com o príncipe, Samantha preferiu jantar sozinha no quarto. Só

saiu para desejar boa noite aos meninos.

Quando entrou no quarto da menina, parou ao ver Rudolf sentado na beira da cama.

Já ia se afastando quando a garotinha chamou-a.

– Lady Samantha?

Forçando um sorriso, ela se aproximou.

– Eu queria desejar-lhe uma boa noite, meu bem.

– Papai está me contando uma história. Quer ouvir também?

– Não, obrigada. Mas gostaria de dar-lhe um beijo. Posso? A menina assentiu, e

Samantha inclinou-se para beijar-lhe a face.

– Quer brincar comigo amanhã?

– Quero. Podemos olhar as nuvens? – Os olhinhos de Zaracintilaram.

– Faremos o que você quiser. Boa noite. Sweeting dormirá aqui, hoje.

– Samantha? – o príncipe chamou-a.

Fingindo não tê-lo ouvido, ela saiu. Não queria escutar nada do que o príncipe tinha

a dizer.

Na manhã seguinte, Samantha esperava encontrar as crianças ao café da manhã, mas

apenas o príncipe se achava presente, lendo alguns papéis enquanto comia.

– Bom dia – Rudolf cumprimentou-a.

– Bom dia.

No bufê, ela serviu-se de dois ovos cozidos, broa de milho e geléia de baunilha.

Pegou o Times e se acomodou ao lado dopríncipe.

– Gostaria que você não lesse mais o jornal.

Sem dar-lhe atenção, Samantha começou a comer e foi direto para a coluna social.

Ontem, na ópera, o príncipe Rudolf foi visto muito bem acompanhado por algumas

beldades de nossa aristocracia. Onde está sua noiva, afinal? Quando voltará a Londres?

– Por que não me levou à ópera, Rudolf?

– Porque você está com o olho roxo.

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– Você também. – Samantha o encarou. – Seu noivado comigo o embaraça tanto

assim?

Rudolf indicou o prato vazio. .

– Se já terminou de comer, está dispensada.

– Não serei dispensada, Alteza. Não sairei da sala só porque você mandou.

– Então, saio eu. – Rudolf guardou os papéis na pasta e a deixou.

Estupefata, Samantha estudou-o em silêncio. Humilhada, nem sequer olhou para

Tinker. Levantou-se e correu para o quarto. E chorou até esgotar todas as lágrimas.

Samantha sentia falta dele.

Depois daquela manhã, Rudolf passara a evitá-la. A qualquer hora que ela descesse

para o desjejum, não o encontrava na sala. Durante o dia, o príncipe usava o escritório do

duque para dirigir seus negócios. Às vezes, quando sentava no jardim com as crianças,

Samantha sentia que ele a olhava, mas nunca o via.

Na verdade, Samantha via-o apenas na hora do jantar. Assim que terminava de

comer, o príncipe pedia licença e saía de casa. Entretanto, Samantha sabia da vida social do

príncipe pelo Times.

No fmal da segunda semana, ela não suportava mais tanta decepção. Sentia saudade

do homem que conhecera na Escócia e o queria de volta. Ao contrário das irmãs, jamais

tivera iniciativa, mas precisava fazer algo, e rápido.

Discutir e desafiar não a levariam a lugar nenhum. Precisaria mudar de atitude.

Assumir uma postura de indiferença e fingir que não se importava com nada.

Quinze dias antes do casamento, Samantha parou diante da porta fechada do

escritório do duque, onde Rudolf trabalhava.

Sentiu náuseas só de pensar em entrar e falar com ele. Seu coração batia

descontrolado, e suas mãos tremiam. Fechou os olhos, respirou fundo e bateu na porta antes

que perdesse a coragem.

– Entre – o príncipe respondeu.

Samantha forçou um sorriso e adentrou o recinto. Ele não estava sozinho. Dois

capitães, na certa das empresas do príncipe, tratavam de negócios com ele.

– Pois não? Rudolf fitou-a.

– As crianças e eu estamos planejando um piquenique no jardim e...

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O olhar dele era tão frio que ela parou de falar. Sentiu uma necessidade premente de

sair correndo.

– E daí?

– Pensei que você gostaria de juntar-se a nós.

– Não vê que estou ocupado?

– Quando você parar para almoçar...

-Não!

– Não vai almoçar?

Rudolf fulminou-a com um olhar irritado.

– Por favor, deixe-me trabalhar.

O medo e o vexame paralisaram-na. Samantha queria sair, mas

seus pés não se moviam.

– Que inferno! Saia agora mesmo e deixe-me em paz!

Samantha corou. A cena não poderia ser mais degradante.

– Desculpe-me pela interrupção. – E, sem olhar para os capitães, fechou a porta.

Arrasada, encostou-se na parede.

– Milady, a senhora não está bem? – Tinker materializou-se diante dela.

– Só preciso de um momento...

Fechando os olhos, respirou fundo duas, três vezes, tentando acalmar-se. Abriu os

olhos e percebeu que o mordomo abrira a porta do escritório e chamava pelo príncipe:

– Alteza, lady Samantha...

– Não! – ela gritou.

– Lady Samantha não está bem.

Apoiando-se na parede, Samantha deu alguns passos em direção ao corredor. Rudolf

alcançou-a.

– O que aconteceu?

– “Como assim! Você acaba de me humilhar diante de estranhos!”

–Vou acompanhá-la até o quarto.

–Samantha olhou para a mão dele em seu braço e ordenou: Tire as mãos de mim!

–O que disse?

–Não me toque! – Ela se voltou para o mordomo. – Onde está minha tia?

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–Na sala de estar, milady.

– Sua Graça está com ela?

-Sim.

– Se me der licença... – Samantha disse para o príncipe.

– Eu não lhe dou licença. – Rudolf segurou-a com mais força.

Samantha ergueu o rosto e a voz:

– Está dispensado, Alteza!

Um brilho diferente surgiu nos olhos dele.

– Se é piedade que vi em seus olhos, Rudolf Kazanov, eu o mato com uma das

pistolas do duque. A propósito, o casamento está cancelado.

– Não está.

– Não vou me casar com você! Ninguém poderá obrigar-me entrar na igreja!

– Pelo amor de Deus, não brigue comigo. – A caminho da escada, ele ordenou ao

mordomo: – Diga à duquesa que a sobrinha dela está histérica e precisa dela no quarto.

– Largue-me! – Samantha berrava ao chegarem ao segundo

andar. – Quero falar com minha tia!

Rudolf enlaçou-a pela cintura.

– Eu não estou histérica.

–Ah, não?

– Não. Estou apenas furiosa e humilhada. Nunca mais se atreva a tratar-me com

tanto desrespeito. Se acontecer de novo, juro que o matarei!

Com um gesto brusco, Samantha desvencilhou-se dele e seguiu pelo corredor até a

sala de estar.

– Querida, qual é o problema? – tia Roxie se assustou ao vê-la tão transtornada..

– Preciso conversar com vocês dois.

– Sente-se aqui a meu lado. – Roxie alisou a poltrona.

Samantha sentou-se e cruzou as mãos no colo.

– Diga-me o que a está preocupando – a voz do duque soou suave e confortante. –

Faremos tudo o que estiver a nosso alcance.

– Eu quero... preciso cancelar o casamento. .

– Não posso fazer isso. Você está grávida.

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– Você gosta do príncipe, querida – tia Roxie ponderou. –Sei disso.

– O príncipe não gosta de mim, titia.

– Engano seu. O relacionamento de vocês está progredindo maravilhosamente.

– Nós não temos relacionamento. Faz duas semanas que ele não fala comigo.

– Eu disse para você observar...

– E foi o que fiz! Rudolf tem comparecido a diversos bailes, à opera e vem jantando

com uma atriz de cabelos de fogo!

A duquesa deu risada.

– Querida, isso é um bom sinal!

– O quê?!

– O príncipe Rudolf está lutando contra seus sentimentos por você – a duquesa

argumentou.

– Os sentimentos perderam a batalha. – Samantha suspirou. – Ele acabou de

humilhar-me na frente de dois capitães. – Voltando-se para o duque, pediu-lhe: – Eu

imploro a Vossa Graça que cancele essa união.

– Vou falar com ele sobre seu comportamento – o duque Magnus prometeu-lhe.

– Não quero que milorde faça isso. Quero que cancele o casamento.

– Pense em seu filho.

– Estou pensando nele.

– Você gosta tão pouco de nosso filho a ponto de recusar-se dar-lhe o nome do pai?

– Rudolfinterrompeu-a, parado à soleir.a.

– Há quanto tempo está aí bisbilhotando?

– O suficiente para saber o que você está pedindo ao duque. .

Samantha ficou de pé e lançou à tia um olhar resignado. Devagar, atravessou o

ambiente em direção à saída. Não encontraria ajuda ali.

– Seus tios só estão fazendo o que é melhor para você – o príncipe declarou quando

Samantha passou por ele.

– Você não é o melhor para mim, Alteza.

– Lamento ouvir isso, princesa. Eu esperava participar do piquenique.

Samantha tomou a encará-lo.

– O piquenique foi cancelado.

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Rudolf ergueu uma sobrancelha.

– Por quê?

– Falta de interesse.

Empinando o queixo, Samantha foi para o quarto. Em instantes, ouviu batidas na

porta. Só podia ser Rudolf, para repreendê-la pelo desrespeito diante de outras pessoas.

–Quem é?.

– Posso entrar?

–Não.

– Quero falar com você.

– Fale..

– Não posso falar com a porta fechada. Por favor, Samantha.

Bufando, ela destrancou a fechadura, e o príncipe entrou.

– Deixe-a aberta. – Ela se afastou dele.

– Como você está?

– O que quer me falar, Alteza?

– Quero saber como você está.

– Por quê?

Rudolf deu de ombros.

– Pelas razões normais.

– E quais seriam?

– Princesa, você está grávida de um filho meu.

– Por favor, Alteza. – Samantha ergueu a mão. – Não me faça lembrar de minhas

leviandades!

Os lábios dele se curvaram num sorriso oculto.

– Fui muito rude com você e gostaria de pedir desculpas. Perdoe-me, por favor.

– Perdoá-lo por ter sido rude? – repetiu com sarcasmo.Ou pelos bailes aos quais tem

comparecido? Talvez pela ópera? Decerto quer o meu perdão pelo jantar íntimo com aquela

atriz?

– Sua ironia é compreensível, mas inconveniente.

– Faça um favor a si mesmo, Alteza: procure uma noiva analfabeta. .

– Você fala como uma esposa ciumenta.

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Samantha sorriu.

– Eu superei a fase do ciúme.

– E o que ficou?

– Desgosto.

Uma sombra de tristeza passou rápido pelo semblante de Rudolf, que logo se

transformou em raiva.

– Dentro de duas semanas, estará casada com um homem de quem você não gosta.

Prepare-se. – Com um último olhar furioso, deixou-a.

Nas semanas que se seguiram, a situação se inverteu. Samantha evitava o príncipe o

mais que podia. Ele, por sua vez, parecia um cão de guarda, vigiando todos os passos dela.

Conversavam o estritamente necessário, mas a vigilância constante do príncipe irritava-a.

Já não tinha tanta certeza de conseguir entrar na igreja para casar-se com um homem

que nada sentia por ela...

Rudolf não poderia casar-se, a menos que Samantha soubesse a verdade.

Manhã do dia 23 de abril. Era cedo. Tanto que apenas os criados estavam circulando

pela casa.

O príncipe subiu a escada para o terceiro andar. Levava dois objetos para sua noiva.

O primeiro, um prato com o pedaço de pão. O segundo, uma bolsa de veludo contendo a

tiara de diamantes que sua avó e sua mãe usaram no dia de seus casamentos.

Amava Samantha, mas jamais lhe confessaria. A partir do momento em que uma

mulher conhecesse os sentimentos mais profundos de um homem, ela os usaria contra ele.

Não seria justo desposar Samantha sob falsas condições. Ela quase não tinha

escolha quanto ao matrimônio. Rudolf lhe daria uma chance. Não poderia viver a seu lado a

menos que Samantha aceitasse depois de saber quem ele era na realidade.

Abriu a porta e entrou sem bater. Atravessou o aposento para deixar o pão na mesa-

de-cabeceira como sempre fizera. Com uma diferença: dessa vez, Samantha estava

acordada.

– O que está fazendo aqui?

Rudolf sentou-se na beira do colchão e ofereceu-lhe o pão.

Ela se recostou e pegou o pão.

– É você quem tem me trazido isto todas as manhãs?

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– Sim. Samantha, temos de conversar sobre um assunto muito importante antes de

nos casarmos.

Ela deixou o pão de lado e cruzou as mãos no colo, esperando.

– Vou lhe contar uma coisa. Depois disso, não me oporei se preferir cancelar tudo.

Minha opinião é que devemos nos casar e nos divorciar logo depois do nascimento da

criança.

