AVALIAÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO DE UMA EMPRESA DO RAMO DE ... · A folha de verificação é...
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AVALIAÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO DE
UMA EMPRESA DO RAMO DE
ACUMULADORES ELÉTRICOS:
CONSIDERAÇÕES SOBRE A APLICABILIDADE E
EFICÁCIA DE ALGUMAS FERRAMENTAS DA
QUALIDADE
Mahyslanne Marianna Soares da Silva (UFCG)
Jaqueline Marques Rodrigues (UFCG)
Ramon Swell Gomes Rodrigues Casado (UFCG)
Ellen Mendes de Freitas (UFCG)
LORENA VIEIRA BRAZ SANTOS (UFCG)
Tem se tornado cada vez mais constante a busca pela melhoria dos processos
produtivos, em diversas áreas de produção, seja de bens ou serviços. E a
indústria de baterias automotivas, com o crescimento da eletrificação, vem
desenvolvendo produtos cada vez mais avançados, no intuito que forneçam
mais energia aos distintos sistemas que estão sendo incorporados aos novos
carros. Nesse sentido, a utilização de um sistema de avaliação e controle da
qualidade é primordial para que as organizações consigam uma melhoria em
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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suas atividades. E isto pode ser feito mediante a aplicação das algumas
ferramentas da qualidade, que podem auxiliar na identificação de principais
erros no processo produtivo. Assim este trabalho tem como objetivo
demonstrar a viabilidade no uso de algumas ferramentas da qualidade no
que diz respeito a avaliação de um sistema produtivo de uma empresa do
ramo de acumuladores elétricos (baterias), identificando os principais erros
nesse sistema, e dentre estes focando naquele que mais impacta no
processo, elencando os fatores que o acarretam. A metodologia utilizada
partiu inicialmente de uma revisão bibliográfica, posterirormente realizou-se
entrevistas semiestruturadas para aquisição de dados, os quais foram
analisados mediante um sequenciamento de algumas ferramentas, sendo
esses dados tratados com o auxilio dos softwares Dia Portable (ferramenta
baseada no Microsoft Visio) e o R Action (suplemento do MS EXCEL). Com o
uso dessas ferramentas foi possível identificar que dentre os principais
problemas encontrados, a bateria com superfície ácida se configurava como
a não conformidade que mais impactava no processo de forma geral. Logo
após a identificação dessa falha e das principais causas dela, foi possível
levantar um plano de ação (5W1H), onde foram sugeridas propostas para
que a empresa possa diminuir esse erro, gerando o desenvolvimento de seu
processo produtivo.
Palavras-chave: Qualidade; Ferramentas da qualidade; Baterias.
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1. Introdução
Todas as organizações possuem problemas dos mais variados tipos, sendo que alguns destes
podem ser resultados indesejados relacionados ao processo produtivo. E esse tipo de
problemática afeta diretamente a qualidade dos produtos que são oferecidos de forma geral,
podendo contribuir para um déficit na competitividade das empresas no mercado.
Com relação ao conceito de qualidade ligado ao produto, o mesmo sofreu uma significativa
modificação ao longo do século, deixando o caráter de uma atividade vinculada à inspeção,
atrelada com ações corretivas, e passando a se caracterizar pela aplicação de ferramentas de
controle com foco preventivo, obtendo uma abordagem no processo em si.
Nessa linha de raciocínio, a gestão da qualidade realizada mediante a utilização de
ferramentas mostra-se como sendo uma atraente alternativa a ser adotada pelas empresas. Já
que esse sistema de gerenciamento consiste em mecanismos que auxiliam no direcionamento
dos processos produtivos, a fim de melhorá-los de forma contínua sempre na perspectiva de
atender e ir além das expectativas do cliente, gerando assim, melhorias para a organização e
consequentemente aumentando a competitividade (OLIVEIRA e MARTINS, 2008).
