Ceja Historia Unidade 1

44
CIÊNCIAS HUMANAS e suas TECNOLOGIAS >> CEJA >> Módulo 1 CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS Unidades 1 e 2 Fascículo 1

description

Historia

Transcript of Ceja Historia Unidade 1

  • CINCIAS HUMANASe suas

    TECNOLOGIAS >>

    CEJA>>

    Mdulo 1

    CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS

    Unidades 1 e 2Fascculo 1

  • GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    Governador

    Sergio Cabral

    Vice-Governador

    Luiz Fernando de Souza Pezo

    SECRETARIA DE ESTADO DE CINCIA E TECNOLOGIA

    Secretrio de Estado

    Gustavo Reis Ferreira

    SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAO

    Secretrio de Estado

    Wilson Risolia

    FUNDAO CECIERJ

    Presidente

    Carlos Eduardo Bielschowsky

    FUNDAO DO MATERIAL CEJA (CECIERJ)

    Coordenao Geral de Design Instrucional

    Cristine Costa Barreto

    Elaborao

    Maurcio Cardoso

    Paulo Mello

    Reviso de Lngua Portuguesa

    Paulo Csar Alves

    Coordenao de Design Instrucional

    Flvia Busnardo

    Paulo Miranda

    Design Instrucional

    Heitor Soares de Farias

    Marcelo Franco Lustosa

    Coordenao de Produo

    Fbio Rapello Alencar

    Capa

    Andr Guimares de Souza

    Projeto Grfico

    Andreia Villar

    Imagem da Capa e da Abertura das Unidades

    http://www.sxc.hu/photo/1175613

    Sanja Gjenero

    Diagramao

    Equipe Cederj

    Ilustrao

    Bianca Giacomelli

    Clara Gomes

    Fernado Romeiro

    Jefferson Caador

    Sami Souza

    Produo Grfica

    Vernica Paranhos

  • Sumrio

    Unidade 1 | Memria e Experincia Social 5

    Unidade 2 | A diversidade cultural na histria do Brasil 45

  • Prezado(a) Aluno(a),

    Seja bem-vindo a uma nova etapa da sua formao. Estamos aqui para auxili-lo numa jornada rumo ao

    aprendizado e conhecimento.

    Voc est recebendo o material didtico impresso para acompanhamento de seus estudos, contendo as

    informaes necessrias para seu aprendizado e avaliao, exerccio de desenvolvimento e fixao dos contedos.

    Alm dele, disponibilizamos tambm, na sala de disciplina do CEJA Virtual, outros materiais que podem

    auxiliar na sua aprendizagem.

    O CEJA Virtual o Ambiente virtual de aprendizagem (AVA) do CEJA. um espao disponibilizado em um

    site da internet onde possvel encontrar diversos tipos de materiais como vdeos, animaes, textos, listas de

    exerccio, exerccios interativos, simuladores, etc. Alm disso, tambm existem algumas ferramentas de comunica-

    o como chats, fruns.

    Voc tambm pode postar as suas dvidas nos fruns de dvida. Lembre-se que o frum no uma ferra-

    menta sncrona, ou seja, seu professor pode no estar online no momento em que voc postar seu questionamen-

    to, mas assim que possvel ir retornar com uma resposta para voc.

    Para acessar o CEJA Virtual da sua unidade, basta digitar no seu navegador de internet o seguinte endereo:

    http://cejarj.cecierj.edu.br/ava

    Utilize o seu nmero de matrcula da carteirinha do sistema de controle acadmico para entrar no ambiente.

    Basta digit-lo nos campos nome de usurio e senha.

    Feito isso, clique no boto Acesso. Ento, escolha a sala da disciplina que voc est estudando. Ateno!

    Para algumas disciplinas, voc precisar verificar o nmero do fascculo que tem em mos e acessar a sala corres-

    pondente a ele.

    Bons estudos!

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 5

    Fascculo 1 Histria Unidade 1

    Memria e experincia socialPara incio de conversa...

    Vamos comear esta unidade, contando uma pequena histria de um caso

    verdico. Trata-se do caso de um paciente do sexo masculino, de 26 anos, da cida-

    de de Raposos, Minas Gerais, casado, Ensino Mdio, garom e cozinheiro. No dia 6

    de fevereiro, ele saiu do trabalho s 21 horas, mas no retornou sua casa. Ficou

    dois dias desaparecido e foi encontrado vagando prximo rodoviria de Belo

    Horizonte, quando foi encaminhado ao hospital.

    Ele no se lembrava de nenhum fato relacionado sua vida. No sabia

    seu nome, nem reconhecia seus familiares. Nas entrevistas com a equipe m-

    dica, o paciente dizia no se lembrar de qualquer fato ocorrido antes do dia 6

    de fevereiro, mostrando dificuldades na compreenso e no uso de palavras, no

    reconhecimento e na utilizao de objetos e conceitos culturais. No sabia mais

    ler ou escrever.

  • 6No hospital, o paciente mostrou-se preocupado com a perda de memria, tentando recordar-se de tudo o que

    era informado. Aos poucos, comeou a lembrar-se de alguns fatos, especialmente eventos isolados da infncia.

    Aps um ano de acompanhamento, o paciente ainda apresentava apenas lembranas esparsas que no se arti-

    culavam bem. No conseguia contextualizar o que aprendia e, apesar de no exibir alteraes do humor, mantinha-se

    socialmente isolado.

    Esse texto foi adaptado de um artigo cientfico, publicado na Revista de Psiquiatria Clnica, da Universidade de So Paulo. Ele est disponvel, na ntegra, no endereo eletrnico:

    http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol35/n1/pdf/26.pdf )

    No caso relatado, um trabalhador simplesmente perdeu a memria sem nenhum motivo aparente. Ele no se

    lembrava mais quem era, no se recordava de sua famlia e havia esquecido quase tudo que aprendera durante sua

    vida. Ao perder sua memria, praticamente perdeu tambm sua identidade.

    Imagine-se em uma situao semelhante: esquecer o prprio nome, no reconhecer os filhos, desaprender a

    ler, escrever e perder todas as habilidades profissionais que dispunha. Como seria possvel levar a vida dessa forma?

    D para ter uma ideia de como seria difcil a situao de um indivduo sem memria, incapaz de trabalhar e com di-

    ficuldade de se relacionar socialmente? Percebemos, assim, como importante a memria na construo da nossa

    experincia pessoal e coletiva.

    Figura 1: Perda de memria: algo no funciona bem na engrena-gem cerebral

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 7

    Nesta unidade, vamos entender o que memria e como ela se relaciona com nossa identidade. Tambm

    vamos discutir a ideia de memria social ou coletiva, aquela que nos identifica com um passado comum, e, portanto,

    faz com que nos reconheamos como brasileiros. Como ser que essa memria se construiu? Como ela preservada?

    Quem cuida da memria do povo brasileiro? Alm disso, vamos estudar como se formou a identidade de um povo em

    uma outra poca da Histria, na Antiguidade.

    Objetivos de aprendizagem Perceber que a memria d significado para nossas experincias pessoais e coletivas;

    Analisar as instituies que produzem memrias coletivas;

    Identificar a formao da identidade entre os gregos na Antiguidade;

    Analisar a importncia das memrias coletivas e da memria nacional na formao da sociedade brasileira.

  • 8Seo 1O trabalho da memria: dar significado s nossas experincias

    Todo mundo tem alguma ideia sobre o que a me-

    mria ou para que ela serve. Falamos em pessoas de boa

    memria ou sem memria, citamos acontecimentos e

    histrias de memria (sem precisar recorrer a um livro

    ou fonte de informao qualquer, utilizando apenas o que

    est na nossa cabea). Tambm usamos a memria para

    realizar exames na escola, guardando certas informaes

    e utilizando-as na hora certa.

    Alm disso, sabemos o que o contrrio da me-

    mria, isto , o esquecimento. No caso do paciente que

    perdeu a memria, tudo foi esquecido. Mas, na vida coti-

    diana, esquecemos pouco a pouco, mal percebemos que

    certas informaes desaparecem da nossa memria, ou

    ficam l, bem escondidas, at que uma ocasio a desperte

    e voltamos a lembrar.

