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Uma Abordagem Ilustrada 3 SUMÁRIO Introdução ................................................................................................ 5 Capítulo 1 ................................................................................................ 7 A Continuidade da Modernização Agropecuária ......................................... 7 Capítulo 2 ................................................................................................ 13 A Novidade na Modernização: A Terceirização .......................................... 13 Capítulo 3 .............................................................................................. 21 Novas Atividades ....................................................................................... 21 Glossário dos termos utilizados ................................................................. 51

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Uma Abordagem Ilustrada 3

SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................5

Capítulo 1 ................................................................................................7A Continuidade da Modernização Agropecuária ......................................... 7

Capítulo 2 ................................................................................................ 13A Novidade na Modernização: A Terceirização .......................................... 13

Capítulo 3 ..............................................................................................21Novas Atividades....................................................................................... 21

Glossário dos termos utilizados ................................................................. 51

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A partir de meados dos anos 80, assistimos aosurgimento de uma nova conformação do meio ruralbrasileiro, a exemplo do que já ocorre há tempos nospaíses desenvolvidos1.

Esse "Novo Rural" como vem sendo denomina-do, compõe-se basicamente de três grandes gruposde atividades:1. Uma agropecuária moderna, baseada em

commodities e intimamente ligada àsagroindústrias;

2. Um conjunto de atividades não-agrícolas, liga-das à moradia, ao lazer e a várias atividades in-dustriais e de prestação de serviços;

3. Um conjunto de "novas" atividadesagropecuárias, localizadas em nichos especiais demercados.O termo "novas" foi colocado entre aspas por-

que muitas dessas atividades, na verdade, são secula-res no País, mas não tinham, até recentemente, im-portância econômica. Eram atividades de "fundo dequintal", hobbies pessoais ou pequenos negóciosagropecuários intensivos (piscicultura, horticultura,floricultura, fruticultura de mesa, criação de peque-nos animais etc.), que foram transformados em im-portantes alternativas de emprego e renda no meiorural nos anos mais recentes. Muitas dessas ativida-des, antes pouco valorizadas e dispersas, passaram a

Introdução

1. Texto baseado na palestraeletrônica "O Novo RuralBrasileiro", Graziano da Silva, J.e Del Grossi, M.E. FundaçãoLyndolpho Silva/BNAF(www.bnaf.org.br; palestra 11)

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integrar verdadeiras cadeias produtivas, envolvendo, na maioria dos casos, nãoapenas transformações agro-industriais, mas também serviços pessoais e produ-tivos relativamente complexos e sofisticados nos ramos da distribuição, comu-nicações e embalagens.

Tal valorização também ocorre com as atividades rurais não-agrícolas deri-vadas da crescente urbanização do meio rural (moradia, turismo, lazer e presta-ção de serviços) e com as atividades decorrentes da preservação do meio ambi-ente, além de um amplo conjunto de atividades de "nichos de mercado".

A figura 1 que apresentamos a seguir procura ilustrar essa situação queacabamos de descrever: um espaço rural penetrado pelo mundo urbano comvelhos e novos personagens, como os neo-rurais (profissionais liberais e outrosex-habitantes da cidade que passaram a residir no campo) ao lado dos assenta-dos (ex-sem-terra) e daqueles que temos denominado sem-sem (sem terra e sememprego e quase sempre também sem casa, sem saúde, sem educação e, princi-palmente, sem organização).

É desse conjunto de transformações que estão ocorrendo no meio ruralque trata este livro, o qual procura ilustrar essas transformações. Para isso,dividimo-lo em 7 capítulos. Os capítulos 1 e 2 mostram a continuidade damodernização tecnológica e seus impactos sobre a nova ruralidade. O capítulo3 apresenta as novas atividades que estão dinamizando o espaço rural. O volu-me 2 desta coleção tratará das atividades não-agrícolas geradas nesse processo, eas principais conseqüências em torno das políticas de desenvolvimento rural.

Figura 1: Novas relações e atividades no mundo rural.

Urbano Rural

Agribusiness

NeoruralFamiliar

Sem-Terra

SemSem

AgrícolaNãoAgrícola

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A partir dos anos 60, o Brasil começou a experimentar uma profunda mo-dernização em sua agricultura, baseada no modelo então denominado "revolu-ção verde": sementes melhoradas que respondiam rapidamente ao uso de adu-bos químicos necessitavam de aplicação de agrotóxicos, e com operações geral-mente mecanizadas.

Na verdade, as bases para essa revolução em nossa agricultura foram lançadasnos anos 50, quando se instalaram no Brasil a maioria das indústrias produtorasde insumos para a agricultura, como as de adubos químicos, de tratores e má-quinas ou de agrotóxicos. Para incentivar o uso dessas tecnologias, o Governomontou um impressionante aparato, notadamente o sistema de crédito rural.

Inúmeros autores trataram dos aspectos negativos e positivos dessa moder-nização, sob os mais variados aspectos, que não são objetivo deste trabalho. Mascabe destacar o êxodo rural sem antecedentes que ocorreu no País nesse período.Com o avanço da mecanização de nossas lavouras, as tarefas antes executadaspor "turmas" de trabalho passavam a ser realizadas por apenas poucas pessoas,deixando desempregadas no campo milhões de pessoas, que não tinham outraopção senão as cidades.

Nos anos 80, o modelo de apoio estatal começa a perder fôlego, sufocadopelas políticas mais gerais de combate à inflação. Mas, ao contrário do que sepoderia se pensar, o progresso tecnológico persistiu graças aos investimentos dasdécadas anteriores. Nessa década tivemos o início da incorporação dos cerradosdo Brasil à produção de grãos, numa base tecnológica avançada e competitiva aonível do mercado internacional.

Capítulo 1A Continuidade da Modernização

Agropecuária

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Nos anos 90, esse processo não foi diferente. Amodernização brasileira seguiu seu curso, incorporandotecnologias cada vez mais sofisticadas: a prática deinseminação artificial ou mesmo a manipulação de em-briões, máquinas equipadas com GPS2 e monitoradasvia satélite, produtos transgênicos etc; foram sendo in-corporados ao processo produtivo e se tornando peçasrotineiras da nossa agricultura mais moderna.

É importante observar que essas tecnologias con-taram com apoio considerável dos investimentos pú-blicos em pesquisa agropecuária no Brasil, com osinvestimentos semeados nos anos 70 e cujos frutostiveram seu período de maturação nos anos 90. Nãoé demasiado recordar que também nesse período osinvestimentos públicos na pesquisa agropecuária bra-sileira foram sistematicamente reduzidos, e os resul-tados dessa defasagem tecnológica já começam hoje ase fazer sentir, principalmente entre os produtoresmenos favorecidos, que não conseguem se adaptar àvelocidade das inovações internacionais.

Essa escalada tecnológica do segmento agrícola maismoderno que ainda ocorreu nos anos 90 se refletiu nograu de competitividade internacional de nossas cultu-ras. A despeito das barreiras tarifárias e não-tarifárias,mantidas nas negociações do GATT3 e depois na suasucessora, a OMC4, as exportações brasileiras têm con-seguido manter um nível de competitividade invejável,a exemplo do suco de laranja ou da carne de frango. Nãoé por menos que ano após ano o governo brasileiro vemanunciando novas safras recordes de grãos no Brasil.

Esse viés exportador de nossa agricultura comer-cial tem sido a saída para as restrições de demanda domercado nacional. Estudos5 apontam para uma po-pulação de 44 milhões de pessoas pobres no Brasil noano de 1.999, ou seja, pessoas que vivem com menosde um dólar per capita/dia6 . Com esse grau de po-breza no País, reduzindo o consumo de alimentos, asaída mais fácil tem sido a busca do mercado exterior.

2. Equipamento que fornece,via satélite, as referências paralocalização e mapeamentodetalhado (metro a metro) daspropriedades.

3. Acordo Geral sobre Tarifas eComércio - GATT

4. Organização Mundial doComércio - OMC

5. Takagi,M.; Graziano daSilva,J. e Del Grossi, M.E.Pobreza e fome: em busca deuma metodologia paraquantificação do problema noBrasil. UNICAMP. Texto paraDiscussão 101(www.eco.unicamp.br).

6. Linha de pobreza adotadapelo Banco Mundial nosestudos comparativos entrevários países.

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Porém, as restrições no mercado interno, associ-adas aos baixos níveis de preços das commodities nomercado internacional nos últimos anos, a reduçãodos investimentos em pesquisa e também a elevaçãodo salário mínimo no Plano Real, elevando os custosde produção, têm resultado numa baixa remunera-ção dos principais produtos agrícolas comerciais. OGráfico 1 ilustra essa situação de baixa remuneraçãodos produtos agrícolas a partir do rendimento do tra-balho principal das pessoas: o rendimento médio daspessoas que trabalhavam na agricultura era pelo me-nos a metade do rendimento dos que viviam de ativi-dades não-agrícolas.

