ROUND CLÍNICOEstudo de casos

Celso Luiz Mastrascusa

Doutor em EducaçãoUFRGS-PPGEDu -Psicanálise e Educação

Mestre em EducaçãoUFRGS-PPGEDu – FACED

Esp. em Educação Psicomotora

Esp. em Psicomotricidade e Formador de Adultos

Supervisor da GL da DMAE-PMPA

por 21 anos atuou no curso de EF do IPA

Coordenador do Pós-graduação em Psicomotricidade da FAMAQUI/SERGLOBAL

Consultor da SERGLOBAL

Porto Alegre2019

Painel

eXcola – A ETERNA QUEDA DE BRAÇO ENTRE BRINCAR E APRENDER

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Pink Floyd The Wall é um filme produzido no ano de 1982 pelo diretor britânico Alan

Parker, baseado no álbum The Wall, da banda Pink Floyd.

ESTA EXCOLA EXISTE?

ACONTECEM ESTES ATOS AUTORITÁRIOS NA EXCOLA?

A EXCOLA MUDA?

QUEM MUDA A EXCOLA?

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EXCOLA – A ETERNA QUEDA DE BRAÇO ENTRE BRINCAR EAPRENDER ...

Parece simples e comum falar que BRINCAR e APRENDER sãoindissociáveis na Infância, porém a Excola não se dá conta disto,ou em sua grande maioria, não entende o processo pelo qual acriança aprende.

Nesta Excola o recreio sim é momento do brincar – os demaisespaços da excola são para aprender – aprender a ler, aprender aescrever, aprender a falar, aprender a disciplina, aprender emfatias, aprender através do saber do professor que professa – queanuncia aquilo que é certo e aquilo que é errado.

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Para nós professores é custoso esperar e escutar – a resposta donão saber – da criatividade, do inesperado – esta resposta assustae desestrutura a hierarquia do saber – onde o aluno pergunta e oprofessor RESPONDE.

E RESPONDE o que é certo ... Isto é o pior ... Deveria exercitar aERRÂNCIA DO SABER..,(Afonso Romano Santt’ana)Desaprendera Lição

Desta forma a criança NÃO faz a hipótese... Porque a respostaestá pronta , acabada...

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Esta relação desta Excola é a mesma que as crianças fazem com osupremo saber Sr. Google ...

...todos somos sabidos pois a um toque digital acessamos ao nossosupremo saber o GOOGLE – uma excelente sacada da pós-modernidadeou da atualidade – VOCÊ PERGUNTA E O SR. GOOGLE RESPONDE ...e o PIOR responde certo...

com um toque temos o mundo em nossas mãos – então o que a EXCOLAvai ensinar agora ...

o Sr. Youtube também veio para ensinar ...

ENSINAR A BRINCAR???

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A escolha da temática proposta nesta nossa conversa - vematrelada a mais de vinte e cinco anos de minha experiênciaprofissional atuando como professor de Educação Física daEducação Infantil e Anos Iniciais, bem como de toda minhaexperiências por anos no Ensino Superior – formando professores.

Assim, observei as diversas formas de intervenção com a criança/ oaluno e as expectativas, as intenções e os processos de ensino-aprendizagem propostos pelos estabelecimentos de ensino nadefesa de suas linhas pedagógicas e convicções educacionais.

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Apesar da distância temporal do início de minha carreira comoprofessor de Educação Física da Educação Infantil e Anos Iniciaisaté o momento atual, infelizmente, vê-se que pouco ou nada destarelação ensinar e aprender se modificou no sentido de uma visão naqual se privilegie a linguagem Verbal e Não-Verbal, e suasexpressões na sala de aula e na escola como um todo.

A Educação Física me aproximou da Psicomotricidade, e passei deuma visão de um corpo funcional de movimento racional, para umavisão global de ser – Afetivo, Psicomotor, Cognitivo e deEspiritualidade, um ser de relações.

