ATO I Heinershakes Novo

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ATO I “TITUS ANDRONICUS” E “ANATOMIA TITUS FALL OF ROME” UMA NOVA VITÓRIA ASSOLA ROMA A CAPITAL DO MUNDO DOIS FILHOS DE UM IMPERADOR MORTO CADA QUAL SEGUIDO DE SUA TROPA RECLAMA PARA SI O TRONO VAZIO UM PELO DIREITO DO PRIMOGÊNITO O OUTRO INSISTE NOS MÉRITOS E NO MEIO... Eu Saturninus Eu Bassianus sou imperador COM A COROA IMPERIAL NAS MÃOS FRACAS O MAIS VELHO DOS TRIBUNOS IRMÃO DO GENERAL TITUS ANDRÔNICUS QUE HÁ DEZ ANOS CONDUZ A GUERRA CONTRA OS GODOS SAÍDOS DAS FLORESTAS E ESTEPES IMPELIDOS AOS COMEDOUROS DAS CIDADES DIZIMADOS POR LOBOS MÁS COLHEITAS TEMPESTADES MARCUS: Príncipes, que apoiados em amigos, Ambicionam o poder e o Império, Saibam que o povo romano, que aqui Eu represento, como uma só voz, Em eleição para o Império Romano, Já escolheu Andronicus, o Pio, Pelos grandes serviços que prestou. Homem mais bravo, guerreiro mais nobre, Não vive hoje dentro destes muros. Permitam-me pedir, em honra ao nome Daquele pra quem buscam sucessor, E direito de Senado e Capitólio, Aos quais dão adoração e honra, Que se retirem ambos, se desarmem, Dispensem seguidores e, qual devem Os candidatos, mostrem os seus méritos De maneira pacífica e humilde. BASSIANUS: Marcus Andronicus, eu confio tanto Em tua correção e integridade, E é tal o meu amor por ti e os teus, A Titus, teu irmão, e aos filhos

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ATO I – “TITUS ANDRONICUS” E “ANATOMIA TITUS FALL OF ROME”

UMA NOVA VITÓRIA ASSOLA ROMA

A CAPITAL DO MUNDO DOIS FILHOS DE

UM IMPERADOR MORTO CADA QUAL

SEGUIDO DE SUA TROPA RECLAMA

PARA SI O TRONO VAZIO UM PELO DIREITO

DO PRIMOGÊNITO O OUTRO INSISTE NOS MÉRITOS

E NO MEIO...

Eu Saturninus Eu Bassianus sou imperador

COM A COROA IMPERIAL

NAS MÃOS FRACAS O MAIS VELHO DOS TRIBUNOS

IRMÃO DO GENERAL TITUS ANDRÔNICUS

QUE HÁ DEZ ANOS CONDUZ A GUERRA CONTRA

OS GODOS SAÍDOS DAS FLORESTAS

E ESTEPES IMPELIDOS AOS COMEDOUROS

DAS CIDADES DIZIMADOS POR LOBOS

MÁS COLHEITAS TEMPESTADES

MARCUS: Príncipes, que apoiados em amigos, Ambicionam o poder e o

Império, Saibam que o povo romano, que aqui Eu represento, como uma só

voz, Em eleição para o Império Romano, Já escolheu Andronicus, o Pio, Pelos

grandes serviços que prestou. Homem mais bravo, guerreiro mais nobre, Não

vive hoje dentro destes muros. Permitam-me pedir, em honra ao nome Daquele

pra quem buscam sucessor, E direito de Senado e Capitólio, Aos quais dão

adoração e honra, Que se retirem ambos, se desarmem, Dispensem

seguidores e, qual devem Os candidatos, mostrem os seus méritos De maneira

pacífica e humilde.

BASSIANUS: Marcus Andronicus, eu confio tanto Em tua correção e

integridade, E é tal o meu amor por ti e os teus, A Titus, teu irmão, e aos filhos

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dele, E a quem meu pensamento sempre serve, Bela Lavínia, ornamento de

Roma, Que aqui dispenso, meus caros amigos, E ao destino e ao favor do

povo Entrego, pra que a pesem, minha causa.

SATURNlNUS: Amigos, que aqui vêm por meu direito, Aqui lhes agradeço e os

dispenso, E ao amor e favor de meu país Entrego a minha causa e a mim

próprio. (Saem soldados e seguidores de Saturninus.) (Aos Tribunas e

Senadores). Roma, sê pra mim tão justa e boa Quanto eu confio em ti e te sou

bom. Abre-me tuas portas, pr'eu entrar.

