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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA GABRIELA DELAGNELO WIGGERS BULLYING E DEPRESSÃO INFANTIL EM PERSPECTIVA SOCIAL Uma revisão de literatura. Biguaçu, 2011.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA

GABRIELA DELAGNELO WIGGERS

BULLYING E DEPRESSÃO INFANTIL EM PERSPECTIVA SOCIAL Uma revisão de literatura.

Biguaçu, 2011.

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GABRIELA DELAGNELO WIGGERS

BULLYING E DEPRESSÃO INFANTIL EM PERSPECTIVA SOCIAL Uma revisão de literatura.

Biguaçu, 2011.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale de Itajaí no Curso de Psicologia. Profª orientadora Hebe Cristina Bastos Régis.

Orientado pela professora Ilma Borges.

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GABRIELA DELAGNELO WIGGERS

BULLYING E DEPRESSÃO INFANTIL EM PERSPECTIVA SOCIAL Uma revisão de literatura.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí no curso de Psicologia.

Biguaçu, de de 2011

Banca Examinadora

Prof._____________________________________________ Psic. Msc. Hebe Cristina Bastos Régis Prof._____________________________________________ Psic. Enis Mazzuco Prof._____________________________________________ Psic. Ivânia Jann Luna

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais, que acima de tudo sempre se

esforçaram ao máximo e abdicaram de muitas coisas para me proporcionar todo estudo

necessário desde sempre, além de me ensinarem o que considero como meus melhores

valores.

Agradeço de coração minha amiga (diga-se de passagem peça chave para que este trabalho

fosse feito) Tatiane por sempre ser muito compreensiva, prestativa e motivadora, não só na

elaboração deste trabalho, mas ao longo de todo o curso.

Muito obrigada à minha orientadora Hebe por sempre acreditar em mim e ser muito

paciente a ponto de nunca me deixar desacreditar do meu trabalho, que me orientou não só

para o espaço acadêmico, mas para a vida.

Ao meu coordenador Almir que tornou meu trabalho possível em tão pouco tempo, que me

incentivou e me ajudou em algumas das mais difíceis decisões que tive que fazer.

Às minhas amigas Michelly e Renata que sempre me ampararam, me ajudaram, me

aguentaram ao longo do curso, dentro e fora da sala de aula. Sem vocês jamais seria quem

sou hoje, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

Ao meu namorado, Gonçalo, que mesmo longe se faz perto todos os dias.

Ao meu amigo Spyros por sempre se mostrar interessado e me fazer ver que meu trabalho

importa, vale a pena e tem gente que gosta.

E à toda a minha família (irmã, tios, primos, agregados) e demais amigos que com certeza

são muito importante pra mim e que têm contribuição em todo o meu trabalho.

A todos vocês, minha sincera e enorme gratidão!

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"Na violência, esquecemos quem somos."

Mary McCarthy

"A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota."

Jean-Paul Sartre

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................................. 12

3 CARACTERIZAÇÃO DA DEPRESSÃO E DO BULLYING ........................................................ 14

3.1 DEPRESSÃO E DEPRESSÃO INFANTIL ......................................................................................... 14

3.2 BULLYING .......................................................................................................................... 18

4 POSSÍVEL RELAÇÃO ENTRE O BULLYING E A DEPRESSÃO INFANTIL ................................. 21

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 33

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 38

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RESUMO

Este estudo teve como finalidade fazer um levantamento na literatura de forma bibliográfica

exploratória acerca da temática do fenômeno do bullying e da depressão infantil. Os dados

levantados serviram para a caracterização do conceito de depressão e consequentemente da

depressão infantil, bem como para conceituar o bullying. A partir da caracterização destes

foram analisados estudos e pesquisas acerca de uma possível relação entre o bullying e a

depressão infantil. A discussão dos dados se pautou, primordialmente, em criticar a escassez

de estudos com enfoque social que abordem esta temática e, por conseguinte olhar sob uma

perspectiva social para os dados obtidos através da literatura.

Palavras-chave: Bullying; Depressão Infantil; Depressão.

ABSTRACT

This study aimed to survey the literature in a bibliographic exploration on the theme of the

phenomenon of bullying and childhood depression. The data collected were used to

characterize the concept of depression and thus of childhood depression, and to

conceptualize bullying. From the characterization of these studies were analyzed and

research about a possible link between bullying and childhood depression. Data discussion

has centered primarily on criticizing the lack of studies focusing on social address. This issue

and therefore look from a social perspective to the data obtained from the literature.

Keywords: Bullying, Childhood Depression, Depression.

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1 INTRODUÇÃO

Este estudo teve como finalidade pesquisar através da bibliografia a possível

relação entre depressão infantil e o fenômeno do bullying.

A infância, enquanto fase do desenvolvimento tende a ser vista de forma

romanceada, no entanto muitos problemas podem ocorrer neste período. Scliar (1995,

citado em Frota, 2007) afirma que a infância é um conceito contruído históricamente

provindo da multiplicidade de infâncias na contemporaneidade. A felicidade como ideia

difundida na infância não pode ser garantida a todas as crianças segundo o autor. De acordo

com Frota (2007) a infância não deve ser compreendida como um modo universal de

experiências vividas por todos de uma mesma forma, e sim, deve ser “compreendida como

um modo particular de se pensar a criança” (FROTA, 2007, p. 150).

A aprendizagem de muitas habilidades, valores e crenças são concedidos durante a

fase infantil. De acordo com Marinho e Caballo (2002) o desenvolvimento funcionamento

interpessoal na fase adulta é dada na forma de relações com colegas na infância, a

aprendizagem de habilidades sociais específicas acontece na infância (MONJAS, CABALLO, e

MARINHO, 2002; RUBIN, BOTH, e WILKISON, 1990 citado em MARINHO e CABALLO, 2002).

As pesquisas sobre bullying são recentes e passaram a ganhar destaque no mundo a

partir da década de 90. No Brasil, os primeiros trabalhos sobre bullying surgiram em 2000.

Porém, ainda existe muito desconhecimento sobre esse fenômeno no Brasil (BINSFELD e

LISBOA, 2010).

O fenômeno bullying vem crescendo assustadoramente nos últimos anos. Segundo

uma pesquisa divulgada pela ONG Plan Brasil feita em 2009 (Jornal Diário Catarinense, 2010)

com estudantes brasileiros entre as 5ª e 8ª séries do Ensino Fundamental revelou que 17%

dos estudantes estiveram envolvidos em bullying, como agressores ou vítimas.

A pesquisa mais extensa sobre bullying, realizada na Grã Bretanha, registra que 37%

dos alunos do primeiro grau e 10% do segundo grau admitem ter sofrido bullying, pelo

menos, uma vez por semana (NETO, FILHO e SAAVEDRA, 2005).

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Neto, Filho e Saavedra (2005) ainda ressaltam que o levantamento realizado pela

Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Juventude (ABRAPIA), em

2002, envolvendo 5875 estudantes de 5ª a 8ª séries, de onze escolas localizadas no

município do Rio de Janeiro (RJ), revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado

diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9%

alvos/autores e 12,7% autores de bullying.

Em estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa

Nacional da Saúde do Escolar (Pense) no ano de 2009 estimou em 618.555 o número de

escolares do 9º ano do ensino fundamental frequentando a escola nas capitais brasileiras e

Distrito Federal. Desse total, 293.596 (47,5%) são do sexo masculino e 324.958 (52,5%), do

sexo feminino. Os dados sobre violência mostram que quase um terço dos alunos (30,8%)

respondeu ter sofrido bullying alguma vez, cuja ocorrência foi verificada em maior

proporção entre os alunos de escolas privadas (35,9%) do que entre os de escolas públicas

(29,5%). Nos 30 dias anteriores à pesquisa, 12,9% dos estudantes se envolveram em alguma

briga com agressão física, chegando a 17,5% entre os meninos e 8,9% entre as meninas,

inclusive com o uso de armas brancas (6,1% dos estudantes) ou arma de fogo, declarado por

4% deles (IBGE, 2009).

Para Binsfeld e Lisboa (2010) o bullying é compreendido como um subtipo ou

subcategoria de atitudes e comportamentos agressivos (verbais, físicos e relacionais),

intencionais e repetidos, por determinado tempo e sem nenhuma motivação evidente, é

cometido por um ou mais indivíduos contra outro(s), dentro de uma relação desigual de

poder.

De acordo com Almeida, Silva e Campos (2008) o bullying pode ter efeitos não

desejados por parte dos alunos, entre estes estão a evasão escolar, rotatividade do quadro

de colaboradores, desrespeito aos professores, faltas sem motivos, porte de armas por

crianças, além de acarretar em ações judiciais contra a escola e até a família do agressor.

