Antonio Candido, leitor de poesia

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445 Estudos de Sociologia, Araraquara, v.14, n.27, p.445-463, 2009 ANTONIO CANDIDO, LEITOR DE POESIA (EM TORNO DE UM ARTIGO DE ÍTALO MORICONI) Rodrigo Martins RAMASSOTE 1 RESUMO: Este artigo pretende explorar algumas questões relacionadas aos cursos voltados para a análise de poesia oferecidos por Antonio Candido à frente do curso e, posteriormente, área de Teoria Literária e Literatura Comparada (TLLC), com especial interesse em três frentes de análise: a) descrever a estrutura e dinâmica de funcionamento do curso de TLLC, evidenciando o papel desempenhado pelos cursos dedicados à análise de poesia; b) avançar na discussão sobre o conceito de poesia defendido por Candido, reavaliando a questão do tradicionalismo de sua paiudeuma e de suas preferências literárias; c) colocar em evidência a disputa simbólica pelo legado modernista existente entre o grupo nucleado ao redor de Candido e os poetas concretista, por meio da leitura de O tupi e o alaúde, de Gilda de Mello e Souza. PALAVRAS-CHAVE: Antonio Candido. Estudo analítico do poema. Crítica literária acadêmica em São Paulo. Sociologia da literatura. Este artigo pretende explorar algumas questões relacionadas aos cursos sobre análise de poesia oferecidos por Antonio Candido à frente do curso e, posteriormente, área de Teoria Literária e Literatura Comparada (TLLC), durante a década de sessenta, período em que ele atuou como o seu principal professor, orientador e responsável. Embora não tenha tratado tal assunto de modo sistemático em minha dissertação de mestrado (RAMASSOTE, 2006), deixando-o disperso em passagens e indicações para futuras pesquisas, meu interesse por esse tópico específico foi retomado pela leitura de um artigo de Ítalo Moriconi (2002) 2 no qual o autor preocupa-se em discernir no conjunto da produção intelectual de Candido 1 IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. São Luis – MA – Brasil. 65010-680 – [email protected]. Este trabalho baseia-se em minha dissertação de mestrado, intitulada A formação dos desconfiados: Antonio Candido e a crítica literária acadêmica (1961 – 1978), defendida no Departamento de Antropologia Social do IFCH-UNICAMP sob a orientação da Profª. Drª. Heloisa Pontes. 2 Embora tivesse notícia durante a redação de minha dissertação do importante volume organizado por Raúl Antelo (2002), apenas recentemente tive acesso a ele.

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O artigo pretende explora algumas questões relacionadas aos cursos voltados para a análise de poesia oferecidos por Antonio Candido à frente do curso e, posteriormente, área de Teoria Literária e Literatura Comparada (TLLC), com especial interesse em três frentes de análise: a) descrever a estrutura e dinâmica de funcionamento do curso de TLLC, evidenciando o papel desempenhado pelos cursos dedicados à análise de poesia; b) avançar na discussão sobre o conceito de poesia defendido por Candido, reavaliando a questão do tradicionalismo de sua paiudeuma e de suas preferências literárias; c) colocar em evidência a disputa simbólica pelo legado modernista existente entre o grupo nucleado ao redor de Candido e os poetas concretista, por meio da leitura de O tupi e o alaúde, de Gilda de Mello e Souza.

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    ANTONIO CANDIDO, LEITOR DE POESIA(EM TORNO DE UM ARTIGO DE TALO

    MORICONI)

    Rodrigo Martins RAMASSOTE1

    RESUMO: Este artigo pretende explorar algumas questes relacionadas aos cursos voltados para a anlise de poesia oferecidos por Antonio Candido frente do curso e, posteriormente, rea de Teoria Literria e Literatura Comparada (TLLC), com especial interesse em trs frentes de anlise: a) descrever a estrutura e dinmica de funcionamento do curso de TLLC, evidenciando o papel desempenhado pelos cursos dedicados anlise de poesia; b) avanar na discusso sobre o conceito de poesia defendido por Candido, reavaliando a questo do tradicionalismo de sua paiudeuma e de suas preferncias literrias; c) colocar em evidncia a disputa simblica pelo legado modernista existente entre o grupo nucleado ao redor de Candido e os poetas concretista, por meio da leitura de O tupi e o alade, de Gilda de Mello e Souza.

    PALAVRAS-CHAVE: Antonio Candido. Estudo analtico do poema. Crtica literria acadmica em So Paulo. Sociologia da literatura.

    Este artigo pretende explorar algumas questes relacionadas aos cursos sobre anlise de poesia oferecidos por Antonio Candido frente do curso e, posteriormente, rea de Teoria Literria e Literatura Comparada (TLLC), durante a dcada de sessenta, perodo em que ele atuou como o seu principal professor, orientador e responsvel. Embora no tenha tratado tal assunto de modo sistemtico em minha dissertao de mestrado (RAMASSOTE, 2006), deixando-o disperso em passagens e indicaes para futuras pesquisas, meu interesse por esse tpico especfi co foi retomado pela leitura de um artigo de talo Moriconi (2002)2 no qual o autor preocupa-se em discernir no conjunto da produo intelectual de Candido

    1 IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. So Luis MA Brasil. 65010-680 [email protected]. Este trabalho baseia-se em minha dissertao de mestrado, intitulada A formao dos desconfi ados: Antonio Candido e a crtica literria acadmica (1961 1978), defendida no Departamento de Antropologia Social do IFCH-UNICAMP sob a orientao da Prof. Dr. Heloisa Pontes.2 Embora tivesse notcia durante a redao de minha dissertao do importante volume organizado por Ral Antelo (2002), apenas recentemente tive acesso a ele.

