Análise Química de Degradação dos Hidrocarbonetos de Óleo Diesel no Estuário da Lagos dos...
-
Upload
rafaelfantunes -
Category
Documents
-
view
215 -
download
0
Transcript of Análise Química de Degradação dos Hidrocarbonetos de Óleo Diesel no Estuário da Lagos dos...
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
1/112
1
Fundao Universidade Federal do Rio GrandeDepartamento de Geocincias
Laboratrio de Oceanografia Geolgica
Curso de Ps-Graduao em Oceanografia Fsica, Qumica e Geolgica
Anlise Qumica da Degradao dos Hidrocarbonetos de leoDiesel no Esturio da Lagoa dos Patos Rio Grande/RS
Douglas Mayer Bento
Dissertao apresentada na UniversidadeFederal do Rio Grande, como parte dosrequisitos para obteno do ttulo de Mestreem Oceanografia Fsica, Qumica e Geolgica.
Orientador: Prof. Dr. Paulo BaischCo-orientadora: Profa. Dra. Isabel Machado
Rio Grande RSMaro 2005
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
2/112
2
melhor tentar e falhar do que
preocupar-se e ver a vida passar. melhor tentar, ainda que
em vo, que sentar-se fazendo nada at o final
M. Luther King
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
3/112
3
Agradecimentos
Ao orientador prof. Dr. Paulo Baisch pela oportunidade e pelosconhecimentos transferidos durante o curso de ps-graduao.
A co-orientadora profa. Dra. Isabel Machado pelo apoio nas horas difceis esempre com alguma soluo aos problemas enfrentados. Na verdade foste mais que umaco-orientadora s uma verdadeira amiga.
A profa. Dra. Elina Caramo pela sua fundamental cooperao edisponibilidade para realizao das anlises cromatogrficas.
A Agncia Nacional do Petrleo (ANP) pelo financiamento deste trabalho,pela bolsa de estudos e pelo apoio para complementao curricular.
Ao prof. Gilberto Griep coordenador do PRH-27 da ANP.
Ao prof. Dr. Jorge Costa e Msc. Vilsia Martins pela cooperao narealizao das anlises microbiolgicas e montagem do experimento.
Ao laboratrio de Oceanografia Geolgica, funcionrios e professores.
Aos colegas de mestrado (Guilherme, Luciano, Marina, Liziara, Salete,
Clarissa, e outros).
Ao Oc. Renato Koike pela amizade e disponibilidade nos momentos maisinoportunos.
Para um secretrio muito especial, valeu Clabisnei.
Aos amigos que conquistei durante esta jornada, que sempre me apoiaram.
A Hedi, a me da minha esposa, por ter sempre me incentivado.
Ao meu pai e a minha me, pois sem o carinho, amor e a amizade deles, noestaria aqui.
minha esposa e filha, que sempre tiveram pacincia e compreenso nashoras em que tive maior dificuldade, obrigado Niege e ndria, eu amo vocs.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
4/112
4
Lista de siglas
ANP: Agncia Nacional do Petrleo
B(a)P: Benzo(a)Pireno
COT: carbono orgnico total
CPI: Carbon preference index(ndice preferencial de carbonos)
Eh: potencial de oxirreduo
F1: frao da extrao dos hidrocarbonetos alifticos
F2: frao da extrao dos HPAsGC-MS: cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas
HPAs: hidrocarbonetos policclicos aromticos
ND: no detectvel
p: nvel de significncia
pH: potencial hidrogeninico
UCM: Unresolved Complex Mixture (mistura complexa no resolvida)
USEPA: United States Environmental Protection Agency(Agncia de Proteo Ambiental
do Estados Unidos)
HPAs: somatrio de hidrocarbonetos policclicos aromticos
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
5/112
5
Lista de Unidades
%: porcentagemg/g: micrograma por grama
g/Kg: micrograma por quilograma
g: micrograma
L: microlitro
m: micrometro
cm: centmetro
g: grama
keV: quilo eltron-volts
Kg/m3: kilograma por metro cbico
Kg: quilograma
L: litro
m: metro
m3: metro cbico
mg: miligrama
min: minutosmL: mililitro
mm: milmetro
mV: milivolts
N: normal (normalidade da soluo)
ng/g: nanogramas por grama
ng/Kg: nanogramas por quilograma
nm: nanometrosoC: grau Celcius
ppb: partes por bilho
ppm: partes por milho
s: segundos
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
6/112
6
ndice
Agradecimentos 3
Lista de siglas 4Lista de Unidades 5
1- Introduo 15
2- Objetivos 19
3- Reviso Bibliogrfica 19
3.1- Histrico de acidentes envolvendo derrame de petrleo e seus derivados 19
3.2- Tempo de residncia relacionados aos processos de intemperizao do petrleo no mar 21
3.3- Caracterizao dos hidrocarbonetos do petrleo 22
3.4- Classificao qumica e fsica dos hidrocarbonetos do petrleo 23
3.5- Biossurfactantes 27
3.5.1 - Processos de biodegradao do petrleo por bactrias e fungos 283.5.2- Biodegradao da frao saturada 293.5.3- Biodegradao da frao aromtica 303.5.4- Microrganismos capazes de degradar hidrocarbonetos 303.5.5- Efeito de fatores fsicos e qumicos na biodegradao 31
3.6- Dispersantes Qumicos 32
4- Material e Mtodos 354.1- O experimento e stio de estudo 35
4.2- Tipo de leo usado no experimento 37
4.3- Produo do biossurfactante peloAspergillus fumigattus 37
4.3.1- Fermentao em Estado Slido 37
4.4- Limpeza dos materiais e preparao dos reagentes 38
4.5- Amostragem de sedimento 38
4.6- Anlise in situ 38
4.7- Anlise granulomtrica e porosidade 394.8- Contagem de bactrias e fungos 39
4.9- Anlise dos nutrientes 39
4.9.1- Carbono orgnico total (COT) 404.9.2- Nitrognio total 404.9.3- Fsforo total 40
4.10- Anlise dos hidrocarbonetos 41
4.10.1- Esquema das anlises dos hidrocarbonetos 44
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
7/112
7
4.11- Tratamento dos dados 45
5- Resultados e Discusso 47
5.1- Anlise granulomtrica 475.2- Potencial hidrogeninico (pH) e potencial redox (Eh) 49
5.3- Monitoramento microbiolgico 51
5.3.1- Experimento com leo diesel 525.3.2- Experimento com o biossurfactante 525.3.3- Experimento com o dispersante qumico 53
5.4- Anlise dos nutrientes- COT, nitrognio total e fsforo total 53
5.4.1-Carbono orgnico total 535.4.2- Nitrognio total 56
5.4.3- Fsforo total 595.5- Anlise dos resultados de hidrocarbonetos alifticos e aromticos 61
5.5.1- Anlise dos cromatogramas 635.5.1.1- Evoluo da concentrao dos hidrocarbonetos alifticos 635.5.1.2- Evoluo da concentrao dos HPAs 71
5.5.2- Discusso dos resultados obtidos por meio dos cromatogramas anlise dasconcentraes 77
5.5.2.1- Hidrocarbonetos Alifticos 775.5.2.2- Hidrocarbonetos Policclicos Aromticos (HPAs) 82
6- Concluses 89
7- Recomendaes 91
8- Bibliografia 92
9.- Anexos 103
Anexo .9.1 103
Anexo 9.2 105
Anexo 9.3 107
Anexo 9.4 110
Anexo 9.5 112
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
8/112
8
ndice de tabelas
Tabela 1 Estruturas qumicas e efeitos txicos dos 16 HPAs considerados como poluentes
de prioridade ambiental pela EPA (Agncia de Proteo Ambiental) norte americana (Simset al, 1988). 26
Tabela 2 Taxas de biodegradao de algumas espcies de HPAs (USEPA, 2000) 31
Tabela 3- Composio mdia (%) do solo acondicionado em cada uma das caixas usadasneste trabalho 47
Tabela 4 Resultado do pH durante o experimento por 180 dias 50
Tabela 5 Resultados Eh (potencial redox) durante o experimento por 180 dias 51
Tabela 6- Contagem de fungos e bactrias em cada um dos ensaios 52
Tabela 7- Resultados de carbono orgnico total, em porcentagem, para cada experimento 55Tabela 8- Resultados de nitrognio total, em porcentagem, para cada experimento. 58
Tabela 9- Resultados de fsforo total, em porcentagem, para cada experimento. 60
Tabela 11- Comparao da fonte de n-alcanos ao meio ambiente. Fonte adaptada (Bishop,1983 e Medeiros 2000). 78
Tabela 12- Concentraes de n-alcanos totais em sedimentos. Fonte: adaptado deTaniguchi, 2001 80
Tabela 13- Mostra a concentrao inicial e final, expressa em ug/kg, dos HPAs. 82
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
9/112
9
ndice de figuras
Figura 1- Tempo e fatores que agem na intemperizao do leo (Clark, 1989 adaptado) 21
Figura 2- Frmula estrutural plana do metano 24
Figura 3- Frmula estrutural plana do eteno 24
Figura 4- Frmulas estruturais planas, respectivamente, do metil-propano e do fitano 24
Figura 5- Frmula estrutural plana do ciclo hexano 25
Figura 6- Frmula estrutural do benzeno 25
Figura 7- Biodegradao de um n-alcano 29
Figura 8- Biodegradao do fenantreno 30
Figura 9 - Representao da ao do dispersante sobre uma mancha de leo (IPIECA,1993). 33
Figura 10- Mapa de localizao do esturio da Lagoa dos Patos e localizao da Ilha dosCavalos 35
Figura 11- Esquema do experimento. 36
Figura 12- Local das caixas no ambiente em estudo 36
Figura 13 - Diagrama triangular de classificao granulomtrica (Shepard, 1954) dosvalores mdios do sedimento da caixa do leo, dispersante e biossurfactante. 48
Figura 14 - Cromatograma do leo diesel do 1odia do experimento 64
Figura 15- Cromatograma da caixa do leo diesel aps 30 dias do experimento. 65Figura 16- Cromatograma do leo diesel aps 180 dias do experimento. 66
Figura 17- Cromatograma do dispersante do 1odia e do 30odia do experimento 67
Figura 18- Cromatograma do dispersante aps 180 dias do experimento 68
Figura 19- Cromatograma do biossurfactante do primeiro dia do experimento 69
Figura 20- Cromatograma da caixa do biossurfactante aps 90 dias do experimento. 70
Figura 21- Cromatograma do leo diesel aps 180 dias do experimento. 70
Figura 22- Cromatograma do leo diesel do 15odia aps o inicio do experimento 71
Figura 23- Cromatograma da caixa do leo diesel 180 dias aps o inicio do experimento. 72
Figura 24- Cromatograma do dispersante do 1odia do experimento 73
Figura 25- Cromatograma da ao do dispersante aps 30 e 180 dias do inicio doexperimento 74
Figura 26- Cromatograma do biossurfactante do 1oe do 15odia do experimento 75
Figura 27 - Cromatograma da caixa do biossurfactante aps 90 e 180 dias aps o inicio doexperimento. 76
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
10/112
10
ndice de grficos
Grfico 1- Comparao da concentrao final do fenantreno nas 84Grfico 2- Comparao da taxa de degradao HPAs > 4 anis 85
Grfico 3- Comparao da taxa de degradao durante 180 dias 86
Grfico 4- Comparao da taxa de degradao HPAs com 3 anis aromticos 87
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
11/112
11
Resumo
As tcnicas convencionais de limpeza de reas contaminadas com petrleo e seus
derivados podem ser complementadas com a remediao, pelo uso de dispersantes
qumicos ou de biossurfactantes. A biorremediao minimiza o impacto de substncias
recalcitrantes no ambiente. O dispersante qumico pode promover a biodegradao mais
rpida do leo, mas a sua aplicao deve ser sempre avaliada por profissionais
especializados em meio ambiente, j que ela pode ser vista como uma introduo
deliberada de um contaminante. O presente trabalho avaliou a influncia da utilizao de
um dispersante qumico e de um biossurfactante (produzido pelo fungo Aspergillus
fumigattus), em derrame controlado de leo diesel, ocorrido na primavera/2003 na Ilha dos
Cavalos localizada no esturio da Lagoa dos Patos. O ambiente foi monitorado durante seis
meses, selecionando-se um local com leo diesel, outro com leo diesel e dispersante
qumico e outro com leo diesel e biossurfactante. Foram analisados os seguintes
parmetros fsico-qumicos: granulometria, pH, Eh, COT, nitrognio e fsforo total do
sedimento, hidrocarbonetos alifticos e aromticos. O tratamento estatstico consistiu na
anlise de varincia (ANOVA) e no teste de Tukey (p< 0,05), para os nutrientes analisados.Os hidrocarbonetos aromticos e alifticos provenientes da degradao do leo diesel
foram determinados por CG-MS. Os resultados mostraram que o uso de tcnicas
alternativas, principalmente com a introduo de espcies no nativas, deve ser bem
estudado antes de ser aplicado, pois na caixa onde houve adio do fungo Aspergillus
fumigattusa biota microbiana demorou a se recuperar, e a taxa final de degradao nas trs
caixas foram muito parecidas.