A depressão infantil é outro tema que interessa a este estudo, sendo que

justamente devido à visão romanceada que muitas vezes se têm da infância pode-se dizer

que durante muito tempo esse fenômeno foi ignorado. Souza (1984) ressalta que o interesse

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científico pela depressão em crianças e adolescentes é bastante recente, até a década de 70

acreditava-se que a depressão nessa faixa etária fosse rara ou até inexistente.

Segundo Halpern e Figueiras (2004), nos últimos anos tem aumentado de maneira

expressiva a preocupação com a saúde mental da criança, devido aos estudos recentes que

têm demonstrado uma prevalência de 10 a 20% da depressão infantil. Esses autores também

mostram que até 2,5% das crianças passam por depressão.

A depressão na fase inicial da vida pode ter um efeito devastador. Há alguns anos

atrás a depressão infantil não era reconhecida pelos profissionais de saúde, seus sintomas

eram desconhecidos, também eram escassos o conhecimento e as pesquisas sobre o

assunto, como conseqüência, muitas crianças sofreram e não tiveram a oportunidade de

serem auxiliadas. Atualmente o interesse pelo assunto da depressão infantil é crescente e

através da compreensão desta problemática muitos avanços já foram alcançados (MILLER,

2003).

Os estudos de Binsfeld e Lisboa (2010) sugerem que as crianças agressoras podem

estar mais deprimidas que as não-agressoras. Segundo Lopes Neto (2005) as crianças que

sofrem bullying apresentam maior tendência a desenvolverem depressão e baixa auto-

estima quando adultos. De acordo com Almeida, Silva e Campos (2008) colocam que todos

os envolvidos (vítimas, agressores e observadores) nas práticas de bullying sofrem

consequências negativas a curto e longo prazo.

Diante os dados estatísticos mostrados a respeito do fenômeno bullying e frente à

necessidade de estudos na área, se torna relevante pesquisar se existe correlação entre q de

depressão com o bullying.

O bullying vem sendo amplamente divulgado na mídia. Algumas vezes até com

caráter sensacionalista que nem sempre esclarece à população sobre esse fenômeno. Dessa

forma, entende-se que o papel da academia, no sentido de contribuição com a produção

científica sobre o tema é fundamental, já que os estudos sobre bullying e depressão infantil,

tendem a dar visibilidade a esse fenômeno e, portanto conscientizam a população acerca

dessa temática.

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Investigar uma possível relação entre o bullying com a depressão infantil pode

ajudar na elaboração de intervenções a nível psicológico. A constatação através da produção

científica da ligação entre os dois, além de possibilitar o tratamento precoce da depressão,

suporta a criação de técnicas de intervenções primárias. Entendo aqui intervenções

primárias como aquelas que visam a promoção de saúde e objetivam práticas que previnam

o acontecimento do fenômeno.

Diante do exposto a presente pesquisa teve como finalidade investigar a seguinte

problemática: O que a literatura aponta como uma possível relação entre a depressão

infantil e o fenômeno do bullying.

O objetivo geral desta pesquisa é investigar, através da literatura, a incidência da

depressão infantil entre os envolvidos no fenômeno de bullying. Como objetivos específicos

tem como intuito verificar a existência de outros estudos que relacionam a depressão

infantil com o fenômeno do bullying e; refletir a partir de um olhar crítico os resultados

obtidos.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Como princípios filosóficos a pesquisa em Psicologia encontra-se no campo das

ciências humanas e no pensamento de Bakhtin (1985) citado por Freitas (2002) as ciências

humanas estudam o homem em sua especificidade humana, isto é, em processo de contínua

expressão e criação. Considerar o homem e estudá-lo independentemente dos textos que

cria significa situá-lo fora do âmbito das ciências humanas, portanto, ao se trabalhar com a

interpretação das estruturas simbólicas, faz-se necessário ir à infinitude dos sentidos

simbólicos (FREITAS, 2002).

E é por esse motivo que não se pode pretender, nas ciências humanas, chegar ao

padrão de cientificidade que é próprio das ciências exatas. Essa interpretação dos sentidos é

profundamente cognoscitiva, pois há que se reconhecer que a simbologia não é uma forma

não cientifica do conhecimento, senão uma outra forma de conhecimento que tem suas leis

internas e seus critérios de exatidão (FREITAS, 2002).

Desta forma este estudo caracteriza-se pela pesquisa bibliográfica. Esta é realizada

com base em material já elaborado, organizado principalmente de livros e artigos científicos

(CONTANDRIOPOULOS, 1997). As informações contidas neste trabalho foram obtidas por

meio de consulta a livros, monografias e artigos científicos. A pesquisa obteve os resultados

seguindo as exigências éticas e científicas, por se tratar de uma pesquisa bibliográfica se

preservou os requisitos compatíveis com as regulamentações sobre plágio.

A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Têm como objetivo

principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições (GIL, 2002). Essa

perspectiva em pesquisa foi aplicada no estudo aqui proposto auxiliando assim a delimitar o

tema pesquisado e definir os objetivos, sendo baseada na pesquisa bibliográfica.

A pesquisa foi realizada no período de Agosto a Dezembro de 2011, classificando-se

conforme acima identificado enquanto uma pesquisa bibliográfica exploratória.

O material para a coleta de dados foi composto por livros, artigos, periódico e

demais publicações científicas de assuntos afins produzidas a partir do ano de 1994 até

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2011. Na coleta de dados foi estudado a depressão infantil e o bullying e a sua possível

relação. A pesquisa se pautou em coletar os dados através de artigos de revistas

cientificamente válidas. A partir dos autores que estes artigos traziam foram procuradas

suas referências. As palavras-chave usadas foram childhood depression and bullying.

Para atingir os objetivos geral e específico e as finalidades propostas do presente

estudo, a metodologia de investigação, esta respeitou os princípios que caracterizam a

pesquisa bibliográfica exploratória.

Os dados coletados a partir do material bibliográfico serão analisados de forma

qualitativa. Ressalta-se que a abordagem qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar

aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano, ou

seja, fornece análise mais detalhada sobre as investigações (MARCONI e LAKATOS, 2006).

Assim, a abordagem qualitativa foi utilizada na discussão e resultados dos dados

coletados por meio da revisão na literatura cientifica.

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3 CARACTERIZAÇÃO DA DEPRESSÃO E DO BULLYING

3.1 Depressão e depressão infantil

Nesta seção, será abordado o histórico e a evolução do conceito de depressão

(incluindo as atuais definições), a fim de auxiliar na compreensão dos demais capítulos deste

estudo.

Gonçales e Machado (2007) relatam que na época da Inquisição, no século XIII, a

melancolia foi considerada um pecado e algumas pessoas eram multadas ou aprisionadas

por carregarem esse mal da alma, que não tinha cura. Etimologicamente, a palavra vem do

grego melano chole, significando bílis negra. O termo “depressão” (assim como em

português) foi inicialmente usado em inglês para descrever o desânimo em 1660, e entrou

para o uso comum em meados do século XIX (SOLOMON, 2002).

No entanto, segundo Monteiro e Lage (2007), a história da depressão está

intimamente ligada à temática da melancolia, passando esta a ser utilizada, inicialmente,

durante o século XIX.

O século XIX trouxe descobertas na biologia, física, química, anatomia, neurologia e

na bioquímica, o que permitiu relacionar as doenças mentais com a patologia orgânica do

cérebro. Foi um período de classificações em que grandes teóricos debateram a natureza da

doença e seus parâmetros, redefinindo, o que antes fora simplesmente identificado como

melancolia, em categorias e subcategorias (GONÇALES e MACHADO, 2007).

Ribeiro (1999) refere que, no século XX, houve a consolidação da psiquiatria, além

disso, surgiram os movimentos sociais e comunitários que visavam modificar as formas de

atendimento e assistência ao paciente psiquiátrico. Os avanços e descobertas em

psicopatologia, farmacologia, anatomia patológica, neurologia e genética possibilitaram que

a psiquiatria adquirisse fundamentação científica para os conhecimentos oriundos da prática

clínica, da observação e da experiência.

De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da

Classificação Internacional das Doenças – CID-10, determinada pela Organização Mundial de

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Saúde – OMS (1993), atualmente podemos definir a depressão como um transtorno de

humor ou afetivo, cuja perturbação fundamental é uma alteração do humor ou afeto. As

alterações de humor encontradas nos transtornos acima citados são normalmente

acompanhadas de uma alteração no nível global de atividade e a maioria dos sintomas é

secundária ou facilmente compreendida no contexto de tais alterações. Estas podem ou não

estar vinculadas a eventos estressantes, podendo aparecer em qualquer faixa etária.

