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1 CETOSE DOS RUMINANTES 1 Os proprietários de grandes sistemas de produção que buscam a maximização da produção individual do animal tem se deparado, na última década, com o desafio de alimentar um animal de extrema capacidade produtiva, sobretudo nos primeiros meses de lactação. O aumento da demanda energética no final da gestação, uma maior predisposição a mobilização da gordura corpórea e a redução da capacidade ingestiva nas últimas semanas que antecedem o parto são fatores que quando reunidos colocam o animal em uma situação de extremo desafio, predispondo-o a diversos distúrbios metabólicos e suas implicações. Dentre esses distúrbios metabólicos está a cetose que, em bovinos, surge 3 a 6 semanas após o parto, antes e durante o pico de lactação. É uma doença que acomete os ruminantes em consequência do desequilíbrio energético. Caracteriza-se pela elevação anormal de corpos cetônicos: ácido acetoacético (AcAc), acetona e ácido β-hidroxibutírico (BHB) nos tecidos, fluidos corporais (leite, urina e sangue) e ar expirado. Isso ocorre devido a um aumento no plasma sanguíneo de ácidos graxos não esterificados (AGNE) ou também chamados ácidos graxos livres (AGL), pela mobilização excessiva da gordura corporal em ruminantes de alta produção com déficits energéticos, e, por uma diminuição da glicose sanguínea. Quando a produção de corpos cetônicos excede o seu uso por parte dos músculos e tecidos como fonte alternativa de energia, estabelece-se a cetose. A cetose é uma doença associada ao balanço energético negativo (BEN). Este BEN é universal entre as vacas leiteiras nas primeiras semanas de lactação. Apesar disso, a maior parte dos animais não desenvolve a doença. A maioria das vacas lida com o BEN através de um difícil mecanismo de adaptação. Então, a cetose ocorre não por causa do BEN, mas sim pela falha da adaptação a este mecanismo. Nos pequenos ruminantes, este quadro é conhecido como acetonemia, toxemia da prenhez ou toxemia da gestação, tendo em vista que ocorre no último terço da gestação, onde a necessidade de glicose é bem mais acentuada. 1 Seminário apresentado pela aluna INGRID HÖRLLE SCHEIN na disciplina TRANSTORNOS METABÓLICOS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no segundo semestre de 2012. Professor responsável pela disciplina: Félix H. D. González.

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CETOSE DOS RUMINANTES1

Os proprietários de grandes sistemas de produção que buscam a maximização da produção

individual do animal tem se deparado, na última década, com o desafio de alimentar um animal

de extrema capacidade produtiva, sobretudo nos primeiros meses de lactação. O aumento da

demanda energética no final da gestação, uma maior predisposição a mobilização da gordura

corpórea e a redução da capacidade ingestiva nas últimas semanas que antecedem o parto são

fatores que quando reunidos colocam o animal em uma situação de extremo desafio,

predispondo-o a diversos distúrbios metabólicos e suas implicações.

Dentre esses distúrbios metabólicos está a cetose que, em bovinos, surge 3 a 6 semanas após

o parto, antes e durante o pico de lactação. É uma doença que acomete os ruminantes em

consequência do desequilíbrio energético.

Caracteriza-se pela elevação anormal de corpos cetônicos: ácido acetoacético (AcAc),

acetona e ácido β-hidroxibutírico (BHB) nos tecidos, fluidos corporais (leite, urina e sangue) e

ar expirado. Isso ocorre devido a um aumento no plasma sanguíneo de ácidos graxos não

esterificados (AGNE) ou também chamados ácidos graxos livres (AGL), pela mobilização

excessiva da gordura corporal em ruminantes de alta produção com déficits energéticos, e, por

uma diminuição da glicose sanguínea. Quando a produção de corpos cetônicos excede o seu uso

por parte dos músculos e tecidos como fonte alternativa de energia, estabelece-se a cetose.

A cetose é uma doença associada ao balanço energético negativo (BEN). Este BEN é

universal entre as vacas leiteiras nas primeiras semanas de lactação. Apesar disso, a maior parte

dos animais não desenvolve a doença. A maioria das vacas lida com o BEN através de um

difícil mecanismo de adaptação. Então, a cetose ocorre não por causa do BEN, mas sim pela

falha da adaptação a este mecanismo.

Nos pequenos ruminantes, este quadro é conhecido como acetonemia, toxemia da prenhez ou

toxemia da gestação, tendo em vista que ocorre no último terço da gestação, onde a necessidade

de glicose é bem mais acentuada.

1Seminário apresentado pela aluna INGRID HÖRLLE SCHEIN na disciplina TRANSTORNOS

METABÓLICOS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS, no Programa de Pós-Graduação em Ciências

Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no segundo semestre de 2012. Professor

responsável pela disciplina: Félix H. D. González.

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Em vacas leiteiras de alta produção, a cetose é uma doença comum, sendo as multíparas mais

afetadas que as primíparas. Geralmente, essa enfermidade ocorre entre os dias 8 e 60 do pós-

parto, período que o animal enfrenta um balanço energético negativo.

Em ovinos e caprinos, a cetose ou acetonemia ou toxemia da gestação, é encontrada durante

o terço final da gestação, geralmente em animais que carregam múltiplos fetos ou um feto único

muito grande. Está associada a uma incapacidade de consumir energia suficiente para atender as

demandas metabólicas, nesse caso a demanda de glicose é bem mais acentuada. As condições

ambientais em que a fêmea gestante se encontra pode influenciar no aumento da exigência de

energia ou diminuição do consumo de energia, predispondo o animal a essa condição. Então,

animais submetidos a privação energética e/ou estresse, podem desenvolver esta patologia.

Pode ocorrer cetose de intensidade variável em todas as espécies animais. Entretanto, poderá

ser induzida por inanição, dietas ricas em gordura e pobres em carboidratos, função hepática

diminuída, anestesias e distúrbios endócrinos como diabete mellitus. As fêmeas de qualquer

espécie são mais suscetíveis a cetose do que os machos, e, esta predisposição piora durante a

lactação ou a prenhez.

No início da lactação, a vaca passa por um processo de elevada demanda de energia, em

decorrência do aumento da produção de leite. Entretanto, o consumo de alimento pelo animal

não acompanha tal exigência, culminando num balanço energético negativo. Dessa maneira, os

animais em boas condições de saúde utilizam suas reservas corporais para obtenção de energia.

Porém, há um limite para a quantidade de ácidos graxos que pode ser manipulada pelo

organismo e utilizada pelo fígado. Quando se atinge esse limite, as gorduras não são mais

queimadas para fornecer energia, elas começam a se acumular nas células do fígado como

triglicerídeos e alguns dos ácidos graxos são convertidos em corpos cetônicos.

O organismo precisa de glicose para no mínimo cinco componentes, que são: sistema

nervoso, gordura, músculo, feto e glândula mamária. O aumento dos corpos cetônicos ocorre

também pela ingestão de alimentos cetogênicos (silagem alterada rica em ácido butírico, tortas

de oleaginosas ainda muito ricas em gorduras) e também rações desbalanceadas (excesso de

albumina e insuficiente fibra). Quando a cetose tem origem nesses problemas citados, sem

participação de outra enfermidade, designa-se por cetose primária.

A cetose também pode ocorrer em consequência de outras doenças (distúrbios puerperais,

mastite, hepatite, reticuloperitonite traumática, deslocamento do abomaso ou outras indigestões)

que provocam alterações no metabolismo dos hidratos de carbono (HC) ou inapetência.

Determinando insuficiente ingestão de alimentos, nesse caso representa uma cetose secundária.

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As cetoses também podem ser classificadas em clínicas e subclínicas com base nos níveis de

corpos cetônicos presentes no sangue, urina e leite. E na presença ou não de sinais clínicos.

Existe ainda outra forma de cetose, a cetose nervosa, que não é mais do que uma forma

exacerbada de cetose clínica. Esta pode ocorrer durante as primeiras 8 semanas de lactação e

caracteriza-se por desenvolver sintomatologia nervosa.

A taxa de mortalidade é baixa, mas como a cetose leva a perda acentuada na produção de

leite e no peso corpóreo, isto resulta num grande prejuízo econômico para o produtor de leite.

Aguns autores classificam a cetose como tipo I e tipo II. Sendo que a tipo I ocorre quando as

necessidades de glicose superam a capacidade do fígado para realizar a gliconeogênese, sendo

os precursores de glicose insuficientes para permitir a produção máxima desta. Ela é

caracterizada por elevadas concentrações de corpos cetônicos, baixa concentração de glicose e

insulina e ausência de lipidose hepática (baixo acúmulo de gordura no fígado). A cetose do tipo

II ocorre com grande quantidade de ácidos graxos não estratificados depositados no fígado,

sendo a gliconeogênese e a cetogênese não estimuladas ao máximo. Está associada a valores de

hipoglicemia, hiperinsulinemia e resistência a insulina.

Durante o decorrer deste trabalho, vamos nos ater como assunto principal a cetose clássica,

que seria nesta classificação considerada como cetose do tipo I.

Epidemiologia e consequências da cetose

A cetose é uma doença que ocorre principalmente em bovinos leiteiros e é predominante na

maioria dos países onde se pratica pecuária intensiva. Ocorre principalmente em animais

estabulados no inverno e primavera e é rara em animais que parem em pastagens. Quando as

vacas estão estabuladas, ocorre em qualquer época do ano. A ocorrência da doença é dependente

da gestão e nutrição e varia entre os efetivos. As taxas de incidência variam muito. Uma recente

revisão de onze estudos epidemiológicos mostrou uma taxa de incidência para cetose na

lactação variando entre 0,2-10%.

A morbilidade da cetose clínica é difícil precisar, depende de vários fatores como manejo e

nutrição dos animais, fatores muito variáveis dependendo da exploração e área geográfica.

Apesar do conhecimento sobre esta patologia as taxas de doença continuam altas.

No Brasil a incidência da cetose subclínica é bem mais elevada do que a cetose clínica,

podendo afetar, no caso de bovinos, 10 a 30% do efetivo (podendo chegar a 34%). O ideal seria

que a incidência dessa patologia fosse menos de 5%, uma vez que valores mais elevados

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representam perdas econômicas significativas e implicam uma avaliação da dieta e do manejo

efetuados na exploração. A taxa de prevalência de cetose clínica está entre 3 a 7%.

Na maioria dos casos (90%), o transtorno é observado nos primeiros 60 dias de lactação,

especialmente entre os dias 10 e 28, sendo as vacas primíparas menos suscetíveis do que as

pluríparas.

