Barack Obama, um neo-conservador que não se conhece · Resignado perante o caos, por exemplo na...

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O conflito da Síria entrou no sexto ano. Qual será o seu resultado, quando se defrontam o campo da guerra a qualquer preço, os da paz custe o que custar e os partidários duma solução justa e moral ? Ainda hoje há ingénuos que pretendem convencer-se e convencer a opinião pública de que haveria opositores moderados entre os terroristas, « democratas » no meio dos dois mil grupos jihadistas recenseados, nobres patriotas sem mácula entre os mercenários de uma centena de nacionalidades que semeiam a morte e a destruição na Síria, no Iraque, na Líbia e noutros locais. Nos meios que se encantaram com as « primaveras » cor de jasmim ou de malva, o desnorte perante os impasses do passado condicional leva à evocação infindável e comovida dos pioneiros da ciber-revolução do inverno de 2010-2011, mas a ignorar o caos generalizado que vai conquistando o conjunto do Grande Médio-Oriente país atrás de país. Não é que desagrade aos ideólogos neo-conservadores (neo-cons) americanos que, desde os anos 90, excitados pelo triunfo sobre o Eixo do Mal comunista, resumiam à atenção dos europeus a sua ideia sobre a divisão de tarefas : « Enquanto vocês analisam e comentam o passado, nós fazemos História… » A fórmula é cínica, mas bem vista : enquanto nos nossos institutos e outros « tanques de ideias » os intelectuais de França e Navarra filosofam sobre as primaveras árabes, vendo aí uma sucessão de encontros falhados com a democracia, os seus colegas dos think tanks anglo-americanos abastecem de argumentos, ideias e projetos o empreendimento de desconstrução e deslocação lançado pelo Império atlântico sobre o mundo árabe e muçulmano, desde que o desaparecimento da URSS deixou campo livre ao Eixo do Bem. Barack Obama, um neo-conservador que não se conhece Barack Obama iniciou a sua última caminhada. O seu « testamento », publicado nestes últimos dias sob a forma de entrevistas com o jornalista americano Jeffrey Goldberg, faz grande efeito designadamente com as suas frasezinhas. Erdogan é um « falhado », um « tirano » ou um « autoritário » (à escolha do tradutor). A Arábia Saudita é um aliado ? Obama responde com a pirueta «É complicado », antes de lembrar que os terroristas do 11 de setembro são « sauditas não iranianos » e que um « país moderno não pode avançar quando oprime metade da sua população ». Provocação máxima : « A Arábia Saudita e o Irão devem dividir os papéis no Médio-Oriente e instaurar entre si uma paz fria. » No fundo, Obama parece não ter grande estima pelos seus « aliados » reis do petróleo e a sua primeira preocupação não parece ser a democracia : sonha apenas com « autocratas inteligentes ».

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O conflito da Síria entrou no sexto ano. Qual será o seu resultado, quando se defrontam o campo da guerra a qualquer preço, os da paz custe o que custar e os partidários duma solução justa e moral ? Ainda hoje há ingénuos que pretendem convencer-se e convencer a opinião pública de que haveria opositores moderados entre os terroristas, « democratas » no meio dos dois mil grupos jihadistas recenseados, nobres patriotas sem mácula entre os mercenários de uma centena de nacionalidades que semeiam a morte e a destruição na Síria, no Iraque, na Líbia e noutros locais. Nos meios que se encantaram com as « primaveras » cor de jasmim ou de malva, o desnorte perante os impasses do passado condicional leva à evocação infindável e comovida dos pioneiros da ciber-revolução do inverno de 2010-2011, mas a ignorar o caos generalizado que vai conquistando o conjunto do Grande Médio-Oriente país atrás de país. Não é que desagrade aos ideólogos neo-conservadores (neo-cons) americanos que, desde os anos 90, excitados pelo triunfo sobre o Eixo do Mal comunista, resumiam à atenção dos europeus a sua ideia sobre a divisão de tarefas : « Enquanto vocês analisam e comentam o passado, nós fazemos História… » A fórmula é cínica, mas bem vista : enquanto nos nossos institutos e outros « tanques de ideias » os intelectuais de França e Navarra filosofam sobre as primaveras árabes, vendo aí uma sucessão de encontros falhados com a democracia, os seus colegas dos think tanks anglo-americanos abastecem de argumentos, ideias e projetos o empreendimento de desconstrução e deslocação lançado pelo Império atlântico sobre o mundo árabe e muçulmano, desde que o desaparecimento da URSS deixou campo livre ao Eixo do Bem. Barack Obama, um neo-conservador que não se conhece Barack Obama iniciou a sua última caminhada. O seu « testamento », publicado nestes últimos dias sob a forma de entrevistas com o jornalista americano Jeffrey Goldberg, faz grande efeito designadamente com as suas frasezinhas. Erdogan é um « falhado », um « tirano » ou um « autoritário » (à escolha do tradutor). A Arábia Saudita é um aliado ? Obama responde com a pirueta «É complicado », antes de lembrar que os terroristas do 11 de setembro são « sauditas não iranianos » e que um « país moderno não pode avançar quando oprime metade da sua população ». Provocação máxima : « A Arábia Saudita e o Irão devem dividir os papéis no Médio-Oriente e instaurar entre si uma paz fria. » No fundo, Obama parece não ter grande estima pelos seus « aliados » reis do petróleo e a sua primeira preocupação não parece ser a democracia : sonha apenas com « autocratas inteligentes ».