Para o setor de acumuladores elétricos (baterias) não é diferente, o tema qualidade é
imprescindível, pois com a ampliação da necessidade do uso de eletricidade nos automóveis,
tem-se gerado um desgaste mais rápido das baterias. Diante deste cenário, percebe-se a
necessidade de uma adequada gestão do processo produtivo das baterias, de forma que se
obtenha uma maior resistência às condições adversas de uso e com isso se possa atender às
necessidades dos consumidores por meio de um produto seguro e confiável.
Contudo, a proposta desse estudo é promover a avaliação de um sistema produtivo mediante a
aplicação de algumas ferramentas da qualidade, de modo que seja possível identificar os
principais erros nesse sistema, e dentre estes, focar naquele que mais impacta no processo
produtivo, elencando os fatores que os acarretam de forma mais prática. Podendo com isso
sugerir ações corretivas que venham a suavizar tal problema, contribuindo de forma
significativa para todo o processo.
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2. Referencial teórico
2.1. Qualidade
A qualidade é expressa hoje como fator indispensável para o alcance da satisfação dos
consumidores, além de estabelecer o grau de excelência do serviço/produto que está sendo
oferecido.
Conforme conceitua Souza (2003), a qualidade refere-se ao modo de gerenciamento adotado
pela empresa, o qual incide em implicações voltadas para melhoria nos diversos âmbitos que
compõe a mesma, o que proporciona resultados como aumento da eficiência produtiva e
consequente redução em custos.
Martins e Laugeni (2006) acrescentam que a qualidade define-se como sendo um conjunto de
variáveis e atributos que podem ser tanto avaliados como controlados de forma gerencial e
posteriormente analisado pelo cliente. Os autores ainda destacam como principais atributos
para avaliação os seguintes critérios: características operacionais principais e adicionais;
confiabilidade; conformidade; durabilidade; assistência técnica e estética.
Nesse contexto, para que o nível de excelência de cada atributo seja atendido é necessário um
constante monitoramento do processo de fabricação. Sendo assim, uma forma de avaliar o
desempenho dos produtos e com isso quantificar o grau de qualidade atingido para posteriores
melhorias, deve-se, portanto fazer uso de um conjunto de ferramentas da qualidade para
manter um controle do sistema produtivo, de forma a otimizar sua execução.
2.2. Ferramentas da qualidade
As ferramentas da qualidade são de extrema importância para as empresas no que se refere a
seu desempenho funcional, nesse sentido pode-se averiguar que atualmente grande parte das
organizações utiliza ao menos um tipo de ferramenta para o aprimoramento de seus processos
e eliminação de fontes geradoras de problemas.
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Conforme Alves, Mattioda e Cardoso (2009) as ferramentas da qualidade consistem de forma
geral em dispositivos gráficos, numéricos e analíticos estruturados para viabilizar a
implantação da qualidade total, onde cada tipo de ferramenta se dispõe a uma área específica.
Contudo Miguel (2006) ainda completa que as ferramentas usualmente são expressas como
métodos de desenvolvimento da qualidade, além disso, sua utilização fornece apoio à decisão
na análise de determinado problema.
Nessa perspectiva o uso dessas ferramentas possibilita que dados e informações sejam
facilmente tratados e sua resultante permita a viabilização da tomada de decisão, visto que de
acordo com Ishikawa (1997), 95% dos problemas de qualidade que estão presentes nas
organizações poderiam ser solucionados a partir do uso dessas ferramentas.
Nesse sentido tem-se que as principais ferramentas, segundo conceitos de Werkema (2006),
são as seguintes: Fluxograma, folha de verificação, diagrama de Pareto, diagrama de causa e
efeito, histograma, estratificação, diagrama de correlação e gráfico de controle. Sendo que
destas, o estudo em questão utilizará das 4 (quatro) primeiras e da matriz GUT.
