Artigo Juliana Da Silva Rodrigues

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Juliana da Silva Rodrigues, [email protected] Engenheira Agrícola Pós Graduanda em Análise e Gestão do Meio Ambiente Faculdade Araguaia - Goiânia Goiás ESTUDO HIDROLÓGICO DE UMA BARRAGEM DE TERRA PARA IRRIGAÇÃO NO RIBEIRÃO CAPIM PUBA AFLUENTE DO RIO SÃO MARCOS EM CRISTALINA-GOIÁS Juliana da Silva Rodrigues RESUMO: A gestão de recursos hídricos assegura a qualidade e disponibilidade da água, que constitui um direito de todos. O adequado dimensionamento de barragens com suas vazões afluentes, vazões regularizadas, vazões captadas e volume evaporado auxilia na gestão da água, otimiza sua utilização e evita o conflito em relação aos recursos hídricos. O presente estudo tem por objetivo atender o estudo metodológico e orientações da secretária do meio ambiente e recursos hídricos de Goiás com vistas à obtenção de outorga de água e cálculos básicos para dimensionamento do volume de água a ser armazenado em barramento de terra para irrigação visando melhor utilização/otimização dos recursos hídricos superficiais. Palavras - Chave: Outorga, Meio Ambiente, Barragens, Irrigação.

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Juliana da Silva Rodrigues, [email protected] Engenheira Agrícola Pós Graduanda em Análise e Gestão do Meio Ambiente

Faculdade Araguaia - Goiânia Goiás

ESTUDO HIDROLÓGICO DE UMA BARRAGEM DE TERRA PARA

IRRIGAÇÃO NO RIBEIRÃO CAPIM PUBA AFLUENTE DO RIO SÃ O

MARCOS EM CRISTALINA-GOIÁS

Juliana da Silva Rodrigues

RESUMO: A gestão de recursos hídricos assegura a qualidade e disponibilidade da

água, que constitui um direito de todos. O adequado dimensionamento de barragens

com suas vazões afluentes, vazões regularizadas, vazões captadas e volume evaporado

auxilia na gestão da água, otimiza sua utilização e evita o conflito em relação aos

recursos hídricos. O presente estudo tem por objetivo atender o estudo metodológico e

orientações da secretária do meio ambiente e recursos hídricos de Goiás com vistas à

obtenção de outorga de água e cálculos básicos para dimensionamento do volume de

água a ser armazenado em barramento de terra para irrigação visando melhor

utilização/otimização dos recursos hídricos superficiais.

Palavras - Chave: Outorga, Meio Ambiente, Barragens, Irrigação.

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INTRODUÇÃO

A gestão de recursos hídricos visa solucionar conflitos relacionados à utilização da

água corrigindo, a partir de instrumentos técnicos e legais, o desequilíbrio espacial e temporal

entre disponibilidades e demandas hídricas. Deve ser estabelecido um mecanismo e adotadas

ferramentas que permitam a transparência do processo, de maneira a não suscitar conflitos

entre os distintos usuários (LEÃO et al 2011).

Para a emissão de outorgas de direito de uso de recursos hídricos, o órgão gestor

necessita conhecer e/ou estimar as disponibilidades hídricas em determinada bacia

hidrográfica e, por meio de critérios técnicos, verificar a possibilidade de atender às demandas

dos diversos usuários da água, conhecendo os efeitos das respectivas intervenções autorizadas

em relação a um estado antecedente do corpo hídrico (MANUAL TÉCNICO DE OUTORGA

DA SEMARH GOIÁS, 2011).

O estudo hidrológico apresentado a seguir tem por objetivo dimensionar o volume de

água necessário a ser armazenado em uma barragem existente no Ribeirão Capim Puba

seguindo as orientações sugeridas pelo órgão gestor do meio ambiente e dos recursos hídricos

do Estado de Goiás para atendimento de demanda para irrigação de culturas diversas em uma

propriedade rural localizada em Cristalina - Goiás tendo em vista principalmente a

regularização de vazão e a otimização na utilização de recursos hídricos de forma adequada a

garantir a disponibilidade hídrica e manutenção da qualidade da água a todos os usuários.

