CAPA - Bem-vindo ao Portal Internacional do...
Transcript of CAPA - Bem-vindo ao Portal Internacional do...
CAPA
1educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Com este número chega ao fim esta série de edições
do Boletim “Educar sem Fronteiras”. Foi um caminho
traçado ao longo de quatro anos em que vigorou o
Contrato-Programa apoiado financeiramente pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,
inteiramente consagrado à Cooperação para o
Desenvolvimento no Instituto Politécnico de Viana do
Castelo, no distrito de Viana do Castelo e em mais três
países: Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Além destes
contextos, verificaram-se ramificações do Programa para
Moçambique e até no Sri-Lanka pós-tsunami.
O Boletim nº 5 enfatiza, não só as acções levadas a
cabo nos países, mas sobretudo os impactos e resultados
conseguidos. Estes verificam-se a nível institucional,
pessoal, social e educativo. O Programa por ter sido
concretizado em sintonia com parcerias forjadas ao longo
de anos – e sabemos que a aposta nestas parcerias foi
um trunfo para o sucesso de muitas das acções – e que,
em muitas circunstâncias, nos garantem a sustentabilidade
das iniciativas lançadas em contextos complexos,
por vezes, frágeis e marginalizados. Tendo sido
aprendidas importantes lições, tanto a nível teórico, como
a nível da prática, fica em aberto um leque variado de
hipóteses de trabalho na área da cooperação para o
desenvolvimento, quer a nível da reflexão e investigação,
quer a nível da aprendizagem da implementação e dos
factores que nela interagem.
O Boletim abre com a crónica/testemunho da
Professora Luísa Neves, Presidente do Conselho
Directivo, do seu “sentir” a cooperação enquanto forma
de estar e aprender a estar com os outros. O voluntariado
para o desenvolvimento continua a ser uma componente
de realização pessoal (e até profissional) muito relevante
para a ESE-IPVC. A aposta na formação, sensibilização
e acompanhamento são fundamentais nesta área como
documenta Rosa Silva. O artigo de opinião da autoria de
José Portela (com apoio de Júlio Santos) apresenta
algumas reflexões sobre as potencialidades e limitações
das TIC e dos centros de recursos nos processos de
mudança em países em desenvolvimento, alertando para
alguma “cautela” na utilização das TIC e sobretudo na
sustentabilidade de acções neste domínio. Ramya
Vivekanandan, técnica da UNESCO com quem o GEED
colabora, enviou-nos um artigo pessoal sobre a condição
docente e o papel primordial dos professores e das
professoras nos países que estão a beneficiar da TTISSA
(Teacher Training Initiative for Sub-Saharan Africa). Rui
da Silva revê os cursos livres e temáticas discutidas,
alertando para a riqueza das discussões e qualidade dos
intervenientes nos Cursos “Culturas do Desenvolvimento
e Cidadania” promovidos pelo GEED ao longo dos últimos
anos e que foram a marca de uma agenda da cooperação
e cidadania que ilustra, conforme referiu na altura Sérgio
Calundungo, director da ADRA-angolana, a centralidade
das periferias e a atenção a outras vozes e à diferença.
O que podemos realçar no trabalho e empenho do
GEED, dos seus colaboradores e parceiros são os
impactos e lições conseguidos ao longo do Educar sem
Fronteiras enquanto processo. É a partir daqui que se
deseja construir algo com futuro, revelador de tendências
inovadoras em cooperação, iluminando outras agendas,
num contributo constante ao papel da educação na
humanização da globalização. Um agradecimento muito
especial a todos aqueles que acreditam no nosso trabalho
e que continuam, cada vez mais, a desafiar as nossas
fronteiras!
Júlio SantosGEED
Editorial
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras2
Como Presidente do Conselho Directivo da EscolaSuperior de Educação do Instituto Politécnico de Vianado Castelo (ESE-IPVC) tive o privilégio de, no correnteano, fazer parte duma missão a Cabo Verde e à Guiné-Bissau, que teve por objectivos avaliar as iniciativaslevadas a cabo nestes países no âmbito do Programa“Educar Sem Fronteiras” e perspectivar o futuro destacooperação de um modo sustentável. Para o fazercontámos com os parceiros no terreno, particularmente,o Instituto Pedagógico, o Ministério da Educação e adelegação de Educação de Santa Catarina em CaboVerde, e o Ministério da Educação, a Delegação deEducação de Gabú, o FNUAP – Nações Unidas e oInstituto da Juventude na Guiné-Bissau. A todos agradeçoa amabilidade com que nos receberam e a colaboraçãoque ao longo do tempo têm mantido com a nossainstituição.
Não vou descrever o programa que foi realizadoporque isso já foi feito no relatório da missão e tambémestá patente noutros artigos deste boletim. Vou, apenas,dar o testemunho do que senti como pessoa e comorepresentante institucional da ESE-IPVC.
Ser presenteada com um hino de acção de graças àESE-IPVC por um coro de crianças do pólo educativode Achada Leitão, observar as crianças de Mancholy eos professores de Assomada a usufruir dos equipamentosinformáticos, ver o entusiasmo posto no lançamento dolivro “Aprender o Português” de Margarida Santos e saberque está em vias de ser adoptado como manual escolara nível do país, ouvir os jovens de Gabú dizer que ocentro de recursos é a sua “universidade”, sentir oprofundo reconhecimento do “Senhor Mama” (Delegadoda Juventude e Desportos) pelo trabalho que tem sidodesenvolvido em prol da juventude de Gabú, constataro entusiasmo e vontade de fazer mais e melhor dosnossos estudantes no sentido de contribuírem para amelhoria das condições de vida das populações, indomuito além daquilo que lhes era exigido, olhar os sorrisosde esperança no meio da adversidade dos jovens dasescolas que visitámos... Tudo isto fez-me “sentir”.
Sentir um enorme orgulho de pertencer e representaruma instituição com nome espalhado por caminhos tãolongínquos (nos centros de recursos, no lançamento delivros, nos corredores governamentais, nos bastidoresda diplomacia...).
Sentir uma emoção profunda pelo carinho com quenos recebiam em todo lado e, por sentir a comunhãoentre “gentes tão diferentes e tão iguais”.E sentir espanto!Pelo trabalho hercúleo desenvolvido por alunos nossosem condições de dureza extrema. E profunda satisfaçãopor “pensar” que de algum modo tínhamos contribuídopara a formação de pessoas deste calibre.
Assim, pelo que percepcionei nesta missão e doconhecimento que tenho vindo a adquirir sobre todo otrabalho realizado no âmbito deste Programa, estouconvicta da importância e da excelente qualidade do quefoi concretizado, que são também reconhecidas pelasautoridades locais, nacionais e internacionais. Por isso,deverá ser continuado e integrado num quadro decooperação para o desenvolvimento mais vasto emtermos institucionais e nacionais, incluindo o alargamentode parcerias com as instituições de ensino superior, olançamento de licenciaturas conjuntas e a formação pós-graduada. A mobilidade discente deve ser alargada econsolidada, pois além de nos permitir efectivar umaligação ao terreno mais continuada, proporciona aosestudantes uma outra perspectiva e conhecimento domundo que lhes permite crescer como pessoas edesenvolver competências fundamentais para encararcom sucesso o futuro neste mundo globalizado em quevivemos.
De facto, na sociedade actual não podemos ter aveleidade de conseguirmos alguma coisa sozinhos.Cooperar é um valor fundamental para o sucesso. Ecooperar é trabalhar em conjunto. É misturar cores esabores... É partilhar afectos... Enfim, é partilhar saberes,mas também sentires.
Luísa NevesPresidente do Conselho Directivo da ESE -IPVC
Educar Sem Fronteiras:partilhar saberes e sentires
3educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Ser voluntário começa com “um simples passo”, a
motivação para sê-lo, depois vem a procura de informação,
a procura de um lugar, de uma entidade para transformar
essa motivação em prática. Ao Gabinete de Estudos para
a Educação e Desenvolvimento chegam diversas
motivações que se vão materializando ao longo de um
processo de formação. Processo esse que se divide em
duas fases: uma mais geral e outra mais específica. No
decorrer destes momentos, que se repartiram em
dois blocos de cerca de trinta horas cada, foram
desenvolvidas temáticas de voluntariado, educação
para o desenvolvimento, cidadania, interculturalidade,
solidariedade, metodologia de projecto e cooperação
para o desenvolvimento.
De ano para ano os interessados são cada vez mais
e as áreas de formação cada vez mais diversas e menos
centradas nas que deram mote aos projectos em 2001,
quando tudo começou em parceria com o Instituto de
Solidariedade e Cooperação Universitária: educação e
saúde. No presente ano lectivo, de entre trinta e quatro
formandos na formação geral e vinte e dois na formação
específica temos áreas tão diversas como educação,
saúde, agronomia, engenharia florestal, direito, psicologia,
política social, comércio, design, engenharia civil.
Em breve, estes formandos passarão por um processo
de apreciação curricular, entrevistas e selecção, porque
“nem tudo o que vem à rede é peixe”. Pois os pedidos
de projectos de voluntariado começam a centrar-se cada
vez mais num voluntariado técnico e especializado, com
formação prévia para compreender e se adaptar ao
terreno de intervenção. No terreno onde deixam não só
a sua marca pessoal, mas também a marca da instituição
que os envia e da que os acolhe, já que é da sintonia
entre estes três actores que se alcança o sucesso. Daí
que atribuamos cada vez mais importância a uma
formação de qualidade onde os formandos têm acesso
a um acervo bibliográfico especializado e oportunidade
de contactar com técnicos das organizações que os
receberão no terreno.