Mas esse processo não atinge da mesma formatodos os produtores. Analisando o mesmo problemacom outras fontes de informações (gráfico 2), a par-tir do Censo Agropecuário, os dados do Paraná mos-tram que os estabelecimentos não-familiares7, apesarde representarem apenas 2% dos estabelecimentos,produzem pouco mais de 30% do valor bruto da pro-dução. Já os estabelecimentos familiares8, apesar de

7. São os critérios adotados peloPRONAF para financiamentoda agricultura familiar:contratam até 2 empregadospermanentes nas tarefasagrícolas, área inferior a quatromódulos fiscais e valor bruto daprodução menor que R$27.500,00 em 1995/96. Osestabelecimentos com mais de 2empregados permanentes oucom área e renda maiores doque o padrão, são consideradosnão-familiares. Para detalhessobre a tipologia veja "Tipos deEstabelecimentos do Estado doParaná", CD-Room/IAPAR.

8. Os estabelecimentosfamiliares são os que seenquadram nos critérios doPRONAF, podendo ainda sersubdivididos em: familiar(contratam apenas mão-de-obratemporária nos picos dedemanda de trabalho) e osfamiliares empregadores(contratam até dois empregadospermanentes).

Gráfico 1: evolução do rendimento médio do trabalho principal das pessoascom domicílio rural, durante os meses de setembro, segundo o ramo de ativida-de. Brasil, 1992-99.

Ren

da M

édia

(R

$)

1993 1995 1996 1997 1998 1999

350,00

300,00

250,00

200,00

150,00

100,00

50,00

0,00

AgrícolaNão-agrícola

1992

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representarem 63% dos estabelecimentos do Paraná em1995/96, respondiam por apenas 18% do valor brutoda produção. Em outras palavras, esses dados mostramque os estabelecimentos de empregadores (não familia-res), possuindo maior quantidade de área e grau detecnologia, conseguem uma margem de renda bemmaior. Já os estabelecimentos familiares, produzindo parao mercado interno, com pouca área e baixa tecnologia,são os que recebem as menores remunerações.

Fonte: CD-Rom/IAPAR9, reprocessamento do Censo Agropecuário.

Ao longo dos anos 90 ampliou-se a distânciaentre o segmento familiar e o patronal da nossa agri-cultura10. Ou seja, a distância entre os proprietáriosfamiliares e os grandes empregadores da nossaagropecuária é cada vez maior; e, no meio deles, umcontingente de pequenas e médias empresas familia-res que empregam poucos trabalhadores permanen-tes, mas muitos temporários, que vinham se fortale-cendo nas décadas anteriores, vêm perdendo espaço,especialmente após o Plano Real.

A queda da rentabilidade se deve, em nossa opi-nião, a três elementos fundamentais: a queda dos pre-

Familiarmenor menor

Familiarempregadormenor menor

Não Familiarmaior maior

Outros

70

60

50

40

30

20

10

0

Número

Área (1.000ha)

E.H.

VBPVPart

icip

ação

(%

)

9. Doretto, M.; Laurenti, A. e DelGrossi, M.E. Tipos de estabeleci-mentos agropecuários do Estadodo Paraná, 1995-96. CD-Rom.IAPAR, 2001. No CD-Rom sãoexplicados os conceitos “menormenor” e “maior maior” utilizadosno gráfico 2. De formasimplificada “menor menor” sig-nifica que os estabelecimentos seenquadram nos critérios de defi-nição de agricultura familiar.”

10. Para maiores detalhes vejaGraziano da Silva, J. e Del Grossi,M.E. "A evolução da agriculturafamiliar e do agribusiness nos anos90". IN: RATTNER, H. Brasil nolimiar do século XXI. São Paulo:Editora da Universidade de SãoPaulo. 2000. p.139-157.

Gráfico 2: Principais tipos de estabelecimentos agropecuários do Estado doParaná, 1995/96.

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ços dos produtos agropecuários; a elevação dos custosdo trabalho e do crédito rural e a redução do ritmo deinovação no setor agropecuário. Vejamos rapidamenteo papel de cada um desses elementos no processo dediferenciação social dos produtores agropecuários.

Como sabemos, o Governo Collor promoveu,em 1990, uma abertura indiscriminada das impor-tações com o objetivo de auxiliar no combate à in-flação vigente. Ocorre que os preços das commoditiesagrícolas estão em queda há 30 anos11. O resultadofoi uma internalização dos baixos preços vigentesnos mercados internacionais, os quais refletem fun-damentalmente as políticas agrícolas protecionistasdos países desenvolvidos e especialmente os subsí-dios às exportações de produtos agrícolas praticadaspelos EUA, Canadá e CEE12. Acrescente-se ao des-monte do aparato institucional do Ministério daAgricultura e do Ministério da Indústria e Comér-cio que se refletiu na perda de eficácia dos princi-pais instrumentos de política agrícola ainda vigen-tes no final dos anos 80, como a política de preçosmínimos e dos mecanismos de regulação estatal denossos principais produtos, como o do açúcar e ál-cool, do trigo e da soja, do café etc.

O segundo elemento – a elevação dos custos deprodução, – se deve em parte à recuperação do valorreal do salário mínimo promovida a partir do Gover-no Itamar Franco (1992-94) que se refletiu no siste-ma de produção, não apenas dos grandes emprega-dores, mas também daquelas empresas familiares queempregam poucos trabalhadores permanentes, masmuitos temporários. Vale lembrar que o salário míni-mo funciona como uma espécie de farol para os salá-rios rurais, especialmente no caso dos trabalhadorestemporários. Também contribuem para o aumentodos custos de produção as elevadas taxas de juros vi-gentes para o crédito em geral e, de forma específica,para o crédito rural de custeio, o qual já não embutia

11. Monteiro, M. J. C. Trintaanos de queda. Agroanalysis,v.18, no 2, pp. 26-31, fev. 1998.

12. É importante que seesclareça que esses subsídios àsexportações foram o temacentral da Rodada Uruguaia doGATT, que se arrastou pelosanos 90 e que embora essessubsídios sejam amplamentecondenados por todos, seguemsendo uma das políticas maisimportantes, particularmentedos Estados Unidos, quedependem dos mercadosexternos para realizar quase 40%de sua produção agrícola.

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mais qualquer subsídio na medida em que se tornou pós-fixado com correçãomonetária integral, desde meados dos anos 80. Ressalte-se que o aumento doscustos de produção só não foi maior pela defasagem cambial vigente até a desva-lorização do real no início de 1999, que barateava os insumos químicos, grandeparte dos quais passaram a ser novamente importados com a abertura da econo-mia em 1990, especialmente fertilizantes e defensivos.

O terceiro elemento que responde pela queda da rentabilidade da produ-ção agrícola é o arrefecimento do ritmo de inovação da nossa agropecuária nofinal do século. Alguns querem ver aí um certo esgotamento do padrão de mo-dernização da agricultura, baseado no cultivo intensivo apoiado na mecanizaçãoe no uso de insumos químicos. Mas todos concordam que a queda dos recursospúblicos para a pesquisa agropecuária, o desmantelamento das agências estataisde assistência técnica e extensão rural foram fundamentais para a redução doritmo de inovação, especialmente dos pequenos produtores que não consegui-ram ter acesso a novas tecnologias por mecanismos privados.

Resumindo, a conjugação desses três elementos – a queda dos preços dosprodutos agropecuários; a elevação dos custos do trabalho e do crédito; e a redu-ção do ritmo de inovação no setor agropecuário – resultaram numa sensívelqueda da renda proveniente das atividades agropecuárias. E isso vem se refletin-do de maneira muito diferente entre os vários tipos de produtores, familiares epatronais, grandes e pequenos.

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Capítulo 2A Novidade na Modernização:

A Terceirização

Nos países mais desenvolvidos é visível o cresci-mento de um novo paradigma13 técnico-produtivo,também chamado pós-industrial, demarcado pela ele-vação do conteúdo tecnológico e pela redução no ta-manho das plantas industriais, e conseqüente quedarelativa dos empregos no setor industrial da econo-mia. Assiste-se ainda à proliferação de empresasprestadoras de serviços técnico-produtivosespecializados por toda a economia14.

Transformações semelhantes vêm ocorrendo emnossa agropecuária nas últimas décadas. Com a esca-lada tecnológica das máquinas e equipamentos, com-prar a tecnologia de ponta pode ser um investimentomuito alto para os produtores. A opção do aluguel demáquinas e equipamentos, ou a contratação tempo-rária de serviços especializados, como a manipulaçãode embriões, tratos culturais nas lavouras, etc., podeser mais interessante para o produtor15.

Os ônus do equipamento parado após a execu-ção da tarefa, da manutenção, da atualizaçãotecnológica da máquina e da sua utilização ficam porconta da firma contratada. Mais que isso, a possibili-dade de terceirização dos serviços agropecuários abre

13. Corresponde ao novomodelo de produção, baseadofortemente em tecnologias deinformação.

14. Tais mudanças já são sentidasno Brasil, particularmente com aqueda do emprego industrial e ocrescimento do setor terciário.Porém, apesar de as empresasprestadoras de serviçostecnológicos e produtivostambém crescerem, o grandecontingente dos trabalhadores dosetor terciário está ocupado emserviços pessoais.

15. Baseado em Laurenti:Terceirização na produçãoagrícola – a dissociação entre apropriedade e o uso dosinstrumentos de trabalho namoderna produção agrícolaparanaense. IAPAR-IICA/PROCODER, 2000, 201p.

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a oportunidade de uso de tecnologias modernas paramilhares de produtores que não poderiam adquirirum equipamento mais sofisticado.

A terceirização dos trabalhos e serviços agráriostambém vem dar maior flexibilidade à produção anu-al, pois o produtor não fica "preso" ao equipamentode sua propriedade, optando pela lavoura que lhe formais interessante em cada safra.