Palavras Chave: hidrocarbonetos, biodegradao, remediao e leo diesel.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
12/112
12
Abstract
The conventional cleaning techniques of infected areas with petroleum and itsderived products can be complemented by remediation, with the use chemical surfactants or
biosurfactants. Bioremediation minimizes the impact of recalcitrant substances in the
environment. The chemical surfactant can promote fast oil biodegradation, however, its
application should always be evaluated by specialized professionals in environment, in
order do avoid the understanding it is a deliberated introduction of a pollutant. In such case,
this work evaluated the influence of using a chemical surfactant and a biosurfactant
(produced by the fungus Aspergillus fumigattus) in a controlled spill caused by oil diesel,
that happened during the springtime of the year 2003, in the Horses Island, located in the
estuary of the Patos Lagoon. The environment was monitored for six months, and there
were areas with only oil diesel, only oil diesel and chemical surfactant and, finally, areas
with oil diesel and biosurfactant. The following physical-chemical parameters were
analyzed: granulometry, pH, Eh, COT, nitrogen and aliphatic and aromatic hydrocarbons.
The statistics consisted of variance analysis (ANOVA) and Tukey test (p
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
13/112
13
O trabalho est disposto em captulos, com a seguinte ordem: Captulo I- AspectosTericos, Captulo II- Material e Mtodos, Captulo III- Resultados e Discusso e Captulo
IV- Concluses, com o objetivo de facilitar a leitura, interpretao e o entendimento, onde
cada captulo apresenta as seguintes subdivises:
Captulo I- Nesse captulo sero abordados a introduo, objetivos, histrico de casos de
derrame de leo no Brasil, tempo de residncia relacionados aos processos de
intemperizao do petrleo no mar, caracterizao dos hidrocarbonetos do petrleo,
classificao qumica e fsica dos hidrocarbonetos do petrleo, processos de biodegradao
do petrleo por bactrias e fungos, biodegradao da frao saturada e aromtica,
microorganismos capazes de degradar hidrocarbonetos, efeito de fatores fsicos e qumicos
na biodegradao, dispersantes qumicos.
Captulo II- Sero demonstrados os materiais e mtodos, a montagem do experimento, o
tipo de leo, a produo do biossurfactante, a limpeza dos materiais, a amostragem do
sedimento, a anlise in situ, a anlise granulomtrica, a anlise dos nutrientes, a anlise doshidrocarbonetos e as condies cromatogrficas.
Captulo III- Neste capitulo ser feita anlise dos resultados e discusses da granulometria,
pH e Eh, nutrientes, hidrocarbonetos alifticos e aromticos.
Captulo IV- Este captulo tem como objetivo apresentar as concluses do trabalho e
sugestes para trabalhos posteriores.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
14/112
14
Captulo - I
Aspectos Tericos
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
15/112
15
1- Introduo
Os combustveis fsseis so as principais fontes de obteno de energia para
a civilizao atual e o crescente aumento do consumo mundial tem acarretado a sua
introduo no ambiente marinho (Marques Jr., 2002). Nesse ambiente, processa-se a maior
parte do transporte e o desembarque do petrleo do mundo, atividades essas que aumentam
a probabilidade de serem verificados acidentes com tais produtos. Esses acidentes causam
diferentes tipos de impacto em vrios ecossistemas marinhos mundiais atravs de eventos
crnicos ou crticos de contaminao, da a necessidade de um estudo constante desse
ambiente.Os acidentes ambientais relacionados com petrleo so eventos considerados
comuns em todo mundo. Como exemplo recente cita-se o acidente com o petroleiro
Prestige, que afundou na costa da Espanha, em dezembro de 2003, levando grande parte do
combustvel de seus tanques para o fundo do Atlntico, local que uma das reas mais
ricas para pesca da Espanha (Martins, 2005). No caso do Brasil, pode-se citar o navio
Vicua de bandeira chilena carregado de metano e leo, que explodiu em novembro de
2004 no porto de Paranagu/PR (SEMA, 2005). Este e outros acidentes esto diretamente
associados crescente atividade econmica ligada ao setor de petrleo.
A composio qumica do petrleo, conforme Freedman (1995) e Marques
Jr. (2002), complexa, varivel e extremamente influenciada por condies fsico-
qumicas, biolgicas e geolgicas do ambiente de formao. O petrleo natural ocorre
como uma mistura de compostos orgnicos, principalmente hidrocarbonetos que so,
quantitativamente, os mais importantes constituintes do petrleo, podendo ser divididos em
trs partes: alifticos, alicclicos e aromticos.
Os leos crus contm muitas substncias txicas como benzeno, tolueno,
xileno alm de outras substncias de baixo peso molecular (Kennish, 1996). No petrleo
tambm so encontrados cidos, fenis, compostos com enxofre (sulfetos, tiis e tiofenis)
e hidrocarbonetos policclicos aromticos. Da srie das parafinas, das olefinas at os
aromticos verifica-se que a toxidade aumenta (Kennish, 1996). Durante um derrame de
petrleo, as molculas de menor peso molecular sofrem, durante as primeiras 24 e 48 horas,
um forte processo de evaporao e dissoluo. Esse fato produz uma importante mudana
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
16/112
16
na composio do leo, reduzindo o impacto na comunidade de organismos e no ambiente
aqutico.
A Agncia de Proteo Ambiental (Environmental Protection Agency EPA) dos Estados Unidos lista vrios hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPAs)
como compostos poluentes de prioridade ambiental e que devem ser freqentemente
monitorados em efluentes industriais, devido ao fato de serem considerados como
carcinognicos, mutagnicos, teratognicos, alm de possurem efeitos txicos aos seres
vivos (Keith & Tellierd, 1979; Eilser, 1987; Odum, 1988; Lijinsky, 1991; Kennish, 1992) e
terem a capacidade de se bioacumularem nas diferentes cadeias alimentares (Godsy, 1983;
Marques Jr., 2002). Por isso existe um interesse crescente de se entender o destino e asformas de desaparecimento dos hidrocarbonetos para que haja o desenvolvimento de
mtodos mais eficientes de remoo dos mesmos do meio ambiente.
Os constituintes do petrleo so molculas hidrofbicas, apresentando baixa
solubilidade em gua, o que contribui para sua persistncia no meio ambiente. Os
hidrocarbonetos sofrem uma adsoro nas partculas do material em suspenso, o que
provoca forte tendncia a acumularem-se nos sedimentos (Ehrlich, 1982; Bcego, 1988;
Kennish, 1996).
Bcego (1988) afirma que, aps o derrame no mar, o petrleo fica sujeito a
uma srie de processos fsicos, qumicos e biolgicos, acarretando a sua disperso no meio,
e alteraes em suas caractersticas fsicas e qumicas, sendo que a degradao pode
apresentar-se muito diferente conforme a proximidade da linha da costa.
Estudos realizados pelo UNEP (1991) demonstram que a velocidade de
degradao do petrleo depende das caractersticas fsicas e qumicas do leo, das
condies do tempo e do clima. Nos sedimentos aquticos, os hidrocarbonetos sodegradados muito lentamente na ausncia de luz e oxignio. A degradao microbiolgica
possui uma seqncia preferencial de compostos a serem degradados. Os hidrocarbonetos
alifticos (alcanos e alcenos) so mais rapidamente e facilmente degradados, seguidos pelos
hidrocarbonetos aromticos e finalmente cicloalcanos. Segundo Bcego (1988) a
degradao do leo bem mais lenta no sedimento do que na gua, inclusive os compostos
mais leves persistem mais tempo no sedimento.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
17/112
17
Dentre os ecossistemas marinhos-transacionais, situa-se o esturio da Lagoa
dos Patos. Este apresenta caractersticas morfolgicas, geolgicas e hidrofsicas que o
diferem de outros esturios. A regio estuarina classificada como um sistema microtidal,pois as mars astronmicas apresentam mdia de 0,45 m de amplitude em mdia (Mller,
1996). Esse ambiente local de desenvolvimento e de captura de espcies de importncia
econmica, e, alm disso, integra um dos maiores complexos lacunares do mundo, o
sistema Patos-Mirim.
