Bruno Morais Barulho Grafico

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    BArulho grficoA narrativa pela Onomatopeia

    Bruno de Morais Oliveira

    Monografia apresentada junto ao Curso de Artes Visuais da UFMG, na habilitao de Artes Grficas, como requisito

    parcial para a obteno do ttulo de Bacharel.Orientador: Prof. Amir Brito Cadr.

    Belo Horizonte,Fevereiro de 2013.

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    Agradecimentos

    Aos meus pais, aos quadrinistas que me motivaram a me meter nessa furada

    e aos meus companheiros de cerveja.

    Sem vocs nada disso existiria!

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    Introduo 6

    Captulo 1: A Relao Palavra-Imagem na Arte 7

    Captulo 2: Barulhos Grficos 23

    Captulo 3: Roteiro 28

    Captulo 4: Identidade tipogrfica 34

    Captulo 5: As Pginas 38

    Concluindo... 42

    Referncias Bibliogrficas 43

    Sumrio

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    introduo

    Histria em quadrinhos, narrativa grfica, narrativa visual, comic. Qualquer que seja o nome pelo qual prefira chamar, os quadrinhos so um gnero artstico que lida com a palavra e a imagem. Ou seja, existe uma espcie de unio entre literatura e artes visuais, mas no um nem outro; uma terceira coisa.

    Este tipo de coisa no percebido por alguns, que tratam os quadrinhos como arte marginal, pois avaliam o gnero como se fosse literatura ou artes visuais, tal como ressalta Scott McCloud (2006, p. 43-44). O que preciso perceber que o texto no subserviente imagem e vice-versa, eles trabalham em conjunto, e s funcionam desta forma.

    Claro que existem excesses, histrias onde no h uma palavra, por exemplo, mas em casos mais gerais, a supresso do texto alteraria o significado das imagens, tornando-a outra coisa. De qualquer forma, ainda nessas histrias s com imagens, a leitura se assemelha ainda com a da literatura, mantendo o binmio artes-literatura vlido.

    Pois bem, acredito que para um reconhecimento pleno dos quadrinhos enquanto arte, necessrio v-lo como um meio de expresso autnomo. Ainda assim, como fao faculdade em Artes Visuais, creio que dar um enfoque na questo imagtica necessrio, ainda que a palavra no deixe de aparecer, pois o foco da pesquisa.

    Bruno de Morais.

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    captulo 1a relao palavra-imagem na arte

    Tal como a literatura, o teatro e o cinema, as histrias em quadrinhos so um gnero naturalmente narrativo. Sua particularidade em relao a estes reside exatamente no uso concomitante de imagem e palavra escrita. As onomatopeias so um dos signos comunicativos dos quadrinhos, e so um elemento que pertence tanto ao campo da palavra quanto da imagem. Elas interferem na imagem e a ela se incorporam, ao mesmo tempo em que exerce a funo de uma palavra escrita passvel de leitura, isto , no abandonam sua funo primeira de palavra ou um conjunto de grafemas. A onomatopeia nas obras de narrativa visual obedece a preceitos prprios do plano imagtico, tais quais composio, forma e cor, e, portanto, um elemento visual.

    Na histria da arte e da escrita sempre existiu essa ideia da palavra funcionando como imagem, assim como o contrrio (caso dos hierglifos, por exemplo). As iluminuras e capitulares medievais eram tanto letras quanto figura representativa.

    Capitular medieval (xilogravura)

    A ilustrao compe a letra, tornando-se, pois, uma coisa s.

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    Em vrias pinturas e gravuras do extremo oriente aparecem textos em ideogramas que se integram imagem. Em casos mais eloquentes, como no zenga (poema-pintura japons) a composio afetada se o texto suprimido.

    Muitos trabalhos de caligrafia rabe usam as linhas da prpria palavra para constituir desenhos.

    Daruma (nanquim) - Nakahara Nantenbo

    Este poema zen budista, conta com o desenho de um Daruma (boneco que

    representa Bodhidharma, fundador do zen budismo na China). Os ideogramas afetam diretamente na composio do

    todo enquanto imagem.