2.2.1. Fluxograma
Quando se deseja analisar um processo ou sistema de uma empresa, uma das principais
ferramentas a ser elaborada é o fluxograma, pois ela permite uma representação visual,
composta através de símbolos e da sequência que compõem o respectivo processo. Segundo
Paladini (2007) essa ferramenta facilita a identificação das falhas bem como as prováveis
melhorias. Nesse contexto, percebe-se que, essa ferramenta pode ser bastante útil e sua
elaboração, como afirma Peinado e Graeml (2007), pode ter as seguintes aplicações:
Obter uma melhor compreensão a respeito do processo de trabalho;
Revelar o modo como o trabalho deve ser realizado;
Padronizar o trabalho ou desenvolver uma norma de procedimento.
Em sua elaboração, o fluxograma é desenhado através de vários símbolos padronizados e sua
combinação deve ser apresentada em série ou sequência que permita esclarecer, interpretar e
também ampliar os passos que o processo apresenta. Sendo como principais símbolos
utilizados, para um processo industrial, os definidos pela American Society of Mechanical
Engineers (ASME), como descrito no Quadro 1.
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Quadro 1 Simbologia de fluxogramas utilizados para processos industriais segundo a ASME
Fonte: Peinado e Graeml (2007)
2.2.2. Folha de verificação
A folha de verificação é conhecida também como check-list, configura-se como sendo uma
planilha com a função de registrar dados usados frequentemente, de forma simples e prática,
facilitando a identificação de determinado fator, ou seja, ela permite a possibilidade de
registrar dados paralelamente à ocorrência de eventos, de forma a identificar e exibir o retrato
da situação analisada.
Vale ressaltar que existem vários tipos de folhas de verificação, como a de classificação, de
localização de defeitos, de identificação das origens dos defeitos, entre outras, assim para
escolher qual o tipo adequado para cada situação, necessita-se saber claramente qual o
objetivo da coleta de dados a ser realizada.
Segundo Bonifácio (2006), um check-list preparado de forma correta é o começo para que o
problema em questão seja subdividido, facilitando o entendimento do mesmo e como
consequência a sua resolução se torna fácil e objetiva.
2.2.3. Diagrama de Pareto
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O diagrama de Pareto consiste em uma das ferramentas da qualidade mais amplamente
utilizada em indústrias, definindo-se como um mecanismo gráfico que estabelece uma
classificação nas causas de perdas que precisam ser eliminadas.
De acordo com Brassard (2000) o diagrama de Pareto consiste em um modelo especial do
gráfico de barras verticais, o qual identifica e distribui problemas de forma a estabelecer seu
devido grau de importância. Marques et al. (s.d.) acrescenta ainda que esse tipo de gráfico
classifica as frequências em ordem conforme a dimensão do problema, proporcionando a
indicação do que deve ser averiguado.
Sua estrutura é constituída por colunas, que ordenam as frequências dos problemas de forma
decrescente, fazendo correlação através de percentuais, conforme Figura 1.
Figura 1 Exemplo da composição de um gráfico de Pareto
Fonte: Portal Action (s.d.)
2.2.4. Matriz GUT
A matriz GUT também é conhecida como matriz de priorização, ela é uma ferramenta
utilizada na definição de prioridades para seleção de alternativas de atuação, a qual, segundo
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Sotille (2014) correlaciona as dimensões gravidade, urgência e tendência de uma situação,
permitindo escolher ações mais sensatas e menos prejudiciais na eliminação de problemas.
Ainda de acordo com Sotille (2014), essa técnica tem como objetivo básico a orientação de
decisões mais complexas. Nesse caso, é preciso fazer uma ponderação das causas para um
determinado problema quanto aos parâmetros já citados, para depois verificar o resultado
acumulado dessa pontuação e assim estabelecer as prioridades de resolução (DAYCHOUM,
2007). Sendo que cada parâmetro tem um campo de análise:
Gravidade: Representa o impacto do problema analisado caso ele venha a acontecer. É
analisado sobre alguns aspectos, como: tarefas, pessoas, resultados, processos, etc.;
Urgência: Representa o prazo, ou seja, o tempo disponível ou necessário para resolver
um determinado problema analisado;
Tendência: Representa o potencial de crescimento do problema, ou seja, a
probabilidade de se tornar maior com o passar do tempo.
