APLICAÇÃO DE MOTOR DE FLUXO AXIAL NA...

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APLICAÇÃO DE MOTOR DE FLUXO AXIAL NA TRAÇÃO VEICULAR Felipe Baptista Maroja Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Antônio Carlos Ferreira, Ph.D. Rio de janeiro Fevereiro de 2017

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APLICAÇÃO DE MOTOR DE FLUXO AXIAL NA TRAÇÃO

VEICULAR

Felipe Baptista Maroja

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Elétrica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Antônio Carlos Ferreira, Ph.D.

Rio de janeiro

Fevereiro de 2017

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APLICAÇÃO DE MOTOR DE FLUXO AXIAL NA TRAÇÃO

VEICULAR

Felipe Baptista Maroja

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO

ELETRICISTA.

Examinada por:

___________________________________

Prof. Antônio Carlos Ferreira, Ph.D.

(Orientador)

____________________________________

Prof. Richard Magdalena Stephan, Dr. -Ing.

____________________________________

Prof. Sergio Sami Hazan, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

FEVEREIRO DE 2017

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Maroja, Felipe Baptista

Aplicação de motor de fluxo axial na tração veicular /

Felipe Baptista Maroja – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola

Politécnica, 2017.

X, 56 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Antônio Carlos Ferreira, Ph.D

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Engenharia Elétrica, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 53-56.

1. Motor de Fluxo Axial. 2. Cálculos Analíticos. 3.

Simulação Computacional. I. Ferreira, Antônio Carlos. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia Elétrica. III. Título.

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Agradecimentos

Todos aqueles que tornaram possível a realização deste trabalho, prestando

colaboração através de seu apoio e compreensão, merecem minha gratidão e respeito.

Agradeço aos meus pais Sylvia e Stelio, que sempre se dedicaram para que eu

tivesse boa condição e educação. Por sempre estarem ao meu lado, me encorajando e

aplaudindo cada etapa concluída em minha vida.

Aos meus irmãos Danilo, Renato e Marina, que me deram o suporte necessário

para que eu alcançasse meu objetivo.

A minha namorada Nicole, que esteve ao meu lado durante todo esse trajeto,

sempre me incentivando e tornando tudo mais fácil.

Aos meus amigos, especialmente Daniel, Caio e Marcos, agradeço toda a força

que me deram e cada alegria que vivemos.

Ao professor Antonio Carlos Ferreira, pela paciência na orientação e incentivo

que tornou possível a conclusão deste projeto.

Aos demais professores, pela ajuda, perseverança e compreensão durante a

faculdade. Minha admiração, respeito e meus sinceros agradecimentos.

Aos colegas de curso, pelos momentos de alegria e companheirismo durante

todos esses anos.

A todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, о meu

muito obrigado.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

APLICAÇÃO DE MOTOR DE FLUXO AXIAL NA TRAÇÃO VEICULAR

Felipe Baptista Maroja

Fevereiro/2017

Orientador: Prof. Antônio Carlos Ferreira, Ph.D.

Curso: Engenharia Elétrica

Este trabalho apresenta o projeto de um motor síncrono, com ímãs permanentes

no rotor, a ser aplicado diretamente no eixo traseiro de uma motocicleta como

dispositivo de tração veicular, utilizando como base para o projeto, parâmetros

existentes em uma motocicleta comercial com motor a combustão. A topologia do

motor elétrico possui fluxo axial no entreferro, rotor duplo com ímãs permanentes e

estator segmentado, seguindo a configuração YASA (Yokeless and Segmented

Armature). O projeto compreende o estudo e a análise das grandezas eletromagnéticas e

eletromecânicas através de uma modelagem, primeiramente analítica e posteriormente

numérica, através do Método dos Elementos Finitos pelo software ANSYS Maxwell, a

fim de validar, otimizar e corrigir possíveis falhas no dimensionamento.

Palavras-Chave: motor elétrico, fluxo axial, ímãs permanentes, YASA, dispositivo de

tração veicular, Método dos Elementos Finitos.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Electrical Engineer.

APPLICATION OF AXIAL FLUX MOTOR IN VEHICLE TRACTION

Felipe Baptista Maroja

February/2017

Advisor: Prof. Antônio Carlos Ferreira, Ph.D.

Course: Electrical Engineering

This work presents the design of a synchronous motor, with permanent magnets

in the rotor, to be applied directly to the rear axle of a motorcycle as a vehicular traction

device, using as basis for the design, parameters of a commercial motorcycle with

combustion engine. The topology of the electric motor has axial flux in the air gap,

double rotor with permanent magnets and segmented stator, following the YASA

(Yokeless and Segmented Armature) configuration. The project comprises the study and

analysis of electromagnetic and electromechanical quantities through a first analytical

and after a numerical modeling through the Finite Element Method using the ANSYS

Maxwell software, in order to validate, optimize and correct possible design failures.

Keywords: electric motor, axial flux, permanent magnets, YASA, vehicular traction

device, Finite Element Method.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. VIII

LISTA DE TABELAS................................................................................................. X

Capítulo 1 – Introdução................................................................................................ 1

1.1 – Motores a Combustão Interna.................................................................... 1

1.2 – Motores Elétricos....................................................................................... 3

1.3 – Objetivo...................................................................................................... 5

1.4 – A Motocicleta............................................................................................. 5

1.5 – Organização Textual.................................................................................. 8

Capítulo 2 – Motor Brushless de Fluxo Axial.............................................................. 9

2.1 – Princípio de Funcionamento...................................................................... 11

2.2 – Ímãs Permanentes...................................................................................... 11

2.3 – Topologias de Motores de Fluxo Axial .................................................... 15

Capítulo 3 – Projeto Analítico...................................................................................... 20

3.1- Pólos e Segmentos do Estator...................................................................... 20

3.2 – Enrolamento............................................................................................... 21

3.3 – Conjugado.................................................................................................. 24

3.4 – Circuito Magnético.................................................................................... 25

3.5 – Análise dos Segmentos do Estator e Ímãs Permanentes............................ 28

Capítulo 4 – Dimensionamento do Motor.................................................................... 32

4.1 – Número de Pólos e Segmentos do Estator................................................. 32

4.2 – Distribuição das Bobinas........................................................................... 33

4.3 – Considerações de Dimensionamento........................................................ 36

4.4 – Algoritmo de Dimensionamento................................................................ 40

4.6 – Análise....................................................................................................... 42

Capítulo 5 – Análise pelo Método dos Elementos Finitos........................................... 44

5.1 – Modelagem................................................................................................. 44

5.2 – Densidades de Fluxo Magnéticos.............................................................. 46

5.3 – Avaliação do Conjugado............................................................................ 49

Capítulo 6 – Considerações Finais............................................................................... 51

6.1 – Conclusão................................................................................................... 51

6.2 – Trabalhos Futuros...................................................................................... 52

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Curva Conjugado x Velocidade para um MCI sem caixa de marcha...... 2

Figura 1.2 – Curva Conjugado x Velocidade para um MCI com caixa de marcha de

4 velocidades................................................................................................................ 2

Figura 1.3 – Curva característica de conjugado/potência x velocidade de um motor

elétrico aplicado a tração.............................................................................................. 3

Figura 1.4 – Classificação dos motores elétricos......................................................... 4

Figura 1.5 – Curva conjugado máximo x velocidade do modelo HONDA CG 160.... 8

Figura 2.1 – Comparação das topologias de fluxo radial e fluxo axial........................ 9

Figura 2.2 – Curva de conjugado x diâmetro dos motores de fluxo radial e axial....... 10

Figura 2.3 – Sistema de coordenadas cilíndricas do motor de fluxo axial................... 11

Figura 2.4 – Evolução do produto energético dos ímãs ao longo dos anos.................. 12

Figura 2.5 – Esquematização do laço de histerese....................................................... 12

Figura 2.6 – Detalhe do segundo quadrante do laço de histerese (Curva de

desmagnetização)......................................................................................................... 13

Figura 2.7 – Curvas de desmagnetização para ímãs permanentes comuns.................. 14

Figura 2.8 – Vista em corte das topologias básicas do motor de fluxo axial. (a) Lado

único (b) Lado duplo com rotor central (c) Lado duplo com estator central (d)

Multi-discos.................................................................................................................. 16

Figura 2.9 – Configuração YASA. a) Vista em Três dimensões b) Vista

esquemática planificada................................................................................................ 17

Figura 2.10 - Detalhamento do segmento do estator.................................................... 18

Figura 2.11 – a) Ímãs permanentes posicionados no rotor. b) Detalhamento do

rotor. c) Detalhamento do ímã permanente.................................................................. 18

Figura 2.12 – Esquematização da fixação dos segmentos do estator........................... 19

Figura 3.1 – Estrela de ranhuras................................................................................... 22

Figura 3.2 – Convenções adotadas no projeto.............................................................. 23

Figura 3.3 – a) Linhas de fluxo do motor. b)Circuito magnético do motor................ 26

Figura 3.4 – Vista esquemática da área da seção transversal do rotor (𝐴𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 )........... 27

Figura 3.5 – Comprimentos do arco interno e externo do ímã permanente e da

sapata do estator........................................................................................................... 28

Figura 3.6 – Segmento do estator. a) plano de corte A. b) Vista superior................... 29

Figura 3.7 - Vista superior esquemática da barra central e sapata do segmento do

estator com as dimensões para o cálculo de 𝑊𝑐 ........................................................................ 30

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Figura 4.1 – Curva de freqüência elétrica x velocidade para as configurações

𝑁𝑠 2𝑝 ...........................................................................................................................