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    as determinaes amplas de uma pedagogia do poema (isto , da especifi cidade de um mtodo crtico voltado para a anlise de poesia, idealizado e transmitido aos alunos e discpulos). Se me permito tomar como fi o condutor, em dilogo estreito, o artigo de Moriconi, isto ocorre porque em vrios pontos nossas anlises se cruzam, e, creio, podem ser complementadas. Passando ao largo (mas nem sempre), a um s tempo, das atitudes, igualmente equivocadas, que oscilam entre a defesa apologtica dos discpulos e admiradores e a recusa intransigente de opositores e desafetos, o autor coloca em pauta questes pertinentes para se pensar o legado de parte da obra crtica de Candido, ainda que em alguns momentos sua argumentao se ressinta de informaes acerca dos meandros acadmicos que amparam o projeto intelectual de seu objeto de anlise.

    Com este propsito, irei enveredar por trs frentes de discusso: a) qualifi car com maior preciso o papel desempenhado pelos cursos dedicados anlise de poesia no conjunto da estrutura e dinmica de funcionamento do curso de TLLC; b) avanar na discusso sobre o conceito de poesia defendido por Candido, reavaliando uma questo insistentemente colocada por parte de sua recepo crtica: o tradicionalismo de sua paiudeuma e de suas preferncias literrias no campo da poesia; c) colocar em evidncia a disputa simblica pelo legado modernista existente entre o grupo nucleado ao redor de Candido e os poetas concretista, por meio da leitura de O tupi e o alade, de Gilda de Mello e Souza (2003).

    Na sala de aula: O estudo analtico do poema

    De sada, parece-me importante descrever, em linhas gerais, a constituio do arcabouo institucional do curso de TLLC, responsvel, como todo sistema de ensino3, pela inculcao do sistema pedaggico que Moriconi procura delinear os contornos. Em minha opinio, somente a partir desta descrio que poderemos avaliar a efetiva importncia e os contornos assumidos pelos cursos centrados no estudo analtico do poema no interior do projeto acadmico propugnado por Candido, bem como a repercusso deles na montagem e consolidao do nicho acadmico em apreo.

    Com o apoio de um grupo de professores da USP, Candido solicitou Congregao da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, em 1959 quando ainda estava lecionando na cadeira de literatura brasileira da recm-inaugurada Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Assis, do Instituto Isolado de Ensino Superior do Governo do Estado de So Paulo (atualmente integrado

    3 Ver, por exemplo, Bourdieu (2001).

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    UNESP a criao, em carter experimental, do curso de Teoria Literria para integrar o currculo da graduao em Letras, com o objetivo de aperfeioar a formao acadmica dos alunos nessa rea de estudos. Ao iniciar as atividades, no incio de 1961, seu currculo acadmico fi cou composto da seguinte forma: na graduao, foram criadas duas disciplinas, inicialmente facultativas Introduo aos Estudos literrios (que logo depois, j em 1963, tornou-se obrigatria) oferecida para os alunos ingressantes do primeiro ano, e Teoria Literria destinada s turmas do quarto ano, ambas ministradas por Candido.

    Enquanto que para os alunos de Introduo aos estudos literrios, o contedo da matria lecionada, conforme indicao de Candido (1995a), consistia na discusso sobre a natureza da obra literria; dos fatores internos (normas, gneros, estilo) e externos (sociais, culturais e psquicos); da funo social, recepo crtica e infl uncia cruzada entre obras; e, por fi m, dos modos de estud-las (erudito, histrico, analtico e ensastico), embasada em leituras de fi co e poesia centradas de preferncia em autores tradicionais, destacado-se Gregrio de Mattos, Raimundo Correia, alguns trechos de Jos de Alencar e contos de Machado de Assis, os cursos de Teoria Literria, oferecidos para o quarto ano, concentravam-se em estudos monogrfi cos ou seminrio em torno de um problema, tomando como suporte autores clssicos e escritores vinculados ao movimento modernista.

    J no nvel da ps-graduao por enquanto Especializao ou quinto ano , o curso de TLLC comeou a oferecer as primeiras disciplinas formativas a partir de 1961, visando assegurar a continuidade do ensino e o aprofundamento da formao profi ssional dos alunos, conjugando docncia, pesquisa e produo cientfi ca atravs de cursos monogrfi cos, conduzidos em regime de seminrios de discusso, nos quais se debatiam preferencialmente a produo potica de autores modernistas.

    No mbito desta estrutura curricular, os cursos dedicados ao exame da produo potica fi caram circunscritos aos seguintes anos, com os seus respectivos objetos de estudo: para o quarto ano da graduao, os anos de 1963/1964 centraram-se no estudo da poesia de Manuel Bandeira; na Especializao, 1963 teve como assunto a obra potica de Mrio de Andrade, seguido, em 1964, da leitura das obras poticas de Carlos Drummond de Andrade. Interrompidos em 1965, quando Candido foi convidado para lecionar na Universidade de Paris VIII (Sorbonne) e no Institut des Hautes tudes de lAmrique Latine, permanecendo na Frana durante todo o ano letivo4, os cursos sobre poesia so retomados em 1966, com a anlise do poema

    4 Em Paris, Candido ministrou, para a graduao, disciplinas sobre a poesia, analisando a produo potica indianista de Gonalves Dias, os principais poetas rcades e a obra de Carlos Drummond de Andrade. Tais escolhas temticas, no entanto, decorrem de imposies [...] de programas pr-determinados que eu tive que seguir. Eu dava aulas na Sorbonne e no Institut des Hautes tudes de lAmrique Latine, seguindo em ambos exatamente o que o Ministrio da Educao Francesa havia

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    I-Juca Pirama, de Gonalves Dias, e 1967, com a leitura de Gregrio de Matos, Romnticos e Bandeira5.

