Rima menor
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Equipe Técnica
Coordenação Geral Ivan Dornelas, MSc.
Engº. Cartógrafo
Coordenação TécnicaMaria do Carmo Martins Sobral, Drª
Engª Civil
Apoio a Coordenação TécnicaRita de Cássia Barreto Figueiredo
Engª Química
Gustavo Lira de Melo
Biólogo
Alessandra Maciel de Lima Barros
Engª Civil
Análise do ProjetoAna Paula Batista Lemos Ferreira
Engª. Civil
Supervisão Geral E. AmbientaisWbaneide Martins de Andrade, MSc.
Bióloga/Botânica
Supervisão Meio FísicoSimone Karine Silva da Paixão
Engª Civil
Supervisão Meio BióticoMaristela Casé Costa Cunha, Drª
Bióloga
Supervisão do Meio SocioeconômicoLúcia de Fátima Soares Escorel
Arquiteta e Urbanista
Análise JurídicaTalden Queiroz Farias, MSc.
Advogado
Meio FísicoAna Mônica Correia, MSc.
Geógrafa
Adauto Gomes Barbosa
Geógrafo
Antônio Vicente Ferreira Júnior
Geógrafo
Bruno Ferreira
Geógrafo
Doris Regina Alves Veleda
Meteorologista
Fabíola de Souza Gomes
Engª Civil
Glauber Matias de Souza
Geólogo
Márcia Cristina de Souza Matos Carneiro
Engª Cartógrafa
Maria das Neves Gregório
Geógrafa
Maria das Vitórias do Nascimento, Msc
Engª Civil
Romilson Ferreira da Silva
Meteorologista
Simone Karine Silva da Paixão, Especª.
Engª Civil
Wanderson Dos Santos Sousa
Meteorologista
Weronica Meira de Souza
Meteorologista
Meio BióticoAlfredo Matos Moura Júnior, Dr.
Biólogo/Botânico
Cristiane Maria V. A. de Castro, Drª.
Bióloga/Oceanógrafa
Geraldo Jorge Barbosa de Moura, Dr.
Biólogo/Zoólogo
Hélida Karla Philippini da Silva
Química
Karine Matos Magalhães, Drª.
Bióloga/ Botânica
Marcondes Albuquerque de Oliveira, Drº
Biólogo
Maristela Casé Costa Cunha, Drª
Bióloga/Oceanógrafa
Mauro Melo Júnior
Biólogo
Paula Braga Gomes
Bióloga
Paulo Guilherme Vasconcelos de Oliveira
Engº de Pesca
Petrônio Alves Coelho Filho
Biólogo
Meio SócioeconômicoBeatriz Mesquita Jardim Pedrosa
Engª de Pesca
Carlos Celestino Rios e Souza
Arqueólogo
George F. C. de Souza
Historiador
José Geraldo Pimentel Neto
Geógrafo
Lúcia de Fátima Soares Escorel
Arquiteta e Urbanista
Lúcia Maria Goés Moutinho
Economista
Luís Henrique Romani Campos
Economista
Marcos Antônio G. Matos de Albuquerque
Arqueólogo
Maria Eleônora da Gama Guerra Curado
Arqueóloga
Osmil Torres Galindo Filho
Economista
Paulo Alves Silva Filho, Msc.
Geógrafo
Veleda Christina Lucena de Albuquerque
Arqueóloga
GeoinformaçãoDaniel Quintino Silva
Tecnólogo em Geoprocessamento
Diego Quintino Silva
Tecnólogo em Geoprocessamento
CartografiaAna Carolina Schuler, MSc.
Engª. Cartógrafa
Ana Mônica Correia, MSc
Geógrafa
Aramis Leite de Lima, MsC.
Engº. Cartógrafo
Daniel Quintino Silva
Tecnólogo em Geoprocessamento
Diego Quintino Silva
Tecnólogo em Geoprocessamento
Felipe José Alves de Albuquerque
Geógrafo
Flávio Porfírio Alves, MsC.
Engº. Cartógrafo
Apoio TécnicoAnthony Epifânio Alves
Biólogo/Macroinvertebrados bentônicos
Cacilda Michele Cardoso Rocha
Biólogo/Avifauna
Elizardo Batista F. Lisboa
Biólogo/Herpetologia
Ericarlos Neiva Lima
Engº. de Pesca/Ictiologia
Jana Ribeiro de Santana
Engª. de Pesca/Ictiologia
Josinaldo Alves da Silva
Biólogo/Botânica
Milena Duarte de Oliveira Souza
Arqueóloga
Tatiana de Oliveira Calado
Bióloga
Apoio AdministrativoEva Luzia Nesso
Analista de Sistemas
Marlúcia Alves Rodrigues
Pedagoga
Solange C. da Costa e Silva
Advogada
Viviane Cabral Gomes
Administradora
Simone Rosa de Oliveira, MSc.
Bibliotecária
Mobilização e Articulação SocialCândida Maria Jucá Gonçalves
Assistente Social
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ESTADO DE PERNAMBUCOGovernador
Eduardo Henrique Accioly Campos
Vice-GovernadorJoão Soares Lyra Neto
Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASSérgio Xavier
Secretário Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASHélvio Polito Lopes Filho
Superintendência Técnica de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASLeslie Tavares
Gerente Geral de Planejamento e Gestão de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASBenedito Parente
Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP-OS)
Diretor PresidenteFrederico Cavalcanti Montenegro
Diretor TécnicoIvan Dornelas Falcone de Melo
Diretora Administrativa FinanceiraFabiana Albuquerque de Freitas
Superintendente de Inovação TecnológicaMárcia Maria Pereira Lira
Coordenador da UGP BarragensIvan Dornelas Falcone de Melo
7
Apresentação
“Uma das experiências mais recifenses que o adventício pode ter no
Recife: um mar de água morna, um sol que em pouco tempo amorena
o corpo do europeu ou do brasileiro do Sul”
Gilberto Freyre,
Guia prático, histórico e sentimental da Cidade do Recife
O Recife e a sua Região Metropolitana nasceram a partir do mar.
A cidade costeira e mercantil é também portuária e turística. A sua
urbanização é forte na região costeira, a ocupação é disputada, densa,
vertical. O metro quadrado próximo à praia tem valorização constan-
te. A infraestrutura pública da orla é boa. As praias do Grande Recife
representam a mais democrática opção de lazer do pernambucano e
também o mais atraente cartão postal do Estado.
Essa história, semelhante à de outras capitais no litoral brasileiro, pos-
sui problemas específicos. A erosão costeira está entre os problemas
mais persistentes. Contra seus efeitos, algumas alternativas foram co-
locadas em prática, como os muros de proteção, diques, quebra-mares,
espigões, molhes e outras construções com a finalidade de manter o
recorte do litoral. A erosão continua e ignora a ação do homem.
Os estudos ambientais presentes neste relatório representam uma
resposta do Governo de Pernambuco, manifestada pela Secretaria de
Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), ao contratar a Associação
Instituto de Tecnologia de Pernambuco – ITEP/OS. A missão dada foi a
de acompanhar e coordenar os estudos ambientais do Projeto de Recu-
peração da Orla Marítima dos Municípios de Jaboatão dos Guararapes,
do Recife, de Olinda e do Paulista.
É um projeto estruturador, uma iniciativa do Governo do Estado. Faz
parte da política pública de controle dos efeitos causados pelas mu-
danças climáticas. Recuperar a praia e sua areia tem repercussão
direta no desenvolvimento socioeconômico e ambiental de importantes
municípios litorâneos. Representa a criação de novas oportunidades
em um espaço democrático e público.
O presente Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apresenta uma
síntese dos estudos desenvolvidos para obtenção de licenciamento
junto à Agência Ambiental de Pernambuco (CPRH). O RIMA relaciona
os principais resultados dos estudos realizados para os meios físico,
para os seres vivos e o ambiente socioeconômico, no que se refere
ao diagnóstico ambiental atual, os prováveis impactos e as formas de
mitigação e controle que poderão ser implantadas. O relatório contém
dados sobre o empreendimento e sobre os responsáveis envolvidos no
projeto de recuperação da orla e nos estudos ambientais.
159 INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO Relatório de impacto ambiental-RIMA:
Recuperação da Orla Marítima – Municípios
de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e
Paulista (Pernambuco)/ Instituto de Tecnologia
de Pernambuco. –Recife, 2012.
98p.: il.
ISBN:
Sumário
POR QUE ESSA OBRA? 14
A ÁREA DO EMPREENDIMENTO 18
QUAL A ÁREA DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO? 42
COMO É O MEIO FÍSICO NA ÁREA DO EMPREENDIMENTO? 46
COMO SE APRESENTA O MEIO BIÓTICO NA ÁREA
DOEMPREENDIMENTO? 76
QUAIS OS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DA ÁREA DO
EMPREENDIMENTO? 100
QUAIS SÃO OS IMPACTOS DO EMPREENDIMENTO? 110
EMPREENDEDOR
Secretaria de Meio Ambiente
e Sustentabilidade – SEMAS
Responsável: Sérgio Luís de Carvalho Xavier
CNPJ: 13.471.612/000-04
Avenida Marquês de Olinda, 222
Bairro do Recife, Recife - PE, CEP - 50030– 000
Telefone: (081) 31835506 / 31835513
http://www2.semas.pe.gov.br/web/sectma
O RESPONSÁVEL PELOS ESTUDOS AMBIENTAIS
Associação Instituto de Tecnologia
de Pernambuco – ITEP OS
Responsável: Frederico Cavalcanti Montenegro
CNPJ : 05.774.391/0001-15
Av. Professor Luiz Freire, 700
Cidade Universitária – Recife/PE
Telefone: (81) 3183-4399
http://www.itep.br
14
Pernambuco vive um momento de grande crescimento econômico. O
desenvolvimento é maior na região costeira, com a valorização urbana e
atração de novos empreendimentos residenciais turísticos, concentração
de empresariais, projetos comerciais e industriais. O litoral possui a maior
densidade demográfica do Estado, uma das maiores do Nordeste. A pre-
sença humana gera problemas ambientais e desequilíbrio.
A erosão costeira é uma reação da natureza à urbanização. Os processos
erosivos são evidentes ao longo da costa e variam apenas na intensidade.
Pedras com função de quebra-mar, diques, espigões, muros de proteção
e outras tentativas para conter a erosão foram construídas em busca da
solução de um problema local. Essas ações passaram a induzir a erosão
em áreas próximas e o problema atingiu regiões vizinhas.
O litoral de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista
foi atingida pela erosão marinha ou mesmo em consequência das estrutu-
ras de contenção instaladas. A erosão destruiu parte do potencial da orla
para o turismo e o lazer. Os dois setores representam a base de empre-
gos, geração de renda e riqueza de parte da população do Estado: afeta o
vendedor de picolé e a indústria alimentícia, o movimento do quiosque na
beira-mar e a ocupação do hotel de luxo, atinge o orçamento do motorista
de táxi e da agência de turismo.
A irregular faixa de areia das praias desses quatro municípios evidencia
a necessidade da implantação de projetos de engenharia, integrados de
forma regional. A partir de uma solução técnica que permita corrigir os
impactos ambientais, que atenda à legislação e às exigências dos órgãos
ambientais e que leve em consideração as fragilidades ambientais de cada
um dos setores, além das características de cada um dos municípios.
Com esse panorama, as prefeituras decretaram situação de emergência
Por que essa obra?1
15
Localização da área de estudo. Municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista. Região Metropolitana de Recife (RMR).
Fonte: Coastal Planning & Engineering do Brasil
em algumas áreas da orla. Essa decisão levou o governo de Pernambuco a realizar medidas para
reduzir esses impactos, com uma visão mais ampla do litoral e dos municípios envolvidos.
Esse projeto está limitado ao sul pela foz do rio Jaboatão e ao norte pela foz do rio Timbó, compre-
endendo os municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista. São os
trechos definidos como Pontos Críticos de Erosão (MAI, 2009). A recuperação da orla marítima e
recomposição da areia das praias vão criar melhores condições para o desenvolvimento socioeco-
nômico e ambiental. Representam novas oportunidades, melhores condições e praias com quali-
dade.
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Características dos municípios – situação atual das praias
EXTENSÃO DE ORLA PRAIAS FORMAÇÃO DE PRAIAS TIPOS DE OBRAS
JABOATÃO DOS GUARARAPES
7.961 m Piedade, Candeias, 58,9% Sedimentos Enrocamentos, Espigões,
Barra de Jangada 41,1% Obras Rígidas Muros
RECIFE
13.444 m Boa Viagem, Pina 44,6% Sedimentos Arrecifes
Brasília Teimosa 55,4% Obras Rígidas Enrocamentos
OLINDA
12.261 m Praia dos Milagres 34,4% Sedimentos Enrocamentos
Praia do Carmo 65,6% Obras Rígidas Espigões
São Francisco, Farol Muros
Bairro Novo , Casa Caiada
Rio Doce
PAULISTA
14.468 m Praia de Enseadinha 66,5% Sedimentos Enrocamentos
Janga, Pau Amarelo 33,5% Obras Rígidas Espigões
Nossa Senhora do Ó Muros
Conceição, Maria Farinha
17
18
2
A urbanização da zona costeira pernambucana com diferentes objetivos
e componentes culturais começa com a criação das primeiras vilas e
cidades. As primeiras ocupações eram de grupos com interesse na pesca
– praias e bordas das lagunas (AB’SABER, 1990).
É esse o contexto do espaço urbano no litoral em Jaboatão dos Guarara-
pes, no Recife, em Olinda e no Paulista resultante de relações sociais que
se manifestam desde o período colonial, reflexo na urbanização presente
nas cidades brasileiras.
A pesquisa de Carneiro (2003) constatou que, em um período de trinta
anos, considerando a série dos censos demográficos de 1970 até 2000, o
aumento da população é multiplicado por seis. Esse dado, até mesmo de
forma isolada, comprova o impacto ambiental.
A pesquisa de Carneiro (2003) comprova os momentos de transformação
estrutural na orla olindense. Foram mudanças sociais, políticas e econômi-
cas, que refletiram no adensamento urbano desse espaço do litoral.
Em outro estudo realizado em maio de 2003, Araújo et al. (2004) registra
uma caminhada nas praias do litoral pernambucano, nas duas horas antes
e nas duas horas depois da maré baixa. O estudo fez a identificação do
ponto, com demarcação georreferenciada (GPS GARMIM) relacionada à
ocupação urbana. A pesquisa também observa a presença, ou não, de
edificações próximas à praia.
A metodologia foi objetiva. Adotou trechos de praia e classificou em três
graus de ocupação: ausência de ocupação da pós-praia; ocupação da
pós-praia; e ocupação concomitante da pós-praia e da praia (estirâncio).
A área do empreendimento
19
Setores Extensão (km) % do litoral Ausência de ocupação Ocupação na pós-praia (%) Ocupação associada da
na pós-praia (%) pós-praia e da praia (%)
Norte 58 31 79.1 5.6 5.3
Metropolitano 42 22.5 49.0 4.0 47
Sul 87 46.5 78.7 9.7 11.6
Total 187 100 72.1 7.13 20.63
O resultado do estudo de Araújo et al. (2004) demonstrou que o setor metropolitano é o mais for-
temente ocupado, seguido pelos setores Norte e Sul pernambucanos respectivamente, conforme a
tabela abaixo.
Setores do litoral pernambucano X extensão (km) e percentual do litoral X percentual de ocupação por edificações e/ou obras de contenção
Compartimentação geomorfológica do ambiente praial
Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)
Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)
O setor metropolitano, de acordo com a pesquisa de Araújo et al. (2004), representa 22,5% do li-
toral pernambucano. Associado a esse indicador, metade do ambiente praial encontra-se ocupado.
Essa ocupação ganhou nova dinâmica na década de 1970. As casas de veraneio se transformaram
em residências. Em seguida, começa a substituição das casas por edifícios residenciais e hotéis.
Cinquenta por cento das praias da região metropolitana apresentam áreas construídas que se es-
tendem até o estirâncio. O elevado percentual de ocupação da praia, principalmente por
maior impacto é facilmente verificado nessas
praias. São as obras de engenharia que alteram
ou retêm a deriva de sedimentos arenosos,
fundamentais para a alimentação da areia das
praias.
A urbanização no litoral dos quatro municípios
ocorreu sobre as dunas frontais, de forma de-
sordenada. A inadequação provoca e intensifi-
ca a erosão costeira. Em seguida, a construção
de estruturas para mitigar os efeitos da erosão
agrava o problema. As obras de contenção
têm sido construídas com o intuito de proteger
propriedades ameaçadas. Essas estruturas (em
especial os enrocamentos e muros de conten-
ção) são levantadas em frente da escarpa das
dunas e se têm mostrado economicamente
inviáveis. Proprietários ou mesmo o poder
público gastaram recursos a tentar solucionar
os problemas da erosão costeira que afetam as
obras construídas em locais indevidos. A cons-
trução dessas obras na pós-praia e na praia
altera a dinâmica sedimentar, compromete a
estética do local, interfere na visão cênica e no
seu valor econômico.
Essa zona costeira precisa de ações corretivas
e preventivas (como o estabelecimento de
limites para construção) para promover uma
ocupação mais adequada da orla. A ordenação
desse espaço é uma prioridade e um desafio.
residências ou obras de contenção, ocorre
porque o setor possui as maiores aglomerações
urbanas do estado, em especial o Recife, Jabo-
atão dos Guararapes e Olinda. Os trechos mais
críticos corresponderam às praias em Jaboatão
e em Olinda. Elas possuem diversas obras de
contenção, como exemplo, os 38 diques com
intervalos de 50m de Olinda e, em Jaboatão
dos Guararapes, enrocamentos e outras cate-
gorias de intervenção.
Olinda apresentou a pior situação em termos
de ocupação do ambiente na praia. O litoral
é praticamente todo ocupado por grandes
obras públicas de contenção. As poucas praias
existentes ocorreram com a engorda de praia
artificial (PEREIRA et al., 2003).
A ocupação observada próxima ao litoral em
Jaboatão dos Guararapes, no Recife, em Olinda
e no Paulista é semelhante a de outras cidades
no mundo. A urbanização não deixou espaço
para a praia, gerando prejuízos de toda ordem.
O principal são as construções que impedem o
suprimento de areia.
A infraestrutura urbana representada por ruas,
calçadas, residências em área sob a ação do
mar são as intervenções mais comuns. Confor-
me estudos como o de Carneiro (2003), Araújo
et al. (2004), Manso (2004) e MAI (2009), o
21
Histórico da ocupação da costa de Olinda: primeiras décadas do século XX e depois de 1960 e 2010
Fonte: SEMAS, 2011.
Histórico da ocupação da costa em Jaboatão dos Guararapes
Fonte: SEMAS, 2011.
22
Histórico da ocupação da costa do Paulista e variação da linha de costa da praia do Janga.
Fonte: Patrícia de Oliveira, Hewerton da Silva, Neiva de Santana, Elisabeth Silva, Valdir Manso.
Histórico das obras e intervenção de contenção do avanço do mar Os primeiros registros de erosão costeira no
estado de Pernambuco são de 1914 (COUTI-
NHO, 1997). Eles tratam dos danos causados
pelo molhe localizado no istmo de Olinda. O
molhe em construção, na primeira década do
século XX, fazia parte das obras de ampliação
do Porto de Recife. As figuras abaixo mostram
o avanço do mar na praia dos Milagres. A praia
perdeu 80 metros no período 1914 a 1950.
Desde esta época, os problemas de erosão vêm
sendo registrados em vários trechos do litoral,
em especial em áreas urbanas onde foram
implantadas obras costeiras de proteção (COU-
TINHO, 1997).
23
Fotografia da praia dos Milagres, em 1950, onde ocorreu um avanço de 80 metros da linha de costa
Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950
Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950
24
Fonte: Coutinho (1997)
Fonte: Coutinho (1997)
Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e praia dos Milagres (1960)
25
Nos últimos vinte anos, diversas foram as obras
de contenção construídas nas praias dos qua-
tro municípios. Em Jaboatão dos Guararapes,
instalaram-se estruturas do tipo guia corrente,
espigões, enrocamentos aderentes e muros,
desde a margem esquerda do rio Jaboatão até
as praias de Piedade e Candeias. Nas figuras
a seguir, é mostrada as modificações morfo-
lógicas provocadas por essas intervenções na
foz do rio Jaboatão, inclusive com significativa
redução de área na extremidade do pontal
do Paiva (Ilha do Amor, ao longo da margem
direita do rio). Os efeitos da erosão também
são visíveis com as perdas de área de praia em
Candeias e Piedade (MAI, 2009).
Foz do rio Jaboatão em 1989 (a) e (b) detalhe da área com obras costeiras do tipo molhes e espigões ao longo da margem esquerda do rio em 2004
Fonte: a - Laborel (1963); b - Google Earth e fotografias CPRH (2006)
26
Trecho das praias de Candeias e Piedade em 1963 (a) e em 2004 (b)
Fotografia aérea de 1974 da praia de Boa viagem, com o ambiente praial preservado e a presença de dunas frontais e vegetação
No Recife, foram colocados pedras-rachão
e sacos de areia em resposta a erosão que
destruiu parte do calçadão a praia de Boa Via-
gem, em 1994. No ano seguinte, novo estudo
concluiu que a obra mais adequada à proteção
do calçadão seria o revestimento de blocos
Fonte: MAI (2009)
naturais, presentes até hoje. Na figura a seguir,
vê-se a fotografia aérea de 1974, que retrata o
litoral da Praia de Boa Viagem, com a presen-
ça de dunas frontais preservadas e vegetação
(MAI, 2009).
27
A seguir, percebe-se a alteração que essa região sofreu com o processo de urbanização nos últi-
mos 36 anos. As fotografias em detalhe (a e b) mostram a descaracterização da praia em um
Fonte: a - Fidem; b - Google Earth; fotografias de Tereza Araújo, 2004
Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e praia dos Milagres (1960)
As primeiras obras de contenção do mar em
Olinda ocorreram em 1950. As modificações
para a ampliação do Porto do Recife (1909-
1917) e da Base Naval do Recife são aponta-
das como uma das causas da erosão.
Ela provocou diversos danos às construções si-
tuadas entre as praias dos Milagres e do Farol.
Uma mudança notável foi a realocação do farol
de Olinda, que funcionava à beira-mar.
Fotografia de sobrevoo mostra a praia do Farol, Olinda
Nota: No detalhe, antiga posição do farol de Olinda, 1940. A seta em amarelo mostra a posição atual do farol, construído no alto do morro do Serapião.
Fonte: CPRH; fotografia de Alexandre Berzin, acervo da Fundação Joaquim Nabuco
28
A ampliação do Porto do Recife e, em seguida,
a construção das obras de contenção em Olin-
da interferiram no balanço sedimentar costeiro
nessa orla, provocando a erosão costeira em
Paulista. Como forma de contenção da erosão,
criou-se um sistema de quebra-mares asso-
ciados a espigões, que posteriormente tiveram
de ser ampliados. Na figura abaixo, de 1974,
podem-se perceber recifes naturais submer-
sos, que serviram de suporte para o sistema
de quebra-mares. As modificações podem ser
visualizadas na figura a seguir. Há formação de
saliências e reentrâncias na zona de sombra
dos quebra-mares (MAI, 2009).
