Auto da Barca do Infernomariselasimoes.weebly.com/.../2/6/112608003/pt9cdr_auto.pdf · 2019. 10....
Transcript of Auto da Barca do Infernomariselasimoes.weebly.com/.../2/6/112608003/pt9cdr_auto.pdf · 2019. 10....
Porto Editora
Auto da Barca do Inferno:
estrutura externa e interna
Porto Editora
1. Características do texto dramático
São textos dramáticos os textos que se integram
na forma literária do drama (palavra de origem
grega que originalmente significava “ação”). Nesta
classe de textos, narram-se ações por meio da
representação.
Porto Editora
personagens
Os textos dramáticos apresentam quatro categorias:
1. Características do texto dramático
tempo
espaço
Agentes da ação, que podem ser classificadosquanto ao relevo, à composição e aosprocessos/modos de caracterização.
Lugar, ambiente, meio social/cultural em quese passa a ação.
Momento/época em que decorre a ação.
Sucessão de acontecimentos, em torno deum conflito e com vista a um desenlace.
ação
Porto Editora
1. Características do texto dramático
A ação apresenta dois tipos de estrutura:
externa interna
Porto Editora
Estruturainterna
Exposição – apresentam-se as personagens e osantecedentes da ação;
Conflito – representam-se as peripécias que constituem aação;
Desenlace – dá-se a conhecer a conclusão da ação.
Porto Editora
Estruturaexterna
Ato – parte da ação que ocorre num mesmo local (aalteração do espaço implica a alteração de ato);
Cena – parte da ação que ocorre com as mesmaspersonagens (dá-se a mudança de cena sempre que umapersonagem inicia ou termina a sua intervenção naação).
Nota: O texto dramático pode estar escrito em prosa ou emverso. Se for escrito em verso, o texto dramático obedece auma determinada estrutura estrófica, métrica e rimática.
Porto Editora
O texto dramático divide-se em duas modalidades textuais:
as falas das personagens – texto principal, podendo ocorrersob a forma de:
– diálogo: falas/réplicas entre duas ou mais personagens;
– monólogo: fala de uma personagem consigo própria;
– aparte: fala de uma personagem para o público.
as indicações cénicas ou didascálias – texto secundário,consistindo em informações do dramaturgo (geralmentegrafadas em itálico e/ou dentro de parêntesis) sobre ossentimentos, a entoação, a movimentação das personagens,o contexto espaciotemporal em que decorre a ação, oguarda-roupa, o cenário e os adereços, os efeitos desonoplastia ou luminotecnia, …
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno
2.1. Auto de moralidade
Como sabes, o Auto da Barca do Inferno (1517) é a primeira
peça de uma trilogia. Sucedem-se o Auto da Barca do Purgatório
(1518) e o Auto da Barca da Glória (1519).
Estes autos são classificados como autos de moralidade, já
que, através de uma representação alegórica, Gil Vicente
transmite ensinamentos morais e religiosos.
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno2.1. Auto de moralidade
Auto de moralidade [do lat. moralitate-, de more-, costume]
Tipo de teatro religioso medieval que se serve da alegoriapara veicular uma mensagem destinada à transformação doscostumes sociais.
Gil Vicente foi o autor português mais representativo destetipo de peças. São mais conhecidas a trilogia das barcas(Inferno, Purgatório, Glória), na qual se condenam os principaisvícios e pecados de todas as classes e grupos sociais: a vaidadedo Fidalgo, os furtos do Sapateiro, a avareza do Onzeneiro, acorrupção do Juiz, a devassidão do Frade, etc.
Olegário Paz e António Moniz, Breve Dicionário de Termos Literários, Presença, 1997
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno
2.2. Estrutura interna e externa
O Auto da Barca do Inferno, como era usual no
teatro medieval, não apresenta divisões em atos ou
cenas. A peça mostra-nos diferentes personagens-tipo
que se sucedem num cais onde estão ancoradas duas
barcas. Deste modo, este auto não tem uma ação única
e linear, mas um conjunto de miniações, sempre com
uma personagem principal e as figuras alegóricas do
Anjo e do Diabo.
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno2.2. Estrutura interna e externa
Assim, o auto inicia-se com o Anjo, o Diabo e o seu Companheiro em cenae continua com o desfile de diferentes personagens, nomeadamente:
o Fidalgo e o seu Pajem
o Onzeneiro
o Parvo Joane
o Sapateiro
o Frade e a Moça
a Alcoviteira e as suas Moças
o Judeu
o Corregedor e o Procurador
o Enforcado
os quatro Cavaleiros
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno
2.2. Estrutura interna e externa
As personagens vão, post mortem, entrando numcenário onde dominam duas barcas e respetivosarrais, do Inferno e do Paraíso, e são protagonistas devários quadros que apresentam, regra geral, umaestrutura interna constituída por:
• uma exposição – apresentação e identificação dapersonagem;
• um conflito – diálogo da personagem com o Diabo e como Anjo;
• um desenlace – sentença proferida pelo Anjo ou peloDiabo.
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno
2.2. Estrutura interna e externa
O Auto da Barca do Inferno encontra-seescrito em verso.
As estrofes são, geralmente, oitavas,com o seguinte esquema rimático:ABBAACCA (rima interpolada e empare-lhada).
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno
2.2. Estrutura interna e externa
Quanto à métrica, predomina a redondilha maior(versos de sete sílabas métricas):
DIA. Não entras cá, vai-te d’i! AA cadeira é cá sobeja: Bcousa qu’esteve na igreja Bnão se há de embarcar aqui. ACá lha darão de marfim, Amarchetada de dolores, Ccom tais modos de lavores, Cque estará fora de si… A
Auto da Barca do Inferno, vv. 168-175
Porto Editora
2. O Auto da Barca do Inferno
2.2. Estrutura interna e externa
Estrutura estrófica: oitava
Estrutura rimática: ABBACCA
(rima interpolada e emparelhada)
Estrutura métrica: Redondilha maior (que es|ta|rá| fo|ra |de |si…|)
Em resumo…
Porto Editora