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    Exemplos de caligrafia zoomrfica rabe. Embora pessoas que no conheam o alfabeto rabe enxerguem essas figuras apenas como desenhos, elas so tambm textos completos e passveis de leitura. A maior parte das caligrafias zoomrficas apresenta a frmula bismillah (em nome de Deus) que inicia os suras do Alcoro.

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    La Colombe Poignarde (caligrama) - Guillaume Apollinaire

    No sculo XX o mundo ocidental comeou uma produo caligrfica semelhante dos rabes, anteriormente citada: os caligramas. Nestes usava-se da caligrafia ocidental para a produo de imagens, tambm usando de textos que fossem legveis e compreensveis. Ao longo do sculo outras aparies artsticas com interesse no uso da palavra enquanto imagem apareceram, como o futurismo, algumas manifestaes no cubismo, construtivismo, dadasmo, na poesia visual, poesia concreta, entre outros.

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    Pndulo - E. M. de Melo e Castro [direita]

    Na poesia concreta a substantivao dos elementos total. Neste exemplo apresentado, o movimento simulado pelas letras faz referncia ao movimento do objeto real ao qual faz meno.

    Violo, Partitura e Copo - Pablo Picasso [esquerda]

    Ainda que no cubismo as colagens de jornal servissem muito como mancha grfica, em alguns casos possvel uma leitura textual, mesmo que incompleta, do texto original. Entretanto, seu uso na colagem ainda primordialmente composicional, imagtico.

    Vence os Brancos com a Cunha Vermelha - El Lissitzky

    As palavras escritas, em conjunto, formam o ttulo da obra, em russo. Mas alm disso elas dinamizam o quadro, assim como as formas o fazem. A interao entre as palavras e as formas clara.

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    At ento procurei mostrar alguns exemplos de variados momentos da histria da arte em que palavras e imagem se interagem e se fundem, alguns de modos mais sofisticados que outros, fazendo da letra e palavra importantes elementos composicionais e, portanto, tambm imagem em si. Neste momento, passo a me dedicar anlise de histrias em quadrinhos, buscando, para tanto, exemplos que se aproximaro mais do uso da onomatopeia nesse gnero artstico.

    O designer grfico Robert Massin diagramou o livro da pea A Cantora Careca, de Eugne Ionesco, usando fotografias em alto contraste e uma expressiva tipografia de modo que, na folha impressa do livro, a encenao se dava graficamente, com direito s falas e simulao das entonaes pela tipografia. Esse tipo de representao grfica de uma atuao remete aos storyboards usados no cinema para auxiliar na direo, que guardam semelhanas formais com os desenhos tpicos dos quadrinhos.

    A Cantora Careca (pginas) - Robert Massin [esquerda e pgina ao lado]

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    Os poetas futuristas j faziam uso de onomatopeias, e as apresentam de uma maneira visual muito interessante. Com a proposta terica de Marinetti sobre a produo de uma poesia mais dinmica, "primitivatizada", com a parole-in-libert, veio a materializao deste conceito nas suas obras escritas. No livro Zang Tumb Tumb o uso extenso de onomatopeias, associado ao uso tipogrfico experimental, garantiu poesia uma visualidade to ou mais importante do que o prprio texto verbal. Letras de vrios tamanhos e vrios eixos de escrita simulavam volumes e a trajetria do rudo, constituindo "equivalentes visuais dos efeitos onomatopaicos das poesias performticas Futuristas" (MENEZES, 1992).

    Zang Tumb Tumb (capa) - Filippo Tommaso Marinetti [pgina ao lado]

    Pallone Frenato Turco (pgina de Zang Tumb Tumb) - Fillipo Tommaso Marinetti

    [direita]

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    Com o artista pop Roy Lichtenstein que a relao com as palavras se encontra com os quadrinhos de maneira bem evidente. Seus quadros, ampliaes levemente modificadas de cenas de histrias em quadrinhos j existentes, muitas vezes utilizam de elementos da linguagem tpica das narrativas sequenciais, como as retculas (aqui tornadas grandes pontos), os bales de fala e onomatopeias. Estes ltimos so a insero de palavras na imagem, que causam um tipo de estranhamento quando so emprestadas s artes visuais da mesma forma que so nos quadrinhos, pois usa dos elementos desta arte marginalizada na pintura, que uma das grandes artes, reconhecendo as qualidades inerentes aos quadrinhos.