A incidência da cetose está relacionada com alguns fatores inerentes ao animal e

relacionados com o meio ambiente que o envolve. A incidência aumenta com o aumento do

número de partos. Também vacas com histórico de cetose em lactações anteriores, tem uma

incidência mais elevada dessa doença nas lactações subseqüentes.

Em bovinos pode existir uma predisposição racial, já que a incidência é maior em animais da

raça Jersey do que na raça Holandesa.

Há um maior risco para o desenvolvimento de cetose em vacas que têm um longo período

seco e em animais que desenvolvem hipocalcemia puerperal, retenção de placenta, claudicação

ou hipomagnesemia.

A cetose secundária a metrite, reticuloperitonite traumática e deslocamento de abomaso

representam 30 a 40% dos casos atendidos.

As vacas com partos gemelares estão em maior risco de cetose na fase terminal da gestação.

Existe uma relação bidirecional entre o risco de deslocamento do abomaso e do risco para

cetose. Num estudo de campo de 1.000 vacas em 25 efetivos, as vacas que tiveram no soro BHB

superior a 1,4 mmol/L nas primeiras duas semanas de lactação, a probabilidade de lhes ser

diagnosticado 1 a 3 semanas mais tarde deslocamento de abomaso, aumentou numa relação 4:1.

Em outro estudo de 1.010 vacas, numa concentração sérica de BHB superior ou igual a 1,5

mmol/L nas 2 primeiras semanas de lactação, foi encontrado um aumento de três vezes nos

casos de cetose ou deslocamento de abomaso.

Quanto às consequências, constitui um grave problema econômico a incidência elevada de

cetose num rebanho. Não só pelas perdas inerentes à diminuição da produção de leite, mas

também pelos problemas que surgem secundários a esta patologia.

As complicações da forma subclínica são de grande importância econômica, uma vez que

afeta a reprodução causando alteração no ciclo estral, anestro, cistos, morte embrionária, baixa

secreção de progesterona, abortos, mumificação fetal, atonia uterina e retenção de placenta. A

forma subclínica leva a uma emaciação grave, com severa lesão hepática de prognóstico

desfavorável. Nessa situação, são características a elevação das transaminases e a presença de

fezes líquidas e inodoras.

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Devido à diminuição da imunidade que a cetose pode causar, muitas vezes surgem outras

doenças como é o caso de deslocamento de abomaso, metrites e retenção de placenta e laminites

associadas.

O aumento de corpos cetônicos no leite está ligado a uma diminuição da produção de 1 a 1,4

kg de leite/dia e a perdas totais de 233 kg de leite nos primeiros 100 dias de lactação. Alguns

estudos indicam que a cetose subclínica pode levar a 25% de diminuição da produção leiteira.

A cetose é a principal causa de perdas de leite numa exploração. Em casos raros, a doença é

irreversível e o animal afetado morre, mas a principal perda econômica é devido à perda na

produção. Enquanto a doença está presente, existe um fracasso em retornar para a produção

completa após a recuperação e o aumento da ocorrência de doenças pré-parto. Ambos tipos,

cetose clínica e subclínica, são acompanhados por diminuição da produção de leite, proteína e

lactose. Um aumento do risco de atraso no primeiro estro, menores taxas de concepção,

aumento do intervalo entre partos, risco maior de cistos ovarianos, metrite, mamite e aumento

do refugo de vacas são uma consequência.

Em relação a outras espécies, é uma doença de ocorrência exclusiva em ovelhas e cabras

prenhas, especialmente durante o último mês de gestação e em casos de dois ou mais fetos.

Também pode ocorrer em gestações simples com fetos grandes. A prevalência da doença pode

chegar a 20% nos rebanhos ovinos. Embora não exista uma suscetibilidade identificada de

raças, as ovelhas de origem inglesa são consideradas mais resistentes. Entretanto, essa

resistência à doença pode ter como consequência uma diminuição do peso do cordeiro ao

nascimento, levando a um aumento da mortalidade perinatal.

Em ovinos e caprinos, a toxemia da prenhez é maior em ovelhas com mais de um feto nas

ultimas 2 a 4 semanas de prenhez, e em cabras com três fetos ou mais. Dieta de baixa qualidade,

clima frio, falta de exercícios e estresse de transporte também podem aumentar a incidência da

doença. As cabras parecem mais resistentes à toxemia da prenhez que as ovelhas. Nos ovinos a

enfermidade costuma ser altamente fatal, com letalidade próxima a 100%.

Etiologia

Existe um difícil equilíbrio metabólico nas vacas no início da lactação. É notório que a

capacidade para alimentar vacas nas duas semanas que antecedem o parto e nas quatro semanas

pós-parto não acompanhou os avanços na genética para a produção de leite.

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Os ruminantes são particularmente vulneráveis à cetose, pois absorvem muito poucos

carboidratos como tal e uma fonte direta de glicose é essencial para o metabolismo dos tecidos,

particularmente na formação de lactose. A utilização de AGV para fins energéticos é também

dependente de um suprimento de glicose disponível.

Para satisfazer as exigências da produção de leite, a vaca pode valer-se de duas fontes de

nutrientes: a ingestão de alimentos e as reservas corporais. Nos dois primeiros meses de

lactação, uma vaca para produzir até 45 kg de leite por dia irá utilizar até 2 kg de gordura

corporal e até 350 g de proteína corporal por dia. No que diz respeito aos carboidratos ingeridos

na dieta, 80% são fermentados pela microflora ruminal para ácidos graxos voláteis (AGV). São

eles o ácido acético, propiônico e butírico, que são absorvidos. O ácido acético pode ser oxidado

por vários tecidos ou incorporado em gordura do leite pela glândula mamária.

Assim como a grande maioria das doenças metabólicas, a cetose também tem origem em um

mau manejo do período seco e de transição, porém alguns autores citam que em condições de

campo, a doença acontece esporadicamente e é imprevisível. Mesmo que se forneça um

alimento de boa qualidade assegurando uma disponibilidade de nutrientes suficiente, ela poderá

ocorrer.

A cetose ocorre quando as vacas estão em BEN. Mais comum nas duas últimas semanas de

gestação ou no início da lactação. Nas últimas semanas de gestação, as mudanças hormonais e a

diminuição da capacidade do rúmen podem causar uma diminuição na ingestão de nutrientes

e/ou aumento da lipólise. Na altura do parto, a maior necessidade energética é para a produção

de leite e, como tal, o balanço energético negativo continua. Embora o volume de produção de

leite e a formação de lactose sejam predominantes para a necessidade de energia, há também

uma necessidade lipídica secundária para a síntese de gordura de leite.

Entre o parto e o pico de lactação, a necessidade de glicose é maior e não pode ser

completamente suprida. A vaca vai reduzir a produção de leite em resposta a uma redução do

consumo de energia, mas isso não tem significado automático nem proporcional no início da

lactação, pois os estímulos hormonais para a produção de leite superam os efeitos da reduzida

ingestão de alimentos. Nestas circunstâncias diminui o nível de glicose no sangue, que resulta

também em diminuição de insulina. Os AGNE ou AGL são liberados a partir de depósitos de

gordura sob a influência da relação insulina:glucagon baixa no sangue e da influência da

concentração alta de somatotropina, levando a um aumento da cetogênese.

A glicose é sintetizada no fígado e no córtex renal via gliconeogênese. Cerca de metade das

necessidades de glicose da vaca é suprida pelo ácido propiônico da dieta, que é incorporado no

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ciclo de Krebs e convertido em glicose pela gliconeogênese. Os aminoácidos glicogênicos, o

ácido láctico e o glicerol podem ser convertidos em glicose por esse mesmo processo. A

redução da produção de ácido propiônico no rúmen irá resultar numa inadequada produção de

glicose e consequente hipoglicemia. A hipoglicemia leva a uma mobilização de AGNE e

glicerol a partir da gordura armazenada. Certos hormônios como a adrenalina, o glucagon, o

hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), os glicocorticóides e os hormônios da tireóide têm

influência na mobilização da gordura corporal. Os sistemas músculo-esquelético e cardíaco

podem utilizar os ácidos graxos para a produção de energia quando a glicose é escassa. No

entanto, o fígado tem uma capacidade limitada de oxidar ácidos graxos porque o acetil CoA,

que é o produto final da oxidação de ácidos graxos, não pode ser adequadamente incorporado no

ciclo de Krebs, quando os níveis de oxalacetato são baixos. O resultado é a diminuição da

gliconeogênese ativa. O excesso de acetil-CoA é convertido nos corpos cetônicos acetoacetato e

β-hidroxibutirato e, em pequena medida, em acetona. Outros tecidos, que não o fígado, podem

utilizar os corpos cetônicos. Se a produção de CC excede a taxa de sua utilização pelos

músculos e outros tecidos, acumulam-se e o resultado é a cetose. Os corpos cetônicos são

principalmente excretados no leite e na urina.

A redução da produção de ácido propiônico pelo rúmen é geralmente uma característica da

desnutrição ou menor ingestão de alimentos causada por inapetência. A deficiência em cobalto,

também terá o efeito de reduzir a produção de propionato. O butirato é um precursor do acetil-

CoA e é, portanto, cetogênico. Um aumento na captação de butirato no rúmen, por conseguinte,

leva ao aumento de corpos cetônicos. Isso explica porque a silagem de alto teor em ácido

butírico irá induzir cetose em vacas aparentemente saudáveis.

A taxa de ocorrência de BEN e, portanto, a frequência de casos clínicos aumentou

acentuadamente nos últimos anos devido ao forte aumento potencial de lactação da vaca leiteira

moderna. Por causa da prioridade metabólica da glândula mamária na partição de nutrientes,

especialmente a glicose, a produção de leite continua e alta velocidade, causando uma fuga de

energia. Em muitos animais, a necessidade de energia está além de sua capacidade de ingestão

de matéria seca, mas há uma variação entre vacas em risco sob estresse nutricional semelhante.

A cetose clínica primária remeterá para vacas no início da lactação que não tenham nenhuma

outra doença. Ela ocorre em animais com um índice de condição corporal de bom a excessivo,

que têm um alto potencial leiteiro e que são alimentadas com ração de boa qualidade, mas que

estão em BEN.

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Uma proporção de casos aparecem como cetose clínica, mas uma proporção muito maior de

casos ocorre como cetose subclínica, em que há aumento dos níveis circulantes de corpos

cetônicos, mas sem sinais clínicos aparentes.

