Artigo Chicueia Ivan Remane (BSc)

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Práticas agroflorestais na aldeia de Chicueia do Posto Administrativo de Machipanda Remane, I. A. D 1 . & Bila, A. D 2 . 1 Engenheiro Florestal, Universidade Eduardo Mondlane, C. P 257, Maputo, Moçambique, [email protected] 2 Professor Associado, Universidade Eduardo Mondlane, C. P 257, Maputo, Moçambique. [email protected] Resumo O presente trabalho teve como objectivo geral fazer o levantamento das práticas agroflorestais tradicionais existentes no Posto Administrativo de Machipanda. O estudo foi realizado na aldeia de Chicueia na qual foram entrevistados 38 agregados familiares. O levantamento de dados foi feito através de um inquérito que inclui perguntas sobre a componente das práticas agroflorestais, principais espécies, principais usos da componente perene e disposição espacial e temporal dos componentes. As principais práticas identificadas em Chicueia foram hortas caseiras (29%), pequenas matas (5%), aquaflorestas (3%), cultivo em faixas (5%), árvores em terraços irrigados (24%), cercas vivas (13%) e árvores de uso múltiplo em áreas de cultura (21%). As principais espécies agrícolas cultivadas em Chicueia são, o feijão vulgar (74%), milho (66%), couve (63%), cebola (53%) e repolho (47%). As principais fruteiras são, a manga (68%), a banana (58%), o abacate (55%) e a goiaba (50%). As principais espécies florestais utilizadas em Chicueia são Syzygium spp. (16%) e Pericopsis angolensis (16%). Os animais identificados em Chicueia foram: boi, cabrito, cabrito do mato, galinha e peixe. O arranjo espacial variou de misto à zonal e o temporal de intermitente, interpolado à concomitante. Os principais usos da componente perene identificados na área foram alimentação, Forragem, Vedação, Medicamentos, Fixação do solo, Madeira, Lenha e Sombra sendo a alimentação o principal uso Palavras Chaves: Práticas agroflorestais, Posto administrativo de Machipanda, Aldeia de Chicueia.

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Práticas agroflorestais na aldeia de Chicueia do Posto Administrativo

de Machipanda

Remane, I. A. D1. & Bila, A. D

2.

1 Engenheiro Florestal, Universidade Eduardo Mondlane, C. P 257, Maputo,

Moçambique, [email protected] 2 Professor Associado, Universidade Eduardo Mondlane, C. P 257, Maputo,

Moçambique. [email protected]

Resumo

O presente trabalho teve como objectivo geral fazer o levantamento das práticas

agroflorestais tradicionais existentes no Posto Administrativo de Machipanda. O estudo

foi realizado na aldeia de Chicueia na qual foram entrevistados 38 agregados

familiares. O levantamento de dados foi feito através de um inquérito que inclui

perguntas sobre a componente das práticas agroflorestais, principais espécies, principais

usos da componente perene e disposição espacial e temporal dos componentes. As

principais práticas identificadas em Chicueia foram hortas caseiras (29%), pequenas

matas (5%), aquaflorestas (3%), cultivo em faixas (5%), árvores em terraços irrigados

(24%), cercas vivas (13%) e árvores de uso múltiplo em áreas de cultura (21%). As

principais espécies agrícolas cultivadas em Chicueia são, o feijão vulgar (74%), milho

(66%), couve (63%), cebola (53%) e repolho (47%). As principais fruteiras são, a

manga (68%), a banana (58%), o abacate (55%) e a goiaba (50%). As principais

espécies florestais utilizadas em Chicueia são Syzygium spp. (16%) e Pericopsis

angolensis (16%). Os animais identificados em Chicueia foram: boi, cabrito, cabrito do

mato, galinha e peixe. O arranjo espacial variou de misto à zonal e o temporal de

intermitente, interpolado à concomitante. Os principais usos da componente perene

identificados na área foram alimentação, Forragem, Vedação, Medicamentos, Fixação

do solo, Madeira, Lenha e Sombra sendo a alimentação o principal uso

Palavras Chaves: Práticas agroflorestais, Posto administrativo de Machipanda, Aldeia

de Chicueia.