VISÃO GLOBAL

SOCIOAFETIVOPSICOMOTOR

COGNITIVOESPIRITUALIDADE

Afetivo• Partimos do pressuposto que através das relações

poderemos qualificar a aprendizagem e o

desenvolvimento harmônico do ser humano em

busca da autonomia.

• Olhar/Gesto/Toque/Vocalizações(Não-verbal) – sem

culpabilizar!

• Transferência - inconsciente

Psicomotor• O movimento é o propulsor das ações -vivências,

atuando, vivendo de forma livre e espontânea.• Expressividade psicomotora

(capacidades;habilidades;potencialidades)• Esquema Corporal/Coordenações/Percepções• Vivência simbólica

Cognitivo• A consciência com reflexão, pensamento;

raciocínio; crítica; auto-crítica.• Vencer desafios – resolução de problemas.• Inteligência criativa; a construção; a

desconstrução.• A comunicação.

Espiritualidade

• Desenvolvimento de valores• Solidariedade• Respeito as diferenças• Fraternidade• Cooperação• Atitude

A criança, entrando em seu

mundo interno, poderá vivê-lo

expressando a trama de seus

momentos passado, presente e

futuro.

O jogo simbólico atua como elemento

intermediário entre o subjetivo e aquilo que é

objetivamente percebido....

Bettelheim define o jogo simbólico como uma ponte entre a fantasia e a realidade.

O JOGO...

• Podemos dizer que o jogo NASCE: a partir de processos de inter relação

• SE INSTAURA: com o exercício individual fruto do descobrimento, da imitação e da repetição e se

• CONSOLIDA: com a presença do outro que lhe dá sentido e o socializa

(FRANCH,Núria. Anais do congresso brasileiro de Psicomotricidade , Fortaleza, 1998.)

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OBJETO MEDIADOR

• Utiliza-se nas sessões objetos que podem simbolizar várias situações além de servirem de mediadores de contato.

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A excola privilegia a cabeça, o cognitivo, a não ser na Educação Física queesta sim privilegia o corpo, porém SOMENTE o corpo.

Então nesta excola ou estamos com a cabeça ou estamos com o corpo....A NÃO SER NO RECREIO....

Aí sim buscamos a globalidade do sujeito – ali ele tem de certa forma, aoportunidade de escolher onde brincar, com quem brincar e por quantotempo permanece naquela brincadeira; está sujeito a rejeição do outro, a terque lidar com a alimentação, com a hidratação, as regras sociais...

Apesar de que ali também tem os ASSISTENTES de pátio – afinal é muitosubversivo deixar assim estas crianças todas soltas, criando e pensando noque desejam ou não desejam fazer – afinal nós estamos na EXCOLA paraaprender!

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Qual a sala de aula dos anos 40?

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Como estão estes corpos? O que aprendem e comunicam?

ORGANIZAR

≠

CONTROLAR

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Como estão estes corpos? O que aprendem e comunicam?

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Pois precisamos pensar numa ESCOLA atravessada pelapsicomotricidade.

Uma escola que vise a GLOBALIDADE do sujeito – a globalidade dopensamento, da ação, dá lógica, do aprender brincando – poisindissociáveis como o conceito de PSICOMOTRICIDADE.

Quem sabe teremos que agora sim aprender a brincar – o brincar que nosleve finalmente a aprender na essência da palavra – que não é decorar ,que não é dar um toque ali no GOOGLE – e sim saborear a descoberta donovo pela experiência, pela criatividade, pelo prazer de agir sobre, com assensações TODAS , dos pés a cabeça e da cabeça aos pés.

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Esta EXCOLA deve ser REPENSADA para VIVER através daquilo que é

básico e vital para o SER HUMANO – o brincar – e trago o autor PEARCE -

Livro A Criança Mágica – O Jogo a serviço da sobrevivência. Ele conta sobre

como acontecem os jogos nos animais e compara com os jogos humamos.

Pearce (2001) afirma: “o segredo é ultrapassar a dicotomia fantasia e

realidade e unir estas duas linhas na escolha da sua profissão”. Desta

forma, o homem poderá desfrutar do prazer em sua vida e em seu trabalho.

