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Brasil PRESBITERIANO Fevereiro de 2006 Ano 49 / Nº 617 - R$ 1,80 Órgão Oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Rev. Carlos Aranha, Rev. Guilhermino Cunha e Rev. Osvaldo Hack celebram Jubileu Ministerial. Rede Presbiteriana de Comunicação Página 18 Famílias deixam de receber complemento alimentar Páginas 10 e 11 Missionário Presbiteriano evangeliza na África do Sul Divulgação A figura imponente de Aslan traz consigo a representação metafórica do sacrifício redentor de Jesus Cristo, o Leão de Judá Páginas 12 e 13 Adaptação para o cinema de “As Crônicas de Nárnia” é oportunidade para reaquecer debate sobre o cristianismo junto à sociedade Alegoria da redenção Alegoria da redenção Páginas 9

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Adaptação para o cinema de “As Crônicas de Nárnia” é oportunidade para reaquecer debate sobre o cristianismo junto à sociedade Famílias deixam de receber complemento alimentar Missionário Presbiteriano evangeliza na África do Sul Páginas 12 e 13 Páginas 10 e 11 Órgão Oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Páginas 9 Página 18 A figura imponente de Aslan traz consigo a representação metafórica do sacrifício redentor de Jesus Cristo, o Leão de Judá Divulgação

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B r a s i lPRESBITERIANO

Fevereiro de 2006 Ano 49 / Nº 617 - R$ 1,80Órgão Oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil

Rev. Carlos Aranha,Rev. Guilhermino Cunha e

Rev. Osvaldo Hackcelebram

Jubileu Ministerial.

RedePresbiteriana

de Comunicação

Página 18

Famílias deixam de recebercomplemento alimentar

Páginas 10 e 11

Missionário Presbiterianoevangeliza na África do Sul

Divulgação

A figura imponente de Aslan traz consigo a representação metafórica do sacrifício redentor de Jesus Cristo, o Leão de Judá

Páginas 12 e 13

Adaptação para o cinema de “As Crônicas de Nárnia” é oportunidade

para reaquecer debate sobre ocristianismo junto à sociedade

Alegoria da redençãoAlegoria da redenção

Páginas 9

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Brasil PRESBITERIANO2 Fevereiro de 2006

AssinaturasPara qualquer assunto

relacionado a assinaturas do BP,entre em contato com:

Luz para o Caminho0(XX)19 3741 3000

0800 119 [email protected]

Rua Antônio Zingra nº 151, Jardim IV Centenário

CEP 13070-192 - Campinas - SP

Memória de uma vida com Cristo

Faleceu no dia 14 de janeiro o Reverendo Ludgero Machado Moraes. Nascido em 17 de dezembro de 1920 (data em que se comemora o dia do pastor presbiteriano), na cidade de Alegre, Espírito Santo, o Rev. Ludgero é filho de Olinto Sales Moraes e Eponina Moraes.Cursou Teologia no Seminário

Presbiteriano do Sul, formando-se em 16 de novembro de 1946 e em 23 de novem-bro do mesmo ano casou-se com a jovem Josenira Bonilha de Moraes. Foi ordena-do pastor no dia 2 de fevereiro de 1947 e enviado neste mesmo ano para a igreja Presbiteriana de Muqui, no Espírito Santo.Trabalhou como missionário durante 12

anos pela Junta de Missões Nacionais da Igreja Presbiteriana do Brasil, quando implantou o trabalho presbiteriano pioneiro na cidade de Ponte Nova-MG. Em 1957, foi para São Caetano do Sul onde pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Presbiteriana Filadélfia, Igreja Presbiteriana de São Caetano, Igreja Presbiteriana Vila Paula, Igreja Presbiteriana Vila Gerti e Igreja Presbiteriana de Diadema. Foi pastor nesta

região por 33 anos. Construiu ao todo 21 templos durante seu ministério. Foi jubilado, em 1990, na Igreja Presbiteriana de Diadema. Em seguida, mudou-se para Meaipi-ES, onde implantou o trabalho presbiteriano com alguns irmãos.Josenira e Ludgero tiveram seis filhos:

Ludgero, Paulo Rubem, Hamilton, Lucila, Priscila e Marila; e doze netos: Jarbas, Hamilton, Guilherme, Eduardo, Ricardo, Ludgero Neto, Lílian, Vivian, Heloisa, Aline, Camila e Bianca. Há aproxima-damente um ano, mudaram-se para Campinas e passaram a freqüentar a Igreja Presbiteriana de Barão Geraldo, onde cria-ram fortes laços de amizade com os irmãos em Cristo.O rev. Ludgero é pai do Rev. Ludgero

Bonilha Moraes , pastor da 1ª IP de Belo Horizonte, Minas Gerais e secretário exe-cutivo do Supremo Concílio da IPB.O culto de sepultamento foi realizado

no Cemitério Flamboyant, em Campinas (SP) e estiveram presentes filhos, esposa e colegas de ministério, membros da igreja que pastoreou e o presidente do Presidente do Supremo Concílio da IPB, rev. Roberto Brasileiro.

Existem várias maneiras de anunciar os princípios do cristianismo. Atualmente, até mesmo as produções cine-matográficas são utilizadas para tais fins. Por isso, o des-taque do Brasil Presbiteriano de fevereiro é a repercussão do filme “As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, baseado no livro de CS Lewis, importante escritor da literatura cristã. Nárnia lidera as bilheterias em várias partes do mundo, e no Brasil não é diferente. Por isso, está entre os filmes mais vistos de todos os tempos.

O Sínodo Sudoeste Paulista divulgou uma agenda com toda a programação do ano. Conversamos com o Pb. Carlos Douglas Diniz, secretário executivo, que falou com detalhes sobre os eventos e a importância dos mesmos, com ênfase no encontro de Casais e no da Terceira Idade. Confira os detalhes dessa programação na página 8.

O dia 14 de janeiro de 1981 possui elevada importância para a IP do Rio de Janeiro. Há 25 anos, a IP do Rio de Janeiro recebia o rev. Guilhermino Cunha como pastor. Essa data foi relembrada pela igreja em um culto de grati-dão e louvor a Deus. Saiba como foram as comemorações na página 9.

Na reportagem das páginas 10 e 11 apresentamos o traba-lho do rev. Gesse Almeida Rios na África do Sul. Conheça o cenário no qual ele está inserido, onde o Apartheid foi extinto há menos de uma década, mas a segregação social ainda existe, e sua atuação com imigrantes refugiados que falam a língua portuguesa e sonham em retornar aos seus países.

Dia 5 de fevereiro, o segundo domingo do mês, é o dia do homem presbiteriano. Entrevistamos alguns líderes da igreja, que atuam em instituições sociais, para refletir sobre o papel, atuação e a importância desses servos de Deus para a vida de nossa igreja. Vale a pena ler na página 15.

Nem só de boas notícias é composta essa edição. Na página 18, o BP esclarece os motivos que contribuíram para a suspensão do composto alimentar Nutriamar, que auxiliava no combate à desnutrição de pessoas carentes. Lamentavelmente, uma ajuda a menos faz com que esse mal prospere em nosso país.

Aproveite também a seção Notícias e Classificados, e tenha uma leitura abençoada.

Palavra da Redação

Presb. Gunnar Bedicks Jr. – PresidentePresb. Gilson Alberto Novaes - SecretárioRev. Alcides Martins Jr. – TitularPresb. José Augusto Pereira Brito – TitularRev. Carlos Veiga Feitosa – TitularPresb. Sílvio Ferreira Jr. – TitularPresb. Clineu Aparecido Francisco – Diretor Administrativo-financeiroRev. André Mello – Diretor de Produção e Programação

EXPEDIENTE

Rede Presbiterianade Comunicação

Conselho Editorial:Rev. Augustus Nicodemus LopesRev. Celsino GamaRev. Evaldo BerangerPresb. Gilson Alberto NovaesRev. Hernandes Dias LopesRev. Vivaldo da Silva Melo

Brasil PRESBITERIANOAno 49, nº 617 – Fevereiro de 2006

Rua Maria Antônia, 249, 1º andar, CEP 01222-020, São Paulo – SPTelefone: 0(XX)11 3255 7269

E-mail: [email protected]

Órgão Oficial da

Secretaria de Atendimento ao Assinante: (19) 3741 3000 / 0800 119 105

Edição e Chefia de Reportagem: Letícia FerreiraDRT/PR: 4225/17/65E-maill: [email protected]: Letícia Ferreira ([email protected]) eMartha de Augustinis (e-mail: [email protected]) Caroline Santana ([email protected])Diagramação: Aristides Neto

Impressão: Folhagráfica

www.ipb.org.br

Uma publicação da

Nosso recado

ErramosFaltou crédito na foto da capa da edição do Brasil Presbiteriano do mês de janeiro.

A fotografia que ilustrou a primeira página da primeira edição de 2006 é da fotógrafa Flávya Mutran, da Folha de S.Paulo.

Na poesia Ano Velho, da edição de janeiro do BP (Painel pág. 8) na terceira linha, onde está escrito: “É necessário lembrar fazê-lo com juízo imparcial”, deve-se ler: “É neces-sário fazê-lo com juízo imparcial”.

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Brasil PRESBITERIANO 3Fevereiro de 2006

ergunta: O homem coo-pera com Deus na obra de salvação do pecador?

Resposta: “Sic et non” (sim e não).

No sentido real e profundo, o ser humano ficou impossibilita-do de realizar o bem aceitável a Deus. Citando o Salmo 14, o apóstolo Paulo afirma: “Não há justo, nenhum sequer” (Rm 3.10). Mesmo as nossas melho-res virtudes estão maculadas pelo pecado. O profeta Isaías descreve as nossas boas ações, a nossa retidão, as nossas justiças com a fortíssima expressão: tra-pos imundos.

O Novo Testamento não deixa por menos. Além da declaraçao do apóstolo Paulo acima cita-da, basta acrescentar estas fortes

palavras do Senhor Jesus Cristo: “Sem mim nada podeis fazer”(Jo 15.5).

Um aspecto prático e impor-tante da insistência da Bíblia em afirmar a incapacidade moral e espiritual do ser humano é a necessidade de reduzir a pó a arrogância humana – a auto-confiança, a auto-suficiência, o orgulho do homem. “Eu” fiz isso. “Meu braço” conseguiu aquilo. “Vejam que cidade mara-vilhosa é esta Babilônia que ‘eu’ construí”, disse noutras palavras Nabucodonosor- e Deus o sub-meteu a uma terrível e prolonga-da humilhação. Ainda bem que ele aprendeu a lição (Dn 4).

Jesus Cristo nos diz que, depois de havermos feito um trabalho completo, devemos declarar

“somos servos inúteis”, porque não fizemos mais que a nossa obrigação. Depois de afirmar clara e explicitamente que somos salvos pela graça (pelo favor imerecido de Deus) em Efésios 2.8, o apóstolo Paulo faz três afirmações que reforçam aquela declaração: (1) “Isto não vem de vós”. A salvação não vem de vós; a graça da salvação não vem de vós; o motivo pelo qual vos é dada a graça da salvação não vem de vós; (2) “É dom de Deus”. É presente de Deus; (3) “Não de obras” - por quê? - “para que ninguém se glorie”.

*Mas nada do que foi dito des-

trói estoutra verdade: Deus exige o nosso serviço e valoriza os nossos esforços, como valorizou

os de Josué, quando lhe disse: “Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais” (Js 1.6). Lembremo-nos, porém, de que estas pala-vras foram ditas no contexto do governo soberano de Deus e de Sua aliança com Seu povo (Js 1.1-9).

Voltando a Efésios 2, vemos, no contexto da salvação pela graça e não pela obras, a clara indicação de que as obras fazem parte da vida do salvo, não como meio de salvação, mas como fruto e evidência da salvação.

Para este assunto há um fecho de ouro em Filipenses 2.12,13, onde o apóstolo diz: “desenvol-vei [não “realizai”] a vossa sal-vação com temor e tremor”e,

sem titubear, acrescenta: “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segun-do a sua boa vontade”.

O cristão diz: “Graças te dou, Ó Deus, porque me chamaste para realizar o teu serviço”. E acrescenta: “Eu te louvo e te glo-rifico, ó Deus, porque em mim e por meu intermédio realizas a obra para a qual me chamaste. Amém”.

Consultório Bíblico

P

O rev. Odayr Olivetti é minis-tro jubilado da IPB, foi pastor de várias igrejas e professor

de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano de

Campinas. É autor de alguns livros e tradutor de inúmeras

obras cristãs.

Odayr Olivetti

“Sic et Non”

Opinião

ive que comparecer ao funeral da mãe de um vizinho. Senhora já

idosa, faleceu em casa, depois de anos de cuidado carinho e amor cristãos, demonstrados por seu filho e nora.

Quando a hora chegou, não havia padre ou líder leigo, todos foram se achegando mansa e silenciosamente ao redor do caixão. Nenhuma palavra pro-ferida. Algumas preces silentes. Lágrimas. Um ou outro se ben-zendo com o “sinal da cruz”.

Fiquei pensando que aquela seria a maneira como gostaria de ser sepultado quando a hora chegasse. Mas como líder pres-biteriano, creio que não vou

escapar dos pastores perfila-dos ao lado do caixão. O coral convocado às pressas. Aquelas coroas de flores horrorosas com um formato de letra que detes-to. Algumas prédicas e falas com aquela voz gutural tentan-do explicar sobre ressurreição dos mortos e salvação da alma, como que justificando que o meu lugar estava garantido nos céus. Na verdade, não sou eu (pois estarei morto, bem morto, espero), mas é minha família e amigos mais chegados, que não escaparão. Estou, em vida, negociando para que não pas-sem por isso. Gostaria de ser cremado com a presença da família e alguns poucos amigos

chegados (ser cremado não é pecado). E mais tarde, esses e outros se reuniriam para curtir uma boa comida, boa música e lembrar algumas coisas e espe-ro, sentir saudades, pois é uma maldição morrer sem deixar saudades.