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1.INTRODUÇÃO

Moçambique é um país em vias de desenvolvimento que tem sofrido sérios problemas

de desmatamento, fundamentalmente causada pela actividade humana. O desmatamento

é directamente causado pela acção do homem sobre a natureza, principalmente devido à

destruição de florestas para a obtenção de solo para cultivos agrícolas e pela extracção

da indústria madeireira (Marzoli, 2007). Devido a falta de um planeamento adequado

para sua execução resultam, principalmente, em perdas de solo das camadas mais

férteis, em sua maioria, que podem chegar a 200 Mg/ha/ano (Franco & Campello,

2005).

Segundo Marzoli (2007) a taxa média anual de desmatamento em Moçambique é de

0,58%, o que significa que o país perde, por ano, cerca de 219 mil hectares de cobertura

florestal sendo a Província de Inhambane a que apresenta os valores mais baixos

(11,000 hectares por ano) e a Província de Nampula a que apresenta os valores mais

altos com cerca de 33,000 hectares por ano. Em termos relativos a taxa anual mais baixa

é encontrada em Niassa (0.22%) e a mais alta em Maputo (1.67%).

O crescente aumento da exploração de áreas verdes, leva-nos à busca de soluções

sustentáveis para a continuidade dessa actividade pelas gerações vindouras. A demanda

por sistemas agroflorestais muitas vezes está ligada a grande exploração que ocorre ao

longo do país, ocasionada, principalmente por pequenos produtores, em áreas florestais,

sem que haja o adequado planeamento dessa actividade (Embrapa, 2007).

Os sistemas agroflorestais têm sido praticados em todas as partes do mundo desde

tempos imemoriais e têm sido usada como estratégia de desenvolvimento rural nos

trópicos e de mitigação dos vários problemas que advêm da pressão humana sobre os

recursos (Nair, 1993).

Segundo Sanchez (1987) os sistemas agroflorestais são geralmente adoptados para

melhorar as propriedades físicas e químicas do solo. Esse mesmo autor acrescenta que a

junção de árvores com culturas anuais ou animais numa mesma unidade de maneio de

terra proporcionam uma maior protecção do solo contra a erosão, uma maior reciclagem

de nutrientes e mantém a matéria orgânica do solo tornando-o mais fértil.

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Em geral as espécies ou proveniências escolhidas para introduzir num sistema

agroflorestal devem possuir um alto potencial de fixação de Nitrogénio, serem

tolerantes as limitações ambientais, especialmente níveis baixos de nutrientes e

resistência ao ataque de pragas (Dommergues, 1987).

Os sistemas agroflorestais são pouco exigentes em relação a insumos agrícolas e

proporcionam um maior rendimento das culturas agrícolas visto que parte das árvores

que compõem o sistema melhoram a fertilidade do solo (Sanchez, 1987).

O presente trabalho tem como objectivo geral, fazer o levantamento das práticas

agroflorestais tradicionais existentes no Posto Administrativo de Machipanda.

2.MATERIAS E MÉTODOS

2.1 Descrição da área de estudo

O estudo foi realizado no posto administrativo de Machipanda do Distrito de Manica

localizado à aproximadamente 25 Km da sede do distrito, a 6 Km da fronteira com o

Zimbabué e a 18o59”19’ Sul e 32

o44”3’ Este ( Figura 1).

Figura 1: Localização da área de estudo

O clima é tropical húmido, a precipitação média anual varia entre 1000 - 1020 mm. A

temperatura média anual é de 21.2 oC. Machipanda é constítuido por cadeias

montanhosas que chegam a atingir cerca de 1500 – 2000 m de altitude (MAE, 2005).

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Os solos são argilosos vermelhos óxicos ou castanhos avermelhados, profundos, bem

drenados. Nos declíves superiores, cumes das montanhas e nos afloramentos rochosos

os solos são líticos, com textura franco-arenosa, pouco profundos e de drenagem

excessiva. Os solos em geral apresentam baixa fertilidade e um alto risco de erosão

(MAE, 2005).