Apesar destes pormenores picantes, o discurso do Nobel da paz não é essencialmente diferente do dos seus antecessores, republicanos ou democratas… O historiador canadiano Michael Jabara Carley, que ensina na universidade de Montréal, perguntava-se prosaicamente há pouco tempo se ainda haverá um piloto na Casa Branca. Avançava três hipóteses suscetíveis de esclarecer a ambígua abordagem de Obama em matéria de política estrangeira : deve-se imputá-la à fraqueza dee quem se vai embora face aos governos que ficam, a uma certa incompetência ou a uma postura maquiavélica que consiste em fazer a guerra sem o parecer? Apresentado como o homem mais poderoso do mundo, Obama não é o homem mais poderoso dos Estados Unidos. Reconhece-se-lhe grande inteligência e inspira simpatia mesmo àqueles que constatam as suas fraquezas e insuficiências. Contudo, no « testamento », estas últimas aparecem diluídas e misturadas nos meandros de uma visão estratégica à qual nenhum presidente consegue escapar, democrata ou republicano, visto que se trata do « poder profundo » americano, desde há mais de trinta anos sob a batuta neo-conservadora. Esta visão remete-nos para a « lógica do caos », maquiavélico por definição.

O presidente americano Obama está desiludido com o seu aliado turco Erdogan, que trata de autocrata numa entrevista à revista americana « The Atlantic ». Esta lógica dá conta do hipócrita jogo duplo que muitas vezes se censura a Washington. Barack Obama faz seus todos os princípios fundamentais dos seus antecessores. A América é portanto o melhor país do mundo e o seu papel é por definição benéfico. Constata o caos que reina em todos os estados onde quis impor a sua democracia de mercado, mas ignora arrogantemente que está na origem desse

caos, deplorando apenas que este « ensombre o balanço do trabalho desenvolvido pela América » e a « desvie das suas outras prioridades ». Na Líbia, os Estados Unidos planificaram cuidadosamente a intervenção militar e financiaram a formação da coligação, mas o país é « uma catástrofe », espanta-se Obama, julgando contudo « ter impedido uma guerra civil prolongada e sangrenta » (sic). Resignado perante o caos, por exemplo na Líbia e na Síria, consola-se afirmando que o preço da ação (intervenção direta) seria mais elevado do que o preço da inação (a recusa de intervir que lhe é censurada). É o raciocínio próprio dos ferverosos do « caos criador » : é mais fácil manter o domínio de uma situação caótica criada intencionalmente do que construir a todo o custo uma ordem « americana » improvável numa zona extensa, longínqua e estrangeira. Com efeito, inspirada pelo filósofo judeu alemão Leo Strauss (1899-1973), a teoria em questão assenta num postulado : « É pela destruição de toda a resistência e não pela construção que o poder se exerce », ou « é mergulhando as massas (os países vulneráveis) no caos que as elites (os países dominantes) podem aspirar à estabilidade da sua posição ». Léo Strauss especifica : « É nesta violência que os interesses imperiais dos Estados-Unidos se confundem com os do estado judaico. » Estes princípios serão adotados à letra pelos estrategas que, produto histórico de uma simbiose entre sionismo e calvinismo, irão dar à luz o pensamento neo-conservador. A doutrina toma corpo no início dos anos 80, quando o artista do neo-liberalismo selvagem, o cowboy Ronald Reagan (no poder entre 1981 e 1989), põe termo ao degelo para regressar à tensão (os soviéticos no Afeganistão) e à « dupla tensão » (o Iraque de Saddam Hussein contra o Irão de Khomeiny). Os neo-cons, em muitos casos com dupla nacionalidade israelo-americana, irão desenvolver os seus enviesados planos com vista à remodelação do Grande Médio-Oriente de acordo com as obsessões de Washington e de Tel-Aviv : o contrôle das zonas ricas em hidrocarbonetos supõe uma redefinição das fronteiras, dos Estados e dos regimes políticos. O plano Yinon, tornado público em 1982, preparado por um estratega israelita para o governo do Likud de Menahem Begin, definiu assim « a estratégia para Israel nos anos 80 ». Propõe sem ambiguidades « desconstruir todos os Estados árabes existentes e remodelar o conjunto da região em pequenas unidades frágeis, maleáveis e incapazes de afrontar os israelitas ». O complemento operacional do caos criador é a « teoria do louco » de Nixon, preconizando que a América seja dirigida por « alucinados de comportamento imprevisível, dispondo de uma enorme capacidade de destruição, a fim de criar ou reforçar o temor dos adversários ». Obama refere-se a esta teoria sem nela ver malícia… Desde a implosão da URSS e do bloco comunista (1989-1991), os Estados Unidos, que « conservam a responsabilidade de proteger o mundo », têm mais do que nunca uma obsessão (Brzezinski em O Grande Tabuleiro, 1997) : abafar a emergência de qualquer potência suscetível de contrariar as suas ambições, conforme a « doutrina do