Fotografia da zona costeira do município de Paulista em 1974 (a) e em 2004 (b) depois da implantação do sistema de quebra-mares
29
Em resposta à erosão, as prefeituras dos mu-
nicípios decidiram por fixar a linha de costa.
Obras de contenção foram executadas ao longo
do litoral, em geral de forma pontual e sem
maior conhecimento da dinâmica costeira. A
praia foi profundamente modificada e a beleza
cênica desvalorizada.
Essas intervenções representaram altos custos
sem resultados satisfatórios. A erosão era trans-
ferida para praias ao lado.
Recuperação da orla marítima e seus resultados na contenção dos processos erosivos Em todo mundo, as zonas costeiras convivem
com problemas. Os mais comuns estão ligados
ao recuo (erosão) ou avanço da linha de costa.
Normalmente, relacionados com a retirada ou
deposição de sedimentos. Os problemas estão
mais associados à erosão, pelo risco de danos
materiais. A erosão é de difícil controle.
De acordo com o estudo do MAI (2009),
podem ser citadas entre as causas de erosão
costeira: (a) ação dos agentes naturais que
atuam ao longo da costa e (b) ações do homem
ligadas à implantação de estruturas artificiais,
seja para criar áreas (equipamentos de lazer e
turismo, portos entre outras), seja para a tenta-
tiva de correção de problemas.
Como exemplos dos problemas causados pela
interferência de estruturas artificiais, podem ser
citados:
• Alteração do transporte litorâneo – inter-
rupção ou modificação da movimentação
de sedimentos ao longo da costa, sob
a ação das ondas e correntes. Como a
construção de um espigão perpendicular à
praia e molhes de proteção portuária, entre
outras.
• Alterações nos padrões das correntes
litorâneas. Por exemplo, a construção de
obras na pós-praia, na zona de arrebenta-
ção, causando alteração das correntes.
• Remoção de sedimentos por dragagem.
• Lançamento do produto de dragagem de
canais e de portos.
• Modificação das características das on-
das por efeito de refração e/ou difração
em estruturas. Interrupção do aporte de
sedimentos por obras nos rios (barragens,
fixação de margens e leito). (MAI, 2009, v.
2, p. 127).
30
Podemos citar como exemplos de alterações da
linha de costa por meio de causas naturais:
• Alterações climáticas (efeito estufa, natu-
rais), gerando modificações no regime de
ventos, como agente diretamente transpor-
tador de sedimentos (transporte eólico) ou
indiretamente, como gerador de ondas e
responsável, juntamente com as correntes
e ondas, pela dinâmica dos sedimentos.
• Ondas e correntes, como principais agen-
tes de transporte na zona imersa.
• Variação do nível de água, marés astronô-
micas, ressacas (marés de tempestades),
alterações do nível médio do mar.
• Alterações naturais no aporte sedimentar
dos rios.
• Chuvas intensas. (MAI, 2009, v. 2, p.
127).
As ondas geradas por ventos são as principais
agentes de alteração da linha de costa, aliadas
às variações do nível de água (maré, ressacas),
combinados com a falta ou o excesso de aporte
de sedimentos.
A implantação de obras de proteção costeiras
depende do tipo, do tamanho e da localização
das necessidades; da eficiência do método
utilizado; dos efeitos sobre as praias adjacentes
e do impacto econômico resultante da obra
costeira.
Busca-se eleger o tipo de proteção a ser
definido, como muro de proteção, espigão e
alimentação artificial, procurando suprir as
necessidades de acordo com a disponibilidade
econômica local. Aliado a essa premissa, é
necessária a realização de estudos ambientais,
como o monitoramento dos diferentes parâme-
tros envolvidos no fenômeno, como a dinâmica
das ondas, dos ventos, dos níveis de água, as
alterações na movimentação e no abasteci-
mento dos sedimentos, e as variações do perfil
topobatimétrico de praia, como condicionan-
tes para um adequado manejo costeiro (MAI,
2009).
31
Principais métodos usados na proteção costeiraOs principais métodos utilizados na prote-
ção costeira buscam, no primeiro momento,
prevenir ou eliminar os efeitos. É denominado
método direto. O outro método procura a cor-
reção do problema por meio de eliminação das
causas (MAI, 2009).
De acordo com MAI (2009), são exemplos de
medidas indiretas:
• Retomada dos aportes sólidos retidos em
barragens, ao sistema costeiro.
• Correção do transporte litorâneo por meio
de modificações definidas, adequadamen-
te, através de um estudo de monitora-
mento – no projeto de espigões, molhes,
quebra-mares, muros novos ou existentes,
entre outros (MAI, 2009, v. 2, p 128)
Vale acrescentar os exemplos de medidas
diretas:
Alimentação artificial – utilizada na reposição
de material de áreas erodidas. Este método pa-
rece, à primeira vista, economicamente dispen-
dioso, além da necessidade de monitoramento
e manutenção. Seu uso, no entanto, pode ser
vantajoso, por manter o aspecto de praia natu-
ral, agradável ao lazer e à contemplação.
• Grupos de espigões – reduzem o transpor-
te longitudinal e, consequentemente, o
recuo da linha de costa. Algumas vezes,
podem forçar a deposição de sedimentos e
a reconstituição da área erodida. Podem,
entretanto, estar na origem (devido à redu-
ção do transporte sedimentar) da erosão de
praias a sotamar. Exigem monitoramento e
manutenção periódicos.
• Quebra-mar destacado – construído em pa-
ralelo à certa distância da linha de costa.
Protege a praia, alterando a capacidade
de transporte litorâneo, pela interceptação
das ondas, total ou parcialmente (quebra-
mares com interrupções ou submersos).
Podem originar a formação de tômbolos
(acréscimos na faixa de areia). Algumas
dessas estruturas têm efeitos a sotamar,
comparáveis aos dos espigões. Podem ser
isolados ou em grupos. Exigem monitora-
mento e manutenção periódicos.
• Quebra-mar em T – quebra-mar ligado
à praia através de espigão. Tem efeito
comparável ao anterior, com maior impacto
sobre o transporte longitudinal de sedi-
mentos, devido à existência do espigão.
Podem ser isolados ou em grupos. Exigem
monitoramento e manutenção periódicos.
32
• Muros longitudinais – podem ser verticais
ou com perfil adaptado (construídos em
concreto, gabiões, entre outros), cons-
truídos próximos à linha de costa, com
a finalidade de fixá-la. Neste método, a
erosão no perfil de praia se restringe à
erosão do fundo imediatamente à frente do
muro, podendo ainda causar problemas de
instabilidade da estrutura, redução da pós-
praia e, finalmente, acarretar seu completo
desaparecimento. São mais agressivos ao
perfil praial, devido a um maior poder de
reflexão. Exigem monitoramento e manu-
tenção periódicos.
• Enrocamento aderente – tem finalidade e
efeito semelhante ao muro, com a vanta-
gem de apresentar menor coeficiente de
reflexão, reduzindo o efeito da erosão do
fundo. Exigem monitoramento e manuten-
ção periódicos. (MAI, 2009, v. 2, p. 129).
No entanto, toda intervenção de proteção cos-
teira, seja estrutural ou não, demanda cons-
tante monitoramento e manutenção, de acordo
com o tipo. O monitoramento permite detectar
as alterações ocorridas durante a vida útil
das intervenções e orienta com relação à boa
manutenção. A descrição e avaliação das obras
costeiras no Jaboatão dos Guararapes, no Reci-
fe, em Olinda e em Paulista estão relatadas no
diagnóstico do meio físico, Seção 8.8.
33
Resultados das obras costeiras na contenção dos processos erosivosDois fatores são condicionantes na análise da
eficiência das intervenções em um dado trecho
de praia. São eles: (i) o tipo de obra adotado e
(ii) a qualidade dos dados hidrossedimentológi-
cos existentes.
As praias em Jaboatão dos Guararapes, do
Recife, de Olinda e do Paulista possuem uma
dinâmica diferenciada, que depende dos
fatores físicos costeiros locais. Até então, esses
agentes ambientais e a localização das obras
favoreceram a erosão costeira, que se agrava
com a ocupação inadequada da orla, como
ilustra a Figura 3.2-9 (MAI, 2009, v. 2).
Com o plano de reduzir os problemas, foram
implantadas diferentes tipos de obras nas
praias dos quatro municípios para proteção de
propriedades privadas e infraestrutura públi-
ca. Muitas dessas estruturas se apresentam
ineficientes quanto à proteção pretendida.
(MAI,2009,v2).
As obras do tipo enrocamento aderente, pre-
sente no litoral dos quatro municípios, foram
construídas como soluções emergenciais.
Elas têm por objetivo a proteção do terreno (e
não da praia) aos danos produzidos pela ação
das ondas, particularmente sob condições das
ondas de tempestade.
Estrutura 004 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, ocupando totalmente a faixa de praia
Fonte: MAI (2009, v. 2, p. 134)
34
Essa intervenção é efetiva na proteção do
terreno contra a erosão, na proteção da parte
mais elevada da praia. No entanto, as estru-
turas que não protegem a orla dos efeitos das
inundações, nem da erosão dos sedimentos da
porção mais baixa do perfil praial, nem contra a
redução da intensidade das tempestades. Essa
intervenção pode contribuir para o rebaixamen-
to dos depósitos de areia do perfil praial, com
alteração significativa da paisagem.
Outra técnica presente no litoral em análise
são os espigões. Esse tipo de obra é construída
para ampliar na zona a barlamar a largura da
pós-praia ou para reduzir as taxas de deriva
litorânea. “A implantação dessas estruturas,
dependendo do seu número e tamanho, pode
causar significativa retenção de sedimentos
e, consequentemente, um déficit no balanço
de areia, com redução no suprimento para as
praias a jusante.” (MAI, 2009, v. 2, p. 144).
Os quebra-mares são usados principalmen-
te para reduzir a intensidade de energia das
ondas durante os ventos de tempestade. Esse
tipo de estrutura possibilita o desenvolvimento
de uma ampla e estável praia na sua área de
sombra. Os efeitos adversos estão relaciona-
dos com a redução da deriva litorânea para as
praias que se encontram à jusante do quebra-
mar.
Outro efeito hidrodinâmico do quebra-mar é o
desenvolvimento de tômbolos de areia, peque-
nas barras de areia que resultam na deforma-
ção da linha de costa. Se essas estruturas fo-
rem construídas próximas da praia ou se forem
muito extensas em relação ao comprimento das
ondas incidentes, ou ainda muito impermeá-
veis, podem desenvolver uma saliência, que
passa a funcionar como um espigão, a barrar a
deriva litorânea e causando efeitos erosivos nas
praias à jusante. Nessas condições, a deriva
litorânea é forçada a se desenvolver no lado
externo do quebra-mar, desviando a deriva
litorânea do sistema praial (MAI, 2009, v. 2).
Segundo estudos desenvolvidos pelo MAI
(2009), as obras costeiras, ao longo da orla dos
municípios de Jaboatão dos Guararapes, do
Recife, de Olinda e do Paulista, somam uma
extensão de 20.090m de estruturas cons-
truídas, das quais 4.390m encontram-se em
Jaboatão dos Guararapes; 3.440m no Recife;
7.610m em Olinda e 4.650m no Paulista.
Em Jaboatão dos Guararapes, de acordo com
MAI (2009), as estruturas são as seguintes:
• 3.260m de enrocamentos e muros (74%);
• 30m de espigões e molhes (12%);
• 600m de quebra-mar (14%).
Com esta distribuição de estruturas, pode-se
concluir que nas praias de Jaboatão predomi-
nam obras de proteção do terreno, do tipo en-
rocamentos aderentes e muros. O objetivo é a
proteção do terreno, com a fixação da “linha de
costa”, em detrimento da faixa de praia, com o
consequente impacto à paisagem e à vocação
turística local.
35
No Recife, a principal estrutura costeira é um
enrocamento com 2.100m de comprimento
na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na
praia de Brasília Teimosa conforme estudo do
MAI (2009). A obra protege o terreno e não a
praia.
Na praias de Olinda, predominam obras de
proteção do terreno na forma de enrocamen-
tos, espigões e quebra-mares que causam boa
proteção da linha de costa. Entretanto, essas
estruturas causam significativa modificação nas
taxas de deriva litorânea, com efeitos negativos
à jusante, aliados ao impacto na vocação turís-
tica. As estruturas têm a seguinte distribuição:
• 1.700m de enrocamentos e muros (22%);
• 250m de espigões e molhes (3%);
• 5.660m de quebra-mares (75%).
Nas praias do Paulista, os enrocamentos,
espigões e quebra-mares protegem os terrenos.
Contudo, os quebra-mares, embora construídos
com altura elevada, causam proteção parcial da
linha de costa. Esse tipo de intervenção, aliado
ao engordamento da praia, com sedimentos de
composição e tamanhos inadequados, pode es-
tar relacionado com os focos de erosão instala-
dos em alguns trechos. As estruturas presentes
na orla de Paulista têm a seguinte distribuição:
• 1.850m de enrocamentos e muros (40%);
• 80m de espigões e molhes (6%);
• 2.520m de quebra-mares (54%).
36
Histórico da evolução da linha de praia: processo natural x interferência antrópicaOs registros comprovam que a alteração da po-
sição da linha de praia no litoral pernambucano
é antigo, em especial na costa de Olinda, que,
entre 1915 e 1950, experimentou um signifi-
cativo recuo de aproximadamente 80 metros, o
que resultou em um intenso processo erosivo,
que se instalou, principalmente nas praias dos
Milagres, do Carmo e de São Francisco.
A zona costeira pernambucana apresenta altu-
ras médias de maré de sizígia de 2,07 metros,
de acordo com a Diretoria de Hidrografia e Na-
vegação (DHN). A zona de espraiamento (zona
situada entre o limite superior da preamar e o
limite inferior da baixa-mar) pode atingir até 60
metros de largura na praia.
O estudo histórico evolutivo da linha de praia
dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
do Recife, de Olinda e do Paulista foi feito pelo
MAI (2009). Esse estudo mediu por meio de
coordenadas, de precisão geodésica, de pontos
a linha de praia dos municípios. A linha de cos-
ta é uma feição extremamente dinâmica (BIRD,
1996) e, para sua medição, é necessário iden-
tificar no ambiente praial as feições que melhor
a representem. A linha de costa, neste estudo,
foi definida como a feição no plano horizontal,
limite entre a área seca do continente, ou de
uma ilha, e a parte onde há efetiva ação das
águas. Considera-se que o local está fora do
alcance das águas, incluindo as maiores marés
de sizígia (MENDONÇA, 2005).
Mapa ilustrando a posição da Linha de Costa em 1915 e 1950 (praia dos Milagres – Olinda/PE)
Fonte: BRASIL (1985)
37
No estudo do MAI (2009), foram utilizados dois
receptores GPS, sempre utilizados no modo
relativo, com um permanecendo fixo em um
ponto enquanto o outro era conduzido no modo
cinemático sobre a feição que identificava a
linha de costa. Os dados coletados pelos recep-
tores durante os deslocamentos e os obtidos na
estação base foram pós-processados no softwa-
re GPSurvey 2.35 Dual Frequency Kinematic
Processor, desenvolvido pela Trimble. As coor-
denadas são referenciadas ao Sistema Geodé-
sico Brasileiro (SGB), por meio de uma estação
da rede nacional (estação da RBMC – Rede de
Monitoramento Contínuo do IBGE) no campus
da Universidade Federal de Pernambuco. O
estudo concluiu que o litoral dos municípios do
Paulista, de Olinda, do Recife e de Jaboatão
dos Guararapes totaliza 48.135,07m de linha
de costa; desses, são formados por praias com
sedimentos 24.539,45m (51%) e 23.595,63m
(49%) não têm praias com sedimentos. Nesse
segundo segmento, o litoral é marcado pela
presença de recifes e obras costeiras, tais como
enrocamentos, espigões e muros (MAI, 2009).
Os resultados do estudo do MAI (2009, v. 1, p.
58-59) apresentam uma distribuição da linha
de costa ao longo dos litorais dos municípios
de:
• (1) Jaboatão dos Guararapes possui
7.961,20m de litoral, sendo que em
4.690,94m (58,9%) é formado por praias
com sedimento, e em 3.270,26m (41,1%)
sem praias com sedimentos, constituindo-
se, principalmente, de trechos com obras
do tipo enrocamentos, espigões e muros.
• (2) Paulista tem 14.468,36m de litoral,
sendo que em 9.626,93m (66,5%) é
formado por praias com sedimento, e em
4.841,43m (33,5%) sem praias com sedi-
mentos, constituindo-se, principalmente,
em trechos com obras do tipo enrocamen-
tos, espigões e muros.
• (3) Olinda possui 12.261,14m de litoral,
sendo que em 4.222,33m (34,4%) é
formado por praias com sedimento e em
8.038,81m (65,6%) sem praias com sedi-
mentos, constituindo-se, principalmente,
de trechos com obras do tipo enrocamen-
tos, espigões e muros.
• (4) Recife tem 13.444,38m de litoral,
sendo que em 5.999.25m (44,6%) é
formado de praias com sedimento, e em
7.445,13m (55,4%) sem praias com se-
dimentos, constituindo-se de dois trechos:
um com recifes e outro com enrocamentos.
O estudo CPEB (2011, v. 2) permitiu o cálculo
evolutivo da linha de praia dos municípios de
Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda
e do Paulista; para tal, utilizando fotografias
aéreas e dois conjuntos de imagens extraídos
do Google Earth®. O voo aerofotogramétrico
realizou-se em 1974 e as imagens do Google
Earth® são de 2007 e 2010. A escolha do local
de linha de costa baseou-se num indicador que
não sofresse muita influência da variação de
um ciclo de maré. De acordo com o estudo do
CPEB (2011, v. 2), decidiu-se extrair a linha de
38
costa por meio da posição da berma da praia,
que se mostrou aparente em todas as fotogra-
fias aéreas e imagens. O objetivo dessa análise
foi identificar áreas historicamente vulneráveis
à erosão e, de posse dessa informação, ter
embasamento para a escolha de alternativas de
intervenção que serão sugeridas pela CPE.
Conforme o diagnóstico do CPEB (2011, v. 2),
a costa dos quatro municípios tem aproxima-
damente 50km de extensão; analisada com o
enfoque de determinar taxas de variação de
linha de costa (LC) para cada município, feita
por meio de transectos perpendiculares à linha
de costa, com espaçamento de 50 metros. Um
total de 923 transectos na análise, 185 para o
município de Jaboatão dos Guararapes, 241
para o município do Recife, 206 no município
de Olinda e 291 para o município do Paulista.
Cada taxa de variação gerada por um transecto
é a média entre o próprio transecto analisado e
os dois adjacentes. Isso suaviza as discrepân-
cias entre os resultados.
Para apresentação dos resultados da análise,
foram feitas imagens em que os segmentos de
costa se dividiram para cada município. Além
da localização da área de estudo, em cada
figura, apresentam-se gráficos contendo: (i)
o deslocamento linear total da linha de costa
para 2007 e 2010, tendo por base a linha de
1974; (ii) o deslocamento linear total da linha
de costa de 2010, tendo por base a linha de
2007; (iii) a taxa de deslocamento da linha de
costa em metros por ano entre 1974 e 2007,
e entre 2007 e 2010, calculadas pelo método
EPR (End Point Rate), e a incerteza associada
a cada variação; (iv) a taxa de deslocamento da
linha de costa em metros por ano entre 1974
e 2007, e entre 1974 e 2010, calculadas pelo
método EPR e a incerteza associada. Esses
resultados encontram-se detalhados no diag-
nóstico do meio físico (CPEB, 2011, v. 2).
A análise do diagnóstico (CPEB, 2011) foi feito
a partir de uma série temporal de trinta e seis
anos e composta de três linhas de costa em
diferentes momentos. Nesse contexto, percebe-
se que a evolução recente da linha de costa
dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
do Recife, de Olinda e do Paulista está firme-
mente atrelada à instalação das estruturas cos-
teiras. Nota-se que as variações mais acentua-
das coincidem, na maior parte, com a presença
de estruturas rígidas naturais, como os arre-
cifes, ou introduzidas pelo homem, como os
quebra-mares e espigões e guias correntes.
A partir do resultado obtido pelo estudo CPEB
(2011) pode-se afirmar que a linha de praia no
litoral dos municípios de Jaboatão dos Guarara-
pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, apre-
senta uma acentuada interferência antrópica,
resultando numa linha de praia atual experi-
mentando erosão em diversos trechos e perdas
patrimoniais elevadas (CPEB, 2011, v. 2).
39
Ocupação do solo e erosão costeiraO litoral pernambucano tem 187 quilômetros
de extensão, 21 municípios e é o mais impor-
tante aglomerado populacional do Estado, com
44% de sua população (ARAÚJO et al., 2004).
Essa zona costeira apresenta uma densidade
populacional maior do que 900 hab/km2, sig-
nificando uma das maiores concentrações do
Brasil, que tende a aumentar considerando os
novos empreendimentos que estão instalando-
se na região nos últimos anos (MAPLAC, 2010).
Diferentes pesquisas (CARNEIRO,2003; GRE-
GÓRIO, 2009; MAI, 2009) feitas ao longo da
zona costeira pernambucana e, em especial,
na região metropolitana do Recife, comprovam
que estão ocorrendo intensos processos erosi-
vos, com muitos trechos da costa em desequilí-
brio, apresentando erosão marinha progressiva
(CPRH, 1998 apud SOUZA, 2006). A combina-
ção de diversos fatores tem resultado nos pro-
cessos erosivos constados atualmente: o aporte
sedimentar para as praias é deficiente pela
ausência de grandes rios; a plataforma conti-
nental é estreita e dificulta o armazenamento
de sedimentos para remobilização; as linhas de
arrecifes submersos na plataforma dificultam
a remobilização de sedimentos; a ocupação
desordenada do ambiente praial imobiliza as
dunas e dificulta a reconstrução das praias no
período de verão.
Atualmente não existem estudos que possam
comprovar a contribuição relativa de cada
um desses fatores, no entanto, sabe-se que a
ocupação do ambiente da praia por edificações
ou outras estruturas modifica a manutenção
do equilíbrio sedimentar natural (MAI,2009).
Nessas franjas costeiras, observa-se, com fre-
quência, a presença de muitas obras (prédios,
muros de contenção, estradas e estruturas de
engenharia costeira) que foram construídas
sobre o pós-praia, setor da praia essencial para
o suprimento de sedimentos, comprometendo
assim vários trechos de praia que estão sob um
forte processo de erosão (SOUZA, 2006).
Nos trechos críticos da zona costeira da região
metropolitana do Recife, que experimentam o
processo de erosão, o manejo desse problema
tem sido realizado por meio da colocação de
muros aderentes, enrocamentos, espigões e
quebra-mares sem o devido suporte de in-
formações (MAI, 2010). Ao longo do tempo,
observa-se que essas intervenções frequente-
mente resultam em insucessos ou mesmo na
intensificação do processo erosivo, localmente
ou em áreas adjacentes, implicando investi-
mento de somas elevadas para a manutenção
e, também, em prejuízo estético (SOUZA,
2006; MAPLAC, 2010).
