BAENINGER, R. Rotatividade_ Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana

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Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana - REMHU - Uma publicação semestral do Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios CSEM Brasília, Brasil (www.csem.org.br ). Todos os artigos da revista REMHU estão disponíveis gratuitamente no site: www.csem.org.br/remhu * * * * * Una pubblicazione semestrale del Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios CSEM, Brasilia, Brasile (www.csem.org.br ). Tutti gli articoli della rivista sono disponibili gratuitamente nel sito: www.csem.org.br/remhu * * * * * A semestral publication of the Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios CSEM, Brasília, Brazil (www.csem.org.br ). All of the articles of the journal REMHU are available online for free: www.csem.org.br/remhu * * * * * Una publicación semestral del Centro Scalabriniano de Estudios Migratorios CSEM, Brasilia, Brasil (www.csem.org.br ). Todos los artículos de la revista REMHU están disponibles gratuitamente en el sitio web: www.csem.org.br/remhu

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  • Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana

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    Uma publicao semestral do Centro Scalabriniano de Estudos Migratrios

    CSEM Braslia, Brasil (www.csem.org.br). Todos os artigos da revista REMHU

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    Migratrios CSEM, Brasilia, Brasile (www.csem.org.br). Tutti gli articoli della

    rivista sono disponibili gratuitamente nel sito: www.csem.org.br/remhu

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    CSEM, Braslia, Brazil (www.csem.org.br). All of the articles of the journal

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  • Rosana Baeninger

    77Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XX, N 39, p. 77-100, jul./dez. 2012

    ROTATIvIDADE MIGRATRIA: uM NOvO OLhAR PARA AS MIGRAES INTERNAS NO BRASIL

    Rosana Baeninger*

    O artigo analisa os movimentos migratrios no Brasil, acompanhando as transformaes em sua dinmica nas ltimas dcadas. Os movimentos migratrios internos no Brasil, dos ltimos 60 anos, esto fortemente relacionados aos processos de urbanizao e de redistribuio espacial da populao, marcados pela intensa mobilidade populacional. Nesse contexto, os clssicos fatores de atrao e expulso se esgotam para as explicaes do fenmeno migratrio. As evidncias empricas dos censos demogrficos e das PNADs permitem conhecer as alteraes nas tendncias migratrias nacionais, revelando novas condies migratrias para diferentes estados: reas de reteno migratria, reas de perdas migratrias e reas de rotatividade migratria. O sculo 21 anuncia a expanso dos espaos da migrao no Brasil, marcados pelo crescimento de reas de rotatividade migratria.Palavras-chave: Migrao interna; Ubanizao; Migrao interestadual.

    IntroduoO tema das migraes internas no Brasil adquire importncia crescente

    nos estudos de populao no sculo 21. De um lado, as migraes de longa distncia redesenharam seus trajetos e seus significados; de outro lado, as dinmicas regionais passaram a imprimir especificidades s migraes urbanas-urbanas.

    O artigo analisa os movimentos migratrios no Brasil, acompanhando as transformaes em sua dinmica nas ltimas dcadas. Os movimentos migratrios internos no Brasil, dos ltimos 60 anos, esto fortemente

    * Doutora em Cincias Sociais, professora colaboradora do Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da Unicamp, Pesquisadora do Ncleo de Estudos de Populao da Unicamp. E-mail: [email protected]. Campinas/Brasil.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    relacionados aos processos de urbanizao e de redistribuio espacial da populao, marcados pela intensa mobilidade populacional, e inseridos nas distintas etapas econmicas, sociais e polticas experimentadas pelo pas ao longo desse perodo.

    Desse modo, o deslanchar dos processos migratrios recentes tem suas razes de transformaes desde os anos 1980, quando as clssicas interpretaes da migrao ancorada somente no desempenho econmico das reas alcanaram seus limites. O artigo recapitula as tendncias gerais da migrao nos anos 1980 e 1990 no Brasil, a fim de que se possa acompanhar, no longo prazo, a manifestao das migraes internas no pas e sua configurao atual. Focaliza no sculo 21, os processos migratrios nacionais que, imersos em um novo contexto socioeconmico e urbano, imprimem espaos da migrao marcados por diferentes condio migratria: reas de reteno de populao, reas de perdas migratrias e reas de rotatividade migratria.

    As anlises relativas aos primeiros anos do sculo 21 comparam as informaes sobre os movimentos migratrios para todos os Estados brasileiros, no perodo 1995-2000 e 2005-2010, com base no Censo Demogrfico de 2000 e 2010; para os perodos intercensitrios de 1999-2004, 2001-2006, 2003-2008 e 2004-2009 nas Pesquisas Nacionais por Amostra Domiciliar. Busca-se apresentar os movimentos migratrios contemporneos, em particular aqueles referentes aos ltimos anos, que imersos em um novo contexto socioeconmico e urbano, imprimem espaos da migrao marcados por diferentes condio migratria: reas de reteno de populao, reas de perdas migratrias e reas de rotatividade migratria.

    Nesse contexto, apresenta-se a seguir algumas reflexes que contemplam o cenrio recente das migraes internas no Brasil, com a incorporao do conceito de rotatividade migratria para o entendimento terico-metodolgico dos processos migratrios em curso no pas.

    Breve retrospectiva

    Os movimentos migratrios internos no Brasil, dos ltimos 60 anos, esto fortemente relacionados aos processos de urbanizao e de redistribuio espacial da populao, marcados pela intensa mobilidade populacional, e inseridos nas distintas etapas econmicas, sociais e polticas experimentadas pelo pas ao longo desse perodo.

    As mudanas no processo migratrio nacional tiveram, a partir dos anos 70, o deslanchar de suas transformaes. No contexto dos deslocamentos interestaduais apesar da centralidade migratria no Sudeste - So Paulo e Rio

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    de Janeiro foram os dois Estados dessa Regio que j haviam assistido a uma reduo em seus volumes de imigrantes dos anos 70 para os 80.1 O Sudeste que chegava a ter um movimento migratrio que envolvia quase 5 milhes de pessoas nos anos 70, diminuiu este volume para 4,3 milhes no perodo 1981-1991.

    Na Regio Centro-Oeste, os Estados do Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal tambm diminuram seus volumes de imigrantes entre esses dois perodos. O Mato Grosso do Sul demonstrava sinais do fechamento de sua fronteira2 e o Distrito Federal iniciava, no perodo 1981-1991, seu processo de expanso metropolitana atingindo os municpios do Estado de Gois, com significativos fluxos migratrios para seu entorno.

    Ao longo dos ltimos cinquenta anos do sculo 20, as migraes internas reorganizaram a populao no territrio nacional, onde as vertentes da industrializao e das fronteiras agrcolas constituram os eixos da dinmica da distribuio espacial da populao no mbito interestadual, muito embora a primeira vertente detivesse os fluxos mais volumosos. Nesse sentido, as anlises a respeito do processo de distribuio espacial da populao nos anos 70, e at mesmo durante a dcada de 80, estiveram baseadas e preocupadas em apontar o crescente e intenso movimento de concentrao: da migrao, com a predominncia do fluxo para o Sudeste; do processo de urbanizao, com a enorme transferncia de populao do campo para a cidade, quando cerca de 15,6 milhes deixaram as reas rurais nesse perodo;3 e, a concentrao da populao, manifestada no processo de metropolizao.