CAPITÃO: OS TELHADOS DE ZINCO DOS SUBÚRBIOS JÁ TREMEM COM O PASSO DA MARCHA E

OS SENTINELAS NAS TORRES VÊEM A COLUNA DE PÓ DO EXÉRCITO AVANÇANDO... COROS DE

CRIANÇAS SAÚDAM A PARADA. À JUVENTUDE A EMULAR OS MORTOS NA MORTE E NA

GLÓRIA. AS MENINAS DESABOTOAM AS BLUSAS E JOGAM FLORES DIANTE DOS TANQUES. A

PLEBE MORTA APODRECE NAS VALAS.

ROMA ESPERA PELA PRESA; ESCRAVOS PARA O MERCADO DE TRABALHO; CARNE FRESCA PARA

OS PUTEIROS; OURO PARA OS BANCOS; ARMAS PARA O ARSENAL; O POVO NAS BARRACAS DE

SALSICHAS E NAS TENDAS DE CERVEJA BRINDA AOS SEUS HERÓiS VIVOS E MORTOS!

GRANDE ROMA, A PUTA DOS MONOPÓLIOS, VOLTA A DAR O PEITO AOS SEUS LOBOS!

Abram alas, romanos, pois Andronicus, O virtuoso defensor de Roma, Bem-sucedido em todas

as batalhas, Volta coberto de fortuna e honra De onde dominou com sua espada E avassalou o

inimigo de Roma. NO PÓ DOS VENCEDORES OS VENCIDOS RASTEJAM!!!

TITUS:

Ave, Roma, vitoriosa em seu luto! Chega Andronicus, emaranhado em louros,

Para saudar com lágrimas a pátria, Em pranto alegre só por rever Roma.

Romanos, de meus vinte e cinco filhos, Vede o que resta, entre morto e vivo.

Que Roma pague, com amor, aos vivos; E os que trago pra última morada Com

enterro entre os seus antepassados. Posso, afinal, guardar a minha espada.

Que agora partam pra encontrar seus manos! À FRENTE, OS CAIXÕES. DENTRO

FILHOS MORTOS DO GENERAL. TODA VITÓRIA TEM SEU PREÇO. (A tumba é aberta).

Saúdem-se em silêncio, como devem, E que durmam em paz, mortos de

guerra. Quantos filhos dos meus tu guardas hoje, Que nunca maís a mim

devolverás!

LUCIUS:

Dá-nos agora o orgulho dos godos Pra que ele, amputado, na fogueira sacrifique a carne Pra

que essas sombras tenham sua paz, em sofrer os prodígios desta terra.

OS GODOS DESSA VEZ UMA RAINHA

OS PEITOS PESADOS SEU NEGRO À CORRENTE

O CÃO PRETO OS PRÍNCIPES ATRÁS DELA

AINDA SÃO TRÊS OS VENCENDORES

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LUTO CLAMA VINGANÇA SANGUE BEBE SANGUE

TITUS: Os mortos não gostam de ficar a sós. Eu lhes dou o mais nobre dos

que vivem, Primeiro filho da rainha em prantos.

CORO ROBÓTICO: (REPETE)

EMBORA CAIA DE JOELHOS ANTE AS ESPADAS

A RAINHA DOS GODOS SEUS PEITOS

VARREM O PÓ

TAMORA (ajoelhando-se): Parem, romanos! Bom conquistador, Vitorioso

Titus, vê as lágrimas Da mãe desesperada pelo filho: E se os teus jamais te

foram caros, Pensa que o meu também a mim o seja! Não te basta nos ter

trazido a Roma Para embelezar-te a volta e o triunfo, Teus cativos, sob jugo

romano; Têm meus filhos de serem trucidados Por bravamente defender tua

terra? Se lutar pela pátria foi virtude Em teus filhos, que o seja nos meus. Não

manches teu mausoléu com sangue: Não desejas ser semelhante aos deuses?

Pois só misericórdia assim fará; Ela é que marca o nobre verdadeiro: Nobre

Titus, poupa meu primogênito. ROMA OUVES MEU GRITO.