Demonstra-se a necessidade do estudo em virtude da produção sempre crescente de

alimentos, sendo que a alternativa está na produção agrícola sob irrigação, que tem

possibilitado um número maior de safras por ano, principalmente em países do hemisfério sul.

Tendo em vista ser o setor agrícola o maior consumidor de água e como esta é o componente

essencial e estratégico ao desenvolvimento da agricultura, o controle e a administração

adequados e confiáveis possibilitarão o manejo justo e equilibrado, preservando a sua

qualidade. (PAZ et al, 2000).

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MATERIAIS E MÉTODOS

Área de Estudo

A área de estudo está localizada na Bacia Hidrográfica Rio São Marcos Código Otto

nível 84996. O ponto está no Ribeirão Capim Puba que deságua no Córrego da Chácara

Afluente do Rio São Marcos. Após o rio Paranaíba tornar-se limítrofe estadual (Goiás e

Minas Gerais), ele recebe o rio São Marcos, um dos principais tributários da margem direita.

O São Marcos é um dos quatro rios de esfera federal da bacia hidrográfica do rio Paranaíba,

sendo formado a partir do córrego Samambaia, que nasce a uma altitude de cerca de 1.000 m,

em território do Distrito Federal. Desde sua nascente, até o encontro com o rio Paranaíba,

percorre uma distância de cerca de 480 km (SILVA et al, 2013). Foram utilizados para

visualização e exportação de dados fluviométricos da bacia o software livre Hidro 1.2

disponível em http://hidroweb.ana.gov.br/ e o software Microsoft Office Excel 2013 para

cálculos de regionalização. O mapa de drenagem da Bacia foi obtido através de imagens

SRTM Embrapa. A modelagem numérica do terreno foi extraída utilizando os Softwares

Spring e Surfer para obtenção de curvas de nível com desnível de 5 em 5 metros (Figura 01) e

mapa de drenagem obtido através de carta topográfica do Exército com curvas de nível de 40

em 40 metros (Figura 02).

Figura 01 – Mapa de drenagem da bacia da área de estudo

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Figura 02 – Mapa de drenagem da bacia da área de estudo

Para o estudo da disponibilidade hídrica foi utilizada a estação fluviométrica

60020000 (Figura 03) mantida pela Ana. Possui dados fluviométricos de 1966 a 2007 e área

de drenagem da Bacia de 442.000,00 hectares. Está inserido na Bacia Hidrográfica do Rio São

Marcos.

Figura 03 – Estação Fluviométrica da ANA

Fonte: http://hidroweb.ana.gov.br/ Acesso em: 25 de Maio de 2014.

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Para os cálculos básicos de dimensionamento foram seguidas as orientações sugeridas

pelo Manual técnico de outorga de água da Semarh Goiás.

Cálculos Básicos

Vi = VS – VE (m³)

Vi = [(V captado + V evaporado + V regularizado) – (V entrada)] (m³)

Onde:

Vi : volume acumulado necessário no mês i;

VS: volume de saída;

VE: volume de entrada;

V captado: volume captado;

V evaporado: volume evaporado;

V regularizado: volume regularizado;

V entrada: volume de entrada.

V captado i = Q captada i. T captação i (m³)

Onde:

V captado i: volume captado no mês i;

Q captada i: vazão capada no mês i;

T captação i: tempo de captação no mês i

V evaporado i = Lâmina Evaporada i/ A barramento (m³)

Onde:

V evaporado i: volume evaporado no mês i;

Lâmina Evaporada i: lâmina evaporada no mês i;

A barramento: área do barramento.

V regularizado i = Q regularizada i. Período mensal (m³)

Onde:

V regularizado: volume regularizado no mês i;

Q regularizada i: vazão regularizada no mês i (≥ Q95%);

Período mensal: horas/ mês.

V entrada i = Qme i. Período mensal

Onde:

V entrada i: volume de entrada no mês i;

Qme i: vazão média de entrada no mês i;

Período mensal: horas/ mês.

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V total: ΣVi... Vj

Onde:

V total: volume acumulado necessário total;

ΣVi... Vj : somatório dos volumes acumulados nos meses de captação.