Os formandos seleccionados integrarão três projectos,
dois em Angola e um na Guiné-Bissau, durante cerca de
um mês e meio. Com o primeiro país ultimam-se
pormenores de acção com ONG angolana Acção para
o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), que
acolherá dois voluntários e com a organização
internacional Christian Chidren’s Fund (CCF) em Angola,
que receberá quatro. Na Guiné-Bissau estuda-se a
possibilidade de enviar cinco voluntários, com o apoio
do Instituto da Juventude da Guiné-Bissau, através do
Centro Multifuncional da Juventude em Gabú e do Fundo
das Nações Unidas para as Populações (FNUAP), à
imagem do que sucedeu o ano transacto.
A fase de preparação e planificação está agendada
para o mês de Julho, a fase de execução acontecerá
entre Agosto e início de Setembro. Após o regresso
pretende-se que os voluntários apresentem as suas
vivências, experiências e trabalhos desenvolvidos quer
em forma de relatórios quer em forma de exposições
públicas, para que em modo de catarsis pedagógica
passem o seu testemunho, cativem futuros voluntários
e fomentem a educação para o desenvolvimento.
Voluntariado e Cidadania
Voluntariado – um caminho a percorrer
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras4
A 14 de Novembro de 2007, a Sociedade Civil
Angolana proclamou a Rede Nacional Educação Para
Todos (EPT-Angola), que tem como objectivo contribuir
para o alcance dos Seis Objectivos de Educação de
Qualidade para Todos de Dakar (2000), em Angola,
através de uma maior aproximação ao Governo, no
sentido de desenvolver um diálogo constante sobre a
situação da educação em Angola, para que as políticas
educativas a serem concebidas possam realmente
beneficiar e reflectir a realidade de todos os cidadãos
angolanos, auscultando a voz da Sociedade Civil,
conforme recomendado no Fórum Mundial de Educação
Para Todos: “a responsabilidade de conceber políticas
educativas é da inteira responsabilidade dos Estados,
mas que deverão consultar sistematicamente as
Organizações da Sociedade Civil (OSC)”.
A caminho de um ano de existência, nota-se algum
protagonismo das OSC que desenvolvem projectos
voltados para a temática da Educação. Antes da
proclamação da rede, o Ministério da Educação de Angola
e as próprias OSC não sabiam, com toda firmeza, quais
OSC trabalhavam a temática Educação e em que
modalidade, tendo como consequência a falta de
coordenação de actividades entre os diferentes
intervenientes. Hoje, pode-se afirmar, sem qualquer
hesitação, que a coordenação de actividades, quer entre
as próprias OSC e quer destes com o Governo é um
facto, pois existe um forte espírito de comunicação entre
os diferentes actores sociais. Prova desta comunicação
funcional é a comemoração conjunta da Campanha
Nacional pela Educação, a 14 de Abril de 2008, cuja
abertura foi proferida pela Sua Excelência Ministro da
Educação, Dr. António Burity da Silva Neto, no Instituto
Médio Industrial de Luanda (IMIL).
A ADRA através do seu Programa de Educação
Formal, denominado ONJILA, tem vindo a trabalhar
estreitamente com o Ministério da Educação nas escolas
primárias rurais. Fruto das suas experiências de trabalho
com este Organismo do Estado Angolano, procura cada
vez mais influenciar para que as OSC se juntem à Rede
EPT-Angola, pois quer ele (o Ministério da Educação)
quer as OSC lutam pelo alcance dos mesmos seis
objectivos de Educação de Qualidade Para Todos, de
Dakar 2000.
Apesar dos progressos dados até ao momento, fruto
do desempenho de todos os 64 membros da Rede EPT-
Angola, ainda há muito trabalho que tem de ser feito para
tornar a Rede mais dinâmica, isto é, materializar o seu
princípio, segundo o qual “são os membros que estarão
ao serviço da rede e não o contrário”. Nota-se ainda que
algumas organizações da sociedade civil, membros da
Rede, têm uma participação irregular nas várias
abordagens e as poucas que aparecem demonstram
necessidades de formação em matéria do trabalho de
advocacia social a favor da educação.
Perante as constatações acima, a ADRA, na qualidade
da Organização Adjunta da Rede EPT-Angola, procurará,
junto da Associação Angolana para a Educação de Adultos
(AAEA) e do Projecto Sim à Educação, Organização
Coordenadora e Secretariado Executivo da Rede EPT-
Angola, respectivamente, promover acções de formação
para os seus membros, em matérias específicas, fortalecer
as relações de cooperação com o Ministério da Educação
e com outros intervenientes educativos, realizar estudos
de casos sobre a situação da educação em Angola, com
muita atenção no meio rural e lançar a Rede EPT-Angola
no contexto internacional com a finalidade de estabelecer
parcerias com redes similares.
A contribuição da ADRA na constituição daRede Nacional Educação Para Todos
Parceria para o desenvolvimento
Carlos Cambuta
Coordenador do Programa Onjila
ADRA - Angolana
5educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Educar Sem Fronteiras:impacto e lições
ContextualizaçãoO Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC)
acumulou, ao longo dos últimos anos, uma experiência
e conhecimento aprofundado dos conceitos, valores e
práticas inerentes aos processos de cooperação para o
desenvolv imento. Esta exper iência resul ta,
essencialmente, do envolvimento do IPVC em projectos
e programas de cooperação no terreno e da sua
participação em várias iniciativas em parceria com actores
estratégicos, tanto nos países do Norte, como nos
contextos do Sul.
A cooperação e o conhecimento sobre o
desenvolvimento estão a constituir uma área de grande
importância no seio da instituição. A missão do IPVC, no
âmbito do Plano Estratégico 2008-2013, elege a
cooperação como uma “aposta clara” com os países de
língua portuguesa. De entre os valores consagrados na
Missão da instituição destacam-se a “Cidadania” e a
“Solidariedade”. Um dos eixos do Plano Estratégico –
Relações com a Sociedade e Internacionalização –
confere, em sintonia com as orientações da cooperação
internacional, uma particular ênfase ao espaço lusófono,
devendo o IPVC ser um “parceiro atento e activo em prol
do desenvolvimento sustentável, da luta contra a pobreza
e da educação para o desenvolvimento”. É, com este
espírito, que se pretende consolidar uma estratégia para
o enraizamento da cooperação para o desenvolvimento
no IPVC e nas suas unidades orgânicas nos próximos
anos.
O IPVC, através da Escola Superior de Educação
(ESE), desenvolveu entre 2004 e inícios de 2008, um
Programa vasto e complexo de internacionalização,
cooperação e mobilidade intitulado “Educar sem
Fronteiras” (ESF). Este Contrato-Programa, que retomou
ideais e projectos iniciados a partir de 2000, envolveu
as Escolas do IPVC e teve o apoio financeiro do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Foi concretizado
em articulação com parceiros nacionais e internacionais
em quatro países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e
Portugal.
O ESF foi determinante para a contextualização das
acções de cooperação e para a aprendizagem sobre as
agendas, actores e redes em cooperação. O Programa
foi implementado numa perspectiva fortemente
descentralizada, privilegiando a proximidade com os
actores e um conhecimento aprofundado dos contextos.
Estes são, muitas vezes, marcados pela ruralidade, pelo
isolamento geográfico, pela fragilidade e por situações
de pós-conflito e reconstrução num desafio constante a
modelos de cooperação inovadores e adequados às
condições e instituições no terreno. Foi possível
desenvolver um conjunto de iniciativas articuladas que
se irão manter para além deste período de forte
investimento e institucionalização da cooperação para o
desenvolvimento em Viana do Castelo. Simultaneamente,
foram construídos contactos e parcerias privilegiadas
com os Ministérios da Educação, com ONG’s nacionais
e internacionais, com delegações e direcções provinciais
de educação, assim como com outros actores a nível
regional (em particular, em Malange no interior de Angola,
em Gabú no leste da Guiné-Bissau e em Santa Catarina
e no Mindelo em Cabo Verde).
Ênfase na implementaçãoUma das linhas de orientação que tem sido fortemente
acarinhada é a criação e, sobretudo, o apoio à
implementação de projectos segundo as agendas da
cooperação nacional e internacional e em sintonia com
os contextos específicos. Tem sido feito um esforço no
sentido de institucionalizar e interiorizar conceitos e
práticas de cooperação através da aprendizagem e
discussão das questões do desenvolvimento. Para isto,
muito tem contribuído a criação na ESE do GEED
(Gabinete de Estudos para a Educação e
Desenvolvimento) que, além de ser uma biblioteca
especializada, é também uma estrutura de apoio à
concepção e avaliação de projectos, que promove a
reflexão sobre educação, cooperação, voluntariado e
desenvolvimento e divulga junto da comunidade
académica do IPVC e no distrito a temática da educação
para o desenvolvimento.
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras6
Em relação ao trabalho de terreno, estão a ser
apoiados os seguintes projectos na área da educação e
formação de formadores:
– “Aumento das Capacidades Linguísticas dos
Professores do Ensino Primário” – Província do Zaire –
Angola, sendo parceiros o Ministério da Educação, através
da Direcção Provincial de Educação e a organização
não-governamental internacional Save the Children
(ver caixa 1);
– “Projecto ONJOY (Sonho) – projecto de prevenção e
combate às piores formas de trabalho infantil através da
educação, em parceria com a ONG Christian Children´s
Fund (CCF) em dois municípios em Benguela;
– “Projecto Escola Feliz II, projecto de melhoria da
educação no concelho de Santa Catarina em Cabo Verde,
promovido pela ONG portuguesa CIC (Associação para
a Cooperação, Intercâmbio e Culturas);
– “Programa Onjila “ – Projecto de apoio à educação nos
meios rurais, em parceria com a ADRA (Acção para o
Desenvolvimento Rural e Ambiente) em Angola, tendo
a ESE estado presente sobretudo na província de
Malange;
– Criação de uma rede de Centros de Recursos
Educativos “Educar sem Fronteiras” – Malange (Angola),
Santa Catarina no interior rural da ilha de Santiago
em Cabo Verde e Gabú no leste da Guiné-Bissau
(ver caixa 3).