O DSM IV traz os seguintes sintomas para o diagnóstico do estado depressivo maior:

estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo; anedônia: interesse

diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de rotina; sensação de inutilidade

ou culpa excessiva; dificuldade de concentração: habilidade freqüentemente diminuída para

pensar e concentrar-se; fadiga ou perda de energia; distúrbios do sono: insônia ou

hipersônia praticamente diárias; problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;

perda ou ganho significativo de peso, na ausência de regime alimentar; ideias recorrentes de

morte ou suicídio (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV, 1994).

Para um melhor entendimento da depressão infantil, se faz necessário uma

explanação do seu histórico (enquanto depressão caracterizada como da infância), o qual

será contemplado a seguir.

Baptista e Golfeto (2000) referem que os quadros depressivos na infância

demoraram a ser reconhecidos, pois muitos duvidavam de sua existência porque as crianças

eram consideradas como portadoras de "estruturas de personalidades imaturas" e não

podiam experienciar transtornos de humor.

Bandim et al. (1995) afirmam que somente a partir da década de 60,

sistematizaram-se investigações no campo da psicopatologia infantil. O Instituto Nacional de

Saúde Mental dos Estados Unidos oficialmente reconheceu a existência da depressão em

crianças e adolescentes a partir de 1975 (BAHLS, 2002).

Há alguns anos atrás a depressão infantil não era reconhecida pelos profissionais de

saúde, seus sintomas eram desconhecidos, também eram escassos o conhecimento e as

pesquisas sobre o assunto, como conseqüência, muitas crianças sofreram e não tiveram a

oportunidade de serem auxiliadas (MILLER, 2003).

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Para Lima (1999) o conceito de depressão na criança, no que diz respeito as suas

características e etiologia, ainda gera controvérsias. De acordo com Baptista e Golfeto (2000)

nos últimos anos, a depressão infantil tem sido objeto de estudos em vários países de forma

abrangente e, a partir daí, foi confirmada a sua presença no campo de psicopatologia

infantil.

Segundo Oliveira et al. (2006) o diagnóstico precoce da depressão e suas

manifestações tem sido objeto de estudo e de discussão entre os profissionais da área da

saúde. Uma das dificuldades que se encontra é a não-existência de uma definição empírica e

amplamente aceita sobre as características e etiologia da depressão em pessoas mais jovens.

Versiani, Reis e Figueira (2000) relatam que vários autores têm chamado a atenção

para o fenômeno da depressão em crianças e adolescentes, que além de ter seu

reconhecimento estabelecido, parece estar mais freqüente e ocorrendo cada vez mais cedo.

Alguns autores apontam que na infância e adolescência, a depressão se caracteriza

por sintomas como irritabilidade, reclamações somáticas, reclusão do convívio social e

humor diminuído. Como exemplo, uma criança pode se queixar de dores no estômago,

dores de cabeça ou falta de amigos. Esses sintomas, em curto prazo, podem ser fontes de

sofrimento para essas pessoas; de outro modo, em longo prazo podem interferir no

desenvolvimento cognitivo, social e emocional delas (ALLEN-MEARES, COLAROSSI,

OYSERMAN e DEROOS, 2003, citado em OLIVEIRA et al. 2006).

Para Poznanski (citado em Barbosa e Lucena, 1995) para o diagnóstico da depressão

infantil é necessário avaliar o humor, conduta ou aparência depressiva; ter pelo menos de

quatro a cinco desses seguintes sintomas: retraimento social, problemas de sono, queixas ou

fadiga, hipoatividade, anedônia, baixa auto-estima ou dupla patologia, dificuldade no

trabalho escolar, ideação mórbida ou ideação suicida. Com duração mínima de pelo menos

um mês.

Segundo Del Porto (1999) os sintomas depressivos mais comuns na infância e

adolescência são os atípicos, caracterizados por irritabilidade, hiperatividade e

agressividade. Os sintomas clássicos, como tristeza, diminuição da atenção e da

concentração, perda de confiança em si mesmo, sentimentos de inferioridade e baixa

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autoestima, idéias de culpa e inutilidade, tendência ao pessimismo, transtornos do sono e da

alimentação e, dependendo da gravidade, ideação suicida, também pode ocorrer.

Para Lima (2004) é possível notar que os sintomas variam de acordo com a idade da

criança, quanto menor a criança, mais somáticos são os sintomas apresentados e mais a

irritabilidade está presente; e, à medida que a criança cresce, ela poderá apresentar mais

sintomas do tipo adulto, como, por exemplo: isolamento, culpa, choro fácil, pensamento

suicida, anedônia. O importante sempre é lembrar que existe uma variação do humor que

deve ser considerada. A violência, maus tratos e perda dos pais, têm sido considerados como

fatores de risco para depressão por diversos autores (DELL'AGLIO et al. 2004).

Segundo Cruvinel e Boruchovitch (2003) não se tem dados científicos suficientes

para afirmar se a dificuldade de aprendizagem é um fator de risco para depressão ou se

sintomas depressivos acarretariam uma dificuldade de aprendizagem, mas a hipótese de que

crianças com dificuldade de aprendizagem seriam fortes candidatas a depressão é

intensamente defendida por muitos autores, pois uma criança com limitação cognitiva

dificilmente alcança um nível de desempenho esperado, não sendo reconhecida e elogiada

pelos colegas e professores, ao passo que seus amigos recebem reconhecimento e elogios

pelo desempenho alcançado.

Para Lima (2004) os fatores predisponentes podem ser multifatoriais: genéticos,

sociológicos e antecedentes psicológicos. A depressão na criança pode ser precipitada por

problemas adversos de longa duração, problemas familiares e fatores de personalidade. A

criança filha de pais depressivos tem risco para uma variedade de transtornos psiquiátricos,

incluindo condições depressivas (LIMA, 2004).

Apesar de todas as referências acima, este estudo busca entender a depressão

infantil numa perspectiva social. Não querendo de forma alguma desqualificar a

sintomatologia apontada por esses autores, mas pretende-se aqui problematizar essa

questão, no sentido de enfatizar a importância da compreensão do contexto onde o sujeito

está inserido e a partir daí pensar que os sintomas apresentados podem variar de forma

significativa, de sujeito para sujeito. O enfoque social será abordado posteriormente quando

for pertinente a discussão dos dados aqui obtidos.

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3.2 Bullying

Segundo Albino e Terêncio (2009) o bullying, ainda demanda esclarecimentos. É

uma denominação importada da língua inglesa, aparentemente ganhou o sentido hoje

usado a partir das pesquisas do Professor Dan Olweus, na Universidade de Bergen –

Noruega, iniciadas no fim da década de setenta. Esse pesquisador desenvolveu a primeira

grande investigação sistemática sobre o tema. Por um período considerável de tempo, até

próximo dos anos 90, pouco interesse internacional despertou em relação ao problema.

Atualmente, além da Noruega, os Estados Unidos e Espanha são países com maior

desenvolvimento de pesquisas sobre o tema.

Já Lopes Neto e Mascarenhas (2006) referem que até pouco tempo atrás, a prática

do bullying escolar costumava ser vista pelos adultos, inclusive pais, professores e diretores,

como brincadeiras pueris, próprias à idade infantil ou adolescente. Falava-se, inclusive, em

ser algo que faz parte da iniciação à vida adulta.

Um dos primeiros casos com repercussão internacional sobre o tema aconteceu na

Noruega, em 1983, quando três adolescentes que sofriam bullying severo de colegas

acabaram cometendo suicídio. O caso chamou a atenção do Ministério da Educação daquele

país, que iniciou uma campanha nacional contra o bullying escolar (ALBINO e TERÊNCIO,

2009).

Os autores já citados referem que no Brasil, o primeiro grande levantamento foi

realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Juventude -

ABRAPIA, entre 2002 e 2003. A pesquisa, que envolveu 5.875 estudantes de 5ª a 8ª séries de

onze escolas cariocas, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente

envolvidos em atos de bullying naquele período, sendo 16,9% vítimas (ou alvos), 10,9%

agressores-vítimas (ou “bully/vítimas”) e 12,7% agressores ou autores de bullying (ALBINO e

TERÊNCIO, 2009).