    De fato, essas caractersticas representaram e compuseram a sociedade urbano-industrial brasileira,4 com a concentrao tanto de atividades econmicas quanto populacional. revelador nesse processo, no entanto, que os efeitos da desconcentrao relativa das atividades econmicas,5 iniciados no decorrer dos anos 70, no tivesse tido reflexos imediatos nos deslocamentos populacionais captados pelo censo demogrfico de 1980; somente no perodo 1981-1991 que esse processo tornou-se mais evidente,

    1 BAENINGER, Rosana. Regio, Metrpole e Interior: espaos ganhadores e espaos perdedores nas migraes internas no Brasil, 1980-1996.

    2 MARTINE, George. A redistribuio espacial da populao brasileira durante a dcada de 80, IDEM. Migrao e metropolizao.

    3 Ibidem.4 FARIA, Vilmar. Cinquenta anos de urbanizao no Brasil: tendncias e perspectivas.5 Cf. NEGRI, Barjas. Concentrao e desconcentrao industrial em So Paulo (1880-1990); DINIZ,

    Clio C. Dinmica regional recente e suas perspectivas; CANO, Wilson. Novas Determinaes sobre a Questo Regional e Urbana aps 1980; PACHECO, Carlos Amrico. Fragmentao da nao.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    sugerindo uma defasagem entre os deslocamentos das atividades econmicas e os deslocamentos de populao.6

    No entanto, alm das trajetrias dominantes7, fenmenos de suma importncia para a dinmica da mobilidade espacial da populao j emergiam naquele perodo. Um deles referia-se ao refluxo de mineiros para seu Estado j nos anos 70,8 apontando o incipiente processo de reverso emigratria da rea; cerca de 35,6% dos imigrantes para o Estado de Minas Gerais eram de retorno naquele perodo. O processo de desconcentrao das atividades econmicas que marcava o perodo 1970-1980 beneficiou Minas Gerais, podendo j ter contribudo, nesse perodo, para a absoro de sua populao natural, bem como para atrao e, inclusive, refluxo de populao.

    Outro aspecto a considerar refere-se aos possveis destinos migratrios nos anos 70. Martine y Carvalho9 sintetizam os deslocamentos populacionais, desse perodo, destacando a ocorrncia do aumento no nmero de Estados expulsores de populao e a reduo nos receptores. Na verdade, das vinte e seis UFs existentes em 1980,10 onze delas haviam registrado trocas migratrias positivas com outros Estados, das quais cinco estavam no Norte, indicando que entre 1970-1980 essa fronteira foi capaz de aumentar o nmero de Estados absorvedores de populao no Pas; no cmputo geral, havia, nos anos 70, mais Estados perdedores que ganhadores de populao.11 Essa situao inverteu-se na dcada seguinte, com os anos 80 entrando na histria migratria recente do Pas com o maior nmero de espaos ganhadores nas migraes interestaduais, mesmo tendo o Rio de Janeiro registrado perdas populacionais. Dentre as vinte e sete UFs existentes em 1991, quatorze delas registraram trocas migratrias positivas no perodo 1981-1991, destacando-se, alm dos Estados do Norte ( exceo do Acre), o saldo positivo do Estado de Sergipe (no Nordeste), do Esprito Santo (no Sudeste) e de Gois (no Centro-Oeste).

    De fato, de uma para outra dcada, ocorreram significativas mudanas econmicas que tiveram rebatimentos sobre os movimentos migratrios. Ao lado do processo de esgotamento das fronteiras agrcolas, o Pas conviveu com o importante processo de desconcentrao relativa da indstria, que implicou na alterao da distribuio das atividades econmicas, em particular as

    6 NEGRI (op. cit.) aponta essa possvel defasagem entre dinmica econmica e dinmica migratria em seu estudo a respeito do processo de desconcentrao da indstria no Pas.

    7 BRITO, Fausto. Populao, espao e economia numa perspectiva histrica: o caso brasileiro.8 Brito (ibidem) indica essa tendncia para os anos 70.9 MARTINE, Jorge; CARVALHO, Jos Alberto M. Cenrios demogrficos para o sculo 21 e algumas

    implicaes sociais.10 Tocantins ainda fazia parte de Gois.11 Eram 15 estados perdedores de populao contra 11 ganhadores.

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    industriais.12 Para esse perodo, pode-se concluir que essa desconcentrao relativa da indstria propiciou tambm fluxos migratrios nessas direes, bem como reteve uma populao que potencialmente migraria destas reas.

    Foi particularmente importante no perodo 1981-1991, o movimento de retorno aos Estados de nascimento, os quais tambm contriburam para a elevao no nmero de Estados ganhadores. Nos anos 70, o movimento de retorno aos Estados de nascimento representava apenas 11,0% do total da migrao nacional, proporo que chegou a dobrar no perodo 1981-1991, alcanando 24,5% do total; passou-se de um volume anual de retorno de 105.482 pessoas, no perodo 1970-1980, para 259.582, entre 1981-1991.

    Assim, os anos 80 j indicavam a expanso dos espaos da migrao,13 tendncia que se viu confirmada nos anos 90, particularmente quando se consideram os movimentos intra-regionais e os inter-regionais separadamente.

    Na continuidade das mudanas nos movimentos migratrios, as tendncias na migrao interna no Brasil nos anos 90 apontaram:

    1) os fluxos migratrios de longa distncia reduziram-se, consideravel-mente, em particular aqueles que se dirigiam s fronteiras agrcolas;

    2) mantiveram-se como rea de absoro de fluxos de longa distncia, os Estados de So Paulo, Rio de Janeiro, Gois e Distrito Federal, que canalizaram os fluxos do Nordeste;

    3) houve a recuperao migratria no mbito intra-regional de espaos perdedores no mbito nacional, especialmente os Estados nordestinos;

    4) houve o surgimento e consolidao de plos de absoro migratria no mbito inter-regional e intra-regional, com a maior parte dos Estados tornando-se ganhadores de populao - mesmo que estes ganhos estejam circunscritos a contextos regionais especficos.

    A anlise dos movimentos migratrios, em anos recentes anos 2000, como se proceder a seguir, indica o reforo da tendncia de configurao de novos espaos da migrao, agora, no entanto, muito mais relacionados ao mbito de suas prprias regies.

    Cenrio recente das Migraes Internas no BrasilQuando se considera os movimentos migratrios interestaduais e suas

    trocas migratrias pode-se verificar entre 1995 e 2009, a manuteno no nmero de Estados ganhadores de populao: 17 Estados entre 1995-2000

    12 PACHECO, op. cit.13 BAENINGER, Rosana. A nova configurao urbana no Brasil: desacelerao metropolitana e

    redistribuio da populao.