domínio em espetro total » elaborada pelo Pentágono. Esta última incarna o sonho dos neo-cons e seus émulos infiltrados nos arcanos dos « estados profundos » do universo ocidental : os grandes e pequenos da comunidade internacional, bancos, empresas trans-nacionais ou ONG’s. Inspirando-se da teoria do caos e aplicada de acordo com a teoria do louco, a política imperial do momento unipolar americano (a partir de 1991) será baseada nos seguintes preceitos : fazer seja o que fôr, praticar um « dois pesos, duas medidas » sistemático, pregar moral e agir de modo imoral, usar um discurso irracional, violar os princípios do direito internacional e contornar as decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas quando elas incomodarem. Segundo Noam Chomski, « este desprezo pela primazia do direito está profundamente enraizado na cultura e nas práticas americanas ». O resultado não será triste. A lógica do caos não tem a ver com o direito, conforme se suspeitava, mas sim com uma opção estratégica ditada pela geopolítica. Para ela, o planeta está dividido em três zonas concêntricas : ao centro, a « heartland » euro-asiática (China, Rússia) que detém as chaves de domínio do mundo ; na periferia, as terras « offshore » onde estão as bases dos impérios do mar ambicionando a hegemonia ; entre os dois, uma « rimland » que em grande parte é ocupada por uma « cintura verde muçulmana » e constitui um espaço rico e estratégico que é preciso controlar. O cocktail das duas teorias, a do caos e a do louco, vai-se verificar explosivo para os povos desta « muslim green belt » (cintura verde muçulmana). Numa selva em que tudo é mentira, pretender combater movimentos terroristas para cuja criação se contribuíu (Al-Qaeda, Daech) e a quem sem grandes rebuços se dá apoio não passa de simples pecadilho. Que dizer então da iniquidade das sanções, arma favorita dos ocidentais com a sua pretensão de punir os autores dos « massacres » e os « regimes », mas na realidade visando humilhar, esfomear, desesperar as populações, roubando dinheiro do seu país e, coisa que não é pouca, dispensando-se de respeitar os compromissos assumidos ? Sanções : arma de destruição massiva ou golpe de misericórdia Ainda que a eficácia testada das defesas russo-sírias tenha pesado sem dúvida junto com as reservas do Congresso na sua decisão, Obama evitou o pior em agosto de 2013 ao renunciar a lançar ataques punitivos ( ?) sobre a Síria, a seguir à questão das armas químicas. De facto, esta decisão de « romper com as regras do jogo » parece ter sido inspirada, não por uma lógica de justiça, mas pela vontade de afirmar o seu poder face aos estados-maiores, aos serviços e aos « think tanks ». Estes são influenciados e financiados pela Arábia e por outros países do Médio-Oriente – segundo Goldberg, isto é bem sabido na Casa Branca – e a maior parte trabalha para os seus patrões árabes e pró-israelitas. C.Q.D…. Nada no entanto que possa incitar os povos do Grande Médio-Oriente a contradizer Paul Craig Roberts, antigo secretário adjunto do Tesouro americano, quando escreve no seu estilo corrosivo (blog da resistência, 12 janeiro 2016) : « Único entre todos os países da Terra, o regime dos EUA é a organização criminosa mais acabada da história humana. »

Ao comentar os acontecimentos dos anos passados, Ahmed Ben Saada, investigador e politólogo argelino instalado no Canadá, lembra no seu livro Arabesco$ que « não geraram mais do que caos, morte, ódio, exílio e desolação […] ». O levantamento que faz de um recente balanço sobre « as primaveras árabes » faz estremecer : 1 milhão e meio de mortos e feridos (número a rever em alta), mais de 15 milhões de refugiados e deslocados (de facto, 18 ou 19 milhões incluindo as guerras do Iraque). Teriam custado ao conjunto dos países árabes perdas brutas de 833 mil milhões de dólares, dos quais mais de metade em infrastruturas diversas e em sítios arqueológicos ou históricos. Os países da « zona África do Norte – Médio-Oriente (ANMO) teriam perdido mais de 100 milhões de turistas ». Juntemos a estas devastações faraónicas financiadas pelos estados petrolíferos a golpes de dezenas de milhares de milhões de dólares outras centenas « congeladas » pelas sanções, quer dizer, pura e simplesmente roubados. Só para a Síria, estimativas recentes avaliam em 300 mil milhões o custo das destruições e pilhagens e há quem avance o valor de 1 bilião (milhão de milhões) para os danos e juros que poderia ser pedidos por esse país (cf. infra).