    Quando algum diz No meu tempo era diferente,

    est se lembrando do que viveu em sua poca de juventu-

    de ou infncia. Quando falamos de poltica, muitas vezes

    recorremos s nossas lembranas: no tempo da inflao

    alta, era uma vergonha, na poca da ditadura, ningum

    podia falar mal do governo. Assim, ao utilizar a memria, fazemos comparaes, trazemos informaes extradas da

    televiso, livros, jornais, de coisas que ouvimos dizer, das nossas vivncias e sensaes, em suma: de nossas experi-

    ncias.

    Figura 2: Ser que esqueci de algo que deveria ter feito?

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 9

    Meus oito anos

    Oh! que saudades que tenho

    Da aurora da minha vida,

    Da minha infncia querida

    Que os anos no trazem mais!

    Que amor, que sonhos, que flores.

    Naquelas tardes fagueiras

    sombra das bananeiras,

    Debaixo dos laranjais!

    Como so belos os dias

    Do despontar da existncia!

    Respira a alma inocncia

    Como perfumes a flor;

    O mar lago sereno,

    O cu um manto azulado,

    O mundo um sonho dourado,

    A vida um hino damor!

    Que auroras, que sol, que vida,

    Que noites de melodia

    Naquela doce alegria,

    Naquele ingnuo folgar!

    O cu bordado destrelas,

    A terra de aromas cheia,

    As ondas beijando a areia

    E a lua beijando o mar!

  • 10

    Nossa memria resultado de diversas experi-

    ncias e envolve no apenas o que lembramos pessoal-

    mente, mas aquilo que a sociedade tambm considera

    como importante de ser lembrado ou de ser esquecido.

    Como podemos observar no poema Meus oito anos,

    temos facilidade para lembrar o passado como se fosse

    um mundo encantado, selecionando apenas os bons

    momentos da infncia ou da juventude. Mas, ignora-

    mos ou mantemos em silncio os momentos de confli-

    to, tristeza ou de violncia.

    A parte do poema de Casimiro de Abreu que apresentamos convida a um mergulho

    no passado. A partir dele, reflita sobre duas questes:

    a. O poema fala sobre as boas lembranas que temos do passado. Indique quais

    versos justificam essa imagem de um passado de felicidades.

    b. A partir dos seus conhecimentos, escreva sobre um perodo ou um aconteci-

    mento da Histria do Brasil ou do mundo que traga a voc lembranas ruins ou

    ms recordaes.

    Figura 3: Gostamos de recordar momentos bons, como as brincadeiras da infncia.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 11

    Por outro lado, a memria tem uma funo prtica muito importante, pois, ela nos ajuda a evitar situaes

    ruins, vividas anteriormente. Uma criana que tenha se queimado com uma panela quente se esfora para no se

    queimar novamente porque se recorda da dor experimentada. Da o ditado popular: gato escaldado tem medo de

    gua fria.

    Ns, seres humanos, somos profundamente culturais, isto , aprendemos com a experincia. O que nos man-

    tm vivos, como indivduos e espcie, a nossa capacidade de registrar, preservar e transmitir informaes; tanto

    as informaes das nossas prprias experincias, quanto aquelas que nos chegam por nossos antepassados e pela

    sociedade.

    Por exemplo, um adulto pode alertar uma criana sobre os riscos de tocar a mo em uma panela quente, mas

    pode ser que s a experincia ensine a ela esta lio de modo inesquecvel. Por isso, na infncia, gostamos tanto de

    experimentar tudo. Afinal, nessa fase, dispomos de poucos saberes e ainda estamos construindo as bases dos nossos

    conhecimentos sobre o mundo.

    Quando nos tornamos jovens ou adultos, continuamos a experimentar, mas, principalmente, utilizamos nos-

    sos saberes anteriores para darmos respostas mais satisfatrias no tempo presente. Isso, porm, parece to natural

    que quase nunca pensamos no seu funcionamento, isto , no trabalho elaborado pela memria.

    Leia o seguinte depoimento e depois responda s duas questes a seguir:

    Meu nome Francisco Alves dos Reis, nasci no dia 4 de junho de 1924, em Catas

    Altas da Noruega, Minas Gerais.

    Meu pai Jos Augusto Alves dos Reis e minha me, Francisca Firmina de Barros.

    Eles nasceram em Catas Altas da Noruega, em Minas Gerais. Meu pai tinha uma pequena

    fazenda, onde ns trabalhvamos com criao de gado e plantao. Dos sete aos 12 anos,

    trabalhei direto na fazenda em todo tipo de servio: plantava milho, arroz e feijo, capinava

    e guiava boi para arar a terra. Aos sete anos, aprendi, trabalhando, quantas horas de luz

    solar tm o ms de novembro. Eu guiava boi para arar a terra de sol a sol naquele ms; e

    o ms de novembro, realmente, tem 14 horas por dia de luz solar. Eu acordava cedinho,

    comeava o servio quando o sol nascia e acabava com o sol se pondo.

  • 12

    Nas mais diversas situaes, portanto, nossa

    mente recupera experincias, retira certas lies e pro-

    cura aplic-las ao mundo presente. Vejamos alguns

    exemplos: uma receita de bolo aprendida com a av;

    um jeito prtico para dar ns em cordas; a reviravolta

    no estmago depois de uma apimentada feijoada com

    couve frita; uma msica cantada pela professora na es-

    cola infantil; as palavras de um poltico ditas anos atrs

    na televiso - todos esses exemplos ficam guardados

    em nossa memria e so utilizados quando precisamos

    tomar decises ou pensar sobre alguma situao con-

    creta.

    a. Nesse depoimento, Francisco fala dos seus aprendizados trabalhando, ao lado

    da famlia, em uma pequena fazenda. Segundo o depoimento, quais foram os

    conhecimentos adquiridos por Francisco?

    b. Lembre-se de uma situao em que voc considera ter adquirido conhecimen-

    tos importantes para sua vida. Procure se lembrar tambm quem ensinou ou se

    voc aprendeu sozinho. Relate abaixo a sua experincia.

    Figura 4: Se voc comer um prato de feijoada e no se sentir bem depois, possvel que, diante de um novo prato, a me-mria desagradvel desencoraje-o a com-lo.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 13

    A memria produz significados para nossa histria pessoal e auxilia-nos a nos relacionarmos com o mundo,

    com as outras pessoas e com nossas experincias anteriores.

    Mas, nesse trabalho da memria, h muito mais conflitos que solues, pois a nossa recordao no um

    registro perfeito de um evento passado, como se fosse um rob dos filmes de fico cientfica ou a memria de um

    computador. A nossa memria transforma-se com a passagem do tempo, ela se modifica medida em que as expe-

    rincias vividas exigem novas recordaes que ajudem a explicar a vida e dar-lhe sentido.

    Figura 4: Fotografia e memria o registro fotogrfico um im-portante recurso para a preservao da memria. A imagem acima registra uma situao ainda hoje muito comum: um grupo de pessoas se rene para marcar na memria um encontro.

    Assim, importante reforar que a memria exige esforo e trabalho, pois ela constri o modo como

    sentimos e entendemos nossas experincias pessoais e, como veremos a seguir, nossas vivncias co-

    letivas.

  • 14

    Seo 2A memria coletiva e as experincias sociais

    A memria ajuda-nos a construir a relao que temos com o mundo e com os demais seres humanos. Cada

    um de ns vive em um certo tempo e lugar, e definimo-nos a partir das experincias vividas e das ideias que temos

    sobre as coisas.

    Por exemplo, Ezequiel cearense de nascimento, filho de D. Luzia e Seu Antonio, ambos trabalhadores rurais.

    Ezequiel mora em Braslia h 32 anos, trabalha como motorista de nibus, torce pelo Flamengo, catlico, casado h

    17 anos e tem quatro filhos.

    Para cada uma dessas caractersticas, Ezequiel tem as mais diversas memrias e ele se coloca no mundo a partir

    delas. Se perguntssemos a ele: Ezequiel, quem voc? O que ser que ele diria? E se ele for parado na rua por uma

    viatura policial, qual ser a resposta? E se o chefe dele perguntar a mes-

    ma coisa? E, finalmente, quando Ezequiel morrer, o que diremos sobre

    ele? Cada uma dessas perguntas exige como resposta a descrio de

    caractersticas pertencentes a Ezequiel. E a memria que trar tona

    tais caractersticas.

