ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO CONVÊNIO UNIDERP – UFRGS ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS ESTRUTURA COMPETITIVA E EVOLUÇÃO MAURÍCIO PEDRA TOGNINI Orientador Prof. Dr. Fernando Bins Luce

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

CONVÊNIO UNIDERP – UFRGS

ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE,

MS

ESTRUTURA COMPETITIVA E EVOLUÇÃO

MAURÍCIO PEDRA TOGNINI

Orientador

Prof. Dr. Fernando Bins Luce

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CAMPO GRANDE, MS 2000

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

CONVÊNIO UNIDERP – UFRGS

ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE,

MS

ESTRUTURA COMPETITIVA E EVOLUÇÃO

MAURÍCIO PEDRA TOGNINI

Orientador

Prof. Dr. Fernando Bins Luce

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

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como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração.

CAMPO GRANDE, MS 2000

"All the notions we thought solid, all the values of civilized life, all that made for stability in international relations, all that made for regularity in the economy...in a world, all that tended happily to limit the uncertainty of the morrow, all that gave nations and individuals some confidence in the

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morrow...all this seems badly compromised. I have consulted all the augurs I could find, of every species, and I have heard only vague words, contradictory prophecies, curiosly feeble assurances. Never has humanity combined so much power with so much disorder, so much anxiety with so many playthings, so much knowledge with so much uncertainty".

Paul Valéry, "Historical Fact" (1932)

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"Há época para todas as coisas e tempo para todo propósito abaixo do céu. Há também, tempo para nascer e tempo para morrer, há tempo para plantar e tempo para colher o que se plantou ...”

Rei Salomão

AGRADECIMENTOS

Quando se chega ao fim da jornada e olha-se para trás é que se vê o quanto andou.

Muitos foram os caminhos percorridos para chegar até aqui. Alguns mais fáceis, outros

mais difíceis, mas em todos eles importantes missões.

Muito do início foi mudado, o conhecimento modifica, e modifica a própria vida também.

Nada será como antes, este era o objetivo.

Os agradecimentos são muitos, pois foram muitas as etapas.

Fernando Luce, dos seus conselhos surgiram os caminhos corretos.

Aos professores, tenham certeza, transmitiram a mensagem da transformação

Aos colegas, obrigado pelas horas que não esquecerei.

Renata, sem o seu apoio teria sido impossível.

Felipe e Rodrigo, a vocês dedico o futuro.

Azir, sem a sua dedicação não teria terminado.

O amanhã começou hoje, com muito mais razão do que ontem!

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................8

LISTA DE QUADROS................................................................................................................9

LISTA DE TABELAS................................................................................................................10

RESUMO ..................................................................................................................................11

ABSTRACT..............................................................................................................................12

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................13

1.1 Problema..............................................................................................................................13

1.2 Justificativa ...........................................................................................................................14

1.3 Objetivos..............................................................................................................................15

1.3.1 Geral .....................................................................................................................15

1.3.2 Específicos.............................................................................................................15

1.4 Estrutura do trabalho.............................................................................................................15

1.5 Limitações do estudo............................................................................................................16

2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................................17

2.1 Introdução...........................................................................................................................17

2.2 Estratégia.............................................................................................................................17

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2.3 Análise estrutural..................................................................................................................22

2.3.1 As cinco forças competitivas .................................................................................22

2.3.2 Grupos estratégicos...............................................................................................24

2.3.3 Indústrias fragmentadas.........................................................................................25

2.4 Visão baseada em recursos..................................................................................................26

2.5 Competências essenciais ......................................................................................................29

2.6 Análise da indústria x visão baseada em recursos..................................................................30

2.7 Cenários: modelos para o futuro...........................................................................................33

3 METODOLOGIA..................................................................................................................36

3.1 A estratégia de pesquisa.......................................................................................................37

3.2 Estudo de caso ....................................................................................................................37

3.2.1 Design..................................................................................................................39

3.3 Conduzindo o estudo de caso ..............................................................................................40

3.3.1 Coleta de dados....................................................................................................41

3.3.1.1 Pesquisa de gabinete.................................................................................43

3.3.1.2 Entrevistas................................................................................................43

3.3.2 Preparação da análise ...........................................................................................44

4 A PRAÇA DA ALIMENTAÇÃO..........................................................................................45

4.1 A história se repete ..............................................................................................................45

4.2 A arena competitiva .............................................................................................................47

4.2.1 Delimitando o segmento ........................................................................................48

4.2.1.1 Competidores...........................................................................................48

4.2.1.2 Substitutos................................................................................................50

4.2.1.3 Fornecedores ...........................................................................................50

4.2.2 As forças competitivas ..........................................................................................51

4.2.2.1 Intensidade da rivalidade...........................................................................52

4.2.2.2 Barreiras de entrada .................................................................................53

4.2.2.3 Barreiras de saída.....................................................................................55

4.2.2.4 O poder de barganha dos fornecedores ....................................................57

4.2.2.5 A ameaça dos substitutos..........................................................................59

4.3 As receitas para o sucesso ...................................................................................................60

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4.3.1 Os recursos individuais ..........................................................................................61

4.3.2 As competências essenciais ...................................................................................64

4.3.3 Vencendo a fragmentação.....................................................................................65

5 O AMANHÃ.........................................................................................................................67

5.1 As forças se renovam...........................................................................................................68

5.1.1 A força do delivery e a Internet ...........................................................................74

6 CONCLUSÃO......................................................................................................................76

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................79

ANEXOS ..................................................................................................................................83

ANEXO 1 - Sites de interesse da Internet.............................................................................83

ANEXO 2 - Roteiro das entrevistas. ......................................................................................84

ANEXO 3 - Entrevistados. ....................................................................................................88

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estratégias genéricas. ..................................................................................................20

Figura 2 - As cinco forças competitivas. ......................................................................................23

Figura 3 - Área de criação de valor.............................................................................................28

Figura 4 - Firma e indústria. ........................................................................................................33

Figura 5 - Tipos de estudos exploratórios....................................................................................38

Figura 6 - Evolução da refeição fora de casa no Brasil. ................................................................47

Figura 7 - Faturamento restaurantes sobre serviço x fast food (%). .............................................63

Figura 8 - O fast food no mundo em % do PIB. ........................................................................68

Figura 9 - Gastos mundiais com comida rápida (US$ per capita/ano)...........................................69

Figura 10 - Fast food: comparativo de tamanho de mercados (vendas em milhões)......................69

Figura 11 - Número de estabelecimentos fast food no Primeiro Mundo (1000). ..........................70

Figura 12 - Brasil: faturamento das redes de fast food (US$ bilhões)...........................................71

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Figura 13 - Evolução de vendas do Shopping Center Campo Grande, MS. .................................73

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa.......................................38

Quadro 2 - Tipos básicos de design para estudo de caso............................................................40

Quadro 3 - Categoria de dados brutos para análise da indústria...................................................41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - As vinte maiores redes de fast food no Brasil em 1997...............................................71

Tabela 2 - Refeições fora do lar (%). ........................................................................................72

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RESUMO

O segmento de fast food está em expansão e, ao mesmo tempo, sofrendo alterações em seus processos operacionais. Para o estudo do segmento em Campo Grande, MS, é necessária a análise da dimensão nacional do segmento. Essa dissertação investiga a estrutura competitiva atual do segmento de fast food nesta cidade, sob a ótica dos conceitos de Michael E. Porter (1980), com o complemento da identificação dos recursos e competências necessários para uma operação de sucesso no segmento. Além disso, são descritos os possíveis desdobramentos na evolução do setor, na visão de especialistas do segmento.

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Palavras-chave: Análise competitiva, análise estrutural, fast food, recursos críticos, competências essenciais, produto substituto, evolução.

ABSTRACT

The fast food industry is expanding and, at the same time changing the usual operations. To research the Campo Grande, Mato Grosso do Sul., local sector, it is necessary a broader analysis of the national dimension of the industry. This paper investigates the fast food sector in Campo Grande, MS, under the concepts of Michael E. Porter, complementing with the resource-based view and core competencies statements, to a successful operation in the industry. This paper also describes possible outcomes for structural evolution of the sector.

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Keywords: Competitive analysis, structural analysis, fast food, resources, core competencies, substitutes, evolution.

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1 INTRODUÇÃO

O objeto de estudo deste trabalho é o segmento de fast food em Campo Grande, capital do

Estado de Mato Grosso do Sul. O fast food surgiu nos Estados Unidos no final da década de

1950, e, no novo milênio, está cada vez mais globalizado, assim como a indústria e o comércio.

Como as pessoas têm cada vez menos tempo para fazer as refeições dentro ou fora de casa, o fast

food é uma alternativa.

Campo Grande está localizada em um Estado de cultura predominantemente agropastoril e,

desde a inauguração do shopping center na cidade, em 1989, o hábito local vem se modificando, e

as refeições fora de casa, que antes se restringiam às churrascarias, cantinas e a algumas lanchonetes

locais, encontram agora a presença de redes de fast food de grande porte, como McDonald’s e

Bob’s.

O segmento de fast food na Capital vem sofrendo transformações nos últimos dez anos e se

antes não havia competidores à altura dos grandes centros, a realidade atual indica que após a

chegada de franquias nacionais, como McDonald’s e Bob’s, o segmento merece maior atenção. A

competição não é mais restrita aos competidores locais, pois abriu-se para o duelo das grandes

redes nos diversos Estados do país.

Essa dualidade na dimensão competitiva influencia a arena competitiva do segmento de fast

food, pois os competidores locais necessitam de maior profissionalismo e padronização das suas

operações, para que possam competir de acordo com o novo padrão de exigência do mercado.

Surge então o interesse em saber como funcionam as forças competitivas do fast food na

cidade, quem são os competidores com melhores recursos e competências, e as tendências de

evolução do segmento.

1.1 Problema

O trabalho realizado tem a sua atenção voltada para o desenvolvimento dos cenários do

segmento de fast food em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, sendo o problema da pesquisa o

estudo da estrutura competitiva deste segmento, analisadas as forças competitivas que ali atuam e

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projetado o comportamento competitivo desta indústria no futuro. A pesquisa é norteada pela

pergunta: Qual é a estrutura competitiva do segmento de fast food em Campo Grande e o seu

delineamento para o futuro?

1.2 Justificativa

Segundo Porter (1980), a competição se faz da rivalidade, não sendo possível criar

estratégias em um vácuo competitivo. Empresas de renome desapareceram quando o mercado

brasileiro se abriu para a competição dos mercados internacionais após 1990. Muitas delas tinham o

domínio do mercado pela falta de concorrentes e perderam a competitividade de uma hora para

outra, simplesmente porque não estavam inseridas em um cenário competitivo.

Sabe-se que, neste novo cenário, o profissionalismo e uma estrutura adequada são

imprescindíveis para competir. Os restaurantes de fast food locais, que se instalam atualmente,

adotam uma estratégia de benchmarking das operações de grandes redes de fast food, indo

buscar fora de Campo Grande inspiração para a implantação das suas operações, pois já se sabe

que, sem investimento em uma estrutura adequada, não há chance de sobrevivência no cenário

competitivo desta indústria.

A indústria do fast food tem passado por transformações rápidas, tendo sido acrescentadas

aos cardápios outras refeições, além de hambúrgueres, pizzas e frangos fritos. Atualmente, existem

redes de fast food especializadas em comida chinesa, japonesa, italiana, árabe, mineira, entre

outras.

Além das ampliações no cardápio, o fast food tem recebido a influência da refeição servida

por quilo, que oferece um conceito de cardápio mais abrangente.