O esturio da Lagoa dos Patos est inserido na plancie costeira do Rio
Grande do Sul, que constituda de uma costa arenosa baixa e uma das mais amplas
plancies costeiras do Brasil. Estudos realizados por Calliari (1998), demonstram que o
esturio predominantemente composto por grandes bancos de areia e sua profundidade
pode variar entre 1 e 5 m. A maior profundidade observada alcana 18 m no canal que liga
a laguna com o Oceano Atlntico. As enseadas associadas s margens do esturio so
definidas por um nmero elevado de bancos e espores arenosos recurvados, que formam
uma feio tpica das reas rasas, com profundidades menores que 1 m.
Nos esturios, em geral, so desenvolvidas importantes atividades do setor
da pesca, constituindo-se assim em importante fonte de renda da comunidade. Tal
afirmativa confirmada por pesquisas realizadas em torno da atividade pesqueira na costado Rio Grande do Sul, onde a pesca oficialmente classificada como pesca artesanal,
costeira e industrial. Os dados obtidos por Reis (1999) indicam que mais de 90% do total
capturado pela pesca artesanal no Rio Grande do Sul originado do esturio da Lagoa dos
Patos e costa adjacente.
Na regio estuarina encontra-se instalado o Porto da cidade do Rio Grande e
duas empresas especficas na rea do petrleo, uma no refino Refinaria de Petrleo
Ipiranga S/A e outra no armazenamento e transporte do petrleo Terminal da Petrobras.
Os terminais martimos da Petrobrs integram-se ao sistema de transporte de petrleo e
derivados, quer para suprir as refinarias de leo cru importado como para escoar parte da
produo de derivados das refinarias. Alm destas empresas ocorre abastecimento de
navios na zona porturia, o que aumenta a probabilidade de ocorrncia de poluio por
hidrocarbonetos do petrleo.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
18/112
18
Existem ainda outros agentes possveis de causarem poluio que passam
pelo terminal da Petrobras. Griep et al(2001) apresenta o terminal como responsvel pela
importao e exportao de diversos produtos, como leo diesel, petrleo, estireno, cidofosfrico, cido sulfrico, metanol, hexano, propano (GLP) e amnia. No ano de 1998
verificou-se um montante de 1.531.725,52 toneladas, fator que o torna um ambiente de
caractersticas mltiplas e facilmente impactveis, o que significa afirmar que qualquer
agente de poluio pode acarretar inmeras mudanas na estrutura ecolgica do local.
Existem estudos cientficos acerca da degradao do petrleo em ambientes
marinhos, como as pesquisas realizadas por Bcego (1988), Kennish (1992), Ferreira
(1995), Zanardi (1996), e Nishigima (1999), contudo no h trabalhos especficos a esse
respeito para as condies do esturio da Lagoa dos Patos.
At a presente data no so verificados estudos envolvendo a degradao do
petrleo ou de leo diesel com vistas a analisar a evoluo e a persistncia de
hidrocarbonetos nos sedimentos do Esturio da Lagoa dos Patos. As pesquisas que podem
apresentar afinidades a este estudo tinham como objetivo a verificao dos nveis de
contaminao dos hidrocarbonetos alifticos e dos aromticos policclicos nos sedimentos
marginais do esturio. Trabalhos de Baisch et al (2000), Zamboni (2000), Cordeiro (2003)
e Garcia (2004) mostram que h uma importante contaminao nas zonas estuarinasmarginais, mas, em geral, os canais de navegao esto livres desse processo.
O presente trabalho tem por objetivo suprir a falta de conhecimento sobre o
processo de degradao do petrleo no ambiente estuarino da Lagoa dos Patos. Atravs de
um derrame induzido onde foram examinados a evoluo e os constituintes remanescentes
no sedimento como meio de estabelecer de forma mais exata o impacto ambiental.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
19/112
19
2- Objetivos
Objetivo Geral:
- Estudar a degradao e o tempo de permanncia dos produtos de degradao em um
derrame de leo diesel, em sedimento do Esturio da Lagoa dos Patos.
Objetivos Especficos:
- Verificar a concentrao final da frao aliftica dos hidrocarbonetos do leo diesel no
sedimento;
- Verificar a concentrao final da frao aromtica dos hidrocarbonetos do leo diesel no
sedimento;
- Fazer uma comparao no ambiente onde foi utilizado dispersante qumico, com ambienteonde foi utilizado biossurfactante e o meio ambiente onde no foi empregada a remediao;
- Gerar dados de controle de possveis impactos no Esturio da Lagoa dos Patos, a fim de
ser utilizado no Programa de Recursos Humanos da ANP para o setor do petrleo e gs.
3- Reviso Bibliogrfica
3.1- Histrico de acidentes envolvendo derrame de petrleo e seusderivados
A contaminao de solos e do ambiente hdrico por hidrocarbonetos,
geralmente por perdas ou rompimentos de dutos, ou por acidentes ocorridos no seu
transporte, tem um efeito pronunciado sobre as propriedades do ambiente contaminado,
com processos de toxidade sobre os microorganismos e mortandade dos organismos.
Um dos ltimos acidentes de grandes propores ocorrido foi o do petroleiro
Prestige, com bandeira de Bahamas. O navio carregava 77 mil toneladas de petrleo e se
partiu na costa da Espanha, porm inicialmente vazaram 40 mil toneladas atingindo
centenas de quilmetros de costa e matando peixes e aves, havendo o risco de ser uma daspiores catstrofes ecolgicas j vistas, atingindo a economia do local. As propores deste
acidente foram to grandes que o leo atingiu as costas portuguesas e francesas,
prejudicando as atividades pesqueiras e tursticas da regio (Martins, 2005).
No Brasil um dos primeiros casos de vazamento de petrleo registrado o
ocorrido no Canal de So Sebastio, litoral norte de So Paulo, em 1955, quando era feito o
transbordo de petrleo de navios maiores para menores, pois estes tinham melhores
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
20/112
20
condies de calado para entrarem no Porto de Santos. Porm, o primeiro grande derrame
registrado ocorreu em 1974 (anexo 1), quando o petroleiro Takimyia Maru chocou-se
contra uma rocha no Canal de So Sebastio, causando vazamento aproximado de 6.000ton. de petrleo (Poffo, 2000).
Atualmente um dos acidentes que tomou propores enormes foi da
plataforma P-36 na Bacia de Campos em 2001, que culminou em uma lista de desastres. No
perodo que antecedeu o desastre da plataforma P-36, de 1998 a 2001, ocorreram 99
acidentes com 32 mortes e aproximadamente um milho de litros de leo foram derramados
na Baa de Guanabara-RJ.
Na cidade do Rio Grande-RS o problema com vazamentos de petrleo e seusderivados tambm acontece, porm em menor escala, tais como:
Maro de 2000- Cerca de 18 mil litros de leo cru vazaram em Tramanda, no
litoral gacho, quando eram transferidos de um navio petroleiro para o Terminal
Almirante Soares Dutra (Tedut), da Petrobras, na cidade.
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano - acesso dia 15/12/2004)
Maro de 2001- No Porto de Rio Grande (RS), uma barcaa derramou 430
litros de leo combustvel, contaminando as guas do canal e provocando a
morte de peixes. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano - acesso dia
15/12/2004).
Junho de 2004- Especialistas do Laboratrio de Oceanografia Geolgica
emitiram parecer tcnico sobre pequeno derrame de leo OCMAR, da
embarcao Guarapuava, ocorrido em maio de 2004, quando em operao de
descarga, no terminal da TRANSPETRO Rio Grande.
Setembro de 2004-leo queimado foi derramado no Arroio Carah, afluente
da Lagoa dos Patos. O volume derramado no foi informado. (Jornal Zero Hora,
13 de setembro de 2004).
Dezembro de 2004-Uma mancha de leo foi detectada no canal de navegao
do porto de Rio Grande (RS). A fonte no foi identificada e esta mancha pode
ter sido provocada por um vazamento de 1000 L de leo. (Jornal Agora, 7 de
dezembro de 2004).
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
21/112
21
3.2- Tempo de residncia relacionados aos processos de intemperizaodo petrleo no mar
Quando o petrleo entra em contato com gua do mar, vrios processosfsico-qumicos e biolgicos so passveis de ocorrer e a intensidade de cada um deles
varia ao longo do tempo. De acordo com Clark (1989) e Marques Jr. (2002), existem
alguns processos que ocorrem com o petrleo, tais como: espalhamento, evaporao,
dissoluo, disperso, emulsificao, fotoxidao, sedimentao e biodegradao do
petrleo.
Todos os processos de intemperizao dependem das condies climticas e
do tipo de petrleo. A Figura 1 demonstra esquematicamente cada um dos processosmencionados, o tempo de durao de cada um e sua intensidade.
Figura 1- Tempo e fatores que agem na intemperizao do leo (Clark, 1989 adaptado)
O espalhamento o processo fsico que ocorre na interface gua-ar e
caracterizado pela formao de um filme superficial. Quanto mais leve for o leo melhor
ser seu espalhamento, os fatores que influenciam o espalhamento em derrame de leo so
tenso superficial, peso especifico e viscosidade (USEPA, 2001).
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
22/112
22
A evaporao a transferncia dos hidrocarbonetos da forma lquida para a
gasosa, sendo este um dos primeiros processos de remoo que ocorre quando o leo
derramado. Existem alguns fatores que interferem na velocidade da taxa de evaporao:temperatura da gua e do ar, intensidade de radiao solar, viscosidade do leo e velocidade
do vento. solubilizao ou dissoluo como nos dois processos anteriores, ocorre com
maior intensidade nas primeiras horas aps o derramamento e tende a ser mais efetiva para
compostos com menor peso molecular, pois so mais solveis do que as fraes mais
pesadas.
A emulsificao caracterizada pela agregao e pelo aumento de peso e
volume de partculas, formando o chamado mousse de chocolate. A sedimentao doleo pode ocorrer pela adsoro ao material em suspenso, e com isso induz o aumento da
densidade especfica, atravs da evaporao e dissoluo. Enquanto que a biodegradao
consiste na degradao do petrleo por ao de microrganismos.