A demanda de água para atendimento de irrigação de culturas diversas que constitui o

volume captado foi calculado conforme solicita a Nota Técnica n° 01/2013-SRH (Secretária

do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) que considera as necessidades hídricas da cultura

(Kc) evaporação e precipitação locais– Tabela 01.

A captação de água do reservatório para atendimento de irrigação ocorrerá somente

nos meses de Abril a Outubro conforme demonstrado na tabela 01.

Para obtenção dos dados de evapotranspiração de referência e precipitação - Tabela

02, e cálculos do volume evaporado foi utilizada a base de dados da FAO - Food and

Agriculture Organization of the United Nations. (FAOCLIM, disponível em:

ftp://ext-ftp.fao.org/SD/Reserved/Agromet/New_LocClim/)

Foi considerada como vazão regularizada no mês a vazão mínima com 95% de

garantia no tempo (Q95%). Essa vazão mínima com alta probabilidade de ocorrência fornece

maior garantia aos pleitos outorgados, permitindo ao usuário/requerente da outorga melhor

planejamento de seus investimentos.

Para o gerenciamento dos recursos hídricos é importante, ainda, o conhecimento das

vazões mínimas dos rios principais e seus afluentes, para aplicação do instrumento de outorga,

pois a repartição dos recursos hídricos disponíveis (outorgáveis) entre os diversos requerentes

deve ser feita com uma garantia de manutenção de fluxo residual nos cursos de água. Deste

modo, o estado de Goiás, por meio da resolução nº 09/2005, adotou como referência a vazão

mínima com 95% de garantia no tempo (Q95%) na análise dos pedidos de outorga

(MANUAL DE OUTORGA DA SEMARH GOIÁS,2011).

A regionalização da vazão na seção de interesse foi calculada utilizando o método

alternativo, conhecido como razão de área de drenagem e é apresentada na equação abaixo,

conforme Pereira (2004):

Qr = (Ay/Ax). Qrp em que:

Qr = vazão de referência em um ponto da bacia, m³/s;

Qrp = vazão de referência em uma estação fluviométrica próxima, m³/s;

Ay = área de drenagem da seção de interesse, km²;

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Ax = área de drenagem da seção conhecida, km².

Foi feita a regionalização de vazão da seção de interesse para as vazões mínimas a

serem regularizadas e para as vazões médias de longa duração (Tabela 06).

RESULTADOS

Tabela 01 – Demanda de Água para Irrigação Volume de Água Captado na Barragem (23 Pivôs Centrais)

Área 1.663,06 ha Mês Volume Tempo/Mês

Janeiro 00,00 m³/mês 00,00 horas/mês Fevereiro 00,00 m³/mês 00,00 horas/mês

Março 00,00 m³/mês 00,00 horas/mês Abril 480.110,62 m³/mês 160,04 horas/mês Maio 970.231,97 m³/mês 323,41 horas/mês Junho 1.013.801,38 m³/mês 337,93 horas/mês Julho 1.145.183,12 m³/mês 381,73 horas/mês

Agosto 1.372.578,85 m³/mês 457,53 horas/mês Setembro 1.132.931,44 m³/mês 377,64 horas/mês Outubro 150.939,62 m³/mês 50,31 horas/mês

Novembro 00,00 m³/mês 00,00 horas/mês Dezembro 00,00 m³/mês 00,00 horas/mês

Total 6.265.776,99 m³/ano 2.088,59 horas/ano

Tabela 02 – Dados Evaporação e Precipitação Mês Evaporação Precipitação Abril 114,83 mm 91,46 mm Maio 104,07 mm 34,45 mm Junho 91,44 mm 12,48 mm Julho 103,29 mm 14,83 mm

Agosto 123,8 mm 15,18 mm Setembro 125,43 mm 41,81 mm Outubro 134,03 mm 141,14 mm

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Tabela 03 - Dados da Estação da ANA

Mês Média mensal de longa duração Estação

Q95% Estação

Abril 99,86 m³/s 39,60 m³/s Maio 63,60 m³/s 25,80 m³/s Junho 45,97 m³/s 20,80 m³/s Julho 36,21 m³/s 13,40 m³/s

Agosto 27,87 m³/s 10,10 m³/s Setembro 23,91 m³/s 9,74 m³/s Outubro 28,68 m³/s 11,50 m³/s

Para os cálculos da área de estudo foi necessário escolher a área da bacia inundada que

contenha no mínimo o volume de água a ser captado de 6.265.776,99 m³/ano. No caso área de

141,09 ha que armazena 6.950.534,14 m³ de acordo com a tabela 04 obtida através de

levantamento planiatimétrico da bacia de acumulação.