40
Ocupação do solo e erosão costeira
Os primeiros relatos à erosão costeira nos
municípios litorâneos pernambucanos são de
1914 e mencionam os danos causados pela
intervenção no molhe localizado no istmo de
Olinda, parte das obras de ampliação do Porto
do Recife. A partir de então, constataram-se
problemas de erosão em vários trechos do
litoral e mais notadamente nas áreas urba-
nas (MAI, 2009). A próxima figura apresenta
fotografias de diversas épocas das praias dos
municípios de Jaboatão dos Guararapes, do
Recife, de Olinda e do Paulista.
Nota: As fotografias A, B e C mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos da orla de Jaboatão dos Guararapes, assim como as obras de contenção do avanço do mar, tipo enrocamento; as fotografias D, E e F mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos do litoral do Recife, assim como as obras de
contenção do avanço do mar, tipo enrocamento na praia de Boa Viagem; a fotografia da ocupação do litoral de Olinda (no alto, à direita) retrata uma praia ocupada por obras de contenção costeira do tipo espigão,
enrocamento e quebra-mares. A fotografia aérea da ocupação do litoral do Paulista retrata uma praia ocupada por obras de contenção costeira do tipo quebra-mares.
Projeto MAI (2009) estudou a variação da ocu-
pação do solo por trinta e quatro anos no litoral
dos quatro municípios da Região Metropolitana
do Recife com o objetivo de comprovar que
o aumento da ocupação do solo tem relação
direta com a erosão. Essa pesquisa foi realizada
com a análise de fotografias aéreas de 1974
(Agência Condepe/Fidem) e imagens Quickbird
de 2008 (Agência Condepe/Fidem). A área cos-
teira selecionada, considerada para monitorar
a ocupação do solo, foi uma faixa demarcada
por quadras e vias, afastada da linha de costa
entre 200 e 300 metros. Conforme o estudo
do Projeto MAI (2009), foram consideradas na
análise as seguintes faixas de densidade para a
área ocupada:
41
• Baixa densidade – menor que 30% de
ocupação;
• Média densidade – entre 30% e 70% de
ocupação;
• Alta densidade – maior que 70% de ocu-
pação.
Para ilustrar a metodologia utilizada, selecio-
nou-se um recorte costeiro no município de
Jaboatão dos Guararapes, com praia arenosa
em 1974, e atualmente, com problemas de
erosão. Para tanto, a classificação realizada
para ocupação do solo foi disposta sob uma
mesma base cartográfica, para 1974 e 2008 e
os resultados encontrados são apresentados na
tabela abaixo.
Distâncias e percentuais da ocupação do litoral dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista
Fonte: MAI (2009)
MUNICÍPIO 1974 2008 CLASSIFICAÇÃO
Jaboatão dos Guararapes 414.411,92 m² 25,2% 1.086.408,01 m² 66,1% Alta densidade
464.950,26 m² 28,3% 439.471,14 m² 26,7% Média densidade
764.863,87 m² 46,5% 118.346,9 m² 7,2% Baixa densidade
Recife 1.525.669,83 m2 72,6% 1.896.909,94 m2 90,3% Alta densidade
358.328,85 m2 17,1% 95.549,73 m2 4,5% Média densidade
216.650,35 m2 10,3% 108.189,68 m2 5,2% Baixa densidade
Olinda 887.321,60 m2 50,9% 1.135.018,63 m2 65,1% Alta densidade
451.465,43 m2 25,9% 467.874,07 m2 26,8% Média densidade
405.829,62 m2 23,2% 141.723,95 m2 8,1% Baixa densidade
Paulista 273.203,12 m2 6,7% 1.637.269,64 m2 40,4% Alta densidade
555.163,67 m2 13,7% 1.202.753,91 m2 29,7% Média densidade
3.220.752,67 m2 79,6% 1.209.095,92 m2 29,9% Baixa densidade
42
3
A área de influência do empreendimento corresponde aos espaços geográ-
ficos passíveis de alterações em termos de dinâmica ambiental a partir da
projeção de cenários relacionados à implantação e operação do mesmo,
tratando-se aqui da Recuperação da Orla Marítima – Jaboatão, Recife, Olinda
e Paulista – Pernambuco. Conforme legislação ambiental vigente e exigências
do Termo de Referência 14/2011 emitido pela CPRH (Agência Estadual de
Meio Ambiente de Pernambuco) em 14 de setembro de 2011, serão aborda-
dos e justificados de forma distinta, os meios físico, biótico e socioeconômico.
As áreas de influência do empreendimento serão estabelecidas segundo os
seguintes níveis hierárquicos (CPRH, 2011, p. 9):
• Área de Influência Indireta (AII): aquela onde os impactos provenien-
tes da implantação e operação do empreendimento se fazem sentir
de maneira indireta e com menor intensidade em relação à área de
influência direta.
• Área de Influência Direta (AID): aquela sujeita aos impactos diretos
provenientes da implantação e operação do empreendimento, incluí-
do faixa marítima a ser utilizada para transporte de matéria prima.
• Área Diretamente Afetada (ADA): aquela onde ocorrem as interven-
ções relacionadas ao empreendimento, incluindo áreas de apoio
como canteiros de obra, acessos, áreas de jazida, etc.
O diagrama na próxima página mostra uma representação hierárquica das
áreas de influência do empreendimento:
Qual a área de influência do empreendimento?
43
Níveis Hierárquicos das Áreas de Influência do Empreendimento
Fonte: ITEP – UGP Barragens 2011
É importante lembrar que os meios físico, biótico
e socieconômico compõem o universo de estudos
integrados do meio ambiente, previstos na elabo-
ração do EIA/RIMA. Para efeitos de elaboração
do diagnóstico e prognóstico ambiental, impactos
e planos de controle ambiental, os três meios
citados devem ser entendidos de forma interrela-
cionada e interdisciplinar.
É necessário ressaltar o caráter de localização do
empreendimento. O projeto de Recuperação da
Orla Marítima dos municípios de Jaboatão dos
Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista
concentra-se na faixa de orla destes municí-
pios, a qual se insere no contexto de uma região
metropolitana brasileira com elevados níveis de
impermeabilização do solo, grande concentração
populacional, valorização do metro quadrado,
forte especulação imobiliária, limitações de áreas
verdes, áreas estuarinas ocupadas e poluídas,
entre outros aspectos. Vale frisar o estreitamen-
to da faixa de areia, o fim do ambiente praial e
pós-praial em muitos pontos ao longo da costa
metropolitana ocorre por fatores relacionados à
evolução histórica das formas de uso dessa faixa
de orla, associada a outros fatores, como a dimi-
nuição da quantidade de sedimentos carreados
pelos rios, como a dinâmica de correntes maríti-
mas e padrões de ventos e ondas. Nesse sentido
estabeleceu-se a seguinte delimitação para efeitos
de estudo:
MEIO FÍSICO
A Área de Influência Indireta (AII) corresponde
aos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de
Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,
do Paulista, de Abreu e Lima, Igarassu e Itama-
racá. Ao se considerar esse nível hierárquico é
44
importante ter como foco a área de jazida de
areia (no litoral do Cabo de Santo Agostinho), as
áreas que irão sofrer intervenção por meio da
obra (municípios de Jaboatão dos Guararapes,
do Recife, de Olinda e do Paulista) e uma impor-
tante zona estuarina nos municípios de Igarassu
e Itamaracá. A AII engloba os seguintes relevos: i)
semi-plano: predominam as áreas baixas e englo-
ba a área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros
e os terraços; ii) ondulado: formado por morros e
colinas, com declividades acentuadas. A inserção
de Itamaracá nessa regionalização reflete uma
preocupação relacionada à Ilhota da Coroa do
Avião, uma vez que representa uma formação
emersa de origem recente (menos de 50 anos).
A Área de Influência Direta (AID) se estende da
linha de costa até a isóbata (linhas de profundi-
dade) de 20m. Essa área foi projetada para todo
o litoral dos quatro municípios, já que apresenta
os processos erosivos que serão focos de análise
dos estudos e concentra as principais dinâmicas
marinhas relacionadas ao transporte de sedimen-
tos e incidência de ondas na costa.
A Área Diretamente Afetada (ADA) segue os mes-
mos critérios de delimitação adotados na AID (se
estende da linha de costa até a isóbata de 20m),
porém restringe-se apenas aos quatro municípios
que irão receber o empreendimento: Jaboatão
dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista.
MEIO BIÓTICO
A delimitação da Área de Influência Indireta
(AII) segue os mesmos procedimentos utilizados
para o meio físico. Supõe-se que a delimitação
dos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de
Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,
do Paulista, de Abreu e Lima, de Igarassu e de
Itamaracá abrange uma área significativa em ter-
mos de diversidade de espécies da flora e fauna,
além de contemplar possíveis rotas de migração
de espécies com a implementação do empreen-
dimento. Assim, tem-se a importância do Cabo
de Santo Agostinho quanto à posição da jazida e
prováveis impactos nas espécies subaquáticas,
Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Paulista
com relação à zona de intervenção física e impac-
tos em espécies terrestres e subaquáticas e, em
Itamaracá, no que diz respeito à Coroa do Avião
e sua necessidade por recomendações, a fim de
viabilizar a manutenção de espécies vivas desse
ambiente recentemente formado.
A Área de Influência Direta (AID) corresponde à
área inserida entre a linha de costa e limite médio
de 3km no sentido leste em relação à costa
(plataforma marinha). Considera em sua delimi-
tação à diversidade verificada nos beach rocks e
áreas de prováveis concentração e deslocamento
de tubarões (aproximadamente a 2km da linha
de costa). A Área Diretamente Afetada (ADA)
respeita como limite a área inserida entre a linha
de costa e os beach rocks e enroncamentos.
45
MEIO SOCIOECONÔMICO
A Área de Inlfuência Indireta (AII) é representada
pela totalidade dos espaços territoriais represen-
tados pelos municípios de Jaboatão dos Guarara-
pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, uma vez
que o empreendimento proposto contempla uma
área pública urbanizada.
A Área de Influência Direta (AID) corresponde
aos setores censitários que contém os trechos de
orla destes municípios. Essa escolha se deve ao
fato dessa ser a menor unidade de medida onde
é possível obter informações com dados secun-
dários.
A Área Diretamente Afetada (ADA) obedece à fai-
xa de orla marítima enquanto unidade geográfica
inclusa na zona costeira. Sua delimitação segue
as recomendações do Ministério do Meio Am-
biente (2006, p.28), o qual estabelece um limite
para a área terrestre de 50m em áreas urbaniza-
das e de 200m em áreas não urbanizadas. Dado
os elevados níveis de densidade de ocupação do
solo deste empreendimento, resolveu-se fazer
uma ampliação na faixa de área terrestre em
áreas urbanizadas, passando de 50m para 100m
e mantendo os mesmos 200m para áreas não ur-
banizadas. A área é correspondente às praias que
sofrerão a intervenção e aos prédios em frente a
essas. Para os estudos de patrimônio cultural, a
ADA também considerou regiões subaquáticas, a
exemplo dos pontos de naufrágio na costa destes
municípios.
46
4
Geologia e GeomorfologiaGeologicamente, a área de estudo do projeto de Proteção Costeira, que
engloba os Municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda
e do Paulista, está inserida nos domínios das bacias de Pernambuco e
Paraíba.
Como é o meio físico na área do empreendimento?
Mapa de localização das bacias de Pernambuco e Paraíba com ênfase nos seus limites estruturais
Fonte: Barbosa & Lima Filho (2006).
47
Essas bacias possuem características estrutu-
rais, geocronológicas e estratigráficas diferen-
tes, as quais refletem o processo de formação
diferenciado. As bacias de Pernambuco e Pa-
raíba se relacionam geneticamente ao processo
de rifteamento que afetou o paleocontinente
de Gondwana durante o Cretáceo Inferior. A
bacia de Pernambuco seria controlada por
um sistema de falhas normais, com direção
principalmente NE, e falhas de transferência,
predominantemente, de direção NW, sendo
que ambas definem um eixo principal de dis-
tensão (s3) de orientação NW. A bacia Paraíba
sofreu eventos tectônicos diferenciados dos
fenômenos ocorridos nas bacias adjacentes ao
norte e ao sul (Barbosa, 2004 apud Asmus &
Carvalho, 1978). A preservação de uma ligação
(landbridge) entre a África e a América do Sul,
durante o Cretáceo Superior (Barbosa, 2004
apud Rand, 1985; Rand & Mabesoone, 1982)
possivelmente é responsável pela diferenciação
entre a bacia Paraíba e as bacias de Alagoas,
Pernambuco e Potiguar. Conforme Barbosa &
Lima Filho (2006), a bacia Paraíba comparti-
menta-se em sub-bacias que se baseiam nas
principais feições tectônicas da área.
A sub-bacia Olinda é limitada pelo Lineamento
Pernambuco e pela falha de Goiana; a sub-
bacia Alhandra/Miriri é limitada pela falha de
Goiana e o Lineamento Paraíba. O período
geológico conhecido como Quaternário com-
preende as Séries do Pleistoceno e Holoceno,
esses inseridos na Era Cenozóica. Nesse espa-
ço temporal, também conhecido como a Era
do Gelo, ocorreram diversas glaciações, que
representaram eventos de variações climáticas
extremas e que repercutiram sobre todos os
ambientes terrestres.
A sedimentação de ambientes costeiros está di-
retamente relacionada às variações do nível do
mar, ao espaço de acomodação e ao suprimen-
to sedimentar. O nível do mar sofre variações ao
longo do tempo geológico, de ordem global, de-
vido à eustasia que é consequência da variação
de volume de água dos oceanos, decorrente de
glaciações e deglaciações, e variações na capa-
cidade reservatória dos oceanos, causadas pela
dinâmica das placas tectônicas. Localmente ou
regionalmente, o nível do mar se modifica devi-
do à isostasia. A costa brasileira foi submetida,
durante o Quaternário, a diversas oscilações do
nível do mar que ficaram registradas em teste-
munhos fósseis. Grande parte desses registros
fósseis foi submetida a estudos, utilizando
métodos de datação isotópicos, paleontológi-
cos, arqueológicos para definição da idade de
formação do registro.
Geomorfologicamente, a área de estudo
apresenta-se inserida em um único domínio
morfoestrutural denominado de Domínio Rifte.
Ela se apresenta, de modo geral, em dois
conjuntos distintos de relevo: o relevo semi-
plano e o relevo ondulado. O relevo semi-plano
encontra-se na porção Leste, com maior
presença no município do Recife, englobando a
área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros e
os terraços. É onde predomina as áreas baixas
48
e ocupa a maior parte da área de estudo. O
relevo ondulado ocupa uma pequena porção
da área e é formado por morros e colinas, com
declividades acentuadas.
Condições meteorológicas hidrodinâmicasAs condições meteorológicas e o clima são
influenciados por características geográficas
como oceano, latitude, relevo, solo e por siste-
mas de circulação atmosféricos dinâmicos. A
orla marítima dos quatro municípios analisados
está situada em posição geográfica favorável à
atuação simultânea dessas influências, prin-
cipalmente das variáveis atmosféricas como
vento e pressão atmosférica, que provocam
alterações no nível do mar costeiro, afetando de
forma considerável as cidades localizadas na
linha de costa.
A precipitação se apresenta como uma variável
de extrema importância em análises meteo-
rológicas e climatológicas em zonas costeiras.
Verifica-se que o semestre mais chuvoso
corresponde aos meses de março a agosto, e o
mais seco ao período de setembro a janeiro. Os
meses mais chuvosos correspondem a maio,
junho e julho com precipitação de 295mm,
362mm e 301mm, respectivamente. Outubro e
novembro são os meses mais secos com preci-
pitação inferior a 40mm.
49
Climatologia da precipitação média mensal em Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes.
Com relação a vento, na faixa litorânea de Per-
nambuco verificou-se que os maiores valores
em intensidade foram observados no setor
leste, fator esse que está associado à atuação
dos ventos alísios de sudeste, devido o deslo-
camento da Alta Subtropical do Atlântico Sul.
Os meses de novembro, dezembro e janeiro
apresentam direção predominante de leste
com intensidade de 3 a 5m/s em novembro e
dezembro, e 2 a 3m/s em janeiro. Em fevereiro
e março, há um aumento na magnitude do
vento com valores em torno de 3 a 4m/s e uma
pequena mudança na direção do vento que
passa de Leste para Sudeste. Nos meses de
abril, maio, junho, julho, agosto, setembro e ou-
tubro, a direção é de sudeste com intensidade
de 5 a 6m/s, com exceção dos meses de abril e
outubro com velocidade entre 4 a 6m/s.
PraiasAs praias são depósitos de sedimentos, co-
mumente arenosos, acumulados pela ação
das ondas, ventos e marés (MUEHE, 2009).
Representam um elemento natural de prote-
ção ao litoral. O perfil transversal de uma praia
varia com o ganho ou perda de sedimentos, de
acordo com o nível de energia das ondas e com
a alternância de tempo bom (acumulação) no
prisma subaéreo ou de tempestade (erosão),
com a retirada de sedimentos do perfil subaé-
reo para o perfil submerso, ocorrendo à erosão.
O ambiente praial, segundo Reading e Collin-
son (1996), consiste em dunas frontais,
pós-praia, praia e antepraia. As dunas frontais
50
limitam-se com a pós-praia na parte inferior da
escarpa. A pós-praia situa-se acima da linha da
preamar, sendo atingida pela ação das ondas
em ocasião de tempestades. Praia ou estirâncio
está situada entre o limite superior da preamar
e o limite inferior da baixamar. A antepraia
compreende a parte submersa do perfil e se
delimita com a praia no nível da maré baixa,
estendendo-se em direção offshore, até onde
não há remobilização dos sedimentos. Os
fatores que influenciam na construção e na
variação de um perfil praial são condições de
energia das ondas, o tipo de arrebentação, o
sedimento e o seu transporte, que interagem
com as condições hidrodinâmica locais.
Mudanças no ambiente praial podem ser
medidas por vários métodos, um deles é o
método topográfico convencional, tal como o
teodolito (BIRD, 1996). Esses métodos podem
avaliar e monitorar o avanço ou a recessão da
linha de costa ao longo do tempo (LARSON e
KRAUS, 1994; CLARK e ELIOT, 1988; LACEY e
PECK, 1998; SWALES, 2002; ANFUSO e DEL
RIO, 2003). O nivelamento topográfico tem por
finalidade verificar a variabilidade vertical do
perfil praial, se há uma tendência erosiva ou
deposicional no ambiente.
O projeto Monitoramento Ambiental Integra-
do (MAI) foi realizado no ambiente praial da
Região Metropolitana do Recife (RMR), nos
anos de 2006 e 2007. O nivelamento dos perfis
foi determinado a partir de uma Referência de
Nível (RN) perpendicularmente à linha de cos-
ta. Foi utilizada a nomenclatura morfológica e
hidrodinâmica sugerida por Hoefel (1998) para
a definição da divisão do perfil praial.
O monitoramento realizou 460 nivelamentos
topográficos, distribuídos em 28 perfis localiza-
dos em Jaboatão dos Guararapes, nas praias
de Barra de Jangadas (01), Candeias (02) e
Piedade (02); no Recife, nas praias da Boa Via-
gem (04) e do Pina (01); em Olinda, nas praias
dos Milagres (01), do Carmo (03), do Bairro
Novo (03), de Casa Caiada (02) e do Rio Doce
(02); no Paulista, nas praias do Janga (03),
de Pau Amarelo (01), de Nossa Senhora do
Ó (01), de Conceição (01) e de Maria Farinha
(01).
De acordo com o projeto MAI, os resultados ob-
tidos durante o monitoramento correspondem:
• Jaboatão dos Guararapes apresentou um
balanço sedimentar positivo para os perfil
1 (42,4m3/m), perfil 4 (28,5m3/m) e um
balanço negativo para o perfil 2 no valor
de 16,5m3/m, para o perfil 4 na ordem
de 22m3/m. O município do Jaboatão dos
Guararapes apresentou em sua região cen-
tral um déficit de sedimentos, porém os
perfis 2 e 3 apresentaram o menor volume
de sedimentos;
• No Recife, os perfis apresentaram um
balanço sedimentar positivo, considerando
a diferença no volume sedimentar entre
o primeiro mês monitorado e o ultimo
mês. São observados os seguintes valo-
51
res PR1 (7,4m3/m); PR2 (13,7m3/m);
PR3 (9,6m3/m); PR4 (12,1m3/m); PR5
(+17,8m3/m). Entretanto, Gregório e Arau-
jo (2008) realizaram um monitoramento
por um período mais longo nas praias de
Boa Viagem e do Pina, entre os anos de
2001 a 2005, e constataram uma maior
variação no volume de sedimentos nos
extremos das praias, inclusive na praia do
Pina, e no perfil ao norte da obra de con-
tenção (enrocamento);
• Em Olinda, apresentaram um balanço sedi-
mentar positivo os perfis PO1 (7,46m3/m),
PO2b (13,10m3/m), PO2c (6,85m3/m
), PO5 (17,59m3/m), PO6 (3,10m3/m ),
PO7 (3,00m3/m), PO8 (4,10m3/m ); e
um balanço sedimentar negativo (Figura
8.6-2) para os perfis PO2a (0,69m3/m),
PO3 (19,98m3/m), PO4 (9,49m3/m ) e
PO9 (2,00m3/m). Os perfis localizados
na praia do Carmo se encontram em uma
saliência, que corresponde aos vestígios
da ponte utilizada para a construção do
quebra-mar, aumentando o volume sedi-
mentar da parte superior do perfil;
• No Paulista, os resultados apresentaram
um balanço sedimentar positivo nos perfis
PA1 (28,46m3/m), PA2 (0,28m3/m), PA3
(13,26m3/m), PA4 (27,06m3/m), PA5
(12,57m3/m), PA7 (11,07m3/m); e um
balanço sedimentar negativo para o perfil
PA6 (48,33m3/m).
A análise sedimentar fornece subsídios para
a correlação entre as características texturais
dos sedimentos e dos vários ambientes, que
compõe a dinâmica deposicional, e estabele-
cer parâmetros utilizáveis na identificação e
característica do ambiente (SUGUIO, 1973).
Segundo a classificação de WENTWORTH
(1922 apud MUEHE, 1996) são classificados
em: cascalho (-1 Φ), areia muito grossa (-1 a 0
Φ), areia grossa (0 a 1 Φ), areia média (1 a 2 Φ),
areia fina (2 a 3 Φ), areia muito fina (3 a 4 Φ).
O tamanho do grão depende da natureza do
material envolvido, do tempo e da distância do
transporte.
A metodologia utilizada pelo MAI foi a classi-
ficação proposta por FOLK e WARD (1957).
Os dados foram processados no software
SYSGRAM, sendo utilizado o tamanho médio
do grão. Para os perfis de Jaboatão dos Gua-
rarapes predominou areia fina nos perfis PJ1
e PJ2 e PJ5, na parte extremas do segmento
Jaboatão; e em sua parte central PJ3 e PJ4
foi observado areia média. No Recife, há uma
predominância de areia fina em todo o arco
praial. Em Olinda, verificou-se a presença de
areia grossa em todos os perfis; porém o perfil
PJ3 apresentou uma maior variação de areia
média a grossa. Em relação ao município do
Paulista, há predominância de areia média,
sendo observado também uma variação de
areia fina a média, principalmente nos perfis
nos perfis PA4 e PA5, correspondendo à parte
central segmento.
52
Variação volumétrica dos perfis topográficos do município de Olinda
Fonte: MAI (2009).
