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BOSCOLLI BARBOSA PEREIRA | ORG.

RAFAEL CÉSAR BOLLELI FARIA | ORG.

PESQUISA E EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE

INTEGRADAS NA AÇÃO CONTRA A DENGUE

Monte Carmelo

EDITORA FUCAMP

2011

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© 2011 by Boscolli Barbosa Pereira, Rafael César Bolleli Faria

©Direitos de publicaçãoEDITORA FUCAMP

Av. Brasil Oeste, s/n – Jardim Zenith38500-000 – Monte Carmelo – MG

Tel.: (34) [email protected]

www.fucamp.edu.br/instituicao/editora

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Setor Financeiro-AdministrativoFábio Teixeira da SilvaJuliene de Fátima Alves

SecretariaAmanda Marques Ramos

BibliotecaSarah Cristina Maria Ferreira

RevisãoKelma Gomes Mendonça Ghelli

CapaMarcelo Soares da Silva

FotografiaHenrique Vieira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Pesquisa e educação para a saúde integradas naação contra a dengue / Boscolli Barbosa Pereira,Rafael César Bolleli Faria, org. . — MonteCarmelo, MG : FUCAMP, 2011.Nº Páginas 76Vários autores.Bibliografia.

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11-02932 CDD-614.571

Índices para catálogo sistemático:1. Dengue : Incidência : Saúde pública 614.571

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À prefeitura municipal de Monte Carmelo pelo apoio,incentivo e patrocínio oferecido às obras relacionadas ao projeto‘Ação contra a Dengue’.

AGRADECIMENTOS

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APOIO CULTURAL

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Apresentação ..................................................................... 9

Capítulo 1

DETECÇÃO E TIPAGEM DE VÍRUS DENGUE EM

Aedes aegypti (DIPTERA: CULICIDAE)

Resultados de um estudo de monitoramento

epidemiológico em Uberlândia -MG

Denis Prudencio Luiz

Boscolli Barbosa Pereira .......................................................... 13

Capítulo 2

RESISTÊNCIA DE Aedes aegypti (DIPTERA:

CULICIDAE) AO TEMEFÓS

Boscolli Barbosa Pereira

Rafael César Bolleli Faria

Warwick Estevam Kerr ..........................................................23

Capítulo 3

EFEITOS DO LARVICIDA TEMEFÓS SOBRE

PREDADORES NATURAIS DE INSETOS VETORES

Boscolli Barbosa Pereira

Edimar Olegário de Campos Júnior

Luiz Carlos Guilherme

Sandra Morelli ....................................................................... 37

Sumário

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Capítulo 4

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DECOROMANDEL, MINAS GERAIS, BRASIL, SOBREDENGUE

Patrícia David BoaventuraBoscolli Barbosa Pereira .......................................................... 49

Capítulo 5

SIGNIFICADOS DE UMA PRÁTICA EDUCATIVAPARA O CONTROLE DO VETOR DA DENGUE

Boscolli Barbosa PereiraRafael César Bolleli FariaFernanda Fernandes dos SantosRodrigues ............................... 63

Sobre os autores ............................................................... 71

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O aumento dos índices da febre hemorrágica da dengue e

a circulação simultânea de mais de um sorotipo de vírus são

suficientes para incluir a doença entre os mais sérios problemas

de saúde pública do mundo.

A dengue atinge 50 milhões de pessoas por ano em 56 países

com epidemias recorrentes e casos de severas endemias isoladas que

requerem um sistema de vigilância epidemiológica ativo. De acordo

com dados do Ministério da Saúde, três sorotipos de vírus dengue

têm sido isolados (DEN-1, DEN-2 e DEN-3) e a introdução do

vírus DEN-4 já é realidade na região Norte do país.

Adicionalmente, as ações que visam controlar a doença têm

sido baseadas em conceitos tecnicamente errôneos. Este é o caso

das medidas fundamentadas exclusivamente no controle químico

do vetor da dengue, negligenciando fatores importantes que

modulam a dinâmica da transmissão da dengue, como a ocupação

espacial, estilo de vida da população, condições de moradia e

preservação ambiental.

Os programas de controle do vetor devem continuar.

Contudo, necessitam incluir a permanente mobilização da

sociedade, dispor de recursos humanos suficientes e minimizar

os efeitos da contaminação ambiental pelos inseticidas. Nesse

sentido, ressaltamos a importância de se estabelecerem políticas

públicas que fomentem a parceria entre instituições de ensino

superior e de educação básica a fim de que seja promovida a

APRESENTAÇÃO

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divulgação do conhecimento, atualização de professores, melhoria

da qualidade do ensino e a conscientização da população sobre a

importância da prevenção e controle da dengue.

Diante do contexto apresentado, o livro “Pesquisa e

Educação para a Sáude integradas na ação contra a dengue” é

apresentado com os objetivos de: mostrar a magnitude e

severidade da dengue no Brasil, especialmente em Minas Gerais;

alertar para a necessidade da vigilância epidemiológica e

monitoramento dos sorotipos de vírus dengue circulantes;

relacionar as dificuldades de controle do vetor, indicando os

efeitos do uso constante dos inseticidas na seleção de populações

resistentes do vetor e na contaminação do ambiente; enfatizar

que a população (embora conheça os principais aspectos

relacionados aos sintomas, vetor e controle da dengue) não

apresenta atitudes que contribuam eficazmente para a diminuição

dos níveis de infestação de Aedes aegypti; propor alternativas de

controle, pautadas na utilização de inimigos naturais do

inseto vetor e na implantação de ações comunitárias de

educação para saúde.

Esclarecemos que a obra apresentada não pretende ser um

manual de instruções para o controle da dengue. Nós, enquanto

organizadores e autores desta obra, entendemos que o controle

dessa doença é bastante complexo e que, enquanto não houver

uma vacina disponível, somente uma ação conjunta entre poder

público, setor privado, instituições de pesquisa e a população

poderá ser capaz de controlar a doença.

O presente livro destina-se a professores, universitários e

profissionais da saúde, bem como a todos aqueles que tenham

interesse em conhecer os resultados de algumas pesquisas e ações

relacionadas à epidemiologia, prevenção e ao controle da dengue.

Alguns termos da linguagem técnica estão presentes no decorrer

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de cada capítulo de forma intencional, pois acreditamos que,

embora alguns leitores não tenham o vocabulário específico para

os temas abordados, a obra tem exatamente a intenção de ser

um instrumento ‘enculturador’, ao transpor os conhecimentos

acadêmicos à comunidade leitora.

Boscolli Barbosa Pereira

Rafael César Bolleli Faria

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Denis Prudencio Luiz

Boscolli Barbosa Pereira

INTRODUÇÃO

A vigilância virológica para detecção do vírus dengue nomosquito vetor tem sido empregada no monitoramentoepidemiológico como alternativa para prevenção de surtos eepidemias de dengue (KOW, KOON e YIN, 2001).

Muito tem sido estudado em relação ao comportamentodo vetor e ao vírus causador da dengue. Os mosquitos tornam-seinfectados pelo vírus da dengue após um repasto de sangue empessoas com doença aguda. Do lúmen do intestino médio osvírus infectam as células epiteliais e, após um período de 8 a 12dias, dependendo da temperatura e de outros fatores, infectamoutros tecidos do mosquito, incluindo as glândulas salivares.Quando essas estruturas são infectadas, o mosquito se torna umtransmissor do vírus (FORATTINI; BRITO, 2003).

O período de incubação do vírus no hospedeiro definitivoé de 3 a 14 dias após a picada do mosquito. Após o período deincubação, o paciente apresenta um início agudo de febreseguido por outros sintomas não específicos, que podem durarde 2 a 10 dias. Dessa maneira, um mosquito não infectado podeentrar em contato com o paciente infectado, e se comportarcomo vetor na transmissão da viremia para outras pessoas(REITER, 2007).

CAPÍTULO 1

DETECÇÃO E TIPAGEM DE VÍRUS DENGUE EM

AEDES AEGYPTI (DIPTERA: CULICIDAE)

RESULTADOS DE UM ESTUDO DE MONITORAMENTO EPIDEMIOLÓGICO

EM UBERLÂNDIA –MG

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O vírus dengue é pertencente à família Flaviridae, do gêneroFlavivírus, seu material genético é constituído de uma fita de RNAsimples, não segmentada e positiva (MONATH; HEINZ, 1996;LINDBÄCK, 2003).

Quanto aos aspectos estruturais, o vírus dengue mede de40 a 50 nm, possui forma esférica e envelope com pequenasprojeções na superfície. Os vírus dengue são sensíveis ao calor(56ºC por 10 min), detergentes, desinfetantes clorados, radiaçãoultra-violeta, formaldeído e digestão por tripsina e lipases(CHANG, 1997).

Os vírus dengue possuem 4 subtipos, a saber: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A circulação destes quatro subtiposdemonstra um quadro de hiperendemicidade, ou seja,aparecimento de todos os tipos em um país, atingindoprincipalmente aqueles com clima tropical (HOLMES, 2006).

Embora exista considerável conhecimento científico emrelação aos aspectos biológicos do vetor, virologia do agentecausador e epidemiologia da dengue, a enfermidade ocorreanualmente no Brasil.

Nesse sentido, ações preventivas são urgentes na medidaem que ainda não está disponível uma vacina capaz de imunizar apopulação aos sorotipos dos vírus dengue circulantes.

O conhecimento dos sorotipos circulantes numa localidadeé fundamental, pois se sabe que alguns vírus causam manifestaçõesclínicas mais severas, fato observado mais comumente em locaiscom circulação simultânea de diferentes sorotipos(BALMASEDA et al., 2006).

Felizmente, técnicas modernas de Biologia Molecular, comoa transcrição reversa, seguida pela reação em cadeia da polimerase(RT-PCR) têm sido utilizadas no diagnóstico de diversas doençasinfecciosas, revolucionando o diagnóstico destas enfermidades porapresentarem considerável rapidez, sensibilidade e especificidade.Segundo Cabezas (2005) a RT-PCR é uma técnica eficiente eversátil na identificação e caracterização de arbovírus eminvestigações epidemiológicas, pois permite a detecção em umainfinidade de amostras (soro, tecidos de casos fatais, cultura de

DETECÇÃO E TIPAGEM DE VÍRUS DENGUE EMAEDES AEGYPTI (DIPTERA: CULICIDAE)

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células, larvas de mosquitos e pools de mosquitos adultos),permitindo a detecção de mosquitos infectados com o vírusdengue e a identificação do seu sorotipo.