Campo Grande é uma cidade que ainda passará por ciclos de expansão, em virtude de sua

localização estratégica no Estado de Mato Grosso do Sul, despertando o interesse em saber como

será a evolução da indústria de fast food. Aumentam as oportunidades dentro do segmento, assim

como para o franchising como estratégia de crescimento, à medida que, segundo Cherto (1988),

essa indústria tem o perfil adequado para a expansão por meio deste mecanismo de negócios,

devido à padronização de suas instalações, do seu cardápio, das suas operações e a experiência

adquirida por meio dos diversos pontos de operação, muitas vezes espalhados pelo país.

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1.3 Objetivos

1.3.1 Geral

Analisar a estrutura competitiva do segmento de fast food em Campo Grande, Mato

Grosso do Sul, e identificar os possíveis contornos de sua configuração nos próximos anos.

1.3.2 Específicos

. Identificar as forças competitivas no segmento de fast food.

. Identificar os recursos e competências para uma empresa competir com sucesso no

segmento de fast food.

. Descrever os possíveis contornos do futuro do segmento de fast food em Campo

Grande.

1.4 Estrutura do trabalho

Na primeira parte do trabalho é introduzida a razão de se fazer esta pesquisa e quais os

objetivos a serem atingidos.

Na seção seguinte, é apresentada uma revisão da literatura pertinente ao objetivo proposto.

As contribuições da chamada "visão baseada em recursos" e das competências essenciais são

discutidas, expondo o referencial teórico da análise realizada. Os conceitos de Porter sobre a análise

estrutural são discutidos na análise da pesquisa. São abordados os conceitos utilizados pela Shell na

análise de cenários com o objetivo de justificar a necessidade da visão de longo prazo no mundo

competitivo atual.

Em seguida, a metodologia do trabalho é descrita e justificada. Questões como design e a

coleta de dados são explicitadas e detalhados os procedimentos adotados na condução da

pesquisa.

A análise da indústria está exposta num capítulo que procura descrever e compreender o

setor em questão, observando a sua história e dinâmica das suas forças. Neste capítulo são

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analisadas também as novas receitas para o sucesso do setor sob a ótica dos conceitos da visão

baseada em recursos e competências essenciais.

A evolução do segmento é abordada no último capítulo, em que são expostos pontos

levantados durante as entrevistas como sendo importantes no desenvolvimento do setor.

1.5 Limitações do estudo

Diversas limitações estão associadas a este trabalho. Elas são de natureza metodológica,

pois é um estudo exploratório e não pode ser validado internamente. No entanto, foram tomados

alguns cuidados com o objetivo de se garantir a confiabilidade, por meio do registro em fitas e

anotações. Por se tratar de um segmento relativamente novo em Campo Grande, Mato Grosso do

Sul, as informações locais são restritas, tanto oficiais como acadêmicas.

Outra limitação é que não foram entrevistados todos os participantes do segmento, e sim os

mais expressivos. O fato de o pesquisador atuar profissionalmente no setor pode ter introduzido

tendenciosidade na análise, mas, por outro lado, ampliou o caráter crítico e investigativo.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Introdução

Os objetivos deste trabalho relacionam-se com a configuração atual do segmento de fast

food em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, a sua estrutura competitiva, assim como o

delineamento da sua evolução. Para a condução das entrevistas realizadas com os especialistas da

área, a fim de atingir tais objetivos, foi necessário o fundamento teórico que se segue.

Os conceitos foram dispostos da seguinte forma: primeiro, são apresentados alguns

conceitos sobre estratégia competitiva, com a finalidade de abrir a discussão principal que é sobre a

competição; segundo, a importância da sobrevivência por meio da criação e manutenção e das

vantagens competitivas com os conceitos da análise estrutural, dos conceitos da visão baseada em

recursos e das competências essenciais. Para finalizar esta parte do trabalho são apresentados

alguns conceitos de análise de cenários, com a finalidade de reafirmar a importância da discussão do

futuro para a elaboração das estratégias competitivas.

2.2 Estratégia

Henderson (1989) ao descrever as origens da estratégia explica que a competição existiu

muito antes da estratégia. Começou com o aparecimento da própria vida. Os primeiros organismos

unicelulares requeriam certos recursos para se manterem vivos. Quando os recursos eram

adequados, o número de organismos aumentava de uma geração para outra. Com a evolução dos

seres vivos, esses organismos tornaram-se uma fonte de alimentação para formas de vida mais

complexas e assim por diante, ao longo da cadeia alimentar. Quando duas espécies quaisquer

competiam por um recurso essencial, mais cedo ou mais tarde, uma delas deslocava a outra. Na

ausência de influências compensadoras que mantivessem um equilíbrio estável, proporcionando a

cada uma das espécies uma vantagem em seu próprio território, somente uma das duas sobreviveria.

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Durante milhões de anos a competição natural não envolveu estratégias, mas sim a seleção

natural de Darwin baseada na adaptação e sobrevivência do mais apto, modelo que se aplica ao

mundo dos negócios.

Se todos os negócios pudessem crescer indefinidamente, o mercado total cresceria até uma

dimensão infinita em um planeta finito. O que acontece é que os concorrentes em número crescente

acabam sempre por eliminar uns aos outros. Os mais aptos sobrevivem e prosperam até que tenham

expulsado seus competidores ou crescido além do que seus recursos permitiam. Os competidores

que conseguem seu sustento de maneira idêntica não podem coexistir. Cada um precisa ser diferente

o bastante para possuir uma vantagem única. A existência indefinida de uma variedade de

competidores é uma demonstração em si mesma de que as vantagens de cada um sobre os demais

são mutuamente exclusivas. Podem até se parecer, mas no fundo são de espécies diferentes. Para

sobreviverem, os competidores têm de se diferenciar em características importantes para dominar

diferentes segmentos de mercado. Vendem para clientes diferentes ou oferecem valores, serviços ou

produtos diferentes.

O que diferencia competidores em negócios pode ser o preço de venda, as funções, a

utilização do tempo, a vantagem da localização. Ou pode não ser nada disso, mas apenas a

percepção que o cliente tem de um produto e de seu fornecedor.

Uma vez que as empresas podem combinar esses fatores de muitas maneiras diferentes,

sempre existirão muitas possibilidades de coexistência competitiva, mas também muitas

possibilidades de que cada competidor amplie o escopo de sua vantagem, mudando aquilo que o

diferencia de seus rivais.

Estratégia é a busca deliberada de um amplo plano de ação para desenvolver e ajustar a

vantagem competitiva de uma empresa e, segundo Henderson (1989), os elementos básicos da

competição estratégica são os seguintes:

a) capacidade de compreender o comportamento competitivo como um sistema no qual

competidores, clientes, dinheiro, pessoas e recursos interagem continuamente;

b) capacidade de usar essa compreensão para predizer como um dado movimento

estratégico vai alterar o equilíbrio competitivo;

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c) recursos que possam ser permanentemente investidos em novos usos mesmo se os

benefícios conseqüentes só aparecerem a longo prazo;

d) capacidade de prever riscos e lucros com exatidão e certeza suficientes para justificar o

investimento correspondente;

e) disposição de agir.

Se existisse uma única posição ideal, ou o posicionamento perfeito, não haveria necessidade

de estratégias. A essência do posicionamento estratégico é escolher atividades que são diferentes

das eleitas por competidores (Porter, 1996), cujo autor alerta para o fato de que a busca pela

eficiência operacional substituiu a estratégia (onde eficiência operacional significa fazer melhor,

atividades similares). Para Porter (1996), acreditar que a constante mudança da tecnologia e dos

mercados é a causa de as vantagens competitivas terem se tornado temporárias é uma falsa

verdade. Para ele, uma vez alcançada a eficiência operacional, o real posicionamento estratégico

torna-se fundamental.

No início dos anos 60, em uma época em que o pensamento gerencial estava voltado para

funções individuais, como marketing, produção e finanças, um trabalho pioneiro, liderado por

Kenneth R. Andrews e C. Roland Christensen (Harvard, 1998), identificou uma necessidade

urgente de uma forma holística de se pensar a empresa e assim o conceito de estratégia foi

articulado para tal finalidade. A estratégia era a idéia unificadora que ligava as áreas funcionais de

uma empresa e relacionava suas atividades com o ambiente externo. Nessa abordagem, a

formulação de uma estratégia envolvia a justaposição dos pontos fortes e fracos da empresa e das

oportunidades e ameaças apresentadas pelo ambiente.

O conceito central nesse trabalho era a noção de adequação entre as capacidades únicas de

uma empresa e as exigências competitivas de um setor que a distinguia das demais. O desafio

enfrentado pela gerência consistia em escolher ou criar um contexto ambiental no qual as

competências e recursos característicos da empresa poderiam produzir uma relativa vantagem

competitiva. Essa estratégia seria então atualizada mediante um esforço consistente de coordenação

das metas, políticas e planos funcionais da empresa. O trabalho desses pioneiros, ao lado de outros

como Igor Ansoff, Alfred D. Chandler e Peter Drucker, empurrou a noção de estratégia para a linha

de frente das práticas gerenciais (Montgomery, 1991).

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Porter (1980) propôs uma tipologia composta de três estratégias genéricas: liderança no

custo total, diferenciação e enfoque. Segundo a sua afirmação, as empresas que conseguem maior

rentabilidade dentro de uma indústria são aquelas que criam vantagem competitiva seguindo uma das

estratégias genéricas.

As estratégias genéricas são baseadas em dois tipos básicos: liderança em custo ou

diferenciação que, combinados com dois escopos de atuação da empresa - amplo ou estreito –

,formam as três estratégias genéricas demonstradas na Figura 1.

VANTAGEM COMPETITIVA

CUSTO MAIS BAIXO DIFERENCIAÇÃO

ESCOPO ALVO AMPLO LIDERANÇA DIFERENCIAÇÃO

EM CUSTO

COMPETITIVO

ALVO ESTREITO ENFOQUE EM ENFOQUE EM

CUSTO DIFERENCIAÇÃO

Fonte: PORTER, Michael E. Competitive Strategy (1980)

Figura 1 - Estratégias genéricas.

A estratégia de liderança no custo total é aquela na qual a empresa faz com que ele seja

menor do que o de seus concorrentes. O custo mais baixo funciona como um mecanismo de defesa

da empresa contra a rivalidade de seus concorrentes, especialmente no tocante à guerra de preços.

Porter (1980) entende que somente pode existir um líder em custo numa indústria, pois, do

contrário, a batalha por parcela de mercado entre várias empresas aspirando à liderança em custo

levaria a uma guerra de preços que seria desastrosa para a estrutura de longo prazo da indústria.

A estratégia de diferenciação pressupõe que a empresa ofereça, no âmbito de toda a

indústria, um produto que seja considerado único pelos clientes, isto é, cujas características o

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distingam daqueles oferecidos pela concorrência. A diferenciação oferece à empresa uma defesa

contra as forças do ambiente, embora de uma forma diferente daquela permitida pela diferença em

custo. A lealdade e a diminuição da sensibilidade ao preço, isto é, clientes dispostos a pagar mais

para terem um produto que eles consideram que melhor atende às suas necessidades, isolam a

empresa da rivalidade de seus concorrentes.

A estratégia de enfoque baseia-se no fato de que a empresa será capaz de atender melhor

ao seu alvo estratégico do que aqueles concorrentes que buscam atender a toda à indústria (ou a um

grande número de segmentos da indústria).O alvo, ou escopo estratégico, deve ser suficientemente

estreito de forma a permitir que a empresa o atenda mais eficientemente ou mais eficazmente. O alvo

estreito pode ser atendido por uma posição de custo mais baixo ou por uma diferenciação, mesmo

que a empresa não seja capaz de manter uma dessas posições em relação à indústria como um

todo.