… MAS O QUE ACONTECE ACONTECE

TITUS: Paciência, senhora, e perdoai-me. É o costume para aquietar as

sombras dos nossos mortos que Imploram sacrifício religioso: Marcado, irá

morrer o vosso filho, Pra aplacar o gemido dos caídos.

TAMORA: Cruel piedade irreligiosa!

SEM PALAVRAS OS FILHOS ABATEM COMO FARNEL

DOS IRMÃOS MORTOS A CAMINHO DO NADA

O PRÍNCIPE GODO QUE GRITA PELA MÃE

O PRIMOGÊNITO O PRÓXIMO NO PODER

QUANDO NO PODER ELA QUE AGORA O PÓ BEIJA

DECEPAM-LHE OS MEMBROS PARA QUE OS HERÓIS

NO RASTRO DE SEU SANGUE CAMINHEM MAIS FÁCIL AO NADA

LUCIUS: Senhor e pai, veja que já cumprimos Nossos ritos: com os membros

decepados, As entranhas de Alarbus já queimam E como incenso perfumam os

céus. Só nos falta enterrar os irmãos, Saudando, com clarins, sua chegada.

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TITUS: Que assim seja; e permitam que Andronicus A suas almas dê o último

adeus. (Soam os clarins, os caixões baixam à tumba.) Com honra e paz aqui

durmam, meus filhos; Defensores de Roma, aqui repousem, A salvo dos

acasos deste mundo. Aqui não há traição, não cresce o mal; Aqui não nascem

drogas más, nem ventos; Sem ruído, só sono eterno e quieto. Em paz e em

honra repousem, meus filhos.

(Entra Lavínia.)

LAVÍNIA: Em paz e honra viva muito Titus; Viva na fama, nobre pai e amo. À

tumba eu trago o rio do meu pranto Para render louvor a meus irmãos;

(ajoelhando-se) E a seus pés me ajoelho, em pranto alegre. Que me abençoe a

mão vitoriosa, Cuja sorte esta Roma inteira aplaude.

A IRMÃ ASSISTE NÃO PELA PRIMEIRA VEZ

LAMBE NÃO PELA PRIMEIRA VEZ DO PAI GENERAL

O SANGUE DOS INIMIGOS NA MÃO DO VENCEDOR

MARCUS: Que viva Titus, meu amado irmão.

TITUS: Obrigado, tribuno, nobre Marcus.

MARCUS: E bem-vindos da guerra, meus sobrinhos, Os vivos, como os que

dormem na fama. Heróico Titus, o povo de Roma, Do qual foi sempre amigo na

justiça, ,Lhe envia por mim, o seu tribuno, este pálio de tom tão branco e puro,

E o indica pra eleição do Império, Com os filhos do finado imperador. Vista-o

então, e seja candídatus Pra ter cabeça nossa Roma acéfala.

TITUS: Melhor cabeça cabe a um tal corpo Do que a que treme hoje velha e

fraca. Por que vestir tal manto e incomodá-los? Ser hoje eleito por aclamação,

Amanhã já deixar poder e vida, E condená-los a um novo processo? Roma, a ti

eu servi quarenta anos. Dá-me um bastão honroso pra velhice, Mas não um

cetro' pra reinar no mundo: O último que o teve, usou-o bem. E UMA COROA

SERVE A QUALQUER UM.

MARCUS: Titus, é só pedir que o Império é seu.

SATURNlNUS: Como o sabe, tribuno ambicioso?

TITUS Paciência, príncipe.

SATURNlNUS: O direito é meu. Patrícios, não escondam as espadas Até que

eu seja o imperador de Roma. Andronicus, quero vê-Io no inferno E não

roubando-me o amor do povo!

LUCIUS: Soberbo Saturninus, que interrompe O bem que o nobre Titus lhe

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deseja.

TITUS: Calma, Príncipe; eu hei de restaurar-lhe O amor do povo, a quem darei

bom senso.

BASSIANUS: Andronicus, não sou de bajular, Porém eu hei de honrâ-lo até a

morte: Se o meu partido apóia seus amigos, Eu serei grato; e a gratidão pra

homens De boa cepa é paga mais que honrosa.

TITUS: Povo de Roma e tribunos do povo, Eu peço sua voz e seu sufrágio:

Será que os dão, com amizade, a Andronicus?

TRIBUNOS: Para satisfazer o bom Andronicus, O povo aceita quem ele indicar.

TITUS: Grato, tribunos, e a súplica que faço é que...