32

Figura 4.2 - Estrela de ranhura para a configuração 12/10......................................... 35

Figura 4.3 – (a) Posicionamento do primeiro lado da bobina da fase A. (b)

Alocação do segundo lado da bobina da fase A. (c) Alocação das bobinas das três

fases.............................................................................................................................. 35

Figura 4.4 – Curva teórica do conjugado x razão do raio............................................ 37

Figura 4.5 – Curva de saturação do aço 1008.............................................................. 37

Figura 4.6 – Esquematização do algoritmo desenvolvido............................................ 41

Figura 4.7 – Curva de conjugado x densidade de fluxo no entreferro......................... 42

Figura 4.8 – Curva da espessura do ímã (𝑙𝑝𝑚 ) x Densidade de fluxo no entreferro.... 42

Figura 5.1 – Modelagem do motor............................................................................... 44

Figura 5.2 – (a) Bobina modeladas. (b) Detalhe da definição do sentido positivo da

corrente......................................................................................................................... 45

Figura 5.3 – Segmento do estator................................................................................. 45

Figura 5.4 – Ímã permanente modelado....................................................................... 46

Figura 5.5 – Comparação das densidades de fluxo no entreferro em função da

espessura do ímã........................................................................................................... 47

Figura 5.6 – Densidade fluxo magnético no segmento do estator para diferentes

excitações..................................................................................................................... 48

Figura 5.7 – Densidade de fluxo no segmento do estator............................................ 48

Figura 5.8 – Densidade de fluxo no ferro do rotor....................................................... 49

Figura 5.9 – Comparação entre os conjugados para 𝑙𝑝𝑚 = 5 𝑚𝑚 e 𝑙𝑝𝑚 = 6 𝑚𝑚...... 50

Figura 5.10 – Detalhe do conjugado para 𝑙𝑝𝑚 = 6 𝑚𝑚............................................... 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 – Emplacamentos de motocicletas de acordo com o subsegmento............ 5

Tabela 1.2 – Emplacamento de motocicletas do subsegmento City............................. 5

Tabela 1.3 – Dados da motocicleta............................................................................... 6

Tabela 4.1 – Combinações de segmentos e pólos........................................................ 32

Tabela 4.2 – Fator de enrolamento das combinações................................................... 34

Tabela 4.3 – Condutores padrão AWG........................................................................ 39

Tabela 4.4 – Parâmetros analíticos do motor............................................................... 43

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Capítulo 1 - Introdução

A preocupação crescente com o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente,

através de políticas ambientais de redução das emissões de 𝐶𝑂2 na atmosfera, vem

fomentando o desenvolvimento de novas fontes de energia assim como alternativas para

tração mecânica dos veículos.

Com os recentes avanços na área da tecnologia dos materiais (baterias e ímãs) e

da eletrônica de potência, a utilização de motores elétricos para a tração veicular vem

ganhando destaque. Atualmente os veículos elétricos são uma tendência no mercado

global, com representantes em diferentes categorias de meios de locomoção, desde

bicicletas até ônibus.

Frente aos motores a combustão interna, os motores elétricos apresentam

algumas vantagens que serão tratadas adiante neste capítulo. Contudo, o principal

gargalo na tração veicular elétrica é no tocante à acumulação de energia e autonomia

dos mesmos.

1.1 – Motores a Combustão Interna

Quase a totalidade dos meios de transportes rodoviários, independente do

combustível consumido (gasolina, diesel, etanol, GNV etc.), utiliza motores de

combustão interna (MCI). Nestes motores, a energia proveniente da queima da mistura

ar-combustível é transformada em energia mecânica, fazendo o motor girar.

Contudo, esta transformação é bastante ineficiente devido ao atrito entre os

diversos componentes do motor, trocas térmicas, etc [1]. Segundo [2], a eficiência

global típica de motores automotivos varia entre 26% e 30% quando utilizado gasolina e

34% a 40% quando utilizado diesel.

Uma condição que deve ser levada em consideração no que se refere a MCI é

que para uma maior eficiência existe um ponto de operação ideal. Considerando-se a

potência constante em toda a faixa de velocidade, surge uma hipérbole ideal de

conjugado [3], contudo na Figura 1.1 observa-se que o MCI abrange uma pequena

porção abaixo da hipérbole.

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Figura 1.1 – Curva Conjugado x Velocidade para um MCI sem caixa de marcha.

Para minimizar essa condição e aumentar a eficiência, faz-se necessário o uso de

uma caixa de transmissão de velocidade variável, de modo a aproximar o

comportamento do MCI da hipérbole. Na Figura 1.2 pode-se observar a mesma curva

com a aplicação de uma caixa de transmissão de 4 velocidades.

Figura 1.2 - Curva Conjugado x Velocidade para um MCI com caixa de marcha de 4 velocidades.

Outra característica inerente ao MCI é a necessidade de se manter uma rotação

mínima para seu funcionamento, ou seja, um veículo, mesmo parado, deve permanecer

com o motor girando e, deste modo, consumindo combustível e emitindo gases

poluentes [3]. Mecanismos para evitar ou diminuir essa condição já existem, o principal

deles é o sistema “Start-Stop”. Nele o motor é desligado quando o veículo se encontra

parado (no sinal de trânsito ou congestionamento) e é novamente ligado ao se pressionar

a embreagem ou o acelerador. Entretanto, o número de veículos que apresentam esse

sistema ainda é reduzido, além de muitas vezes ser desativado pelos condutores por

acreditarem que o “liga e desliga” do motor possa trazer um desgaste maior para o

conjunto de partida [4].

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1.2 - Motores Elétricos

O motor elétrico é uma máquina que converte energia elétrica em energia

mecânica a partir da interação entre os campos magnéticos da parte móvel e da parte

fixa do motor. Essa conversão apresenta uma elevada eficiência, principalmente quando

comparado com o MCI. Segundo [5], a eficiência dos motores elétricos é em geral

maior que 80%.

Diferente do MCI, no motor elétrico não há um limite mínimo de rotações para

mantê-lo ligado e o mesmo é capaz de fornecer conjugado mesmo com rotação nula. Na

Figura 1.3 é apresentada uma curva típica de disponibilidade de conjugado e de potência

em função da velocidade para um motor elétrico aplicado a tração [6].

Figura 1.3 – Curva característica de conjugado/potência x velocidade de um motor elétrico aplicado a

tração.

Na Figura 1.3 observam-se, para a curva de conjugado, dois comportamentos

distintos. Partindo do repouso (ponto "𝑎") até atingir a velocidade nominal (ponto "𝑏") a

curva apresenta conjugado constante. Deste ponto em diante, dado o enfraquecimento

do campo, apresenta potência constante com conseqüente redução do conjugado de

acordo com a Equação (1.1) [6].

𝑃 = 𝑇𝜔 (1.1)

Outra vantagem do motor elétrico sobre o MCI é que não há a emissão de

poluentes, contudo, deve-se atentar ao correto descarte da bateria ao final de sua vida

útil, a fim de evitar poluição por um descarte inadequado.

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As principais desvantagens do motor elétrico referem-se à sua autonomia,

devido à reduzida capacidade de acumulação de energia nas baterias e o tempo de

reabastecimento ainda muito elevado.

Os motores elétricos, dependendo da sua alimentação, construção e

funcionamento, são classificados dentro dos principais grupos e subgrupos apresentados

na Figura 1.4.

Figura 1.4 – Classificação dos motores elétricos.

1.2.1 – Características dos Motores Elétricos para Tração Veicular

O motor elétrico aplicado para a tração de veículos deve apresentar

características próprias para esta função, se diferenciando dos motores utilizados em

indústrias, por exemplo. De acordo com [7] e [8], as principais características desses

motores devem ser:

Elevada densidade de potência e conjugado

Ampla faixa de velocidade

Elevado conjugado para partida e aclive

Alta potência quando em velocidade de cruzeiro

Confiabilidade e robustez para atender constantes partidas e paradas

Elevada eficiência em uma larga faixa de velocidade e conjugado

Motores Elétricos

CA

Síncronos

Polifásico

Imãs permanentes

Rotor Bobinado

Relutância

Histerese

Monofásico

Relutância

Histerese

Assíncronos

Indução

Polifásico

Rotor Bobinado

Gaiola de esquilo

Monofásico

Capacitor

Pólos Sombreados

CC

Imãs permanentes

Excitação Série

Excitação Composta

Excitação Independente

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1.3 – Objetivo

O objetivo do presente trabalho é o projeto de um motor elétrico de fluxo axial,

que será apresentado no Capítulo 2, a ser alocado no eixo da roda traseira de uma

motocicleta, de modo que alcance os valores de conjugado desejado.

1.4 – A Motocicleta

Dado o objetivo do trabalho, foi escolhido um modelo comercial de uma

motocicleta provida de um MCI como base para determinados parâmetros. O modelo

escolhido para o projeto foi a HONDA CG 160.

Este modelo faz parte do subsegmento City, composto por motos urbanas de

baixa cilindrada, até 300cc. A Tabela 1.1 e a Tabela 1.2 foram adaptadas de [9] e pode-

se notar que este subsegmento representa 40,72% dos emplacamentos acumulados até o

mês de Setembro de 2016, sendo que o modelo escolhido representa 54,51% dos

emplacamentos deste subsegmento.

Tabela 1.1 – Emplacamentos de motocicletas de acordo com o subsegmento.

Subsegmento Acumulado 2016

(Setembro)

City 40,72 %

Scooter / Club 35,09 %

Trail / Fun 19,31 %

Naked / Roadster 1,79 %

Maxtrail 1,30 %

Sport 0,94 %

Custom 0,71 %

Touring 0,13 %

Total 100 %

Tabela 1.2 – Emplacamento de motocicletas do subsegmento City.

Modelo Acumulado 2016

(Setembro) Participação

1º HONDA / CG 160 166.425 54,51 %

2º HONDA / CG 150 31.464 10,31 %

3º HONDA / CG 125 28.115 9,21 %

4º HONDA / CB 250F Twister 18.609 6,10 %

5º YAMAHA / YBR 150 16.353 5,36 %

6º YAMAHA / YS 150 Fazer 12.237 4,01 %

7º YAMAHA / YBR 125 10.837 3,55 %

8º YAMAHA / Fazer 250 8.299 2,72 %

9º SUZUKI / GSR 125 2.242 0,73 %

10º HONDA / CB 300R 1.628 0,53 %

Total 305.289 100%

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1.4.1 – Características do Modelo da Motocicleta

A partir de [10] foi criada a Tabela 1.3 com os principais dados da motocicleta.

Tabela 1.3 Dados da motocicleta.

Motocicleta

Marca Honda

Modelo CG 160 Titan

Motor

Cilindrada 162,7 cm³

Potência Máxima 14,9* cv

Rotação de Potência Máxima 8000 rpm

Conjugado Máximo 1,4* kgf.m

Rotação de Conjugado Máximo 6000 rpm

Transmissão

Tipo 5 velocidades

Redução Primária 3,136

Redução Final 2,933

Relação de transmissão (marchas) 1ª 2,785

2ª 1,695

3ª 1,300

4ª 1,066

5ª 0,916

Rodas

Pneu 100/80 18M/C REINF 59P

Diâmetro externo do Pneu 0,6172 m

Diâmetro do Aro 0,4572 m

Largura do Pneu 0,10 m

Distância entre as pontas do garfo 0,15** m

*Valor referente à utilização com gasolina

** Valor medido

Realizando a conversão da unidade do conjugado de 𝑘𝑔𝑓.𝑚 para 𝑁.𝑚 (em que

1𝑘𝑔𝑓.𝑚 = 9.80665 𝑁.𝑚) tem-se que a motocicleta apresenta conjugado máximo de

13,73 𝑁.𝑚 para uma rotação de 6000 𝑟𝑝𝑚. Assim, levando-se em consideração o

diâmetro externo do pneu e as reduções (primária, final e relação de transmissão) foi

gerado o gráfico, apresentado na Figura 1.5, do conjugado máximo em função da

velocidade linear para cada marcha. A seguir é exemplificado o processo de

determinação do conjugado máximo para a primeira marcha.