Mintzberg (1988) entende que a maioria das tipologias estratégicas são falhas, seja por

focarem de forma muito estreita em alguns tipos especiais de estratégias, seja por proporem

agregações arbitrárias. Mintzberg (1988) propôs uma nova tipologia de estratégias genéricas,

derivadas a partir do conceito de diferenciação.

Segundo Mintzberg (1988) as seguintes estratégias são:

a) diferenciação por preço: uma forma de diferenciar um produto da oferta dos outros

concorrentes pode ser, simplesmente, cobrar um preço mais baixo;

b) diferenciação por imagem: uma empresa pode diferenciar seu produto ao desenvolver

uma imagem que o torne distinto dos demais;

c) diferenciação por suporte: também chamada de diferenciação periférica, é uma forma de

diferenciar o produto sem necessariamente alterar seus atributos “intrínsecos”,

oferecendo algo mais junto com o produto;

d) diferenciação por Qualidade: é caracterizada por oferecer, ao nível de paridade de

preço e custo ou a um custo mais alto compensado por um preço de mercado também

mais alto, um produto que, embora não fundamentalmente diferente, é melhor que os

concorrentes;

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e) diferenciação por design: uma forma de diferenciar um produto é oferecê-lo ao mercado

com características distintas dos produtos concorrentes;

f) não diferenciação: baseia-se no fato de que é possível copiar as ações de outras

empresas, desde que o mercado ofereça espaço para produtos concorrentes e a

empresa especialize-se em acompanhar e imitar os lançamentos dos concorrentes e

apoiar seus próprios lançamentos com ações inovadoras e eficientes de marketing.

2.3 Análise estrutural

Para Porter (1980), a essência da formulação de uma estratégia competitiva é relacionar

uma empresa com o seu meio ambiente. Embora este seja muito amplo, abrangendo tanto forças

sociais como econômicas, o aspecto principal do meio ambiente da empresa é a indústria ou as

indústrias em que ela compete. A estrutura industrial tem uma forte influência na determinação das

regras competitivas do jogo, assim como das estratégias potencialmente disponíveis para a empresa.

Forças externas à indústria são significativas, principalmente em sentido relativo. Uma vez que as

forças externas em geral afetam todas as empresas na indústria, o ponto básico encontra-se nas

diferentes habilidades das empresas em lidar com elas.

Na economia, o campo da organização industrial tem estudado os determinantes estruturais

da rentabilidade das indústrias por décadas, mas as implicações deste trabalho para os gestores não

foram desenvolvidas. A pesquisa sobre a análise de indústrias e competidores mostrou como um

sistema de forças, internas e externas à indústria, coletivamente, influencia a natureza e o grau de

competição numa indústria e, em última análise, o seu potencial de lucro (Montgomery,1991).

2.3.1 As cinco forças competitivas

Porter (1980) afirma que uma indústria (definida pelo autor como o grupo de

empresas fabricantes de produtos que são substitutos bastante aproximados entre si) está em

permanente estado de competição, e propõe o entendimento da sua dinâmica como resultado da

interação das cinco forças competitivas (Figura 2): ameaça de novos concorrentes; competição

entre as empresas da indústria; ameaça de produtos substitutos; poder de barganha dos

fornecedores; e, poder de barganha dos clientes.

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A pressão conjunta dessas forças determina a lucratividade da indústria, pois elas

influenciam preços, custos e investimentos, os elementos básicos da rentabilidade.

O vigor coletivo das cinco forças competitivas determina a habilidade de empresas em

uma indústria para obter, em média, taxas de retorno sobre investimentos superiores ao custo do

capital.

Entrantes potenciais

Ameaça de novos concorrentes

Poder de barganha dos fornecedores Concorrentes

na indústria Poder de barganha dos compradores

Fornecedores Compradores Rivalidade entre

empresas existentes

Ameaça de serviços ou produtos

Substitutos Substitutos

Fonte: PORTER, Michael E. Competitive Strategy (1980)

Figura 2 - As cinco forças competitivas.

Em setores onde essas forças são favoráveis, muitos concorrentes obtêm retornos

atrativos. Entretanto, em indústrias onde a pressão de uma ou mais forças é mais intensa, poucas

empresas comandam retornos atrativos, apesar dos esforços gerenciais.

De acordo com essa teoria, a rentabilidade da indústria não é função da aparência do

produto ou de se ele engloba alta ou baixa tecnologia, mas da estrutura industrial. A indústria norte

americana de computadores pessoais (PCs), por exemplo, emprega alta tecnologia, mas tem uma

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24

rentabilidade relativamente baixa. Como exemplo oposto, a indústria de software emprega alta

tecnologia e tem rentabilidade relativamente alta (Porter, 1980).

A pressão de cada uma das cinco forças é função da estrutura da indústria, isto é,

das características econômicas e técnicas intrínsecas à mesma. A importância dos elementos que

definem a estrutura de uma indústria, assim como também a intensidade relativa das forças

competitivas, varia de indústria para indústria. Essas forças competitivas agem de forma diferente em

ramos de negócios diferentes.

O poder de barganha dos clientes e a ameaça dos produtos substitutos, por exemplo,

influenciam os preços que a indústria pode cobrar de sua clientela, e os investimentos, pois clientes

poderosos demandam serviços custosos. O poder de barganha dos fornecedores determina os

custos das matérias-primas e de outros insumos. A intensidade da concorrência entre as empresas

da indústria influencia os preços, como também custos de competir em áreas como desenvolvimento

de produto, propaganda e equipe de vendas. A ameaça de entrada de novos participantes fixa limite

à estratégia de preços.

O entendimento dos pontos fortes e fracos de uma empresa, a partir do seu

posicionamento na estrutura industrial, é primordial para a análise da estratégia, e os fatores

relevantes para a determinação da intensidade de cada uma das cinco forças competitivas são

importantes para tal entendimento.

A identificação das fontes e do poder das cinco forças competitivas determina a

natureza da competição na indústria e o seu potencial de lucro básico. O porquê algumas empresas

são mais lucrativas do que outras e como isso está relacionado com as suas posturas estratégicas

depende da análise estrutural dentro das indústrias.

2.3.2 Grupos estratégicos

Para uma análise estrutural dentro das indústrias é preciso que sejam caracterizadas as

estratégias de todos os concorrentes significativos em cada uma das dimensões, classificando a

indústria em grupos estratégicos.

Um grupo estratégico é o grupo de empresas em uma indústria que está seguindo uma

estratégia idêntica ou semelhante ao longo das dimensões estratégicas. Entre estas que definem um

Page 26: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

25

grupo estratégico podem ser citadas a imagem de qualidade, integração vertical, escopo geográfico,

canal utilizado, serviços e métodos de produção (Porter, 1980).

Uma indústria pode ser formada por um único grupo estratégico se seus componentes

seguirem, essencialmente, a mesma estratégia. O outro extremo acontece se cada empresa constituir

um grupo estratégico. Usualmente, o que acontece é a existência de um número reduzido desses

grupos que sintetizam as diferenças estratégicas entre as empresas de uma indústria. Grupos

estratégicos não eqüivalem a um segmento de mercado, ou estratégias de segmentação, mas são

definidos com base em uma ampla concepção da postura estratégica. O mapa deles reflete um

momento determinado, podendo novos grupos formarem-se com base em novos posicionamentos

competitivos ainda não identificados.

2.3.3 Indústrias fragmentadas

O meio ambiente industrial no qual numerosas organizações competem, mas em que

nenhuma possui uma parcela de mercado significativa, nem pode influenciar fortemente o resultado

da indústria, é a indústria fragmentada (Porter, 1980).

As indústrias fragmentadas são constituídas de grande número de empresas de

pequeno e médio portes e estão em várias áreas da economia, como: prestação de serviços, varejo,

distribuição, fabricação de madeira e metal, produtos agrícolas e negócios criativos.

É importante identificar o motivo pelo qual a indústria é fragmentada, existindo várias

causas econômicas básicas, como as que seguem:

a) barreiras de entrada pouco significativas;

b) ausência de economias de escala ou curva de experiência;

c) custos de transportes elevados;

d) custos de estoque elevados ou flutuações irregulares nas vendas;

e) ausência de vantagem de tamanho em transações com compradores ou

fornecedores;

f) deseconomias de escala em aspectos importantes;

g) necessidades variadas do mercado;

Page 27: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

26

h) acentuada diferenciação do produto, particularmente se baseada na imagem;

i) barreiras de saída;

j) novidade (nenhuma companhia desenvolveu habilidades).

Segundo Porter (1980), superar a fragmentação pode ser uma oportunidade

estratégica bastante significativa, dado que os custos de entrada neste tipo de indústria são, por

definição, baixos e, em geral, os concorrentes pequenos e relativamente impotentes oferecem pouco

perigo de retaliação.

2.4 Visão baseada em recursos

Um contraponto ou complemento à análise de Porter (1980) são as contribuições

denominadas como Visão Baseada em Recursos (VBR) (Resource-Based View): durante a década

de 1980, o principal foco da análise estratégica foi a ligação entre o ambiente externo (a estrutura da

indústria), a estratégia e o conseqüente desempenho das empresas, sendo praticamente desprezada

a relação entre os recursos e competências da empresa e sua escolha estratégica (Carneiro,

Cavalcanti & Silva, 1997).

No início da década de 1990, houve um reaparecimento do interesse pelo papel dos

recursos das empresas como pilares da sua estratégia, renovado nas velhas teorias de lucro e

competição, ligadas ao trabalho de David Ricardo, Joseph Schumpeter e Edith Penrose. Esse

interesse reflete a insatisfação com a abordagem econômica da estrutura da organização industrial, e

seu equilíbrio estático, que dominou boa parte do pensamento contemporâneo sobre estratégia de

negócios. Avanços ocorreram em diversas frentes; na corporação, esforços foram empreendidos

para compreender o papel dos recursos corporativos na determinação das fronteiras geográficas e

industriais das atividades das empresas. Quanto à estratégia da unidade de negócios, foram

exploradas as relações entre recursos, competição e rentabilidade, incluindo a análise da imitação

competitiva, a capacidade de apropriação de retornos de inovação, o papel da informação

imperfeita na criação de diferenças de rentabilidade entre concorrentes e os meios pelos quais o

acúmulo de recursos pode sustentar a vantagem competitiva. Juntas, essas contribuições respondem

pelo que ficou conhecido como a visão da empresa baseada em recursos (Grant, 1991).

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27

Diversas contribuições, que incluem Wernerfelt (1984,1995), Schmalensee (1985), Barney

(1986,1991), Dierickx & Cool (1989), Rumelt (1991), Conner (1991), mostram que a influência

das características das empresas sobre suas rentabilidades relativas é muito mais significativa do que

a da indústria à qual as empresas pertencem.

Os mesmos autores estudaram as características necessárias dos recursos para que estes se

tornassem uma fonte de vantagem competitiva sustentável, a influência das barreiras de imitação

sobre as diferenças de rentabilidade entre as empresas, o papel da história da empresa na obtenção

e desenvolvimento de competências organizacionais críticas (a estratégia futura da empresa como

condicionada pelas suas escolhas no passado), a importância das diferenças das rotinas

organizacionais para explicar as diferenças de rentabilidade entre as empresas.