A participação nestes processos de mudança constitui,
sem dúvida, um desafio ético, pedagógico, cultural e
científico para o IPVC. Permite ainda o conhecimento de
diferentes filosofias de actuação e de práticas de
sustentabilidade, assim como a imersão na complexidade
das agendas locais, nacionais e internacionais da
cooperação e da ajuda humanitária.
Língua Portuguesa – um lugar em Angola
Desde Janeiro de 2007 que o Ministério da Educação deAngola, a Save the Children em Angola (instituiçãofinanciadora) e a ESE-IPVC (instituição formadora) uniramesforços em prol da Língua Portuguesa, implementando oProjecto de Aumento das Capacidades Linguísticas dosProfessores do Ensino Primário na província do Zaire. Comoafirmaram a directora para o Ensino Geral e a directora doGabinete de Intercâmbio Internacional daquele país “visamelhorar a qualidade de ensino em Angola, no âmbito daReforma Educativa”, bem como difundir a língua de ensinocurricular, já que, com mais incidência nas provínciasfronteiriças, esta é quase desconhecida pela populaçãoescolar que se expressa maioritariamente em língua nacional.Este projecto divide-se em três fases: formação deformadores e supervisores, avaliação intermédia e avaliaçãofinal e em 2007, abrangeu indirectamente 6.000 criançase directamente 200 professores, 16 formadores e 4supervisores em 16 centros de formação de Kuimba e Nóki.Em 2008 estendeu-se a Mbanza Kongo, fazendo subir osnúmeros para 18.000 crianças, 36 formadores, 9 supervisorese 400 professores em 20 centros de formação. A comunidadetem acolhido e participado nele de forma directa desde oinício, pois sobas, regedores, enfermeiros, pedreiros eagricultores consideram uma mais-valia aprender a línguaoficial que lhes permite compreender e ser compreendidosem momentos de mobilidade interna e externa quando sedeslocam a países de expressão portuguesa.
Técnica responsávelRosa Silva
Voluntariado e cooperação
O Gabinete de Estudos para a Educação e Desenvolvimentoe o Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitáriatêm desenvolvido, desde 2001, projectos de voluntariadode curta duração. Os voluntários passam por dois processosde formação, um mais geral e outro mais específico ondese desenvolvem temáticas de voluntariado, educação parao desenvolvimento, cidadania, interculturalidade,solidariedade, metodologia de projecto e cooperação parao desenvolvimento.Desde a apontada data integraram a formaçãoaproximadamente cento e oitenta formandos edesenvolveram projectos em Angola e na Guiné-Bissaucerca de trinta, em áreas tão diversas como educação,saúde, animação comunitária, direitos humanos, ambientee comunicação social. O objectivo destes projectos é formarquadros/profissionais locais, apoiar agentes dedesenvolvimento comunitário, construir materiais didáctico-pedagógicos potenciando recursos locais, dinamizaractividades para e com a comunidade e promover a línguaportuguesa.
Técnicos responsáveis: Rosa Silva e Rui da Silva
Caixa 1
Caixa 2
7educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Desafiar as nossas fronteiras – compreendero desenvolvimento
Uma das dimensões essenciais tem sido a promoção
de iniciativas que se prendem com a compreensão do
desenvolvimento e da institucionalização de conceitos,
princípios e práticas de educação para o desenvolvimento
no IPVC e no distrito. Tem havido, em simultâneo, um
diálogo muito rico com a ONG Ayuda in Acción na Galiza,
prevendo-se iniciativas conjuntas na área da cidadania
e do voluntariado para o desenvolvimento. Ao longo dos
anos tem aumentado a promoção de acções de educação
para o desenvolvimento e de sensibilização para os
desafios da pobreza no quadro da globalização. As
seguintes estratégias estão a contribuir para esta
evolução:
– Cursos de voluntariado para o desenvolvimento e
consequente inserção de técnicos voluntários em projectos
de curta duração nos países lusófonos (ver caixa 2);
– Participação na Campanha Global pela Educação,
alertando para a situação da educação nos países em
desenvolvimento e para o cumprimento das Metas de
Dakar;
– Cursos livres “Culturas do Desenvolvimento e Cidadania”
(foram realizados seis módulos), tendo constituído
espaços de diálogo sobre cooperação, parcerias,
educação e desenvolvimento nos quais participaram
inúmeros parceiros, representantes de ONG’s, agências
das Nações Unidas e, sobretudo, técnicos locais;
– Produção de documentários sobre a situação educativa,
económica e social dos países em vias de
desenvolvimento. Neste âmbito, o IPVC conta com a
participação da Associação de Produção Áudio Visual
“Ao Norte”. Os filmes ilustram as percepções dos vários
actores sobre a importância da educação básica, da
Língua Portuguesa e da formação de técnicos nos
processos de desenvolvimento local. São de destacar
os documentários o “Vôo do Humbi Humbi”,
“A minha Escola” e “Kussanguluka” sobre a temática da
reconstrução pós-conflito, realizados em parceria com a
ADRA na província de Malange e “Caminho com Futuro”
e “Olá meninos”, filmes sobre a situação da educação
no meio rural no concelho de Santa Catarina na ilha de
Santiago.
TIC, capacitação e desenvolvimento local
Com apoio do ESF foram desenvolvidos 3 centros derecursos que têm como estrutura base 10 computadores,2 scanners, 2 impressoras, 2 máquinas fotográficas digitais,um computador portátil e bibliografia diversa. Implementadosem espaços físicos já existentes, estão a evoluir segundoas especificidades dos contextos.
AngolaO equipamento destina-se a reforçar o Centro de Formaçãoe Treinamento da ONG ADRA, principal parceiro desteprojecto. Pretende-se proporcionar acesso às TIC e amateriais bibliográficos a toda a população da áreaenvolvente, mas tendo como grupo-alvo os alunos eprofessores das escolas da área de intervenção do ProgramaONJILA e, em particular, da Zona de Influência Pedagógica.
Cabo VerdeO centro está instalado na Delegação de Educação doMinistério da Educação e Ensino Superior de Santa Catarina(DESC). Desde 2007 possui ligação à Internet via VSAT(Very Small Aperture Terminal), instalada pelo ESF, servindotodos os técnicos e divisões da DESC. Está direccionadopara o apoio pedagógico, metodológico e científico aosprofessores e gestores educativos em TIC e materiaisbibliográficos. Foram criados dois “centros satélite”, nospólos educativos de Mancholy e Achada Leitão para quetambém os alunos tenham acesso às TIC. As palavras deJoaquim Furtado, professor do Instituto Pedagógico e ex-delegado da educação, são reveladoras sobre o impactodo Centro:“ […] É muito procurado pelos professores e gestores,sobretudo os que nunca tiveram acesso às novastecnologias. [...] Os Pólos passaram a ter mais igualdadeem termos de benefícios das novas tecnologias […] Paramuitos o centro de recursos é uma das melhores coisasque surgiram na educação no concelho nos últimos anos”.
Guiné-BissauO Centro de Recursos está instalado no Centro Multifuncionalda Juventude de Gabú (CMJ), na zona leste do país. Osparceiros são o Instituto Guineense da Juventude, o FNUAP,o Governo Regional e a Delegação de Educação. Temfuncionado com cursos de informática para o jovens epopulação em geral, contando desde meados de Agostode 2008 com ligação à Internet. Segundo um dosresponsáveis do FNUAP da Guiné-Bissau, este espaço comTIC e a parceria com a ESE-IPVC tem dado mais vitalidadeao CMJ e contribuído para a prevenção da emigração dosjovens desta região.
Técnico responsávelRui da Silva
Caixa 3
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras8
Mobilidade e conhecimento doespaço lusófono
No âmbito do Programa “Educar sem Fronteiras” foi
estabelecido um extenso sub-programa de mobilidade
que envolveu docentes do IPVC, de discentes,
nomeadamente das licenciaturas de educação de infância
e de educação física e técnicos dos PALOP dos 3 países
envolvidos e de Moçambique. O conceito de mobilidade
foi explorado no sentido do conhecimento das sociedades
dos países do sul e do reforço da Lusofonia. Para isto
também contribuíram os projectos de voluntariado de
curta duração que têm sido realizados anualmente na
Guiné-Bissau e em Angola. Além de proporcionar a
procura de oportunidades de cooperação, a mobilidade
revela-se uma estratégia pertinente de internacionalização
dos cursos e de re-integração de candidatos oriundos
dos PALOP nos seus países. Neste sentido, a rede dos
Centros de Recursos assume um papel relevante, tanto
na recepção de técnicos cooperantes, como de voluntários
e de estudantes em mobilidade, criando-se assim linhas
de continuidade e de sustentabilidade de iniciativas
inovadoras em cooperação.
Língua Portuguesa e qualidadeda educação
Uma especial atenção tem sido dada à questão do
ensino da língua portuguesa no contexto do
desenvolvimento. Isto tem sido traduzido através do
apoio concreto a iniciativas no terreno (casos do projecto
de formação de formadores na província do Zaire e o
Projecto ONJOY em Benguela) e na produção de
instrumentos para o ensino e promoção da língua no
âmbito da qualidade da educação e das reformas
educativas. O projecto de capacitação na província do
Zaire é, entre outros, um exemplo muito claro da relação
entre investimento na língua e qualidade/relevância da
educação no quadro da reconstrução sócio-educativa.
Comunidade Lusófona da INEE
A Comunidade Lusófona da INEE (Inter-Agency Networkon Education in Emergencies) pretende apoiar os membrose parceiros da INEE falantes de língua portuguesa,promovendo as experiências, lições aprendidas e boaspráticas no sentido de recolher, traduzir e desenvolverrecursos e ferramentas inter-institucionais em português.Esta Comunidade será dinamizada pela Escola Superiorde Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.Até ao momento, foi desenvolvida uma colaboração muitoestreita com a INEE: tradução e publicação de 5000exemplares da edição portuguesa dos Requisitos Mínimosda INEE, participação na formação de formadores para aaplicação e implementação dos Requisitos Mínimos epromoção desta ferramenta juntos dos falantes de línguaportuguesa. Foi também já realizado um workshop sobrea utilização e aplicação dos Requisitos Mínimos da INEEem Portugal, e dois de sensibilização em Angola.