    Para cada situao, a identidade e a memria de um individuo

    tambm se reorganizam a partir das experincias, necessidades e desejos. E, principalmente, conforme as circuns-

    tncias. Imagine que Ezequiel foi visitar o Estdio do Maracan pela primeira vez e, por engano, foi parar no meio da

    torcida do Fluminense. Ele poder se identificar como um motorista de nibus, um cearense e pai de famlia, mas,

    provavelmente, no ir se apresentar como flamenguista, porque sabe que provocaria muitas inimizades.

    Figura 6: Estdio do Maracan em um jogo do Brasil

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 15

    Percebemos assim que precisamos da memria para construir nosso lugar no tempo e no espao. O

    modo como caracterizamos nossa vida, na relao com os outros e com nossa histria, forma nossa

    identidade pessoal.

    No d para separar a memria do indivduo da memria dos grupos sociais dos quais ele faz parte. Quando

    algum se identifica como japons ou mineiro ou agricultor ou jovem ou mulher, j est se incluindo em um grupo,

    isto , em uma coletividade, seja ela um pas, uma profisso, um gnero, uma faixa de idade etc.

    Na sua comunidade ou na cidade onde voc mora, existem diversas coletividades e

    organizaes sociais, como, por exemplo times de futebol, igrejas, sindicatos, clubes, gru-

    pos de msica e associaes comunitrias.

    Escolha uma dessas organizaes, preferencialmente a que voc conhece melhor e

    identifique as seguintes caractersticas:

    a. Quais so as principais atividades que as pessoas realizam nessa organizao?

    b. Que ideias e pensamentos comuns renem estas pessoas nessa organizao?

    c. Narre como foi o incio dessa organizao: sua fundao, os primeiros partici-

    pantes etc.

  • 16

    A partir da descrio que voc fez dessa organizao social, podemos entender melhor como construmos

    identidades coletivas. Nessas coletividades, vivemos experincias diversas e relacionamo-nos, construindo uma me-

    mria comum sobre essas experincias. Essa memria vai se transformando na prpria histria dos grupos sociais e,

    medida que nos identificamos com ela, tambm nos mantemos identificados com outros membros do mesmo grupo.

    Assim, as identidades coletivas so resultado da experincia dos vrios grupos e da sociedade. Desse modo,

    um indivduo pode se identificar, por exemplo, como morador de certo lugar, torcedor de um time de futebol, mem-

    bro de um sindicato, fiel a uma determinada religio ou pertencente a um pas.

    Memria coletiva o conjunto de significaes, construdo por um grupo social a partir de vivncias comuns, isto , a partir das experincias compartilhadas.

    As memrias coletivas no so apenas resultado das nossas experincias pessoais, isto , das situaes vi-

    vidas efetivamente por cada um de ns. Em uma sociedade complexa como a nossa, as memrias coletivas so

    construdas de um modo imaginrio, isto , so difundidas como se todos tivessem compartilhado o mesmo passado

    de experincias comuns.

    Veja um exemplo. Todo cristo tem um passado comum de vivncias religiosas, marcadas pela trajetria dos

    cristos, desde a vida do prprio Cristo. Para celebrar a sua f, todos os cristos realizam os mesmos rituais religiosos,

    onde reproduzem os mesmos gestos, rezam as mesmas oraes e utilizam os mesmos smbolos. Cada cristo, em

    qualquer parte do mundo, sabe da existncia da sua comunidade religiosa, mas no pode conhecer pessoalmente

    todos os outros cristos. Vivenciam sua comunidade de um modo imaginrio, atravs dos rituais tradicionais.

    Figura 7: Cristos, em vrias partes do mundo, realizam rituais religiosos onde reproduzem gestos e oraes que os tornam parte da mesma comunidade.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 17

    Isso tambm vlido para outras comunidades: de trabalhadores do comrcio, de corintianos, de paranaenses

    ou de brasileiros. O problema, ento, o seguinte: por que acreditamos nessas comunidades imaginrias se no as

    vivenciamos? Em outras palavras, o que nos faz crer que participamos de uma identidade coletiva se no vivemos

    junto com todas as pessoas dessa mesma comunidade?

    Seo 3A Grcia Antiga e a identidade de um povo

    Na Europa, os gregos foram os primeiros a produzir registros escritos sobre sua prpria sua prpria histria, h

    cerca de 4 mil anos. Eles tambm foram pioneiros ao refletir sobre a sua prpria condio, isto , sobre o fato de ser

    grego e tudo que isso significava.

    Se voc observar um mapa com a diviso poltica da Europa, poder perceber a posio geogrfica da Grcia

    atual: situada em uma pennsula, isto , em uma poro de terras cercada pelo mar por quase todos os lados, os gre-

    gos desenvolveram, ao longo de sua histria, uma intensa atividade comercial em torno do Mar Mediterrneo. Essas

    trocas comerciais eram tambm trocas culturais, pois no so apenas produtos que se deslocam de uma regio para a

    outra, mas tambm pessoas, atividades artsticas, idiomas, certos gostos e hbitos. Por isso, os gregos beneficiaram-se

    dessas trocas, aprendendo e comunicando-se com muitos outros povos, como os sumrios, os assrios, os egpcios,

    entre outros, que habitavam o Norte da frica e o Oriente Mdio.

    Figura 8: Mapa atual da pennsula grega e arredores.

  • 18

    Na Grcia Antiga, a organizao poltica desenvolveu-se de um modo muito diferente da atual. No havia um

    Estado grego como existe hoje, com um presidente eleito ou um rei e um territrio bem definido onde as decises

    desse Estado seriam soberanas, isto , inquestionveis. Com o passar dos sculos, surgiram vrias cidades indepen-

    dentes, com suas prprias leis, sua moeda, suas prticas culturais. As duas cidades mais conhecidas eram Esparta e

    Atenas. A forma independente dessas cidades levou os historiadores a denomin-las de cidades-estado, pois, elas

    tinham a dimenso territorial de uma cidade, mas a organizao poltica semelhante de um estado.

    Os gregos habitavam essas cidades-estado e identificavam-se como seus cidados, pois eram responsveis

    pela conduo das questes pblicas, isto , pela poltica da cidade. Assim, um cidado de Atenas reconhecia-se

    como ateniense, enquanto um morador de Esparta era visto e via-se como espartano e assim por diante.

    Figura 9: Mapa com as principais cidades-estado na Grcia Antiga.

    Embora tivessem uma forte identidade local, os povos dessa regio tinham algo importante em comum: a

    mesma origem histrica e o mesmo idioma. Tambm compartilhavam fundamentos religiosos muito semelhantes,

    inseridos em uma religio politesta, isto , que cultuavam vrios deuses. Alm disso, o desenvolvimento comercial

    unificou os interesses de vrias cidades e garantiu aos gregos o controle de rotas martimas do Mar Mediterrneo

    Ocidental at o Mar Negro.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 19

    Por volta do sculo VI a. C., o crescimento do comrcio e da populao grega havia impulsionado os gregos a

    emigrarem para diversas regies, fundando colnias. Essas colnias eram povoaes gregas em territrios distantes

    da pennsula grega, por exemplo, na sia Menor. Desse modo, o contato com outros povos e imprios tambm se

    intensificou, provocando alianas polticas, mas tambm disputas por territrios.

    Como contar o tempo cronolgico?

    H vrios tipos de calendrios no mundo, definidos conforme a formao cultural e histrica de cada

    povo. No Ocidente, o nosso calendrio foi construdo a partir da forte presena da Igreja Catlica e do

    Cristianismo. Foram necessrios alguns sculos para que esse calendrio fosse definido e adotado em

    praticamente todo o mundo, mesmo em pases onde o Cristianismo no uma religio importante.

    A partir do sculo VII, a data do nascimento de Jesus Cristo comeou a se difundir como o incio da

    nossa poca, substituindo a data da fundao de Roma (o mais importante imprio da Europa antiga).

