Capoeira Identidades e Diversidade
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CAPOEIRA, IDENTIDADES E DIVERSIDADE
A capoeira é uma das manifestações culturais resultantes da diáspora africana no Brasil. É um
campo de múltiplas expressões, acumulando em seu histórico a aproximação com diversas culturas,
o que favorece diferentes interpretações e percepções sobre sua prática. Esse campo nem sempre é
harmonioso.
Alguns debates discorrem em torno dos aspectos contínuos da tradição e suas formas de
ruptura. A transmissão de saberes baseados na oralidade, na hierarquia e no respeito aos mais velhos
vem sendo transformada pelo uso de novas tecnologias e pela expansão em diferentes territórios
socioculturais: regionais, étnico-raciais, sócio-econômicos, nacionais, religioso, geracionais e de
gênero.
A maioria dos debates sobre a capoeira a relaciona à luta por libertação, remetendo à tradição,
e à resistência da cultura negra. Há hoje um entendimento muito comum da capoeira como um
poderoso instrumento de afirmação de identidades culturais afrodescendentes e de afirmação da auto-
estima para milhares de praticantes em todo o mundo, especialmente para os jovens negros das
periferias brasileiras.
A popularização da internet também tem criado um fenômeno interessante: capoeiras que
aprendem utilizando este meio de comunicação, estudando jogos e repetindo movimentos. Com a
expansão da capoeira em nível global, temos um número crescente de praticantes estrangeiros sendo
formados professores, contramestres e mestres. Seus aprendizados ocorrem através dos inúmeros
meios tecnológicos e informativos, bem como no contato direto com outros capoeiras e mestres
brasileiros expoentes, que em busca de maior reconhecimento, divulgação de sua arte e melhores
condições econômicas, vem realizando workshops e firmando residência no exterior.
Considera-se a figura do mestre como um dos principais defensores e propagadores do saber
da capoeira. No entanto, ele encontra grandes dificuldades de se inserir nos espaços formais de
ensino, superior e médio, e de legitimar seus modos e lugares de transmissão de saber como prática
educativa reconhecida.
Outra situação atual é o crescimento constante do número de crianças e mulheres na capoeira.
Com a ascensão de mulheres à condição de mestras e professoras, alguns grupos de capoeira passam
a ser orientados por suas práticas e elas assumem a figura de detentoras e disseminadoras do
conhecimento. Isso tende a reformular alguns sentidos da tradição, imprimindo-lhe novas
características.
A crescente utilização de elementos da capoeira na mídia, em filmes, novelas e materiais
publicitários, também merece atenção. É importante refletir no modo como a capoeira vem sendo
representada e se tais representações remetem a algum tipo de tradição.
Nesse sentido, é preciso considerar a diversidade cultural que compõe o universo da capoeira
para construção das políticas de incentivo e salvaguarda.
Questões para o debate:
1. Como reforçar e ressaltar a importância histórica e cultural da capoeira como instrumento de
resistência, em face da sua crescente apropriação pelos mais diversos estratos sociais?
2. Quais ações são necessárias para garantir a capoeira enquanto cultura afro-brasileira de
resistência?
3. A institucionalização da capoeira – ensino em espaços formais e em academias, tentativas de
regulamentação do trabalho, etc. – favorece sua compreensão enquanto prática cultural
tradicional e de resistência?
4. Como as novas tecnologias podem ser incorporadas nos processos tradicionais de transmissão
da capoeira.
5. Como podemos construir um plano de divulgação nacional e internacional que contemple a
diversidade cultural da capoeira ?
6. De que modo as políticas de incentivo e salvaguarda podem contribuir para a aproximação
entre os saberes populares e acadêmicos, contribuindo para o diálogo entre ambos?