Artigo Teoria 1 - Webjornalismo Em Redes Sociais

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DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

TEORIA DE COMUNICAÇÃO I

Webjornalismo - A crise de credibilidade e as especificidades da difusão de

notícias em redes sociais

Everton de Castro Marques, matrícula 61308

Introdução - Internet como meio de comunicação não midiatizada

A Internet está presente no cotidiano de famílias e empresas em todo o mundo,

aproximando pessoas, encurtando distâncias e sendo parte essencial da globalização. De

acordo com Castells (2004, p. 255):

“A Internet é o tecido de nossas vidas neste

momento. Não é futuro. É presente. Internet é um

meio para tudo, que interage com o conjunto da

sociedade e, de fato, apesar de tão recente em sua

forma societária [...] não precisa de explicação,

pois já sabemos o que é Internet.”

Pode-se dizer que a mesma é ferramenta de trabalho e de entretenimento. Dentre

a longa gama de utilidades que ela proporciona, uma das funções que mais se destaca é

a facilidade com que proporciona o acesso às fontes de conhecimento e informação.

Qualquer usuário pode produzir e reproduzir informações e ideias na rede, e eles assim

o fazem, acessando todo o tipo de conteúdo nos mais variados sites.

O objetivo deste trabalho é analisar como o compartilhamento de informação por

meio de aplicativos de notícias no Facebook1 faz com que determinadas notícias

ganhem maior importância dentro de um determinado grupo de usuários, através do

compartilhamento das mesmas por indivíduos, inseridos no grupo de usuários, que

agem como formadores de opinião.

1 Facebook é uma rede social na internet que conecta pessoas por meio de redes de amigos possibilitando

o compartilhamento de informação, tal como fotos, vídeos, links e texto em perfis online e por meio de

microblogging.

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Webjornalismo, velocidade acima da credibilidade

Para Castells (2004, p. 285):

“O fato de ser uma comunicação horizontal, de

cidadão a cidadão, significa que eu posso criar

meu próprio sistema de comunicação na internet,

posso dizer o que quiser, posso comunica-lo. Pela

primeira vez há uma capacidade de comunicação

maciça, não midiatizada pelos meios de

comunicação de massa. É aí que se coloca o

problema da credibilidade. Como então se pode

acreditar no que aparece na internet?”

Para responder a essa pergunta, Castells (2004) discute sobre o papel realizado

pelos grandes meios de comunicação na rede mundial de computadores. De acordo com

o autor, a credibilidade de instituições tradicionais é maior que a de agentes individuais,

já que o nome da marca ainda traz um tipo de etiqueta de veracidade.

Barbosa (2003, p. 163) discorre sobre a importância dos grandes portais de

informação, e explica que: “a ideia inicial por trás do portal era a de ser o lugar por onde

começava a ação do internauta, que, a partir dele, poderia construir os roteiros de

‘leitura’ que desejasse ou o seu próprio hipertexto”. Junto a esse modelo de portal

surgiram os grandes sites de notícia, a maioria apenas reproduzindo as notícias que

distribuíam em outras mídias. Surgiu assim o webjornalismo, definido por Ziller (2006)

como: “atividade de mediação exercida por profissionais para elaboração de conteúdoa

ser veiculado na web”. Ziller (2006) cita o surgimento do webjornalismo e pondera

sobre a velocidade de produção de informação como o único valor da relação entre

jornalismo e computadores que é explorado pelo webjornalismo. Essa característica

colabora para a perda de credibilidade do jornalismo online.

A busca por furos de reportagem constantes e por notícias cada vez mais atuais

prejudica a devida apuração dos fatos. Outro elemento que prejudica a credibilidade na

internet é o valor dado à quantidade de notícias, o que faz com que os webjornalistas

tendam a postar cada lado da notícia como uma nova matéria. Quando um usuário visita

um site que apresenta várias notas sobre o mesmo tema como notícias diferentes, e o

usuário apenas acessa uma das notas sobre o fato, há a tendência de obter-se uma visão

distorcida do ocorrido. Essa visão parcial e distorcida gera a imprecisão jornalística

(ZILLER, 2006).