A « democratização » americana inclui a instalação em residência do Daech.

É evidente que esta devastação incomensurável – a pior das catástrofes que podia abater-se sobre os árabes e muçulmanos – não poderia ter sido levada a cabo sem a colaboração dos aliados do Império atlântico no Médio-Oriente, demasiado conhecidos para que seja necessário mencioná-los de novo. Porém, neste início da época 2016, não se trata apenas de fazer o balanço das « primaveras árabes ». É um quarto de século de « democratização » americana, à força de bombardeamentos humanitários, massacres, efeitos colaterais e estratégia do caos aquilo que nos contempla do alto das pirâmides de ruínas do Grande Médio-Oriente. Desordem e anarquia instalaram-se em numerosos países como dados permanentes e as visões à Yinon já não parecem delirantes, desenhando-se progressivamente uma nova geografia de acordo com as intenções dos estrategas neo-conservadores, americanos ou israelitas. Esta cartografia, evocada pelos políticos, integra a instalação em residência do Daech (organização do Estado islãmico). Enfim – e não é a menor das alterações na paisagem geopolítica do Grande Médio-Oriente – perfila-se rapidamente uma evolução antes ou jamais impensável na

confusa atmosfera das « revoluções com aspas » : durante muito tempo discreto, mas vigilante e omnipresente nos meios e grupos de pressão dos « opositores armados », o Estado hebreu já não esconde a sua cumplicidade com a Arábia wahhabita e as monarquias do Golfo. A ideia de uma normalização generalizada entre Tel-Aviv e a maioria das capitais árabes faz o seu caminho. Esse é certamente um dos êxitos mais gritantes da estratégia neo-conservadora e a mais humilhante para os árabes. A recapitulação sumária à qual nos limitaremos aqui respeita a três países em que o caos se mostrou particularmente inovador e criador : o Iraque, que não pára de se partir e contar os mortos desde há mais de um quarto de século, a Líbia destruída em nove meses e tornada tão plural que agora encontramos várias, e a Síria que paga desde há anos o custo de um encarniçamento sádico. De entre os pontos comuns, notam-se estes: regimes republicanos sem charia, interesses de petróleo e gás em confronto, três « politicídios » incluindo a destruição de instituições, infrastruturas, economias e exércitos, derrube dos regimes e instalação de um caos permanente marcado por tentativas de desmontagem em entidades com base étnica ou religiosa, e implantação do Daesh numa parte dos territórios destes três estados. Um empreendimento bem sucedido : a destruição do Estado-nação iraquiano Em agosto de 1990, Saddam Hussein, acabado de sair de uma longa guerra contra o Irão e « encorajado » por uma ambiguidade de linguagem da embaixadora americana, invadiu o Kuwait que recusa « pagar a sua dívida » a Bagdad. Washington e Londres decretam que o Iraque ao ter violado o direito internacional é um « estado pária ». A URSS já não é mais do que um estado em perdição e Saddam vai encontrar-se sozinho, diplomática e militarmente, face à América triunfante e à sua « coligação ». O Iraque será o primeiro objetivo da vindicta do eixo do Bem, iniciando – coisa que os iraquianos ainda não sabem – um calvário que dura há vinte e cinco anos. Em janeiro de 1991, a operação Tempestade do Deserto é lançada sob mandato da ONU pelos EUA com a colaboração de uma grande « coligação » arábico-ocidental, destinada a punir a agressão contra o Kuwait e a sua anexação. Três meses mais tarde, as hostilidades terminaram. O « castigo » do Iraque apenas começou. A década 1991-2001 será marcada por um encarniçamento maníaco visando abafar o país e quebrar o seu povo à força de embargos, bloqueios e sanções. Tratando-se de um « estado pária », a busca de armas de destruição massiva vai substituir as violações do direito internacional. As exigências de Washington e do Conselho de Segurança vão multiplicar as provocações que procuram limitar a soberania do estado iraquiano através da criação de zonas de exclusão aérea (em nome da responsabilidade por proteger) e das inspeções da UNSCOM. É também a vergonhosa operação « petróleo contra alimentos », procurando humilhar e esfomear as populações. Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, os reforçados neo-conservadores vão convencer Bush junior, que diz querer « vingar o papá » (sic), a lançar uma nova agressão para acabar com Saddam Hussein, se necessário com a cobertura legal de