    Sweet Dreams, Baby! - Roy Lichtenstein [esquerda]

    Varoom - Roy Lichtenstein [pgina ao lado]

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    Blam - Roy Lichtenstein [pgina ao lado]

    Foul Play - Will Eisner [esquerda]

    Neste quadro da histria Foul Play, o toque do telefone o acontecimento principal da cena. O personagem parece at sentir o "peso" da onomatopeia.

    Como falei de Lichtenstein, que se referenciava diretamente nos comics para fazer sua arte, passo agora para a linguagem dos quadrinhos em si, mostrando alguns pontos altos do uso da onomatopeia como instrumento narrativo.

    Will Eisner criou em 1940 o personagem The Spirit. No final dessa mesma dcada, uma histria deste, entitulada Foul Play, foi publicada no jornal Pittsbrugh Post-Gazette. Nela, um quadro especfico apresenta uma grande onomatopeia de um telefone tocando. Alm de simular o som, sua fora visual interage quase fisicamente com o personagem da cena.

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    O Candidato -Will Eisner (pgina)

    Os ttulos das histrias de The Spirit se misturam com o cenrio, fazendo com

    que estes letreiros iniciais se tornassem slidos em quadros metalingusticos.

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    Muitas histrias em quadrinhos que vieram depois fizeram usos que evidenciavam a palavra em relao imagem, incluindo as prprias onomatopeias, de modo a explor-las mais intensamente, dando a estas um papel de destaque. Ziraldo, numa histria dOs Zeris que satiriza o super-heri Capito Amrica, usa as onomatopeias de modo que explodem em componentes visuais dinamizadores dos planos (CIRNE, 1975, p.33).

    Os Zeris - Ziraldo

    Nesta histria as onomatopeias ocupam os quadros quase inteiros, ganhando uma importncia imagtica at maior do que a dos personagens, que ficam diminudos perto das mesmas.

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    Nesta pgina de Sin City, de Frank Miller, so os prprios "quadros" que tomam a forma da onomatopeia dos tiros, sendo que os desenhos e os outros textos se ajustam dentro das formas das letras e pontuao. Assim as onomatopeias ganham grande dimenso e destaque, pois se aglutina aos outros elementos formando uma fora visual una.

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    Na histria Mesmo Delivery, de Rafael Gramp, as onomatopeias interagem com os personagens, passando por detrs deles, dos objetos e de partes do cenrio, simulando uma tridimensionalidade. So tambm personalizadas com uma tipografia western, que colabora com o clima da narrativa. Funcionando mais ou menos da mesma forma, existem frases em ingls passando por diversas das cenas. H aqui um uso das palavras em interao metalingustica com os personagens e cenrios.

    Mesmo Delivery - Rafael Gramp (pginas) [direita e acima]

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    Em Scott Pilgrim, de Bryan OMalley, h um extenso uso de onomatopeias, mas de maneira mais discretas. Destaco apenas um quadro, onde a fala do personagem principal se torna inaudvel quando um liquidificador ligado. Aqui o autor usa a onomatopeia do rudo deste aparelho de modo a obstruir o balo de fala, tornando-o ilegvel, o que simula a inaudibilidade da voz causada por um rudo alto.

    Scott Pilgrim (vol. 4) - Brian O'Malley

    Mesmo Delivery - Rafael Gramp [pgina ao lado]

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    Os mangs fazem uso extenso de onomatopeias. Elas so escritas em katakana, um tipo de caractere silbico japons que, entre outras funes, tem a de representar sons na escrita. Pela natureza mais desenhada da escrita japonesa, sua interao com a imagem menos invasiva e adapta-se bem ao quadros.

    Atravs desses recortes, de diferentes momentos das artes visuais e sequenciais, porcurei evidenciar o poder da palavra e das letras por seu carter de imagem. Alm disso, revelei a potncia do uso de onomatopeias nas narrativas, consideradas enquanto imagem, produtora de sentido, objeto metalingustico e instrumento com potencial para guiar uma narrativa; evidenciei, ento, seu papel para alm da simples representao lingustica de sons.