Apresento então a vocêsalgumas reflexões queestão presentes no livroCORPO EM MOVIMENTO,CORPO EM RELAÇÃO –escrito a 4 mãos – eu eNúria .

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• Foi realizado uma pesquisa a campo em umColégio de Porto Alegre;

• Primeiro ano do E.F• Escolha da Turma• Acompanhamento em um semestre de

observação e no outro psicomotricidade

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• Neste um ano de pesquisa a campo para construção da TESE de doutoramento - recolho as falas das professoras de sala , de EF, da biblioteca , de música entrevistas semiestruturadas com as professoras que desejassem participar da pesquisa.

• uma vez por semana, permanecendo por, aproximadamente, duas horas, registrando um total de treze relatórios de observações das crianças desta turma do primeiro ano do Ensino Fundamental em suas atividades cotidianas (sala de aula e aulas especializadas)

• Ideia de compreender de que forma é feita a escuta do Verbal e do Não-Verbal nas aulas de um primeiro ano do Ensino Fundamental.

• Neste um ano de pesquisa a campo para construção da TESEde doutoramento - recolho as falas das professoras de sala , deEF, da biblioteca , de música entrevistas semiestruturadas comas professoras que desejassem participar da pesquisa.

• Participava uma vez por semana, permanecendo por,aproximadamente, duas horas, registrando um total de trezerelatórios de observações das crianças desta turma do primeiroano do Ensino Fundamental em suas atividades cotidianas (salade aula e aulas especializadas)

• S1 – Caso de crianças agitadas e de passar os outros paratrás... mais meninos que meninas, 3 vieram da turma da tarde,mais agitados, eles impõe as regras e 2 foram levados por estegrupo e outros mais “bobinhos”... esta semana foimelhorando...fila em ordem alfabética ainda tem problema...são gritões, imaturidade, difícil de adaptar as regras deesperar... qual é o combinado?...começam a falar alto... elesnão rendem quanto ao trabalho, pouca atenção, preguiça parapintar, recorte rápido, o rendimento não é o mesmo.

• S2 – Turma afetiva... tem que pontuar os salientes... sedispersam muito... tem um que é terrível... sempre xingando,falando mais alto com ele... falta de limites... as meninas nãoentram tanto nos grupinhos... questão emocional, as famíliascompactuam com o que as crianças fazem... as crianças estãoselvagens, maldosas... reações muito fortes do nada... nãopercebem as maldades... mal educadas... nas atividadespráticas começam a se puxar e se machucar... as meninas sãoqueridas, meigas

• Estas professoras, com suas colocações sobre a turma,me suscitaram indagações sobre:

• “Afinal, o que se espera de uma turma de primeiroano?”,

• “Qual mensagem passam ao falar de ‘agitados’, ‘falta delimites’, ‘não rendem quanto ao trabalho’,‘imaturidade’?”,

• “Qual o comportamento esperado?” e “• Quais projeções estão envolvidas neste processo de

caracterização desta turma?”.

• Porque esta EXCOLA não se pergunta “O QUÃO DIVERTIDAS PODEM SER AS AULAS ? sabe porque?

• Porque a EXCOLA é para aprender, NÃO para brincar e se DIVERTIR ...

• E no primeiro dia da sessão de psicomotricidade – escolhicaixas de papelão como material a ser utilizado neste brincarlivre e espontâneo - quase 3 por criança...

• ... destruídas no primeiro minuto ...qual o Conteúdo simbólicodas caixas???

• Compreensível , aceitável e ESPERADO – porque na sessão,naquele espaço de livre brincar, desculpabilizante, e com umADULTO que brinca diretamente com as crianças ...

• Os professores não estão preparados para receber estecorpo, como são ou deveriam ser os psicólogos clínicosou psiquiatras. Eles têm medo da criança, desta criançareal e autêntica que não respeita mais as regras do jogopedagógico e da hipocrisia social.

• Muito vulneráveis a este nível, eles não podem nemadmitir, nem compreender na criança o que nãoreconheceram e nem aceitaram neles próprios(LAPIERRE; AUCOUTURIER, 1984, p. 46).