Samantha sentiu medo.

Rudolf levantou-se e caminhou até a janela. Após alguns momentos calado, virou-se

e disse:

– Não sou quem você pensa que sou.

– Como assim?

– Não sou filho de meu pai. Sou um bastardo!

Samantha cerrou as pálpebras e deixou escapar um gemido. Aquela revelação

surpreendente explicava muitas coisas intrigantes. A insistência de Rudolf em não desejar

um filho ilegítimo, o desejo incontrolado de VIadimir pelo Kazanov Vênus, o fato de a mãe

dele ter sido trancafiada num manicômio.

Ao tomar a fitá-lo, Samantha sentia o coração partido o príncipe estava junto à

janela, de costas para ela. a orgulho mantinha a cabeça dele erguida e os ombros retos, mas

Rudolf nunca parecera tão solitário.

– O que faremos, Samantha? Vamos cancelar o casamento ou esperaremos a criança

nascer para nos divorciarmos? – Como Samantha não respondeu, ele continuou: – Se

decidir pelo cancelamento, manterei você e a criança enquanto vocês viverem. Dinheiro

não será problema.

Samantha refletiu por alguns momentos. Precisava escolher com cuidado as

palavras. Seu príncipe estava sofrendo, mas não podia ser tratado com piedade.

Pôs-se de pé e se aproximou dele, rezando para fazer tudo certo. Se Rudolf pensasse

que ela estava apiedada, o casamento terminaria antes mesmo de começar.. .

– E então, Samantha? O fato de eu ser bastardo deixou-a muda?

– Não, Alteza. a que me deixa muda é sua estupidez.

Rudolf virou-se rápido. Eles estavam muito próximos, e ela pôde notar o quanto ele

estava tenso.

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– Entendo sua raiva, mas você ainda não me respondeu. – Você não entendeu nada!

– Esclareça-me. .

– Não gostei de nenhuma das opções que me ofereceu, Rudolf. Há uma terceira?

Ela viu os músculos do rosto dele relaxarem.

Quando o príncipe falou, sua voz soou mais branda:

– A terceira é ficarmos casados até que a morte nos separe.

– É essa que eu quero.O príncipe não estava pronto para acreditar nela. Perscrutou-

lhe os olhos em busca da verdade.

– Está sendo gentil comigo?

– Por que eu seria gentil com um homem que não tem sido nada bom comigo?

– Está com pena de mim?

– Por que eu estaria, Rudolf? Sou uma aleijada que precisou roubar carteiras para

comer. Eu trocaria meu defeito físico por sua condição de bastardo nem que fosse por um

único dia!

Ele acreditava nela. Samantha leu nos olhos dele.

Com um suspiro de alívio, Rudolf a abraçou. Tentou beijá-la, mas ela ergueu a mão,

impedindo-o.

– Sua falta de confiança me ofende.

– Perdoe meu erro de julgamento. Como posso me redimir

“Amando-me”, Samantha pensou, mas preferiu dizer:

– Pare de ir a bailes e óperas sem mim. E nada mais de jantares com atrizes.

Rudolf riu antes de beijá-la com paixão.

– Eu te amo, Alteza.

– Não mereço seu amor.

O coração de Samàntha se contraiu. Precisava ouvi-lo confessar seu amor.

– Por isso seu pai prefere Vladimir?

– Sim.

–O que acha de jogarmos o Vênus no rio Tâmisa? – ela sugeriu com um sorriso

maroto nos lábios.

– Não posso fazer isso. Talvez seja melhor entregá-lo a meu

irmão.

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A reação de Samantha foi surpreendente.

– Se o entregar a Vladimir, não me casarei com você!

– Por quê? – ele indagou, rindo.

– Seu irmão não merece tal presente. Além disso, se a lenda do medalhão for

verdadeira, já pensou quantos pequenos Vladimir andarão soltos pelo mundo?.

Rudolf gargalhou, mas logo tomou-se sério de novo.

– Há uma outra questão.

– Siga em frente.

– Eu sei quem é o meu verdadeiro pai.

-E?

– É o duque de Inverary.

Se ela pensara que nada mais poderia chocá-la, enganara-se.

Sentiu o chão faltar sob seus pés, mas conseguiu manter-se firme.

– Ele sabe?

– Sabe, mas prefiro que continue em segredo... – Pousou a mão na barriga dela

– ...por causa de meus filhos.

– Não foi à toa que o duque se recusou a cancelar o casamento quando eu pedi. Sua

Graça quer muito que me case com o filho dele. .

– Você é maravilhosa – Rudolf murmurou, com os lábios colados aos dela.

Naquele momento, Roxie entrou no quarto e gritou:

– Alteza, o que está fazendo aqui? Traz má sorte ver a noiva antes da cerimônia!

– Tenho a impressão de que meus dias de azar terminaram para sempre. – Rudolf

acariciou o rosto de Samantha. – Vim trazer algo para minha noiva usar hoje, Vossa Graça.

Rudof tirou a tiara de dentro da sacola e entregou-a a Samantha. – Minha avó e

minha mãe usaram esta tiara quando se casaram.

Eu gostaria que você a usasse também.

– Será uma honra, Alteza.

Rudolf beijou-lhe as mãos.

– Eu a verei na igreja.

Às dez da manhã, Samantha entrava na catedral de Saint Paul.

Com ela, Roxie e Magnus; Os acordes dos violinos encheram-lhe os ouvidos.

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Ela usava o vestido de casamento de sua mãe, de seda branca rebordado com

pérolas. Na cabeça, a tiara de diamantes, e nas mãos trêmulas, o buquê de flores de

laranjeira.

– Tia Roxie, minha barriga está aparecendo? Não quero que ninguém desconfie do

motivo desta união apressada.

– Você está radiante, minha querida! Ah, nem acredito que minha doce Samantha

será uma princesa!

– Bem, querida, ela não será uma princesa se você não tomar seu lugar – o duque

Magnus se adiantou.

A duquesa se afastou, e Magnus conduziu Samantha até a nave. Centenas de

convidados ocupavam a catedral, iluminada por milhares de velas.

Samantha olhou para frente. A distância até o altar parecia grande demais para ser

transposta sob a curiosidade de todas aquela pessoas.

– Está pronta, meu bem? – O duque afagou-lhe a mão. Samantha balançou a cabeça

e fitou-o, angustiada.

– Não vou conseguir!

– Querida, sei que você ama Rudolf e quer se casar com ele.

– Eu o amo, sim, mas atravessar essa nave mancando diante de toda essa multidão...

Estou apavorada.

– Samantha, a única maneira de chegar ao príncipe é seguindoadiante.

Samantha respirou fundo. Ignorando o mar de rostos virados em sua direção, fixou o

olhar em Rudolf, em pé no altar ao lado do bispo de Londres.

O príncipe olhava para ela. Apesar da resistência de Rudolf em

admitir, Samantha viu o amor brilhando no rosto dele.

Surpreendendo a todos os presentes, e num gesto sem precedentes, o príncipe

Rudolf deu uns dez passos à frente para recebê-la.

– Olá, princesa. Pronta para tomar-se minha esposa?

– Sim, Alteza. – Samantha retribuiu o sorriso, o rubor cobrindo-lhe as faces.

Rudolf conduziu-a até o altar. O bispo de Londres sorriu para a noiva e abriu o livro

de orações.

– Estamos aqui reunidos em nome de Deus para unir este homem e esta mulher...

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Para Samantha, aquele momento era a realização dos sonhos que julgara

impossíveis. Rudolf estava a seu lado, apertando-lhe a mão, encorajando-a.

– Se alguém souber de alguma coisa que possa impedir este casamento...

– Eu sei.

Rudolf e Samantha viraram-se para trás. Samantha viu uma loira muito bonita e

elegante aproximar-se.

– Quem é a senhora? – o bispo perguntou.

– A esposa do príncipe Rudolf. – Olhando ao redor, esboçou um sorriso de desdém.

– Creio que seja um bom motivo de impedimento.

Estarrecida, Samantha recuou, como se tivesse sido atingida. Ouviu os cochichos

das irmãs e da tia, e o murmúrio excitado das centenas de convidados.

Céus, a mulher do príncipe estava viva e ali em pé! Samantha deixou escapar um

gemido abafado. Queria desmaiar para fugir da humilhação e da perda.

– Olga...

– Isso mesmo, Rudolf. Você sempre teve bom gosto e muito critério em relação às

mulheres. – Olga lançou a Samantha um olhar rápido, e depois indagou ao príncipe: – Está

tão desesperado a ponto de casar-se com uma patética aleijada?

Samantha encarou Olga. Uma vida inteira de sofrimento, decepções e humilhações

não era nada se comparada ao que enfrentava naquele momento.

“Por favor, Deus, faça com que eu desmaie! Não posso suportar tamanha dor!”

Tentou desvencilhar-se do príncipe, mas ele não a soltou.

– Não é o que você está pensando, Samantha. Olga e eu...

Em vez da voz do príncipe, Samantha ouviu o som das ondas do mar quebrando em

seus ouvidos. O tapete vermelho que cobria o altar recebeu-a quando Deus a abençoou com

a perda de sentidos.

–Samantha morreu?

– Não. Veja, ela respira.

– Está demorando para voltar a si.

Emergindo das profundezas do inconsciente, Samantha ouvia sua tia e as irmãs

falando, muito ao longe.

Gemendo, ergueu as pálpebras e reconheceu seu quarto. O que fazia lá? Deveria

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estar na igreja!.

De repente, a dura realidade retomou-lhe à memória com força total. Lembrava-se

de ter olhado para trás e da mulher loira dizendo-se esposa do príncipe.

– Bem-vinda, querida. – Roxie afagou-lhe o rosto. – Você nos deu um susto e tanto.

Samantha fitou a tia e as irmãs. Todas sorriam, muito aliviadas.

– Por que não me deixaram morrer?

– Querida, você tem todos os motivos para viver.

Samantha escondeu o rosto no travesseiro. Só o que queria era voltar ao chalé e

passar o resto de seus dias reclusa. Cada vez que estava prestes a realizar seus sonhos, eles

escapavam-lhe por entre os dedos. Talvez fosse hora de desistir de sonhar.

Ouça-me, meu bem. – A duquesa segurou-lhe o rosto, obrigando-a a encará-la. – O

príncipe a ama e pretende tomá-la sua esposa. Grant e Drake, e até mesmo Zara, adoram

você. Antes do final do ano, terá seu bebê. O que mais uma mulher poderia desejar, a não

ser vestidos, peles e jóias?

Os lábios de Samantha tremularam num sorriso tímido. Só mesmo tia Roxie para

enxergar o lado positivo de qualquer situação desesperadora.

– Obrigada por tentar me animar, titia, mas as coisas não são bem assim. Rudolf é

casado com outra mulher, e as crianças não são minhas.

– Os corações deles são seus! Vamos tirar esse vestido. Victória, pegue uma

camisola para sua irmã.

Samanth levantou-se devagar, para que a ajudassem a tirar o traje de noiva. Roxie

vestiu-lhe a camisola e colocou-a na cama outra vez.

– Rudolf está inconsolável. – A duquesa sentou-se na beira do leito. – Seu príncipe

jura que tem documentos que provam que é divorciado. Sem evidências comprovadoras, ele

precisa esperar até os outros irmãos chegarem para testemunhar a favor dele. Só assim os

documentos terão validade.

– Isso não me importa. – Samantha respirou fundo. – Não me casarei com ele.

– Claro que casará. Você está esperando um filho dele.

– Não quero ser mulher do príncipe. Não confio nele. Rudolf me fez acreditar que a

esposa estava morta!

– Preste atenção, Samantha: confiando ou não, você vai se casar com o príncipe.

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– Não pode me obrigar, tia.

Victória reagiu em defesa da irmã:

– Samantha está certa, tia...

– Fique com essa linda boquinha fechada, Tory. Vá até a cozinha e diga ao

cozinheiro que sua irmã precisa de sopa, torradas e chá.

– Por que eu sempre tenho de...

– Eu irei com você – Angélica se prontificou, segurando o braço de Victória.

A duquesa esperou as duas saírem e continuou, num tom autoritário:

– Você se casará com o príncipe nem que eu e Sua Graça tenhamos de arrastá-la até

o altar. Você não vai embaraçar Sua Graça e a mim, tendo um filho sem ser casada. Se

quiser separar-se do príncipe depois do casamento, aí já será problema seu.

– Eu quero que ele me ame!

– Ele te ama, querida. Vou mandar o príncipe subir. Sua Alteza quer conversar com

você.

– Não quero falar com ele.

– Quando se trnou assim irritantemente cabeça-dura? Eu esperava um

comportamento rebelde de Victória, nunca de você. Ouça o que o príncipe tem a lhe dizer.

Você deve muito a ele.

– Eu não devo nada! – rebateu entre soluços.

