Carlos Palmes - Ser Ou Não Ser - O Religioso Do Século XXI

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    Ser ou no ser:

    o religioso do sculo XXI.Simplicidade e pobreza

    Carlos Palmes, SJ1

    Convergncia, Ano XLIII, no413, pgs. 427 a 441, Jl!o"Agos#o 2$$%

    Resumo: O esprito caracterstico da Vida Religiosaso a simplicidade e a pobreza, que hoje, em algunslugares, esto em perigo de extino !o " #$cil encontrara #%rmula exata da pobreza !o est$ nos extremos: nemem ter tudo nem em no ter nada &st$ 'no meio(, isto ", nodesprendimento interior e no #azer uso das coisasmoderadamente, segundo as circunst)ncias e ocompromisso com os pobres O segredo est$ em duascoisas: 1* na prolongada contemplao do +risto pobre e

    humilde, que nos #az sentir a necessidade de identi#icarnoscom ele- e .* no contato real com o pobre, que nosinterpela, no nos permite /i/er em uma abund)nciaescandalosa e nos le/a a partilhar o que temos com os queno t0m

    A imagem da Vida Religiosa

    o nos encontrarmos pela primeira /ez com umapessoa, logo a classi#icamos segundo a imagem queapresenta: um intelectual, uma empregada dom"stica, ummendigo, uma senhora da alta sociedade, um oper$rio, uma

    1!&: 2$ /$rios n3meros padre +arlos 4almes, sj, compartilha /aliosas re#lex5essobre o ser ou no ser religioso no s"culo 667 Os quatro en#oques abordados naspublica5es anteriores da Re/ista +8R #oram: ' experi0ncia #undante( 9n 1, pp.1,* 'Vi/0ncia da #" e seguimento de +risto( 9n , pp ;1

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    sociais, par%quias #amosas, habita5es cLmodas quesuperam o n/el da maioria

    !o +ongresso Bundial da Vida +onsagrada,realizado em Roma em no/embro de .==;, ele/aramse/ozes de todos os continentes lamentando a imagem de

    poder e superioridade que apresentamos,. enquanto a

    simplicidade, a austeridade, o amor #icam mais escondidos&xistem muitos, muitssimos testemunhos admir$/eis,

    por"m, no conjunto da V+, chama mais a ateno aimagem do poder

    !o conjunto dessa situao, no corao do espritodas bema/enturanas, a pala/ra pobreza tem um papelde#initi/o: tanto a pobrezaausteridade pessoal ecomunit$ria como a pobrezasolidariedade e opo pelos

    pobres

    Simplicidade e pobreza

    O tema da pobreza " um dos que produzem maiorinsatis#ao a uma grande parte de religiosos9as* de hoje ede todos os tempos, tanto na teoria como, particularmente,na pr$xis O que indica que no " #$cil encontrar 'a#%rmula( exata em cada caso & " a que se /o combinaruma s"rie de elementos distintos e, Ms /ezes, contradit%rios,que mudam segundo as circunst)ncias

    4or essa #alta de clareza, a tentao de ir ao extremodo radicalismo absoluto sempre se apresentou: 'no ternada( 4or"m isso resulta inumano e imposs/el de ser/i/ido por muito tempo +om mais prazer, temse pre#erido

    buscar a soluo no outro extremo, 'ter tudo(, e, ento, cai

    .+8 48B&I, +arlos 8a /ida religiosa en 8 Badrid: Verbo Ki/ino, .==

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    Jempl$rios, por"m logo a seguir cada monge '/i/ia comoum rei( O papa os extinguiu porque eram um esc)ndalo

    para a cristandade Io Cernardo clama/a contra osmonges que construam templos suntuosos:

    4obres de Hesus +risto, me digam, se h$ pobres de todos os

    modos, para que ser/e o ouro de suas igrejasG 7greja reluz em seusmuros, por"m apresentase necessitada em seus pobres- re/estida de ouroem suas pedras, mas seus #ilhos esto abandonados em sua nudez Iatis#azaos olhos dos ricos Ms custas dos pobres

    !o s"culo 6777, #oram #undadas as OrdensBendicantes, com o carisma da radical pobreza e/ang"lica,dentro de todo um mo/imento pauperista da 7greja &ntreeles, os #ranciscanos e os dominicanos iniciaram uma no/a"poca de #lorescimento eclesial

    Nossa situao !o"e

    2oje, a maior parte dos institutos religiosos senteseincomodada ao re/isar seu n/el de /ida porque h$ maisdois elementos que di#icultam /i/er na simplicidade e naausteridade desejadas: 1* prosperidade material de todosos po/os ou de uma parte da sociedade, mesmo nos pases

    pobres .* O estilo das obras apost%licas nas quaismuitos9as* esto empenhados9as* e que sup5em a posse deinstrumentos caros e meios econLmicos abundantes

    1* O progresso material " um grande bem para ahumanidade, por"m tamb"m " um grande incenti/o

    para a ambio desmedida Os9as* religiosos9as*tamb"m participam dos progressos da sociedade4oderseia classi#icar a maior parte como de

    'classe m"dia baixa( e, alguns, de 'classe m"diaalta( eralmente, t0m um n/el de /ida modesto econ#ort$/el &m parte isso se de/e D e nistoo#erecem um modelo e um estmulo M sociedade D Mren3ncia M propriedade pri/ada para colocar tudoem comum, e em parte M austeridade e boa

    administrao que #azem dos bens4or"m, por mais simples que seja a /ida dosreligiosos, ela contrasta com a pobreza e a mis"riade muitos que /i/em ao redor deles 4or isso algunsse perguntam: ser$ que temos que /i/er com asmesmas necessidades 'indignas de pessoashumanas( de nossos /izinhos, ou " melhor lutar eacompanh$los para que eles tamb"m alcancem umn/el de /ida melhorG

    !o se trata de experimentar sentimentos de culpa 9ainda quesentilos no #aa mal de /ez em quando*, mas de tomar consci0ncia, demodo /ital, que nosso estilo de /ida no est$ no caminho do &/angelhoK$ a impresso de que queremos 'caminhar na procisso e tocar os sinosao mesmo tempo(;

    .* causa das maiores d3/idas, por"m, so as obras'apost%licas( que alguns9mas* mant0m 4orexemplo: col"gios, hospitais, organiza5es sociais,

    par%quias em centros urbanos Jamb"m so causasde d3/idas a dedicao Ms classes m"dia e alta, aosintelectuais, aos pro#issionais ou comerciantes etc, eo correspondente estilo de /ida comunit$riaK3/idas sobre os meios utilizados: comodidades,aparelhos eletrLnicos, /iagens

    ;+J8P, Joni +ol Qrontera, n 1?, p ;A

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    &m todos estes casos aparece clara a opo pelospobresG Fue temos de ter os instrumentosnecess$rios para um apostolado e#iciente no existed3/ida, por"m no se poderia e/itar parecer ricoscomo os ricos e os poderososG Ier$ necess$riomanter sempre uma tenso 'entre a e#ic$cia do

    apostolado e o testemunho da pobreza e/ang"lica(&ste " um problema particularmente di#cil, queexige discernimento comunit$rio 9ol/enbach*

    !o podemos #ugir de um mundo to complicado eglobalizado no plano econLmico, mas no " lcito sonharcom nostalgia com o que #oi o primeiro momento nas#unda5es de boa parte dos institutos religiosos 4enso que7n$cio de 8oNola e seus companheiros, #undadores da

    +ompanhia de Hesus, no dia em que #izeram seus /otos emBontmartre 91

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