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Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Humanas e Sociais Departamento de Letras Seminário de Poesia – LET572 Profª Drª Dulce Maria Viana Mindlin Aline Sara Flaviana Pinto Vanda Rodrigues Wendel Sampaio Luís Vaz Camões e Tomás Antônio Gonzaga: possibilidades comparativas (Imitação, influência ou coincidência?)

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Universidade Federal de Ouro PretoInstituto de Ciências Humanas e SociaisDepartamento de LetrasSeminário de Poesia – LET572Profª Drª Dulce Maria Viana Mindlin

Aline SaraFlaviana PintoVanda RodriguesWendel Sampaio

Luís Vaz Camões e Tomás Antônio Gonzaga: possibilidades comparativas(Imitação, influência ou coincidência?)

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“Devemos imitar e seguir os Antigos: assim no-lo ensina Horácio, no-lo dita

a razão; e o confessa todo o

mundo literário“. (Correia Garção )

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...“Aproveite-se o tempo, antes que

faça O estrago de roubar ao corpo as forças E ao semblante a

graça.”...

(Tomás Antônio Gonzaga)

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Tomaz Antônio Gonzaga nasceu em Miragaia, freguesia da cidade portuguesa do Porto em prédio devidamente assinalado. Era filho de mãe portuguesa e pai brasileiro. Órfão de mãe no primeiro ano de vida, mudou-se com o pai, magistrado brasileiro para Pernambuco em 1751 depois para Bahia, onde estudou no colégio dos jesuítas. Em 1761, voltou para Portugal para cursar Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se Bacharel em Leis em 1768. Com intenção de lecionar naquela universidade, escreveu a tese Tratado do Direito Natural, o qual enfocava o tema sob o ponto de vista tomista, mas depois trocou as pretensões ao magistério pela magistratura. Exerceu o cargo de juiz de fora na cidade de Beja, em Portugal. Quando voltou ao Brasil, em 1782, foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes na comarca de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, então conheceu a adolescente de apenas 15 anos Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, a pastora Marília em umas das possíveis interpretações de seus poemas, que teria sido imortalizada em sua obra lírica ( Marília de Dirceu)- apesar de ser muito discutível essa versão, tendo em vista as regras retórico- poéticas que prevaleciam no século XVIII, época do poema escrito.

biografia

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Tomás Antônio Gonzaga - Marília

de Dirceu

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O poema Marília de Dirceu

• O poema é dividido em 3 partes. A primeira, com 33 liras, com refrões guardando certa semelhança entre si. A segunda parte, de 38 liras, possivelmente escrita na prisão, se refere menos à amada e, a terceira e última parte, com 9 liras e 13 sonetos.

• As liras para a sua “pastora” (como era identificada Marília), refletem a trajetória do poeta, onde a prisão atua como um divisor de águas(a segunda parte do livro é contada dentro da prisão). Antes de ser preso, canta a ventura da relação amorosa, que, valorizando o momento presente, busca a simplicidade do refúgio na natureza, que é européia e mineira. Depois de preso, em desalento, canta o infortúnio, a injustiça (ele se considera inocente, injustiçado), o destino e a eterna consolação no amor da figura de Marília. Cada lira é um dialogo de Dirceu com sua pastora Marília, mas, embora a obra tenha a estrutura de um diálogo, é um monólogo de DirceuChamando por Marília.

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Alguns comentários sobre Tomás Antônio Gonzaga

• O Lírico João de Deus dizia que este poema são "versos amorosos, de uma ternura comovida, em decantes graciosos, à sua namorada Marília, tão cheios de sentimento que Romero diz ser ele "o mais afamado dos poetas mineiros".