Entre os processos citados acima, os mais importantes durante o perodo
inicial de um derrame de petrleo no mar so o espalhamento, a evaporao, a disperso, a
emulsificao e a dissoluo. Estes processos juntos so responsveis por at 50% da taxa
de decaimento da concentrao inicial de leo no mar nas primeiras 24 h (ITOPF, 1987;
Milanelli, 1994).
Em geral, quanto maior o nmero de tomos de carbono do composto
presente no petrleo, maior ser sua persistncia no ambiente, mais lenta ser sua
evaporao e a sua solubilidade e menor ser a sua susceptibilidade biodegradao
(Marques Jr., 2002).
3.3- Caracterizao dos hidrocarbonetos do petrleo
O petrleo consiste em uma mistura complexa de milhares de componentes,
no estado gasoso, lquido e slido (Kennish, 1992). Uma definio precisa da composio
do petrleo impossvel, uma vez que no existem dois leos exatamente iguais (Tissot e
Welt, 1984).
A palavra petrleo refere-se aos derivados de matria orgnica,
principalmente de origem biolgica, que foram produzidos atravs de processos geolgicos
e biolgicos resultando na produo e acumulao de milhares de diferentes tipos de
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
23/112
23
molculas orgnicas em sedimentos antigos. O leo cru e o gs natural (metano) juntos so
denominados petrleo (UNEP, 1991).
Entre os constituintes do petrleo, os hidrocarbonetos, so compostosorgnicos formados por carbono e hidrognio, estes hidrocarbonetos apresentam
caractersticas apolares (hidrfobos), ou seja, no apresentam atrao pela gua (polar).
Desse modo, eles tm uma maior tendncia de associao s fases slidas, tais como as
partculas em suspenso, os tecidos biolgicos e os sedimentos.
Em alguns tipos de leos, os hidrocarbonetos chegam a atingir at 98 % da
composio total (Clark e Brown, 1977; Bcego, 1988). Alm dos hidrocarbonetos existem
outros componentes em menor quantidade, tais como, enxofre, nitrognio e oxignio. H
ainda metais trao como vandio, nquel, sdio, clcio, cobre e urnio.
3.4- Classificao qumica e fsica dos hidrocarbonetos do petrleo
As principais classes de hidrocarbonetos constituintes do petrleo so os alifticos e
os cclicos. Os hidrocarbonetos alifticos se dividem em: n-alcanos ou parafinas, alcanos
ramificados ou isoprenides e alcenos. Os hidrocarbonetos cclicos so divididos em ciclos
alcanos ou naftenos e aromticos. Em mdia, o petrleo apresenta cerca de 30 % de
alcanos, 50 % de ciclo alcanos e 15 % de aromticos (UNEP, 1991).
Hidrocarbonetos
Alifticos Cclicos
Alcanos Alcenos Isoprenides Naftenos Aromticos
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
24/112
24
Hidrocarbonetos alifticos compreendem cadeias carbnicas com pelo menos duas
extremidades, sem nenhum ciclo ou anel.
I- Alcanos so hidrocarbonetos de cadeia aberta e saturada que apresenta somente ligao
simples entre os tomos de carbono. O termo parafinas vem do latim parum= pequena +
affinis= afinidade, e significa pouco reativas. O menor dos alcanos metano (Figura 2).
Algumas das propriedades fsicas dos alcanos que a temperatura ambiente (25 0C) at 4
tomos de carbono em cadeia linear esto na forma de gases, o n-alcanos de C5at C17so
lquidos e os n-alcanos de com mais de 18 tomos de carbono so slidos.
H C H
H
H
Figura 2- Frmula estrutural plana do metano
II- Alcenos so hidrocarbonetos de cadeia aberta que apresenta uma ligao dupla entre os
tomos de carbono. Os alcenos no esto presentes no petrleo bruto, mas so encontrados
nos produtos refinados do petrleo. O alceno mais simples o etileno ou eteno (Figura 3).
H C C H
H H
Figura 3- Frmula estrutural plana do eteno
III- Isoprenides so hidrocarbonetos parafnicos que apresentam ramificao em um ou
mais tomos de carbono. Esse grupo apresenta uma grande importncia nos estudos
geoqumicos, tais como o isobutano e o fitano (Figura 4) e na produo da gasolina.
C C C
C
Figura 4- Frmulas estruturais planas, respectivamente, do metil-propano e do fitano
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
25/112
25
Hidrocarbonetos cclicoscompreendem cadeias carbnicas fechadas.
I- Naftenos so hidrocarbonetos de cadeia fechada e saturada, so geralmente estveis e
no so solveis em gua, um exemplo o ciclo hexano (Figura 5).
Figura 5- Frmula estrutural plana do ciclo hexano
II- Aromticos so hidrocarbonetos de cadeia fechada que apresentam na sua estrutura
bsico um anel com seis tomos de carbono com ligaes duplas alternadas entre eles, esta
unidade bsica chamada de benzeno (Figura 6).
ou
Figura 6- Frmula estrutural do benzeno
Os hidrocarbonetos que possuem dois ou mais anis so denominados
hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPA), estes hidrocarbonetos so considerados os
mais txicos componentes do petrleo e esto associados a efeitos carcinognicos (Tabela
1). Muitos dos HPAs de baixo peso molecular so solveis em gua, aumentando o risco de
contaminao.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
26/112
26
Tabela 1 Estruturas qumicas e efeitos txicos dos 16 HPAs considerados como poluentes deprioridade ambiental pela EPA (Agncia de Proteo Ambiental) norte americana (Sims et al, 1988).
Nomenclatura (IUPAC) Estrutura Efeito Nomenclatura (IUPAC) Estrutura Efeito
Naftaleno txico Acenaftileno mutagnico
Acenafteno mutagnico Fluoreno mutagnico
Antraceno mutagnico Fenantreno txico e mutagnico
Fluoranteno carcinognico Pireno carcinognico
e mutagnico e mutagnico
Criseno carcinognico Benzo(a)antraceno carcinognico
e mutagnico e mutagnico
Benzo(b) carcinognico Benzo(k) carcinognico
fluoranteno e mutagnico fluoranteno e mutagnico
benzo(a)pireno carcinognico Dibenzo(a,h)antraceno carcinognico
e mutagnico e mutagnico
benzo(g,h,i)perileno carcinognico Indeno carcinognico
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
27/112
27
(1,2,3-cd)pireno
3.5- Biossurfactantes
Os surfactantes so molculas que apresentam uma parte hidroflica e outra
hidrofbica, podendo ser sintticos, quando obtidos a partir de snteses qumicas, ou
biossurfactantes, quando produzidos por microrganismos (Cassidy & Hudak, 2001;
CETESB, 2003).
Os biossurfactantes so produzidos principalmente por microrganismos
aerbicos a partir de uma fonte de carbono. Uma variedade de microrganismos produz
potentes agentes de superfcie ativa, os biossurfactantes, os quais variam nas propriedadesqumicas e no tamanho molecular.
A capacidade do biossurfactante emulsificar misturas de
hidrocarboneto/gua tem sido muito bem documentada. Esta propriedade demonstrada
pelo aumento significativo de degradao de hidrocarbonetos e por isso utilizado na
biorremediao de solos e mananciais contaminados (Lobato, 2000; Crapez et al, 2002). De
acordo com Cameotra & Bollag (2003) os biossurfactantes podem ser utilizados in situ
para emulsificar e aumentar a solubilidade de contaminantes hidrofbicos e desta maneira,
facilitam o acesso dos microrganismos naturalmente presentes no ambiente para que ocorra
a degradao dos compostos hidrofbicos.
Segundo Ascon-Cabrera & Lebeault (1995), citado por Martins (2005), o
crescimento de microorganismos em uma interface de gua e leo favorece o aparecimento
de um biofilme, cuja formao envolve as seguintes etapas, primeiramente os
microrganismos aderem superfcie de grandes gotas de leo devido a hidrofobicidade das
clulas, em seguida as clulas aderidas formam uma camada delgada na interface
leo/gua, extraindo os compostos insolveis em gua da fase oleosa e utilizando os saisminerais da fase aquosa. Quando as clulas revestem as gotas de leo produzindo
biossurfactantes, a tenso interfacial disponvel reduzida para o crescimento microbiano.
Quando o composto oleoso contido nas gotas desaparece, os microorganismos colonizam
outras gotas.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
28/112
28
3.5.1 - Processos de biodegradao do petrleo por bactrias e fungos
A biodegradao do petrleo envolve todos os fenmenos de quebra de seus
componentes do petrleo para componentes de menor peso molecular ou mais polares. A
biodegradao completa dos hidrocarbonetos resulta como membros finais o dixido de
carbono e a gua. A biodegradao do petrleo por populaes naturais de
microorganismos representa um dos mecanismos primrios pelo qual os compostos
poluentes so eliminados do meio ambiente. Alguns compostos do petrleo so facilmente
evaporados ou biodegradados, enquanto outros persistem recalcitrantes na natureza.
Existem algumas revises que tratam da degradao de hidrocarbonetos por
microrganismos que incluem os fatores, as vias metablicas, os principais tipos demicrorganismos e os efeitos da contaminao em comunidades microbianas (Atlas, 1977,
1981, 1984; Colwell & Walker 1977; Leahy & Colwell, 1990; Baird, 2002).
Baird (2002) definiu a biorremediao como o uso de microrganismos
vivos para degradar ou eliminar resduos ambientais. A capacidade de certos
microrganismos serem capazes de utilizar hidrocarbonetos como fonte de carbono foi
apresentada por Zobell em 1946. Tambm verificou que estes organismos esto
amplamente difundidos na natureza e que a natureza do leo e as condies ambientais
eram altamente importantes no seu comportamento.
A utilizao dos hidrocarbonetos pelas bactrias constitui um processo em
que esses compostos so paulatinamente oxidados por reaes padronizadas, catalisados
por enzimas (Rodrigues, 1984).
Os microrganismos necessitam de condies ambientais de crescimento. Por
sua vez, a velocidade e a extenso com que os componentes do petrleo so degradados
dependem da existncia de, pelo menos, quatro fatores principais (Rodrigues, 1984, Baird,
2002).
I- Umidade, para facilitar as reaes;
II- Oxignio, para rpida oxidao dos hidrocarbonetos e outros compostos do petrleo, sob
condies anaerbicas, a biodegradao mais lenta e normalmente efetuada por bactrias
sulfato-redutoras;
III- Contato leo-gua, devido relativa insolubilidade do leo na gua, tal contato controla
a velocidade de oxidao e da degradao;
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
29/112
29
IV- Presena de nutrientes (fosfatos, sulfatos, nitratos, etc) para o desenvolvimento
microbiano.