Também são encontrados sintomas comuns em pessoas que apresentam bullying:

concentração e atenção reduzidas, auto-estima e autoconfiança reduzidas, idéias de culpa e

inutilidade, visões desoladas e pessimistas de futuro, idéias ou atos autolesivos ou suicídio,

sono perturbado e apetite diminuído (OMS, 1993).

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A denominação do fenômeno bullying é definida como todas as atitudes agressivas,

intencionais e repetitivas adotadas por uma pessoa ou um grupo contra outro(s), causando

dor, angústia e sofrimento. Tal forma de violência ocorre em uma relação desigual de poder,

caracterizando uma situação de desvantagem para a vítima, a qual não consegue se

defender com eficácia (ALBINO e TERÊNCIO, 2009).

Para Fante (2005), o bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma

vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de

apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de

causar traumas ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos, assim como os outros tipos de

violências

O mesmo autor coloca que as conseqüências para as vítimas desse fenômeno são

graves e abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o déficit de

concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o absentismo e a evasão escolar. No

âmbito da saúde física e emocional, a baixa na resistência imunológica e na auto-estima, o

stress, os sintomas psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e o suicídio

(FANTE, 2005).

Segundo Lopes Neto (2005) os sintomas e sinais a serem observados em alunos

alvos de bullying são: enurese noturna, alterações do sono, cefaléia, dor epigástrica,

desmaios, vômitos, dores em extremidades, paralisias, hiperventilação, queixas visuais,

síndrome do intestino irritável, anorexia, bulimia, isolamento, tentativas de suicídio,

irritabilidade, agressividade, ansiedade, perda de memória, histeria, depressão, pânico,

relatos de medo, resistência em ir à escola, demonstrações de tristeza, insegurança por estar

na escola, mau rendimento escolar e atos deliberados de auto-agressão.

O tempo e a regularidade das agressões contribuem fortemente para o

agravamento dos efeitos. O medo, a tensão e a preocupação com sua imagem podem

comprometer o desenvolvimento acadêmico, além de aumentar a ansiedade, insegurança e

o conceito negativo de si mesmo (LOPES NETO, 2005).

Para os agressores ocorre o distanciamento e a falta de adaptação aos objetivos

escolares, à supervalorização da violência como forma de obtenção de poder, o

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desenvolvimento de habilidades para futuras condutas delituosas, além da projeção de

condutas violentas na vida adulta. Para os “espectadores”, que é a maioria dos alunos, estes

podem sentir insegurança, ansiedade, medo e estresse, comprometendo o seu processo

socioeducacional (FANTE, 2005).

Segundo Lopes Neto (2005) o agressor de bullying podem ser depressivos,

inseguros e inoportunos, procurando humilhar os colegas para encobrir suas limitações. Este

costuma adotar tais comportamentos: agressividade, hiperatividade, impulsividade,

distúrbios comportamentais, dificuldades de atenção e desempenho escolar deficiente.

A combinação da baixa auto-estima e atitudes agressivas e provocativas é indicativa

de uma criança ou adolescente que tem como razão para a prática de bullying, provável

alterações psicológicas, devendo merecer atenção especial (LOPES NETO, 2005).

Fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos da própria personalidade e

influências familiares, de amigos, da escola e da comunidade, constituem riscos para a

manifestação do bullying e causam impacto na saúde e desenvolvimento de crianças e

adolescentes (LOPES NETO, 2005).

Para Neto e Saavedra (2004) algumas condições familiares adversas parecem

favorecer o desenvolvimento da agressividade nas crianças. Pode-se identificar a

desestruturação familiar, o relacionamento afetivo pobre, o excesso de tolerância ou de

permissividade e a prática de maus-tratos físicos ou explosões emocionais como forma de

afirmação de poder dos pais.

Em sua tese de doutorado Lisboa (2005) verificou que a agressividade individual é

um fator de risco para a vitimização entre pares.

Da mesma forma como na depressão infantil, este estudo pretende compreender o

bullying como um fenômeno eminentemente social que vai acontecer sempre a partir de um

contexto de relacionamentos, sem buscar inocentes ou culpados. Posteriormente será feita

a análise com base nestes dados coletados.

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4 POSSÍVEL RELAÇÃO ENTRE O BULLYING E A DEPRESSÃO INFANTIL

Esta seção, assim como as anteriores, trata-se de verificar na literatura o que está

sendo discutido, abordado e pesquisado desde 1994 até 2011. Não significa que a autora

está conivente com as informações aqui relatadas através da pesquisa.

A partir de dificuldade de encontrar estudos que objetivassem estudar a correlação

entre bullying e depressão em língua portuguesa, a acadêmica procurou estudos em língua

inglesa a fim de trazer contribuições de estudos em outros países, sendo os mesmos

instrumentos para aprofundar a percepção da temática abordada.

Nansel et al. (2001) descrevem que embora o contexto da violência entre os jovens

americanos é uma preocupação mais atual, o assédio moral (bullying) é raramente abordado

e não há dados nacionais1 disponíveis sobre a prevalência de bullying. Para isso os autores

estudaram 15.686 alunos da 6ª a 10ª série em escolas públicas e privadas em todo os

Estados Unidos e que completaram o Questionário de Comportamento da Organização

Mundial da Saúde na Escola. O levantamento dos dados se deu durante a primavera de 1998

. Esta pesquisa teve como objetivo principal medir a prevalência de comportamentos de

bullying entre os jovens dos Estados Unidos e assim determinar a associação de bullying e

agressão com indicadores de ajustamento psicossocial, incluindo problemas de

comportamento e adaptação escolar. O instrumento utilizado pautou-se em auto-relato dos

alunos quanto ao envolvimento em ações de bullying.

Os resultados obtidos por Nansel et al. (2001) mostraram que um total de 29,9% da

amostra relataram envolvimento moderada ou frequente em bullying, como agressor

(13,0%), vítima (10,6%) ou ambos (6,3%). Os meninos tinham maior probabilidade do que as

meninas de serem tanto agressores como vítimas de bullying. A frequência do fenômeno foi

maior entre a 6ª e a 8ª série do que entre a 9ª e a 10ª série nos alunos. As consequencias do

bullying foram associadas com um ajustamento psicossocial ruim, no entanto, diferentes

padrões de associações do fenômeno ocorreram entre os agressores, vítimas e agressores-

vítimas. A partir destes dados, Nansel et al. (2001) concluíram que a prevalência de bullying

1 Neste caso entende-se nacional como Estados Unidos, aonde foi feita a pesquisa.

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entre os jovens dos Estados Unidos é substancial. Dadas as dificuldades comportamentais e

emocionais simultâneas provindas do assédio moral, bem como o potencial a longo prazo de

resultados negativos para estes jovens, a questão do bullying merece atenção séria, tanto

para futuras pesquisas e intervenção preventiva.

De acordo com Lund et al. (2008) o bullying entre as crianças está associado com

sintomas de depressão. Há pouco conhecimento sobre consequências de longo prazo

oriundos das práticas de bullying. O objetivo do estudo foi examinar a associação entre o

bullying na escola e depressão na meia-idade controlado para classe social de adultos e

saúde mental dos pais. As análises foram baseadas na pesquisa de 2004 entre os homens

nascidos em 1953 na Dinamarca (totalizando uma amostra de 6.094 pessoas). Informações

sobre a depressão foram obtidas através do Inventário de Depressão Maior (MDI)

(depressão prevalente) e por uma medida de depressão médico diagnosticada pela primeira

vez entre as idades 31-51 anos. Informações sobre o bullying foi baseada em uma medida de

recapitulização de bullying na escola categorizados em três dimensões: a ocorrência,

intensidade e duração.

Os resultados do estudo de Lund et al. (2008) apontaram que em comparação a

indivíduos que nunca haviam sido intimidados, os expostos ao bullying na escola tinham um

risco significativamente aumentado de terem sido diagnosticados com depressão entre as

idades 31-51 anos. A longa duração e a alta intensidade de bullying foram fatores de risco

para a depressão. A inclusão de fatores de possíveis confusões (a doença mental dos pais)

atenuou levemente as associações, mas, as associações se mantiveram estatisticamente

significativas. Diante disto, os autores concluíram que a comparação da incidência de longo

prazo de depressão entre homens de meia idade que sofreram altos e baixos níveis de

bullying na escola pode indicar que ser vítima deste fenômeno na escola é um fator que

contribui para o desenvolvimento de depressão. Estudos longitudinais prospectivos são

necessários para confirmar o efeito de bullying na escola sobre a depressão de adultos

(LUND et al. 2008).