Dessa forma, a adoção de medidas preventivas para quesurtos de dengue sejam evitados pode ser facilitada por meio domonitoramento das taxas de infecção dos mosquitos. Populaçõesde mosquitos podem ser monitoradas em determinadas regiõese os vetores contaminados podem ter os sorotipos de vírus dengueidentificados até seis semanas antes do começo do surto (CHOWet al., 1998; SAMUEL; TYAGI, 2006).

Foi nesse sentido que o presente trabalho objetivoumonitorar a ocorrência dos sorotipos de vírus dengue circulantes,em mosquitos de diferentes regiões da cidade de Uberlândia-MG, por meio da utilização da técnica de RT-PCR.

MATERIAL E MÉTODOS

Captura dos mosquitos

As amostras dos mosquitos adultos de Aedes aegypti foramcoletadas com armadilhas do tipo Adultrap, conformerecomendado por Donatti e Gomes (2007).

Estas armadilhas foram expostas em residências dediferentes bairros de Uberlândia, de acordo com os dadosfornecidos pelo Levantamento Rápido de Índices de Infestaçãopelo Aedes aegypti (LIRAa), realizado pelo Programa de Controlede Febre Amarela e Dengue do Centro de Controle de Zoonosesda cidade, que informou sobre as localidades a seremmonitoradas. Vale esclarecer que o LIRAa consiste na avaliaçãoda presença do mosquito vetor da dengue em estratos de 10 milimóveis ao longo de uma semana, permitindo um rápidodiagnóstico da situação entomológica do município, com odirecionamento de atividades de controle para áreas com maioresíndices de infestação.

Denis Prudencio Luiz; Boscolli Barbosa Pereira

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Os mosquitos foram coletados em 10 bairros da cidade deUberlândia, durante o período de janeiro de 2009 a março de2010. Os bairros foram selecionados de modo a abranger todasas zonas geográficas da cidade (Zona Norte, Zona Sul, ZonaLeste, Zona Oeste e Setor Central).

Após a captura dos insetos, as armadilhas foram levadasao laboratório para identificação das espécies pertencentes aogênero Aedes. Em seguida, os mosquitos vivos foram atordoadospor exposição à temperatura de -20ºC, colocados em microtubosidentificados quanto à espécie, gênero, data, bairro e,posteriormente, agrupados em pools de 10 mosquitos earmazenados a -70ºC até o momento das análises.

Extração de RNA e RT-PCR

Os conjuntos de 10 mosquitos foram macerados em tampãofosfato pH 7,4 (PBS), enriquecido com albumina bovina. Aextração do RNA viral foi realizada pelo método TRIZOL LSREAGENT (Invitrogen, São Paulo, Brasil) de acordo com asespecificações do fabricante.

A reação de amplificação que combinou a transcrição reversado RNA viral com a subseqüente amplificação de DNA pelaenzima Taq polimerase ocorreu em duas etapas. A primeira etapaconsistiu na amplificação de um fragmento de 511 pb paraconfirmação do grupo Flavivírus. Na segunda etapa, a reação deamplificação continha primers específicos para a identificação dossortipos do vírus dengue. Para a realização de ambas as etapasforam utilizados os seguintes reagentes: 5,0µL de RNA extraído,50mM KCl, 20mM de Tris (pH 8.4), 1,5mM MgCl

2, 200µM de

cada um dos quatro deoxinucleotídeos trifosfatos, 5mM DTT,20µM de cada primer (Tabela 1), 1,25U de transcriptase reversa,1,25U de Taq polimerase. O volume final para cada reação foi de50µL. A mistura foi incubada em termociclador (PTC-100Programmable Thermal Controller) programado para 1 ciclo a42ºC por 1 h; 30 ciclos a 94ºC por 35 s, 55ºC por 1 min, 72ºCpor 2 min e um ciclo final a 72ºC por 10 min.

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Tabela 1. Oligonucleotídeos iniciadores utilizados naamplificação e tipagem dos vírus dengue.

Posteriormente, foi realizado um segundo ciclo comprimers específicos para cada sorotipo viral (TS1, TS2, TS3 eTS4) que amplifica fragmentos de 482 pb, 119 pb, 290 pb e 392pb para os sorotipos DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4,respectivamente (Tabela 1). Os primers específicos usados nopresente trabalho têm como região alvo a confluência dos genesC/prM (LANCIOTTI et al., 1992).

Os produtos da RT-PCR foram analisados por eletroforese(40 min a 120 V) em gel de agarose 2,0% em tampão TBE (Tris0,089 M; ácido bórico 0,0089 M e EDTA 0,002M, pH 8,3),corado com brometo de etídeo e fotografado em umtransiluminador ultravioleta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No presente trabalho foram coletados 1287 vetores daespécie Aedes aegypti, sendo 960 fêmeas e 327 machos. Somenteas fêmeas foram utilizadas para a realização das análises desorotipagem, de maneira que estas foram agrupadas em pools de10 mosquitos/pools de acordo com a espécie, sexo, local e data decoleta, totalizando 96 pools.

Dentre as amostras analisadas por RT-PCR, foramidentificados 31 pools positivos (310 mosquitos), os quaisapresentaram positividade para os sorotipos DEN-1, DEN-2 eDEN-3. Houve significativo predomínio de pools positivos queestavam infectados por DEN-1. Não foi identificada nenhumaamostra positiva para DEN-4. Também não foram encontradospools co-infectados por dois ou mais sorotipos (Tabela 2).

Iniciador Sequência Fragmentoamplificado (pb)

D1 5’-TCAATATGCTGAAACGCGCGAGAGAAACCG-3’ 511D2 5’-TTGCACCAACAGTCAATGTCTTCAGGTTC-3’ 511

TS1 5’-CGTCTCAGTGATCCGGGGG-3’ 482 (D1 e TS1)TS2 5’-CGCCACAAGGGCCATGAACAG-3’ 119 (D1 e TS2)TS3 5’-TAACATCATCATGAGACAGAGC-3’ 290 (D1 e TS3)TS4 5’-CTCTGTTGTCTTAAACAAGAGA-3’ 392 (D1 e TS4)

Denis Prudencio Luiz; Boscolli Barbosa Pereira

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Tabela 2. Resultados da RT-PCR para tipagem dos víruspresentes nos pools de mosquitos testados.

*A positividade geral é de 32,3% e foi calculada pela razão entre o número de

pools positivos e o total de pools analisados (31/96).

Como mostra a Tabela 3, foram coletados mosquitosAedes aegypti em todas as zonas geográficas da Cidade deUberlândia, sendo que em todas elas também foramencontrados mosquitos infectados. A positividade geral demosquitos Aedes aegypti infectados na Cidade de Uberlândiafoi de 32,3%, sendo que as zonas Norte (56,7%), Leste (26,3%)e Sul (22,2%), apresentaram os maiores índices.

Tabela 3. Frequência de Aedes aegypti infectados por zonageográfica da cidade de Uberlândia, MG.

Com relação aos sorotipos circulantes no país, dados doMinistério da Saúde (2010) informam que entre 2002 e 2006houve predomínio do sorotipo DEN-3 do vírus da dengue. Entre2007 e 2009 foi observada uma alteração no sorotipopredominante, com a substituição do sorotipo DEN-3 pelosorotipo DEN-2. A recirculação de DEN-2 no país nos últimosanos foi responsável pelo aumento da proporção de formas gravesda doença, especialmente em crianças e adolescentes que aindanão haviam entrado em contato com esse sorotipo(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).

DETECÇÃO E TIPAGEM DE VÍRUS DENGUE EMAEDES AEGYPTI (DIPTERA: CULICIDAE)

P o o l s p o s i t i v o s *S o r o t i p o N ° %

D E N V- 1 2 1 6 7 , 7D E N V- 2 8 2 5 , 8D E N V- 3 2 6 , 4D E N V- 4 0 0

Zona de Coleta Pools positivos de Aedes aegyptiN° (%) Total

Zona Norte 17 (56,7) 30Zona Sul 2 (22,2) 9Zona Leste 5 (26,3) 19Zona Oeste 4 (20,0) 20Setor Central 3 (16,7) 18TOTAL 31 96

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Este aspecto provavelmente está repercutindo diretamentena situação epidemiológica do estado Minas Gerais. Até asemana 17 do ano de 2010 foram registrados, no Brasil, 737.756casos notificados de dengue, segundo dados divulgados pelaSecretaria de Vigilância em Saúde em trabalho conjunto com asSecretarias Municipais e Estaduais de Saúde (MINISTÉRIODA SAÚDE, 2010). A região Sudeste acumula 50,1% (369.836)dos casos notificados no país, sendo que Minas Gerais se destacapor apresentar 158.207 casos notificados, com incidência de 789,7casos por 100 mil habitantes.

Comparativamente, foi possível observar que as 17primeiras semanas de 2010 apresentaram um aumento de 175,5%dos casos notificados de dengue, passando de 57.429 casos em2009 para 158.207 em 2010.

Dessa forma, a repercussão da recirculação do DENV-1deve ser acompanhada de perto pela vigilância da dengue emtodos os níveis do sistema, uma vez que pode causar epidemiasem virtude da baixa circulação desse sorotipo ao longo dessadécada. Assim, o monitoramento da circulação viral em vetorescom a técnica de RT-PCR permite identificar com antecedênciae confiabilidade os níveis de disseminação do vírus, e se fazextremamente necessário no Estado de Minas Gerais devido aoreaparecimento do sorotipo DEN-1, ajudando a determinar oslocais para aplicar as políticas públicas de controle.

De fato, após o término de nossa pesquisa que apontou arecirculação do sorotipo 1 do vírus da dengue observada em 2009,foi observado um cenário de alta transmissão da doença ao longode 2010, dando início a um novo ciclo da doença no Brasil.

As atividades de monitoramento da circulação dossorotipos do vírus dengue realizadas nesse estudo demonstrama circulação dos sorotipos DENV-1, DENV-2 e DENV-3.Sobretudo, cabe destacar a presença do sorotipo DENV-1 emmaior proporção de isolamento em relação aos demais sorotiposnas zonas geográficas avaliadas.

Os resultados de nosso estudo alertam para a possibilidadede grande circulação de DEN-1 no estado mineiro, onde a populaçãonão esteve em contato com esse sorotipo desde o início da década.

Denis Prudencio Luiz; Boscolli Barbosa Pereira

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DETECÇÃO E TIPAGEM DE VÍRUS DENGUE EMAEDES AEGYPTI (DIPTERA: CULICIDAE)

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Boscolli Barbosa Pereira

Rafael César Bolleli Faria

Warwick Estevam Kerr

INTRODUÇÃO

Em países como o Brasil, onde o clima e os hábitos urbanosoferecem condições ótimas para o desenvolvimento e proliferaçãode seu principal vetor (FORATTINI, 1999), o mosquito Aedesaegypti, a dengue configura-se como um grave problema de saúdepública.