A cetose subclínica refere-se a vacas clinicamente normais na primeiras semanas de lactação,

que tem valores de BHB plasmático superior a 14,4 mg/dL. Onde se observa perda de peso,

diminuição do apetite e da produção leiteira.

Uma cetose clínica secundária ocorre como consequência de outra doença, resultando numa

diminuição da ingestão de alimentos.

Para outros autores, são reconhecidos pelo menos três diferentes síndromes de cetose bovina:

cetose por subconsumo (primário ou secundário), cetose butírica (ou alimentar) e cetose

espontânea.

Na cetose por subconsumo, o animal não recebe quantidade suficiente de calorias para

atender a demanda de glicose pela glândula mamária (por balanço energético negativo ou por

diminuição no apetite causado por doenças secundárias). A cetose butírica ou cetose alimentar

ocorre quando o gado é alimentado com feno mal conservado (com altas quantidades de ácido

butírico), sendo rico em precursores cetogênicos. Já a cetose espontânea é a mais comum e mais

pesquisada, porém suas causas são menos compreendidas.

Na cetose espontânea, a vaca apresenta elevadas concentrações de corpos cetônicos no

sangue, mesmo ingerindo uma dieta aparentemente adequada. Ocorre em vacas leiteiras de alta

produção e não vem acompanhada de acidose severa. Frequentemente a recuperação também é

espontânea, porém, com grande perda da produção de leite. O quadro é caracterizado por

anorexia, depressão, cetonemia, cetonúria, hipoglicemia e diminuição da produção láctea. A

causa da doença, conforme a “teoria hipoglicêmica” seria uma queda na concentração de glicose

sanguínea, que ocorreria mesmo em animais bem alimentados. A agressividade metabólica da

glândula mamária, em vacas altamente selecionadas para produção leiteira, causaria a perda de

grandes quantidades de glicose do sangue sem que o fígado pudesse responder com

gliconeogênese em suficiente quantidade. A hipoglicemia seria seguida de uma lipólise com

acetonemia, contribuindo para que o animal diminua o consumo de alimento. Com isso seria

precipitado o aparecimento de uma cetose, a de jejum, ocorrendo diminuição de insulina,

aumento de glucagon e, finalmente, excesso de AGL e de corpos cetônicos.

Por outro lado, existem evidências de que vacas podem apresentar cetonemia sem sofrer

hipoglicemia, sugerindo a “teoria lipolítica”. Esta teoria postula que deve haver um sinal

lipolítico causador de hidrólise de triglicerídeos para suprir as demandas de AGL na glândula

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mamária, com controle independente da concentração de glicose sanguínea. É frequente

observar essa situação metabólica na cetose subclínica, em que se nota normoglicemia associada

a aumento de AGL e de corpos cetônicos. De acordo com a teoria lipolítica, a lipólise endógena

e a cetose espontânea poderiam ser prevenidas pela suplementação com triglicerídeos

“protegidos”. Essa proteção refere-se à cobertura desses triglicerídeos com proteínas tratadas

com formaldeído, evitando sua degradação ruminal, fazendo com que sejam absorvidos no

intestino delgado e transportado pelos quilomícrons até a glândula mamária.

Alguns autores citam que existem vários fatores que podem levar a uma maior predisposição

de um rebanho ou de um animal a desenvolver essa patologia, são eles:

a) Obesidade: o excesso de gordura corporal leva os bovinos a acumular depósitos intra-

abdominais, o que vai limitar fisicamente a capacidade de ingestão de comida após o parto, no

momento em que a grande produção de leite cria necessidade de glicose e aminoácidos. Sendo

assim, vacas gordas tem uma redução de 25% da ingestão de matéria seca em relação a vacas

com uma condição corporal normal.

b) Patologias no pós-parto: qualquer patologia que ocorra no fim da gestação/início da

lactação e que leve a diminuição da ingestão de alimentos, origina um aumento do BEN,

podendo provocar uma cetose secundária. Vacas com deslocamentos de abomaso, mamites, e

peritonites tem maior risco de desenvolver uma cetose clínica. Já vacas com metrites,

hipocalcemias subclínicas, lesões musculares pós-parto e laminites por úlceras da sola podem

ter cetose subclínica na lactação seguinte. Ocorrência concomitante de febre do leite também

pode desencadear a cetose, assim como retenção de placenta e hipomagnesemia.

c) Restrição do consumo de nutrientes: a diminuição na ingesta de alimentos de até 80% dos

nutrientes necessários no pré-parto ocasiona a cetose e lipidose hepática.

d) Baixo fornecimento de proteína no período seco: quando é oferecido menos de 8% de

proteína no período pré-parto, fundamentalmente nas últimas 3 semanas, aumentam

consideravelmente os casos de cetose no rebanho.

e) Excesso de proteína na forma de nitrogênio não proteico: dietas com excesso de proteína

(mais que 20%), em que está presente sob a forma de nitrogênio não proteico, como dietas de

elevado nível de ureia, ou com proteínas rapidamente solúveis, predispõe casos de cetose.

f) Estresse, calor, superpopulação, restrição hídrica e alimentar: são fatores que podem

exacerbar o aumento do BEN, levando a um aumento da mobilização de gorduras. O estresse,

por via simpaticomimética, regula o sistema de produção de AGNE e, portanto o seu aumento

leva a um acúmulo de gordura hepática.

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g) Ingestão de cetonas pré-formadas: essa ingestão na dieta, conhecida como ácido butírico

(presente em silagens mal conservadas) ou de lactato leva a um aumento destas na circulação,

logo, levando a cetose.

h) Deficiência em cobalto e enxofre: dietas pobres em Co são identificadas como potencial

causador de cetose, uma vez que leva a déficit de produção de vitamina B12 pela flora ruminal e

a déficit de produção de ácido propiônico.

i) Contaminação do concentrado por lincomicina: alguns estudos relatam uma relação

positiva entre a presença de contaminação de concentrados por lincomicina e a presença de

cetose nos rebanhos.

j) Períodos secos muito prolongados: parecem colocar as vacas num risco acrescido de

cetose clínica, quer se desenvolva obesidade quer não.

l) Falha na secreção de glicocorticóides: limitando a utilização de glicídeos, especialmente

por deficiência de coenzima A, coenzima B12 e de outros cofatores ou coenzimas.

Em ovinos, a causa determinante da cetose é uma deficiência de energia na dieta, exacerbada

pelo aumento da demanda energética no final da gestação.

Do ponto de vista bioquímico, a glicose é utilizada como principal fonte energética dos

ruminantes em números reduzidos de órgãos: sistema nervoso, fígado, glândula mamária e rim,

mas os tecidos fetais a utilizam como carboidrato básico para o seu desenvolvimento. Assim

sendo, quanto maior o número de fetos e mais próximo do final da gestação, maior será a

quantidade de glicose requerida pelo conjunto cabra/ovelha-fetos já que neste período o

requerimento por kg de peso metabólico é cerca de cinco vezes maior nos fetos do que na mãe.

Em ovinos, os fetos são completamente dependentes de glicose para a produção de energia.

A placenta ovina tem pouca permeabilidade para os corpos cetônicos. Os níveis de glicose

sanguínea nos fetos (0,6 mM) são baixos em relação aos níveis maternos (2,8 mM). Além disso,

o glicídeo mais abundante no sangue fetal é a frutose (5,1 mM), sintetizada a partir da glicose.

Assim, é formado um gradiente de glicose entre o sangue materno e fetal, permitindo um fluxo

contínuo de glicose para o feto.

Ovelhas gestantes com gêmeos e trigêmeos requerem 180 a 240% mais energia,

respectivamente, que aqueles prenhes de feto único. Ovelhas e cabras podem não ser capazes de

consumir quantidade suficiente de alimento para tais demandas, resultando em BEN.

A elevação das concentrações plasmáticas de cortisol, comumente encontrada em ovelhas

com toxemia da gestação, tem atraído atenção devido a possível indicação do envolvimento

adrenocortical na causa da doença. Parece mais provável que o aumento observado ocorra em

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resposta ao estresse ambiental e nutricional, e, possivelmente, à deficiência do fígado para

metabolizar o cortisol.

Fisiopatologia da cetose

Em casos experimentais em bovinos, quando se converte a doença da forma subclínica à

clínica nem sempre é claro o que determina o desenvolvimento do sinais clínicos. Na maioria

dos casos, a gravidade é proporcional ao grau de hipoglicemia e isso, juntamente com a resposta

rápida a glicose administrada de forma parenteral, sugere a hipoglicemia como fator

predominante. No entanto, na grande maioria dos casos a campo, a gravidade da síndrome

clínica é também proporcional ao grau de cetonemia. Esta é uma relação compreensível, já que

os corpos cetônicos são produzidos em quantidades maiores à medida que aumenta a deficiência

de glicose.

Conforme estudado, as necessidades diárias de glicose de uma vaca leiteira aumentam 30%

em relação ao requerido para a manutenção basal no final da gestação e 75% no início da

lactação. A necessidade energética média de uma vaca lactante pesando 452 kg é estimada em

50 g de glicose por hora. Apenas 10% dessa energia necessária se encontra disponível na forma

de glicose. Em vacas lactantes normais, as fontes de energia são provenientes do fígado e

encontram-se na forma de ácido graxos voláteis (AGV), proteína bacteriana e pequenas

quantidades de glicose e proteína que escapam da degradação do rúmen. Os principais AGV

produzidos pela flora ruminal são o ácido acético (acetato), o ácido propiônico (propionato) e

ácido butírico (butirato), que estão presentes no rúmen numa relação de 70:20:10,

respectivamente, em dieta de forragem.

O ácido acético pode ser oxidado por vários tecidos, incorporado pela glândula mamária

diretamente na gordura do leite e é utilizado, principalmente, na síntese de gordura. Embora

evidências sugiram que possa ser uma fonte de glicose menos importante por meio da via acetil-

CoA no ciclo do ácido tricarboxílico (TCA) ou também chamado ciclo de Krebs.

O ácido butírico é condensado em acetoacetil-CoA, que pode ser parcialmente oxidado em

corpos cetônicos ou transformado em acetil-CoA, que pode participar do ciclo de Krebs, sem

produção de glicose.