    20th Century Boys - Naoki Urasawa (pgina) [ direita]

    Hellsing - Kouta Hirano [pgina ao lado]

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    Captulo 2barulhos gRficos

    Em um estudo realizado em 2010, Raoni Naraoka de Caldas, Mestrando em Lngua e Lingustica Alem pela FFLCH-USP, define onomatopeia como sendo o processo de criao de palavras atravs da imitao de sons naturais e tambm as palavras formadas atravs deste processo (CALDAS, 2011). Ainda acrescenta que grande parte das onomatopeias so interjeies, ainda que no seja consenso sua classificao como classe de palavras.

    Naumin Aizen, no livro "Shazam" de Alvaro de Moya (1977, p. 271), vai alm, dizendo que nem todas as onomatopeias so palavras. Algumas so um conjunto de fonemas como, exemplo, pfff sem estrutura vocabular, porque no possuem vogal de apoio.

    A diviso sobre a qual a maior parte dos tericos falam entre as onomatopeias vocabulizadas (cuja formao obedece a preceitos da lngua e se assemelha a palavras comuns; ex.: blm-blm, pumba) e onomatopeias no-vocabulizadas (combinaes fnicas fora dos padres fonticos e ortogrficos da lngua; ex.: tss, fffrttoct), ainda que as denominem de formas diferentes. Alm dessa diviso, existem outras: acstico-mimticas/tico-mimticas (imitao baseada no prprio som/na visualidade do movimento), onomatopeias propriamente ditas/onomatopeias descritivas (imitam os sons com maior fidelidade/utilizam-se de radicais de verbos; ex: ronc), fonticas/fontico-ideolgicas (baseadas puramente nos fonemas/feitas formando frases; ex: bem-te-vi), etc. Porm, me aterei apenas s duas primeiras e ao processo lingustico formao onomatopaica, pois meu interesse apenas em onomatopeias que imitem gramaticalmente os sons, exclusivamente por formaes fonmicas.

    As onomatopeias imitam sons no vocabulares a partir de um processo lingustico; no existe onomatopeia sem uma lngua. E por isso mesmo cada lngua tem um lxico de onomatopeias clssicas diferente. Por exemplo, o latido de um cachorro em ingls seria woof-woof, em japons wan, em italiano bau bau e em portugus au au.

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    Este processo de adaptao lingustica, antes de ser grfico, passa pela audio e se transforma por via mental e, sequentemente oral e escrita (considerando que a escrita parte da imaginao ou transcrio do som oral).

    Rodrigo de S Nogueira, linguista e fillogo portugus, descreveu ainda em 1950 como traduzimos linguisticamente os sons, inconscientemente, e sua teoria foi confirmada pelos estudos de Raoni Naraoka de Caldas. Neste estudo Raoni usa nove cenas provenientes de histrias em quadrinhos e confia a 27 pessoas (14 brasileiros e 13 alemes) a tarefa de criar onomatopeias que achassem condizer ao correspondente. As seguintes afirmaes de Nogueira se mostraram vlidas pelos resultados dos estudos de Naraoka:

    para simular uma repetio muito rpida de uma consoante oclusiva alveolar (/t/, /d/) pode-se usar uma sucesso de consoantes vibrantes alveolares (/r/), ex.: trrrrrra;

    a nasalidade comum para traduzir a ressonncia de sons naturais: consoantes nasais (/n/, /m/), ex.: brumm, cabum;

    o incio de rudos de alta brusquido pede uma consoante oclusiva (/t/, /d/, /p/, /b/, /k/, /g/), ex.: pum, bang;

    consoantes oclusiva bilabiais (/b/, /p/) como iniciais favorecem mais a ressonncia das onomatopeias do que as oclusivas alveolares (/t/, /d/), e estas mais do que oclusivas velares (/k/, /g/), ex.: bum, tum, gum;

    as consoantes oclusivas na posio final so eficientes para representar uma interrupo brusca de um som que logo ser retomado, ex.: tic-tac, plec-plec;

    O poeta futurista italiano Luigi Russolo, no livro L'Arte dei Rumori, citado no livro Poesia Sonora (MENEZES, 1992) discorre sobre o poder da linguagem de transformar os rudos naturais numa forma lingustica com os seguintes dizeres:

    "A lngua tem uma riqueza de timbre desconhecido da orquestra, o que deveria comprovar que a prpria natureza teria recorrido aos timbres do rudo quando quis aumentar e enriquecer os timbres do instrumento grandioso que a voz humana. importante sob esse aspecto que nenhum rudo existe na natureza ou na vida (por mais que tenha timbre estranho ou bizarro) que no possa ser adequadamente, ou at exatamente, imitado atravs das consoantes."