ARRANCA DA MÃO MAIS FRACA DO IRMÃO

A COROA E LANÇA-A AO PRIMOGÊNITO

Um belo passe mas o escolhido

DEIXA ESCAPAR DA MÃO SUADA DE MEDO A HERANÇA

RASTEJA ATRÁS DELA E TIRA-A DO LIXO

IMPERADOR DE ROMA SATURNINO MÃO SUADA

TITUS: Coroem-no, com “Viva o Imperador!”

SATURNlNUS: Titus Andronicus, por tal favor Feito a nós neste dia de eleição,

Eu agradeço, Mas pagarei com atos tal bondade: De início, Titus, para

engrandecer O seu nome e sua honrada família, Farei Lavínia minha

imperatriz. Diga-me, Titus; a idéia lhe agrada?

TITUS: Sim, meu nobre senhor; E ante o olhos de Roma, aqui consagro

Espada, carruagem e prisioneiros - Presentes dignos do senhor de Roma:

Receba-os, tributos que lhe devo, Sinais da honra que lanço a seus pés.

SATURNINUS: Sou grato, Titus. (a Tamora) Uma senhora bela, com aspecto

Que escolheria, a fazê-lo de novo. Abra, rainha, o semblante sombrio: Se o

azar da guerra trouxe esta mudança, Não veio a Roma pra ser humilhada: Seu

tratamento será sempre principesco. Tem a minha palavra, e não permita Que

morram as esperanças: meu conforto Mais que Rainha Goda há de fazê-Ia.

Lavínia, isso não a desagrada?

LAVÍN IA: Não, senhor. A nobreza verdadeira faz do dito cortesia de príncipe.

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SATURNINUS: Vamo-nos, romanos: Sem resgate eu liberto os prisioneiros:

Trompa e tambor proclamem nossa honra.

BASSIANUS: Senhor Titus, perdão, a dama é minha.

TITUS: Mas como! Fala sério, meu senhor?

BASSIANUS: Sim, nobre Titus; e estou resolvido A sustentar meu direito e

razão.

MARCUS: Suum cuique (A CADA UM O QUE É SEU) é justiça romana: O

príncipe só toma o que era seu.

LUCIUS: E assim fará, enquanto viver Lucius.

TITUS: Traidores! Onde a guarda imperial? Traição, senhor! Lavínia foi

raptada!

SATURNlNUS: Mas por quem?

BASSIANUS: Por quem tem justo direito A levar sua noiva deste mundo.

(Saem Marcus e Bassianus, com Lavínia.)

MUTIUS: Irmãos, ajudem a levá-Ia para longe, Enquanto eu guardo a porta

co'esta espada. (Saem Lucius, Quintus e Martius.)

TITUS: Siga, senhor; eu a trarei de volta.

MUTIUS (a Titus): Senhor, aqui não passa.

TITUS o quê, vilão? Barra-me o caminho?

(Durante a rifrega, saem Saturninus, Tamora, Demetrius, Chiron e Aaron.)

MUTIUS: Socorro, Lucius!

(Titus o mata. Volta Lucius.)

EM HONRA A ROMA E AGORA, POR ROMA DESPREZADO, A FAMÍLIA DOS ANDRINICUS ESTÁ

EM GUERRA.

LUCIUS : Foi injusto, senhor; e, mais ainda, Por causa errada assassinou seu

filho.

TITUS: Nem ele e nem você são filhos meus; Filho meu nunca me desonraria.

Traidor, trate de devolver Lavínia.

LUCIUS: Se quiser, morta. Não pra ser esposa, Pois pela lei é prometida a

outro.

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(Sai, com o corpo de Mutius.) (Entra, ao alto, o Imperador com Tamora, seus

doisfilhos e Aaron, o mouro.)

O IMPERADOR FICA A VER NAVIOS MAS SEUS OLHOS

DÃO NOS PEITOS FARTOS DA RAINHA VENCIDA

CARREGA A PRESA DE CARNE PARA O PALÁCIO

O NEGRO AFIA OS DENTES NOS GRILHÕES

O GENERAL DIVIDIDO PELA PRÓPRIA ESPADA

MEIO ROMANO MEIO PAI DE SEUS FILHOS

ENTRE O RISO E O APLAUSO DA MULTIDÃO

ABRE O PEITO DIANTE DO ÉCRAN DA TV

MOSTRA AOS TRIBUNOS O CORAÇÃO PULSANTE

E SUA VOZ FALHA AO GRITAR PARA O VAZIO.