Samantha rolou no colchão e deu as costas para a tia. Cobrindo o rosto com o braço,

rendeu-se às lágrimas.

No escritório, o príncipe Rudolf, o duque de Inverary e o marquês de Argill bebiam

uísque enquanto esperavam a duquesa voltar do quarto de Samantha.

– Penso que deveríamos chamar um médico – Rudolf sugeriu. – Um desmaio não

demora tanto tempo assim. Pode ter alguma coisa errada com o bebê.

– Mulheres e bebês são mais fortes do que os homens imaginam – declarou o duque.

– Samantha sofreu um choque, meu pai.

– A pobre criança ficou tão assustada... – O duque sorveu um gole.

– Tive de convencê-la a pisar naquela nave.

Rudolf olhou para o duque, ansiosa.

– Ela não queria se casar comigo?

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– Claro que ela queria! Eu disse a Samantha que a única maneira de chegar até você

era seguindo até o altar.

– O duque sorriu.

– Depois disso, ela caminhou bem rápido.

A expressão de Rudolf desanuviou-se.

– As mãos dela tremiam como vara verde, mas Samantha foi muito corajosa.

Os três homens tomaram a ficar em silêncio.

Apesar de jovem e vulnerável, Samantha tinha fibra e valentia,

Rudolf admitiu. Por amor, enfrentara o desafio de entrar mancando pela igreja, sob

os olhares de seiscentos convidados. E seu ato foi recompensado com sofrimento e

humilhação.

– Por que Olga apareceu daquela maneira?

– Vladimir quer o Kazanov Vênus que eu trouxe comigo da Rússia, Robert. –

Vendo a expressão intrigada dos dois, o príncipe explicou o que era o Kazanov Vênus e seu

significado.

– O que há de tão importante com o medalhão? .

– Diz a lenda que quem o possuir será abençoado com prosperidade e fertilidade.

– Você acredita nisso?

Rudolf deu de ombros.

– Minhas crenças são irrelevantes. Meu irmão considera-se o primogênito de Piotr e

está desesperado para obter o medalhão, a qualquer preço. Ele procurou Samantha e pediu-

lhe para roubá-lo.

– É mesmo? – o duque e o marquês perguntaram ao mesmo tempo.

– Samantha estava no jardim quando Vladimir apareceu e fez a proposta. – Rudolf

sorriu com a lembrança. – Sua doce e submissa cunhada ameaçou meu irmão com um

estilete, Robert. Cheguei a tempo de ver a cena.

Magnus e Robert riram.

– Samantha está cada dia mais parecida com a irmã mais velha.Tenho pena daquele

que se casar com Victória!

– Por que, Robert?

– Tory é a menos dócil das três, Alteza, e ainda nem completou dezesseis anos!

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Alguma pobre alma vai pagar seus pecados!

O duque tossiu de leve.

– Creio que minha mulher deseja uma união com... Alex... Alexander Douglas.

Rudolf fitou-o, desconfiado.

– Ela está desapontada por eu ter estragado os planos do noivado entre Samantha e

Emerson?

– De jeito nenhum – Magnus garantiu. – Victória precisa de um homem forte para

controlá-la. Para ser franco, Roxie nunca acreditou que Alexander e Samantha dariam

certo. Ela o quer para Victória.

Naquele momento, Roxie abriu a porta do escritório. Foi direto até a mesa do

marido, serviu-se de uísque e bebeu-o de um gole só. Depois, serviu-se de outra dose.

– Problemas, minha querida? – Magnus indagou, divertido. – Minhas sobrinhas

ainda vão me matar antes do tempo

– Como está ela? – Rudolf quis saber.

– Samantha já recobrou a consciência. Acho que eu preferia que continuasse

desmaiada.

– Vou falar com ela.

– Eu não iria se fosse você, Alteza.

– Está muito brava? – Rudolf compreendia a revolta de Samantha. Ele deveria ter

contado que era divorciado e não viúvo, como deixara que todos acreditassem.

– Não sei o que dizer. Primeiro, ela quer que você a ame, mas em seguida, diz que

não quer se casar. Outra hora, afirma que quer viver no chalé com os meninos. – Roxie fez

um gesto evasivo com a mão. – Samantha está confusa com tudo o que houve e já não sabe

mais o que quer, essa é a verdade. O cozinheiro irá preparar uma refeição leve para ela.

Calado, Rudolf saiu do escritório. Minutos depois, via-se diante da porta do quarto

de Samantha. Nas mãos, levava uma bandeja com sopa, torradas e chá.

Entrou sem bater. Encontrou-a deitada de costas para a porta.

O coração dele bateu mais forte ao ouvi-la soluçando.

– Deixe aí – Samantha murmurou. – Comerei mais tarde.

Rudolf colocou a bandeja na mesa. Aproximou-se do leito e, por um longo

momento, ficou a observá-la. Não sabia como confortá-la. Palavras seriam inúteis para

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amenizar seu sofrimento.

– Princesa, deixe-me ajudá-la. – Sentou-se na cama e tentou abraçá-la. – Sua tristeza

prejudicará a criança.

Samantha encolheu-se, tentando escapar dos braços dele.

– Não brigue, querida, por favor...

Samantha desistiu, e o príncipe a abraçou com força. Ela chorou com o rosto

encostado no peito dele.

– Eu daria tudo para não vê-la assim, querida. Olga e eu nos divorciamos quando ela

soube que sou bastardo. Por conta de minha origem, nunca demonstrou o menor interesse

por Zara.

– Ela é muito bonita. Você a amava muito, não?

– Sim, amava, mas Olga me decepcionou. Queria casar-se com o herdeiro. Fingiu

ser tudo o que você é: carinhosa, amorosa, generosa leal.

– Obrigada.

– Samantha... – E Rudolf deu-lhe um beijo longo, desesperado, urgente. Seu

coração se aqueceu de amor por ela.

Ela o encarou com seus enormes olhos azuis brilhando.

– Não se culpe, Rudolf. Você não sabia.

Rudolf apertou-a com mais força. Samantha só queria seu amor.

Ele era o príncipe que poderia salvá-la de um mundo cruel, de uma vida de

sofrimento. E no entanto, tudo o que conseguira fora causar-lhe ainda mais dor. De alguma

forma, teria de reparar o mal que lhe causara.

– Vamos resolver esse assunto quando meus irmãos chegarem a Londres. Eles

poderão testemunhar a validade dos documentos de meu divórcio. A menos... Talvez, seja

melhor eu entregar a Vladimir o Kazanov Vênus.

– Não, Rudolf. VIadimir e Olga não merecem ser recompensados por seu mau

comportamento.

Rudolf acariciou-lhe o rosto.

– Você precisa comer, princesa.

– Não tenho fome.

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– Por favor, coma,daragaia.

Samantha sentou-se. Rudolf mergulhou a colher na sopa e levou-a aos lábios dela.

– O que está fazendo?

– Estou lhe dando de comer.

– Não precisa fazer isso.

– Mas eu quero.

Samantha não protestou mais. Deixou-se mimar pelo homem amado.

– Não imagina como fiquei orgulhoso ao vê-la caminhar pela nave a meu encontro –

Rudolf admitiu enquanto servia-lhe a comida na boca. – Sua beleza e sua coragem são uma

das maravilhas do mundo.

– Numa coisa minha tia estava certa. O nosso foi o casamento da década. Ninguém

o esquecerá com facilidade.

Rudolf riu e serviu-lhe o chá. Ela bebeu três goles e devolveu a xícara.

– Depois eu como mais, Rudolf.

O príncipe sentou-se e encostou-se na cabeceira. Enlaçou-a pelos ombros, e

Samantha descansou a cabeça no ombro dele, adormecendo em seguida. Rudolf ajeitou-a

entre as cobertas e saiu da suíte sem fazer barulho.

Uma hora depois, Samantha acordou sobressaltada. Apesar de ter encorajado o

príncipe a não entregar o medalhão a Vladimir, temia pela vida de Rudolf. Além disso,

Olga poderia continuar negando o divórcio, e a criança seria ilegítima. Evidente que Olga

sabia o quanto Rudolf se ressentia por sua condição de bastardo.

Samantha viu-se diante de um dilema. Precisava entregar o Kazanov Vênus a

Vladimir, mas isso significava trair Rudolf. O que fazer?

Levantou-se, abriu a porta do quarto e espiou o corredor deserto. Rezando para não

encontrar ninguém, correu para o quarto do príncipe. Encostou a orelha na porta. Quietude

absoluta.

Entrou e fechou a porta. Não sabia de quanto tempo dispunha, por isso teria de ser

rápida.

Decidida, vasculhou as gavetas da cômoda, mas não encontrou nada. Em seguida,

foi para o closed. Apalpou todas as roupas do príncipe e nada. De repente, viu uma mala de

couro no chão. Ajoelhou-se everificou seu conteúdo. Só documentos escritos em russo.

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Porém, sob esses papéis havia muitas jóias e uma bolsinha de veludo preto.

Abriu-a e achou o que procurava.

Sorrindo, segurou o medalhão de ouro. Meneou a cabeça, denotando incredulidade.

Não acreditava que uma peça tão pequena pudesse criar tantos problemas.

Satisfeita, ajeitou os documentos na pasta e retomou a seus aposentos, levando o

medalhão consigo.

Precisaria da ajuda da irmã.

E dormiu como um anjo naquela noite, depois que Victória prometeu ajudá-la.

Na manhã seguinte, sorriu ao ver o prato com o pedaço de pão.

Rudolf entrara lá enquanto ela dormia. Ele gostava dela, e gostaria ainda mais

depois que Samantha resolvesse aquela questão familiar. Mas não pretendia revelar-lhe

seus planos. Rudolf jamais permitiria que fosse até Montague House para enfrentar Olga e

Vladimir.

Após comer o pão, vestiu-se e preparou-se para descer. Mas só de pensar em

enfrentar os olhares piedosos dos criados desistiu. Acomodou-se na poltrona junto à lareira,

esperando Victória.

– Tinker me falou que você não desceu para o desjejum. Samantha voltou-se ao som

da voz do príncipe.

– Poderia pedir pata me servirem aqui?

– O desjejum é servido na sala. – Rudolf aproximou-se dela.

– Não quero descer.

– Se você quiser comer, terá de ir até lá.

– Nunca mais sairei daqui!

O príncipe soltou uma gargalhada.

– Bem, imagino que sairei algum dia... Mas não hoje.

– Por que não quer descer, Samantha?

– Porque todos sabem que sou uma aleijada patética.

Rudolf ajoelhou-se e tomou-lhe a mão.

– Princesa, ninguém pensa isso. Só você. Quanto mais adiar o momento de encarar

as pessoas, mais difícil será.

– Eu descerei na hora do jantar. .

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– Não. Agora.

Samantha umedeceu os lábios secos.

– Não estou com fome – mentiu. – Acho que não conseguirei comer nada.

– O bebê precisa de alimentação. Acredite em mim.

Samantha não resistiu. Como a noite do baile dos Emerson, pousou a mão na dele,

confiante.

– Bom dia, lady Samantha.

– Bom dia, Tinker. – Baixou os cílios. Não queria ver a expressão compassiva do

mordomo.

Rudolf a serviu. Ao ver a quantidade de comida, Samantha protestou:

– Não creio que o bebê tenha tanto apetite assim.

– Pare de comer quando ele estiver satisfeito – Rudolfbrincou. – Ou ela. Onde está o

Times?

– Não recebemos o jornal hoje.

– Nós o recebemos todos os dias!

– Mas hoje não, princesa.

– Quero ler o jornal, Rudolf. Tinker, por favor, traga-me oTimes.

Samantha viu a troca de olhares entre o príncipe e o mordomo, e pôde supor o

conteúdo da coluna social. Contudo, tinha de saber.

Rudolf fitou-a por um longo momento, e com um gesto de cabeça autorizou

mordomo a trazer o periódico. Tinker entregou-o ao príncipe e saiu da sala.

– Está tão ruim assim?

– Ruim é um tanto relativo, princesa.

Rudolf passou-lhe o Times, e ela o abriu devagar. Leu a manchete e sentiu o

estomago revirar.

Era pior do que achara que seria. Em letras garrafais, lia-se

“Casamento em Estilo Russo”.

Empalidecendo, começou a ler o artigo de primeira página. reportagem era rica em

detalhes e terminava com as palavras da princesa Olga definindo a noiva como uma

patética aleijada.

Quase tão abatida quanto no dia anterior, Samantha empurrou o prato e escondeu a

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cabeça nos braços cruzados sobre o tampo da mesa.

– Prometo que nos casaremos em breve. – Rudolf afagou-lhe os cabelos.

– Quero ir para casa.

– Você está em casa, princesa.

– Não. Quero ir para meu lugar.

– Seu lugar é a meu lado.

– Meu lugar é no chalé. Você não quer se casar comigo. Quer dar um nome a nosso

filho.