Segundo Barney (1991), apud Peteraf (1993), a afirmação do trabalho baseado em

recursos é a heterogeneidade destes e capacidades entre as empresas. Os fatores produtivos podem

ser descritos em diferentes níveis de eficiência, alguns superiores aos demais. Empresas capacitadas

com tais recursos estão aptas a produzirem com mais economias ou atender melhor os clientes. A

heterogeneidade implica no fato de que empresas com capacidades diferentes são capazes de

competir no mercado e pelo menos chegar ao ponto de equilíbrio (breakeven). Aquelas com

recursos marginais podem somente almejar o ponto de equilíbrio, e outras, com recursos superiores,

terão retornos financeiros (Peteraf, 1993).

Para Dierickx & Cool (1989), a origem básica da rentabilidade da empresa são alguns

recursos valiosos, escassos, sem substitutos e de difícil imitação. Nesta visão, a estratégia

competitiva é a arte da criação, acumulação e utilização desses recursos, ao invés da construção de

barreiras de entrada perante os demais concorrentes nos segmentos-alvo de produto/mercado.

Grant (1991) diz que recursos são todos os elementos de entrada no processo produtivo;

são a unidade básica de análise. Os recursos individuais da empresa incluem itens de capital,

equipamentos, habilidades individuais dos empregados, patentes, marcas, e assim por diante. Os

recursos raramente são produtivos. Atividades produtivas requerem a cooperação e coordenação

de times de recursos. A capacidade que um time de recursos tem para fazer alguma tarefa ou

atividade é chamada de capacitação. Enquanto os recursos são a fonte das capacitações de uma

empresa, capacitações são a sua maior fonte de vantagem competitiva.

Page 29: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

28

O valor dos recursos de uma empresa está na complexa superposição entre ela e o seu

ambiente competitivo por meio da demanda, raridade e apropriação. O valor é criado na

interseção destas três dimensões: quando um recurso é demandado pelos clientes, quando não pode

ser imitado pelos competidores e quando os lucros gerados são retidos pela empresa, como mostra

a Figura 3 (Collis & Montgomery, 1995).

Wernerfelt (1995) afirma que em um ambiente altamente competitivo é muito difícil que uma

empresa tenha sucesso se não tiver uma estratégia baseada em recursos, porque uma empresa

estará sempre competindo contra o melhor, qualquer que seja o seu mercado de atuação.

Hunt & Morgan (1995) estudaram a Teoria da Vantagem Comparativa de Competição,

concluindo que a competição é baseada em um ambiente diversificado e dinâmico, enfatizando o

desequilíbrio e a diversidade do mercado como fatores saudáveis, pois induzem à criatividade e à

inovação, como exemplo, os E.U.A. onde a opulência da economia é oriunda desses fatores, em

oposição à Teoria Neoclássica que diz que a competição está restrita ao interior da organização.

O que torna um recurso valioso?

Raridade Apropriação

Demanda

Área de criação de valor

A dinâmica superposição das três forças fundamentais do mercado

Fonte: COLLIS, David J. & MONTGOMERY, Cynthia A. Competing on resources: strategy in the 1990s. Harvard Business Review, July/Aug 1995.

Figura 3 - Área de criação de valor.

Page 30: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

29

Segundo essa teoria, uma empresa obtém vantagem comparativa, quando utiliza os seus

recursos melhor que os concorrentes. Não é necessário que se tenha uma vantagem absoluta na

produção de todos os produtos. É necessária a eficiência na produção de alguns produtos melhor

do que outras empresas, que garantam uma posição de vantagem competitiva no mercado e,

conseqüentemente, uma resultado financeiro superior aos concorrentes.

2.5 Competências essenciais

Hamel & Prahalad (1989) argumentam que a estratégia competitiva das empresas não deve

estar preocupada somente em alocar os recursos existentes, baseando-se numa análise das

indústrias nas quais competem. Segundo eles, as empresas que buscaram a liderança global durante

os últimos 20 anos, foram além de seus recursos e capacidades. Elas criaram uma obsessão de

vencer em todos os níveis da organização. É o caso das orientais, que superaram os seus

concorrentes ocidentais, que eram providos de maiores recursos.

Hamel & Prahalad (1989) consideram inútil a análise estrutural de indústrias. Eles afirmam

que as empresas devem se voltar para seus princípios básicos. Entram em cena as competências

essenciais (core competencies), que são os elementos de nível superior, específicos da empresa,

resultantes do aprendizado organizacional e da combinação única de vários recursos. Hamel &

Prahalad (1995) utilizam o termo competências essenciais (core competencies) por considerar que

estas são o aprendizado coletivo da organização, especialmente de como coordenar diversos

recursos e tecnologias.

Da mesma maneira, não consideram as estratégias genéricas como um guia para as

empresas. Para eles, a liderança só será atingida perseguindo-se ambas as estratégias: “O que alguns

chamam de suicídio competitivo - perseguir ambos, custo e diferenciação – é exatamente o que

muitos competidores lutam para conseguir” (Hamel & Prahalad, 1989).

Segundo esses mesmos autores, apenas no curto prazo a vantagem competitiva de uma

empresa deriva dos atributos de preço e desempenho de seus produtos, pois no longo prazo esta

seria decorrente da capacidade de desenvolver internamente, ao menor custo e mais rapidamente

que os concorrentes, as competências que permitem a criação de muitos produtos novos (não

previstos pelas condições atuais de demanda). Ou em outras palavras, no mundo atual mais incerto

e dinâmico (as preferências dos clientes são voláteis e as tecnologias estão em contínua evolução), a

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30

vantagem competitiva da empresa reside naquelas competências que permitem o acesso da empresa

a uma grande variedade de mercados (existentes ou que possam ser criados), sendo a questão

fundamental a pergunta: “O que a nossa empresa tem de exclusivo e singular aos olhos do

consumidor?” A tarefa da alta gerência é a reinvenção do setor e a regeneração da estratégia. A

busca da competitividade é a competição pela criação e domínio das oportunidades emergentes,

pela posse do novo espaço competitivo. Estratégias baseadas na imitação podem ser a melhor

forma de agradar rapidamente, mas são transparentes para os concorrentes, e não levam a uma

revitalização competitiva.

2.6 Análise da indústria x visão baseada em recursos

Para McGahan (1997), a estrutura da indústria é um determinante da performance da

empresa, e diferenças entre empresas são consideradas no ambiente da indústria. A linha de

pensamento chamada de VBR argumenta que a performance da empresa é influenciada

principalmente pelos processos organizacionais específicos (próprios). Nessa ótica, a estrutura da

indústria é menos importante do que os fatores históricos que alimentam as diferenças entre as

empresas.

Em 1991, Rumelt apresenta um estudo mais abrangente a partir de um outro de

Schmalensee (1985), que estudou o Federal Trade of Comission (FTC) Line of Business de

1975. Os dois trabalhos são pesquisas que se utilizam de técnicas estatísticas aplicadas aos dados

encontrados nessa base, tentando tirar conclusões sobre relações tipo causa-efeito entre fatores

genéricos e a rentabilidade das empresas.

Segundo Rumelt (1991), os achados de Schmalansee (1985) apontam para as seguintes

conclusões:

a) efeitos corporativos não existem;

b) efeitos decorridos de fatias de mercado são negligenciáveis;

c) efeitos da indústria explicam 20% da variância do retorno das unidades de negócio;

d) efeitos da indústria contam por, pelo menos, 75% da variância dos retornos da indústria.

No entanto, as implicações do estudo de Rumelt (1991) são distintas:

Page 32: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

31

a) modelo neoclássico não descreve indústrias reais, indústrias reais são extremamente

heterogêneas;

b) tamanho relativo não é determinado pela eficiência;

c) explicações teóricas ou estatísticas que usam a indústria como unidade de análise

podem, no máximo explicar 8% da dispersão observada entre as taxas de lucro das

unidades de negócio

Segundo McGaham (1997), nem Rumelt (1991) nem Schmalensee (1985) fizeram

considerações sobre as questões econômicas ou sobre os processos organizacionais subjacentes

aos resultados das respectivas pesquisas. Os dois artigos, continua, tinham um caráter mais

descritivo do que normativo. Apesar disso, alguns autores interpretaram que os achados de Rumelt

sustentavam a VBR.

São esses resultados, a relativa baixa proporção atribuída ao componente indústria

comparada ao componente, ou efeitos, das unidades de negócio, que foram interpretados como

dando suporte a perspectiva da visão baseada em recursos (McGaham, 1997).

MacGahan & Porter (1997) identificam uma grande variação na importância dos fatores da

indústria entre setores. Nos setores de varejo, turismo, entretenimento e serviços, a "indústria" é

responsável por mais de 40% da variância na rentabilidade. Esse resultado sugere que a

diversificação no setor de serviços pode ser mais afetada pela seleção da indústria do que pelas

relações entre segmentos de negócios. Como o segmento de fast food pode ser situado na fronteira

das indústrias de entretenimento e serviços, o argumento reforça a análise aqui proposta.

Os resultados de McGahan & Porter (1997) corroboram à principal conclusão de

Schmalensee (1985) de que os efeitos da indústria em que se está inserido contribuem de forma

importante na variação da rentabilidade entre negócios específicos e questionam os achados de

Rumelt (1991) que dizem ter uma baixa influência. Segundo McGahan & Porter (1997), a indústria

realmente interfere de três maneiras diferentes:

a) a indústria diretamente explica 19% da variação agregada em lucros de negócios

específicos e 36% da variação explicada;

b) a indústria influencia o componente da corporação na rentabilidade da unidade de

negócio;

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32

c) a influência relativa e absoluta da indústria, corporação e da unidade de negócio diferem,

substancialmente, entre grandes setores econômicos de forma que sugerem diferenças

características no contexto estrutural industrial.

Efeitos industriais são mais persistentes (no tempo) que aqueles das unidades de negócios ou

corporativos, o que é consistente com a visão de que a estrutura da indústria muda de forma

relativamente lenta. Esses resultados não suportam (corroboram) a afirmação de que mudanças

rápidas na economia têm diminuído a influência da indústria. Enquanto as diferenças enfatizadas pela

escola da VBR são certamente significativas (e estariam incluídas nas estimativas feitas por

McGahan & Poerter (1997) de diferenças de segmentos específicos), seria um erro desconectar a

influência da organização da indústria e do contexto competitivo em que a empresa atua.

Para Amit & Schoemaker (1993), a VBR complementa a análise da estrutura da indústria.

Quando a indústria é a unidade de análise, pode-se observar que, num dado momento, alguns

recursos e capacitações que estão sujeitos a uma falha de mercado tornaram-se os fatores

determinantes de ganhos econômicos. Esses fatores são chamados de Fatores Estratégicos

Industriais (FEI) (SIF Strategic Industry Factors). Ghemawat (1991), (apud Amit 1993), sugere

que é possível classificar indústrias em termos de "fatores estratégicos que conduzem a competição

através da dominação da estrutura de custos irrecuperáveis no curso da competição". Por definição,

FEIs são determinados no mercado por interações complexas entre competidores, clientes,

inovadores externos à indústria e outros interessados. Dessa forma, o desafio posto ao

administrador é identificar previamente os FEIs como uma base para preparar a empresa por meio

de recursos e capacitações que produzam vantagem competitiva.

A Figura 4 ilustra as relações entre o FEI da indústria e o da firma, com os recursos,

capacitações e ativos estratégicos propostos por Amit (1993).

Page 34: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

33

Rivais

Clientes

Substitutos

Entrantes

Fornecedores

Fatores Ambientais(e.g. tecnologia, regulação)

Fatores Estratégicos Industriais

•Especificidades Industriais

•Recursos e Capacitações sujeitas a falha no mercado

•Afetam a lucratividade da indústria

•Mudanças estruturais sujeitas a incertezasIndústria

Ativos Estratégicos•subconjunto de Recursos e Capacitações sujeitas afalha no mercado•sobreposição com os FEI•antecipação incerta•formam a base da estratégia competitiva da empresa•determinam ganhos da organização•não comercializáveis•complementários•escassos•apropriáveis•específicos da firma

Capacitações

•processos organizacionais baseados eminformação

•específicos da empresa

•tangíveis ou intangíveis

Recursos

•disponíveis externamente e transferíveis

•de propriedade ou controlado pela empresa

•conversíveis

Firma

Fonte: AMIT, Raphael & SCHOEMAKER, Paul J. H. Strategic assets and organizational rent. Strategic Management Journal, v.14, p.33-46, 1993.