O controle convencional do vetor da dengue, realizado pelosprogramas públicos, integra a utilização de inseticidasindustrializados com estratégias de manejo ambiental. Dentreos inseticidas frequentemente empregados, destacam-se oorganofosforado temefós (TE) e o piretróide cipermetrina,utilizados, respectivamente, no controle de larvas e adultos(CARVALHO et al., 2004).

O uso freqüente de temefós pode levar à seleção depopulações do mosquito resistentes ao inseticida(KARUNARATNE; HEMINGWAY, 2001), favorecendo oaumento das populações de A. aegypti e dos índices de casos dedengue (MARCORIS et al., 1999; CAMPOS; ANDRADE,2001). O número de casos de resistência aos inseticidas estáaumentando em países da Ásia e Américas Central e do Sul,especialmente, no Brasil (CARVALHO et al., 2004).

CAPÍTULO 2

RESISTÊNCIA DEAedes aegypti(DIPTERA: CULICIDAE)AO TEMEFÓS

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A detoxificação ou metabolismo é um dos mais estudadosprocessos de resistência de insetos a inseticidas. Várias enzimas esistemas enzimáticos estão envolvidos como as oxidases, esterasese transferases (HEMINGWAY, 2000). Essas enzimas permitemao inseto converter o inseticida em uma forma não tóxica oueliminá-lo rapidamente do organismo.

Para tentar superar os problemas de resistência dos insetosaos inseticidas, sinergistas, como o butóxido de piperonila (PBO),têm sido amplamente empregados. Os sinergistas agem como umsubstrato alternativo, competindo com o inseticida e reduzindo adetoxificação. Sinergistas também agem inibindo alostericamenteoutros sítios enzimáticos em esterases e oxidases multifuncionais(MFO

s), minimizando a quantidade de inseticida necessária para

o controle dos insetos e os níveis de contaminação ambiental dosresíduos inseticidas (GUNNING et al., 1999)

Vários trabalhos demonstraram o sucesso do uso desinergistas no controle de insetos pela ação inibidora da atividadeesterásica e de MFO

s em linhagens resistentes (SAMSON et al.,

1990; LORINI; GALLEY, 2000). Entretanto, são raros os estudosque envolvem a ação desses sinergistas em A. aegypti.

O objetivo deste estudo foi determinar o envolvimento deesterases na resistência de larvas de Aedes aegypti ao TE, testandoos efeitos de PBO na toxicidade do inseticida ao avaliar os padrõesde atividade esterásica em linhagens suscetíveis e resistentes domosquito.

MATERIAIS E MÉTODOS

Material biológico

Amostras das linhagens suscetíveis ou resistentes de Aedesaegypti foram fornecidas pelo Centro de Controle de Zoonosesde Uberlândia. Para a realização dos experimentos foramutilizadas larvas no estágio L4 de desenvolvimento de Aedesaegypti como estabelecido pela Organização Mundial da Saúde

(WHO, 1992).

RESISTÊNCIA DE Aedes aegypti(DIPTERA: CULICIDAE) AO TEMEFÓS

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Linhagens de Aedes aegypti

Para a confirmação das diferenças de resistência entre as

linhagens, as larvas foram submetidas à dose diagnóstica de 0,012mg/L de TE, segundo metodologia padronizada pela OrganizaçãoMundial da Saúde (WHO, 1981). Quando a taxa de mortalidadefoi igual ou superior a 98%, a população foi considerada suscetível;populações que apresentaram taxa de mortalidade entre 80 e 98%foram submetidas à repetição do teste para confirmação;populações em que as taxas de mortalidade foram iguais oumenores que 80% foram consideradas resistentes.

Pré-tratamento com PBO e exposição ao TE

Grupos suscetíveis ou resistentes de larvas L4 foram pré-tratadas com soluções de PBO diluído em acetona em váriasconcentrações (0,125; 0,25; 0,5; 1 e 2%) por 24 horas e expostosà concentração diagnóstica de 0,02 mg/L de solução aquosa deTE. Para cada teste, grupos de 10 larvas foram expostos em placasde Petri com 40 mL da concentração diagnóstica de 0,02 mg/Lde solução aquosa de TE, enquanto os grupos controles foramexpostos somente a 40 mL de água. A mortalidade das larvas foiavaliada durante 2 h de exposição.

Atividade esterásica

A atividade esterásica de extratos de larvas pré-tratadascom diferentes concentrações de PBO e expostas ao temefósem três tempos de exposição diferentes foi determinada com á-naftil acetato como substrato para o uso da técnica em placas demicrotitulação (DEVONSHIRE, 1986) com modificações dePruett e outros (2000). As esterases foram extraídas porpulverização das larvas (grupos de 10 larvas foram utilizadospara cada teste ou controle) em 100 µL de tampão de extração(tampão fosfato de sódio 20 mM, pH 7,0). O sobrenadante

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obtido da centrifugação (4°C, 15.000 G, 15 min) foi coletado ediluído na proporção 1:50 com o tampão de extração. As amostrasdiluídas (50 µL) foram incubadas com 150 µL de tampão deextração contendo á-naftil acetato 0,5 mM por 30 min a 30°Cem local escuro por 15 min. Em seguida, 50 µL de tampão deextração contendo 0.15 % de o-dianizidina e 1,75% de dodecilsulfato de sódio foi adicionado. Os valores de densidade ópticaforam mensurados em leitor de ELISA (Titertek Multiskan PlusMKII, Flow Laboratories, McLean, EUA) utilizando filtros de450 nm.

Os valores de densidade óptica foram convertidos emmicromoles de naftol por minuto por mg de proteína (mmol.mg-

1.min-1 prot.) de acordo com uma curva padrão, utilizando-se oprograma Microplate Manager PC versão 4.0 (Bio-RadLaboratories, Inc., Hercules, EUA).

Análises estatísticas

As taxas de mortalidade das larvas foram comparadas entreas linhagens suscetível e resistente, utilizando-se o Teste do Qui-quadrado para heterogeneidade entre as populações. Por meioda combinação dos testes de Tukey e Kramer HSD, os índicesde atividade esterásica foram comparados entre as linhagenssuscetível e resistente nos diferentes perfis de exposição às cincoconcentrações de TE testadas. Para todos os testes, valores de Pinferiores à 0,05 foram considerados estatisticamentesignificativos (CALLEGARI-JACQUES, 2006).

RESULTADOS

Susceptibilidade e resistência ao TE: efeitos de PBO natoxicidade de TE

Os resultados da exposição à concentração diagnóstica de0,012 mg/L de temefós em 2 h de exposição das larvas de Aedes

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aegypti das linhagens suscetíveis e resistentes nos testes controles

(sem pré-tratamento com PBO) e nos testes experimentais (compré-tratamentos em diferentes concentrações de PBO) sãomostrados na Tabela 1.

No controle realizado somente com água não houve morte

em qualquer das linhagens estudadas. Larvas da linhagem

suscetível expostas à dose diagnóstica de 0,012 mg/L de temefós

sem pré-tratamento com PBO apresentaram alta taxa de

mortalidade (98%), porém as larvas da linhagem resistente

apresentaram 51,3% de mortalidade.

Os resultados dos bioensaios com constante concentração

de temefós (0,012 mg/L) aplicadas às larvas pré-tratadas com

concentrações variáveis de PBO revelaram que as larvas da

linhagem suscetível não apresentaram alterações significativas

nas taxas de mortalidade. Entretanto, as larvas do grupo resistente

apresentaram mortalidade significantemente diferente (p< 0,05)

do grupo controle para as concentrações de 0,25; 0,5; 1 e 2% de

PBO nos pré-tratamentos, sendo que as maiores taxas de

mortalidade foram obtidas com o pré-tratamento de 1% de PBO.

Tabela 1. Percentual de mortalidade de larvas de A. aegypti nos

controles e testes com concentrações diferentes de PBO.

M= mortalidade das larvas (%), cdiferença ao nível de significância de 5%,ddiferença ao nível de significância de 1%; N= 150 - Teste X2 deheterogeneidade entre populações.

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Tabela 2. Atividade esterásica de larvas das linhagens suscetívelou resistente tratadas com concentrações diferentes de PBO emdiferentes tempos de exposição.

aMédia (desvio padrão), b diferença ao nível de significância de 5%; n= 10.Teste de Tukey-Kramer; {número de mortes na condição avaliada}.

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Efeitos de PBO na atividade esterásica

Os valores de atividade esterásica em larvas das linhagenssuscetível ou resistente tratadas com cada uma das cincoconcentrações diferentes de PBO e os respectivos gruposcontroles (tratados somente com solvente) em três diferentestempos de exposição (30, 60 e 120 min) são mostrados na Tabela2. Não houve diferença (p> 0,05) entre os valores de atividadeesterásica dos grupos controle (não tratados com PBO) dentreos indivíduos da linhagem suscetível e também dentre osresistentes nos três tempos diferentes de exposição. Os valoresda atividade esterásica em larvas resistentes expostas a 0,25; 0,5e 1% foram significantemente menores do que os do grupocontrole quando o tempo de exposição foi estendido para 60 e120 min (p< 0,05). Para as larvas suscetíveis, somente asconcentrações de 1 e 2% de PBO em 60 ou 120 min foramefetivas para reduzir significativamente a atividade esterásica nogrupo (p< 0,05).

DISCUSSÃO

Em insetos, inseticidas organofosforados são detoxificadospor algumas enzimas como colinesterases, transferases e oxidasesque atuam reduzindo a quantidade de moléculas deorganofosforado livre ou hidrolisando-as (TERRIERE, 1984;KALISTE-KORHONEN et al., 1998). O metabolismo oudetoxificação é, provavelmente, o mecanismo mais estudado deresistência de insetos a inseticidas. Sinergistas têm sidoempregados na tentativa de superar o problema de resistênciaem diversas pragas e vetores (WILSON et al., 1999; YOUNGet al., 2005; BECKEL et al., 2006).

Neste estudo, nós demonstramos que o PBO, nasconcentrações de 0,25; 0,5; 1 e 2% aumentou a toxicidade detemefós sobre as larvas da linhagem resistente de A. aegypti, sendo

Boscolli Barbosa Pereira; Rafael César Bolleli Faria; Warwick Estevam Kerr

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que os maiores efeitos foram encontrados na concentração de1% de PBO, em que houve um acréscimo de 39,3% namortalidade das larvas em relação ao grupo controle.

De acordo com os resultados obtidos pela análise daatividade esterásica nas populações resistentes, é possível inferirque o efeito sinergista de PBO na toxicidade de temefós ocorreu,pelo menos parcialmente, devido ao decréscimo da atividadeesterásica geral destas populações, porém o efeito inibidor daatividade esterásica não foi considerado dose-tempo dependenteem ambas as linhagens de larvas. Além disso, como a resistêncianão foi completamente suprimida, é possível presumir que outromecanismo, além do aumento da atividade esterásica possatambém estar envolvido na resistência dessas populações.