Apesar das bactrias serem provavelmente as maiores responsveis pelabiodegradao de hidrocarbonetos no ambiente, os fungos e as leveduras (Cerniglia et al,
1977; Oudot et al, 1987; Macgillivary & Shiaris, 1993), as cianobactrias, as algas e
mesmo os protozorios apresentam capacidade de degradao (Cerniglia etal, 1979).
Como a degradao de hidrocarbonetos para CO2 envolve uma reao de
oxidao, os organismos, em sua maioria, so aerbios. O destino dos hidrocarbonetos,
alm da produo de CO2 na degradao total, pode tambm oferecer caminhos
alternativos. Eles podem ser armazenados como glbulos e alguns podem ser incorporados
como biomassa (Bertrand et al, 1983; Dumenil et al, 1988), porm os produtos
parcialmente oxidados podem ser mais txicos e mutagnicos que o hidrocarboneto
original. Portanto existe a preocupao que ocorra um aumento temporrio na toxidade e
mutagenicidade durante o processo de biodegradao (Wang et al, 1990).
3.5.2- Biodegradao da frao saturada
Os n-alcanos so considerados os mais facilmente degradveis e j foi
comprovada a biodegradao de at C44(Haines & Alexander, 1974). A biodegradao dos
n-alcanos procede normalmente por um ataque monoterminal: h formao de um lcool
primrio, seguido de um aldedo e um cido carboxlico (Mackenna & Kallio, 1964; Van
Eyk & Bartels, 1968), conforme mostrado na Figura 7. O cido carboxlico degradado via
-oxidao com a formao de cidos graxos com dois carbonos a menos e a formao de
acetil-coenzima A, com liberao eventual de CO2. Alguns cidos graxos txicos, podem se
acumular durante o processo de biodegradao (Atlas & Bartha, 1973)
+O2 OH O
O
OHn-alcano lcool primrio aldedo cido carboxlico
Figura 7- Biodegradao de um n-alcano
Os alcanos ramificados sobrem -oxidao, como via degradativa mais
comum, com formao de cidos dicarboxlicos (Fall et al, 1979). Os grupos metil
aumentam a resistncia dos hidrocarbonetos ao ataque microbiano. O ciclo alcano
particularmente resistente a biodegradao (Chosson et al, 1991), porm h estudos
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
30/112
30
mostrando que hidrocarbonetos cclicos, at seis anis condensados, podem ser degradados
(Walker et al, 1975).
3.5.3- Biodegradao da frao aromtica
Os compostos aromticos de at trs anis so degradados mais facilmente.
Tipicamente a degradao bacteriana envolve a ao de uma dioxigenase que gera a
formao de um diol, com subseqente clivagem e formao de um dicido. Os compostos
aromticos mais leves esto sujeitos evaporao e degradao microbiana no estado
dissolvido. O ataque enzimtico pode ser no substituinte alquil ou diretamente no anel
(Gibson, 1971; Rosato, 1997). H linhagens de microrganismos capazes de degradar
compostos com cinco ou mais anis aromticos. Geralmente a oxidao doshidrocarbonetos aromticos se processa produzindo principalmente fenis, conforme o
descrito na Figura 8.
CH2OH
OH
C
O
H
OH OH
fenantreno saligeno salicilaldedo cido 1,2-dihidrxi saliclico benzeno
C
O
OH OH
OH
Figura 8- Biodegradao do fenantreno
3.5.4- Microrganismos capazes de degradar hidrocarbonetos
A capacidade de degradar hidrocarbonetos do petrleo formada por
diversos gneros microbianos, mas os principais so as bactrias e os fungos. Eles so
encontrados em ambientes marinhos, de gua doce e no solo. Os organismos podem
metabolizar somente um nmero limitado de hidrocarbonetos isoladamente, de forma que
requerida uma mistura de populaes com capacidade enzimtica para degradar todos oshidrocarbonetos encontrados no petrleo.
So conhecidos 25 gneros de bactrias e 27 de fungos, que fazem a
degradao dos hidrocarbonetos no ambiente marinho (Floodgate, 1984), enquanto que nos
solos so registrados 22 gneros de bactrias e 31 de fungos (Bossert & Bartha, 1984;
Rosato, 1997). Os fungos parecem ser mais importantes na biodegradao de
hidrocarbonetos presentes em solos (Jones & Eddington, 1968; Rosato, 1997). Em geral, as
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
31/112
31
bactrias e leveduras apresentam capacidade decrescente de degradao de acordo com o
aumento da cadeia carbnica ao passo que os fungos no exibem degradao preferencial
de tamanho (Walker et al, 1975).3.5.5- Efeito de fatores fsicos e qumicos na biodegradao
As taxas de biodegradao do leo so influenciadas principalmente pela
temperatura, disponibilidade de nutrientes, pH e nveis de oxignio (Kennish, 1996). De
acordo com Kennish, 1997, os alcanos de baixo peso molecular degradam-se rapidamente
(em at uma semana), enquanto que os hidrocarbonetos de alto peso molecular (alifticos e
aromticos) sofrem lenta degradao (Tabela 2).
Tabela 2 Taxas de biodegradao de algumas espcies de HPAs (USEPA, 2000)
Espcies Nmero deanis
Meia Vida(dias)
Naftaleno 2 14 320Antraceno 3 ~ 130Fluoreno 3 37
Benzo(a)antraceno 4 1100Pireno 4 238Criseno 4 510
Benzo(a)pireno 5 1400
I- Temperatura a temperatura influencia a biodegradao pelo efeito na natureza fsica e
qumica do petrleo e tambm pela alterao na populao microbiana. A biodegradao
dos hidrocarbonetos pode ocorrer numa faixa de temperatura relativamente grande, de 00a
700C (Sorkhoh et al, 1993). De modo geral, baixa temperatura, a viscosidade do leo
aumenta, a volatilizao dos alcanos de cadeia curta reduzido, o que leva a um processo
de biodegradao mais lento. A atividade enzimtica apresenta um melhor metabolismo
para os hidrocarbonetos a uma temperatura mxima de 30-400C.
II- Nutrientes o petrleo composto principalmente de hidrocarbonetos, que podem
servir como fonte de carbono para o desenvolvimento de microorganismos. Porm, para
que se processe a biodegradao h necessidade de outros nutrientes como o nitrognio e o
fsforo, os quais so requeridos em maior quantidade. H tambm a necessidade de
micronutrientes tais como enxofre, ferro, magnsio, clcio e sdio. A disponibilidade
desses elementos varia em diferentes ambientes e eles podem ser adicionados para
estimular a biodegradao.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
32/112
32
III- Outro fator a ser considerado no solo a variao do pH com valores de 2,5 a 11 para
diferentes tipos de solos. A maioria das bactrias e fungos apresentam uma melhor taxa de
desenvolvimento em pH neutro, podendo ocorrer o dobro da taxa de biodegradao com acorreo do pH do solo (Verstraete et al, 1976; Bosset & Bartha, 1984; Rosato, 1997).
3.6- Dispersantes Qumicos
Os dispersantes so formulaes qumicas de natureza orgnica, destinadas a
reduzir a tenso superficial entre o leo e a gua, auxiliando a disperso do leo em
gotculas no meio aquoso. So constitudos por ingredientes ativos, denominados
surfactantes, cuja molcula composta por uma cadeia orgnica, basicamente apolar, com
afinidade por leos e graxas (oleoflica) e uma extremidade de forte polaridade,
com afinidade pela gua (hidroflica). Alm dos surfactantes, os dispersantes tambm so
constitudos por solventes da parte ativa que permitem a sua difuso no leo (CETESB,
2003). No Brasil existe uma regulamentao para o uso dos dispersantes qumicos que a
resoluo do CONAMA no 269 de 14 de setembro de 2000. Os dispersantes so,
potencialmente, aplicveis em situaes de derrames de leo, visando proteo de
recursos naturais e scio-econmicos sensveis como os ecossistemas costeiros e marinhos.
Sua aplicabilidade, entretanto, deve ser criteriosamente estabelecida e aceita somente seresultar em menor prejuzo ambiental, quando comparado ao efeito causado por um
derrame sem qualquer tratamento, ou empregado como opo alternativa ou, ainda,
adicional conteno e recolhimento mecnico no caso de ineficcia desses procedimentos
de resposta. A eficincia do dispersante, entre outras consideraes, est relacionada aos
processos de intemperizao do leo no mar. leos intemperizados tornam-se mais
viscosos e podem tambm sofrer emulsificao, o que diminui a eficincia desses agentes
qumicos. Dessa forma, caso seja pertinente utilizao do dispersante e considerando o
cenrio do derrame, sua aplicao, tanto quanto possvel, deve ser realizada durante as
operaes iniciais do atendimento, criteriosa e preferencialmente nas primeiras 24 horas.
Quando um dispersante aplicado sobre uma mancha, as gotculas de leo presentes so
circundadas pelas substncias surfactantes, estabilizando a disperso (Figura 9), o que ajuda
a promover uma rpida diluio pelo movimento da gua. O dispersante reduz a tenso
superficial entre a gua e o leo, auxiliando a formao de gotculas menores (Figura 9), as
quais tendem tanto a se movimentar na coluna dgua, como permanecer em suspenso na
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
33/112
33
superfcie, acelerando o processo natural de degradao e de disperso, favorecendo desta
forma a biodegradao.
Figura 9 - Representao da ao do dispersante sobre uma mancha de leo (IPIECA, 1993).
Os dispersantes, quando aplicados apropriadamente, podem ajudar a
transferir para a coluna dgua um grande volume de leo que estava na superfcie,
obtendo-se resultados com maior rapidez do que os mtodos mecnicos de remoo. Os
dispersantes, em geral, tm pouco efeito sobre leos viscosos, pois h uma tendncia do
leo se espalhar na gua antes que os solventes e agentes surfactantes, componentes dos
dispersantes, possam penetrar na mancha. A maioria dos produtos atualmente disponveis
possui efeito reduzido se aplicados quando o processo de intemperizao j tiver sido
iniciado e se a mancha estiver sob o aspecto de emulso viscosa (mousse de chocolate).