Para West e Salmon (2000) o bullying é comum nas escolas e é frequentemente

visto como uma parte inevitável da vida escolar. Crianças que são maltratadas tendem a ser

mais ansiosas e inseguras do que seus pares. Os autores relatam o caso de um menino de 13

anos de idade que foi intimidado a partir da idade de 9 e apresentado à Equipe de Saúde

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Mental do Adolescente e da Criança (CAMHS) com uma depressão psicótica. A melhora

clínica e re-integração na escola foi alcançada pelo uso de medicação psicotrópica e através

de trabalhos na construção de auto-estima para que o paciente poderia afirmar-se, tanto

com colegas quanto com adultos. Há evidências que sugerem que crianças e adolescentes

que são vítimas de bullying têm aumentado as taxas de referência para o CAMHS,

particularmente com sintomas de depressão (WEST e SALMON, 2000).

Craig (1998) cita em seu artigo que os resultados de Olweus (1991) levaram à

descoberta que a agressão entre meninos de 13 a 16 anos está assossiada à depressão. O

autor ainda coloca que Neary e Joseph (1994) acharam a mesma correlação de agressão-

depressão em meninas com idades parecidas. Craig (1998) ainda coloca que Slee (1995) em

sua pesquisa constatou associação entre vitimização e depressão em amostras compostas

por meninos e meninas.

De acordo com Craig (1998) como o bullying cuja definição envolve relações socias

(embora negativas) e ocorre com frequência na presença de outros, a ansiedade "social" foi

alvo de sua pesquisa. Silverman La Greta & Wassterin (1995 citado em Craig, 1998)

argumentam que a característica crítica da ansiedade é a exposição repetida aos estímulos

em que um indivíduo descobre que há uma probabilidade de perigo ou dano. No entanto,

este estudo revela que a depressão avaliada seja resultado de uma função da vitimização

repetida. Todavia, nenhuma das estratégias agressivas ou tipos de vitimização prevêem

depressão. Desta forma, a depressão pode ser uma função do funcionamento mais geral,

não especificamente relacionados com o bullying e a vitimização.

Por fim, Craig (1998) conclui que como o bullying e a vitimização continuam ao

longo do tempo, as crianças vítimas pesquisadas podem aumentar seus sentimentos de

ansiedade (ou seja, a antecipação de um futuro bullying). Além disso, eles podem vir a se ver

como merecedores destes ataques dos colegas, o que contribuiria para o desenvolvimento

da depressão e sensação de desamparo. Em outras palavras, para as vítimas, há uma relação

cíclica negativa entre ansiedade e vitimização. Da perspectiva dos agressores, este aumento

da ansiedade pode servir para reforçar ainda mais a prática de "comportamentos negativos"

e aumentar a probabilidade de futuros ataques. Também é interessante notar que os

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agressores pesquisados tinham níveis de ansiedade significativamente menor do que as

vítimas.

Os dados de Salmon, James e Smith (1998) defendem a ideia de que as crianças

vítimas de bullying são mais ansiosos e agressores são menos ansiosos do que seus pares. Os

autores ainda colocam que a ansiedade por fazer parte do quadro dos sintomas depressivos

pode ter relação das agressões com a depressão.

Seals e Young (2003) relatam que seus estudos2 revelaram que os escores médios

de agressores e vítimas não foram significativamente diferentes, no entanto, ambos os

agressores e as vítimas tinham escores de depressão significativamente maior do que os

outros colegas que não eram nem agressores nem vítimas do fenômeno. Os achados deste

estudo em relação à depressão estão de acordo com os relatados por Slee (1995 citado em

Seals e Young, 2003) e outros (Duncan, 1999; Tritt e Duncan, 1997 citado em Seals e Young,

2003), que constatou que as vítimas estavam mais deprimidos do que os agressores e os

estudantes não envolvidos em bullying, mas que de alguma forma participaram de bullying

(espectadores) também mostrou um grau de depressão.

Neste estudo apresentado a cima, ambos os agressores e as vítimas estavam mais

deprimidas do que os alunos que não eram nem agressores nem vítimas. Isto tem

implicações para educadores em que a depressão é muitas vezes associada a

comportamentos auto-destrutivos e interação social diminuída, bem como com diminuição

do desempenho acadêmico (SEALS e YOUNG, 2003).

Para Slee (1995) a vitimização é cada vez mais reconhecida em todo o mundo como

um aspecto que pode ser prejudicial psicologicamente, deteriorando fisicamente, e isolando

socialmente da vida escolar em um contexto relativamente pequeno, mas, significativo no

espaço infantil. O principal objectivo do estudo de Slee (1995) foi examinar a relação entre

três dimensões das relações das crianças por pares, ou seja, a tendência a serem vítimas, a

serem agressores e a depressão oriunda do afastamento social. Questionários foram

2 Os pesquisadores utilizaram três instrumentos para coleta de dados: o Peer Questionnaire

Relations (PRQ; Rigby & Slee, 1995), o Rosenberg Self-Esteem Scale (RSE; Rosenberg, 1965) e o Inventário de

Depressão Infantil (CDI; Kovacs, 1983).

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aplicados a 353 estudantes do ensino fundamental com intuito de avaliar várias dimensões

das relações entre pares e depressão. Como previsto pelo autor, a tendência de ser vítima

foi significativamente associada à depressão. Curiosamente houve também uma associação

significativa entre a depressão e os que tendem a ser agressores. Os achados apontam para

a necessidade de identificação precoce e intervenção com as crianças em risco para

problemas de relacionamento com os colegas (SLEE, 1995).

Kumpulainen et al. (1998) colocam que suas descobertas indicam que as vítimas

têm internalização de sintomas psiquiátricos. Isto, segundo os autores, é bastante

compreensível e esperado: é fácil de compreender que os sintomas surgem quando há

internalização bullying (provavelmente de longa duração).

Também é possível que uma depressão existente torna as crianças mais propensas

ao bullying. Há resultados que mostram que as vítimas têm baixa auto-estima (Boulton e

Smith, 1994 citado em Kumpulainen et al., 1998), e são imaturos, solitários, têm menos

habilidades de comunicação, e apresentam dificuldades em resolução de problemas

(McClure e Shirataki, 1989 citado em Kumpulainen et al., 1998).

Frekkes, Pijpers e Verloove-Vanhorick (2004) se designaram a analisar a associação

entre o comportamento de bullying e uma grande variedade de queixas de saúde

psicossomáticas e depressão. O estudo é caracterizado como transversal, participaram 2.766

crianças em idade escolar primária, de 9 a 12 anos. Os alunos preencheram um questionário

sobre o comportamento de bullying e queixas de saúde. Três grupos – agressores, vítimas, e

crianças que sofrem e provocam bullying – foram comparados com o grupo de crianças que

não estão envolvidos em comportamento deste fenômeno. Posteriormente, os riscos de

sintomas psicossomáticos e depressão foram calculados com base nessas categorias.

Assim, os resultados de Frekkes, Pijpers e Verloove-Vanhorick (2004) constataram

que as vítimas tiveram chances significativamente maiores de depressão e sintomas

psicossomáticos em comparação com crianças que não estão envolvidos em

comportamento de bullying. Os principais sintomas encontrados nos grupos foram os

seguintes: dor de cabeça; problemas de sono; dor abdominal; enurese; sensação de cansaço;

e depressão. Os autores ainda consideram que crianças que ativamente são agressores não

têm uma chance maior para a maioria dos sintomas de saúde investigados. Os autores

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propõem que o fato de ser vítima deste fenômeno está fortemente associado a uma ampla

gama de sintomas psicossomáticos e depressão. Estas associações são semelhantes às

queixas conhecidas para ser associada com abuso infantil. Portanto, quando as queixas de

saúde são apresentadas a pediatras e outros profissionais de saúde, estes também devem

estar cientes da possibilidade de que uma criança está sendo vítima de bullying e os mesmos

devem tomar medidas preventivas (FREKKES, PIJPERS e VERLOOVE-VANHORICK, 2004).

Swearer et al. (2001) examinaram as diferenças entre agressores, vítimas, e

agressores-vítimas na internalização da depressão e da ansiedade. Entre os participantes,

133 (66 do sexo masculino e 67 feminino) da 6ª série, alunos de uma escola do ensino

fundamental do centro-oeste dos Estados Unidos, com idades variando de 11 a 13 anos. Os

resultados iniciais indicam diferenças entre agressores, vítimas, agressores-vítimas e

estudantes sem contato com o fenômeno (nem vítimas, nem agressores) em termos de

depressão e ansiedade. Especificamente, agressores-vítimas e agressores tinham mais

probabilidade de serem deprimidos do que vítimas e outros alunos. Os agressores-vítimas e

as vítimas estavam mais propensos a apresentar sintomas ansiosos do que agressores e os

outros estudantes. Assim, surgiu um padrão interessante com relação a interiorização da

psicopatologia. Agressores-vítimas podem ser o subtipo mais prejudicado com relação à

depressão e ansiedade segundo Swearer et al (2001).

