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1 Antártida A Geografia do Continente Gelado e as Operações Brasileiras No extremo Sul do planeta Terra há a última fronteira ao avanço e controle total do homem. Se já são tantas as dificuldades para a sobrevivência em um ambiente hostil, podemos imaginar o esforço maior para a permanência ininterrupta e definitiva. Tal território, sempre idealizado pelos antigos gregos, a cerca de 300 a.C., mas descoberto há pouco mais de um século é a Antártida. Suas diferenças são marcantes em relação ao seu par, no pólo Norte, em todos os sentidos. O mais importante é o fato de a Antártida ser realmente um continente, enquanto que o Ártico é apenas uma calota de mar congelado. As diferenças geográficas são muito importantes para se avaliar os diversos comportamentos climatológicos e oceanográficos entre os dois hemisférios da Terra. Devemos dar ênfase a estas características geográficas para o estudo da região. Enquanto que no pólo Norte há o Ártico, como um mar congelado com espessura de gelo próxima de 10 metros, cercado de continentes por todos os lados, com estreitas faixas de oceanos livres, o pólo Sul se caracteriza por ser exatamente o oposto. Temos um continente de fato, a Antártida, cercada de oceano livre por todos os lados, o Oceano Circumpolar Antártico. Este é um motivo chave para os deslocamentos dos fluidos geofísicos do planeta: os oceanos e a atmosfera. Com a ausência de perturbações causadas pela presença de massas continentais, os fluidos poderão formar fenômenos consideráveis. O NOME DO CONTINENTE Embora obscurecido pela Idade Média, o conhecimento de que a Terra era esférica já era sabido pelos antigos Gregos. Chegou-se a calcular o raio do planeta com pouca margem de erro, quando o diretor da biblioteca de Alexandria, Eratóstenes, em 331 a.C. descobriu anotações interessantes sobre a posição de sombras durante um solstício de verão boreal na cidade de Siena (às margens do mar Vermelho, Egito antigo). Outras observações da esfericidade da Terra eram bem claras durante os eclipses lunares. Os antigos conheciam as terras do Norte e sabiam da existência das regiões geladas do Ártico e das regiões quentes equatoriais próximas no continente africano. Imaginando a simetria de um corpo celeste esférico, concluíram que deveria haver uma região fria na outra extremidade do planeta. Como sobre o pólo Norte há a estrela polar (Polaris), pertencente à constelação da Ursa Menor, a região fria do Norte recebeu o nome de Arktus (há grafias Arktikus), que significa Ursa Menor. Então, pela derivação e simetria, a conclusão que se chegou foi da existência de uma região fria ao Sul. Assim nasceu o

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AntártidaA Geografia do Continente Gelado

e as Operações Brasileiras

No extremo Sul do planeta Terra há a última fronteira ao avanço e controletotal do homem. Se já são tantas as dificuldades para a sobrevivência em umambiente hostil, podemos imaginar o esforço maior para a permanência ininterruptae definitiva. Tal território, sempre idealizado pelos antigos gregos, a cerca de300 a.C., mas descoberto há pouco mais de um século é a Antártida.

Suas diferenças são marcantes em relação ao seu par, no pólo Norte, em todosos sentidos. O mais importante é o fato de a Antártida ser realmente um continente,enquanto que o Ártico é apenas uma calota de mar congelado. As diferençasgeográficas são muito importantes para se avaliar os diversos comportamentosclimatológicos e oceanográficos entre os dois hemisférios da Terra. Devemos darênfase a estas características geográficas para o estudo da região. Enquanto que nopólo Norte há o Ártico, como um mar congelado com espessura de gelo próxima de10 metros, cercado de continentes por todos os lados, com estreitas faixas deoceanos livres, o pólo Sul se caracteriza por ser exatamente o oposto. Temos umcontinente de fato, a Antártida, cercada de oceano livre por todos os lados, o OceanoCircumpolar Antártico. Este é um motivo chave para os deslocamentos dos fluidosgeofísicos do planeta: os oceanos e a atmosfera. Com a ausência de perturbaçõescausadas pela presença de massas continentais, os fluidos poderão formarfenômenos consideráveis.

O NOME DO CONTINENTE

Embora obscurecido pela Idade Média, o conhecimento de que a Terra eraesférica já era sabido pelos antigos Gregos. Chegou-se a calcular o raio do planetacom pouca margem de erro, quando o diretor da biblioteca de Alexandria,Eratóstenes, em 331 a.C. descobriu anotações interessantes sobre a posição desombras durante um solstício de verão boreal na cidade de Siena (às margens do marVermelho, Egito antigo). Outras observações da esfericidade da Terra eram bemclaras durante os eclipses lunares. Os antigos conheciam as terras do Norte e sabiamda existência das regiões geladas do Ártico e das regiões quentes equatoriaispróximas no continente africano. Imaginando a simetria de um corpo celesteesférico, concluíram que deveria haver uma região fria na outra extremidade doplaneta. Como sobre o pólo Norte há a estrela polar (Polaris), pertencente àconstelação da Ursa Menor, a região fria do Norte recebeu o nome de Arktus (hágrafias Arktikus), que significa Ursa Menor. Então, pela derivação e simetria, aconclusão que se chegou foi da existência de uma região fria ao Sul. Assim nasceu o