Infelizmente nossa igre-ja presbiteriana não tem uma liturgia para os funerais. Pena. Poderia ser usada para todos indistintamente, ricos e pobres, os considerados importantes e os simples. Afinal, há distinção diante do Deus Eterno, perante quem todos vão comparecer? Evitaria aquela idéia de que quanto mais pastores lá na fren-te, mais importante foi a pes-

soa. Alguns querendo mostrar sua importância porque goza-vam da intimidade do finado. Só falta começarem a gravar e fotografar as liturgias fúne-bres e, pasmem, vender depois os DVDs com as mensagens! Evitaria os sermões evangelísti-cos, numa utilização do defunto como meio de evangelização. Outro dia ouvi uma exposi-ção, coerente, porém imprópria, sobre predestinação em um funeral. Não seria bem melhor pessoas ligadas ao morto con-tar alguma história, breve bio-grafia da sua vida, de forma natural? E os casos pitorescos, como numa cidade do interior de Minas, onde os crentes mais

simples são velados no templo antigo e os mais graúdos no templo novo! E aí?! O veló-rio deve ser no templo ou no salão social? Já aconteceu em sua igreja de suspenderem o culto da manhã para velar dona Maria Lavadeira no templo? Felizmente, em algumas cida-des, a prefeitura proíbe velórios em casa ou em templos e aí, o que não se consegue na igreja, o município faz: colocar pobres e ricos, gente simples e doutores, no salão do serviço funerário.

T

Réquiem presbiterianoCelsino Cunha Gama

Rev. Celsino Cunha Gama é diretor executivo da Luz

para o Caminho (LPC).

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Brasil PRESBITERIANO4 Fevereiro de 2006

ste artigo inicia uma nova série que irá abordar os principais documentos confessionais da fé refor-

mada. Confessar significa decla-rar a fé, algo que os cristãos têm feito desde o início. A Reforma Suíça caracterizou-se pela grande quantidade de declarações doutri-nárias que produziu, com objeti-vos confessionais, apologéticos e didáticos. Num contexto de inten-sas controvérsias, os reformados entenderam que era necessário expor de modo claro e incisivo as suas convicções, com base nas Escrituras. As confissões refor-madas são uma das principais expressões e fontes da teologia desse ramo protestante. Algumas de suas ênfases são comuns ao protestantismo em geral e outras,

específicas da tradição reforma-da. Quanto à autoria, houve uma grande variedade de situações: alguns documentos foram elabo-rados por indivíduos, outros por grupos e ainda outros por grandes assembléias de teólogos. Esses textos em geral assumiram duas formas: confissões de fé (dividi-das em capítulos e seções) e cate-cismos (perguntas e respostas).

Os 67 Artigos de Zuínglio são considerados não somente a pri-meira confissão reformada, mas a primeira confissão protestante. Ao contrário das 95 Teses de Lutero, eles não só abordaram um vasto conjunto de doutrinas e práticas, mas deram conside-rável atenção a alguns princípios basilares do novo movimento protestante. Seu autor, Ulrico Zuínglio (1484-1531), o funda-dor da tradição reformada, come-

çou a ser impactado pela Bíblia a partir de 1516, quando pároco em Einsiedeln. Ao tornar-se o sacerdote da principal igreja de Zurique, em 1519, seus sermões e preleções alicerçados no Novo Testamento assumiram um cres-cente tom reformista. O contexto dos 67 Artigos foi a Primeira Disputa de Zurique, em 29 de janeiro de 1523, convocada pelo conselho municipal para resol-ver a controvérsia religiosa que havia surgido na cidade. O con-selho aprovou as proposições de Zuínglio e determinou que os ministros daquele cantão pregas-sem somente o que tinha apoio nas Escrituras. Esse foi o marco inicial da Reforma Suíça.

Os artigos ou Schlussreden (“conclusões”), que tiveram 26 edições em dois anos, dão ênfase à supremacia das Escrituras, prin-

cipalmente no parágrafo intro-dutório: “Eu, Ulrico Zuínglio, confesso que tenho pregado na nobre cidade de Zurique estes sessenta e sete artigos ou opini-ões com base na Escritura, que é chamada theopneustos (isto é, inspirada por Deus). Proponho-me a defender e vindicar esses artigos com a Escritura. Mas se não tiver entendido a Escritura corretamente, estou pronto a ser corrigido, mas somente a par-tir da mesma Escritura”. Outros destaques são: Cristo é o único Salvador da humanidade; a igreja é definida em categorias espiri-tuais, não institucionais; as obras são boas só na medida em que são de Cristo, não nossas; as tra-dições humanas, ou seja, missa, proibição de alimentos, festivais, peregrinações, vestes especiais, ordens religiosas e celibato cle-

rical, são inúteis para a salvação; em sua esfera, a autoridade do Estado é superior à da igreja; somente Deus absolve os pecados humanos; a Escritura não ensina o purgatório e um sacerdócio separado; a pregação está no cen-tro do ministério da igreja.

Talvez a maior vitória de Zuínglio nesse debate tenha sido o endosso formal do princípio de sola Scriptura: a Escritura, com Cristo no seu centro, é a única autoridade capaz de dirimir todas as questões religiosas. Com esse notável documento, Zuínglio lan-çou os fundamentos da fé evan-gélica e reformada.

Alderi Souza de Matos

História do Movimento Reformado

Os 67 Artigos de Ulrico Zuínglio (1523)

E

O rev. Alderi Souza de Matos é o historiador oficial da IPB

[email protected]

As Confissões Reformadas

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Brasil PRESBITERIANO 5Fevereiro de 2006

Planejamento Estratégico uem não sabe para onde vai não tem pressa de che-gar, nem sabe que direção seguir. Assim é também

na igreja e no ministério. Fomos chamados por Deus para servi-lo. Será que sabemos onde e como fazê-lo? Jesus tinha bem defini-dos os seus objetivos e suas metas. Suas estratégias eram claras e bem delineadas. Ao subir para o céu, deixou metas e alvos mensuráveis para a igreja nascente: em At 1.8, diz: “mas recebereis poder, ao des-cer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” O livro de Atos se estrutura em torno destes alvos missionários. Começa em Jerusalém e termina em

Roma, na porta de entrada para os confins da terra. Esta tarefa conti-nua... Estamos iniciando o ano de 2006 e quase todas as igrejas locais entregaram os seus relatórios, os ministros compareceram aos seus presbitérios. A reunião do presbité-rio é oportunidade de avaliação e redirecionamentos. Avaliamos tudo o que ocorreu nos campos de traba-lho, desde finanças, movimentos de rol e relatórios ministeriais e eclesi-ásticos. Examinamos nosso minis-tério a fundo em dias de intenso trabalho conciliar, às vezes entrando na madrugada para ultimar relató-rios e tomar decisões que vão mexer com a vida e famílias de ministros e igrejas. Tomamos decisões que podem curar ou abrir feridas, res-gatar ou desgarrar rebanhos, dire-cionar ou matar vocações. Olhamos para trás, mas será que olhamos

para frente? Será que sabemos para onde queremos ir, como oficiais e concílios? Planejamos as nossas ações ou “corremos atrás do prejuí-zo” (sic)? Não podemos deixar que as circunstâncias nos atropelem e apenas o desenrolar delas determine o nosso ministério. Nosso Deus é um Deus que planeja a sua vontade e se manifesta não pelo acaso, mas onde há planejamento e propósito. Lembremo-nos do sábio de Israel: “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor” (Pv 16.1). E o próprio Senhor Jesus ensina: “Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a

virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar” (Lc 14.28-30). Esta é a preocupação de nosso Supremo Concílio reunido em sua Comissão Executiva. Veja a resolução apro-vada no Doc. CE2001-CLVIII – ... A Comissão Executiva do Supremo Concílio, Considerando: 1. Que o Planejamento Estratégico é uma iniciativa muito positiva dentro da realidade da Igreja Presbiteriana do Brasil; 2. Que as reuniões anuais primam por estabelecer metas e acompanhar o atingir destes alvos, resolve: 1. Aprovar o relatório sobre o Planejamento Estratégico da IPB, destacando a busca do entrosamento entre os órgãos gestores das diversas áreas da nossa Igreja; 2. Recomendar que o Planejamento Estratégico seja regionalizado, ou seja, dividido em cinco regiões, com líderes locais

contemplando as necessidades e os alvos de cada região nas mais diversas áreas – Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul; 3. Recomendar que, de posse dos rela-tórios de cada uma das cinco regi-ões, a direção dos órgãos nacionais faça a sincronização de objetivos, de forma a contemplar todo o País; 4. Recomendar que sejam estabele-cidas metas para o ano de 2006, de forma que sempre haja metas para os cinco anos seguintes. Estamos em 2006. É hora de colhermos os frutos de um planejamento feito debaixo da unção do Espírito Santo: “Não há bons ventos pra quem não sabe aonde vai.” (sic)

Q

Liderança

Evaldo Beranger

Jubilação compulsóriaa próxima RO/SC, em julho, será submetido ao concílio o anteprojeto da jubilação compulsória, de

acordo com o parecer, favorável, da maioria dos presbitérios da IPB.

Sou contra a emenda e, se Deus quiser, estarei debatendo e votando de acordo com essa convicção for-mada ao longo das experiências e conhecimento do assunto.

A questão, sobre a qual tenho propalado esta minha posição, não é somente, no meu caso, de declarar apenas meu desejo de “me jubilar”, mas responder à grande interroga-ção ainda não respondida em rela-ção aos pastores que se aproximam da idade limite dos 70 anos: “eu posso me jubilar?”

A emenda que, se aprovada, pas-sará a vigorar a partir de julho, não atende satisfatoriamente às nossas reais necessidades – eu também estou chegando... – e, a meu ver, nem de longe é solução; ao contrá-

rio, em muito agravará o problema, por exemplo, do excesso de pasto-res no vasto campo presbiteriano em nossa pátria.

Na verdade, todos pensam e querem se jubilar; ou quase todos. Muitos pastores estão de bem com a vida, após a compulsória, fazendo alegremente o que lhes apetece e lhes agrada, dedicando-se a outros ministérios, trabalhando, construin-do, combatendo o bom combate. Afinal, depois de muitos anos de pastoreio desgastante, fazer outras coisas é novidade que estimula a qualquer um.

A diferença entre o querer e o poder é que a jubilação subtrai-nos a côngrua pastoral e outros benefícios (moradia, água, luz, telefone, 50% da previdência e plano de saúde), exatamente na fase mais crítica do pastor, que, pela lógica, necessi-tará mais de assistência médica, medicamentos, e, naturalmente, de sobreviver condignamente, e isso não acontece nem acontecerá com a ínfima pensão do INSS. Melhor

dizendo, àqueles que contribuí-ram penosamente durante vários anos. Centenas de pastores nem se inscreveram na Previdência, nem conseguiram construir poupança ou patrimônio. A exceção fica por conta de uns poucos, cujos conse-lhos votaram verba para os manter no gozo da jubilação. Conta-se nos dedos os privilegiados que recebem das suas ex-igrejas o sustento como jubilados.

Essa realidade, por outro lado, vem tirando a prioridade do pasto-reio, impelindo muitos deles a fazer concursos para a Prefeitura, Estado, Polícia Federal, Faculdades (Direito, principalmente) etc. Poucos hoje querem saber apenas do ministério pastoral. Quando jubilados – e há dezenas por aí – continuam pasto-reando igrejas sob o beneplácito de seus concílios, situação que poderá causar danos e conseqüências desa-gradáveis às igrejas que os têm e aos presbitérios que os acomodam.

Estatisticamente, temos mil pasto-res sem igrejas e nossos seminários

formam dezenas de pastores ano a ano. O que vamos fazer com os que entram no “mercado de tra-balho”, sem jubilar (aposentar) os que atingem os 70 anos? Ah! São apenas 30 ou 40 jubilações a cada ano! A conta é muito simples: 1000 pastores já sem campo, mais os que saem anualmente dos seminários e mais 30/40 que não se aposen-tam... Neste ano e até 2010, quantos serão?

O argumento de que pastores che-gam aos 70 anos com saúde e com vigor jamais me convenceu, pois há, também, pastores desgastados, físi-ca e psicologicamente falando, aos 50/60 anos de idade, adoentados, inquietos, sem dormir, sem campo e sem futuro, preocupados com o dia de amanhã. Qual o conselho que indica para eleição em sua igreja um pastor de quase 70 anos? Qual a igreja que está querendo, hoje, a “experiência e sabedoria” de quem chega à jubilação? Qual o pastor, idoso, que tem sido preletor de con-gressos e acampamentos de jovens

e/ou adolescentes? Não estou sendo senil e nem me sinto ainda um des-cartado, mas às vezes me pergunto o que devo fazer com a experiência acumulada em anos de ministério pastoral! Quem as quer?

Quero lembrar, finalmente, que a primeira tentativa contrária à jubilação compulsória deu ensejo à resolução SC-54/084. A decisão do SC foi a seguinte: “Quanto à proposta para que se processem os estudos para a reforma da CI/IPB no sentido de cancelamento do § 2º do Art.49, que fixa a jubilação com-pulsória dos ministros, foi rejeitada porquanto o SC entende que a lei, no tocante a este assunto, é sábia e deve permanecer como está”.