    Na apresentao do programa de ensino do curso ministrado para o quarto ano da graduao6, Candido esclarece que a disciplina no tem como objetivo discutir o problema da criao potica em abstrato, da natureza ntima da poesia, mas abordar manifestaes concretas de poemas. Tal preocupao expressa a postura pedaggica central adotada no mbito das atividades de ensino do curso: [...] ensinar de maneira aderente ao texto, evitando teorizar demais e procurando a cada instante mostrar de que maneira os conceitos lucram em ser apresentados como instrumentos de prtica imediata, isto , anlise. (CANDIDO, 2004, p.8). Em parte pela propalada vocao para o concreto, em parte pela infl uncia do exerccio precoce da atividade crtica na grande imprensa7, as diretrizes gerais das prticas de ensino adotadas assentam sobre a importncia atribuda por Candido ao estudo detido de cada poema especfi co, no qual as discusses de ordem terica esto entranhadas no cerne da prtica textual teoria literria aplicada como ele defi nir anos depois (CANDIDO, 1993b, p.114), tendncia que se contrapunha ao [...] ensino de literatura vigente nesse perodo, marcado sobretudo pelo ngulo histrico: biografi a dos autores e caracterizao dos perodos literrios.8

    Vejamos, inicialmente, os cursos oferecidos para os alunos da graduao dedicados leitura de poemas de Manuel Bandeira. Do ponto de vista do programa de ensino, a escolha de um poeta modernista como tema de anlise consistiu em uma opo inovadora e, at ento, incomum no interior dos cursos de Letras, cujo currculo, nesta altura, no admitia o estudo da literatura contempornea, seguindo critrios vigentes em mbito mundial, os quais estabeleciam como legtimas apenas as anlises de autores j ajuizados pela tradio crtica9. Contrapondo-se aos padres vigentes sintetizados pela afi rmao do professor Fidelino de Figueiredo, para quem [...] s se estuda autor morto, porque a obra j est fechada e voc pode fazer a avaliao10, Candido investiga boa parte da produo potica modernista nos cursos com alunos do quarto ano e da Especializao11.

    determinado. Em geral, eles incluam nos curso autores que seriam objetos de concursos, para exames do 3 ciclo. (Depoimento concedido a Rodrigo Martins Ramassote em 15 jun. 2005). 5 Tais informaes foram extradas do memorial de Candido, apresentado ao Departamento de Lingstica e Lnguas Orientais da Faculdade de Filosofi a, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo para concurso de Professor Titular de Teoria Literria e Literatura Comparada realizado em 1974.6 Parte do contedo do curso foi reproduzido em Candido (2004).7 Cf. CANDIDO, 1992.8 Depoimento concedido a Rodrigo Martins Ramassote em 15 jun. 2005.9 Sobre o pioneirismo ao erigir o movimento modernista como tema de pesquisa histrico-literria, ver Prado (1992) e Arrigucci Junior (1999). 10 Depoimento concedido a Rodrigo Martins Ramassote em 15 jun. 2005.11 Sobre tal tendncia, Candido (2002d, p.25) afi rma: H uma tradio universitria, no brasileira, mas universal, de voc s estudar autores mortos. Tem uma certa justifi cativa: a obra est pronta, voc

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    Pode-se recompor com nitidez o andamento das discusses realizadas durante as aulas do curso com base no depoimento de Maria Thereza Fraga Rocco (1992). Segundo ela, durante as primeiras aulas Candido indicou aos alunos a leitura da recm-publicada Antologia Potica do poeta pernambucano, orientando-os

    [...] para que lssemos todos os poemas e anotssemos o nome daqueles que mais nos tinham atrado. Era tarefa para a aula seguinte. No se tratava exatamente de uma ordem antes uma indicao de caminho que pessoa alguma sequer cogitava em no seguir [...]. Antonio Candido, como fazia com todos os textos que cada um de ns indicava, leu o poema todo, disse o poema, daquela forma to especial que caracterizava suas leituras em classe. (ROCCO, 1992, p.177).

    Ao fi nal, [...] a escolha recaiu em ltima Cano do Beco. Semanas e semanas permanecemos debruados sobre o poema. (ROCCO, 1992, p.177)12.

    Se levarmos a srio uma afi rmao de Candido (1993a, p.39, grifo nosso) que assinala o fato de que [...] as aulas estimulavam meus escritos, e quase todos os meus ensaios so sucedneos de cursos e conferncias [...]13, poderemos obter uma viso aproximada do contedo dos cursos e das questes neles debatidas. Em Estrela da Vida Inteira, Antonio Candido e Gilda de Mello e Souza (1980, p.58) constatam na produo potica de Manuel Bandeira um

    [...] certo tipo de materialismo que o faz aderir realidade terrena, limitada, dos seres e das coisas, sem precisar explic-los para alm de suas fronteiras; mas denotando um tal fervor, que bane qualquer vulgaridade e chega, paradoxalmente, a criar uma espcie de transcendncia, uma ressonncia misteriosa que alarga o mbito normal do poema.

    tem uma perspectiva completa. Na Frana, por exemplo, o primeiro autor moderno a ser estudado na Sorbonne foi Guillaume Apollinaire, em 1960, mais ou menos, depois de 42 anos de sua morte em 1918, por iniciativa de uma mulher, Marie Jeanne Durry. Objeto de tese podia ser, como Valry foi ainda vivo. Mas dar curso para os alunos no podia. Isso universal. No entanto, Candido (2002d, p.25), frente do curso, adotou [...] um ponto de vista diferente, inclusive devido ao que li no Anurio do Instituto de Ingls, da Universidade de Columbia, para o ano de 1940, livro que Mrio de Andrade me deu. L havia um estudo de William York Tindall sobre a pesquisa erudita em literatura contempornea, to legtima quanto qualquer outra. 12 No Prefcio de Na sala de aula encontra-se: Ler infatigavelmente o texto analisado a regra de ouro do analista, como sempre preconizou a velha explication de texte dos franceses. A multiplicao das leituras suscita intuies, que so o combustvel neste ofcio. (CANDIDO, 1995d, p.6). 13 Walnice Galvo (1992, p.48) recorda que a [...] seus jovens colaboradores ensinava, com pacincia e reticncia, que os alunos merecem a ateno de uma aula previamente preparada. [...] A aula deve ser estudada, fundamentada, redigida... e at batida mquina de antemo. Com isso, dizia, em vez de vocs dispersarem seus esforos, a cada par de anos podero dispor de um ensaio original quase pronto para publicar.