Tabela 04 – Volume de Água Possível de ser Acumulado no Barramento

Cota Comprimento Aterro Área Volume Vol. Acumulado 898,00 m 0,00 m 00,00 m² 00,00 m³ 00,00 m³ 914,00 m 620,36 m 1.036.258,27 m² 4.484.563,70 m³ 4.484.563,70 m³ 914,50 m 631,78 m 1.142.434,56 m² 544.673,21 m³ 5.029.236,91 m³ 915,00 m 663,06 m 1.237.627,29 m² 595.015,46 m³ 5.624.252,37 m³ 915,50 m 711,41 m 1.328.255,73 m² 641.470,75 m³ 6.265.723,13 m³ 916,00 m 729,40 m 1.410.988,32 m² 684.811,01 m³ 6.950.534,14 m³ 916,50 m 747,26 m 1.490.201,97 m² 725.297,57 m³ 7.675.831,71 m³ 917,00 m 759,61 m 1.565.937,13 m² 764.034,78 m³ 8.439.866,49 m³ 917,50 m 769,35 m 1.636.412,81 m² 800.587,49 m³ 9.240.453,98 m³ 918,00 m 779,09 m 1.703.550,90 m² 834.990,93 m³ 10.075.444,90 m³

Tabela 05 - Área de Estudo Estação 60020000 Área da Bacia (Estação) 442.000,00 ha Q95% Série Completa 16,40 m³/s Área da Bacia de Estudo 6.504,00 ha Q especifica Série Completa 0,0000371 m³/s.ha Q95%regionalizada Série Completa 0,2413 m³/s

Área Inundada da Bacia 141,09 ha

Área Irrigada Total 1.663,06 ha

Volume Total Captado p/ Irrigação 6.265.776,99 m³

Volume Água Captado Irrigação/Área 3.767,62 m³/ha

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Tabela 06 - Dados Regionalizados a partir da Estação para Seção de Interesse

Mês Média mensal de longa duração regionalizada

Q95% Regionalizada

Abril 1,47 m³/s 0,583 m³/s Maio 0,94 m³/s 0,380 m³/s Junho 0,68 m³/s 0,306 m³/s Julho 0,53 m³/s 0,197 m³/s

Agosto 0,41 m³/s 0,149 m³/s Setembro 0,35 m³/s 0,143 m³/s Outubro 0,42 m³/s 0,169 m³/s

Tabela 07 – Volume de Saída na Barragem

Mês Volume

Regularizado Volume Captado Volume

Evaporado Volume de Saída

Abril 1.510.387,72 m³ 480.110,62 m³ 162.023,79 m³ 2.152.522,12 m³

Maio 1.016.841,83 m³ 970.231,97 m³ 146.841,55 m³ 2.133.915,36 m³

Junho 793.337,96 m³ 1.013.801,38 m³ 129.020,77 m³ 1.936.157,11 m³

Julho 528.127,15 m³ 1.145.183,12 m³ 145.740,98 m³ 1.819.051,25 m³

Agosto 398.065,99 m³ 1.372.578,85 m³ 174.680,35 m³ 1.945.325,19 m³

Setembro 371.494,35 m³ 1.132.931,44 m³ 176.980,27 m³ 1.681.406,05 m³

Outubro 453.243,45 m³ 150.939,62 m³ 189.114,77 m³ 793.297,83 m³

Tabela 08 – Volume de Entrada na Barragem

Mês Volume Afluente Volume de Entrada

Abril 3.808.797,90 m³ 3.808.797,90 m³ Maio 2.506.612,66 m³ 2.506.612,66 m³ Junho 1.753.387,41 m³ 1.753.387,41 m³ Julho 1.427.014,49 m³ 1.427.014,49 m³