A vegetação do posto administrativo de Machipanda pode ser enquadrada segundo

Marzoli (2007) na zona ecológicas do tipo 1, florestas húmidas de montanha e miombo

húmido. Em geral estas formações apresentam três estractos (Arbóreo, herbáceo e

graminal) e são dominados por Pteleopsis myrtifolia, Erythrophleum, Newtonia e

Millettia.

2.2 Levantamento de dados

O levantamento de dados foi feito com base num questionário no qual foi dirígido as

famílias que praticam a agricultura de subsistência e que tinham a componente perene

em seus campos.

As entrevistas foram feitas com a ajuda de um tradutor pois a maioria dos agricultores

só fala a língua local. Segundo Pijnenburg & Cavane (2000) a presença de um tradutor

é uma vantagem visto que este é alguém conhecido na zona e evita a desconfiança por

parte dos respondentes.

Para complementar e cruzar os dados, fez-se a observação directa nas machambas dos

entrevistados.

Para determinar o número de agregados familiares a serem entrevistados usou-se uma

amostragem de modo que se obtivessem resultados estatísticamente representativos da

população do posto administrativo de Machipanda. Para a amostragem usou-se a

seguinte fórmula:

C 1)-(N+ p)] -[p(1 Z

N p)] -[p(1 Z

2

p

2

2

n

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Onde:

n- Tamanho da amostra;

Zα – Nível de confiança escolhido com o nível de certeza de 95% (1,96)

p – Percentagem com qual o fenómeno se verifica (50%)

N – Numero total da população

Cρ – Margem de erro (5%)

Esta fórmula é usada para populações abaixo de 100.000 habitantes na qual são

consideradas populações finitas e pequenas (Rea e Parker, 1997).

Machipanda apresenta um número total de 44911 habitantes (INE, 1997) e com base na

formúla acima foram necessários 381 agregados familiares. Com base no número de

habitantes de cada aldeia estratificou-se a amostra para determinar-se o número de

agregados familiares a inquerir por aldeia. A estratificação seguiu as mesmas

porporções que existem no posto admnistrativo, isto é, a percentagem que o número de

habitantes da aldeia (2074) representa em relação ao número total de habitantes de todo

o posto e o número de agragados familiares inquerido foi de 38.

2.3 Análise de dados

Para o processamento de dados usou-se o pacote estatístico SPSS na qual criou-se uma

base de dados de modo que se gerassem frequências.

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Características dos agregados familiares

A Tabela 1 mostra o número de indíviduos entrevistado na aldeia por género.

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Tabela 1: Número de indivíduos entrevistados na aldeia de Chicueia por género.

Aldeia

Entrevistados Total

Mulheres Homens

Número % Número % Número

Chicueia 8 21 30 79 38

No total foram entrevistadas 38 pessoas na aldeia de Chicueia. Dos 38 entrevistados,

79% são homens e 21% mulheres.

3.2 Práticas agroflorestais na aldeia de Chicueia

A Tabela 2 mostra a frequência das práticas agroflorestais de acordo com a natureza dos

seus componentes na aldeia de Chicueia.

Tabela 2: Frequência das práticas agroflorestais segundo a natureza dos componentes

em Chicueia - Posto administrativo de Machipanda.

Práticas Número Frequência (%)

Agrisilvicultural 25 66

Agrosilvipastoríl 11 29

Silvipastoríl 2 5

Total 38 100

Em chicueia 66% das práticas agroflorestais apresentam culturas agrícolas combinadas

com espécies arbóres/arbustivas (agrisilvicultural), 29% das práticas incluem para além

das culturas agrícolas e essências florestais espécies animais (agrosilvipastorícia),

constituídos por gado bovino, caprino e galináceo. As práticas silvipastorís, isto é, a

combinação de animais e espécies florestais ocorrem com baixa frequência, apenas 5%.

Essas práticas são constituídas por espécies do género Eucalyptus e Pinus, colmeias

para a produção de mel (foto 1) e cabritos do mato.