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O sistema de redução presente na motocicleta funciona reduzindo as rotações e

elevando o conjugado na mesma proporção.

𝑅𝑒𝑑𝑢çã𝑜𝑃𝑟𝑖𝑚á𝑟𝑖𝑎

×𝑅𝑒𝑑𝑢çã𝑜𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙

×1ª

𝑚𝑎𝑟𝑐𝑕𝑎= 3,136 × 2,933 × 2,785 ≅ 25,61

Assim, a velocidade de rotação da roda traseira apresenta uma relação de

1 ∶ 25,61 em comparação ao eixo do motor, ou seja, a cada rotação completa da roda o

eixo do motor realiza 25,61 rotações. Consequentemente, o conjugado no eixo da roda

é multiplicado por um fator de 25,61 em relação ao conjugado no eixo do motor.

Para uma rotação do eixo do motor de 6000 𝑟𝑝𝑚, o eixo da roda apresenta:

𝑅𝑜𝑡𝑎çã𝑜 𝑛𝑜 𝑒𝑖𝑥𝑜 𝑑𝑎 𝑟𝑜𝑑𝑎 =6000 𝑟𝑝𝑚

25,61= 234,28 𝑟𝑝𝑚

𝐶𝑜𝑛𝑗𝑢𝑔𝑎𝑑𝑜 𝑛𝑜 𝑒𝑖𝑥𝑜 𝑑𝑎 𝑟𝑜𝑑𝑎 = 13,73 𝑁.𝑚 × 25,61 = 351,62 𝑁.𝑚

Assim, levando-se em consideração o diâmetro externo do pneu:

𝑃𝑒𝑟í𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑒𝑛𝑜𝑑𝑜 𝑝𝑛𝑒𝑢

= 2𝜋𝑟 = 2 × 𝜋 ×0,6172

2= 1,939 𝑚

Ou seja, a cada rotação da roda traseira há um deslocamento linear de 1,939

metros, portanto, uma velocidade de 234,28 𝑟𝑝𝑚 representa uma velocidade linear em

m/s de:

234,28 𝑟𝑝𝑚 × 1,939

60= 7,57𝑚/𝑠

Por fim, a velocidade em km/h é dada por:

7,57𝑚/𝑠 × 3,6 = 27,25𝑘𝑚/𝑕

Para se obter o conjugado máximo para as demais marchas, basta repetir o

procedimento apresentado alterando apenas a relação de transmissão para a marcha

desejada.

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Figura 1.5 – Curva conjugado máximo x velocidade do modelo HONDA CG 160.

1.5 – Organização Textual

Este trabalho está divido em cinco capítulos. No primeiro é feita uma

contextualização a respeito dos motores empregados para tração veicular (elétrico e

combustão interna), sendo também apresentado o objetivo do projeto e o modelo da

motocicleta tomado como base para o mesmo.

No segundo capítulo, o motor brushless de fluxo axial é apresentado. É feita

uma comparação com os motores de fluxo radial, seguida de uma breve descrição sobre

ímãs permanentes e por fim são apresentadas as principais topologias.

O projeto analítico, assim como suas etapas, está dividido nos dois capítulos

seguintes. No terceiro é feita a revisão da bibliografia e no capítulo quatro a realização

do dimensionamento do motor com base nos parâmetros desejados.

No capítulo cinco, com auxilio computacional, é realizada a análise por

elementos finitos e os resultados da simulação são apresentados.

O sexto capítulo encerra o trabalho com suas conclusões.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Co

nju

gad

o (

N.m

)

Velocidade Linear (km/h)

1ª marcha

2ª marcha

3ª marcha4ª marcha

5ª marcha

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Capítulo 2 – Motores Brushless de Fluxo Axial

O motor brushless (sem escovas) é um tipo de motor síncrono de ímãs

permanentes. Nele a rotação está em sincronia com a corrente de alimentação, ou seja,

não há escorregamento como ocorre nos motores de indução.

Segundo [11], os motores brushless de fluxo axial são uma alternativa

interessante para os convencionais motores brushless de fluxo radial devido a sua forma

em disco, construção compacta e elevada densidade de potência. Apresenta excelente

aplicabilidade em veículos elétricos, bombas, ventiladores, controle de válvulas,

centrífugas, robótica, equipamentos industriais, etc.

Para aplicações de tração de veículos elétricos no qual o motor se localiza no

eixo da roda, sendo o diâmetro da roda maior que o comprimento do eixo da mesma, os

motores de fluxo axial apresentam vantagem em relação aos de fluxo radial devido à

relação do conjugado com o diâmetro [12], mostrado na Figura 2.1.

Fluxo Radial Fluxo Axial

𝑇~𝐿 𝑥 𝐷2

𝑇~𝐷3

Figura 2.1 – Comparação das topologias de fluxo radial e fluxo axial

Na Figura 2.2 é possível ver a comparação entre os conjugados dos motores

radial e axial a partir da variação do diâmetro.

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Figura 2.2 – Curva de conjugado x diâmetro dos motores de fluxo radial e axial

A seguir é apresentada a dedução da equação do conjugado para o motor de

fluxo radial, [13].

𝑇 = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎 × 𝑅𝑎𝑖𝑜 (2.1)

𝐹𝑜𝑟ç𝑎 = 𝐵 𝑖 𝐿 = 𝐵 𝐽 2 𝜋 𝑅𝑎𝑖𝑜 𝐿 (2.2)

Em que: 𝐵 – Densidade de Fluxo magnético

𝐽 – Densidade de Corrente

Substituindo a Equação (2.2) na Equação (2.1):

𝑇 = 𝐵 𝐽 2 𝜋 𝑅𝑎𝑖𝑜2 𝐿 (2.3)

Assim, como mostrado na Figura 2.1, comprova-se a relação do conjugado do

motor de fluxo radial com o quadrado do raio.

Na representação geométrica do motor de fluxo axial será utilizado o sistema de

coordenadas cilíndricas. Como pode ser observado na Figura 2.3, o eixo de rotação está

alinhado com o eixo 𝑍, também chamado de direção axial. A rotação ocorre nas

direções ±𝜃. No plano paralelo ao plano 𝑥‐ 𝑦 estão as dimensões radiais do motor.

0

1

2

3

4

5

6

7

0,5 1 1,5 2

Co

nju

gad

o

Diâmetro

Fluxo Radial Fluxo Axial

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11

Figura 2.3 – Sistema de coordenadas cilíndricas do motor de fluxo axial

2.1 – Princípio de Funcionamento

Os motores brushless, em geral, são alimentados por uma ponte trifásica com

seis semicondutores e um sistema de controle realimentado a partir da posição do rotor.

O chaveamento dos semicondutores é realizado de modo a alimentar as fases no

instante correto. O campo magnético dos ímãs permanentes no rotor têm a tendência de

se alinhar com o campo magnético gerado pelas bobinas energizadas, produzindo assim

um conjugado e por fim o movimento do motor.

Na iminência do alinhamento, há a comutação das fases alimentadas e uma nova

posição para o alinhamento é criada. Essa comutação é sequenciada de modo a manter o

movimento, ou seja, o rotor está sempre tentando se alinhar com o estator.

2.2 – Ímãs Permanentes

De acordo com [6], a recente evolução de motores brushless se deve ao

desenvolvimento das propriedades dos ímãs. Na Figura 2.4, observa-se o crescimento

exponencial do produto energético ao longo dos anos.

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Figura 2.4 – Evolução do produto energético dos ímãs ao longo dos anos

Fonte: Adaptado de [6]

O produto energético é resultado do produto da densidade de fluxo magnético

(𝐵) pela intensidade do campo magnético (𝐻), sendo muitas vezes considerado na

avaliação da qualidade do ímã.

Na Figura 2.5 é mostrado um laço de histerese 𝐵 − 𝐻 genérico. Ele é obtido

aplicando-se sucessivamente um fluxo no sentido de magnetizar e, em seguida, um

fluxo negativo de modo a desmagnetizar o material. Deste modo, características

importantes a se considerar na escolha do ímã podem ser retiradas do laço de histerese,

mais precisamente, do segundo quadrante, a curva de desmagnetização.

Figura 2.5 – Esquematização do laço de histerese

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Da curva de desmagnetização mostrada em detalhe na Figura 2.6, obtêm-se

parâmetros como:

Figura 2.6 – Detalhe do segundo quadrante do laço de histerese (Curva de desmagnetização)

Remanência (𝐵𝑟) – Corresponde ao valor da densidade de fluxo magnético

quando o campo magnético externo é nulo (𝐻 = 0), ou seja, é a densidade de

fluxo máximo que um ímã pode gerar por conta própria [14].

Coercividade (𝐻𝑐) – É o valor da intensidade do campo desmagnetizante

necessária para anular a densidade de fluxo magnético (𝐵 = 0) [11].

Permeabilidade Relativa de recuo (Relative recoil permeability – 𝜇𝑟𝑒𝑐 ) – Valor

da razão entre a densidade do fluxo e a intensidade do campo magnético em

qualquer ponto da curva de desmagnetização [11].

A permeabilidade (𝜇) de um determinado material, definida pela Equação (2.4),

é comumente referenciada à permeabilidade no vácuo (𝜇0 = 4 𝜋 × 10−7 𝐻/𝑚)

criando uma grandeza adimensional de permeabilidade relativa (𝜇𝑟) dada pela Equação

(2.5) [14].

𝜇 =B

H (2.4)

𝜇𝑟 =𝜇

𝜇0 (2.5)

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Nota-se na Figura 2.4 e na Figura 2.7 que os mais recentes e modernos ímãs

permanentes são também os que apresentam maior produto energético, assim como

maior 𝐻𝑐 e 𝐵𝑟 . São eles o samário-cobalto e o neodímio-ferro-boro (NdFeB).

Figura 2.7 – Curvas de desmagnetização para ímãs permanentes comuns

Fonte: [5]

O samário-cobalto representa um avanço significativo na tecnologia de ímãs

permanentes que começou em meados da década de 1960 com a descoberta de ímãs de

terras raras [5]. Estes ímãs apresentam características bastante superiores aos seus

antecessores, além de uma curva de desmagnetização linear, porém, seu alto custo

limita sua utilização a aplicações que operam em elevadas temperaturas, uma vez que

seu coeficiente térmico é reduzido [6].

A partir de 1980 surgiu a geração mais recente de ímãs de terras raras. O

neodímio-ferro-boro apresenta valores de produto energético, coercividade e

remanência superiores ao samário-cobalto, além de ser produzido com matéria prima de

menor custo. As desvantagens recaem sobre a faixa de operação a temperaturas menores

em relação aos ímãs de samário-cobalto e sua suscetibilidade à corrosão [6].

