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BURNOUT e os Médicos de Família
Andreia Moreira de Almeida
Coordenadora: Dra Natividad Gálan
UCSP Portimão
3 de Junho de 2014
• Conceito e a sua importância
• Dimensão do problema
• Factores desencadeantes
• Estratégias de Prevenção
Objectivos
Burnout:
• Conceito utilizado pela primeira vez por Brandley (1969), mas ficou conhecido através do psicanalista Freudenberger (1974) psicanalista que trabalhava com toxicodependentes em New York.
• Detectou junto de alguns voluntários:
- perda progressiva de energia
- ansiedade e depressão
- Menor sensibilidade e compreensão
- Desmotivação e até agressividade
- Tratamento distanciado e tendência a culpá-los pelos se próprios problemas.
- até ao esgotamento.
Emprego Estrutura e
Clima da Organização
Progressão na Carreira
Papel dentro das
organizações
Relações de Trabalho
Factores extrinsecos
Preparação/ Estudo Idade
Experiência
Personalidade do médico
Factores intrínsecos
Stress VS Burnout
Burnout: o que é?
• Não há definição consensual
• Traduz um síndrome de fadiga ou de esgotamento profissional (físico e psicológico), que surge em profissões que mais diretamente contactam com o público e que implicam relações de ajuda.
• A OMS considera o síndrome de burnout como um dos problemas de saúde mais graves da actualidade:
- alta prevalência do fenómeno em profissionais de saúde
- consequências na população assistida por esses profissionais
Burnout: o que é?
Tríade Burnout
Exaustão emocional
Atitude fria e despersonalizada
Reduzida realização profissional
Factores desencadeantes:
• «Sacerdócio» • Dedicação integral à medicina • Desafio de todos os limites, desafio
permanente • Perfeição • Anulação do EU • Vida adiada
Ideologia Profissional
• Modelos paradoxais entre o ideal e o possível
• Replicação do sacrifício
• Rituais de passagem altamente exigentes e repetidos
• Insuficiente nas competências relacionais e no «saber-ser»
• Inexistente quanto à multiplicidade de novos papéis: gestor, líder, parceiro, facilitador, comunicador, dinamizador comunitário, cientista, etc.)
Formação
Factores desencadeantes:
• Défice estrutural quanto a recursos humanos e materiais
• Ambientes pobres, desconfortáveis e não protegidos
• Ausência de design ergonómico • Imagem discrepante das organizações de
saúde • Riscos físicos, químicos, biológicos,
emocionais, violência • Baixos salários/incentivos • Baixo suporte dos colegas • Sem garantia de oportunidade para uso de
competências específicas/desenvolvimento • Demorada/difícil progressão na carreira,
competitividade
Ambiente Físico do Trabalho
Factores desencadeantes:
• Enorme carga mental • A saúde é um constructo (impraticável na plenitude) • Finalidade curar nem sempre viável • Problemática na quantificação do produzido • Age-se num sistema complexo transversal a todos os
sectores da vida • Relação indirecta entre investimento e resultados • Trabalhar com dependência, sofrimento e morte • Decisões sobre contingência/emergência • Altas exigências de formação/actualização • Progressiva invasão do acto médico • Crescimento tarefas administrativas/burocracia • Enorme responsabilidade e limitado controlo dos
factores intervenientes • Actual prática defensiva insatisfatória
A tarefa
e a
carga
mental e fisica
• Políticas excessivas e procedimentos ultrapassados • Rotinas de trabalho • Supervisão próxima ("sensação de controlo" do
funcionário); • Mudanças políticas de saúde (contradição e incoerência) • Sistemas organizacionais neuróticos (instabilidade,
ambiguidade, indução de culpa, insegurança) • Retirada de protagonismo e de reconhecimento • Não participação nas decisões de topo e nas priorizações • Progressiva redução da autonomia • Conflito responsabilidade/poder/autoridade • Falta de feedback positivo • «Tempo é dinheiro» — Actual incentivo à «produção» • Super-sobrecarga — jornada de 24 horas • Ritmos violentos «Cada vez mais horas» • Trabalho nocturno e por turnos • Conflito com papéis familiares/sociais
Clima Organizacional
Números
• Os médicos e Enfermeiros ocupam reconhecidamente o
topo das profissões geradoras de stress (Vaz Serra, 2002)
• Estes profissionais, que mantêm durante muito tempo uma relação de ajuda e interacção com os outros, estão mais sujeitos a desenvolver problemas de saúde mental
(Baba, Galaperin, & Lituchy, 1999).