Aproximadamente metade da glicose necessária é obtida através da incorporação do ácido

propiônico no ciclo de Krebs diretamente no nível do succinil-CoA que converte também o

glicerol, aminoácidos glicogênicos e ácido láctico em glicose. O ácido propiônico entra

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diretamente no ciclo de Krebs ao nível do succinil-CoA, equivale a 30 a 50% da produção de

glicose em ruminantes (Figura 1). Portanto, o ácido acético e o butírico são cetogênicos,

enquanto o propiônico é glicogênico. Logo, a diminuição do ácido propiônico em nível da

parede ruminal leva a uma produção inadequada de glicose e consequentemente a uma

hipoglicemia.

A produção de AGV no rúmen são, proporcionalmente, 4 AGV cetogênicos para 1 AGV

glicogênico. Ocorre produção significativa de corpos cetônicos no epitélio ruminal e na

glândula mamária, além do principal local de produção, o fígado. Normalmente, os corpos

cetônicos são utilizados no ciclo de Krebs no coração, rins, sistema músculo-esquelético e

glândula mamária, por meio da via acetil-CoA.

A oxidação eficiente da acetil-CoA depende do suprimento adequado de oxalacetato. O

oxalacetato é gerado através de percursores gliconeogênicos, principalmente o propionato

(produzido no rúmen) e ainda através de produtos do metabolismo anaeróbico da glicose (o

lactato e o piruvato). Quando os níveis de oxalacetato são baixos não há oxidação da acetil-CoA

e o fígado deixa de ter capacidade de incorporar adequadamente esta no ciclo de Krebs.

Figura 1. Ciclo de Krebs

As vacas lactantes apropriam-se de grandes quantidades de propionato e de lactato para a

produção de leite, na forma de lactose. A utilização de glicose periférica excede a produção de

glicose hepática, resultando em hipoglicemia. Em teoria, a hipoglicemia, nestas circunstâncias,

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deve levar a uma diminuição da concentração plasmática de insulina e aumento nos níveis de

glucagon plasmático. Os níveis baixos de insulina e altos de glucagon plasmático aumentam a

atividade dos hormônios sensíveis a lipase no tecido adiposo. A reserva de oxalacetato é

reduzida, retardando o ciclo de Krebs e o uso de acetil-CoA. A acetil-CoA acumulada é

desviada para a formação de corpos cetônicos.

Na tentativa de aumentar a gliconeogênese e controlar o BEN, mobilizam-se mais

triglicerídeos dos estoques de gordura corporal. Esta leva à ativação da lipólise (triglicerídeos

sendo hidrolisados), a lise dos triglicerídeos resulta em produção de AGNE e glicerol na

circulação sanguínea. No fígado, os triglicerídeos são novamente sintetizados a partir de AGNE,

onde são armazenados ou libertados na forma de lipoproteínas de muito baixa densidade

(VLDL). A lipoproteína deve ser sintetizada no fígado para formar VLDL, a partir dos

triglicerídeos. Em relação às demais espécies, os ruminantes apresentam baixa taxa de secreção

de VLDL. O excesso de AGNE tenta entrar no ciclo de Krebs por meio da acetil-CoA a qual, na

ausência de quantidade suficiente de oxalacetato, é parcialmente oxidada a acetoacetil-CoA,

permitindo a formação de corpos cetônicos.

Além disso, o BEN que ocorre em vacas leiteiras no período pós-parto reduz a

disponibilidade de carboidratos e acelera a mobilização de gordura e formação de corpos

cetônicos. O resultado final é cetonemia, cetonúria, hipoglicemia e baixa concentração hepática

de glicogênio. Qualquer enfermidade nutricional, metabólica ou de outra origem que provoque

redução do alimento ingerido possibilitará a evolução do quadro de cetose subclínica em clínica.

Quando a mobilização de gordura é elevada, excede a capacidade dos hepatócitos de fazerem

essas conversões levando a um acúmulo de gordura no fígado e a uma diminuição da

capacidade de conversão metabólica. Quando há AGL produzidos em excesso, o fígado deixa

de ter capacidade de reesterificar os AGL em lipoproteínas de baixa densidade (VLDL) e passa

a oxidar os AGL em corpos cetônicos.

Esse processo é regulado por hormônios: na altura do parto há uma diminuição da lipogênese

e da esterificação e um aumento simultâneo do hormônio sensitivo da atividade da lipase, sendo

que esta mudança ocorre com o aumento da prolactina. A adrenalina e noradrenalina (que estão

aumentadas em situações de estresse) são hormônios estimuladores da mobilização da gordura,

junto com glucagon, ACTH e glicocorticóides. Durante esse processo a insulina diminui.

A queda do nível de glicose pode afetar a função cerebral, que também pode estar

comprometida pelo ácido isopropílico, produto do catabolismo do acetoacetato. A glicemia

pode baixar até 20-40 mg/dL (normal 50-70 mg/dL), e os corpos cetônicos do sangue podem

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chegar a valores de >10 mg/dL (normal <10 mg/dL). Os corpos cetônicos na urina podem

atingir níveis de até 1.300 mg/dL (normal até 70 mg/dL). No leite, os corpos cetônicos podem

chegar a 40 mg/dL (normal 3 mg/dL). Os níveis de ácidos graxos voláteis estão aumentados

tanto no sangue quanto no rúmen.

Resumindo, no jejum (hipoglicemia) ocorrem mudanças hormonais que promovem a

lipólise. A menor disponibilidade de glicose do intestino e da gliconeogênese hepática causa

hipoglicemia com a devida resposta por parte do pâncreas, liberando glucagon e diminuindo a

secreção de insulina. O glucagon provoca aumento de cAMP no tecido adiposo, ativando a

lipase hormônio-sensível (LHS), a qual hidrolisa triglicerídeos e libera ácidos graxos livres

(AGL) e glicerol no sangue. Os AGL são utilizados pelos tecidos para produzir energia, sendo

também captados pelo fígado.

Contudo, durante o jejum a gliconeogênese está bastante ativa no fígado, e a maioria do

oxalacetato é usada com esse propósito, diminuindo sua disponibilidade para entrar no ciclo de

Krebs. Consequentemente, o acetil-CoA acumula-se, sendo desviado para a formação de corpos

cetônicos. Esses corpos cetônicos podem ser usados pelos tecidos extra-hepáticos,

especialmente coração e rins. Outros tecidos são bastante dependentes de glicose, especialmente

o cérebro, na ovelha, porco e cão.

Ao contrário dos ácidos graxos, que tem que ser transportados ligados à albumina, os corpos

cetônicos são bastante solúveis no plasma, não requerendo proteínas transportadoras. No jejum

prolongado, ocorre diminuição da concentração de albumina plasmática, diminuindo, portanto, a

quantidade de AGL transportadas. O excesso de AGL no plasma tem efeito tóxico. Caso a

capacidade de albumina de transportar AGL seja excedida, os AGL no plasma podem ter uma

ação detergente, danificando as membranas das células endoteliais e contribuindo para a

formação de placas ateroscleróticas.

A cetogênese no jejum, portanto, deve ser vista como um mecanismo de sobrevivência para

os tecidos periféricos, e não como uma carga aplicada pelo fígado ao resto do organismo.

Qualquer condição que cause anorexia virá acompanhada de aumento de corpos cetônicos nos

fluidos corporais, com cetonemia, cetonúria e cetolactia.

A cetose espontânea em bovinos, normalmente é reversível pelo tratamento. Quando ocorre

uma resposta incompleta ou temporária é geralmente devido à existência de uma doença

primária, sendo a cetose uma doença secundária, muito embora a degeneração gordurosa do

fígado, em casos prolongados, possa prolongar o período de recuperação. As alterações na flora

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ruminal, após um longo período de anorexia, também podem causar um grau de

comprometimento contínuo da digestão.

Poderá ocorrer uma imunossupressão, esta quando presente, está relacionada, normalmente,

com a deficiência de energia e cetose. A maior suscetibilidade de vacas com cetose no pós-parto

a infecções tanto locais quanto sistêmicas, pode estar relacionada com a diminuição da atividade

de células de defesa, como os neutrófilos, que ocorre com níveis elevados de BHB.

Em todos os tipos de cetoses ocorre acidose metabólica, pelo acúmulo de corpos cetônicos,

casos em que o bicarbonato do sangue pode cair a níveis menores que 10 mM (normal 17-25

mM), e o pH a menos de 7,2 (normal 7,4).

Nas ovelhas, a toxemia da gestação ocorre mais em sistemas de produção intensiva. Em

sistemas de produção extensiva, não é comum, a menos que ocorra um mau manejo alimentar.

Existe uma variação para a predisposição a cetose entre os ovinos, dependendo da eficiência

metabólica do fígado. A forma mais comum da toxemia é a primária, ou seja, deficiência

nutricional no terço final da gestação, especialmente quando associada a procedimentos de

manejo, tais como transporte, limpeza, tosquia e everminação, mudanças na alimentação e frio

excessivo.

Em ovelhas com sobrepeso, pode ocorrer queda no consumo por redução do volume ruminal

devido à pressão, tanto do feto quanto da gordura intra-abdominal. A forma secundária ocorre

por doença intercorrente, como footrot e infestação parasitária, causando queda do consumo de

alimentos ou grande perda de energia.

Sinais clínicos e alterações analíticas

A cetose primária ou espontânea é comum no primeiro mês de lactação, ocorrendo na

maioria dos casos entre a segunda e quarta semana de lactação. Os animais com cetose no início

da lactação ou com cetose persistente para além da quarta semana de lactação têm uma maior

probabilidade de desenvolver uma lipidose hepática mais acentuada.

Quando o animal apresenta cetose clínica observa-se perda gradual da condição corporal,

que pode ocorrer durante vários dias ou mesmo semanas. Ocorre também uma pequena

diminuição da produção de leite 2 a 4 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos mais

óbvios, que são: diminuição súbita da produção de leite, cheiro doce a cetona durante a

respiração, na urina e eventualmente no leite e anorexia seletiva, primeiro das rações e farinhas,

depois das silagens e por último das forragens. Quando aparece a anorexia, ocorre perda de

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condição corporal mais acentuada, que pode levar a caquexia em vacas cujo processo se arrasta

por um longo período.

No exame clínico, os animais apresentam temperatura e frequência respiratória e cardíaca

normais. As fezes, em geral, apresentam consistência mais firme e seca, com uma aparência

lustrosa e os movimentos ruminais podem estar normais, ou diminuídos se a anorexia estiver

ocorrendo há mais dias. A pelagem apresenta aspecto seco, com presença de piloereção.

Animais afetados podem, em estágio mais avançado da doença, apresentarem-se fracos, com

depressão moderada e relutância ao movimento. A hipoglicemia característica da cetose pode

ser responsável por esta sintomatologia. Também sinais nervosos como cegueira e andar

cambaleante podem ocorrer por curtos períodos de tempo.