– Venha cá. – Ele a puxou da cadeira para seu colo. – É verdade que eu não queria

me casar com você. Lutei contra meus sentimentos porque não queria amá-la.

Rudolf a segurou pelo queixo, fazendo-a olhá-lo.

– Seu amor por mim só causou-lhe sofrimento. Planejo passar os próximos

cinqüenta anos recompensando-a pelo mal que lhe causei.

,Abraçando-o, Samantha o beijou.

– Vou levá-la de volta ao quarto, meu amor. No final da tarde, você poderá sentar-se

no jardim com as crianças, que estão muito preocupadas com você.

Mais tarde, sozinha na suíte, Samantha observava o medalhão de ouro. A porta se

abriu e Victória entrou. Aproximando-se de Samantha, sussurrou-lhe:

– Você ainda quer...

Samantha a encarou, muito séria.

– Sim, nós iremos até Montague House.

Rudolf entrou intempestivamente no escritório do duque de Inverary.

– Vou matá-los! – exclamou, tirando um revólver do armário das armas.

Magnus e Robert entreolharam-se espantados, vendo que Rudolf carregava uma

pistola.

– Quem você vai matar? – Robert quis saber.

O príncipe olhou para os dois, como se só naquele momento se tivesse notado a

presença .deles.

– Primeiro, Vladimir e Olga. Depois, aquele maldito repórter do Times.

Robert colocou-se entre o príncipe e a porta. Estendendo a mão, pediu-lhe:

– Dê-me essa arma.

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– Sainantha está sofrendo.

– Se você cometer um crime, ela será mãe solteira.

Rudolf entregou-lhe a pistola.,

– Conhece um bom assassino de aluguel, Robert?

– Ora, Rudolf, você será o principal suspeito.

O príncipe inclinou a cabeça e se sentou numa das cadeiras de frente para a mesa do

duque.

– O que sugerem?

– Se estiver mais calmo até o final da tarde, nós iremos até Montague House.

Rudolf ergueu uma sobrancelha.

– Nós?

– Faço questão de acompanhá-lo – Robert afirmou.

– Essa briga não é sua.

– Você é meu irmão, Rudolf. Sua briga é minha briga.

A facilidade com que aqueles homens o aceitavam surpreendia o príncipe..

– Aceito sua oferta, Robert.

No quarto, Samantha e Victória preparavam-se para sair. Decidiram ir pelos fundos

para não serem vistas. Atravessaram onjardim e chegaram à alameda, a pouca distância de

Park Lane.

Victória acenou para um coche de aluguel.

– Bond Street, por favor – instruiu o cocheiro. – Victória, não acredito que eu tenha

vocação para esse tipo de atividade.

– Deixe tudo comigo. Estou tremendo de ansiedade!

Em minutos, o coche descia a Bond Street.

– Pare na primeira joalheria, por favor. – Quando a carruagem parou, Victória disse:

– Nós vamos parar aqui e, depois, iremos até Montague House. O senhor poderia nos

esperar? Talvez demoremos um pouco.

– Tenho todo o tempo do mundo se tiverem dinheiro para me pagar.

– Nós temos, sim. – Victória abriu a porta e ajudou Samantha a descer. – Sua Alteza

ficará furioso se eu a deixar cair.

Samantha riu, nervosa.

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– Sua Alteza ficará furioso se souber que eu saí de casa! – Não se preocupe. Ele

nunca saberá.

– Tomara! – Samantha apertou a mão da irmã. – O que eu faria sem você, Tory?.

–Nada, receio.

Por sorte, a joalheria estava vazia.

– Em que posso servi-las, senhoras? – perguntou o proprietário, com um largo

sorriso.

– Diga o que você precisa, minha irmã.

Samantha mostrou o medalhão.

– Quero uma réplica desta jóia.

O joalheiro examinou com atenção a peça, sob os olhares ansiodosos das duas

irmãs. Por fim, afirmou:

– Farei o serviço.

– Quanto vai demorar?

– Uma semana ou duas.

– Temos apenas uma hora.

– Trata-se de um caso urgente de vida ou morte – Samantha

acrescentou às palavras de Victória.

O joalheiro meneou a cabeça.

– Ninguém faria esse serviço nesse prazo, senhora.

– O senhor tem um medalhão mais ou menos do mesmo ta

manho? – Victória indagou.

– Creio que sim.

– Tem réplicas em ouro de Vênus e Cupido que se encaixem

nele?

– Talvez. Vou verificar.

– Não entendi, Tory. Em que está pensando?

– Ele pode pegar uma Vênus e um Cupido e juntá-los no medalhão do tamanho

deste.

– Tory, você é tão esperta!

– Eu sei.

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– Nesse caso, as senhoras teriam de arcar com as outras duas jóias.

– Senhor, minha irmã é noiva do príncipe Rudolf Kazanov, da Rússia. Dinheiro não

é problema..

Uma hora depois, Samantha e Victória deixavam o estabeleci mento carregando a

réplica que lhes custara mil libras.

– Montague House – Victória ordenou ao cocheiro.

Ao chegarem diante da mansão, Samantha lembrou-se da noite em que ela e Rudolf

estiveram antes de fugirem para a Escócia.

– Espere por nós, sim? – Victória desceu do coche e tornou a ajudar a irmã.

Tremendo, Samantha subiu a escada atrás da caçula. Se a irmã não estivesse com

ela, jamais teria coragem de chegar àquela casa.

– Deixe que eu falo, Samantha.

– Não, Tory. O problema é meu. Trouxe a adaga?

– Está presa em minha perna.

Com a mão trêmula, Samantha bateu a aldrava. Um momento depois, uma figura

familiar atendeu.

– Igor! – Samantha exclamou.

– A noiva do príncipe Rudolf! O que quer aqui?

Samantha endireitou os ombros.

– Falar com o príncipe Vladimir.

– Não posso garantir sua segurança.

– Se bem me lembro, na última vez, foi você quem ameaçou minha segurança.

Agora, estou preparada para o inesperado. Trouxe minha irmã comigo.

O gigante russo estudou a garota de cabelos ruivos e disfarçou um sorriso.

– Victória é mais forte do que parece. Abra a porta e deixe-nos entrar.

Igor recuou, dando-lhes passagem.

– Sigam-me.

O russo conduziu-as por um corredor até a sala onde Samantha e Rudolf jantaram

na véspera de ano-novo. Vladimir e Olga espantaram-se ao vê-las.

– Ora, mas não é aquela aleijadinha patética? – Olga arqueou uma sobrancelha bem

delineada.

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Num movimento rápido, Victória inclinou-se para alcançar a adaga.

– Pare de insultar minha irmã ou serei obrigada a cortar-lhe a língua! – Virando-se

rápido para a direita, encostou a adaga na virilha de Igor. – Fique onde está, ou ocupará o

lugar da soprano na ópera.

– Tenho uma pistola na bolsa – Samantha mentiu.

O príncipe Vladimir avaliou Samantha dos pés à cabeça, e acenou para Igor sair da

sala.

– Em que posso ajudá-la, milady?

Olga antecipou-se:

– Penso que seria apropriado apresentar-lhe minhas congratulações.

– Como assim?

– Dentro de alguns meses, nós duas teremos algo em comum:

um filho do bastardo.

Samantha cerrou os punhos. A bela e graciosa loira não tinha coração. Além disso,

como sabia da gravidez?

Em vez de responder à princesa, Samantha falou com a irmã:

– Victória, se essa bruxa pronunciar a palavra “bastardo” de novo, corte a língua

dela. .

– Com prazer.

O príncipe riu, sendo fulminado pelo olhar de Olga.

– Meu irmão sabe que está aqui, milady? Ah, já vi por suaexpressão que ele não

sabe...

– Você irá embora da Inglaterra e deixará Rudolf em paz se eu lhe entregar o

Kazanov Vênus?

Mais uma vez, Olga antecipou-se:

– Não quer ter um...

Ao ver Victória dar um passo à frente com a adaga na mão, a princesa se corrigiu a

tempo:

– Não quer ter um filho sem ser casada?

– Olga, fique quieta – Vladimir ordenou e se voltou para Samantha. – Já lhe disse

que deixarei meu irmão em paz se eu recuperar a Vênus. Não quero magoar Rudolf. Afinal,

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temos a mesma mãe.

Samantha abriu a bolsa e retirou o saco de veludo branco. Colocou-o sobre a mesa.

– Aqui está sua preciosa jóia, Agora, poderá deixar a Inglaterra. Vamos, irmãzinha.

De cabeça erguida, Samantha e Victória saíram da sala de jantar.

Uma vez fora das vistas do príncipe, correram até chegar na rua. ..

Entraram rápido no coche e ordenaram em uníssono:

– Park Lane!

Enquanto Samantha esgueirava-se pelo quarto de Rudolf para ir guardar o

medalhão, Rudolf e Robert estavam a caminho de Montague House.

Com o apoio do meio-irmão, Rudolf pretendia persuadir VIadimir e Olga a

admitirem o divórcio e voltarem para a Rússia.

Estava disposto a pagar o que eles pedissem, mas não entregaria o Kazanov Vênus.

Considerava o medalhão como uma espécie dereparação pelos sofrimentos da mãe, porque

sabia que essa peça era importante para Piotr Kazanov.

– Parece que hoje é o dia das visitas! – Igor brincou, abrindo a porta.

– Quero falar com Vladimir.

Igor afastou-se para Rudolf e Robert entrarem. Olhou para o

príncipe, parecendo intrigado, e com um sorriso nos lábios.

– Alteza, estou curioso de...

– Lady Samantha surrupiou as chaves de seu bolso – Rudolf o interrompeu. – Ela é

expert em roubos de carteira.

Igor soltou uma gargalhada.

– Sua noiva parece tão dócil!

– Minha oferta de emprego ainda está valendo.

– Vou considerá-la, Alteza. Sigam-me.

Igor os conduziu até a sala de estar..

– Espero que estejam apreciando minha hospitalidade – Rudolf disse, ao adentrar o

recinto.

– Você parece bem, meu irmão – VIadimir o cumprimentou.

– Nunca estive melhor.

– Um bastardo por um bastardo... – Olga fez um esgar.

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– Que pitoresco!

Rudolf surpreendeu-se por Olga saber da gravidez de Samantha. Olhou com

desprezo para a ex-esposa. Não se conformava de ter sido enganado por aquele rosto

bonito. Não havia ternura nela. Olga nunca se interessara nem pela filha.

– Por que o espanto? – Ela riu. – Os criados contam aos outros criados, que contam

a outros... Você sabe como é.

– Por pouco não encontrava sua amada, Rudolf. Lady Samantha e a irmã vieram nos

visitar.

Rudolf ficou tenso à menção de Samantha, todos os músculos do corpo se

contraindo, pronto para avançar no irmão. Sentiu o toque de Robert em seu braço, pedindo-

lhe calma.

– Não acredito.

– Lady Samantha quer assegurar-se de que não dará à luz umbastardo. – Olga

suspirou. – E trouxe a irmã para protegê-la. Aquela de cabelos vermelhos.

– Querida, de que cor mesmo era o vestido dela? – Vladimir beijou a mão de Olga.

– Azul, não?

– Sim, o vestido era decididamente azul.

Apesar da expressão impassível, Rudolf sentia o sangue fervendo. Samantha estava

de vestido azul, e ele a proibira de sair da mansão sem permissão e acompanhante. O que a

incitara a desobedecê-lo, e pior, para procurar Vladimir?

– Não lhe entregarei a Vênus.

– Na verdade, Rudolf, já começamos a fazer as malas. Iremos embora dentro de

poucos dias. – Vladimir deu risada. – Lady Samantha foi muito gentil em nos trazer o

medalhão.

Rudolf esforçou-se para não perder o controle.

– Mentira! Samantha jamais...

Vladimir abriu o saco de veludo branco. Pegou a jóia e exibiu-a para a inspeção de

Rudolf.

O príncipe não podia acreditar. Samantha o traíra! Sob a aparente ternura e

docilidade, havia um coração inescrupuloso. Confiara nela, e fora traído. A prova estava na

mão de Vladimir.

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A partir daquele momento, Samantha viveria para arrepender se de seu ato.

– Desde que você tem a Vênus, espero que não se oponha a assinar um documento

declarando que Rudolf e Olga estão divorciados – Robert interveio, conciliador. – Minha

cunhada não tem nada a ver com a briga de vocês e não deve ser condenada a ser mãe

solteira.

Vladimir inclinou a cabeça, concordando. Levantou-se da cadeira e foi até uma

mesa, de onde voltou com papel, pena e tinteiro

– Você não vai fazer isso! Deixe o bastardo gerar um bastardo.

– Lady Samantha parece ser uma criança doce com a cabeça no lugar, Olga. Você,

minha querida, não tem alma.’

– Eu não assinarei esse papel.

– Assine se não quiser se arrepender – Vladimir ameaçou-a.