2.2.5. Diagrama de causa e efeito
O diagrama de causa e feito é também conhecido como diagrama de Ishikawa, trata-
se de uma ferramenta gráfica muito utilizada, pois permite a identificação e analise
dos possíveis motivos de variação no processo produtivo ou da ocorrência de
determinado problema/defeito.
De acordo com Carpinetti (2010) o diagrama de Ishikawa mostra a relação direta
entre o problema e as suas causas, facilitando assim a aplicação de medidas
corretivas visando o aperfeiçoamento do processo, conforme a Figura 2.
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Figura 2 Exemplo da composição de um diagrama de Ishikawa
Contudo, para que se tenha eficiência na sua utilização, Werkema (2006) ressalta
que sempre na elaboração do diagrama deve-se obter o maior numero possível de
dados, para que não seja esquecida nenhuma informação relevante para a correção
do problema.
O diagrama geralmente é organizado por meio da avaliação 6 (seis) critérios
considerados fundamentais (matéria-prima, máquina, medida, meio ambiente, mão-
de-obra e método), porém não deve ser considerado como regra a avaliação de
todos esses fatores, visto que em determinada situação não necessariamente todos
poderão ser aplicados.
2.2.6. Método 5W1H
O método 5W1H consiste em elaborar uma tabela composta de perguntas básicas e
respostas que ajudarão na implementação de melhorias. São 6 (seis), as perguntas
que compõe essa ferramenta: What (o quê), descreve-se o que está sendo
implementado; Why (por quê), faz-se a justificativa para a implementação da ação;
Where (onde), descreve-se o lugar onde a ação será implementada; Who (Quem),
especifica-se os responsáveis pela implementação da ação; When (quando), define-
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se as datas de início e fim da ação; How (como), descreve-se como a ação será
implementada (CARPINETTI, 2010).
De acordo com Peinado e Graeml (2007), o 5W1H é um check-list, o qual permite a
inexistência de dúvidas por parte dos chefes e/ou dos subordinados, ou seja, eles
devem definir com clareza as operações a serem realizadas bem como os seus
respectivos responsáveis para garantir que o projeto não se submeta ao fim e nem a
falta de determinação.
3. Metodologia
Inicialmente retratando a classificação desse estudo, tem-se que segundo Silva e Menezes
(2005), em relação à natureza, o mesmo pode ser descrito como aplicado, haja vista que o
objetivo é gerar conhecimentos para aplicação prática de um sistema de avaliação que
contribua para melhorias de um sistema produtivo. Em relação à forma de abordagem, tem-se
que esse estudo se caracteriza como quantitativo-qualitativo, onde o ambiente da empresa é a
fonte direta para coleta de dados.
Partindo do ponto de vista de seus objetivos, esse trabalho tem cunho exploratório, tendo em
vista que sua aplicação permitiu o levantamento de vários aspectos relacionados ao
aprimoramento de um sistema produtivo, tendo como embasamento pesquisas bibliográficas e
entrevistas semiestruturadas.
Já quanto aos procedimentos técnicos, tem-se que se trata de um estudo de campo, onde se
buscou a avaliação e aplicação prática de algumas das ferramentas da qualidade, a fim de
visualizar alguns possíveis erros/falhas em um processo de fabricação, de forma a buscar uma
melhor qualidade, podendo evitar retrabalho e consequentemente podendo diminuir o custo de
produção para a empresa (GERHARDT e SILVEIRA, 2009).
Quanto ao universo desse estudo, o mesmo foi realizado em uma empresa do ramo de
acumuladores elétricos, localizada na cidade de Belo Jardim – PE, mais especificamente no
setor de acabamento e que trabalha com fornecimento de baterias para diversos setores. A
coleta de dados foi efetuada no decorrer do ano de 2013, na qual, em relação às fontes
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primárias utilizadas (entrevistas semiestruturadas), as mesmas foram efetuadas com o
Engenheiro de Qualidade da empresa, que trabalha diretamente no processo produtivo.