As larvas da linhagem resistente, pré-tratadas com PBO2%, apresentaram menor mortalidade que as larvas pré-tratadascom PBO na concentração de 1%. Esta redução na taxa demortalidade pode ser explicada por um efeito antagonista dePBO devido a uma provável ativação metabólica do citocromoP450 responsável pela inibição de PBO, visto que existemisoformas de citocromos P450 responsáveis pela inibição deorganofosforados e de PBO (SCOTT; WEN, 2001).

O PBO pode atuar como um inibidor de P450,suprimindo a bioativação de TE e reduzindo a toxicidade doorganofosforado. Foi demonstrado neste estudo que PBOreduziu a toxicidade de TE, mas somente na mais altaconcentração. PBO não teve efeito significativo na toxicidadede TE na concentração de 0,125%. Entretanto, PBO sinergizoude forma crescente a toxicidade nas concentrações de 0,25% à1%. A taxa de sinergismo de PBO foi mais alta nas concentraçõesde 0,5% e 1% para a linhagem resistente, mas sofreu uma reduçãona concentração de 2%.

Este resultado pode ser explicado pela existência de umaresistência metabólica baseada no citocromo P450 na linhagemresistente. É sabido que múltiplos isômeros de P450 existemem muitas espécies de artrópodes e todos são substrato-específicos (LI et al., 2006). Alguns isômeros de P450 podem

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ser responsáveis pela ativação de TE enquanto outros estãoenvolvidos na detoxificação metabólica por serem muito maissensíveis a inibição de PBO do que os primeiros. Isto explicacomo PBO sinergizou a toxicidade de TE nas concentraçõesmais baixas (0,25; 0,5; e 1%) e a inibiu na concentração maisalta (2%). Na concentração de 2%, os isômeros responsáveis pelabioativação de TE tiveram seu efeito aumentado, anulando partedo efeito dos isômeros envolvidos na detoxificação metabólica(KOTZE; SALES, 1995; LI et al., 2005; PISANI-BORG etal., 1996; SABOURAULT et al., 2001; SIEGFRIED;SCHARF, 2001).

Os efeitos diferenciais de PBO sobre a toxicidade dosinseticidas nas linhagens resistentes observados nesses estudosforam atribuídos aos efeitos inibitórios de PBO em diferentesisômeros de P450 envolvidos na ativação ou detoxificação dasmoléculas de organofosforados.

Para a linhagem suscetível, os pré-tratamentos com PBOnão conferiram alterações nos níveis de toxicidade, pois é provávelque os indivíduos desta população tenham expressado suatolerância normal ao inseticida (GUNNING et al., 1999).

Os resultados dos ensaios toxicológicos e de esterasesrealizados em mosquitos da linhagem resistente indicaram quea habilidade de sobrevivência destes insetos está associada coma maior expressão de esterases. Resultados similares foramencontrados em outros ensaios que envolveram outras classesde organofosforados (SABOURAULT et al. 2001;SIEGFRIED; SCHARF, 2001; ZHOU et al., 2004).

Efeitos semelhantes aos apresentados nesse estudo foramencontrados em diferentes ensaios em que baixas concentraçõesde PBO sinergizaram os efeitos de organofosforados à diferentesespéces de insetos (BECKEL et al., 2006; LI et al., 2003; 2006;WILSON et al., 1999).

O elevado nível de sinergismo de PBO 1% nos efeitoslarvicidas de temefós tem uma importante aplicação no controlede larvas de A. aegypti.

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Boscolli Barbosa Pereira; Rafael César Bolleli Faria; Warwick Estevam Kerr

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Boscolli Barbosa PereiraEdimar Olegário de Campos Júnior

Luiz Carlos GuilhermeSandra Morelli

INTRODUÇÃO:

As estratégias para o controle do principal vetor da dengue,Aedes aegypti Linnaeus, 1762 estão fundamentadas na utilizaçãode produtos químicos e biológicos integrada a programas demanejo ambiental. Os programas públicos que visam controlar omosquito utilizam vários inseticidas, dos quais se destacam osorganofosforados. O organofosforado temefós (TE), utilizadono controle de larvas de Aedes, tem sido empregado continuamente(CAMPOS; ANDRADE, 2001).

Os principais efeitos causados pelos organofosforados estãorelacionados, primeiramente, à inibição da acetilcolinesterase, umaimportante enzima do sistema nervoso que, quando inibida,provoca acúmulo de acetilcolina nas sinapses com consequentecolapso do sistema nervoso, resultando na morte do organismocontaminado. Os efeitos secundários, porém muito relevantes, sãoresultantes da genotoxicidade dos organofosforados. O efeitogenotóxico é causado por lesões no DNA, incluindo quebras, basesmodificadas e eventos de perdas de cromossomos durante a divisãocelular (ÇAKIR; SARIKAYA, 2005).

O desenvolvimento de biomarcadores baseados em respostas

biológicas de organismos tratados com poluentes vem sendo

CAPÍTULO 3

EFEITOS DO LARVICIDA TEMEFÓS SOBREPREDADORES NATURAIS DE INSETOSVETORES

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amplamente utilizado para monitorar os efeitos da exposição à

contaminantes (GARCIA et al., 2000).A inibição de colinesterases é um biomarcador muito

utilizado para indicar os efeitos da exposição a inseticidas(MONTEIRO et al., 2005). Outro biomarcador amplamenteempregado é o Teste de Micronúcleo (TMN). O TMN compeixes revelou ser uma eficiente técnica para determinar opotencial genotóxico de agentes químicos poluidores(BOLOGNESI et al., 1999; GRISOLIA ; STARLING, 2001).

Inseticidas não afetam somente organismos alvos, comotambém provocam efeitos em outros organismos e até mesmona espécie humana (TITENKO-HOLAND et al., 1997). Aoatingir os ambientes aquáticos, os organofosforados afetam osorganismos alvo e não alvo, alterando a estrutura dosecossistemas, matando, inclusive, os predadores naturais das larvasde A. aegypti (DAS; JOHN, 1999; PIÑA-GUZMÁN et al.,2006). Além disso, o uso freqüente de organofosforados podeselecionar populações de mosquitos resistentes ao inseticida(KARUNARATNE; HEMINGWAY, 2001), favorecendo oaumento das populações de A. aegypti, dos índices de casos dedengue (MARCORIS et al., 1999; CAMPOS; ANDRADE,2001) e da desestabilização dos ecossistemas que atingem.

Os efeitos dos inseticidas em animais não alvos vão desdealterações fisiológicas, relativamente simples, até a morte doorganismo. Adicionalmente, a exposição às concentraçõessubletais dessas substâncias pode induzir mudanças em níveisindividuais, que implicarão em alterações nos parâmetrospopulacionais. A energia empregada na detoxificação e o estressecausado pelas doses subletais causam mudanças no metabolismodo organismo, alterando a sobrevivência e reduzindo areprodutividade das populações afetadas (DUQUESNE, 2006).

Estudos que envolvem marcadores para contaminaçãoindividual, populacional e do ambiente são relevantes porfornecerem parâmetros que possibilitam avaliar e predizer osefeitos da propagação de inseticidas em sistemas biológicos,mostrando os possíveis impactos em diversas populações.

Este trabalho teve por objetivo avaliar os efeitos dotratamento com diferentes exposições dose-tempo de Temefósem Poecilia vivipara, por meio do Teste de Micronúcleo (TMN)

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e da análise do perfil esterásico com caracterização de esterasespelo uso de inibidores específicos.

MATERIAL E MÉTODOS:

Material biológico

Os peixes (Poecilia vivipara), popularmente conhecidoscomo “barrigudinhos”, utilizados neste trabalho forammantidos em reservatório artificial na Universidade Federalde Uberlândia. Para os testes de micronúcleo e de inibição daatividade esterásica, foram selecionados peixes de mesma idade(aproximadamente 60 dias), sexo, dieta, tamanho e peso. Ospeixes destinados à análise de esterases foram decapitados esuas cabeças foram preservadas à temperatura de -80°C até omomento da análise.

Químicos

Amostras do inseticida organofosforado Temefós(Abate®, Cianamida, Brasil) foram obtidas pelo Centro deControle de Zoonoses de Uberlândia - MG.

Os inibidores sulfato de cobre 1 mM, malation 0,4 mMe sulfato de eserina 1 mM e os substratos á e â naftil-acetatosforam utilizados para caracterização e identificação dasesterases.

Exposição Dose-Tempo

Foram preparados aquários com diferentes concentraçõesde TE. As concentrações testadas foram de 0.005, 0.01, e 0.02(mg/L) e os tempos de exposição foram de 0, 24, 48, 72, 96,120e 144 horas. Para aclimatização, os peixes foram mantidos nosaquários por sete dias antes do tratamento, sob temperaturaambiente e pH controlado em 7,4.

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Atividade esterásica em gel de poliacrilamida

As cabeças dos peixes tratados com TE e dos não tratados(Controle) foram maceradas em nitrogênio líquido e 400 µL detampão fosfato de sódio 0,01 M (pH 6,5), contendo glicerol 10%,azul de bromofenol 0,001%, sacarose 20%, EDTA 0,001 M eTriton X-100 0,5%. O sobrenadante obtido de centrifugação (4°C, 15.000 G, 15 min) foi removido e usado na análise das esterases.

O conteúdo protéico das amostras foi determinado, emtriplicata, pelo método de Bradford (1976), utilizandosoroalbumina bovina como padrão e realizando leitura a 595 nmem espectrofotômetro (Ultrospec 1100 pro – AmershamBiosciences). Foram aplicados 10µg de cada amostra no gel depoliacrilamida. A eletroforese foi realizada em quatro horas à 4°C, com voltagem constante de 100V e solução 0,1 M de tris-glicina (pH 8,3) como tampão de corrida. Após a realização daeletroforese, a atividade foi detectada pela incubação do gel por60 min no escuro à 37° C em tampão fosfato de sódio 0,1 M (pH6,5), contendo 3,2 mM de a e b naftil-acetatos e 2,4 mM de FastBlue BB.

Caracterização das esterases

Para caracterização das esterases encontradas no gel depoliacrilamida, foram utilizados os inibidores sulfato de cobre 1mM, malation 0,4 mM e sulfato de eserina 1 mM e os substratosá e â naftil-acetatos. Para cada inibidor, soluções estoque forampreparadas em água ultrapura ou etanol, conforme apropriado.De cada inibidor, 5 µL de cada solução estoque foi incubada com495 µL do extrato enzimático por 30 min à 25 °C, antes da adiçãodos substratos. Foram feitos controles com água ultrapura e etanol.