• Um estudo realizado em Portugal concluiu que 52,4% dos clínicos gerais estavam em burnout.
• O problema é mais prevalente nos clínicos gerais, depois nos
médicos hospitalares, e sem significado nos clínicos que apenas desempenham funções administrativas. ( Pinto Leal, 1998)
Os médicos compartilham com professores, controladores de tráfego aéreo, profissionais de emergência, enfermeiros, polícias, investidores na bolsa, o topo na listagem de profissões stressoras.
Occupational Stress Statistics Information Sheet (2003)
Comparados com gestores, os médicos têm um nível superior das hormonas stresse. Comparados com dentistas e advogados apresentam aumento na incidência de enfarte de miocárdio e angina.
SCOTT C, HAWK J (1986)
O distress médico alastra-se para a vida familiar: os médicos têm frequente conflitualidade familiar e divorciam-se 20 vezes mais que a população geral.
GABBARD G, MENNINGER (1988)
Estudo pioneiro no estudo dos problemas de saúde dos médicos sob a perspectiva laboral e psicológica: Encontrou prevalências elevadas de sofrimento emocional aliadas ao uso de substâncias aditivas com consequências alarmantes tal como alta incidência de suicídio.
VAILLANT, (1972)
12 a 14% dos médicos têm perturbações de adicção. Os internos utilizam substâncias psicotrópicas para se “energizarem” quando necessário e para relaxarem quando tal é desejável.
TALBOTT (1980)
A violência…
• Está em crescendo e é outro importante factor de stress. • Na Grã Bretanha 1/3 dos médicos considera a violência um
problema no trabalho clínico, 95% foi vítima de agressões nos últimos meses.
• Em Portugal a DGS realizou em 2004 uma pesquisa em que 81% de unidades hospitalares e 77% dos centros de saúde revelaram ter registado casos de violência sobre profissionais de saúde
• As vítimas são predominantemente médicos (66%). - 93%: ameaça e agressão verbal - 54%: agressão física - 21%: danos à propriedade privada – 21%. Porém, só 2 a 4% dos vítimas apresenta denuncia.
Estudos e Números em Portugal: Pesquisa da ARSLVT (2004):
• verificou-se que nos centros de saúde da ARSLVT a
satisfação é neutra (nem satisfeito nem insatisfeito), o que é algo paradoxal e que remete
para uma situação de «desligado», sugestiva de
burnout;
• 34% dos clínicos estão motivados para deixarem a carreira
• 9% para abandonarem a profissão (Portugal. CACTEAMCS, 2004).
Maiores desencadeantes nos Clínicos: • Exigências dos utentes
• A carga de trabalho
• Presença hostilidade no ambiente de trabalho Chambers (1998)
• Elevado nº de doentes a cargo dos clínicos
• Mais de 125 consultas semanais
• Insatisfação laboral e o stress. Hespanhol (1998)
Consequências e Manifestações de
Burnout
• agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade.
Sintomas Comportamentais
• cardiovasculares (palpitações, hipertensão, etc.), • respiratórios (crises de asma, falta de ar, etc.), • imunológicos (aumento da frequência de infecções,
alergias, etc.) • sexuais (diminuição da libido) • digestivos (úlceras, náuseas, diarreias,etc.), • musculares (dores de costas, fadiga, etc.)
Sintomas Psicossomáticos
Consequências e Manifestações de
Burnout
• distanciamento emocional, • sentimentos de solidao, de
alienacao, ansiedade e de impotencia ou omnipotencia.
Sintomas emocionais
• desenvolvimento de atitudes negativas, cinismo, apatia e
• hostilidade.