E esse fenômeno já ocorre em nossa agropecuária?Os dados do Censo Agropecuário do Paraná re-

alizado pelo IBGE16 em 1995/96 (Tabela 1), mos-tram que dos 294.765 estabelecimentos classificadoscomo familiares, 126.180 utilizam força de tração me-cânica e/ou equipamentos (FTME) de terceiros.

No Brasil o número de estabelecimentos que utili-zaram algum serviço de terceiros chega à casa dos 891mil, especialmente nos estabelecimentos com até 10 ha.

A tarefa de terceiros mais contratada é a colheitamecânica das lavouras, justamente porque a colheitaexige um equipamento específico para essa atividade.Já os tratores, arados, pulverizadores etc., podem seradaptados a várias culturas. Essa combinação de má-quinas próprias com máquinas de terceiros configuraa situação de "terceirização parcial" como designouLaurenti (2000).

Barion Transportes– contratada paraserviços de colheitamecânica emvários estados

16. Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística(www.ibge.gov.br)

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Tabela 01. Distribuição dos estabelecimentos agropecuários, área total,eqüivalente-homem (EH) e valor bruto da produção vendida (VBPV), segundoa composição do pessoal ocupado, grupo de eqüivalente-homem, uso da forçade tração e empreita de máquinas e equipamentos. Estado do Paraná, 1995.

TOTAL

ITEM Estabele- Área EH (f ) VBPV (g)cimentos 1.000 (ha) 1.000 R$

TOTAL 369.875 15.947 1.126.118 5.066.095Com declaração de receita 354.037 15.207 1.094.681 5.066.095Sem declaração (a) 12 3 42 454Coletiva (b) 26.393 2.834 110.725 1.006.650Individual 327.632 12.370 983.914 4.058.990Sem declaração de área total 21 0 31 167

TOTAL FAMILIAR (C) 294.765 6.892 816.978 2.346.375Com uso de FTME (d) próprios 113.446 3.341 344.631 1.066.699Com uso de FTME de terceiros 126.180 2.535 344.528 1.090.837Sem uso de FTME 55.139 1.016 127.819 188.839

Familiar com até 1 EH 44.254 745 44.253 235.562Com uso de FTME (d) próprios 11.641 257 11.641 86.310Com uso de FTME de terceiros 18.231 267 18.231 115.906Sem uso de FTME 14.382 221 14.382 33.345

Familiar com EH entre 1 e 2 89.915 1.909 162.888 583.597Com uso de FTME (d) próprios 32.248 842 59.538 246.151Com uso de FTME de terceiros 37.985 677 67.450 270.653Sem uso de FTME 19.682 390 35.900 66.793

Familiar com 3 ou mais EH 160.596 4.238 609.837 1.527.216Com uso de FTME (d) próprios 69.557 2.241 273.452 734.238Com uso de FTME de terceiros 69.964 1.592 258.848 704.278Sem uso de FTME 21.075 405 77.537 88.700

Total não familiar (e) 32.846 5.478 166.906 1.712.448

Fonte: Tipos de Estabelecimentos Agropecuários do Estado do Paraná de 1995-96, IAPAR/ASE, cd-rom.a) Estabelecimento sem informação da condição de propriedade da terra ou posição ignorada do pessoal

ocupado.b) Condomínio ou sociedade de pessoas; cooperativas; sociedade anônima ou por cotas; instituição pia ou

religiosa; governo etc.c) Estabelecimento dirigido por produtor e sendo a mão-de-obra familiar igual ou superior à metade do

total de pessoal ocupado.d) FTME = Força de Tração animal e ou mecânica e Máquina e ou Equipamento.e) Estabelecimento dirigido por administrador ou com mão-de-obra familiar menor que a metade do total

de pessoal ocupado.f ) E.H. = Eqüivalente Homem – Corresponde a uma jornada anual de 300 dias de trabalho de um homem

adulto.

g) VBPV =Valor Bruto da Produção Vendida menos a receita oriunda da venda de máquinas.

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Com o progresso técnico têm-se ampliado osintervalos de tempo entre as operações agrícolas, ouos períodos de inatividade entre uma tarefa e outrana produção agropecuária. Porém, isso significa queos sistemas de produção tendem para um menor nú-mero de tratos culturais, reduzindo assim a necessi-dade de mão-de-obra na agricultura.

A colheitadeira automotriz, por exemplo, tornoucontínua a seqüência dos trabalhos ceifa - amontoa -trilha - transporte, isto é, eliminou os intervalos de não-trabalho entre essas operações. Da mesma forma, o sis-tema de cultivo baseado na semeadura direta, não rea-lizando assim o preparo do solo e as capinas mecâni-cas, também diminui o tempo de trabalho nas lavou-ras e reduz o número de tarefas a serem executadas.

Em resumo, no plano estritamente técnico ouagronômico, o uso das inovações tecnológicas tempromovido o aumento da produtividade física do tra-balho e o desengajamento de pessoas do processo deprodução agrícola, tanto pelo uso de maquinaria, re-duzindo o número de operações agrícolas, quanto pelasimplificação17 das tarefas agrícolas.

E essa redução de pessoas em nossa agropecuáriajá acontece?

A resposta a essa pergunta é afirmativa e pode sercomprovada. Uma das formas é utilizando os dadosdas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios -PNADs, do IBGE. Essa pesquisa de abrangêncianacional, com exceção das áreas rurais da antiga regiãoNorte do país (Acre, Amapá, Amazonas, Pará,Rondônia e Roraima), pergunta às pessoas qual o ramoda economia em que elas estavam ocupadas18. As pes-soas ocupadas na agricultura podem ser observadas noGráfico 3. A população ocupada na agricultura cres-ceu até 1985/86, período do Plano Cruzado, e depoisvem se reduzindo gradativamente. A diferença entreos anos de 1990 e 1992 se deve a uma mudança

17. Termo originalmenteutilizado por Green, R. eSantos, R.R. Uma reflexãoteórico-metodológica sobre oprocesso de reestruturação dosetor agro-alimentar naAmérica Latina. Seminário"Inovações tecnológicas ereestruturação do sistemaalimentar". UFPR - Curitiba,26 a 28/6/1991.

18. Essa questão e a maioria dasoutras perguntas sobre trabalhonas PNADs são referentes aomês de setembro.

19. Para maiores detalhes vejaem Del Grossi: Evolução dasocupações rurais não-agrícolasno meio rural brasileiro.UNICAMP, 1999. (Tese deDoutorado)

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16151413121110

9876543210

Pess

oas

(milh

ões)

1981|1982

|1983

|1984

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|1999

|

conceitual, não corrigida plenamente19, e em 1999 tem-se uma suave recuperaçãodo número de pessoas ocupadas na agricultura.

A expansão da modernização, e principalmente da terceirização das tarefasagrícolas, conduz a uma individualização da atividade agrícola, com reflexosimportantes na organização do trabalho familiar. O que era atividade de toda afamília, hoje pode ser feita por apenas uma pessoa. A Tabela 2 mostra as pessoasque se ocupam da agricultura segundo a sua condição na família e gênero. Épossível observar que os homens adultos referência da pesquisa, estão estáveisem torno de 6,4 milhões de pessoas. Em menor número, mas também estáveis,estão a mulher cônjuge, em torno de 1,9 milhões.

Gráfico 3: Evolução da população ocupada na agricultura no Brasil.

Tabela 2: Evoluçãodas pessoas ocupadas naagricultura, segundo acondição na família e gê-nero. Brasil, 1992-99

Condição na Família 1992 1999 taxa 92/99(1.000) (1.000) %ªa

Pessoa de referênciaMasculino 6.456 6.330 -0,5Feminino 336 327 -0,9

CônjugeMasculino 14 30 17,6 ***Feminino 1.939 1.918 -1,0

FilhosMasculino 4.274 3.531 -3,2 ***Feminino 1.085 871 -4,7 ***

OutrosMasculino 581 519 -2,6 ***Feminino 168 133 -4,3 ***

*** indica 5% de confiança,estimado pelo coeficiente deregressão log-linear contra o

tempo.Fonte: ASE/IAPAR, projeto

RURBANO

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Mas quanto aos filhos, esse contigente vem so-frendo uma forte redução: quase 700 mil filhos e 200mil filhas de agricultores deixaram as atividades agrí-colas ao longo dos anos 90. O número de mulherescônjuges bem inferior ao de homens de referência dapesquisa, mostra que as cônjuges mulheres se dedi-cam parcialmente à atividade agrícola.

Em outras palavras, quem cuida da agriculturano Brasil são os pais homens, contando com a ajudaparcial e decrescente dos filhos homens e da esposa.É nesse sentido a tendência de individualização,masculinização e envelhecimento dos trabalhadoresque se dedicam às atividades agrícolas.

Para um futuro próximo já é possível vislumbrar20

a possibilidade da "agricultura de gestão", na qual oprodutor exerce principalmente a função de gerênciadas atividades agrícolas, contratando os serviços ne-cessários para sua atividade via telefone. Esse tipo deagricultura poderá não representar a maioria no fu-turo, mas poderá ser uma possibilidade viável paramuitos produtores.