uma resolução do Conselho de Segurança. Os relatórios de peritos de espionagem, dirigidos à Casa Branca depois do escandaloso discurso de Colin Powell no Conselho de Segurança em 5 de fevereiro de 2003, foram ignorados. As « minutas de Downing Street » dirigidas pelo chefe do Serviço de Informações (depois de contacto com o seu colega da CIA) informam Tony Blair em julho de 2003 que George Bush decidiu desembaraçar-se de Saddam Hussein através de uma ação militar. Esta será justificada pelas armas de destruição massiva, apesar dos sucessivos anos de inspeção, e pelo terrorismo (a cooperação com a Al-Qaeda, criada no Afeganistão nos anos 80 com a colaboração dos Estados-Unidos, dos paquistaneses e dos sauditas para combaterem os soviéticos). Em março de 2003, passando por cima da oposição da França, da Alemanha, da Rússia e da China, os Estados-Unidos e seus aliados invadem o Iraque, decididos a fazer regressar este país à Idade da Pedra. A tomada de Bagdad e a rendição do exército marcam o início da destruição do Estado baathista sob a direção de um pró-consul americano perdido nesse país desconhecido. Ignorante, Paul Bremer desencadeia o desmantelamento das instituições e do exército, a instalação de um poder xiita e « curdo » em vez e no lugar do regime derrubado. Será duramente reprimida uma contra-insurreição « sunita » de base tribal, à qual se juntaram numerosos baathistas do exército dissolvido e combatentes islamistas próximos da Al-Qaeda. Foi a prisão em que os insurretos islamistas e oficiais baathistas se conheceram que será o cadinho do Daech. A captura e tratamento iníquo reservado a Saddam Hussein, os seus processos e a sua execução em direto no dia da Festa muçulmana, assim como as abjetas práticas da soldadesca americana sobre os presos iraquianos vão figurar no balanço moral do eixo do Bem. O Iraque irá escapar às « primaveras árabes » na sua forma clássica, mas, em 2011, teve já a sua dose de primavera. Vinte e cinco anos após o início de um calvário que prossegue até aos dias de hoje sob formas sempre renovadas, não é cedo demais para fazer o balanço dos feitos da « democratização » americana desse grande país moderno que foi o Iraque. A criação de três comunidades (curda, sunita e xiita) a partir de critérios em si mesmos caóticos, meio étnicos, meio religiosos, permite traçar a divisão do Iraque. A destruição do tecido nacional e institucional vai traduzir-se pela sedição étnica entre curdos e árabes, designadamente a rápida e encorajada afirmação do Curdistão iraquiano, coqueluche dos ocidentais, e a sedição confessional. Neste ponto, a marginalização dos sunitas tem por contrapartida a promoção da maioria xiita, acompanhada de ferozes lutas entre clãs. O povo iraquiano irá ser abandonado a uma empresa impune com toques de genocídio : de acordo com os números normalmente aceites, haverá pelo menos milhão e meio de mortos, dos quais meio milhão de crianças, sem contar com as sequelas sanitárias ou genéticas das armas químicas e dos bombardeamentos com

urânio empobrecido (cancros, malformações) e o exílio massivo de vários milhões de iraquianos de todas as religiões (Síria, Líbano, Europa). A pilhagem do património arqueológico e histórico (sítios e museus) será banalizada e aberta ao público, por assim dizer. Trata-se de destruir a memória deste povo muito antigo. A tarefa será perpetuada um pouco mais tarde pelo Daech.

Soldados americanos derrubam em 2003 a estátua de Saddam Hussein em Bagdad. O potencial económico não será cuidado, quando as infrastruturas sofreram durante anos bombardeamentos e golpes dos « amigos do Iraque ». A pilhagem dos recursos petrolíferos seguirá o seu caminho, mas sob contrôle : o ministério do Petróleo terá sido, segundo se diz, a única parte da administração protegida pelos esbirros de Bremer. Ponhamos no inventário « o dinheiro de Saddam Hussein », isto é, do Iraque, que terá conhecido a sorte habitual na matéria. Politicamente, a redistribuição das cartas no plano nacional provocará uma mutação imprevista e contudo previsível no plano estratégico : é o Irão, e não a América, que se tornará o interlocutor privilegiado do « poder xiita », onde a Arábia não vai ganhar nada com o assunto. Finalmente, como produto direto da invasão americana e gozando da proteção da Turquia, do Qatar e da Arábia saudita, o Daech instala-se no norte do Iraque em junho de 2014, abrindo uma nova fase na perturbação da geografia iraquiana. Protegido por Washington mais do que inimigo a abater, a organização « Estado Islâmico » vai trabalhar para a destruição do Estado iraquiano e estender-se rapidamente para a vizinha Síria.

A «nova era democrática» prometida pelo ocupante traduz-se por um regime que generaliza a prática da tortura, como na prisão de Abu-Ghraib.