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Foto 1: Colmeia para a produção de mel dentro dum “wood lot”

A Figura 1 mostra a frequência das culturas agrícolas encontradas nas práticas

agroflorestais em Chicueia.

Figura 1: Principais culturas agrícolas em Chicueia - Posto administrativo de

Machipanda.

Em Chicueia são cultivadas cerca de 16 espécies agrícolas sendo o feijão vulgar, o

milho, a couve, a cebola e o repolho as culturas mais cultivadas pelos agricultores,

representando 74%, 66%, 63%, 53%, 47% respectivamente.

Na opinião dos agricultores essas espécies são as mais preferidas pelos agricultores

devido ao elevado nível proteíco e pelo elevado uso ao nível da aldeia podendo sempre

haver troca de experiência entre eles para o combate de pragas e doenças assim como na

obtenção de sementes. Segundo MINAG (2006) o milho e o feijão são as culturas de

subsistência e mais culticvadas no País.

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A Figura 2 mostra a frequência das fruteiras presentes nas práticas agroflorestais em

Chicueia.

Figura 2: Principais fruteiras em Chicueia - Posto administrativo de Machipanda.

A manga é a fruteira mais cultivada pelos agricultores na aldeia de Chicueia, cerca de

68% dos agricultores utilizam esta espécie nas suas machambas. Muitos dos

agricultores utilizam a mangueira não só para a alimentação mas também para a

vedação de suas machambas daí que explica-se o grande uso da mesma. Outras espécies

como a banana (58%), abacate (55%) e goiaba (50%), são amplamente usadas devido ao

seu uso múltiplo.

A Figura 4 mostra a frequência das espécies florestais encontradas nas práticas

agroflorestais em Chicueia.

Figura 3: Principais espécies florestais em Chicueia - Posto administrativo de

Machipanda.

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Em Chicueia o Pericopsis angolensis e o Syzygium spp. representam as espécies

florestais mais usadas pelos agricultores em suas machambas (16%). Nota-se que estas

espécies florestais são muito pouco utilizadas pelos agricultores, havendo espécies

como a Azanza garckeana e Cocus nucifera que somente são utilizadas por 3% à 5%

dos agricultores.

A Tabela 3 apresenta as frequências dos principais usos da componente perene na aldeia

de Chicueia.

Tabela 3: Principais usos da componente perene na aldeia de Chicueia - Posto

administrativo de Machipanda.

Usos Número Frequência (%)

Alimentação 36 95

Forragem 5 13

Vedação 5 13

Medicamento 4 11

Fixação do solo 16 42

Melhorar a fertilidade do solo 0 0

Controle de Pragas 0 0

Madeira 2 5

Lenha 10 26

Sombra 1 3

Em relação aos usos, na aldeia de Chicueia a alimentação é o principal uso, sendo que

95% dos agricultores usam as espécies perenes para a alimentacão. Em Chicueia,

espécies como goiaba, manga, abacate, cana de açucar e banana representam a maioria

das espécies que as pessoas usam para a alimentação.

Na sua maioria os agricultores das aldeias de Chicueia pastam os seus animais em áreas

livres, o que ultimamente vem contríbuindo em grande parte para a degradação das

florestas, somente 13% dos agricultores na aldeia é que utilizam espécies cultivadas nas

suas áreas para a alimentação dos seus animais. Somente cabritos, galinha e peixes é

que benefeciam-se dos produtos da machamba, a papaia é a espécie mais utilizada para

a alimentação dos cabritos, a goiaba e o Syzygium spp. representam as espécies perenes

lenhosas mais usadas em Chicueia na alimentação dos peixes.