Olga voltou-se para Rudolf.

– Quero visitar Zara antes de partir.

– Você a verá apenas em minha presença. Vá amanhã à mansão CampbeIl. .

– Assine. – Em seguida, VIadimir entregou o documento a Rudolf, acrescentando: –

Faço isso por lady Samantha, não por você.

– Eu não esperava outra coisa.

– Não seja muito severo com ela, Rudolf. Milady teve boas razões para entregar-me

o Vênus.

Rudolf saiu sem se despedir. Entrou na carruagem e ficou olhando fixo para a

frente. Estava furioso e humilhado. E como desprezava Samantha! Fora enganado por sua

aparência dócil, gentil, carinhosa.

– Pelo que vejo, eu diria que Samantha está em apuros. Quero lembrar que ela

espera um filho seu....

– Eu não esqueci, Robert. Diga ao cocheiro para nos levar até o bispo. Samantha e

eu nos casaremos hoje mesmo na mansão CampbeIl. Aceita ser meu padrinho?

– Eu me sentirei honrado se você prometer não agredi-la. Se bem que não considero

algumas palmadas como agressão.

– Bem que tenho muita vontade de dar umas boas palmadas em Samantha e na irmã.

No final da tarde, na sala de música, Samantha tricotava um cobertor para o bebê.

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Sweeting, as crianças e Giles também estavam lá. Victória distraía-os com sua flauta.

– Sweeting, leve as crianças para cima – Roxie ordenou, entrando apressada. –

Samantha e Victória, Sua Alteza exige apresença de vocês no escritório do duque.

Samantha sentiu medo. Olhou para Victória, que encolheu os ombros.

No escritório, além do duque, Robert e Rudolf, achava-se tamhém o bispo.

Rudolf estava tenso, os músculos faciais contraídos, o cenho franzido.

– Fique aqui, Samantha. O bispo vai nos casar.

O coração dela começou a bater mais rápido.

– Agora? Eu não entendo.

– Não há o que entender. O bispo está aqui para fazer nosso casamento.

– Não. Eu quero esperar.

– Até parir o fedelho?

Samantha arregalou os olhos, aturdida e surpresa. Sem dizer nada assustada.

Balançando a cabeça, recuou. Rudolf agarrou-a pelo braço e puxou-a para perto dele.

– Vai se casar comigo agora, se não quiser apanhar na frente de todos. Ninguém

nesta sala intercederá por você!

Ela olhou para a tia, mas Roxie desviou o olhar. Em silêncio, apelou para o duque,

que fez o mesmo. Imaginando que o marquês também se recusaria, desistiu.

– Pode largar meu braço. Eu me caso com você.

Rudolf não a soltou.

– Por favor, você está me machucando!

Ele afrouxou os dedos, sem, contudo, soltá-la.

Com surpreendente rapidez, o bispo declarou-os marido e mulher. No mesmo

instante, o duque conduziu o sacerdote para fora do escritório.

– Vamos até a sala de estar para brindarmos ao feliz casal!

Casal feliz? Samantha estava em pânico. O príncipe parecia pronto para matá-la!

Todos se comportavam de modo estranho. Roxie agarrou o pulso de Victória e

tirou-a dali. Robert seguiu-as, fechando a porta e deixando Samantha sozinha com o

marido.

Ela fez menção de sair, mas Rudolf impediu-a.

– Você fica. Temos um assunto muito importante para discutir.

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– Não estou me sentindo bem, Rudolf. Podemos adiar a discussão para mais tarde?

-Não!

Samantha respirou fundo, resignada.

– O que quer?

– Você me desobedeceu. Nem pense em mentir. Sei que saiu de casa sem permissão

e sem acompanhante.

– Eu estava acompanhada.

– Não considero sua innã uma acompanhante apropriada.

– Desculpe-me. Eu não pretendia desobedecer...

– Aonde foi? – Rudolf a obrigou a encará-lo.

– O que você está pensando? Que saí para encontrar um amante ou...

– Não seja ridícula! Sou o único imbecil em Londres a ser enganado por uma pa... –

e se calou a tempo de não pronunciar as duas palavras tão terríveis.

Samantha começou a tremer, com a ira quase a sufocá-la.

– Também acha que sou uma patética aleijada, não? Por que está fazendo isso

comigo?

Ele a segurou pelos ombros.

– Eu sei que você roubou o medalhão e entregou-o nas mãos de Vladimir.

– Não, não é nada disso! Eu posso explicar...

Fora de si, Rudolf chacoalhou-a até a cabeça dela pender para o lado. Depois,

soltou-a tão bruscamente que Samantha quase caiu. Num instante, as mãos dele estavam

prontas para ampará-la.

– Vá para seu quarto. Vou juntar-me aos outros para brindar ao feliz casal.

Samantha apoiou-se na porta e pediu:

– Deixe-me explicar, por favor. Estou implorando que me ouça!

– Saia de minha frente! Vencida, Samantha deixou o recinto. Vertendo lágrimas

amargas, foi para a suíte e trancou-se.

Deitou-se, esperando pela punição que seu marido lhe reservara. Pela primeira vez,

não se preocupou em agradecer a Deus pelas bênçãos. Não havia nenhuma.

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Samantha não entendia por que Rudolf negara-se a ouvi-la.

Sentada perto da lareira, alisou a camisola transparente. Passada a crise de choro,

lavou-se e pôs a camisola. Afinal, aquela era sua noite de núpcias e, na certa, o príncipe iria

procurá-la. E então, iria explicar-lhe tudo.

As horas passaram. O ruído vindo da sala de jantar cessara fazia muito tempo, e a

mansão estava silenciosa.

Samantha não conseguia dormir. Poderia ir ao quarto do príncipe. Por que não? Ele

era seu marido, e não seria inconveniente procurá-lo. Rudolf poderia estar sonolento, e mais

propenso a ouvi-la.

Respirou fundo e saiu. Hesitou por alguns segundos antes de abrir a porta dos

aposentos dele. Entrou e acendeu uma vela. Olhou ao redor.

A cama estava vazia e arrumada.

Confusa, deu meia-volta. De repente, sentiu o sangue gelar nas veias e a respiração

presa. Em traje de gala, mais bonito do que nunca, Rudolf estava à soleira, observando-a.

– Procurando alguma coisa para roubar? – indagou com ironia.

– Aonde foi vestido assim?

O príncipe se aproximou. Seu olhar intenso, ardente, parecia queimar-lhe a pele sob

a camisola transparente. Não havia amor na expressão dele, nem mesmo desejo. Só raiva

mal contida.

– Quem faz as perguntas aqui sou eu. Você veio roubar mais lguma coisa?.

–Pensei que você iria até meu quarto...

– Nosso casamento foi consumado antes da cerimônia. A prova está crescendo

dentro de você.

Samantha refletiu por alguns momentos, buscando as palavras mágicas que

derrubassem as barreiras entre eles. .

– Quero explicar sobre hoje. – Ergueu as mãos trêmulas num gesto súplice.

Rudolf olhou para as mãos dela, e deu-lhe as costas.

– Não quero ouvir mentiras às três da madrugada. Volte para seu quarto.

– Tenho de explicar, Rudolf.

– Não me faça perder a paciência, princesa. – Com a ponta dos dedos, ergueu-lhe o

queixo. – Hoje você jurou obediência perante Deus. Será que já vai quebrar o juramento?

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– Eu só quero dizer...

Rudolf cruzou os braços. O silêncio dele a desencorajou. Samantha hesitou por uma

fração de segundo, mas depois, caminhou em direção à saída.

– Por que você não me ouve? – ela ainda pediu antes de sair.

Rudolf ignorou a súplica.

– Se eu a encontrar em meus aposentos de novo, não serei nada gentil. Agora vá.

Não precisarei de você esta noite. Está dispensada.

– Você vai se arrepender. Jamais o perdoarei. Jamais. – Assim dizendo, Samantha

se foi.

Rudolf soltou os braços ao longo do corpo. Angustiado, admitia que fora muito

cruel com a mulher amada. Mas Samantha o traíra, roubando o medalhão para entregá-lo a

Vladinllr e Olga. Ela sabia como era importante para ele conservar a jóia.

Rudolf não a perdoava por esse ato. Precisava feri-la para aplacar a própria dor.

Ao acordar, na manhã seguinte, a primeira coisa que Samantha fez foi procurar o

pão na mesa-de-cabeceira. Não encontrou nada.

Mais uma decepção. O marido a desprezava. O sonho que acalentara durante anos

desintegrava-se sob o desprezo dele.

Levantou-se e, depois da higiene pessoal, vestiu-se. Talvez tivesse uma

oportunidade de explicar-se durante o desjejum.

E então, o orgulho dos Douglas rebelou-se dentro dela. Depois de tudo o que Rudolf

dissera na véspera, não merecia nenhuma explicação. Ele que pensasse o que bem

entendesse! Esperava nãoencontrá-lo à mesa do café..

Tentou aparentar indiferença ao entrar, na sala. Rudolf ainda estava lá.

Ignorando-o, ela foi direto ao bufê.

-– Bom dia, Tinker – cumprimentou-o sorrindo.

– Bom dia, lady Samantha.

– Ela não é lady Samantha.

Samanthli e Tinker olharam-no confusos.

– Como assim? – o mordomo indagou.

Com relutância, Rudolf fitou-a, contrariado com sua presença. – Ela é Sua Alteza,

princesa Samantha.

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– Minhas mais sinceras desculpas, Alteza.

– Não precisa me tratar assim, Tinker.

Rudolf bateu o punho na mesa. Samantha e Tinker entreolharam-se, assustados.

– Precisa, sim, se eu estou ordenando!

Samantha não respondeu. Apesar de ter perdido o apetite, serviu-se de ovos

mexidos e pão com manteiga. Preferiu sentar-se no outro extremo da mesa, bem longe do

príncipe.

Tinker aproximou-se e entregou-lhe o Times.

– Sua Alteza mandou-lhe isto.

– Obrigada, Tinker.

Samantha abriu o jornal direto na página da coluna social. Como previa, mais um

comentário sobre as andanças noturnas do príncipe, sempre rodeado por mulheres lindas.

Sentiu os primeiros sintomas da raiva.

Seu marido passara a noite de núpcias dançando com as solteiras mais bonitas de

Londres!

– Sua Alteza está tentando estimular minhas idéias?

– Como assim?

– Eu posso, de repente, seguir seu exemplo.

– Nem ouse brincar comigo, Samantha. Você não me vencerá.

Samantha arqueou uma sobrancelha.

– Não estou brincando, Alteza. Estou falando sério.

– Tente e eu a mandarei...

Samantha ergueu-se tão rápido que derrubou a cadeira.

– Irá me internar num manicômio?! O louco aqui é você, que passou nossa noite de

núpcias dançando! Oh, Deus, como eu gostaria de nunca tê-lo conhecido!

– Já terminou sua encenação? – Os lábios dele se curvaram, cínicos.

Samantha não respondeu. Seus olhos encheram-se de lágrimas, e mal disfarçando a

náusea, cobriu a boca com a mão e correu para a porta.

– Pare!

Ela parou e virou-se, um fio de esperança brilhando nos olhos azuis úmidos.

O príncipe reclinou-se na cadeira.

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– Céus, você está se tornando entediante demais. Não consegue fazer outra coisa

além de chorar e vomitar?.

Samantha teve de se controlar para não chamá-lo de bastardo.

Rudolf a ofendera, mas ela não tinha coragem de magoá-lo.

– E então? – ele perguntou no mesmo tom desdenhoso.

– Pelo jeito, não, Alteza. – Dando-lhe as costas, ela saiu da

sala.

– Bravo, Alteza! – Tinker disse, parado ao lado do bufê. Haverá um bis?

– Como disse?

Tinker não respondeu.,

– Traga-me outra xícara de café.

O mordomo olhou para o príncipe, dizendo:

– Pegue o senhor mesmo! – E Tinker deixou o príncipe sozinho.

No final da tarde, Samantha.e a sra. Sweeting sentaram-se no Jardim, com Giles

deitado aos pés delas. As crianças brincavam e corriam pelo gramado.

– Lady Samantha, posso sentar-me com você?

Era Alexander Emerson. Samantha recebeu-o com um sorriso caloroso. Aquele era

um amigo de verdade.

– Gostaria de conversar. Em particular, se possível.

– Claro. Sweeting, leve as crianças para dentro.

– Vamos, garotos – a babá chamou-os. – Hora do lanche! Samantha esperou até vê-

los entrar na mansão e indicou o banco de pedra.

– Sente-se aqui, milorde. Que bom vê-lo de novo.

– Tenho negócios com Sua Graça e pensei em chegar alguns minutos antes para

conversar com você. Tudo bem?

Samantha tentou sorrir, mas seus lábios tremeram. As lágrimas subiram-lhe aos

olhos.

– Você deve ter lido no Times sobre o fiasco que foi meu casamento.