Em Soster (2004) o autor discorre sobre a ideia de que o problema da imprecisão

está ligado ao aumento da velocidade com que informações são divulgadas, há de certa

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forma o aumento da imprecisão das notícias com o aumento da velocidade de

divulgação.

Soster (2004) articula que a existência de tantos erros prejudica a qualidade do

trabalho jornalístico, segundo ele um problema ainda agrava a situação: a ausência de

uma seção de erratas em muitos sites de webjornalismo. Ele complementa:

“O problema é que, ao possibilitar a existência de

tantos erros, independente de sua natureza, a

velocidade acaba por gerar um ambiente em que o

jornalismo relega a um segundo plano exatamente

aquilo que alimenta sua credibilidade desde há

muito: o rigor na informação.”

Ziller (2006) também trata da falta de qualidade no jornalismo on-line, e conclui

destacando a importância da ética e de valores tradicionais do jornalismo como, a busca

por fontes confiáveis, a apuração devida dos fatos, a apresentação das várias versões

sobre a mesma notícia, dentre outros fatores. Devem ser obedecidos tais valores também

na produção de notícias para exibição on-line.

Apesar do aumento da dinamicidade nos elementos que compõe a internet, desde

a velocidade de geração de notícias a mudança no perfil dos usuários, os textos

estudados ainda são bastante atuais. Neste sentido, mesmo a definição de Castells

(2004) sobre a Internet ao final do texto em questão, ainda é bastante atual. De acordo

com o autor:

“a Internet não é simplesmente uma tecnologia; é

o meio de comunicação que constitui a forma

organizativa de nossas sociedades; ‘eo

equivalente ao que foi a fábrica ou a grande

corporação na era industrial. A internet é o

coração de um novo paradigma sociotécnico, que

constitui na realidade a base material de nossas

vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e

de comunicação. O que a internet faz é processar

a virtualidade e transformá-la em nossa realidade,

construindo a sociedade em rede, que é a

sociedade em que vivemos”.

Como as redes sociais mudam o processo de difusão de notícias

Ao falar de como a internet reproduz a sociedade em que vivemos, Castells

(2004) mostra que como seres sociais, compartilhamos as informações que recebemos e

com o auxílio da rede mundial de computadores.

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Como surgimento das redes sociais como o Facebook, Twitter2, dentre outros, o

uso da Internet como ferramenta para conectar pessoas e gerar convívio social ganha

destaque. O que acontece é uma reprodução cada vez maior no mundo virtual da

sociedade. De acordo com Castells:

“Internet é sociedade, expressa os processos

sociais, os interesses sociais, os valores sociais, as

instituições sociais. [...] A especificidade é que ela

constitui a base material e tecnológica da

sociedade em rede; é a infra estrutura tecnológica

e o meio organizativo que permitem o

desenvolvimento de uma série de novas formas de

relação social que não têm sua origem na

Internet, que são fruto de uma série de mudanças

históricas, mas que não poderiam desenvolver-se

sem a Internet”.

De acordo levantamento realizado pela empresa métrica comScore e divulgado

no endereço da revista Veja3, em dezembro de 2011, o usuário médio do Facebook no

país gastava aproximadamente 4,8 horas no site. Ou seja, é possível observar que o

comportamento altamente social do ser humano se reflete em suas atitudes quando

conectados à rede mundial de computadores.

Um fator recente na rede é a criação de aplicativos de notícias para o facebook,

que possibilitam que os usuários possam compartilhar com outros elementos de seu

grupo social na rede as notícias que leem nos grandes portais. Podem-se citar como

exemplo o Yahoo! Social Bar, utilizado por mais de 21 milhões de pessoas, o Seus

amigos no G1 utilizado por cerca de 1.4 milhões de internautas, e o Terra, com mais

de 3,4 milhões de usuários na rede mundial de computadores4. Em síntese, os três

aplicativos possuem função semelhante: facilitam o compartilhamento de notícias no

Facebook e permitam ao internauta saber quais de seus amigos que também são

usuários da rede social leram determinadas notícias.