Assim, a partir dos dados coletados nas entrevistas, buscou-se seguir as seguintes etapas para
a avaliação do sistema produtivo em questão:
Descrição do processo produtivo mediante a elaboração do fluxograma;
Identificação dos erros existentes no processo produtivo por meio de um
brainstorming sobre o fluxograma elaborado;
Levantamento das ocorrências desses erros através de uma lista de verificação aplicada
na empresa;
Análise da incidência e priorização dos erros encontrados por intermédio do diagrama
de Pareto junto com a matriz GUT;
Identificação das causas referentes ao principal problema através do diagrama de
Ishikawa;
Levantamento de sugestões e melhorias.
Para o tratamento dos dados coletados, fez-se uso do software Dia Portable (ferramenta
baseada no Microsoft Visio, utilizado para edição de diagramas) e mediante a utilização de
um suplemento do MS EXCEL que faz plena interface com a plataforma R, que é um
ambiente de desenvolvimento integrado, para cálculos estatísticos e gráficos (R PROJECT,
s.d.).
4. Análise e interpretação dos dados
4.1. Empresa objeto de estudo
A empresa que se apresenta como caso em estudo, atua há mais 50 anos no setor de
acumuladores elétricos (baterias), sendo uma empresa de grande porte na produção de baterias
(automotivas, industriais, para telecomunicação, etc.) do mercado nacional e internacional.
Detém de uma mão-de-obra subdividida em 70% automatizada e 30% manual, tendo sua
produção média girando em torno de 25 mil baterias ao dia.
A empresa possui certificação ISO 9001 desde 1994, a qual estabelece orientações e
requisitos relacionados à implementação, documentação e manutenção do sistema da
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qualidade (CARPINETTI, 2010). Como também possui certificação ISO TS 16949 desde
2004, que é uma especificação técnica ISO que alinha as normas dos sistemas de qualidade
automotiva existente dentro da indústria automotiva global (BSIBRASIL, s.d.).
Dentre as baterias produzidas na referida empresa, optou-se nesse estudo pela análise do tipo
automotiva FO43FD (43 ampère/hora), haja vista que é o principal produto da empresa
(bateria mais popular), logo a mais rentável, chegando a uma produção de 450 mil ao mês.
4.2. Aplicação das ferramentas
4.2.1. Fluxograma
De acordo com a sequência da metodologia estipulada, foram detalhados os procedimentos e
etapas que constituem o processo de fabricação da bateria automotiva FO43FD, apresentando
logo após a representação gráfica de tal processo, de modo a permitir uma visão global, como
mostra a Figura 3.
O processo, em questão, começa transportando o chumbo do estoque I e levando-o para o
setor de fundição onde é feita as pequenas peças que posteriormente são levadas para o setor
de pré-montagem. O mesmo chumbo também é levado para o setor de fundição, onde são
fabricadas as grades da bateria, que passam por uma inspeção para posteriormente serem
transportadas para o setor de empastamento.
Transporta-se paralelamente o chumbo mole do estoque II para o setor de moagem onde o
mesmo é moído para obtenção do oxido de chumbo (pó), em seguida ele é levado para o setor
da masseira. Neste setor é misturada ao óxido de chumbo uma solução de ácido sulfúrico
resultando na massa, que segue também para o setor de empastamento.
No setor de empastamento, com auxilio da grade a massa é empastada tomando a forma de
placa, chamada de placa crua. Essa placa crua é levada para a estufa onde ocorre o processo
de cura e secagem da mesma, depois ela é transportada para o setor de montagem, no qual
ocorre a montagem dos componentes, como pequenas peças e placas, além da caixa e tampa
que são confeccionadas em outro setor.
Finalizada a montagem, a bateria é transportada para o setor de formação, onde receberá a
carga, e posteriormente segue para o setor de acabamento, no qual é feita a limpeza, a vedação
e ocorrem também testes na bateria, seguindo por fim para o estoque final.