Participe!A Comunidade Lusófona da INEE é uma rede aberta a todosaqueles que estão interessados em partilhar recursos einformação relacionada com a educação em situação deemergência, crises crónicas e reconstrução em português.Os membros da Comunidade Lusófona da INEE receberãomensagens regulares da lista de distribuição, incluindoinformação sobre a rede INEE e actualizações no queconcerne aos recursos mais recentes em português, eventos,oportunidades de trabalho, capacitação e formação.A Comunidade proporcionará também um fórum para osmembros da INEE partilharem as suas experiências e liçõesaprendidas e desenvolverem colaboração em advocaciadirigida aos falantes de língua portuguesa.Se está interessado em participar na Comunidade Lusófonada INEE, junte-se à INEE visitando www.ineesite.org/joinseleccionando o português como língua de trabalho e seráautomaticamente incluído na INEE-CL.
Caixa 4
A produção de materiais para e em língua portuguesa
nasceu da ligação com projectos específicos no terreno
no âmbito do ESF. Considerando o seu impacto e o grau
de envolvimento dos parceiros, vale a pena destacar:
– “Aprender o Português” - manual de alfabetização para
a 1ª fase do Ensino Básico de Cabo Verde da
autoria de Margarida Santos e em parceria com a
Escola de Formação de Professores do Ensino
Básico do Mindelo - Instituto Pedagógico, Projecto
“Continuar a ser Criança”;
– “Para Escrever Melhor” - manual para ajudar os
professores a “orientar os alunos na habilidade da escrita”,
segundo o autor, Benjamim Moreira, colaborador do
GEED e que nasceu de uma experiência de trabalho
voluntário na Escola de Formação de Professores de
Assomada, i lha de Sant iago, Cabo Verde;
– “Crescer Juntos” - caderno de actividades para o pré-
escolar “adaptado à realidade e ao contexto africano” de
acordo com as autoras Isabel Silva e Liliana Azevedo,
sendo, essencialmente, dirigido a Angola, Cabo Verde
e Guiné-Bissau.
Língua e redes internacionais:Comunidade Lusófona
Foi recentemente criada a Comunidade Lusófona da
Rede Inter-Institucional para a Educação em situação
de Emergência, (INEE, sigla em inglês) na qual a língua
portuguesa assume um papel crucial. Esta rede, sediada
no ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados) acolheu a criação desta comunidade,
sendo a ESE a interlocutora para os países de língua
oficial portuguesa. Neste âmbito, foi traduzido e divulgado
o manual “Requisitos Mínimos para a Educação em
Situação de Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução”
que está a ser utilizado por organizações que trabalham
em contextos de fragilidade educativa e de reconstrução
pós-conflito. Esta é uma área emergente, tendo havido
um investimento considerável da ESE na promoção e
participação em acções (lectivas e no terreno) em que
a educação se afirma como um dos pilares fundamentais
da acção humanitária.
Lições e perspectivas para o futuroDada a relevância das acções, das parcerias, da
integração em redes de conhecimento e em comunidades
da prática e considerando o esforço realizado na
implementação da inovação em cooperação, torna-se
fundamental a crescente institucionalização desta área
no IPVC (conforme previsto no Plano Estratégico) e o
apoio da cooperação oficial portuguesa para a
continuidade desta área de trabalho.
As lições aprendidas e os impactos conseguidos
ultrapassaram em muito as expectativas: na definição
de modelos de mobilidade no âmbito da educação
internacional, na aprendizagem sobre o pathos da
implementação de projectos, na reflexão e experiência
das parcerias e da participação, na construção de modelos
de cooperação mais descentralizados, na diversidade e
proximidade com os actores enquanto agentes de
mudança e na valorização de outros conhecimentos e
valores.
Tudo isto nos enriquece e nos permite testemunhar,
apreciando, outras vozes, lugares, diferenças e maneiras
de ver e construir o futuro.
Mobilidade no âmbito da EducaçãoInternacional
O Sub-Programa de Mobilidade do ESF teve como objectivoa promoção da internacionalização, assim como um melhorconhecimento dos contextos da Lusofonia. Os estudantesem mobilidade tiveram a oportunidade de mergulhar numoutro sistema educativo, tendo adquirido outrosconhecimentos e competências. Entre 2004 e 2008 estiveramenvolvidos 25 estudantes dos cursos de educação física ede educação de infância, tendo permanecido durante umsemestre em Cabo Verde (ilhas de Santiago, São Vicentee Santo Antão) e na Guiné-Bissau (região de Gabú).
9educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Caixa 5
– Sítio na Internet do GEED (www.ese.ipvc/geed);– 4 técnicos a tempo inteiro;– Centro de Recursos especializado na ESE-IPVC (depositáriodas obras da UNESCO-Instituto Internacional de Planeamentoda Educação em Portugal);– Publicações: - 5000 exemplares do livro “Requisitos Mínimos para a Educação em Situação de Emergência, Crises Crónicas e Reconstrução”; - 5000 exemplares do livro “Aprender o Português”; - 2000 exemplares do livro “Para escrever melhor”; - 1000 exemplares do caderno de actividades para a Educação de Infância “Crescer Juntos”; - 5 Boletins “Educar sem Fronteiras”. - 5 Filmes profissionais (documentários) 2 filmados em Cabo Verde e 3 Angola. - 5 filmes do GEED (realizados pela equipa no terreno);– Equipamento informático de 3 Centros de Recursos educativosem África: - Cabo Verde - 17 computadores, 1 computador portátil, 2 scanners, 2 impressoras, 2 máquinas fotográficas digitais, 1 impressora multifunções, webcams, auscultadores, colunas e material pedagógico; - Angola - 10 computadores, 1 computador portátil, 2 scanners, 2 impressoras, 2 máquinas fotográficas digitais, webcams, auscultadores, colunas, 1 UPS (uninterruptible power supply) e material pedagógico; - Guiné-Bissau - 10 computadores, 1 computador portátil, 2 scanners, 2 impressoras, 2 máquinas fotográficas digitais, webcams, auscultadores, colunas, 1 UPS (uninterruptible power supply) e material pedagógico;– Apartamento na ESE-IPVC remodelado para acolhimento detécnicos e docentes dos PALOP no âmbito de projectos eprotocolos;– Módulo de energia solar na ESE-IPVC, com possibilidade deser transferido e adoptado em África (10 painéis, baterias econversor) conforme noticiado na RTP e na revista Visão;- Um sistema Internet via satélite (VSAT) montado em CaboVerde (parceria com a Delegação de Educação e Ensino Superiorde Santa Catarina e que disponibiliza Internet para os seustécnicos e professores deste concelho);– Organizados 5 Projectos de Verão, com representantes daESE-ESenf-ESA-IPVC em África (Angola e Guiné-Bissau) cercade 30 técnicos envolvidos;– Mobilidade dentro das licenciaturas de educação física e deeducação de infância para a Lusofonia – 23 estudantes paraCabo Verde e 2 para a Guiné-Bissau;– Mobilidade de 35 docentes e não docentes em várias missões:consultorias, missões humanitárias e de formação (Angola, CaboVerde, Guiné-Bissau);– Participação nos 6 Cursos Livres Culturas do Desenvolvimentoe Cidadania e nos Encontros Internacionais Educar SemFronteiras de 38 técnicos oriundos de Angola, Cabo Verde,Guiné-Bissau, Moçambique, Espanha, França e Estados Unidosda América;– Realização de 82 horas de formação no total dos 6 CursosLivres Culturas do Desenvolvimento e Cidadania;– Missões de Escolas do IPVC a África com participação financeirado Programa Educar sem Fronteiras: ESTG (1 missão à Guiné-Bissau e outra a Cabo Verde); ESenf (2 missões à Guiné-Bissau);
ESA (1 missão a Angola);– Participação do GEED em 2 festivais de Paredes de Coura(agenda da cooperação para o desenvolvimento e imagem doIPVC);– Aquisição de material de divulgação do Programa (pastas, t-shirts, canetas, etc.);– Consultorias em 3 projectos em Angola e 1 em Cabo Verdecom: Save the Children (Província do Zaire); ADRA-angolana- Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (provínciade Malange); CCF - Christian Children´s Fund- Província deBenguela (isto significa um envolvimento até inícios de 2012)e com a Associação Cooperação, Intercâmbio e Culturas;– Assinados protocolos no âmbito específico do Contrato-Programa com: Ministério da Educação de Angola;ADRA–angolana – Acção para o Desenvolvimento Rural eAmbiente; Instituto da Juventude da Guiné-Bissau; Save theChildren em Angola; Instituto Pedagógico de Cabo Verde;Governo da Região de Gabú e em fase de preparação com aDIVUTEC (Associação Guineense de Estudos e TecnologiasApropriadas) e com a CCF – Christian Children´s Fund);– Participação na formação de formadores para a Europa nosRequisitos Mínimos para a Educação em Situação de EmergênciaCrises Crónicas e Reconstrução, em Genebra na UNICEF;– Parecerias e redes: Acção para o Desenvolvimento Rural eAmbiente (ADRA - Angola); Associação Guineense para aDivulgação das Tecnologias Apropriadas (DIVUTEC); AssociaçãoAo Norte; Ayuda En Acción – Galiza; Academia de Música deViana do Castelo; Campanha Global pela Educação; ChristianChildren's Fund – Angola; Câmara Municipal de Viana do Castelo;European Teacher Education Network (ETEN); Fundo dasNações Unidas para as Populações (FNUAP); Governo daRegião de Gabú; Iniciativa FAO/UNESCO para a educação nomeio rural; Inter-Agency Network for Education in Emergencies(INEE); Instituto Pedagógico de Cabo Verde; Instituto deSolidariedade e Cooperação Universitária; Ministério da Educaçãode Angola; Save the Children — Angola; UNESCO/IIPE (InstitutoInternacional de Planeamento da Educação);– Formação geral para o voluntariado: - 2004 > 73 formandos (45h) - 2005 > 49 formandos (45h) - 2006 > 16 formandos (45h) - 2007 > 15 formandos (45h) - 2008 > 35 formandos (45h)– Formação específica para o voluntariado (preparação para osprojectos de Verão): - 2004 - 14 formandos/voluntários (26h) - 7 nos Projectos de Verão (Guiné-Bissau); - 2005 - 10 formandos/voluntários (26h) - 5 no terreno nos Projectos de Verão (Guiné-Bissau) - não se realizou devido à instabilidade política no país); - 2006 - 7 formandos/voluntários (26h) - 5 nos Projectos de Verão (Guiné-Bissau); - 2007 - 16 formandos/voluntários (26h) – 10 nos Projectos de Verão (5 em Angola e 5 na Guiné-Bissau); - 2008 - 22 formandos (27h) - 6 nos Projectos de Verão (2 em Angola e 4 na Guiné-Bissau)– Realização da Semana de Acção da Campanha Global pelaEducação desde 2004, mobilizando anualmente de centenasde crianças, professores e responsáveis políticos do distrito.Membro fundador da Coligação Portuguesa da Campanha GlobalPela Educação.