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    Alm dessas confirmaes da teoria de Nogueira, outras recorrncias foram observadas, como, por exemplo, o uso de consoantes vibrantes (/r/) para representar um objeto se quebrando.

    Outra coisa a se observar que o tom caracterstico de cada uma das vogais parte muito importante da onomatopeia. A vogal I a mais aguda, seguindo-se E, A, O e, por fim, U, que a mais grave. Isso quer dizer que para um som muito agudo, criaramos sua onomatopeia correspondente com o I sendo a vogal (ou uma das vogais), mesmo numa escolha inconsciente. Por exemplo, no escreveramos plom para um tilintar de vidro, nem pim para a queda de uma pedra gigante, a no ser com o objetivo de causar estranhamento.

    Com isto em mente, segue-se uma pequena lista com algumas onomatopeias ilustradas para demonstrao prtica das teorias anteriormente citadas:

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    Captulo 3RoteiRo

    No primeiro captulo mostrei a fora da palavra como imagem e propus a onomatopeia nas histrias em quadrinho enquanto um potencial meio de desenvolvimento de narrativa, colocando sua importncia ao lado ou acima at mesmo dos personagens.

    J no segundo captulo me detive sobre as teorias de formao onomatopaica para que essa aplicao nos quadrinhos seja feita com maior propriedade, j que as criaes de onomatopeia teriam embasamento.

    Aqui apresento o processo de criao de dois trabalhos de narrativa grfica produzidos por mim de modo a experimentar as onomatopeias enquanto fio condutor da narrao, tendo importncia crucial ao desenvolvimento da histria.

    Portanto, a partir de agora descrevo os desenvolvimentos de Panis et Circenses e de Gustavo.

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    Panis et Circenses uma adaptao da msica Panis et Circensis (sic), composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil e executada pela banda Os Mutantes. Pela construo de personagens e de cenrio h um esforo em transmitir de modo grfico o contedo e o clima da msica. J o fio condutor da narrativa se desenvolve a partir dos sons ao fim da msica (mais precisamente, a partir dos 3:11 min), onde podemos ouvir a to citada sala de jantar da letra.

    Comea com um grande tilintar, aparentemente de talheres. A partir da se ouvem pessoas pedindo para passar algum determinado prato, um lquido sendo servido, talheres em contato com a loua dos pratos e outros pequenos rudos que caracterizam um jantar, alm de uma leve msica ambiente no fundo, dando uma ambientao requintada refeio. Aos poucos, os tilintares vo aumentando em quantidade e intensidade, de modo que as falas vo se tornando inaudveis, e em determinado momento um som que estranho cena (provavelmente um sintetizador) se inicia e vai num crescendo, junto com os tilintares, at que, por fim, tudo acaba repentinamente.

    A adaptao da cena foi simples: inicia-se um jantar e os barulhos da prpria refeio vo aumentando de importncia, impedindo que qualquer coisa tenha importncia superior quele momento (inclusive, praticamente resolvido o modo como dar s onomatopeias uma grande importncia). O problema foi o desfecho da narrativa, j que a msica termina de repente. Para isso, foi criado um personagem que ganhava conscincia dos sons anormalmente altos e terminava engolido por eles. Ele uma espcie de ponte entre os outros personagens, alienados quanto a este evento, e o leitor, que tem a viso de tudo o que ocorre. Assim, o roteiro, aps algumas edies, tomou esta forma:

    Quadro 1: Panormica do cenrio (seis pessoas mesa retangular, bem servida). Msica de fundo saindo de um gramofone fora da cena. Janela ao fundo com cena ignorada pelos personagens;

    Quadro 2: Talheres sendo jogados mesa;

    Quadro 3: Vinho sendo servido numa taa;

    Quadro 4: Pessoas pegam os talheres para comer;

    Caetano Veloso fala da troca de circenses, que seria o certo na expresso latina, por

    circensis no seu livro Verdade Tropical (1997, p. 279):