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
34/112
34
Captulo II
Material e Mtodos
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
35/112
35
4- Material e Mtodos
4.1- O experimento e stio de estudo
Para a realizao desse estudo foi realizada uma simulao de derrame de
leo diesel, em um stio localizado na Ilha dos Cavalos (Figura 10), a qual integra o
Esturio da Lagoa dos Patos. Esse stio foi escolhido devido ser uma regio protegida de
efeitos externos e segura para a execuo de um derrame controlado de leo diesel. Alm
disso, o stio apresenta-se como um segmento ambiental representativo de toda a regio
estuarina da Lagoa dos Patos. Essa regio possui vegetao do tipo Marisma que, de acordo
com a classificao para diferentes ambientes costeiros, apresenta o maior ndice de
sensibilidade a derramamento de leo e portanto estes ambientes so reas de prioridade
mxima de proteo (Gundlach & Hayes, 1987).
Figura 10- Mapa de localizao do esturio da Lagoa dos Patos e localizao da Ilha dos Cavalos
Foram construdas quatro caixas de um metro quadrado cada, de lminas de
ao inox de 60 centmetros de altura, sendo que 20 centmetros foram enterrados (Figuras
11 e 12). Logo aps, foi efetuado um derrame de leo diesel em cada uma das trs caixas.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
36/112
36
Em uma delas foi colocado um biossurfactante produzido pelo fungo Aspergillus
fumigattus, em outra caixa foi adicionado um dispersante qumico da marca X, enquanto a
outra foi mantida apenas com o leo para ser utilizada como controle.
Figura 11- Esquema do experimento.
Figura 12- Local das caixas no ambiente em estudo
leo eBiossurfactante
leo diesel
leo edispersante
Branco
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
37/112
37
4.2- Tipo de leo usado no experimento
Para este experimento, foram utilizados 4 litros de leo diesel interior B (1
litro para cada caixa). O produto foi fornecido pela Refinaria de Petrleo Ipiranga S.A.
(anexo 2) e apresentava as seguintes caractersticas bsicas:
Massa especfica a 20 C, Kg/m3: 825,4
Enxofre (%): 0,036
gua e sedimentos: traos
Aspecto: lmpido e isento de impurezas
Cinzas (%): 0,0020
De acordo com a USEPA (2001) este leo classificado como classe A,caracterizado por ser altamente fluido composto predominantemente de hidrocarbonetos de
baixo peso molecular, que se espalham pela superfcie da gua. Este leo o mais utilizado
como leo combustvel e transportado por trfego rodovirio (caminhes), ferrovirio e
hidrovirio (menor escala).
4.3- Produo do biossurfactante peloAspergillus fumigattus
4.3.1- Fermentao em Estado Slido
As fermentaes foram realizadas em erlenmeyers de 1000 mL, utilizando o
microrganismo Aspergillus fumigattus. O meio fermentativo foi composto por casca e
farelo de arroz desengordurado, que foram cedidos pela IRGOVEL Indstria
Riograndense de leos Vegetais. O farelo foi modo e peneirado, de onde foram recolhidas
as partculas menores que 500 mm e maiores que 420 mm, Tyler 32 e 35, respectivamente.
Alm da casca e do farelo de arroz, tambm fizeram parte do meio fermentativo uma
soluo de nutrientes composta por MgSO4.7H2O, NaNO3, KH2PO4, extrato de levedura e
peptona, como fonte de carbono tambm foi utilizado 1% de leo diesel, fornecido pelaRefinaria de Petrleo Ipiranga. A fermentao foi realizada por um perodo de 144 horas.
As condies fsico-qumicas utilizadas nas fermentaes foram, umidade de 50%,
temperatura de 30 oC, pH 4,5 e concentrao inicial de esporos de 4 x 106 esporos/ g de
meio.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
38/112
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
39/112
39
(modelo pH6/00702-75, Acorn Series) e com leituras expressas em escala 0,01. O
potencial redox (Eh) eletrodo combinado de platina com leituras expressas em escala de
1 mV, previamente calibrado com padres de pH 4 e 7.
4.7- Anlise granulomtrica e porosidade
A classificao granulomtrica do sedimento foi efetuada atravs dos
mtodos tradicionais de peneiramento da frao grosseira e pipetagem da frao fina ( C25) e nmero de carbonos mpares, atribudos a
compostos que se originam de plantas terrestres, tais como, C27, C29e C31(Volkman et al,1992; Medeiros, 2000). Esses compostos j faziam parte do ambiente natural em que foram
colocadas s caixas. A presena destes hidrocarbonetos observada nas trs caixas durante
todo o perodo do experimento.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
64/112
64
Figura 14 - Cromatograma do leo diesel do 1odia do experimento
Quando se observa o cromatograma aps 30 dias do experimento j existe a
formao de UCM, mostrando um ntido inicio da degradao dos hidrocarbonetos
alifticos e conseqentemente a formao de metablicos conforme Figura 15.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
65/112
65
Figura 15- Cromatograma da caixa do leo diesel aps 30 dias do experimento.
O cromatograma do leo diesel 180 dias aps o inicio do experimento,
mostra uma quase total degradao dos hidrocarbonetos alifticos (C13ao C24), porm os n-
alcanos com cadeias maiores que C25 permanecem com concentrao praticamente
constante desde o incio do experimento (Figura 16). Ainda apresenta uma pequena UCM.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
66/112
66
Figura 16- Cromatograma do leo diesel aps 180 dias do experimento.
b) Caixa do dispersante
Observando os cromatogramas do 1o dia e do 30o dia do experimento,
conforme a Figura 17, nota-se que a concentrao dos hidrocarbonetos praticamente
permanece a mesma, apenas com uma pequena formao de UCM no 30odia. Durante este
perodo do experimento, foi observado que o nmero de bactrias e fungos diminuiudrasticamente, conforme resultados confirmados pelo estudo realizado no mesmo ambiente
por Martins et al(2004). A diminuio foi ocasionada pelas conseqncias do derrame do
leo e do dispersante, uma vez que as bactrias e fungos so suscetveis ocorrncia de
graves danos pela presena de tais compostos orgnicos. Este dado ainda confirmado por
outros trabalhos, que mostram que o nmero de bactrias sofre uma reduo, pois a maioria
dos microrganismos sensvel ao derrame de leo (Odu, 1972; El-Nawawy, 1992; Amund
et al, 1993; Ijah & Antai, 2003)
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
67/112
67
Figura 17- Cromatograma do dispersante do 1odia e do 30odia do experimento
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
68/112
68
O cromatograma do dispersante obtido a 180 dias do incio do experimento,
permite verificar uma quase total degradao dos hidrocarbonetos alifticos (Figura 18),
apresentando uma grande UCM. De acordo com Martins et al, 2004, flora microbiana dolocal da caixa do dispersante se restabeleceu trs meses aps o inicio do experimento.
Figura 18- Cromatograma do dispersante aps 180 dias do experimento
c) Caixa do biossurfactante
Observando os cromatogramas do primeiro dia do experimento (Figura 19)
possvel constatar a alta concentrao dos hidrocarbonetos alifticos com picos bem
resolvidos.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
69/112
69
Figura 19- Cromatograma do biossurfactante do primeiro dia do experimento
Quando se observa o cromatograma aps 90 dias do incio do experimento
h quase degradao total dos hidrocarbonetos alifticos (Figura 20), enquanto o
cromatograma obtido aps 180 dias, apresenta formao de UCM e uma menor
concentrao dos hidrocarbonetos alifticos, conforme Figura 21.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
70/112
70
Figura 20- Cromatograma da caixa do biossurfactante aps 90 dias do experimento.
Figura 21- Cromatograma do leo diesel aps 180 dias do experimento.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
71/112
71
5.5.1.2- Evoluo da concentrao dos HPAs
A identificao dos hidrocarbonetos aromticos, da mesma forma que oshidrocarbonetos alifticos, foi realizada individualmente em cada uma das caixas utilizadas
no experimento.
a) Caixa do leo diesel
Observando o cromatograma do 15o dia visvel a degradao dos HPAs
pela formao da UCM no decorrer do perodo (Figura 22). Nesta caixa foi verificada a
melhor taxa de degradao depois de 180 dias de experimento, mostrando que o ambiente
onde no foi adicionado nenhum produto qumico ou biolgico os resultados foram
satisfatrio para o 16 HPAs. Depois de 180 dias, v-se que a formao da UCM grande
(Figura 23) e houve uma queda de mais de 75 % da concentrao inicial.
Figura 22- Cromatograma do leo diesel do 15odia aps o inicio do experimento
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
72/112
72
Figura 23- Cromatograma da caixa do leo diesel 180 dias aps o inicio do experimento.
b) Caixa do dispersante
Observando o cromatograma do 1o dia do experimento (Figura 24),
possvel verificar que os picos dos HPAs esto bem definidos apresentando uma grande
concentrao inicial.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
73/112
73
Figura 24- Cromatograma do dispersante do 1odia do experimento
O cromatograma do dispersante para o 30odia apresenta uma concentrao
menor que a inicial e formao de UCM que caracteriza a ocorrncia de degradao. No
180odia, a formao da UCM maior, mostrando a ocorrncia de vrios metablicos no
identificados na mistura complexa no resolvida (Figura 25).
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
74/112
74
Figura 25- Cromatograma da ao do dispersante aps 30 e 180 dias do inicio do experimento
c) Caixa do biossurfactante
Os cromatogramas do 1o e 15o dia do experimento (Figura 26), mostram
uma alta concentrao dos HPAs nos dois cromatogramas, com picos bem resolvidos.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
75/112
75
Nesta caixa houve uma queda de apenas 2,8% da concentrao inicial 16 HPAs, tendo
apresentado uma pequena formao de UCM 15 dias aps o incio do experimento.
Figura 26- Cromatograma do biossurfactante do 1oe do 15odia do experimento
Quando se observa o cromatograma aps 90 dias do experimento, a concentrao
dos HPAs praticamente a mesma, porm h um aumento da UCM. J o cromatograma
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
76/112
76
de 180 dias (Figura 27) a formao da UCM aumenta um pouco, porm a concentrao do
HPAs diminui pouco.
Figura 27 - Cromatograma da caixa do biossurfactante aps 90 e 180 dias aps o inicio do experimento.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
77/112
77
5.5.2- Discusso dos resultados obtidos por meio dos cromatogramas anlise dasconcentraes
Os resultados obtidos por meio dos cromatogramas apresentam valoresespecficos referentes s concentraes dos hidrocarbonetos alifticos e dos
hidrocarbonetos aromticos. Tais valores foram alvo de anlise com o fim de verificar o
decaimento da concentrao inicial at a concentrao final dos hidrocarbonetos.