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    e entre 1999-2004. Entre 2001-2006 e 2004-2009, no entanto, foram, respectivamente, 12 e 13 os Estados com ganhos migratrios, refletindo a situao de trocas migratrias negativas dos Estados da Regio Norte, as oscilaes nas tendncias da migrao de alguns Estados da Regio Nordeste e a nova posio de So Paulo e Rio de Janeiro no cenrio de perdas migratrias no contexto das migraes internas no Brasil (Tabela 1).

    Ou seja, no incio do sculo XXI, as migraes internas tornaram-se ainda mais complexas, sem a definio que anteriormente poderia se visualizar dos rumos da migrao no pas, considerando o comportamento verificado em dcadas ou quinqunios anteriores.

    TABELA 1Volumes de imigrao, emigrao e trocas migratrias por Regies e

    Unidades da Federao Brasil, 1995/2000 e 1999/2004

    Regies e UFs

    1995/2000 1999/2004

    I(Imigrao)

    E(Emigrao)

    Trocas I (Imigrao)

    E(Emigrao)

    Trocas

    Rondnia 83.325 72.734 10.591 49.046 55.239 -6.193

    Acre 13.635 16.069 -2.434 14.777 13.212 1.565

    Amazonas 89.626 58.658 30.968 64.001 52.928 11.073

    Roraima 47.750 14.380 33.370 38.384 13.325 25.059

    Par 182.045 234.213 -52.168 235.111 187.426 47.685

    Amap 44.582 15.113 29.469 32.525 18.281 14.244

    Tocantins 95.430 82.513 12.917 82.312 112.004 -29.69

    NORTE 556.393 493.680 62.713 516.156 452.415 63.741

    Maranho 100.820 274.470 -173.650 180.924 258.016 -77.092

    Piau 88.736 140.815 -52.079 119.646 113.952 5.694

    Cear 162.926 186.709 -23.783 141.680 120.574 21.106

    Rio G. Norte 77.917 71.286 6.631 73.494 37.284 36.210

    Paraba 102.005 163.485 -61.480 138.328 95.857 42.471

    Pernambuco 164.872 280.289 -115.417 179.932 204.868 -24.936

    Alagoas 55.967 127.949 -71.982 81.318 85.668 -4.350

    Sergipe 52.109 56.921 -4.812 45.843 43.258 2.585

    Bahia 250.572 517.930 -267.358 290.343 378.618 -88.275

    NORDESTE 1.055.924 1.819.854 -763.930 1.251.508 1.338.095 -86.587

    Minas Gerais 447.836 408.659 39.177 429.438 398.460 30.978

    Esprito Santo 129.169 95.149 34.020 107.132 108.669 -1.537

    Rio de Janeiro 319.749 274.223 45.526 166.036 255.653 -89.617

    So Paulo 1.223.809 884.121 339.688 823.557 978.689 -155.132

  • Rosana Baeninger

    83Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XX, N 39, p. 77-100, jul./dez. 2012

    SUDESTE 2.120.563 1.662.152 458.411 1.526.163 1.741.471 -215.308

    Paran 297.308 336.998 -39.690 260.478 271.182 -10.704

    Santa Catarina 199.651 139.665 59.986 214.287 139.268 75.019

    Rio G. do Sul 113.395 152.891 -39.496 116.643 146.372 -29.729

    SUL 610.354 629.554 -19.200 591.408 556.822 34.586

    Mato G. do Sul 97.709 108.738 -11.029 90.071 97.271 -7.200

    Mato Grosso 166.297 123.726 42.571 192.691 81.011 111.680

    Gois 372.702 169.887 202.815 315.571 168.574 146.997

    Distrito Federal 216.200 188.551 27.649 152.073 199.982 -47.909

    C-OESTE 852.908 590.902 262.006 750.406 546.838 203.568

    TOTAL 5.196.142 5.196.142 - 4.635.641 4.635.641 -

    Fonte: Fundao IBGE (2000 y 2004). Tabulao Nepo/Unicamp.* No inclui os imigrantes estrangeiros nem os de UF no especificada.

    A redefinio da relao migrao-industrializao, migrao-fronteira agrcola, migrao-desconcentrao industrial, migrao-emprego, migrao-mobilidade social no contexto atual da economia e da reestruturao produtiva, em anos recentes, induziu um novo dinamismo s migraes no Brasil, onde os fluxos mais volumosos so compostos de idas-e-vindas, refluxos, re-emigrao, outras etapas que pode ser mesmo o prprio local de origem antes do prximo refluxo para o ltimo destino -, onde as migraes assumem um carter mais reversvel14 do que nas explicaes que nos pautvamos at o final do sculo XX. Essa reversibilidade diz respeito tanto s reas de origem, com um crescente vai-e-vem, como s de destino, com o incremento da migrao de retorno.

    nesse contexto, que a migrao interestadual, para o conjunto do pas, continuou exibindo decrscimos em seus volumes: passou de 5,2 milhes, entre 1995-2000, para 4,6 milhes, entre 1999-2004 e de 4,4 milhes, de 2001-2006, para 3,2 milhes entre 2004-2009. Esse decrscimo, contudo, no implica em uma tendncia estagnao das migraes; ao contrrio, denota outros arranjos da prpria migrao interna, bem como seus atuais desdobramentos, com novas modalidades de deslocamentos populacionais em mbitos locais e regionais.

    Para o entendimento deste novo cenrio das migraes no pas necessrio que se observe as tendncias atuais da Regio Nordeste. Com uma tendncia que se delineia desde os ltimos vinte anos, a Regio Nordeste continuou o decrscimo em seus saldos migratrios negativos, de 763 mil

    14 DOMENACH, Herv; PICOUET, Michel. El carter de reversibilidad en el estudio de la Migracin.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    pessoas, entre 1995-2000, para 86 mil pessoas, entre 1999-2004, alcanando 53 mil e 168 mil pessoas, respectivamente, entre 2001-2006 e 2003-2008. Entre 2004-2009 o saldo negativo migratrio para a regio Nordeste manteve-se em 187 mil pessoas, o que indica a fora da migrao de retorno na composio de sua imigrao. Esta nova face e nova fase da imigrao para o Nordeste esto relacionadas ao contexto atual da Regio Metropolitana de So Paulo, em especial, e do Rio de Janeiro, e a reorganizao da indstria no territrio nacional15 e internacional16.