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15

2.3 – Topologias de Motores de Fluxo Axial

As principais topologias de motores de fluxo axial são divididas em [11]:

Lado único – esta configuração é formada por um estator e um rotor, apresentando uma

razão elevada entre o diâmetro e o comprimento axial. Sua construção é mais simples

que o lado duplo, porém, a desvantagem é a capacidade de conjugado reduzida e as

elevadas forças axiais entre o estator e o rotor aplicadas aos rolamentos. Esta topologia

é apresentada na Figura 2.8a.

Lado duplo – Esta configuração é subdividida em duas categorias:

Um rotor central e dois estatores (AFIR – axial flux internal rotor) – o

disco do rotor contendo os ímãs permanentes gira entre dois discos do estator. No caso

dos estatores conectados em paralelo, o motor poderia funcionar com apenas um dos

enrolamentos, caso o outro apresente avaria. Entretanto, a conexão em série é preferível,

pois proporciona forças axiais atrativas iguais e balanceadas, apresentado na Figura

2.8b.

Um estator central e dois rotores (AFIS – Axial flux internal stator) –

Nesta configuração os discos do rotor estão localizados nos dois lados do estator. É

considerada uma configuração vantajosa para uma ampla gama de aplicações, contudo,

apresenta a desvantagem de utilizar um volume de ímãs maior que a topologia anterior,

apresentado na Figura 2.8c.

Multi-discos – O aumento do conjugado alcançado através do diâmetro do motor é

limitado por: força axial suportada pelos rolamentos, integridade mecânica da junção

dos discos com o eixo, rigidez dos discos. Uma solução para máquinas de elevado

conjugado é a inserção alternada de discos de rotores e estatores. Essa configuração é

favorável onde há espaço disponível na direção axial, apresentado na Figura 2.8d.

Estas categorias ainda podem ser subdivididas, dependendo principalmente de:

Configuração do enrolamento

Rotor com ranhuras ou sem ranhuras

Presença de núcleo ferromagnético no estator e/ou rotor.

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Figura 2.8 – Vista em corte das topologias básicas do motor de fluxo axial. (a) Lado único (b) Lado

duplo com rotor central (c) Lado duplo com estator central (d) Multi-discos

2.3.1 – Topologia YASA

A topologia YASA (Yokeless and Segmented Armature) é um tipo recente de

motor de fluxo axial que apresenta melhoras na densidade de conjugado (em torno de

20%) e eficiência quando comparada com outras topologias [15].

O motor YASA é uma variação da topologia AFIS, no qual o estator, composto

por uma série de segmentos magneticamente separados [15], é posicionado entre dois

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discos do rotor que possuem os ímãs permanentes. O motor YASA é apresentado em

três dimensões na Figura 2.9a e esquematicamente representado, de modo planificado,

na Figura 2.9b.

Figura 2.9 – Configuração YASA. a) Vista em Três dimensões b) Vista esquemática planificada.

Na representação do motor da Figura 2.9, os ímãs permanentes estão

convencionados de modo que a coloração vermelha indica que a superfície que faceia o

entreferro é de polaridade norte, enquanto a coloração azul é de polaridade sul.

O segmento do estator pode ser dividido em três partes: uma barra central e duas

sapatas nas extremidades, como apresentado na Figura 2.10. As sapatas apresentam uma

área de seção transversal maior em relação à barra central no intuito de maximizar o

fluxo concatenado [16] e cobrir parcialmente as bobinas de modo a protegê-las.

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Figura 2.10 - Detalhamento do segmento do estator

O rotor e os ímãs permanentes são apresentados em detalhe na Figura 2.11.

Figura 2.11 – a) Ímãs permanentes posicionados no rotor. b) Detalhamento do rotor. c) Detalhamento do

ímã permanente

Uma das principais desvantagens desta configuração é a junção mecânica entre

os segmentos do estator. Em [17] é apresentada uma solução para o problema. Os

segmentos do estator são fixados a uma estrutura conectada ao eixo do motor. A fixação

se dá por meio de parafusos que atravessam a sapata, do arco do raio externo ao arco do

raio interno, conectando-a a estrutura, como exemplificado na Figura 2.12.

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Figura 2.12 – Esquematização da fixação dos segmentos do estator

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Capítulo 3 – Projeto Analítico

Na literatura são apresentados diversos processos para o cálculo analítico do

motor. Esses cálculos são, muitas vezes, utilizados para obter uma aproximação inicial

dos parâmetros do motor, sendo aprimorados e otimizados posteriormente, em uma

análise computacional pelo método dos elementos finitos.

3.1 – Pólos e Segmentos do Estator

Um fator importante a ser considerado na determinação do número de pares de

pólos (𝑝) é a velocidade de rotação (𝑛). Segundo [6], o número de pólos deve ser

inversamente proporcional à velocidade, uma vez que a freqüência de chaveamento dos

semicondutores está intimamente relacionada a estes fatores.

𝑓𝑒𝑙 =𝑛 𝑝

60 (3.1)

Da Equação (3.1) pode-se notar que aumentando-se a velocidade e/ou o número

de pólos, aumenta-se a fundamental da freqüência elétrica e, portanto, a frequência de

chaveamento. Conseqüentemente aumentam-se também as perdas no controlador e no

ferro do estator.

Outro fator a ser considerado é a razão entre o número de pólos (2𝑝) e

segmentos do estator (𝑁𝑠). Segundo [6] e [18] uma razão 𝑁𝑠 2 𝑝 fracionária

apresentaria uma redução no cogging torque, pois deste modo não há o alinhamento

total entre os pólos e os segmentos do estator.

O cogging torque é uma oscilação no conjugado, independente da corrente,

causado pela interação dos ímãs permanentes do rotor e os segmentos/dentes do estator,

de modo a se alinharem no caminho de menor relutância. O cogging torque é o

componente principal do ripple do conjugado gerado no motor e por isso deve ser

evitado [16].

Estudos realizados em [19], [20] e [21] mostram que o número de pares de

pólos e o número de segmentos do estator devem ser similares, de modo a maximizar o

fluxo concatenado e a densidade de conjugado. Assim, as possíveis combinações

podem ser obtidas por,

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𝑁𝑠 = 2𝑝 ± 2 (3.2)

3.2 – Enrolamento

Existe uma grande variedade de arranjos para os enrolamentos de armadura

presentes no estator, assim, levando em consideração a topologia do motor YASA, uma

configuração baseada no conceito da razão fracionária, que vem atraindo diversos

estudos na busca de um arranjo que a otimize, mostra-se bastante promissora para este

projeto.

Nesta configuração as bobinas estão enroladas em torno de um único dente ou

segmento do estator, apresentando vantagens como:

Menor cabeça de Bobina – Maior aproveitamento do cobre, uma vez que a

parcela do enrolamento que não contribui para gerar fluxo no estator é menor

[22].

Facilidade de enrolamento – Associada com a topologia YASA, com o estator

segmentado, o rebobinamento de modo automatizado é facilitado, utilizando

maquinário mais simples, reduzindo custos e aumentando o fator de enchimento

(fill factor) [22].

Separação física das fases – O espaço existente entre o enrolamento de cada uma

das fases reduz o risco de uma falta fase-fase [20].

Baixa indutância mútua – Reduz a influência de uma fase em curto no fluxo

produzido por uma fase sã [20].

3.2.1 – Arranjo do Enrolamento

A alocação das bobinas no estator e suas conexões, seguindo o conceito da razão

fracionária, pode ser definida através da estrela de ranhuras (star of slots) mostrada na

Figura 3.1.

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Figura 3.1 – Estrela de ranhuras

Em [23] e [24] é descrito o procedimento para o projeto simétrico e balanceado,

onde a periodicidade do enrolamento do motor (𝑡) é definida pelo maior divisor comum

(MDC) entre o número de ranhuras (𝑄) e o número de pares de pólos, sendo que

𝑄 = 𝑁𝑠.

𝑡 = 𝑀𝐷𝐶 [𝑄;𝑝] (3.3)

O número de setas da estrela é dado por 𝑄 𝑡 , sendo cada seta formada por 𝑡

fasores. Assim, o número de fasores na estrela é igual a 𝑄, por isso o número dado a

cada fasor é, consequentemente, o número de cada ranhura do estator. O ângulo elétrico

entre dois fasores adjacentes é:

𝛼𝑠𝑒 = 360°

𝑝

𝑄 (3.4)

E o ângulo entre duas setas é:

𝛼𝑝𝑕 = 360° 𝑡

𝑄 (3.5)

O número de fases é dado por 𝑚, assim, a estrela é dividida em 2 ∙ 𝑚 setores e

cada um ocupa um setor circular equivalente a 360° (2 𝑚) graus. Em dois setores

opostos, afastados de 180°, é alocada uma mesma fase sendo referenciado um setor

como positivo e outro negativo. O número de fasores em um mesmo setor é 𝑄 (2 𝑚 𝑡 ).

Com a estrela de ranhuras representada, assumindo o aumento positivo do

ângulo no sentido anti-horário e entendendo que os setores dados como positivos

apresentam o lado da bobina saindo do plano da folha, como mostrado na Figura 3.2,

pode-se concluir o posicionamento das bobinas, de modo que um dos lados esteja

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alocado na ranhura indicada na estrela. A determinação da ranhura em que será alocado

o outro lado da bobina é dada por:

𝑦𝑞 = 𝑎𝑟𝑟𝑒𝑑𝑜𝑛𝑑𝑎𝑟[𝑄; 2 𝑝 ] (3.6)

Ou seja, 𝑦𝑞 determina quantas ranhuras, após o primeiro lado da bobina será

alocado o segundo lado. Dado que este projeto apresenta enrolamento concentrado, ou

seja, cada bobina envolve um único segmento do estator, tem-se que 𝑦𝑞 = 1.

Figura 3.2 – Convenções adotadas no projeto

3.2.2 – Fator de Enrolamento

O fator de enrolamento (𝐾𝑤) é um indicador importante no projeto dos

enrolamentos, ele é definido com o produto do fator de distribuição (𝐾𝑑) pelo fator de

passo (𝐾𝑝) [6].

𝐾𝑤 = 𝐾𝑑𝐾𝑝 (3.7)

O fator de distribuição, dado pela Equação (3.8), é a razão entre a soma

geométrica e aritmética dos fasores de uma mesma fase [23].