Desmantelamento, partilha, pilhagem e caos na Jamahiriya As mensagens de e-mail (pirateadas) de Hillary Clinton confirmam o que já se sabia : a eliminação de Kadhafi não tem nada a ver com uma vontade de democratizar a Líbia. Inspirou-se em interesses estratégicos, económicos e petrolíferos e na existência dos « milhões de Kadhafi ». De acordo com a banca mundial e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Líbia dispõe no início de 2011 do « índice de desenvolvimento humano mais elevado do continente africano », com um crescimento do PIB de 7,5% ao ano, um rendimento por habitante record (10.000 dólares americanos por ano), instrução primária e secundária para todos e acesso ao ensino superior para um em cada dois alunos. Mais de 2 milhões de imigrados africanos encontram trabalho na Jamahiriya. Fator de estabilidade e desenvolvimento no norte de África, a Líbia multiplicou investimentos com o objetivo de dotar a União Africana de autonomia financeira e moeda independente. Algo de inaceitável para os Estados-Unidos e para a França, a acreditar nos e-mails de Hillary Clinton. Teria Kadhafi feito outros « investimentos » na Europa ? O Ocidente desconfia. Os « revolucionários » líbios não esperam muito para apelarem por socorro contra Kadhafi que « massacra o seu povo ». Rapidamente são satisfeitos. As primeiras sanções diplomáticas são o resultado da Resolução 970 adotada pelo

Conselho de Segurança nos finais de fevereiro de 2011 : proibição de viajar, embargos de armas e… congelamento de bens, decreta o Tribunal Penal Internacional. A Resolução 1973 de 17 de março de 2011 confirma e reforça as sanções anteriores (acrescentando a exclusão aérea), ao mesmo tempo que dá luz verde a uma intervenção militar a título da « responsabilidade de proteger ». Enganadas (segundo se diz, pela França), a China e a Rússia abstêm-se em vez de oporem um veto, assim como a Alemanha. A NATO, investida do trabalho pelos ocidentais em violação do mandato da ONU, desencadeia imediatamente os bombardeamentos. É posta de lado qualquer diplomacia. A França será um dos ferros de lança da aventura. Milhares de raides atingirão não apenas objetivos militares e centros de comando, mas também e sobretudo zonas residenciais, zonas industriais e objetivos civis. Jamais se irá conhecer o balanço exato : milhares e sem dúvida dezenas de milhares de mortos e feridos, mas poucos combatentes, porque quase não houve confrontos militares. De facto, a intervenção « humanitária » visa mudar o regime : Kadhafi será torturado e assassinado em direto, diante das câmaras de televisão no fim de outubro de 2011.

Kadhafi foi torturado e assassinado diante das câmaras de televisão.

A Líbia será destruída, as suas infrastruturas devastadas, o exército desmantelado e os homens desmobilizados irão alimentar o fluxo de mercenários e jihadistas em todo o Sahel, incluindo o Mali. Mergulhada num caos generalizado e posta ao alcance de várias centenas de milícias armadas, a Líbia está já dividida em três ou quatro entidades e o poder é disputado entre dois ou três governos. O terreno é propício à instalação do Daech, que encontrará aí o seu terceiro ponto de ancoragem. A situação líbia é preocupante para a segurança e estabilidade de toda a região, nomeadamente para a Argélia, a Tunísia, o Sahel. Ela gera um buraco negro securitário entre o sul da Líbia e o norte do Chade. No meio deste desastre, as primeiras sanções terão sido rapidamente esquecidas. Se o « congelamento dos bens », sanção clássica, não desperta a atenção de toda a gente, apresenta um interesse maior para alguns. Não será legítimo « apanhar o dinheiro de Kadhafi » ? De facto, os « 500 mil milhões de Kadhafi » recenseados em março de 2011 são simplesmente os 500 mil milhões de bens líbios investidos no