O mesmo afirmo hoje: a jubilação compulsória é uma lei sábia e deve-ria permanecer como está. Quem viver, verá.

N

Artigo

Addy Félix de Carvalho

O rev. Evaldo Beranger é pastor auxiliar da IP do Rio

de Janeiro

Rev. Addy Félix de Carvalho é pastor da IP Moriah, em São Paulo.

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Brasil PRESBITERIANO6 Fevereiro de 2006

Notícias

Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2005.

Estimado irmão em Cristo.

Por ordem do senhor Presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, Rev. Roberto Brasileiro Silva, venho por meio desta convocar a reunião da Comissão Executiva do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, que se reunirá no mês de março/2006 dos dias 20 à 25. A reunião se dará nas dependências da Universidade Presbiteriana Mackenzie, à Rua Itambé, São Paulo – Capital, iniciando com almoço no restaurante do Campus às 12h e 30min. do dia 20 de março de 2006.

Os irmãos presidentes de sínodos terão as suas despesas ressarcidas da seguinte forma:

a) Os presidentes que residem em distância superior a 500Km, via aérea.

b) Os presidente que residem em distância inferior a 500Km, via terres-tre.

As passagens aéreas serão adquiridas pela Tesouraria do Supremo Concílio e remetidas aos irmãos presidentes com a devida antecedên-cia.

As despesas dos representantes das Juntas e Autarquias correrão por intermédio das entidades que representam.

Para qualquer outro esclarecimento quanto a hospedagem, transporte e ressarcimento, solicitamos entrar em contato com a Tesouraria do SC/IPB através do telefone (28) 3522-6488.

Lembramos que a documentação a ser encaminhada a esta Comissão Executiva tem seu prazo máximo até o dia 20 de fevereiro contando com o carimbo postal. Todos os documentos que não foram remetidos den-tro do prazo, não serão considerados nesta reunião. Lembramos ainda que toda a documentação oriunda dos Concílios deve ser tramitada via Sínodo.

Rogamos as mais ricas bênçãos de Deus sobre o amado irmão, espe-rando vê-lo em breve, sublinhamos os nosso respeito e consideração em Cristo.

Seu irmão e conservo.

Rev. Ludgero Bonilha MoraisSecretário Executivo do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do

Brasil

Igreja Presbiteriana do BrasilSecretaria Executiva

Mackenzie no Rio de JaneiroNo dia 12 de fevereiro, o Conselho

Deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie e o Instituto Brasileiro de Contabilidade, entidade mantenedora da Faculdade Moraes Junior, promo-

vem um culto de ação de graças pelo início do processo de implantação do Mackenzie no Rio de Janeiro.A solenidade terá lugar na Igreja

Presbiteriana do Rio de Janeiro, às 10h15, sendo oficiante o pastor da igre-ja. rev. Guilhermino Cunha e pregador o presidente do Supremo Concílio da IPB, rev. Roberto Brasileiro.

Bíblia é copiada à mãoNo dia 11 de dezembro, dia da Bíblia,

a Congregação Presbiterial Ebenézer (SP) realizou um culto especial de ação de graças pela conclusão do projeto de copiar toda a Bíblia. Mais ou menos 40 pessoas participaram: crianças, adoles-centes, jovens e adultos. Também aju-daram irmãos da IP Conservadora de

Limeira e da IP Central. “Foi muito edi-ficante.”, compartilhou o rev. Sebastião Batista da Cunha. “Iniciamos em janeiro de 2005, indo até novembro. Mandamos encadernar em 3 volumes. Copiamos em folhas de papel almaço. o número dos capítulos foi escrito em vermelho, o número dos versículos em preto e os versículos foram grafados em azul.”

Equipe que trabalhou para pro-duzir a Bíblia à mão

Cartaz de convocação para o culto de ação de graças

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Brasil PRESBITERIANO 7Fevereiro de 2006

arece haver um espí-rito de ranzinzice no meio evangélico tra-

dicional, por parte da lide-rança: muitas lamentações e poucas celebrações. E, da mesma forma que um filho adolescente, em suas tenta-tivas de amadurecer, não é nem um pouco encorajado quando seus pais apontam seus erros sem atentar para seus acertos, a igreja se res-sente de reconhecimento e celebração.Tenho tido o privilégio

de acompanhar a trajetória (ainda tímida) da RENAS – Rede Evangélica Nacional de Ação Social desde a sua gestação. Hoje participo da equipe que produz um bole-tim eletrônico semanal e que acaba de colocar no ar o site da RENAS. Uma das seções do boletim (Recortes) traz um pequeno resumo de notí-cias ou artigos veiculados em periódicos evangélicos relacionados à ação social. Em um ano colecionamos 515 recortes, e quase todos foram fotocopiados e arqui-vados. Posso garantir aos leitores: há muitos motivos para comemorações! Do Oiapoque ao Chuí, há ini-ciativas de evangélicos na área social, dando conta da diversidade de necessidades e dos públicos-alvo.De 15 a 17 de março,

haverá o Encontro RENAS – Trabalhando em Rede, em São Paulo (Veja Box) - Informações: (11)

4136-1253/1982/1236 /

[email protected], no qual serão mostradas algumas iniciativas como estas:

O ICP — Instituto Central do Povo, no bairro de Gamboa, no Rio de Janeiro, que teve o seu certificado de filantropia assinado pelo presidente Getúlio Vargas, completa 100 anos em 2006. Obra social da igreja meto-dista tem o pioneirismo como marca: foi a primeira creche pública do Brasil, sediou o primeiro curso profissiona-lizante e abrigou o primei-ro cinema comunitário em 1921. O ICP oferece aten-dimento em horário integral a 333 crianças de até 7 anos de idade e a suas famílias, administra uma casa lar onde moram 20 jovens entre 13 e 17 anos, e promove para os jovens da comunidade cur-sos de informática, costura e artesanato, atividades recre-ativas e academia, em par-ceria com a Associação de Moradores Sparta. (Tel. 21 2516-9208 e 2223-0881.)

A Acev – Ação Evangélica, com quase 70 anos de atua-ção, é uma igreja dedicada à evangelização de sertane-jos e sempre aliou à prática do evangelho a ação social. Uma alternativa inovado-ra para solução em escala comunitária da desnutrição e miséria crônicas da região tem atraído a atenção e o apoio de visitantes e especia-listas do exterior e de órgãos nacionais, como a Embrapa e a UFPB. Trata-se do culti-

vo da leguminosa originária da Índia moringa (Moringa Oleifera), que, com pouca água, rapidamente torna-se fonte de sombra e de alimen-to para pessoas e animais. A Acev distribui sementes da moringa para o plantio em casas ou propriedades rurais. (www.acaoevangelica.com.br)COMUNIDADE

CONTRA A AIDSPara reforçar a mobiliza-

ção ocorrida para do Dia Mundial de Luta contra a Aids (1º de dezembro), a Rede de Comunidades Saudáveis do Estado do RJ e o Cedaps promoveu o evento “Fala Comunidade 6!”. O principal objetivo do even-to foi consolidar a resposta das comunidades popula-res à causa da Aids no Rio de Janeiro. Participaram do encontro representantes do Ministério da Saúde, das secretarias estadual e muni-cipal de Saúde, do Fórum de ONG/Aids - hoje com 105 instituições filiadas -, entre outros.Informações: (21) 3852-

0080.

O ISER – Instituto Superior de Estudos da Religião está disponibilizando a pesqui-sa Ação Social Evangélica – projetos sociais. Regiões metropolitanas de BH, RJ e Campinas. Este estudo foi encomenda-

do ao ISER pela Compassion do Brasil. A primeira parte do documento situa histo-ricamente o interesse dos evangélicos pela ação social

e a segunda parte apresenta uma análise das principais características dos projetos sociais evangélicos. Algumas informações extraídas do Relatório: 487 (57% das 843 igrejas pesquisadas) infor-maram possuir algum tipo de trabalho social Destes, 218 igrejas apresen-

taram trabalhos sociais diri-gidos a crianças e adolescen-tes nas faixas etárias entre 0 e 18 anos incompletos. As atividades ligadas à edu-

cação e à saúde respondem por quase metade dos servi-ços oferecidos pelas institui-ções evangélicas.52,1% das instituições

estão inscritas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e 54,9% no Conselho Municipal de Assistência

Social. (Solicitar ao ISER: www.

iser.org.br)

Site RenasO nosso site ficou pronto.

Você já visitou? Se não, vá lá; faça-nos uma visita, com certeza vai ser muito edifi-cante. Se sim, continue nos visitando, pois o conteúdo é atualizado diariamente. O site ficou muito agradável e de fácil busca de conteúdos.(www.renas.org.br)

Janelas para o mundo

Motivos para comemorar na obra social cristã

Instituto Renas

PFernanda Brandão

O boletim de onde foram retiradas estas informações

é produzido e divulgado pela Editora Ultimato, com

acompanhamento de Klênia Fassoni.

Endereço para correspon-dência: Caixa Postal 88, 36.570-000 Viçosa / MG

E-mail: [email protected]

Encontro Renas; trabalhando em Rede15, 16 e 17 de março

A Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) reconhece que as igrejas e organizações sociais de ação social de iniciativa evangélica têm se constituído numa força importantíssima para a nação brasileira, frente aos desafios cada vez maiores de exclusão e desigualdade social enfrentados pelas famílias empo-brecidas do nosso país.Por isso, propomos o ENCONTRO RENAS, cujo tema

é “Trabalhando em Rede”, que será uma oportunidade de proporcionar encorajamento, capacitação, articula-ção, troca de experiências e recursos, mas acima de tudo a oportunidade de encontrar pessoas que já estão trabalhando em rede em diferentes regiões brasileiras. Vamos ouvir e aprender como as organizações sociais e seus líderes têm se fortalecido uns com os outros através do trabalho em rede, e contribuído para a trans-formação social e espiritual das pessoas às quais se propõem a atender.Data:15 a 17 de março de 2006.Local: Vale da Bênção, São Paulo.Mais informações no site da Renas, www.renas.org.br

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Brasil PRESBITERIANO8 Fevereiro de 2006

Da Redação

Integração

SDP divulga atividades em prol da unificaçãoom o intuito de envol-ver e unir a Igreja e difundir cada vez mais

a Palavra de Deus, o Sínodo Sudoeste Paulista (SDP), no estado de São Paulo, divulgou no início deste ano sua agen-da de atividades e de seus cinco presbitérios. De acordo com o presb. Carlos Douglas Diniz, Secretário Executivo do SDP, todas as atividades e até mesmo a divulgação dessa agenda têm como obje-tivo unir e abençoar a Igreja de Jesus Cristo. “As ativida-des fortalecem a comunhão e estreitam o vínculo da paz entre os irmãos. Também são importantes para que a Palavra de Deus seja divulga-da e conhecida”.

Entre as diversas atividades dos presbitérios está o 10° Encontro de Casais realizado pelo sínodo e pelo Presbitério de Botucatu (PBTU). Neste encontro são abordados temas e reflexões sobre os relacio-namentos conjugais, o que, segundo o presb. Carlos, têm resultado em muitas bênçãos divinas. “Deus tem opera-do através destes encontros; casamentos têm sido restaura-dos, pessoas têm conhecido o Senhor Jesus e muitos casais têm testemunhado mudanças abençoadas em seus casa-mentos”, conta o secretário, que estima a presença de 160 pessoas para o encontro deste ano, que acontecerá entre os dias 17 e 19 de março. Os pre-letores do evento serão o pas-tor e missionário Sérgio Leoto e a mis. Magali Leoto, ambos conferencistas do Serviço de

Evangelização para a América Latina (Sepal). As atividades com os casais se estenderão, pela primeira vez, ao síno-do no Primeiro Encontro de Casais do Sínodo Sudoeste Paulista, que acontecerá entre os dias 17 e 19 de novembro deste ano.

Outro evento importante será o Encontro Sinodal da Terceira Idade, que aconte-ce na IP de Botucatu, em Botucatu (SP), no dia 18 deste mês. O presb. Carlos afirma que a Secretaria Sinodal da Terceira Idade tem se esforça-do muito para criar Secretarias Presbiteriais buscando, cada vez mais, um carinho especial com essa faixa etária. O prele-tor do evento será o Secretário Sinodal da Terceira Idade, rev.

Ismael de Lima, e será abor-dado o cuidado e o envol-vimento da Terceira Idade na Igreja. “O encontro visa um planejamento bienal com os Secretários Presbiteriais, mais as Federações da UPH e SAF para traçar planos e metas para um envolvimento cada vez maior desses irmãos com as Igrejas e Concílios”, explica.

Quanto ao valor que o idoso cristão possui para a socie-dade e para a Igreja, o presb. Carlos coloca as palavras do rev. Ismael. “O reveren-do afirma que as principais características e valores são: para Deus não há idade; os idosos, por serem filhos da luz, participam de uma enor-me família, que é a família da

fé, portanto, não há desampa-rados, não há abandonados, não há asilos. Idoso cristão não é problema para a socie-dade, nem para a igreja”.

PROPAGAÇÃOCom relação à divulgação

da agenda de atividades do sínodo, o secretário executi-vo afirma que a iniciativa de propagar todos os trabalhos do SDP partiu do presidente do sínodo, presb. Clodoaldo Waldemar Furlan. “Todo evento tem de ser bem tra-balhado, a começar por sua divulgação. Uma boa comu-nicação transmite seriedade, compromisso e trabalho. O SDP também tem apoia-do, com os dois folders que foram feitos para os últimos dois Encontros de Pastores

e Esposas”, afirma o presb. Carlos, apontando ainda que todas as igrejas e congrega-ções do sínodo receberam fol-ders e cartazes com a agenda do SDP.