    As dinmicas migratrias dos Estados do Nordeste so profundamente marcadas por oscilaes em termos de recuperao, absoro e expulso de suas populaes que refletem tanto os processos intra-regionais, como a instabilidade das tendncias dos movimentos migratrios de retorno. De um lado, o Rio Grande do Norte e o Cear vm conseguindo manter trocas migratrias positivas com as demais Unidades da Federao. Do outro lado, o Estado da Bahia um dos melhores exemplos: com uma trajetria de perdas migratrias por mais de cinquenta anos apesar do decrscimo em seu volume como um todo a PNAD 2006 revelou maior contingente de imigrantes (339.133 pessoas) do que de emigrantes (306.116), com um saldo migratrio positivo de 33.017 pessoas para esse Estado. No entanto, as PNADs 2008 e 2009 apontam perdas migratrias de 75 mil pessoas e de 108.326, respectivamente, para a Bahia com alta rotatividade migratria. Nesse contexto, torna-se pertinente, mais uma vez destacar, as anlises a respeito da reversibilidade das migraes, como aponta Domenach e Picouet.17

    A compreenso das migraes no Nordeste passa necessariamente pela nova realidade da Regio Sudeste. Os movimentos migratrios, do incio do sculo 21, transformaram os grandes Estados de atrao populacional dos anos 70 - So Paulo e Rio de Janeiro - em reas de perdas migratrias. Nas PNADs 2006, 2008 e 2009 possvel identificar que a imigrao para So Paulo diminuiu para 765.469 em 2001-2006 para 621.058 entre 2003-2008, chegando a 535.376 migrantes nacionais para o perodo 2004-2009 quando, no perodo 1995-2000, esta imigrao ainda havia sido de 1.223.809 migrantes interestaduais.

    Com isso, nas trocas migratrias, o Estado de So Paulo passou de um ganho de migrantes (339.688), no perodo 1995-2000, para uma perda de -207.098 pessoas, entre 2001-2006, diminuindo esta perda -19.652 pessoas entre 2003-2008 e -53.276 entre 2004-2009. Deve-se ressaltar que estas

    15 COUTINHO, Luciano. Cenrios exploratrios do Brasil 2020: comentrio.16 SASSEN, Saskia. The Mobility of Labor and Capital. 17 DOMENACH, PICOUET, op. cit.

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    perdas podem estar relacionadas, muito mais, s sadas de populao da Regio Metropolitana de So Paulo, com histrico consolidado de migraes interestaduais em especial nordestina -, do que ao cenrio do interior paulista, que vem expandindo suas reas de migrao com o Nordeste mais recentemente.18

    O Rio de Janeiro teve seu volume de imigrantes diminudo de 319.749, entre 1995-2000, para 210.038, entre 2001-2006, com declnio mais intenso, no perodo 2003-2008, para 193.793 imigrantes e 141.459 no perodo 2004-2009, embora com menor fora que o decrscimo para So Paulo. Esse estado registrou saldo migratrio negativo de -41.596 migrantes, entre 2001-2003, positivo de 12.169 pessoas, no perodo 2003-2008, voltando a ser negativo entre 2004-2009 (-24.063).

    Para as antigas reas de fronteiras agrcolas, as mudanas nos movimentos migratrios tambm foram expressivas. Na Regio Norte, o incio dos anos 2000 aponta a inverso dos processos migratrios em Rondnia. Ainda no perodo 1995-2000, o Estado registrava trocas migratrias interestaduais positivas (10.591 pessoas), passando para um saldo migratrio negativo entre 1999-2004 (-6.193), indicando no perodo 2001-2006 aumentos em suas perdas migratrias (-20.801 migrantes). Porm, o redesenho dessas reas com a expanso da nova fronteira agrcola19 j se fez sentir nos movimento migratrios do perodo 2003-2008 com declnio das perdas migratrias, para -6.783, voltando a ter ganhos populacionais entre 2004-2009, em especial Rondnia e Amap.

    Na Regio Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul que apresentava tendncia de perda de populao em 1995-2000 (com saldo negativo de 11.029 migrantes), diminuiu sua emigrao, passando a um saldo positivo de 39.818 migrantes, entre 2001-2006. Todavia, no perodo 2003-2008, esse Estado volta a apresentar trocas migratrias negativa de -5.166 pessoas e oscilando para saldo migratrio positivo entre 2004-2009 (7.695 pessoas). Outra tendncia inversa no Centro-Oeste registrada pelo Distrito Federal que de ganhos migratrios, ainda em 1995-2000 (27.649 pessoas), passou para uma perda de populao em 2001-2006 de 12.784 pessoas, com maiores volumes negativos no perodo 2003-2008 (-19.438), mas tambm voltando a saldos positivos entre 2004-2009 (11.866 pessoas). O Estado do Mato Grosso nos trs perodos (1995-2000, 1999-2004 e 2001-2006), apresentou saldo positivo em suas trocas migratrias, porm, no perodo recente (2003-

    18 BAENINGER, Rosana. Expanso, Redefinio ou Consolidao dos Espaos da Migrao em So Paulo? Anlises a partir dos primeiros resultados do Censo 2000.

    19 CANO, op. cit.

  • 86 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XX, N 39, p. 77-100, jul./dez. 2012

    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    2008), passou a ter saldo negativo de -16.398 pessoas, com perdas migratrias entre 2004-2009 (-12.027 pessoas). Nota-se, portanto, as tnues fronteiras entre as condies migratrias mesmo dos atuais plos migratrios no pas. O importante a reter aqui so os nveis escalares em que se operam tais fenmenos migratrios e sua manifestao local/regional e nacional.

    Cabe ainda destacar que, a Regio Sul passou a ter saldo positivo no mbito nacional, de um para outro perodo: de -19.200, no perodo 1995-2000, para 40.534 migrantes, entre 2001-2006, com manuteno do saldo de 40.282 pessoas, no perodo 2003-2008 e de 98.253 migrantes, entre 2004-2009, em funo principalmente dos ganhos migratrios de Santa Catarina.

    Considerando-se o ndice de Eficcia Migratria interestadual (IEM), nos perodos 1995-2000, 1999-2004, 2001-2006, 2003-2008 e 2004-2009, nota-se que o pas vivencia uma intensa mobilidade da populao, com o aumento das reas de rotatividade migratria, onde o ndice de eficcia migratrio, tanto positivo quanto negativo, so bastante prximo de zero (Tabela 2). Ou seja, j no h mais reas de grande reteno migratria e nem de elevada perda migratria. Isto j fica evidente quando observado o comportamento em termos de grandes regies brasileiras. Para a Regio Norte e a Regio Sul os ndices de eficcia migratria se situam na faixa entre -0,05 e 0,14, ou seja, muito distante dos extremos do indicador (-1 como rea de evaso e +1 como rea de reteno migratria). H sim um intenso movimento de rotatividade migratria no Brasil, com o indicador situando-se prximo de zero (entram migrantes e saem migrantes).

    Assim, os Estados com ndice de eficcia prximo ao de rotatividade migratria mesmo com valores negativos (entre 0,12 e 0,12) so no perodo 2004-2009: Rondnia, Acre, Amazonas, Maranho, Cear, Paraba, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, So Paulo, Paran, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, compreendendo dezessete estados brasileiros.

    Os Estados com capacidade de reteno migratria (IEM acima de 0,12, com valor superior de 0,30), no perodo 2004-2009 totalizam apenas 5 estados: Amazonas, Rio Grande do Norte, Esprito Santo, Santa Catarina e Gois. J as reas de perdas migratrias (IEM entre -0,12 e 0,30) so apenas: Par, Tocantins, Piau, Alagoas, Bahia. Destaca-se que essas reas tm apresentado tambm oscilaes em suas condies migratrias como demonstra a evoluo do IEM.