5.5.2.1- Hidrocarbonetos Alifticos
Os hidrocarbonetos alifticos (n-alcanos) podem ser utilizados como
marcadores ou traadores geoqumicos. A noo deste marcador compreende no
somente um critrio de especificidade, mas tambm uma estrutura molecular estvel quesofra pouca ou nenhuma alterao em uma determinada escala de tempo (Hostettler et al,
1999).
As principais fontes naturais de n-alcanos so de plantas terrestres,
fitoplncton, zooplncton e as bactrias (Medeiros, 2000). Os aportes naturais de origem
continental so constitudos, na maioria, por n-alcanos derivados de ceras cuticulares de
plantas vasculares, que apresentam cadeias longas com nmero de carbonos mpares (C23a
C25), predominando os compostos C27, C29ou C31, conforme as caractersticas da vegetao
local (Eglinton & Hamilton, 1967; Medeiros, 2000).
Os n-alcanos com cadeias moleculares mpares tambm predominam na
biota marinha, com destaque para os compostos entre C15 e C21. Os n-alcanos de origem
fssil apresentam uma composio variada conforme sua fonte especfica: petrleo bruto e
derivados do petrleo, podendo apresentar cadeia carbnica de 1 a 40 tomos de carbono,
sem a predominncia de cadeias carbnicas mpares ou pares (Simoneit, 1993). Os produtos
derivados do petrleo caracterizam-se pela presena de n-alcanos dentro de uma faixa mais
restrita de peso molecular, em decorrncia dos processos de refino (Tabela 11), onde fazuma comparao das diferentes origens dos n-alcanos.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
78/112
78
Tabela 11- Comparao da fonte de n-alcanos ao meio ambiente. Fonte adaptada (Bishop, 1983 eMedeiros 2000).
Organismo Cadeia
Carbnica
Composto Dominante
Bactrias fotossintticas C14a C29 C17, C26Bactrias no fotossintticas C15a C29 C17-C19, C25
Cianobactrias C14a C19 C17Fitoplncton C13a C21 C17Zooplncton C18a C34 C18, C24
Plantas vasculares C15 a C37 C27, C29, C31Derivados do petrleo Temperatura de
destilao 0CCadeia carbnica
predominanteGasolina 40 a 150 C4a C10Nafta 150 a 200 C10a C12
Diesel 250 a 300 C16a C20leo lubrificante 300 a 400 C20a C26
A predominncia de cadeias carbnicas mpares sobre as pares nos n-alcanos
pode ser determinada atravs de ndices especficos, como o CPI (ndice Preferencial de
Carbono), calculado atravs da seguinte equao (Aboul-Kassim & Simoneit, 1996):
CPI = [(C25+C27+C29+C31+C33/C24+C26+C28+C30+C32)+
(C25+C27+C29+C31+C33/C26+C28+C30+C32+C34)
Se os valores encontrados ficarem entre 4 e 7 refletem uma presena
dominante de n-alcanos biognicos, isto , sua origem continental ou marinha. Quando os
valores giram em torno de 1 indicam a presena de n-alcanos de contaminao petrognica
(Bouloubassi, 1990).
Para a realizao do experimento foi utilizado um derivado do petrleo, leo
diesel, onde foram analisados os n-alcanos de C7a C34. Na discusso dos resultados, dado
maior enfoque a C13 a C27, pois de acordo com a UNEP, 1991, o intemperismo naturalprovoca modificaes progressivas na composio original do leo, destacando-se a
volatilizao dos n-alcanos de baixo peso molecular (< C14).
Na anlise dos hidrocarbonetos alifticos ficou muito evidente a ocorrncia
de degradao nas trs caixas. Um dos principais fatores fsicos que influenciaram este
processo foi a temperatura, cuja elevao determina o aumento da taxa de evaporao das
cadeias carbnicas mais leves, conforme CETESB, 2003 e Kennish, 1997. Estima-se que
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
79/112
79
durante as primeiras 24-48 horas, 50 a 60% do volume derramado pode ser perdido pela
evaporao (CETESB, 2003). De acordo com Lee, 1980; ITOPF, 1987, a evaporao
responsvel por uma reduo de 75% dos componentes mais leves presentes na fraogasolina e querosene.
Os n-alcanos C7 a C11, praticamente no foram detectados durante todo o
experimento, pois o produto usado foi leo diesel, cuja cadeia carbnica predominante
C16a C20(Bishop, 1983).
Depois de 180 dias do inicio do experimento, a concentrao dos
hidrocarbonetos alifticos nas caixas do leo diesel, do dispersante e do biossurfactante,
ficaram, respectivamente, 14,37 g/g, 54,79 g/g e 6,25 g/g, o valor encontrado na caixa
do dispersante ficou acima do considerado normal para um ambiente estuarino, pois
geralmente as concentraes de hidrocarbonetos nos sedimentos costeiros podem variar de
5 a 10 g/g, sem que isto represente contaminao (Snedaker et al, 1995, Volkman et al,
1992 e UNEP, 1991). Nos sedimentos de sistemas aquticos submetidos a significativos
aportes de n-alcanos de plantas terrestres, esses valores podem ser duas ou trs vezes
maiores que os citados (Volkman et al, 1992).
Comparando os resultados das trs caixas depois de 180 dias do experimento
(tabela 10), observa-se que os valores esto inferiores aos encontrados por Zamboni (2000),por exemplo, na Coroa do Boi no esturio da Lagoa dos Patos (129,57 g/g).
Dessa forma, aps o transcurso do tempo total do experimento, pode-se
concluir que o impacto ambiental causado pelo derrame simulado de um litro de leo diesel
por m2 no causou graves conseqncias biota microbiana no que refere aos
hidrocarbonetos alifticos. Isto porque, em comparao com resultados de amostras
extradas de outros locais (Tabela 12), a concentrao dos n-alcanos foi consideravelmente
inferior, demonstrando que em alguns ambientes subsistem altas concentraes de
hidrocarbonetos alifticos independentemente de ter havido qualquer acidente ambiental
envolvendo derivados do petrleo.
Os valores encontrados no presente experimento (anexo 3) se aproximam
das concentraes existentes em ambientes no impactados, demonstrando que em casos de
acidentes com mesmas propores, a recuperao do ambiente se processa naturalmente e
se completa em pelo menos 180 dias nas condies do esturio da Lagoa dos Patos.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
80/112
80
Tabela 12- Concentraes de n-alcanos totais em sedimentos. Fonte: adaptado de Taniguchi, 2001
Local IntervaloEncontrado
Referncia
Exterior Concentraoug/g
Mar de Beaufort 0,74 a 5,1 Steinhauer e Boehm, 1992Baa do Almirantado,
Antrtica0,27 a 2,89 Bcego, 1996
BrasilBaa da Guanabara, RJ 1,495 a 11,425 Freixa,1995
So Sebastio, SP 0,049 a 4,766 Medeiros, 2000Salvador, BA ao Cabo S.
Tom, RJ4,96 a 42,23 Pessoa Neto, 2000
Santos, SP 0,096 a 14,559 Medeiros, 2000Sepetiba a Paraty, RJ < 0,07 Taniguchi, 2001
Rio Grande, RSEsturio da Lagoa dos Patos,
RS0,667 a 129,57 Zamboni, 2000
Presente Trabalho Concentraoug/g
Caixa leo 14,37 Presente trabalhoCaixa dispersante 54,79 Presente trabalho
Caixa biossurfactante 6,25 Presente trabalho
Na caixa do leo diesel e na caixa do biossurfactante, a degradao dos
hidrocarbonetos alifticos C13-C27 aps 180 dias do experimento apresentou um
decrscimo de 94 % e 98 %, respectivamente, da concentrao inicial.
Na caixa referente ao leo diesel, a concentrao inicial era de 233,81ug/g,
sendo ao final do perodo encontrado o valor de 14,37 ug/g, o que demonstra a reduo de
aproximadamente 94 %. Um percentual prximo foi constatado na caixa do biossurfactante,
uma vez que a concentrao inicial encontrada foi de 457,59 ug/g e a final de 6,25 ug/g,
sendo de aproximadamente 98 %.
No que refere caixa do dispersante, o percentual de reduo no foi to
intenso, apresentando uma reduo de aproximadamente 78 %, pois a concentrao inicial
de 250,95 ug/g depois de 180 dias passou para 54,79 ug/g. Os resultados demonstraram que
quanto maior o nmero de carbonos na cadeia dos n-alcanos, menor foi a sua reduo,
podendo ser mencionado o exemplo do C25 que apresentou reduo de apenas 48,2% da
concentrao inicial.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
81/112
81
Um dado bastante relevante foi observado na caixa do biossurfactante que,
nos primeiros 15 dias, apresentou um decrscimo de aproximadamente 77 % da
concentrao inicial de n-alcanos. Esse fato mostra o alto desempenho desta substncia nareduo da concentrao dos hidrocarbonetos alifticos em reduzido espao de tempo.
Segundo Cameotra & Bollag (2003), os biossurfactantes so utilizados in situ para
emulsificar e aumentar a solubilidade de contaminantes hidrofbicos e, agindo desta
maneira, facilitam o acesso dos microrganismos presentes no ambiente para que acelerem a
degradao dos hidrocarbonetos.
O mesmo, porm, no foi verificado nos 30 dias iniciais do experimento
realizado na caixa do leo diesel, pois nesta etapa inicial o decrscimo no foi to intenso,
apresentando uma diminuio de apenas 27,44 % da concentrao inicial. Ao final do
tempo total, a taxa de degradao dos n-alcanos foi aproximada em ambas as caixas, sendo
semelhantes s concentraes finais em relao ao biossurfactante e ao leo diesel.
Assim, aps os 180 dias as taxas de degradao do biossurfactante e do leo
foram praticamente iguais enquanto a concentrao de n-alcanos no dispersante manteve-se
em patamar mais elevado.
A diferena verificada no perodo inicial do experimento do biossurfactante
em relao ao leo diesel, assim como no que refere ao resultado final do dispersante emcomparao ao biossurfactante pode ser explicada pelo fato de que tanto o leo,
inicialmente, e o dispersante, durante todo o processo, afetaram de forma bastante
prejudicial os fungos e bactrias responsveis pela biodegradao. Contrariamente o
biossurfactante inseriu no ambiente fungo que produziu a substncia responsvel
justamente pela quebra das cadeias carbnicas dos n-alcanos provocando maior facilidade
da sua absoro pelos microrganismos ou mesmo da evaporao.