53
Plataforma InternaA plataforma continental de Pernambuco é
caracterizada por uma largura média de 34km,
variando aproximadamente de 30km no trecho
sul a 40km no extremo norte. Possui um relevo
suave, com a quebra da plataforma na faixa de
60metros de profundidade (Araújo et al. 2004).
O levantamento batimétrico detalhado permitiu
a visualização das variações da profundidade,
bem como a morfologia da plataforma con-
tinental interna na área pesquisada. Sendo
assim, foi possível identificar as principais fei-
ções, tais como os arenitos de praia, os bancos
arenosos, os paleocanais e os leitos planos e
com declives pouco acentuados.
De forma geral, foi possível observar que a
plataforma interna dos municípios de Olinda
e, particularmente, do Paulista apresentam
gradientes suaves em direção offshore, com
profundidade máxima em torno de 19m. Na
plataforma interna dos municípios do Recife
e de Jaboatão dos Guararapes, os valores de
profundidade variam abruptamente e a mor-
fologia é mais acidentada, com presença de
paleocanais e diversas linhas de arenitos de
praia. A área da plataforma interna mostra
várias estruturas e feições na superfície do
fundo marinho, representada por três linhas de
arenitos de praia, além de paleocanais, bancos
arenosos, marcas de ondas e os tipos de se-
dimentos (areia, cascalho ou lama). Os dados
batimétricos descritos possibilitaram uma análi-
se de reconhecimento preliminar da morfologia
da plataforma interna da região estudada. Os
dados compilados de outros projetos foram
interpolados e com isso foi gerado um modelo
digital de terreno para a referida área (ver figura
a seguir).
A morfologia de fundo na área estudada
influencia de forma significativa os processos
hidrodinâmicos que ocorrem na região, tais
como a dinâmica das correntes, a incidência
das ondas e o transporte sedimentar. Portanto,
são informações imprescindíveis para a com-
preensão dos problemas de erosão costeira que
atinge a Região Metropolitana do Recife.
Ao analisar o comportamento dos sedimentos
do ambiente praial e da plataforma continental
interna do Recife, Gregório (2009) observou
uma forte influência da presença da linha de
arenito de praia, na distribuição e transporte
dos sedimentos. Os sedimentos encontrados no
ambiente praial são constituídos, em sua maio-
ria, por areia fina a muito fina. Entre o ambiente
praial e a primeira linha de arenitos de praia
submersos, que corresponde à área do canal, a
predominância é de areia muito fina. Depois da
linha de arenito de praia, há uma variação de
areia grossa a cascalho, com presença predo-
minante de areia grossa, e com maior teor de
carbonato de cálcio.
54
A característica marcante desse fundo marinho
é a primeira linha de arenito de praia submerso
que serve como um divisor entre os sedimen-
tos.
Presença de obras costeirasNas últimas décadas, diversas obras de con-
tenção da linha de costa vêm sendo implan-
tadas, no sentido de reduzir o problema de
erosão costeira. No entanto, os resultados
dessas intervenções nem sempre tiveram
êxito, acarretando um ambiente praial bastante
modificado, e, em alguns trechos, transferência
do processo erosivo para praias vizinhas (MAI,
2009).
No município de Jaboatão dos Guararapes,
implantaram-se estruturas do tipo guia corren-
te, espigões, enrocamentos aderentes e muros,
desde a margem esquerda do rio Jaboatão até
as praias de Piedade e Candeias (MAI, 2009).
O resultado é um litoral que contempla em
cerca de 20% de sua faixa com algum tipo de
obra costeira de proteção, em que se destacam
estruturas rígidas perpendiculares à praia – de-
nominada de espigões; assim como na praia de
Candeias encontra-se o enrocamento aderente
formado por blocos de pedras (ARAÚJO, 2001
apud MOURA et al., 2010).
Em 1994, na Praia de Boa Viagem, no Reci-
fe, foram construídas obras de contenção em
razão do processo erosivo que destruiu parte
do calçadão. Essa obra consistiu na colocação
55
de pedras-rachão e sacos de areia. No entanto,
o problema da erosão continuava e realizou-se
outro estudo que indicou que a obra mais ade-
quada à proteção da praia seria o revestimento
com blocos naturais, atualmente encontrada,
em contraposição à restauração com reposi-
ção de areia e utilização mista de espigões e
quebra-mares (MAI, 2009).
A ocupação do espaço litorâneo olindense com
obras de proteção costeira contra o avanço do
mar data de 1950. A posição da linha de costa
de Olinda, entre 1915 e 1950, experimentou
um recuo de aproximadamente 80 metros, o
que resultou em um intenso processo erosivo,
principalmente nas praias dos Milagres, do
Carmo e de São Francisco (CARNEIRO, 2003).
As mudanças decorrentes da ampliação do
Porto do Recife, entre os anos de 1909 e 1917,
assim como da Base Naval do Recife, concluí-
das em 1948.
Atualmente, a zona costeira do município de
Olinda apresenta dez quebra-mares paralelos à
linha de costa, 34 espigões perpendiculares e
diversos trechos com enrocamentos aderentes.
Diversas obras vêm sendo eficientes na prote-
ção do patrimônio urbanístico, assim como na
fixação da linha de costa. Contudo, na época
de sua instalação, não havia a valorização
econômica sustentável do uso da praia direcio-
nado tanto para o turismo quanto para o lazer
(CPEB, 2011, v1).
A ampliação do Porto do Recife e a constru-
ção das obras de defesa do litoral de Olinda
modificaram o balanço sedimentar costeiro
original nessa zona, aparentemente provocando
uma aceleração da erosão no litoral de Pau-
lista. Para contenção da erosão no município,
implantou-se um sistema de quebra-mares
associados a espigões, que posteriormente am-
pliados. Recifes naturais submersos serviram
de suporte para o sistema de quebra-mares.
As modificações ocorridas na praia do Paulista
ocasionaram a formação de saliências e um
tômbolo na zona de sombra dos quebra-mares
(MAI, 2009). As obras costeiras ao longo dos
municípios da RMR, identificadas no relatório
do projeto (MAI, 2009).
Na zona costeira dos quatro municípios, cons-
tatam-se 19 áreas com intervenções, algumas
ilustradas e descritas, com as estruturas cos-
teiras e respectiva descrição ao longo da orla
dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
Recife, Olinda e Paulista-PE, o tipo de obra
costeira, sua localização, o tamanho, a função,
o resultado e a similaridade (CPEB, 2011, v1).
Na orla do município de Jaboatão dos Guarara-
pes, prevalecem obras de proteção do terreno,
ou seja, as intervenções adotadas são, princi-
palmente, as do tipo enrocamentos aderentes
e muros. São obras que têm por objetivo a
proteção do terreno, por meio da fixação da
“linha de costa”, em detrimento da faixa de
praia (MAI, 2009). As estruturas se distribuem
da seguinte maneira: 3.260m de enrocamentos
56
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 001, 002 e 003 no estuário do rio Jaboatão, Jaboatão dos Guararapes - PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)
e muros (74%); 530m de espigões e molhes
(12%) e 600m de quebra-mar (14%) (CPEB,
2011, v1).
No Recife, a principal estrutura costeira é um
enrocamento com 2.100m de comprimento
na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na
praia de Brasília Teimosa (MAI, 2009). Entre
1900 e 1912, realizaram-se obras de ampliação
do Porto do Recife a fim de protegê-lo de ações
causadas pelas ondas. Entre elas, destacam-
se o prolongado do quebra-mar natural e a
construção dos recifes paralelos à costa, que
atingiram 4 km de comprimento; além de
construído o molhe de Olinda com 800m e o
quebra-mar do Branco Inglês com 1.150m de
extensão (CPEB, 2011, v1).
A zona costeira de Olinda apresenta-se com
obras de proteção do terreno, constituída de
enrocamento, espigões e quebra-mares que
estabilizaram e protegeram eficientemente essa
costeira municipal. As estruturas têm a se-
guinte configuração: 1.700m de enrocamentos
e muros (22%); 250m de espigões e molhes
(3%); e 5.660m de quebra-mares, 75% (MAI,
2009).
O litoral do município de Paulista tem o mes-
mo modo de proteção do terreno, na forma
de enrocamentos, espigões e quebra-mares.
Contudo, os quebra-mares vêm protegendo
parcialmente a linha de costa apesar de sua
altura bastante elevada. Encontra-se nesse
trecho obra de engordamento da praia, aliada à
construção dos quebra-mares; contudo utiliza-
ram sedimentos de composição e granulome-
tria inadequados, causando, assim, os focos
de erosão, instalados em alguns trechos desse
litoral (MAI, 2009). As estruturas têm a seguin-
te distribuição: 1.850 metros de enrocamentos
e muros (40%); 280m de espigões e molhes
(6%); e 2.520m de quebra-mares, 54 % (MAI,
2009).
57
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 004, 005, 006, 007 e 008 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes – PE
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 008 e 009 na praia de Candeias, e estrutura 010 na praia de Piedade, Jaboatão dos Guararapes - PE
Fonte: MAI (2009, v. 3)
Fonte: MAI (2009, v. 1)
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e detalhe do enrocamento presente na praia de Boa Viagem, Recife - PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)
58
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira presentes na praia dos Milagres e do Carmo (013), e na praia do Bairro Novo (014), Olinda - PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)
Fonte: MAI (2009, v. 1)
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e detalhe das estruturas presentes na praia de Brasília Teimosa, Recife - PE
59
Vulnerabilidade a erosão costeira A orla costeira é a estreita faixa de contato da
terra com o mar na qual a ação dos processos
costeiros se faz sentir de forma mais acentu-
ada e potencialmente mais crítica à medida
que efeitos erosivos ou construcionais podem
alterar sensivelmente a configuração da linha
de costa. Representa também uma faixa na
qual a degradação ambiental por destruição da
vegetação e construção de edificações se torna
extremamente evidentes (MUEHE, 2001).
O termo vulnerabilidade é frequentemente
empregado na área de geociências associados
ao desastre e incidência de fenômenos natu-
rais (MAZZER, 2007). Nas últimas décadas,
especial importância tem sido dada a estudos
relacionados com a evolução do litoral e da
linha de costa. Segundo Gornitz et al. (2002),
a vulnerabilidade é o estudo em uma grande
extensão territorial e de um volume de dados,
que considerem como fatores aqueles ligados
diretamente aos processos costeiros.
Nos estudos realizados pelo projeto MAI sobre
a vulnerabilidade dos municípios do Jaboatão
dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Pau-
lista foi utilizada a linha de costa digitalizada,
de 1974, bem como a linha de costa do ano de
2008, totalizando um período de 34 anos. A
linha de costa de 2008 foi realizada através de
caminhamento, com o uso de equipamentos
(Global Positioning Systm) geodésicos, no modo
relativo cinemático (MENDONÇA, 2005). O ano
de 1974 foi considerado o ano mais antigo e o
ano de 2008 o mais recente. A linha de costa
(última maré) e os limites da zona de interesse
(a primeira linha de edificação) foram vetoriza-
dos em formato shapefile e organizados numa
base de dados geográficos (Geodatabase).
A área de estudo foi dividida em segmentos
assim distribuídos: Jaboatão dos Guararapes
(05), Recife (04), Olinda (12), Paulista (08),
totalizando 29 segmentos (ver figura na página
seguinte). Para a divisão dos segmentos foram
considerados suas características naturais e
antrópicas, bem como a presença ou não de
obras de contenção. Sendo que, essas não
foram calculadas por estarem imobilizadas.
Segundo o projeto MAI, para a análise da vul-
nerabilidade, foi utilizado um número reduzido
de variáveis, a fim de reproduzir o principal
processo de dinâmica de linha de costa local,
como por exemplo, à susceptibilidade da praia
em ser impactada pelas taxas de avanço da
ocupação, bem como, atual largura da pós-
praia.
Os segmentos foram identificados ou classifica-
dos segundo o seu grau de vulnerabilidade de
baixo a muito alto, bem como, o termo con-
dicional e não avaliado para o diagnostico do
60
grau de vulnerabilidade. O desenvolvimento do
sistema praial pode ser alterado com a influ-
ência de edificações em uma de suas regiões,
como por exemplo, muitas dessas construções
se localizam na região da pós-praia, alterando a
sua largura e dinâmica. Isto permite que esses
ambientes alterem a sua vulnerabilidade.
Duas projeções foram realizadas pelo projeto
MAI, com a finalidade de identificar o grau
de vulnerabilidade das praias em estudo. Na
primeira projeção, foi desconsiderado o des-
locamento da zona de interesse e a segunda
considerando o deslocamento da zona de inte-
resse. Consta no relatório do projeto MAI, uma
estimativa para a largura da pós-praia de 30m
para os próximos 20 anos.
Os segmentos Candeias e Piedade Sul (Ja-
boatão dos Guararapes); Casa Caiada III, Rio
Doce II (Olinda); Enseadinha, Pau Amarelo,
Conceição e Maria Farinha (Paulista) apresen-
taram grau de vulnerabilidade alto, indepen-
dentemente da utilização da zona de interesse
ou não. Os segmentos que apresentaram baixa
vulnerabilidade nas duas condições foram
Piedade Norte II, Casa Caiada I, Rio Doce IV,
localizados no município de Olinda. E outros
segmentos que apresentaram um alto grau de
vulnerabilidade considerando a zona de interes-
se, como por exemplo, no segmento Barra de
Jangadas (Jaboatão), Boa Viagem Sul (Recife),
Enseadinha Quebra-mar, Nossa Senhora do Ó,
Pontal de Maria Farinha (Paulista).
61
Extensão aproximada dos segmentos (m) considerados para o estudo
Fonte: MAI (2009)
Análise da linha de costaA linha de costa corresponde ao limite entre o
continente e o oceano, é uma região dinâmica
e sofre constantes mudanças em relação ao
continente ou em relação ao oceano. Quando
ela avança em direção ao oceano, fala-se que
a linha de costa progradou. Se a linha de costa
se desloca em direção ao continente, houve
uma retração.
A sua posição resulta da interação entre agen-
tes costeiros tais como ondas, marés e outros.
As modificações na configuração da linha de
costa podem ocorrer em escalas de tempo
variadas: diárias, mensais, sazonais e seculares
(ESTEVES, 2002).
Em praias arenosas, a linha de costa é utilizada
pelo homem para diversos fins, destacando
aqueles de natureza recreacional e turística.
A crescente demanda por tais usos nos mu-
62
nicípios litorâneos induz muitas vezes a um
desenvolvimento sem planejamento, desconsi-
derando a natureza móvel e dinâmica da linha
de costa (MAZZER e DILLENBURG, 2009).
A metodologia utilizada pelo projeto MAI, para
o estudo da linha de costa dos municípios do
Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda
e do Paulista foi realizada através do geopro-
cessamento no programa ArcGiz 9.1. O ano
de 1974 digitalizado foi considerado o ano
mais antigo e o ano de 2008 o mais recente,
totalizando um período de 34 anos. O estudo
da linha de costa, MAI (2009) foi vetorizada
em formato shapefile e organizada numa base
de dados geográficos (Geodatabase). Segundo
este projeto o deslocamento da linha de costa
dos municípios do Jaboatão dos Guararapes,
Recife, Olinda e Paulista foram os mesmos
seguimentos da zona de interesse, bem como a
linha de costa também foi utilizada para saber
a distancia entre esta linha e a zona de interes-
se para o calculo da vulnerabilidade.
Os resultados obtidos nos valores médios para
o deslocamento da linha de costa estão repre-
sentados na figura a seguir. Os segmentos que
apresentaram os maiores deslocamentos se
encontram ao norte e ao sul da área de estudo,
isto pode ser explicado pela presença de um
maior numero de segmento na parte central da
área que corresponde ao município de Olinda.
Exceto no segmento de Casa Caiada I, que
apresentou um deslocamento maior para este
município. A Região Metropolitana do Recife
se encontra em uma situação que pode ser
considerada grave, no que se refere ao pro-
cesso erosivo, tendo em vista que a erosão se
faz presente na maior parte do litoral, tem se
intensificado e tende a se agravar no futuro
(MAI, 2009).
Utilizando uma serie temporal de 36 anos, a
Coastal Planning & Engineering do Brasil (CPE,
2011) investigou o deslocamento da linha de
costa, através da posição da linha da berna e
onde a linha de costa se encontra fixada por
estruturas rígidas, estas foram consideradas
como o indicador. O estudo foi realizado com
fotografias áreas do ano de 1974 e as imagens
do Google Earth® de 2007 e 2010. A área foi
dividida em quatro setores: (i) Paulista, (ii) Olin-
da, (iii) Recife e (iv) Jaboatão dos Guararapes.
A taxa de deslocamento da linha foi realizada
entre o ano de 1974 e 2007, e entre 1974 e
2010, e a incerteza associada.
Segundo a CPE (2011), em Jaboatão dos
Guararapes, no período entre 1974 e 2007,
houve progradação da linha de costa ao norte
da área, e apresentou um deslocamento posi-
tivo no valor médio de 0,45m/ano. No período
entre 1974 a 2010, uma variação média de
0,47m/ano. Na parte central do município, a
linha de costa se encontra fixada por obras de
contenção, do tipo enrocamento, bem como o
trecho entre os transectos 124 e 146 mais ao
sul. Porém, é observada entre as duas obras
de contenção uma progradação da linha de
costa, com valores médios de 1,33 m/ano. Para
63
o período entre 2007 a 2010, observa-se uma
retração da linha de costa entre as obras de
contenção e ao norte destas.
Segundo a CPE (2011), no Recife, o trecho
compreendido entre a praia do Pina e o norte
da praia da Boa Viagem, entre o período de
1974 a 2007, a linha de costa progradou em
uma taxa de 0,43m/ano, apresentando-se
estável no segmento seguinte, para o mesmo
período. Mas ao sul da área a linha de costa
apresentou retração com uma variação média
em torno de 0,55m/ano, bem como, entre
2007 e 2010, no valor médio de 4,00m/ano.
No extremo sul, a linha de costa se apresentou
estável.
Entre o ano de 1974 e 2007, em Olinda, ao
norte da área, a linha de costa sofreu retração
até ser fixada por obras de contenção, apre-
sentado uma variação média de 13,32m (CPE,
2011), exceto próximo a desembocadura do rio
Paratibe. Onde a linha de costa não foi fixada,
apresentou uma progradação em torno de
0,35m/ano.
Foram observados trechos em progradação na
zona de sombra dos quebra-mares. Em direção
ao sul da área, exceto a praia de Del Chifre, a
linha de costa se encontra fixada por obras de
contenção. Segundo a CPE (2011), a linha de
costa da praia de Del Chifre sofreu um proces-
so rotacional e apresentou uma retração em
sua direção norte e progradação ao sul.
Segundo a CPE (2011), para o município do
Paulista, entre 1974 a 2010, o pontal arenoso
ao norte sofreu progradação (2,22m/ano). A
partir deste trecho, observa-se uma retração da
linha de costa, a partir de 1974 (0,26m/ano).
Esse mesmo seguimento se apresenta estável,
entre 2007 e 2010. Na direção sul do muni-
cípio, a linha de costa apresentou variações
de progradação e retrogradação, causando
avanços e recuos. Do centro em direção ao sul,
a linha de costa, encontra-se fixada por obra de
contenção. Para o período entre 2007 a 2010,
a maior progradação também ocorreu ao norte
da área e uma retração é evidenciada nos últi-
mos transectos devido à fixação do rio Paratibe.
64
Resultados dos valores médios do deslocamento da linha de costa para os municípios do Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista
Fonte: MAI (2009)
Perfis topo-batimétricosSegundo CPEB (2011), os resultados obtidos
na medição dos perfis topo-batimétricos ao
longo da Região Metropolitana do Recife foram
complementados com os dados fornecidos pela
SECTMA e UFPE coletados durante a execução
dos projetos MAI (2009) e MAPLAC (2010). Os
procedimentos adotados garantiram a cober-
tura de dados com alta exatidão para toda a
área estudada, onde os perfis serviram para o
desenvolvimento das alternativas de projetos de
engenharia, e para a interpolação da batime-
tria usada para a modelagem numérica das
condições atuais e alternativas (CPE, 2011). O
quadro a seguir faz um resumo por trecho de
praia x comprimento x espaçamento x números
de perfis. O gráfico ilustra um exemplo de uso
de dados topo-batimétricos complementados,
neste caso para um perfil de Jaboatão dos Gua-
rarapes. Em vermelho, a linha representando o
que foi medido pela CPE (2010). No caso algu-
ma porção do perfil não medida, usou-se dados
complementares dos perfis medidos durante os
projetos MAI (2009) e MAPLAC (2010).
65
Perfis Topo-Batimétricos
Trecho de Praia Comprimento(m) Espaçamento(m) Número de Perfis Observações
Boa Viagem 6000 300 20 Praia aberta sem
estruturas com muros de contenção
e enrocamentos
Del-Chifre ao início 1700 300 6 Praias com
dos espigões espigões e quebra-mares
de Olinda
Espigões de Olinda 1900 300 6 Praia com diversos
espigões curtos
Longos 4100 300 14 Praia com muitos
quebra-mares quebra-mares
(Olinda)
Janga a Pau Amarelo 2500 300 8 Praia aberta convexa
(Paulista) com recife. Erosão
acentuada
Marinha Farinha 1800 300 6 Área próxima a
(Paulista) (Paulista)
desembocadura do rio Timbó
Definição e pro-pagação do re-gime de ondasNo presente estudo é apresentado o procedi-
mento adotado para obtenção da onda, o qual
envolve a geração e análise de dados de ondas
em águas profundas, propagação de ondas
em águas rasas através do emprego de mode-
lo numérico. Para isso, utilizaram-se modelos
de onda, como o WAVEWATCH III ou WWIII
(TOLMAN, 2002) desenvolvido pela NOAA/
NCEP (National Ocean and Atmosphere Ad-
ministration/National Centers of Environmental
Prediction). É um modelo espectral, que simula
processos de geração e propagação de ondas
em águas profundas, com base em dados
dos quais podemos obter a altura significativa,
período de pico e direção como uma relação
do espectro, que descreve o cenário geral
das condições de onda em um determinado
momento. Porém, o espectro é composto mais
detalhadamente, com energia de ondas for-
madas por ventos locais em uma determinada
região e grupos de ondas originários de locais
afastados, que se unem aos ventos locais desta
região para compor a totalidade de energia
contida em um espectro. Desta forma, quan-
do se caracteriza um clima de ondas de uma
região, é necessário ter conhecimento de suas
características de formação.
Os dados utilizados para análise e caracteriza-
ção do regime de ondas em águas profundas,
obtido a partir do modelo WWIII, foram extra-
ídos do elemento da grade de cálculo situado
66
Exemplo de uso de dados topo-batimétricos complementados, (um perfil de Jaboatão dos Guararapes, PE). Em vermelho está representado o que foi medido pela CPE (2010).
Fonte: CEPB,2011
nas coordenadas 8°S e 034°W (Datum SIR-
GAS-2000), a uma profundidade de aproxima-
damente 2000m, para o período compreendido
entre 30 de janeiro de 1997 e 1º de março de
2010, com dados a cada três horas. Dados
analisados permitem concluir que as ondas
de águas profundas são predominantemente
provenientes de direções entre NNO e SSO
(98,3% dos registros), com alturas de onda va-
riando entre 0,5 e 4,3m e períodos de 3 a 22s.