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Figura 3 Representação do fluxograma da produção das baterias
4.2.2. Folha de verificação
Elaborado o fluxograma que permitiu conhecer melhor o processo produtivo da bateria,
realizou-se um brainstorming, a fim de se deliberar problemas relacionados ao fluxo da
mesma no sistema produtivo. Logo após, registraram-se as principais falhas a serem
analisadas, de acordo com o brainstorming, permitindo dessa forma, uma rápida interpretação
da situação.
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Com isso, de acordo com uma análise dos registros de produção da empresa, coletados
mediante as entrevistas, obtiveram-se as frequências de cada um dos principais problemas
identificados, como pode ser visto na Tabela 1.
Tabela 1 Lista de verificação modelada nesse estudo
4.2.3. Diagrama de Pareto
Após a coleta dos dados feita pela lista de verificação, obtiveram-se as frequências de cada
um dos problemas identificados, como se pode observar na Tabela 2.
Tabela 2 Representação das frequências e porcentagens das não conformidades analisadas
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De posse das frequências e porcentagens de cada situação, pode-se projetar o gráfico de
Pareto, a fim de fornecer uma melhor visualização da situação das não conformidades
encontradas no processo de produção das baterias.
Figura 4 Diagrama de Pareto para as não conformidades analisadas
4.2.4. Matriz GUT
De posse da frequência das não conformidades obtidas mediante o gráfico de Pareto,
arquitetou-se a matriz GUT, na qual aponta uma nota para cada item analisado segundo uma
hierarquia de atribuições, conforme Quadro 2, para prioridades na seleção de alternativas de
atuação.
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Quadro 2 Hierarquia de atribuições para a matriz GUT
Fonte: Adaptado de Sotille (2014)
Deste modo, estabelecendo as notas para cada item pode-se levantar ponderações, das quais se
averiguou a que detinha de maior valor crítico, a fim de fechar a priorização dos problemas a
serem tratados, conforme a Tabela 3.
Tabela 3 Resultados obtidos com as pontuações da matriz GUT
Mediante os valores indicados na matriz GUT, verificou-se que dentre os 6 (seis) problemas
levantados, os de caráter mais prioritários para resolução seriam a bateria molhada (ácida) e
polo danificado, ambos com criticidade alta.
4.2.5. Diagrama de causa e efeito
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Analisando-se conjuntamente os dados do diagrama de Pareto e da matriz GUT, pode-se
perceber que a bateria molhada ocupa lugar de destaque na ordem de priorização, tendo em
vista sua elevada ocorrência e criticidade. Dessa forma, concentraram-se os esforços na busca
de soluções para este erro, partindo do levantamento dos possíveis motivos de variação na
bateria com superfície molhada mediante o diagrama de causa e efeito, como pode-se
observar na Figura 5.
Figura 5 Diagrama de causa e efeito para a bateria com superfície ácida
4.2.6. Planilha 5W1H
Tendo estabelecido as causas que culminam no problema das baterias com superfície
molhada, pela estratificação gerada pelo diagrama de causa e efeito, criou-se a planilha
5W1H, para garantir a confiabilidade e consistência das informações a respeito do plano de
ação traçado em virtude da aplicação das ferramentas já mencionadas.
O plano de ação foi elaborado, primeiramente, estabelecendo-se a ação a ser executada, em
relação a cada critério levantando com o diagrama anteriormente citado, para posteriormente
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tratar dos demais itens que compõem essa ferramenta (prazo, local, razão, método e
responsável), como pode ser observado no Quadro 3.
Quadro 3 Plano de ação 5W1H
PLANO DE AÇÃO – 5W1H
Cri
téri
o
O Quê?
(Atividade)
Quando?
(Prazo)
Onde?
(Local)
Por quê?
(Razão)
Como?
(Método)
Quem?