TITUS: Traidores Devolvam a noiva do Imperador

SATURNlNUS : Não, Titus; não preciso mais dela, Nem dela, nem de si, e nem

dos seus: Eu não confio em quem me desrespeita; Nunca mais em si ou seus

traidores, Que se juntaram pra me desonrar. Não há de quem se debochar em

Roma Que não de Saturninus? Isso, Andronicus, Calha bem com seus atos e a

vaidade De afirmar que sua mão me deu o Império.

TITUS: Oh monstro! Que condenações são essas?

SATURNlNUS: Mas pode dar sua mercadoria Àquele que a ganhou só com a

espada. Vai ter um genro muito corajoso; Combina com seus filhos

baderneiros, Quando perturbam a comunidade.

TITUS: Isso corta o meu peito já ferido.

SATURNlNUS:

Bela Tamora, Rainha dos Godos, Que, como fica Febo entre as ninfas, Brilha

mais que as romanas mais galantes, Se aceitas minha escolha repentina, Eis

que elejo Tamora minha noiva, E dela faço Imperatriz de Roma. Fale, rainha:

aplaude minha escolha?

TAMORA: E aos olhos do céu a Roma eu juro, Que a rainha que Saturninus

honra Será pr' os seus desejos sempre serva, Mãe amorosa de sua juventude.

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SATURNINUS: Tamora, imperatriz, vem minha ninfa!

TITUS: A mim não chamam pra servir a noiva. Quando ficaste, Titus, assim só,

Tão desonrado e acusado de erros? (Entram Marcus, Lucius, Quintus e

Martius, carregando o corpo de Mutius.)

MARCUS: Agora vê, Titus, o que fizeste, Matando o filho bom em luta má.

TITUS: Não, tolo tribuno; não é meu filho, Nem tu e nem esses teus comparsas

Em atos que desonram nossa estirpe. Irmão e filhos privados de mérito!

LUCIUS: Permite que o enterremos como é certo; Vamos enterrar Mutius com

os irmãos.

TITUS: Fora, traidores! Nunca nesta tumba: O monumento, com quinhentos anos, Eu mandei

restaurar suntuosamente: EU O REPOVOEI COM GRANDE POMPA. AQUI SÓ JAZEM SOLDADOS

FIÉIS A ROMA. NINGUÉM MORTO EM DISPUTAS BARATAS. Enterrem-no por aí; pra cá não vem.

QUINTUS + MARCUS + MARTIUS: Deve ser enterrado com os irmãos. E o

será, ou iremos nós com ele.

TITUS: “E o será?” Que vilão diz tal coisa

IRMÃO E FILHOS CAEM DE JOELHO AGORA

O MATADOR COSPE DUAS LÁGRIMAS SOBRE O MORTO

TITUS: Ser desonrado em Roma por meus filhos Enterrem-no e a mim depois

dele

COLEM UMA NOVA FOTO NO ÁLBUM DE FAMÍLIA

MAIS UM CAIXÃO ENCHE O TÚMULO FAMILIAR

O RESTO É POLÍTICA

AO SINAL ABREM-SE

DOIS PORTÕES E EXPELEM DOIS PARES

PARA DUPLAS BODAS NÚMERO UM O IMPERADOR

A COROA PENSA NA CARECA SUADA

AGORA MONTADO PELA POR SUA GODA

QUEM SEM RÉDEAS CONDUZ SEU NEGRO NAS RÉDEAS

VINGANÇA NOVAS MORTES E ANARQUIA

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NÚMERO DOIS O IRMÃO

COM A SUA VIRGEM VESTIDA DE NOIVA

OS SEIOS DE NEVE TRANSPARECEM

OS BICOS PLANTAM DARDOS NOS OLHOS

DOS PRINÍCIPES GODOS DE QUEM NO OLHAR NEVA SANGUE

ESPALHA-SE AINDA UM POUCO DE VENENO

PARA TEMPERAR A FESTA

SATURNINUS: Bassianus ganhastes a primeira rodada. Deus lhe dê alegria

com sua noiva.

BASSIANUS: E o senhor com a sua: mais não digo Nem menos desejo: e me

despeço.