Agosto 1.098.559,85 m³ 1.098.559,85 m³ Setembro 912.005,33 m³ 912.005,33 m³ Outubro 1.130.242,12 m³ 1.130.242,12 m³

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Tabela 09 - Volume a ser acumulado no Barramento

Mês Volume de Saída Volume de Entrada

Balanço Hídrico

Volume Acumulado

Abril 2.152.522,12 m³ 3.808.797,90 m³ -1.656.275,77 m³ 0,0 m³

Maio 2.133.915,36 m³ 2.506.612,66 m³ -372.697,30 0,0 m³

Junho 1.936.157,11 m³ 1.753.387,41 m³ 182.769,70 m³ 182.769,70 m³

Julho 1.819.051,25 m³ 1.427.014,49 m³ 392.036,75 m³ 392.036,75 m³

Agosto 1.945.325,19 m³ 1.098.559,85 m³ 846.765,33 m³ 846.765,33 m³

Setembro 1.681.406,05 m³ 912.005,33 m³ 769.400,71 m³ 769.400,71 m³

Outubro 793.297,83 m³ 1.130.242,12 m³ -336.944,28 m³ 0,0 m³

Volume Total Necessário a ser Armazenado no Barramento 2.190.972,51 m³/ano

O volume mínimo acumulado na barragem para atender a área irrigada deve ser de

2.190.972,51 m³/ano. De acordo com o quadro do volume de água possível de ser acumulado

no barramento Tabela 04 obtido através de levantamento planiatimétrico da bacia de

acumulação da barragem é suficiente uma barragem com área inundada de 103,62 ha nível de

água na cota 914 m e volume de água armazenado de 4.484.563,70 m³/ano.

A vazão a jusante do barramento deve ser igual ou no mínimo a vazão representada

pela Q95% da série completa 0,2413 m³/s ou 868 m³/h que constitui a vazão regularizada pelo

barramento. Essa vazão é igualada ou excedida em 95% do tempo e deve ser controlada

através de registro e hidrômetro instalado na descarga de fundo a jusante do barramento.

A barragem no Ribeirão Capim Puba demonstra a questão da importância do

dimensionamento adequado dos barramentos, não se deve considerar apenas os aspectos

construtivos, mas principalmente o estudo e análise hidrológica para a implantação de uma

barragem de terra para irrigação. Esse estudo que determina o volume e área do barramento

para então proceder nos dimensionamentos referentes aos aspectos de construção. A

Barragem no Ribeirão Capim Puba possui nível da água na cota 917,50 m área inundada de

163,64 ha e volume acumulado de água de 9.240.453,98 m³. Ela foi superdimensionada,

inunda uma área bem superior ao que seria necessário e acumula um excedente de água que

poderia estar sendo disponibilizado para outros usuários a jusante do barramento através da

vazão de saída.

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DISCUSSÃO

O dimensionamento do volume de água conforme demonstrado no estudo otimiza a

utilização dos recursos hídricos, pois dimensiona o volume do barramento exatamente

conforme a necessidade a atender, consistindo em uma das formas inicias que devem constar

na parte de concepção de projeto para a mitigação de impactos ambientais do

empreendimento. Também permiti os demais aproveitamentos dos recursos hídricos aos

outros usuários a jusante. As Barragens são capazes de armazenar água nos períodos úmidos e

de liberar parte do volume armazenado nos períodos de estiagem, tornando disponível uma

maior quantidade de água quando ela seria naturalmente menor. Consistindo essa vazão de

saída na vazão regularizada que é a quantidade de água que pode ser fornecida por um

reservatório com uma determinada segurança, considerado o período de dados da série

histórica de vazões afluentes. (DISPONIBILIDADE E DEMANDAS DE RECURSOS

HÍDRICOS NO BRASIL, 2007).