    Ento, quando dizemos que estamos no ano 2012, significa que se passaram 2.012 anos desde o nas-

    cimento de Cristo. J a marcao dos sculos usada desde o tempo do Imprio Romano e manteve a

    mesma forma que utiliza os numerais romanos, como mostra a tabela a seguir:

    A base do algarismo romano so os seguintes nmeros:

    Numeral Romano Numeral Arbico

    I 1

    V 5

    X 10

    L 50

    A partir dela, os outros nmeros so constitudos, como mostra essa tabela:

    Numeral Romano Numeral Arbico

    II 2 (I + I)

    III 3

    IV 4 (1 5 = 4)

    V 5

    VI 6

    VII 7

    VIII 8 (5 + 1 + 1 + 1 = 8)

    IX 9 (1 10 = 9)

    X 10

    XI 11

    Atualmente, estamos no sculo XXI, isto 10+10+1 = 21.

  • 20

    No sculo seguinte, V a. C., ocorreu um conflito de grandes propores entre os gregos e o imprio persa.

    Esse conflito ficou conhecido como Guerras Mdicas, pois os persas tambm eram chamados de medo-persas.

    Para se defender, as cidades-estado gregas unificaram-se na Liga de Delos, uma confederao militar, liderada por

    Atenas. As Guerras Mdicas duraram cerca de cinquenta anos, com perodos de trguas e novas batalhas, at a

    vitria dos gregos.

    Essas guerras contriburam decisivamente para fortalecer a identidade grega, pois a presena de um inimigo

    comum e os diversos confrontos militares criaram condies favorveis preservao da cultura comum. No incio

    dos conflitos, algumas colnias gregas foram derrotadas e submetidas ao imperador persa, mas os cidados das

    cidades-estado compreenderam que teriam o mesmo destino e que seriam destrudos porque eram gregos tambm.

    Atualmente, estamos no sculo XXI, isto 10+10+1 = 21.

    Esta tabela mostra como a indicao dos sculos deve ser interpretada:

    Sculo Significado

    II d. C. sculo 2 depois de Cristo, entre o ano 101 e 200.

    IX a. C. Sculo 9 antes de Cristo, isto , entre o ano 801 e 900.

    XX Sculo 20, isto , entre o ano 1901 e 2000. Como no h a. C. nem d. C., para

    supor que se trata de depois de Cristo.

    Para indicar os anos anteriores ao nascimento de Cristo, utilizamos a sigla a. C. (antes de Cristo) e os

    anos posteriores ao seu nascimento a sigla d. C. (depois de Cristo) que raramente citada. O ano do

    nascimento denominada 1 d. C. , isto , ano um depois de Cristo, e o ano anterior ao nascimento,

    como 1 a. C., ou seja, ano um antes de Cristo.

    Assim, quando pretendemos citar uma data anterior ao nascimento de Cristo, precisamos contar o

    tempo de trs para frente. Por isso, um acontecimento ocorrido no sculo X a. C., por exemplo, no ano

    1154 a. C. anterior a um evento do sculo V, por exemplo, em 632 a. C.

    A linha a seguir uma demonstrao desse calendrio. Ela pode ajud-lo a situar os acontecimentos

    citados no texto sobre a formao do povo grego.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 21

    Aos poucos, a reflexo sobre a identidade grega ganhou contornos mais ntidos, atravs dos textos dos histo-

    riadores e dos poetas populares que faziam versos contando as faanhas militares dos gregos. At hoje sobreviveram

    diversas narrativas sobre as Guerras Mdicas, adaptadas para o cinema e para a literatura ou incorporadas nossa

    cultura. Por exemplo, uma das mais famosas competies esportivas chamamos de maratona, trata-se de uma cor-

    rida de 42 Km. O nome uma homenagem cidade de Maratona e a extenso refere-se distncia entre Maratona

    e Atenas percorrida pelo soldado Filpides, durante a primeira Guerra Mdica, em 490 a. C. O soldado foi mandado a

    Atenas e depois a outras cidades, para pedir reforos para enfrentar o exrcito persa.

    Outro exemplo de narrativa relacionada s Guerras Mdicas foi adaptado para o cinema pelo filme os 300 de

    Esparta que narra a batalha das Termpilas (nome do desfiladeiro onde ocorreram os confrontos). Nessa batalha, o

    pequeno exrcito do rei espartano Lenidas enfrenta o poderoso exrcito persa, do rei Xerxes. O filme no uma re-

    constituio da batalha, mas uma criao livre, baseada na histria em quadrinhos de Frank Miller. Mesmo assim, ele

    narra um acontecimento importante para o destino dos gregos. O exrcito persa venceu a batalha, mas foi duramente

    atingido. Alm disso, a resistncia do pequeno grupo de trezentos espartanos tornou-se uma lenda e motivou outras

    cidades-estado a organizarem seus exrcitos e juntarem-se confederao que derrotou os persas anos depois.

    A identidade grega foi, portanto, resultado de um longo processo histrico onde dois elementos foram muito

    importantes. Em primeiro lugar, certa unidade cultural preservada por vrios sculos, especialmente, a permanncia

    do mesmo idioma. Em segundo lugar, a presena de conflitos militares de longa durao contra imprios que viam

    como gregos todos os que habitavam aquela regio, e pretendiam submet-los pela fora das armas.

    E a identidade brasileira depende de elementos? Como se forma essa noo e o sentimento de ser brasilei-

    ro? No se nasce com esse sentimento, mas bastam alguns anos para que se reconhea e se valorize a condio de

    brasileiro. Seria apenas porque falamos a mesma lngua? Mas, os portugueses tambm falam Portugus e nem por

    isso se sentem brasileiros. Ser ento que somos assim porque nascemos no mesmo territrio? Mas os indgenas que

    nasceram no territrio brasileiro nem sempre compartilham conosco a experincia de ser brasileiro.

  • 22

    Seo 4A construo das memrias coletivas

    Na seo anterior, dissemos que a memria precisa de ao individual e coletiva, um trabalho que realizamos

    sobre o passado, recordando e recriando significados que nos ajudam a viver e a nos relacionarmos.

    A memria coletiva de grandes comunidades (uma religio, uma categoria profissional, um time de futebol)

    tambm uma produo de ideias e atos que se realiza sobre o passado. Mas, nesse caso, no apenas um indivduo

    ou grupo de pessoas conhecidas que interpreta o passado, mas instituies sociais que reconstroem a histria e pro-

    curam dar sentido experincia do presente.

    Tais instituies podem ser as igrejas, os sindicatos, as assembleias ou os clubes, por exemplo. Elas utilizam

    vrias estratgias para difundir significados sobre o passado e garantir que certa memria seja preservada. Por isso,

    dizemos que as instituies produzem a memria e contribuem para que as pessoas participem destas identidades

    coletivas.

    H vrias formas de construir e difundir a memria coletiva, atravs de livros, filmes, imagens, depoimentos

    pessoais, canes, hinos, smbolos, entre outros. Cada instituio encontra tambm cerimnias prprias para reforar

    esses vnculos. Por exemplo, um sindicato comemora o aniversrio de fundao com uma grande festa, onde se recor-

    dam as lutas dos primeiros trabalhadores. Nas igrejas, os rituais so marcados pela memria dos fundadores daquela

    religio.

    A partir dessa reflexo sobre a formao da identidade grega, reflita sobre a seguin-

    te questo:

    Por que a unidade cultural e histrica de um povo to importante na formao da

    identidade?

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 23

    Em uma cidade, as praas e ruas principais possuem nomes de personagens conhecidos da sociedade e da po-

    ltica local ou nacional. Tambm se constroem monumentos arquitetnicos que reforam uma determinada memria.

    Esses monumentos podem ser de vrios tipos: uma esttua no meio da praa, uma escultura em forma abstrata, uma

    pequena placa de metal com inscries ou at mesmo um edifcio pblico pode ser construdo para lembrar uma

    determinada personalidade ou um fato histrico.

    1. Registre o nome de uma rua ou praa que voc conhea e que se refere a um persona-

    gem (no precisa ser apenas polticos conhecidos ou personagens histricos quaisquer,

    pode ser algum da comunidade);

    2. Escreva abaixo o que voc sabe sobre esse personagem.

    A partir dessa atividade, voc pode ter uma ideia de como a memria coletiva produzida. Alguns nomes

    lembram acontecimentos e personagens conhecidos e glorificados pela Histria do pas, como 15 de novembro,

    D. Pedro II etc., outros nomes valorizam os polticos locais, mas h ainda espao para a memria do homem comum,

    um trabalhador falecido de modo trgico, uma professora lembrada com carinho etc.