• Pereira da Silva revela "que os seus versos rivalizam com as mais belas canções de Petrarca. O que caracteriza os seus versos é a simplicidade, a espontaneidade tão natural, que parece prosa fluida e cantante.“

• Afrânio Coutinho atribui ao nosso poeta um lugar de relevo no quadro da literatura rococó, não deixando de o conotar também como arcadismo ( empregando a expressão de Alberto Faria para designar a plêiade mineira: os árcades sem Arcádia”), referindo, de passagem, a vertente bucólica, as alusões mitológicas, o arrebatamento amoroso, e particularmente significativas, as descrições de fatos e paisagens locais.O poeta Machado de Assis apelidou de o harmonioso Petrarca de Vila Rica

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• Antônio Candido defende como elemento fundamental na criação das liras gonzageanas: “Sem Dorotéia e sem Cláudio não teríamos a sua obra” – a primeira como fonte de inspiração: “o amor”; o segundo policiador de seus versos: “a técnica”. Segundo Antonio Candido, esta amizade contribuiu grandemente para a individualidade e naturalidade do estilo de Gonzaga.

• Rodrigues Lapa observa que o mais curioso desta amizade é que Cláudio Manuel da Costa, ao tempo que Gonzaga escrevia estes versos (na prisão), estava denunciando o amigo como comprometido na conjura!”

• Para Sílvio Romero, foi Gonzaga "o mais afamado poeta mineiro". No dizer de Ronald de Carvalho, "sua poesia apesar dos vícios literários que se lhe percebem, como na de todos os poetas do tempo, é simples e sem os vaidosos requintes, por exemplo, da de Garção

• Segundo Alfredo Bosi, Gonzaga está acima de tudo preocupado em "achar a versão literária mais justa dos seus cuidados". Assim, "a figura de Marília, os amores ainda não realizados e a mágoa da separação entram apenas como 'ocasiões' no cancioneiro de Dirceu", o que diferencia o autor dos seus futuros colegas românticos.

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Lira XXVII 

"Alexandre, Marília, qual o rio,

Que engrossando no inverno tudo arrasa,Na frente das cortes.

Cerca, vence, abrasa." 

(Thomas Antonio Gonzaga, 1788)

Alexandre Sanchez Ibanez

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MARÍLIA DE DIRCEUMaria Dorothea Joaquina de

Seixas: a musa da Inconfidência Mineira.

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• A obra possui 284 páginas, narra-se o surpreendente drama da adolescente Maria Dorothea Joaquina de Seixas. Mulher cuja mítica beleza inspirou o poeta inconfidente Thomaz Antonio Gonzaga a escrever umas das mais importantes obras literária: Marília de Dirceu. Sua história ocorrida em Vila Rica, Minas Gerais, final do século XVIII, teve como pano de fundo a inconfidência Mineira. Este estudo concluído em oito anos de trabalho foi baseado em documentos originais, através dos quais o autor conseguiu resgatar o mais belo romance colonial brasileiro.

A Obra de Alexandre Sanchez Ibanez

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Cidadãos, viajantes e turistas de Ouro Preto, apurem os ouvidos ao caminharem por estas ruas, vielas, igrejas, praças, pontes e fontes. Que nossa imaginação seja uma conspiração com o glorioso passado, para que este nos possibilite ouvir os sussurros libertários, as intrigas palacianas, os poemas revoltosos e as liras dos amores impossíveis. Sejamos todos, de hoje em diante, embaixadores de Vila Rica. Porque este chão que guarda os mistérios sagrados da historia brasileira, precisa que seja caminhado com o respeito e a admiração que este povo merece. Que aqui foram plantadas as sementes da liberdade,da independência, da república e da democracia. E também foi aqui que descobriram que existia um país chamado Brasil”. ( Alexandre Sanches Ibanez)

Lei para caminhar em Ouro Preto

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O amor e a mulherTomás Antônio Gonzaga Lira I ( Primeira Parte)

“Os teus olhos espalham luz divina,A quem a luz do sol em vão se

atreve;Papoila, ou rosa delicada, e fina

Te cobre as faces, que são cor de neve

Os teus cabelos são uns fios d’ ouro;Teu lindo corpo bálsamos vapora.

Ah! não, não fez o Céu, gentil PastôraPara glória de amor igual Tesouro!

Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!”

CamõesSoneto 124

De quantas graças tinha a NaturezaFez um belo e riquíssimo tesouro,E com rubis e rosas, neve e ouro,Formou sublime e angélica belezaPôs na boca os rubis, e na purezaDo belo rosto as rosas, por quem

mouro;No cabelo o valor metal louro;

No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,E fez deles um sol, onde se apura

A luz mais clara que a do claro dia.Enfim, Senhora, em vossa

composturaEla a apurar chegou quanto sabia

De ouro, rosas rubis, neve e luz pura.