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nome Anti-Ártico, ou contrário da Ursa Menor. Formou-se as palavras derivadas“antártico”, usada como adjetivo e o substantivo “Antártica”, para nomear ocontinente. Mas nem sempre a língua portuguesa foi fiel às origens gregas, daí aformação do substantivo latino Antártida. Como lembrou muito bem UlissesCapozoli, Prof. Aristides Pinto Coelho e outros escritores, os quais eu mesmodefendo: a grafia Antártida soa muito mais interessante e poética, pois remonta ummistério de “continente perdido” como a lendária Atlântida e que faz justiça a ele emtoda a sua plenitude, mesmo porque, não existe uma Ártica. Só por este fato, aAntártida já se torna ímpar! Uma explicação mais palpável pode se basear no fato deque a Antártida é o único continente polar do planeta. Além do mais, estas terrascontinuam sua deriva, como todas os outras da Terra e, num futuro distante, deixaráde ser a antípoda da região ártica. Oficialmente, nos primeiros documentos quetramitaram no Congresso Nacional, adotou-se o nome Antártida também.Atualmente, o governo brasileiro adotou o termo Antártica para descrever ocontinente nos seus trabalhos e documentos. Notoriamente, ambos os modos deestão corretos. É muito comum encontrar nos jornais e livros a grafia Antártida. EmPortugal, a grafia utilizada é Antárctida que poderia ser considerada a mais correta.

A DESCOBERTA

Desde tempos remotos, a Terra Australis Nondum Cognita era grafada nosmapas antigos como sendo uma região existente, porém não descoberta. É difíciloficialmente dizer quem foi o explorador, ou melhor dizendo, a expedição, queencontrou o continente. Diversos países, inclusive o Brasil, participaram deexpedições de ataque às regiões sub-polares e polares. Contudo, com a tecnologiados séculos XVIII e XIX, tais jornadas eram muito críticas e trabalhavam no limiteextremo entre a vida e a morte. Podemos fazer uma idéia de como tais missões eramperigosas quando comparamos com os dias atuais. Se mesmo hoje é muito difícil dese prestar socorro a um acidente nos mares antárticos, ou mesmo sobre o continente,imaginemos há mais de 100 ou 200 anos atrás. Os expedicionários realmente tinhamum espírito aguçado de aventura. Infelizmente, nem todos possuíam uma visãoecológica e científica acurada. Avaliando a História, podemos dizer duas coisasinteressantes de um grande personagem no descobrimento antártico. Seu nome éBelligshausen.

Embora haja muita controvérsia sobre os descobridores da Antártida,sumariamente, avaliando-se todos os documentos registrados da época, podemosatribuir, com muito mais certeza, o encontro das terras antárticas ao comandanteThaddeus Bellingshausen, chefe de duas expedições antárticas russas iniciadas nadata de 1819. Naqueles tempos de descobertas, tais expedicionários saíam em suasmissões para ficarem mais de 2 anos percorrendo as regiões dos mares gelados,fazendo retornos breves para recarga de suprimentos e reparos de avarias.Normalmente, tais retornos eram feitos na Austrália, Nova Zelândia, Argentina e

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Brasil. Havia uma corrida mundial entre muitas nações para o descobrimento dasterras austrais. Muito antes de Bellingshausen, diversos outros exploradorestentaram encontrar o continente. Em 1768, o jovem comandante inglês James Cook,a bordo do Endeavour, já partira para as águas do Sul. Porém, somente na suasegunda viagem, no comando do Resolution, em 1772, é que ele conseguiu chegarao ponto Sul máximo até aquela época. Tal marca só seria batida em 1933, naexpedição do almirante americano Richard Bird. É quase uma fatalidade Cook nãoter descoberto a Antártida, pois avançou até o paralelo 71º10’S, mas na longitude160º54’W, ou seja, penetrou na região mais profunda e exaurida de terras daAntártida, o mar de Ross. Se não fosse por esse fato, sua expedição teria descobertoo continente já no século XVIII.

O comandante Belligshausen, seguindo pelas recém descobertas ilhasShetland do Sul, encontrou a península Antártica. Isto só ocorreu depois de diversastentativas de ultrapassar as barreiras de gelo que cercavam sua flotilhaconstantemente (navios Vostok e Mirnyi). Pode-se dizer que a data mais correta parase atribuir à descoberta é 28 de janeiro de 1821.

Toponímia geral da Antártida. A navegação da frota russa do Cap. Bellingshausennavegava sempre além dos 60ºS. Sendo assim, encontrou a península Antártica em 28 dejaneiro de 1821. O mar à Oeste da península recebe o seu nome. Note também que ocontinente não é centrado no Pólo Sul. Cerca de 90% dele pertence à Antártida Oriental.

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CARACTERÍSTICAS PECULIARES

O continente Antártico é especial pelos mais diversificados motivos.Inicialmente levaremos em conta os fatores geográficos mais comuns referentes àAntártida. Foi um continente que derivou do Norte para o Sul nestes milhões deanos de evolução terrestre, saindo de uma região tropical. Por este motivo, jácomportou florestas e animais. A existência disto foi comprovada por estudosgeológicos da região que mostraram excelentes reservas de carvão, petróleo emadeira petrificada. Além disto, há reservas de diversos minerais cuja quantificaçãoexcede muitas reservas exploradas em outras regiões do mundo. Metais como ferro,cobre e outros preciosos são abundantes em pontos isolados. Por estas poucascaracterísticas, a Antártida já se torna uma área de relativo interesse econômico.Contudo, estes não são produtos de fácil obtenção. Talvez por isso, e se afirma quesomente por isso, elas ainda não tenham sido exploradas de fato. O clima e o tempotornam impraticáveis, economicamente, tais atitudes.

Figura em projeção polar para comparação do territóriobrasileiro em relação ao continente antártico. O Brasiltem cerca de 60% do tamanho da Antártida, sem contaros mares que congelam durante o inverno. Pode-seconcluir algumas coisas interessantes: Nosso país émuito grande, o que dificulta sua ocupação, além de termuitas barreiras naturais; a Antártida é bem maior,acrescida de todos os problemas impostos porcondições críticas de tempo e clima. Se até nos temposatuais, o expansionismo de ocupação é um problemabrasileiro, o que dizer de terras geladas?

