Caderno diário Sociedade de Ordens n.º5 1415

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1 O Antigo Regime e a Sociedade de Ordens Por Raul Silva Na Idade Moderna vigorou na Europa uma economia de tipo pré-industrial caracterizada por uma base agrícola e pelo atraso tecnológico. A debilidade tecnológica não permitia aumentar a produtividade, logo, o aumento da população era afectado pelas fomes. As crises demográficas caracterizavam-se por um crescimento elevado das mortes para o dobro ou o triplo da Taxa de Mortalidade corrente, acompanhada por uma quebra muito acentuada nos nascimentos e dos casamentos, a que se seguia uma fase de recuperação da crise, restabelecendo-se os índices habituais de mortalidade, natalidade e nupcialidade. No século XVII, em virtude do arrefecimento climático, as colheitas apodreciam, pelo que o preço dos cereais se elevava e, em consequência, os mais pobres eram atingidos pela fome. Por seu turno, a fome tornava os corpos menos resistentes às epidemias: peste negra, peste bubónica, difteria, cólera, febre tifóide, varíola, tosse convulsa, escarlatina, tuberculose, malária, sífilis e outros males saltam de região para região, de cidade para cidade. A falta de condições de higiene e de assistência médica, em especial nas cidades, agravavam o panorama das crises populacionais. Somava-se a estes dois fatores a guerra, responsável por um número elevado de perdas humanas, quer pelo confronto entre tropas inimigas, quer pelos efeitos da passagem dos exércitos pelas aldeias. Com os exércitos marcham também as epidemias que sempre proliferaram nas concentrações excessivas de homens, sobretudo numa época em que se desrespeitam as mais elementares regras sanitárias. CADERNODIÁRIO EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 5 https:// www.facebook.com/ historia.externato http:// externatohistoria.blog spot.pt/ externatohistoria@gm ail.com 17 de Novembro de 2014

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O Antigo Regime e a Sociedade de OrdensPor Raul Silva

Na Idade Moderna vigorou na Europa uma economia de tipo pré-industrial caracterizada por uma base agrícola e pelo atraso tecnológico. A debilidade tecnológica não permitia aumentar a produtividade, logo, o aumento da população era afectado pelas fomes.As crises demográficas caracterizavam-se por um crescimento elevado das mortes para o dobro ou o

triplo da Taxa de Mortalidade corrente, acompanhada por uma quebra muito acentuada nos nascimentos e dos casamentos, a que se seguia uma fase de recuperação da crise, restabelecendo-se os índices habituais de mortalidade, natalidade e nupcialidade.

No século XVII, em virtude do arrefecimento climático, as colheitas apodreciam, pelo que o preço dos cereais se elevava e, em consequência, os mais pobres eram atingidos pela fome.Por seu turno, a fome tornava os corpos menos resistentes às epidemias: peste negra, peste bubónica,

difteria, cólera, febre tifóide, varíola, tosse convulsa, escarlatina, tuberculose, malária, sífilis e outros males saltam de região para região, de cidade para cidade. A falta de condições de higiene e de assistência médica, em especial nas cidades, agravavam o panorama das crises populacionais.Somava-se a estes dois fatores a guerra, responsável por um número elevado de perdas humanas, quer

pelo confronto entre tropas inimigas, quer pelos efeitos da passagem dos exércitos pelas aldeias. Com os exércitos marcham também as epidemias que sempre proliferaram nas concentrações excessivas de homens, sobretudo numa época em que se desrespeitam as mais elementares regras sanitárias.

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Os lares europeuse a economia pré-industrialin Mémoires des Intendents sur l’ état des Généralités, 1687Verificámos que, quase por todo o lado, o número de famílias diminuiu. (…) Que lhes aconteceu? A miséria dissipou-as. Debandaram-se para pedir esmolas nas cidades e acabaram por morrer nos hospitais ou pelo caminho.Já não se vêem, nas aldeias e pequenas vilas, jogos ou divertimentos; tudo aqui desfalece; tudo está triste porque a alegria e o prazer só se encontram na

abundância e eles mal conseguem sobreviver. Mas onde se pode conhecer, melhor que em qualquer outro lado, a miséria dos camponeses é nos seus lares, onde se encontra uma pobreza extrema. Dormem sobre a palha; não possuem outro vestuário senão o que trazem vestido e que se apresenta em péssimas condições; não possuem móveis nem qualquer outro equipamento para a vida: enfim, tudo neles representa necessidade.