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras10
Caixa 6
Parceiros
Resultados do ESF
11educ@r sem fronteiras - Abril 2008
O Programa Educar Sem Fronteiras trouxe a
possibilidade de consolidar e potenciar cursos que já se
organizavam anualmente na ESE-IPVC. Surgiram assim,
os cursos intensivos “Culturas do Desenvolvimento e
Cidadania”, que, focados na educação, se realizaram
entre 2004 e 2007, totalizando 82 horas de formação,
repartidas por 6 módulos:
Módulo 1 (2004) - Olhares sobre o desenvolvimento: o
desenvolvimento e a globalização;
Módulo 2 (2005) - Educação em situação de conflito e
reconstrução;
Módulo 3 (2005) - Educação e desenvolvimento
sustentável
Módulo 4 (2006) - A cooperação e a educação como
resposta humanitária;
Módulo 5 (2006) - Acesso e qualidade da educação no
contexto do desenvolvimento;
Módulo 6 (2007) - Agendas, parcerias e redes:
implicações e desafios para a educação para todos no
contexto do desenvolvimento.
Estes cursos tiveram impacto na ESE-IPVC e no
trabalho do GEED na medida em que permitiram acumular
experiências e aprofundar o conhecimento dos conceitos,
valores e práticas inerentes aos processos de cooperação
para o desenvolvimento. Os intervenientes através das
suas comunicações de elevada qualidade levaram ao
desenrolar de reflexões conjuntas entre pessoas de
contextos e backgrounds diversos, permitindo discussões
relevantes e frutíferas de acordo com os temas de cada
módulo. Foi ainda possível ouvir outras vozes, como
afirmou um dos participantes, referindo-se à importância
de agendas que ilustram “a centralidade das periferias”
e reafirmam a importância do conhecimento local no
desenvolvimento. Acabaram ainda por reforçar os laços
e as parcerias, forjando novas ligações e participação
em diferentes linhas de trabalho e projectos quer Sul-
Norte, Norte-Sul e Sul-Sul. Exemplo disto é a participação
da ESE-IPVC em redes internacionais da cooperação e
da educação internacional, com especial relevância para
a Rede Inter-institucional para a Educação em Situação
de Emergência (INEE, sigla em inglês).
Posto isto, a avaliação global que realizamos a estes
cursos livres é baste positiva, sendo uma iniciativa que
se pretende aprofundar e continuar, transformando-se
progressivamente numa formação especializada,
possibilitando a atribuição de créditos aos participantes
e o reconhecimento para fins académicos.
Nestes cursos estiveram prelectores convidados devários países e organizações, tais como:
Angola - Filipe Zau, Luísa Grilo, Paulo Maria (Ministérioda Educação de Angola), Engrácia do Céu (CCF), AbílioEduardo, Armando Venâncio, Edgar Tchikunda, CarlosCambuta, Luísa Filomena, Paciano Tchikawe, SérgioCalundungo (ADRA-angolana).
Cabo Verde - Alcinda Andrade, Joaquim Furtado, JuditeMonteiro, Leila Veiga, Osvaldino Maia (MEES-DESC),Margarida Santos, Ruth Alinho (IPCV-EFPEBM), AntónioCardoso (IPCV-EFPEBA), Cristina Pires Ferreira (UCV).
Espanha - Ana García, José Manuel Perez, (Ayuda enAcción), Silvia González (Entre Culturas).
Estados Unidos da América - Allison Anderson (IRC-INEE) , Mary Mendenha l l (UNICEF- INEE) ,França – Christopher Talbot, Dorian Gay (UNESCO-IIEP), Ramya Vivekanandan (UNESCO).
Guiné-Bissau - Demba Baldé, Ivo Baldé (DIVUTEC),Aruna Sane, João Nala (DRE-Gabú)
Portugal - Elizabeth Challinor (Centro de Estudos deAntropologia Social), José Vasconcelos, Paulo Seixas,Paulo Lemos (Universidade Fernando Pessoa), CláudiaAmaral (Médicos do Mundo), Pedro Ferraz de Abreu(MIT/CITIDEP), Carla Gandra, José Portela, Júlio Santos,Silvia Azevedo, Rosa Silva, Rui da Silva (ESE-IPVC),Maria João Proença, Mónica Azevedo (ISU), AntóniaBarreto (ESE-IPL), Benjamim Moreira (Centro deLinguística da Universidade de Lisboa); Arlinda Mártires,Beatriz de Castro Afonso, Conceição Robalo, HelenaLobo (mestrandos da Universidade Nova de Lisboa),Fernanda Queirós (Cidadãos do Mundo).
Cursos LivresCulturas do Desenvolvimento e Cidadania
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras12 13educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Olhar o Sul
21 - Lombe, Angola, 200712 - Béli, Guiné-Bissau, 200613 - Gabú, Guiné-Bissau, 200814 - Lombe, Angola, 2007
5 - Benguela, Angola, 20076 - Huambo, Angola, 20077 - Kuimba, Angola, 20078 - Lombe, Angola, 2007
Cooperação – Aprender a estar com os outros...
1 3
4
5 6 7 8
2
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras14
ResumoA literatura revela um optimismo, talvez desmesurado,
sobre o contributo potencial das Tecnologias da Informação
e da Comunicação (TIC) no desenvolvimento social e
económico, nomeadamente para transformar os países
em desenvolvimento em sociedades modernas e do
conhecimento. No entanto, sabe-se muito pouco sobre
a veracidade destas afirmações, e muito menos sobre o
impacto, a longo termo, nos sistemas social e cultural de
um país. Apesar de não se refutar o impacto no
desenvolvimento das TIC, argumenta-se que é pouco
provável que se produzam grandes mudanças na pobreza
resultante apenas da transferência massiva de tecnologia
do Norte para o Sul. Experiências mostram que a noção
de saltos nos estádios de desenvolvimento resultantes
da aplicação das TIC é ingénua e irrealista. Defende-se
que os governos dos países em desenvolvimento e as
agências internacionais deveriam assumir uma análise
mais rigorosa das dimensões social e cultural das TIC de
modo a conceber políticas e programas que permitam
aos países ajustar o uso das TIC para o seu
desenvolvimento ao seu contexto. Defende-se que o
melhor investimento que poderá ser realizado usando as
TIC é aplicá-las no ensino e na educação das novas
gerações. Para se conseguir isto são necessárias políticas
nacionais de informação, comunicação e de educação
melhor integradas, de estudos de acompanhamento e
avaliação de experiências e de projectos de integração
das TIC nos países em desenvolvimento. Cabe aqui referir
as realizadas pela Escola Superior de Educação do
Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESE-IPVC),
através do Gabinete Estudos para a Educação e o
Desenvolvimento, que apesar de localizados, podem
indicar caminhos possíveis e sustentáveis.
Conhecimento e desenvolvimentoActualmente a correlação entre o conhecimento e o
desenvolvimento aparentemente parece estar bem
estabelecido. Há, teoricamente, uma promessa potencial
de que as TIC podem conduzir países em desenvolvimento
a uma fase superior de desenvolvimento. Alguns afirmam
que as TIC podem contribuir para melhorar a eficiência
dos países em desenvolvimento, fortalecer as suas
capacidades competitivas no mercado global, aperfeiçoar
os serviços básicos sociais, ajudar a disseminar informação
valiosa na produção e conservação dos seus produtos,
aperfeiçoar a eficiência governativa e melhorar a saúde
e a educação. As TIC são assim apresentadas como
janelas através das quais o acesso ao conhecimento e
à informação exterior - de outra maneira inacessível -
serão alcançados. Outros acrescentam que assim se
pode fortalecer a democracia, aumentar a participação
social e remover as barreiras à modernização, tornando
as populações agentes do seu desenvolvimento e
membros da aldeia global. No entanto a pressa de
“apanhar o comboio do desenvolvimento” e de diminuir
a information gap entre o Norte e o Sul, tem menosprezado
a necessidade de se avaliar os riscos que se colocam à
sustentabilidade do desenvolvimento humano e social.
Quando se reflecte sobre o desenvolvimento potencial
provocado pelas TIC surgem algumas interrogações:
Quem beneficia e quem perde com a introdução destas
tecnologias? Como podem as TIC tornar-se úteis e
adequadas a países em desenvolvimento quando estes
continuam a lutar por conseguir satisfazer as suas
necessidades mais básicas? Quais são as oportunidades
e os riscos sociais e culturais que apresentam e/ou
potenciam? Como podem os países em desenvolvimento
adoptar estas tecnologias e ao mesmo tempo evitar as
consequências culturais e sociais indesejáveis?