O Teste de Micronúcleo

O sangue dos peixes foi coletado por punção caudal,utilizando seringa heparinizada com capacidade para 1 mL e

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agulha de parede fina (UDROIU, 2006). Cada amostra foiimediatamente submetida à técnica de esfregaço em lâmina paramicroscopia de luz. O esfregaço foi fixado em metanol puro por15 min, seguido de coloração com Giensa 10% solubilizado emtampão Sorensen (Na

2HPO

4 0,06 M; KH

2PO

4 0,06 M, pH 6,8)

por 10 min. Foram analisados 2000 eritrócitos por indivíduoquanto à freqüência de micronúcleos (MN). A freqüência foiexpressa em número de micronúcleos por mil eritrócitosanalisados, em cada amostra. Foram aceitos como micronúcleosos fragmentos circulares que equivaleram à cerca de 1/3 do núcleoprincipal e que apresentaram mesma coloração, intensidade eestiveram desconectados deste.

Análise estatística

As freqüências de micronúcleos nas diferentes doses deTE com tempos de exposição variáveis foram comparadasestatisticamente pela análise de variância (ANOVA, Tukey). Osvalores de densidade óptica absoluta das bandas de esteraseencontradas em todos os tempos de tratamento na dosediagnóstica de 0,01 mg/L foram comparados entre si pelo testede Kruskal-Wallis, Dunn. Para avaliar a correlação entre as taxasde MN e a expressão das esterases na dose diagnóstica de 0,01mg/L de TE com exposição de 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas,foi aplicado o Teste de correlação de Pearson. Para todas asanálises, valores de P menores que 0,05 foram consideradosestatisticamente significantes (ZAR, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificando-se a freqüência de micronúcleos nos diferentestempos de exposição para cada dose, observa-se que no grupoControle (sem tratamento com TE) as taxas de MN não variaramcom o aumento dos tempos de exposição. Na dose de 0,5 mg/L,as maiores freqüências de MN ocorreram com 72 e 96 horas de

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exposição (P< 0,05). Com o tratamento de 0,01 mg/L, asfreqüências de micronúcleos foram significantemente maiorescom 72, 96 e 120 horas de exposição. Para o tratamento com TEna concentração de 0,02 mg/L, a maior f reqüência demicronúcleos ocorreu com 72 horas de exposição, sendo que estesvalores diferiram significativamente das taxas apresentadas com120 e 144 horas de exposição (Tabela 1).

A freqüência média de micronúcleos nas diferentes dosesde tratamento com TE para cada período de exposição foisemelhante nos diferentes tempos. As maiores quantidades deMN ocorreram no tratamento com TE na concentração de 0,02mg/L, que diferiram, significativamente, das taxas apresentadasnas doses de 0,005 mg/L, 0,01 mg/L (estas não diferiram entresi) e do controle, que apresentou f reqüências médiasestatisticamente inferiores às do grupo tratado com TE.

Tabela I. Freqüência média de micronúcleos (média por 1000células + Desvio Padrão) detectada em eritrócitos de Poecilia

vivipara nos diferentes tempos de exposição de cada dose detratamento de TE.

Médias com diferentes letras, na mesma linha, são significativamentediferentes (ANOVA, Teste de Tukey; P< 0,05).

Como mostrado na Figura 1, apenas as bandas EST–1 eEST–8 foram detectadas em todos os tempos de exposição dospeixes à concentração diagnóstica de 0,01 mg/L de TE. Osvalores de densidade óptica das bandas EST-1 e EST-8 foramdeterminados pelo programa ImageMaster (PharmaciaBiossystem). As medidas das densidades ópticas de cada banda

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foram comparadas entre si quanto aos efeitos do tempo deexposição dos animais ao TE. A EST-1 apresentou atividadesignificativamente superior ao controle nas exposições de 120 e144 horas, enquanto que a EST-8 apresentou atividadesignificativamente menor que o controle nas exposições de 72 e96 horas.

Para a caracterização das esterases EST-1 e EST-8, foramutilizados os inibidores sulfato de cobre 1 mM, malation 0,4 mMe sulfato de eserina 1 mM e os substratos á e â naftil-acetatos. Opadrão de bandas não apresentou diferenças entre os diferentessubstratos. A caracterização bioquímica por meio dos inibidoresindicou que a enzima EST-1 é classificada como carboxilesterase,e que a EST-8 é classificada como uma enzima da classe dascolinesterases.

Não existe evidência estatística de correlação entre aatividade da enzima EST-1 e a freqüência média de micronúcleospara o tratamento com TE (0,01 mg/L) nos períodos de exposiçãoestudados (r = 0,228652; P >0,05). Entretanto, uma correlaçãonegativa, estatisticamente significativa (r = -0,89046; P <0,05),ocorreu entre a freqüência de micronúcleos e a atividade de EST-8 nas condições de dose e tempo de exposição citadasanteriormente (Figuras 2 e 3).

Figura I. Gel de poliacrilamida mostrando as diferenças deexpressão das esterases de peixes expostos à concentraçãodiagnóstica de TE (0,01 mg/L). Os períodos de exposição aoTE são indicados no alto da figura.

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Tabela II. Variação na Densidade Óptica Absoluta (pixels) dasbandas presentes em todos os tempos de exposição dos animaisao TE na concentração de 0,01 mg/L.

Medianas seguidas por diferentes letras, na mesma coluna, são

significativamente diferentes (Kruskal-Wallis, Dunn; P< 0,05).

Os resultados do Teste de Micronúcleo revelaram que oincremento nas taxas de micronúcleos foi dose e tempodependente, sendo que as maiores freqüências foram observadasapós 72 horas de exposição ao organofosforado, enquanto queos resultados obtidos pela análise esterásica mostram que aenzima EST-1, classificada como uma carboxilesterase teve suaatividade elevada após 120 e 144 horas.

Figura II. Correlação de Pearson entre a expressão da enzimaEST-1 e a freqüência média de micronúcleos em Poecilia vivipara(r = 0,228652; P >0,05).

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Figura III. Correlação de Pearson entre a expressão da enzimaEST-8 e a freqüência média de micronúcleos em Poecilia vivipara(r = -0,89046; P <0,05).

Inseticidas organofosforados são detoxificados por enzimascomo as carboxilesterases, que agem reduzindo os níveis deorganofosforado livre no organismo (SOUZA-POLEZZI, 2004).O aumento significativo da expressão de EST-1 pode estarassociado à diminuição das freqüências de micronúcleos após 120e 144 horas de exposição ao TE.

As exposições a concentrações subletais de organofosforadospodem induzir mudanças em níveis individuais e populacionaisnos organismos afetados. Individualmente, pode ocorrer alteraçõesno metabolismo, especialmente provocadas por gasto extra deenergia com processos de detoxificação, como a produção decarboxilesterases; produção de novas colinesterases e com a ativaçãode mecanismos de reparo no material genético danificado.

As implicações na dinâmica das populações afetadas, comoalterações nas taxas de crescimento são conseqüências dos efeitoscausados individualmente que afetam, por exemplo, a reprodução,devido aos efeitos genotóxicos que podem atingir as gônadas destesorganismos (DUQUESNE, 2006).

A correlação negativa entre a expressão de EST-8,classificada como uma colinesterase, e a freqüência de micronúcleossugerem que o organofosforado TE atua aumentando o efeitogenotóxico e inibindo a atividade da acetilcolinesterase ao longodo período de exposição.

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Patrícia David Boaventura

Boscolli Barbosa Pereira

INTRODUÇÃO

A dengue, dentre as enfermidades reemergentes, tem sidoconsiderada como a mais importante das doenças viraistransmitidas por artrópodos e é também a mais comum edistribuída arbovirose do mundo. Clinicamente, a denguemanifesta-se de duas formas: a dengue clássica, também conhecidacomo febre de dengue e a forma hemorrágica (BRAGA; VALLE,2007). No Brasil, tal virose se tornou um grave problema de saúdepública, assim como em outras regiões tropicais do mundo, poisfatores como a temperatura e a umidade dessas regiões favorece aproliferação do mosquito vetor (TAUIL, 2002).

Os programas de controle da dengue que adotam estratégias,como a eliminação de criadouros, a aplicação de larvicidas nosdepósitos de água de consumo, e a pulverização (fumacê) não têmsido suficientes no controle do vetor. Estratégias que visem apromoção das informações sobre a dengue e que favoreçam aadoção de uma postura ativa da comunidade, livrando o ambientedoméstico da presença do vetor da dengue são necessárias(LEFEVRE et al., 2007). Além do combate direto ao vetor, existea necessidade da inclusão de outros componentes comosaneamento do meio ambiente e ações de educação, informaçãoe comunicação para a sociedade (NETO et al., 2004).

CAPÍTULO 4

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃODE COROMANDEL, MINAS GERAIS,BRASIL, SOBRE DENGUE

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O incentivo à população vem sendo feito através de

veiculação de mensagens pela mídia, painéis, cartazes, folhetos

e palestras em escolas, sendo que em alguns municípios

brasileiros, essas medidas vem sendo aplicadas desde 1985

(NETO; MORAES; FERNANDES, 1998).

Torna-se importante lembrar que o maior desafio a ser

enfrentado coletivamente na endemia de dengue é o de manter

a população motivada para o combate ao mosquito e atentos a

sua participação específica e efetiva como sentinelas da

vigilância epidemiológica (MARZOCHI, 2004), para que se

consiga reduzir os níveis de infestação do Aedes aegypti a níveis

inferiores a 1% (CORREA; FRANÇA; BOUGUTCHI,

2005).

Considerando a importância da dengue, a crescente

propagação do mosquito e o aumento do número de casos

ocorridos no Brasil, fica cada vez mais evidente a necessidade

de avaliar as concepções da população com relação ao problema

da dengue, bem como analisar suas atitudes e hábitos de

prevenção à doença.

Nessa perspectiva, o presente estudo objetivou levantar e

avaliar o nível de conhecimento que a população de

Coromandel, Minas Gerais, Brasil apresenta sobre a dengue,

seu vetor, transmissão e prevenção, relacionando-o a alguns

aspectos demográficos, sociais e culturais.

MÉTODOS

Local de Estudo

A cidade, objeto de estudo, é a cidade de Coromandel,situada no Oeste do Estado de Minas Gerais na região do Alto

Paranaíba. Coromandel está a 47, 2º de latitude sul e 18, 47º de

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DE COROMANDEL,MINAS GERAIS, BRASIL, SOBRE DENGUE

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longitude oeste, apresentando 27.392 habitantes em censo

realizado em 2007 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística). Essa região possui temperatura

média em torno de 25º C e o bioma característico é o

Cerrado.