O presb. Carlos contou ainda os planos e objetivos que os membros do SDP têm pre-parado para suas atividades. “O sínodo Sudoeste Paulista (SDP) e seus cinco presbité-rios (Médio Paranapanema, Itapeva, Botucatu, Itapetininga e Tatuí) têm procurado traba-lhar um envolvimento cada vez maior entre as Secretarias Sinodais e as Secretarias Presbiteriais, tendo como meta a unidade da Igreja, e com isso um crescimento espiritual e numérico”.

Como prova deste esfor-ço, o presbítero apon-ta a Secretaria Sinodal de Educação Religiosa, que tem como secretário o presb. Luis Antonio de Castro. A secreta-ria está se esforçando para que sejam formadas Federações de Escolas Dominicais por todo o sínodo, a fim de pre-parar e orientar professores, secretários e superintendentes para que as escolas domini-cais sejam cada vez melhores e mais dinâmicas, e propor-cione às crianças, que o pres-bítero coloca como a “igreja futura”, um crescimento com identidade diferente daquilo que o mundo ensina e ofere-ce, além do cuidado com os adolescentes, jovens e adul-tos.

Mais informações: Secretaria Executiva do SDP – fone: (15) 3384-2897; e-mail: [email protected].

Martha de Augustinis

C

Visando melhorar a comunicação e a integração da IPB, Sínodo Sudoeste Paulista propaga sua agenda de atividades pelas igrejas.

Última Reunião Ordinária do SDP (da esquerda para direita): rev. Wandell Ribeiro; presb. Douglas Diniz; presb. Clodoaldo W. Furlan; rev. GiovaniF. Pereira e rev. Carlos Telles.

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Brasil PRESBITERIANO 9Fevereiro de 2006

São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis rendem ações de graçaspor aniversário de pastorado de seus líderes

Jubileu ministerial de Pastores

IP do Rio celebrou o jubileu do rev. Guilhermino Cunha

em culto no dia 14 de janei-ro. Membros da igreja, con-cílios de demais convida-dos reuniram-se para agra-decer a Deus pelo trabalho desempenhado pelo reve-rendo ao longo deste perí-odo. A abertura do evento contou com uma narrativa histórica da trajetória do rev. Guilhermino. Nascido em Dom Cavati

(MG) em um lar presbi-teriano, estudou em esco-la evangélica em Alto do Jequitibá. Cursou a facul-dade de Direito e Filosofia e, ainda na juventude, exer-ceu o cargo de presiden-te da UMP da 1ª Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte e da federação de Mocidades.Logo o chamado foi

confirmado em sua vida. Assim, iniciou os estudos no Seminário Teológico Presbiteriano do Centenário, em Vitória (ES). Casou-se com Hélida, foi ordenado pastor e empossado como minis-tro em 1968, no templo da Igreja Presbiteriana Central de Cachoeiro do Itapemirim (ES). Após concluir, em 1971,

mestrado no Seminário Teológico de Pittsburgh

(EUA), o rev. Guilhermino retornou à IP de Cachoeiro, mas Deus o conduziu à IP de Copacabana, na capi-tal do Rio de Janeiro. Dez anos depois, tornou-se pas-tor da IP do Rio de Janeiro, a mais antiga do Brasil. Seu compromisso foi o de manter a paz, a pureza e a unidade da Igreja.Nestes 25 anos, Rev.

Guilhermino deu ênfa-se à sua visão missioná-ria, instituindo parcerias como o Rumo ao Sertão, a Missão Caiuá, e a Feira das Nações. O rev. Guilhermino foi

presidente do Supremo Concílio da IPB por dois mandatos consecutivos, de 1994 a 2002. Atualmente, é o vice-presidente do Supremo Concílio. Presidiu ainda a Sociedade

Bíblica do Brasil, e é mem-bro da Academia Brasileira Evangélica de Letras. Rev. Antônio EliasA igreja adorou ao Senhor

em um culto de gratidão pelos 25 anos de ministé-rio do rev. Guilhermino. O mensageiro da noite foi o rev. Antônio Elias, que tomou como base o texto de Gn.12:2: “Se tu uma benção”. Ao final da noite, o rev. Guilhermino recebeu os cumprimentos no Hall Nobre, em recepção aberta para toda a igreja e convi-dados.

ADa Redação

Comemoração

IP de Florianópolis celebrou no mês pas-sado um culto de gra-

tidão a Deus pelo aniversá-rio de 40 anos de ministério do rev. Osvaldo Henrique Hack. Catarinense nasci-do em lar evangélico, é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano do Sul, e foi consagrado ao ministério pastoral em 6 de janeiro de 1966. Antes de chegar à IP de

Florianópolis em 1967, onde ficou até 1992, e rece-beu o título de pastor emé-rito por seu jubileu de prata como pastor daquela igreja, pastoreou igrejas em Itajaí, Joinville, São Francisco do

Sul, Camboriú e Blumenal.Vida eclesiástica e aca-

dêmicaEntre os cargos exercidos

pelo rev. Osvaldo na vida eclesiástica estão os de pre-sidente do Presbitério de Florianópolis; do Sínodo Meridional(1971-1977); Presidente da Junta de Educação Teológica (1990-1994;1999-2002); entre outras funções. Atualmente é presidente do Sínodo da Integração Catarinense. Ele ajudou a fundar o Conselho de Igrejas para o Ensino Religiosos (CIER) em Santa Catarina. Cursou teologia e missão em Amsterdam(2000) no congresso mundial realiza-

do pela Associação Billy Graham, na Holanda.Rev. Osvaldo fez dou-

torado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo em História Social. Entre seus livros já publicados, o destaque é “Travessia pelo deserto: reflexões sobre o pastorado”, lançado em referência aos 40 anos de ministério. Casado com Elisabeth Lucia Prange Hack, é pai e avô.O presidente do Supremo

Concílio da IPB, rev. Roberto Brasileiro, trouxe a mensagem no culto de gratidão pelo Jubileu de Rubi do rev. Osvaldo.

m dezembro últi-mo, a IP Unida de São Paulo (SP) ren-

deu graças a Deus pelos 40 anos de ministério do rev. Carlos Aranha Neto. O culto especial de come-moração contou com a preleção do presidente do Supremo Concílio da IPB, rev. Roberto Brasileiro, e com um breve histórico da vida eclesiástica do rev. Carlos.Formado no Seminário

Presbiteriano de Campinas (SP), no dia 7 de novem-bro de 1965 e ordenado

ao ministério dois meses depois, o rev. Carlos Aranha Neto pastoreou as igrejas de Hortolândia e de Campinas, tomando a fren-te da IP Unida em 1991.Nesses 40 anos de pas-

torado, o reverendo teve a oportunidade de pre-senciar reuniões da IPB e ocupar cargos importantes. Presidiu e participou ativa-mente das atividades dos Presbitérios de Campinas e Unido chegando à pre-sidência do Sínodo Unido em agosto de 2000, cargo que ocupa até hoje.

O rev. Carlos foi ainda professor e Deão do Seminário Presbiteriano de Campinas de 1988 a 1990. Cinco anos mais tarde, o reverendo ocupou a presi-dência da Junta de Missões Nacionais (JMN) da IPB, onde permaneceu até o ano 2000.Ao longo de sua vida

eclesiástica, o reverendo participou de 18 reuniões da Comissão Executiva da IPB e seis reuniões do Supremo Concílio, sendo nomeado o terceiro secre-tário no ano de 2003.

Vice-presidente do Supremo Concílio da IPBcompleta 25 anos de ministério

Ex-chanceler do Mackenzie é homenageado por Jubileu de Rubi

Secretário da Junta de Missões Nacionais chega aos 40 anos de ministério

A

E

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de casas. Tais igrejas contam com voluntários para prepa-rar casas para os que encon-tram teto apenas sob viadu-tos e marquises. “Creio que somente o evangelho para dar esse tipo de sensibilidade ao homem em uma socieda-de fortemente voltada para a satisfação do ego”.Outro drama enfrenta-

do pelos africanos está na saúde. Conhecida em todo o mundo pelo problema enfren-tado com a Aids, a África do Sul possui mais de 35% da população infectada pelo HIV. Cálculos revelam que aproximadamente 2 milhões de crianças estão órfãs por conta da doença. “Somente no ano passado o governo

decidiu oferecer tratamento gratuito para pacientes que comprovem falta de recur-sos”, explica o rev. Gessé. Ele pondera que, mesmo que a ação represente um avanço na luta contra a epidemia, ainda é muito pouco. “Isso porque não atende nem a 10% daque-les em real necessidade”. Mas o missionário encon-

tra motivos para estar otimis-ta com relação a este grave problema. Segundo conta, as igrejas estão empenhadas em minimizar o efeito devas-tador da Aids em meio às famílias sul-africanas. Hoje, já existem igrejas trabalhan-do junto a orfanatos com o objetivo de amparar crianças que perderam os pais em vir-

tude da doença. Outro motivo para render glórias a Deus é a constatação de que os cidadãos daquele país tem se tornado mais conscientes do problema ao abraçarem a fé cristã, entregando suas vidas a Jesus. “Como conseqüência disso, a promiscuidade perde força. Nos ambientes genui-namente cristãos, o índice de infectados é bem menor”, afirma o reverendo. Em uma cidade em que bele-

za e miséria caminham lado a lado, o rev. Gessé encontra motivos para comemorar. O trabalho em constante desen-volvimento realizado pelo missionário e sua família há exatos quatro anos tem colhido excelentes resultados.

Durante este período, refugia-dos entregaram a vida a Jesus. Alguns deles foram acompa-nhados de perto pelo missio-nário, por meio de estudos bíblicos elementares e tam-bém mais elaborados. “Por dois anos acompanhamos um grupo de 13 jovens em um programa de escola bíblica. Com o apoio de mais dois colegas, lecionamos 30 maté-rias ao longo daquele período. Alguns desses irmãos conti-nuam dando bom testemunho, evangelizando e discipulando outros”. O missionário explica que,

na maioria dos casos, refu-giados são pessoas que per-deram praticamente tudo, incluindo até a própria dig-

nidade. Deixaram para trás casa, família, identidade, o contato com a família, pro-fissão, amigos etc.. “(Estão) apenas em busca do direito de continuar existindo. São obri-gados a se sujeitarem a todo tipo de humilhação e a única esperança que têm é a de con-tinuar vivos no dia seguinte”, relata o rev. Gessé. Mas ele constata, a cada dia, que o evangelho restaura sonhos e traz de volta a dignidade des-tes imigrantes. “Percebemos que, ao receberem o evange-lho, voltam a sonhar. Sonham em retornar um dia à sua terra, rever aqueles que lhes são caros e reconstruir a vida. É através do evangelho que descobrem que, para Deus, não há impossíveis”. Para este ano, os planos são

continuar com os cultos em língua portuguesa na Igreja Presbiteriana de Kenilworth, e dar seqüência ao traba-lho de evangelização para jovens por meio do esporte. O missionário trabalha ainda para a efetivação da “Casa Maná”, cujo objetivo é ofere-cer apoio aos refugiados que aceitam a Jesus como Senhor e Salvador, mas que passam por situações de desemprego e falta de moradia. “A dis-criminação a refugiados aqui é muito alta. Por falta de recursos para morarem em locais mais seguros, são obri-gados a viverem em favelas, e ali são alvos de violência ainda maior. Estamos lutando para conseguir um local que sirva de abrigo até que consi-gam serviço e assim tenham dinheiro suficiente para sua própria acomodação fora da favela”, explica o rev. Gessé. Contatos com o rev. Gessé

podem ser feitos pelo email [email protected], ou pelo telefone (00**) 27-761-8508.

ape Town, ou Cidade do Cabo, na África do Sul, sustenta a fama de ser

uma das cidades mais belas do mundo. Banhada pelas águas do Oceano Atlântico, possui belezas naturais comparáveis a outros pólos turísticos espa-lhados pelo planeta – cida-des como Rio de Janeiro e Florianópolis, e as ilhas no Mar do Caribe, por exemplo. Foi para esta cidade que Deus levou a família do Rev. Gessé Almeida Rios, com o objetivo de trabalhar com estrangeiros que vivem naquela cidade. Mas os desafios enfrentados

pelo missionário se apresen-tam na mesma proporção das riquezas da Criação existentes na Cidade do Cabo. Durante quase meio século (de 1948 a 1994) o país viveu sob o regime do Apartheid. Pelo sistema político segregacio-nista, a maioria da população, composta por negros – cerca de 70% à época – viu-se usur-pada em seus direitos de cida-dãos sulafricanos. Assim, por uma decisão de uma minoria branca poderosa, tudo deveria ser devidamente segregado; enquanto os hospitais dirigi-dos a brancos tinham estru-tura comparável a qualquer hospital de pais de primei-ro mundo, os destinados aos negros sofriam com escassez de recursos e pessoal prepa-rado. As marcas deste regime arbi-

trário e cruel estão visíveis até hoje em meio à sociedade

sul-africana. E é neste con-texto que o rev. Gessé reali-za seu trabalho. “Chegamos aqui apenas pouco mais de sete anos após o fim daquele sistema”, relembra o missio-nário, que desembarcou com a família na Cidade do Cabo em 4 de fevereiro de 2002. “O que vimos quando chega-mos, e ainda vemos, é uma gritante desigualdade social separando as raças. Ainda é difícil a mobilidade social das raças negras e mestiças. O que há de positivo é uma forte pressão política de oferecer mais espaço para aqelas raças que foram menosprezadas no tempo do Apartheid”, come-mora o missionário.Neste cenário, o rev. Gessé

tem trabalhado junto a estran-geiros residentes na Cidade do Cabo, mais especificamen-te o que ele classifica como refugiados: pessoas que estão provisoriamente na cidade. Há hoje uma igreja no bairro de Kenilworth que atende a uma comunidade de língua portu-guesa. Segundo o missionário, apesar de não se tratar neces-sariamente de uma cogrega-ção, o trabalho funciona como se fosse uma. O grupo de, em média, 12 pessoas, é compos-to por angolanos, brasileiros, portugueses e congoleses que falam português. “São pesso-as que estão em trânsito, na sua maioria”, explica o reve-rendo. Os encontros aconte-cem nas instalações da Igreja Presbiteriana do Kenilworth, que cede o espaço gratuita-mente.