Porém, a maior riqueza da Antártida é a sua água. Cerca de 90% da reservade água doce potável está congelada no continente. Sabe-se que, em futuro próximo,a maior dificuldade da humanidade será a obtenção de água potável. Provavelmenteaté guerras serão travadas pela posse de ecossistemas que sustentem a vida. Aosolhos dos visionários, a Antártida se tornou uma região estratégica de futuro muitopromissor. Essa reserva se encontra por praticamente todo o continente, com cercade 14 milhões de km2 e que quase duplica, no inverno, quando seus mares congelame recebem a neve precipitada, alcançando marcas de mais de 20 milhões de km2 (nãopodemos esquecer que o Brasil tem um pouco mais de 8,5 milhões de km2 e aAmérica do Sul, cerca de 17,6 milhões). Toda a neve precipitada vai se tornandogelo com o passar dos dias. Em meses, esse gelo se concentra, formando camadasmais compactas e se aprofundando. Desta maneira, a Antártida se torna umcongelador da história do nosso planeta. Em cada camada de gelo estão aprisionadaspequenas amostras da atmosfera. Os glaciologistas perfuram o gelo e conseguem

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estipular diversos parâmetros da atmosfera primitiva (cerca de 200 parâmetros,atualmente). Pode-se avaliar o gelo de 900 mil anos atrás, em certas áreas da calotapolar, descobrindo concentrações dos principais gases atmosféricos, por exemplo.Só por este fato, consegue-se reconstruir boa história da atmosfera do planeta. É ummarco de registro importantíssimo.

É notório de se imaginar que essa neve não pode formar acúmulos de geloeternamente. Com o estudo obtido por marcadores feitos em geleiras e, maismodernamente, utilizando-se satélites, percebeu-se que estas se movem do interiordo continente para o litoral, sendo este deslocamento bem semelhante ao de um rio.A velocidade de deslocamento pode ser de um metro por ano a impressionantemarca de três metros por dia. Quando chega a região costeira, a geleira atinge o mar.Nesta interface, surgem rachaduras gigantescas que formam os icebergs. Então,pode-se dizer que cada iceberg é um gelo, que um dia foi neve, a muitos milhares deanos atrás e que agora é devolvido ao ciclo hidrológico. Cada iceberg é um retornona máquina do tempo do nosso planeta. Contudo, os icebergs antárticos diferemtotalmente dos seus pares do Ártico. Enquanto no hemisfério Norte eles sãopontudos, derivados de rachaduras de geleiras próximas ao mar, na Antártidaimperam os tabulares, originados da quebra do talude congelado sobre os oceanos.Com isto, os icebergs antárticos podem facilmente se tornarem tão grandes comoestados brasileiros. Em minha missão à Antártida, em 2001/2002, tive aoportunidade de rastrear, pelo satélite russo da série Meteor, dois tabulares muitomaiores que a Ilha Rei George (vide texto abaixo) local onde se situa a estaçãobrasileira.

Icebergs tabulares imperam nos mares antárticos. Muitos deles são maiores que cidades eaté pequenos estados brasileiros. A preocupação maior com estes gigantes de gelo errantesé a sua rota. Algumas chegam ao litoral Sul do Brasil.

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A Antártida é o continente com a maior altitude média. Chega a cerca de 2.200 metros, ouseja, se todo o continente fosse nivelado, quando se chegasse ao litoral, encontraríamosuma muralha com esta altitude. Contudo, a maior parte é composta de gelo, com espessurasalém de 4000 metros. Note os principais acidentes geográficos, como as montanhasTransantárticas (ao centro) e os Antartandes (formação da península Antártica, à esquerda).Em geral, todo o litoral é composto por barreira orográfica. A parte central é chamada deplatô Antártico, composta por diversos domos gelados.

Outro fato de grande curiosidade é a posição do Sol durante as estaçõessazonais do ano. Para entender os conceitos astronômicos, devemos recorrer aométodo clássico de estudo da Astronomia, onde a Terra é fixa e tudo se move ao seuredor (sistema geocêntrico). Sob este ponto de vista, um observador sobre a linha doEquador verá o Sol “caminhar” de Leste para Oeste a cada 24 horas, oscilando23º27’ mais para o Norte ou mais para o Sul, conforme a estação do ano. Uma vezque o observador se desloca para latitudes polares, em direção à Antártida, verá,durante os meses do ano, o Sol se inclinar cada vez mais, passando mais tempo nocéu, durante o solstício de verão e menos tempo, durante o solstício de inverno.Quando chegar justamente sobre o Círculo Polar Antártico, em 66º33’S, oobservador verá o último dia perfeito, nas transições dos solstícios. Nesta data,haverá um dia com 24 horas (verão) e uma “noite” também com 24 horas (inverno).Contudo, por efeitos reflexivos da atmosfera, esta noite, de fato, não ocorre. O quese observa é um amanhecer no horizonte muito curioso, pois o Sol não nasce, dandoum breve cintilar às 12h, retornando imediatamente para baixo do horizonte. Umavez atravessado o círculo polar, outros efeitos astronômicos surgem que tenderão ase aproximar das mesmas sutilezas do que se observa exatamente sobre o Pólo Sul.Se for verão, o Sol permanece acima do horizonte, nas 24 horas do dia. Se forinverno, ele estará abaixo do horizonte, determinando a noite polar. Novamente,chama-se a atenção para os efeitos reflexivos da atmosfera. Só teremos noite,efetivamente, quando o centro do disco solar estiver além dos 108º de distânciazenital. Por esta razão, mesmo sobre o pólo, em 90ºS, teremos apenas quatro mesesde dia pleno, quatro meses de noite plena e quatro meses de nascer e ocaso do Sol,divididos em dois meses para cada evento (com acentuação nas duas últimas e duas

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primeiras semanas, respectivamente). Este efeito ocorre porque o movimentoaparente do Sol, nesta latitude, é de um “parafuso” no céu, conforme correm asestações do ano. Vale lembrar que na entrada do verão, sobre o pólo Sul, o Solalcança a sua maior altura, com apenas 23º27’, permanecendo as 24 horas do diagirando ao redor do observador. Por este motivo, os antigos exploradoresdenominavam a Antártida como a “Terra das Longas Sombras”.