O inquérito domiciliar

Para aval iação do nível de conhecimento da

população sobre a dengue e os mosquitos, foi elaborado um

inquérito domiciliar. O instrumento de pesquisa foi

composto por campos de identificação (endereço, bairro,

sexo, nome); por campos de caracterização (idade e

escolaridade) e por campos de investigação sobre a doença (

transmissão, vetores, medidas de prevenção, atitudes e fontes

de informação). Os vetores da doença foram sempre referidos

como o(s) mosquito(s) da dengue. Os inquéritos foram

destinados somente aos responsáveis pela residência.

Somente foram entrevistados os moradores que

consentiram e assinaram o Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido após tomarem conhecimento da pesquisa e de

serem esclarecidos sobre o resguardo da identidade dos

entrevistados e de que os inquéritos domiciliares seriam

destruídos após o término do trabalho.

Amostragem e análise dos dados

O desenho do estudo foi caracterizado pela adoção do

método de amostragem por conglomerados. Foram sorteadas

duas regiões para a aplicação dos questionários a fim de que

se pudessem acumular os resultados obtidos entre um bairro

Patrícia David Boaventura; Boscolli Barbosa Pereira

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periférico e o centro da cidade. Por meio de sorteio, foi

selecionado o bairro Padre Lázaro Menezes que é constituído

por 35 quadras, distribuídas em 12 ruas e 630 domicílios, onde

habitam 1805 pessoas, representando 6,6% da população da

cidade. A outra região utilizada para amostragem populacional

neste estudo foi a do Centro da cidade, que é composta por

90 quadras, distribuídas em 25 ruas e 2218 domicílios, onde

habitam 6214 pessoas, representando 22,7% da população.

As duas regiões, juntas, apresentam um total de 125 quadras

(72% presentes no Centro e 28% presentes no bairro Padre

Lázaro Menezes), sendo que nos bairros Padre Lázaro

Menezes e Centro, os inquéritos domiciliares foram aplicados

em todas as residências de 3 e 7 quadras, respectivamente.

Os entrevistados responderam ao inquérito domiciliar

de forma espontânea. A análise das entrevistas deu-se, nas

questões de cunho pessoal (onde não eram oferecidas

alternativas de resposta), pelo levantamento das idéias centrais

e expressões-chave semelhantes, descrevendo de maneira

sintética e precisa o sentido de cada resposta, agrupando as

mesmas em categorias.

As quadras foram selecionadas de forma aleatória. A

aleatorização foi realizada utilizando o programa BioEstat

versão 5.0 10. Os dados estão apresentados em tabelas com

os valores das f reqüências médias das respostas dos

entrevistados, seguidos dos valores de intervalo de confiança

de 95%. Uma Análise de Variância Multivariada (MANOVA)

foi realizada associando as variáveis sobre conhecimentos

acerca da dengue e os níveis de escolaridade, idade e sexo dos

inquiridos. Em todos os testes realizados foi adotado um nível

de significância de 5% para rejeição da hipótese de nulidade.

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DE COROMANDEL,MINAS GERAIS, BRASIL, SOBRE DENGUE

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RESULTADOS

Foram entrevistados 224 residentes dentre as localidades

amostradas, sendo que os inquéritos domiciliares foram entregues

apenas aos que se apresentaram como responsáveis pela

residência. Como mostrado na tabela 1, a maioria dos

entrevistados eram do sexo feminino (81,7%), sendo que a

faixa etária predominante esteve compreendida entre 18 e 30

anos (53,1%), seguido da faixa entre 31-60 (42,4%) e, por

último, aqueles que possuíam idade superior aos 60 anos

(4,5%). Com relação à escolaridade, mais de um terço da

amostra populacional entrevistada haviam concluído o Ensino

Médio. Vale ressaltar que dentre os entrevistados, o índice de

analfabetismo foi nulo.

Questionados sobre o que é dengue, 8,5% dos

entrevistados não souberam responder. No entanto, dos 91,5%

dos entrevistados que responderam à pergunta, 36,2%

reconhecem a dengue como uma doença transmitida por

mosquito e apenas 14,7% tem a representação de que a dengue

é uma virose, tendo como principal vetor o mosquito Aedes

aegypti. Dos 224 entrevistados, apenas um (0,4%) não reconhece

a dengue como uma enfermidade grave (Tabela 2).

Quando indagados, em uma questão isolada, sobre a

transmissão da dengue, 93,3% dos entrevistados responderam

ser ‘através da picada do mosquito’. Em seguida, os

participantes foram perguntados sobre como é o mosquito

vetor da dengue, sendo que 61,2% destes apontaram ser um

mosquito ou pernilongo e 38,8% afirmaram ser um mosquito

‘rajado’. Dentre os entrevistados, 54,5% informaram que o

mosquito vetor se desenvolve em água parada, 39,3%

responderam que o desenvolvimento das larvas se dá em ‘água

parada e limpa’ e 6,2% responderam de forma incorreta ao

questionamento, como mostra a Tabela 3.

Patrícia David Boaventura; Boscolli Barbosa Pereira

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*A escolaridade dos entrevistados foi agrupada nos níveis: Analfabeto, EFI =Ensino Fundamental Incompleto; EFC = Ensino Fundamental Completo;EMI = Ensino Médio Incompleto; EMC = Ensino Médio Completo; ESI =

Ensino Superior Incompleto; ESC = Ensino Superior Completo.

Tabela 1. Dados da amostra populacional de Coromandel, MG,

Brasil.

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DE COROMANDEL,MINAS GERAIS, BRASIL, SOBRE DENGUE

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O inquérito apresentava perguntas sobre a ocorrência de casosde dengue no domicílio visitado e se, em caso afirmativo, o moradorhavia procurado atendimento médico. Dentre os entrevistados, 21,0%afirmaram já ter ocorrido dengue entre os habitantes do domicílio,sendo que 93,6% destes (44 em 47 inquiridos) procuraram os serviçosde atendimento à saúde (Tabela 4).

Quanto aos sintomas da dengue, 41,1% dos participantesconhecem os principais sintomas da virose, relatando em suasrespostas a ocorrência de febre, dor de cabeça, dor no corpo,diarréia e vômito. Os demais inquiridos reconheceram pelomenos um desses sintomas. Os entrevistados também foramabordados quanto ao conhecimento sobre a forma hemorrágicada doença, sendo que 33,9% a reconhecem como a ‘forma maisgrave da doença’, 25% a classificaram como ‘dengue que causahemorragia interna’, 7,6% a entendem como ‘dengue pelasegunda vez’ e 33,5% não souberam responder ou apresentaramrespostas diversas que não couberam nas categorias formadas(Tabela 4).

Tabela 2. Categorias de resposta dos entrevistados e suasrespectivas freqüências de ocorrência com relação aosconhecimentos sobre Dengue.

Patrícia David Boaventura; Boscolli Barbosa Pereira

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Conforme pode ser verificado na Tabela 5, os inquiridosforam unânimes (100,%) em afirmar apresentar cuidados com alimpeza dos quintais e atenção aos focos do mosquito, quandoquestionados a esse respeito. No entanto, quando indagados sobrealgumas situações de risco que poderiam ser encontradas emseus quintais, 59,4 dos participantes reconheceram ter em seusquintais pelo menos algum dos itens de risco citados (vasos deplantas com água, bebedouros para animais, latas, potes, frascosou pneus vazios no quintal com potencial para acúmulo de água).

Tabela 3. Categorias de resposta dos entrevistados e suasrespectivas freqüências de ocorrência com relação às informaçõesapresentadas sobre transmissão e o vetor da Dengue.

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DE COROMANDEL,MINAS GERAIS, BRASIL, SOBRE DENGUE

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Tabela 4. Categorias de resposta dos entrevistados e suasrespectivas freqüências de ocorrência com relação às informaçõesapresentadas sobre tratamento e sintomas da Dengue.

Patrícia David Boaventura; Boscolli Barbosa Pereira

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O resultado da MANOVA revelou que não há diferença

significativa entre os índices de acertos dos entrevistados com

relação ao sexo (p=0,451) e idades diferentes (p=0,356), no

entanto, o nível de acerto dos entrevistados que possuem ao

menos o Ensino Médio Completo em relação às questões sobre

gravidade da doença (p=0,001), transmissão (p=0,001), locais de

desenvolvimento do vetor (p=0,035), sintomas (p=0,020) e

necessidade de procura ao atendimento médico (p=0,001)

apresentaram nível significativo (p<0,05) de diferença quando

comparados com os entrevistados que apresentam o Ensino

Básico incompleto.

Tabela 5. Categorias de resposta dos entrevistados e suasrespectivas freqüências de ocorrência com relação às informaçõesapresentadas sobre cuidados para a prevenção da Dengue.

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DE COROMANDEL,MINAS GERAIS, BRASIL, SOBRE DENGUE

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DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo corroboram com outros

trabalhos que também apresentaram estudos em que houve

significativa parcela da população conhecedora dos aspectos

gerais da dengue e seu vetor (CHIARAVALLOTI NETO, 1997;

CHIARAVALLOTI NETO; MORAES; FERNANDES,

1998; DONALÍSIO; VISOCKAS, 2001; LEFEVRE et

al.,2007; NETO et al., 2006). Os resultados mostram que a mídia

e o papel dos agentes de saúde tiveram participação fundamental

para a aquisição desses conhecimentos.

O Fato de 66,9% dos entrevistados terem, no mínimo, o

Ensino Médio cria condições significativas para o aprendizado

das noções fundamentais de educação em saúde sobre a dengue,

sua forma de transmissão e prevenção. No entanto, foi possível

observar que há uma situação descompassada entre os níveis de

conhecimento, especialmente em relação aos focos de

desenvolvimento do vetor e as práticas desenvolvidas, revelando

que apesar de conhecerem os aspectos relevantes quanto às

possíveis situações de contribuição para instalação de focos do

vetor, os entrevistados ainda não adotam as práticas preventivas

de forma desejável, à semelhança de outros estudos (NETO;

MORAES; FERNANDES, 1998; NETO et al., 2006).

A adoção de padrões de consumo de produtos não

recicláveis incrementa a criação de ambientes que favorecem a

proliferação do vetor da dengue (GUBLER, 1989).

Adicionalmente, o hábito de cultivo de plantas ornamentais,

utilizando vasos com água e/ou pratos também contribuem para

a propagação do vetor (LIMA; ARAGÃO, 1988).