Para Gladstone, Parker e Malhi (2006) há pouca pesquisa empírica examinando os

correlatos históricos e clínicos da exposição do bullying na infância e as suas consequências

em indivíduos adultos. Usando uma avaliação clínica estruturada, os autores estudaram um

grupo de homens e mulheres adultos que apresentassem quadro de depressão para

examinar os fatores de risco na infância e as características distintivas comórbidas

associadas com os relatórios de exposição ao bullying.

Os autores constataram que pouco mais de um quarto dos homens e das mulheres

relataram ter sofrido bullying de forma grave e traumática. Várias outras questões da

entrevista também revelaram vários outros fatores de risco na infância. A correlação da

infância, que foram particularmente relevantes para a exposição ao bullying, foram

demonstradas como a super proteção e controle abusivo por parte dos pais, doença ou

deficiência, e, a tendência de ter um temperamento inibido no início da vida. A experiência

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do bullying na infância foi fortemente relacionada a altos níveis de ansiedade comórbida, e

maior prevalência de ambos a fobia social e agorafobia. Independente de outros fatores de

risco na infância, a exposição ao bullying foi especialmente preditivo dos níveis mais

elevados de ansiedade em estado geral além da tendência para estar ansioso quando se está

sob estresse. Estes resultados são compatíveis com ambos os estudos transversais e

prospectivos das amostras com crianças e adolescentes. Assim é possível destacar a

importância do potencial etiológico da vitimização nas experiências iniciais de pares para

uma percentagem de adultos que sofrem de depressão com ansiedade comórbidos

(GLADSTONE, PARKER e MALHI, 2006).

Ivarsson et al. (2005) estudaram uma amostra de 237 adolescentes na escola

secundária. A amostra respondeu um questionário sobre o bullying referentes a ser vítima,

agressor, ideação suicida e outras informações biográficas. Sintomas psicológicos foram

avaliados pelo Relatório de Auto-Juventude (YSR) e da Escala de Auto-Avaliação da

Depressão (DSRS) suplementado por agentes de saúde escolar para avaliação extra. O

fenômeno bullying foi presente em: agressores (18%), vítima (10%) e agressor-vítima (9%).

Agressores tinham primordialmente externalização de sintomas (delinqüência e agressão) e

o grupo de agressores-vítimas ambos de externalização e internalização sintomas, bem

como altos níveis de suicídio. Adolescentes no grupo de agressores apenas tinham mais

chances de serem meninos e ter problemas de atenção. Além disso, uma proporção

substancial dos adolescentes no grupo de vítimas só foi julgada pelo oficial de saúde da

escola a ter sintomas psiquiátricos e a dificuldades da função social.

Em seus estudos, Kaltiala-Heinof et al. (2000) avaliaram cerca de 9.000 alunos de

14-16 anos de idade, adolescentes finlandeses, que participam no Estudo de Promoção de

Saúde Escolar. O estudo objetivou investigar sobre o bullying e a vitimização em relação aos

sintomas psicossomáticos, depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e uso de

substâncias. Os resultados mostraram que um total de 9% das meninas e 17% dos rapazes

estavam envolvidos em bullying em uma proporção semanal. Sintomas de depressão,

ansiedade e outros de cunho psicossomático foram mais freqüentes entre os agressores-

vítimas e igualmente comum entre agressores e vítimas. Beber frequentemente em excesso

e o uso de outras substâncias foram mais comuns entre os agressores e, posteriormente,

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entre agressores-vítimas. Entre as meninas, os transtornos alimentares estão associados

com o envolvimento em atos de bullying em qualquer papel, entre meninos com sendo

agressores-vítimas. O fenômeno, segundo os autores, deve ser visto como um indicador de

risco de vários transtornos mentais na adolescência.

Agressores, vítimas e espectadores de bullying foram estudados por Roland (2002).

Em sua pesquisou e comparou sintomas depressivos e pensamentos suicidas relacionados ao

fenômeno. A amostra incluiu 2.088 meninos e meninas noruegueses da 8 ª série. Os

resultados revelaram que ambos os agressores e as vítimas tinham significativamente

escores maiores (médios) que os alunos espectadores sobre os sintomas depressivos e

pensamentos suicidas. Vítimas tiveram uma pontuação média significativamente maior em

pensamentos depressivos do que os agressores. Sobre pensamentos suicidas, a pontuação

média para os “valentões” era superior ao das vítimas, mas isso não teve diferença

significativa. Meninas tiveram escores médios significativamente mais elevados do que os

meninos sobre os sintomas depressivos e os pensamentos suicidas. Questões de causalidade

entre os sintomas depressivos, pensamentos suicidas e envolvimento em bullying são pouco

discutidos e pesquisas sobre este tema são sugeridos pelo autor.

Embora tenha aparecido na literatura pesquisada uma relação de gênero, optou-se

por não aprofundar essa discussão já que o gênero não é foco deste estudo, e portanto não

interfere nos resultados do trabalho.

Bond et al. (2001) propuseram estabelecer a relação entre a vitimização de pares

recorrentes ao fenômeno do bullying e ao aparecimento de sintomas auto-relatados de

ansiedade ou depressão nos primeiros anos da adolescência. O estudo teve duração de dois

anos nas escolas secundárias em Victoria, Austrália. Participaram da pesquisa 2.680

estudantes do 8º ano e do 9 º ano. O método utilizado foi a entrevista clínica e os

participantes eram escolhidos de acordo com o envolvimento com o bullying (vitimização ou

agressão prévia ao estudo).

A prevalência de vitimização segundo levantamento do 8º ano foi de 51% e

prevalência de sintomas auto-relatados de ansiedade ou depressão foi de 18%. A incidência

de auto-relato de sintomas de ansiedade ou depressão no 9 º ano (7%) foi significativamente

associada com a vitimização. A vitimização recorrente permaneceu preditiva de sintomas

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auto-relatados de ansiedade ou depressão para as meninas, mas não para os meninos. No

entanto, a vitimização relatada no 9º ano não foi associada com os sintomas de ansiedade e

depressão (BOND et al. 2001).

Os autores citados acima concluíram que uma história de vitimização e de

comprometimento nas relações sociais prediz o aparecimento de problemas emocionais em

adolescentes. Problemas emocionais anteriormente recorrentes não são significativamente

relacionados com a vitimização futura. Para os autores, estes resultados têm implicações

para a seriedade com que a ocorrência da vitimização é tratada e para o foco das

intervenções destinadas a resolver problemas de saúde mental em adolescentes (BOND et

al. 2001). Ressalta-se aqui que este estudo, embora feito com adolescentes, ainda se faz

dado desta pesquisa pelo fato de a linha que difere a infância da adolescência é peculiar de

sujeito para sujeito.

De acordo com Neary e Joseph (1994) o bullying é pensado como um fenômeno

generalizado nas escolas, que muitas vezes tem graves consequências psicológicas para

aqueles que são vítimas. Há necessidade, portanto, identificar as crianças que estão sendo

intimidadas. O objetivo do estudo destes autores, portanto, foi desenvolver uma escala de

auto-relato breve. A escala de 6 itens foi desenvolvida a partir do Perfil de Autopercepção

para Crianças. 60 alunas foram avaliadas e os escores mais altos na escala foram associados

com pior percepção de auto-estima e competência em uma variedade de domínios

específicos, bem como uma maior depressão.

Para Klomeka et al. (2008) pouco se sabe sobre a associação entre o

comportamento de bullying na infância com depressão e ideação suicida aos 18 anos. Em

seu estudo, os autores contaram com uma amostra que incluiu 2.348 meninos nascidos em

1981. Informações sobre o bullying foram recolhidas através de auto-relato, relato dos pais e

relatórios do professor. Depressão e ideação suicida foram avaliados durante o exame

finlandês de convocação militar. Com base em modelos de regressão, os meninos que foram

agressores frequentemente, mas não apenas, por vezes, eram mais propensos a ser

severamente deprimidos e relatar ideação suicida em comparação com os meninos que não

eram participantes do fenômeno do bullying. Os dados quando analisados na infância da

amostra, mostrou uma relação sólida entre o bullying e a depressão, no entanto a ideação

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suicida não foi significativa. Meninos que eram apenas vítimas não tinham mais

probabilidade de ficarem deprimidos ou relataram ideação suicida aos 18 anos. Em meninos

que eram freqüentemente agressores-vítimas foi constatado um risco para depressão

posterior (KLOMEKA et al. 2008).