  • Rosana Baeninger

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    TABELA 2ndice de eficcia migratria por Regies e Unidades da Federao

    Brasil, 1995-2010

    UFs 1995/2000 1999/2004 2001/2006 2003/2008 2004/2009 2005/2010

    Rondnia 0,07 -0,06 -0,22 -0,08 0,03 0,10

    Acre -0,08 0,06 0,15 0,17 0,01 -0,03

    Amazonas 0,21 0,09 -0,03 0,09 0,28 0,16

    Roraima 0,54 0,48 0,68 0,36 0,02 0,39

    Par -0,13 0,11 0,06 0,01 -0,15 -0,11

    Amap 0,49 0,28 -0,05 -0,36 0,29 0,42

    Tocantins 0,07 -0,15 -0,14 -0,04 -0,24 0,05

    NORTE 0,06 0,07 0,01 -0,01 -0,05 0,04

    Maranho -0,46 -0,18 -0,18 -0,21 -0,11 -0,44

    Piau -0,23 0,02 -0,05 -0,03 -0,17 -0,32

    Cear -0,07 0,08 0,12 0,06 -0,02 -0,23

    Rio G. Norte 0,04 0,33 0,22 0,13 0,24 0,11

    Paraba -0,23 0,18 -0,1 -0,21 0,02 -0,13

    Pernambuco -0,26 -0,06 -0,03 -0,04 -0,03 -0,20

    Alagoas -0,39 -0,03 -0,2 -0,36 -0,30 -0,42

    Sergipe -0,04 0,03 -0,08 0,15 0,02 0,08

    Bahia -0,35 -0,13 0,05 -0,15 -0,21 -0,34

    NORDESTE -0,27 -0,03 -0,02 -0,09 -0,10 -0,27

    Minas Gerais 0,05 0,04 0,05 0,1 0,02 -0,02

    E. Santo 0,15 -0,01 0,25 0,18 0,33 0,30

    Rio Janeiro 0,08 -0,21 -0,09 0,03 -0,08 0,04

    So Paulo 0,16 -0,09 -0,12 -0,02 -0,05 0,15

    SUDESTE 0,12 -0,07 -0,05 0,03 -0,01 0,10

    Paran -0,06 -0,02 -0,02 0,03 0,08 -0,04

    S. Catarina 0,18 0,21 0,26 0,3 0,26 0,40

    Rio G. Sul -0,15 -0,11 -0,17 -0,23 -0,07 -0,27

    SUL -0,02 0,03 0,04 0,05 0,11 0,06

    Mato G. Sul -0,05 -0,04 0,2 -0,04 0,07 0,10

    Mato Grosso 0,15 0,41 0,25 -0,08 -0,07 0,08

    Gois 0,37 0,3 0,18 0,25 0,32 0,40

    D. Federal 0,07 -0,14 -0,04 -0,09 0,04 0,04

    C. OESTE 0,18 0,16 0,13 0,06 0,14 0,20

    TOTAL 5.196.142 4.635.641 4.463.418 3.327.741 3.240.083 4.643.752

    Fonte: Fundao IBGE, Censo Demogrfico de 2000 e 2010, e PNAD 2004, 2006, 2008 e 2009.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    O entendimento das migraes internas atuais, a partir desse novo olhar para os processos migratrios, conduz substituio de conceitos historicamente datados, tais como: a) reas de evaso por reas de perdas migratrias; b) reas de atrao ou absoro por reas de reteno migratria; c) reas de origem e destino por reas/etapas constituintes dos processos de rotatividade migratria.

    Duas dimenses esto particularmente presentes na re-definio desses processos: em primeiro lugar, a prpria reversibilidade20 dos diferentes fluxos migratrios, em especial as oscilaes nos volumes de emigrao e imigrao e suas novas modalidades. Em segundo lugar, a menor permanncia das condies da migrao para a caracterizao das reas.

    Os volumes dos fluxos migratrios interestaduais para o perodo 2000-2010, segundo o Censo Demogrfico de 2010, totalizaram 11.409.086 pessoas que declararam ter mudado de Unidade da Federao na dcada e confirmando as grandes tendncias que se delinearam com as informaes das PNADs, em especial quando se observa os ndices de eficcia migratria. O que mais chama a ateno o fato do Censo 2010 no ter comprovado a perda migratria do Estado de So Paulo, como as PNADs da dcada vinham apontando (com ndice de Eficcia Migratria em torno de -0,05 pelas PNADs e de 0,15 com o Censo). Porm o censo continua a confirmar a tendncia de rotatividade migratria do Estado de So Paulo, como pudemos captar com as PNADs.

    Considerando as trocas migratrias nas ltimas duas dcadas (Tabelas 3a e 3b) para todas as Unidades da Federao do pas, possvel verificar os menores patamares da migrao interestadual, com a Regio Norte tendo decrescido seu saldo migratrio de 245.998 pessoas entre 1970-1980 para 146.962 entre 2000-2010. A regio Nordeste diminuiu sua perda migratria, mantendo em torno de -1,6 milhes suas trocas migratrias entre 1990-2000 e 2000-2010. A Regio Sul revelou no perodo 2000-2010 perdas migratrias para o Rio Grande do Sul e Paran. O Centro-Oeste manteve seus elevados ganhos populacionais, em torno de 600 mil pessoas.

    Destaca-se, no perodo 2000-2010, a Regio Sudeste com troca migratria em torno de 800 mil pessoas, quando no perodo 1990-2000 havia sido de 1,8 milho. Essa diminuio nos ganhos migratrios do Sudeste se deveu forte reduo na imigrao para So Paulo: de 3.254.389 imigrantes entre 1990-2000 para 2.507.631 entre 2000-2010, tendo a emigrao registrado: 1.789.544 e 1.840.193, respectivamente. Com isso

    20 DOMENACH, PICOUET, op. cit.

  • Rosana Baeninger

    89Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XX, N 39, p. 77-100, jul./dez. 2012

    as trocas migratrias de So Paulo com as demais Unidades da Federao passaram de 1.464.846, entre 1990-2000, para 667.438 pessoas no perodo 2000-2010.

    TABELA 3aVolumes de Imigrao e Emigrao Interestaduais* e Trocas Migratrias

    Brasil, 2000-2010

    * No inclui sem especificao (2.012 casos).Fonte: FIBGE, Censo Demogrfico de 2000 e 2010.