Durante o exame físico cuidadoso, devemos investigar a possibilidade de estarmos diante de

uma cetose secundária. Com isso, é necessário procurar sinais característicos de outras

patologias, para descartarmos por completo a presença de doenças concomitantes. Taquicardias

e febres ligeiras podem ser um indicativo de que a patologia primária, que está causando a

cetose secundária, é uma patologia inflamatória.

Na forma digestiva ou debilitante, que corresponde a 86% dos casos, ocorre perda gradual do

apetite, indigestão, diarreia, diminuição da produção de leite e do peso corporal, esgotamento,

perda de condição corporal, diminuição no consumo de água, atonia ruminal, constipação, fezes

duras, fétidas com vestígios de sangue, perda da elasticidade da pele por desaparecimento da

gordura subcutânea, depressão e letargia com decúbito em casos severos. Ocasionalmente, nos

casos mais avançados, os corpos cetônicos conferem odor acético na pele, leite, urina e hálito.

Em geral não é uma doença mortal e a recuperação é espontânea. Contudo, caso não seja

tratada, a recuperação será muito lenta e as perdas de produção leiteira serão significativas.

A patogenia da cetose nervosa, menos comum, é desconhecida, nela observa-se sinais

neurológicos agudos, que lembram a raiva bovina . Sendo assim, os animais afetados podem

apresentar andar em círculo, mastigação sem conteúdo, sofrem quedas frequentes, déficit

proprioceptivo, apoiam a cabeça em superfície empurrando (head pressing), sialorreia,

incoordenação/ataxia com cegueira aparente ou transitória, bilateral, com origem cortical e com

reflexos pupilares presentes. Muitos animais mordem o recipiente de água e canos e lambem

excessivamente locais do próprio corpo ou objetos inanimados como paredes, portões e barras

de metal. Essas alterações ocorrem por irritação do tecido nervoso. Este comportamento em

conjunto com o apetite depravado são sinais clínicos úteis para diagnosticar a forma nervosa da

cetose.

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Podemos observar também, ainda na cetose nervosa, hiperestesia, tremores moderados ou

mesmo tetania, e, alguns animais podem permanecer caídos, apresentando sintomatologia

semelhante a hipocalcemia e a hipomagnesemia. Animais podem demonstrar agressividade para

com os humanos ou objetos inanimados principalmente quando são sujeitos a maior estresse,

por exemplo, no momento da captura. Os episódios de cetose nervosa duram, em geral, 1 a 2

horas e ocorrem com intervalos de 8 a 10 horas entre eles. Durante este período, o

comportamento dos animais é normal.

A impossibilidade de subir rampas ou ataxia resultante da fraqueza, pode ser visto em

algumas vacas com cetose primária e esses sinais estão diretamente relacionados a

hipoglicemia. A acidose metabólica pode ocorrer em alguns animais e, embora imprevisível,

pode ser grave.

Nas vacas prenhas que sofrem cetose clínica, os sintomas podem evoluir para constipação

extrema, seguida de queda, diarreia com sangue e morte.

As vacas com cetose secundária têm sinais clínicos relacionados com a doença primária (na

maioria das vezes por deslocamento de abomaso). A terapêutica deve corrigir o problema

primário em primeiro lugar e depois se resolve a cetose. Se esta persistir, pode estar presente

uma cetose primária. A proporção de vacas com deslocamento de abomaso que apresenta cetose

primária não é surpreendente, porque existe uma relação direta comprovada entre os dois

distúrbios.

Em geral, a cetose caracteriza-se por hipoglicemia, hipercetonemia e presença de corpos

cetônicos no leite e urina. Na cetose clínica, a concentração de glicose sanguínea é menor que

25 mg/dL (1,4 mmol/L), podendo ir no entanto dos 20 aos 40 mg/dL (1,12-2,24 mmol/L). Os

níveis de cetonas são maiores que 30 mg/dL (5 mmol/L) no sangue, que 10 mg/dL (1,75

mmol/L) no leite e que 84 mg/dL (14 mmol/L) na urina.

O glicerol plasmático encontra-se elevado, tal como os níveis de AGNE. Devido ao papel

fundamental do fígado no metabolismo energético, nesta patologia podemos encontrar aumento

de enzimas hepáticas e alterações nos testes da função hepática. Os níveis de AST sérico e de

SDH podem estar aumentados em muitos casos. Os valores de ácidos biliares estão também

correlacionados com o dano hepático. O cálcio e magnésio séricos podem estar ligeiramente

diminuídos nos animais anoréticos.

Um estudo efetuado com dois grupos de vacas em lactação demonstrou que vacas saudáveis

e vacas com cetose tinham níveis de cortisol plasmático semelhantes, no entanto estes níveis

tinham uma correlação positiva com a glicose sanguínea e uma correlação negativa com a

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concentração de corpos cetônicos no sangue. Assim, nas cetoses os níveis de cortisol estão entre

os valores normais. Os níveis de insulina estão elevados no início da patologia, mas vão

diminuindo à medida que o animal diminui a ingestão de alimento.

Na cetose subclínica, embora não existam sinais clínicos de doença, temos as mesmas

alterações analíticas. Assim, vamos observar níveis baixos de glicose sanguínea, níveis de 10-30

mg/dL (1,75-5 mmol/L) indicam um déficit severo de energia na dieta. Este parâmetro é

atualmente usado para medir, em nível de rebanho, o balanço energético nas vacas em lactação

e nas vacas secas.

A forma subclínica de apresentação de cetose é a mais frequente, especialmente em animais

que perdem mais do que 20% do peso vivo nas primeiras semanas pós-parto, ou que são

alimentados com excesso de proteína (pastos novos, azevém) ou com valores de fibra inferiores

a 18%. Segundo alguns autores, o animal perde o apetite, permanece com o dorso encurvado, a

pele fica com aparência ressecada, e a produção de leite cai.

Na cetose secundária, serão observados valores analíticos que se situam entre os intervalos

da cetose clínica e subclínica, dependendo da natureza e da duração do processo primário que

está subjacente.

Em ovinos e caprinos, os sintomas são similares à forma nervosa das vacas, embora

manifestada de forma mais grave. As ovelhas são mais suscetíveis aos efeitos da cetose, sendo

observadas, além dos sintomas nervosos, uma severa acidose metabólica, falha renal aguda,

uremia e desidratação. A ovelha se afasta do grupo e aparenta cegueira, não reage a estímulos e

cambaleia, fica várias horas junto aos bebedouros, mas sem beber água. Ocorre constipação,

tremores musculares, salivação e convulsões, podendo ser detectado o hálito cetônico. Em 3 a 4

dias pode entrar em decúbito, mantendo estado de profunda depressão, podendo chegar a coma

e morte. Geralmente acontece a morte dos fetos, o que exacerba a toxemia e aumenta as chances

de mortalidade.

Diagnóstico

O diagnóstico de cetose clínica é feito com base na história clínica e analítica: animais com

histórico de súbita queda na produção de leite antes das 8 semanas de lactação, com perda de

peso e recusa de ingestão de concentrado, e com valores normais de temperatura, pulso e

respiração, com presença de acetona, AcAc e BHB no sangue, urina e leite. Alguns clínicos

conseguem distinguir o cheiro de acetona na respiração e no leite, sendo muitas vezes no

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campo, esse, em conjunto com o histórico e a ausência de outras patologias, o único método

disponível para o diagnóstico desta patologia.

O diagnóstico pode ser confirmado através da análise de glicose e dos ácidos graxos livres

no sangue, e dos corpos cetônicos no leite, sangue e urina.

A concentração desses corpos cetônicos aumenta no sangue e na urina. Concomitantemente,

os valores de glicemia estão baixos e os de ureia elevados. A AST e a GGT têm atividade

plasmática aumentada, sugerindo dano hepático.

Um exame físico completo e atento é necessário para descartar a presença de outras doenças,

ou seja, para diagnosticar se estamos diante de uma cetose primária ou secundária.

O diagnóstico final da cetose pode ser confirmado com uma reação positiva dos testes

rápidos disponíveis ou então, caso estes não sejam conclusivos, podemos recorrer à análise dos

níveis sanguíneos de glicose e cetonas.

Existem vários tipos de reagentes para a detecção de cetonas no sangue, urina e leite, que são

usados nos testes disponíveis no mercado. Muitos deles só detectam a presença de AcAc, não

reagindo na presença de acetona e BHB, pelo que a escolha deve recair nos testes que detectam

pelo menos os dois primeiros compostos.

Alguns testes comerciais usados para monitorar diabetes nos humanos podem também ser

usados pelos veterinários no diagnóstico de cetoses clínicas nas explorações. Um dos testes

também muito utilizados para a confirmação do diagnóstico de cetose na urina e leite é o

Rothera. Este teste é realizado usando uma gota do leite ou urina adicionando-se uma pequena

quantidade do reagente Rothera (que consiste em 3 g de nitroprussiato de sódio, 3 g carbonato

de sódio e 100 g de sulfato de amônia) numa superfície branca, que pode ser cartão , azulejo ou

plástico. Nele quando ocorre a mudança de cor do reagente para púrpura (rosa a roxa) confirma-

se a presença de acetona e de ácido AcAc na amostra. A taxa e a intensidade da mudança da cor

são indicativas do grau de concentração das cetonas. Sendo assim, quanto mais intensa for a

reação, tanto maior será a quantidade de cetonas presentes nas amostras.

A urina normalmente contém baixos níveis de corpos cetônicos, por isso um diagnóstico só é

positivo quando o teste sobre o leite também for positivo.

Segundo os autores existe uma flutuação mínima dos valores de acetona e de AcAc no leite,

o que faz destes componentes os mais utilizados na medição do balanço energético das vacas. O

BHB tem por norma concentrações sanguíneas mais elevadas que a acetona e o AcAc, no

entanto a sua medição apenas será feita a nível sanguíneo (plasma ou soro) uma vez que os

testes rápidos disponíveis não medem este produto. O BHB é o corpo cetônico predominante na

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circulação. As concentrações plasmáticas de BHB tem correlação significativa com

concentrações plasmáticas de acetoacetato, mas este é instável em amostras, enquanto o BHB é

relativamente estável. As vacas normais tem concentrações plasmáticas de BHB inferior a 1,0

mmol/L, as vacas com cetose subclínica tem concentrações superiores a 1,4 mmol/L e vacas

com cetose clínica tem concentrações muitas vezes superior a 2,5 mmol/L. O BHB plasmático

mostra algumas variações diurnas em animais alimentados duas vezes por dia, com picos de

concentração ocorrendo aproximadamente 4 horas após a alimentação e maiores concentrações

de manhã do que no período da tarde. Isso não é observado em vacas alimentadas com uma

ração completa. A monitoração de BHB plasmático não é rentável ou conveniente para análise

de rotina. As concentrações de BHB e acetoacetato na urina e no leite são inferiores às do

sangue.