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Espécies como a Lantana camara, banana, abacate, mangueiras, cana de açucar, são

usadas na aldeia de Chicueia como cercas vivas nas machambas (foto 2). Cerca de 13%

dos agricultores de Chicueia vedam as suas áreas com estas espécies e outros recorrem a

arames. Zanoli et al. (2009), defende que esta espécie apesar de ser muito usada em

zonas tropicais como cercas vivas, é muito perigosa a saúde do homem visto que as suas

bagas são tóxicas e em animais pode causar fotossensibilização secundária

(hepatógena). A espécie Lantana camara, que se usa para sebes ornamentais, pode

ainda tornar-se numa erva daninha nociva para as próprias culturas (Verheij, 2005).

Foto 2: Lantana camara servindo como vedação de uma machamba

Poucas espécies perenes presentes nas machambas são utilizadas para o tratamento de

doenças, somente 11% das famílias em Chicueia é que afirmam recorrer a certas

espécies como a abacateira, o eucalipto, a bananeira para o tratamento das doenças. A

abacateira e o eucalipto são usadas por muitos agricultores como medicamento para a

cura da tosse, dores de cabeça e constipação.

Muitos dos agricultores de Chicueia utilizam a bananeira para a fixacao do solo (foto 3)

principalmente junto aos cursos de água alegando que esta protege o solo contra erosão.

Poucos agricultores recorrem ao uso do Capim vetiver para o controlo da erosão mas

esta possui raízes profundas que podem ir até 6m de profundidade o que aumenta a sua

estabilidade e permite que ela resista ao arrancamento pela força das águas. Além disso

esta espécie possui um colmo denso que premite a redução do escoamento superficial e

aumenta deste modo a infiltração (Coelho, 2005).

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Foto 3: Bananeiras plantadas ao longo do curso de água para evitar a erosão do do solo

Cerca de 26% dos entrevistados em Chicueia, utilizam os produtos da machamba como

conbustível lenhoso (Pericopsis angolensis), evitando desse modo recorrer as florestas

para a obtenção dos mesmos. Somente 3% das famílias entrevistadas é que usa as

arvores presentes nas machambas para a sombra.

As práticas agroflorestais mais comuns na aldeia de Chicueia são as hortas caseiras

(Homegardens), pequenas matas (woodlots), aquaflorestas, cultivo em faixas, árvores

em terraços irrigados, cercas vivas e árvores de uso múltiplo em áreas de cultura. De

seguida encontra-se uma breve descrição dessas práticas.

i. Hortas caseiras

Neste tipo de prática, os agricultores utilizam várias espécies, formando um sistema

multiestratificado. A maioria das espécies plantadas neste tipo de prática na aldeia de

Chicueia são fruteiras pois estas servem de alimentação para a família (foto 6). Fruteiras

como a Uapaca kirkiana, mangueira, goiabeira, litcheira, abacateira, papaeira, são

fortemente usadas nas hortas caseiras pelos agricultores devido a sua riqueza em

vitaminas e proteínas. Esta prática é usada por 29% dos agricultores. Nas hortas caseiras

a componente perene encontra-se distríibuida aleatoriamente ao longo da machamba daí

que o arranjo espacial é designado misto e o arranjo temporal é interpolado (a

componente arbórea está sempre presente e faz-se a rotação entre as culturas agrícolas e

por vezes estas encontram-se no campo ao mesmo tempo).

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Em relação as culturas agrícolas, culturas como feijão, milho, couve, repolho, batatas e

outras são as preferidas pelos mesmos. A componente animal nas hortas caseiras é

constítuida por animais como boi, cabrito, porco e galinha. Os bois, cabritos e porcos

ficam em áreas vedadas e as galinhas ficam dispersas nas machambas. Os agricultores

afirmam que as galinhas ajudam no controlo das ervas daninhas.

No primeiro estracto encontram-se espécies como a Uapaca kirkiana, Annona

senegalensis, Brachystegia Spp. e Combretum molle na qual servem para a producão de

lenha e frutos. No Segundo estracto encontram-se as fruteiras na qual servem para a

produção de frutos para a família e no último estracto da machamba encontram-se as

culturas agrícolas sendo algumas tolerantes a sombra (Inhame) e outras não tolerantes.

ii. Pequenas matas (woodlots)

Espécies como o Eucalyptus spp. e Pinus spp. são usadas nessas pequenas matas (foto7)

para a produção de estacas, longarinas, lenha, madeira e medicamentos. As espécies de

eucaliptos são plantadas com o espaçamento de 1,5 x 1,5 m, para a produção de

longarinas e lenha e para a produção de madeira é usado um espaçamento de 2,5 x 2,5

m. Dentro das pequenas matas existem colmeias destinadas à produção de mel e ao

redor das pequenas matas espécies como a Callistemon viminalis são plantadas para a

atracção de abelhas (foto 8).