• A professora, então, deverá abandonar seupoder, sem abandonar sua autoridade,proporcionando, na sala de aula, a possibilidadeda descoberta do conhecimento.

• Uma professora que possa compreender suasfragilidades e suas potencialidades, evitandoprojetar nos alunos seus conflitos internos.

• Neste sentido, este novo professor deverácolocar-se não em posição de barreira, mas,pelo contrário, em posição lateral ao processode aprendizagem, acompanhando e interagindocom a criança.

• Cada criança de uma turma do Primeiro Ano doEnsino Fundamental tem suas semelhanças:gosta de correr, pular, gritar...

• Mas existem aquelas que gostam de desenhar,pintar, recortar. Quase sempre essas atitudessão utilizadas para determinar a normalidade doagir, do pensar e do sentir... como se isso fossepossível de ser admitido.

• Para inaugurar, no sentido de fazer emergir, umacriança com diferença nos Anos Iniciais precisanecessariamente que o sistema da sala de aula,que, para "j"aula, falta apenas uma letra, semodifique, não apenas fisicamente, masradicalmente, ou seja, na raiz, na estruturafundante, permitindo o surgimento da marca dadiferença.

• Nem a desordem nem o extremo da repressãoda “j”aula. É necessária a abertura de umaescuta ao não dito, aquilo que passadespercebido pelas paredes e classes da sala.

• Aquilo que está ao lado da emoção, da relação,coloca-se do lado da fraqueza e da falta derazão, descartado na Educação.

• A professora necessita conhecer esta escuta ecompartilhá-la em sala de aula, fazendo surgir o “atopedagógico". (dialética)

• Para tanto, afirmamos a urgente formação pessoal daprofessora que deverá fazer uma imersão em suasconvicções, seu poder e sua fragilidade, desenvolvendomaior segurança em sua função e evitando projetar nasrelações com as crianças suas necessidades e carências,tornando-se, muitas vezes, coercitiva, punitiva eculpabilizadora das demandas destas crianças.

• Brincar e aprender andam juntos, masverdadeiramente e não apenas teoricamente.

• Passar pela brincadeira, brincando com cada umdeles. Deixando, em cada, um sua marca, seucheiro, seu sorriso e sua emoção também,porque humanos.

• Em 25 de abril de 1953, na prestigiada revista Nature, Watson eCrick publicavam um artigo que anunciava a descoberta daestrutura do DNA. Por persistirem em suas pesquisas e em buscade suas verdades é que conseguiram chegar ao seu intento.

• Chegaram com uma idéia de escada em caracol, pararepresentar esta estrutura e foram fortemente atacados pelosgrandes pesquisadores da época, pois estavam propondo algototalmente fora dos padrões de pensamento do início dos anos50, uma formação com Hélice dupla. Porém, próximos aosegredo da vida, as duas cigarras podem cantar vitória e mostrarao mundo sua genial e belíssima criação (DE MASI,1999, p. 65).

• Estes pesquisadores, se fossem alunos de umaclasse regular de nosso ensino, provavelmente,não teriam chegado a esta tamanha ousadia:decifrar o segredo da vida.

• Tudo estava "ali" diante dos olhos de todos Nós,porém, seus sujeitos diferentes é quedescobriram o IMPREVISÍVEL. A ousadia, odesejo da descoberta, foi propulsora para asapiência.

• Contar a história do menino “hiperativo”...• E aqueles meninos e meninas do Colégio

particular de Porto Alegre, agora no SegundoAno do Ensino Fundamental, voltavam andandopelo pátio em direção a sua sala de aula, em fila,uma enorme fila indiana.

• Passavam por mim quase um ano depois.

• Avistaram-me e disseram com olhar deespanto... Celso! Vieram correndo me abraçar ese pendurar em meu pescoço. Curvei-me, e elessorriram dizendo novamente... Celso!

• E aquele, “dito” o “mais agitado” de todos,complementou continuando a me abraçar...

o mesmo perfume de antes... e saíram alegresnovamente voltando para a enorme fila.