Dados analisados pelo MAI (2009) apresentam
séries temporais obtidas para a área de estudo
com ondas de gravidade com alturas significati-
vas médias de 0,60 a 0,97m nas áreas cos-
teiras de Jaboatão dos Guararapes, do Recife
e de Olinda e de 0,27 a 0,29m no Paulista.
Os períodos significativos das ondulações nos
municípios analisadas variaram entre 5,1 e 6,8
segundos. As maiores ondulações ocorreram
na região do Recife, com Hs de 1,57 no perío-
do de ventos mais intensos.
67
Perfis topo-batimétricos medidos em Recife, PE. Coordenadas em metros UTM. Imagem: Google Earth
Fotografia da embarcação Loba do Mar II, utilizada no levantamento batimétrico
Fonte: CEPB,2011
Fonte: CEPB,2011
68
Calibração para modelagem numéricaA maior parte dos problemas de erosão costeira
tem sua causa relacionada à perda sedimen-
tar em longa escala de tempo, que por sua
vez está relacionada à mudança na fonte de
sedimento, ou a mudanças na orientação da
costa devido a construções (LIMA, 2008). Esse
problema é comum em cidades modernas ou
de veraneio que tiveram sua linha de costa
modelada pelo uso de muros de contenção de-
vido à ocupação costeira (BLACK AND MEAD,
2001). O problema fundamental, nestes casos,
é o desequilíbrio entre a orientação da linha de
costa em relação à orientação média da direção
de ondas, a qual governa a direção das corren-
tes ao longo da costa. São estas correntes as
responsáveis pelo transporte de sedimento que
ocasiona a erosão.
Uma ferramenta utilizada para o entendimento
de sistemas costeiros é a modelagem numéri-
ca. A ideia da modelagem numérica pode ser
entendida como a tentativa de explicar nume-
ricamente o comportamento ou característica
de um determinado sistema, permitindo-nos
dizer se a forma de se tratar um determinado
sistema é a mais adequada. A ferramenta é
extremamente útil.
É necessária a calibração do modelo para
se obter sucesso na modelagem costeira. O
processo de calibração de um modelo numé-
rico consiste na escolha dos parâmetros mais
adequados de modo a aproximar os resultados
simulados dos medidos. A modelagem através
de simulação numérica tem-se mostrado de
elevada importância no campo da investigação,
previsões e soluções para problemas dentro do
ambiente marinho.
O uso de modelos numéricos possibilita que,
depois da calibração em um único (ou alguns
pontos), possamos extrapolar as informações
para todo o domínio de cálculo. O processo de
calibração foca na comparação entre os resul-
tados do modelo e observações de campo, de
forma que quanto melhor o ajuste entre estes
valores, melhor o resultado fornecido pelo mo-
delo (COASTAL PLANNING & ENGINEERING,
2010).
O processo de calibração do modelo numérico
Delft3D envolveu comparações entre dados de
marés, ondas e correntes medidos em campo e
simulados. As séries temporais foram medidas
entre o período de 29 de julho de 2009 e 13 de
agosto de 2009 e obtidas no âmbito do proje-
to PROCOSTA (2010). Foram utilizados dois
ondógrafos/marégrafos/correntógrafos InterO-
cean S4ADWi, com frequência de amostragem
69
Fonte: PROCOSTA (2010).
de 2Hz, operando em modo intermitente com
aquisição de 30 minutos de dados em inter-
valos de uma hora. Os equipamentos foram
fundeados a 1m de distância do fundo do
mar (COASTAL PLANNING & ENGINEERING,
2011).
As comparações das simulações com os dados
de nível do mar, ondas e correntes ao longo
da simulação foram feitas para dois pontos
diferentes em frente à praia de Boa Viagem, no
Recife. Verifica-se a posição em planta, pro-
fundidade e esquema de fundeio dos sensores
fundeados nos pontos cujos dados levantados
foram utilizados para calibração (BVE e BVI) e
também para os pontos cujos dados não foram
utilizados (CANE, CANI e foz do rio Jaboatão).
Em sentido horário, da esquerda para a direita: localização do fundeio dos sensores S4 na área do estudo BVI – BVE: praia de Boa Viagem; CANI – CANE: praia de Candeias; FOZ: foz do rio Jaboatão e os respectivos valores de profundidades (m) de cada estação. Esquema demonstrando a profundidade e configuração de fundeio dos equipamentos.
70
Modelagem com Delft3DA calibração do modelo numérico Delft3D en-
volveu comparações com os dados de marés,
ondas e correntes medidos em campo, para
dois pontos diferentes em frente à praia de Boa
Viagem, no Recife (Coastal Planning & Engine-
ering, 2011). São descritas as calibrações de
marés, ondas e correntes no modelo numéri-
co utilizado. Uma breve descrição é dada ao
modelo numérico Delft3D, desenvolvido pela
Deltares®, em Delft, Holanda, e seus módulos,
assim como o módulo hidrodinâmico Delft3D-
FLOW, o modelo de propagação de ondas
SWAN, o módulo morfológico Delft3D-Mor,
assim como as grades numéricas e batimetria
utilizados ao longo da costa.
Para este trabalho foi utilizado o Delft3D. Este
modelo constitui-se em um avançado sistema
de modelos numéricos 2D/3D (duas ou três di-
mensões) composto de diversos módulos para
a simulação de processos costeiros complexos,
tais como geração e propagação de ondas, cir-
culação hidrodinâmica, transporte de sedimen-
tos e mudanças da morfologia.
O módulo hidrodinâmico Delft3D-FLOW resolve
um sistema de equações de águas rasas em
modo bidimensional (ou integrado em vertical)
ou tri-dimensional. O sistema de equações
consiste nas equações horizontais de movi-
mento (conservação do momento), na equação
de continuidade, equações de transporte para
constituintes conservativos e um modelo de
fechamento turbulento. A equação vertical de
conservação do momento é reduzida à rela-
ção de pressão hidrostática e as acelerações
verticais são assumidas como sendo pequenas
em relação à aceleração da gravidade. Isso faz
com que o Delft3D-FLOW seja adequado para
a predição de fluxos em mares rasos, áreas
costeiras, estuários, lagos, rios e lagoas.
O modelo SWAN é baseado na equação de
conservação da ação de onda e é espectral
(em todas as direções e frequências). Isso
significa que um campo de ondas de cristas
curtas, randômico, propagando-se simultanea-
mente a partir de diferentes direções, pode ser
bem representado. O SWAN calcula a evolu-
ção de um campo de ondas de cristas curtas
randômico, em águas profundas, intermediá-
rias e rasas, assim como em ambientes com
presença de correntes (e.g. desembocaduras).
O modelo calcula os processos de refração
provocados por correntes ou por mudanças
na profundidade e representa os processos de
geração de ondas pelo vento, dissipação por
whitecapping (“carneirinhos”), fricção com o
fundo e quebra induzida pela profundidade,
assim como interações não-lineares onda-onda
(quadruplets e triads), explicitamente, com as
formulações que representam o “estado da
arte” em modelagem de ondas. Ondas bloque-
adas por correntes são também representadas
explicitamente no modelo.
71
As grades numéricas determinam a resolução e
delimitam as células de cálculo do modelo. As
propriedades e características variam, portan-
to, de acordo com o objetivo proposto, tipo de
modelagem aplicada e com a área de estudo.
Foram criadas três grades numéricas para
realizar a calibração do modelo.
Os levantamentos batimétricos (hidrográficos)
na área de estudo foram apresentados como
resultados nos relatórios dos projetos MAI
(2009) e MAPLAC (2010). Ambos os levan-
tamentos foram realizados com emprego de
ecobatímetro e utilizaram a mesma metodo-
logia. Além dos levantamentos batimétricos
realizados durante os projetos MAI (2009) e
MAPLAC (2010), em 2010, a CPE realizou
um levantamento batimétrico da praia média,
antepraia e plataforma interna de Jaboatão dos
Guararapes. Esses dados foram coletados com
o objetivo de subsidiar a elaboração do projeto
conceitual de recuperação da orla do muni-
cípio. Maiores detalhes sobre o levantamento
batimétrico podem ser encontrados em Coastal
Planning & Engineering (2011).
Fonte: Coastal Planning & Engineering (2011).
Grades numéricas aninhadas: R - Grade regional (branco). I – Grade intermediária (Azul). L – Grade local (vermelho). As grades foram utilizadas na modelagem e calibração dos modelos. Datum WGS 84, projeção UTM, zona 25 S, coordenadas em metros. Imagem: Google Earth ®.
72
Modelagem do cenário atual
Na faixa costeira, entender os processos hidro-
dinâmicos constitui atividade indispensável à
ocupação, uso e intervenção. Todas as ações
nesses ambientes essencialmente complexos e
dinâmicos devem ser minuciosamente estu-
dadas e testadas. Essas raras paisagens e de
variados ecossistemas merecem o máximo de
atenção para que sua manutenção e diversida-
de sejam conservadas.
O levantamento dos processos hidrodinâmicos
das orlas dos municípios de Jaboatão dos Gua-
rarapes, do Recife, de Olinda e do Paulista foi
realizado a partir de dados indiretos obtidos de-
pois de revisão bibliográfica, cartográfica e do-
cumental. Os estudos encontrados se baseiam
principalmente em dois modelos: o de ondas,
avaliando a hidrodinâmica e o de transporte de
sedimentos, contendo simulação de orientação
dos fluxos e direções do transporte de sedi-
mentos pelas mesmas. Esses estudos foram
realizados em três níveis de maré (MHHW, MSL
e MLLW), utilizando doze modelos de ondas e;
modelo da Morfologia e transporte de Sedimen-
tos, mudanças morfológicas, correntes, trans-
porte de sedimentos e processos de ondas.
Na aplicação desses modelos CPEB (2011),
adotou períodos de estabilização (spin-up time)
cerca de 745 minutos (um ciclo de maré semi-
diurna) (CPEB, 2011).
O CPEB (2011) elaborou um modelo acoplado
aos módulos Delft3D-FLOW e Delft3D-WAVE
para avaliar a propagação de ondas e o sistema
de correntes gerado nos quatro municípios.
Foram realizadas medições nos doze tipos de
onda previamente escolhidos, em três níveis de
maré, preamar média de sizígia (maré de lua
cheia ou nova), nível médio e baixa-mar média
de sizígia. As forçantes foram originadas nos
tensores de radiação computados pelo modelo
SWAN (CPEB, 2011).
O CPEB (2011) acoplou módulos Delft3D-WA-
VE, Delft-3D-FLOW e Delft3D-MOR na análise
do transporte de sedimentos e de mudanças
morfológicas. Foram utilizados, nessa simula-
ção, forçantes a maré morfológica e dos doze
casos representativos do clima de ondas. Cada
tipo de onda foi simulado em três ciclos de
maré. Foram registrados, como resultado, os
campos de correntes geradas tanto pela varia-
ção de marés quanto pelas ondas, para aferir
o transporte de sedimentos. Nesse modelo,
utilizou-se sedimentos na fração 0,3mm, em
amostras previamente coletadas. Com base em
imagens aéreas, foram delimitadas as áreas
com presença de arrecifes expostos, definidas
no modelo como área sem sedimentos dispo-
nível para os processos erosivos. Desse mesmo
modo, foram identificadas e classificadas as
áreas com estruturas antropogênicas (e.g. es-
pigões, quebra-mares e enrocamentos). Para o
calculo das alterações morfológicas, utilizou-se
os fluxos de erosão e deposição em cada célula
da grade multiplicas pelo fator de aceleração
73
morfológica (morfac) para cada caso de onda.
Os resultados foram apresentados de forma
esquemática de 1 e 5 anos respectivamente.
Os resultados obtidos por CPEB (2011), em
Jaboatão dos Guararapes, mostram que a
variação do nível de maré influencia significati-
vamente a propagação de ondas e campos de
correntes geradas por ondas. Durante a baixa-
mar, as ondas quebram nos arrecifes, locali-
zados a offshore, emersos, onde grande parte
da energia é dissipada. Nos períodos de maré
intermediária, parte das ondas não quebra
sobre os arrecifes, atingindo a praia, principal-
mente onde os mesmos são mais rebaixados
ou nem existem.
Ao analisar os mapas de batimetria inicial e
final, juntamente com os de erosão/sedimen-
tação, é possível observar que a praia de Barra
de Jangada, a norte da foz do rio Jaboatão,
apresenta erosão na porção subaérea do perfil
e deposição em sua porção subaquosa, praia
estável, com tendência deposicional em alguns
pontos. Quando analisado o modelo de 5 anos,
essa tendência a deposição passa de alguns
pontos para uma área bem maior (CPEB,
2011).
Para o Recife, os resultados obtidos por CPEB
(2011) mostram que as mudanças de maré
tem tido efeito significativo na quebra de ondas
e no campo de correntes gerado por elas. A
configuração de mar prolongado também vem
influenciando os padrões de circulação de
ondas. As ondas vindas de leste geram corren-
tes longitudinais próximas à praia no sentido
de norte para sul. Já nas ondas proveniente do
quadrante sul-sudeste, a corrente longitudinal
paralela à praia apresenta sentido de sul para
norte. Na baixa-mar, as ondas quebram mais
afastadas da costa, devido a menor profundida-
de dos arrecifes offshore.
Os mapas batimétricos mostram a existência de
uma região com característica deposicional no
extremo sul da praia de Boa Viagem. Ao norte,
a praia apresenta erosão da porção subaérea
e deposição na antepraia, onde o transporte
residual possui sentido sul norte bem próximo
à costa. Os padrões de erosão e deposição são
semelhantes nos resultados de 1 e 5 anos, com
maior magnitude na simulação de 5 (CPEB,
2011).
Em Olinda, os resultados apresentados por
CPEB (2011) mostram que o nível da maré
influencia significativamente a propagação de
ondas e os campos de correntes geradas por
onda. Na maré baixa, os arrecifes localizados
mais distantes da costa influenciam a quebra
de ondas e dissipam grande parte da energia.
Na maré alta (nível médio de maré e nível
médio de preamar), a quebra de ondas ocorre
mais próxima à costa.
Na costa do Paulista, os resultados por CPEB
(2011) indicam que a variação de maré tam-
bém influencia fortemente na quebra de ondas.
Na maré baixa, os arrecifes que estão na região
74
offshore ficam mais rasos, fazendo com que
ocorra uma dissipação da energia de onda na
área mais afastada da costa. Na maré alta, a
quebra ocorre na praia ou quebra-mares da
praia do Janga. A configuração morfológica e
feições batimétricas dos recifes criam correntes
perpendiculares à linha de costa. Essas fei-
ções, por sua vez, sofrem influência do nível de
maré, sendo um pouco mais intensas quando
da maré alta (CPEB, 2011).
Em toda a extensão da linha de costa, entre
a praia de Nossa Senhora da Conceição e o
pontal de Maria Farinha, predomina um caráter
erosivo, tanto na simulação de um ano quanto
de cinco anos. O transporte de sedimentos é
no sentido norte, intensificado na porção sul,
na praia de Nossa Senhora da Conceição, e ao
sul do rio Timbó, no pontal de Maria Farinha
(CPEB, 2011). Em toda a costa dos quatro mu-
nicípios, a propagação de onda e transporte de
sedimentos são fortemente influenciados pela
variação de maré e pela presença de estruturas
de dissipação e quebra da energia de onda,
que também oferecem barreira ao transporte
de sedimentos.
Balneabilidade das praiasA balneabilidade trata da qualidade das águas
destinadas ao contato primário, onde são rea-
lizadas atividades como natação, mergulho e
esportes aquáticos. São analisados os níveis de
bactérias do grupo coliforme na água para de-
terminar essa qualidade. Apesar de não serem
patogênicos, a presença dos coliformes indica
a ocorrência de poluição de origem humana ou
animal, o que pode significar a existência de
outros microorganismos danosos.
A Resolução do CONAMA nº 247/00 dá orien-
tações sobre como essas análises devem ser
feitas e classifica as águas como Próprias ou
Impróprias, de acordo com a densidade de co-
liformes fecal, E. coli e Enterococos. As águas
Próprias podem ser subdivididas nas categorias
Excelente, Muito boa ou Satisfatória. A classi-
ficação Imprópria indica um comprometimento
na qualidade sanitária das águas, porém, uma
praia pode entrar nessa classificação mesmo
com baixos níveis de coliformes, em situações
como presença de óleo, maré vermelha ou
doenças de veiculação hídrica.
Em Pernambuco, a CPRH é a responsável pelo
monitoramento da balneabilidade das praias
e realiza coletas todas as segundas-feiras, em
locais pré-determinados, escolhidos em função
da frequência do público e proximidade com
adensamentos urbanos. As amostras são leva-
das ao laboratório e analisadas utilizando o mé-
todo Determinação do Número Mais Provável
(NMP), que estima a densidade de bactérias. O
monitoramento permite informar os locais com
melhores condições de uso pelos banhistas,
assim como a sua frequência permite traçar os
perfis de balneabilidade das praias.
O monitoramento semanal realizado pela CPRH
permite atualizar os usuários das praias quan-
75
Condições das praias dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista, durante a semana de 16 a 22/12/2011.
Fonte: www.cprh.pe.gov.br
ESTAÇÃO PRAIA CLASSIFICAÇÃO
JABOATÃO DOS GUARARAPES
JAB-10 Barra de Jangada PRÓPRIA
JAB-20 Candeias PRÓPRIA
JAB-30 Candeias PRÓPRIA
JAB-40 Candeias IMPRÓPRIA
JAB-50 Piedade PRÓPRIA
JAB-60 Piedade PRÓPRIA
JAB-70 Piedade PRÓPRIA
JAB-80 Piedade PRÓPRIA
RECIFE
REC-10 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-20 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-30 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-40 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-50 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-60 Boa Viagem PRÓPRIA
REC-70 Pina PRÓPRIA
REC-80 Pina IMPRÓPRIA
OLINDA
OLD-10 Milagres PRÓPRIA
OLD-20 Carmo PRÓPRIA
OLD-30 Farol PRÓPRIA
OLD-40 Bairro Novo PRÓPRIA
OLD-50 Bairro Novo IMPRÓPRIA
OLD-60 Casa Caiada IMPRÓPRIA
OLD-70 Casa Caiada IMPRÓPRIA
OLD-80 Casa Caiada PRÓPRIA
OLD-90 Rio Doce PRÓPRIA
OLD-97 Rio Doce PRÓPRIA
PAULISTA
PAL-10 Janga IMPRÓPRIA
PAL-20 Janga PRÓPRIA
PAL-30 Pau Amarelo IMPRÓPRIA
PAL-33 Conceição IMPRÓPRIA
PAL-40 Maria Farinha IMPRÓPRIA
to às melhores áreas para fins de recreação,
sendo que a médio/longo prazo, é possível
traçar um perfil mais confiável da qualidade
das águas nos locais específicos. Os resultados
das análises são publicados no site da CPRH,
estando disponíveis para toda a população. A
tabela a seguir exemplifica os dados de classifi-
cação dos pontos de monitoramento segundo a
CPRH, durante a semana de 16 a 22/12/2011.
76
5
Flora aquáticaOs estudos relativos à composição da comunidade de microalgas planc-
tônicas (fitoplâncton), na Área Diretamente Afetada, são poucos princi-
palmente na zona de arrebentação. O fitoplâncton é o principal produtor
primário dos ambientes costeiros, responsável pelo início do fluxo de
matéria e energia da rede trófica destes ambientes, contribuindo para a
sua fertilização, sustentando diretamente os herbívoros e indiretamente
os animais dos níveis tróficos superiores, incluindo espécies economica-
mente importantes. A composição dessa comunidade é influenciada pelas
variações do nível das marés, bem como da contribuição dos estuários.
No diagnóstico realizado, a baixa riqueza de táxons (24) não condiz com
estudos dessa natureza para os locais amostrados.
Os grupos registrados (clorofíceas, diatomáceas, dinoflagelados e ciano-
bactérias) foram citados em levantamentos anteriores, mas não foram
registrados nas análises qualitativas. Um estudo considerando uma malha
amostral que contemple um maior número de estações, com as regiões
estuarinas incluídas, necessita ser realizado para o entendimento de como
o empreendimento afetara a comunidade fitoplanctônica nas praias e estu-
ários localizados na ADA e AID. Outro aspecto importante é considerar as
variações de maré e sazonalidade, observando a influência do continente
para a composição de espécies.
O perifiton é uma complexa comunidade de microrganismos (algas,
bactérias, fungos e animais), detritos orgânicos e inorgânicos aderidos a
substratos inorgânicos (rochas, conchas) ou orgânicos vivos ou mortos.
Rico em proteínas, vitaminas e minerais, constitui importante alimento
Como se apresenta o meio biótico na área do empreendimento?
77
Bellerochea sp.
Fonte: ITEP-OS/UFQB
para muitos organismos aquáticos. Sua quali-
dade alimentar é determinada pela composição
dos grupos de algas dominantes, influenciando
a produção secundária e o fluxo de energia dos
micro-organismos consumidores.
Com a efetiva participação na reciclagem de
nutrientes inorgânicos, quase toda produção
fotossintética é mineralizada continuamente no
biofilme perifítico. As macrolagas Dictiopterys
sp. (Paheophyceae) e Caulerpa sertularioides
(Chlorophyceae) foram eleitas como substrato,
por apresentarem ampla distribuição e abun-
dância no litoral de Pernambuco, nas praias
do Cabo de Santo Agostinho, de Jaboatão dos
Guararapes, do Recife e de Olinda. Foram
identificadas 10 taxa de microalgas epífitas nos
dois substratos, sendo um baixo número de
espécies, devido a amostragem ter sido
realizada somente uma única vez. Porém, fica
evidenciada, em nível de Divisão, a presen-
ça das três principais Divisões no ambiente
aquático marinho (Cyanobacteria, Rhodophyta
e Chlorophyta), representadas por espécies
cosmopolitas que pouco diferiam entre os
substratos. Neste caso, as diferenças florísticas
existentes entre os dois substratos analisados
poderiam estar relacionadas mais às desigual-
dades arquitetônicas dos dois hospedeiros, do
que às mudanças ambientais, que apresentam
pequenas variações em todo litoral do Estado.
Portanto, o monitoramento, em longo prazo,
deve trazer informações mais precisas sobre
a dinâmica desta comunidade, pois as micro-
algas têm uma alta taxa de reprodução em
curtíssimo intervalo de tempo, favorecendo-as
como indicadores rápidos da qualidade am-
biental da região onde habita.
78
Licmophora abbreviata
Chaetoceros sp.
Fonte: ITEP-OS/UFQB
Fonte: ITEP-OS/UFQB
79
Aspecto geral de Ceratium sp.
Fonte: ITEP-OS/UFQB
Entre os organismos bentônicos, aqueles que
vivem no sedimento, podem ser encontrados
representantes da flora, além de animais. Na
área do empreendimento, foram registradas
três espécies de angiospermas marinhas,
alimento preferencial do peixe-boi, nas praias
do Paulista e de Piedade, além de áreas mais
afastadas da costa no Recife e no Cabo de
Santo Agostinho. Destaca-se a presença da
espécie Halophila baillonis que ocorre, no
Brasil, exclusivamente nas Áreas de Influência
Direta e Indiretas do empreendimento. Embora
as angiospermas marinhas não apresentem um
número representativo de espécies, sua impor-
tância econômica, ecológica e biológica é alta,
sendo consideradas “engenheiras de ecossis-
temas”, por terem a capacidade de modificar
as condições hidrológicas, físicas e geológicas
dos ambientes. É fundamental o monitoramento
dessas plantas tanto durante as obras como
depois do engordamento das praias uma vez
que a manutenção dos bancos destas plantas
podem ser benéficas para o empreendimento,
por ajudarem na manutenção do sedimento na
área.