  • 24

    H diferentes memrias, convivendo e sendo produzidas ao mesmo tempo, na nossa sociedade. Tam-

    bm convivemos com mltiplas identidades coletivas.

    Seo 5A construo da identidade nacional

    Com frequncia, ouvimos ou dizemos frases do tipo:

    No Brasil, assim mesmo, poltico rouba e no vai preso.

    Brasileiro assim, amigo de todo mundo, acolhedor, mas quer levar a vida sem esforo e no gosta de trabalho.

    Este pas no vai pra frente porque fomos colonizados pelos portugueses. Se a Inglaterra nos tivesse coloniza-

    do, a seria diferente, como nos Estados Unidos que um pas rico e poderoso.

    Essas afirmaes ajudam-nos a explicar a imagem que temos de ns, quem somos e a entender como nos

    formamos como povo e como compatriotas. A condio de brasileiro tambm nos ajuda a interpretar como vivem e

    quem so os no brasileiros. Com efeito, ouvimos ou repetimos por a:

    Os japoneses so trabalhadores e srios.

    Os argentinos so arrogantes, pretensiosos, especialmente no futebol.

    Os italianos so muito simpticos, brincalhes e falam alto.

    Mas ser que essas noes podem mesmo explicar nossa condio ou as condies de vida dos outros povos?

    Ser que s no Brasil os polticos corruptos no vo para a cadeia? Ser que no gostamos de trabalho ou no gosta-

    mos de salrios baixos e explorao? Ser que as misrias do pas so fruto apenas da colonizao portuguesa? Enfim,

    ser que cada povo ou nao pode ser identificado por caractersticas to reduzidas assim?

    Com certeza, os milhes de brasileiros, em meio vastido do nosso territrio e nossa diversidade cultural,

    no poderiam ser definidos de forma to simplificada. A prpria ideia de que somos brasileiros e de que devemos nos

    sentir unidos e solidrios foi construda ao longo de vrias dcadas e constantemente reforada e transformada.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 25

    Na Histria do Brasil, quem teve maiores condies de definir essa identidade foram os grupos sociais mais

    ricos e que tiveram sob seu controle o Estado e os meios de comunicao social. Ao longo da nossa histria, os setores

    da elite procuraram construir uma memria que parecesse comum a todos os brasileiros.

    H, portanto, uma diferena entre as memrias e identidades coletivas e a memria e identidade na-

    cional. As memrias coletivas so mltiplas, diversas e convivem com a diversidade, enquanto a me-

    mria nacional tende a ser uma s, unificada.

    Isto ocorre porque os grupos e classes sociais que controlam o Estado procuram transformar as suas memrias

    na memria do pas, por exemplo, por meio da escola e, principalmente, do ensino de Histria. No entanto, outros

    grupos e classes tambm lutam para garantir sua presena como parte da memria nacional. Assim, h uma tenso,

    uma disputa pela memria.

    Vejamos como este tema pode ser observado pelos feriados nacionais. Eles so definidos pela legislao, apro-

    vados no Congresso Nacional, pelos deputados e senadores. Por que e para que uma determinada data transfor-

    mada em feriado? No Brasil, temos feriados cvicos, isto , ligados a acontecimentos pblicos, de carter poltico, e fe-

    riados religiosos. Em cada feriado, alm de aproveitarmos para descansar, sempre nos lembramos, de alguma forma,

    do motivo que deu origem ao feriado. O dia 1 de maio sabemos que dia do Trabalhador; o Natal, o nascimento de

    Cristo; 15 de novembro, a Proclamao da Repblica.

    Figura 10: Manifestao operria na cidade do Porto, em Portugal, em 1980. Comemorao do 1 de Maio rene trabalhadores que lutam por melhores condies de vida e, desta forma, reforam sua identida-de coletiva.

  • 26

    A partir dos nomes de personagens histricos, dados a praas ou avenidas, e a partir das datas comemorativas,

    podemos fazer uma anlise da memria nacional. Assim, pode-se perceber de que modo a memria reflete sobre as

    tenses que envolvem a construo dessa memria e os interesses dos vrios grupos sociais.

    Tiradentes: memria nacional construda

    Figura 11: Praa Tiradentes, na cidade do Rio de Janeiro/RJ

    A foto anterior da Praa Tiradentes, localizada na regio central da cidade do Rio de Janeiro. A praa tem o

    nome de um personagem considerado um dos heris da Histria do Brasil, Tiradentes, um dos lderes do fracassado

    movimento pela independncia do Brasil, a Inconfidncia Mineira de 1789.

    A praa tem em seu centro uma esttua de D. Pedro I, lder do movimento que levou a nossa independncia

    em 1822, nosso primeiro imperador. A princpio, associamos os dois personagens ao mesmo interesse pela nao bra-

    sileira, afinal, Tiradentes lutou pela independncia e D. Pedro I proclamou-a. No entanto, a histria um pouco mais

    complicada. No final do sculo XVIII, Tiradentes foi preso, julgado e condenado morte pelo crime de traio Coroa

    portuguesa. Junto com outros moradores da regio das Minas Gerais, ele arquitetou uma rebelio que separaria o

    territrio brasileiro do domnio portugus. Portanto, levou frente a ideia de que havia uma identidade brasileira,

    diferente da identidade portuguesa, com interesses prprios e, em certo sentido, opostos aos interesses portugueses.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 27

    Tiradentes foi condenado forca e ao esquartejamento. A sua morte deveria representar uma memria da ver-

    gonha pela traio cometida e deveria tambm servir de exemplo para que nunca mais outros sditos da Coroa Por-

    tuguesa se aventurassem a tamanho disparate. O seu enforcamento foi no Rio de Janeiro, ento, capital do vice-reino,

    justamente na praa Tiradentes. O enforcamento foi encenado como um ato poltico, Tiradentes foi conduzido pelas

    ruas, em um longo trecho do centro da cidade, pois deveria ser visto pelo maior nmero possvel de pessoas.

    Depois, os membros do corpo de Tiradentes foram espalhados pelos poucos caminhos que levavam regio

    das Minas. Isso no foi feito por crueldade, nem para provocar repugnncia e nojo nas pessoas que passassem pelo

    caminho. Foi uma deciso do Estado, pois a Coroa portuguesa percebeu a importncia em demonstrar a todos que

    qualquer gesto de traio seria punido com vigor. Enquanto permanecessem os restos mortais de Tiradentes, as pes-

    soas se lembrariam do crime. Portanto, ele no morreu como heri e no permaneceu na memria dos que viveram

    naquela poca como um grande lder, mas como um criminoso.

    A rainha que condenou Tiradentes chamava-se D. Maria I. Ela era av de um jovem prncipe, D. Pedro I, que,

    praticamente 40 anos depois da morte do inconfidente, proclamou a independncia em 1822. Como veremos na uni-

    dade seguinte, no incio do sculo XIX, a situao do Brasil e de Portugal havia se transformado bastante. Alm disso,

    D. Pedro I separou politicamente os dois territrios, mas manteve a coroa na cabea. Foi o primeiro imperador brasi-

    leiro, depois tornou-se imperador em Portugal, entregando o governo do Brasil a seus fieis aliados e a seu pequeno

    filho, com apenas cinco anos de idade.

    Portanto, Tiradentes e D. Pedro I defenderam posies polticas opostas e foram protagonistas de aes bas-

    tante distintas. Mas, quando se decide coloc-los lado a lado, a memria que se pretende produzir sobre eles uma

    memria da conciliao nacional. A Praa Tiradentes com a esttua do imperador ao centro expressa uma ideia de

    memria, marca personagens ou acontecimentos que se harmonizam na passagem do tempo, como se ambos tives-

    sem contribudo, cada um com um pedao, para a construo da nao.

    Essa fuso entre personagens que lutaram em campos polticos opostos foi fabricada no incio da Repblica,

    a partir de 1889. Segundo as pesquisas do historiador Jos Murilo de Carvalho, o mito de Tiradentes foi construdo

    no incio do Estado republicano. O novo regime havia derrubado o imperador, D. Pedro II, e precisava construir sua

    prpria memria histrica, produzir narrativas, personagens e smbolos que se identificassem com a luta republicana.