Figura 4 - Firma e indústria.

2.7 Cenários: modelos para o futuro

Um cenário é uma estória sobre as possibilidades futuras. Como uma ferramenta de

planejamento, os cenários proporcionam uma maneira sistemática de pensar com imaginação sobre

o futuro e lidar com a incerteza. Por meio da construção de narrativas relatando forças que possam

dirigir o futuro, os cenários proporcionam um veículo para a construção do pensamento de longo

prazo.

O objetivo do desenvolvimento de cenários não é a previsão do futuro, que só pode ser

avaliado para o curto prazo, mas sim a produção de narrativas, baseadas nas tendências e lógicas

do mundo real, o que serve como base para o planejamento e introduz uma nova maneira de

pensamento, que substitui a visão estática do futuro por um variado e dinâmico ponto de vista

(Wilkinson, 1995).

Page 35: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

34

Para Porter (1980), quando uma empresa formula uma estratégia competitiva, a tendência é

basear-se na suposição de que o passado irá repetir-se ou nas previsões implícitas dos próprios

gerentes quanto a um futuro mais provável de uma indústria, subestimando a probabilidade de

mudanças radicais ou descontínuas, que poderiam ser improváveis, mas que alterariam

significativamente a estrutura industrial ou a vantagem competitiva de uma empresa.

Sendo que um cenário industrial é uma visão internamente consistente da estrutura futura de

uma indústria, sendo baseado em um conjunto de suposições plausíveis sobre as incertezas

importantes que poderiam influenciar a estrutura industrial, considerando as implicações para a

criação e sustentação da vantagem competitiva, as incertezas importantes que podem vir a

influenciar a estrutura industrial, estão relacionadas com as rupturas tecnológicas, a entrada de novos

concorrentes e a flutuação das taxas de juros. Fatores externos, como condições macroeconômicas

e política governamental, afetam a concorrência por meio da estrutura industrial.

A preocupação com o futuro é amplamente defendida por Hamel & Prahalad (1995): “não

acreditamos que uma empresa possa ter sucesso sem uma visão articulada das oportunidades e

desafios de amanhã”. Para eles, a previsão, exclusivamente, não é uma garantia de uma jornada

lucrativa em direção ao futuro, contudo, sem ela, a jornada não pode nem começar.

Diante da necessidade de uma abordagem explícita da incerteza no planejamento, algumas

empresas começaram a utilizar cenários como instrumento para a compreensão das implicações

estratégicas da incerteza de um modo mais completo, a exemplo da Royal Dutch/Shell que foi a

pioneira no planejamento de cenários no início da década de 1970, estando preparada para a crise

de petróleo que ocorreu naquela época.

Segundo Heijen (1996), no início, a análise de cenários era essencialmente uma extensão do

processo de previsão controlada, com a introdução do conceito de probabilidade de futuros

diferentes, induzindo a projeção mais provável de acontecer. Quando Wack (1985) introduziu os

cenários na Shell, utilizou os conceitos de Kahn (1967), que se baseia na afirmação de que algo

pode ser previsto. Se o futuro é totalmente incerto, então o planejamento estratégico perde o

sentido. O problema passa a ser então separar o que é previsível do que é, fundamentalmente,

incerto e impossível de se prever. A idéia de Kahn (apud Wack, 1985), para a abordagem de

cenários, era de que os fatores predeterminados ocorreriam em todos os cenários com a mesma

Page 36: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

35

forma previsível, e as incertezas, de outro modo, ocorreriam de maneiras diferentes no vários

cenários.

Segundo Wack (1985), os primeiros cenários desenvolvidos na Shell valorizavam a

importância da seleção dos "elementos predeterminados" e "incertezas", sendo chamados de

cenários de primeira geração, e eram úteis na obtenção de uma melhor compreensão da situação,

para que se pudesse fazer melhores perguntas e desenvolver melhores cenários de segunda geração,

ou seja, cenários de decisão.

Embora a utilização de cenários tem sido feita por grandes empresas, como Shell e AT&T,

as pequenas são ainda mais vulneráveis às incertezas e surpresas que atingem as gigantes. As

pequenas empresas devem prestar especial atenção às questões amplas, porque os cenários gerais

são os mesmos para as pequenas e grandes, o diferencial são as questões específicas. Para

pequenos negócios e até mesmo individuais, os cenários ajudam o desenvolvimento da percepção e

compreensão, tanto da realidade como da imaginação (Schwartz, 1996).

Durante os tempos estáveis, o modelo mental de uma decisão bem sucedida no passado

pode funcionar; os cenários têm pouca influência. No mundo de hoje, de rápidas mudanças e

crescente complexidade, o modelo mental dos gerentes pode ser perigoso, porque os cenários

influenciam e podem fazer diferença. O gerenciamento baseado no passado e sustentado pelas

formas usuais de previsão é totalmente inadequado e estar comprometido com alguma estrutura de

pensamento torna difícil uma solução inédita.

Pelo fato de apresentar o mundo de outras formas, os cenários de decisão permitem aos

gerentes uma transposição da maneira unilateral de visão. Os cenários dão aos gerentes algo muito

precioso: a habilidade de percepção da realidade. Essa nova percepção e a descoberta de aberturas

estratégicas, que se segue à quebra de paradigmas, são a essência do empreendedor. O

planejamento de cenários almeja a redescoberta da essência da força empreendedora de prever,

dentro de um contexto de mudanças, complexidades e incertezas. É precisamente nesses contextos,

e não em tempos estáveis, que as oportunidades reais ganham vantagem competitiva por meio da

estratégia (Wack, 1985).

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36

3 METODOLOGIA

Neste capítulo é exposta a fundamentação da escolha pela estratégia de estudo de caso, além de

descrever o processo de coleta de dados e os aspectos operacionais da pesquisa. O segmento de

fast food em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, é recente, e isso contribui para explicar a

ausência de artigos disponíveis e estudos acadêmicos sobre o setor.

Page 38: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

37

3.1 A estratégia de pesquisa

Definido o objetivo do trabalho, surgiu a questão da escolha da estratégia de pesquisa que

apresentasse as maiores vantagens. A estratégia de pesquisa define o modo de coletar e sistematizar

as evidências empíricas segundo uma determinada lógica.

A natureza da pesquisa realizada foi a qualitativa, do tipo exploratório, e, de acordo com

Churchill (1993), a pesquisa exploratória é apropriada para questões que se tem pouco

conhecimento, tendo como objetivo geral o descobrimento de idéias e insights. A pesquisa

exploratória busca o esclarecimento de conceitos e uma melhor definição do problema a ser

estudado. Em função de se ter pouco conhecimento quando se inicia a pesquisa, os estudos

exploratórios são caracterizados pela flexibilidade em relação aos métodos usados para a obtenção

de intuições e desenvolvimento de hipóteses.

A flexibilidade da pesquisa exploratória permite a utilização de pesquisa da literatura, estudo

de experiências, grupos específicos e estudos de casos, conforme a Figura 5.

3.2 Estudo de caso

O estudo de caso foi escolhido como estratégia para a realização desta pesquisa. De acordo

com Yin (1994), no estudo de caso, como pesquisa exploratória, a investigação tem questões do

tipo “como” e “por que” de modo predominante, os eventos estudados são atuais e o investigador

possui pequeno ou nenhum controle sobre o evento. No Quadro 1, Yin (1994) desenvolve uma

metodologia para o pesquisador escolher a estratégia de pesquisa mais eficiente.

Pesquisa da literatura

ESTUDOS Estudo de experiências

EXPLORATÓRIOS

Grupos específicos

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38

Estudo de casos

Fonte: CHURCHILL, Gilbert A. Marketing research: metodological foundation. Hindasle: Dryden

Press, 1993. Figura 5 - Tipos de estudos exploratórios.

Quadro 1 - Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa.

Estratégia Tipo de questão Necessita controle Eventos

sobre o comportamento atuais

do evento ?

Experimento como, por que sim sim

Surveys quem, o que, não sim

onde, quanto

Análise de arquivo quem, o que, não sim/não

onde, quanto

História como, por que não não

Estudo de casos como, por que não sim

Fonte: YIN, Robert K. Case study research: design and methods. 2nd ed. Newbury Park : Sage Publications, 1994.

Segundo Bonoma (1985), assim como outros estudos qualitativos, o estudo de caso baseia-

se, fortemente, em entrevistas pessoais (“reports”). Entretanto, esse método diferencia-se dos

demais em função do seu envolvimento com inúmeras fontes de dados, algumas delas quantitativas.

Essas diversas fontes funcionam como um triângulo de percepção e fornecem um quadro mais

amplo do objeto em estudo.

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39

Ainda conforme as afirmações de Bonoma (1985), o método de estudo de caso exige a

observação direta do fenômeno por um observador preparado, com capacidade de julgamento

apurada para saber o que observar e o seu significado. Esse método é baseado então em critérios

subjetivos, e não em uma realidade objetiva.

3.2.1 Design

O design é o plano que guia o pesquisador no processo de coleta, análise e

interpretação das observações. O principal objetivo do design é evitar que as evidências coletadas

não se enderecem às questões propostas pela pesquisa. Para que o design atinja o seu objetivo, é

preciso que o pesquisador compreenda não só os seus componentes como também tenha uma boa

perspectiva do referencial teórico relacionado aos propósitos da pesquisa. Segundo Yin (1994),

existem cinco componentes determinantes de um projeto de pesquisa quando se fala em estudo de

caso:

a) questões de pesquisa;

b) proposições;

c) unidades de análise;

d) a lógica que une os dados às proposições;

e) os critérios para a interpretação dos dados.

De acordo com a proposição de Yin (1994), os principais pontos componentes do

trabalho de pesquisa realizado são:

a) questão de pesquisa – Qual é a estrutura competitiva do segmento de fast food

em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e o seu delineamento para o futuro?

b) proposições – As cinco forças competitivas estão presentes na indústria de fast

food de Campo Grande, Mato Grosso do Sul e sofrerão mudanças no futuro.

c) unidade de análise – A indústria de fast food de Campo Grande, Mato Grosso

do Sul.

Yin (1994) atenta para o fato de que, no estudo de caso, a conexão lógica entre

dados e proposições e o critério de interpretação dos resultados são assuntos que não estão

Page 41: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

40

plenamente desenvolvidos. Estabelecer esta conexão por meio de proposições teóricas e tentar

determinar também os critérios para a interpretação deve fazer parte do trabalho do pesquisador.

Baseado na matriz 2x2 de Yin (1994), apresentada no Quadro 2, o presente estudo é

do tipo 1. O estudo de caso aqui desenvolvido possui um design de caso simples e natureza

holística (possui uma única unidade de análise). Para Yin (1994), existem alguns raciocínios para o

design de um caso simples:

a) crítico num teste de uma teoria para confirmar, desafiar ou estender uma teoria, é

possível utilizar um caso que claramente satisfaz as condições de teste da teoria;

b) extremo ou único;

c) revelador, inédito, sendo este o caso desta pesquisa em particular.

Quadro 2 – Tipos básicos de design para estudo de caso.