“Temos feito contato evan-gelístico com pessoas de diversas nacionalidades, como Angola, Áustria, Brasil, Moçambique, Israel, Ilha da Madeira, Portugal, Estados Unidos, Paquistão, Ruanda, Quênia, Suazilândia, Sudão, Zimbabue etc. “Nosso prin-cipal objetivo é o de alcan-çar estrangeiros vivendo em Cape Town com o poder do Evangelho”, define o rev. Gessé. “Não sabemos de que forma ou quando Deus, atra-vés do Espírito Santo, reali-zará sua obra. Semeamos e oramos na esperança de que muitos sejam alcançados e, ao voltarem para seu povo, sejam testemunhas da salvação em Cristo Jesus”, completa. O trabalho é feito inicial-

mente por meio de visitas. Quando há interesse por parte dos visitados em conhecer mais a respeito do Reino, o rev. e sua família colocam-se à disposição para realizar estudos bíblicos, focados no discipulado. O passo seguin-te é encaminha-los à Igreja Presbiteriana de Kenilworth, para que frequentem e enten-dam o significado de viver em comunhão. O missionário trabalha ainda com famílias carentes; algumas delas não possuem local para morar. “Há um grande abrigo na cidade para refugiados e sem-teto. Ali, temos mantido um trabalho de evangelização e discipulado com rapazes e crianças”. Este trabalho é realizado aos sábados, e é acompanhado de momentos

de recreação, explica o rev. Gessé. “Nos estudos bíblicos, ministramos um curso bem básico. Deixamos com eles lições impressas para comple-tarem as respostas durante a semana, e coletamos na sema-na seguinte, quando deixamos outras, e assim por diante”. O missionário tem o cuidado de distribuir ainda roupas usadas e cobertores providenciados pela Igreja Presbiteriana. “Às vezes levamos um lanche, quando nossas condições nos permitem”, revela. Juventude Além de suas belezas natu-

rais, a Cidade do Cabo é reco-nhecida mundialmente por suas universidades. Hoje já existem agências promotoras de intercâmbios estudantis que indicam a cidade como uma excelente opção para quem deseja estudar inglês, imerso em uma cultura que tem o idioma anglo-saxão como oficial. O que tem pro-porcionado a igrejas e agên-cias missionárias um vasto campo, composto por jovens estudantes, para a expansão do evangelho. A juventude focada pelo missionário é também a composta por refu-giados. Para estes, a estratégia encontrada foi a de usar o esporte como meio de aproxi-mação. Por meio do futebol e do vôlei, o rev. Gessé apresen-ta a boa nova de Salvação a muitos que admiram o talento nato do brasileiro para espor-tes coletivos, principalmente o futebol. “Na sua maioria, (os jovens refugiados) são

amantes do futebol e, por conta disso, vêem o Brasil com muita admiração. O fato é que aproveitamos essa porta (o esporte) para introduzir o evangelho”, revela.Aids e abismo socialO regime de segregação

criou um profundo abismo entre as camadas mais ricas e miseráveis na África do Sul. Mesmo hoje, 12 anos após o fim do Apartheid, as mar-cas causadas por este siste-ma ainda estão expostas pelas ruas da cidade; a necessidade de equilíbrio social é gritante. Mas o rev. Gessé alerta para o fato de que as necessidades da população mais carente daquele país são as mesmas dos brasileiros esquecidos na pobreza. Problemas como acesso à educação com o míni-mo de qualidade, suficiente para dar a crianças condições de sonhar com dias melhores, doenças resultantes da total falta de saneamento básico, falta de moradia etc.. “Cape Town é uma cidade cerca-da por imensas favelas, tais como a Kayelitshia, com mais de um milhão de habitantes, além de vários outros assen-tamentos ilegais”, lamenta o missionário. Ele destaca ainda que a falta de empre-go é o grande problema da população carente na Cidade do Cabo. Na África do Sul, o índice de desemprego chega a alarmantes 40%. Com relação ao problema da falta de mora-dia, o reverendo comenta que já existem igrejas engajadas em projetos de construção

Brasil PRESBITERIANO10 11Fevereiro de 2006 Fevereiro de 2006Brasil PRESBITERIANOMissões

CFilipe Albuquerque

Rev. Gessé (ao violão) dirige louvor em culto de língua portuguesa realizado na Cidade do Cabo

Do outro lado do oceano

Missionário presbiteriano na Cidade do Cabo, África do Sul, vence os obstáculospara a pregação do evangelho em uma sociedade recém-saída do Apartheid

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Brasil PRESBITERIANO12 Fevereiro de 2006

Cinema

CS Lewis nas telas

clássico “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-

Roupa”, do escritor cristão CS Lewis (1898-1963), estreou nos cinemas do planeta em dezembro último. A obra do autor irlandês, filho de presbiterianos, ainda é pouco conhecida no Brasil. Mas o filme – durante boa parte do mês de janeiro, “Nárnia” este-ve em segundo lugar entre os filmes mais assistidos nos Estados Unidos – , dirigi-do pelo neozelandês Andrew Adamson (vencedor de dois Oscars com Shrek e Shrek 2) pode fazer justiça a Lewis e seu trabalho, que possui admiradores no universo aca-dêmico e literário mundial. E talvez seja a oportunidade que a igreja evangélica pre-cisava para retomar o diálo-go sobre o cristianismo junto à sociedade, que teve em A Paixão de Cristo, de Mel Gibson (2004), um estímulo para permanecer na pauta de discussões em todo o planeta durante seu período nas telas.

Sob esta perspectiva, Brasil Presbiteriano conversou com representantes da IPB e conhecedores da obra de CS Lewis sobre o significado e a importância de, em um período da história em que títulos literários procuram questionar a existência e a divindade de Jesus, ter na tela dos cinemas um filme cuja premissa é apresentar Cristo e seus ensinamentos de manei-ra lúdica. Apresentado ini-

cialmente como uma série de histórias infantis, As Crônicas de Nárnia narram a saga de quatro crianças que aden-tram o universo fantástico de Nárnia e, entre tantas perso-nagens com ares mitológicos e durante a história que narra luta travada entre o bem e o mal, encontram-se com o leão Aslan, uma representa-ção alegórica de Jesus.

Para o rev. dr.Mauro Meister, professor de Antigo Testamento e coordenador da área de Teologia Exegética do Centro Presbiteriano de Pós-graduação, é necessário assis-tir ao filme com certo olhar crítico. Segundo o reverendo, “algumas coisas (apresenta-das no filme) poderiam deixar um fã de Lewis muito chate-ado, e outros, teologicamente ‘plugados’, muito preocupa-dos”.

Entre as observações fei-tas pelo dr. Mauro está o fato de que o pai de Aslam é substituído pela ‘Mágica que Governa’, fazendo com que ‘o Imperador que gover-na além do mar’ torne-se, de acordo com o rev., impes-soal, semelhante ao ocorrido na trilogia “O Senhor dos Anéis”. “Outro problema é que Aslam, no livro, é muito mais poderoso e efetivo na sua autoridade do que a forma como está representado no filme”, pondera o dr. Mauro.

Entretanto, apesar das pon-derações, o rev., que assis-tiu o filme acompanhado dos filhos, é otimista com relação à adaptação do livro. Ainda que, em sua visão, alguns diálogos do livro tenham sido sacrificados na versão

para as telonas, o filme é envolvente e profundo. Como parte mais emocionante da fita, ele destaca o momento em que Aslam, que carregava sobre si a esperança de sal-var Nárnia, entrega-se para morrer no lugar de Edmundo, que rebelou-se contra seus irmãos e traiu a população de Nárnia. “A caminho do seu lugar de sacrifício, pelas mãos da Feiticeira Branca, Aslam afirma a dois persona-gens (as filhas de Eva), que era necessário que ele fosse sacrificado. Nesta altura, minha filha pediu para assen-tar-se ao meu lado e me disse: ‘Papai, não estou entendendo o filme’. Veio para o meu colo e eu rapidamente expli-

quei o caráter representativo dos personagens”, relembra o rev. Mauro. Mas ao deparar-se com a cena em que Aslam se apresenta para o sacrifí-cio, conta o dr., “meu filho se inclina, algumas cadeiras de distância, e diz: ‘Pai, é igualzinho à Bíblia!’. Minha sensação, naquele instante, é que ambos compreenderam, no filme, o conceito de reden-ção. Esta é a proposta de Lewis em seu livro e, pelo menos nós três tivemos este impacto”.

O dr. Mauro conclui encon-trando no filme excelente oportunidade para que pais cristãos mostrem a história e o significado da redenção fora do ambiente regular da

igreja e do culto doméstico. Ele faz questão de alertar que se trata de uma obra de ficção, e que a tentativa de encon-trar harmonia entre todos os elementos apresentados no filme e aspectos teológicos é como tentar interpretar cada elemento de uma parábo-la: “impossível sem que se conclua uma bobagem”. Dr. Mauro recomenda ainda que cristãos convidem não-cris-tãos para uma sessão de “As Crônicas de Nárnia”, com o objetivo de utilizar a narrati-va para explicar o conceito de redenção. Para ele, “ainda que a história esteja lá, quem não conhece a narrativa bíbli-ca não entenderá a preciosi-dade dos conceitos sem que

O

Obra prima de escritor britânico chega às telas do cinema e bate recordes de bilheteria; adaptação é oportunidade para suscitar discussão sobre o evangelho

Letícia Ferreira eFilipe Albuquerque

(free lancer)

Aslam é o leão que se lança em sacrifício para a redenção de Nárnia;conexão direta com a mensagem de salvação do Evangelho

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Brasil PRESBITERIANO 13Fevereiro de 2006

haja quem os explique”.Autora de “A Antropologia

Filosófica na Obra de CS Lewis”, tese de mestrado publi-cada pela editora Mackenzie, Gabriele Greggersen entende que o filme foi bastante fiel ao livro. Para ela, eventuais diferenças sutis em relação ao original do autor irlandês “são acréscimos, como toda parte introdutória, que até considerei importantes para o entendimento das condições da guerra, das quais já esta-mos distanciados no tempo do clima e da realidade da Europa que afetavam prin-cipalmente as crianças nos grandes centros urbanos”.

Gabriele ressalta que a ausên-cia de elementos do livro, como os preparativos para o jantar na casa dos castores, a longa conversa que Edmundo tem consigo mesmo enquanto caminha em direção ao caste-lo, a descrição feita por Lewis dos sentimentos das crianças sobretudo no momento em que elas escutam pela primei-ra vez o nome de Aslam, além de interferências feitas pelo escritor deixam a desejar. “E do ponto de vista do humor e do clima geral da história, a cena que mais me fez falta foi a do gigante que se comove no final e pede emprestado o lencinho de Lúcia, que acaba confundindo com Lúcia mesmo”.

Tais ausências, pondera Gabriele, tiraram do espec-tador a oportunidade de des-frutar das “cenas de maior profundidade filosófica e teo-lógica e o conceito central da ‘magia mais profunda de antes da aura do tempo’, que dá ao livro um caráter distinta-mente anti-maniqueísta”. Ela acrescenta que importantes diálogos suprimidos, contidos nestas cenas citadas, tiram, de certo modo, as noções de redenção e resgate.

“Entretanto, acredito que o diretor de qualquer filme

tem o direito de exercer o seu papel de criador”, ressalta Gabriele, “‘inventando’ deta-lhes a mais na história, como no caso da raposa e do encon-tro de Tumnus e Edmundo no calabouço”. Mas a escritora faz observações significativas quanto a determinadas alte-rações: “o que não se pode admitir é a omissão de conte-údos teológicos e filosóficos, como o conceito de realidade e verdade, tão iminentes no livro e que tentamos esmiuçar na tese de mestrado”. Sua tese, “Antropologia Filosófica de C.S. Lewis”, está sendo relançada pela Editora Vida.

Gabriele conclui que, salvos tais detalhes, a adaptação ao cinema da obra de Lewis ser-viu para tornar o autor mais conhecido principalmente entre os brasileiros. Na ava-liação da escritora, “nós está-vamos completamente alie-nados da importância que o autor vem adquirindo pelo resto do mundo”.

Por ocasião do lançamento de “Nárnia”, Gabriele acaba de traduzir “Um ano com CS Lewis; leituras diárias de suas obras clássicas”, publicado

pela Editora Ultimato (leia texto na página 14).

Na visão do rev. Evaldo Beranger, pastor auxiliar da IP do Rio de Janeiro, a adap-tação para o cinema de “As Crônicas de Nárnia” é a rea-lização de um sonho acalen-tado há tempos pelos leitores e aficionados da obra de CS Lewis. Para ele, a compe-tência das companhias Walt Disney e Walden Media só fizeram transformar o filme em algo realmente mágico. Inicialmente apreensivo com a idéia de ver a obra adapta-da para o cinema, teve seus receios dissipados ao assistir a versão legendada. “E meu entusiasmo cresceu com a versão dublada”, comemora o rev..segundo Evaldo, ambas são muito bem cuidadas, os efeitos especiais são extraor-dinários, os atores, competen-tes, e o que é melhor: (o filme é) fiel ao que está escrito”.