Os serviços que poderão ser contratados são osmais diversos como: implantação de lavoura; produ-ção e aplicação de inimigos naturais dos agentes cau-sais de pragas e doenças na produção agropecuária;planificação e aplicação de fertilizantes e outrosinsumos; colheita; inseminação artificial; empresas co-letoras de detritos agropecuários (caminhão pipa paraesgotamento de fossa coletora de dejetos oriundos dapecuária de galpão e transporte para centrais debeneficiamento); gestão econômico-financeira etc.

Essa contínua simplificação de tarefas agrícolas,tendendo a individualizar o trabalho agrícola, liberaos membros da família para outras atividades, agríco-las ou não-agrícolas, dentro ou fora do estabelecimen-to agropecuário. Mesmo as pessoas que ficam incum-bidas diretamente das atividades agrícolas não têm otempo todo tomado pelas atividades agrícolas: sur-

20. Baseado em Laurenti, A.C.Terceirização dos trabalhosagrários e o "novo rural". IN:Anais da Oficina de AtualizaçãoTemática sobre OcupaçõesRurais Não-Agrícolas. IAPAR,2000.

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gem então os estabelecimentos part-time farmer, que pode ser traduzido comoagricultores em tempo parcial.

Essa combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas, se observada pelaótica da família, ficou conhecida por pluriatividade. A diferença do conceitoanterior, é que o conceito de part-time está ligado aos estabelecimentosagropecuários, ou seja, com uma unidade econômica, enquanto que apluriatividade está ligada às famílias, ou seja, com uma unidade social edemográfica.

Em síntese, a modernização da base técnica da agricultura brasileira con-tinuou avançando nos anos 90, simplificando o número de tarefasagropecuárias. A terceirização das tarefas agrícolas potencializou esse proces-so. De certa forma ocorre um "desmonte" das tarefas produtivas do interiordo estabelecimento em favor de terceiros, liberando as pessoas das famíliaspara outras atividades, agrícolas ou não-agrícolas, no interior do estabeleci-mento agropecuário ou fora de seus limites.

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Capítulo 3Novas Atividades

A modernização não avançou somente no senti-do de simplificar a base técnica na produção decommodities, mas também na exploração de "novas"oportunidades de negócios.

O termo "novas" foi colocado entre aspas por-que muitas dessas atividades, na verdade, são secula-res no País, mas não tinham até recentemente impor-tância como atividades econômicas. Eram atividades"de fundo de quintal" ou hobbies pessoais que foramtransformados em importantes alternativas de empre-go e renda no meio rural nos anos mais recentes.

Um aspecto que deve ser destacado refere-se aofato de que várias dessas atividades, antes pouco va-lorizadas e dispersas, passaram a integrar verdadeirascadeias produtivas, envolvendo, na maioria dos ca-sos, não apenas transformações agroindustriais, mastambém serviços pessoais e produtivos relativamentecomplexos e sofisticados nos ramos da distribuição,comunicações e embalagens.

Em outras palavras, muitos desses novos negóciosnascem com a cadeia praticamente completa, desde osfornecedores, a própria atividade, a agroindustrializaçãoe distribuição ou os serviços derivados dessas ativida-des. Nos exemplos a seguir a complexidade dessas no-vas atividades ficará mais clara.

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PisciculturaEssa atividade talvez seja o melhor exemplo da nova ruralidade no Brasil.

Assistimos na última década a uma explosão do número de pesque-pagues portodo o País, notadamente nos estados das regiões Sudeste e Sul. O crescimentodo número de pesqueiros, mais a demanda para o processamento industrial,foram as bases da expansão da piscicultura.

Os pesque-pagues, destinados ao lazer da classe média urbana, normal-mente localizados em chácaras e sítios de fácil acesso pelas principais rodovias,oferecem aos clientes bons e diversificados serviços – estacionamento, lancho-nete, material para pesca etc. Muitas dessas chácaras trocaram a agricultura poresta atividade, que responde por mais de 90% do destino dos peixes criados emcativeiro (tilápia, pacu, piaucú, matrinxã, pintado, cat fish, truta – durante o

Pesqueiro Ishikawa emLondrina: opção de

lazer rural

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inverno – entre outros). O maior estímulo dos pesqueiros é a possibilidade degerar uma receita para os proprietários, às vezes, bem superior a muitas commodities.

É interessante observar que muitas áreas destinadas aos pesqueiros inicial-mente eram marginais à produção de grãos. Com os pesqueiros tornaram-se asáreas mais valorizadas da propriedade.

Essas novas atividades chamam a atenção para a quantidade de fornecedorese serviços que surgem, derivados da expansão de pesqueiros. O primeiro deles,evidentemente, é a engorda de peixes para fornecer aos pesqueiros. Seria perda deespaço e tempo se os pesque-pagues também utilizassem seus tanques para cresci-mento e engorda de seus peixes, já que sua remuneração está baseada na circula-ção rápida do capital investido, além de criar um mal-estar entre os seusfreqüentadores se em alguns tanques for proibida a pesca.

Tanques de engorda de peixes para fornecimento aos Pesque-Pagues.

Tanques de reprodução de alevinos para piscicultura.

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Não somente os piscicultores de crescimento e engorda de peixes são esti-mulados. Os produtores de alevinos para os piscicultores também o são, criandoum mercado importante de reprodução não somente de nossas espécies nativas(como os pintados, dourados, piaparas, entre tantos outros), mas também depeixes exóticos (como o bagre africano ou americano, entre outros).

Na região Norte do Paraná, por exemplo, a Aquabel é considerada a maiorprodutora de alevinos de tilápia do Brasil, chegando a entregar até 4 milhões dealevinos/mês.

O encadeamento não termina por aí. As indústrias de rações especializadastambém são estimuladas, com a produção de rações específicas para alevinos,rações de crescimento, engorda e manutenção. Isso sem falar na indústria vete-rinária na fabricação de hormônios de crescimento, reprodução ou reversão se-xual, controle de doenças, entre tantos outros produtos que são utilizados aolongo da cadeia produtiva dos pesque-pagues.

E as minhocas para fisgar os peixes? Também a criação de minhocas emgeral é desenvolvida por outros produtores, que se especializam nessa técnica.Como as demais, quase todas essas "novas" atividades são complexas e exigemestudo e dedicação por parte dos produtores. A produção de minhocas no pró-prio pesqueiro dificilmente seria eficiente, pois seria mais uma tarefa relativa-mente complexa para cuidar, criando o risco de não se dar a devida atenção aosclientes do pesqueiro.

O produtor de minhocas, por outro lado, tem a possibilidade de utilizar osdejetos da pecuária como fonte de matéria orgânica compostada, para a criaçãode minhocas, além de ter a opção da venda de adubo orgânico.

Indústria de produção de ração para peixes

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No mesma linha está a produção de varas para pescar. Ao chegar ao pes-queiro, o cliente menos equipado precisará de varas preparadas, com linha eanzol adequados, para o lazer nos tanques. Também aqui há um estímulo aosprodutores de varas para pescar que, com freqüência, farão a reposição das varasdanificadas nas pescarias.

Não podemos esquecer do encadeamento em torno de um pesqueiro, daenorme quantidade de lojas especializadas ou não, que vendem os mais variadosartigos de pesca aos "pirangueiros" de final de semana.

Produção de minhocas para pescaria

Loja de artigos de pesca

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Se os encadeamentos ligados à pesca já impressio-nam, os relativos ao setor de serviços também não ficamatrás. Refrigerantes, cervejas ou sucos, servidos à beira dostanques ou na sede do pesqueiro, geram uma importantefonte de receita, às vezes tão importante quanto o peixefisgado nos tanques.

Há ainda outro grande atrativo nos pesqueiros: o res-taurante ou lanchonete. Depois de horas na pesca, é naturalque as pessoas queiram apreciar o peixe fresco, nos maisvariados cardápios de nossa culinária. Também pode ser aopção de lazer daqueles que não gostam de pescar, mas gos-tam de saborear a culinária rural.

Mais uma vez o encadeamento: os restaurantes nospesqueiros não precisam se limitar aos peixes fisgados emseus tanques, mas também podem oferecer ao cliente pra-tos com peixes exóticos ou nativos, comprados de outrospiscicultores.

Uma nova possibilidade de encadeamento é o aproveita-mento das carcaças. Após a pesca, dificilmente os clientes le-varão os peixes sem limpá-los e cortá-los adequadamente, exis-tindo vários cortes de acordo com a opção do cliente na horada limpeza. Talvez a filetagem do peixe seja a atividade quegera maior resíduo no pesque-pague, já que além das vísceras,cabeça e nadadeiras, também o couro do peixe é retirado.Como já existe tecnologia disponível para tratamento do resí-duo dos peixes para fabricação de adubos, e também paraaproveitamento do couro para fabricação de peças de vestuá-rio, essas duas atividades irão gerar importantes encadeamen-tos para frente no negócio da piscicultura.

Ainda sobre a piscicultura, não somente a pesca em tan-ques tem crescido. Há uma outra oportunidade relacionada àpesca esportiva: muitos turistas, nacionais e estrangeiros, sãoatraídos para esta modalidade de turismo nas principais baci-as hidrográficas brasileiras – Pantanal, Amazonas e Paraná –,além da pesca litorânea na Bahia, Espírito Santo, Santa Catarinae outros estados. Essas regiões possuem boa infra-estrutura eoferecem uma rede de serviços de qualidade, fatos que tor-nam esta atividade uma importante fonte de divisas21.