    Assim, Tiradentes foi descoberto e retirado da condio de traidor e passou para o papel de heri e mrtir,

    cuja vida foi consagrada a lutar pela liberdade e pela Repblica. Pinturas e narrativas da sua vida foram produzidas na

    poca. At hoje comum encontrarmos, em livros didticos e em documentrios de televiso, uma imagem de Tira-

    dentes que o assemelha s imagens de Jesus Cristo, com cabelos e barbas longos, a tnica branca como vestimenta,

    o corpo magro e alto.

  • 28

    Essa imagem no representa nenhuma fidelidade aos traos fisionmicos de Tiradentes, pois, durante sua vida

    ningum produziu seu retrato, nem h descries escritas de suas caractersticas fsicas. Essa imagem foi, portanto,

    um dos elementos construdos para dar sentido e cara memria nacional.

    13 de maio versus 20 de novembro

    As datas revelam um esforo de preservao e manuteno das memrias coletivas que disputam entre si

    para ampliar sua influncia sobre a sociedade. O Natal, por exemplo, uma festividade importante no Brasil, porque

    a maioria das pessoas que vivem aqui de origem crist. Nos pases muulmanos ou de tradio judaica, no existe

    Natal e as datas religiosas importantes so outras.

    Podemos pensar ainda em uma situao mais evidente dessas disputas sobre a memria. Tradicionalmente, o

    fim da escravido, no Brasil, lembrado pelo dia 13 de maio, data na qual a princesa Isabel assinou a famosa Lei u-

    rea, em 1888, declarando livres todos os escravos. Mas os movimentos sociais de combate ao racismo e afirmao da

    populao negra defendem que a data fundamental o dia 20 de novembro, dia em que Zumbi, lder do Quilombo

    dos Palmares, foi morto, em 1695.

    A disputa em torno das duas datas tem motivos muito srios. Na primeira data, a memria que fica registrada

    a do ato da princesa que concedeu a liberdade aos escravos; na segunda data, permanece a memria do mais im-

    portante e conhecido lder negro que combateu a escravido. So leituras opostas sobre o passado que revelam as

    tenses e diferenas entre os grupos sociais no tempo presente.

    Durante a maior parte do sculo XX, prevaleceu a memria do dia 13 de maio como marco da libertao dos

    escravos. Na histria ensinada nas escolas, o ato da princesa era narrado como um gesto de sabedoria e benevolncia

    da famlia real e, portanto, do Estado brasileiro. As narrativas em torno da abolio falavam que houve dias de festejo

    e de comemoraes em diversas cidades. A princesa foi batizada de A Redentora e sua imagem teria sido cultuada

    pelos escravos libertos, como se cultuam imagens dos santos catlicos.

    No entanto, essa memria histrica foi colocada em xeque desde o surgimento do Movimento Negro Unifica-

    do (MNU), em 1978, e do fortalecimento do debate em torno do racismo e da discriminao sofrida pela populao

    negra no Brasil. O MNU e outros movimentos atuaram em vrias frentes: denunciaram a desigualdade no tratamento

    dado a negros e brancos, fizeram pesquisas sobre a permanncia de prticas racistas no Brasil atual e criticaram dura-

    mente a ausncia de personagens, datas e smbolos da cultura negra na Histria do Brasil.

    A data de 20 de novembro foi transformada no Dia da Conscincia Negra e, desde o final da dcada de 1970,

    passou a reunir atividades polticas e culturais em todo o pas. Em 2003, uma lei federal incluiu a data no calendrio

    escolar, incentivando o debate sobre o assunto em sala de aula.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 29

    Assim, foi a atuao do movimento negro e de intelectuais ligados ao tema do racismo que fortaleceram a me-

    mria coletiva que havia sido silenciada da memria nacional. Uma data no capaz de mudar a histria de um pas,

    mas sua presena simblica transforma nossa reflexo sobre o que pensamos e sabemos da histria.

    Nesta unidade, refletimos sobre a memria como um permanente trabalho para dar significados s nossas

    experincias cotidianas. Com base nessa reflexo, discutimos como a memria de cada um (a memria individual)

    relaciona-se com as memrias da comunidade e as memrias da sociedade brasileira, e procuramos entender por que

    a memria um elemento importante da nossa identidade pessoal e coletiva.

    Discutimos tambm como a memria coletiva fruto de diversas contribuies e vimos como ela constri

    identidades coletivas. Finalmente, comeamos a analisar de que modo so produzidas as memrias coletivas e a me-

    mria nacional. Na unidade seguinte, vamos entender como a histria da formao da sociedade brasileira tem sido

    contada e como tem ocultado a memria de diversos grupos sociais e tnicos.

    O dia 13 de maio de 1888 marcou oficialmente o fim da escravido no Brasil, atra-

    vs de uma lei assinada pela Princesa Isabel, durante uma viagem de Dom Pedro II ao

    exterior. Naquela oportunidade, houve uma srie de comemoraes, principalmente no

    Rio de Janeiro, capital do Imprio. O movimento negro, ento, resolveu abolir essa data e

    comemorar a negritude no dia 20 de novembro, denominado Dia da Conscincia Negra.

    Razo mais que justa, pois, de fato o 13 de maio foi uma data que ocorreu de cima para

    baixo, sem a participao dos principais interessados no tema, apesar de haver no Brasil

    um movimento abolicionista bem forte naquele perodo, principalmente nas cidades mais

    importantes do sudeste do pas.

    Autor: Ricardo Barros Sayeg

    Fonte: http://sinaisdahistoria.blogspot.com/2010/05/abolicao-da-escravatura-13-de--maio.html (acesso em 20 de maro de 2011)

    a. Tendo em vista a leitura do texto, em sua opinio que data deveria ser comemo-

    rada: 13 de maio ou 20 de novembro? Justifique sua resposta.

    6

  • 30

    ResumoNesta unidade, vimos que:

    - A memria, seja individual ou coletiva, tem relao direta com a identidade. Como vimos, um indivduo que

    perdesse toda sua memria, perderia tambm, por consequncia, sua identidade.

    - A memria possibilita-nos acumular informaes que nos sero teis, permitindo dar respostas mais satisfa-

    trias s situaes presentes.

    - Memria coletiva corresponde ao conjunto de significaes que atribuem identidade coletividade.

    - A memria coletiva transcende as vivncias pessoais. Por exemplo: um cristo identifica-se com a trajetria

    realizada por outros cristos, isto , com as vivncias de outros indivduos pertencentes a essa coletividade.

    - As instituies sociais interpretam o seu passado com o intuito de dar sentido s experincias do presente.

    - Nomear ruas e praas com personagens histricos uma forma de lhes prestar homenagem, alm de reforar

    a memria sobre determinados feitos histricos. Os feriados exercem a mesma funo.

    - Os feriados expressam os interesses de determinados grupos sociais e, em funo disso, so muitas vezes

    alvos de disputa.

    b. Voc conhece outras datas histricas que geram disputas entre memrias distin-

    tas? Por que voc acha que isso ocorre?

    6

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 31

    Veja aindaSe voc tem interesse em ampliar seus conhecimentos sobre memria e identidade, damos as seguintes su-

    gestes:

    Filme

    Narradores de Jav

    Direo: Eliane Caff

    Brasil, 2003.

    A pequena cidade de Jav ser inundada pela construo de uma represa. A nica chance dos moradores

    provar que a cidade possui um patrimnio histrico que impea a inundao. O carteiro Antonio Bi o nico

    que sabe escrever, por isto, escolhido para recolher os relatos dos moradores e fazer um livro documentando

    a importncia do local. O filme uma comdia sobre as dificuldades enfrentadas quando se pretende defender

    um patrimnio histrico que tem importncia local, mas no relevante para o Estado.

    Livro

    Infncia, Graciliano Ramos, 1945.

    O livro narra a infncia do autor, o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), de um modo ficcional, isto , mis-

    turando aspectos vividos por ele a outros elementos inventados.