Observador sobre a linha do Equador (0º). Sobre o Trópico de Capricórnio (23º27’S).

Próximo ao círculo polar (<66º33’S) Sobre o Círculo Polar Antártico (66º33’S)

Diversas posições do observador sobre as latitudes Sul do planeta Terra, até o Círculo PolarAntártico. As linhas circulares indicam o movimento do Sol em 24 horas. A distância daslinhas de solstício (verão e inverno) da linha central (equinócios) é fixa no arco de grau de23º27’. Este valor representa a linha da Eclíptica da Terra (inclinação em relação ao planode transição ao Sol).

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Sobre o pólo Sul (90ºS). Sol abaixo do horizonte, no inverno.

Alvorada longa, ao chegar a primavera. Sol acima do horizonte, no verão.

Crepúsculo longo, ao chegar o outono. Distância zenital do Sol e os crepúsculos.

O parafusar do Sol, em latitudes acima de 66º33’S até 90ºS indicam mais ou menos tempo de dia,noite e crepúsculos. No caso extremo, sobre o pólo Sul, a divisão é feita em três partes.

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Datas significantes de duração do dia e crepúsculos em várias latitudes. Assume-se umhorizonte desobstruído e condições normais de refração (Fonte: SCHWERDTFEGER, 1984).

Descritivo Pólo Sul 85ºS 80ºS 75ºS 70ºSSol permanece acima do horizonte até 23 mar 10 mar 25 fev 12 fev 26 janSol fica abaixo do horizonte após 23 mar 04 abr 19 abr 05 maio 25 maioSem crepúsculo civil após 06 abr 20 abr 05 maio 27 maio -Sem crepúsculo astronômico após 11 maio 06 jun - - -Crepúsculo astronômico retorna em 1º ago 04 jul - - -Crepúsculo civil retorna em 08 set 26 ago 10 ago 20 jul -Sol retorna em 21 set 08 set 25 ago 09 ago 19 julSol permanece acima do horizonte após 21 set 05 out 18 out 02 nov 19 novDuração aproximada do crepúsculoastronômico no solstício de inverno(horas)

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Duração aproximada do crepúsculocivil no solstício de inverno (horas) - - - - 2

INTRODUÇÃO AO CLIMA E TEMPO DA ANTÁRTIDA

É redundante dizer que o clima antártico é frio, aliás, muito frio. Porém, essaidéia fundamentada na mente das pessoas que vivem em países tropicais ou demédias latitudes, como os brasileiros, é muito vaga. Muitos acham que se estivessemna Antártida, logo em um primeiro momento, iriam encontrar um frio extremo. Esteé um conceito errado. A região costeira da Antártida pode alcançar temperaturasinclusive positivas. Há uma interação muito forte entre a região costeira fria e osmares, relativamente mais quentes. Portanto, a costa antártica, principalmente osarquipélagos sub-antárticos, possui temperaturas que variam entre 5º a –25ºC,dependendo da época do ano e de que sistema sinóptico meteorológico estiveroperando na área.

Mas afinal qual é esse sistema sinóptico meteorológico que atua na área daAntártida? Pertencentes à fauna meteorológica, os ciclones extratropicais são asprincipais entidades que atuam na região costeira e mares adjacentes de todo ocontinente antártico. Realisticamente, são eles os responsáveis pela troca de energiadas regiões de médias latitudes, com as regiões sub-polares, ou seja, convertemquase que a totalidade da energia térmica, do ar mais aquecido, em energia cinética(de fortes ventos) quando tentam transpor o ar mais frio. Forma-se um vórtice deproporções planetárias (daí o termo sinóptico = visão simultânea) que caracteriza otransporte de ar, as vezes mais aquecido, as vezes mais frio, sobre um observadorem superfície, conforme o ciclone ET se desloca. Portanto, nas proximidades dacosta antártica, o frio não é extremo. Os valores de baixas temperaturas estão maisligados a parte interior do continente e às grandes cadeias montanhosas. Deve-selevar em conta também que todo o continente têm uma altitude média muito

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elevada. O platô Antártico, localizado no centro do continente, possui altitude demais de 4.000 metros. Nesta região central, em altitude, o ar superior converge,assim, há subsidência com o transporte deste ar para a superfície. Desta maneira,forma-se um anticiclone muito grande e semi-permanente no platô Antártico. Comoo escoamento do ar no anticiclone é divergente, teremos condições propícias para aformação de ventos intensos muito frios, em superfície, que caminham para o litoral.Porém, não podemos esquecer que a grande declividade, entre o alto platô centralaté a costa ao nível do mar, serão fatores determinantes para o surgimento dos maisintensos ventos frios catabáticos (que descem as montanhas).

As temperaturas da Antártida continental oscilam na média de –60,0ºC, noinverno, e –28,2ºC, durante o verão. A umidade relativa é muito baixa na partecontinental, mas extremamente alta na área costeira. Dentre os fenômenosatmosféricos mais interessantes temos a chuva de diamantes (dust diamond) queocorre quando o vapor d’água sublima, ao atingir seu ponto de saturação, em valoresnegativos de temperatura de ponto de orvalho. Também podemos observar assituações de Blanqueio, onde o branco total do gelo faz o observador perder toda anoção de profundidade. Para os aviadores, temos o Céu d’água, onde o mar liso e océu se fundem em uma brancura completa, com Sol baixo e o Whiteout, situaçãoonde nuvens, neve, gelo e geleiras se fundem numa completa “escuridão branca”.Neste caso, o observador perde completamente as referências.