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    Avaliando o percurso estilstico da obra potica de Bandeira, da infl uncia literria penumbrista s conquistas estticas modernistas, o casal assinala o progressivo aprofundamento de tal procedimento literrio em sua poesia madura, na qual o cotidiano tratado [...] com um relevo que sublinha a sua verdade simblica e, inversamente, o mistrio tratado com uma familiaridade minuciosa e objetiva que o aproxima da sensibilidade cotidiana [...] (SOUZA; CANDIDO, 1980, p.63)14.

    Desse ncleo central derivam os principais temas e procedimentos da potica bandeiriana: a frustrao diante das alternativas de vida interceptadas pela doena, a viso onrica como refgio imaginrio, a musicalidade dos versos, o golpe de vista certeiro para surpreender o momento potico, a evocao da morte e o sentido das imagens recorrentes da rosa e estrela e, fi nalmente, o estilo despojado de artifcios retricos, reduzido ao essencial.

    Com relao aos cursos lecionados na Especializao, o primeiro deles voltado ao estudo analtico do poema, oferecido em 1963, focalizou a obra de Mrio de Andrade, principal fi gura do modernismo paulista, com quem Candido manteve relaes pessoais e intelectuais, e de quem tornou-se, de certa forma, herdeiro e porta-voz ao contribuir para sedimentao de sua obra literria no interior da academia15.

    Durante meses os alunos investigaram com mincia o poema Louvao da Tarde. Mais uma vez, os parmetros do debate em sala de aula podem ser obtidos pela leitura de um ensaio de Candido (1993b): O poeta itinerante. Para o crtico, esse longo poema meditativo, escrito em outubro de 1925, registraria tanto um momento de guinada no itinerrio potico de Mrio de Andrade, ao realizar a transio da poesia mais exterior dos primeiros tempos de luta modernista para as manifestaes de um lirismo mais profundo, menos comprometido com a notao exterior e o pitoresco, quanto transformaes mais gerais no interior do iderio esttico do movimento modernista, ao incorporar as conquistas expressionais e temticas a um esquema do passado, indicando que a mensagem da vanguarda poderia se entroncar na tradio (CANDIDO, 1993b, p.258). Por meio de uma descrio crtica da composio do poema, baseada no exame de seus aspectos tcnicos (versifi cao, ritmo e vocabulrio) e de comparaes com certas modalidades tradicionais de poesia meditativa romntica, de procedncia inglesa e francesa, Candido demonstra

    14 Exemplo da parceria conjugal avistada por Waizbort (2007) seriam, nesse ensaio, as aproximaes da poesia de Bandeira com a msica e a pintura, interesses recorrentes na visada crtica de Gilda de Mello e Souza. Retomarei esta questo na terceira parte do artigo.15 Conforme Pontes (1998) demonstra, ao examinar as relaes entre o grupo Clima e os principais expoentes do modernismo paulista, se, num primeiro momento, os jovens universitrios enfatizaram sua diferena em relao a eles utilizando-se como marca distintiva a formao rigorosa e treinamento tcnico recebidos dentro da FFLC/USP, numa fase posterior eles se reconhecem como herdeiros legtimos dessa linhagem intelectual.

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    as inovaes conferidas pelo escritor paulista nesse subgnero potico: a presena do automvel no lugar da caminhada solitria ou a cavalo e a extensa amplitude do devaneio, abarcando tanto refl exes pessoais quanto ponderaes de ordem mais geral sobre o pas. Por tudo isso, conclui que Louvao da tarde parece transcender ao tempo, na medida em que encarna tambm o andamento da produo literria, mostrando que Mrio de Andrade era capaz de passar do modernismo propriamente dito modernidade, que recupera a tradio de super-la. (CANDIDO, 1993b, p.278).

    No ano seguinte, o curso oferecido abordou o universo potico de Carlos Drummond de Andrade, cujo contedo debatido pode ser entrevisto a partir do ensaio Inquietudes na poesia de Drummond. Identifi cando, no bloco central da obra potica do escritor mineiro (redigida entre 1935 e 1959), certas inquietaes recorrentes, Candido chama a ateno para a relao confl ituosa de fundo entre a experincia existencial e social individual e coletiva na construo do discurso lrico do autor, ambas referidas [...] ao problema decisivo da expresso, que efetua a sua sntese. (CANDIDO, 1995b, p.112). Encaradas como um ncleo emocional a cuja volta se organiza a experincia potica de Drummond, tais tenses, segundo Candido, desdobram-se em certas preocupaes constantes, tais como o sentimento permanente de culpa e negao do ser, expresso, no limite, pelo tema da automutilao; a relao difcil com o mundo social abrangente (sobretudo na esfera do amor conjugal, dos compromissos mundanos e da famlia); da incompreenso, incomunicabilidade e medo diante da realidade ao redor (a despeito das tentativas de engajamento e participao ensaiadas pela poesia social) e da lembrana remissiva da cidade natal, da casa familiar e da autoridade patriarcal na tentativa de se autocompreender, culminando na meditao sistemtica, de ordem esttica, sobre o problema da poesia16.

    Observando, comparativamente, a distribuio dos cursos, na Especializao e, depois de 1966, na Ps-graduao (no regime antigo), voltados para o estudo da poesia que foram ministrados por Candido, constata-se que eles representam uma parcela signifi cativa e mesmo predominante em relao aos dedicados leitura da prosa de fi co e ao estudo de tpicos de teoria literria, contrariando a opinio corrente de que haveria na escola uspiana de literatura uma clara preferncia pelo romance (MORICONI, 2002, p.249). No conjunto, os cursos oferecidos ao longo da dcada de setenta se dividem em trs blocos sucessivos: exame da prosa de fi co

    16 Restringirei meus comentrios apenas aos dois primeiros cursos oferecidos, no binio 1963/1964, por duas razes ponderveis: a) de um lado, pela sua importncia posto que neles ocorreu a insero do estudo sobre o movimento modernista no interior da academia; b) de outro, no se pode apurar o contedo debatido no decorrer das aulas dos cursos de 1965 e 1966, tal como nos cursos que verifi camos, j que no h nenhum ensaio derivado do contedo das discusses com os alunos.