    Site

    O Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional um rgo responsvel pela definio dos lugares,

    objetos e prticas culturais que sero preservados como patrimnio. No site, voc pode acessar muitas infor-

    maes sobre o patrimnio histrico brasileiro. Se voc clicar em coletnea virtual no alto da pgina e acessar

    Dossi do Patrimnio Imaterial poder conhecer as vrias prticas populares que foram registradas como

    parte do nosso patrimnio.

    www.iphan.gov.br

  • 32

    http://www.sxc.hu/photo/987763

    http://www.flickr.com/photos/ecpelotas/2968902204/

    http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Maracan%C3%A3_024.jpg

    http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Feijoada_2008.JPG

    http://www.sxc.hu/photo/1152328

    http://www.sxc.hu/photo/734189

    http://www.dominiopublico.gov.br/download/imagem/jn005231.jpg

    http://www.guiageo-grecia.com/mapas.htm

    Referncias

    Livros

    BOSI, Eclea. Memria e Sociedade. Lembrana de Velhos. So Paulo, T.A.Editor, 1979.

    LE GOFF, Jacques. Histria e Memria. Campinas, SP, Editora da Unicamp, 2003.

    COOK, Michael. Uma breve histria do mundo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2005.

    Imagens

    Acervo pessoal Andreia Villar

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 33

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:1%C2%BA_Maio_1980_Porto_by_Henrique_Matos.jpg

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:PracaTiradentesRJ.JPG

    http://www.sxc.hu/photo/517386

    http://www.google.com.br/imgres?q=mapa+da+cidades-Estado+grcia+antiga&hl=pt-BR&sa=X&biw=799&bih=946&tbm=isch&prmd=imvns&tbnid=GlzsgwJxjsN7bM:&imgrefurl=http://construindohistoriahoje.blogspot.com/2012/02/o-governo-nas-cidades-estados-gregas.html&docid=CKRiD63hNkjwAM&imgurl=http://3.bp.blogspot.com/-1Y7PB-QOtCU/TzMTMbqUh3I/AAAAAAAAENs/-JPArN8YOgs/s1600/grecia-antiga10.gif&w=342&h=292&ei=0x_6T4ODAoH89QSY4fjxBg&zoom=1

    http://4.bp.blogspot.com/-JMp3QM0bfs4/TXqMtvzhwJI/AAAAAAAAAz8/zqT22wdHmd4/s1600/linha%2Bdo%2Btempo%255B1%255D.JPG http://www.google.com.br/imgres?q=linha+do+tempo+histria+nascimento+de+cristo&um=1&hl=pt-BR&tbm=isch&tbnid=yIQ0qwF1UuCuuM:&imgrefurl=http://blig.ig.com.br/portalhistoria/2009/01/19/introducao-a-historia/&docid=2jNhSvDnNyZ9uM&imgurl=http://blig.ig.com.br/portalhistoria/files/2009/02/nascimento-de-cristo.jpg&w=2304&h=1087&ei=yCn6T4DWDYb-8ATsjIHpBg&zoom=1&iact=hc&vpx=71&vpy=465&dur=1012&hovh=154&hovw=327&tx=173&ty=70&sig=113935173938204297203&page=1&tbnh=89&tbnw=188&start=0&ndsp=18&ved=1t:429,r:7,s:0,i:95&biw=799&bih=946

  • 34

    Atividade 1

    Esta atividade de certa forma foi uma pegadinha. O poema de Casimiro de Abreu,

    de qual reproduzimos apenas uma parte, traz em sua totalidade lembranas positivas so-

    bre o passado. Neste caso, qualquer trecho que voc tenha escolhido est correto.

    Infelizmente, foram muitos os fatos histricos pertencentes Histria mundial ou

    do Brasil passveis de nos trazer ms recordaes. Um exemplo bem emblemtico de um

    fato histrico nefasto foi o Holocausto, isto , o assassinato de milhes de pessoas na Se-

    gunda Guerra Mundial, dentre as quais judeus, comunistas e deficientes mentais.

    Atividade 2

    a. No depoimento, o senhor Francisco fala dos seus aprendizados ao lado da fam-

    lia, numa pequena fazenda. L ele aprendeu a plantar, capinar e manejar os bois

    no arejo. Tambm aprendeu sobre o tempo da natureza, as relaes entre o sol,

    a durao dos dias e a atividade agrcola.

    b. Este item exige uma resposta bem pessoal. O importante que voc se recorde

    de uma situao que considera ter adquirido conhecimentos importantes para

    sua vida. Voc estava sozinho, quando assimilou tais conhecimentos? Caso con-

    trrio, lembre-se de quem lhe ensinou.

    Atividade 3

    J que h incontveis organizaes e como no temos como saber de antemo a

    organizao que voc escolheu, vamos apresentar aqui, como exemplo, a famosa banda

    nacional de rock Tits.

    Os integrantes da banda realizam atividades diversas, dentre as quais podemos des-

    tacar: os ensaios, os shows e as atividades de divulgao, como a apresentao em progra-

    mas de televiso, por exemplo.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 35

    Como so muitos integrantes, certamente, h divergncias entre uma ideia ou ou-

    tra. O importante que, enquanto uma banda, esto organizados de modo a compor e

    apresentar msicas inditas, tendo o Rock n Roll como estilo.

    Grande parte dos integrantes da banda conheceu-se ainda nos tempos de colgio.

    Comearam fazendo shows em casas noturnas com o nome de Tits do l-l. Era uma

    banda inovadora. Sua formao inicial inclua nove integrantes, o que bem peculiar,

    tratando-se de uma banda de rock. Os fundadores da banda so Arnaldo Antunes, Branco

    Mello, Marcelo Fromer, Nando Reis, Tony Belloto, Ciro Pessoa, Andr Jung, Paulo Miklos e

    Srgio Britto. Em 1984, eles fecharam um contrato com uma gravadora e lanaram o seu

    primeiro disco, j com o nome de Tits.

    Atividade 4

    A formao da identidade coletiva depende das experincias histricas comparti-

    lhadas entre os seus integrantes. Alm disso, preciso que essas experincias possam ser

    transmitidas culturalmente, por isso, necessrio certa unidade de idioma e de formas

    culturais. A memria coletiva produz uma atmosfera comum de histrias, valores e crenas,

    onde cada indivduo incorpora determinados elementos para formar sua identidade no

    grupo ou na nao.

    Atividade 5

    Como voc j deve ter percebido, as cidades so repletas de ruas e praas que ho-

    menageiam personalidades e eventos histricos. No temos como adivinhar o persona-

    gem que voc escolheu; logo, neste caso, vamos dar um exemplo:

    Rua Vinicius de Moraes. Fica no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro.

    Vinicius de Moraes foi um poeta muito popular. Sua obra estende-se tambm m-

    sica, literatura e teatro. Sua vida afetivo-amorosa foi muita intensa. S para se ter uma ideia,

    ele se casou nove vezes.

    Vale notar que no foi por acaso que lhe prestaram homenagem, justamente em

  • 36

    Ipanema, bairro que ele ajudou a tornar conhecido internacionalmente. Na rua Vinicius

    de Moraes, fica o bar no qual ele comps, juntamente com Tom Jobim, a msica Garota

    de Ipanema, que uma das mais conhecidas e tocadas no mundo. Repare como o simples

    fato de ter uma rua com o seu nome ajuda a resgatar memrias sobre ele e o seu tempo.

    Atividade 6

    a. O importante aqui, seja qual for a sua posio, que voc justifique a escolha por

    uma data ou outra. Sendo assim, caso tenha optado pelo dia 13 de maio, voc pro-

    vavelmente alegou que a assinatura da Princesa Isabel foi o fato histrico mais re-

    levante na abolio da escravatura. Talvez tambm tenha mencionado ser o mais

    simblico: afinal, foi a partir dele que a escravatura foi formalmente abolida.

    Caso tenha optado pelo dia 20 de novembro, voc provavelmente argu-

    mentou que o Dia da Conscincia Negra deveria ser lembrado muito mais pela

    imagem de um dos mais importantes lderes abolicionistas, do que pela assina-

    tura de uma princesa branca, que apenas formalizou a abolio.

    b. Datas histricas que se convertem em feriado podem gerar disputas polticas e

    ideolgicas. Como vimos, as comemoraes sobre o descobrimento do Brasil

    suscitam controvrsias, j que o prprio conceito de descobrimento questio-

    nvel. O Brasil era habitado pelos ndios nativos quando os portugueses chega-

    ram aqui. Sendo assim, a noo de descobrimento uma perspectiva eurocn-

    trica, isto , do europeu, razo pela qual, segundo esse ponto de vista, essa data

    no deveria ser celebrada por ns.