A descoberta de Klomela et al. (2008) só pode ser generalizada para os meninos que

estavam envolvidos com o bullying em idade escolar primária. Os dados obtidos aos 18 anos

eram baseados apenas em auto-relatos e a respeito da intimidação/vitimização, foram feitas

perguntas muito gerais. Os autores então concluem que o comportamento infantil do

bullying é um fator de risco para a depressão mais tarde. Uma triagem e intervenção para o

comportamento do bullying no período escolar precoce é recomendado para evitar

problemas de internalização subsequentes no final da adolescência (KLOMEKA et al. 2008).

De acordo com Kim et al. (2006), uma relação causal entre o bullying escolar e

comportamento psicopatológico tem sido o foco do debate substancial. Estudos anteriores

não conseguiram reunir provas de causalidade em qualquer direção, em grande parte devido

a restrições metodológicas tais como desenhos estudo transversal, variância de método e as

insuficiências analíticas. Em seu estudo, portanto, objetivou determinar a direção da relação

causal entre o comportamento psicopatológico e bullying escolar. Participaram da coleta de

dados duas escolas de ensino médio coreanas. Contou com um total de 1.655 alunos de 7ª e

8ª série entre os anos de 2000 e 2001.

As principais medidas da escola acerca do bullying foram avaliadas por indicação

dos colegas da amostra, e sete subescalas do relatório Youth Self-coreano foram utilizados

para identificar sintomas de comportamentos psicopatológicos. O bullying escolar foi

categorizado em 4 grupos: vítimas, agressores, agressores-vítimas e nenhum dos dois. A T-

score sobre o relatório Youth Self-coreano foi superior a 65 foi considerado como um

indicador clinicamente significativo. De acordo com os autores, os problemas sociais

aumentam o risco de se tornar uma vítima ou um agressor-vítima, e essas associações

desapareceram quando o status de referência de bullying foi ajustado. Dez meses depois, os

indivíduos que foram vítimas no início do estudo mostraram aumento do risco de problemas

sociais, aqueles que foram considerados agressores tinham aumentado a agressão, e os

agressores-vítima haviam aumentado a agressão e problemas de externalização. As análises

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que examinaram a história de exposição forneceram evidências adicionais para o efeito

causal da experiência de bullying no desenvolvimento de comportamentos psicopatológicos,

porque a maioria das formas de comportamento psicopatológico levou ao assédio moral

através do relatório Youth Self-coreano. No entanto, a maioria das formas de surgimento de

comportamentos psicopatológicos foi associada com a experiência antecedente de bullying

(KIM et al. 2006).

Os resultados do estudo acima permitem concluir que o comportamento

psicopatológico, incluindo problemas sociais, agressividade e problemas de externalização

de comportamento, é uma consequência e não uma causa de experiências bullying. Esta

relação causal é suportada pela força e especificidade da associação e da antecedência

temporal de bullying. Isto devido ao bullying escolar ser um conhecido correlato de violência

juvenil, tal constatação acrescenta maior urgência para a busca de programas para prevenir

ou diminuir o bullying entre escolares (KIM et al. 2006).

Mills et al. (2004) examinou a prevalência de sintomas depressivos, incluindo

ideação/comportamento suicida entre jovens que sofrem bullying e aqueles que não sofrem

do fenômeno. Participaram 209 estudantes, sendo eles 97 meninos e 112 meninas

matriculados regurlamente na 8ª série escolar com idades entre 12 e 15 anos. Os

participantes foram entrevistados através do Schedule for Affective Disorders e o

Schizophrenia for School Aged Childrem e as escalas de ideação e comportamento suicida

para crianças (the Hoplessness Scale for Childrem). Os resultados apontam que ser vítima de

bullying demonstra significativa associação com a depressão e ideação suicida. Os resultados

também indicaram que as vítimas mostraram ter mais probabilidade de comportamentos

suicidas. Por fim, as vítimas parecem procurar mais serviços psiquiátricos. Os autores então

concluem que os achados sugerem que o problema que é o bullying precisa ser mapeado

dentro de território nacional, em todas as escolas para que se possam criar intervenções e

fazer futuras pesquisas sobre as consequências psicológicas causadas pelo fenômeno (MILLS

et al. 2004).

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Van Der Wal, Wit e Hirasing (2003) avaliaram a associação entre bullying (direto e

indireto3) e indicadores de saúde psicossocial para os meninos e meninas separadamente. A

pesquisa foi feita em uma escola com base em inquérito por questionário de bullying,

depressão, ideação suicida e comportamento delinquente em escolas primárias em

Amsterdam, Holanda. A amostra contou com um total de 4.811 crianças de 9 a 13 anos.

Os resultados de Van Der Wal, Wit e Hirasing (2003) apontaram que a depressão e a

ideação suicida são resultados comuns de ser vítima de bullying em ambos os meninos e as

meninas. O fato de ser vítima direta teve um efeito significativo sobre a depressão e ideação

suicida em meninas, mas não nos meninos. Meninos e meninas agressores de bullying mais

frequente foi observado um comportamento delinqüente. Os autores ainda ressaltam que o

bullying direto é um fator de risco muito maior do comportamento delinquente do que o

bullying indireto. Isso foi constatado tanto para meninos quanto para meninas. Meninos e

meninas agressores também relataram, mais frequentemente sintomas depressivos e

ideação suicida. Os dados obtidos levam a conclusão que a associação entre bullying e a

saúde psicossocial difere principalmente entre meninas e meninos, bem como entre as

formas diretas e indiretas de bullying. Os autores então propõem que intervenções que

visem a diminuição do fenômeno devem prestar atenção a estas diferenças para melhorar a

eficácia (VAN DER WAL, WIT e HIRASING, 2003).

Rigby (1994) se propõem a examinar o funcionamento do relacionamento familiar e

o envolvimento de alunos adolescentes em bullying (tanto vítimas quanto agressore).

Estudantes australianos do ensino médio com idades entre 13 e 16 anos completaram um

Questionário de Funcionamento da Família em Adolescência (FFAQ) como uma medida do

bem-estar psicossocial de suas famílias. Os estudantes também foram classificados com base

em auto-relatos como agressores (9%), vítimas (11%), agressores e vítimas (2%), e outros

(78%).

3 Entende-se bullying direto como aquele em que há participação efetiva (caso dos agressores e

vítimas) e; bullying indireto como aquele que não há participação efetiva (caso dos espectadores).

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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de todo material levantado pode-se então chegar à conclusão de que a

literatura pesquisada sugere que as práticas de bullying tanto para agressores quanto para

vítimas e até para os que sofrem e provocam o fenômeno podem gerar sintomas

depressivos e inclusive ansiosos. No entanto, este estudo pretende refletir de forma crítica

sobre esse olhar da literatura, já que na perspectiva deste trabalho tanto o bullying quanto a

depressão infantil são considerados fenômenos sociais e que, portanto, sempre vão surgir a

partir de um contexto de relação, não podendo ser analisados fora dele.

No entanto, de maneira geral, pode-se dizer que a literatura tende a adotar viés

para compreender essa associação à uma linearidade causal entre o fenômeno do bullying e

ao aparecimento da sintomatologia depressiva em crianças. A principal questão que

fundamenta essa afirmação é que a maioria dos textos pesquisados trata somente do

fenômeno de forma clínica individual, sem nem ao menos apontar para as questões das

escolas, dos profissionais envolvidos (educadores, etc.), e nem para as questões familiares. É

interessante notar que apenas um artigo tratou de estudar as interações familiares em

crianças envolvidas em bullying. Portanto é significativa a escassez de estudos que vão

adotar uma perspectiva social para compreender esses fenômenos.

O questionamento a ser fazer então é: o que seria este olhar social acerca do

fenômeno do bullying e da depressão?

Primeiramente, ao observar as vítimas (e por vezes os agressores) recorrentes do

fenômeno pode-se perceber que a maioria das crianças não condiz com o comportamento

ou com a aparência esperada pela sociedade. Em suma, a grande parte dos afetados

diretamente pelo bullying é, de alguma forma, considerado diferente. Em alguns casos são

mais gordinhos, mais baixinhos, com o cabelo diferente da maioria, com vestimentas e

gostos que se afastam dos padrões da sociedade e até mesmos os que gostam de estudar ou

não são tão extrovertidos, são alvos das agressões.