Design de caso simples

Design de caso múltiplo

Holístico Tipo 1 Tipo 3

inserido Tipo 2 Tipo 4 Fonte: YIN, Robert K. Case study research: design and methods. 2nd ed. Newbury Park : Sage Publications, 1994.

Em algumas situações, o estudo de caso pode ser usado como um prelúdio para

estudos posteriores, como os dos estudos exploratórios, ou quando se trata de um primeiro caso de

um estudo de múltiplos casos. Neste trabalho não foi feito um estudo de caso múltiplo, ou utilizadas

múltiplas unidades de análise. Quanto à alternativa holística x inserida, foi levado em conta o

argumento de Yin (1994): “Se o estudo de caso examina apenas a natureza global de um programa

ou de uma organização, um design holístico deve ser utilizado” e ainda, o design holístico é

vantajoso quando (...) a teoria subjacente ao caso é de natureza holística”. Sendo assim, foi possível

conduzir a coleta de dados e sua análise de modo coerente com as premissas estabelecidas, para

que o estudo de caso pudesse ser considerado um estudo completo.

3.3 Conduzindo o estudo de caso

Para Yin (1994), o estudo de caso necessita de uma preparação prévia , além das

habilidades do investigador. Um treinamento e uma preparação para um estudo de caso específico,

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o desenvolvimento de um protocolo do estudo de caso e a condução de um estudo de caso-piloto,

são necessários.

O protocolo do estudo de caso contém os procedimentos e as regras gerais que deverão ser

seguidas, aumentando a confiança no trabalho a ser executado e antecipando diversas questões

relacionadas com o estudo.

Uma parte importante do protocolo é a elaboração de um protocolo de perguntas ou roteiro

de entrevistas, que merece uma atenção maior em função da característica exploratória da pesquisa

a ser realizada, onde os dados foram coletados principalmente por meio de três fontes: entrevistas;

exame de documentos; e, análise de dados quantitativos.

A elaboração deste roteiro tem por objetivo avaliar as informações verdadeiramente

importantes para a análise da indústria, conforme proposto por Porter (1980). Segundo ele, não

sendo, geralmente, as características da estrutura e da concorrência dados brutos, e sim o resultado

da análise destes, pode ser útil uma metodologia para coleta dos dados brutos, conforme a Quadro

3.

3.3.1 Coleta de dados

O procedimento escolhido para a coleta de dados foi composto de dois elementos:

primeiro, a pesquisa de gabinete (desk research), ou seja, a revisão da literatura existente sobre a

indústria e referências sobre as tendências do cenário brasileiro. O segundo elemento, um conjunto

de entrevistas com especialistas representantes das instituições identificadas como pertinentes na

conjuntura do setor, quais sejam, franqueadores e franqueados de redes de fast food, proprietários

de restaurantes tipo fast food e gerentes do ramo da indústria de fast food em Campo Grande,

Mato Grosso do Sul.

Quadro 3 - Categoria de dados brutos para análise da indústria.

Categoria de dados Compilação • Linha de produtos por companhia • Compradores e seu comportamento por ano • Produtos substitutos por área funcional • Crescimento Índice Padrão ( sazonal, cíclico)

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Determinantes • Tecnologia de produção e distribuição Estrutura de custo Economias de escala Valor agregado Logística Mão-de-obra • Marketing e Vendas Segmentação do mercado Práticas de marketing • Fornecedores • Inovação Tipos Fontes Índice Economias de escala • Concorrentes Estratégias Metas Pontos fortes Pontos fracos Hipóteses • Meio macroeconômico

Para a validação do constructo, invoca-se o princípio proposto por Yin (1994) de

utilizar múltiplas fontes de evidência e confrontá-las por meio da triangulação, garantindo, dessa

maneira, diferentes medidas do mesmo problema. Fontes de evidência podem ser de diversos tipos

e algumas das que foram utilizadas neste trabalho são:

a) documentos de instituições do setor - segundo Yin (1994), a utilização mais

importante de documentos é a de corroborar e expandir evidências de outras

fontes;

b) entrevistas (abertas e focalizadas);

c) observação participativa - tendo o autor um vínculo profissional com o setor,

pode-se considerar sua experiência como análoga à observação participativa.

O fato de uma das fontes ser a observação participativa facilitou as oportunidades de

contato e o início da coleta de dados foi agilizado. As restrições advindas dessa condição são a

capacidade de manipulação do pesquisador e a tendenciosidade. A primeira restrição foi

minimizada pela complexidade do fenômeno estudado e a raridade das informações, e a

preocupação com uma análise tendenciosa norteou todas as atividades da pesquisa e precauções

foram tomadas. Os resultados das entrevistas e pesquisa de gabinete foram, muitas vezes, expostos

a críticas de colegas de mestrado, colegas de profissão com formação distinta e profissionais sem

vínculo com o setor em questão.

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43

3.3.1.1 Pesquisa de gabinete

A pesquisa de gabinete foi dividida em duas partes. Na primeira, buscaram-

se subsídios teóricos para as entrevistas com base em textos e livros acadêmicos, procurando

aprofundar a compreensão dos conceitos utilizados na construção sobre a análise estratégica. Um

ponto importante foi o domínio da terminologia de Porter (1980) (entrantes, poder de barganha

etc.), cuja falta de domínio pelos entrevistados gerou interpretações equivocadas, exigindo maior

aprofundamento por parte do entrevistador. Na segunda parte, as pesquisas envolvendo periódicos,

documentos sobre o setor e páginas na Internet (Anexo 1) orientaram o autor na identificação de

tendências de evolução da indústria, na fundamentação de posições e na compreensão dos

argumentos utilizados nas análises dos integrantes do setor.

3.3.1.2 Entrevistas

A “entrevista em profundidade”, na denominação de Boyd (1989), foi o tipo

escolhido para este trabalho. Segundo o autor, nela não são utilizados questionários, mas o

entrevistador possui linhas gerais da entrevista em mente. Para Yin (1994), as perguntas são

lembretes daquilo que deve ser arrecadado e a razão desta coleta. O roteiro utilizado como guia

nessa etapa encontra-se no Anexo 2. Foram realizadas onze entrevistas dessa natureza. A relação

dos profissionais entrevistados está disponível no Anexo 3.

Com o objetivo de esclarecer pontos pendentes da entrevista em

profundidade, ou de verificação de informações, ou ainda na busca de contrapontos e diversidade

de opinião, foram utilizadas entrevistas focadas, isto é, breves contatos. Aquelas tiveram duração

entre uma e duas horas e, estas, mais curtas, conduzidas por telefone, complementaram as

informações das mais longas.

Como precaução, foram mantidas em disquetes e material impresso, todas

as informações coletadas, assim como os nomes e telefones das pessoas entrevistadas.

A pesquisa foi realizada durante os meses de junho, julho e agosto de 2000.

A maior parte realizou-se em Campo Grande, Mato Grosso do Sul., e as restantes, em São Paulo,

capital. Estas foram realizadas em datas diferentes, sendo duas delas realizadas durante a ABF

Franchising Expo & Conference 2000, no mês de junho de 2000 e, uma, no escritório do

entrevistado no mês de agosto de 2000.

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Entre as dificuldades encontradas durante a realização dessas entrevistas, as

mais significativas foram o entendimento do modelo de Porter (1980) (concorrentes, produto

substituto etc.) e a falta de visão de futuro por parte dos operadores menores do segmento de fast

food.

3.3.2 Preparação da análise

Yin (1994) sugere duas estratégias gerais para a análise dos dados coletados. A

primeira é por meio de proposições teóricas, enquanto a segunda é o desenvolvimento de uma

descrição. O objetivo de se possuir uma estratégia é saber, antecipadamente, o que fazer com as

evidências coletadas. A estratégia escolhida foi a descritiva, em função da falta de proposições

teóricas que cobrissem a totalidade do estudo. O modelo de Porter (1980) para a análise estrutural

foi utilizado para descrever a estrutura competitiva em questão.

Foi adotado um estilo de apresentação da análise utilizando a metáfora com a praça

de alimentação de um shopping center, o ambiente natural da competição do fast food. As

informações adquiridas durante as entrevistas foram intercaladas com as informações provenientes

da pesquisa de gabinete e com aquelas de domínio do autor. A linha divisória, entre a opinião do

autor e as informações coletadas no processo de pesquisa, foi um tanto difícil de ser demarcada, e

muitas vezes não foi, com intenção de evitar um excesso de rigor que prejudicasse a leitura. Muito

do que é exposto no texto são pontos de vista de entrevistados, ou do próprio autor, que não são

referenciados, cada vez, pelos mesmos motivos.

A análise foi separada em dois momentos: no primeiro, é analisada a estrutura do

segmento no estágio atual, utilizando o modelo de Porter (1980) como referencial, e, no segundo,

contemplam-se as tendências de evolução do segmento de fast food no contexto nacional, o que

refletirá com certeza em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

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4 A PRAÇA DA ALIMENTAÇÃO

O segmento de fast food de Campo Grande será analisado nas próximas seções por meio do

entendimento da sua estrutura competitiva. O termo praça é utilizado como forma coloquial para

mercado e a abordagem por meio da praça da alimentação é feita para definir a concentração dos

competidores do segmento de fast food na cidade.

Campo Grande é a maior cidade do Estado, com uma população aproximada de setecentos mil

habitantes, sendo também o centro comercial e financeiro mais forte. Ela funciona como um pólo

atrativo para diversas atividades, entre elas a prestação de serviços.

4.1 A história se repete

Antes de ser iniciada a análise da estrutura competitiva do segmento de fast food em

Campo Grande, convém que seja feito um posicionamento histórico do fast food, conceito que

surgiu nos Estados Unidos em meados de 1950, e por muito tempo caracterizou um estilo de vida

tipicamente americano.

O surgimento do fast food, tal qual o conceito conhecido hoje em dia, confunde-se com o

nascimento do McDonald's, nos Estados Unidos. Em 1937, os irmãos Maurice e Richard

McDonald fundaram um pequeno restaurante drive-in com atendimento nos carros. Em 1948, após

a Segunda Guerra Mundial, em função de diversos problemas operacionais ocasionados pelo

aumento do tráfego de pessoas, eles resolveram modificar o restaurante, criando um restaurante

drive-in com auto-atendimento em San Bernardino, Califórnia, e cardápio baseado em

hambúrgueres, milk-shakes e batatas fritas, servidos em pratos descartáveis. Tudo preparado

antecipadamente e de maneira padronizada, para garantir o atendimento de grande volume de

pessoas em curto espaço de tempo. É registrado o primeiro evento da indústria de restaurante de

serviço rápido.

Em 1954, Ray Kroc, 52 anos, um vendedor de máquina de milk-shake, comprou dos

irmãos McDonald o direito de explorar franquias com o nome McDonald nos Estados Unidos. Em

1955, ele abriu em Des Plaines, Illinois o seu primeiro restaurante que servia hambúrgueres de

qualidade, com serviço rápido e cortês, num ambiente limpo. Tem início então a história da maior

rede de fast food do mundo.

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No ano de 1954, ao mesmo tempo em que Ray Kroc abria o seu primeiro restaurante

McDonald's, surgia também em Miami, Flórida, a Buger King Corporation, hoje uma rede mundial

presente em 58 países, menos no Brasil. Essa empresa foi fundada por James McLamore e David

Edgerton, ambos com muita experiência no ramo de restaurantes.