Imagem de Satélite de órbita estacionária,geossíncrona GOES-8 (já fora de serviço,substituído pelo GOES-12). O canal deobservação desta imagem é o infravermelho,pois permite observar o planeta mesmo naausência de luz solar. A região ilustrada é oSul da América do Sul, Norte da penínsulaAntártica e o trecho de mar conhecido porestreito de Drake. Na atmosfera observamosum ciclone extratropical gigante que éclassificado como sinóptico. Note que estefenômeno meteorológico é muito maior queos furacões (ciclones tropicais) que ocorremnos E.E.U.U., por exemplo. Este, emespecial, tem cerca de 2.200 x 1.500km.

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Dia calmo, ensolarado e raro na Antártida. Normalmente a região costeira é atribuladapermanentemente devido a passagem de alta freqüência dos ciclones extratropicais. Note,nesta fotografia, que mesmo com mar espelhado e ausência de ventos, o perigometeorológico espreita. Observe a nebulosidade sobre as montanhas. Expedicionários emterra ou helicópteros que por ventura estivessem passando ali, estariam sujeitos aoWhiteout. Este fenômeno meteorológico é característico de regiões árticas e também recebea alcunha de “Escuridão Branca”. Quem estiver dentro dele perde a noção de espacialidade.Expedicionários se perdem e aeronaves colidem com o solo. Com a modernidade dosinstrumentos de navegação, o problema foi abrandado, mas não eliminado.

Outros dois exemplos de Whiteout. Na fotografia da esquerda, não é possível encontrar ofinal da geleira Domeiko, ilha Rei George, e o início da nebulosidade. A fotografia dadireita mostra o mesmo efeito, sobre a geleira Stenhouse e Ajax, abrandado pornebulosidade de teto obscurecido.

Em suma, analisando as diversas condições do tempo, pode-se dizer que aclimatologia antártica é muito dinâmica. Por um lado, na faixa do litoral e oceanoCircumpolar Antártico, agem os ciclones extratropicais e ciclones extratropicaispolares. Enquanto que na área continental imperam, em média, escoamentoscatabáticos originados do interior para o litoral. Mas tal simplicidade aparente

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esconde muitos mistérios, ainda a serem descobertos e avaliados. Estamos muitolonge de descobrir todos os mecanismos da atmosfera antártica.

Estes preceitos nos levam a pensar se as questões referentes ao “AquecimentoGlobal” são reais ou especulações, longe de chegarem ao consenso verdadeiro doque se passa em nosso planeta. Alguns fatos são tratados com a mínima relevância,como por exemplo, tomemos o cinturão de ciclones ET’s que operam na áreacosteira da Antártida. Estes, são bem mais eficientes, desproporcionalmente muitomaiores e atuam em número mais elevado que seus pares do hemisfério Norte. Esteé um fato pouco discutido e que é de suma importância quando verificamos as trocasenergéticas dos dois hemisférios. Quando o assunto é trópico X pólos, a eficiênciada “máquina térmica” do hemisfério Sul é bem melhor. Isto só poderia resultar emmaior aquecimento do hemisfério Norte, durante os longos períodos de maioratividade solar.

Dentre diversos problemas referentes ao assunto, o de maior implicância é ofato de que o IPCC não admite a presença do vapor d’água e das nuvens dentro dosistema climático, ou seja, este órgão da ONU simplesmente despreza o principalagente de efeito estufa natural do planeta, altamente suscetível às variações detemperatura global. Para o IPCC a atmosfera da Terra é SECA!

Anomalias de temperatura de 1978-2000, obtidas por sensoriamento remoto espacial. Noteque o hemisfério Norte indica leve aquecimento, contudo, o mesmo não se pode dizer dohemisfério Sul. Além disto, os erros inerentes às medidas de satélite estão na ordem de 0,5a 1,0ºC, ou seja, dentro dos valores das próprias anomalias (Fonte: CHRISTY, SPENCER,Global Temperature Report, Universidade do Alabama em Huntsville, 2003).

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Os valores de temperatura no centro do continente têm demonstrado tendência deresfriamento, e não ao contrário, como indica o IPCC (Fonte: Marek, 2003).

Algumas estações costeiras da Antártida têm demonstrado leve aquecimentoda ordem de 0,05 a 0,1ºC em 20 anos. Porém, deve-se lembrar que os anos de 1970foram os mais frios e praticamente todo o oceano Austral (abaixo de 60ºS)permanecia congelado durante os invernos. Com a crescente atividade solar até avirada do século, de 2000 até 2002, muita energia entrou no sistema e foiarmazenada nos oceanos. Estes, transferiram esta carga mais lentamente para osmares antárticos, refletindo no degelo ou menores áreas congeladas nos invernosdestes referidos anos. Contudo, a atividade solar agora entrou na sua fasedecrescente, ou seja, nos próximos 10 anos uma quantidade menor de energiaentrará no sistema, o que causará resfriamento. É muito provável que as plataformasde gelo sobre o mar voltem a adquirir extensas áreas novamente.

Julho de 2007, plenoinverno na baía doAlmirantado, ilha ReiGeorge. Há mais de 10anos que a enseada e abaía não congelavamcompletamente. O ano de2007 tem sido o mais frio,no Norte da penínsulaAntártida, desde que secomeçaram os registrosde temperatura, em 1941(Fonte: METEORO 2007).