𝐾𝑑 =

𝑠𝑒𝑛 𝑞𝑝𝑕 𝛼𝑝𝑕

4

𝑞𝑝𝑕2 𝑠𝑒𝑛

𝛼𝑝𝑕

2 𝑠𝑒 𝑞𝑝𝑕 é 𝑝𝑎𝑟

(3.8a)

𝐾𝑑 =𝑠𝑒𝑛

𝑞𝑝𝑕 𝛼𝑝𝑕

4

𝑞𝑝𝑕 𝑠𝑒𝑛 𝛼𝑝𝑕

4 𝑠𝑒 𝑞𝑝𝑕 é 𝑖𝑚𝑝𝑎𝑟 (3.8b)

Sendo que,

𝑞𝑝𝑕 =𝑄

𝑚 𝑡 (3.9)

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O fator de passo é calculado a partir de:

𝐾𝑝 = 𝑠𝑒𝑛 𝜎𝑤2 (3.10)

Sendo que o ângulo de extensão da bobina (𝜎𝑤 ) é dado por:

𝜎𝑤 =2 𝜋 𝑝 𝑦𝑞

𝑄 (3.11)

3.3 – Conjugado

O método para o cálculo do conjugado utilizado neste projeto, desenvolvido em

[25], faz uso da tensão de cisalhamento no entreferro - Air gap shear stress (𝜏). A

tensão de cisalhamento do entreferro é uma medida da força de produção de conjugado

em relação à área de superfície ativa do rotor. Para um motor de fluxo axial, a tensão de

cisalhamento é definida como:

𝜏 =𝑇

𝐴𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 𝑟𝑎𝑣 (3.12)

Em que: 𝑇 – Conjugado no eixo

𝐴𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 – Área ativa do rotor

𝑟𝑎𝑣 – Raio médio do rotor

A área ativa do rotor é dada pela área da coroa circular delimitada pelo raio

interno 𝑟𝑖 e raio externo 𝑟𝑜 , dada pela Equação (3.13).

𝐴𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = 𝜋(𝑟𝑜2 − 𝑟𝑖

2) (3.13)

Deste modo, o conjugado é dado por:

𝑇 = 1 − 𝜆2 (1 + 𝜆)𝜋𝜏

2𝑟𝑜

3 (3.14)

Sendo a razão entre os raios (𝜆) dada por:

𝜆 =𝑟𝑖𝑟𝑜

(3.15)

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25

A tensão de cisalhamento pode ser definida pelo produto da densidade média de

fluxo magnético no entreferro, também chamado de carregamento magnético (magnetic

loading), pela densidade linear de corrente, também chamada de carregamento elétrico

(electrical loading), dada pela Equação 3.16.

𝜏 = 𝐵𝑎𝑣𝑔𝐴𝑙 (3.16)

Por fim, a Equação (3.17) pode ser reescrita como:

𝑇 = 1 − 𝜆2 (1 + 𝜆)𝜋 𝐵𝑎𝑣𝑔𝐴𝑙

2𝑟𝑜

3 (3.17)

O carregamento elétrico (𝐴𝑙) é expresso por:

𝐴𝑙 =𝑚 𝑁𝑝𝑕 𝐼𝑟𝑚𝑠

𝜋 𝑟𝑎𝑣 (3.18)

Em que:

𝑚 – Número de fases

𝑁𝑝𝑕– Número de espiras por fase

𝐼𝑟𝑚𝑠 – Corrente RMS por fase

Verifica-se posteriormente que a expressão de conjugado, dada pela Equação

(3.17), apresenta uma boa aproximação com os valores encontrados por meio do método

dos elementos finitos.

3.4 – Circuito Magnético

Segundo [26], a densidade de fluxo das partes do motor pode ser obtida a partir

do princípio da continuidade de fluxo. O laço percorrido pelo fluxo magnético no motor

pode ser visto na Figura 3.3a, sendo representado na Figura 3.3b o circuito magnético.

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26

(b)

Figura 3.3 – a) Linhas de fluxo do motor. b)Circuito magnético do motor.

3.4.1 – Fluxo Magnético no Entreferro

Desprezando-se o fluxo disperso e as relutâncias do ferro, tanto no rotor como

no estator, a densidade de fluxo no entreferro (𝐵𝑚𝑔 ) pode ser calculada, de forma

preliminar [11], através da Equação (3.19).

𝐵𝑚𝑔 =

𝐵𝑟

1 +𝜇𝑟𝑒𝑐 𝑙𝑔𝑙𝑝𝑚

(3.19)

Em que: 𝐵𝑟 – Valor da remanência do ímã

𝜇𝑟𝑒𝑐 – Permeabilidade relativa de recuo

𝑙𝑔 – Comprimento axial do entreferro

𝑙𝑝𝑚 – Comprimento axial do ímã permanente

Neste trabalho, o termo “espessura” também será utilizado para representar o

comprimento axial.

Assim, considerando-se apenas os ímãs permanentes, tem-se que o carregamento

magnético (𝐵𝑎𝑣𝑔 ) é dado por [11]:

𝐵𝑎𝑣𝑔 =2

𝜋𝐵𝑚𝑔 (3.20)

Portanto, considerando-se apenas o fluxo magnético excitado pelos ímãs

permanentes e assumindo que o mesmo ocupe uma região equivalente a 120° elétricos

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27

ou 2 3 da área do pólo, de modo a reduzir o ripple do conjugado [6], o fluxo magnético

por pólo no entreferro é dado pelo produto da densidade de fluxo pela área do ímã.

∅𝑔 = 𝐵𝑎𝑣𝑔𝐴𝑚𝑔 = 𝐵𝑎𝑣𝑔

2

3

(𝑟02 − 𝑟𝑖

2)

2𝑝 𝜋 (3.21)

3.4.2 –Fluxo Magnético no Ferro do Rotor

A nomenclatura ferro, também chamado de núcleo, destina-se às partes do motor

pelas quais o fluxo magnético circula, com exceção do entreferro e dos ímãs. O mesmo

é composto por um material ferromagnético.

Como apresentado na Figura 3.3a, o fluxo magnético, proveniente do segmento

do estator, que atravessa o entreferro (∅𝑔) em direção ao rotor, ao chegar neste último,

se divide em duas parcelas, assim:

∅𝑔 = 2 ∅𝑟 (3.22)

O fluxo no ferro do rotor é dado pelo produto da área da seção transversal do

ferro, como mostrado na Figura 3.4, pela sua correspondente densidade de fluxo

magnético.

∅𝑟 = 𝐵𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 𝐴𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = 𝐵𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 𝑙𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 (𝑟𝑜 − 𝑟𝑖) (3.23)

Figura 3.4 – Vista esquemática da área da seção transversal do rotor (𝐴𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 )

Fonte: Adaptado de [27].

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28

Assim, substituindo-se a Equação (2.21) e (2.23) na Equação (2.22) e

rearranjando os termos, é possível se determinar a espessura do ferro do rotor (𝑙𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 )

através de:

𝑙𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 =𝐵𝑎𝑣𝑔

𝐵𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 𝜋

6𝑝 (𝑟𝑜 + 𝑟𝑖) (3.24)

3.4.3 – Fluxo Magnético no Segmento do Estator

O fluxo magnético que atravessa o segmento do estator (∅𝑠), desprezando-se o

fluxo disperso, é igual ao fluxo no entreferro (∅𝑠 = ∅𝑔), assim, através da Equação

(3.25), a área da barra central deve ser determinada de modo que não haja a saturação

do ferro.

𝐴𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 =∅𝑠

𝐵𝑠=

𝐵𝑎𝑣𝑔

𝐵𝑠

2

3

(𝑟02 − 𝑟𝑖

2)

2𝑝 𝜋 (3.25)

3.5 – Análise dos Segmentos do Estator e Ímãs Permanentes

Os comprimentos dos arcos internos e externos dos ímãs permanentes e das

sapatas do estator, como mostrado na Figura 3.5, são calculados, respectivamente, pelas

Equações (3.26) e (3.27).

Figura 3.5 – Comprimentos do arco interno e externo do ímã permanente e da sapata do estator

Lembrando que os ímãs devem ocupar uma região equivalente a 2 3 da área do

pólo:

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29

𝑤𝑝𝑚 𝑖

=2

3

𝜋 𝑟𝑖 𝑝

(3.26a)

𝑤𝑝𝑚 𝑜=

2

3

𝜋 𝑟𝑜 𝑝

(3.26b)

Para as sapatas do estator, considerando-se o espaçamento entre os segmentos:

𝑤𝑠𝑖

= 2 𝜋 𝑟𝑖

𝑁𝑠−𝑤𝑒𝑠𝑝

(3.27a)

𝑤𝑠𝑜 = 2 𝜋 𝑟𝑜

𝑁𝑠− 𝑤𝑒𝑠𝑝 (3.27b)

Na Figura 3.6b está representada uma vista superior em corte do segmento do

estator pelo plano A, mostrado na Figura 3.6a. O parâmetro 𝑤𝑐 refere-se à distância da

barra central à extremidade da sapata. Nesta região em torno da barra central serão

alojados os fios condutores da bobina.

Figura 3.6 – Segmento do estator. a) plano de corte A. b) Vista superior.

Para o cálculo do 𝑤𝑐 , primeiramente, faz-se necessário calcular os parâmetros 𝑟𝑜′

e 𝑟𝑖′ , mostrados na Figura 3.7. Esta etapa deve ser realizada, pois, considerando-se o

afastamento entre os segmentos de estator, a área da sapata (𝐴𝑠), dada pela Equação

(3.28), é ligeiramente menor que a área do passo da ranhura (𝐴𝑝−𝑟𝑎𝑛 𝑕𝑢𝑟𝑎 ), dada pela

Equação (3.29).

𝐴𝑠 =𝜋 𝑟0

2 − 𝑟𝑖2

𝑁𝑠− 𝑤𝑒𝑠𝑝 𝑟𝑜 − 𝑟𝑖 (3.28)

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30

𝐴𝑝−𝑟𝑎𝑛 𝑕𝑢𝑟𝑎 =𝜋 𝑟0

2 − 𝑟𝑖2

𝑁𝑠 (3.29)

Figura 3.7 - Vista superior esquemática da barra central e sapata do segmento do estator com as

dimensões para o cálculo de 𝑊𝑐

Onde 𝑤𝑠𝑡0 é o arco externo equivalente ao passo da ranhura, dado por:

𝑤𝑠𝑡𝑜 = 2 𝜋 𝑟𝑜

𝑁𝑠 (3.30)

Para o cálculo do arco interno (𝑤𝑠𝑡𝑖) equivalente ao passo da ranhura basta usar,

na Equação 3.30, o parâmetro do raio interno ( 𝑟𝑖).