O Antigo Regimeuma sociedade de ordens

Na Idade Moderna vigorou na Europa uma economia de tipo pré-industrial caracterizada por uma base agrícola e pelo atraso tecnológico. A debilidade tecnológica não permitia aumentar a produtividade, logo, o aumento da população era afetado pelas fomes.As crises demográficas caraterizavam-se por um crescimento elevado das mortes para o dobro ou o triplo da Taxa de Mortalidade corrente, acompanhada por uma quebra muito acentuada nos nascimentos e dos casamentos, a que se seguia uma fase de recuperação da crise, restabelecendo-se os índices habituais de mortalidade, natalidade e nupcialidade. No século XVII, em virtude do arrefecimento climático, as colheitas apodreciam, pelo que o preço dos cereais se elevava e, em consequência, os mais pobres eram atingidos pela fome.Por seu turno, a fome tornava os corpos menos resistentes às epidemias: peste negra, peste bubónica, difteria, cólera, febre tifóide, varíola, tosse convulsa, escarlatina, tuberculose, malária, sífilis e outros males saltam de região para região, de cidade para cidade. A falta de condições de higiene e de assistência médica, em especial nas cidades, agravavam o panorama das crises populacionais.Somava-se a estes dois fatores a guerra, responsável por um número elevado de perdas humanas, quer pelo confronto entre tropas inimigas, quer pelos efeitos

da passagem dos exércitos pelas aldeias. Com os exércitos marcham também as epidemias que sempre proliferaram nas concentrações excessivas de homens, sobretudo numa época em que se desrespeitam as mais elementares regras sanitárias.No Antigo Regime, tal como na Idade Média, a sociedade encontra-se fortemente hierarquizada em ordens ou estados. O poder, a ocupação, a consideração social de cada indivíduo são definidos pelo nascimento e reforçados por um estatuto jurídico diferenciado. A sociedade do Antigo Regime divide-se, então, em três ordens ou estados: o clero, a nobreza e o povo ou Terceiro Estado, multiplicadas por várias subcategorias.

Responder:

a) Caraterize a demografia pré-industrial

b) Descreva a vida dos camponeses na Europa do século XVII

c) Caraterize a sociedade do Antigo Regime

Pesquisar:

Demografia, taxa de natalidade, taxa de mortalidade, Antigo Regime, sociedade de ordens, Louis de Nain

Refletir:

http://externatohistoria.blogspot.pt/2014/03/a-sociedade-de-ordens.html

“Todos suspeitavam uns dos outros e se afastavam mesmo que fossem parentes ou amigos. (…) A cada passo se encontravam corpos caídos (…). Dentro das casas encontrávamos, na mesma cama, um doente a dar o último suspiro, outro desesperado e um terceiro a dormir um sono profundo”

Jean Grillet

Crises demográficasEm 1661, a esperança média de vida atingiria os 25. Estes números brutais significam que, nesse tempo, tal como o cemitério estava no centro da vila, a morte estava no centro da vida.

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O clero, considerado o primeiro estado, é o único que não se adquire pelo nascimento, mas pela tonsura e goza de imunidades e privilégios (isenção fiscal e militar) e beneficia do direito à cobrança do dízimo, desempenhando altos cargos, que lhe conferem grande prestígio e consideração social.A nobreza constitui o segundo estado, sendo uma peça fundamental para o regime monárquico. Como ordem de maior prestígio, organiza-se como um grupo fechado, demarcado pelas condições de nascimento, pelo poder fundiário, pela sua função militar e desempenho dos mais altos cargos administrativos que lhe conferem poder, riqueza, ostentação e grande prestígio. A sua categoria e prestígio social era muito díspar, contudo o seu estatuto legal conferia-lhe um conjunto de privilégios (isenção de pagamentos ao Estado, excepto em caso de guerra, regime jurídico próprio, usufruto de alguns direitos de natureza senhorial).O Terceiro Estado é a ordem não privilegiada, inferior na consideração pública. É a ordem tributária por excelência, de composição muito heterogénea, cujas diferenças residem essencialmente na actividade profissional e modo de vida. Assim, podemos salientar o estrato dos camponeses, o da burguesia (constituído tanto por mercadores como financeiros – banqueiros e cambistas, por letrados – advogados, notários e, por fim, artesãos, trabalhadores assalariados não qualificados, geralmente associados ao trabalho braçal).A sociedade de ordens é sobretudo uma sociedade de símbolos. A distinção faz-se através dos trajes (reservando-se o uso de certos tecidos, de certos