– Samantha, sei que sua tia quer acertar um compromisso entre mim e Tory, mas se

precisar de um pai para seu filho, ficarei orgulhoso de me casar com você. Prometo cuidar

bem de vocês dois. – Os olhos castanhos cintilavam de compaixão.

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A gentileza de Alexander era tocante. Samantha caiu em prantos. Ele a enlaçou

pelos ombros.

– O que aconteceu? Se eu puder ajudar de algum modo...

– Rudolf e eu nos casamos ontem aqui mesmo, na mansão.

Eu gostaria de nunca tê-lo conhecido.

– O que posso fazer por você, Samantha?

– A primeira coisa é tirar as mãos de cima de minha esposa!

– Rudolf esbravejou, aproximando-se.

Assustada, Samantha afastou-se de Alexander. Temia a reação do príncipe.

Alexander se pôs de pé e enfrentou-o.

– Por que sua mulher está chorando nos braços de outra pessoa, um dia depois de se

casar? O que fez a ela?

– Meu casamento não é assunto seu.

– Eu o estou tornando assunto meu.

– Não tolerarei violência em minha casa – o duque Magnus interveio, saindo da

mansão.

– Apenas perguntei a Samantha como estava, e ela começou a chorar, Vossa Graça.

Algo está errado.

– O que quer que esteja errado, a culpa é dela. – E, voltando-se para o príncipe,

Magnus disse: – Tenho assuntos para tratar com Alex e convidei-o a vir aqui. Não há

necessidade de desafios. Por que não conversa com sua esposa?

O duque lançou a Samantha um olhar de reprovação, dando a entender que a

inimizade entre os dois homens era também sua culpa.

– Você ficará bem se eu a deixar sozinha com ele? – Alexander relutava em entrar

com o duque.

– Vá tranqüilo. – Samantha permaneceu de olhos baixos, temendo enfrentar o

marido.

– Já decidi qual será sua punição – Rudolf comunicou assim que ficaram a sós.

-Você não faria nada para prejudicar meu bebê. – Ela arriscou-se a olhá-lo e

percebeu um lampejo diferente nos olhos do príncipe.

– Eu jamais a agrediria, princesa. – E ofereceu-lhe a mão como na noite do baile dos

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Emerson.

Samantha aceitou-a e levantou-se do banco.

– Venha comigo. Você ficará fechada em seus aposentos até Vladimir ir embora de

Londres. Assim que ele partir, eu me mudarei para Montague House, e você irá para Sark

Island, onde ficará confinada. Claro, estarei lá na época do nascimento de nosso filho.

No terceiro andar, ele abriu a porta do quarto. Antes de entrar, Samantha indagou:

– O que dirá às crianças?

– Acharei uma desculpa plausível. .

Cabisbaixa, ela entrou no quarto. Ouviu-o girando a chave na fechadura. Sim, era

prisioneira do príncipe. Em Sark Island, a situação seria ainda pior. Todos eram

empregados leais a Rudolf, e ela não teria um rosto amigo a seu lado.

Sentou-se perto da lareira e começou a tricotar. Mais tarde, ouviu batidas na porta.

– Quem é?

– Tory.

Samantha correu para a porta.

– O príncipe me deixou trancada aqui. Em poucos dias, me mandará para Sark

Island.

– Aonde ele vai ficar?

– Em Londres.

– Eu o farei ouvir a verdade.

– Não se preocupe, Tory. Depois de ontem, não o quero mais.

– O que houve?

– Eu estava no quarto dele justo quando Rudolf chegou de mais uma noitada. E se

recusou a ouvir minha explicação, expulsando-me de lá. – A voz dela falhou. – Rudolf me

magoou, Tory. Eu quero ir para o chalé...

– Você viveria sozinha lá?

– Por que não? Talvez, se eu for embora, Rudolf enxergue as coisas de um modo

diferente e me perdoe.

– É ele quem deveria implorar seu perdão. Vou preparar uma sacola de suprimentos.

Amanhã, eu a ajudarei a fugir.

– Tory, como vou sair se a porta está trancada?

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– Pule a janela e desça pela árvore.

– São três andares! E se eu cair?

– Aí, você não precisará se preocupar mais com o príncipe.

– O quê?

– Samantha, não seja idiota! Eu subo na árvore e ajudo você.

Jogue algumas roupas numa sacola. Até amanhã.

– Eu te amo, Tory.

– Também te amo.

Depois da higiene pessoal, Samantha se vestiu. Escolheu um vestido mais velho,

que pudesse usar no chalé. Não queria chamar atenção de ninguém com as roupas que o

príncipe e o duque tinham lhe comprado.

Abriu ajanela e respirou fundo. A primavera estava no ar. Não via a hora de sentir o

sol no rosto. Naquela tarde, no chalé.

Ouviu o ruído da chave na fechadura.

– Desjejum, princesa.

Samantha virou-se para Rudolf.

– Vai mesmo manter-me prisioneira?

Rudolf ignorou a pergunta.

– Coma.

Ela se sentou e inspecionou a bandeja. O príncipe enchera o prato com uma

montanha de ovos mexidos, muitas fatias de presunto e dois pães com manteiga. Ao lado

do prato, o Times.

– Está generoso esta manhã! Ou Vossa Alteza acha que meu apetite aumentou da

noite para o dia?

Ele continuou calado.

Ela partiu o pão e comeu um pedaço. Rudolf parecia relutante em sair. De braços

cruzados, observava-a, apoiado no parapeito da janela:

– Desistiu de ler o jornal? – ele perguntou, por fim.

Samantha olhou para ele e para o Times.

– Não estou mais interessada em sua vida social, Alteza.

– Que mudança radical! – Ergueu uma sobrancelha num gesto sarcástico.

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– Perdi o interesse por sua vida social, assim como perdi o interesse por você.

– Estou tão desapontado! – Rudolf ironizou.

Irritada, Samantha empurrou a bandeja, jogando-a no chão.

– Deveria controlar esses seus achaques, princesa.

– Nunca tive achaques antes de conhecê-lo!

– Tenha um bom dia. – Rudolf atravessou o aposento e saiu. Samantha ouviu-o

trancando a porta. Pegou o jornal e abriu-o na página da coluna social. Em seguida, como

sempre, chorou.

Mais tarde, Samantha ouviu uma batida.

–Quem é?.

–Tenho uma charrete na alameda – Victória sussurrou.

–Está pronta?

– Estou.

– Jogue sua sacola pela janela. Vou ajudá-la a descer.

– Não quero ser flagrada, Tory. Você sabe onde está meu marido?

– Na sala com Zara. A princesa Olga virá visitar a filha. Estou indo.

Samantha jogou a sacola de roupas e a capa pelajanela. Victória apareceu momentos

depois e subiu no carvalho..

– Bom dia, irmã. – Sorrindo, ela sentou-se no parapeito.

– Tory, não sei se vou conseguir.

– Você quer viver reclusa em Sark Island enquanto Rudolf continua em Londres,

fazendo amor com todas as beldades disponíveis .

– Se eu cair, poderei prejudicar meu bebê!

– Ora, Samantha, até parece que nunca desceu de árvores antes! É só tomar

cuidado!

Elas desceram em silêncio. Victória foi a primeira a pisar no chão, e sustentou a

irmã.

– Chegamos!

As duas entreolharam-se e sorriram. Pegaram a sacola e a capa e, de mãos dadas,

correram pelos fundos em direção à alameda onde a charrete as aguardava.

Victória sentou-se no lugar do condutor. Ao lado dela, Samantha respirou fundo.

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Enfim, estava livre.

Seu coração doía pelo marido, mas não suportaria mais um único dia de crueldade.

Alcançando Park Lane, elas seguiram para Oeste, em direção Primrose House

Nenhuma das duas notou a exuberante loira na carruagem que acabara de estacionar na

porta da mansão Campbell. Tampouco notaram que a mesma carruagem seguia a charrete a

uma distância discreta.

Vinte minutos depois, chegavam ao chalé.

As lembranças da véspera do ano-novo voltaram à memória de Samantha. Ali ela e

Rudolf tinham pernoitado antes de seguirem viagem para a Escócia.

– Você vem? – A indagação de Victória despertou-a das recordações.

Com o peito dolorido, Samantha desceu do veículo.

– Ontem, eu estive aqui e trouxe comida – Victória informou, pegando a sacola e a

capa da irmã. – Na semana que vem, trarei mais. Quer que eu fique com você?’

– Não, obrigada, Tory. Preciso ficar sozinha. Você me faz outro favor?

Victória sorriu.

– É lógico, meu bem.

–Quero que convença Graut e Drake de que não os abandonei.

Diga-lhes que eu voltarei logo. Não deixe o príncipe saber de meu paradeiro.

– Prefiro morrer a revelar onde você está.

Samantha a abraçou.

– Obrigada, Tory.

Victória subiu na charrete, acenou e partiu em direção a Londres. Samantha

apanhou suas coisas e entrou no chalé. Esperava estar fazendo a coisa certa.

Na mansão CampbelI, Rudolf andava impaciente pela sala de ostar. Parou e

verificou as horas no relógio de bolso.

Olga estava quarenta e cinco minutos atrasada. Por conta disso, ele só veria

Samantha depois de sua reunião com o duque e o marquês. Não poderia viver assim pelo

resto da vida, e estava cansado de tantos bailes e outros compromissos sociais.

Samantha o amava, e ele devia-lhe o respeito de ouvir suas explicações. Como o

próprio VIadimir afirmara, Samantha tinha boas razões para ter lhe entregado o medalhão.

Talvez nem ela mesma tivesse entendido o significado de suas ações.

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– Alteza, a princesa Olga chegou – Tinker anonéiou. – Traga-a aqui. Depois, chame

Zara e a sra. Sweeting.

Logo, Olga entrava na sala. Rudolf não entendia como, um dia, pudera amar aquela

mulher. Sim, Olga era linda, mas muitas cobras venenosas também eram.

– Rudolf, que prazer revê-lo... – Ela ofereceu-lhe a mão. O príncipe ignorou o gesto

e o cumprimento.

– Zara já vem.

–Você já se casou com a aleijadinha?

Rudolf cerrou os maxilaress. Olga estava procurando briga. Decidiu desapóntá-la, e

inclinou a cabeça, confirmando.

– Onde está a nova princesa? -inquiriu. – Pensei em encontrá-la aqui também.

– Samantha tem outras ocupações e jamais interferiria em sua visita a Zara.’

– Espero que não perca sua esposa por pura falta de atenção. – O que quer dizer?

Olga deu risada.

– Estou acompanhando sua vida social pelo Times.

Rudolf não respondeu.,

– Aquela irmã com cabelos de fogo deveria ser castigada por sua insolência.

O príncipe arqueou as sobrancelhas.

– Está se referindo a lady Victória?

– Victória não é lady. Imagine que ela ameaçou-me com uma adaga!

Rudolf sorriu. Não podia se esquecer de agradecer à jovem cunhada pela lealdade a

sua esposa.

-– Você castigou sua mulher pela traição, Rudolf?

– Veio até aqui para interrogar-me sobre Samantha ou para visitar Zara?”

– Meu querido, vim para as duas coisas.

– A propósito, por que quis visitar Zara? Ela mal a conhece.

Afinal, você nunca mais se interessou pela menina desde que soube que eu era...

– Bastardo? – Olga terminou por ele. “

Rudolf engoliu em seco.

– Cá estão elas. Sweeting, entre e feche a porta.

– Zara, meu bem, venha dar um abraço na mamãe. – A princesa abriu os braços para

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a filha.

Assustada, a menina agarrou a mão do pai.

– Onde está minha outra mãe? – Zara perguntou a Rudolf.

– Eu sou sua mãe, queridinha.

Zara balançou a cabeça, discordando.

– A outra mãe brinca comigo e nós olhamos as nuvens juntas.

– Zara está se referindo a Samantha – Rudolf explicou-lhe.

Olga revirou os olhos.

– Ela brinca com crianças? Que burguesa! – Olhando para Zara, disse: – Lady

Samantha não é sua mãe. Eu sou.

A menina encolheu-se e se dirigiu ao pai.

– Lady Samantha é minha mãe?

– Sim, meu amor, é uma mãe de verdade que ama e cuida muito bem dos filhos.

– Você é muito indulgente com essa garota, Rudolf – Olga repreendeu-o, irritada. –

Ela precisa ser educada de maneira adequada.

– Sweeting, não perca Zara de vista nem por um instante e por nenhuma razão –

Rudolf ordenou à babá. Depois, pegou no braço da ex-mulher. – Seu tempo se esgotou,

Olga. Zara não quer nada eom você. Volte para a Rússia com Vladimir.

O príncipe acompanhou a princesa até o hall. Em vez de esperar pelo mordomo, ele

mesmo abriu a porta e empurrou-a para fora.