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    (romance), nos anos de 1961 e 1962; anlise de poesia em 1963, 1964, 1966 e 1967; e estudo de teoria literria no segundo semestre de 1968, 1969 e 1970.

    No que diz respeito consolidao das atividades de pesquisa e produo cientfi ca promovidas pelo curso de TLLC, os cursos sobre poesia, conforme nota com acerto Moriconi, tiveram repercusses profundas e decisivas. no decorrer das aulas sobre Mrio de Andrade que surgiu a idia de proceder com os alunos interessados a um levantamento sistemtico das anotaes marginais inscritas no acervo de livros da biblioteca particular de Mrio de Andrade17. Dessa iniciativa surgiram as primeiras dissertaes de mestrado defendidas sob a orientao de Candido frente do curso, j no regime antigo da Ps-Graduao18, inaugurando o conjunto de pesquisas sobre o movimento modernista, principal rea temtica de investigao do curso. Para a sua realizao, tais trabalhos contaram com o apoio o apoio fi nanceiro da Fundao de Amparo a Pesquisa (Fapesp), que dava incio ao fomento de pesquisas na rea das cincias humanas19.

    A pesquisa tambm repercutiu na incorporao do acervo pessoal de Mrio de Andrade (composto de livros, documentos e obras de arte) ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), idealizado e fundado em 1962 por iniciativa de Srgio Buarque de Holanda. De acordo com Caldeira, por sugesto de Antonio Candido, em carta dirigida ao Diretor do IEB sob a gesto, nesse perodo, de Jos Aderaldo Castello, deliberou-se [...] a compra do acervo constitudo em vida por Mrio de Andrade, composto de biblioteca, com cerca de 15 ou 16 mil volumes, arquivos e fi chrios, preciosas colees de desenhos, gravuras, imagens, ex-votos, quadros e esculturas. (CALDEIRA, 2002, p.73).

    Mas se os cursos dedicados leitura de poesia possibilitaram a consolidao das atividades acadmicas de pesquisa e produo cientfi ca do curso de TLLC, suscitando relatos entusiastas de ex-alunos20, de se notar, contudo, a ausncia da

    17 Cf. LOPEZ, 1992.18 Ao regressar ao pas, aps lecionar durante o semestre letivo de 1965 na Frana, Candido decide expandir as atividades acadmicas do curso, organizando o currculo da ps-graduao. A partir de ento, o curso passa por alteraes na estrutura curricular: em lugar da matria isolada na Especializao, os alunos deveriam cursar um conjunto de disciplinas, composto por Teoria Literria A e B, ministrada por Antonio Candido, e Teoria e Histria do Cinema, sob a direo de Paulo Emlio Salles Gomes, ambas em regime obrigatrio; Sociologia da Arte, a cargo de Ruy Coelho, Esttica, lecionada por Gilda de Mello e Souza e, fi nalmente, Histria da Arte, oferecida por Walter Zanini, todas em carter eletivo. Como se pode notar, a rea fi cou nucleada em torno de Antonio Candido, responsvel por duas das disciplinas obrigatrias do currculo, sendo convocados para as demais, com exceo de Zanini, os principais membros do Grupo Clima. Formada ao redor de intelectuais que compartilhavam um certo iderio crtico comum, essa unidade curricular certamente assegurou uma forte integrao institucional e intelectual no interior do programa de ensino e pesquisa do curso, contribuindo em larga medida para homogeneizar as disposies intelectuais e cognitivas dos alunos.19 Confi ra Forjaz (1989). Um depoimento mais completo se encontra em Candido (2002c). 20 Para Davi Arrigucci Junior (1990, p.11), seu estudo de livre-docncia, mesmo sendo redigido e apresentado num perodo bastante posterior de sua trajetria intelectual, poderia ser convenientemente

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    orientao de trabalhos cientfi cos de pesquisa relacionados com o estudo da produo potica na primeira gerao de formados por Candido. Embora alguns dos maiores poetas do modernismo tenham sido objeto de estudos em sala de aula e tenham se transformado em tema de trabalhos acadmicos (sobretudo Mrio e Oswald de Andrade), o recorte analtico das orientaes, na primeira leva de orientandos21, fi cou, paradoxalmente, restrito ao exame ou das suas obras fi ccionais ou das suas intervenes em prosa. Ainda que possa se admitir a menor ocorrncia de estudos na rea de poesia em comparao prosa como um fenmeno presenciado em mbito acadmico mundial, acredito que no caso do curso de TLLC haveria a possibilidade de se especular outras razes pertinentes. Em primeiro lugar, pode-se constatar que os principais estudos realizados na rea de sociologia da literatura focalizaram sobretudo composies e estruturas narrativas em detrimento da poesia; alm disso, a principais tendncias da poesia moderna, de modo geral, rumaram em direo da autonomia da funo potica, deixando de lado a preocupao com o referente social. Em conseqncia, os estudos sobre poesia apresentariam menores possibilidades de se explorar a relao entre expresso literria e contexto social, principal esforo analtico da obra de Candido. E com isso entramos no segundo tema deste artigo.

    Poesia maior e menor

    Quais os critrios que presidiram as escolhas dos autores analisados em sala de aula por Candido? Como compreender a formao desse repertrio, composto por Bandeira, Drummond e Mrio de Andrade, e, num segundo momento, Gregrio de Mattos, poetas romnticos e, novamente Manuel Bandeira? Acima vimos que tanto preocupaes de ordem didtica e pedaggica (a implementao de um programa seqencial de disciplinas, partindo do exame de poesia tradicional, at chegar s rupturas estticas promovidas pelos poetas modernistas) quanto o empenho em entronizar o movimento modernista no meio universitrio podem, ao menos em parte, explicar o repertrio de autores selecionados. No obstante, resta a indagao: por que a escolha de tais autores em particular?

