Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415

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1 A Grande Depressão e o seu impacto social Por Raul Silva Nos anos 30, a Grande Depressão abalou a confiança no capitalismo liberal e na democracia. Perturbada e decadente, a Europa questionou o liberalismo político e a democracia parlamentar. As massas populares, afetadas pelo desemprego e seduzidas pelo exemplo da Rússia bolchevista, agitaram-se ao ponto de intimidar as classes dirigentes. As classes médias, alicerce do liberalismo e grandes vítimas da queda do poder de compra, sentiram-se atraiçoadas e perderam toda a confiança no Estado burguês. Pela Europa fora, o totalitarismo fascista foi moda e teve, na Itália e na Alemanha, os seus grandes paradigmas. Antiparlamentar, antiliberal e antimarxista, o fascismo distinguiu-se por subordinar o indivíduo aos interesses de um Estado forte e dirigista, que controlava a sociedade, a economia, a educação e a cultura; por impor o culto do Chefe a quem todos deviam uma obediência estrita. Um feroz aparelho repressivo e uma gigantesca máquina de propaganda serviram os seus desígnios. Onde a democracia resistiu à crise ensaiaram-se novas soluções económicas e políticas marcadas pelo intervencionismo do New Deal e pelas experiências das Frentes Populares. CADERNODIÁRIO EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 18 https:// www.facebook.com/ historia.externato http:// externatohistoria.blog spot.pt externatohistoria@gm ail.com 28 de Abril de 2015

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A Grande Depressãoe o seu impacto socialPor Raul Silva

Nos anos 30, a Grande Depressão abalou a confiança no capitalismo liberal e na democracia.

Perturbada e decadente, a Europa questionou o liberalismo político e a democracia

parlamentar. As massas populares, afetadas pelo desemprego e seduzidas pelo exemplo da

Rússia bolchevista, agitaram-se ao ponto de intimidar as classes dirigentes. As classes médias,

alicerce do liberalismo e grandes vítimas da queda do poder de compra, sentiram-se

atraiçoadas e perderam toda a confiança no Estado burguês.

Pela Europa fora, o totalitarismo fascista foi moda e teve, na Itália e na Alemanha, os seus

grandes paradigmas. Antiparlamentar, antiliberal e antimarxista, o fascismo distinguiu-se por

subordinar o indivíduo aos interesses de um Estado forte e dirigista, que controlava a

sociedade, a economia, a educação e a cultura; por impor o culto do Chefe a quem todos

deviam uma obediência estrita. Um feroz aparelho repressivo e uma gigantesca máquina de

propaganda serviram os seus desígnios.

Onde a democracia resistiu à crise ensaiaram-se novas soluções económicas e políticas

marcadas pelo intervencionismo do New Deal e pelas experiências das Frentes Populares.

CADERNODIÁRIO

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15 A Grande Depressãoe a sua origem

A crise teve a sua origem nos Estados Unidos da América. Durante a Primeira Grande Guerra, os americanos eram possuidores da maior parte do ouro mundial, provenientes dos pagamentos que a Europa fazia pelo trigo, patróleo, manufaturas e armas, tornando-se, portanto, credores da Europa, controlando assim as empresas do mundo inteiro. Após a guerra, os países europeus, falidos, compram menos aos americanos e as vendas decrescem, por isso diminui a produção, sobe o desemprego e baixam os preços. Perante esta pequena crise, o governo decreta o aumento das taxas alfandegárias para combater as importações e a economia recupera.Os chamados Loucos anos 20 vão marcar o melhor período da América, que se torna a 1.ª potência industrial e financeira do mundo. O consumo em massa é estimulado pelas vendas a crédito, salários altos e pela publicidade, especialmente os bens de consumo e electrodomésticos. É a American way of life de que são indicadores culturais: o cinema, a rádio, o desporto, o jazz, os jornais, o telefone, ou seja, a sociedade de consumo, e o “self made man”, um mito americano.Mas, o crescimento económico dos anos 20 tinha o seus pontos fracos: • a prosperidade não era geral, os

países europeus viviam anos de crise; • o desenvolvimento dos setores

produtivos é diverso: a construção naval, aço e têxteis declinam, a

produção agrícola é excedentária, provocando a queda dos preços e a ruína dos agricultores;

• a repartição da riqueza é desigual, uma vez que o lucro dos empresários era muito superior ao aumento dos salários pelo que os assalariados recorrem à compra a prestações, na ânsia de consumo;

• o crédito atinge até a compra de ações que atingem valores irreais.

Responder:

a) Reconheça as causas da crise.