21. Paul, G. Pescamilagrosa. Revista Veja. SãoPaulo, 29/11/95. p.76-78.

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Também pelo lado do processamento industrial, a piscicultura pode con-verter-se em importante atividade rural e fonte de renda para os agricultores.Cooperativas já adentram nesse ramo, instalando frigoríficos com grande capa-cidade diária para processar peixe. Em geral a criação dá-se pelo sistema de semi-integração, em que a cooperativa fornece os alevinos, a assistência técnica e aração. Dessa forma, o abastecimento da indústria fica garantido, uma vez queela compete com os pesque-pagues pelo fornecimento da matéria-prima e estes,geralmente, pagam um preço melhor pelo quilo do peixe.

Todas essas novas atividades giram em torno da piscicultura e cresceram ori-entadas para atender novos segmentos de mercado. A partir da procura urbanapelo consumo ou lazer na forma de pesca, surge uma série de novos produtoresdos mais diferentes itens da piscicultura, formando assim uma cadeia completa ecomplexa. Muitas dessas atividades geraram ocupações tradicionais do ramo daagricultura, como a engorda de peixes ou criação de minhocas, mas também gera-ram várias ocupações que têm pouco a ver com a atividade agrícola propriamentedita, como os garçons, caixas, cozinheiros, faxineiros, entre outras, nos pesqueiros.

Além da piscicultura, já existe uma grande quantidade de novas atividadescom encadeamentos produtivos importantes. Listamos algumas abaixo.

Agroindústrias RuraisUma série de agroindústrias processadoras estão se desenvolvendo por todo

o País, explorando pequenos nichos de mercado. Muitas são atividades artesanais,ou quase, explorando os mais variados mercados: doces, bebidas, vinhos, salga-dos, carnes e derivados, lácteos e derivados etc. A cultura brasileira tem umaculinária muito rica e as possibilidades de explorar comercialmente esses dife-rentes "sabores" regionais, principalmente se tiver alguma origem étnica, tempotencial crescente em todo o mundo.

Frigoríficos rurais estão proliferando por todo meio rural, atendendo os mais vari-ados mercados. Em Rolândia, por exemplo, um frigorífico, além de produzir apresuntado,bacon, salames e lingüiças, iniciou também a produção de kits para feijoada, aprovei-tando melhor partes dos suínos como orelhas, pés, caudas, couro etc.

Inúmeras outras atividades agroindustriais estão se disseminando pelo cam-po: fábricas de balas, doces, embutidos, lácteos, salgados, refeições industriais, etc.

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Vários governos municipais e estaduais, e o pró-prio governo federal, têm lançado programas especí-ficos de agroindustrialização, com os mais diferentesnomes. O programa Fábrica do Agricultor doParaná22, por exemplo, já oficializou e incentivouquase 1000 fábricas pelo interior do estado, melho-rando os aspectos de sanidade e de apresentaçãomercadológica dos produtos.

Criação de "Aves Nobres"O Brasil tem uma fauna riquíssima, com enor-

me potencial para vários tipos de cadeias produtivas.Uma delas é a criação de aves nobres, e mesmo exóti-cas ao nosso território.

São comuns notícias de fazendas acrescentandoà produção nova atividade, ou mesmo trocando aprodução agrícola tradicional pela criação de avesnobres e exóticas (matrizes importadas da Europa,África e Ásia). Faisões, perdizes e codornas gigantesfrancesas para corte já são comuns em nossos

Agroindústria de queijos

Aperitivos e balas

Embutidos e defumados

22. Para maiores informaçõesveja em www.pr.gov.br/seab.

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criadouros. As aves de corte são comercializadas emsupermercados e restaurantes, além da agroindústria– como a Perdigão, que desde 1989 comercializa essalinha de aves raras23.

A avestruz é uma das aves típicas desses negó-cios. Importado da África, já tem seus criadouros dis-seminados pelo País, visando à produção de carne(com baixo teor de gordura), couro ou para fins or-namentais. Em três anos o plantel brasileiro saltou de50 mil aves para 150 mil aves em 2001, movimen-tando aproximadamente U$300 milhões24. O graude sofisticação chega a ser tão elevado que a identifi-cação dos animais é feita pela introdução de "chip"para leitura eletrônica, logo após a eclosão dosovos.Também nesse caso o público alvo é o consumi-dor urbano, quer em restaurantes típicos que servemcarnes exóticas, quer para redes de supermercados queensaiam entrar nesse segmento de mercado.

Situações similares repetem-se com a criação degansos, patos, galinhas de angola, pavões, marrecos25,pássaros de canto e de porte, que, de simples hobbiesde seus criadores, passaram a representar negócioslucrativos26. Vejam-se por exemplo as feiras de cria-

Casaco de courode avestruz

Criação de avestruzes

23. Folha de S. Paulo,24/04/96

24. Dados da Associação deCriadores de Avestruzes doBrasil. Gazeta Mercantil,06/11/01.

25. Globo Rural, Maio/2001.

26. Globo Rural: "Ganso: naságuas da tradição". Jan/1996;"Pato com sotaque francês",Ago/1996; "Javali: o porco desangue azul", Out/1996; "Jataí:doce selvagem", Mar/1997.

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dores dos mais variados tipos de canários que aconte-cem por todo o País, nas quais alguns exemplares che-gam a valer muito mais que várias cabeças de boi.

Até mesmo a nossa galinha caipira voltou à moda.Os criatórios de galinhas soltas no terreiro têm prolife-rado em todo País, buscando servir o consumidor ur-bano sedento de alimentos naturais. Mesmo grandesfrigoríficos têm adicionado à pauta a produção de ga-linhas caipiras, de olho nesse mercado ascendente.

RãsEntre 1988 e 1996, a produção brasileira de car-

ne de rã cresceu mais de 150%, atingindo 200 tone-ladas nesse último ano. Como a tendência de criaçãoem cativeiro tem sido forte, dentro de um processode produção industrial e de profissionalização da ati-vidade27, nesse período houve uma substancial redu-ção do número de ranários, principalmente daquelesque se baseavam na caça. Apesar dessa redução, oBrasil é o líder mundial na produção em cativeiro.Para se ter algumas noções das transformações queestão ocorrendo nessa atividade, é interessante citar

Frango caipira preparadopara consumo.

Criação de frangos caipiras

27. Globo Rural, Maio/2001

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que as principais empresas envolvidas já estão partin-do para a produção integrada (ou semi-integrada),nos mesmos moldes da criação de aves e suínos nosul do País. Também há investimentos na construçãode laboratórios de melhoramento genético de rãs28.

Criação de outrosanimais para corte

Embora seja muito difícil a quantificação dessasatividades no Brasil, também devem ser citadas ascriações de camarão de água doce, capivaras, jacaré-de-papo-amarelo, javalis e scargot. Elas se destinam àprodução de carnes para restaurantes de luxo dos gran-des centros urbanos do País e do exterior, além devários outros produtos de origem animal. Uma ativi-dade relacionada a esse ramo é a fazenda de caça que,no entanto, ainda é incipiente no País, mas que jáintegra o roteiro de turismo rural no Paraná.

Criação de javalis

28. Gazeta Mercantil,10/10/96

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Ainda no Paraná, a carne de coelhos já ocupa espaço importante nas gôndolasde grandes redes de supermercados. O encadeamento gerado por essa atividadeenvolve a produção de matrizes, gaiolas, rações, produtores, frigorífico, distri-buição e comercialização.

Produção orgânica de ervas aromáticas emedicinais

Essa atividade é impulsionada por grandes grupos da indústria farmacêuti-ca (como Rhodia Farm, Merck e Weleda), mas também pela produção de espé-cies destinadas à fabricação de temperos e condimentos dos mais diversos sabo-res. Geralmente produzidos em pequenas propriedades, ligadas tanto a grandesquanto a pequenas agroindústrias, muitas dessas pertencentes aos próprios agri-cultores, o setor de ervas medicinais e condimentos (naturais ou desidratados eembalados) está em franca expansão no Brasil. Na região amazônica, por exem-plo, o conhecimento das ervas medicinais dos pajés já está sendo catalogado.

Criação de coelhos

Carne de coelhopronta para consumo

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Produção orgânica para mercadointernacional diferenciado

Procurando conquistar mercados nacionais e in-ternacionais diferenciados, com um valor mais ele-vado para o produto, a produção de orgânicos emgrande escala tem compensando o maior custo deprodução. A produção de óleo de dendê no Pará éum exemplo. Outro é o café ecológico dos cerradosmineiro e paulista, exportado para o Japão a um pre-ço 30% superior à média do mercado interno, quejá está sendo industrializado com uma marca especí-fica29. Também podem ser citadas as produções deóleo de babaçu, no Rio Grande do Norte, do açúcarno Estado de São Paulo e da soja, no Estado doParaná, cujos produtos, isentos de agrotóxicos, sãodestinados ao mercado externo.

Nesse sentido a presença de "selos" certificandoa origem orgânica dos produtos, tem-se tornado co-mum em nossos mercados, fornecendo um enorme

Produção de ervas aromáticas e medicinais

29. Soares, P. "Os lucros docafé ecologicamente correto".Gazeta Mercantil, 20/10/1995.

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diferencial de competitividade desses produtos.Uma curiosidade é que a certificação de produtos abriu um amplo leque de

atuação de garantia de qualidade, tanto para instituições governamentais comonão governamentais, seguindo normas nacionais e até internacionais. Os certi-ficados vão desde os orgânicos, naturais, não transgênicos, de origem regional,ou mesmo com maior apelo social, como a ausência de trabalho infantil.