Foto 7: Pequena mata de Eucalipto Foto 8: Abelha extraindo néctar na flor de Callistemon viminalis

Estes produtos são destinados a venda nos mercados locais e parte servem para o uso

familiar. As folhas de Eucalyptus spp. são usadas para fins medicinais para a cura de

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constipação. As pequenas matas de pinheiro servem para a produção de estacas e são

plantadas duma forma organizada (arranjo zonal) seguindo um espaçamento de 2,5 x 2,5

m. As folhas do pinheiro quando secas são utilizadas para a produção de uma fumança

na época de colecta do mel pois estas têm a capacidade de deixar as abelhas “fracas”.

Apenas 5% dos agricultores entrevistados é que possuem este tipo de prática e utilizam

essas áreas para a criação de cabritos do mato e para a produção de mel. Nas pequenas

matas o arranjo temporal é intermitente (a componente arbórea está sempre presente e a

agrícola vai chegando ao final do seu ciclo e cultivadas de novo, podendo ser a mesma

cultura ou uma outra.).

iii. Aquaflorestas (Aquicultura com árvores)

Esta prática consite em criar peixes em tanques e ao redor dos tanques plantar árvores

na qual as suas folhas e frutos vão caíndo dentro do tanque de modo que os peixes

possam alimentar-se. Na aldeia de Chicueia somente 3% dos agricultores é que possuem

tanques para a criação de peixes. Ao redor do tanque são plantadas espécies como a

goiaba, Syzygium spp, Ficus capensis e Lantana camara na qual os seus frutos caíem

dentro do tanque e os peixes alimentam-se (foto 9).

Foto 9: Tanque para a criação de peixes

Nota-se na foto 9 que as taludes dos tanques estam errodidas, isso por falta de vegetação

protectora ao longo dos tanques. O agricultor afirma que no momento em que ele faz a

colecta dos peixes tem que sempre retirar a areia de dentro do tanque.

A colecta é feita atráves da remoção de toda a água que encontra-se dentro do tanque,

abri-se um lado do tanque com enxadas e a água saí, após a retirada da água, colecta-se

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o peixe num curto espaço de tempo visto que estes dependem da água para a sua

respiração e após ter-se retirado os peixes, fecha-se o curso de saída de água e abri-se o

curso de entrada da água que encontra-se oposto ao curso de saída e ao lado tem um

caminho de água na qual o agriultor desvia do rio que serve como fonte de alimentaçã

de água para o tanque. Somente um entrevistado é que possui tanque para a criação de

peixes. Neste tipo de prática o arranjo espacial é misto e o temporal e intermitente.

iv. Cultivo em faixas

Os agricultores usam a laranjeira e a bananeira nas fileiras e entre estas plantam as

culturas agrícolas. Entre as fileiras de laranja são plantadas culturas como cebola,

tomate, couve e feijão e entre as fileiras de banana plantam a batata reno e a couve (foto

10). Os agricultores de Chicueia usam o cultivo em faixa como uma prática e não como

tecnologia. O espaçamento dentro das fileiras de laranja é de 8m e entre das filas é de

5,5m, no plantio da bananeira, o espacamento dentro das linhas é de 0,5m e entre as

filas é de 7m.