ESE-IPVC, GEED, Centros de Recursos,TIC e Desenvolvimento: como?
15educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Só as TIC não bastaNa discussão actual sobre a introdução acelerada
das TIC, sugere-se que antes de tudo é preciso examinar
as dimensões sócio-económicas e culturais, assim como
os factores locais facilitadores de uma aplicação com
sucesso destas tecnologias. Os que partilham deste
ponto de vista - nós partilhamos - defendem que se deve
atender não apenas às infra-estruturas tecnológicas e
sua disseminação, mas fundamentalmente a factores
relacionados com o acesso, o controlo, os conteúdos e
a equidade, que naturalmente irão surgir num determinado
meio social, com a sua aplicação e uso. De facto, não
é o aumento do número de computadores, de mais linhas
telefónicas ou discos de satélite que determina equidade
de acesso às tecnologias, a relevância da informação
fornecida e as desigualdades na distribuição da riqueza
social.
Como se sabe, as tecnologias, a Internet não são
simples artefactos, desenvolveram-se num contexto
social, cultural e económico específico que transportam
consigo quando transferidos para uma nova comunidade.
Basta constatar que a maioria dos sítios da Internet traduz
uma visão ocidental. Ora o pluralismo cultural só existirá
quando se criarem condições que levem os países do
Sul (ainda meros recipientes da informação, de produtos,
valores e atitudes) a procurar os meios para o
desenvolvimento de capacidades para moldarem e/ou
criarem os seus próprios conteúdos. Se isto não for tido
em consideração poderá haver sérias ameaças à sua
identidade cultural.
O potencial das tecnologias de informação e
comunicação para o desenvolvimento não está tanto na
tecnologia em si, mas mais nas questões relacionadas
com o acesso, a qualidade, a igualdade, o controlo, os
valores e a justiça social. Por definição, a natureza destes
elementos impõe certas limitações ao uso das TIC para
o desenvolvimento. É indiscutível e deve ser a base de
qualquer acção, um diálogo permanente entre os que
promovem a introdução das tecnologias e os potenciais
beneficiários.
Defendemos que uma das melhores formas de garantir
a sua adequação, com benefícios a longo termo, é usá-
las na preparação das novas gerações para o tipo de
sociedade a que estes países aspiram. Isto implica
conceber políticas de informação e comunicação em
estreita ligação com as estratégias educativas e de
formação. Terá de haver articulação entre as questões
da relevância e da adequação dos conteúdos, o acesso
e a disponibilidade de professores qualificados. É ainda
necessário estar seguro de que a maioria dos países
não irá tirar grandes benefícios de um acesso mais rápido
à Internet se, em primeiro lugar, não se garantir
professores altamente qualificados, materiais nas salas
de aula e edifícios escolares com um mínimo de conforto.
As soluções tecnológicas, embora sejam um meio de
desenvolvimento valioso, não devem ser perseguidas
como um fim em si.
Algumas boas razões para o uso dasTIC na educação1
1. Expansão do tempo e do lugar
Em escolas dos ensinos básico e secundário o tempo
de atendimento individual que um aluno tem dos seus
professores, é necessariamente escasso, e em média
não ultrapassa 40 minutos por dia (nos 2º, 3º ciclos e
secundário), ou seja 5% das 8 horas diárias de um aluno
e esse tempo tem de ser partilhado com mais 25 alunos.
No entanto o aluno pode ter acesso à Internet 100%
desse tempo. Isso corresponde a 20 vezes mais.
A tecnologia não substitui um bom professor, contudo os
materiais disponibilizados on-line ficam muito mais
acessíveis. Vinte vezes mais.
Usando uma abordagem “livro de texto + sala de
aula”, os lugares onde a aprendizagem pode ocorrer são
limitados. Por outro lado, um portátil sem fios
(com ligação wireless) tem acesso às matérias da
disciplina e a toda a Internet quase em toda a parte.
1 Esta secção é uma adaptação de The Ten Fundamental Reasons for Technology in Education, de John Page, de quem foi obtida a devida autorização para publicação, e que se encontra disponível online: http://www.mathopenref.com/site/techreasons.html.
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras16
É ainda um recurso monumental quando comparado com
o que pode ser carregado numa mochila. Em resumo: a
tecnologia da informação permite a aprendizagem em
qualquer parte, em qualquer altura, não fica restringida
a uma determinada sala de aula durante 40 minutos
por dia.
2. Profundidade da compreensão
O recurso a simulações e ilustrações interactivas,
e.g., materiais manipuláveis virtuais, pode promover um
conhecimento mais aprofundado de um dado conceito.
Com um projector de vídeo o professor pode demonstrar
conceitos e conduzir investigações mais facilmente, e.g.,
com programas como Cabri (http://www.cabri.com/),
Skecthpad (http://www.dynamicgeometry.com/), Scratch
(http://scratch.mit.edu/), ou recorrendo a páginas
especializadas, como Math Forum (http://mathforum.org/),
National Council of Teachers of Mathematics
(http://www.nctm.org/), Associação de Professores de
Matemática (http://www.apm.pt), Mathematics Open
Reference (http://www.mathopenref.com) e um sem
número mais. Assim, com o acesso à Internet e às
mesmas ferramentas e simulações os alunos poderão
explorar novas ideias com o professor e por si só................
3. Aprender versus Ensinar
Aos alunos pode ser proposta a realização de
projectos, o que é muito mais interessante e motivador.
Em vez de ensino, isto é, em vez de lhes ser incutida
(dar) a matéria, podem procurá-la (trazê-la até si) para
desenvolverem os projectos. O ponto-chave nesta
mudança está na possibilidade de obter a informação de
que precisam a qualquer altura e em qualquer lugar.
4. Os novos meios de comunicação pessoal
Até hoje, os alunos tiravam apontamentos nos
cadernos diários e o que escreviam era apenas visto
pelo professor. Usando as TIC podem criar uma
apresentação electrónica, fazer fotografia e vídeo digital,
editar um jornal, organizar um programa de rádio ou
televisão escolar, compor música e disponibilizar as suas
criações numa página web ou num blogue.
5. Colaboração
Uma competência fundamental no novo mundo digital
é a possibilidade de colaborar em projectos com outros
que estão fisicamente distantes. Isto consegue-se mais
eficazmente usando a web, as mensagens instantâneas
ou o telemóvel. Em vez de realizarem os trabalhos de
casa sozinhos, os alunos podem trabalhar em pequenos
grupos, independentemente do local e da hora. Eles já
o faziam e até era considerado copiar, mas agora pode
ser formalizado e ensinado como uma competência
fundamental. Muitos projectos de investigação são
desenvolvidos por equipas espalhadas um pouco por
todo o mundo. Os alunos precisam de estar preparados
para isto.
6. Globalizar-se
A visão que os alunos têm do mundo pode aprofundar-
se devido ao baixo custo (ou custo zero) na comunicação
com pessoas de todo o globo. A Internet permite
conferência vídeo gratuita (e.g., Skype) o que proporciona
uma interacção em tempo real com colegas de escolas
parceiras de outros países. De um ponto de vista
educacional, o que poderá ser mais importante do
que compreender outras culturas pelo diálogo e a
colaboração directa?
7. Ir ao ritmo individual
Os alunos são, naturalmente, todos diferentes. As
tecnologias de informação podem permitir a um aluno
desfasar-se do resto da turma e prosseguir a um ritmo
que se lhe adeqúe melhor. Sem perturbar a turma pode
repetir as lições difíceis e explorar o que considere
interessante. Com o tempo tornar-se-á como ter um tutor
privado em vez de se sentir perdido numa turma grande.
Isto poderá ser facilmente implementado usando um
sistema para a gestão de disciplinas como o Moodle
(http://moodle.org).
17educ@r sem fronteiras - Abril 2008
8. Peso
Três livros de texto e três cadernos diários podem
bem pesar mais de 10kg. Um portátil pesa cerca de 2,5kg
e proporciona acesso a um número infinitamente maior
de material, seja guardado no disco do portátil, seja
acedendo à Internet. Um disco de 80 Gbytes pode conter
mais de 4 milhões de páginas com ilustrações; a web é
gigantesca. Nesta altura, os alunos estão a sofrer de
dores nas costas por terem de carregar livros e cadernos,
e é apenas uma pequena parte do que precisam.
9. Produtividade pessoal
Os alunos precisam das ferramentas informáticas
(processador de texto, folhas de cálculo, programas de
gráficos, sistemas de gestão de bases de dados, etc.)
tanto como os seus professores. Precisam de escrever,
ler, comunicar, organizar e agendar tarefas. A vida de
estudante não é muito diferente da de um qualquer
trabalhador do conhecimento. Mesmo que nunca
sejam usados na sala de aula, os portáteis tornarão a
vida de um estudante (e de um professor) mais eficaz.
Para melhorar a eficácia, as escolas terão de ir deixando
de usar o papel.
10. Baixo custo
Os preços dos livros estão constantemente a aumentar,
podendo atingir valores superiores às propinas, em
particular no ensino superior. Usando o software
livre que pode ser descarregado da Internet,
a dependência dos livros de texto mais caros pode ser
substancialmente reduzida. Há um movimento crescente
para criar e publicar este tipo de material através de
organizações tais como a Open Educational Resources
(http://www.oercommons.org/), cuja ideia é seguir o
modelo de open source, tornado popular por projectos
de software tais como o Linux. O material é criado pela
própria comunidade educacional e depois partilhada
gratuitamente. Actualmente (Março de 2008) um portátil
decente pode ser adquirido por cerca de 150 euros, o
preço de alguns livros de texto. Neste momento ainda
precisamos de ambos, os livros em papel e do
computador, mas isto é apenas uma fase de transição.