Produção de verduras e legumesTem-se tornado comum o cultivo de verduras e legumes em estufas

(plasticultura) e ou pelo método de hidroponia, sendo essas atividades altamenteintensivas em mão-de-obra. No Estado de São Paulo por exemplo, apesar de te-rem participação de apenas 1% na área total cultivada com as principais culturas,as olerícolas respondem por cerca de 9% do total da demanda da força de trabalhoagrícola. Seu expressivo crescimento é resposta à grande expansão e diferencia-ção do mercado consumidor, puxado, em grande medida, pelas redes de fast-food e por alguns grandes supermercados que, embora possam se auto-abastecerpor meio de produção integrada, geralmente estabelecem parcerias com os agri-cultores. É importante lembrar que, além do estímulo à produção agrícola, a

Produção orgânica de hortaliças

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grande expansão das redes de fast-food tem um im-pacto significativo no consumo de produtos daagroindústria alimentícia (pão, carnes, queijo, sucos,temperos, etc.), o que torna esse setor um importan-te dinamizador do mercado.

Essa relação dos agricultores com as redes de su-permercado e de fast-food, além do fornecimento parasofisticados hotéis e restaurantes, acaba por determi-nar mudanças na forma de produzir e comercializaresses produtos. Primeiramente, há uma maior diversi-ficação da produção de olerícolas para garantir ummelhor abastecimento e uma maior receita. Tambémocorrem mudanças nos sistemas de produção, com aintrodução da hidroponia e do cultivo orgânico, porexemplo. Outra mudança importante diz respeito aoprocessamento das olerícolas e sua comercialização naforma de saladas ou produtos individuais prontos parao consumo, cujos preços chegam a ser 30% maioresque o produto in natura, constituindo-se num meiode agregação de valor para os agricultores, bem comode criação de empregos. Não somente olerícolas estãosendo processadas, mas também a mandioca já estásendo vendida descascada e embalada (a vácuo em al-guns casos para maior longevidade do produto).

Produção de verduras em estufa

Produção de tomates em estufa

Alimentos embalados e prontos para venda

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Floricultura e mudasde plantas ornamentais

Com mercado consumidor em expansão, a flo-ricultura, além de propiciar melhor rendimentopara os agricultores e seus familiares, por ser umaatividade intensiva, exige o emprego de muita mão-de-obra – familiar e contratada. Cada hectare cul-tivado pode ocupar até 50 pessoas, o que dá a estaatividade um importante potencial de geração deempregos. Segundo a Holambra, 170 dos seus co-operados respondem por 40% a 45% do mercadobrasileiro de flores e plantas ornamentais. A buscade maior produtividade e de outras espécies para afloricultura comercial tem contribuído para a ex-pansão do cultivo para regiões mais distantes dacooperativa. Isto tem sido feito tanto pelos coope-rados da Holambra quanto por novos grupos queestão se dedicando à floricultura em outros esta-dos brasileiros. Especificamente com relação à pro-dução da Holambra, esta vem crescendo com a in-corporação dos filhos de agricultores já filiados àcooperativa. Esses "filhos de pequenos sitiantes daregião de Holambra, no interior paulista, descon-tentes com os resultados do cultivo de grãos e cri-ação de gado, estão arrendando terras ou fazendoparcerias com seus pais para iniciar produções deflores e plantas ornamentais30". Também como de-corrência do crescimento dessa atividade, deve-sedestacar o aumento das criações de minhocas paraa produção de húmus31.

Deve-se destacar ainda que a floricultura tem gran-de possibilidade de expansão, tendo em vista a riquezada flora brasileira, com muitas espécies com potencialpara ingressar em novos cultivos comerciais.

30. Gazeta Mercantil,10/06/97

31. Globo Rural:"Minhocultura: jogo limpo",Out/1996.

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Fruticultura de mesa eprodução de sucos naturais e

polpa de fruta congeladaA fruticultura no Brasil ainda tem grande po-

tencial a ser explorado, não somente para exporta-ção, mas também para o mercado interno. A produ-ção de polpas congeladas de frutas regionais, comograviola, fruta-do-conde32, umbu, cajá e cupuaçu (na-tivas do Norte e Nordeste), tem impulsionado o con-sumo de sucos naturais e de sorvetes produzidosartesanalmente. Também merece registro a importân-cia que tem o suco de laranja natural nesse segmento.Em 1996, segundo a Associação Brasileira de Expor-tadores de Citrus (Abecitrus), o consumo de suco delaranja caseiro no País foi de 2,4 bilhões de litros,com um faturamento de R$1,9 bilhão, enquanto osindustrializados (concentrado, fresco, integral ereconstituído) responderam por apenas 170 milhõesde litros e por um faturamento de R$ 250 milhões33.

Merecem também destaque o crescimento dafruticultura na região Centro-Oeste, em especial nocultivo da banana-maçã; o processo de reconversão

32. Globo Rural: "A hora daestrela". Abril/2001.

33. Ferrero, A. "Cresce aconcorrência ao suco de laranja".Gazeta Mercantil, 20/06/1997.

Frutas: mercado compotencial de expansão

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produtiva, estimulado pela empresa M. Chandon,no cultivo da uva em algumas regiões produtorasno sul do País, com o uso de variedades destinadas àprodução de espumantes finos; e o desenvolvimen-to da fruticultura irrigada na região Nordeste, prin-cipalmente nos estados da Bahia, Pernambuco,Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Reprodução de Plantas ExtrativasO palmito, o melhor exemplo desse tipo de pro-

dução, está sendo obtido a partir de palmeiras que an-tes eram consideradas apenas plantas ornamentais,como é o caso da palmeira real34. A pupunha, umapalmeira amazônica mais produtiva e resistente que oPalmito Jussara da Serra do Mar, já está sendo cultiva-da por grandes grupos empresariais, como o GrupoCapixaba Coser, a construtora Grafisa, a Frunorte (se-gunda maior exportadora de melões do país), além decooperativas e produtores independentes. Segundo aAssociação Brasileira dos Produtores de Palmito Culti-vado, os investimentos já realizados para a produçãode pupunha no País somam cerca de US$ 18 milhõesnum mercado que movimenta em torno de US$ 500milhões anuais com os diversos tipos de palmito35.

Cultivo de cogumelosO aumento do consumo de cogumelos nos gran-

des centros urbanos tem estimulado o cultivo de no-vas espécies, além do tradicional champignon, como éo caso do Shiitake. Uma fazenda do Vale do Paraíba,região altamente industrializada do Estado de São

34. Globo Rural: "Palmito: dojardim ao campo". Nº.138, Abr/1997, p.46-48.

35. Branco, A. "A pupunhatoma o lugar do palmito".Gazeta Mercantil, 18/06/1997.

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Paulo, que produzia madeira tratada de eucaliptus,encontrou na produção de sementes de cogumelos(os esporos são inoculados em moirões de eucaliptus)a saída para a crise decorrente da redução das enco-mendas36.

Complexos hípicosOs negócios ligados ao hipismo movimentaram

R$ 2,8 bilhões no período 1993-97 no Brasil37. Umdeles está sendo construído em Boituva, interior deSão Paulo, com investimentos da ordem de R$ 5,5milhões. Além de todas as instalações e atividades re-lacionadas ao hipismo (centro hípico com arena co-berta, provas, rodeios, shows), o empreendimentoconta com toda a infra-estrutura de um grande hotel(piscinas, quadras de futebol, tênis, etc.), onde o car-dápio deverá incluir cabrito, javali, perdiz e outrosanimais exóticos, o que indica a sua inter-relação coma atividade de criação desses animais que foi mostra-da anteriormente.

36. Gazeta Mercantil: "FazendaGuirra produz alternativa aochampignon", 18/06/1997.

37. Nascimento, S. "Osempresários investem na áreacountry". Folha de São Paulo,01/071997.

Shitake

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Leilões e exposiçõesagropecuárias

As entidades ligadas ao setor estimam que os lei-lões – especialmente de cavalos e de gado de corte eleite – movimentaram cerca de US$ 700 milhões em1996. Apesar de os leilões terem crescido em númerode pregões, observa-se uma redução na oferta de ani-mais devido aos altos custos envolvidos. Há empre-sas especializadas que se encarregam da realização doseventos, atuando desde a seleção e pré-avaliação dosanimais até a contratação de financiamentos para darsuporte aos negócios realizados. As exposiçõesagropecuárias são as que mais têm crescido: movi-mentam cerca de US$ 2,1 bilhões em aproximada-mente 2 mil eventos por ano no País38. Embora nãoexistam mais linhas de financiamento específicas paraas exposições agropecuárias, há um aumento do pra-zo de recolhimento do ICMS sobre os produtos ven-didos nas feiras de modo geral, além de financiamen-tos diretos feitos pelos bancos, geralmente presentesnos eventos mais importantes.