Foto 10: Cultivo em Faixas, Banana(fileiras) e Batata Reno e Repolho (entre as filas)

Os cultivos em faixas constituem práticas muito potenciais para todas as regiões

tropicais, especialmente em áreas com problemas de fertilidade ou com terrenos

declivosos. As fileiras únicas ou multiestratificadas de árvores são interplantadas entre

faixas largas (6-8 m) onde são cultivados o milho, o feijão, a mandioca, a soja, entre

outras culturas anuais. Geralmente são utilizadas árvores leguminosas fixadoras de

nitrogênio e associadas a bactérias do gênero micorrizas, como as espécies do gênero

Acacia, Sesbania, Leucaena, Gliricidia, Calliandra, Prosopis. As árvores são plantadas

Page 15: Artigo Chicueia Ivan Remane (BSc)

primeiro, em fileiras únicas ou duplas com espaçamentos de cerca de 0,5 m à 1 m dentro

das linhas (Engel, 1999).

A sombra produzida pela copa densa das árvores elimina rapidamente as ervas daninhas

e diminui o custo de manutenção. As árvores protegem o solo e a cultura na estação

seca e são podadas anualmente após a colheita agrícola, com o aproveitamento de lenha

e incorporação do material da copa no solo e/ou aproveitamento como forragem

(OTS/CATIE, 1986).

A poda das árvores é um dos aspectos mais importantes do maneio dessa tecnologia.

Dependendo da altura da cultura agrícola e do aproveitamento que se quer dar para o

produto florestal, as árvores são submetidas ao corte raso à 10-15 cm do solo, ou de 0,5

m a 1 m de altura do solo. Cortes a alturas superiores aumentam a capacidade de

brotação e de produção de biomassa futura, porem diminuem as possibilidades de

aproveitamento para lenha (Engel, 1999).

v. Árvores em terracos irrigados

Cerca de 24% dos agricultores em Chicueia praticam agricultura em encostas daí que

recorrem a terraços de modo a reduzir o escoamento superficial e fazer melhor

aproveitamento da água (foto 11). A largura dos terraços vária de 0,5 m à 3m e o

comprimento vária de 35m à 70m.

Os agricultores utilizam pedras para a estabilização dos terraços e muitas das vezes

também recorrem a certas gramíneas mas estas últimas representam uma ameaça para a

produção agrícola visto que são infestantes. A rega nos terraços é feita por gravidade.

A Uapaca kirkiana, Azanza garckeana, Cajanus cajan, Leucaena leucocephala,

Annona senegalensis, Ficus capensis são algumas das espécies usadas neste tipo de

prática. Estas árvores encontram-se distríbuidas aleatoriamente ao longo das áreas e são

usadas para a produção de frutos, lenha, etc. Neste tipo de prática o arranjo espacial é

misto e o temporal é intermitente.

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vi. Cercas vivas e quebra ventos

A vedação das machambas é feita usando espécies como a Lantana camara, a banana e

a manga. Nas cercas vivas usam a Lantana camara e a bananeira serve de protecção do

solo contra a erosão, a mangueira protege as culturas agrícolas contra o vento. Estas

culturas para além da função protectora têm outras funções como a produção de frutos,

produção de lenha para a queima de tijolos (foto 2).

No maneio de cercas vivas, a escolha de espécies é um ponto fundamental. Podendo ser

usadas espécies lenhosas, cactáceas, bromeliáceas, ou qualquer espécie que se adapte ao

local. Deve dar-se preferência a espécies de crescimento rápido e com boa capacidade

de rebrotação, com múltiplos usos e das quais se tenha um bom conhecimento

silvicultural para que seja possível a elaboração de um plano de maneio pelo produtor

em função de seus objetivos (Jolin & Torquebiau, 1992).

Na Costa Rica é muito comum o uso de cercas vivas que são aproveitadas para

forragem, como Erythina e Gliricidia sepium, que apresentam vantagens por serem

espécies de múltiplo uso. O sistema utilizado requer poucos insumos e usa apenas a

mão-de-obra familiar (Otárola, 1995).