Importante produtor primário, as macroalgas
bentônicas tiveram registradas em literatura
mais de 100 espécies na área do empreen-
dimento, contudo, nas amostragens inicias
apenas 30 espécies foram identificadas. São
necessários maiores esforços de inventário de
espécies e seu monitoramento, uma vez que
esses organismos podem ser utilizados como
bioindicadores. Atualmente, por exemplo,
foram encontradas várias espécies que indicam
80
Aspecto de um prado de Halophila decipiens com destaque a fauna acompanhante
Fonte: //http: home.coqui.net/
áreas eutrofizadas (com muitos nutrientes), o
que pode ser alterado durante e depois das
obras propostas. Nas áreas de dragagem,
foram identificados bancos de rodolitos, algas
calcárias compostas basicamente por carbo-
nato de cálcio e de magnésio, que apresentam
importância econômica, por sua utilização na
agricultura, potabilização de água para consu-
mo humano, indústria de cosméticos, implan-
tes em cirurgia óssea, aquariofilia e nutrição
animal. Esses bancos devem ser mapeados
imediatamente, até porque eles não servem aos
fins de engordamento de praia devido a sua
alta taxa de carbonato.
Apesar de não estarem na área diretamen-
te afetada pela obra, encontramos na área
manguezais. Nessa área se encontram um
dos maiores manguezais em área urbana do
mundo, localizado no complexo estuarino dos
rios Pina, Jordão e Tejipió, além dos mangue-
zais dos estuários do rio Jaboatão e do canal de
Santa Cruz. Os manguezais desempenham fun-
ção prioritária na estabilidade da geomorfologia
costeira, na conservação da biodiversidade e
na manutenção de amplos recursos pesqueiros
devendo, assim, ser monitorados para garantia
de sua conservação e de toda fauna e flora
dependente.
81
Aspecto da angiosperma Halophila baillonis
Gracilaria sp., Rhodophyta
Fonte://http: aquaportail.com/
Foto: Cacilda Rocha (25/11/2011)
82
Sargassum sp., Heterokontophyta
Fonte://http: aquaportail.com/
Fauna aquáticaO zooplâncton consiste em uma parcela da bio-
ta marinha composta por vários representantes
heterótrofos (aqueles que não possuem a capa-
cidade de produzir seu próprio alimento). Eles
desempenham importante papel na transfe-
rência da energia das microalgas planctônicas
para elos superiores das teias alimentares mari-
nhas. Por essa razão, esses pequenos animais
são grupos-chaves na caracterização ambiental
de quase todos os ecossistemas aquáticos,
servindo como bioindicadores da qualidade
ambiental em curta e longa escalas de tempo.
O monitoramento da comunidade zooplanctô-
nica é essencial para um manejo adequado de
ambientes aquáticos, em todas suas escalas. A
partir da análise dos resultados obtidos no pre-
sente estudo, bem como uma breve síntese do
estado atual de conhecimento científico, foram
identificadas expressivas lacunas, na região em
questão, quanto aos estudos sobre a comuni-
dade zooplanctônica de ambientes costeiros
não estuarinos. O presente estudo consiste em
um dos primeiros levantamentos da composi-
ção e estrutura desta comunidade em vários
trechos da área do empreendimento.
Foram registrados 50 táxons zooplanctônicos,
todos típicos de regiões costeiras marinhas e
estuarinas brasileiras. Algumas áreas estuda-
das apresentaram vários grupos meroplanctô-
nicos, tais como larvas de medusas, planárias,
moluscos, poliquetos, decápodes, cirripédios,
ascídias e peixes, além de alguns organismos
83
Nauplius de Copepoda, típico de regiões costeiras tropicais de Pernambuco.
Foto: Cacilda Rocha (25/11/2011)
ticoplanctônicos (foraminíferos, copépodes
harpacticóides da meiofauna, além de isópodes
e anfípodes, que vivem associados à vegetação
aquática) de importantes ecossistemas bentô-
nicos.
Especial atenção deve ser dada à manutenção
da dinâmica das massas d’água costeiras que
banham os recifes costeiros, os bancos de
macrófitas e as áreas adjacentes às desembo-
caduras dos diversos estuários que deságuam
nesta área do empreendimento, de modo a
manter o equilíbrio nos ecossistemas. Espécies
e grupos típicos de tais ambientes podem servir
como bioindicadores, a curto e longo prazos,
da manutenção dessa dinâmica oceanográfica
costeira. Nesse caso, é extremamente necessá-
rio um acompanhamento desses táxons indica-
dores da qualidade ambiental durante todas as
etapas de consolidação do empreendimento.
Os organismos que compõem o ambiente ben-
tônico têm sido amplamente utilizados como
bioindicadores, uma vez que estão intimamente
associados a ele, respondendo a vários tipos de
alterações naturais e antropogênicas. Dentre os
organismos que ocorrem no sedimento, os que
constituem a meiofauna são de grande impor-
tância, pois desempenham papel fundamental
na teia alimentar. Participam como elo entre os
recursos basais (detritos e algas) e os peixes,
além de que, sua diversidade, junto com os
fatores abióticos, é um fator relevante para o
84
Macho do Copepoda Parvocalanus crassirostris, espécie muito comum no litoral de Pernambuco
Fonte: Xiomara F. García-Díaz
estudo desses ambientes. Com base nos resul-
tados obtidos no estudo, a meiofauna das áreas
estudadas não foge aos padrões encontrados
para outras áreas, tais como do estuário do rio
Jaboatão (Silva 1997), canal de Santa Cruz
(Da Rocha, 1991), Pina e Boa Viagem (Silva,
1997), onde os grupos mais representativos
são Foraminifera, Nematoda e Copepoda Har-
pacticoida. É possível observar que há alguns
pontos com baixa diversidade, como é o caso
de Jaboatão dos Guararapes e de Boa Viagem,
porém tal aspecto pode estar relacionado com
a flutuação sazonal normal, com a disponibi-
lidade de matéria orgânica, granulometria ou
pode estar refletindo um ambiente com certo
grau de impacto. Das áreas estudadas,
os pontos localizados na praia do Paulista
apresentam as melhores condições ambientais,
com dominância de Copepoda Harpacticoi-
da, que é indicador de ambiente com pouca
influência de matéria orgânica, detrito. Porém,
somente um monitoramento de longo prazo,
contemplando coletas nos diferentes períodos,
seco e chuvoso, e nos diferentes habitats (praia
e estuário) trará informações mais precisas
sobre as flutuações e o funcionamento dessa
comunidade que é de fundamental importância
para o conhecimento da qualidade do sedi-
mento e na transferência de energia no ecos-
sistema.
85
Fêmea do Copepoda Oithona hebes – espécie muito comum no litoral de Pernambuco
Fonte: Fernando F. Porto Neto
Fêmea ovada do Copepoda Euterpina acutifrons – espécie muito comum no litoral de Pernambuco.
Fonte: Xiomara F. García-Díaz
86
Vários motivos justificam o interesse pelo co-
nhecimento da fauna de praias. Muitas espé-
cies têm importância econômica direta, como
os crustáceos e moluscos utilizados na alimen-
tação humana ou como isca para pesca. A
esses são somados os poliquetas, que também
constituem rica fonte de alimento para alguns
organismos, principalmente peixes, crustáce-
os e aves (AMARAL et al., 1994). Além disso,
diversos estudos têm demonstrado a relevância
da utilização de comunidades bentônicas na
avaliação da qualidade ambiental.
As análises das amostras das praias de Jabo-
atão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e
do Paulista revelaram a ocorrência dos tá-
xons Crustacea Isopoda, Nematoda, Mollusca
(Bivalvia, Gastropoda, Scaphopoda), Polycha-
eta e Sipuncula, tendo Sipuncula (47,54%)
apresentado a maior abundância, seguido por
Polychaeta (20,77%) e Nematoda (15,85%).
Os demais grupos foram responsáveis por
15,85% do total.
A densidade total variou de 31,83 ind.m2 na
praia exposta de Jaboatão dos Guararapes a
3.023,94 ind.m2 na praia protegida do Pau-
lista. Não foram encontrados organismos na
praia exposta estudada no Recife, município
no qual foram encontradas as menores densi-
dades durante o estudo. Observou-se também
que as maiores densidades foram encontradas
nas praias protegidas em todos os municípios
analisados.
No total das amostras da área de jazida foram
encontrados 841 organismos de 31 táxons
diferentes. Em termos de grandes grupos
taxonômicos, Polychaeta foi o mais abundante
(37,81%), seguido por Crustacea (21,40%),
Mollusca (21,05%), Sipuncula (10,46%) e
Echinodermata (9,27%).
Dos 31 táxons encontrados, Bivalvia foi o único
constante com quase 87% de frequência de
ocorrência, enquanto que Gammaridea, Ophiu-
roidea, Polychaeta, Sipuncula e Scaphopoda
foram muito frequentes, e Paguroidea, Gastro-
poda, Isopoda e Portunus sp foram comuns. Os
outros 21 táxons foram considerados raros na
área estudada.
Imagem derepresentantes do Filo Foraminifera
Imagem de representante do Filo Nematoda
Imagem de representante da Ordem Harpacticoida
Fonte: http://migre.me/7F0vW
87
Paractaea r. nodosa (Stimpson, 1860). Macho em vista dorsal. Marca=0,5mm
Foto: Petrônio A. Coelho Filho
Os resultados obtidos podem estar relacionados
com a variação espaço-temporal, com a dinâ-
mica do ambiente ou podem estar refletindo
um ambiente impactado. As praias dos muni-
cípios estudados vêm sofrendo uma crescente
descaracterização em razão da ocupação
desordenada.
Também merecem destaque a crescente espe-
culação imobiliária, a mineração com retirada
de areia das praias e dunas, e o crescimento
explosivo e desordenado do turismo sem qual-
quer planejamento ambiental e investimentos
em infraestrutura.
Inachoides forceps A. Milne-Edwards, 1879. Macho em vista dorsal. Marca=1mm.
Pelia rotunda A. Milne-Edwards, 1875. Macho em vista dorsal. Marca=0,5mm.
Foto: Petrônio A. Coelho Filho
Sicyonia typica (Boeck, 1864). \Marca=1mm.
Foto: Petrônio A. Coelho Filho
88
Fonte: Paula B. Gomes
Recife de arenito costeiro na praia de Boa Viagem, Recife - PE.
Foto: Petrônio A. Coelho Filho
Na área afetada pelo empreendimento, o substrato consolidado está representado por ambientes
recifais. São entendidos como ambientes recifais aqueles ecossistemas de substrato consolidado
que possuem elevada cobertura viva, podendo incluir corais, e que apresentam fauna e flora típica
dos recifes costeiros. A diversidade de vida e a produtividade destes ambientes são bem elevadas,
reforçando sua importância ecológica. Na área do estudo são encontrados recifes de arenito cos-
teiros, em franja e também recifes artificiais compostos pelos quebra-mares dispostos previamente
em diversos pontos da orla para mitigar efeitos erosivos das ondas.
89
Recife artificial (quebra-mar) em Jaboatão dos Guararapes-PE.
Foto: Petrônio A. Coelho Filho
As amostragens realizadas na área diretamente
afetada pelo empreendimento revelam dois
tipos de comunidades bentônicas, aquelas as-
sociadas aos recifes naturais e as que habitam
os recifes artificiais (quebra-mares). Nos recifes
costeiros, a comunidade esteve composta por
representantes típicos destes ambientes, po-
rém, com baixa riqueza quando comparada a
outros recifes de áreas não urbanizadas.
Os quebra-mares funcionam como recifes
artificiais, porém apresentam uma comunidade
menos rica que os naturais devido à excessiva
altura. Abrigam uma fauna típica de ambientes
costeiros com longo tempo de exposição ao ar.
No entanto, a comunidade destes ambientes é
bem característica e será afetada pela abertura
dessas estruturas, com retirada direta de orga-
nismos e alterações nas condições químicas,
90
Exemplares de Uca rapax (Smith, 1870) coletado no quebra-mar de Olinda - PE.
Fonte: Paula B. Gomes
Banco de areia com presença de caranguejos chama marés (Uca rapax e Uca thayeri) em Olinda - PE.
Fonte: Paula B. Gomes
91
Exemplares de crustáceos cirripédios no quebra-mar de Jaboatão dos Guararapes - PE.
Fonte: Paula B. Gomes
Exemplares de ostras (Mollusca) no quebra-mar do Paulista - PE.
Fonte: Paula B. Gomes
92
físicas e biológicas do ecossistema.
O conhecimento da composição da assem-
bleia de peixes vem a ser uma das ferramentas
utilizadas para compreender o nível da inter-
ferência antrópica sofrida nessas regiões. A
comunidade de peixes é a mais diversificada
fauna de vertebrados conhecida e representam
o maior componente biológico em ecossistemas
costeiros (SALE, 1985).
Os peixes são o mais antigo e numeroso grupo
entre os vertebrados. São cerca de 24.000
espécies de peixes, número semelhante ao de
anfíbios, répteis, aves e mamíferos somados
(NELSON, 1994). As comunidades de pei-
xes apresentam numerosas vantagens como
indicadora nos programas de monitoramento
biótico e levantamentos, realizados em um
espaço de tempo definido e replicável. Permi-
tem importantes inferências sobre impactos
ambientais nos ecossistemas em questão.
Foram analisados 225 indivíduos distribuídos
em 42 espécies e 24 famílias. Os indivíduos
pertencentes às famílias Ariidae (Bagres) não
foram identificados em gênero e espécie, em
virtude do tamanho muito reduzido dos indiví-
duos, além do fato de alguns exemplares serem
danificados durante o arrasto. As famílias com
maior número de espécies foram: Gerreidae e
Sciaenidae, ambas com cinco espécies cada e
a Tetraodontidae com três diferentes espécies.
Todas as outras famílias apresentaram duas ou
uma única espécie. As espécies mais captura-
das durante as amostragens foram a carapeba-
branca, Diapterus rhombeus; n=58 (25,5%),
a solha ou linguado, Citharichthys spilopterus
n=37 (12,6%) e o coró, Stellifer stellifer, n=26
(11,5%) respectivamente.
Principais espécies de organismos marinhos, com enfoque para os peixes, coletados na zona de arrebentação do litoral de Pernambuco, destacando o juvenil de mero (círculo azul)
Fonte: Paula B. Gomes
93
Indivíduos de Cephalopholis fulva que são capturados pela frota artesanal, com armadilhas de fundo (covos), e são encontrados ao longo na plataforma continental do Estado
Fonte: Paula B. Gomes
94
Visão panorâmica da praia de Boa Viagem, Recife - PE
Fonte: Marcondes Oliveira
Flora terrestreHistoricamente, os ecossistemas costeiros no
Brasil foram os que maior impacto sofreram
principalmente pela ocupação desordenada e
especulação imobiliária, devido a sua posição
geográfica ao longo do litoral – local preferen-
cial para a ocupação, desde a colonização do
Brasil (Coimbra-Filho & Câmara, 1996).
Diversas áreas de vegetação nativa de floresta
atlântica, restingas, manguezais e zona de praia
foram suprimidos para ceder espaço à criação
de importantes centros comerciais e residen-
ciais, plantações de monocultura, especulação
imobiliária, extração de jazidas, exploração de
recursos vegetais e animais (Coimbra-Filho &
Câmara, 1996). A vegetação desses ecossis-
temas tem sido reduzida em cerca de mais de
90% de sua área (SOS Mata Atlântica, 1998).
A Zona Costeira de Pernambuco apresenta
um litoral com 187km de extensão, abrigando
grande diversidade de ecossistemas, como
praias, restingas, tabuleiros, cerrados, pontais
rochosos, recifes de corais, ilhotas e mangue-
zais (Andrade-Lima, 1960).
Nas zonas de praia, antedunas e dunas mais
próximas ao mar predominam espécies herbá-
ceas reptantes e rizomatosas, principalmente
ciperáceas e gramíneas, com destaque tam-
bém as jitiranas ou salsa da praia, bredo e
feijão da praia. Em alguns casos, arbustos e
árvores, que ocorrem de forma isolada e pouco
expressiva ou formando agrupamentos ou moi-
tas mais densos.
Árvore símbolo da praia, o coco-da-baía ou
coco-da-praia é a planta de maior represen-
tatividade ao longo de toda a orla das praias
nordestinas e, não poderia ser diferente na orla
pernambucana. Essas espécies acompanham
toda a costa. Com suas propriedades alimentí-
cias e medicinais, o fruto é bastante apreciado
pelos nordestinos, além de servir como orna-
mento urbano.
95
Ramos frutíferos de Anacardium occidentale L. (Cajueiro)
Ramo frutificado de Crotalaria retusa
Fonte: Marcondes Oliveira
A área de estudo, apesar de impactada,
apresenta importantes fitofiosonomias diferen-
ciadas, desde faixa de praia, pequenas dunas,
reduzido trecho de restinga e manguezal con-
tornando alguns estuários como os de Pirapa-
ma e de Jaboatão, de Beberibe, de Paratibe e
de Timbó.
A flora da orla da Região Metropolitana do Re-
cife apresenta-se mista, com diversas espécies
exóticas, ou seja, estrangeiras e, ruderais, com
ampla distribuição na natureza. Entre as espé-
cies nativas na faixa de praia, temos: Alternan-
thera littoralis var. maritima (Mart.) Pedersen,
Blutaparon portulacoides (Bredo-da-praia),
Canavalia rosea (Feijão-da-praia), Dalbergia
ecastaphyllum (Bugi), Fimbristylis spathacea,
Guapira pernambucensis, Guilandina bonduc,
Ipomoea pes-caprae (Salsa-da-prais), Ipomoea
stolonifera (Salsa-branca), Paspalum mariti-
mum, Paspalum vaginatum, Remirea marítima,
Sesuvium portulacastrum, Sophora tomentosa,
Sporobolus virginicus.
Foram detectadas importantes áreas para a
preservação da flora e da fauna costeira, como
estuários, manguezais e restinga, ambientes
associados à zona de praia. O impacto dos
ecossistemas é fato consumado e notório,
porém são urgentes e prudentes medidas
conservacionistas que visem minimizar esses
impactos, tais como poluição de resíduos sóli-
dos, redução de áreas naturais, exploração de
caça, pesca e retirada da vegetação, proteção à
desova de tartarugas marinhas.
96
Ramos floridos de Canavalia rosea
Ipomoea stolonifera (salsa-branca)
Dalbergia ecastaphyllum (bugi)
Gramínea Sporobolus virginicus
Fonte: Marcondes Oliveira
Fonte: Marcondes Oliveira
97
Fauna terrestreNas áreas Diretamente Afetada (ADA), de Influ-
ência Direta (AID) e de Influência Indireta (AII)
do empreendimento de “Recuperação da Orla
dos Municípios de Jaboatão dos Guararapes,
Recife, Olinda, Paulista e adjacentes” encon-
tram-se basicamente três ambientes propícios
à ocorrência da fauna terrestre, representantes
dos grupos dos anfíbios, répteis, aves e ma-
míferos: i. Ambientes aquático marinho com
registro de tartarugas marinhas; ii. Ambientes
aquático lótico, com registro principalmente de
cágados, jabutis e jacarés; iii. Ambientes flores-
tados em diferentes estágios de conservação,
com ocorrência marcante de anuros, lagartos,
serpentes, testudines e jacarés.
A fauna de vertebrados terrestres está repre-
sentada por 430 espécies, sendo 41 anfíbios
anuros, 59 répteis, 261 aves e 69 mamíferos.
Quanto aos anfíbios, todos foram registrados na
Área de Influência Indireta-AII do empreendi-
mento, sendo 26 em Jaboatão dos Guararapes,
28 no Recife, 19 em Paulista e 34 em Igarassu.
As espécies registradas podem ser enquadra-
das em nove famílias: Amphignathodontidae
(1 sp.), Brachycephalidae (2 spp.), Bufonidae
(4 spp.), Cycloramphidae (1 sp.), Hylidae (20
spp.), Leiuperidae (3 spp.), Leptodactylidae (7
spp.), Microhylidae (2 spp.) e Ranidae (1 sp.),
estando todas as espécies com ampla distribui-
ção, ocorrendo em grande parte do estado e
na maioria dos estados nordestinos, em es-
pecial em ambientes de Mata Atlântica, áreas
de transição entre Mata Atlântica e Caatinga e
em áreas abertas de Caatinga. Em relação aos
estágios de conservação, doze espécies encon-
tram-se classificadas como “pouco preocupan-
te” na lista de espécies ameaçadas da IUCN
(2010); estando todas ausentes dos Apêndices
I, II e III da CITES (2011), que também trata
das espécies sob ameaça de conservação.
Em relação aos répteis, foram registradas qua-
tro espécies nas Áreas Diretamente Afetada,
de Influência Direta e de Influência Indireta e
55 apenas na Área de Influência Indireta do
empreendimento. São 42 espécies registradas
em Jaboatão dos Guararapes, 12 no Recife, 18
em Paulista, 19 em Igarassu e 4 espécies nas
áreas costeiras dos municípios analisados – es-
sas últimas se destacam por ocorrerem simul-
taneamente nas Áreas Diretamente Afetada,
de Influência Direta e de Influência Indireta do
Empreendimento. Os répteis registrados estão
distribuídos em cinco grandes grupos, testudi-
nes (5 spp.), lagartos (19 spp.), amphisbaena
(1 sp.), serpentes (32 spp.) e jacaré (2 spp.).
No que se refere aos testudines, foram regis-
tradas duas famílias: Cheloniidae (4 spp.) e
Chelidae (1 sp.). Os amphisbaenídeos tiveram
registro de uma família: Amphisbaenidae (1
sp.). Os lagartos tiveram registro de dez famí-
lias: Gekkonidae (1 sp.), Gymnophtalmidae (2
spp.), Iguanidae (1 sp.), Leiosauridae (1 sp.),
Phyllodactylidae (1 sp.), Polychrotidae (4 spp.),
98
Scincidae (2 spp.), Sphaerodactylidae (1 sp.),
Teidae (4 spp.) e Tropiduridae (2 spp.). As ser-
pentes tiveram registro de seis famílias: Boidae
(3 spp.), Colubridae (6 spp.), Dipsadidae (16
spp.), Elapidae (1 sp.), Typhlopidae (1 sp.) e
Viperidae (5 spp.). Os jacarés tiveram registro
de uma família: Alligatoridae (2 sp.). Dentre as
espécies de répteis registradas, todas possuem
ampla distribuição, ocorrendo em grande parte
do Nordeste, em especial na Mata Atlântica e
algumas em áreas abertas de Caatinga.