    "Eu tinha feito e dado para Gil musicar uma letra a que pus o nome de "Panis et

    circensis" [...]. No fui verificar (quela altura nem saberia onde) se aexpresso

    "panis et circensis" estava na forma latina correta. Eu tinha uma vaga lembrana de uma conversa com Wanderlino Nogueira

    Neto, que foi quem, no curso clssico, me ensinou a famosa expresso, em que

    julguei ter aprendido que se tratava de dois substantivos no genitivo com funo

    partitiva (como no francs "du pain et du cirque"). Tenho uma memria vvida

    desse solilquio silencioso no 2002 e muitas vezes me envergonhei mais com

    essa lembrana do que com a constatao do erro em si. (Na verdade, a forma em

    que a expresso se fez famosa "panis et circenses", esta ltima palavra sendo um adjetivo que, no plural, substantiva-se no

    significado de "coisas de circo").

    Afinal, em meio iconoclastia tropicalista, a reverncia s letras clssicas era a

    ltima das exigncias a ocorrer a algum. Mas o reconhecimento ntimo de que a

    inteno seria a de sobrepor colagem pop de uma letra de msica banal [...]

    uma citao latina (ademais muitssimo conhecida) cuja correo deveria

    contribuir para o efeito de contraste, empresta uma dimenso de atroz ridculo

    ao momento de reflexo devotado questo. Havia, no entanto, orgulho nesse

    desleixo."

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    Quadro 5: Personagem principal comendo, enquanto a janela ao fundo mostra outra cena ignorada pelas pessoas da sala. Os barulhos ainda so moderados;

    Quadro 6: O gramofone comea a fazer um rudo estranho. Chama-se ateno para a agulha do mesmo, que se deslocou;

    Quadro 7: Personagem principal repara no rudo do gramofone e comea a reparar nos outros barulhos. A partir daqui as onomatopeias seguem num crescendo at o ltimo quadro;

    Quadro 8: Outros personagens comendo;

    Quadro 9: Close em talheres se chocando com um prato para cortar a carne;

    Quadro 10: Janela com terceira cena sendo ignorada;

    Quadro 11: Close no gramofone com o rudo estranho;

    Quadro 12: Close em duas taas se chocando;

    Quadro 13: Personagem principal espantado;

    Quadro 14: Close no ouvido do personagem, com onomatopeias entrando;

    Quadro 15: Close numa boca recebendo comida;

    Quadro 16: Close ainda maior no talher se chocando com o prato;

    Quadro 17: Close no disco de vinil do gramofone;

    Quadro 18: Quarta cena da janela ignorada;

    Quadro 19: Close ainda maior de duas taas se chocando;

    Quadro 20: Close numa boca bebendo vinho;

    Quadro 21: Close bem fechado de talheres sujos;

    Quadro 22: Olho assustado do personagem principal;

    Quadro final: Personagem principal sendo "engolido" pelo excesso de onomatopeias.

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    Gustavo uma histria criada para explorar a visualidade das onomatopeias de uma forma diferente de Panis et Circenses: em Panis pensei o roteiro para valorizar os barulhos grficos a partir de um uso exagerado e carregado dos mesmos, elaborei Gustavo para ser mais limpa, e ainda assim permanecer seu foco na representao grfica dos sons.

    A histria gira em torno de uma comparao entre sons que podem graficamente ser representados a partir da mesma onomatopeia, ainda que os sons no sejam idnticos (ou seja, onomatopeias homogrficas). Para tanto, escolhi usar os barulhos de trs dos vrios instrumentos de percusso que compem uma bateria e confrontar com outros sons que poderiam ser representados de forma igual, desta forma:

    tum-tum: bumbo da bateria/batimento cardaco/batida em madeira

    tss: chimbal (pratos duplos da bateria)/trago de cigarro/brasa sendo molhada

    crash: prato de ataque (cujo nome em ingls crash, de fato. um prato grande de som alto e cortante)/vidro se quebrando

    Alm desses, usei um "tcha" para compor visualmente um quadro (som da caixa ou de um splash) e em vrios outros quadros usei sons de guitarra para o mesmo propsito.