Em resumo, se a educação é sobre conhecimento e
competências intelectuais, então as tecnologias da
informação e comunicação centram-se no seu coração.
Apenas estamos no início desta transição. A escola vai
ficar diferente. Prepara-te!
Os Centros de Recursos: TIC, capacitaçãoe desenvolvimento local
Procurando respeitar os princípios aqui defendidos e
um conjunto de razões para integrar as TIC na educação,
a ESE tem vindo a desenvolver, em estreita articulação
com agentes locais, Centros de Recursos em Cabo
Verde, Guiné-Bissau e Angola. Os Centros foram
apetrechados com computadores, em estreita articulação
com autoridades locais, que assumiram o seu
funcionamento e manutenção, bem como a actualização
e segurança dos equipamentos. Era nossa convicção
com o lançamento do Programa de Cooperação e
Internacionalização “Educar sem Fronteiras” que o acesso
e uso adequado das TIC poderia incrementar estratégias
de apoio ao desenvolvimento local, através, por exemplo,
de mais participação das raparigas na educação, no
acesso ao conhecimento e numa melhor organização e
imagem da vida profissional de alguns grupos, tais como
as mulheres, directores de escola e responsáveis locais
pela educação. Além disso, outra expectativa seria
prevenir doenças e melhorar os cuidados de saúde,
aumentar e melhorar o acesso à educação, promover a
participação pública dos cidadãos e apoiar na gestão de
recursos, porque facilitando o acesso às necessidades
básicas da vida humana, melhora a oportunidade de
desenvolvimento e de qualidade de vida.Uma questão fundamental que se colocou sempre é
como é que estas estruturas vão sobreviver depois determinadas as verbas da primeira fase do Programa.Isto foi pensado logo desde o início da montagem darede. No entanto, há lições importantes que podemosextrair desta experiência piloto na África Lusófona queé complexa.
Em primeiro lugar, e como já foi dito atrás, tornou-senecessário investir no conhecimento do contexto sociale cultural dos locais: entender os processos locais demudança, os hábitos e apropriação contextualizada deinovações, os limites do que vem de fora e da transferênciade tecnologias e conhecimento à “moda ocidental”, porexemplo.
Em segundo lugar, estão a surgir boas práticasassociadas à implementação sustentada destas estruturasnos países. Isto tem a ver com a capacidade que asinstituições locais têm na absorção de inovações que,neste caso, são exógenas. São, exemplo disto, o factode, em Cabo Verde, se ter reconhecido que seriaimportante iniciar as crianças nas TIC através daimplementação de dois pequenos “centros-satélite” empólos educativos no meio rural no concelho de SantaCatarina. Esta é para Santa Catarina uma questão depolítica educativa. Poderá dizer-se que os projectos nosmeios rurais também são os que trazem inovação e,assim, podem influenciar ou reforçar políticas educativasadoptadas a nível local. Em terceiro lugar, o grau deinstitucionalização destes processos também pode sermedido pelo facto de a própria delegação de educaçãose ter convertido num “centro de recursos”, ao assumire ao “apropriar-se” do acesso ao conhecimento e àinformação através da internet e das TIC como um factorde motivação que beneficia todas as secções dadelegação.
No caso da Guiné-Bissau, o Centro de Recursos temsurpreendido pela sua vitalidade e capacidade deresiliência num contexto de marginalização educativa esocial. Talvez, para isto, muito tem a ver o facto de aESE-IPVC ter estabelecido uma parceria estratégica como FNUAP (Fundo das Nações Unidas para a População)para o desenvolvimento do potencial do Centro. Alémdisso, foram descobertas estratégias locais desustentabilidade que tentam garantir a funcionalidadedeste centro, tais como: organização de cursos deinformática que são vendidos aos jovens; atenção porparte dos responsáveis e políticos locais e nacionais paraa importância do centro; um discurso motivador e comgrandes expectativas para um pólo regional da juventudee a formação de monitores e responsáveis pelo Centro
que se têm mantido ao longo do processo.Em Angola, o potencial que se previa para o Centro nãotem sido inteiramente realizado por razões de falta deenergia. Este parece ser um exemplo recorrente nosprojectos de cooperação. No entanto, a entidade parceira,a ADRA (Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente)está, neste momento, a negociar a componenteenergética com doadores que estão interessados nadinâmica do Centro de Recursos. Esta é uma liçãoimportante sobre a sustentabilidade e sobre os factoresque podem impedir o desenvolvimento coerente de umprojecto. Não basta, como se dizia atrás, colocar dezcomputadores num determinado lugar e efectuartransferência de tecnologia. É absolutamente prioritárioperceber as condições locais e prever os impactos daintrodução de inovações.
Algumas conclusõesA nossa experiência mostra que, em termos de
participação para o desenvolvimento local, as pessoasse empenham no desenvolvimento das suascomunidades, das suas escolas, das suas aldeias,apesar de terem, em muitos locais, muitas razões paraemigrarem. Este parece ser o caso da Guiné-Bissauonde o Centro de Recursos tem contribuído para prevenirou diminuir a emigração clandestina de acordo com aopinião de um dos responsáveis pelo FNUAP2. Tambémaqui as TIC estão a ajudar, visto que tem sido possívela formação de dezenas de jovens em informática,formação esta que lhes tem dado algum alento e criadouma auto-estima para uma geração que enfrenta gravesdesafios de acesso à educação, ao conhecimento e aomundo do trabalho. Este é seguramente um estudo decaso que valerá a pena continuar e aprofundar.
Espera-se que o modelo contagie e se disseminecomo uma “boa epidemia”. A cooperação oficialportuguesa mostrou interesse neste tipo de iniciativaspelo seu carácter inovador (também pela dimensão dasenergias renováveis que pode incluir) e por constituíremplataformas onde se podem lançar clusters da cooperaçãocom uma dinâmica de parcerias diversificadas.O êxito destes centros passa, é bom repetir, pelaapropriação e institucionalização pelos agentes locais,
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras18
2 Conversa informal com Joaquim Gomes, FNUAP, Guiné-Bissau (Abril, 2008).
19educ@r sem fronteiras - Abril 2008
que depois de preparados e sensibilizados, podemassumir a sua quota parte de responsabilidade. Nãobastou “colocar” computadores à disposição, antes detudo foi preciso conhecer e ser aceite (quase queintegrado) na comunidade para detectar necessidadese evitar gerar mais problemas. Isto demora tempo, porvezes anos, é incompatível com a pressa. Tambémdevemos aprender com os erros da abordagem projectoque, em muitos casos, pode ser redutora e tolher ascapacidades locais.
Não pretendendo criar generalizações, pois cadacomunidade é um caso, tendo esta rede mostrado queexistem factores locais a nível económico, social, políticoe cultural que são determinantes para a introdução e,
sobretudo, para a adopção de inovações, como as TIC,mas mesmo assim espera-se que estes exemplos possamservir de base para uma discussão e para um estudomais aprofundados e, eventualmente, para possibilidadesde concretização noutros contextos nos países emdesenvolvimento.
Bibliografia
Morales-Gomez, D.; Melesse, M. (1998). Utilizing information
and communication technologies for development: The social
dimensions. In Information Technology for Development; 1998,
Vol. 8 Issue 1, p3, 11p
José Portela
Júlio Santos
GEED - ESE - IPVC
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras20
Assomada e Viana do Castelo são duas realidades
diferentes, localizadas em continentes diferentes, mas
que comungam as mesmas preocupações e acreditam
que o investimento que se faz na educação é dos mais
seguros que se pode fazer. Essa similaridade levou a
que a relação que existe entre esses dois mundos (Viana
e Assomada) fosse histórica, em matéria de Educação,
e continuasse a fazer histórias.
A ligação entre Viana do Castelo e Assomada foi
ganhando corpo e chegou a um ponto em que marcou
a viragem da página: nasceu o Centro de Recursos.
Desenhado como espaço de e para professores, o Centro
de Recursos foi instalado na Delegação do Ministério da
Educação e Ensino Superior em Santa Catarina, e vem
funcionando como um espaço que, de algum modo,
revolucionou a rotina dos fazedores da Educação em
Santa Catarina.
Apetrechado com equipamentos informáticos e dotado
de Internet permanente, muitos professores e não só,
encontram nesse espaço, um local apropriado para a
realização das suas pesquisas, digitalização de
documentos, esclarecimento de dúvidas, entre outras.
Com o propósito de garantir o funcionamento ininterrupto
do Centro, trabalham ali três funcionários, dois dos quais
professores e um técnico ligado a gestão e planeamento.
Têm como tarefa principal, apoiar os professores nos
mais diversos domínios do quotidiano educativo, mas
também em matéria de novas tecnologias, por forma a
poderem usufruir das vantagens que os equipamentos
ali instalados lhes oferecem.
O Centro de Recursos de Assomada, além de espaço
de encontro de professores, é um sítio aonde se abre
uma grande janela para o mundo. A partir daí, através
da Internet, consegue-se viajar pelo mundo do
conhecimento, ciência e tecnologia. Mas as maravilhas
do Centro não ficam por aí – ele é também uma ponte
que encurta a distância entre a Escola Superior da
Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo
(ESE-IPVC) e os Serviços da Educação em Santa
Catarina. Pois, utilizando novas tecnologias, instalou-se
ali um telefone que, sem custos adicionais, permite
conversar com os portugueses mais cabo-verdianos
que a história já produziu: os nossos grandes
amigos da ESE-IPVC.
A pouco e pouco, o Centro de Recursos está a crescer,
e já conta com duas extensões: a de Achada Falcão,
instalada na Escola de Mancholy, e a de Achada Leitão,
localizada na escola dessa mesma localidade.
As extensões têm como principais funções, facilitar o
acesso a novas tecnologias e facultar o contacto, o mais
cedo possível, com o mundo fantástico que as TIC’s nos
proporcionam.