Em relação ao status de conservação, qua-
tro espécies de tartarugas marinhas (Caretta
caretta, Chelonia mydas, Eretmochelys imbri-
cata e Lepidochelys olivacea) se encontram
classificadas pelo Ibama (2008) e IUCN (2010)
como criticamente em perigo; além das espécie
Caiman latirostris e Paleosuchus palpebrosus
comporem o Apêndice I e os squamatas Tupi-
nambis marianae, Iguana iguana, Boa constric-
tor e Epicrates cenchria comporem o Apêndice
II da CITES (2011).
Quanto as aves, quatorze espécies foram regis-
tradas simultaneamente nas Áreas Diretamente
Afetada, de Influência Direta e de Influência
Indireta e 247 registradas exclusivamente na
Área de Influência Indireta. Essas espécies se
enquadram em 46 famílias, sendo todas com
ampla distribuição, ocorrendo em grande parte
do estado e na maioria das fitofisionomias e
dos estados da região nordeste, em especial na
Mata Atlântica, áreas de transição entre Mata
Atlântica e Caatinga e em áreas abertas de
Caatinga. Uma parte menor de espécies ocorre
preferencialmente em áreas costeiras. Em re-
lação ao status de conservação, duas espécies
se enquadram na categoria de espécies em
perigo (Myrmeciza ruficauda e Curaeus forbe-
si), três na categoria de espécies quase amea-
çadas (Pyrrhura lépida, Thalurania watertonii e
Picumnus fulvescens), quatro na categoria de
espécies vulneráveis e 234 espécies na catego-
ria de pouco preocupantes segundo o IBAMA
(2008) e IUCN (2010); estando duas no Apên-
dice II (Pteroglossus aracari e Tangara fastuosa)
e duas no Apêndice III (Dendrocygna bicolor e
Cairina moschata) da CITES (2011).
Em relação aos Mamíferos, todas as espécies
foram registradas apenas na Área de Influência
Indireta-AII do empreendimento, especifica-
mente 31 espécies em Jaboatão dos Guara-
rapes, 47 no Recife e 33 em Paulista. Entre
as espécies, 48 representando a mastofauna
não alada e 21 a mastofauna alada (morce-
gos). Ressaltando o registro de oito espécies
que ocorrem em áreas urbanas. Em relação
aos status de conservação, uma espécie se
enquadra na categoria de dados deficientes
(Lontra longicaudis); uma espécie na categoria
de quase ameaçada (Leopardus wiedii); uma
espécie na categoria de vulnerável (Leopardus
tigrinus) e 52 espécies na categoria de pouco
preocupante segundo o IBAMA (2008) e IUCN
(2010); estando quatro no Apêndice I (Leopar-
dus pardalis, Leopardus tigrinus, Leopardus
wiedii e Lontra longicaudis), duas no Apêndice
II (Bradypus variegatus e Cerdocyon thous) e
99
cinco no Apêndice III (Cuniculus paca, Eira
barbara, Galictis vittata, Nasua nasua e Platyr-
rhinus lineatus) da CITES (2011).
Quanto ao uso pelas comunidades, destacam-
se duas espécie de anfíbios anuros (Leptodac-
tulus vastos e Leptodactylus latrans), cinco de
testudines (Caretta caretta, Chelonia mydas,
Eretmochelys imbricata, Lepidochelys olivá-
cea e Phrynops geoffroanus), uma de lagarto
(Tupinambis meriana), duas de jacaré (Caiman
latirostris e Paleosuchus palpebrosus), nove de
aves (Columbina passerina, Columbina minuta,
Columba livia, Columbina talpacoti, Leptotila ru-
faxilla, Geotrygon montana, Porphyrio martini-
ca, Gallinula chloropus e Ortalis guttata) e doze
de mamíferos (Cuniculus paca, Cabassous
unicinctus, Cavia aperea, Dasyprocta prymnolo-
pha, Dasypus novemcinctus, Didelphis albi-
ventris, Euphractus sexcinctus, Hydrochaeris
hydrochaeris, Leopardus pardalis, Leopardus
tigrinus, Nasua nasua e Tamandua tetradactyla)
por serem expressivamente utilizadas como
fonte de alimentação e consequentemente são
alvos de caça (espécies cinegéticas).
Destaca-se que embora tenhamos registrado
uma riqueza expressiva e quatro espécies criti-
camente em perigo de extinção, as populações
existentes são de ampla distribuição geográfica
e abundantes em todo território nacional, não
representando obstáculo a implementação da
obra almejada, desde que seja operacional-
mente efetuada dentro de critérios que possibi-
litem a conservação das populações relaciona-
das.
No que se refere aos impactos negativos para
a fauna de vertebrados terrestres é possível re-
conhecer dois núcleos, uma vez que a grande
maioria das espécies de anfíbios, répteis, aves
e mamíferos ocorrem na AII em áreas relati-
vamente distantes da costa: i. Destruição de
ninhos de tartarugas marinhas e o ii. Atropela-
mento e destruição das áreas de alimentação
e reprodução das tartarugas marinhas por
ocasião do tráfego das embarcações e da cons-
trução dos espigões decorrentes do empreendi-
mento. Tais impactos podem ser mitigados ou
controlados através de medidas e programas
que deverão ser realizados durante e depois da
implantação do empreendimento.
10
0
6
SocioeconomiaOs estudos efetuados pela equipe de socioeconomia para avaliar os im-
pactos com a implantação do projeto de recuperação da orla de Jaboatão
dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista destacaram alguns
pontos da caracterização dos municípios e de sua área de influência
direta:
• O crescimento populacional dos municípios intensificou-se no século
XX como resultado da atração populacional decorrente da concentra-
ção de investimentos na Região Metropolitana do Recife;
• A ocupação urbana ocorreu de forma desordenada e sem planeja-
mento;
• Existem grandes disparidades sociais, que se refletem no perfil da
ocupação da orla;
• A atual pressão populacional na parte sul da região metropolitana
é um importante impulsionador na ocupação mais intensa da orla,
principalmente de Jaboatão dos Guararapes e do Recife;
• As taxas de crescimento populacional indicam que o Recife e Olinda
estão apresentando menor atração populacional, tendo em vista as
menores taxas de crescimento populacional nos últimos anos;
• Os municípios apresentam perfil extremamente urbanizado;
• A expectativa de vida está aumentando, a população tem envelhecido
pela diminuição da taxa de natalidade, o que reduz a necessidade de
crescimento da infraestrutura para atendimento da primeira infância,
mas aumenta a necessidade de crescer a oferta de infraestrutura
para atendimento de idosos, desenvolvimento de novas tecnologias
Quais são os aspectos socioeconômicos da área do empreendimento?
10
1
medicinais, melhorias no atendimento
básico a saúde;
• Quase a metade do PIB estadual ocorre
nos municípios que receberão o projeto;
• O crescimento econômico do conjunto dos
municípios está pouco inferior à média
do estado, mas existe disparidade entre
os quatro, com a parte sul apresentando
crescimento bem mais intenso que a parte
norte;
• O PIB per capita é muito maior nos muni-
cípios do que no restante do estado;
• Os municípios de Jaboatão dos Guararapes
e do Paulista apresentam importante papel
no setor industrial do estado;
• No Recife, o setor de serviços é bastante
dinâmico, inclusive com a presença de
alguns APLs focados em conhecimento,
como o Porto Digital e o Polo Médico;
• Os níveis de escolaridade são mais ele-
vados nos municípios da AII do que no
restante do estado;
• O contingente populacional que reside
na área diretamente afetada é de 31.839
domicílios e 76.542 pessoas;
• O perfil socioeconômico médio dos domicí-
lios da orla apresenta evidências de maior
nível de renda, educação e composição
etária diferenciada do restante dos muni-
cípios, corroborando o fato de que as áreas
de orla são, proporcionalmente dentro dos
municípios, mais valorizadas;
• A ocupação da orla do Recife e de Jaboa-
tão dos Guararapes se faz de forma mais
densa e com unidades imobiliárias mais
valorizadas;
• A distribuição de moradores por domicílio
do Recife é mais concentrada nas uni-
dades menores. Isto indica que o perfil
socioeconômico, incluindo ainda o capital
social dos moradores, é diferenciado neste
município. Tendo em vista o alto valor dos
imóveis nesta região, pode-se supor que
o número de pessoas viúvas, divorciadas
e solteiras com alto poder aquisitivo seja
elevado na orla do Recife;
• Existe um grande diferencial na utiliza-
ção econômica da orla dos municípios.
O Recife possui um volume muito maior
de estabelecimentos do que os demais,
mesmo não possuindo a maior extensão
de orla. Jaboatão, que apresenta um perfil
de domicílios mais próximo ao de Recife
possui volume de estabelecimentos mui-
to menor. Olinda também tem número
expressivo de estabelecimentos, mas sua
área é superior à do Recife. Paulista é o
município que tem a menor densidade de
empresas situadas na orla.
10
2
Enrocamento, próximo ao Golden Beach (Jaboatão dos Guararapes - PE)
Vista do enrocamento da praia, próximo a praça de Boa Viagem (Recife – PE)
Limite da Praia de Piedade próximo ao Sesc Piedade (Jaboatão dos Guararapes - PE)
Fonte: Éder Lira de Souza Leão
Fonte: Éder Lira de Souza Leão
Os estudos socioeconômicos relativos à área
diretamente afetada se dividiram em duas
frentes, que usaram metodologias distintas. De
um lado, analisaram-se as atividades econômi-
cas voltadas à exploração da praia, tais como
ambulantes, barraqueiros, bares, restaurantes
e hotéis e a análise baseou-se em entrevistas
semiestruturadas. De outro, tratou-se a pesca
artesanal, que se baseou, além de entrevistas
semiestruturadas, em reuniões e oficinas.
Os empreendimentos de agentes econômicos,
tais como: ambulantes, quiosqueiros, donos de
bares e de restaurantes bem como de empre-
sários da hotelaria situados na orla marítima
de Pernambuco no percurso que se estende
de Jaboatão dos Guararapes ao Paulista vêm
sendo afetados diretamente e fortemente pelo
avanço do mar. Nem todos os empreende-
dores interpretam esse fenômeno como uma
ameaça aos seus negócios, uma vez que não
existem hotéis nas praias ao norte de Olinda.
10
3
Os ambulantes e donos de bares e quiosques,
por serem os principais afetados e por terem
sido transformados em “nômades da orla”,
têm uma melhor percepção do problema. São
empurrados sistematicamente e juntamente
com seus clientes, da areia em direção às cal-
çadas, quando estas existem. Porém, essa não
é a opinião de todo o grupo, pois muitos deles
atribuem a evasão de clientes à falta de banhei-
ros públicos, aos dejetos que são despejados
nas praias (no Paulista), a falta de segurança
diante da presença da marginalidade, tal como
a existência dos usuários de drogas, ao lixo não
recolhido pelas prefeituras, entre outros fatores.
Quanto ao Projeto Orla, os que o conhecem
têm dúvidas quanto à sua realização, embora
achem que ele viria estimular a clientela em
seus empreendimentos atraindo novos cientes,
especialmente o turista em busca de lazer.
Nenhum desses agentes econômicos demons-
trou preocupação com os efeitos sobre os
negócios, que envolveria a fase de operação e
implantação do projeto, talvez pelo descrédito
da realização da intervenção.
A pesca artesanal na região urbana do Grande
Recife, apesar de ser tratada como uma ativi-
dade marginal, representa historicamente uma
atividade socioeconômica forte, que engloba
milhares de pessoas e sustenta uma cadeia
produtiva grande, muitas vezes formada por
relações familiares e de parentesco. No Recife
e municípios vizinhos, a pesca assume propor-
ção não encontrada em outras áreas altamente
urbanizadas do país devido à presença de
inúmeros estuários e rios que cortam essas
cidades.
A pesca artesanal é multiespecifica, ou seja,
um pescador realiza diversas pescarias de
acordo com as condições oceanográficas,
biológicas e de mercado, podendo capturar a
lagosta em certa época, peixes que realizam
migração em outra ou mesmo a sardinha ou
peixes de menor valor comercial em outra épo-
ca. Na região estudada, é praticada uma série
de pescarias que podem ser resumidas em
pescarias de mar de fora, pescarias de mar de
dentro e a pesca estuarina. A pesca motorizada
é muito frequente e captura espécies de alto
valor comercial. A pesca estuarina é realizada
por um grande contingente de pessoas, em
sua maioria mulheres, e representa uma das
formas mais democráticas de geração de renda
na região estudada.
Em relação à cadeia produtiva, a pesca tem
características de dispersão espacial e perecibi-
lidade dos produtos, que dificultam os proces-
sos de conservação e comercialização, exigindo
assim complexos mecanismos logísticos entre
a produção e o consumidor final. Essas difi-
culdades favorecem a presença de inúmeros
elos na cadeia produtiva. Algumas espécies de
pescado passam por até quatro vendedores até
atingir o consumidor final, elevando o preço do
produto na ponta e diminuindo, consequen-
temente, o preço pago ao pescador na praia.
Essa complexa cadeia agrega uma série de
pessoas que são dependentes da pesca.
10
4
O foco da pesca artesanal nos municípios es-
tudados pode ser dividido em três direções ou
três classificações: a primeira reside em uma
pesca artesanal mais capitalizada, utilizando
embarcações de madeira ou fibra, a motor, as
quais pescam em áreas mais distantes da costa
até a região do talude continental (paredes)
e chamada de pesca de “mar de fora”. É nas
paredes que se realiza a pesca de linha, a qual
captura peixes nobres como a cioba. A segun-
da classe pode ser chamada de pesca de “mar
de dentro”, segundo denominação dos próprios
pescadores, é a pesca costeira, realizada na
região protegida pelos arrecifes, em geral com
pequenas embarcações (jangadas principal-
mente) ou mesmo desembarcada. Esse tipo
de pesca também é visualizada nos municípios
estudados, em menor proporção. Exceção para
a pesca de arrasto de camarão, que é realizada
nessa região com o auxílio de barcos de maior
porte. O terceiro grande contingente de pes-
cadores encontra-se envolvido em uma pesca
que exige menos capital – a pesca estuarina –,
realizada com o apoio de pequenas embarca-
ções a remo ou a vela (baiteras). As mulheres
são os grandes atores da região estuarina, onde
catam seus mariscos, sururus e outros molus-
cos. Em todos os municípios pesquisados a
pesca estuarina é realizada e depende dire-
tamente dos estuários e boa saúde da região
costeira e adjacências da praia.
A pesca e o meio ambiente são interdependen-
tes, sendo os impactos ambientais as princi-
pais causas da diminuição dos recursos nessa
região. Apesar de toda a poluição, estima-se a
partir da bibliografia consultada e de informa-
ções das instituições de representação dos pes-
cadores que aproximadamente 7.600 pessoas
realizem a pesca como atividade profissional na
região dos municípios do Cabo de Santo Agos-
tinho, de Jaboatão dos Guararapes, do Recife,
de Olinda e do Paulista – regiões que serão
diretamente afetadas pelo “Projeto Recupera-
ção da Orla Marítima”.
Foram realizadas entrevistas com lideranças
de pescadores, questionários semiestrutura-
dos (50) e dez reuniões e oficinas das quais
participaram 203 pescadores e pescadoras,
com o objetivo de levantar informações sobre
as comunidades e os impactos visualizados por
estes em relação ao “Projeto Recuperação da
Orla Marítima”. O projeto é prejudicial trazendo
inúmeros impactos negativos, por vezes não
mitigáveis para a pesca artesanal.
Diante das incertezas existentes em relação ao
projeto, principalmente no que tange a inexis-
tência de jazida de areia para a maioria das
engordas de praia propostas, o projeto deve ser
revisto. A participação dos pescadores e seu
conhecimento deveriam ter sido contemplados
quando da concepção da ideia e mesmo do
projeto. É altamente recomendável que um pro-
jeto desse porte reconheça o saber tradicional
de longas gerações e os impactos causados a
uma classe de profissionais que por direito é a
10
5
usuária legítima das regiões costeiras e estua-
rinas.
Vários impactos negativos podem ser citados
em relação ao “Projeto Recuperação da Orla
Marítima”. Os principais são ambientais e
causam a diminuição e mesmo o impedimento
da atividade da pesca artesanal. A diminui-
ção da produção poderá ser causada pela
dragagem dos sedimentos, pelos sedimentos
em suspensão na água, aterros de bancos de
moluscos, barulho e movimentação da dra-
ga, assoreamento de habitats (leito de rios e
lagoas, recifes, manguezais), entre outros. A
atividade da pesca também será prejudicada
com a movimentação das máquinas na obra,
as modificações na orla com possível impedi-
mento da atracação dos barcos, funcionamento
da draga e exclusão da pesca na região de inte-
resse de dragagem. As caiçaras e moradias de
pescadores também serão atingidas. Em menor
grau, cita-se uma série de impactos negativos à
pesca: dificuldades de trânsito de embarcações
e aumento de acidentes, aumento no número
de afogamentos na região de Suape e outras
onde ocorrerem às dragagens, dificuldades
para a comercialização de produtos pesqueiros
nas praias, dificuldades de acesso às praias,
problemas de saúde decorrentes do acúmulo
de lixo e propagação de pragas nas estruturas
de contenção e problemas de pele devidos a
matéria orgânica no sedimento.
O dimensionamento dos impactos positivos e
negativos apontados foi feita de forma quali-
ficada, ou seja, considerando que o cenário
descrito no projeto de engenharia fosse cumpri-
do. Contudo destacaram-se algumas incertezas
críticas que afetam sensivelmente a tomada de
decisão acerca do licenciamento ambiental do
projeto.
As incertezas críticas levantadas pela equipe
de socioeconomia são: i) impossibilidade de
estimar a viabilidade econômica do empreen-
dimento; ii) indefinições no projeto apresenta-
do sobre a tomada de areia; iii) divergências
sobre a melhor alternativa de engenharia no
tocante às estruturas rígidas; iv) inexistência de
detalhamento sobre impactos nos sedimentos
que se acumulam na comunidade da “Ilha do
Maruim”; v) cronograma de realização da obra
extremamente otimista e vi) necessidade de
manutenção constante do engordamento de
praia, o que gerará custos de manutenção altos
para as prefeituras, além de impactos ambien-
tais de longo prazo causados pelas dragagens.
Os impactos positivos recaem sobre um contin-
gente populacional bastante superior ao con-
tingente populacional que recebe os impactos
negativos e podem ser resumidos em valoriza-
ção dos imóveis da orla; aumento do bem estar
dos usuários das praias e aumento do potencial
turístico (não necessariamente do turismo)
das praias dos quatro municípios. Os impactos
negativos são de natureza transitória para os
10
6
moradores das parcelas mais valorizadas da
orla, mas algumas vezes permanentes para os
pescadores e moradores de áreas de orla me-
nos valorizados. A clássica solução de valorizar
as perdas da menor parcela da população que
será negativamente afetada é possível, mas
pode inviabilizar economicamente o projeto,
uma vez que as incertezas críticas fazem com
que o tamanho econômico dos impactos posi-
tivos seja bastante duvidoso e também porque
sobrecarregaria demasiadamente o futuro
orçamentário dos municípios.
A melhor alternativa parece ser o aprofunda-
mento dos estudos de engenharia, principal-
mente detalhando melhor as origens de areia e
o complemento do projeto de engenharia com
um projeto socioeconômico de implantação e
gestão da orla acoplado ao projeto de engenha-
ria. Um enriquecimento no projeto deste tipo
pode, por exemplo, propor que sejam criados
tributos específicos para os beneficiários do
projeto, de sorte a que as compensações am-
bientais e a manutenção da orla sejam garan-
tidas.
Patrimônio culturalA legislação federal aplicável ao patrimônio
histórico-cultural protege os conjuntos urbanos
e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e cien-
tífico. No estudo do Patrimônio Cultural relativo
ao Projeto Recuperação da Orla Marítima, a
contextualização etno-histórica envolveu parte
da faixa litorânea de Pernambuco; mais especi-
ficamente os municípios de Olinda, do Paulista,
do Recife e de Jaboatão dos Guararapes, que
integram atualmente a Mesorregião Metropo-
litana do Recife. Inclui-se aqui ainda, como
área de influência direta do empreendimen-
to, o município do Cabo de Santo Agostinho,
considerando-se que o ponto de dragagem faz
face àquele litoral. Na faixa litorânea destes
municípios, os estudos envolveram a busca
pela coleta de dados primários, de modo não
interventivo, além do levantamento de dados
secundários.
Durante o diagnóstico, foram levantados os
aspectos culturais dos municípios estudados,
incluindo o levantamento do patrimônio ima-
terial (festas, danças, comidas típicas, lendas,
artesanato), do patrimônio paisagístico, do
patrimônio espeleológico (cavernas e furnas)
e paleontológico, e do patrimônio material (ar-
queológico e histórico), relativos à AII.
Os aspectos relativos ao patrimônio imaterial
dos referidos municípios, no geral, correspon-
dem àqueles que ocorrem na região pernam-
bucana como um todo. Merece destaque as
festas populares como o Carnaval e o São João,
quando ocorrem manifestações culturais típicas
que envolvem grupos organizados como os
blocos de Carnaval, o Galo da Madrugada e
outros.
Entre as festas religiosas e profanas, desta-
10
7
cam-se a Festa da Pitomba em Jaboatão dos
Guararapes e a Festa da Lavadeira, uma festa
de cunho religioso realizada todo dia 1 de maio,
na praia do Paiva. Ainda no âmbito das festas
populares e religiosas, a corrida de jangadas no
Paulista e a Romaria ciclística a São Severino
do Ramos.
Ainda no âmbito do patrimônio imaterial, cons-
tam na lista gastronômica o Bolo Souza Leão,
a tapioca, além dos frutos do mar típicos da
região (peixes, camarões, caranguejo, sururu,
marisco, entre outros), os licores e doces ca-
seiros vendidos em barracas de rua nas áreas
de praia são famosos na região. São doces e
licores de frutas regionais produzidos artesanal-
mente. A passa-de-caju é um dos doces mais
procurados.
Há que se mencionar ainda a relação da popu-
lação com a orla marítima e as atividades que
nela ocorrem como cerimoniais e festividades
religiosas (manifestações dos cultos afro-bra-
sileiros), a pesca artesanal, além do uso como
lazer e o comércio informal.
O patrimônio paisagístico profuso na AII, na
realidade se sobressai como paisagem valoriza-
da. Facilmente a população consultada elenca
um número significativo de locais de interesse
paisagístico, onde certamente se incluem as
praias e as áreas de esporte e passeio náutico.
No âmbito da Área de Influência Indireta, al-
guns bens têm o reconhecimento como patri-
mônio paisagístico pela esfera federal, como o
conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagísti-
co de Olinda; o conjunto arquitetônico, urbanís-
tico e paisagístico do antigo Bairro do Recife;
o conjunto paisagístico do Sítio da Trindade,
estrada do Arraial n° 3250; a casa de Gilberto
Freyre - Vivenda Santo Antônio de Apipucos,
envolvendo as edificações e o sítio paisagístico
ao seu redor. Menção específica se deve aos
coqueirais, que outrora caracterizavam pratica-
mente todo o litoral.
Do ponto de vista do Patrimônio Espeleológi-
co, o Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil
(CNC) não registra a presença de formações
cavernícolas de interesse espeleológico na
Área de Influência Indireta (AII) deste empre-
endimento. A despeito da presença de rochas
carbonáticas, representada pelas Formações
Gramame e Maria Farinha do Grupo Paraíba,
presentes no litoral Norte de Pernambuco,
mesmo no litoral onde tais rochas se expõem
em contato com o mar, não há referências à
presença de cavernas.