adornos como a prata para a nobreza), das formas de saudação e tratamento que se adoptavam e a que tinham direito pela sua condição social (por exemplo, um eclesiástico receberia o tratamento de Sua Eminência, Sua Excelência ou Sua Senhoria, Vossa Mercê ou Dom). A este tratamento correspondia também um conjunto rígido de regras de protocolo, sendo todos os comportamentos previstos. Mesmo a forma como se apresentavam em público, acompanhados de menor ou maior número de criadagem, dependia da sua posição social.

Responder:

a) Diferencie as três ordens, a sua composição e o seu estatuto

b) Reconheça, nos comportamentos, os valores da sociedade de ordens

Refletir:

http://externatohistoria.blogspot.pt/2013/10/manifestacoes-da-hierarquia-social-no.html

“Não podemos viver todos na mesma condição. É necessário que uns comandem e outros obedeçam. Os que comandam têm várias categorias ou graus: os soberanos mandam em todos os do seu reino, transmitindo o seu comando aos grandes, os grandes aos pequenos e estes ao povo.”

Charles Loyseau

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Privilégios da nobreza A diversidade de estatuto estava plenamente patente no regime jurídico. Normalmente, os nobres estavam isentos das penas consideradas mais vis, como o enforcamento, e eram poupados às humilhações e exposições públicas.

Hierarquia social e as suas manifestaçõesin Retrato e reverso do Reino de PortugalAo nobre parece não existir nobreza semelhante à sua, pelo que julga que todos os outros lhe ficam muito atrás. Procura, em todas as coisas, fazer como fazem os reis ou príncipes (…). Em casa chama os criados pelo nome dos seus cargos: mordomo, secretário, criado de quarto, moço das cavalariças (…).Só estuda questões de gravidade e etiqueta porque é em coisas como estas e não na virtude que consiste a nobreza. Ponderam a quem devem tratar por tu, por Vós, por Mercê, por Senhoria, por Excelência e por Alteza, porque o título de majestade ainda lá não chegou. (…) Dão tratos à cabeça para pensar a quem devem tirar o chapéu (...). Estudam, por fim, que todos os seus actos sejam medidos com termos de gravidade mais do que cansativos.

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O filme conta a história da jovem rainha da França do século XVIII, Maria Antonieta.A princesa austríaca Maria Antonieta é enviada ainda adolescente à França para se casar com o príncipe Luis XVI, como parte de um acordo entre os países. Na corte de Versalhes, ela é envolvida em rígidas regras de etiqueta, ferrenhas disputas familiares e fofocas insuportáveis, mundo em que nunca se sentiu confortável. Detestada pela corte francesa, Maria Antonieta também ganhou gradualmente a antipatia do povo, que a acusava de perdulária e promíscua e de influenciar o marido a favor dos interesses austríacos.Praticamente exilada, decide criar um universo à parte dentro daquela corte, no qual pode se divertir e aproveitar sua juventude. Só que, fora das paredes do palácio, a revolução estava prestes a explodir.

Refletir:

a) Identifique, a partir da figura da rainha Maria Antonieta, as características da corte do Antigo Regime

b) Comente os costumes época

“No topo da hierarquia social, o rei afirma-se como poder único, absoluto e sacralizado. A sua autoridade reforça-se, quer pela mão dos teóricos, quer pela determinação e arrojo político de alguns monarcas. Dentre todos, emerge Luís XIV, paradigma do próprio absolutismo, tal como o seu palácio, Versalhes, se tornará no símbolo da magnificência e do culto da pessoa régia.”

Piganiol de la Force

Marie Antoinettea vida na corte de Versalhesin imdb.com

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Marie Antoinette FilmeSofia Coppola2006127 minutos