(Responsável)
Mão
-de-
ob
ra Inspecionar
o sistema de
lavagem/
secagem
Curto
prazo
Túnel de
lavagem/secagem
Assegurar os
padrões do
produto
Comparar o
sistema com
o padrão pré-
estabelecido
Auxiliar de
manutenção
Treinar os
funcionários
Curto
prazo
No posto de
trabalho
Operadores com
pouca
experiência
Apresentando
os padrões
existentes
Encarregado
da produção
Máq
uin
a
Trocar a
água da
lavagem
Curto
prazo Máquina
Reduzir o nível
de acidez na
água
Esgotamento
total da água
do 1° tanque
de lavagem
Operador ou
encarregado
de produção
Alterar a
rotina de
limpeza
Médio
prazo Máquina
Assegurar o
funcionamento
da máquina e
evitar sujeiras no
produto
Revisando o
cronograma
de tarefas
Engenheiro
de processo
Mate
rial
Definir a
concentração
do sabão
Médio
prazo
No posto de
trabalho
Garantir a
secagem/limpeza
do produto
Testando a
formulação
do sabão
Laboratório
Mét
od
o
Revisar a
aplicação do
sabão
Médio
prazo Máquina
Garantir que o
sabão está sendo
aplicado de
forma eficaz
Verificação
na máquina
Operador da
máquina
Alterar a
frequência
de troca da
estopa de
limpeza
Curto
prazo
Final da linha de
produção
Evitar que a
estopa contenha
ácido e repasse
ao produto
Alterar
frequência e
método de
limpeza
Encarregado
da produção
5. Considerações finais
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Primeiramente, pode-se destacar que por meio desse estudo e com base nos resultados
apresentados, foi possível demonstrar a usabilidade das ferramentas da qualidade no que diz
respeito a eficácia delas, ou seja, possibilitando uma melhoria pautada em mecanismos de
simples aplicação.
Dessa forma, embora não tenham sido aplicadas ferramentas muito robustas, o referido estudo
demonstrou que as 5 (cinco) utilizadas foram capazes de identificar problemas significativos
de não conformidades referentes ao processo de fabricação da bateria automotiva FO43FD, e
com isso todas as ideias levantadas podem ser melhor trabalhadas de forma a promover
benefícios a empresa.
Assim pode-se concluir que a melhoria de um processo produtivo é vital dentro de qualquer
organização, todavia não requer obrigatoriamente grandes conhecimentos técnicos ou
investimentos altos em mecanismos e ferramentas para que possa ser concretizada.
Recomenda-se que para a continuidade deste estudo possa-se, após a implementação de
algumas das melhorias sugeridas, verificar o contexto da fabricação das referidas baterias, de
forma a se mensurar o impacto positivo das ações estipuladas, bem como identificar a
existência de novos problemas que venham a ocorrer. Além disso, deve-se destacar que a
própria aplicação dessas ferramentas da qualidade se configura como sendo um processo a ser
implantado e aperfeiçoado ao longo do tempo.
REFERÊNCIAS
ALVES, R. B.; MATTIODA, R. A.; CARDOSO, R. R. Aplicação dos conceitos da qualidade no processo de
execução de armaduras para estruturas de concreto armado na construção civil. In: XXIX Encontro
Nacional de Engenharia de Produção, Salvador, 2009.
BONIFÁCIO, T. C. C. Método de análise e solução de problemas (MASP) – formação de white belts. 2.ed. –
Volkswagen do Brasil, 2006.
BRASSARD, M. Qualidade – ferramentas para uma melhoria contínua. Rio de Janeiro: Editora
Qualitymark, 2000.
BSIBRASIL. ISO/TS 16949 Automotiva - Visão Geral. Disponível em:
<http://www.bsibrasil.com.br/certificacao/sistemas_gestao/normas/iso_ts16949/ >. Acesso em: 08/10/2014.
CARPINETTI, L. C. R. Gestão da Qualidade: Conceitos e Técnicas. São Paulo, Atlas, 2010.
DAYCHOUM, M. 40 ferramentas e técnicas de gerenciamento. Rio de Janeiro: Brasport, 2007.
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Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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