Para dimensionamento de barragens seja qualquer finalidade deve-se considerar os

volumes afluentes representados pelas vazões médias de longa duração e os volumes de saída

como a evaporação e o volume regularizado. Seguindo os parâmetros e orientações do

Manual de Outorga da Semarh e demais estudos da área é possível dimensionar barragens

menores que causem menos impactos no meio ambiente, auxiliando na gestão dos recursos

hídricos com a disponibilização da água e seus diversos usos para maior quantidade de

usuários e aproveitamento mais eficiente dos recursos hídricos. Constituindo o

estabelecimento do balanço de recursos e necessidades de água em uma bacia hidrográfica

ação fundamental para uma adequada gestão de recursos hídricos.

O conjunto de instalações, denominadas postos ou estações, constitui as redes

hidrométricas e /ou hidro meteorológicas cujos dados são essenciais para a qualidade dos

estudos hidrológicos. No Brasil, as principais entidades produtoras de dados hidrológicos e

hidro meteorológicos são a Agência Nacional de Águas (ANA), cuja parte da rede é operada

pela CPRM – Serviço Geológico do Brasil, e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

Outras redes, de menor extensão, são mantidas por companhias energéticas ou companhias de

serviços de saneamento (NAGHETINNI, 2007). Deste modo, as estações utilizadas pela

Gerência de Outorga na obtenção dos dados necessários à determinação das disponibilidades

hídricas são, em sua maioria, as mantidas pela ANA (Agência Nacional das Águas) e

disponibilizadas em seu portal http://www.ana.gov.br, através do software on line

“Hidroweb”. Dentre a rede hidrométrica disponível, geralmente adota-se estações com no

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mínimo 20 anos de dados, próximas ao local de captação e preferencialmente inseridas na

mesma bacia hidrográfica (MANUAL TÉCNICO DE OUTORGA DA SEMARH GOIÁS,

2011).

A regularização das vazões naturais é um procedimento que visa a melhor utilização

dos recursos hídricos superficiais. Para esse fim, é necessário promover-se o represamento das

águas, através da construção de barragens em seções bem determinadas dos cursos d’água

naturais. Com a regularização das vazões por meio da construção de barragem (formação de

reservatório) visa-se, ainda, atingir vários outros objetivos, destacando-se: o atendimento às

necessidades do abastecimento urbano ou rural (irrigação); o aproveitamento hidroelétrico

(geração de energia); a atenuação de cheias (combate às inundações); o controle de estiagens;

o controle de sedimentos; a recreação; e, também, permitir a navegação fluvial. Toda vez que

o aproveitamento dos recursos hídricos prevê a retirada de uma vazão de uma dada magnitude

de um rio, deve-se confrontar este valor com as vazões naturais deste curso d’água. Se as

vazões naturais forem significativamente maiores que a retirada, mesmo durante os períodos

de estiagem (vazões naturais mínimas), não haverá a necessidade da regularização de vazão.

Neste caso, somente se justificaria a implantação de um reservatório de acumulação

para, por exemplo, atenuar os efeitos de enchentes a jusante (controle de vazões máximas), e

o controle de níveis d’água e de transporte de sedimentos. Contudo, se a vazão a ser retirada é

superior à mínima do curso d’água, necessário se torna a reservação dos excessos sobre a

vazão derivada para atender aos períodos cujas vazões naturais são menores que aquelas

derivadas. A operação de um reservatório de acumulação, que recebe vazões muito variáveis

no tempo, quando se deseja retirar uma vazão constante, ou não muito variável, é, de fato,

uma regularização de vazões (MANUAL TÉCNICO DE OUTORGA DA SEMARH GOIÁS,

2011).

Figura 4 – Reservação para regularização de vazão em um curso d’água natural.

Hidrologia Aplicada- Regularização de vazão Prof. Antenor R. Barbosa Jr.

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A vazão regularizada é a quantidade de água que pode ser fornecida por um

reservatório com uma determinada segurança, considerado o período de dados da série

histórica de vazões afluentes. Do ponto de vista teórico, a maior vazão que pode ser

regularizada é a vazão natural média. Entretanto, a vazão regularizada também é função das

condições de operação dos reservatórios, que depende diretamente dos seus usos múltiplos,

que pode incluir a geração de energia, abastecimento humano, irrigação e o amortecimento de

cheias, entre outros. (DISPONIBILIDADE E DEMANDAS DE RECURSOS HÍDRICOS NO

BRASIL,2007).