    O mote, aqui, era usar essas onomatopeias repetidas, fazendo a diferenciao de "timbre" pela tipografia usada. A narrativa segue com um personagem vendo um vdeo de uma banda de rock e comea a ter alucinaes com os sons que se assemelham, at que por fim se desespera e quebra um espelho. O roteiro final ficou assim:

    Quadro 1: Personagem principal fumando, enquanto usa o notebook;

    Quadro 2: Tela do notebook: um vdeo de uma banda tocando no YouTube. Reflexo do personagem principal num espelho na parede;

    Quadro 3: Viso panormica do quarto onde ele se encontra;

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    Quadro 4: Boca do personagem fumando;

    Quadro 5: Olhos arregalados e suor frio;

    Quadro 6: Close num mao de cigarros e num frasco de remdio para psicose;

    Quadro 7: Bumbo sendo tocado;

    Quadro 8: Close de um dos olhos arregalados desviando o olhar para outra direo;

    Quadro 9: Porta vibrando;

    Quadro 10: Corao do personagem principal batendo;

    Quadro 11: Homem do vdeo tocando guitarra;

    Quadro 12: Uma das mos do personagem principal sangrando;

    Quadro 13: Reflexo no espelho. Apenas a no reflexo a mo est sangrando, o que sugere uma alucinao;

    Quadro 14: Personagem principal aperta o peito com dor, derruba a mesa, e o cigarro cai de sua boca;

    Quadro 15: Close da bateria sendo tocada;

    Quadro 16: Chimbal e cigarro fazendo tss;

    Quadro 17: Bumbo e corao fazendo tum;

    Quadro 18: Mo segurando o frasco de remdios;

    Quadro 19: Mo lanando o frasco;

    Quadro 20: Close na mesa derrubada, e tudo que havia em cima;

    Quadro 21: Prato de ataque fazendo crash;

    Quadro final: O frasco lanado quebra o espelho, que reflete o personagem principal e a onomatopeia crash.

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    A partir daqui comea a descrio do processo criativo usado para lidar com a visualidade das onomatopeias. No prximo captulo falo do processo de criao das pginas completas. Como agora o texto se baseia mais em imagens do que em palavras, reservarei as pginas esquerdas para Panis et Circenses e as direitas para Gustavo. Desta maneira possvel ver simultaneamente o desenvolvimento das duas, o que facilita comparaes.

    Neste captulo discorro sobre a escolha tipogrfica de cada histria, dando s onomatopeias aparncias que reforcem a natureza do som e/ou contextualize-as num determinado tempo e espao. As letras foram feitas a mo (letreiramento) para que seu traado combine com o do desenho em si, mantendo as irregularidades prprias do desenho a mo livre.

    captulo 4Identidade tipogrfica

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    Foram escolhidos quatro modelos de tipografia vitorianos para compor Panis et

    Circenses (cinco, se considerar o ttulo). A ideia destacar jocosamente uma

    pompa exagerada de jantares e eventos sociais burgueses em geral.

    Como essas fontes so repletas de detalhes, e tinha a inteno de

    sobrecarregar os quadros com onomatopeias, fiz algumas repeties das mesmas letras (vide o exemplo do P, ao lado) e montei cada onomatopeia

    digitalmente, variando as combinaes de letras e produzindo um catlogo prvio.

    Este catlogo, montado com as letras feitas mo, contm todas as

    onomatopeias usadas na histria, alm de um conjunto de smbolos usados em partituras msicais (para a msica que

    sai do gramofone).

    Uma das fontes foi usada exclusivamente para os bla-bla (decidi suprimir as

    falas para dar destaque maior s onomatopeias), outra simula o rudo

    estranho do gramofone e as duas outras revezam na representao do restante

    dos sons da narrativa.

    As partes circuladas mostram as pequenas diferenas de espessura e

    condensao causadas pelo letreiramento manual.

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    Em Gustavo a importncia da onomatopeia no se baseia na quantidade excessiva, como em Panis et Circenses, alm do fato de que optei por fontes mais simples. Fiz as onomatopeias j pensando na composio de cada quadro. Para isso, desenhei os quadros primeiro e adicionei as onomatopeias com a ajuda de uma mesa de luz e, para encaixar, edio digital.