Portanto, a medição dos níveis no sangue de AGNE e corpos cetônicos não são

rotineiramente usados, pois apesar de estarem elevados, há uma variação durante o dia dos seus

níveis, o que torna difícil saber o momento certo para coleta de sangue.

A urina de um animal saudável contém cetonas, mesmo que em níveis baixos, uma vez que

os níveis de cetona urinária são 2 a 20 vezes mais concentradas que os níveis sanguíneos. Logo,

vacas saudáveis podem ter resultados positivos, sendo que um diagnóstico positivo na urina por

si só não é indicativo da doença. Para que seja diagnosticada a cetose é necessário que haja

também um resultado positivo na testagem do leite, além do resultado positivo na urina, isto

porque os níveis de cetona no leite refletem os níveis de cetona no sangue. Pode também, haver

um fator de diluição que ocorre em vacas com cetose nervosa, devido aos comportamentos

anormais e ao apetite depravado, por beberem muita água e lamberem quantidade excessiva de

blocos de sal.

Quanto aos níveis de glicose no sangue, diminuem dos 50 mg/dL para aproximadamente 20-

40 mg/dL. Quando a cetose é secundária a outras doenças, geralmente é acompanhada de níveis

de glicose no sangue acima de 40 mg/dL e, muitas vezes, acima do normal.

A concentração de gordura do leite tende a aumentar e a concentração de proteína do leite

tende a diminuir durante o BEN pós-parto. Comparando os valores entre proteína e gordura do

leite (dividindo-se um valor pelo outro), sendo este valor superior a 1,5 na primeira ordenha do

dia é indicativo da falta de abastecimento de energia na alimentação animal e de risco de cetose.

Há geralmente elevação das enzimas hepáticas, mas os testes de função hepática estão dentro

da faixa normal. A biopsia hepática é o único método preciso para determinar o grau de dano

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hepático, podendo ter resultado positivo de degeneração gordurosa, este aparenta ser a única

maneira de identificar o grau de lipidose hepática.

As concentrações plasmáticas de AGNE são elevadas como são as concentrações de

colesterol e bilirrubina. A bilirrubina não é um indicador suficientemente sensível para avaliar o

grau de mobilização de gordura. Os níveis de glicogênio estão baixos e a curva de tolerância à

glicose pode ser normal. Os níveis de AGV no rúmen são muito mais elevados em vacas com

cetose do que em vacas normais e o nível ruminal do ácido butírico está significativamente

aumentado em relação aos ácidos acético e propiônico. Há uma pequena queda, mas

significativa, nos níveis séricos de cálcio (para cerca de 9 mg/dL), provavelmente devido ao

aumento das perdas na urina para compensar a acidose.

Segundo alguns autores, poderá ser usado, para a exclusão das cetoses subclínicas o

logaritmo da média da concentração de BHB sanguínea, medida em pelo menos 7 animais. O

teste laboratorial que mede os níveis de BHB é o teste mais usado para o despiste de cetoses

subclínicas e também é usado no diagnóstico das cetoses clínicas quando este é feito através da

análise sanguínea laboratorial.

Também existem testes de cálculo de perfil metabólico em vacas de alta produção em que

são feitas coletas de sangue para dosagem de corpos cetônicos em 3 grupos de animais, sendo

eles: vacas no início da secagem, vacas recém paridas e vacas a meio da lactação.

Concluindo o diagnóstico, observa-se que, em geral é feito sobre a história de uma vaca em

lactação, com queda súbita na produção de leite, alguma perda de peso, recusando-se a comer

concentrado, com temperatura normal, pulso e frequência respiratória e os movimentos normais

do rúmen. O diagnóstico é confirmado pela reação de Rothera positiva no leite e na urina e, se

isso não for conclusivo, uma amostra de sangue pode ser analisada para níveis de glicose e

corpos cetônicos. É importante a diferenciação entre cetose primária e secundária, assim deve

realizar-se um exame clínico completo. Muitos casos apresentados como cetose, são casos de

deslocamento do abomaso. Algumas vacas com hipocalcemia também podem mostrar cetose.

Diagnostico diferencial

Devido ao quadro clínico inespecífico, como possíveis diagnósticos diferenciais são

apresentados o deslocamento do abomaso, a reticulite traumática, a indigestão primária, a

cistite, a pielonefrite ou a diabetes mellitus.

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A cetose nervosa, pela natureza dos seus sinais clínicos, pode levar a confusões no seu

diagnóstico. Quando é apresentado um quadro nervoso é necessário descartar a listeriose, a

raiva, a hipomagnesemia e encefalopatia espongiforme bovina.

A semelhança das mudanças comportamentais pode levar os veterinários a suspeitar de

listeriose, no entanto nesta patologia os animais apresentam pirexia. Já a raiva pode também ser

um diagnóstico diferencial da cetose nervosa, pela agressividade, no entanto a raiva é sempre

fatal e apresenta uma paralisia ascendente que não se verifica na cetose.

A cegueira bilateral pode levar a pensar em envenenamento por chumbo, e a perda de peso

pode levar a suspeitar de encefalopatia espongiforme bovina, no entanto esta última tem

apreensão anormal, pontapés e uma natureza progressiva. A hipocalcemia pode ser um

diagnóstico diferencial tal como a hipomagnesemia pois podem originar síndrome de vaca caída

e hiperestesia e tetania leves. Todas estas patologias não apresentam hipoglicemia com níveis

aumentados de cetonas no sangue.

Tratamento

Existem um grande número de tratamentos usados para casos de cetose clínica, no entanto,

todos baseiam-se em três princípios fundamentais. 1) Restabelecer, o mais rápido possível, os

níveis sanguíneos de glicose; 2) Restabelecer os níveis de oxalacetato, um componente

intermediário essencial no ciclo de Krebs no fígado, de modo que os ácidos graxos mobilizados

dos depósitos de gordura sejam completamente oxidados e isto leve a uma redução da taxa de

produção de corpos cetônicos e aumente a gliconeogênese; 3) Aumentar a disponibilidade de

percursores glicogênicos na dieta, nomeadamente ácido propiônico.

O tratamento tradicional, que é administrado à maioria dos animais doentes, consiste na

administração de 500 mL de glicose a 50% pela via intravenosa, seguido de dose única de 10-20

mg de glicocorticóides e ainda o tratamento com 150 g de propilenoglicol, BID, mais cobalto,

durante 3 a 4 dias.

A administração intravenosa de 500 mL de glicose 50% (dextrose) tem um efeito

hiperglicemiante que faz desaparecer os sinais clínicos e pode aumentar a produção leiteira em 5

a 10 dL de leite na ordenha seguinte. No entanto, a hiperglicemia obtida é transitória (2 a 3

horas), tendo a duração de aproximadamente duas horas, aumentando a secreção de insulina,

diminuindo a de glucagon e reduzindo a concentração plasmática de AGNE. Esta administração

leva a uma melhora acentuada na maioria dos animais, mas ocorre recidiva dos sinais clínicos,

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principalmente dos neurológicos e a nova quebra da produção leiteira. Por esta razão,

aconselha-se repetir a administração, para que se diminua a possibilidade de recidivas. Isto

ocorre provavelmente, pela transitória hiperglicemia ou pela dosagem insuficiente. A dose

necessária irá variar de acordo com a quantidade de lactose perdida na produção de leite.

A administração IV de glicose deve ser acompanhada pela administração oral dos

precursores da glicose, como o propilenoglicol (150 mL, duas vezes ao dia).

O ideal seria a administração lenta e contínua de 20 L de glicose a 5% durante 24 h, em

soluções com metade da salinidade normal. O que permitiria uma boa taxa de infusão e boa

manutenção do cateter, sem o perigo de causar uma diurese osmótica. A urina e sangue

deveriam ser monitorados 1 a 2 vezes por dia, para se medirem os níveis de glicose e corpos

cetônicos, sendo que o tratamento deveria continuar até que deixassem de ser detectados corpos

cetônicos na urina. Estes procedimentos são, no entanto, impossíveis de realizar na realidade do

campo, então opta-se por repetir as administrações de dextrose de 12 em 12 h e no mínimo

realizar 3 tratamentos.

Os glicocorticóides (dexametasona, betametasona e flumetasona) por serem estimuladores da

gliconeogênese e, portanto, de aumento da glicemia, são a terapia mais comumente utilizada

para acetonemia, sejam usados sozinhos ou em combinação com a terapia de glicose seguido

por administração oral de precursores de glicose. A hiperglicemia ocorre dentro de 24 horas

após a administração e parece resultar de um reposicionamento de glicose no organismo,

inibindo o uso desta nos tecidos periféricos, ao invés de gliconeogênese. A terapia com

glicocorticóides resulta numa redução da formação de corpos cetônicos, devido a utilização do

acetil-CoA proveniente da oxidação dos ácidos graxos e aumenta os níveis de glicose no

sangue, devido a uma maior disponibilidade de precursores de glicose no fígado.

Frequentemente, uma dose é suficiente, mas muitas vezes pode haver recaídas 2 a 3 dias

após o tratamento, podendo ser repetida a administração. No tratamento da cetose clínica com

glicocorticóides, administra-se uma dose única de 20 mg (0,04 mg/kg de peso vivo) de

dexametasona IV que pode ser repetida novamente 2 a 3 dias após a primeira administração. Em

alternativa, podemos administrar, após a dose inicial, uma dose de 10 mg SID de dexametasona,

durante 3 a 4 dias. Deve-se, no entanto, ter atenção ao uso prolongado deste fármaco, uma vez

que o seu uso em excesso leva à diminuição do apetite e, portanto redução da ingestão de

alimentos, além da diminuição da produção de leite. Pode levar também a hipocalcemia e

diminuição de potássio. Se por um lado esta diminuição ajuda ao aumento da glicemia, por

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outro lado quando este processo já está em fase de resolução só aumenta as perdas econômicas

dos produtores.