Para a emissão de outorgas de direito de uso de recursos hídricos é necessária a

quantificação das disponibilidades hídricas. O potencial hídrico superficial de uma bacia pode ser

estimado conhecendo-se as vazões médias de longo período dos cursos de água que constitui a

vazão de entrada, cujos dados podem ser obtidos por meio das informações geradas nos postos

hidrométricos. A vazão média de um rio é a maior vazão que pode ser regularizada e caracteriza a

variabilidade anual, possibilitando o dimensionamento de reservatórios de água destinados ao

abastecimento doméstico e ao suprimento da agricultura irrigada (MANUAL DE OUTORGA

DA SEMARH GOIÁS,2011).

Para suprir a deficiência da rede hidrométrica no Brasil, uma técnica que tem sido

utilizada com resultados satisfatórios é a regionalização hidrológica (ELETROBRÁS,1985).

De acordo com Fill (1987), em sentido amplo entende-se por regionalização hidrológica

qualquer processo de transferência de informações das estações pluviométricas e

fluviométricas para outros locais, em geral sem observações. Essa transferência pode abranger

diretamente as séries de vazões e/ou, precipitações, ou até mesmo determinados parâmetros

estatísticos relevantes, tais como: média, variância, máximos e mínimos ou, ainda equações e

parâmetros com estas estatísticas.

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CONCLUSÃO

O balanço da demanda e da disponibilidade de recursos hídricos é essencial para tomar

a adequada e eficiente decisão de implantação de uma barragem para irrigação. Constitui uma

ferramenta para gestão dos recursos hídricos, aproveitamento eficiente do recurso,

preservação do meio ambiente e sua disponibilização a todos os usuários.

A análise hidrológica do balanço de água para o eficiente dimensionamento do volume

de água armazenado no barramento depara-se com algumas dificuldades principalmente a

escassez de estações fluviométricas que disponibilizem dados para pequenas bacias locais,

recorrendo à metodologia de regionalização de vazão que consiste em um processo de

transferência de informações espaciais de uma bacia para outra bacia que não possui dados e

apresenta características hidrológicas semelhantes como relevo e bacia hidrográfica. Existe a

necessidade de mais estações fluviométricas que possibilitem o estudo de forma eficiente e

com menor possibilidade de erros ao transferir dados de uma bacia maior para uma bacia local

menor, além da simplificação das técnicas utilizadas para regionalização comparando

resultados obtidos para a regionalização das séries históricas e suas estatísticas com o objetivo

de minimizar os erros.

As barragens de terra com finalidade para irrigação são muito comuns no Estado de

Goiás principalmente em cursos d’água onde não é possui a captação direta devido à escassez

e limitação dos recursos hídricos, constituindo a formação dos barramentos uma alternativa

para a agricultura irrigada. Com aumento da produtividade advindo da agricultura irrigada

evita-se a abertura e desmatamento de novas áreas para plantio e produzem-se culturas

diversas o ano todo.

A formação de barramentos permite a regularização de vazão, ou seja, garante a

jusante do barramento uma vazão mínima que é igualada ou excedida em 95% do tempo no

caso da legislação de recursos hídricos determinada no estado. Ressalta-se a importância do

isolamento da área de nascente e reflorestamento das margens das barragens. Dessa forma o

manancial ficará protegido e terá suas águas conservadas. A cobertura vegetal possui grande

importância na manutenção da qualidade da água e também uma relevante função ecológica,

além de contribuir para conservação da biodiversidade. A presença de vegetação ao longo dos

cursos d’água é fundamental, visto que influi em fatores como: a vazão, qualidade, equilíbrio

térmico da água e manutenção da estrutura física do solo. A camada orgânica formada pela

ciclagem de nutrientes e o aumento da porosidade do solo gerado pelas raízes das plantas

proporcionam maior infiltração da água, mantendo a capacidade de armazenamento da bacia

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hidrográfica. Esses fatores também são relevantes para a proteção do solo, visto que tornam as

margens mais estáveis e evita-se a erosão.

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