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Mosaico produzido por imagens de diversos satélites de órbita polar. Esta é a maior provada dinâmica climatológica do hemisfério Sul. Um continente está próximo ao pólo, cercadopor oceanos livres e nenhuma barreira orográfica por todos os lados. Esta posiçãogeográfica permite a total liberdade de movimentos dos fluidos geofísicos da Terra:oceanos e atmosfera. Nesta imagem, obtida por canal infravermelho, notamos a Antártidacercada por ciclones extratropicais. Estes fenômenos formam uma barreira de proteção econvertem boa parte da energia térmica, das médias latitudes, em energia cinética (de fortesventos). A Antártida, em contrapartida, cede ar mais frio para resfriar o hemisfério Sul. Esteeficiente mecanismo de troca permite com que a Antártida não se resfrie continuamente eque as médias latitudes não se aqueçam em demasia (FONTE: WISCONSIN, 2006).

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OCEANOGRAFIA ANTÁRTIDA

O oceano Circumpolar Antártico possui uma das maiores correntes oceânicasda Terra e de longe uma das mais velozes. Em certos trechos, como o estreito deDrake (passagem entre o oceano Pacífico e Atlântico no Sul da América do Sul eNorte da península Antártica) pode alcançar velocidades da ordem de 60km por dia.Tal corrente é conhecida como Corrente Circumpolar Antártica (CCA) e caminhapróxima à linha de Convergência Antártica, aos 60ºS (o local em que se pode dar avolta toda ao redor da Antártida por mar).

A parte de estudos na área da Oceanografia Física da Antártida é vasta.Existem interações entre correntes profundas do leito dos três oceanos do planeta eas águas superficiais ao redor da Antártida. No Atlântico, por exemplo, alternam-seáguas provenientes de afundamento da costa antártica para a base do Atlântico,caminhando para o Norte e ao mesmo tempo em uma profundidade intermediária.Em contrapartida, águas do Atlântico Norte, passam entre essas duas correntes e seligam à CCA, na passagem ao Sul da África. Tais movimentos de massas d’água sãoresponsáveis por diversos processos. Cabe a Oceanografia Química, a Biológica e aGeológica desvendar um emaranhado de segredos por trás desta dinâmica dosoceanos e sua interação com a CCA. Tais conexões indicam como tudo no planetaestá interligado. Outros exemplos são os estudos de densidade e salinidade, gasesdissolvidos nos mares antárticos, migrações de cetáceos, além da interação ar-mar.

Cabo Horn, final Sul da América do Sul. Diferentemente de Magalhães, Francis Drakeavançou mais ao Sul e descobriu uma passagem muito mais larga (cerca de 1.000km) queligava o Atlântico ao Pacífico. Contudo, esta passagem (que leva o seu nome) éconstantemente atingida pelos ciclones extratropicais. Como os mares respondem aosventos, as ondas podem chegar a 12 metros ou mais. Normalmente, atingem 7 metros.

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Imagem de realce computadorizada ilustra a temperatura dos oceanos. A CorrenteCircumpolar Antártica percorre continuamente, de Oeste para Leste, a faixa próxima dalatitude dos 60ºS (na imagem, a interface entre o azul e roxo). Da mesma maneira que osciclones extratropicais fazem seu papel de troca térmica na atmosfera, as misturas demassas de água oceânica também o fazem, porém, com menor velocidade. Contudo,cumprem um papel muito mais importante. Águas frias absorvem mais dióxido de carbono(comumente chamado de gás carbônico). Este sorvedouro de gases irá iniciar uma das maisfantásticas e gigantescas cadeias alimentares. Muito dióxido de carbono dissolvido na águado mar permite gerar muito plâncton e algas. Por sua vez, aumentam-se as populações decrustáceos como o Krill, que prefere águas frias. Daí por diante, migram-se as avesaquáticas, em especial os pingüins. Focas de todos os tipos também migram para aAntártida. Finalmente, chegam os grandes cetáceos, as baleias, como a Azul, Mink e Orca.Esta última, conhecida por “assassina”, é o topo da cadeia alimentar, atacando todos osanimais inclusive, outras baleias. É importante lembrar que nenhum animal é nativo daAntártida. Todos viajam ao continente durante o verão, excetuando-se os pingüinsimperadores, que preferem o período de inverno.

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Contudo, o estudo da Oceanografia em geral na Antártida é bem maisdificultado exatamente pela ação hostil dos ciclones extratropicais que agem naregião. Torna-se muito mais difícil executar os procedimentos operacionais de coletae análise, nas embarcações expostas aos elementos. Muitos destes estudoscentram-se nas ilhas adjacentes à Antártida, por oferecerem relativo abrigo ouproximidade de alguma estação científica, como é o caso do Brasil.

Oceanografia Biológica e Geológica.Lançamento de van Veen na enseada Martel,baía do Almirantado, interior da ilha ReiGeorge. Os animais encontrados naAntártida são únicos àquele nicho. Suaadaptação às condições de baixa temperaturanão encontram pares em outras espécies doplaneta. Resistência ao frio e a altaconcentração de oxigênio nas águas sãofatores estudados pelos biólogos.

A Oceanografia Física se importa com perfisde temperatura e salinidade, dentre outros.Nesta fotografia, temos o lançamento daRoseta, espécie de suporte que recebediversos aparelhos CTD’s (que medemtemperatura, salinidade e outros parâmetros).Descobrir a estratificação das massas deágua superficial, sub-fundo e fundopermitem estabelecer os fluxos de calor,solubilidade e interação com a atmosfera.