    Regies e UFs

    BRASIL Imigrao Emigrao Trocas

    migratrias IEM

    Norte 1.147.743 1.000.781 146.962 0,07 Nordeste 2.381.889 4.080.204 -1.698.315 -0,26 Sudeste 4.410.181 3.597.042 813.139 0,10 Sul 1.559.832 1.450.774 109.058 0,04 C. Oeste 1.907.431 1.278.275 629.156 0,20 TOTAL 11.407.076 Rondnia 152.914 136.367 16.547 0,06 Acre 33.501 34.377 -876 -0,01 Amazonas 171.151 122.441 48.710 0,17 Roraima 62.078 25.601 36.477 0,42 Par 451.988 460.689 -8.701 -0,01 Amap 85.690 36.882 48.808 0,40 Tocantins 190.421 184.424 5.997 0,02 Maranho 268.487 677.350 -408.863 -0,43 Piau 173.776 351.306 -177.530 -0,34 Cear 309.027 452.275 -143.248 -0,19 R.G.Norte 161.443 140.981 20.462 0,07 Paraba 223.337 324.489 -101.152 -0,18 Pernambuco 370.987 588.262 -217.275 -0,23 Alagoas 143.703 307.060 -163.357 -0,36 Sergipe 121.924 118.966 2.958 0,01 Bahia 609.205 1.119.515 -510.310 -0,30 M. Gerais 914.847 986.045 -71.198 -0,04 E. Santo 286.428 185.623 100.805 0,21 Rio Janeiro 701.275 585.180 116.095 0,09 So Paulo 2.507.631 1.840.193 667.438 0,15 Paran 649.067 738.089 -89.022 -0,06 S. Catarina 618.129 328.653 289.476 0,31 Rio G. do Sul 292.636 384.031 -91.395 -0,14 Mato G. Sul 227.334 197.269 30.065 0,07 Mato Grosso 386.904 359.182 27.722 0,04 Gois 817.939 393.761 424.178 0,35 D. Federal 475.254 428.063 47.191 0,05

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    TABELA 3bVolumes de Imigrao e Emigrao Interestaduais* e Trocas Migratrias

    So Paulo, 2000-2010

    * no inclui sem especificao (2.012 casos).Fonte: FIBGE, Censo Demogrfico de 2000 e 2010.

    O caso de Estado de So Paulo, portanto, indicativo da complexidade que assume o fenmeno migratrio no sculo 21. Tendo sido considerado o plo nacional das migraes no Brasil por mais de 50 anos, caracteriza-se por distintas condies migratrias a depender dos fluxos que se processam de e com So Paulo. Nas principais trocas migratrias ocorridas entre 2000-2010, dentre os estados brasileiros, So Paulo apresentou-se como rea de forte

    Regies e UFs Imigrao para So Paulo

    Emigrao de So Paulo

    Trocas Migratrias So

    Paulo

    IEM So Paulo

    Norte 59.150 52.839 6.311 0,06 Nordeste 1.451.666 701.672 749.994 0,35 Sudeste 547.442 490.669 56.773 0,05 Sul 301.913 388.899 -86.986 -0,13 C. Oeste 147.460 206.114 -58.654 -0,17

    TOTAL 2.507.631 1.840.193 667.438 0,14 Rondnia 11.267 13.903 -2.636 -0,10 Acre 1.538 2.014 -476 -0,13 Amazonas 8.732 7.115 1.617 0,10 Roraima 1.020 1.452 -432 -0,17 Par 27.661 17.672 9.989 0,22 Amap 1.357 1.195 162 0,06 Tocantins 7.576 9.488 -1.912 -0,11 Maranho 92.114 25.948 66.166 0,56 Piau 126.882 44.066 82.816 0,48 Cear 155.121 93.004 62.117 0,25 R.G.Norte 31.320 33.736 -2.416 -0,04 Paraba 99.043 57.599 41.444 0,26 Pernambuco 244.174 124.557 119.617 0,32 Alagoas 122.895 47.042 75.853 0,45 Sergipe 38.157 25.717 12.440 0,19 Bahia 541.959 250.002 291.957 0,37 M. Gerais 418.348 366.699 51.649 0,07 E. Santo 18.352 22.562 -4.210 -0,10 Rio Janeiro 110.742 101.408 9.334 0,04 So Paulo Paran 225.541 271.796 -46.255 -0,09 S. Catarina 38.682 79.158 -40.476 -0,34 Rio G. do Sul 37.690 37.946 -256 0,00 Mato G. Sul 55.822 77.723 -21.901 -0,16 Mato Grosso 31.976 41.829 -9.853 -0,13 Gois 35.457 54.988 -19.531 -0,22 D. Federal 24.206 31.574 -7.368 -0,13

  • Rosana Baeninger

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    perda migratria para Santa Catarina e estados do Centro-Oeste; com a Regio Norte, apresenta saldos migratrios negativos com estados como Rondnia, Acre, Roraima, Amap, mas ganha migrantes do Par. Com os estados do Nordeste voltou a reter populao do Maranho, Piau, Pernambuco, Cear e Bahia, mesmo que em menores patamares que em dcadas anteriores. J com os demais estados brasileiros So Paulo caracteriza-se como rea de rotatividade migratria.

    Como se poderia visualizar essa configurao migratria para So Paulo dez anos atrs? Como mantermos a hiptese de que esta tendncia atual de rotatividade migratria permanecer? A passagem de uma condio migratria de reteno, perda ou rotatividade migratria para as reas requer o entendimento da complexidade que o fenmeno migratrio assumiu no sculo 21, pela generalizao do processo de urbanizao, pelas modalidades migratrias e pelos reflexos da insero na dinmica global.

    Nesse contexto de redefinio de reas de reteno e perdas migratrias, redesenha-se a mobilidade espacial da populao no Brasil, com processos migratrios que resultam na expanso dos espaos de rotatividade migratria. A tendncia de menores saldos migratrios para o Sudeste, evidenciada j entre 1999-2004,21 revela a consolidao dos espaos da migrao no pas, onde a complementaridade migratria, historicamente existente entre Nordeste-Sudeste, se redefine num cenrio de menores fluxos migratrios, com decrscimo na absoro migratria e a presena da rotatividade migratria. No se trata, contudo, apenas das duplas migratrias - como define Wendin22 para as migraes internacionais mas sim de variados sentidos e direo das migraes internas no Brasil.

    Pode-se caracterizar os espaos da migrao no Brasil na ltima dcada da seguinte maneira:

    rea de reteno migratria nacional e regional, ou seja, o novo plo das migraes, o Estado de Gois, situado na regio Centro-Oeste e rea de expanso da nova fronteira agropecuria

    reas de reteno migratria regional, estados do Mato Grosso (Regio Centro-Oeste), Par (Regio Norte), Rio Grande do Norte (Regio Nordeste), Esprito Santo (Regio Sudeste) e Santa Catarina (Regio Sul);

    21 CUNHA, Jos Marcos P. A migrao no Brasil no comeo do Sculo 21: continuidades e novidades trazidas pela PNAD 2004; HAKKERT, Ralph e MARTINE, George. Tendncias migratrias recentes no Brasil: as evidncias da PNAD de 2004; BRITO, CARVALHO, op. cit.