O rev. Evaldo acredita que o efeito causado pela adaptação não poderia ser melhor. De acordo com sua observação, chega a ser impressionante conversar com quem assistiu o filme sem ter lido o livro,

ou com quem sequer conhe-cia a obra de CS Lewis. “Há uma identificação imediata com a obra substitutiva de

Jesus na cruz por aqueles que são cristãos. Já para aqueles que não são cristãos, o filme constitui-se em uma ponte surpreendente para a apresen-tação do evangelho”, define. Outro efeito singular, para o reverendo, e a curiosidade pela leitura das Crônicas que o filme suscita. Ele destaca ainda a campanha de marke-ting desenvolvida para levar o público aos cinemas, com bonecos alusivos à história em promoções da rede de lanchonetes Mc Donalds, e a reedição, em fascículos sepa-rados ou em volume único do livro, em edição de luxo. “Parece que a maravilhosa criação de CS Lewis saiu, finalmente, das estantes para a cultura popular. E o que é melhor: em grande estilo”, vibra o rev. Evaldo

Sites consultados: UOL Cinema, Portal da Revista Ultimato.

Igrejas britânicas em campanhapara divulgar “Nárnia”

As igrejas evangélicas do Reino Unido entenderam que a exibição de “Nárnia” pode ser a oportunidade de trazer novamente o tema redenção à sociedade. Assim, editoras produziram pacotes especiais com o livro para as igrejas, enquanto metodistas prepararam sermões temáticos. A editora evangélica Christian Publishing and

Outreach (CPO) estabeleceu um acordo com a Disney. Pelo contrato, a companhia obteve permissão para usar imagens do filme em pacote preparado espe-cialmente para as igrejas. Pôsteres, DVDs e folderes foram criados para anteceder a estréia do filme nos cinemas. Ainda segundo a editora, um guia foi criado para auxiliar os líderes cristãos a como preparar ser-mões incluindo o tema “Nárnia”, bem como realizar atividades com crianças baseadas na história de CS Lewis. A Igreja Anglicana de San Luke, em Maidstone, sudo-

este da Inglaterra, adotou a mesma rotina utilizada no lançamento de ‘A Paixão de Cristo’, de Mel Gibson. De acordo com um porta-voz da comunidade, foram comprados 10 mil libras, ou R$38.400, em ingressos para serem entregues a famílias de pais solteiros da região. O objetivo era presentear, no Natal, famílias carentes que não teriam condições financeiras de ir ao cinema.

A pequena Lúcia, Suzana e Edmundo, amparado pela mãe: alterações em relação ao texto original não comprometem a premissa da obra de CS Lewis

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Brasil PRESBITERIANO14 Fevereiro de 2006

paixonei-me por C.S. Lewis sem saber quem ele era, quan-

do vi o desenho animado de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa na televisão, quando era criança. Fiquei emocionada com a história e a princípio não fiz asso-ciação com o evangelho. A ficha viria cair apenas mais tarde, quando as his-tórias começaram a ser usa-das no grupo de jovens que meus irmãos mais velhos freqüentavam e do qual eu ainda não podia participar. Mas, como sou curiosa, fui logo lendo toda e qualquer das Crônicas que me caíam nas mãos. Reencontrei-o bem mais tarde, num lugar totalmente inesperado: um curso de filosofia na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Dessa vez o livro foi Cartas do Diabo a seu Aprendiz, que rendeu três horas de debate sobre literalmente “Deus e o mundo” com o meu professor, que acabaria se tornando o meu orien-tador, tanto no mestrado, quanto no doutorado. Ele escreveu algo no prefácio da minha tese, Antropologia Filosófica de C.S. Lewis, quando foi publicada pela Editora Mackenzie, que explica tudo: “Nesse sen-tido, C.S. Lewis em The Four Loves fala da amizade como faísca, um intuir que, no meio daquela massa, há alguém — passe a palavra

tão desgastada — especial, único em sintonia conos-co, e dizemos admirados e agradecidos: ‘Ah, você também/” O sentido de uma das palavras gregas para amar — filéin — é preci-samente o desse Ah, you too?, o estar em sintonia (filadélfia é a sintonia entre irmãos; filantropia, o sentir com o gênero humano” (p. 8). Muitas coisas me põem

em filadélfia com esse autor: ele foi um amante da filosofia, da literatura e da educação, tanto que se tornou professor de várias disciplinas nessas áreas em Oxford e Cambridge. Ele já amava os mitos e gostava de contar histórias, desde antes da sua conversão, e não viu necessidade de aban-donar essas paixões depois. Coisas assim me aproxi-mam também de Monteiro Lobato, Malba Tahan, os irmãos Grimm, Cervantes, Nietzsche, Goethe e tan-tos outros excelentes auto-res. Porém há algo mais que nos põe em sintonia: ele também era cristão, como o eram autores cor-relatos seus, como J.R.R. Tolkien, G.K. Chesterton e George Mac Donald. Será que amo C.S. Lewis mais como escritor clássico ou como cristão? Difícil dizer. Contudo mais difícil ainda é encontrar um autor que consiga conciliar o ser um clássico com o ser ótimo professor, excelente filóso-fo ou até mesmo teólogo,

como alguns o consideram, e cristão excepcional. Pois na vida intelectual e cultural um cristão muitas vezes se sente só e incompreendido, uma vez que não encontra muitos irmãos nesses meios. Parece que os cristãos que ainda restam ali brincam de esconde-esconde. C.S. Lewis, ao contrário, pro-põe uma apologética clara, lógica e simples nos seus escritos teológicos, que me deu base e segurança na fé cristão no contexto univer-sitário. Mas, como já dizia

Pascal, há razões de que até a razão duvida... Quando a Editora Ultimato

me pediu para traduzir Um Ano com C.S. Lewis; lei-turas diárias de suas obras clássicas, eu disse que gos-taria de ter um ano para faze-lo. Assim, eu teria mais chances de fazer um excelente trabalho e, ao mesmo tempo, garantiria o “maior prazer” em cumprir esse desafio. Porém as coi-sas nem sempre são como a gente acharia ideal, e C.S. Lewis está pedindo pressa,

principalmente neste país em que ele ainda é tão pouco conhecido. Então, espero que o meu prazer apressa-do possa se somar ao de diversos amantes de Lewis e das leituras diárias, numa “progressão geométrica e sinergética” cotidiana em prol do reino de Deus.

AGabriele Greggersen

Livro

Gabriele Greggersen é dou-tora em filosofia da educação

e autora de Antropologia Filosófica de C.S. Lewis.

(Publicado na Revista Ultimato, no 298, jan-fev 2006)

É tempo de C.S Lewis

C.S. Lewis propõe uma apologética clara, lógica e simples nos seus escritos teológicos

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Brasil PRESBITERIANO 15Fevereiro de 2006

o primeiro domingo deste mês, dia cinco, a IPB reserva suas

comemorações aos homens presbiterianos. A data é come-morada em diversas igrejas, com é o caso da IP de Vila Mariana, em São Paulo (SP), que realiza o Culto de Ação de Graças no Dia do Homem Presbiteriano. Sempre que o evento se aproxima, diversas considerações sobre o papel, os desafios e a essência do que é ser um homem presbiteriano afloram e pedem discussões e reflexões. Pensando nisso, o BP ouviu alguns líderes presbiterianos que exercem cargos frente à ação social, à Igreja e à sociedade como um todo.

Ocupando a superinten-dência de Desenvolvimento Humano do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) há quase um ano, o presb. Hothir Ferreira vê o papel do homem presbite-riano extremamente ligado à reflexão sobre a pessoa de Cristo em todos os âmbitos. “Pela prática do amor, espíri-to de serviço e postura ética. O seu desafio começa em casa, amando e sendo refe-rência para esposa e filhos”, afirma, apontando ainda a ação social como uma grande oportunidade de serviço cris-tão e um meio eficaz de pro-pagar a mensagem redentora do Evangelho.

O presbítero apresenta tam-bém a realidade de que o tes-temunho, as ações e o temor a Deus que o homem presbi-teriano imprime na socieda-de são também a imagem da

IPB, o que, segundo o presb. Hothir, é muito importante, haja visto o tempo de con-fusão religiosa em que vive-mos.

MUITO ALÉM DA UPHE falando em refletir à socie-

dade o que é a IPB, por meio do testemunho, o Secretário

Executivo da Comissão Nacional dos Homens Presbiterianos (CNHP), presb. Lidiel S. Scherrer afir-ma que infelizmente algumas igrejas têm restringido o papel e o foco do homem presbite-riano à União Presbiteriana dos Homens (UPH). “Vejo o homem presbiteriano inseri-do na Igreja em seu sentido amplo, bem como em toda a sociedade”, afirma o secretá-rio, completando que o pro-blema não está apenas em algumas igrejas, mas, de certa

forma, na IPB. Do mesmo modo se expressa o pastor efetivo da IP de Vila Ema, em São Paulo (SP), rev. Paulo Bronzeli. “O papel do homem presbiteriano vai muito além da UPH. A sociedade é um meio através do qual o homem presbiteriano pode atuar para

atingir a comunidade onde está inserido”, afirma.

Quando questionado sobre a existência de um incentivo da Igreja e de sua doutrina para a formação de bons homens presbiterianos, o presb. Lidiel expõe ausências, falta de estí-mulo e pouca preocupação com a formação de cidadãos. “Vejo com tristeza que exis-te por parte de alguns um esforço para desestimular a participação nos trabalhos nas sociedades internas da Igreja (Forças de Integração).

Entendo que quando não se tem UCP, UPA e UMP fun-cionando dentro dos moldes estabelecidos pela Igreja, não estamos contribuindo para a formação de bons cidadãos. Não tenho dúvidas que a res-posta é positiva (de que há um incentivo). O que lamento

é que, em algumas situações, não temos lido a ‘cartilha’”.

Ele afirma que ser um homem presbiteriano é estar, acima de tudo, sempre dis-ponível, de forma que tal disponibilidade seja de fato percebida pela Igreja, servin-do de um valioso instrumen-to. “Entendo que o principal papel do homem presbiteria-no frente à sociedade atual é ser ‘sal e testemunha’. Temos que, a cada instante, fazer a diferença positivamente, onde quer que estejamos”.

FAMÍLIA E SOCIEDADEQuando o papel do homem

é questionado, o secretário da CNHP aponta uma realida-de de nossos dias. “O maior problema nesta situação é a definição do que é um lar não cristão de um lar cristão. No Brasil, entende-se que todos somos cristãos; o que antiga-mente chamaríamos de ‘lar crente’ seria o ideal”. E com-pleta: “acima de tudo, enten-do que a grande diferença está no equilíbrio que existe nos lares onde a Bíblia ainda reina. União da família, para mim, é fundamental para a construção de uma sociedade livre ou com menos proble-mas”.

Seguindo essa idéia, o presb. Lidiel apresenta a obra social como outra forma de ame-nizar os problemas e melho-rar a sociedade. “Não tenho elementos suficientes para falar em termos de Brasil. No entanto, no caso da nossa região (estado do Espírito Santo), entendo que poderí-amos estar realizando obra social de grande monta, caso de fato estivéssemos mais dis-poníveis. Vejo como grande desafio do homem presbite-riano a participação em socie-dades organizadas (Ongs, associações filantrópicas, conselhos municipais etc.), dando testemunho e fazendo uma diferença positiva”.

Sobre este assunto, o rev. Paulo, da IP de Vila Ema, pondera que a obra social é muito importante, sendo que o cristão deve atender aque-les que precisam, seguindo as boas obras às quais Deus, de antemão, preparou para que andasse nelas (Ef. 2.10).

N Martha de Augustinis

Líderes colocam a importância do homem presbiteriano frente à ação social e à família.

Data Comemorativa

Dia do homem Presbiteriano gera reflexões

Presb. Lidiel Scherrer (à esquerda) em reunião com o presb. Adonias Campos, presidente da CNHP.

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Brasil PRESBITERIANO16 Fevereiro de 2006

6º Encontro Nacional dos Missionários da Junta de Missões

Nacionais da IPB, em Brasília (DF), de 16 a 20 de novembro de 2005, com o tema Chamados para Proclamar, foi positivo em todos os aspectos para o rev. Lourival Luiz do Prado, supe-rintendente da junta: “congres-so – o conteúdo de pregações e seminários proporcionou uma oportunidade ímpar de recicla-gem para mais de cem obreiros presentes, além de dezenas de agentes missionários; confra-ternização: após 12 anos sem um encontro nacional, todos os missionários e diretoria da JMN mais os parceiros e agen-tes puderam se ver como uma verdadeira família celebrando juntos a Deus e, comungando uns com os outros; cooperação: o encontro propiciou uma rara oportunidade para comprovar quão amada é a obra missioná-ria e a JMN/IPB em particular pelas IPs pelo Brasil. Além da participação da família pres-biteriana do Distrito Federal, muitas outras igrejas e pessoas se manifestaram com doações generosas de várias manei-ra. Muitos trabalhando duro durante todo o evento, embora tenham ido como inscritos para participar, dando contribuições expressivas; parcerias: durante o encontro, várias parcerias de cooperação mútua ou mesmo de ajuda unilateral por parte de igrejas foram celebradas, outras encaminhadas com vis-tas à abertura de novos campos ou consolidação dos campos existentes; aprendizado: “creio que todos nós, mas eu, em particular aprendi muito com todos. Aprendizado que, certa-mente fará diferença dos cam-pos existentes”.