Um aspecto positivo observado nos resultados do inquérito

domiciliar foi o alto índice de procura às unidades de saúde,

sugerindo que no Município de Coromandel, nove, a cada dez

pessoas acometidas pelo dengue, procuram atendimento médico

Patrícia David Boaventura; Boscolli Barbosa Pereira

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e, conseguintemente, contribuem para a notificação dos casos

pelos órgãos de saúde.

O presente estudo permite concluir que a população

amostrada dispõe de conhecimentos sobre dengue, seu vetor, sua

gravidade e reconhece os métodos de controle do vetor.

Entretanto, observou-se uma lacuna entre o conhecimento e a

prática efetiva de atitudes voltadas à eliminação de potenciais

focos do vetor.

Cabe aos setores envolvidos no controle da doença aliar-

se à comunidade na tentativa de estimular a mudança de

comportamento e a participação ativa dos moradores visando o

controle do Aedes aegypti como principal método de prevenção à

dengue.

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DE COROMANDEL,MINAS GERAIS, BRASIL, SOBRE DENGUE

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CHIARAVALLOTI NETO, F.C.; MORAES, M.S.;FERNANDES, M.A. Avaliação dos resultados de atividadesde incentivo à participação da comunidade no controle dadengue em um bairro periférico do Município de São José doRio Preto, São Paulo, e da relação entre conhecimentos epráticas desta população. Cadernos de Saúde Pública, v.14,n.2, p101-109. 1998.

CORREA, P.R.L.; FRANÇA, E.; BOUGUTCHI, T.F.Infestação pelo Aedes aegypti e ocorrência da dengue em BeloHorizonte, Minas Gerais. Revista de Saúde Pública, v.39, n.1,p.33-40. 2005.

DONALÍSIO, M.R.; ALVES, J.C.P.; VISOCKAS, A.Inquérito sobre conhecimentos e atitudes da população sobrea transmissão do dengue – região de Campinas, São Paulo,Brasil – 1998. Revista da Sociedade Brasileira de MedicinaTropical, v.34, n.1, p.197-201. 2001.

GUBLER, D.J. Aedes aegypti and Aedes albopictus. Bornedisease control in the 1990’s: top down or bottom up.American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v.40,n.2, p.571-578. 1989.

Patrícia David Boaventura; Boscolli Barbosa Pereira

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LEFEVRE, A.M.C.; RIBEIRO, A.F.R.; MARQUES,G.R.A.M.M.; SERPA, L.L.N.; LEFEVRE, F.Representações sobre dengue, seu vetor e ações de controlepor moradores do Município de São Sebastião, Litoral Nortedo Estado de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública,v.23, n.7, p.1696-1706. 2007.

LIMA, M.M.; ARAGÃO, M.B. Criadouros de Aedes aegyptiencontrados em alguns bairros da cidade do Rio de Janeiro,Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos Saúde Pública, v. 4, n.4,p.293-300. 1988.

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NETO, V.S.G.; MONTEIRO, S.G.; GONÇALVES, A.G.;REBÊLO, J.M.M. Conhecimentos e atitudes da populaçãosobre dengue no Município de São Luís, Maranhão, Brasil,2004. Cadernos de Saúde Pública, v.22, n.10, p.2191-2200.2006.

TAUIL, P. L. Aspectos críticos do controle da dengue noBrasil. Cadernos de Saúde Pública, v.18, n.3, p.867-871. 2002.

CONCEPÇÕES DA POPULAÇÃO DE COROMANDEL,MINAS GERAIS, BRASIL, SOBRE DENGUE

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Boscolli Barbosa Pereira

Rafael César Bolleli Faria

Fernanda Fernandes dos Santos Rodrigues

INTRODUÇÃO

A dengue é um problema de saúde pública que tempreocupado a população e as autoridades locais e mundiais,especialmente no Brasil, onde são encontrados os maiores índicesde infecção. As características ambientais, climáticas e sociaisencontradas em nosso país favorecem o desenvolvimento eproliferação do principal vetor da dengue, o mosquito Aedes

aegypti (FORATTINI, 1999).Há muito é sabido que os programas públicos que visam

controlar o mosquito vetor da dengue, baseando-se apenas nouso de inseticidas industrializados, não são suficientes para contera proliferação do vetor (CAMPOS; ANDRADE, 2001).Adicionalmente, campanhas para conscientização da populaçãosão exaustivamente veiculadas por prefeituras e governosestaduais e federais na busca por informar a população sobrecomo prevenir os focos da dengue em suas residências.

Verdadeiramente, não podemos afirmar que a populaçãoestá mal informada. A comunidade detém os conhecimentos einformações necessárias para controlar os focos da dengue emcasa, no entanto, não o fazem.

CAPÍTULO 5

SIGNIFICADOS DE UMA PRÁTICA EDUCATIVA PARA OCONTROLE DO VETOR DA DENGUE

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Na ordem do dia está a necessidade de proposição dealternativas de controle do vetor da dengue que aliemconhecimentos e atitudes da população.

Assim, é importante salientar que, ao tratarmos datemática Dengue, as comunidades envolvidas são constituídaspor todos os indivíduos da população que se tornam, nessesentido, co-responsáveis pelo controle do vetor. Dessa forma, asatitudes devem ser tomadas por toda a comunidade e, sobretudo,de maneira integrada. Tomando as cidades como exemplo, umaunião imprescindível para a obtenção de resultados positivos nasações contra a Dengue consiste em integrar os conhecimentosproduzidos na academia às atitudes conscientizadas da população.

No entanto, sabemos que os resultados das pesquisas e aprodução de novos conhecimentos pela comunidade científica,embora publicados em revistas e periódicos, ficam, geralmente,restritos ao meio acadêmico, excluindo grande parcela dapopulação, especialmente a envolvida no processo deaprendizagem, representada pelos alunos de ensino fundamentale médio. Diante disso, o processo de produção e extensão dessesconhecimentos à população, assim como o processo deconscientização que dele emerge poderá ser mais rico e produtivose estes discentes puderem participar ativamente da reconstruçãodesses saberes, expressando ideias e construindo conceitos,juntamente com os pesquisadores.

Nesse contexto, a utilização de estratégias de Educaçãopara a Saúde que oportunizem situações de reflexão nascomunidades envolvidas é importante na formação de cidadãoscapazes de contribuir para a resolução de problemas de interessecomunitário ( JACOBI, 2003).

Recentemente, a utilização de metodologias educativas quevinculam uma ação conscientemente política, no sentido de aliara produção de conhecimento com mudança social, tem sido

considerada como a alternativa mais adequada para a

sensibilização e promoção de atitudes em benefício da saúde e

do ambiente (KERR et al., 2009).

SIGNIFICADOS DE UMA PRÁTICA EDUCATIVA PARA O CONTROLE DO VETOR DA DENGUE

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Foi nesse sentido que, orientados pela utilização dasmetodologias da pesquisa-ação-participativa, empreendemosuma ação educativa nas escolas da cidade de Monte Carmelo,realizada na forma de oficinas, que objetivaram ampliar osconhecimentos da comunidade escolar acerca do controle daDengue, enfatizando a importância do zelo pela própria saúde,ao promovermos situações em que os alunos atuaram comosujeitos-agentes ativos da situação de ensino.

A PROPOSTA DA OFICINA ‘AÇÃO CONTRA ADENGUE’

As oficinas seguiram o formato das metodologias dapesquisa-ação participativa que, segundo Tozoni Reis (2003),incluem a constituição de um grupo de trabalho; a proposta deum tema gerador que represente um problema real,contextualizado e presente na vida dos participantes do processo;a discussão e tomada de decisões conjuntas; a ampliação dosconhecimentos acerca do objeto de investigação e a apresentaçãode um resultado final com cunho social e político.

As atividades foram planejadas e aplicadas para discentesdo ensino médio e fundamental em escolas das redes estadual emunicipal de Monte Carmelo-MG.

O grupo de trabalho, apoiado e financiado pela PrefeituraMunicipal de Monte Carmelo contou com a participação deprofissionais do Centro de Controle de Zoonoses da cidade,pesquisadores e professores.

As atividades fundamentaram-se no tema gerador ‘ocontrole do vetor da dengue’ e são apresentadas em quatromomentos.

No primeiro momento, fomentou-se uma discussão comos alunos sobre a eficácia dos inseticidas no combate ao mosquitovetor da Dengue e quanto aos potenciais riscos oferecidos aoambiente e à saúde humana por meio de questionamentos eanalogias que permitiam avaliar os efeitos positivos e negativosdos inseticidas.

Boscolli Barbosa Pereira; Rafael César Bolleli Faria; Fernanda Fernandes dos Santos Rodrigues

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Em um segundo momento, visando tornar explícitas as

pré-concepções dos estudantes, os alunos foram convidados a

discutirem sobre a existência de inimigos naturais do mosquito

e da possibilidade de aplicação destes no controle biológico do

vetor, estimulando o interesse em re-descobrir/ re-criar estratégias

de ação em que, como apontado por Driver e outros (1999), os

próprios alunos pudessem realizar o papel central da ação.

No terceiro momento, os estudantes foram abordados sobre

a possibilidade de se integrar o controle químico ao biológico.

Para finalizar a atividade foi ressaltada a importância do

trabalho coletivo e resgatados os principais conhecimentos

construídos pelos alunos.

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ATIVIDADES

REALIZADAS

Quando questionados sobre a eficácia dos inseticidas nocontrole dos mosquitos e sobre os riscos por ele oferecidos, osalunos argumentaram que os inseticidas não eram eficazes, poisas populações de mosquitos não se reduziam e que, com relaçãoaos malefícios, faziam mal à saúde, mas afirmaram que só seriapossível perceber os efeitos quando estivessem mais velhos.

A partir desses argumentos, foi oportuno avançar para osegundo momento em que foi perguntado aos alunos sobre aexistência de inimigos naturais do mosquito. Os alunosconfirmaram a existência de predadores dos mosquitos, noentanto, os exemplos citados restringiram-se a sapos e lagartixas,ou seja, apenas representações de animais que se alimentam dosinsetos adultos. Logo, foi perguntado aos alunos se elesconsideravam uma boa estratégia utilizar esses animais paracombater os mosquitos. Unanimemente, negaram a estratégia,afirmando de forma irônica e crítica que não seria viável quefossem distribuídos sapos e lagartixas nas casas. Com isso,

SIGNIFICADOS DE UMA PRÁTICA EDUCATIVA PARA O CONTROLE DO VETOR DA DENGUE

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pretendendo que os alunos exercitassem seu raciocínio, foi

lançada outra pergunta que questionava a existência de

predadores das larvas do mosquito.

Alguns alunos apresentaram o conhecimento da

existência de peixes que comem as larvas dos mosquitos.