    No conjunto da recepo crtica de Candido interessada neste assunto, duas afi rmaes que acabam por se conjugar sempre sobressaem: o carter tradicionalista

    considerado como um [...] trabalho de aproveitamento que no pude entregar na hora certa para o Prof. Antonio Candido, em 1963, quando fi z o curso de Teoria Literria sobre o Estudo analtico do poema, baseado na obra de Bandeira.21 Somente num segundo momento, j entrando pelo fi nal da dcada de setenta e alm que surgiro os primeiros trabalhos de flego tendo como tema a poesia de autores destacados do movimento modernista.

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    de seu repertrio de escolhas poticas22; e certa incapacidade ou inadequao de sua visada crtica para a anlise de poesia, sobretudo em suas manifestaes de vanguarda. Retomado por Moriconi, com base na leitura de O estudo analtico do poema, o propalado conservadorismo do conceito e da crtica de poesia de Candido repousaria em dois sentidos articulados: de um lado, uma proposta pedaggica restrita, como ponto de partida, questo do verso e da versifi cao tradicional, alheia ruptura esttica promovida pela moderna poesia; de outro, uma viso reformista da modernidade potica, que anseia pela superao da versifi cao livre com o movimento de retorno ao padro tradicional.

    No creio, contudo, que a compreenso do conceito de poesia adotado por Candido se reduza ao exame da dimenso tcnica da versifi cao, tampouco acredito que ela possa ser indicativa, por si s, de uma perspectiva conservadora. Ao meu ver, tal questo deve ser avaliada a partir da concepo mais geral do fenmeno literrio como forma de conhecimento e expresso esteticamente elaborada que fundamenta o projeto crtico de Candido. Para tanto, lanarei mo de um escrito de juventude, Notas de crtica literria sobre poesia (CANDIDO, 2002b), originalmente publicado em 1944, quando o jovem crtico ainda alternava a docncia e pesquisa universitria no campo da sociologia com a publicao de artigos na grande imprensa e de livros na rea que o consagrou.

    Recuperando um artigo polmico, mas perfeitamente justo em suas apreciaes de ordem esttica de Carlos Lacerda a propsito do absentesmo da poesia de Manuel Bandeira, que autoqualifi cara sua poesia como menor, Candido discute a pertinncia de se adotar como critrio esttico a oposio entre poesia menor (marcada pelo lirismo intimista e pela notao emotiva) e poesia maior (preocupada com a meditao sobre o homem e seus problemas), comeando por assinalar que a poesia moderna, a partir do simbolismo, tende a ser menor, j que [...] a aspirao de grande parte das correntes posteriores foi se limitar aos momentos poticos, aos momentos raros em que uma emoo agudamente sentida fosse transmitida com pureza ao leitor. Numa palavra: a poesia passou, em boa parte, a querer ser pura. Desincumbida da sondagem da experincia social, a poesia moderna, em sua grande maioria, teria se curvado sobre si mesma, divorciando-se do literrio para viver numa atmosfera rarefeita, que desemboca no raro no silncio e no hermetismo (CANDIDO, 2002b, p.153)23.

    22 A propsito do elenco de poetas investigados em Na sala de aula, Wanderley (1994, p.106) observa que [...] no h, na escolha atual, nada que venha discrepar da coloratura geral da tradio, da tendncia ao que fi cou clssico [...]. 23 bastante esclarecedora a leitura, no volume organizado por Dantas (CANDIDO, 2002e) dos rodaps e artigos dedicados anlise de poesia enfeixados na seo Argumentos, na qual pode-se encontrar um balano geral das posies de Candido a respeito da poesia moderna.

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    Ao refl etir sobre o conjunto da poesia brasileira, Candido verifi ca que [...] ela formada por uma maioria de poetas menores isto , poetas de emoo no organizada e dirigida, que se contentam com a pincelada, o toque, a sugesto rpida, o momento de beleza. Em compensao, [...] no h quase poetas maiores isso , aqueles que fazem do verso um instrumento de totalizao da experincia humana, dirigindo-se tanto inteligncia quanto sensibilidade ou ao gosto. Para o jovem crtico

    [...] no h superioridade, propriamente, de uns poetas sobre os outros. H magnfi cos poetas menores dos mais altos entre os modernos e pssimos poetas maiores. Nenhum leitor de bom senso daria toda a obra de Baptista Cepellos, maior, pela Estrela da manh do sr. Manuel Bandeira, menor. O que no h dvida que a supremacia do poema curto, centralizado em torno de uma simples emoo ou consistindo num jogo potico de habilidade, signifi ca uma diminuio de tnus da poesia, um divrcio do poeta com o mundo, a sociedade, pra confi n-lo a uma certa passividade ou a um certo enrolamento sobre ele prprio. (CANDIDO, 2002a, p.132).

    O que chama a ateno nesse artigo, deixando de lado a signifi cativa defesa da poesia maior como modelo e critrio de valor que defi ne a grandeza real da poesia, so os exemplos selecionados por Candido para comprovar a qualidade, e, por extenso, a superioridade, da poesia maior:

    Leia-se o Hino tarde, o I Juca Pirama, Sub-tegmine fagi, o Navio Negreiro. Modernamente, so maiores em boa parte da sua produo os senhores Carlos Drummond de Andrade e Mrio de Andrade. A Louvao da tarde, e do segundo, e Os ombros suportam o mundo, do primeiro, escapam do lirismo, ao choque emocional, ao prazer singular, para se lanarem na meditao sobre o destino do homem, sobre grandes temas, sobre a sociedade. Poesia, portanto, de flego muito maior do que a asma esttica dos simbolistas [...]. (CANDIDO, 2002a, p.132).