FUTUROO rev. Lourival conta que a

JMN recebeu um convite para realização do próximo encon-tro nacional para 2007, também em Brasília, assunto a ser estu-dado, definido e divulgado em tempo oportuno. “Crendo que a consciência missionária de todos os que participaram foi trabalhada pelo Espírito Santo de Deus, colhamos juntos os frutos espirituais, todos para a honra e glória do Deus Trino, Senhor absoluto da Seara”, diz.

O rev. José Batista da Hora, presidente da JMN/IPB, afir-ma que no encontro houve um envolvimento abençoador da igreja hospedeira e das igre-jas, presbitérios e sínodo do Distrito Federal, o que mostra que há unidade, paz e visão missionária no seio da IPB.

“Os frutos colheremos a curto, médio e longo prazo. Deus está nos dando oportunidades de plantarmos a boa semente do evangelho. A tarefa é inaca-bável enquanto Jesus não vol-tar. O seu ide é imperativo para todos nós que o Senhor já chamou para propagar o seu reino”, declara.

Além das plenárias e semi-nários, no domingo, dia 20, pela manhã, boa parte dos missionários esteve nas igrejas de Brasília falando na Escola Dominical e divulgando o trabalho da junta. No mesmo domingo aconteceu o encerra-mento do evento com culto às 14h, sendo o pregador o rev. José Batista da Hora, com a ministração da Ceia do Senhor. Todas as equipes que traba-lharam foram homenageadas. Foram mais de 70 pessoas tra-balhando efetivamente para a realização do evento, irmãos e

irmãs de várias igrejas.O encontro contou com a

presença de quase 100% dos missionários da JMN, suas famílias, missionários parcei-ros, também com suas famílias, representantes de parcerias, colaboradores da JMN e mui-tas igrejas representadas. Ao

todo foram 170 congressistas.Além de oferecer orienta-

ções bíblicas, teológicas, dou-trinárias, na busca constante de melhor equipar os obreiros houve reuniões em que a dire-toria da JMN pôde ouvi-los, encorajá-los e motivá-los. Todo o evento foi filmado pela LPC,

o que possibilitará a reprodu-ção de todas as palestras.

A JMN ofereceu tratamen-to dentário para mais de 40 missionários e cerca de 15 de seus filhos, através das igre-jas de Taguatinga e Nacional. Funcionou um consultório médico, com muitos atendi-mentos, com algumas especia-lidades e uma farta farmácia.

Foi realizado uma “butique missionária”, para o qual cada família contribuiu com pelo menos 15 peças de roupas seminovas, muitos ternos e cal-çados. Alguns levaram caixas de roupas para seus campos.

A JMN ainda proporcionou aos seus missionários um pas-seio pela cidade de Brasília. E para completar a bênção do evento, a Confederação Nacional de SAF’s presenteou com uma oferta de natal no valor de R$ 150,00 para cada família dos missionários da junta.

Obra missionária da IPB em solo brasileiro é discutida com o tema Chamados para Proclamar

Junta de Missões Nacionais realiza 6º EncontroO

Missões

Rev. José Batista da Hora e Rev. Lourival Luizdo Prado

Bazar da JMN de camisetas, cofrinhos, canetas, bandeiras, bonés e Bíblias, comandado pela Missionária Maria Alice do Prado.

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Brasil PRESBITERIANO 17Fevereiro de 2006

asceu a 3 de agosto de 1877, em Arrozal do Piraí, Rio de

Janeiro. Residiu em Mar da Espanha, Manhuaçu (Santana / Sta. Filomena) e São Paulo (Lençóis). Fez a sua pública profissão de fé com o rev. Francisco Lotufo, em 14 de abril de 1901, aos 23 anos de idade. Como gostava de estudar muito a Bíblia, logo foi convidado a pregar e dar algumas aulas na esco-la dominical. A primei-ra exposição que fez das escrituras foi no texto de João 14.27.Após esta pregação rece-

beu muitos cumprimentos e foi investido no cargo de pregador. Sentiu-se chama-do para o ministério e foi animado pelo rev. Vicente Themudo Lessa e pelo rev. Manoel Alves de Brito a estudar para ser pastor. Estudou no Mackenzie College, com muitas difi-culdades financeiras. Foi licenciado em 3 de agosto de 1908 e ordenado em 6 de setembro de 1908, pelo Presbitério do Rio de Janeiro. Sua tese junto ao presbitério foi A Bíblia é a Palavra de Deus. Tanto a tese quanto o sermão de prova foram muito apre-ciados.A chegada do rev. Aníbal

Nora à região se deu atra-vés da ida do presb. João

Leandro de Faria à reu-nião do Presbitério do Rio de Janeiro a 30 de julho de 1908. Nesta reunião, o presbítero solicitou do rev. Álvaro Reis que atendes-se ao pedido da IP Alto Jequitibá, enviando um obreiro. Naquele tempo, Aníbal Nora estava licen-ciado e foi designado para atender os cam-pos das duas igre-jas: Alto Jequitibá e Manhuaçu (Barra do Jequitibá).Antes de vir para

o campo, procurou entre as moças da IP do Rio aquela que deveria ser sua companheira e auxi-liadora. Gostou da organista da igreja, Constância Lemos. Ela aceitou se casar e ir para o interior de Minas Gerais. Antes de sua ordenação, o licenciado se tor-nou noivo, vindo a se casar a 21 de novembro de 1908. Após o casamento, chegou à região no dia 3 de dezem-bro de 1908.No entanto, foi em 9

de setembro daquele ano que foi pela primeira vez a Alto Jequitibá. Chegou até Carangola pela estra-da de Ferro Leopoldina e, depois de cavalgar 48 quilômetros, chegou a Alto Jequitibá, acompanhado do presbítero acima citado e do irmão Luiz Pinheiro.

No dia seguinte à chega-da, realizou os primeiros trabalhos: às 10h oficiou o sepultamento da esposa do irmão Tobias Stofell e, às 16h, abençoou, no Córrego da Jacutinga, o casamen-to da filha do irmão José Tavares. Foi entre lágrimas e risos que iniciou seu pro-

fícuo ministério no leste de Minas. Nos primeiro 15 dias fez inúmeras pre-gações e visitas. Tomou medidas urgentes no senti-do de visitar todo o campo, sendo que gastou 45 dias para percorrer toda a vasta extensão do campo ligada à IP do Alto Jequitibá. Seu ministério foi marcado por inúmeras viagens missio-nárias, chegando a atender localidades a até 270 km

de Alto Jequitibá, não ape-nas em Minas Gerais, mas também no Espírito Santo e Rio de Janeiro.Viajava sempre em lombo

de burro, porque cavalo não agüentava as longas estra-das com pastos pouco viço-sos. Nessas viagens enfren-tou perigos e perseguições,

mas foi sempre protegido de forma providencial pelos anjos do Senhor. É lógico que con-tou com auxiliares prestimosos, tanto leigos como pasto-res. Sempre reco-nhecia e valorizava o apoio recebido de seus companheiros de viagem. Além de batizar crianças, rea-lizar profissões de fé e batismos, minis-trar o sacramento da Ceia do Senhor, presidir conselhos, organizar igrejas, pontos de prega-ção e congregações, construía templos.

Sua visão era larga, a ponto de adquirir inúmeros terre-nos e administrar junto com os conselhos a construção de templos. Foi o respon-sável pela construção do segundo templo da IP do Alto Jequitibá, inaugurado a 8 de outubro de 1911, e do templo na cidade de Manhuaçu, inaugurado a 10 de agosto de 1912. Em Alto Jequitibá, organizou uma Banda de Música,

criou a festa conhecida de Sete de setembro e fundou o Colégio Evangélico. Sua esposa, dona Constância, começou a dar aulas para as crianças, criando assim uma escola primária na casa pastoral, que chegou a ter 70 crianças matri-culadas. Foi o germe do Ginásio Evangélico de Alto Jequitibá, o qual foi organi-zado oficialmente em 5 de março de 1923.Seu pastorado esteve

concentrado na IP do Alto Jequitibá, de onde saía para dar assistência às igre-jas da região. Ali esteve por 19 anos consecutivos (1908 a 1927). Em 1927, com 50 anos de idade, atendeu o convite da IP de Florianópolis (SC), ali per-manecendo três anos, após os quais foi para Sengés (PR). Em 1933, apresentou-se ao Presbitério de Niterói, devido à enfermidade de sua esposa, que a obriga-va residir naquela cidade. Pastoreou a IP de Nova Friburgo até 1938. Depois, a IP de Pacheco e, em 1941, a IP de São Gonçalo, onde criou o Lar Samaritano para acolher dignamente pessoas idosas. Os últimos anos de vida do rev. Aníbal foram vividos dentro do Hospital Evangélico no Rio de Janeiro, onde recebeu todos os cuidados médicos. Mas, a 15 de janeiro de 1971, veio a falecer, sendo assim transferido para o Lar Celestial.

Rev. Aníbal Nora – Um Pastor Manso e HumildeBiografia

N

Compilação do rev. Anderson Sathler

Pastor da IPM no período de 1909 a 1918

Rev. Aníbal Nora teve o ministério marcado por inúmeras viagensmissionárias

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Brasil PRESBITERIANO18 Fevereiro de 2006

Carta de PrincípiosA Contribuição da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a ética

Leia na íntegra o texto da Carta de PrincípiosO termo “política” é usado para os procedimentos, os meios e as estratégias empregados pelas autoridades para alcançar os fins do Estado. Política é, portanto, a ciência de governar. Por causa das deficiências ine-rentes ao próprio poder e pela corrupção espiritual e moral dos seres humanos, a política acaba invariavelmente cedendo a ambi-ções despóticas e egoístas, ser-vindo a outros fins que não os legítimos. A isso chamamos de corrupção. Historicamente, a corrupção na política é tão antiga quanto o Estado, variando ape-nas em intensidade de acordo com os valores morais, a cultura e a religião do lugar.A expressão “ética na política” expressa o desejo de que o poder político seja exercido da forma correta e para os fins legítimos. Ela ganhou muita atenção recen-temente em nosso país diante de denúncias de corrupção envol-vendo pessoas públicas de dife-rentes níveis de autoridade. Em decorrência, muitas propostas e movimentos em favor da ética na política têm surgido.

A necessidade de um referen-cial distinto para a ética na políticaO que se percebe claramente num primeiro olhar sobre a ética

na política é a necessidade de referenciais seguros e consis-tentes nos quais os apelos à moralização sejam fundamenta-dos. Toda ética pressupõe um conjunto de valores com base nos quais se tomam decisões. Todavia, desconstruída pelo rela-tivismo moral e pelo individu-alismo de nossos dias, a ética na política aparenta carecer de fundamentos coerentes que lhe permitam fazer pronunciamentos morais e moralizantes. Qual a base para se clamar por hones-tidade, sensibilidade, verdade, sinceridade, integridade e altru-ísmo na política se estes são conceitos considerados relativos e subordinados ao pragmatismo individualista, conforme a menta-lidade de nossa época? Qual a base para se clamar em prol dos oprimidos, excluídos e sem-nada do nosso país, se o ser humano é visto como fruto do meio e da seleção natural, onde sobrevi-vem os mais aptos (leia-se, os mais espertos), independente-mente dos meios que se utilizam para isto?Em grande parte, este vácuo de absolutos foi gerado pela secularização gradual das cul-turas e do Estado e pelo aban-dono no Ocidente dos valores morais e espirituais do cristia-nismo, que um dia serviram de fundamento para o surgimento das políticas democráticas. O

humanismo materialista, centra-do no anthropos, não tem con-seguido produzir um sistema de valores abrangente que permita uma chamada coerente à ética na política. Entendemos que a ética protestante reformada está fundamentada em princípios e valores revelados por Deus nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, a Bíblia, e que, por-tanto, oferece uma visão unifi-cada e coerente da vida e um apelo consistente à moralização do Estado. Quando na História, antiga e moderna, governantes e regimes despóticos e totalitários reivindicaram fundamentação no cristianismo para suas barbáries, estavam, na realidade, fugindo do ensinamento do cristianismo bíblico e histórico.

O Protestantismo Reformado e a PolíticaAqui é preciso fazer um escla-recimento. Nem todos os políti-cos chamados de evangélicos se mantêm sob o direcionamento e com a visão das grandes dou-trinas levantadas pela Reforma do Século XVI. Na verdade, alguns segmentos mais recen-tes, mesmo apresentados como evangélicos, até mesmo procu-ram se dissociar dessas doutri-nas. A força política do protestantismo reformado se fundamenta em diversas premissas sobre Deus e sobre o homem ensinadas na revelação bíblica. São elas: a igualdade de todos os homens diante de Deus, a vocação indi-vidual de cada ser humano por Deus, a doutrina do sacerdócio universal de todos os cristãos genuínos, que entende que a autoridade deve ser exercida como uma delegação concedida por Deus ao povo e do povo aos governantes, a doutrina da auto-ridade das Sagradas Escrituras,

a Bíblia, que despertou o povo para estudar, instruir-se e assim gerir seus destinos, e o ensi-no de que as autoridades polí-ticas são constituídas por Deus e respondem diante dele pelo exercício do poder. Conforme o estudioso francês André Biéler, “a democracia não consegue instalar-se nem permanecer lá, onde as premissas religiosas ou filosóficas profundas das popu-lações são estranhas aos prin-cípios evangélicos, iluminados pelo Cristianismo reformado” (1999, p.50).O principal conceito da visão reformada quanto à política é que somente Deus tem poder absoluto. Desse conceito decor-rem vários princípios que mol-dam a visão reformada da políti-ca e apontam o caminho da ética. Mencionamos alguns deles.1) A fé reformada faz a clara dis-tinção entre Igreja e Estado, mas vê toda autoridade como pro-cedente de Deus (Epístola aos Romanos 13). Os governantes são vistos como servos de Deus neste mundo, para através da política e do exercício do poder promover o bem comum, recom-pensar os bons e punir os maus. Como tal, haverão de responder diante de Deus pela corrupção na política, pela insensibilidade e pelo egoísmo. A visão do cargo político como sendo uma dele-gação divina desperta no povo o devido respeito pelas autorida-des, mas, ao mesmo tempo, pro-duz nestas autoridades o senso crítico do dever. 2) A fé reformada resiste ao con-ceito da soberania absoluta do Estado, “um produto do panteís-mo filosófico alemão” (Abraham Kuyper, 2002, p. 96) e ao con-ceito da soberania absoluta do povo, conforme defendido pela revolução francesa. O poder resi-de em Deus. Tanto o poder do

IntroduçãoAugustus Nicodemus

Anualmente, a Chancelaria da Universidade Presbiteriana Mackenzie publica uma Carta de Princípios, em que expõe um tema de destaque e relevância para a Universidade. Este ano, o tema escolhido foi Ética na Política e a Universidade. O objetivo da Carta, que também serve como material de discussão na disciplina Ética e Cidadania, é divulgar a visão confessional do Instituto Presbiteriano Mackenzie, a Mantenedora da Universidade, sobre assuntos de interesse geral. A escolha do tema para 2006 deveu-se não somente ao seu caráter desafiador, mas também ao empenho, desenvolvido pela Chancelaria junto à Universidade, em fazer conhecidos, respeitados e levados em conta os princípios cristãos desta Instituição diante dos problemas políticos vividos hoje no país.