Assim, a partir da Equação 3.31a e 3.31b, pode-se encontrar o valor aproximado

dos parâmetros 𝑟𝑖′ e 𝑟𝑜

′ , respectivamente por:

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31

𝑟𝑖′ ~

𝑤𝑠𝑖

𝑤𝑠𝑡𝑖

𝑟𝑖

(3.31a)

𝑟𝑜′ ~

𝑤𝑠𝑜

𝑤𝑠𝑡𝑜

𝑟𝑜 (3.31b)

Assim, 𝑤𝑐 pode ser determinado relacionando a área total da sapata (𝐴𝑠), dada

pela Equação (3.28), com a área da barra central (𝐴𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ) e as áreas 𝐴1, 𝐴2, 𝐴3 e 𝐴4,

mostradas na Figura 3.7.

𝐴1 =

𝜋

𝑁𝑠

𝑟𝑜′ 2 − 𝑟𝑜

′ −𝑊𝑐 2

(3.32)

𝐴2 =

𝜋

𝑁𝑠

𝑟𝑖′ + 𝑊𝑐

2 − 𝑟𝑖′ 2

(3.33)

𝐴3 = 𝐴4 = 𝑊𝑐 𝑟𝑜′ −𝑊𝑐 − 𝑟𝑖

′ + 𝑊𝑐 (3.34)

Com o parâmetro 𝑤𝑐 é possível calcular a área da ranhura (𝐴𝑟𝑎𝑛 𝑕𝑢𝑟𝑎 ) dada pelo

produto do parâmentro 𝑤𝑐 pelo comprimento axial da barra central (𝑙𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 )

𝐴𝑟𝑎𝑛 𝑕𝑢𝑟𝑎 = 𝑊𝑐 × 𝑙𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 (3.35)

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32

Capítulo 4 – Dimensionamento do Motor

Neste capítulo, partindo do projeto analítico apresentado no capítulo 3, será

descrito o procedimento para o dimensionamento preliminar do motor.

4.1 – Número de Pólos e Segmentos no Estator

A partir da Equação (3.2), montou-se a Tabela 4.1 para as possíveis

combinações com 𝑝 = 1⋯ 10, sendo 𝑁𝑠 múltiplo de 3 por se tratar de um motor

trifásico.

Tabela 4.1 – Combinações de segmentos e pólos

𝑁𝑠 2 𝑝 6 4 6 8

12 10 12 14 18 16

18 20

O motor projetado será posicionado no eixo da roda eliminando a presença de

caixa de redução, engrenagens ou correias, assim a velocidade angular do motor será a

mesma da roda. Utilizando o diâmetro da roda, definido na Tabela 1.3, juntamente com

a Equação (3.1) foi possível gerar a relação entre a freqüência elétrica e a velocidade

linear do veículo, mostrada na Figura 4.1, para as possíveis combinações de segmentos

e pólos (𝑁𝑠 2𝑝 ).

Figura 4.1 – Curva de freqüência elétrica x velocidade para as configurações 𝑁𝑠 2𝑝

0

50

100

150

200

250

50 70 90 110 130 150 170

Fre

qu

ên

cia

Elé

tric

a (H

z)

Velocidade Linear (km/h)

18/20

18/16

12/14

12/106/8

6/4

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33

Observa-se pelo gráfico que a frequência elétrica não alcança valores elevados,

de modo que as perdas devido à freqüência de chaveamento dos semicondutores são

desprezíveis.

4.2 – Distribuição das Bobinas

A partir das possíveis combinações 𝑁𝑠 2𝑝 calculou-se, a partir das equações

apresentadas na seção 3.2, o fator de enrolamento para a componente fundamental. A

seguir é exemplificado, para a combinação 12/10, o processo de determinação do fator

de enrolamento.

Inicialmente tem-se que o número de segmentos do estator (𝑁𝑠) é igual ao

número de ranhuras (𝑄), assim, 𝑁𝑠 = 𝑄 = 12.

Da equação (3.3),

𝑡 = 𝑀𝐷𝐶 12; 5 = 1

Com isso é possível calcular 𝛼𝑝𝑕 e 𝑞𝑝𝑕 , respectivamente, a partir das Equações

(3.4) e (3.9).

𝛼𝑝𝑕 = 360° 𝑡

𝑄= 360°

1

12= 30°

𝑞𝑝𝑕 =𝑄

𝑚 𝑡=

12

3 × 1= 4

Dado que 𝑞𝑝𝑕 é par, o fator de distribuição pode ser calculado pela Equação

(3.8a).

𝐾𝑑 =𝑠𝑒𝑛

𝑞𝑝𝑕 𝛼𝑝𝑕

4

𝑞𝑝𝑕2 𝑠𝑒𝑛

𝛼𝑝𝑕

2 = 𝐾𝑑 =

𝑠𝑒𝑛 4 × 30°

4

42 𝑠𝑒𝑛

30°2

= 0,9659

Para o cálculo do fator de passo, primeiramente se faz o cálculo do ângulo de

extensão da bobina (𝜎𝑤), dado pela Equação (3.11). Como se trata de um enrolamento

concentrado, 𝑦𝑞 dado pela Equação (3.6) é igual á 1, assim:

𝜎𝑤 =2 𝜋 𝑝 𝑦𝑞

𝑄=

2 × 𝜋 × 5 × 1

12= 2,6179

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34

E o fator de passo é então calculado pela Equação (3.10).

𝐾𝑝 = 𝑠𝑒𝑛 𝜎𝑤2 = 𝑠𝑒𝑛

2,6179

2 = 0,9659

Por fim, o fator de enrolamento é calculado da Equação (3.7),

𝐾𝑤 = 𝐾𝑑𝐾𝑝 = 0,9659 × 0,9659 = 0,933

O resultado para as demais configurações está apresentado na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 – Fator de enrolamento das combinações

𝑁𝑠 2𝑝 𝐾𝑤 6 4 0,866 6 8 0,866

12 10 0,933 12 14 0,933 18 16 0,945 18 20 0,945

Da análise da Tabela 4.2, as combinações 6/4 e 6/8 apresentam-se

desfavoráveis devido ao seu reduzido fator de enrolamento. As demais configurações

possuem valores satisfatórios.

A configuração 12/10 foi escolhida para este projeto levando-se em

consideração o fator de enrolamento elevado e a freqüência elétrica, em altas

velocidades, consideravelmente menor que as demais configurações. Somado a isso,

esta configuração apresenta grande número de estudos, entre eles [16], [28] e [29],

apresentando-se uma configuração com boas características.

Com a configuração escolhida e seguindo o procedimento apresentado na seção

3.2.1, foi determinada a estrela de ranhuras e a alocação das bobinas das fases no

estator, representadas na Figura 4.2 e na Figura 4.3 respectivamente.

Para a criação da estrela de ranhuras falta determinar o ângulo entre dois fasores

consecutivos dado pela Equação (3.4).

𝛼𝑠𝑒 = 360°

𝑝

𝑄= 360°

5

12= 150°

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35

Assim, posicionando-se o fasor de número 1 ao equivalente à 0º de um sistema

cartesiano como convencionado na Figura 3.2, o fasor número 2 estará a 𝛼𝑠𝑒 = 150°

deste primeiro e assim sucessivamente até ao fasor número 12. Com isso é formada a

estrela de ranhuras da Figura 4.2.

Figura 4.2 - Estrela de ranhura para a configuração 12/10

Alocando-se primeiramente a fase A, seguindo o esquema da estrela de ranhuras

da Figura 4.2, posiciona-se o primeiro lado das bobinas, como convencionada na Figura

3.2, sendo o lado positivo nas ranhuras 1 e 6 e o lado negativo nas ranhuras 7 e 12,

como apresentado na Figura 4.3a.

Figura 4.3 – (a) Posicionamento do primeiro lado da bobina da fase A. (b) Alocação do segundo lado da

bobina da fase A. (c) Alocação das bobinas das três fases

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36

Como se trata de um enrolamento concentrado (𝑦𝑞 = 1), o segundo lado das

bobinas vai ser alocado na ranhura seguinte, como mostrado na Figura 4.3b. O

procedimento para a alocação das demais fases é o mesmo. Na Figura 4.3c é

apresentado o estator com todas as bobinas alocadas e suas respectivas fases.

4.3 – Considerações de Dimensionamento

Durante o projeto do motor, algumas variáveis devem ser arbitradas. Segundo

[30] a suposição é um fator no processo de projeto que é considerado verdadeiro, real ou

certo, muitas vezes sem qualquer prova ou demonstração.

4.3.1 – Conjugado

Foi apresentada na seção 1.4.1, na Figura 1.5, a distribuição do conjugado

máximo em relação à velocidade linear da moto para o motor a combustão interna.

Apesar do conjugado máximo apresentado para a 1ª marcha ser de aproximadamente

350 N.m para uma velocidade de 27 km/h, para o motor projetado neste trabalho, uma

vez que o motor elétrico apresenta uma região de conjugado constante para uma ampla

faixa de velocidade partindo do repouso, será utilizado um conjugado máximo de 215

N.m, equivalente ao conjugado máximo da 2ª marcha.

Partindo de uma análise superficial, pois foge do escopo deste trabalho, foi

verificado que o conjugado selecionado é superior ao necessário para que uma

motocicleta com dois ocupantes, cada um pesando 70 𝐾𝑔, parta do repouso em uma via

inclinada de 16° em relação a horizontal. Segundo [31], esta angulação é bastante

elevada e em geral proibida para tráfego de caminhões. As ruas com menor movimento

têm angulações recomendadas pelo DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de

Transportes) de 9° [31].

4.3.2 – Razão de Raio Interno/Externo

Em [11] e [32] é mostrado que a razão (𝜆) entre o raio interno (𝑟𝑖) e o raio

externo (𝑟𝑜) que em teoria maximizaria o conjugado é 𝜆 =1

3= 0,577, apresentado na

Figura 4.4. Contudo, [11] destaca que na prática essa relação não é verificada. Em

trabalhos como [25], [27] e [33] a razão utilizada varia de 0,50 a 0,64.

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37

Figura 4.4 – Curva teórica do conjugado x razão do raio.

Fonte: Adaptado de [32]

4.3.3 – Densidade de Fluxo Magnético no Ferro

Dado a não linearidade do material ferromagnético utilizado no rotor e nos

segmentos do estator, a densidade de fluxo magnético utilizada nos cálculos foi

escolhida com uma margem de segurança para melhor aproveitamento do material, de

modo que ficasse dentro do limite de saturação. Na Figura 4.5 é mostrada a curva de

magnetização para o aço 1008 utilizado na análise por elementos finitos.

Figura 4.5 – Curva de saturação do aço 1008

Fonte: ANSYS Maxwell

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É possível verificar que a partir do joelho da curva, o aumento do campo

magnético (𝐻) provoca apenas um ligeiro aumento da densidade de fluxo (𝐵), ou seja,

o material encontra-se saturado. Para os cálculos será considerado um valor de

densidade de fluxo magnético máximo no ferro de 1,7 𝑇.