Pesquisar:

https://www.youtube.com/watch?v=_DIO6pC-JKc

https://www.youtube.com/watch?v=5Aj-vxLvfbw

O Crash de Wall Sreete a Grande Depressãopor Helena Veríssimo

“Por todo o lado falem fábricas por falta de compradores. Por todo o lado instala-se o desemprego, e as dificuldades económicas das populações agudizam-se. A fome, que parecia uma realidade passada, reemerge. Nos EUA, põe-se em questão o American way of life, instalando-se dúvidas quanto à validade do modelo capitalista tal como é aplicado. Este modelo incentivou, nos anos da pseudo prosperidade, a um consumo desenfreado, concedendo

créditos ao consumo privado de forma pouco criteriosa e as pessoas que não possuíam capacidade de endividamento. Quanto mais se consumia, mais os bancos emprestavam, numa espiral que só podia conduzir a um fim – a ruptura do sistema financeiro e, consequentemente, produtivo, logo que as dificuldades financeiras começaram a emergir (as pessoas não pagavam aos bancos o que lhes deviam e deixaram de consumir por não terem meios para tal).”

“Para incitar os empresários a investir acena-se-lhes com o crédito fácil, a política do dinheiro fácil. Alguns aproveitam a facilidade do recurso ao crédito que lhes é concedido, não para criarem novas empresas, mas sim para especularem: compram-se acções na bolsa a contar com uma alta das cotações. A verdade é que quanto mais os especuladores compram, mais as acções sobem.”

Jean-Luc Chalumeau

American way of lifeÉ uma expressão referente a um suposto "estilo de vida praticado pelos habitantes dos Estados Unidos da América. Baseia-se nos princípios da liberdade e da procura da felicidade.

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15 A crisee a sua mundializaçãoEm 1928, acontece uma enorme subida de preços do produtos, o que vai contrariar o baixo poder de compra da população. Segue-se a dificuldade em escoar a produção, o desemprego e falências.Do ponto e vista financeiro, a situação não era melhor devido à especulação na compra de ações e à facilidade em obter crédito bancário, apesar do aumento dos juros, o que permitirá a acumulação de avultados lucros nas instituições bancárias. No entanto, estas viviam temendo o reembolso do capital correspondente às ações super-valorizadas e das economias depositadas. A partir de setembro de 1929, à bolsa de Nova York acorreram muitos especuladores a quererem vender as suas ações por considerarem que já não compensava a sua transação. Em 24 de outubro forma postas à venda cerca de 17 milhões de ações que não encontraram comprador. Gerou-se o pânico e todos queriam desfazer-se das suas ações, a qualquer preço. Foi, assim, o crash de Wall Street, na famosa quinta-feira negra.A crise na bolsa americana traz, de imediato, consequências: As ações desvalorizam e as pessoas tentam vendê-las a preços baixíssimos, sem haver quem as compre outras correm aos bancos a levantar os seus depósitos.Os bancos encerram por não poderem pagar as dívidas dos acionistas nem devolver os depósitos.

Inicia-se, deste modo, a grande depressão dos anos 30 que, oriunda dos Estados Unidos da América se irá estender ao resto do mundo, provocando o declínio do comércio internacional:Aos países fornecedores de matérias-primas aos americanos: Austrália, Nova Zelândia, México, Brasil, Índia.Países dependentes dos empréstimos dos Estados Unidos: Alemanha e Aústria.As principais caraterísticas desta crise mundial são: empresas fabris, comerciais e bancárias a falirem, produção, preços, salários e poder de compra a descer, desemprego e miséria a subir, racionamentos e “sopa dos pobres” a surgir.

Responder:

a) Explique em que consistiu o crash da bolsa de Wall Street.

b) Enumere os efeitos que teve a quinta-feira negra na economia ocidental.

c) Justifique a mundialização da crise.

Pesquisar:

http://externatohistoria.blogspot.pt/2014/03/as-causas-da-grande-depressao.html

http://externatohistoria.blogspot.pt/2014/03/as-consequencias-da-grande-depressao.html

A crisee as suas manifestaçõespor André Maurois

“Era o fim do mundo para um povo que tinha apostado tudo na riqueza. As indústrias, equipadas para grandes produções não encontravam compradores. O número de desempregados subia. Há na América um desemprego endémico e, mesmo antes da crise, contavam-se já 2 milhões de desempregados. Mas, quando as pessoas cessaram as suas compras, então o desemprego aumentou em

progressão geométrica, devido à baixa dos preços, à falta de confiança, ao crash de Wall Street. (...)A crise torna-se, a partir do crash de Wall Street, uma crise mundial, o que demonstra como a América se foi transformando, aos poucos, na locomotiva da economia capitalista. As repercussões sociais desta crise, são, também, mundiais, afectando todos os países, com economias pouco desenvolvidas e diversificadas, que fornecem matérias-primas aos EUA e à Europa.”

“Na quinta-feira, 24 de outubro, estava dado um golpe mortal no boom de Wall Street. Ainda hoje não se sabe quem pôs à venda, durante a primeira hora da Bolsa, a quantidade de ações que provocaram a avalanche. (...) O resultado foi catastrófico. As ações desciam de minuto a minuto, porque não encontravam compradores.”

Richard Lewinsoth

A mundialização da criseOs americanos congelaram os empréstimos,exigindo ainda a devolução do dinheiro, o que fez com que inúmeros bancos fossem à falência, nomeadamente em Inglaterra, Alemanha e na Aústria.