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Brasil PRESBITERIANO 19Fevereiro de 2006

Estado quanto do povo são dele-gados por ele visando à orga-nização da humanidade. Como conseqüência, a fé reformada defende que nenhum ser huma-no tem poder sobre outro, a não ser quando delegado por Deus, ao ocupar um cargo de autorida-de. Desta forma, a fé reformada se levanta contra toda opressão política à mulher, ao pobre e ao estrangeiro, contra todo sistema político que produza escravidão, contra o conceito de castas e da distinção entre sacerdotes e lei-gos. Luta para que cada pessoa seja reconhecida e tratada, em termos políticos e sociais, como uma criatura feita à imagem de Deus.3) Já que o poder não é intrín-seco ao ser humano, mas uma delegação divina, deve-se resis-tir a quem exerce o poder político em desacordo com a vontade de Deus. Esta vontade divina para os governantes se encontra claramente expressa na Bíblia, como por exemplo, nos Dez Mandamentos. Entre eles encon-tramos proposições como “não furtarás”, “não dirás falso teste-munho”, “não matarás”. Essas proposições refletem absolutos éticos presentes em todas as civi-lizações, em função de todos os seres humanos levarem em sua constituição a imagem e seme-lhança de Deus – com maior ou menor precisão –, em função da imperfeição moral existente na humanidade. Nenhum governan-te tem imunidade contra a Lei de Deus. Na tradição protestante reformada, resistir à corrupção na política é dever de todos e a vontade de Deus para cada cris-tão verdadeiro.Um outro conceito fundamen-tal da visão reformada é que a humanidade se encontra em um estado de queda moral e espiritual, sendo, em princípio, inclinada a fazer o mal antes que o bem. Em decorrência disto, mais dois princípios norteadores da ética na política se seguem:1) A política é entendida como

uma necessidade diante desta situação de queda moral. Foi por esta causa que Deus instituiu os magistrados. É imprescindível que haja autoridade que reprima a injustiça, proteja os inocentes, socorra os oprimidos e promova o bem-estar dos cidadãos. A polí-tica, como ciência de governar, se torna indispensável, para que os governantes exerçam sua função com verdade e justiça. A fé reformada acata e se submete aos poderes constituídos, embo-ra negue ao Estado o direito de se imiscuir em matérias de reli-gião. Reconhece a necessidade do exercício da autoridade, mas jamais ao custo da liberdade de consciência, dom precioso de Deus.2) A corrupção na política é vista pela fé reformada como tendo origem primariamente no coração dos seres humanos. A Bíblia afirma que não há sequer uma pessoa justa neste mundo. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Jesus Cristo disse que é do cora-ção dos homens e das mulheres que procedem “maus desígnios, homicídios, adultérios, prostitui-ção, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15.19-20). Quando a causa é identifica-da, há condições de se buscar o remédio adequado. Aqui se percebe a insuficiência das éti-cas humanistas reducionistas, que analisam apenas aspectos sociológicos e antropológicos da corrupção na política, deixando de incluir a dimensão pesso-al: egoísmo, maldade, cruelda-de, despotismo, avareza, inve-ja, cobiça. O protestantismo reformado prega uma conver-são interior dos governantes e dos governados a Deus, que se arrependam do mal e pratiquem obras de justiça.Por fim, o conceito de graça comum (concedida a todos) ensi-na que há princípios gerais que, se seguidos e aplicados, produ-zirão a ética na política. Segundo este conceito, Deus abençoa a

humanidade em geral com virtu-des e qualidades, independen-temente das convicções religio-sas e políticas das pessoas. É por este motivo que encontra-mos quem se professa cristão e não tem ética, e encontramos a ética funcionando pelas mãos de quem não se declara cristão. Ao reconhecer a graça comum de Deus, o protestantismo reforma-do entende que o caminho para a ética na política não é necessa-riamente converter todos ao cris-tianismo e nem colocar em car-gos políticos quem se professa cristão, mas contribuir para que os princípios acima mencionados sejam reconhecidos e exercidos por todos, independentemente da convicção religiosa.

O Papel da UniversidadeO protestantismo reformado, desde o seu início, foi uma das forças geradoras da democra-cia moderna, com seu espírito revolucionário, defensor da liber-dade e desafiador das estrutu-ras religiosas, sociais e políticas que escravizam o homem. As inúmeras universidades refor-madas que nasceram após a Reforma protestante nos paises que a abraçaram, como Suíça, Inglaterra, Holanda, Escócia, Hungria e posteriormente os Estados Unidos, se tornaram centros difusores dos princípios da Reforma, quer pela produção e ministério de seus docentes, quer pela formação de centenas e centenas de cidadãos imbuídos deste mesmo espírito. Podemos mencionar entre elas as univer-sidades de Genebra, Harvard, Yale, Princeton e a Universidade Livre de Amsterdã. Nelas, foram estudados e transmitidos os prin-cípios e valores que serviram de base para a formação de uma consciência ética na política desses paises. Muitos dos gran-des estadistas, chefes políticos e autoridades civis dos países mais desenvolvidos estudaram em universidades reformadas. Estas universidades, sendo con-

fessionais, adotaram em sua fun-dação, como referencial explíci-to, as confissões de fé oriundas da Reforma protestante.As universidades são centros formadores dos que haverão, um dia, de influenciar a opinião pública e, talvez, exercer o poder político. Elas têm um papel cru-cial diante do clamor nacional por ética na política. E sem excluir as demais, as universidades con-fessionais têm uma oportunidade histórica de contribuir para que este clamor seja atendido, ainda que a longo prazo, visto que a eficácia da universidade, neste aspecto, reside no processo de educar cidadãos.

ConclusãoA Universidade Presbiteriana Mackenzie, cada vez mais cons-ciente de sua origem e vocação cristã reformada, almeja con-tribuir para a ética na política nacional através de uma educa-ção que leve em consideração os princípios morais e espirituais do cristianismo reformado, uma das maiores forças geradoras da democracia. O eixo do ensino deve refletir a confessionalidade, sem ferir a autonomia universitá-ria. O eixo da pesquisa deve des-cobrir maneiras criativas de apli-car à realidade brasileira a força do protestantismo reformado que forjou as políticas democráticas e ensejou o desenvolvimento da moderna ciência em outros tem-pos e em outras terras. E o eixo da extensão deve estender a mão de misericórdia à comuni-dade, enquanto trabalhamos por dias melhores.

O rev. Augustus Nicodemus Lopes é chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Obras MencionadasBIÉLER, André, 1999. A Força Oculta dos Protestantes. São Paulo: Editora Cultura Cristã.KUYPER, Abraham, 2002. Calvinismo. São Paulo: Editora Cultura Cristã.

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Brasil PRESBITERIANO20 Fevereiro de 2006

oi com pesar que enviei a vocês essa notícia”. Estas são

as palavras do rev. Alexandre Pevidor ao informar ao Brasil Presbiteriano que o composto alimentar Nutriamar teve sua produção e distribuição sus-pensas. Tal composto, uma farinha de grande valor nutri-cional, era oferecida gratuita-mente e auxiliava no combate a um grande problema que existe em nosso país: a des-nutrição.

Inicialmente, a farinha era produzida com recur-sos financeiros próprios do reverendo. A composição da Nutriamar foi desenvolvida por ele e por sua esposa sob a orientação divina. Com o passar do tempo, o projeto foi alcançando grandes dimen-sões e conseguindo peque-nos patrocínios. Assim, foi montada uma estrutura para a produção de 500 quilos ao mês da farinha e isso equiva-le atender aproximadamente 1200 crianças.

Porém, os gastos foram se intensificando e o pouco patrocínio tornou-se insufi-ciente. O reverendo expli-ca que, para a produção de cada quilo da Nutriamar, gastam-se R$10,00 em maté-ria-prima. No caso da pro-dução em grande quantida-de, é necessário manter um funcionário, uma cozinha que atenda totalmente as nor-mas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), maquinários, energia, emba-lagens e etiquetas, além das despesas da distribuição.

Segundo o reverendo, os

grandes prejudicados nessa situação são as pessoas que recebiam e dependiam da Nutriamar: idosos, mães pobres em período de ges-tação, pacientes em trata-mento de quimio e radiote-rapia, crianças desnutridas e com deficiência nutricional na alimentação diária. Ele ressalta que na cidade de Iubi, localizada no sertão de Pernambuco, as crianças são as que mais sofrem.

Um exemplo foi o caso da menina Adnaelém. Sua situa-ção, citada na reportagem de março de 2005 do BP, moti-vou o rev. Alexandre a enviar a Nutriamar para o sertão. Ela sofria de desnutrição pela falta do que comer. Porém, no caso dela, já era tarde. Ela faleceu com 15 anos devido às várias deficiências ocasio-nadas pela desnutrição crôni-ca, pois ela pesava 25 quilos.

CONSEQUÊNCIASQuestionado sobre quais

serão as conseqüências para a vida dessas pessoas que con-tavam com a Nutriamar, o rev. Alexandre afirma que existe a hipótese de que cada crian-ça que participava do projeto contribua, com o preço de suas tenras vidas, a manter as estatísticas de mortalidade infantil por desnutrição. Para ele, a criança que conseguir sobreviver nessa jornada de luta terá grandes dificuldades de raciocínio, memorização, ou seja, seu desenvolvimento psíquico será sensivelmen-te afetado, prejudicando seu aprendizado escolar, conví-vio social etc.

A gestante que não possui condições de obter uma ali-mentação saudável não terá

graves conseqüências em sua estrutura bio-psiquico-moto-ra, pois esta já está forma-da de maneira ideal ou não. Todavia, no caso do feto, a falta de nutrientes no orga-nismo da mãe pode causar sérios danos em seu desen-

volvimento, comprometen-do o nascimento e a vida da criança no futuro. E essa pode ser mais uma pessoa que dependerá da sociedade para sobreviver.

SENTIMENTODe acordo com o rev.

Alexandre, o sentimento que cerca a equipe do pro-

jeto Amar é de frustração e tristeza, pois muitas pessoas depositavam suas esperanças neles. Os pequenos colabo-radores não aceitaram a sus-pensão. Entretanto, reconhe-ceram que sem apoio finan-ceiro é impossível manter o

projeto. A equipe possui mui-

tas idéias e sonhava com a ampliação do projeto no futuro. Porém, “idéias não matam fome, não desfazem guetos, não mudam a história de uma criança, não trans-formam tristeza em alegria e esperança”, completa o reve-

rendo. Além disso, falar em dinheiro para causas sociais é algo controverso para muitas pessoas, pois muitos projetos são utilizados para o enrique-cimento ilícito às custas da miséria alheia.

“Pensei que poderia mudar muita coisa no mundo. Pensei que poderia mudar a realida-de de muitas crianças em meu rico país chamado Brasil. Minha tristeza maior é che-gar à conclusão de que pen-sar assim é pensar sozinho. É uma esperança romântica em um mundo onde as pes-soas estão mais preocupadas em ganhar, adquirir, manter status e cuidarem de si”. Eis o lamento de um idealizador ao ver seu trabalho interrom-pido.

Ainda não há previsões para uma possível retomada do projeto. Mesmo assim, o rev. Alexandre diz que ainda não perdeu as esperanças e nem a fé de ver alguém que possa ter o mesmo sentimento de amor ao próximo e que queira mudar a história do nosso país investindo no ser humano. Ele ressalta que a Nutriamar pode ser produzida por qual-quer igreja, ministério ou sociedade e, principalmente, por alguém que veja com os olhos de Cristo, que acredite mais nas pessoas e abra mão de si mesmo e viva para os outros. E conclui: “O projeto pode ser retomado um dia, mas não depende de mim. Se assim fosse, acredite, ele jamais seria suspenso”.

Mais informações com o Rev. Alexandre Pevidor pelo telefone (41)248-8067 ou pelo e-mail [email protected]

Por falta de recursos, complemento alimentar tem distribuição interrompida. Ação Social

Uma ajuda a menos

“FCaroline Santana

Famílias como essa poderão ser prejudicadas com a falta da Nutriamar