UM GRANDE CONJUNTO NATURAL DE CONEXÕES

Um continente de máximos em todos os sentidos, a Antártida se torna únicano encanto que oferece pela poesia de sua beleza, a fascinação pela grandiosidade daprimeira descoberta que leva, ao espírito humano, a sensação da exploração de ummundo novo, longínquo, alienígena, incomum.

Contudo, deve-se alertar que todo este cenário é frágil e deve ser preservado,a todo custo, da ação predatória do homem. Os registros nos mostram que nostempos dos séculos XVIII, XIX e XX, a maior ação humana na região foi a dedestruição. De milhares a milhões de animais foram mortos pela ganância. Pode-sedizer que boa parte da economia mundial nasceu da morte de centenas de baleias,

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muitas da região antártica. Várias espécies de focas foram quase extintas para aobtenção de peles, óleo e carnes. É espantoso caminhar pelas praias da ilha ReiGeorge/25 de Mayo e ver as centenas de ossadas das baleias mortas. A mentalidadehumana precisa mudar.

A Antártida precisa ser respeitada, pois muitos dos mecanismos de interaçãoglobal passaram a ser estudados com mais atenção somente no final dos anos de1990. Muito há de se descobrir ainda. As teleconexões entre sistemasmeteorológicos, efeitos globais, interação ar-mar, ainda estão sob avaliação e novasteorias surgem. Um gigantesco mecanismo entre as diversas áreas do conhecimentomostram que todas são engrenagens importantes de uma máquina não totalmenteconhecida. Deve-se chamar a atenção principalmente no que tange às diferenças dohemisfério Sul da Terra e o papel fundamental da presença da Antártida nestecontexto. Será que a elevação da temperatura global poderá formar ciclonesextratropicais mais fortes, com ventos mais intensos? Sabe-se que a equação dobalanço do carbono global mostra um déficit. Para onde estaria indo esse carbono?Águas frias são sorvedouros de gás carbônico atmosférico. A CCA é um dosmaiores sorvedouros deste carbono. Em contrapartida, os plânctons utilizam o gáscarbônico e começam uma espetacular cadeia alimentar que termina com a migraçãodos grandes cetáceos para a CCA. São questões interessantes que ainda precisam serrespondidas e que formarão muitas outras no meio do caminho. Para isso, apela-separa que a consciência do homem tenha a visão suprema de manter intacto tãograndioso ecossistema.

Estação Antártica Comandante Ferraz

O imperador Dom Pedro II era um homem de visão. Graças a ele o Brasil semodernizou, mas principalmente se destacou entre as nações do mundo. Em setratando de Antártida, em 1882 foi realizada uma missão sub-antártica quando acorveta Parayba se lançou aos mares bravios dos arredores do estreito de Drake,mesmo sobre grande protesto da imprensa e de diversos políticos. Mais de cem anosdepois o Brasil finalmente chegou à Antártida. Poderia ter partido muito antes, poisconvites não faltaram. Diversas expedições, incluindo a de Bellingshausen,ofereceram vagas aos cientistas da época para participarem das descobertas, já quemuitas destas viagens faziam parada obrigatória nos portos do Brasil.

Contudo, antes tarde do que nunca, os brasileiros chegaram ao território parafincar nossa bandeira, pois as regras do tratado antártico diziam que só teriam direitoao território, as nações que produzissem pesquisas e instalassem estaçõespermanentes até o prazo do ano 2000.

Várias pessoas se esforçaram para concretizar esse sonho. Algumas nomundo civil, com a criação do Instituto Brasileiro de Estudos Antárticos – IBEA,

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sob protesto dos militares da época, nos anos de 1970. Contudo, muitos militaresapoiavam o instituto e defendiam sua posição de interesse na Antártida. Entre eles, ocapitão-de-mar-e-guerra, comandante Ferraz, cujo nome é atribuído a nossa estação.Em fevereiro de 1984 é inaugurada a Estação Antártica Comandante Ferraz – EACFna Ilha Rei George / 25 de Mayo, na península Keller, baía do Almirantado.Infelizmente o comandante Ferraz não pode ver a concretização de seu sonho, poismorreu 2 anos antes. De lá para cá, 25 anos se passaram e o Programa AntárticoBrasileiro – PROANTAR, executa suas missões todos os anos, sob auxílio dediversas instituições nacionais, como USP, CNPq, PETROBRÁS, Marinha do Brasil– MB e a Força Aérea Brasileira – FAB, organizadas pela Comissão Interministerialpara os Recursos do Mar – CIRM, através da sua secretaria, SECIRM.

Teoria da Defrontação. Como foi utilizada para a disputa do hemisfério Norte, os países Sulamericanosreivindicaram a sua utilização para a Antártida. A disputa ficou amainada com a assinatura do TratadoAntártico e a formação do SCAR (FONTE: CONTI, 1984).

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Vista do Módulo de Meteorologia, para Nordeste, sentido Ferraz, em seis instantesmeteorológicos diferentes. Ao fundo, enseada Martel, baía do Almirantado e geleirasStenhouse (esq.) e Ajax (dir.).

Dia raro na Antártida, calmaria de ventos,brilho solar, ausência de tempossignificativos (06/12/2001).

Céu nublado, com teto baixo (cerca de 400metros). O vento na enseada Martel deslocaos growlers (pequenos blocos de gelo)originados na base das geleiras. Há poucobrilho solar (24/12/2001).

Céu encoberto, com teto próximo dos 350metros, a mudança de tempo é rápida naAntártida e chega em menos de três horas, oque exige atenção dos meteorologistas deserviço (12/12/2001).

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Céu encoberto, nevoeiro glaciar, mesmocom vento beirando 40 Nós (74km/h). Avisibilidade fica ao redor de 3.000 metros.Ventos de quadrante Leste amontoam osgrowlers na praia de Ferraz. Isto dificulta asatividades dos botes e embarcações quetrafegam para o navio Ary Rongel(10/12/2001).