mundo (250 na América e 250 na Europa e resto do mundo ocidental), entre bancos e empresas. E nem se fala dos investimentos (50 mil milhões) efetuados pelo Guia no continente africano e na pilhagem futura do petróleo líbio. Jamais se saberá deles, com exceção dos 11 a 34 mil milhões restituídos ao Conselho Nacional de Transição (CNT) pela NATO e pelos ocidentais (inquérito de Pascal Henry : Piéces à conviction na France 3, em 29/01/204). Quanto ao restante, que esteja congelado ou descongelado, ninguém saberá dizer onde estão, exceto que de certeza não foram perdidos por toda a gente. A sorte de todos os bens congelados ao abrigo do capítulo 7 (da Carta da ONU – N.T.) é a de serem postos a recato algures (incluindo em França). Cinco anos depois, o caos é tal que se aprontam para intervir de novo para pôr fim ao caos. Sinal de que o colonialismo está de volta é a Itália estar à frente do empreendimento, tal como a França na Síria… A Síria destruída em parte e o Estado sírio não derrotado, mas sempre ameaçado Após cinco anos de uma guerra de uma violência extrema, e ainda que tenha servido de terreno de experiências para todos os recursos da estratégia do caos, a Síria continua. O estado sírio não se desmoronou. Paga vencimentos e pensões aos seus funcionários sem falhar e as suas instituições estão no sítio. O exército resistiu face a uma agressão aliando as grandes potências ocidentais aos regimes fundamentalistas do Médio-Oriente. Desde outubro de 2011, está afastado o espetro de um cenário à líbia, já que Moscovo e Pequim quebraram pelo seu veto a unanimidade dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Dedos acusadores apontam para « certos países que não jogam o jogo », uma vez que Rússia e China recusam « juntar-se à comunidade internacional » (sic) como queriam Juppé e Hague. Mas, esta mutação não vai evitar uma escalada contínua da guerra universal imposta à Síria. O envio massivo de mercenários jihadistas com as suas agendas próprias vai perpetuar o caos, « abrindo caminho à organização do Estado Islâmico, constituído com ex-oficiais do exército iraquiano irradiados por Paul Bremer em 2003, com armas americanas e com o apoio considerável de fundos sauditas ». Nestas condições, para que servem as sanções, tornadas tão banais para os países ocidentais que lhes passam despercebidas, tanto mais que nada sofrem com elas ? Cinco anos de encarniçamento terão esgotado a Síria, já devastada pela guerra, acabando por asfixiar a sua economia e condenando o povo sírio a viver de agora em diante em condições terríveis. As sanções clássicas de « normalização » são tomadas pela União Europeia (UE) em maio de 2011 : dizem respeito à proibição de viajar (fim dos visas) e ao congelamento dos bens de 150 personalidades do « regime sírio ». Uma cinquentena de sociedades « apoiantes do regime » ficam sujeitas a boicote, das quais cinco organismos militares, de acordo com o embargo « sobre as exportações de armas e de material suscetível de ser utilizado para fins de repressão ».

A partir de julho de 2011, a Síria é alvo regular de medidas de represália da parte da « comunidade internacional ». É necessário « punir e asfixiar economicamente o regime de Bachar al-Assad, que reprime com sangue os opositores ». A 10 de agosto de 2011, o governo americano adota sanções contra as sociedades de telecomunicações sírias e os bancos ligados a Damas, impedindo os cidadãos americanos de fazer negócios com os bancos sírios ou Syriatel. Os bens destas sociedades nos Estados-Unidos são congelados, ou seja, roubados. Hillary Clinton anuncia um embargo total sobre as importações de produtos petrolíferos sírios. Imitando logo os seus professores, a União Europeia decide sanções suplementares, incluído um embargo sobre o petróleo. Como os Estados-Unidos, o Canadá, a Austrália, a Suissa, a Turquia e a Liga Árabe (sequestrada pelo Qatar e pelos regimes do Golfo), Bruxelas vai renovar e reforçar as sanções sem descanso, por dezassete vezes apenas no ano de julho de 2011 a julho de 2012. O encerramento da Syrianair em Paris e a proibição de qualquer ligação aérea entre a França e a Síria serão decididos no verão de 2012, do mesmo modo que o fim dos voos entre as capitais europeias e Damasco. As sanções diplomáticas são decididas a partir do outono de 2011, depois do veto russo-chinês. Os Estados-Unidos chamaram o seu embaixador agitador em Damas, vários estados da UE chamam os seus e o ministro francês dos Negócios Estrangeiros Alain Juppé chama também o seu, primeiro a 17 de novembro de 2011 e depois definitivamente em fevereiro de 2012. Nomeado em maio de 2012, Fabius fará melhor : apenas entronizado, vai expulsar a embaixadora da Síria, embora esta, representante junto da UNESCO, não possa ser expulsa. As « grandes democracias » e seus aliados do Médio-Oriente estão sempre de serviço. Os prejuízos são imensos e um país anteriormente próspero, autosuficiente e sem dívidas está em ruínas, com as infrastruturas devastadas e os serviços sociais frequentemente danificados. Com mais de 300.000 mortos (100.000 dos quais membros do exército regular), 1 milhão de deficientes e 14 milhões de refugiados ou deslocados (mais de um sírio em cada dois), o tecido nacional fica fragilizado pela proliferaão de grupos armados e minado pela invasão de mercenários vindos para a jihad, assim como por certas reivindicações étnicas. Foram necessários muitos esforços da parte dos « amigos da Síria » para instalar mês após mês este caos que reina numa boa parte da Síria, « mãe da nossa civilização ». Bernard Cornut, especialista do Médio-Oriente, escreve a justo título em 11 de março de 2016 : « Visto que cada vez é mais conhecido e verificado que vários países apoiaram e financiaram grupos rebeldes armados com o objetivo afirmado e partilhado de mudar o regime, e nomeadamente fazer partir o presidente, países que incluem a França, os Estados-Unidos, a Grã-Bretanha e claro o Qatar, a Arábia, a Turquia e outros conhecidos da Síria, todos eles em diversos graus são corresponsáveis pelos prejuízos provocados na Síria e recentemente estimados em 1 milhão de milhões de dólares. » E concluindo : « Deverão portanto enfrentar ações judiciais internacionais por parte da Síria para que obtenha indemnizações de guerra legítimas. » Com o fim de as financiar, propõe a criação de uma taxa sobre o petróleo e o gás, a qual seria afeta