– Foi um prazer revê-la. – Girando nos calcanhares, Rudolf ordenou a Tinker: – Se

essa mulher aparecer por aqui de novo, não permita que entre nesta casa.

– Compreendi, Alteza.

Em seguida, foi direto até o escritório do duque. Magnus e Robert estavam a sua

espera.

– Uísque? – Robert ofereceu.

– Aceito, obrigado. – O príncipe bebeu o deinque de um só gole. – Minha ex-esposa

acabou de sair. Dei instruções a Tinker para não deixá-la mais entrar aqui.

– Alteza, você e minha sobrinha ainda não entraram num acordo – o duque Magnus

observou.

– Vejo que Vossa Graça já leu o Times.

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– Estou começando a duvidar de que fizemos bem em permitir esse casamento,

independente da gravidez.

– Hoje mesmo vou ter uma longa conversa com Samantha. Rudolf explicou-lhe. –

Creio que ela não entendeu as implicações de seu gesto.

– Fico feliz em saber disso. – O duque sorriu, aliviado. – O nascimento dessa

criança acabará com as diferenças entre vocês.

– Não há nada como a maternidade para acalmar uma mulher.

– Robert tomou um gole.

Rudolf deu risada.

– Espero que sim...

O duque tossiu de leve.

– Antes de tratarmos de negócios, quero falar sobre outro tema. – Vossa Graça pode

falar com franqueza.– Quero saber se você pode superar sua animosidade por Alexander

Emerson e recebê-lo na família num futuro próximo, Alteza.

O príncipe olhou para o duque, desconfiado.

– Roxie quer um casamento entre Alexander e Victória, o duque prosseguiu. – A

sobrinha mais nova de minha esposa impulsiva e rebelde. Por ter sido criada com muita

liberdade, indisciplinadíssima. Roxie acredita que Alexander é forte o suficiente para

controlar Victória.

– Estou disposto a suportá-lo, desde que fique longe de minha mulher.

– Ótimo. Alexander e eu acertamos o contrato de casamento ontem. Claro, ele

esperará mais um ano para Victória amadurecer,

– Ela sabe que está noiva? – Robert indagou.

– Oh, céus, não! – O duque ergueu as mãos. – Alexander insiste em cortejá-la antes.

– E se Victória não gostar dele?

– Ela se casará com Alexander de qualquer jeito, Alteza, mas se rebelará até o

último momento, podem apostar. Victória ficará furiosa.

Robert achou graça.

– O pobre Alexander pensou que ia levar a doce e submissaSamantha e ficará

mesmo é com o furacão da família.

Uma batida na porta e Tinker entrou.

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– Alteza, três cavalheiros estão a sua espera. Dizem ser seus irmãos.

– Mande-os entrar.

Em segundos, Rudolf levantou-se e abraçou cada um deles. – Vossa Graça, estes

são Viktor, Mikhail e Stepan. Irmãos, este é o tio de minha esposa, o duque de Inverary, e

seu filho, também meu cunhado, o marquês de Argill.

Todos apertaram-se as mãos.

– Viktor é muito parecido com Vladimir – Robert notou.

– Eles são gêmeos. – Rudolf ergueu um ombro. – VIadimir é dois minutos mais

velho, o que é uma pena.

– Sentem-se, por favor – o duque convidou-os. – Robert sirva-lhes uísque.

– Vladimir tentou matar-me por causa do Vênus – Rudolf contou aos irmãos. – Olga

está em Londres com ele.

– Os dois se casaram depois que você partiu da Rússia

Viktor informou.

– Há quanto tempo você está casado? – Mikhail quis sab~r.

– Dois dias.

– E está aqui conosco em vez de estar com sua esposa, providenciando um filho? –

Stepan deu risada.

– Já cuidei disso antes do casamento!

Depois de conversarem ainda por alguns minutos, o duque de lnverary se ergueu.

– Vamos nos juntar às senhoras para nsso chá. – Ele olhou para os príncipes. –

Altezas?

Os irmãos Kazanov entreolharam-se e riram.

– Chame-me de Viktor.

– Eu sou Mikhail.

– E eu, Stepan.

– E eu sou Rudolf.

Magnus sorriu, emocionado, e os dois apertaram-se as mãos.

Rindo e falando ao mesmo tempo, todos se foram em direção à sala de estar.

Encontraram a duquesa sentada numa cadeira de espaldar alto, e Victória, no sofá.

Rudolf fez as apresentações:

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– Vossa Graça, estes são meus irmãos, Viktor, Mikhail e Stepan.

– É um prazer conhecê-los, enfim.

– E esta jovem é Victória, a irmã caçula de minha esposa.

– Bem-vindos à Inglaterra – Victória saudou-os, toda sorridente.

– Que cor interessante de cabelos! – Mikhail exclamou, sentando-se ao lado dela.

– Eu a vi primeiro – Stepan protestou, sentando-se do outro lado.

Victória ria, satisfeita com as demonstrações de atenção.

– Gostaria que o sofá tivesse espaço para quatro... – queixou-se Viktor..

– Vou buscar Samantha – Rudolf disse-lhes. – Ela está quarto.

O príncipe já ia saindo, mas parou ao ouvir a cunhada transmitindo-lhe o

inesperado:

– Vossa Alteza não a encontrará lá. Ela partiu.

Todos ficaram perplexos, menos os três innãos de Rudolf, que lógico, não sabiam

de nada.

– O irmãode vocês, Sua Alteza Todo-poderosa, trancou minhano quarto – Victória

esclareceu.

– Onde ela está? – Rudolf olhou-a, transtornado pela raiva

Victória encarou-o por minutos, sem disfarçar sua hostilidade

– Não tenho idéia.

Rudolf sabia que Victória estava mentindo. Fitou-a de um modo tão assustador que

ela se encolheu..

– Eu a protejo – Stepan munnurou.

– Stepan, cuide de sua vida. – E voltando-se para Victória:

– Como Samantha fugiu de um quarto trancado? Você roubou a

chave?

A garota empinou o nariz num gesto de desafio.

– Não, Alteza. Minha irmã pulou a janela e desceu pela árvore. .

– Samantha fez isso?! – A surpresa da duquesa era óbvia.

– Com minha ajuda, claro. Minha irmã estava desesperada para fugir e... – Ao

perceber Rudolf de punhos cerrados e expressão transtornada, Victória olhou para a tia. –

Talvez descer pela árvore não tenha sido uma boa idéia...

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E decidiu sustentar o olhar do cunhado.

– Eu não a culpo, Alteza. Você é um tirano.

– Admiro sua lealdade a sua innã – Rudolf admitiu, já com uma sombra de sorriso

nos lábios. – Entretanto, você não imagina a seriedade do que ela fez.

– Você não sabe o que ela fez. Julgou-a culpada sem darchance para ela explicar-se.

– O que sua esposa fez de tão grave? – Viktor quis saber.

– Sua Alteza roubou o Kazanov Vênus e entregou-o a Vladimir.

– O Vênus é apenas um pedaço de metal – Mikhail ponderou.

– O medalhão é importante para Piotr! – Rudolf tentou argumentar.

– Quando essa guerra vai acabar? – Stepan balançou a cabeça,inconfonnado.

– Vocês esqueceram o que Piotr fez a nossa mãe?

– Não, Rudolf, não nos esquecemos de nada. – Viktor o fitava, conciliador.

O príncipe virou-se para a cunhada com a intenção de assustá-la e obrigá-la a

revelar o paradeiro de Samantha. Mas não estava preparado para o ataque verbal de

Victória:

– Você estragou o dia do casamento e a noite de núpcias de minha innã! Quando ela

tentou explicar-lhe, preferiu magoá-la e feri-la!

– Você feriu Samantha?!

– Apenas seu orgulho, duquesa.

– Orgulho era tudo que minha innã tinha! – Victória gritou. Rudolf cerrou os lábios.

Victória tinha razão, mas a raiva impedira-o de entender que Sainantha não era Olga.

– Gostaria que me dissesse exatamente o que Samantha fez.

–Victória teve o atrevimento de empinar o queixo e dizer-lhe: – Sua boa vontade

para ouvir chegou com dois dias de atraso,

–Alteza. Minha irmã não quer explicar-lhe mais nada. Ela só quer que a deixe em

paz.

– Você vai ficar em pedaços se não começar a falar! – Rudolf esbravejou. – Agora!

Victória arregalou os olhos de medo. Mesmo assim, não baixou a cabeça.

– Sua... digamos... esposa tão traiçoeira pegou as economias de uma vida inteira, de

mil libras...

– Como Samantha conseguiu juntar essa quantia? – tia Roxie

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interveio.

– Bem, eu vou começar do começo. – Victória tomou a encarar Rudolf. – Mas

garanto que você vai ficar com ódio de si próprio, quando eu terminar de contar.

– Estou pagando para ver. – Rudolf fez um esgar.

– Desde que Sua Graça passou a ser nosso tutor, ele tem sido, muito generoso

dando-nos uma quantia mensal. Samantha guardava todo seu dinheiro, nunca gastou um

centavo sequer.

– Por que ela economizava tanto?

– Para a velhice, Alteza. Minha innã achava que nenhum homem iria querer

desposá-la por causa do defeito físico. Então, precisava guardar recursos para garantir sua

velhice de solteirona. – Victória suspirou. – Quantas vezes tentei convencê-la a comprar

algumas fitas de cabelo que ela tanto admirava... E Samantha respondia que era melhor

manter as economias guardadas, porque, com ou sem fita, nenhum homem se casaria com

uma... aleijada.

– Oh, meu bom Deus! – Roxie exclamou.

– Pobre criança... – murmurou o duque.

Victória estava certa. Rudolf começava a acreditar que fora injusto com Samantha, e

isso o incomodava demais. Ele tossiu de leve.

– Mas o que tem isso a ver com o medalhão?

– Naquele dia, Samantha pegou as mil libras que economizou a vida inteira

pensando na velhice, e pediu-me para acompanhá-la até Bond Street. Ela pagou para um

joalheiro fazer uma réplica de seu estúpido medalhão para entregar a seu irmão Vladimir.

Se não acreditar em mim, vá até seus aposentos e verifique. Minha irmã guardou a jóia

verdadeira no lugar, assim que voltamos para a mansão.

A sala ficou no mais absoluto silêncio.

– Por que ela não me contou? – Rudolf indagou, com voz embargada..

– Ela tentou, mas você recusou-se a ouvi-la! – Victória apontou-lhe o dedo em riste.

– E me deve dinheiro pela carruagem que aluguei, sabia?

– Diga-me onde Samantha está.

-Não.

– Sua irmã está esperando um filho meu.

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Victória levantou-se e caminhou em direção à porta, enquanto ia dizendo:

– Minha innã falou que voltará antes de a criança nascer.

Rudolf apelou para a duquesa:

– Faça-a contar onde Samantha está.

– Victória, diga a Sua Alteza onde escondeu a esposa dele.

–Victória virou-se para o príncipe, sorrindo.

– Eu a escondi num lugar onde você não poderá magoá-la.Não trairei minha innã!

Rudolf não acreditou ao ver os innãos apoiando Victória. Viktor aproximou-se dela

e beijou-lhe a mão.

– Você é surpreendente com as palavras –cumprimentou-a.

– Dá-me a honra de ser minha esposa?

Victória olhou-o, confusa.

– Viktor é muito velho para você – Mikhail interveio.

Case-se comigo.

– Eu sou mais novo do que eles. – Stepan sorriu, cheio de

charme. – E mais resistente também. Case-se comigo.

Victória esboçou um lindo sorriso para os três príncipes.

– Estou lisonjeada. – Depois, dirigiu-se a Rudolf. – Porém, jamais concordaria em

casar-me com um homem que tivesse parentesco com um monstro.

Rudolf não protestou. Mais uma vez, a cunhada estava certa.

Ele tratara a esposa de forma abominável.

– Se perdeu sua esposa, Alteza, sugiro que procure por ela sem minha ajuda. – Com

uma reverência, Victória se foi, triunfante.

Rudolf passou uma noite terrível, dormindo no sofá do quarto de Samantha.

Agora que o dia amanhecera, ele olhava para o medalhão em suas mãos, rezando

para que ela estivesse bem.

Lembrou-se da noite em que a conhecera no baile dos Emerson. Sorriu ao recordar a

viagem deles à Escócia. Adorara sua suavidade e sua rendição. Samantha recebera-o em

seu coração, em sua alma, em seu corpo. E ainda tinha amor suficiente para dedicar a

Grant, Drake e Zara.

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Ela era doce e obediente, mas virava uma fera quando seus entes queridos se

achavam em perigo..

Amava-a, mas nunca pronunciara as palavras que Samantha precisava ouvir. Ela

pedira amor, e ele só lhe dera sofrimento, ofensas e humilhações.

Depois de Olga ter acabado com o casamento deles, Samantha ainda chorara ao ler

o Times. Sua bela princesa dissera-lhe que só queria voltar para casa e...