Em conjunto com estas terapias, podem ser administrados precursores da glicose, oralmente,

como fonte alternativa de energia. Podemos usar o propionato, glicerol e propilenoglicol. O

propionato é fermentado no rúmen podendo causar distúrbios digestivos. O glicerol, usado

normalmente em doses de 500 mg BID durante pelo menos 10 dias, pode ser convertido no

rúmen em ácido propiônico ou então em ácidos cetogênicos. Sendo assim, o percursor

glicogênico mais utilizado é o propilenoglicol nas doses de 225 g BID durante 2 dias, seguidos

de 110 g SID por mais 2 dias. O propilenoglicol é absorvido diretamente no rúmen e atua para

reduzir a cetogênese, aumentando a concentração de citrato mitocondrial. O metabolismo que o

transforma em glicose ocorre através da conversão em piruvato, com a subsequente produção de

oxalacetato via piruvato carboxilase.

O uso de precursores glicogênicos em excesso afeta a flora ruminal, levando a uma

diminuição dos movimentos ruminais e a diarreias. Embora útil em animais com motilidade

normal, deve ser usado com cautela em animais com motilidade ruminal reduzida.

Podem também ser usados como fonte alternativa de glicose, além do propionato de sódio, o

lactato de amônio e o lactato de sódio, adicionando na dieta de animais com cetose. O

propionato de sódio é, teoricamente, um tratamento adequado, mas, quando administrado, a

resposta é muito lenta. Os lactatos são também altamente glicogênicos, mas o lactato de cálcio e

o de sódio e o acetato de sódio têm apresentado resultados menos satisfatórios que os obtidos

com o propionato de sódio. O lactato de amônio tem, no entanto, sido amplamente utilizado

com bons resultados. No entanto, segundo alguns autores, estes produtos podem causar

distúrbios digestivos se usados prolongadamente. Propionato de sódio é usado na dose de 110-

225 g/dia junto com o alimento.

Podemos adicionar cobalto e vitamina B12 à dieta de animais com cetose, pois a deficiência

de cobalto e consequentemente de vitamina B12 é considerada como causa potencial para cetose

(já que a vitamina B12 é um cofator essencial no metabolismo do propionato, intervindo no ciclo

de Krebs). E também, os níveis de vitamina B12 no fígado estão reduzidos em vacas no pós-

parto. Em regiões onde a deficiência de cobalto é conhecida, pode adicionar-se ao

propilenoglicol sais de cobalto em doses de 100 mg/dia.

O hidrato de coral é considerado um sedativo, mas pode ser muito útil como terapia inicial

em animais agitados. Contribui no metabolismo ruminal do amido, influencia a produção de

propionato no rúmen e ajuda na produção de glicose, atuando de maneira desconhecida. Serve

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como sedativo em vacas com cetose nervosa e como substrato para bactérias produtoras de

precursores glicogênicos.

A insulina facilita a captação celular de glicose, suprime o metabolismo dos ácidos graxos e

estimula a gliconeogênese hepática. É administrada em conjunto com glicose ou um

glicocorticóide e pode ser de especial valor nos casos iniciais de cetose, que não respondem à

glicose ou corticoterapia.

A infusão intravenosa de glucagon em casos induzidos de fígado gorduroso demonstrou

resultados promissores na diminuição da infiltração de gordura e aumento de glicogênio

hepático. Contudo, a administração prolongada não é prática recorrente.

O ácido nicotínico ou nicotinamida é usado na dose de 6 g PO SID durante 10 semanas logo

após o parto. Ele reduz os níveis de corpos cetônicos e AGNE no sangue e aumenta a glicose

sanguínea.

Agentes lipotróficos como a colina e L-metionina podem ser aditivos nos tratamentos de

cetose. A colina é um micronutriente que é degradado no rúmen, por isso tem de ser

administrado por via oral na forma de cápsulas de gelatina ou então pela via subcutânea. O seu

uso deve-se ao fato de ser um precursor da fosfatidilcolina, uma lipoproteína encontrada nas

membranas celulares e como tal utiliza os AGL em excesso. A L-metionina é também um

precursor dos fosfolipídeos, utilizado na síntese de VLDL. Porém, não está completamente

comprovada a sua utilidade efetiva no tratamento da cetose e está descrito que o seu uso pode

ser perigoso quando existe danos hepáticos severos.

Os esteróides anabólicos, tais como acetato de trenbolone (60 mg), aumentam os níveis de

intermediários no ciclo de Krebs no fígado, diminuindo assim os corpos cetônicos no sangue.

Estimulam também o apetite, o que garante um aumento dos precursores glicogênicos no

sangue aumentando assim indiretamente a concentração de glicose com a vantagem de não

terem qualquer efeito na produção de leite. No entanto, desde 1988, o seu uso é proibido na

União Europeia.

Para a recuperação total dos animais é fundamental o restabelecimento do apetite normal das

vacas, o mais rapidamente possível. E a terapia de suporte pode precisar ser continuada por

vários dias para que haja tempo de o animal manter a normoglicemia. Oferecer uma variedade

de alimentos pode ajudar o restabelecimento do apetite. Para que tudo isso ocorra, o ideal é

fornecer acesso a comida de boa qualidade, além de palatável, e, silagem bem fermentada. Se

houver uma diminuição ou mesmo ausência de movimentos ruminais, é possível administrar um

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ruminatório, tal como o Indigest por exemplo. Boas camas, água limpa e blocos de sal devem

também estar disponíveis para o animal.

Em vacas prenhas no final da gestação, com cetose, deve-se realizar uma intervenção rápida

para prevenir a lipidose hepática irreversível. A indução do parto, ou mesmo a cesariana podem

se fazer necessárias. O suporte intensivo com dextrose, 2,5-5% de infusão contínua e

alimentação forçada são importantes para que se restabeleça a glicemia nestes animais. Pode-se

ainda ser necessário a administração de cálcio e magnésio. Todas as terapias devem continuar

logo após o parto por alguns dias sob pena de recaídas, que podem ocorrer após 48 h do parto,

podendo ser fatais para o animal.

Já na forma nervosa da doença, a terapia instituída é igual, podendo, no entanto ser

necessário administrar 20-50 mg IM ou IV de xilazina, ou outro sedativo, em animais

agressivos ou muito agitados.

Em ovinos e caprinos, a resposta à terapia é ineficaz ou nula quando o animal já se encontra

em decúbito. É necessária uma terapia de reposição de fluidos, eletrólitos e do equilíbrio ácido-

básico, além de glicose intravenosa. É utilizada administração endovenosa de glicose (6 g 6-8

vezes ao dia), junto com insulina (30 UI intramuscular a cada 48 h por 2 vezes).

Adicionalmente, pode ser administrada injeção endovenosa de solução Ringer-lactato, além da

administração de líquidos com sonda esofágica.

Outra alternativa em ovelhas apresentado cetose é a administração de infusões orais, a cada 4

horas, de uma solução de 160 mL contendo 45 g glicose, 8,5 g de cloreto de sódio, 6,2 g de

glicina e eletrólitos (soluções antidiarréicas). Em ocasiões, será necessária a remoção do feto, o

qual é a causa da hipoglicemia, mediante cesariana ou indução hormonal do parto com

glicocorticóides. Assim como em vacas, é de utilidade a administração de propilenoglicol ou

glicerol via oral.

Prognóstico

O prognóstico depende da severidade dos sintomas e do grau de acetonemia. Em casos leves

uma mudança na alimentação pode regredir os sintomas em 10 dias do início do tratamento. Em

casos graves, pode considerar-se a possibilidade de cetose secundária ou outro processo

patológico, como reticuloperitonite traumática, deslocamento do abomaso, pielonefrite, retenção

de placenta e endometrite.

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O prognóstico de cetose ou outras doenças metabólicas é bom quando a terapia instituída é

adequada. No entanto, esse prognóstico piora quando está associada lipidose hepática ou

quando estamos diante de vacas prenhas no final da gestação. Outros animais podem ter

associado a cetose, outras doenças como hipocalcemia e acidoses metabólicas, sendo que o seu

prognóstico depende também da evolução dessas outras doenças.

A cetose nervosa tem um prognóstico mais reservado e algumas vacas podem ficar com

cegueira bilateral cortical permanente, apesar da remissão do restante da sintomatologia clínica.

Prevenção e controle

Inicialmente, deve-se salientar que é muito difícil fazer recomendações gerais para o controle

da doença devido as muitas condições em que ocorre, a sua provável etiologia múltipla e aos

sistemas de alimentação, que variam desde aqueles que alimentam com os componentes

separadamente àqueles que alimentam com rações completas.

Mesmo assim, é possível afirmar que, o controle de cetose clínica está integralmente

relacionado com a nutrição adequada do animal durante o período seco e lactação. Este engloba

detalhes como: (1) consumo de matéria seca; (2) digestibilidade da fibra; (3) distribuição

granulométrica; (4) densidade de energia; (5) incorporação de gordura em rações de início de

lactação; (6) teor de proteínas; (7) sistemas de alimentação; (8) tamanho do rúmen.

A prevenção e controle das cetoses podem ser resumidos em 3 passos fundamentais como:

(I) alimentação e manejo das vacas durante o fim da lactação/período seco, (II) otimização da

ingestão de concentrados e rações no início da lactação e (III) formulação de rações ideais para

o início da lactação.

A prevenção da cetose começa antes do parto e tem como objetivo a redução do excesso de

mobilização dos AGNE a partir do tecido adiposo.

No manejo dos animais durante o período seco, devemos prevenir tanto a perda excessiva de

peso, como o ganho excessivo de peso. Evitando que as vacas, na altura do parto, estejam

demasiadamente gordas. Então, as vacas não devem estar subalimentadas, nem ser

demasiadamente gordas na altura do parto. O ideal seria que o animal apresentasse uma

condição corporal de 2,5-3,5 pontos na altura do parto. Vacas com escores mais elevados devem

ser consideradas gordas e como tal com um risco acrescido de apresentar patologia. Também as

vacas gordas que emagrecerem muito, apresentam maior risco de lipidose hepática no pré-parto.

A gordura perdida no início da lactação para a produção de leite é a gordura que foi armazenada

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no final da lactação anterior, e, não no período seco, daí que a alimentação das vacas secas deve

permitir um crescimento fetal, sem promover o aumento do peso corporal. No fim do período

seco, deve aumentar-se a proteína e o conteúdo em fibras longas da dieta para no mínimo 40%,

as fibras vão promover uma boa digestão ruminal. Este tipo de alterações acaba por ter os

mesmos benefícios na prevenção de cetose que medicamentos e aditivos mais caros.