4.3.4 – Espaçamento dos Segmentos do Estator

O espaçamento entre os segmentos do estator (𝑊𝑒𝑠𝑝 ) possui dupla função: reduz o

fluxo disperso, ou seja, o fluxo magnético que passa de uma sapata para outra sem

cruzar o entreferro, pois quanto maior a distância maior a relutância, e serve de caminho

para o ar, auxiliando na refrigeração do motor.

Em [34] é apresentado um estudo sobre a relação do afastamento dos segmentos

e as perdas do motor, um afastamento elevado diminui as perdas no núcleo do estator,

mas aumenta as perdas por correntes parasitas nos ímãs.

Para o projeto, será considerado 𝑊𝑒𝑠𝑝 = 4 𝑚𝑚.

4.3.5 – Comprimento do entreferro

O comprimento do entreferro 𝑙𝑔 foi pensado de modo que o estator tivesse

espaço suficiente para girar levando-se em consideração a força atrativa entre o rotor e o

estator. Também foi levado em consideração que o motor se localizando no eixo da roda

deveria ter espaço extra para que qualquer deformação elástica na roda não causasse um

estrago maior no motor. Analisando-se projetos de motores em [11] e [35] observa-se

que os entreferros utilizados variam entre 1𝑚𝑚 e 2,75𝑚𝑚

4.3.6 – Dimensões Axiais do Segmento do Estator e Sapata

As dimensões axiais dessas estruturas foram pensadas de modo a se ter uma

estrutura mecânica rígida e no caso específico da barra central para que fosse possível

alocar a quantidade de espiras necessárias para gerar o carregamento elétrico utilizado

no projeto.

4.3.7 – Fator de Enchimento

A área da seção transversal aos condutores da bobina não é inteiramente

preenchida, havendo lacunas entre os condutores. Assim, quanto menor forem essas

lacunas, ou seja, quanto maior for o aproveitamento da área maior será o fator de

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preenchimento (𝐾𝑐𝑢−𝑓𝑖𝑙𝑙 ). Dado pela Equação (4.1), ele representa a razão entre a área

efetiva de cobre (𝐴𝑐𝑢 ) pela área disponível para o enrolamento na ranhura (𝐴𝑟𝑎𝑛 𝑕𝑢𝑟𝑎 ).

𝐾𝑐𝑢−𝑓𝑖𝑙𝑙 =𝐴𝑐𝑢

𝐴𝑟𝑎𝑛 𝑕𝑢𝑟𝑎 (4.1)

Segundo [36], devido às características do motor e da configuração do

enrolamento utilizada, é possível alcançar valores de fator de enchimento de até 75%.

4.3.8 – Corrente de Excitação

Neste projeto, de modo a simplificar tanto a análise teórica como a simulação e

pelo fato do acionamento a partir dos semicondutores estar fora do escopo do trabalho, a

alimentação do motor será feita pela injeção direta de corrente nos enrolamentos do

estator.

Assim, será utilizada uma densidade de corrente elétrica (𝐽), que é a quantidade

de corrente que passa por uma determinada superfície, de 5 𝐴/𝑚𝑚2. Esta densidade

encontra-se dentro da faixa de valores utilizados, por exemplo, em [27], [37] e [38].

Segundo o padrão AWG (American Wire Gauge), na Tabela 4.3 são

apresentados o diâmetro, a área da seção circular e, com base na densidade de corrente

escolhida para o projeto, as correntes nos condutores. Os valores vão de 5 a 15 AWG.

Tabela 4.3 – Condutores padrão AWG

AWG # Diâmetro

(mm) Área

(mm2) Corrente

(A)

5 4,6213 16,7732 83,866

6 4,1154 13,3018 66,509

7 3,6649 10,5488 52,744

8 3,2636 8,3656 41,828

9 2,9064 6.6342 33,171

10 2,5882 5,2612 26,306

11 2,3048 4,1723 20,8615

12 2,0525 3,3088 16,544

13 1,8278 2,624 13,12

14 1,6277 2,0809 10,4045

15 1,4495 1,6502 8,251 Fonte: Adaptado de [39].

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40

4.5 – Algoritmo de Dimensionamento

Juntamente com as variáveis arbitradas e as configurações já determinadas nas

seções anteriores, o próximo passo é encontrar os demais parâmetros utilizando-se das

relações apresentadas no capítulo 3.

Para isto, foi criado um algoritmo, esquematizado de modo simplificado na

Figura 4.6, que através da análise combinatória de determinados parâmetros gera todos

os possíveis valores que apresentam como resultado o conjugado desejado.

Na etapa inicial do algoritmo é feita uma combinação entre os possíveis raios

internos (𝑟𝑖) e externos (𝑟𝑜), de acordo com as dimensões da roda, e a espessura do ímã

permanente (𝑙𝑝𝑚 ).

Com 𝑙𝑝𝑚 é possível achar a densidade do fluxo magnético no entreferro, a partir

da Equação (3.19), e consequentemente o carregamento magnético através da equação

(3.20).

Feito isso, encontram-se:

O comprimento axial do rotor (𝑙𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 ) – Equação (3.24)

Área da barra central 𝐴𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 - Equação (3.25)

Comprimentos dos arcos internos e externos do ímã – Equação (3.26)

Comprimentos dos arcos internos e externos da sapata – Equação (3.27)

Com a área da barra central e o comprimento dos arcos internos e externos da

sapata, através das Equações (3.28) a (3.34), calcula-se o parâmetro 𝑤𝑐 .

Assim, com os valores da densidade de corrente, fator de preenchimento e

comprimento axial da barra central (𝑙𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ), o carregamento elétrico (𝐴𝑙) é calculado

através da equação (3.18).

For fim, calcula-se o conjugado a partir da Equação (3.17). Sendo maior que o

projetado, os valores utilizados na iteração são salvos e é feita uma nova iteração até

todas as combinações iniciais serem verificadas.

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Figura 4.6 – Esquematização do algoritmo desenvolvido

Não Sim Salvar Valores

𝑁𝑠 , 𝑝,𝐵𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜

𝑤𝑐

𝐴𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 𝑤𝑠𝑖 ,𝑤𝑠𝑜

𝑙𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 𝑤𝑝𝑚 𝑖 ,𝑤𝑝𝑚 𝑜

𝐴𝑙

𝑇𝑐𝑎𝑙𝑐 ≥ 𝑇𝑝𝑟𝑜𝑗

𝑇𝑐𝑎𝑙𝑐

𝐽,𝐾𝑐𝑢−𝑓𝑖𝑙𝑙 , 𝑙𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎

, 𝑝

Início Princípio

Multiplicativo

𝐵𝑎𝑣𝑔

𝐵𝑟 , 𝜇𝑟𝑒𝑐 , 𝑙𝑔

𝑟𝑖 𝑘1

𝑘1 = 1…𝑛1 𝑟𝑜𝑘2

𝑘2 = 1…𝑛2

𝑙𝑝𝑚 𝑘4

𝑘3 = 1…𝑛3

Não Sim Fim do Princípio Multiplicativo ?

Fim

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4.6 – Análise

Mantendo os raios, interno (𝑟𝑖) e externo (𝑟𝑜), constantes e variando somente a

espessura do ímã (𝑙𝑝𝑚 ), a partir do algoritmo desenvolvido calculou-se o conjugado

produzido para uma densidade de fluxo máxima do ferro do motor de 1,7 𝑇, uma

densidade de corrente de 5 𝐴 𝑚𝑚2 e um entreferro de 2 𝑚𝑚.

Dessa análise, mostrada na Figura 4.7, nota-se que o conjugado alcança um valor

máximo para uma densidade de fluxo no entreferro próxima de 0,85 𝑇, de modo que

após esse valor há um decremento do conjugado. Na Figura 4.8 é mostrada a relação da

espessura do ímã com a densidade de fluxo no entreferro, nota-se que para 𝐵𝑚𝑔 =

0,85 𝑇 o valor da espessura do ímã é 5 𝑚𝑚, assim 𝑙𝑝𝑚 = 5 𝑚𝑚 foi escolhido para o

projeto.

Figura 4.7 – Curva de conjugado x densidade de fluxo no entreferro

Figura 4.8 – Curva da espessura do ímã (𝑙𝑝𝑚 ) x Densidade de fluxo no entreferro

195

200

205

210

215

220

0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85 0,90 0,95 1,00 1,05

Co

nju

gad

o (

N.m

)

Densidade de fluxo no entreferro (T)

0

2

4

6

8

10

12

0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85 0,90 0,95 1,00 1,05

Esp

ess

ura

do

imã

(mm

)

Densidade de fluxo no entreferro (T)

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Para a determinação do número máximo de espiras nas bobinas, pode-se utilizar

a área efetiva de cobre (𝐴𝑐𝑢 ), determinada a partir da Equação 4.1, dividindo-se pela

área da seção circular dos condutores apresentada na Tabela 4.3. Foi escolhido para o

projeto o condutor 9 AWG, com uma corrente de 33 A, e com isso, para se alcançar o

conjugado desejado , o número de espiras em uma bobina (𝑁𝑏𝑜𝑏) deve ser 62.

Assim, os parâmetros do motor escolhido e que será modelado no software

ANSYS Maxwell estão descritos na Tabela 4.4.

Tabela 4.4 – Parâmetros analíticos do motor

Variável Descrição Valor

𝑟𝑖 Raio interno 80 mm

𝑟𝑜 Raio externo 150 mm

𝜆 Razão de raio 0,533

𝑝 Número de pares de pólos 5

𝑁𝑠 Número de segmentos do estator 12

𝑙𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 Compr. axial do rotor 12.1mm

𝑙𝑝𝑚 Compr. axial do ímã permanente 5 mm

𝑙𝑔 Compr. axial do entreferro 2 mm

𝑙𝑠𝑎𝑝𝑎𝑡𝑎 Compr. axial da sapata 5 mm

𝑙𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 Compr. axial da barra central 65 mm

𝑙𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 Compr. axial total do motor 113,2 mm

𝑊𝑒𝑠𝑝 Espaçamento entre os segmentos do estator 4 mm

𝑊𝑐 Distância da barra central a extremidade da sapata 10,4 mm

𝑤𝑠𝑖 Compr. do arco interno da sapata 36,9 mm

𝑤𝑠𝑜 Compr. do arco externo da sapata 73,54 mm

𝑤𝑝𝑚 𝑖 Compr. do arco interno do ímã permanente 33,5 mm

𝑤𝑝𝑚 𝑜 Compr. do arco externo do ímã permanente 62,83 mm

𝐽 Densidade de corrente 5 A/mm2

𝐼𝑟𝑚𝑠 Valor RMS da corrente injetada nos enrolamentos 33 A

𝑁𝑏𝑜𝑏 Número de espiras na bobina 62

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Capítulo 5 – Análise pelo Método dos Elementos Finitos

A análise computacional pelo método dos elementos finitos foi realizada através

do software ANSYS Maxwell 3D. Esta é uma etapa importante no processo de

desenvolvimento do motor, na qual se pode verificar se o dimensionamento preliminar

está correto e a modelagem analítica validada.