    22 WENDEN, Catherine. Un essai de typologie des nouvelles mobilits.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    rea de rotatividade migratria nacional: So Paulo e Rio de Janeiro, em especial suas metrpoles

    nesse sentido, que se pode observar nas migraes internas do Brasil, na primeira dcada do sculo 21, uma faixa que se estende do Mato Grosso passando por Gois, Tocantins, Maranho e Piau at o Par (reas dos commodities exportveis, fronteira mineral e agropecuria). J no Norte/Nordeste do pas, as novas reas de expanso da fronteira agrcola ganham importncia na recepo dos fluxos migratrios do Par com a atual reteno migratria de Roraima, espelhando, portanto, processos locais da esfera global. J o outro corredor da migrao nacional historicamente conformado pelos fluxos Nordeste-Sudeste, e agora pelos seus refluxos Sudeste-Nordeste, onde transitam os volumes mais elevados da migrao do pas, com intensas reas de rotatividade migratria. Reconfiguram-se espacialidades migratrias em mbito sub-regional, como so os casos de Minas Gerais, Bahia e So Paulo.

    Nesse contexto de redefinio de reas de reteno e perdas migratrias, redesenha-se a mobilidade espacial da populao no Brasil, com processos migratrios que resultam na expanso dos espaos de rotatividade migratria. A tendncia de perda migratria do Sudeste revela a consolidao dos espaos da migrao no pas, onde a complementaridade migratria - historicamente existente entre Nordeste-Sudeste se redefine num cenrio de rotatividade migratria.

    Desse modo, o cenrio migratrio do sculo 21 apresenta dois grandes vetores redistributivos nacionais. O primeiro caracterizado pela disperso migratria metropolitana, que em nvel nacional marcado pelos significativos volumes de migrantes de retorno interestaduais que partem do Sudeste em direo ao Nordeste. No mbito intra-estadual, esta tendncia se evidencia com a conformao de importantes fluxos migratrios metrpole-interior.

    Nesse sentido, o segundo vetor refere-se a interiorizao migratria, com trajetrias migratrias de mais curtas distncias, envolvendo aglomeraes urbanas e espaos no-metropolitanos, expressos na maior reteno de populao migrante nos estados e nas regies. A reversibilidade dos processos migratrios adquire significado distinto quando se contempla dinmicas urbano-regionais especficas.

    As migraes no sculo 21 redefinem seus plos, configurando mais reas de reteno da migrao do que reas com uma tendncia polarizadora de longa permanncia, como foi o caso do Sudeste nos ltimos cinquenta

  • Rosana Baeninger

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    anos. Essas modificaes so resultados de inmeras transformaes ocorridas no cenrio econmico internacional e nacional, que trouxeram efeitos em termos polticos e econmicos. Tais mudanas exercem efeitos sobre a deciso de migrar, e num contexto mais atual, sobre a deciso de permanecer ou no na Regio/Estado para a qual migrou em tempos passado.

    Entretanto, os volumes de imigrao e emigrao entre Nordeste-So Paulo no devero ser muito menores. Em um contexto de enormes transformaes na dinmica produtiva, onde o setor tercirio tem importante papel quer seja nas metrpoles do Sudeste ou do Nordeste - e o emprego na indstria oscila conforme o mercado internacional, a rotatividade migratria tender a se consolidar, marcando uma nova fase do processo de redistribuio espacial da populao brasileira.

    Rotatividade Migratria: conceito para as migraes urbanas no sculo 21

    O fenmeno migratrio atual apresenta especificidades que indicam tanto sua complexidade, advinda do processo de reestruturao urbana e econmica, quanto seu importante papel na conformao de espaos regionais e locais. O entendimento do fenmeno como processo histrico-social, como j indicava Singer23, constitui a raiz do entendimento tambm para os processos migratrios urbanos atuais.

    As localidades de partida e chegada, contudo, no se configuram mais como as antigas reas de origem e destino conforme pensadas para a migrao rural-urbana desde suas formulaes clssicas.24 O expressivo retorno migratrio revela configuraes da migrao e de trajetrias urbanas-urbanas no contempladas nos conceitos datados em seu tempo histrico.

    Poder-se-ia, ento, recorrer ao conceito de circulao para as anlises dos processos migratrios atuais?

    Zelinsky25 define circulao como uma etapa de transio para movimentos migratrios permanentes, diferenciando circulao de migrao, uma vez que a primeira no implica em mudana de residncia e com restrita temporalidade. Nesta mesma direo, Chapman, Muray e Prothero26 denominam circulao como um conceito que substitui migrao, quando no h mudana permanente de residncia.

    23 SINGER, Paul. Migraes internas: consideraes tericas sobre o seu estudo.24 Ibidem; LEE, Everett S. Uma teoria sobre a migrao.25 ZELINSKY, Wilbur. The hypothesis of the mobility transition.26 CHAPMAN, Murray; PROTHERO, Mansell. Themes on circulation in the Third World.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    Skeldon27 destaca

    () the process of wage labor circulation must refer to many interrelated macro factors land inequality, pauperization, uprooting, rural exodus, conditions maintaining both rural and urban poverty, disarticulation of links between village and town, spatial-economic disorganization, urban polarization of resources, the parasitic character of urban areas and possibly many more. Collectively these may be called the working of a syndrome of poverty and mobility. Wage labour circulation is just one manifestation of this syndrome.

    Essas interpretaes conceituais, portanto, ainda esto baseadas em um excedente populacional na origem rural que circula por trabalhos sazonais ou temporrios no lugar de destino. Ainda na perspectiva das migraes rurais-urbanas, a circulao traduziria a complementaridade dos deslocamentos de populao; tais conceitos partem de uma sociedade em transio para o mundo urbano, onde as mudanas na estrutura agrria geram um contingente de fora de trabalho mvel.28

    A circulao, em sua formulao clssica, traduz a fora de trabalho disponvel em meio s transformaes geradas pelo urbano e pela industrializao. Considera-se, contudo, que este conceito de circularidade, na etapa atual da sociedade urbanizada encontra limites para contemplar a complexidade do fenmeno migratrio, uma vez que se baseia em reas de origem menos dinmicas para reas de destino com dinmicas produtivas e capacidade em emprego, mesmo que temporrios ou sazonais. O olhar para o destino migratrio.

    O conceito de rotatividade migratria contempla, por sua vez, como primeiro pressuposto, tratar-se de um fenmeno migratrio eminentemente urbano e que - tambm no mbito das migraes internas constitui um fato social total.29 Ou seja, a imigrao e a emigrao fazem parte de um mesmo processo social, sendo um fenmeno que comporta transformaes na esfera social, na dimenso econmica e cultural no local de partida e de chegada; Sayad30 se refere ao conceito de double absence para o entendimento das migraes internacionais nessa perspectiva.

    A segunda premissa do conceito de rotatividade migratria vincula-se expanso clssica do capitalismo com a circulao de capital, mercadorias e

    27 SKELDON, Ronald. Population Mobility in Developing Countries, p. 293.28 SPAAN, Ernst. Labour circulation and socioeconomic transformation. The case of East Java,

    Indonesia.29 SAYAD, Abdelmalek. La Double absence: ds ilusions de lemigr aux soufrances de limmigr.30 Ibidem.