    Outros feriados tambm podem ser alvos de disputa. Por exemplo, o Na-

    tal, que um feriado cristo, pode ser questionado por quem no religioso ou

    por quem adota outra religio, at porque, vale lembrar, o Brasil um pas laico,

    ou seja, no qual a religio e o Estado so separados.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 37

    O que perguntam por a?

    (Enem 2011, Cincias Humanas e suas tecnologias, questo 26)

    difcil encontrar um texto sobre a Proclamao da Repblica no Brasil que no cite a afirmao de Aristides

    Lobo, no Dirio Popular de So Paulo, de que o povo assistiu quilo bestializado. Essa verso foi relida pelos enal-

    tecedores da Revoluo de 1930, que no descuidaram da forma republicana, mas realaram a excluso social, o

    militarismo e o estrangeirismo da frmula implantada em 1989. Isto porque o Brasil brasileiro teria nascido em 1930.

    Mello M. T. C. A repblica consentida: cultura democrtica e cientfica no final do Imprio. Rio de Janeiro: FGV, 2007 (adaptado)

    O texto defende que a consolidao de uma determinada memria sobre a Proclamao da Repblica no Brasil

    teve, na Revoluo de 1930, um dos seus momentos mais importantes. Os defensores da Revoluo de 1930 procura-

    ram construir uma viso negativa para os eventos de 1889, porque esta era uma maneira de

    a. valorizar as propostas polticas democrticas e liberais vitoriosas.

    b. resgatar simbolicamente as figuras polticas ligadas Monarquia.

    c. criticar a poltica educacional adotada durante a Repblica Velha.

    d. legitimar a ordem poltica inaugurada com a chegada desse grupo ao poder.

    e. destacar a ampla participao popular obtida no processo de Proclamao.

    A alternativa correta a letra d.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 39

    Atividade extraFascculo 1 Histria Unidade 1Memria e experincia social

    Questo 1

    Alguma coisa acontece no meu corao

    Que s quando cruza a Ipiranga e a Avenida So Joo

    que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi

    Da dura poesia concreta de tuas esquinas

    Da deselegncia discreta de tuas meninas

    Ainda no havia para mim Rita Lee

    A tua mais completa traduo

    Alguma coisa acontece no meu corao

    Que s quando cruza a Ipiranga e a Avenida So Joo

    Fonte: http://letras.mus.br/caetano-veloso/41670/ Acessado em 23 de julho de 2013

    Observamos na letra da msica a citao saudosa de nomes de avenidas importantes da cidade de So Paulo.

    Nomes que fazem parte da memria coletiva de seus moradores. Porm, a relao do autor com essas avenidas tem

    ligao com as suas prprias memrias. Analise, destacando trechos do texto, a diferena entre a memria do autor

    e a memria coletiva.

  • 40

    Questo 2

    Observe a imagem e responda a questo:

    A cerimnia de um casamento um momento

    importante para nossa sociedade. Quando folheamos

    um lbum de fotografia ativamos lembranas e me-

    mrias que envolvem as nossas vidas e as de outras

    pessoas com as quais compartilhamos aqueles mo-

    mentos. Nesse sentido, e de acordo com o texto e a

    imagem, pode-se concluir que a memria

    a. o resultado de diversas experincias que envolvem os indivduos, um fato influenciado pelo que a so-

    ciedade considera importante ser lembrado.

    b. uma experincia biolgica, o que significa que ela no se relaciona com as identidades individuais e

    coletivas, nem por elas influenciada.

    c. uma lembrana, ou seja, ideia de uma coisa ou de determinada pessoa, que conservada em nosso

    crebro, mas que tem importncia individual.

    d. uma faculdade psquica atravs da qual se consegue reter e (re)lembrar aes que vo ao encontro das

    necessidades presentes.

    Questo 3

    Diferentes civilizaes elaboraram ao longo da Histria formas distintas de organizar o Tempo. Esse processo

    de elaborao de tempos cronolgicos acompanhado da formao cultural e histrica de cada uma dessas civili-

    zaes, envolvendo tambm os jogos da Memria. No mundo ocidental, o nosso tempo cronolgico demarcado

    a. pela Hgira, fuga do profeta Maom de Meca para Medina, evento fundador do calendrio Islmico.

    b. pela data de fundao de Roma, futura capital do Imprio onde pregaram os apstolos, como Pedro.

    c. pela instituio do Imprio Romano no Ocidente, marco da ruptura com o Imprio Romano do Oriente.

    d. pela forte presena do Cristianismo, sendo o nascimento de Jesus o marco de nosso calendrio, o ano 1.

    Fonte: http://casamento.culturamix.com/fotos/album-de- fotos-de-casamento. Acesso em 12/080/2013.

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 41

    Questo 4

    O Holocausto, prtica de perseguio po-

    ltica, tnica, religiosa e sexual estabelecida du-

    rante os anos de governo nazista de Adolf Hitler,

    nas dcadas de 30 e 40 do sculo XX, no qual seis

    milhes de pessoas foram exterminadas pelos

    soldados nazistas, tema central do filme A lista de

    Schindler, retrata a memria coletiva do povo:

    a. judeu.

    b. francs.

    c. ingls.

    d. italiano.

    Pesquisa de Campo

    Nas cidades, caro aluno, h numerosos espaos de Memria. Seus moradores ou governantes costumam trans-

    formar em monumento um evento, uma idia ou um personagem. A deciso de monumentalizar acontecimentos ou

    pessoas serve para tornar presente, sempre e uma vez mais, um smbolo que ir representar a comunidade. As vontades

    de memria podem partir de critrios os mais diversos. Veja este, que encontramos na cidade de Porto Seguro, na Bahia.

    (Fonte: www.capuchinhosbase.org.br. Acesso em 27/08/2013)

    Fonte: http://www.10emtudo.com.br/artigo/steven-spielberg/. Acesso em 15/08/2013.

  • 42

    Isso mesmo, caro aluno! Voc est correto se respondeu que a rplica da Nau do Descobrimento, que apor-

    tou em 1500 na localidade que hoje damos o nome de Porto Seguro, sob o comando de ningum menos do que

    Pedro lvares Cabral.

    Perceba, portanto, que Porto Seguro uma cidade que se apresenta como marco do Descobrimento do Bra-

    sil. Sua gente decidiu monumentalizar esse evento e ser reconhecida por ele em todo o nosso pas.

    E a sua cidade, caro aluno: quais monumentos ela exibe como vontades de memria? Faa um passeio por

    ruas e praas. Tome nota do que viu e do que observou de suas conversas. A partir dessas informaes, escreva um

    relato de experincia para entregar ao seu professor!

  • Cincias Humanas e suas Tecnologias Histria 43

    Gabarito

    Questo 1

    A memria produz significados para nossa histria pessoal e nos ajuda na relao com o mundo, com

    outras pessoas e com nossas experincias anteriores. Ela forma a nossa identidade pessoal e uma forma

    de compreenso de mundo. Observamos isso na relao do autor com o passado, mais especificamen-

    te com o momento em que Caetano visita algumas Avenidas de So Paulo, quando diz: Alguma coisa

    acontece no meu corao. J a memria coletiva o conjunto de significaes, construdo por um grupo

    social a partir de vivncias comuns, isto , a partir das experincias compartilhadas. Apesar da distino

    dos conceitos, o aluno dever observar que a memria individual fortemente influenciada pelas expe-

    rincias coletivas. E vice-versa. Ou seja, em uma resposta completa, dever perceber que somos sujeitos

    histricos, que afetam e so afetados pelos diversos movimentos do meio em que vivemos, dentre eles

    a memria.

    Questo 2

    A B C D

    Questo 3

    A B C D

    Questo 4

    A B C D

  • 44

    Pesquisa de Campo

    Possibilidade de resposta: Livre. O aluno dever reconhecer a importncia da metodologia de pesquisa de cam-

    po para a coleta de informaes. Poder escolher monumentos diversos, como esttuas, prdios, patrimnio

    imaterial (danas, festejos locais). importante que o aluno identifique os interesses polticos e sociais por trs

    das vontades de memria.