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Tomás Antônio Gonzaga

Lira II ( Primeira Parte)

Os seus compridos cabelosQue sôbre as costas

ondeiamSão que os de Apolo mais

belos;Mas de loura cor não são.Têm a cor da negra noite;E como o branco do rosto

Fazem, Marília, um composto Da mais formosa união.

Tem redonda e lisa testa,Arqueadas das sobrancelhas,

A voz meiga, a vista honesta,

E seus olhos são de uns sóis.

Aqui vence Amor ao Céu:Que no dia luminoso

O Céu tem um sol formoso,E o travesso Amor tem dois.

Na sua face mimosa,Marília, estão misturadas Purpúreas folhas de rosa,Brancas folhas de jasmim.Dos rubis mais preciosos

Os seus beiços são formados;

Os seus dentes delicadosSão pedaços de marfim.

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O desconcerto do mundo

Tomás Antônio Gonzaga Lira XIV ( Primeira Parte)

Minha bela Marília, tudo passa;A sorte deste mundo é mal segura;Se vem depois dos males a ventura,Vem depois dos prazeres a desgraça

Estão os mesmos DeusesSujeitos ao poder do ímpio Fado:Apolo já fugiu do Céu brilhante,

Já foi Pastor de gado.A devorante mão da negra Morte

Acaba de roubar o bem, que temos;Até na triste campa não podemosZombar do braço da inconstante

sorte:Qual fica no Sepulcro, (...)

CamõesSoneto 81

Que poderei do mundo já querer,Que naquilo em que pus tamanho

amor, Não vi senão desgosto e desamor,E morte, enfim, que mais não pode

ser?Pois vida não me farta de viver,

Pois já sei que não mata grande dor, Se cousa há i que mágoa dê maior, Eu a verei; que tudo pode posso ver.A morte, a meu pesar, me assegurou

De quanto mal me vinha; já perdiO que a perder o medo me ensinou.

Na vida, desamor somente vi;Na morte, a grande dor que me

ficou.Parece que pêra isto só nasci!

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Tomaz Antônio GonzagaLira XII

Ah! Marília, que tormentoNão tens de sentir, saudosa!Não podem ver os teus olhos

A campina deleitosa,Nem a tua mesma Aldeia,Que tiranos proponham

À inda inquieta idéiaUma imagem de aflição.

Mandarás aos surdos DeusesNovos suspiros em vão.Quando à janela saíres,

Tu verás, Marília, a minhaE minha pobre morada.Tu dirás então contigo:

Ali Dirceu esperavaPara me levar consigo;E ali sofreu a prisão.

Mandarás aos surdos DeusesNovos suspiros em vão.

Camões

Ali lembranças contentesn’alma se representam,

e minhas cousas ausentesse fizeram tão presentescomo se nunca passaramAli, depois de acordado,

co rosto banhado em água,deste sonho imaginado

vi que todo bem passadonão é gosto, mas é mágoa

E vi que todos os danosSe causavam das mudanças

e as mudanças dos anos;onde vi quantos enganos

faz o tempo às esperanças.Ali vi o maior bem

Quão pouco espaço que dura,o mal quão depressa vem,e quão triste estado temquem se fia da ventura

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•Pastoralismo bucólico;•Verossímil;•“Fugere Urbem” ( fugir da cidade);•“Locus amoenus” ( lugar ameno);

A natureza

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Lira XIX(Primeira parte)

Enquanto posta alegreo manso gadoMinha bela Marília nos sentemos,À sombra deste cedro levantadoUm pouco meditemos na regular beleza,Que em tudo quanto vive, nos descobreA sábia natureza

Verdes são os campos

Verdes são os campos,Dor de limão:Assi[m] são os olhosDo meu coração.Campo que te estendesCom verdura bela;Ovelhas, que nelaVosso pasta tendes,De ervas vos mantendesQue traz o Verão,E eu das lembrançasDo meu coração

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Lira V

Daquele penhascoUm rio caía;

Ao som do sussurroQue vezes dormia!Agora não cobremEspumas nevadas

As pedras quebradas;Parece que o rioO curso voltou

São estes os sítios?São estes; mas euO mesmo não sou.Marília, tu chamas?Espera, que eu vou.