Para o futuro, pensa-se introduzir outras valências ao
Centro, por forma a dinamizá-lo ainda mais e tirar maior
proveito dos equipamentos ali instalados e da diversidade
de experiências que por ali circulam.
ESE-IPVC e Assomada, uma relaçãohistórica com histórias
José António Brito
Ministério da Educação de Cabo Verde
A escassez aguda de professores qualificados tem
sido identificada como um dos grandes e sérios desafios
para a realização das metas da Educação para Todos
(EPT) até 2015. Estima-se que 1,6 milhões de novos
lugares e um número adicional de 4 milhões de
professores serão necessários para que a África Sub-
Sahariana possa atingir a Escolaridade Primária Universal
até essa altura. As necessidades são ainda maiores se
tivermos em conta professores para o ensino secundário,
técnico, vocacional, educação não-formal e ensino
superior. No entanto, o desafio é mais do que uma questão
de números: a qualidade dos professores e do ensino é
também essencial para os resultados de uma boa
aprendizagem. Confrontados com o desafio de conseguir,
tanto o número adequado, como professores com
qualidade suficiente, os Estados Membros Africanos
solicitaram à UNESCO uma Iniciativa focada nos
professores.
Para mim pessoalmente, este desafio fez parte do
meu dia-a-dia de trabalho e de vida durante um período
de três anos, trabalhando a nível comunitário em África.
Depois de ter completado um mestrado em Políticas de
Educação Internacional em 2002, segui para o continente
para uma série de trabalhos interessantes em diferentes
países. Em primeiro lugar foi no Senegal onde eu fiz um
estágio num projecto de educação das raparigas
financiado pela Agência de Desenvolvimento dos USA
e implementado por Creative Associates Internacional.
Além da mobilização de pais e comunidades em prol da
escolarização das meninas, o projecto também enfatizava
as percepções de género dos professores e formava-os
para serem mais sensíveis para as necessidades das
alunas. Em seguida, trabalhei num programa no Malawi
com a Save the Children USA num projecto educativo
cujo foco era a formação de professores do ensino
primário. De entre outras coisas, formei professores e
formadores em metodologias participativas de ensino,
género e HIV/SIDA. Do Malawi voltei para o outro lado
do Continente, a Guiné-Conacry, onde eu trabalhei num
programa para o Departamento de Educação das
Raparigas do Ministério da Educação e continuei a
trabalhar com professores em questões de género.
Quando reflicto nestes tempos fascinantes durante
os primeiros anos da minha carreira, eu penso que o que
eu mais recordo são as amizades que se forjaram com
pessoas e comunidades com as quais trabalhei. Muitas
dessas pessoas eram professores. Trabalhadores
incansáveis, motivados e entusiastas, apesar das
circunstâncias extremamente desafiadoras do seu
trabalho, professores como Fatou Diagne do Senegal,
James Billiat do Malawi e Ramatoulaye Diallo da Guiné-
Conacry inspiraram-me. Recordaram-me os maravilhosos
professores que eu própria tive a sorte de ter na escola.
Com eles na memória, voltei para os USA para trabalhar
a nível das políticas e da investigação da educação em
África, esperando que ao fazer isto eu pudesse provocar
mudanças que poderiam fazer uma diferença grande nas
vidas destes e de outros professores e nas crianças que
ensinam. Em 2006, foi-me dada a oportunidade de fazer
exactamente isso, quando eu aterrei no meu “emprego
de sonho” na UNESCO, obtendo um lugar no Sector da
Educação através do Programa Jovens Profissionais
(Young Professional Programme).
21educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Iniciativa da UNESCO paraformação de professores
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras22
Na chegada a Paris fui colocada na Divisão do Ensino
Superior da UNESCO – Sector de Formação de
Professores, um departamento que trabalha na
capacitação de professores e de instituições do ensino
superior e que promove o estatuto e condições laborais
dos professores no mundo. É mais interessante ainda
porque antes de chegar, os Estados Membros Africanos
chamaram a atenção para o desafio de se conseguir
quer um número adequado de professores, quer
professores com qualidade e perante isto solicitaram à
UNESCO para implementar uma Iniciativa com ênfase
na condição docente.
A Iniciativa de Formação de Professores para a África
Sub-Sahariana (TTISSA) é a resposta da UNESCO
durante dez anos (2006-2015) a este pedido. O objectivo
é o de aumentar a quantidade e promover a qualidade
da força docente na África Sub-Sahariana. Esta Iniciativa
advoga uma abordagem holística para responder aos
problemas respeitantes aos professores e ao pessoal
educativo nesta parte do mundo com quatro resultados-
chave:
1. Estatuto e condições de trabalho dos professores
melhorados;
2. Estruturas de gestão e administração dos professores
melhoradas;
3. Polít icas apropriadas para os professores
desenvolvidas;
4. Qualidade e coerência do desenvolvimento profissional
dos professores melhoradas.
Mantendo-se em linha com o mandato orientador da
UNESCO como um laboratório de ideias, um espaço de
informação clarividente, um sustentáculo de normas, um
instrumento de capacitação nos Estados Membros e um
catalisador da cooperação internacional, a TTISSA
trabalha a nível das políticas para apoiar os países
africanos a conseguir os resultados assinalados acima.
Faz isto apoiando o desenvolvimento de enquadramentos
regionais e nacionais em áreas-chave relacionadas com
os professores, com orientações e directivas políticas,
investigação e estudos e kits de trabalho. Organiza
também fóruns para a troca de experiências entre países,
conduz actividades de capacitação, desenvolve e procede
à revisão de materiais para a formação de professores
e promove a advocacia sobre a importância dos
professores.
Tendo estado na UNESCO no início da Iniciativa e
trabalhando com uma equipa dinâmica, desenvolvi um
trabalho interessante num leque de áreas prioritárias da
TTISSA. Por exemplo, em relação à promoção do estatuto
e condições laborais dos professores, trabalhei de perto
com colegas da OIT (Organização Internacional do
Trabalho) na promoção das duas Recomendações da
UNESCO/OIT relativas ao Estatuto dos Professores.
Estes são instrumentos normativos adoptados pelos
Estados Membros das duas organizações e que fornecem
um enquadramento para os governos assegurarem os
direitos dos professores. Entre outras actividades nesta
área, trabalhei na organização das celebrações do Dia
Mundial dos Professores (anualmente no dia 5 de
Outubro), na publicação de uma versão prática das
Recomendações nas seis línguas das Nações Unidas,
mais o Português, e na advocacia para o estatuto e
condições laborais dos professores. Isto incluiu
advocacia sobre o facto de o salário do professor
promovido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e
outras organizações pode muito bem impedir os
professores de receberem um salário que lhes permita
viver em muitos países. Também estabeleci a ligação
com a INEE (Rede Inter-Institucional para a Educação
em Emergência) no sentido do desenvolvimento das
Notas de Orientação sobre Compensação dos Professores
em Situação de Pós-Conflito. Acolhemos um workshop
sobre este tópico em Junho de 2008.
23educ@r sem fronteiras - Abril 2008
Em relação ao apoio ao desenvolvimento de políticas
apropriadas para os professores, liderei a organização
do Fórum de Políticas de Formação de Professores para
a África Sub-Sahariana na UNESCO em Novembro de
2007. Este fórum congregou decisores políticos da
primeira fase dos países envolvidos na TTISSA para
reflectir sobre a sua experiência no desenvolvimento
de políticas nacionais e planos concernentes aos
professores. Como resultado do Fórum, a TTISSA está
a solidificar o seu trabalho através da produção de
documentos (policy briefs) e da organização de eventos
deste tipo. Também trabalhei no desenvolvimento de
política docente a nível nacional, como por exemplo em
Angola onde a UNESCO (através do seu escritório de
Windhoek) apoia o desenvolvimento do Quadro Nacional
de Qualificações para os Professores.
Para além disto, tive a sorte de estar envolvida em
quase todos os aspectos da TTISSA durante os dois
primeiros anos da Iniciativa. Inter alia, trabalhei no
desenvolvimento do website, advocacia, comunicação e
estabelecimento de parcerias com várias organizações
envolvidas na problemática dos docentes na África Sub-
Sahariana, incluindo Education International, Action Aid,
a supracitada OIT, UNICEF, PNUD, Banco Mundial, o
Pólo de Dakar, a União Africana, a Association for the
Development of Education in Africa e organizações que
apoiam a educação na África Lusófona tais como a
Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de
Viana do Castelo, Portugal.
O trabalho tem sido fascinante e a experiência na
UNESCO muito gratificante até agora. Vejo o trabalho
da TTISSA como sendo uma componente vital para
apoiar os professores em África e assim promover a EPT
nos países africanos. Sobre a minha mesa, tenho fotos
dos professores com quem trabalhei durante os primeiros
anos da minha carreira – Diagne do Senegal, Billitat do
Malawi e Diallo da Guiné-Conacry, entre outros – o que
me faz recordar cada dia que o trabalho a nível das
políticas e o impacto que está a ter tem um rosto. É o
rosto dos meus amigos, os professores de África.
Ramya Vivekanandan
Assistant Program Specialist - UNESCO
Abril 2008 - educ@r sem fronteiras24
Editorial ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1
Educar Sem Fronteiras: partilhar saberes e sentires ------------------------------------------------------- 2
Voluntariado: um caminho a percorrer ---------------------------------------------------------------------------- 3
A contribuição da ADRA na constituição da Rede Nacional Educação Para Todos--------- 4
Educar Sem Fronteiras: impacto e lições --------------------------------------------------------------------- 5
Cursos Livres Culturas do Desenvolvimento e Cidadadnia ------------------------------------------- 11
Olhar o Sul -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
ESE-IPVC, GEED, Centros de Recursos, TIC e Desenvolvimento: como? --------------------- 14
ESE-IPVC e Assomada, uma relação histórica com histórias ---------------------------------------- 20
Iniciativa da UNESCO para a formação de professores ------------------------------------------- 21
Índice
CAPA