Historicamente, o setor de alimentação no Brasil, no final da década de 1950, era formado,

principalmente, por estabelecimentos familiares, como pensões, confeitarias, cantinas e tratorias,

com serviços personalizados. A maioria da população fazia as refeições em casa e o proletariado

dos centros urbanos usavam marmitas. No final dos anos 50 e início dos anos 60, surge no Brasil a

geração Coca Cola, formada por jovens ávidos por cachorros-quentes, a novidade da época. Nos

grandes centros, proliferam com rapidez as pizzarias e lanchonetes, ainda com uma estrutura

administrativa bastante rudimentar (Food, 2000).

O Bob’s surge nesta época, em 1952, com a idéia do americano Robert Falkenburg de

trazer para o Brasil os conceitos mais modernos do fast food. Não existiam nesta época redes

nacionais desse tipo, e apenas nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, era

possível experimentar uma refeição que lembrasse o padrão americano de fast food.

A grande transformação acontece nas décadas de 1970 e 1980, quando, segundo o Censo

Demográfico de 1970, pela primeira vez, a população urbana brasileira ultrapassa a rural. Dos

quase 94 milhões de brasileiros, 56% vivem nas cidades.

O McDonald’s chega ao Brasil em 1979. A globalização faz com que as redes americanas

de fast food, como McDonald’s, Pizza Hut, Kentucky Fried Chicken, entre outras, estabeleçam

suas bases em diversos países, espalhando o conceito americano de fast food para o mundo.

A década de 1980 marca o início da proliferação de shoppings centers, e com eles a

difusão de praças de alimentação, o ambiente adequado para a expansão das redes de fast food,

que até então eram regionais e tipicamente lojas de rua. O conceito de padronização do cardápio e

atendimento rápido, associado à garantia de higiene e qualidade dos produtos, tem expansão rápida,

por causa do tipo de vida agitado dos centros urbanos. A Figura 6 ilustra a evolução da refeição

fora de casa no Brasil.

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Maioria da população Geração População Praça de Alimentação Plano Real Migração das se alimenta em casa Coca -Cola urbana ultrapassa nos Shopping Centers estimula o indústrias para a rural consumo outras regiões do país

ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS SÉC. 50 60 70 80 90 XX1

Fonte: FOOD EXPRESS. (Revista Mensal). São Bernardo do Campo. Aden Editora e Comunicações Ltda., jun. 2000.

Figura 6 - Evolução da refeição fora de casa no Brasil.

A inauguração do Shopping Center Campo Grande, do grupo Ecisa, em outubro de 1989,

traz para Campo Grande o cenário adequado para a instalação de estabelecimentos tipo fast food e

marca a entrada das franquias de alimentação na cidade. Comparativamente, é um marco para a

história do segmento de fast food na cidade, assim como foi a entrada do McDonald’s dez anos

antes no Brasil. A competição das franquias, como Mister Pizza e Cupim Pão de Batata com os

estabelecimentos locais, traz para a cidade a competição do fast food.

4.2 A arena competitiva

A arena competitiva é por definição onde a competição acontece, e nos tópicos seguintes

serão abordados os temas que compõem a análise da estrutura competitiva do segmento de fast

food em Campo Grande, pela síntese dos dados obtidos nas entrevistas.

O segmento de fast food é relativamente novo em Campo Grande, e, apesar da presença

de grandes redes nacionais, a competição com estabelecimentos locais desprovidos de muito

profissionalismo ainda é uma realidade. O agrupamento competitivo acontece de acordo com as

características e estratégias competitivas.

A arena competitiva pode ser analisada de acordo com a localização dos competidores: os

estabelecimentos presentes no shopping center e os estabelecimentos de rua. Os do shopping

center estão localizados na praça de alimentação, onde estão presentes as franquias nacionais,

como o McDonald’s, Bob’s, Mister Pizza, Roasted Potato e 10 Pastéis. Os competidores de rua

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estão localizados em diferentes regiões da cidade, havendo uma maior concentração no centro da

cidade.

4.2.1 Delimitando o segmento

Esta seção pretende delimitar o segmento de fast food de Campo Grande, Mato

Grosso do Sul, caracterizando os competidores de acordo com os tipos de agrupamento, os

substitutos do segmento e os tipos de fornecedores, seguindo os conceitos de Porter (1980). A

competição será analisada na seqüência

4.2.1.1 Competidores

Os concorrentes foram agrupados de acordo com as sua semelhanças ao

longo de algumas dimensões estratégicas. Segundo Porter (1980), um grupo estratégico é o grupo

de empresas em um indústria que está seguindo uma estratégia idêntica ou semelhante ao longo das

dimensões estratégicas.

As dimensões escolhidas para a divisão em grupos seguem o conceito de

Day & Reibstein (1997):

a) a gama de categorias de produtos;

b) escopo geográfico;

c) as classes e segmentos de clientes;

d) número de atividades na cadeia de valor.

De acordo com essas definições, foram identificados quatro grupos

estratégicos no segmento de fast food em Campo Grande, Mato Grosso do Sul: Redes

Nacionais, Pratos Prontos, Lanches Variados e Lanchonetes.

As Redes Nacionais são formadas pelas cadeias de fast food que atuam

em todo o país ou parte dele. Não estão discriminadas por produto, mas pelo escopo geográfico

onde atuam e pela característica comum de serem franquias. Fazem parte deste grupo todas as

franquias estabelecidas em Campo Grande como a do McDonald's, a do Bob's, a da Roasted

Potato, a da Mister Pizza e a 10 Pastéis.

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Os Pratos Prontos são formados pelos estabelecimentos locais que

formataram uma linha de produtos vendidos de acordo com um cardápio pré-determinado e com

preços fixos para cada um deles. São pratos à base de carnes bovina, suína e de frango, massas e

acompanhamentos variados. Fazem parte deste grupo a Comitiva da Carne , o Meat Bar, a Bella

Parmegiana e a Cozinha da China.

Os Lanches Variados são formados pelos estabelecimentos locais que não

têm uma linha de produtos exclusivos, e o cardápio é composto de sanduíches, pizzas e pastéis.

Fazem parte deste grupo o Áquila Fast food, o Gugu Lanches e o Canil, sendo os mais

expressivos.

As Lanchonetes formam um grupo definido pelos estabelecimentos que

têm, no pastel, salgados e suco natural, a sua estratégia competitiva. Os estabelecimentos mais

expressivos que fazem parte deste grupo são o Pastel D'ouro, a Casa de Sucos, o Fast Suco e o

Copo Cheio. Também foram incluídos, de uma maneira geral, a grande quantidade de

estabelecimentos pequenos que competem com pastéis e salgados e são os estabelecimentos que

compõem a maioria no segmento de fast food na cidade.

Os estabelecimentos que formam as Redes Nacionais e os Pratos

Prontos estão localizados, em sua maioria, na praça de alimentação do shopping center, com

exceção do Meat Bar, localizado na praça de alimentação do hipermercado Comper e do China in

Box, localizado na rua e só opera por meio da entrega em domicílio.

Os estabelecimentos que compõem os grupos estratégicos denominados de

Lanches Variados e Lanchonetes estão localizados na rua, em diferentes pontos da cidade.

As franquias das Redes Nacionais de fast food estabelecidas em Campo

Grande seguem os padrões dos seu franqueadores, seja na arquitetura das lojas, seja na

padronização dos produtos vendidos. Eles representam a dimensão nacional do fast food, trazendo

para a cidade o conceito testado e aprovado dentro e fora do país.

Os estabelecimentos locais se dividem nos demais grupos (Pratos Prontos,

Lanches Variados e Lanchonetes). As operações do grupo Pratos Prontos têm no

benchmarking, inspirado nas redes nacionais e nos estabelecimentos dos grandes centros urbanos,

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50

a estratégia competitiva devidamente adaptadas para o gosto local. Em alguns desses

estabelecimentos, as operações são descontínuas na padronização e a gestão é amadora.

4.2.1.2 Substitutos

Os produtos substitutos são aqueles que desempenham as mesmas funções

ou oferecem os mesmos benefícios. Todas as empresas em uma indústria estão competindo, de uma

maneira geral, com empresas que fabricam produtos substitutos e estes limitam o retorno potencial

de uma indústria, estabelecendo um teto nos preços que as empresas podem fixar (Porter, 1980).

De acordo com as entrevistas realizadas foram identificados, principalmente,

dois tipos de substitutos para o segmento de fast food: a Refeição feita em Casa e a Comida por

Quilo.

A Refeição feita em Casa é a definição da alimentação preparada na

residência ao invés de ser comprada de um estabelecimento comercial. Foi apontada nas entrevistas

como substituto de presença marcante em Campo Grande, principalmente na hora do almoço,

opinião reforçada pelos franqueadores das redes de fast food segundo os quais, em cidades do

interior, afastadas dos grandes centros urbanos, esta realidade é mais acentuada. Exatas afirmações

são respaldadas por Day & Reibstein (1997), que a substituição pode ser produto da decisão do

comprador de realizar a função, em vez de comprá-la, sendo que a alternativa a um jantar

comprado em uma delicatessen é um jantar feito em casa.

A Comida por Quilo é a refeição definida por um cardápio com ampla

variedade de alimentos quentes e frios servidos à vontade pelo cliente, que paga pelo peso da

refeição no seu prato.

Os estabelecimentos especializados em Comida por Quilo estão localizados

em sua maioria no centro da cidade, atendendo, principalmente, o almoço das pessoas que

trabalham na região, compostas de comerciários, bancários, entre outros.

4.2.1.3 Fornecedores

Os fornecedores podem ser classificados em três grupos:

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a) exclusivos - no Brasil estão concentrados no fornecimento do

McDonald’s, e produzem os principais insumos utilizados na produção

dos produtos, tais como o pão, a alface, o hambúrguer, entre outros;

b) com exclusividade parcial - são empresas que abastecem o mercado de

maneira generalizada, e produzem algum produto exclusivo para uma

determinada rede de fast food. Por exemplo, a Parmalat fornece um

determinado tipo de leite exclusivamente para o McDonald's;

c) não exclusivos - este é a maioria dos fornecedores; não fabricam

produtos exclusivos para redes de fast food, mas para o mercado em

geral. Os estabelecimentos de fast food procuram dentro da linha de

produtos fabricados aqueles que se adaptam ao seu cardápio.

4.2.2 As forças competitivas

O perfil dos competidores do segmento de fast food em Campo Grande, Mato

Grosso do Sul, já foi identificado e agrupado. Neste item será considerado como os concorrentes

competem entre si, explorando as suas características e capacidades competitivas.

Segundo Porter (1980), a competição se faz da rivalidade, não sendo possível criar

estratégias em um vácuo competitivo, e no ambiente competitivo cada empresa tem a sua estratégia.

A estrutura do ambiente competitivo do segmento de fast food em Campo Grande

segue as características das indústrias fragmentadas, no qual nenhuma empresa possui uma parcela

de mercado significativa nem pode influenciar fortemente o resultado da indústria (Porter, 1980).

Comumente, as indústrias fragmentadas são constituídas de grande número de empresas de pequeno

e médio portes, muitas das quais de iniciativa privada.

Os principais competidores estabelecidos no shopping center e na rua, anteriormente

classificados, atuam no mercado acompanhados de inúmeros pequenos estabelecimentos amadores

que procuram imitar as suas operações, não sendo destacado um único competidor que domine o

mercado. As forças competitivas surgem no cenário competitivo do segmento, expondo as

estratégias das empresas competidoras.

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52

Como as forças competitivas gerais não têm o mesmo impacto sobre os grupos

estratégicos diferentes (Porter, 1980), a análise que se segue leva em conta os diferentes grupos

estratégicos e a sua localização.