Nas cercas vivas o arranjo espacial é zonal visto que a componente encontra-se

arranjada geometricamente ao redor da machamba e o arranjo temporal e intermitente.

vii. Árvores de uso múltiplo em áreas de cultura

As culturas arbóreas usadas pelos agricultores nesta prática são o limoeiro, a abacate, a

goiabeira, etc. Estas encontram-se dispersas na área formando um sistema

multiestratificado. Estas estão viradas para a produção de alimentos para a família e por

vezes parte dos frutos são vendidos quando a produção é boa. Esta prática é usada por

21% dos agricultores entrevistados. Dentro das áreas são abertos sulcos para a

circulação de água na qual regam as culturas agrícolas como o feijão, o milho, a couve,

etc. (foto 12). Nesta prática o arranjo espacial e misto e o temporal é intermitente.

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4. CONCLUSÃO

Na área em estudo foram identificados os três tipos de práticas, agrisilvicultural,

agrosilvipastoríl e silvipastoríl sendo que representavam 66%, 29% e 5%

respectivamente.

As principais espécies agrícolas cultivadas pelos agricultores naaldeia de Chicueia são,

o feijão vulgar, o milho, a couve, a cebola e o repolho. As principais espécies fruteiras

cultivadas são, a manga, a banana, o abacate e a goiaba. As principais espécies florestais

utilizadas em Chicueia são Syzygium spp. e Pericopsis angolensis.

Os animais identificados em Chicueia são: o boi, o cabrito, o cabrito do mato, a galinha

e peixe. Em Mugiriundo os animais identificados são: boi, porco, cabrito, e Galinha.

Os principais usos da componente perene identificados na área são: alimentação,

forragem, vedação, medicamento, fixação do solo, madeira, lenha e sombra sendo que a

alimentação é o principal uso.

Em todas as aldeias as práticas agroflorestais são de subsistência havendo alguns casos

em que estes vendem mas não podendo se considerar comercial devido ao volume

comercializado.

Em Chicueia onde foram encontradas sete práticas diferentes o arranjo espacial assim

como o temporal variaram. Nas hortas caseiras o arranjo é misto e interpolado, nas

pequenas matas é zonal e intermitente, no cultivo em faixas é zonal e intermitente, na

aquafloresta é misto e intermitente, nas árvores em terraços irrigados é misto e

intermitente, nas cercas vivas é zonal e intermitente e nas árvores de uso múltiplo com

culturas agrícolas é misto e intermitente.

Page 18: Artigo Chicueia Ivan Remane (BSc)

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 20: Artigo Chicueia Ivan Remane (BSc)

6. Anexo

Anexo 1: Lista dos nomes cientificos e famílias das espécies agrícolas e fruteiras

Nome comum Nome cientifico Familia

Abacate Persea americana Laureaceas

Abóbora Cucurbita pepo Cucurbitaceae

Alface Lactuca sativa L. Asteraceae

Alho Allium sativum Alliaceae

Amora Morus sp. Moraceae

Ananas Ananas comosus Bromelioideae

Banana Musa sp. Musaceae

Batata doce Ipomoea batatas Convolvulaceae

Batata reno Solanum tuberosum L. Solanaceae

Cana de açucar Saccharum spp. Poaceae

Cebola Allium cepa Alliaceae

Couve Brassica Oleracea Brassicaceae

Ervilha Pisum sativum L. Fabaceae

Feijão vulgar Phaseolus vulgaris L. Fabaceae

Feijão boer Cajanus cajan Fabaceae

Girassol Helianthus annuus Asteraceae

Goiaba Psidium guajava Myrtaceae

Inhame Dioscorea spp. Dioscoreaceae

Laranja Citrus sinensis Macfad Rutaceae

Limão Citrus limon Rutaceae

Litch Litchi chinensis Sapindaceae

Mandioca Manihot esculenta Crantz Euphorbiaceae

Manga Mangifera indica L. Anacardiaceae

Milho Zea mays L. Poaceae

Papaia Carica papaya L. Caricaceae

Pepino Cucumis sativus Cucurbitaceae

Pessêgo Prunus persica Rosaceae

Repolho Brassica Oleracea Brassicaceae

Tangerina Citrus reticulata Blanco Rutaceae

Tomate Lycopersicon esculentum Solanaceas

Trigo Triticum aestivum Poaceae