    Para o bumbo, usei uma fonte com serifas quadradas e pesadas, para o batimento cardaco, uma fonte que parecesse estar expandindo, como o corao ao bombear sangue. Para a porta, uma sans serif quadrada e tridimensional. Para o chimbal, uma fonte quadrada para simular um timbre metlico, para o cigarro uma sans serif comum. Para o prato de ataque, uma letra rabiscada para sugerir um som "sujo". Como o som da guitarra tem um propsito mais direcionado composio, me baseei em letterings de cartazes psicodlicos dos anos 60, muito usados pelo rock'n'roll e cuja funo era ocupar a imagem de modo a integrar-se imagem, o que funcionaria muito bem aqui. O ttulo tambm teve as letras referenciadas neste modelo.

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    Captulo 5As pginas

    A escolha por fontes vitorianas me levaram a construir uma esttica

    condizente para os personagens e cenrio. O excesso de detalhes das letras

    se mistura no excesso de linhas dos quadros, causando uma carga alta de

    informao, mas tratada com o cuidado de no tornar cansativo para o olhar do

    leitor.

    As onomatopeias aqui tomam um carter slido, quase como se estivessem

    fisicamente no ambiente.

    Toda a narrativa se desenvolve no apenas pelos sons representados, mas

    pela qualidade grfica dessas formaes fnicas. O fato delas crescerem, em tamanho e quantidade, no decorrer

    da histria, alm da intensa interao nas cenas, faz com que as prprias onomatopeias sejam um elemento

    importantssimo para que a narrativa acontea.

    As figuras desta e da prxima pginas so as verses (em escala reduzida) das peas grficas para impresso. Ao final

    desta publicao h uma dessas duas no tamanho original, como deve ser

    publicada. Nas prximas duas pginas se encontra a reproduo fotogrfica

    da verso expositiva, feita com desenho sobre parede no Centro Cultural da

    UFMG, e cujas dimenses aproximadas so de trs metros de altura.

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    Gustavo, ao contrrio de Panis et Circenses, j tem sua proposta baseada numa esttica mais "limpa". A poca em que se passa atual.

    Aqui existem quadros nos quais nem mesmo existem onomatopeias, pois neste caso quis concentrar a expressividade e fora de cada uma delas; o excesso deixado de lado em prol da potncia individual de cada onomatopeia formada. Ainda assim, a narrativa s ocorre porque as palavras onomatopaicas e sua potncia grfica a guiam. exatamente a comparao das vrias letras desenhadas que diferencia as onomatopeias ortogrficamente iguais, mote da narrao.

    A nica onomatopeia que foi desenhada diretamente no quadro foi o crash da ltima cena, pois seu reflexo rachado ficaria mais complicado de se fazer num outro papel para encaixar depois.

    Em Gustavo, mais do que em Panis et Circenses, os tipos de close com grandes onomatopeias encontram referncia nos quadros de Lichtenstein. Tambm a disposio dos quadros, com mltiplas possibilidades de percepo temporal, remetem a Valentina, do italiano Guido Crepax. J em ambos pode-se comparar a disposio das onomatopeias com o modo que os futuristas as diagramavam em seus poemas.

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    Os resultados das peas grficas desenvolvidas, tanto as expositivas quanto as impressas, me foram bastante satisfatrias. Trabalhar com onomatopeias como fio condutor de narrativa parece apenas ser possvel, obviamente, em casos anlogos em que o som, num filme ou pea teatral, por exemplo, tivessem importncia fundamental.

    O que me apraz no resultado poder ver como a fora esttica das grafias criam focos de ateno, embelezam as cenas e beiram a sinestesia, quando o leitor passa a imaginar os sons que est vendo.

    Continuarei a explorar outras possibilidades de aproveitamento das onomatopeias neste sentido, e que ainda sejam diferentes de Panis et Circenses e Gustavo, assim como estas so diferentes entre si.

    Essas peas grficas so cartazes A2 dobrados no tamanho de um A5. Fechadas, v-se uma ilustrao na "capa" e, ao abrir, informaes vo revelando-se a cada dobra desfeita, tais como autoria, citaes, etc. O intuito produzir cartazes o suficiente para constituir uma srie, e posteriormente public-los todos, faz-los circular.

    Concluindo...

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    referncias bibliogrficas

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  • 49

    . Acesso em: 4 jan. 2013;

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  • 50