Rudolf levantou-se num salto. Samantha queria ir para casa!Sua casa era o chalé!

Guardou o medalhão no bolso. Iria buscá-la no chalé, e depois lhe entregaria a jóia

para que a jogasse no Tâmisa.

Sentiu um frio no estomago. E se Vladimir descobrisse?

Samantha acabara de acordar. Continuou na cama por alguns momentos. Queria se

erguer, mas uma tristeza imensa roubava-lhe as energias. Por fim, levantou-se e foi para a

cozinha.

– Você vai comer mingau de aveia – falou, afagando o ventre. Antes, porém, cortou

um pedaço de pão e o engoliu.

Após lavar-se e vestir-se, preparou mingau e chá. Não era um desjejum igual ao da

mansão do duque, mas ela sobreviveria.

Suspirou. Àquela hora, na certa, o príncipe já saberia de sua fuga. Como Victória

reagiria diante da pressão que Rudolf iria exercer sobre ela?

Sentou-se para se alimenta!. De repente, uma batida leve na porta. Assustada,

aproximou-se.

– Quem é?

– Sou eu, Samantha. Abra, por favor.

– Rudolf?!

Ela não sabia o que fazer. Nunca imaginara que o príncipe a encontraria assim tão

rápido.

Hesitou, mas acabou por abrir. O príncipe entrou e, com medo.

Ela recuou.

– Tory...

– Não. Victória não me informou onde você estava. Tentei assustá-la, mas a menina

não se deixa intimidar com facilidade, como você ou as crianças.

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– Como descobriu que eu estava aqui?

– Eu me lembrei de que você considerava o chalé como sua casa.

Samantha mordiscou o lábio.

– Como pretende me punir desta vez?

– Como um mortal pode punir um anjo?

Samantha piscou e balançou a cabeça, incrédula. Ao que tudo indicava, estava tendo

uma alucinação ou um sonho.

– O que aconteceu? – Rudolf olhava-a, intrigado.

– Sou eu que pergunto: o que aconteceu? Você não está emseu normal.

– Eu tenho sido um asno!

– Ah, mas tem mesmo! – Samantha fez um esgar.

Rudolf soltou uma gargalhada. Depois, abraçou-a e capturou lhe os lábios num beijo

avassalador, desesperado.

– Eu lhe trouxe um presente.

– Não diga.

Rudolf saiu e voltou em seguida com uma caixa. Colocou-a sobre a mesa.

– Que embrulho grande! Comprou alguma coisa para o bebê? – Não, meu amor. É

para você. Abra.

Samantha desfez o pacote e arregalou os olhos de espanto. A caixa continha

centenas, milhares de fitas de cabelo de todas as cores possíveis e imagináveis.

– Você comprou fitas para mim!

– Nunca a vi usando fitas nos cabelos, por isso, pensei que gostaria de ganhar

algumas.

Samatitha deu risada.

– Algumas?

– Não sabia qual cor você preferia, então comprei todas. Na realidade, acabei com o

estoque de todas as lojas de Londres!

Rindo, emocionada, Samantha enlaçou-o pelo pescoço e beijou-o com paixão.

– Princesa, quero que saiba...

Ela encostou o dedo nos lábios dele.

– Não precisamos falar sobre isso.

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– Precisamos, sim. Quero que saiba que ontem, depois que me acalmei, eu pretendia

ouvir o que tinha a dizer. Mas você havia fugido.

– Obrigada.

– Tentei não gostar de você, Samantha. Depois que Zara nasceu, Olga descobriu

sobre minha origem e acabou se envolvendo com Vladimir. Um dia, eu os encontrei juntos

em minha cama. Por isso, fechei meu coração por tanto tempo e resisti em entregar-lhe meu

amor.

Samantha acariciou-lhe o rosto.

– Eu te amei desde o momento em que me convidou para dançar no baile dos

Emerson..

– Eu também, princesa, mas lutei com todas as minhas forças contra esse

sentimento. Ah, você nem imagina como sou grato a Igor por nos ter seqüestrado... – teve

de admitir. – E como está meu bebê?

– Faminto!

Rudolf sentou-se à mesa, e Samantha serviu-lhe mingau de aveia, chá e pão.

– Vou comprar este chalé. – Rudolf indicou em volta. – E todos os anos, voltaremos

aqui e passaremos uma ou duas semanas como pessoas comuns.

– Essa é a melhor notícia que você poderia me dar. – Os olhos de Samantha

brilhavam de felicidade. – A propósito, me deve mil libras e mais o que Victória gastou

com o aluguel da carruagem e da charrete.

– Sua irmã merecia umas palmadas por tê-la ajudado a descer pela árvore!

Assim que terminaram a refeição, Rudolf ofereceu-lhe a mão.

E sorrindo, tímida, ela se deixou conduzir ao quarto minúsculo.

– Este dia é seu, meu amor – ele murmurou, beijando-a.

Começou a desabotoar-lhe o vestido e puxou-o para que deslizasse até o chão. Fitou

a perna dela e deu risada.

– Nunca fiz amor com uma mulher com uma adaga presa na canela.

Entre risos e beijos, eles se despiram. Rudolf ajeitou-a com todo o cuidado na cama

e beijou-lhe os mamilos.

Samantha suspirou. Seu grande sonho de amor estava se tornando realidade.

– Você é tão bonita, maiá daragaia... – Rudolf lhe acariciava o corpo inteiro. –

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Princesa, venha para cima de mim.

Ela obedeceu e posicionou-se, deixando-se penetrar bem devagar. Começou a

movimentar-se cada vez mais rápido, até ser sacudida por vigorosos espasmos. Rudolf

acompanhou-a naquele momento de êxtase, entregando-se por inteiro ao amor de sua

princesa.

Mais tarde, depois de terem adormecido abraçados, Samantha acariciou-lhe a face.

– Acho melhor voltarmos à casa de Sua Graça.

– Se você quiser, poderemos pernoitar aqui, minha querida.

– Eu gostaria muito, Rudolf, mas todos devem estar preocupados. Samantha ficou

de pé e vestiu-se, sem se esquecer de prender a adaga na perna.

– Isso é necessário?

– É bom estarmos sempre preparados. Nunca se sabe, não é?

– Ao sentar-se na cama para calçar as botas, reparou que o rubi mudara de cor. – A

pedra está escura como sangue. Será que estamos em perigo?

– Bobagem! Quem poderia nos ameaçar?

Terminaram de se vestir e foram para a sala. Rudolf apagou o

fogo da lareira, pegou a caixa de fitas e ambos se prepararam para sair.

Samantha abriu a porta e deparou com Olga. Ao lado dela, Vladimir, com uma

pistola na mão.

Olga deu um tapa no rosto de Samantha, que cambaleou, sendo amparada por

Rudolf.

– Princesa Samantha, pensei que você fosse uma criança doce e inocente. –

Vladimir os obrigou a entrar de novo. – Esse seu ar angelical esconde uma mente diabólica.

Nunca imaginei que seria tão esperta e audaciosa para nos enganar com uma imitação.

Rudolf colocou a caixa sobre a mesa e protegeu Samantha como próprio corpo.’

–De doce ela não tem nada – Olga resmungou. – O bastardo ainda a protege... Que

emocionante! É uma pena, mas vocês dois terão de morrer.

– Irmão, por favor, desculpe minha esposa – disse Vladimir.– Às vezes, ela exagera.

Se você me entregar o Vênus verdadeiro, eu os deixarei em paz.

Rudolf inclinou a cabeça e tirou do bolso a embalagem de veludo negro. Entregou-a

a Vladimir, que o guardou dentro do paletó.

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– Mate-os, VIadimir! – Olga ordenou.

– Não vou matar meu próprio irmão!

– Então, dê-me a pistola que eu mesma os matarei.

– Ah... – Samahtha gritou, caindo no chão, atraindo a atenção de todos.

Naquele exato momento, Rudolf bateu na mão de Vladimir. A pistola voou, caindo

aos pés de Samantha.

Olga abaixou-se para pegá-la, mas Samantha foi mais rápida.

Puxou a adaga e pressionou-a na face de Olga.

– Ainda pensa em nos matar, Olga?

Rudolf pegou apistola e apontou-a para VIadimir.

– Você se machucou, Samantha?

– Não. – Guardou a adaga.

– Seu idiota! – Olga gritou para o marido.

Vladimir ergueu a mão e atingiu em cheio o rosto da mulher, silenciando-a.

– Suponho que você queira isto. – Vladimir devolveu a Rudolf a bolsinha de veludo

negro.

– Fique com ele. Eu tenho tudo o que um homem deseja navida.

A porta se escancarou, e Igor entrou. O gigante russo olhou para a arma na mão de

Rudolf.

– Vejo que não precisam mais de meus serviços.

– Se dependêssemos de você, minha esposa e eu poderíamos ter morrido – Rudolf

repreendeu seu novo empregado. – Certifique-se de que meu irmão e sua bela esposa

estejam a bordo do navio que parte hoje da Inglaterra.

– Entendi, Alteza.

Vladimir e Olga viraram-se para sair.

– Céus! – Samantha gritou, caindo em cima de VIadimir. Por instinto, ele abriu os

braços para segurá-la.

– Perdão, Alteza – Samantha desculpou-se, corando. – O bebê me deixa com

tontura.

VIadimir inclinou a cabeça.

– Desejo-lhe muita saúde com seu filhinho.

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– Obrigada, Alteza. – Samantha baixou os olhos.

VIadimir e Olga saíram do chalé, mas Igor parou e ficou olhando para Samantha.

De repente, ele soltou uma estrondosa gargalhada e se foi também.

– Não tenho certeza de querer continuar casada com você

Samantha resmungou.

– Por quê?

– Sempre sonhei com um marido entediante.

– Querida, prometo tomar-me o mais aborrecido dos maridos.

– Rudolf a beijou de leve nos lábios. – Posso ver o Vênus agora?

– Claro, amor. – Samantha entregou-lhe a bolsinha de veludo

negro. – Está feliz por ter se casado comigo?

– Falei a verdade quando disse a VIadimir que tenho tudo oque um homem poderia

desejar. Eu a esperei minha vida inteira.

– Eu te amo, Rudolf. Para sempre.

Epílogo

Sark Island, Novembro

Samantha colocou a xícara de chá na mesa e afagou a barriga imensa. Olhou para o

marido, sentado ao lado dela.

– Você nunca esteve tão bonita, maiá daragaia.

. – Como se diz em russo “obrigada, meu querido”?

– Spaciba, moi daragói.

Ela sorriu e repetiu:

– Spaciba, moi daragói.

Samantha olhou ao redor. Toda a família viera de Londres para o nascimento de seu

filho. A hora estava próxima.

Gritos e risadas chamaram-lhe a atenção. Victória e os irmãos de Rudolf se

entretinham num jogo com as crianças.

Roxie estava sentada ao lado da mãe de Rudolf, mas observava preocupada os

modos nada convencionais de Victória.

De repente, Samantha cerrou as pálpebras.

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– Rudolf? – murmurou. – Creio que minha hora está chegando. Não me deixe, por

favor!

O príncipe ergueu-a e, enquanto se encaminhava ao quarto, ia dizendo:– Roxie, o

bebê está chegando. Stepan, vá buscar o médico.

– Colocou-a na cama e apertou-lhe a mão. – Coragem, garota. Não sairei daqui. Não

há o que temer.

Mais tarde, Roxie e Angélica entraram nos aposentos com o médico.

– Você precisa sair agora, Rudolf.

– Não vou deixá-la, Roxie. –Fitou Samantha, que suava e gemia de dor.

Angélica segurou o braço do cunhado e conduziu-o para fora dali. Em seguida,

fechou a porta sem a menor cerimônia.

Devagar, Rudolf desceu a escadaria e entrou na sala de estar.

O duque ofereceu-lhe um copo de vodca.

– Beba, meu filho.

As horas se arrastavam. De tempos em tempos, Rudolf ia até pé da escada para ver

se descobria alguma coisa.

Por fim, o doutor foi ter com eles, enxugando as mãos. Rudolf levantou-se e o

encarou, ansioso.

– Vossa Alteza tem um filho...

Os homens deram vivas e ergueram os copos, mas o médico ainda não

terminara:– ...e uma filha! .

O copo de vodca escapou da mão do príncipe. Rudolf Kazanov, príncipe da Rússia,

desmaiara.

Na tarde seguinte, todos os familiares, incluindo as crianças, foram ao quarto visitar

Samantha e os bebês. Depois que todos desceram para o chá, Rudolf segurou a filha nos

braços, e Samantha embalava o filho.

– Você estava certo, Rudolf. Quando me deram os bebês para segurar, eu esqueci a

dor.

– Foi muito corajosa, Samantha. E tudo o que eu fizer será sempre pouco pelo que

você merece. Yá tebiá lyubliu, princesa.

– Eu te amo também, meu príncipe.

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Fim

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