É recomendada uma cuidadosa formulação da dieta com base em valores alimentares de

referência tabelados. Uma frequência de alimentação extremamente baixa e a alimentação dos

concentrados separada da forragem ao invés de uma ração completa, pode levar a um aumento

das taxas de cetose.

A transição entre o período seco e o início da lactação deve ser suave. As dietas formuladas

para os períodos de transição deverão fornecer a energia necessária à produção leiteira,

contando já com a diminuição da ingestão de matéria seca que ocorre no pós-parto, prevenindo

deste modo a queda brusca da ingestão de matéria seca. Dietas no pós-parto com níveis de

energia mais elevados do que o necessário estão associados a taxas de doenças metabólicas mais

reduzidas e maiores produções leiteiras.

Os concentrados dever ser introduzidos em pequenas quantidades (1-2 kg por dia), 2 a 4

semanas antes do parto para habituar a microflora ruminal das vacas, e devem depois ir

aumentando gradualmente nas 4 semanas pós parto, até estarem disponíveis.

As rações pós-parto ideais são aquelas que são muito palatáveis, com grande densidade

energética e com níveis de fibra e proteínas ótimos. Podem adicionar-se gorduras protegidas na

forma de sais de cálcio e ácidos graxos de cadeia longa, por exemplo, ácido palmítico, que

aumentam a densidade energética dos concentrados, não diminuindo o seu conteúdo de fibra.

Estas alterações resultam num aumento da produção de leite, numa diminuição da ingestão de

matéria seca mais lenta, e na estabilização dos níveis de cetonas sanguíneas. Tal como nas

dietas de transição, todas as alterações necessárias à dieta das vacas leiteiras, no início da

lactação devem ser feitas de modo gradual.

Nos EUA, as vacas secas são normalmente divididas em dois grupos, “longe e perto” do

parto. As vacas “longe do parto” geralmente são alimentadas segundo as orientações da

National Research Council (NCR): para as vacas secas. E as vacas “perto do parto” recebem

uma ração que está entre a ração para vaca seca e a ração de lactação, a partir das 3 semanas

antes da data prevista do parto, com o objetivo de maximizar a ingestão de matéria seca e

proporcionar adequado aporte de energia.

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As forragens e concentrados fornecidos, tanto a vacas leiteiras como as vacas no período

seco, devem ser de boa qualidade, pois forragem de baixa qualidade geralmente conduz a

acetonemia. E estas forragens devem ser sem substâncias cetogênicas. A silagem úmida,

contendo muito butirato, é uma das principais causadoras da cetose, tal como o feno bolorento

ou velho. Assim devem evitar-se forragens com altos níveis de butirato, embora este aumente a

gordura do leite. A mudança súbita da fonte de concentrados pode levar à sua recusa, levando a

surtos de cetose.

As vacas que estão estabuladas devem fazer algum exercício todos os dias e, em efetivos

onde a doença é um problema particular durante os períodos de estabulação, os animais devem

ser colocados na pastagem o mais rápido possível na primavera.

A ração deve conter quantidades adequadas de cobalto, fósforo e iodo. Em áreas com

deficiência em Co, ou então em animais cujos níveis de Co são baixos, este mineral deve ser

fornecido na dieta nas quantidades necessárias. Se os animais andarem no campo pode ser

colocado sulfato de cobalto nas pastagens.

A redução da ureia presente nas dietas dos animais no pós-parto constitui uma ferramenta

importante na prevenção da cetose, uma vez que estudos indicam que vacas alimentadas com

dietas com elevados níveis de ureia estão mais expostas ao risco de cetose.

O ácido propiônico é absorvido pela parede do rúmen, é transportado para o fígado onde é

convertido em glicose via gliconeogênese, resultando num aumento nos níveis desta no sangue.

A alimentação com 110 g/dia propionato de sódio, durante 6 semanas, com início no parto, tem

dado bons resultados na redução da incidência de cetose clínica bovina e melhoria na produção.

Como não é palatável tem risco de reduzir o consumo de alimentos. A alimentação deve incluir

substratos que propiciem a formação de ácido propiônico, como feno de alfafa ou de milho.

A administração de niacina, nome genérico do ácido nicotínico ou nicotinamida, tem um

efeito antilipolítico e induz o aumento de glicose e insulina no sangue. É usada como aditivo nas

dietas dos animais no pré e no pós-parto. Estes compostos interferem no processo de

mobilização de reservas energéticas e gorduras. Há evidências que indicam que a niacina na

alimentação não tem um efeito benéfico sobre a cetose subclínica em bovinos. No entanto,

apesar dos bons resultados que se podem obter nas cetoses clínicas e na prevenção, os

produtores não usam regularmente estes aditivos como métodos preventivos. Devido não só aos

custos que esse uso implica, mas também aos inconvenientes de manejo, uma vez que exige

uma alimentação diferenciada das vacas 2 semanas antes do parto e até 12 semanas após.

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A somatotropina bovina (STB) ou hormônio do crescimento é um hormônio proteico,

produzido através da técnica de ADN recombinante que altera o metabolismo dos tecidos de

modo que mais nutrientes possam ir para a síntese de leite na glândula mamária, sem que o

animal altere o seu estado de saúde. O resultado é um elevado aumento da produção leiteira e da

eficiência produtiva dos bovinos, sem que este aumento leve a alterações na qualidade do leite e

ou no estado físico dos animais. Vacas, que na lactação anterior receberam doses de STB

apresentam na lactação seguinte níveis sanguíneos de glicose mais elevados e uma menor

concentração de AGL e corpos cetônicos. Nestes animais também se detectou uma maior

ingestão de alimento. A administração de doses baixas de STB nas 3 semanas antes do parto e

até os 60 dias pós parto, leva a uma diminuição da incidência desta patologia de 4,65 para

1,23%, sem que se verifiquem efeitos negativos relativos a esta suplementação. Podemos deste

modo, concluir que a administração de STB pode ser útil não só na prevenção da cetose como

também como ferramenta para o aumento da produção leiteira.

Ionóforos alteram a flora bacteriana do rúmen, levando a uma diminuição das bactérias

gram-positivas, protozoários e fungos e aumento de bactérias gram-negativas. O efeito destas

mudanças na flora bacteriana é o aumento da produção de propionato e diminuição na produção

de acetato e butirato proporcionando mais precursores glicogênicos, além de reduzir o conteúdo

de gordura no leite, evitando maiores perdas energéticas. Os ensaios a campo com monensina

demonstraram uma redução no BHB plasmático e uma menor prevalência de cetose clínica. Em

alguns países como o Canadá, se administra monensina, 300 mg/dia/animal (cápsula), nas três

semanas que antecedem o parto como forma de prevenir a ocorrência de cetose em vacas com

alta condição corporal (superior a 3,5). Este pode ser um bom aditivo, bastante útil no combate

das cetoses clínicas e subclínicas. Porém os ionóforos não são autorizados para inclusão em

rações para vacas em lactação, em alguns países.

Percursores glicogênicos tais como o propilenoglicol tem mais vantagens quando usados a

nível individual como tratamento de cetose clínica e subclínica, do que quando usados a nível

de rebanho como aditivos na dieta, uma vez que não são palatáveis e podem diminuir a ingestão

de alimento. Porém, alguns autores citam que ele é utilizado com frequência na prevenção de

cetose clínica e subclínica, adicionado na alimentação ou em bolus, esta última forma é mais

eficaz no aumento da glicose sanguínea do que na sua incorporação na alimentação. A dose de

propilenoglicol é de 350 mL/dia por 10 dias.

Por último, podemos usar perfis metabólicos como a medição da glicose sanguínea e os

níveis de BHB no sangue em vacas secas e em animais em lactação, como medidores do

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balanço energético da dieta e como indicadores da predisposição de um rebanho para a cetose

clínica e subclínica. Testes de cetonas no leite e urina devem ser usados rotineiramente durante

os primeiros 50 a 60 dias de lactação pelos produtores, com o objetivo de detectar e tratar o

mais cedo possível as cetoses clínicas e subclínicas prevenindo assim os danos na saúde e

produção do rebanho.

A monitorização bioquímica dos efetivos leiteiros para cetose subclínica e a adequação da

alimentação antes do parto pode ser realizada utilizando estimativas de glicose no sangue, numa

amostra de vacas na sua segunda semana de lactação. Os níveis de glicose no sangue abaixo de

35 mg/dL sugerem cetose subclínica, sendo um sinal de alarme. Para cada vaca, as estimativas

de glicose no sangue devem ser feitas cerca do dia 14 pós-parto.

Níveis de beta-hidroxibutirato sanguíneo maiores que 10 mg/dL são indicativos de cetose

subclínica. É útil, também, que testes para detecção de corpos cetônicos na urina ou no leite

sejam feitos a partir da segunda semana de gestação.

Mais comumente, são recomendados testes de CC na urina ou no leite de vacas na primeira

ou segunda semana de lactação, para detecção precoce da cetose e instituir um tratamento,

evitando perdas de leite e doenças associadas a esta. Outra recomendação é testar as vacas

rotineiramente, como, por exemplo, num dia específico a cada semana. Isto deve ser acoplado

com o índice de condição corporal para monitorar a eficácia do programa nutricional. A

quantificação de glicose plasmática associada com o BHBA plasmático é o melhor modelo de

predição de acompanhamento do balanço energético dos bovinos em pastagem e com CC no

leite, numa exploração. No entanto, a variação de CC no leite é elevada e é necessária uma

amostragem frequente para uma estimativa precisa.

Para o controle de cetose em ovelhas são aplicadas recomendações similares as das vacas. O

nível nutricional deve ser aumentado a partir do 3° mês de gestação. A condição corporal deve

ser avaliada aos 3 meses de gestação, devendo o escore ser de 2,5-3,0 (escala de 1 a 5). Os

últimos 2 meses de gestação são de especial importância para a prevenção da toxemia da

gestação, pois é a época em que o peso dos fetos aumenta 70%. Nesse período, é recomendável

fornecer concentrado contendo 10% de proteína (250 g/dia, aumentando progressivamente até

chegar a 1 kg/dia) nas duas últimas semanas de gestação.

Em ovelhas também deve ser evitado o aumento excessivo de peso no início da gestação,

sendo preferida alimentação em pastejo nessa época, reservando a suplementação com

concentrado somente para o final da gestação. Todas as situações que submetam os animais a

estresse devem ser evitadas, principalmente no final da gestação.

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