O uso destes aplicativos dinamiza a troca de informações entre os usuários,

permitindo que determinadas notícias ganhem maior audiência em determinados meios.

Percebe-se no uso destes aplicativos os efeitos da teoria do two-step flow of

2 Twitter é um site de relacionamentos em que os usuários se comunicam por meio de mensagens de até

140 caracteres. 3 Tempo gasto por brasileiros no Facebook cresce 8 vezes. http://veja.abril.com.br/noticia/vida-

digital/tempo-gasto-por-brasileiros-no-facebook-cresce-8-vezes. Acessado em: 09de novembro de 2012 4 Informação fornecida na página dos aplicativos no Facebook: Yahoo! Social bar:

http://www.facebook.com/appcenter/yahooactivity?fb_source=appcenter; Seus amigos no

G1(http://www.facebook.com/appcenter/globosocialnews?fb_source=appcenter; Terra:

http://www.facebook.com/appcenter/trrnamespace?fb_source=appcenter. Acessado em 09 de novembro

de 2012

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comunication, teoria vinculada a estudos da propaganda nos meios de comunicação de

massa, levados a cabo nos Estados Unidos pelo Bureau of Applied Social Research,

fundado em 1941 na Universidade de Colúmbia, por Paul Lazarsfeld. Referindo-se à

hipótese do two-step flow colocada por Paul Lazarsfield, Berelson e Gaudet acerca da

influência dos mass media, Katz (2002) diz:

“Estes autores propuseram como provável que as

influências transmitidas pelos meios de

comunicação de massa alcançam primeiro os

“líderes de opinião” e que estes, por sua vez,

transmitem o que lêem e ouvem a grupos que lhes

são próximos na sua vida quotidiana, e sobre os

quais exercem influência. Esta hipótese foi

designada “fluxo de comunicação em dois

níveis””.

Paulo Serra (2007) coloca como consequência de tal hipótese o fator de que a

audiência não é constituída por uma massa de indivíduos isolados, passivos e inertes

perante os meios de comunicação em massa. Considera-se então a audiência como

‘redes de indivíduos interligados’ que realizam a recepção e transmissão das mensagens

mediáticas. Ao considerar uma audiência composta por redes de indivíduos interligados,

o autor tratou de uma característica fundamental da Internet. Deste modo, pode-se dizer

que ao compartilhar as notícias que leem nos portais de notícias os usuários agem como

formadores de opinião em seus grupos de amigos, levando a conhecimento dos

elementos do seu grupo as ideias e informações que consomem na rede. Quanto maior o

número de contatos no Facebook possuídos pelo usuário, maior será a audiência

alcançada pelas notícias que ela compartilha, tal fator modifica a dinâmica de acesso às

notícias no meio social por ele frequentado.

Devido às falhas de credibilidade ocorridas no webjornalismo, a divulgação

constante de notícias gerada pelos aplicativos de notícia pode fazer com que as notícias

mais lidas pelos contatos de determinado grupo nem sempre sejam as mesmas notícias

de destaque na página principal dos portais de notícia. Acontece que alguns grupos, em

determinadas situações, tendem a se interessar mais por assuntos característicos destas

situações, e o compartilhamento das notícias que o grupo de usuários lê entre os

elementos do grupo faz com que os assuntos abordados nestas notícias ganhem maior

destaque. Acerca da sociabilidade na internet, Castells (2004) cita que:

“a internet é um instrumento que desenvolve, mas

que não muda os comportamentos; ao contrário,

os comportamentos apropriam-se da Internet,

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amplificam-se e potencializam-se a partir do que

são”.

Pensando de tal forma, a busca por informação na vida real pode maximizar a

procura por esta mesma informação no mundo virtual. Deste modo, em grupos que se

interessam mais por notícias ligadas a educação, por exemplo, é possível que por meio

do compartilhamento constante gerado pelos formadores de opinião do grupo, este tipo

de notícia acabe ganhando maior destaque, fazendo com que, seguindo o mesmo

exemplo, as notícias acerca de uma greve de professores ganhem maior relevância,

gerando grande audiência para este assunto no meio a que o grupo pertence e até

ofuscando o relato de outros acontecimentos importantes na sociedade. Pode-se

perceber então, que as redes sociais e a interação entre indivíduos por elas

proporcionadas modificam a difusão de notícias em certos meios sociais gerando

transformações também na dinâmica do acesso à informação.