O comportamento diferente entre o leo e o dispersante pode ser atribudo
ao fato de que a biodegradao foi restabelecida na caixa do leo diesel, enquanto que na
caixa do dispersante os fungos e bactrias no alcanaram recuperao eficiente, com isso
diminuiu a atividade microbiana e a biodegradao mantendo os valores de n-alcanos
elevados.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
82/112
82
5.5.2.2- Hidrocarbonetos Policclicos Aromticos (HPAs)
A anlise dos resultados das concentraes dos hidrocarbonetos polciclosaromticos ser feita em duas etapas, a primeira envolve a anlise individual dos HPAs ao
longo do tempo, dando nfase a trs grupos de HPAs, de acordo com o nmero de anis,
onde no primeiro grupo esto HPAs com 2 ou 3 anis aromticos, o segundo grupo HPAs
com 4 e 5 anis aromticos e no terceiro grupo HPAs com 6 anis aromticos. E a segunda
etapa aborda a anlise do somatrio dos hidrocarbonetos policclicos aromticos (HPAs)
ao longo do tempo.
Anlise individual dos HPAs
Nesta fase so apresentadas as anlises de alguns dos 16 HPAs encontrados
nas amostras coletadas durante o experimento. Na Tabela 13 so apresentados os principais
resultados dos HPAs obtidos no presente estudo, sendo possvel observar os valores
referentes s concentraes iniciais e finais. Os dados completos dos HPAs so
apresentados em anexo (Anexo 4).
Tabela 13- Mostra a concentrao inicial e final, expressa em ug/kg, dos HPAs.
AmostraCaixaIncio
leoFinal
CaixaIncio
DispersanteFinal
Caixaincio
BiossurfactanteFinal
Naftaleno 0,77 0,53
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
83/112
83
Dentro do primeiro grupo de HPAs com 2 ou 3 anis um dos que foi alvo de
exame o naftaleno que apresenta dois anis aromticos. Este HPA apresenta menor ponto
de ebulio, atingindo o estado gasoso somente a 218
0
C, conforme Morrison & Boyd(2000). Alm disso, encontra-se mais sujeito a sofrer efeitos de processos fsico-quimicos,
tais como a temperatura (evaporao) e a foto-oxidao, do que de processos biolgicos.
Diante de tais caractersticas, era esperado que ao final do experimento no houvesse
concentrao relevante de naftaleno, pois o tempo de meia vida deste composto em
condies desfavorveis degradao de cerca de 129 dias (Herbes e Schwall, 1978;
IPCS, 1998). Destaca-se tambm que o naftaleno est associado contaminao por
petrleo no intemperizado, ou seja, a derrames recentes e raramente detectvel em
sedimentos livre de contaminao (Robertson, 1998; Dahle et al, 2003), o que explica a sua
presena na fase inicial do experimento. Na etapa final do estudo, as caixas do dispersante e
do biossurfactante apresentaram concentrao mnima no detectvel (ND).
Outro HPA investigado dentro do primeiro grupo foi o fenantreno que
possui trs anis aromticos, apresentando ponto de ebulio de 340 oC. Tal caracterstica
determina o tempo de meia vida em perodo superior ao do naftaleno, podendo permanecer
presente no ambiente de 16 a 126 dias em condies desfavorveis, de acordo com Kanaly
& Harayama, 2000. Na caixa do leo diesel, a concentrao inicial de fenantreno foi de323,06 g/Kg e aps 180 dias sua concentrao atingiu 33,45 g/Kg, apresentando uma
reduo de 89,6%. Porm os melhores resultados foram verificados nas caixas do
dispersante e do biossurfactante, onde ocorreu uma reduo, respectivamente, 96,5% e
90,8% depois de 180 dias do experimento.
Assim os resultados finais obtidos no ambiente que no sofreu qualquer
interferncia de outros compostos para acelerar a biodegradao mostraram-se bastante
prximos queles alcanados na caixa do biossurfactante, o que demonstra que o
fenantreno no depende de fatores diversos daqueles existentes no meio para a sua
degradao. A comparao entre as caixas do leo diesel e do biossurfactante permite
visualizar a proximidade das concentraes finais, conforme Grfico 1.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
84/112
84
fenantreno
0
100
200
300
400
500
600
0 50 100 150 200
dias
[g/Kg]
leo
biossurfactante
Grfico 1- Comparao da concentrao final do fenantreno nas
caixas com leo e o biossurfactante.
Dentro do segundo grupo de HPAs com 4 ou 5 anis aromticos o
benzo(a)pireno (BaP) uma espcie de HPA que merece ateno especial. Esse HPA
apresenta cinco anis aromticos, e se constitui em um dos HPAs mais estudados devido a
sua elevada toxidade e do seu estreito contato com o homem j que ocorre em alimentos. A
meia vida deste HPA nos sedimentos varia entre 0,3 e 58 anos (Herbes e Schwall, 1978;
Nielsen & Christensen, 1994). H outros autores que afirmam que a degradao do BaP
pode variar de 229 a mais de 1400 dias (Kanaly e Harayama, 2000). Muito embora exista
divergncia acerca deste dado, h consenso no que refere a outras caractersticas deste
composto que cancergeno, genotxico, teratognico e embriotxico.
Na caixa do dispersante foi verificado o resultado mais significativo no que
se refere degradao do benzo(a)pireno. Comparando-se os dados relativos ao tempo total
do experimento, constata-se que houve um decrscimo de 51,04% entre a concentraoinicial (69,08 g/Kg) e final (33,82 g/Kg). Considerando que este composto apresenta
cadeia carbnica com grande nmero de anis e alto peso molecular, possvel concluir
pela eficcia do dispersante na degradao desta espcie de composto.
Dentro do terceiro grupo onde esto os HPAs com seis anis aromticos,
sendo os mais difceis de serem degradados, est o Indeno [1,2,3-cd] pireno, para este HPA
foi verificado que o dispersante qumico mostrou-se mais eficaz em relao ao
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
85/112
85
biossurfactante. Tal fato confirmado porque na caixa do dispersante, o Indeno, no
primeiro dia, apresentava uma concentrao de 66,59 g/Kg e no ltimo dia atingiu 2,48
g/Kg.A eficcia do dispersante na degradao dos compostos aromticos com
grande nmero de anis e que apresentam maior dificuldade no que refere ao processo de
degradao, demonstrada no Grfico 2.
Caixa do dispersante
0
100
200
300
400
500
600
700
0 50 100 150 200
dias
[g/Kg]
fluoranteno
Indeno
Criseno
benzo(b)fluorantreno
Grfico 2- Comparao da taxa de degradao HPAs > 4 anis
Anlise do somatrio dos HPAs (HPAs)
Nesta fase discutida a soma dos 16 HPAs encontrados em cada caixa do
experimento, sendo comparados os resultados obtidos no incio e no final do processo de
degradao.
Na caixa do leo diesel o HPAs durante o perodo de 180 dias do
experimento, apresentou um decrscimo da concentrao inicial de 35 %. No experimento
referente caixa do dispersante, o percentual de diminuio foi de 75 %. Em relao ao
HPAs nestas duas caixas, houve diferena na taxa de decaimento da concentrao inicial
at a final, porm o menor percentual de decaimento do HPAs foi na caixa do
biossurfactante.
A caixa do biossurfactante foi a que apresentou a menor percentual de
decaimento durante o experimento, sendo verificado um decrscimo de apenas 7 % da
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
86/112
86
concentrao inicial do HPAs. A comparao entre as trs caixas do experimento
apresentada no Grfico 3.
Somatr io de HPAs
0
500
1000
1500
2000
2500
0 100 200
dias
[g/K
g] leo
dispersante
biossurfactane
Grfico 3- Comparao da taxa de degradao durante 180 dias
At o 300dia, no foi verificada uma degradao efetiva nas caixas do leo e
do dispersante porque a adio de tais compostos ocasionou diminuio na microbiota, o
que dificultou o processo de biodegradao. Aps o perodo dos trinta dias iniciais, houve a
recuperao da microbiota, conforme confirmou Martins et al (2004). Esse fator foi
determinante para o decrscimo da concentrao do HPAs. Analisando a concentrao do
HPAs depois de 30 dias na caixa do leo diesel e do dispersante qumico, no final do
estudo, houve uma diminuio em mdia de 75,5 %.
O mesmo no aconteceu no experimento com a caixa do biossurfactante,
pois as espcies de fungos e bactrias que predominaram nesta caixa, demonstraram no
serem capazes de degradar HPAs de alto peso molecular (> 4 anis). A degradao de
compostos contendo at trs anis aromticos relativamente rpida e amplamente descrita
na literatura (Barbieri, 1997). Microrganismos capazes de utilizar compostos aromticos dealto peso molecular, tais como benzo(a)antraceno, fluoranteno e pireno, j foram isolados e
caracterizados (Mahaffey et al, 1988; Heitkamp et al, 1988; Boldrin et al1993).
Os resultados mostram que houve uma degradao mais efetiva das fraes
aromticas com o menor nmero de anis (at trs anis), conforme o Grfico 4. A reduo
foi aproximadamente de 99 % para o fluoreno, 91 % para o fenantreno e 84 % para o
antraceno depois de 180 dias do experimento.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbonetos de leo Diesel no Esturio da Lagos dos Patos - RS
87/112
87
Caixa do b iossurfactante
0
100
200
300
400
500
600
0 50 100 150 200
dias
[g/Kg]
fenantreno
fluoreno
antraceno
Grfico 4- Comparao da taxa de degradao HPAs com 3 anis aromticos
Diante dos resultados obtidos ao final do experimento, foi possvel verificar
a eficcia especfica do biossurfactante para a degradao dos HPAs de baixo peso
molecular e do dispersante para os de alto peso molecular, o que demonstra a possibilidade
do uso de tcnicas de remediao para auxiliar a depurao do meio ambiente.
Porm as tcnicas alternativas devem ser bem estudadas antes de aplic-las,
pois ao mesmo tempo em que apresentam resultados eficazes na degradao dos
hidrocarbonetos tambm podem representar grave risco de prejuzo aos outros organismos,
devido possibilidade de produo de metablicos mais txicos que os prprios
contaminantes.
Os resultados mostraram que deve haver maior preocupao principalmente
com a introduo de espcies no nativas, pois na caixa onde houve adio do fungo
Aspergillus fumigattus a biota microbiana demorou a se recuperar, demonstrando que o
sistema do biossurfactante deve ser adequado s condies fsicas e qumicas da rea
afetada pelo contaminante.
-
7/25/2019 Anlise Qumica de Degradao dos Hidrocarbon