a « um fundo de indemnização das vítimas e de reconstrução da Síria em todos os planos, a gerir pela ONU ». Conforme constatado por Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute na Universidade Colúmbia de Nova Iorque e consultor junto do secretário-geral das Nações Unidas, « a política americana foi um falhanço enorme e terrível ». Assad não partiu e não foi vencido, graças à ajuda da Rússia e do Irão. A perspetiva neo-conservadora ficou comprometida. Daí a fúria dos « amigos da Síria », a sua fuga em frente e a sua violência louca… diante do avanço do exército sírio em todas as frentes. Não haverá mais « primaveras ». Resta que o caos é omnipresente, do Iraque à Síria, da Tunísia ao Egipto, da Líbia ao Iémen, da Palestina ao Líbano. Salvo que há uma novidade : os cúmplices e agentes do Médio-Oriente da estratégia imperial ficam de agora em diante às voltas com essa desordem e essa selvajaria que contribuíram para propagar. A Arábia saudita, a Turquia tornaram-se um alvo para os grupos extremistas e terroristas que apadrinharam e protegeram. Pesares, pesares… Que aconteceu aos responsáveis ocidentais pela « democratização » ? Colin Powell, o homem que deu a cara no Conselho de Segurança, afirmou-se mal informado pelos serviços americanos : exprime o seu pesar alguns anos depois dos factos. Madeleine Albright, para quem as centenas de milhares de crianças iraquianas mortas eram o « preço a pagar pela democratização do Iraque » ou Condoleeza Rice que via nas convulsões do Líbano em 2006 as « contrações do nascimento da democracia » dedicam-se certamente às suas boas obras. Bush goza de uma reforma pacífica e pinta bonitos carneirinhos no seu rancho : terá Alzheimer ?...

Blair e Bush : depois da mentira e do horror, reformas douradas…

Tony Blair faz conferências pagas principescamente. O ex-primeiro ministro britânico exprime também o seu pesar onze ou doze anos depois dos factos. De acordo com Jeremy Corbin, na sua candidatura à direção do partido Trabalhista, ele deve ser

levado à justiça por crimes de guerra, « devido à invasão ilegal do Iraque, uma guerra catastrófica que custou muito dinheiro e vidas humanas, de que ainda hoje se vêm as consequências ». Quanto a Hillary Clinton a mulher do « veni, vidi, vici », que escarnecia do assassínio de Kadhafi em direto (« um dia feliz para a humanidade »), é assediada por certos jornalistas americanos. Jeffrey Sachs (22 de fevereiro de 2016) acusa-a de ter contribuido para provocar e manter o banho de sangue na Síria, tendo assim pesada responsabilidade pela carnificina. « Perigo para a paz mundial », terá que « responder por muita coisa referente à guerra da Síria », conclui. Candidata à investidura democrata para a presidência, deve pensar mais vezes em Donald Trump do que em Kadhafi. Se, por um capricho da sorte (qualquer máquina de votar com os buracos entupidos, por exemplo), a machona da diplomacia fosse eleita, os sírios até agora poupados pela guerra só teriam que se cuidar. E quanto à França e aos seus dirigentes de todos os bordos que se felicitavam pelo balanço da grande cavalgada líbia e pontificavam – continuam sempre a pontificar – sobre o futuro da Síria e o destino do seu presidente ? Não deviam temperar a sua arrogância de ignorantes e a sua impudência de privilegiados ? Em vez de continuarem a atirar planos viciosos com ar enjoado, não precisariam antes de se interrogar sobre a sua esmagadora responsabilidade pelas desgraças do povo sírio e a baixeza da diplomacia francesa ? O futuro da Síria não tem nada a ver com eles. O maior serviço que podem prestar à « mãe da civilização », à « segunda pátria de qualquer ser civilizado » alvo do seu encarniçamento, é deixá-la em paz, em todos os sentidos da palavra. * Embaixador francês reformado Este texto foi publicado em: http://www.afrique-asie.fr/index.php?option=com_content&view=article&id=10033:le-chemin-de-damas-les-ruines-le-sang-et-les-larmes&catid=75:a-la-une Tradução : Jorge Vasconcelos