Todavia, aquelas rochas carbonáticas têm
revelado a presença de alguns fósseis relatados
em pesquisas que precederam a explotação
industrial daqueles depósitos. Do mesmo
modo, se tem em Olinda, onde na década de
1940 foi identificada a ocorrência de depósitos
de fosforitos marinhos com considerável teor
em fosfato, associados aos arenitos calcíferos
da bacia sedimentar costeira nos estados de
Pernambuco e Paraíba. Kegel (1953) denomi-
10
8
nou de Formação Itamaracá esses arenitos cal-
cíferos de granulometria grossa com abundante
fauna cretácea e, posteriormente, Kegel (1955)
incluiu na referida formação a porção inferior
de arenitos friáveis, continentais, com restos de
plantas carbonizadas, por vezes conglomeráti-
cos, interdigitados com calcarenitos de fácies
marinhas anteriores.
O patrimônio material identificado na AII, do
ponto de vista histórico, representa o foco
inicial da ocupação histórica do Estado. Longa
é a lista dos bens tombados, sobretudo em
Olinda e no Recife, onde se destaca o conjunto
de igrejas que está entre os mais antigos do
Brasil. O rol de edificações históricas tombadas
(e em processo de tombamento), por institui-
ções do governo federal, estadual e municipal
abrange uma vasta gama de exemplares da
arquitetura histórica, envolvendo não apenas
edificações religiosas e de defesa, mas exem-
plares da arquitetura civil governamental e
particular. Quanto à distribuição temporal,
estão contemplados desde monumentos com
origem no século XVII, àqueles representantes
do século XX.
No âmbito do patrimônio material arqueológico,
estão registrados no Cadastro Nacional de Sí-
tios Arqueológicos do IPHAN (CNSA), 39 Sítios
arqueológicos. Todavia com base nas consultas
realizadas na sede do IPHAN em Pernambuco,
bem como em outras instituições de pesquisa,
foram arrolados mais 206 sítios arqueológicos,
sendo que 7 em Jaboatão dos Guararapes, 17
no Recife, 2 em Olinda, 4 no Paulista e 176 no
Cabo de Santo Agostinho.
A implantação do Projeto Recuperação da
Orla Marítima interferirá fisicamente em áre-
as urbanas, entretanto, no que concerne às
edificações reconhecidas como de interesse
histórico e arqueológico, tem-se o caso da área
onde provavelmente existiu a primitiva Igreja de
Nossa Senhora das Candeias, hoje destruída.
No trecho onde se supõe ter existido aquela
igreja, foram realizadas obras de contenção
marinha. De permeio com o material utilizado
nas obras, podem ser vistos blocos de calcário
com evidencias de trabalho de cantaria. Parte
desse material calcário foi reunido e transporta-
do por moradores interessados na preservação
do patrimônio, que de há muito sugerem que
sejam realizados estudos na área para a iden-
tificação do local e das ruínas da antiga igreja,
cuja construção remonta ao primeiro quartel do
século XVII.
As obras do empreendimento envolvem ainda
riscos com relação ao patrimônio arqueológico
não manifesto, além do natural e paisagístico.
A expectativa de tais riscos converge para as
áreas onde existiram obras de defesa, como
aquelas que cercavam a cidade de Olinda, em
que se inclui o Forte do Buraco.
As áreas a serem aterradas, em parte corres-
pondem àquelas que foram atingidas pelo
avanço das águas do mar. Entretanto, há que
se considerar o risco que a dragagem a ser
10
9
realizada representa para eventuais sítios ar-
queológicos subaquáticos não manifestos, visto
que o material para o engordamento das praias
será obtido a partir da dragagem de trechos do
leito oceânico nas proximidades do Cabo de
Santo Agostinho.
A grande maioria dos múltiplos naufrágios
listados na costa pernambucana é de localiza-
ção imprecisa ou desconhecida. O potencial
em termos de informações, de remanescentes
materiais destes sítios arqueológicos é dos
mais ricos. Quando identificados, os vestígios
de naufrágios apresentam um valor científico
agregado, representado pela exatidão cronoló-
gica dos remanescentes, que podem auxiliar
na datação de outros sítios arqueológicos. Por
outro lado, o ato de dragar acarreta em retira-
da de um pacote sedimentar, podendo expor
vestígios que estejam enterrados, ou mesmo
removê-los.
Considerando-se o potencial arqueológico da
área e avaliando-se a intensidade no local das
ações que interferirão fisicamente no leito
oceânico, no trecho considerado e adjacências,
as ações de dragagem, potencialmente pro-
moverão o deslocamento de vestígios arque-
ológicos eventualmente presentes na área;
alterações e mesmo inversões estratigráficas no
terreno contíguo, o que representa a destruição
do contexto arqueológico de uma área.
11
0
7Quais são os impactos do empreendimento?
Grupo de Discussão Multidisciplinar
Prognóstico Ambiental
A identificação dos impactos previsíveis em decorrência do empreen-
dimento de recuperação da orla marítima, as medidas que deverão ser
tomadas para minimizar os efeitos negativos e maximizar os positivos, em
todas as etapas da obra são, de fato, as informações e os instrumentos
essenciais para a sustentabilidade ambiental da área modificada. Por sua
vez, os Programas de Controle e Monitoramento Ambiental propostos para
acompanhar possíveis mudanças e adequar seu curso, contribuem para
a consolidação de um Sistema de Gestão Ambiental na área da bacia que
será afetada.
Os impactos identificados foram localizados, avaliados e descritos e,
para cada um deles, foram sugeridas medidas mitigadoras e de controle
ambiental, além de ações de monitoramento. Os impactos identificados
foram:
DESCRIÇÃO dos Impactos
AVALIAÇÃO dos Impactos
Matriz de Correlação(Meio físico - Meio Biótico -
Meio Socioeconômico)
MEDIDAS de Mitigação e Controle
PROPOSTAS de Monitoramento
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1
MEIO IMPACTO
Físico Aumento da oferta da praia
Propagação da linha de costa
Instabilidade do fundo arenoso
Aumento de processos erosivos
Risco de compactação da camada superficial da areia na área destinada
ao reforço do leito da praia
Alteração da qualidade da água
Geração de efluentes e resíduos sólidos decorrentes da obra
Modificação da dinâmica sedimentar
Aumento do nível de ruídos e vibrações
Alteração da qualidade do ar (emissão de gases e material particulado)
Risco de alteração da qualidade da água com óleos e graxas
Biótico Perda da área de alimentação/reprodução de espécies
Interferências sobre a fauna associada
Alterações que impliquem em extinção de espécies
Interrupção da migração de espécies
Perda de diversidade biológica
Favorecimento da seleção de organismos existentes
Destruição de ninhos de tartarugas marinhas
Atropelamento e destruição das áreas de alimentação e reprodução das tartarugas marinhas
Perda de biodiversidade e das características das comunidades vegetais
Socioeconômico Expectativa da população em relação à implantação do empreendimento
Eliminação de equipamentos disponíveis para atividades sociais e culturais
Risco de acidentes com a população local e o pessoal alocado às obras
Impactos sobre a população decorrentes da instalação das obras e canteiro de obras
Valorização imobiliária do entorno
Desvalorização imobiliária do entorno
Incremento das atividades econômicas
Paralisação e /ou redução de atividades econômicas
Alteração na oferta de emprego
Impactos sobre a saúde pública - doenças dermatológicas e bacteriológicas
Aumento do valor do imobilizado dos empreendimentos através da valorização dos imóveis onde
estão instalados os bares, restaurantes e hotéis
Aumento do número de clientes que resultarão em elevação de receita de todos os
empreendimentos: quiosques, bares, ambulantes, hotéis e restaurantes
Diminuição da demanda para os negócios dos grupos econômicos
Diminuição da produção pesqueira
Impedimento da atividade pesqueira
Impactos sobre as caiçaras e atividade produtiva dos pescadores realizada na beira-mar
Aumento de acidentes com embarcações e em terra
Diminuição das vendas de produtos pesqueiros nas praias durante as obras
Comprometimento de estruturas em terra devido a deposição de sedimento – Ilha do Maruim, Olinda
Restrição de acesso a área de praia
Aumento no número de afogamentos na área de Suape e outras áreas a serem
estabelecidas como áreas de tomada de sedimento
Possibilidade de aumento nos ataques de tubarão
Possibilidade de implantação de projetos turísticos
Aumento das receitas municipais
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2
Aumento da educação ambiental da população
Interferência no patrimônio cultural arqueológico, histórico de interesse arqueológico,
paisagístico e imaterial
Interferência no patrimônio cultural subaquático
Programas de acompanha- mento e monitoramento de impactos
O Programa de Acompanhamento e Monitora-
mento dos Impactos que se apresenta a seguir,
atende ao Termo de Referência da Agência
Estadual de Meio Ambiente (CPRH), TR GT Nº
14/11, para elaboração do Estudo de Impacto
Ambiental e do Relatório do Impacto Ambiental
(Rima) para implantação do empreendimento
Recuperação da Orla Marítima de Jaboatão, do
Recife, de Olinda e do Paulista e incorpora da-
dos dos estudos anteriores bem como as reco-
mendações decorrentes do presente trabalho.
O monitoramento ambiental durante e depois
da execução das obras é de fundamental
importância para garantir que o projeto exe-
cutivo seja corretamente implementado, bem
como para sugerir alguns ajustes que se façam
necessários, e avaliar os possíveis impactos
ambientais decorrentes da interferência no
meio ambiente.
Sistema de Gestão AmbientalO Sistema de Gestão Ambiental proposto para
o empreendimento tem seus fundamentos no
arcabouço legal pertinente e na articulação
interinstitucional necessária à sua efetivação.
Sua concepção busca favorecer e estimular a
participação da sociedade, não apenas no que
se refere aos programas educativos, mas em
todas as ações implementadas. Nesse sen-
tido, o processo de gestão incorporará como
instrumentos básicos os Programas Ambientais
apresentados no quadro seguinte, relacionados
aos temas maiores do EIA e sintetizados em
seguida.
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3
Programas de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos (PAs)
Temática do PA Denominação
MEIO FÍSICO PA 1 - Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
PA 2 - Programa de Monitoramento da Linha e do Perfil Praial
PA 3 - Programa de Monitoramento da Qualidade da Água e Balneabilidade
PA 4 - Programa de Recuperação de Restinga e Áreas de Dunas na Praia Engordada
PA 5 - Programa de Monitoramento Contínuo para Identificação de Hotspots de Erosão
PA 6 - Programa de Segurança do Trabalho
PA 7 - Programa de Acompanhamento da Execução das Obras
MEIO BIÓTICO PA 8 - Programa de Salvamento e Conservação da Fauna Marinha
PA 9 - Programa de Salvamento e Conservação da Fauna Costeira
PA 10 - Programa de Monitoramento da Flora Terrestre
PA 11 - Programa de Monitoramento da Fauna e Flora (Marinhas e Associadas)
PA 12 - Programa de e Resgate de Germoplasma e Conservação da Flora
MEIO SOCIOECONÔMICO PA 13 - Compensação Socioeconômica para Pescadores
PA 14 - Programa de Cooperativismo Pesqueiro
PA 15 - Programa de Melhoria da Qualidade e Beneficiamento dos Pescados
PA 16 - Capacitação em Zooartesanato
PA 17 - Programa de Capacitação Técnica e Profissional do Estaleiro Escola
PA 18 - Programa de Comunicação Social (PCS)
PA 19 - Apoio a Atividades Econômicas e Produtivas Ligadas Diretamente à Praia
PA 20 - Programa de Educação Ambiental
PA 21 - Prospecção e Resgate do Forte do Buraco
PA 22 - Programa de Prospecção e de Resgate Arqueológico
PA 23 - Programa de Prospecção Arqueológica Subaquática
PA 24 - Programa de Monitoramento, de Resgate Arqueológico e Educação Patrimonial
das Obras de Contenção e de Engordamento das Praias
PA 25 - Programa Paisagístico Integrando às Obras e às “Novas Praias”
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Prognóstico da qualidade ambientalO prognóstico ambiental foi elaborado com
base nas informações do diagnóstico ambien-
tal dos meios físico, biótico e socioeconômico,
bem como na sua análise integrada e avalia-
ção de impactos, apresentando uma análise
comparativa dos cenários ambientais para as
situações sem o empreendimento e com o
empreendimento.
Qualidade ambiental sem o empreen-dimentoO processo desordenado da ocupação urbana
ao longo das décadas associado às atividades
antrópicas, à urbanização, à construção de al-
ternativas inadequadas para o controle do pro-
cesso erosivo vem provocando a degradação da
orla marítima ao longo das décadas, revelando
uma tendência de grandes perdas do patrimô-
nio material e imaterial, representadas através
das perdas econômicas com a desvalorização
imobiliária, perdas do espaço público de lazer e
do turismo na região.
Prog. meio físico
Sistema de gestão ambiental
Prog. meio biótico Prog. meio sócioeconômico
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5
Esse processo de degradação avança, sendo
um processo progressivo contínuo.
A situação ambiental, no que se refere à faixa
de praia futura da área, sem o empreendimen-
to, pode ser prognosticada da seguinte forma:
• Sem a segmentação do quebra-mar, as as
ondas continuarão atingindo fortemente
a praia. Essa variação gera um gradiente
de pressão que induz correntes longitudi-
nais na zona de surfe (entre o arrecife e
a praia). Essas correntes são capazes de
transportar sedimento para fora do sistema
costeiro, servindo como um sumidouro
natural;
• O enrocamento não potencializará a
recuperação da praia preexistente como é
observado atualmente, devido aos pro-
cessos erosivos, o que reflete em perdas
econômicas;
• O engordamento (aterro hidráulico) terá
vida útil curta, devido aos processos erosi-
vos o que reflete em perdas econômicas;
• A área a ser recuperada retornará as condi-
ções atuais, prevendo-se o avanço do mar
sobre o calçadão.
Dessa forma, a não construção de uma obra
de porte sistêmico mantém esse status quo,
deixando os bens da população residente, bem
como a população usuária, além da infraestru-
tura pública, a mercê do avanço do nível do
mar e degradação progressiva da orla marítima.
Qualidade ambiental com o empreen- dimentoO projeto de recuperação da orla marítima tem
como finalidade reduzir os danos provocados
pelo avanço do mar nas últimas décadas, mi-
tigando o efeito da perda de área de acesso a
praia, bem com reduzindo o risco de perda dos
imóveis, equipamentos de infraestrutura e lazer
construídos na orla marítima.
Esta obra trará usos múltiplos, tendo em vista
que o espaço da orla garante o equilíbrio do
ecossistema praial, assegura o habitat susten-
tável da fauna e flora existentes, que propor-
cionarão uma melhoria da qualidade de vida
da população diretamente afetada, ao permitir
a dinamização de atividades econômicas e
aumento de emprego e renda. A obra também
vai oferecer um espaço de beleza paisagística e
de uso de área de lazer para a população local
e os turistas.
Ressalta-se que o processo de engorda da orla,
contemplando reposição de areia e constru-
ção de espigões, implica necessariamente na
ocorrência de vários impactos adversos sobre
o ambiente atual, cuja importância foi avaliada
e coberta por um conjunto de propostas de
mitigação e por Programas Ambientais, que
permitirão desenvolver a gestão ambiental da
área.
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6
Entre os impactos positivos, ressaltam-se a pro-
teção do patrimônio construído, estímulo à eco-
nomia local, fortalecimento do turismo, diversi-
ficação das atividades econômicas, contratação
de mão de obra e do fornecimento de produtos
e serviços ao empreendimento, contribuindo
para a geração direta de emprego e renda,
além de incentivar de forma indireta a geração
de postos de trabalho em outros setores.
Deve-se considerar que o aumento das de-
mandas de infraestrutura física e social da orla
marítima nos últimos anos, vem acontecendo
face à grande especulação imobiliária, particu-
larmente em razão do crescimento econômico
de Pernambuco. Este crescimento se deve à
existência de empreendimentos estruturado-
res, tais como o Complexo Portuário Eraldo
Gueiros (Suape), o Polo Industrial de Goiana,
bem como as obras estruturadoras, como a Via
Mangue, para atender as demandas futuras da
Copa do Mundo de 2014.
Durante a fase de implantação das obras de
controle da erosão na orla dos municípios do
Paulista, de Olinda, do Recife e de Jaboatão
dos Guararapes, o processo construtivo do
empreendimento que envolve ações como
manejo de materiais rochosos, manuseio de
equipamentos, movimentação de máquinas e
de trabalhadores, poderá apresentar os seguin-
tes prognósticos:
• Ficar submetida à instabilidade ambiental
e desequilíbrio da dinâmica natural do
ecossistema, prevendo-se temporariamente
a degradação da paisagem pela própria
exposição do canteiro de obras e movimen-
tação das máquinas, materiais e trabalha-
dores no local;
• O local em obras demonstrará uma situa-
ção de desconforto ambiental em decor-
rência da emissão de ruídos e lançamento
de poeiras, bem como pela situação de
alteração da paisagem pelas obras;
• Como efeito da situação de desconforto
ambiental, os estabelecimentos do entorno
sofrerão perdas temporárias, uma vez que
é previsível uma diminuição na frequência
de visitantes ao local, o que deverá per-
manecer até que as condições ambientais
favoráveis sejam restabelecidas;
• Temporariamente, o tráfego de veículos na
via principal e nas secundárias (vias de
acesso) sofrerá alteração no trânsito, uma
vez que haverá necessidade do transporte
de diversos materiais de construção civil e
máquinas pesadas;
• A qualidade da água nessa faixa de praia,
bem como no seu entorno, apresentará
alteração, tornando-se temporariamente
turva, devido o aumento de sólidos em
suspensão;
• Durante o período de instalação da
segmentação do quebra-mar e do en-
gordamento da praia, é provável que os
componentes da fauna e flora marinha
(ecossistema aquático), bem como as
relações tróficas estabelecidas, sofram
desequilíbrio em caráter temporário. Pos-
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7
teriormente, é notório que a obra se torne
um atrativo para a fauna e flora, criando-se
desta forma um novo habitat para algas e
organismos incrustantes.
Depois da segmentação do quebra-mar e en-
gordamento da praia:
• A segmentação do quebra-mar, para área
em foco, irá intensificar a troca de sedi-
mentos pelas correntes de retorno e permi-
tir a oxigenação da água, não afetando o
equilíbrio do ecossistema marinho;
• A paisagem local será alterada com a ins-
talação de uma nova feição a qual deverá,
a médio e longo prazo, ser reincorporada
aos cartões postais da orla marítima dos
municípios da Região Metropolitana do
Recife, restabelecendo a beleza anterior;
• A obra proporcionará a conservação da
faixa de praia recuperada com o aterro
hidráulico, gerando saldos positivos;
• A manutenção da praia recuperada, garan-
tida com o engordamento da mesma, redu-
zirá sensivelmente os custos com possíveis
reposição do aterro hidráulico;
• A faixa litorânea, no entorno, poderá levar
vários anos para estabelecer um novo equi-
líbrio, especialmente se houver transporte
de areia pela deriva litorânea. Por isso é
essencial o monitoramento posterior;
• Como a estrutura será construída paralela
a praia, ocorrerá significativa redução na
altura das ondas e ressacas que alcançam
a linha de costa promovendo, dessa forma,
o equilíbrio morfodinâmico;
• Na área de interferência física do quebra-
mar no ambiente aquático, ou seja, entre
a praia e o alto-mar, não há previsão de
alterações nos parâmetros físicos ou bio-
lógicos, desde que não haja intervenções
antrópicas no local.
O prognóstico desse estudo é o de que o
empreendimento recuperação da orla maríti-
ma dos municípios de Jaboatão, do Recife, de
Olinda e do Paulista deve ser implementado, o
que contribuirá para o desenvolvimento susten-
tável da região. A recuperação da orla marítima
corresponde ao principal impacto positivo deste
projeto.
ConclusõesO Estado de Pernambuco se encontra em gran-
de crescimento, em especial na Zona Costeira,
que apresenta a maior densidade demográfica
do Estado, concentrando atividades econômi-
cas, industriais, de recreação e turismo. Diver-
sos problemas ambientais têm se desenvolvido
no litoral pernambucano com destaque para
os processos erosivos ao longo da costa. Na
tentativa de contê-los, ao longo dos anos, di-
versas alternativas foram implementadas, como
a instalação de estruturas rígidas, a exemplo
de muros de proteção, diques, quebra-mares,
espigões e outras técnicas de contenção cons-
truídas para solucionar um problema local, e
que passaram a induzir o processo de erosão
em áreas próximas.
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8
Os municípios de Jaboatão dos Guararapes,
do Recife, de Olinda e do Paulista, localizados
na Região Metropolitana do Recife, sofrem
bastante com os processos erosivos causados
pela ação do mar ou como consequência das
estruturas de contenção instaladas, provocando
a destruição do potencial da orla para o turismo
e o lazer. A partir desse panorama, as prefei-
turas decretaram situação de emergência em
algumas áreas da orla marítima, o que levou
o Governo de Pernambuco a buscar medidas
para minimizar esses impactos, através de
projetos que considerem uma visão mais ampla
do Estado.
O empreendimento Recuperação da Orla Ma-
rítima dos municípios de Jaboatão dos Gua-
rarapes, do Recife, de Olinda e do Paulista é
uma ação estruturadora do Governo do Estado,
inserida numa política pública de controle das
Mudanças Climáticas. A recuperação da orla
marítima e recomposição das praias arenosas
proporcionarão melhores condições para o
desenvolvimento socioeconômico e ambiental
destes municípios, através de novas oportuni-
dades e melhores condições.
O Estudo de Impacto Ambiental (RIMA) foi de-
senvolvido com o objetivo de avaliar os diferen-
tes tipos de impactos ambientais, associados às
distintas fases de planejamento, implantação e
de operação do empreendimento. Foi realizado
um diagnóstico do ambiente a ser afetado, con-
templando os elementos ambientais dos meios
físico, biótico e socioeconômico, sendo iden-
tificados prováveis impactos, os quais foram
analisados e avaliados. Para mitigar, controlar e
até neutralizar o efeito desses impactos foram
propostas medidas mitigadoras, e elaborados
25 Programas Ambientais para subsidiar o de-
senvolvimento da Gestão Ambiental da área.
A análise dos impactos positivos e negativos
e a convicção da necessidade de obras estru-
turadoras concatenadas em políticas públicas
efetivas para a redução dos desastres recorren-
tes do avanço do mar no litoral pernambucano
mostrou que é importante e indispensável para
a implementação do empreendimento. Por fim,
considerando o caráter dinâmico e a especifi-
cidade do empreendimento, é possível que, ao
longo do tempo, ou até mesmo durante a fase
de discussão e análise deste EIA, seja neces-
sária a adoção de medidas complementares
não previstas neste documento. Assim sendo,
é relevante o acompanhamento sistemático de
todas as fases de operacionalização do empre-
endimento, de forma a possibilitar a adoção, de
modo proativo, de medidas complementares
que se fizerem necessárias. Do ponto de vista
técnico, pode-se considerar que os cuidados
ambientais prévios, as medidas mitigadoras
e de controle, quando bem implementadas,
contribuirão efetivamente para a viabilidade
ambiental da atividade descrita e avaliada neste
documento.
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