Festas de rodeioEssas atividades movimentaram cerca de US$

500 milhões em 1996. Para se ter uma idéia da suapopularidade hoje no País, basta dizer que o seu pú-blico ultrapassou o total de torcedores presentes noscampeonatos de futebol: estima-se que 26 milhõesde pessoas assistiram aos 1.238 rodeios em 1997. Éuma atividade de muito dinamismo, que dá suportepara o crescimento econômico de muitas cidades pe-quenas e médias do interior. A Festa de Peão deBoiadeiro de Barretos, considerado o maior dos even-

38. Franco, L. Leilões e rodeiosgiram US$ 3,3 bi. GazetaMercantil, 20/06/1997.

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tos de rodeio do mundo, movimenta anualmente cer-ca de US$ 120 milhões, mais do que os US$ 45 mi-lhões movimentados pelo carnaval carioca. Durantea festa, que dura uma semana, a população da cida-de, de 110 mil habitantes, salta para 1,2 milhão. Nacidade de Americana, no interior de São Paulo, a fes-ta do Peão de Boiadeiro faz a população saltar de 220mil para 470 mil pessoas. Com um movimento deUS$15 milhões numa semana, essa atividade já re-presenta cerca de 10% da receita da cidade e vemsendo uma das saídas para a crise do comércio local,causada pela decadência da indústria têxtil, responsá-vel por cerca de 60% da economia do município39.

Essas atividades do "negócio country" têm esti-mulado, também, a proliferação de outros negóciosassociados, como as grandes casas de espetáculo nointerior do País. Um exemplo é a Red Eventos,construída em Jaguariúna – região de Campinas, aum custo de US$ 2 milhões, onde ocorrem promo-ções de shows musicais, exposições, leilões, etc., ten-do reflexos importantes na economia local.

39. Cordeiro, E. "Americanainveste na festa de peão". GazetaMercantil, 03/06/1997.

Festas de Peão de Rodeio

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É difícil ainda estimar o peso econômico dessas "novas" atividades agríco-las e não-agrícolas. Mas apenas para dar uma idéia da sua importância, bastadizer que os novos "mercados internos emergentes" constituídos pelas festas derodeio, leilões e exposições agropecuárias movimentaram juntos cerca de US$3,3 bilhões em 1996, o que significa metade do valor das exportações brasileirasde soja (farelo e grão), café (cru em grão) e suco de laranja (congelado e concen-trado) no mesmo ano.

Educação e lazer ruralO espaço rural tem sido procurado também como local de estudo e conhe-

cimento da Natureza, ou simplesmente para passar algumas horas no campo. Ouso do espaço rural para aulas sobre ecologia, conhecimento e observação dafauna e da flora, não somente dos parques nacionais, mas também de reservasparticulares, ou de espaços preparados para atividades pedagógicas, tem grandepotencial de exploração comercial em todo o País.

Restaurante rural

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Turismo RuralO turismo é uma das atividades que mais cres-

cem no mundo, e o segmento do turismo rural estáentre elas, com uma gama enorme de opções. Alémdos já conhecidos pesque-pagues e hotéis-fazenda, co-muns em nossos municípios do interior, um novo ebem-sucedido serviço começa a ganhar força: a fa-zenda-hotel. A diferença básica é que, na fazenda-hotel, a fazenda continua com suas atividades e roti-nas originais. Como explicam Silva e Baldan40, "a fa-zenda hotel está voltada para uma clientela urbanacada vez mais carente de contato com o cotidiano daterra, com a rotina de um modo de vida que, pelomenos no imaginário urbano, remete a uma reconci-liação com a natureza. (...) aqui as atrações não sãoornamentais e isso é decisivo para o seu sucesso juntoa um público saturado de simulações e banalizaçõesimpostas pelo mercado de consumo". Além de andara cavalo, contemplar paisagens e praticar esportes, oshóspedes podem vivenciar rotinas que vão desde aordenha até a alimentação do gado, o trato dos suí-

Circuito Italiano de TurismoRural em Curitiba-PR

40. Silva, G. e Baldan, J.C."Férias no campo". GloboRural, Fev/1997.

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nos e as colheitas. As pessoas que procuram esse tipode hotel não fazem tanta questão do conforto, mas aautenticidade de uma velha sede colonial é muitasvezes decisiva. E abrir o hotel é, muitas vezes, a formade preservar a própria sede. É comum com o passardo tempo que a renda gerada pelos hóspedes acabe setornando mais importante que aquela proveniente daatividade agropecuária.

Outra proposta semelhante é a de agriturismopraticada por pequenos agricultores familiares daAGRECO41, que além da produção orgânica acolhemvisitantes em sua propriedade. A recepção aos turis-tas é parte integrante de suas atividades, porém semabandonar as atividades agrícolas.

O potencial do turismo rural pode crescer com aconjugação de lazer, história e cultura. Já há algunsanos, o turismo rural vem sendo explorado na regiãode Ponta Grossa, no Paraná, aproveitando o ciclo his-tórico do tropeirismo vivido pela região. Toda a re-

Hotel Lagoa das Pedras –Apucarana – PR

41. Associação dos AgricultoresEcológicos das Encostas da SerraGeral. Para maiores detalhes vejawww.cepagro.org.br.

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gião do segundo planalto paranaense era caminho das tropas que saíam do RioGrande do Sul em direção principalmente a São Paulo ou Minas Gerais. Hoje,percorrer o mesmo caminho dos tropeiros, comer a mesma comida, preparada nafogueira no chão, acordar no mesmo horário das tropas, observar a natureza en-quanto se caminha, são atividades que atraem um número crescente de turistas.

Mas aqui entra um detalhe importante no turismo: a preparação e treina-mento do pessoal destinado a atender os turistas. Conhecer a cultura dos tropeiros,as histórias, a culinária, e prestar o melhor atendimento aos turistas exigemmuita preparação e treinamento do pessoal ocupado.

Outro importante fator de indução do crescimento de atividades não-agrícolas no meio rural tem sido o aproveitamento para lazer das represasformadas para geração de energia elétrica. Para fins de ilustração, pode-sedestacar a hidrovia Tietê-Paraná: nos seus atuais 1,1 mil quilômetros nave-gáveis entre o porto de Anhembi (SP) e o município de São Simão (GO),que movimentou, em 1996, cerca de US$ 300 milhões no transporte degrãos (1,2 milhão de toneladas dentre os 5 milhões transportados, princi-palmente de milho e soja), de cinco estados envolvidos: São Paulo, Paraná,Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Isso abre a possibilidade degrande desenvolvimento nos 206 municípios abrangidos pela hidrovia, de-vido à perspectiva de geração de novos empregos nesses municípios, ligadosao turismo rural e ecológico, com a construção de pólos turísticos,objetivando aproveitar os recursos naturais do rio Tietê, além de outras mo-

Capela de Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá: no caminho dos tropeiros em São Luiz do Purunã - PR

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dalidades, como os já conhecidos passeios de barconas cidades de Barra Bonita e Pederneiras42.

A lista seria quase infindável se fôssemos enu-merar aqui todas essas novas atividades, tal a diversi-dade brasileira. Mas vale a pena lembrar a crescenteimportância que vem assumindo a revitalização deatividades tradicionais, como o artesanato (produçãode tapetes, redes, chapéus, flores secas, rapaduras eoutros doces típicos, etc.), as feiras e as festas popula-res. Tais atividades, primordialmente apenas de cará-ter religioso, de lazer e geradoras de valores de uso,tendem a ser cada vez mais organizadas comer-cialmente e estão se tornando importantes fontes detrabalho e de renda nos pequenos municípios dointerior do País43.

42. Isto É: Rota das Águas. SãoPaulo, 10/09/1996.

43. Cerri, C. "O baú do Brasil",Globo Rural, Out/1995; e"Nordeste: sertão fabril", GloboRural, Mar/1997.

Estação de Lazer Salto Bandeirantes- Santa Fé - PR

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Utilizou-se o termo "novas" entre aspas porquenem todas estas atividades são tão novas assim. Naverdade, sempre existiu a produção de flores e plan-tas ornamentais, de hortaliças, de cogumelos, etc. En-tretanto, essas atividades foram praticamente recria-das a partir de demandas diferenciadas de nichos oude uma diferenciação dos mercados tradicionais des-sas mesmas atividades. E foram recriadas não apenascom uma roupagem nova, mas também com um con-teúdo novo: são, no fundo, serviços pessoais e auxili-ares da produção que foram agregados às tradicionaiscadeias produtivas agroindustriais, criando um novoespaço para a emergência de pequenos e grandes em-preendimentos nesse longo caminho que hoje vai doprodutor rural ao consumidor final.

A produção de hortaliças é um caso exemplar dessamudança de forma e de conteúdo. Primeiro surgem no-vas formas de produzir que decorrem de mudanças nabase técnica (estufas, hidroponia, produção orgânica) ede novas formas de integração ao circuito das mercado-rias (produção sob encomenda, integração vertical comsupermercados). Segundo, uma redivisão do trabalho queimplica o aparecimento de novos ramos de produção,como é o caso dos produtores de mudas de hortaliças.Terceiro, o surgimento de novos produtos, o que signifi-ca não apenas novas variedades de legumes e verduras,mas também a agregação de valor aos produtos existen-tes, por meio da embalagem, do pré-processamento, daentrega em domicílio, entre outros.

É como se houvesse uma busca incessante doscapitais no sentido de converter em mercadorias to-das as atividades com valores de uso, o que leva àcriação de novos mercados e de novas necessidades,explica Marsden44. Ao analisar transformações seme-lhantes que estão ocorrendo na Inglaterra, esse autorafirma que muitas famílias optaram por diversificar asua prestação de serviços, e não a produção agrícola,como parte de uma estratégia de resistência a ingres-

44. Marsden, T. Towards thepolitical economy ofpluriactivity. Journal of Peasentsstudies. Great Britains, v.6, n.4,1990, p.319.