Oportunamente, lançamos a hipótese de que os peixes poderiam

servir de controladores das larvas do mosquito. Nesse momento,

os alunos puderam visualizar a atividade larvófaga1 de peixes

da espécie Poecilia vivipara, vulgarmente conhecidos como

lebistes ou barrigudinhos. Entusiasmados e surpresos com a

voracidade com que os peixes se alimentavam das larvas, os

alunos conheceram o potencial dos lebistes como controladores

biológicos das larvas de A. aegypti.

Diante da nova postura dos alunos, passamos ao terceiro

momento, resgatando a possibilidade de utilização do controle

químico no combate aos insetos, agora de forma concomitante

ao controle biológico. Positivamente, os alunos questionaram

se o inseticida lançado na água pelos agentes poderia ser

prejudicial aos peixes. Ao receberem a resposta de que os

inseticidas utilizados são agressivos aos peixes e até mesmo

aos humanos, os estudantes afirmaram que a utilização dos

inseticidas deveria ser reduzida nas campanhas de combate ao

vetor.

1A aplicação de peixes como controladores de larvas de

mosquitos com fase de vida aquática é conhecida e utilizada há muitotempo. Disponibilizar esses predadores naturais de insetos vetores dedoenças em residências e escolas constitui uma alternativa barata erequerente de pouca mão de obra, compondo uma estratégiasignificativa para controlar as populações dos mosquitos Aedes aegypti,Culex fatigans e outros insetos transmissores de doenças. Nesse sentido,o controle biológico além de diminuir o risco de infecção da população,reduz a demanda de uso de inseticidas e de recursos financeiros gastosnos programas convencionais de combate aos vetores.

Boscolli Barbosa Pereira; Rafael César Bolleli Faria; Fernanda Fernandes dos Santos Rodrigues

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As discussões e questionamentos realizados na oficinaapresentaram aspectos investigativos na medida em que foipossível perceber as concepções espontâneas por meio daparticipação dos alunos nas diversas etapas de resolução dosproblemas; a maior participação e interação do aluno em sala deaula com o objeto de estudo; a valorização de mudanças deatitudes e não apenas de conteúdos e a possibilidade da criaçãode conflitos cognitivos em sala de aula (DUSCHL, 1998).

A atividade foi planejada para que os alunos utilizassemsua criticidade, suas habilidades e também seu envolvimentoemocional, visando despertar o interesse e a conscientização dosestudantes para as práticas de combate ao vetor. Nos momentosoportunos em que os alunos levantavam questionamentos,tivemos a oportunidade de informar sobre os aspectos gerais dadoença, incluindo sua distribuição no planeta e dados estatísticosdo número de afetados nos últimos anos.

Os alunos foram informados da importância dodiagnóstico rápido e do tratamento médico adequado com afinalidade de reduzir o número de vítimas fatais da doença, sendoesclarecidos os sintomas da dengue clássica e hemorrágica, quevariam conforme a idade e a saúde geral do paciente.

Curiosidades e informações adicionais sobre ascaracterísticas morfológicas e comportamentais do vetor dadengue, o mosquito Aedes aegypti, como, por exemplo, seu hábitohematófago, os horários mais comuns em que pica as vítimas eos locais onde o inseto vive e se reproduz foram apresentadaspor meio da apresentação de animações computadorizadas.

Foram distribuídos peixes e material informativo quecontinha informações sobre o que é a dengue, sintomas dadoença, tratamento, combate aos focos do vetor e métodosalternativos de combate ao inseto. Também foram fornecidasinformações sobre as formas de manter o controle biológico domosquito em casa, visando reduzir os focos de proliferação domosquito vetor.

SIGNIFICADOS DE UMA PRÁTICA EDUCATIVA PARA O CONTROLE DO VETOR DA DENGUE

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A equipe executora pretendeu levar às escolasconhecimentos teóricos e práticos de ações inovadoras nocombate ao vetor como métodos de prevenção da doença.Entendemos que a participação de escolas para promoção dasaúde e de uma comunidade sem dengue é vital. Os escolaresreceberam a iniciativa de forma positiva e participaram comentusiasmo das atividades que lhes foram propostas. Os diretoresdas escolas em que as atividades foram realizadas reconhecerama importância da participação ativa dos alunos dentro e fora daescola, levando a mensagem para casa, para seus pais e vizinhos.

Os alunos se mostraram satisfeitos em receberemconhecimentos práticos de como eliminar os locais de reproduçãodo mosquito; de receberem os peixes e as informações sobre comorealizar o controle biológico das larvas do vetor por meio do usode peixes larvófagos; de como realizar o controle químico emecânico das larvas com o uso de sal, areia e borras de café e decomo evitar as picadas do mosquito pelo uso de espirais ouvaporizadores elétricos, mosquiteiros, repelentes e telas.Nesse cenário, entendemos que a proposta de Educação para aSaúde não deve ser baseada somente na sensibilização acercados problemas existentes, porém deve-se pautar na ação, fazendocom que a melhoria da qualidade de vida seja meta primordial.

Consideramos que a utilização das metodologias depesquisa-ação-participativa foi fundamental para o sucesso daação educativa na medida em que permitiu articular oconhecimento acadêmico à ação, caracterizando uma práxisreflexiva e transformadora da realidade.

Boscolli Barbosa Pereira; Rafael César Bolleli Faria; Fernanda Fernandes dos Santos Rodrigues

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FORATTINI, O. P. Yellow fever. Revista de Saúde Pública, SãoPaulo, v. 33, n.2, p. 534-537, set./nov. 1999.

JACOBI, P. Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade.Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n.118, p.189-205, abr./mar. 2003.

KERR, W.E.; PEREIRA, B.B.; CAMPOS JÚNIOR, E.O.;LUÍS, D.P. Todos contra a Dengue. Em extensão, Uberlândia,v.8, n.2, p.152-157, ago./dez. 2009.

TOZONI-REIS, M. F. C. Pesquisa em educação ambiental nauniversidade: produção de conhecimentos e ação educativa. In:TALAMONI, J. L.; SAMPAIO, A. C. (Orgs.). Educaçãoambiental: da prática pedagógica à cidadania. São Paulo:Escrituras, 2003. p. 9-21.

SIGNIFICADOS DE UMA PRÁTICA EDUCATIVA PARA O CONTROLE DO VETOR DA DENGUE

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Boscolli Barbosa Pereira (Org.)

Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas pela

Universidade Federal de Uberlândia, pela qual obteve o título de

Mestre em Genética em 2008 e, atualmente, cursa o Doutorado

em Genética no programa de Pós-Graduação em Genética e

Bioquímica do Instituto de Genética e Bioquímica. Tem

experiência nas áreas de Genética, Educação, Educação

Ambiental, Educação para a Saúde, Biologia Molecular e

Biomonitoramento Ambiental. Atua como Coordenador no

Curso de Ciências Biológicas da Fundação Carmelitana Mário

Palmério.

Denis Prudencio Luiz

Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas pela

Universidade Federal de Uberlândia, onde concluiu o Mestrado

em Genética. Tem experiência na área de Genética, com ênfase

em Genética Molecular e de Microorganismos.

SOBRE OS AUTORES

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Edimar Olegário de Campos Júnior

Mestre em Genética e Bioquímica pela Universidade

Federal de Uberlândia. Graduado em Ciências biológicas. Tem

experiência na área de Genética, com ênfase em Indução da

Ginogênese e Androgênese, atuando principalmente nos

seguintes temas: diversidade de H ymenoptera, controle

biológico e mutagênse. Possui trabalhos realizados na área de

biomonitoramento com plantas e peixes, com atuação na área

de citogenética.

Fernanda Fernandes dos Santos Rodrigues

Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas (2009) e

especialista em Ensino de Ciências (2010) pela Universidade

Federal de Uberlândia. Desenvolve trabalhos na área de

Educação, atuando principalmente nos seguintes temas:

Representações Sociais, Formação de Professores, Ensino de

Ciências e Biologia e Sexualidade. Atualmente é mestranda do

Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de

Educação da Universidade Federal de Uberlândia.

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Luiz Carlos Guilherme

Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal

de Lavras (1980), mestrado em Zootecnia pela Universidade

Federal de Lavras (1991) e doutorado em Genética e Bioquímica

pela Universidade Federal de Uberlândia (2005). Foi professor

de genética da Universidade Federal de Uberlândia (2006-2008).

Tem experiência na área de Genética, com ênfase ao

melhoramento genético de peixes por meio de técnicas de

Manipulação Cromossômica e Citogenética. Atua também no

desenvolvimento de técnicas e equipamentos que permitem a

produção urbana de pescado em sistema integrado de aquaponia

e na utilização de peixes para controle biológico de larvas de

Culex e Aedes junto ao Centro de Controle de Zoonoses de

Uberlandia - MG. Atualmente atua como pesquisador da

EMBRAPA Meio Norte e participa do programa de incubação

de empresas do CIAEM /Uberlandia - MG com o projeto

produção de machos de tilapia yy com técnicas de manipulação

cromossômica.

Patrícia David Boaventura

Graduada em Ciências Biológicas pela Fundação

Carmelitana Mário Palmério. Atua na área de Epidemiologia e

Educação para a Saúde.

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Rafael César Bolleli Faria (Org.)

Rafael Cesar Bolleli Faria concluiu a Graduação em

Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia

(UFU) em 2005. Cursou Mestrado em Genética e Bioquímica

pela UFU em 2008. Está Cursando o Doutorado em Genética

Pela UF U. Atua na área de genética de plantas e de

microorganismos com ênfase em divergências genéticas e

marcadores moleculares. É professor de Biologia do Instituto

Federal De Educação, Ciência e Tecnologia – Sul de Minas,

Campus Inconfidentes.

Sandra Morelli

Possui graduação em Ciências Biológicas - Licenciatura

(1975) e Bacharelado (1976) - pela Universidade Federal de

São Carlos, mestrado em Ecologia e Recursos Naturais pela

Universidade Federal de São Carlos (1981) e doutorado em

Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos

(1998). Atualmente é professora Associada II da Universidade

Federal de Uberlândia. Tem experiência na área de Genética,

com ênfase em citogenética, atuando principalmente nos

seguintes temas: citogenética e evolução cariotípica.

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Warwick Estevam Kerr

Possui graduação em Agronomia pela Escola Superior de

Agricultura Luiz de Queiroz - USP (1945), doutorado em

Genética pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

- USP (1948), pós-doutorado pela Universidade da Califórnia

(1951) e pela Universidade de Columbia (1952). Foi professor

de Genética da Faculdade de Ciências da UNESP - Rio Claro,

professor de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto (USP), professor da Universidade Federal do Maranhão e

diretor e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia. Atualmente, é professor voluntário da Universidade

Federal de Uberlândia. Tem experiência na área de Genética,

com ênfase em Genética Animal.

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