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    pessoas, construindo um excedente populacional. No contexto atual, esse um excedente populacional urbano gerado tanto na rea de origem como na rea de destino, que ser rotativo dependendo das necessidades do capital e da insero dessas localidades na diviso social e territorial do trabalho em mbito nacional e internacional. A rotatividade da mo de obra nos processos migratrios via rotatividade migratria contribuir para atender as demandas e custo da fora de trabalho nos locais de chegada e de partida.

    A releitura do conceito de fora de trabalho mvel pode ser contemplada como uma dimenso das migraes internas urbanas da atualidade. No contexto atual da reestruturao da economia em nvel internacional e seus rebatimentos em mbitos locais31 a fora de trabalho mvel urbana tende a crescer, em especial em uma economia baseada nos servios, com a fluidez tambm dos movimentos migratrios no atual processo de urbanizao.

    O conceito de rotatividade migratria pressupe ainda a dimenso espacial para o entendimento dos processos migratrios32 e, mais que isto, seus espaos de vida,33 com idas-e-vindas, retornos, temporalidades limitadas.

    Nesse sentido, as explicaes das dinmicas migratrias internas no pas tm se aproximado cada vez mais de aportes tericos acerca das migraes internacionais, quer seja na vertente do tema das redes sociais,34 quer seja na vertente da demanda por trabalhadores, como indicado por Krissman35.

    no espao de vida,36 no campo social37 onde agentes ocupam posies relativas em um espao de relaes que, ainda que invisvel e sempre difcil de expressar empiricamente, a realidade mais real (...) e o princpio real dos comportamentos dos indivduos e dos grupos, constituindo os espaos sociais da migrao.

    Consideraes finais

    As evidncias empricas acerca das migraes internas no Brasil conduzem a novos olhares para a interpretao dos movimentos migratrios e sua descrio, bem como impe enorme desafios conceituais.

    31 HARVEY, Daniel. Condio Ps-Moderna.32 VILLA, Miguel; RODRIGUEZ, Jorge. Dinmica sociodemografica de las metrpolis

    latinoamericanas.33 COURGEAU Daniel. Mthodes de Mesure de la Mobilit Spaciale: migration internes, mobilit

    temporaire, navettes.34 MASSEY, Douglas et alii. Worlds in motion: understanding International Migration at the end of the

    millennium.35 KRISSMAN, Fred. Sin coyote ni patrn: why the Migrant Network fails to explain International

    Migration.36 COURGEAU, op. cit.37 BOURDIEU, Pierre. Efeitos do lugar.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    Em termos empricos, o elemento que mais chama a ateno se refere complementaridade migratria - como transferncias de populao do Nordeste para o Sudeste -, que parecia ter diminudo nos anos 80, volta a ser retomada nos 90, porm se redesenha nos 2000. O Nordeste registrava um total de 1,3 milho de emigrantes para outras regies, em 1986-1991, elevando-se para 1,8 milho em 1995-2000; a partir dos anos 2000 diminui para o patamar de 1,3 mil emigrantes no perodo 2001-2006, e para 980 mil emigrantes entre 2003-2008, mas voltando a um milho entre 2004-2009. Essas oscilaes nos volumes da imigrao e emigrao entre o Nordeste e Sudeste parecem confirmar as enormes idas-e-vindas, o carter reversibilidade dos movimentos migratrios internos de longa distncia no Brasil.

    As migraes no sculo 21 redefinem seus plos, configurando mais reas de reteno da migrao do que reas com uma tendncia polarizadora de longa permanncia, como foi o caso do Sudeste nos ltimos cinquenta anos. Essas modificaes so resultados de inmeras transformaes ocorridas no cenrio econmico internacional e nacional, que trouxeram efeitos em termos polticos e econmicos. Tais mudanas exercem efeitos sobre a deciso de migrar, e num contexto mais atual, sobre a deciso de permanecer ou no na Regio/Estado para a qual migrou em tempos passado.

    Entretanto, os volumes de imigrao e emigrao entre Nordeste-So Paulo no devero ser muito menores. Em um contexto de enormes transformaes na dinmica produtiva, onde o setor tercirio tem importante papel - quer seja nas metrpoles do Sudeste ou do Nordeste - e o emprego na indstria oscila conforme o mercado internacional, a rotatividade migratria tender a se consolidar, marcando uma nova fase do processo de redistribuio espacial da populao brasileira.

    Nesse contexto, torna-se cada vez mais evidente a complexidade do entendimento das migraes internas na sociedade brasileira do sculo 21. Encontrar caminhos terico-metodolgicos para a nova leitura das migraes internas no Brasil requer considerar que para a conceitualizao de rotatividade migratria torna-se importante destacar que estamos diante de uma nova sociedade: reflexiva38, de risco39, da tecnologia da informao40. Assim, no caso da compreenso de espaos de partida e chegada to difusos imprescindvel considerar a articulao de processos locais ao mbito regional e global, que promovem mecanismos de desencaixe da

    38 GIDDENS, Anthony. As Consequncias da Modernidade.39 BECK, Ulrich. Risk Society: Towards a new modernity.40 CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede.

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    sociedade,41 com reflexos nos processos de urbanizao e de redistribuio espacial da populao nos variados contextos regionais.

    Por sua vez, as novas territorialidades e os espaos da migrao aceleram seu processo de emergncia na sociedade de riscos. Nesta, os riscos so compartilhados42 e, portanto, a rotatividade migratria marcada por entradas e sadas - est imersa em um conjunto de sistemas peritos da sociedade43: desde a facilidade de transportes at a conformao de novos espaos da migrao no mbito local e regional. A intensificao de reas com rotatividade migratria no pas indica a fluidez da fora de trabalho em espaos compartilhados da sociedade de risco. Esse parece ser um caminho promissor para o aprofundamento das interpretaes acerca do fenmeno migratrio na contemporaneidade, bem como para o processo de configurao de espaos regionais.

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    41 GIDDENS, op. cit.42 OJIMA, Ricardo. Instituies polticas e Mudana Ambiental: os novos arranjos institucionais na

    gesto de recursos hdricos e suas interfaces polticas.43 GIDDENS, op. cit.

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    Rotatividade Migratria: um novo olhar para as migraes internas no Brasil

    Abstract

    Migratory turnover: a new look at internal migration in BrazilThis article analyses the migration movements in Brazil, following the changes in their dynamics in recent decades. The movements of internal migration in Brazil, the last 60 years, are strongly related to the processes of urbanization and spatial redistribution of population, both marked by intense population mobility. In this context, classical factors of attraction and expulsion run out of explanations for migration. Empirical evidences of demographic censuses and National Survey by Household Samples (PNADs) make it possible to know the changes in national migration trends, revealing new conditions of migration for different states: areas of migratory retention, areas of migratory losses and areas of migratory turnover. The 21st century announces the expansion of migration spaces in Brazil, marked by the growth of areas of migratory turnover. Keywords: Internal migration; Urbanization; Interstate migration.

    Recebido para publicao em 04/10/2012.Aceito para publicao em 15/11/2012.

    Received for publication in October, 04th, 2012.Accepted for publication in November, 15th, 2012.