Céu encoberto, teto baixo, visibilidadehorizontal menor que 2.000 metros. Fortesventos de quadrante Sul fazem nevar. Anevasca é qualificada como Neve Soprada eprejudica todas as operações programadaspara este dia, em pleno verão (08/01/2002).

Céu encoberto, teto baixo, próximo dos 100metros. Ventos derivados de quadrante Nortee Noroeste trazem muita umidade do oceano.A chuva forte precipita por horas e prejudicaa visibilidade horizontal. O terreno vulcâniconão drena mais a água. Formam-se poças nasáreas descobertas de gelo (08/12/2001).

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Vista para Sudeste, do morrinho do Módulo VLF. Esquerda: início de dezembro, verão naestação Ferraz. Os módulos estão semi-encobertos de gelo e o lago Norte, deabastecimento, está encoberto. Direita: meados de janeiro, meio do verão, os módulos e olago estão aparentes, mesmo após forte nevasca. O local da estação brasileira levou emconta aspectos da logística militar: boa drenagem e fonte de água disponível o ano todo. Porestes fatos, a nossa estação pode permanecer operando durante todo o ano, diferentementede outras estações ou bases sazonais, que só operam durante o curto verão antártico.

Estação Antártica Comandante Ferraz – EACF: Esquerda: vista dos módulos doconjunto principal de Ferraz, com habitações, sanitários, cozinha etc. Direita: vistaaérea de todo o complexo. A estação permanece em funcionamento o ano todo.Situa-se nas coordenadas 62º05’0”S 58º23’28”W, arquipélago das Shetlands do Sul,ilha Rei George, baía do Almirantado, em frente à enseada Martel.

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Ilha Rei George / 25 de Mayo

Baía do Almirantado e enseadaMartel, ponto de fundeio do Naviode Apoio Oceanográfico –NApOc “Ary Rongel”

Baía do Almirantado

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MÍSCELÂNEA DE FOTOGRAFIAS

Esquerda: Aeronave de transporte de passageiros/carga Hercules C-130 da ForçaAérea Brasileira – FAB. Centro: Navio de Apoio Oceanográfico – NApOc “AryRongel” da Marinha do Brasil – MB. Direita: Helicóptero Avibrás Esquilo Bi-turbina UH-1B da Marinha do Brasil – MB, embarcado (2 aeronaves) no “AryRongel”.

Geleira Stenhouse, ilha Rei George. Aborda tem cerca de 150 metros dealtitude e seu domo, 600 metros.

Greta em geleira. O maior perigo para osexpedicionários em superfície. Uma gretapode ter mais de 50 metros deprofundidade facilmente.

Iceberg com praia e piscinas. Algumascolônias de pingüins habitam estas ilhasde gelo flutuante.

Iceberg à deriva entre a ilha Rei George ea ilha Elephant. Verificamos sua alturade mais de 150 metros ao aproximarmos.

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Foca Leopardo (perigosa). Bebês de Elefantes marinhos.

Foca de Weddell jovem (mansa). Focas Caranguejeiras (arredias).

Pingüim Rei (raro na pen. Antártica) Pingüins Antárticos.

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Pingüim Papua Casal de Skuas, aves rapineiras.

Baleia Jubarte emerge. Aranhas do Mar.

Estrela Sol. Campo de Musgos.

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Diferenças Marcantes entre os Pólos

Antártida O Ártico

• Continente (Mega-arquipélago);• Circunavegável;• Eficiência termodinâmica: ciclones ET

atuam em condições excelentes;• Calota de gelo: > 4.000 metros;• Altitude média: 2.200 metros.

• Mar congelado (adicionado, sazonalmente, àgrandes ilhas);

• Não permite circunavegação;• Eficiência termodinâmica: ciclones ET

atuam nas pequenas áreas de oceano livre;• Calota de gelo: ~10 metros;• Altitude média: ~5 metros.

Temperaturas Médias:Inverno: – 76,0ºF ou – 60,0ºCVerão: – 18,0ºF ou – 28,2ºC

Temperaturas Médias:Inverno: – 40,0ºF ou – 40,0ºCVerão: 32,0ºF ou 0,0ºC

Icebergs Tabulares gigantes Icebergs Piramidais pequenos

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III Ano Polar – 2007/2008/2009

No período de 1882-1883 aconteceu o I Ano Polar (I IPY) que realizoudiversas pesquisas em ambos os pólos do planeta, lembrando que os pólosgeográficos ainda não haviam sido conquistados. Depois de 60 anos, a comissãocientífica internacional abriu o II Ano Polar (II IPY) realizado em 1932-1933, umavez que já se passaram quase 30 anos da conquista dos pólos. Finalmente, em 1957até 1959 aconteceu o Ano Geofísico Internacional (IGY) que realizou diversasatividades de pesquisa na Antártida, como a conquista dos pólos geográfico,magnético, inacessibilidade relativa e frio. Em comemoração aos 125 anos do I IPYe 50 anos do IGY, em 2007, iniciou-se o III Ano Polar (III IPY) que visará realizardiversas pesquisas em ambos os pólos até março de 2009. As principais metas serãoa conquista definitiva do pólo da inacessibilidade, missão esta sob responsabilidadeda China e o aprofundamento das pesquisas sobre “aquecimento global”. Contudo,pela contaminação inerente aos propósitos que o IPCC deseja obter destas pesquisas,chamamos a atenção para os resultados que estão por vir. Acreditamos que um olharmuito crítico deva ser lançado aos mesmos, nos próximos anos.

Antártida O Ártico

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Ano Geofísico Internacional e as Expedições Antárticas

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REFERÊNCIAS

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Ricardo Augusto [email protected]