5.1 – Modelagem

Para a análise, todas as estruturas do motor, incluindo o estator, o rotor, os ímãs

permanentes e as bobinas tiveram que ser modeladas em três dimensões. A Figura 5.1

apresenta o resultado da modelagem.

Figura 5.1 – Modelagem do motor no software ANSYS Maxwell

5.1.1 – Bobinas

A bobina, mostrada na Figura 5.2a, é modelada como uma estrutura sólida.

Nesta estrutura é inserida uma superfície na seção transversal, chamada de terminal da

bobina, de modo que o vetor normal a esta superfície indique a direção positiva da

corrente, exemplificada na Figura 5.2b. O próximo passo é agrupar as bobinas nos

enrolamentos de cada fase, determinando o número de espiras em cada bobina. Como

material das bobinas foi selecionado o cobre.

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Figura 5.2 – (a) Bobina modelada. (b) Detalhe da definição do sentido positivo da corrente

5.1.2 – Segmentos do estator e ferro do rotor

Todas as partes do motor incluindo os segmentos do estator (barra central e

sapatas) e o ferro do rotor foram modelados e o material atribuído foi o Aço 1008. Este

material faz parte da biblioteca do software Maxwell e apresenta uma curva de

magnetização não linear apresentada na Figura 4.5. Para simplificação da modelagem

na simulação destes componentes não foi realizada a laminação de modo a reduzir as

correntes parasitas [5]. Na Figura 5.3 é apresentada a modelagem do segmento de

estator.

Figura 5.3 – Segmento do estator modelado

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5.1.2 – Ímã permanente

O projeto considera a utilização de ímãs permanentes de neodímio-ferro-boro

(NdFeB), o qual está presente na biblioteca do software. Na Figura 5.4 é mostrada uma

peça do ímã modelado. Os parâmetros apresentados para esse material são:

𝐻𝑐 = −890 𝐾𝐴/𝑚

𝐵𝑟 , = 1,23 𝑇

𝜇𝑟𝑒𝑐 = 1,099

Figura 5.4 – Ímã permanente modelado

5.2 – Densidades de Fluxo Magnético

Nesta seção será mostrada a densidade do fluxo magnético observada em

determinados elementos do motor através do método dos elementos finitos.

5.2.1 – Entreferro

Na seção 3.4.1 foi calculado analiticamente, através da Equação (3.19), o valor

da densidade de fluxo magnético no entreferro gerado pelo ímã permanente. Nesta

seção serão apresentados os valores obtidos computacionalmente para efeito de

comparação. O resultado da variação da densidade de fluxo no entreferro em função da

espessura do ímã pode ser observado na Figura 5.5.

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Figura 5.5 – Comparação das densidades de fluxo no entreferro em função da espessura do ímã

Com isso, pode-se ratificar a afirmação de [11], de modo que a Equação (3.19)

serve apenas para um dimensionamento preliminar.

Foi verificado, na seção 4.6, um conjugado máximo para 𝐵𝑚𝑔 = 0,85 𝑇 e este

valor de densidade de fluxo no entreferro ocorria com 𝑙𝑝𝑚 = 5 𝑚𝑚. Diante da analise

por elementos finitos, observa-se na Figura 5.5 que para 𝐵𝑚𝑔 = 0,85 𝑇 a espessura do

ímã deve ser aumentada, dessa forma o valor utilizado para as simulações será de

𝑙𝑝𝑚 = 6 𝑚𝑚.

5.2.1 – Segmento do estator

Uma preocupação no projeto do motor é a de que o material ferromagnético não

sature. Nesta verificação o segmento do estator foi colocado em prova para três

condições:

Densidade de fluxo excitada somente pelos ímãs permanentes

Densidade de fluxo excitada somente pelas correntes nas bobinas

Densidade de fluxo com ambas as excitações

Assim, foi aferida a densidade de fluxo médio no segmento do estator, sendo o

resultado apresentado na Figura 5.6.

0123456789

0,5 0,55 0,6 0,65 0,7 0,75 0,8 0,85 0,9 0,95 1

Esp

ess

ura

do

imã

(mm

)

Densidade de fluxo no entreferro (T)

Elemento Finitos Analítico

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Figura 5.6 – Densidade fluxo magnético médio no segmento do estator para diferentes excitações

A partir da Figura 5.6, verifica-se que a densidade de fluxo no segmento do

estator, quando observado o valor referente à excitação conjunta do ímã permanente e

da corrente, se encontra no limiar da saturação com um valor de 1,74 𝑇.

Figura 5.7 – Densidade de fluxo no ferro do rotor

Da Figura 5.7, pode-se notar que apesar de possuir pontos em que o ferro

apresenta densidades de fluxo superior a 1,9 𝑇, predomina no segmento do estator uma

densidade de fluxo na faixa entre 1,6 𝑇 e 1,76 𝑇 .

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

0 50 100 150 200 250 300 350 400

De

nsi

dad

e d

e F

luxo

(T)

Tempo (ms)

Corrente+Imã Corrente Imã

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5.2.1 – Rotor

Da figura 5.7, nota-se que ocorre uma leve saturação no ferro do rotor, entre dois

segmentos do estator, chegando a um valor de 1,94 𝑇.

Figura 5.8 – Densidade de fluxo no ferro do rotor

5.3 – Avaliação do Conjugado

Na avaliação do conjugado produzido pelo motor, como mencionado na seção

5.2.1, foi utilizado um ímã de 6 𝑚𝑚. O resultado do conjugado está apresentado na

Figura 5.8. Nela foi feita a comparação entre os resultados obtidos com as espessuras de

ímãs iguais a 5 𝑚𝑚 e 6 𝑚𝑚.

Os valores médios encontrados foram:

𝑙𝑝𝑚 = 5 𝑚𝑚 → 197,28 𝑁.𝑚

𝑙𝑝𝑚 = 6 𝑚𝑚 → 210,35 𝑁.𝑚

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Figura 5.9 – Comparação entre os conjugados para 𝑙𝑝𝑚 = 5 𝑚𝑚 e 𝑙𝑝𝑚 = 6 𝑚𝑚

Na Figura 5.9 é apresentado, detalhadamente, o resultado do conjugado para

𝑙𝑝𝑚 = 6 𝑚𝑚. Pode-se observar que o conjugado possui oscilação que varia de

aproximadamente de 204 a 218 𝑁.𝑚. Essa variação representa 6,6% do torque médio.

Figura 5.10 – Detalhe do conjugado para 𝑙𝑝𝑚 = 6 𝑚𝑚

Os valores de conjugado foram verificados para uma velocidade de 30 𝑅𝑃𝑀, ou

seja, aproximadamente 3,5 𝑘𝑚/𝑕 de velocidade linear da motocicleta. Esta velocidade

foi escolhida, pois, em geral é na partida, saindo do repouso, que um maior valor de

conjugado é solicitado do motor.

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400 500 600

Co

nju

gad

o (

N.m

)

Tempo (ms)

5mm 6mm

202

204

206

208

210

212

214

216

218

220

0 100 200 300 400 500 600

Co

nju

gad

o (

N.m

)

Tempo (ms)

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Capítulo 6 – Considerações Finais

6.1 – Conclusão

Neste trabalho foi projetado um motor elétrico de fluxo axial para utilização em

uma motocicleta como dispositivo de tração. Assim como deve ser em todos os

projetos, o desenvolvimento do motor foi direcionado para a aplicação a qual se destina.

Pensando nisso, foi feito um estudo dos parâmetros e das características de conjugado

de uma motocicleta comercial tracionada por um motor a combustão interna.

No processo de desenvolvimento do motor analisaram-se, primeiramente, as

possíveis configurações de motores elétricos e suas topologias. O motor de fluxo axial

mostrou uma grande aplicabilidade para este projeto, dado a sua característica de

conjugado em função do diâmetro. Isso se explica porque o motor, sendo posicionado

diretamente no eixo da roda, apresenta dimensões axiais reduzidas em comparação às

dimensões radiais. Dentre as topologias, a YASA (Yokeless and Segmented Armature)

foi a escolhida devido às suas excelentes características.

Com os cálculos analíticos, já em outra etapa do processo de desenvolvimento

do motor, foi analisado se era possível e para quais configurações se conseguia o

conjugado desejado de 215 𝑁.𝑚. Foi verificada também a distribuição dos fluxos

magnéticos nos componentes do motor (rotor e estator), os quais foram dimensionados

de forma que a densidade de fluxo magnético não ultrapassasse o valor de 1,7 𝑇,

mantendo-se assim sem saturação do material ferromagnético.

Por fim, uma análise numérica através do Método dos Elementos Finitos foi

realizada no intuito de validar os valores analiticamente calculados. Foi mostrado que

para a configuração do motor projetado era possível alcançar um conjugado de

210,35 𝑁.𝑚 e que as densidades de fluxo nos componentes ferromagnéticos

permaneciam próximas do valor estipulado.

Da comparação entre os valores analíticos e os valores numéricos, verificou-se

que a escolha da espessura do ímã deveria ser alterada de modo a obter um resultado

mais próximo do esperado. Assim, a espessura do ímã foi alterada de 5 𝑚𝑚, calculada

analiticamente, para 6 mm. Com isso, uma densidade de fluxo magnético no entreferro

de 0,85 𝑇 foi obtida para a análise numérica.

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Portanto, pode-se concluir que apesar do conjugado encontrado nas simulações

apresentar um valor 3% menor que o inicialmente projetado, a etapa analítica foi

fundamental para o dimensionamento preliminar do motor.

6.2 – Trabalhos Futuros

O processo de desenvolvimento do motor, apresentado nesse trabalho, foi focado

principalmente na avaliação do conjugado e nas densidades de fluxo magnético nas

partes do motor. De modo a simplificar os cálculos analíticos e a simulação, o circuito

de acionamento se resumia apenas à injeção de corrente nos fios condutores das

bobinas.

Por essa razão, estudos levando em consideração o acionamento do motor a

partir da eletrônica de potência e sistemas de controle de velocidade, corrente e

conjugado poderiam ser desenvolvidos. Assim como estudos referentes à autonomia do

veículo, capacidade e carregamento das baterias.

Com relação aos materiais magnéticos, seria interessante desenvolver um

trabalho sobre o impacto da temperatura no desempenho dos mesmos.

Por fim, um trabalho sobre a dinâmica da motocicleta do ponto de vista

mecânico poderia ser realizado.

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Acesso: 05/12/2016