    Embora seja um escrito da fase inicial da trajetria intelectual de Candido, redigido durante os primeiros anos de atividade militante como crtico, quando a excessiva preocupao com a funo social e poltica da literatura turvava-lhe em parte o juzo crtico24, no difcil notar que os expoentes da poesia maior citados iro, posteriormente, se transformar em objeto de estudo dos cursos oferecidos no

    24 Cf. CANDIDO, 1992, 1988.

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    mbito do curso de TLLC, todos eles preocupados em transfi gurar em versos uma meditao sobre o homem e os seus problemas.

    A Escola Paulista de Literatura e o Grupo Concretista

    Como era de se esperar, ao se abordar a questo da crtica de poesia praticada em So Paulo, repontam no texto de Moriconi referncias obrigatrias s disputas entre a escola paulista de literatura e o grupo concretista. De modo geral, tal controvrsia apreendida pelo vis de uma oposio radical entre concepes e abordagens do fenmeno literrio assentadas sobre pares antitticos: formalismo versus sociologismo, esteticismo em contraste ao engajamento sociopoltico. No entanto, uma leitura cuidadosa das contendas revela que, por trs da disputa entre distintas abordagens e concepes do fenmeno literrio entre os grupos, reside uma disputa simblica de projetos intelectuais fundados em alianas acadmicas e fi liaes intelectuais, modos legtimos de leitura e explicao de obras literrias e instaurao de cnones literrios, dinamizada por freqentes embates e desqualificaes recprocas.

    No se pode averiguar com exatido quando se iniciam as polmicas e os desentendimentos mtuos entre o grupo de discpulos formado ao redor de Candido (que, alis, nunca tomou parte diretamente das contendas25) e os poetas concretistas. No entanto, medida que se ampliam os respectivos engajamentos institucionais de ambos os grupos, entrincheirados nos quadros universitrios da USP e PUC, as invectivas se amidam, tornando-se mais freqentes e encarniadas.

    Sem pretender analisar, nos limites deste artigo, tais polmicas, de resto j bastante conhecidas e comentadas26, meu interesse aqui recuperar um dos episdios pouco destacados na fortuna crtica dedicada ao assunto: as leituras divergentes de Macunama (1928), obra-prima de Mrio de Andrade, empreendidas por Haroldo de Campos (1973) em Morfologia do Macunama (1973) e Gilda de Mello e Souza (2003) em O tupi e o alade (1979). Em minha opinio, talvez no seja descabido considerar o estudo de Gilda como uma rplica refl etida em conjunto pelo casal

    25 Embora, em certas ocasies, tenha aludido a respeito da mais conhecida delas: Eu no creio que h o seqestro do Barroco. Teria havido o seqestro do Barroco se eu tivesse querido escrever uma histria da literatura brasileira. Mas est explicado na Introduo que eu no quis fazer isso [...] Agora, o ttulo do livro muito infeliz, um ttulo pedante seria Prolegmenos ao estudo sobre a formao do sistema literrio no Brasil sem com isso dizer que antes no havia manifestaes literrias. E nesse caso eu no daria lugar a dvidas. Na verdade, o meu livro um estudo sobre o Arcadismo e o Romantismo, que eu considero momentos decisivos, no de literatura propriamente dita, mas de formao do sistema literrio. curioso que minha introduo foi sempre treslida, mesmo por pessoas muito inteligentes. (CANDIDO, 1997, p.10).26 Cf. MOTTA, 2002; GOMES JNIOR, 1998.

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    Mello e Souza27 aos principais argumentos do trabalho de Haroldo. o que passo a examinar.

    Como se sabe, Haroldo de Campos foi convidado por Candido, no comeo da dcada de sessenta, a assumir o cargo de professor assistente do curso de TLLC28. Anos depois, em 1972, defendeu, sob a orientao (ainda que meramente formal) de Candido, como tese de doutorado na rea de TLLC, o trabalho mencionado. Divergindo de parte da recepo crtica do romance que o considerava uma pea literria malograda e desarticulada, e aproximando-o da prosa de vanguarda e do cnone literrio concretista (Oswald de Andrade e Mallarm), Haroldo avista no entrecho de Macunama uma rgida e encadeada seqncia narrativa, baseada nos princpios formais detectados no arcabouo dos contos de magia russo pelo linguista Vladimir Propp (1984) em Morfologia do conto maravilhoso (1984).

    Instada29 pela apario e publicao de Morfologia do Macunama, Gilda redige sua resposta crtica ao trabalho de Haroldo, refutando ponto a ponto suas teses centrais algo como uma arguio extempornea30-, sustentando que o arranjo estrutural do romance derivaria do conjunto de pesquisas de Mrio de Andrade sobre o universo da msica popular e do processo criador do populrio, e que sua regra bsica de composio estaria assentada no funcionamento de dois princpios do processo compositivo da msica popular (a variao e a sute) e no fecundo consrcio de emprstimos e adaptaes entre a msica erudita e popular, representado de maneira emblemtica pelos improvisos dos cantores do nordeste.

    Aps desenvolver a anlise sobre a infl uncia desse aspecto na obra, Gilda empreende, no segundo bloco do ensaio, o qual nos interessa mais diretamente, um ajuste de contas sistemtico com as principais formulaes da pesquisa de Haroldo. Refutando a analogia entre o desenvolvimento do entrecho do romance e a estrutura fabular, interpretao que reduziria o alcance de um fato admirvel de parole banalidade da langue (PROPP, 1984, p.45), Gilda enumera os aspectos divergentes com relao proposta de Haroldo, dos quais sobressaem a fi delidade excessiva com que o autor adotou o modelo analtico proposto por Propp, resultando em concesses ou esquecimentos de episdios fundamentais do romance (a saber: importncia

    27 No so raros entre o casal os exemplos de parceria intelectual. Waizbort (2007) sugere a infl uncia mtua desta parceria durante a redao, que ocorreu em paralelo, de A formao da literatura brasileira (1959) e O esprito das roupas (1987). 28 Como ele registra: [...] eu fui realmente convidado por Antonio Candido para ser assistente dele. Isso depois do Congresso de Crtica Literria de Assis (SP) e de eu ter publicado na imprensa meus primeiros artigos sobre Oswald de Andrade (Miramar e Macunama, de 63), depois tambm de eu ter sido escolhido por Candido para escrever os prefcios para a reedio da prosa e da poesia oswaldianas. Aconteceu que eu j tinha carreira feita, no campo jurdico, quela altura. Nunca tinha dado aulas, achei que mudar de profi sso poderia me complicar a vida. (CAMPOS, 1992, p.6).29 Cf. WISNIK, 2007.30 Expresso utilizada por Perrone-Moiss (1980).