Tritt e Duncan (1997) em seus estudos pesquisaram os níveis de auto-estima em

jovens adultos que na infância foram agressores, aqueles que foram as vítimas, e as crianças

que não estavam envolvidas com o fenômeno. No entanto, os resultados mostram que

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adultos agressores e suas vítimas relataram solidão e baixa auto-estima em proporções mais

significativas do que aqueles que não estão envolvidos em situações de bullying. É

importante considerar que, embora essa seja a opinião dos referidos autores, é delicado

fazer afirmações dessa natureza, já que muitos outros fatores podem ter contribuído para

isso e este estudo se propõe a criticar essa linearidade encontrada na literatura.

Dessa forma, a razão para essa baixa auto-estima pode estar ligada com a imagem

corporal que o sujeito tem dele mesmo. De acordo com Cash (1993 citado em Almeida,

Loureiro e Santos, 2002) a imagem corporal é referida à experiência psicológica do sujeito

sobre seu corpo e seu funcionamento. O sentimento de descontentamento do peso (que em

muitos casos resultam em imagem corporal negativa) é sucedido de pressões culturais que

dão ênfase na magreza e estigma social da obesidade.

A indústria cultural pelos meios de comunicação encarrega-se de criar desejos e

reforçar imagens padronizando corpos. Olhares vão de encontro ao corpo na

contemporaneidade sendo moldado por atividades físicas, cirurgias plásticas e tecnologias

estéticas.

Dada a preocupação crescente do corpo masculino perfeito e o crescente uso de

esteróide (entre outras substâncias similares) entre os homens jovens, Tager, Good e

Morrison (2007) consideraram este um fator alarmante e assim exploraram as associações

entre a imagem corporal, normas masculinas e bem-estar psicológico. Seu estudo analisa as

correlações entre essas construções em 101 estudantes universitários do sexo masculino. Os

resultados revelaram associações significativas entre a aparência física dos participantes a

aspectos de bem-estar psicológico. A auto-aceitação foi constatada como correspondente de

cerca de 20% na avaliação da aparência dos sujeitos. A imagem corporal se correlacionou

positivamente a norma masculina de dominação. No entanto, uma correlação negativa foi

observada entre a vitimização na infância e imagem corporal. Os participantes do estudo

que se consideravam acima do peso relataram menor auto-aceitação do que os

participantes que se consideravam abaixo do peso. Ou seja, estes resultados suportam a

hipótese de que a imagem corporal tornou-se um preditor significativo de bem-estar

psicológico em homens jovens e que o fato de terem sido alvo de gozações na escola está

ligado ao seu bem-estar psicológico na fase jovem (TAGER, GOOD e MORRISON, 2007).

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Se entendermos o bullying como um fenômeno construído socialmente, podemos

pensar que o ser coletivo contemporâneo cada vez mais exige que seus integrantes na

sociedade se vistam de forma parecida, tenham os mesmo gostos, escutem as mesmas

músicas, se admitam todos iguais e “comportados”, que tenham todas as pessoas

características físicas similares. Enfim, o esperado pela sociedade atual não considera a

peculiaridade de cada um, o que torna todos nós diferentes.

A preocupação com este social, exigente de uma homogeneidade entre todos os

sujeitos aumenta cada vez mais, uma vez que os problemas psicológicos, físicos e até sociais

provindos deste são dados alarmantes.

Smolak (2004) coloca que durante as últimas duas décadas, tem havido uma

explosão de pesquisas sobre imagem corporal em crianças e adolescentes. O autor coloca

que a preocupação de pesquisar a imagem corporal em pessoas na fase infantil e

adolescente vem da suposição de que a insatisfação corporal na infância e adolescência cria

um risco para o desenvolvimento da imagem corporal e distúrbios alimentares, bem como a

depressão na idade adulta.

Staffieri (1997) investigou 90 crianças do sexo masculino entre 6 a 10 anos de idade.

Esta amostra foi convidada a atribuir 39 adjetivos diferentes de comportamento/traços de

personalidade para silhuetas que representavam imagens de corpos endomorfo4,

mesomorfo5 e ectomorfo6 e tipos de corpo. Os resultados indicam claramente um

estereótipo comum de traços de comportamento/personalidade associados com vários tipos

de corpo, todos os adjetivos significativos atribuídos à imagem mesomorfa foram favoráveis;

os adjetivos atribuídos a endomorfa foram desfavoráveis (socialmente); os adjetivos

atribuídos ao ectomorfa eram principalmente desfavorável (pessoalmente) e de um tipo

geralmente socialmente submissa. Além disso, os sujeitos mostraram uma clara preferência

4 Corpo de pessoas de elevado peso corporal que têm tendência a acumular gordura, de formas

arredondadas, abdômen saliente e braço e pernas proporcionalmente curtos.

5 Corpo que aparece nas revistas e que hoje é o padrão de beleza, ressaltam a magreza (não

extrema) e o aparecimento de músculos.

6 Corpo tipo longilíneo (estilo modelos de passarela).

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para se parecer com a imagem mesomorfa e demonstraram uma precisão razoável na

percepção de seus tipos próprio corpo.

Além de causar um desconforto para aqueles que não se enquadram nos padrões

impostos, a pressão continua para aqueles que se adequaram não saiam mais para a zona do

diferente. Esta situação juntamente com as consequências nos níveis físico, social e

psicológico gera uma grande mobilização dos profissionais na área da saúde, educação entre

outras. Os transtornos constatados nessa pesquisa (depressão, ansiedade e possíveis

transtornos alimentares) mobilizam um investimento absurdo para o tratamento dessas

questões.

Dados divulgados em 2009 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam

que, nos próximos 20 anos, a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo,

afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e

doenças cardíacas. Segundo a OMS, a depressão será também a doença que mais gerará

custos econômicos e sociais para os governos, devido aos gastos com tratamento para a

população e às perdas de produção. O episódio depressivo maior é uma preocupação

considerável para a saúde pública em todas as regiões do mundo e tem ligação com as

condições sociais.

Já que de alguma forma pode-se constatar que o bullying pode sim causar

sintomatologia depressiva, o que se propõem são ações preventivas para que a depressão

(ao menos quando associada ao fenômeno) esteja em foco e que possa proporcionar uma

vida adulta com menos riscos.

Ainda assim, esta prevenção não pode ser pensada apenas no sentido de tratar os

envolvidos com o bullying. Além da literatura apontar que os espectadores também sofrem

(menos que os agressores e vítimas), a mudança do comportamento social das crianças é

alvo dessas ações. O que deve ser considerado, segundo proposta desta pesquisa, é o

ambiente social. De nada vale proporcionar tratamento para os agressores e vítimas

somente. Os prejuízos psicológicos podem afetar todo o contexto escolar, familiar e social.

Caso as medidas preventivas sejam focadas para trabalhos individuais, de nada vão adiantar.

O fato do bullying estar em destaque na mídia pode ser aproveitado para expandir

o conhecimento científico acerca desta temática e assim conscientizar não só os envolvidos,

mas todas as pessoas. Outras medidas como o acompanhamento com as famílias é

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fundamental. Embora não foram encontrados muitos dados empiricamente comprovados

sobre o sofrimento da família em relação ao bullying não significa que esse sofrimento não

possa existir neste contexto.

Outro campo importante a ser levado em consideração é o ambiente escolar. Em

primeiro lugar questiona-se até que ponto os educadores estão preparados e se sabem lidar

com este fenômeno dentro e fora da escola. Reflete-se também sobre a posição da direção

das escolas a respeito do fenômeno. Mais uma vez a falta de bibliografia a respeito dificulta

a discussão dos dados, uma vez que não se pode apenas supor os fatos, mas constatá-los.

Uma variedade de intervenções pode ser trabalhada a partir dos dados levantados.

A sugestão para futuras pesquisas que objetivem analisar o contexto social nas interações

sociais em que o fenômeno do bullying esteja presente juntamente com a análise do

contexto familiar e escolar é de suma importância para que as ações preventivas possam ter

sucesso afim de baixar as estatísticas de pessoas depressivas que sofreram bullying.

Pode-se dizer também que os objetivos foram alcançados uma vez que foi possível

constatar uma possível relação. A literatura aponta para dados que de alguma forma tentam

estabelecer uma relação entre o fenômeno do bullying e a depressão infantil. Isto sempre

visto a partir de um enfoque social.

Habilidades como a própria pesquisa bibliográfica especialmente em literatura

provinda da língua inglesa foram adquiridas através deste trabalho. O mais importante foi

poder desenvolver o olhar social para o fenômeno estudado e saber proporcionar uma

análise crítica sobre os dados coletados.

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