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sar no treadmill45 tecnológico da Revolução Verde. Apluriatividade daí resultante é conseqüência desse es-forço de diversificação dos pequenos produtores parase inserirem nos novos mercados locais que se abrem.

Não se pode considerar a pluriatividade comoparte de um processo de proletarização que resulta dadecadência da propriedade familiar, mas sim comouma etapa da diferenciação social e econômica dasfamílias agrícolas. Os produtores estão encontrandonovas oportunidades a partir da valorização de bensnão tangíveis antes ignorados, como a paisagem, olazer e os ritos dos cotidianos agrícola e pecuário.

A explicação mais geral para essas mudanças podeser buscada no que Van der Ploeg46 denominou demercantilização das atividades agrícolas, tanto no que dizrespeito às relações de produção como às relações de tra-balho. Essa abordagem permite considerar as famílias ru-rais crescentemente dependentes dos capitais associadosnão apenas aos mercados agrícolas, mas a uma matriz demúltiplas atividades (pluriatividade) de seus membros.

Esse processo de geração de "novas" atividadesno meio rural brasileiro mostra pelo menos duas ca-racterísticas comuns. A primeira refere-se ao fato deque elas se originaram ou de "importações" de outrospaíses ou de atividades que antes não eram comerci-ais, isto é, tinham apenas valores de uso e não valoresde troca. É o caso, por exemplo, do produtor ruralque procura "cobrir as despesas" através do hobby decriar canários ou plantar cactus, para depois perceberque daí pode surgir uma nova atividade rentável. Emambos os casos, o importante é que se criam novosespaços de reprodução do capital no meio rural bra-sileiro, muitas vezes revigorando regiões e ou ativida-des tradicionais que se mostravam decadentes. A se-gunda característica comum é que essas "novas" ati-vidades, quando se transformam em atividades co-merciais, já nascem como parte de uma cadeia pro-dutiva altamente especializada e integradas a um com-

45. Significa esteira rolante, oque nesse caso, quer dizer que oprodutor tem que incorporarcada vez mais tecnologias nasua produção para conseguirmanter a mesma margem delucro; na alegoria da esteira,como as inovações técnicasestão mais rápidas, equivale auma esteira também cada vezmais rápida sem sair do lugar.

46. Van der Ploeg, J. Theagricultural labour process andcommoditization. In: Long, N.The commoditization debate:labour process, strategy andsocial network. Netherlands,Agricultural UniversityWageningen, 1986.

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plexo sistema de serviços que delimitam nichos específicos. Na maioria das ve-zes, além das costumeiras transformações agroindustriais do produtoagropecuário, soma-se uma rede de serviços pessoais e produtivos, que estrei-tam o caminho entre as preferências (socialmente condicionadas) do consu-midor e do produtor rural.

A grande diferença em relação ao tradicional processo de agregar valor pormeio da industrialização reside no fato de que as "novas" atividades geradas nosanos 90 não decorrem somente de demandas intermediárias no interior dascadeias produtivas. Nos anos 70, as principais atividades agropecuárias brasilei-ras transformaram-se em insumos da indústria de alimentos. Muitas saíram daprodução rural de subsistência para virarem commodities indiferenciadas paraatenderem a uma dieta relativamente padronizada de milhões de pessoas no Paíse no exterior. Agora, as "novas" atividades ganham impulso a partir de umadinâmica que tem a ver mais com as demandas específicas de grupos de consu-midores de média e alta renda dos grandes centros urbanos do País.

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Glossário dos termos utilizados neste volume

Cadeia Produtiva: conjunto das atividades econômicas ligadas a um deter-minado produto. No caso das atividades agrícolas, a cadeia representa o conjun-to das indústrias produtoras de insumos (adubos, sementes, agrotóxicos, má-quinas, etc), dos produtores agrícolas e da distribuição e comércio (atacadista evarejista) dos produtos agropecuários ou florestais.

Commodities: nome dado aos produtos padronizados comercializados emgrande escala no mercado internacional, tais como soja, milho, suco de laranja,açúcar, entre outros.

Domicílio: local destinado à habitação de uma ou mais pessoas. No casodas PNADs é a unidade básica da pesquisa.

Domicílio particular: é a moradia onde o relacionamento entre os mem-bros é ditado por laços de parentesco, de dependência doméstica ou ainda pornormas de convivência. O oposto é o domicílio coletivo onde prevalecem nor-mas administrativas, tais como asilos, orfanatos, casas de detenção etc.

Domicílio particular permanente: é o domicílio particular localizado emunidade que se destina a servir de moradia fixa. O oposto é o domicílio particu-lar improvisado, localizado em unidade que não seja destinada exclusivamente àmoradia, como lojas, grutas, tendas etc.

GATT: Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio que trata das regras do co-mércio internacional, e inclusive dos produtos agrícolas a partir de 1986. Em1994 esse acordo foi incorporado à OMC.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (www.ibge.gov.br)

Individualização do trabalho agrícola: tendência observada nos trabalhosagrários de permanecer somente uma pessoa encarregada na execução ou gerên-cia das várias atividades. No caso brasileiro, tendem a prevalecer os homens nasatividades agropecuárias, daí o termo "masculinização" do trabalho agrícola.

Nichos de mercado: pequeno comércio de produtos diferenciados, aten-dendo as preferências individuais ou de grupos de consumidores, em geral a umcusto mais elevado.

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Novo Rural: conjunto das atividades agrícolas, ligadas tanto à produçãoem grande escala para a agroindústria como para pequenos mercados diferenci-ados, e não-agrícolas no espaço rural (indústrias rurais, prestação de serviços,lazer ou moradia).

Ocupação: é o trabalho efetivamente exercido por uma pessoa. As ocupa-ções brasileiras são muito variadas, envolvendo desde o agricultor braçal até oexecutivo de grandes empresas.

Ocupação agrícola: ocupação exercida diretamente na produção agrícola,na criação de animais, no cultivo de florestas ou no extrativismo vegetal.

Ocupação não-agrícola: ocupação exercida nos ramos da prestação de ser-viços, indústria de transformação, construção civil, comércio, administração pú-blica etc, derivados ou não das atividades agrícolas.

OMC: Organização Mundial do Comércio: sucessora do GATT, que tratadas regras do comércio internacional, inclusive dos produtos agrícolas. É naOMC que atualmente são resolvidas as divergências comerciais entre países.

Part-time farming: conceito relativo ao estabelecimento agropecuário, quan-do os responsáveis pelo estabelecimento desenvolvem atividades apenas em tempoparcial nesse estabelecimento.

PEA: População Economicamente Ativa, constituída pelo conjunto de pes-soas de dez anos ou mais de idade que efetivamente trabalharam ou procuraramemprego no mês de setembro.

PEA restrita: conjunto da população economicamente ativa menos osque trabalharam na produção para o próprio consumo, ou construção para opróprio uso, ou ainda, em atividades não remuneradas por menos de 15 horasna semana.

Pluriatividade: combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas no interi-or da mesma família extensa. Pode ainda ser pluriatividade a combinação de ativi-dade agrícola no próprio negócio com outra atividade agrícola como assalariadoem outros locais.

PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE. Como jádiz o nome, é uma pesquisa feita por amostra, isto é, somente algumas famíliassão entrevistadas, mas essa amostra é feita com um rigor estatístico de forma a

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garantir a representatividade de toda a população. A única limitação importanteda PNAD é que ela não realiza sua pesquisa nas áreas rurais da antiga regiãoNorte do País (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima), sob a ale-gação de custo de deslocamento na imensa região amazônica.

População ocupada: parcela da População Economicamente Ativa que efe-tivamente trabalhou no mês de setembro.

RURBANO: nome utilizado pelo projeto de pesquisa coordenado pelo Ins-tituto de Economia da UNICAMP, inspirado em Gilberto Freire, que procuraexplorar os novos usos e atividades no meio rural brasileiro.

Situação do Domicílio: localização geográfica do domicílio. Esta localiza-ção pode ser:

Rural: seguindo a mesma orientação do IBGE, são as áreas localiza-das fora do perímetro urbano dos municípios brasileiros.

Urbana: são as áreas localizadas dentro dos perímetros urbanos decada município. Dependendo da classificação adotada, elas ainda po-dem representar apenas o núcleo urbano, sem a periferia das cidades.

Periferia: área em transição entre a zona urbana e a rural, com den-sidade demográfica mas com carência de serviços públicos, tais comorede de água canalizada, esgoto, ruas, energia elétrica, postos de saúde,telefonia, etc.

Povoado: concentração de residências no interior dos municípios,podendo ser ou não considerado urbano pela legislação municipal.

Rural agropecuário: são as áreas rurais propriamente ditas, perten-centes a um único proprietário, nas quais se processa a produçãoagropecuária propriamente ou áreas de preservação ambiental. Nessasáreas aceita-se no máximo concentração de núcleo de moradores de fa-zendas e sítios.

Terceirização: contratação de terceiros para a execução de uma tarefa pro-dutiva. Na agropecuária têm proliferado as firmas que prestam os mais variadosserviços, como implantação de lavouras, controle de pragas e doenças, colheita,inseminação, gestão financeira etc.