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    central do episdio de Vei; a posio estratgica da Cartas para Icamiabas; e a caracterizao ambgua no retorno do heri).

    Em lugar da homologia estrutural com o conto russo de magia, Gilda de Mello e Souza (2003, p.61) defende que Macunama pode fi liar-se, sob certos aspectos, a uma remota tradio narrativa do Ocidente, o romance arturiano, que por sua vez desenvolve um dos arqutipos mais difundidos da literatura popular universal: a busca do objeto miraculoso, no seu caso, o Graal [...], confi gurado por meio de uma narrativa cujo curioso jogo satrico [...] oscila de maneira ininterrupta entre a adoo do modelo europeu e a valorizao da diferena nacional. Aproveitando as consideraes do terico russo Mikhail Bakthin sobre os processos de carnavalizao e dialogismo na literatura ocidental, Gilda demonstra que o romance poderia ser compreendido enquanto uma pardia do gnero e seu protagonista com uma verso estilizada do heri do romance de cavalaria31.

    No obstante se possa admitir que a ateno dedicada ao estudo de Haroldo de Campos decorra, primeira vista, do fato de ele ser a anlise mais importante para a compreenso da estrutura bsica do romance, a investida de Gilda supera em muito uma mera reviso sobre as fontes bibliogrfi cas pertinentes, deixando transparecer a dimenso da disputa sobre um objeto estimado aos grupos em contenda. Sob este aspecto, convm lembrar que a despeito das vrias pesquisas realizadas sobre a obra de Mrio de Andrade por pesquisadores ligados rea de TLLC, a obra-prima do escritor paulista no recebera at ento nenhum tratamento particular. A ateno com que Gilda disseca os argumentos analticos da Morfologia do Macunama, e o destaque inesperado que lhes concede no movimento refl exivo de sua prpria anlise atestam a importncia estratgica dessa leitura crtica. Sob a forma eufemizada de uma simples reviso bibliogrfi ca [...] tentarei agora discutir a posio de Haroldo de Campos, para adotar um ponto de vista diferente do seu [...] (SOUZA, 2003, p.44), Gilda rechaa os principais argumentos e achados do trabalho, executando uma manobra intelectual no sentido de redefi nir os critrios e parmetros avaliativos legtimos de leitura do romance, revistos de acordo com o projeto crtico compartilhado com o cnjuge e, num nvel mais amplo, com o grupo intelectual a que pertenceu na mocidade.

    Da mesma forma que Candido em Louvao da tarde havia exaltado no poema uma retomada crtica e produtiva da tradio, num esforo de superao

    31 No deixa de ser signifi cativo o fato de Candido ter ministrado, em 1967, para os alunos do quarto ano da graduao, o curso Realidade e irrealidade na fi co. Segundo depoimento do autor: Para a Irrealidade eu estudei A demanda do Santo Graal, romance medieval, para mostrar onde que estava a fantasia, aquela coisa do Fantstico. Para a dimenso da realidade estudei Fogo Morto, de Jos Lins do Rego, depois publiquei pedaos desse estudo. (CANDIDO, 1997, p.39). Isso em parte refora minha hiptese de que o ensaio de Gilda tenha, no mnimo, sido discutido, ao menos em suas grandes linhas, em conjunto com Candido.

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    dos arroubos da proposta potica modernista em direo a uma poesia madura manifestando um lirismo mais profundo, e que tematiza certas obsesses da obra literria de Mrio de Andrade (a tenso criativa entre os modelos literrios herdados do Velho Mundo e a valorizao do repertrio local, a fuso de horizontes do eu com a preocupao com Brasil), Gilda destaca o manejo criativo do escritor entre a velha herana europia e as fontes locais de inspirao, numa meditao complexa sobre o pas, aspectos que revelam a convergncia de afi nidades comuns entre o casal na perspectiva de abordagem crtica do escritor paulista.

    Se a parcela mais signifi cativa da produo crtica de Candido encontra-se associada anlise da prosa de fi co, os cursos sobre poesia ganharam destaque no programa institucional do curso de TLLC, veiculando suas concepes gerais sobre a natureza da literatura e sobre a formao da tradio literria no Brasil e repercutindo fundo na experincia acadmica de seus membros componentes. A partir destes cursos o movimento literrio modernista ganhou existncia dentro dos muros universitrios como temtica de estudo e pesquisa, tornando-se decisivos na consolidao do prestgio amealhado por Candido e, por conseqncia, na emergncia do curso de TLLC como um segmento hegemnico no mbito da crtica literria praticada em So Paulo.

    ANTONIO CANDIDO, POETRY READER(SURROUNDING AN ARTICLE BY TALO MORICONI)

    ABSTRACT: This article intends to explore some questions related to poetry analysis courses offered by Antonio Candido in the Course and, after that, fi eld Literary Theory and Compared Literature, with special interest in 3 analysis fronts: a) describing the structure and dynamics of functioning in the course, highlighting the role of poetry-dedicated courses; b) advance in the discussion about the poetry concept defended by Candido, reassessing the tradition matter of his paideuma and his literary preferences; c) put into evidence the symbolic dispute to the modernist legacy which exists between the group around Candido and the concrete poets, by the reading of O tupi e o alade, by Gilda de Mello e Souza.

    KEYWORDS: Antonio Candido. Analytic study of the poem. Academic literary review in Sao Paulo. Literature sociology.

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