Segundo pesquisa do Ibope veiculada no portal G15, no primeiro trimestre de

2012 mais de 82,4 milhões de pessoas acessaram a Internet no Brasil. Castells (2000),

define divisória digital como a falta de conectividade, e afirma que “a conectividade

como elemento de divisão social está diminuindo rapidamente”. Cada vez mais pessoas

vêm ganhando acesso à rede, porém o autor apresenta um problema que ainda

permanece atual:

“O que se observa, contudo, naquelas pessoas,

sobretudo estudantes, crianças, que estão

conectadas é que aparece um segundo elemento de

divisão social mais importante que a conectividade

técnica: a capacidade educativa e cultural de

utilizar a internet. Uma vez que toda a informação

está na rede – ou seja, o conhecimento codificado,

mas não aquele de que se necessita -, trata-se antes

de saber onde está a informação, como buscá-la,

como transformá-la em conhecimento específico

para fazer aquilo que se quer fazer. Essa

capacidade de aprender a aprender; essa

capacidade de saber o que fazer com o que se

aprende; essa capacidade é socialmente desigual e

está ligada à origem social, à origem familiar, ao

nível cultural, ao nível de educação. É aí que está,

empiricamente falando, a divisória digital neste

momento”.

5 Brasil supera a marca de 80 milhões de internautas no 1º trimestre de 2012.

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/06/brasil-supera-marca-de-80-milhoes-de-internautas-no-1-

trimestre-de-2012.html. Acessado em 09/11/2012 às 4:50.

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Com o elevado número de usuários na rede, a busca por informação é cada vez

mais constante, deste modo saber filtrar as fontes de notícias e criar senso crítico acerca

do que se lê na Internet é fundamental na atualidade.

Conclusão

Como a busca pela velocidade na informação faz com que se percam os valores

principais que geram qualidade na notícia, saber filtrar o conhecimento e buscá-lo em

mais de uma fonte é importante para que ao se manter atualizado, o usuário obtenha a

visão real dos fatos, sem distorções e imprecisões. Com as redes sociais, compartilhar as

notícias porpociona maior facilidade de distribuição do conhecimento, e gera a

possibilidade de uma sociedade cada vez mais bem informada. Entretanto, é preciso

estar atento à realidade como um todo, não a apenas um grupo. O uso dos portais de

notícia na internet facilita o acesso à informação, entretanto, senso crítico e

conhecimento são fundamentais, afinal faltam ainda aos grandes portais maior cuidado

com a apuração dos fatos e maior objetividade nos textos. O jornalismo on-line é uma

forma prática e barata de informação, apesar disso, ainda falta muito para que se possa

tomá-lo como único modo de se manter informado. Na verdade, não se pode tomar uma

única mídia como fonte, em um mundo repleto de tecnologias e possibilidades de

acesso à informação, quanto mais versões de um fato se obtêm, maior o conhecimento

sobre o mesmo, e conhecimento nunca é demais.

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Referências bibliográficas

ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1984.

Katz, E. O fluxo de comunicação em dois níveis: memória actualizada de uma

hipótese, in João Pissarra Esteves (org.), Comunicação e Sociedade. Os efeitos sociais

dos meios de comunicação de massa. Lisboa, Livros Horizonte, 2002, p. 61.

Castells, M. Internet e sociedade em rede. In Dênis de Moraes (org.), Por uma

outra comunicação – mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro, Ed. Record,

2004.

Ziller, J. Velocidade e credibilidade: algumas consequências da atual

estruturação do webjornalismo brasileiro. In: VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da

Intercom, 2006. Artigo. UnB, 2006.

Soster, D. A. O webjornalismo e o paradoxo da velocidade. In: IV Encontro dos

Núcleos de Pesquisa da Intercom, 2006. Artigo. UnB, 2006.

Serra, J. P. Manual da teoria de comunicação. Livros Labcom. Universidade

da Beira Interior, 2007.