Alegres campos, verdes arvoredos

Alegres campos, verdes arvoredos, Claras e frescas águas de cristal,

Que em vós os debuxais ao natural, Discorrendo da altura dos rochedos;

Silvestres montes, ásperos penedos Compostos em concerto desigual,

Sabei que, sem licença de meu mal, Já não podeis fazer meus olhos ledos.

E pois me já não vedes como vistes, Não me alegrem verduras deleitosas,

Nem águas que correndo alegres vêm.

Semearei em vós lembranças tristes, Regando-vos com lágrimas saudosas,

E nascerão saudades de meu bem.

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Mitologia

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Lira II(parte 1)

Pintam, Marília, os PoetasA um menino vendado,

Com uma aljava de setas,Arco empunhado na mão;Ligeiras asas nos ombros,

O tenro corpo despido,E de Amor, ou de Cupido

São os nomes, que lhe dão.

Porém eu, Marília, nego, Que assim seja Amor; pois eleNem é moço, nem é cego,Nem setas, nem asas tem.Ora pois, eu vou formar-lheUm retrato mais perfeito,

Que ele já feriu meu peito;Por isso o conheço bem.

Num jardim adornado de verdura

Num jardim adornado de verdura, A que esmaltam por cima várias

flores,Entrou um dia a deusa dos amores,

Com a deusa da caça e da espessura.

Diana tomou logo uma rosa pura, Vênus um roxo lírio, dos melhores;

Mas excediam muito às outras flores As violas, na graça e fermosura.

Perguntam a Cupido, que ali estava, Qual daquelas três flores tomaria,

Por mais suave, pura e mais fermosa. Sorrindo-se, o Menino lhe tornava:

-- Todas fermosas são; mas eu queriaViol' antes que lírio nem que rosa.

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Lira XXXIII, Parte II

Pega na lira sonora,Pega, meu caro Glauceste;E ferindo as cordas de ouro,Mostra aos rústicos PastoresA formosura celesteDe Marília, meus amores.Ah! pinta, pintaA minha Bela!E em nada a cópiaSe afaste dela.

Cláudio Manoel da Costac

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O episódio do Velho do ResteloOs Lusíadas, Canto IV, 94-97

94Mas um velho, de aspecto venerando,Que ficava nas praias, entre a gente,Postos em nós os olhos, meneandoTrês vezes a cabeça, descontente,

A voz pesada um pouco alevantando,Que nós no mar ouvimos claramente,C'um saber só de experiências feito,Tais palavras tirou do experto peito

95-"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!Ó fraudulento gosto, que se atiça

C'uma aura popular, que honra se chama!Que castigo tamanho e que justiço

Fazes no peito vão que muito te ama!Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

96- "Dura inquietação d'alma e da vida,

Fonte de desamparos e adultérios,Sagaz consumidora conhecida

De fazendas, de reinos e de impérios:Chamam-te ilustre, chamam-te subida,

Sendo dina de infames vitupérios;Chamam-te Fama e Glória soberana,Nomes com quem se o povo néscio

engana!97

- "A que novos desastres determinasDe levar estes reinos e esta gente?

Que perigos, que mortes lhe destinasDebaixo dalgum nome preminente?

Que promessas de reinos, e de minasD'ouro, que lhe farás tão facilmente?

Que famas lhe prometerás? que histórias?Que triunfos, que palmas, que vitórias?

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Gonzaga

A filiação de Gonzaga ao pensamento tradicional é explícita no que se refere à problemática do direito natural. Gonzaga opõe-se claramente a qualquer

tentativa de reflexão da existência social e política que não tenha uma matriz teológica e, mais ainda, que não faça decorrer os seus pressupostos desta mesma matriz. As consequências são diversas: o autor não apenas descarta todas as conquistas

próprias da ciência moderna, como não incorpora as diversas tentativas em curso de fazer aplicar os

pressupostos das ciências naturais à realidade social.

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– Imitação, influência ou coincidência?

Poética Árcade

Imitação, filiação e obediência