Sintomas atitudinais
Fadiga de
Compaixão
• Significa “Estar emocionalmente exausto” • Descreve como os médicos desenvolvem quadros
relacionados com o stress devido a múltiplos e difíceis encontros com doentes mostrando como o acto de cuidar pode trazer custos físicos, psicológicos e familiares junto dos médicos de família.
Os Custos de cuidar, a empatia e o investimento emocional em ajudar quem sofre.
1º Passo • Reconhecimento
• Reflexão
• Compreensão
• Assumir responsabilidade pela nossa própria experiência de stress
• Compromisso de mudança
• Assegurar as nossas próprias necessidades para termos também algo para dar aos nossos doentes e colegas.
Contudo, não há consenso nas medidas a tomar. Não há soluções simples ou universais.
Assumir o desafio e gradualmente considerar o que precisamos .
Prevenção e Tratamento
• Formação em resolução de problemas • Assertividade • Gestão eficaz do tempo.
Estratégias Individuais
Gil-Monte (2003)
• Procura de apoio dos colegas e superiores
• Os indivíduos melhoram as suas capacidades, obtêm novas informações e recebem apoio emocional ou outro tipo de ajuda).
Estratégias de Grupo
• Programas de socialização para prevenir o choque com a realidade.
• Implantação de sistemas de avaliação que concedam aos profissionais um papel activo e de participação nas decisões laborais.
Estratégias Organizacionais
• Investigação em grupos de supervisão são escassas.
• Excepção: Grupos de Ballint - Extensamente estudados em todo o mundo. - Verificou-se que os médicos participantes tornaram-
se mais centrados no doente e que sentiram maior controlo da sua vida profissional e mais satisfeitos com a sua profissão. Kjeldmand (2003)
- Não estão especificamente direccionados no apoio e
criação de estratégias de combate ao stress/burnout.
ESTRATÉGIAS DE GRUPO
Supervision Group
CONCLUSÕES: • Todos os MF consideraram benéfica a supervisão em grupo,
terminando as sessões com um sentimento de calma e mudança ao longo do tempo.
• Muitos mudaram a organização da sua rotina diária.
• Sentiram-se diferentes nas suas relações com os doentes e consultas ou doentes anteriormente considerados dificeis tornaram-se desafios.
Durante os 5 anos do estudo, 2 médicos decidiram abandonar a profissão. Outros descrevem que continuaram a sua actividade graças ao apoio do grupo.
SESSÕES DE GRUPO:
• Identificação do problema
• Análise
• Assumir a responsabilidade pela própria experiência de stress
• Compromisso com a mudança
• Partilha entre colegas de estratégias que ajudem a reencontrar o equilíbrio no exercício da profissão.
Devem ser implementadas medidas que:
• evitem o excesso de horas extras;
• proporcionem condições de trabalho atractivas e gratificantes;
• modifiquem os métodos da prestação dos cuidados;
• Formação e aperfeiçoamento profissional
• Dêem suporte social as equipas e que fomentem a sua participação na tomada de decisão.
Problema colectivo e organizacional e NÃO um problema individual
Em prática…
• Respeitar e aceitar a humanidade do médico e experienciar a nossa vida profissional de
uma forma que a nossas necessidades possam estar paralelas às dos nossos doentes.
• Sermos médicos melhores e mais eficientes.
Only now are doctors realising that admitting their own humanity may not be so bad after all.
(Richards, 1989)
Com médicos em Burnout não há oferta de qualidade em saúde.
Como Médicos de Família,
quais as estratégias a aplicar HOJE?
Obrigada pela atenção.
• Costa, M. C. S. P. (2009). Burnout nos médicos perfil e enquadramento destes doentes. Tese de Mestrado Integrado em Medicina
• Estella, G. F., Diaz, J. A., Alonso, J. A. B., Garzon, P. J. C., Camacho, A. F., Sendin, J. J. R.,Pedro, I. S. e Camino, J. M. S. (2002). Síndrome de Burn-out en el médico general. Grupo de Habilidades en Salud Mental de la SEMG. Medicina General. 43. 278-283.. Porto: Instituto de Ciencias Bio
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Bibliografia