SATURNlNUS: Traidor, se há leis em Roma ou eu tenho Poder, com os seus

há de pagar-me o rapto.

BASSIANUS: Rapto, senhor, por tomar o que é meu, Meu amor prometido,

agora esposa? Que as leis de Roma arbitrem esse caso, No meio tempo eu

possuo o que é meu.

SATURNlNUS: Muito bem; foi incisivo conosco, Mas nós o cortaremos no

futuro.

BASSIANUS: Senhor, como puder, pelo que fiz, Terei de responder, até com a

vida.

Mas isto eu direi a Sua Graça: Pelos deveres que eu devo a Roma, O senhor

Titus, nobre cavalheiro, Julgo estar ofendido em sua honra, Pois no intuito de

salvar Lavínia, Matou com a própria mão o seu caçula, Quando, por zelo a si,

ficou irado, Por não poder cumprir o que lhe dava: Acolha novamente em seu

favor Quem sempre nos seus atos se mostrou Para o senhor e Roma um pai

amigo.

TITUS: Bassianus, não fales dos meus feitos, Pois tu e os teus é que me

desonraram. Só Roma e os céus eu quero por juízes. Eu sempre amei e honrei

a Saturninus.

TAMORA (a Saturninus): Nobre senhor, se alguma vez Tamora Teve a graça

desse olhar principesco, Deixe que eu fale com imparcialidade; E a meu

conselho perdôe o que passou.

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SATURNlNUS: O quê? Ser desonrado abertamente, E qual covarde ficar sem

vingança?

TAMORA: Acabastes de sentar no trono Atrás dele está o povo e os tribunos

Mostra clemência agora Do resto trato eu

E SUSSURA NA LÍNGUA DO SEU CORAÇÃO

TAMORA: Eu acho um dia para massacrâ-los, Pra arrasar seu partido, sua

família, O pai cruel e os filhos traiçoeiros - A quem pedi a vida de meu filho -

Para ensinar-lhes o que é deixar De joelhos, na rua, uma rainha, A implorar,

em vão, sua piedade. (Em voz alta.) Vamos, meu doce imperador e

Andronicus; Tome a mão desse bom velho e alegre O coração depois da

tempestade.

SATURNlNUS: De pé, Titus; a imperatriz venceu. Os outros ajoelhados devem

encontrar perdão.

O GENERAL OBRIGA OS SEUS A AJOELHAR

E LAMBE A MÃO DA GODA AINDA ONTEM

VENCIDA POR ELE E AGORA IMPERATRIZ DE ROMA

E O SOL QUE AQUECE OU QUEIMA

A GODA TEM OUTROS PLANOS PARA ELE E ROMA

DO QUE A BREVE MÁGOA QUE FERE UMA VEZ SÓ

ATRÁS DO VÉU DO SEU SORRISO DE CLEMÊNCIA

NO ABISMO DOS SEUS OLHOS DORME O SONHO

DE UMA LONGA VINGANÇA QUE PENETRA

RETORCIDA NAS ENTRANHAS DOS QUE ODEIA

SATURNINUS: Marcus, por si e pelo seu irmão, aqui, E pelos rogos da minha

Tamora, Perdôo o hediondo erro desses jovens: Levantem-se. (Marcus,

Bassianus, Lavinia e osfilhos de Títus se levantam.) Se Lavínia me deixou

como um qualquer, Uma amiga eu achei, e pela morte Eu jurei não sair daqui

solteiro. Venham; a festa terá duas noivas, São convidados Lavínia e seus

amigos. Hoje será dia de amor, Tamora.

TITUS :

O GENERAL CONVIDA O IMPERADOR PARA A CAÇADA NA MANHÃ

DEPOIS DA NOITE DE NÚPCIAS DE HOJE COM TROMPA E CÃES

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CONTRA O ANIMAL DAS FLORESTAS. Amanhã, se quiser Sua Majestade

Caçar comigo lebres e panteras, Trompas e cães lhes darão os bons dias.

SATURNlNUS: Assim seja, Titus, e obrigado.

(Soam trompas. Saem todos menos Aaron.)

A MARCHA NUPCIAL DERRETE OS CORAÇÕES. O POVO DANÇA NO

TERREIRO DO PALÁCIO. DEPOIS, DERRAMAR UM POUCO DE SANGUE

EM SOCIEDADE. O NEGRO PRECISA DA PRAÇA PARA O SEU

MONÓLOGO.