4.2.2.1 Intensidade da rivalidade

A rivalidade entre os competidores do segmento de fast food deve ser

analisada na cidade como um todo, entendendo o comportamento das diferentes forças competitivas

em função da localização dos estabelecimentos. Os competidores situados na praça de alimentação

do shopping center sofrem pressões distintas dos competidores localizados na rua. A intensidade

da rivalidade é alta, tanto para os estabelecimentos localizados no shopping center quanto para os

situados na rua, mas as razões da intensidade são diferentes.

Segundo Porter (1980) a influência mais importante sobre a rivalidade entre

os grupos estratégicos é a sua interdependência no mercado, ou o grau em que os grupos

estratégicos diferentes estão competindo pelos mesmos clientes ou em segmentos distintos do

mercado. A rivalidade é intensificada de acordo com o grau de distanciamento estratégico, que se

refere ao grau em que as estratégias em grupos diferentes divergem em termos das variáveis básicas,

como a identificação de marca, posição de custo e liderança tecnológica, assim como quanto a

circunstâncias externas, como relações com as matrizes ou com o governo. O grau de diferenciação

do produto criado pelas estratégias dos grupos também influencia a rivalidade. Se as estratégias

divergentes conduzem a preferências dos clientes por marcas distintas e diferentes, a rivalidade entre

os grupos tenderá a ser muito menor do que se os produtos oferecidos fossem vistos como

intercambiáveis.

Para Collis & Montgomery (1998), de uma maneira geral, custos fixos altos,

crescimento lento, excesso de capacidade e a falta de diferenciação de produto aumentam o grau de

rivalidade.

A praça de alimentação do shopping center concentra a competição com

maior nível profissional e rivalidade mais intensa, em função da presença das Redes Nacionais de

fast food, que contam com a experiência do franqueador em outras localidades, trazendo para o

cenário competitivo as técnicas utilizadas em todo o país. Os estabelecimentos que não são

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franquias, os Pratos Prontos, também contam com uma regularidade nas suas operações em

função do alto nível de exigência do consumidor que freqüenta o shopping center.

Outro fator que aumenta a rivalidade no shopping center é o preço. As

Redes Nacionais competem na faixa de preço, que varia de R$ 5,00 a R$ 5,50, e os Pratos

Prontos, de R$ 5,50 a R$ 6,50. Com os preços semelhantes, os grupos competem intensamente

pelos clientes que freqüentam o local. As franquias têm o diferencial da marca, de um produto

reconhecido em outros mercados e um posicionamento competitivo agressivo por meio de

investimentos pesados em publicidade.

Os estabelecimentos localizados na rua, que compõem os grupos dos

Lanches Variados e das Lanchonetes, não têm o padrão de profissionalismo verificado naqueles

do shopping center. Eles competem com um grande número de pequenos estabelecimentos que

vendem salgados e sucos a preços muito baixos na região central da cidade e não enfrentam a

concorrência direta das franquias de alimentação, que ainda não se estabeleceram fora do shopping

center.

Esses grupos competem com um maior número de produtos, não tendo um

foco específico ou diferenciação. A rivalidade é intensificada por essa falta de diferenciação, e,

como já dito, pela concorrência de preços baixos entre os componentes dos grupos.

4.2.2.2 Barreiras de entrada

As barreiras de entrada são as características da indústria que dissuadem a

vinda de novas empresas. A ameaça de entrada em uma indústria depende das barreiras de entrada

existentes, em conjunto com a reação que o novo concorrente pode esperar daqueles já existentes.

Se as barreiras são altas, o recém-chegado pode esperar retaliação acirrada dos concorrentes na

defensiva; a ameaça de entrada é pequena. As principais fontes de barreiras identificadas são

economias de escala, diferenciação de produto, custos de mudança, vantagens no custo, acesso aos

canais de distribuição, necessidade de capital e política governamental (Porter, 1980).

Seguindo o conceito de Porter (1980) de que as forças competitivas tem

impacto diferente sobre grupos estratégicos diferentes, o conceito de barreiras de entrada deve ser

ampliado e envolver os grupos estratégicos, porque apesar de protegerem todas as empresas da

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indústria, as barreiras de entrada globais dependem do grupo estratégico em particular ao qual o

iniciante pretende se ligar.

A visão de que essas barreiras dependem do grupo estratégico alvo traz

consigo outra implicação importante. Elas não só protegem as empresas em um grupo estratégico da

penetração por outras de fora da indústria como também fornecem barreiras para a mudança de

posição estratégica de um grupo para outro. Isso é denominado de barreiras de mobilidade, ou

fatores que dissuadem os movimentos de empresas de uma posição estratégica para outra. As

barreiras de mobilidade justificam o fato de algumas empresas em uma indústria serem,

persistentemente, mais lucrativas do que outras. Sem essas barreiras, as empresas com estratégias

bem sucedidas seriam rapidamente imitadas pelas outras, e a sua rentabilidade tenderias à igualdade,

salvo pelas diferenças em suas habilidades em executar a melhor estratégia no sentido operacional.

As barreiras de entrada no segmento de fast food em Campo Grande não

são fortes de uma maneira geral, o que favorece a entrada de novos concorrentes, como acontece

em quase todas as indústrias fragmentadas, de acordo com Porter (1980). Se não fosse assim não

se poderiam formar tantas organizações de pequeno porte.

No entanto, ao se analisar as barreiras de entrada de acordo com os grupos

estratégicos verificam-se barreiras de entrada, ou de mobilidade, características de cada grupo,

principalmente dos grupos estratégicos localizados no shopping center.

As Redes Nacionais, grupo formado pelas franquias de alimentação,

identificam as seguintes barreiras de entrada, ou de mobilidade, para novos entrantes:

a) alto investimento necessário para ingressar no negócio, que sendo uma

franquia segue os critérios determinados pelo franqueador tanto na

arquitetura como nos equipamentos diferenciados;

b) as economias de escala, oriunda das compras de insumos com preços

reduzidos por causa das compras feitas em grande escalas;

c) as redes já instaladas dificultam a entrada de novos entrantes que operam

com produtos semelhantes, apesar de não existir exclusividade da parte

do empreendedor do shopping na composição do mix da praça da

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alimentação, podendo ocorrer disputas de duas concorrentes diretas

(pizza x pizza, hambúrguer x hambúrguer).

O grupo denominado Pratos Prontos, que compete na praça de

alimentação do shopping center e, recentemente, na praça de alimentação do hipermercado

Comper, identifica as seguintes barreiras de entrada:

a) no shopping center, o alto investimento inicial na arquitetura da loja e

equipamentos especializados, por causa do ambiente altamente

competitivo; o que não acontece na praça de alimentação do

hipermercado, onde os investimentos em arquitetura e equipamentos

podem ser menores;

b) não existem fortes barreiras de entrada para esse tipo de negócio, que é

formatado a partir de uma refeição que se assemelha a refeição feita em

casa, sendo a qualidade uma condição fundamental.

Não existem fortes barreiras de entrada que protejam o grupo denominado

Lanches Variados que compete fora do shopping center. Não tem investimento inicial elevado e

os produtos não são diferenciados. Aposta no horário de abertura, turno da noite e madrugada, e,

exceto o Canil, investe na entrega em domicílio.

O mesmo acontece com o grupo denominado Lanchonetes, composto de

um grande número de pequenos estabelecimentos localizados na região mais central da cidade, com

pequeno investimento inicial e não compete com produtos diferenciados. Faz da localização, com

grande fluxo de pessoas durante o dia, e do preço, as principais estratégias competitivas.

4.2.2.3 Barreiras de saída

Barreiras de saída são fatores econômicos, estratégicos e emocionais que

mantêm as empresas competindo em atividades mesmo que estejam obtendo retorno baixo, ou até

negativo, sobre seus investimentos (Porter, 1980). As principais fontes de barreira de saída são:

a) ativos especializados: ativos altamente especializados para uma

determinada atividade ou localização têm valores baixos de liquidação

ou altos custos de transferência ou conversão;

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56

b) custos fixos de saída: estes incluem acordos trabalhistas, custos de

restabelecimento, capacidade de manutenção para componentes

sobressalentes etc.;

c) inter-relações estratégicas: entre as unidades da companhia em termos

de imagem, capacidade de marketing, acesso aos mercados

financeiros, instalações compartilhadas;

d) barreiras emocionais: a relutância da administração em justificar

economicamente as decisões de saída é causada pela identificação com

a atividade em particular, pela lealdade com os empregados, receio

quanto às suas próprias carreiras, orgulho e outras razões.

Quando as barreiras de saída são altas, o excesso de capacidade não

desaparece da indústria e as empresas que perdem a batalha competitiva não entregam os pontos.

Agarram-se com perseverança e, por causa da sua fraqueza competitiva, precisam recorrer a táticas

extremas, tornando-se um dos componentes que intensificam a rivalidade na arena competitiva. A

rentabilidade de toda a indústria pode ser permanentemente reduzida em função disso. Nas

indústrias em declínio é crucial o diagnóstico das barreiras de saída para o desenvolvimento de

estratégias competitivas, porque, verificadas as barreiras de saída, pode-se avaliar até que ponto

uma determinada posição irá desgastar-se antes da saída tornar-se provável.

O segmento de fast food em Campo Grande está em desenvolvimento, não

se caracterizando como uma indústria em declínio, mas podem ocorrer entre os competidores

aqueles que perderam as suas vantagens competitivas, e por causa disso praticam estratégias

competitivas nocivas ao meio ambiente da competição, prejudicando os demais. Esse tipo de atitude

estratégica pode acontecer tanto na praça de alimentação do shopping center como no centro da

cidade.

Seguindo a análise das forças competitivas, no segmento de fast food de

Campo Grande, as barreiras de saída são mais significativas na praça de alimentação do shopping

center. Em função do ambiente altamente competitivo, quando uma operação de fast food ali

localizada perde suas vantagens competitivas, aparecem as barreiras de saída como a venda dos

ativos duráveis e especializados, os custos fixos de saída e as barreiras emocionais. Os ativos

especializados precisam ser vendidos para alguém que pretenda empregá-los no mesmo ramo de

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57

atividade, ou seu valor sofre uma grande redução, sendo descartados por causa disso (Porter,

1980). A média de 20 funcionários em cada um desses estabelecimentos (com exceção do

McDonald’s - 70 funcionários) eleva os custos com rescisões trabalhistas. As barreiras emocionais

foram salientadas, algumas vezes, com estabelecimentos que, após terem perdido suas vantagens

competitivas e seus recursos operacionais, somente fecharam suas portas por decisão judicial, a

exemplo do Pastel Mel, do Pizza Today e do Jeito Frio.

4.2.2.4 O poder de barganha dos fornecedores

Conforme o item 4.2.1.3, os fornecedores foram classificados em três

grupos: fornecedores exclusivos, fornecedores com exclusividade parcial e fornecedores não

exclusivos.

De acordo com Porter (1980), os fornecedores podem exercer poder de

negociação sobre os participantes de uma indústria ameaçando elevar preços ou reduzir a qualidade

dos bens e serviços fornecidos. Fornecedores poderosos podem, conseqüentemente, sugar a

rentabilidade de uma indústria incapaz de repassar os aumentos de custos de seus próprios preços.

Um grupo fornecedor é poderoso se algumas das seguintes condições são aplicadas:

a) é dominado por poucas companhias e mais concentrado do que a

indústria para a qual vende. Fornecedores vendendo para compradores

mais fragmentados terão, em geral, capacidade de exercer considerável

influência em preços, qualidade e condições;

b) não está obrigado a lutar com outros produtos substitutos na venda para

a indústria. Até o poder de fornecedores muito fortes pode ser posto em

cheque se concorrerem com substitutos;

c) a indústria não é um cliente importante para o grupo fornecedor. Se for, o

destino dos fornecedores estará firmemente ligado à indústria e eles

desejarão protegê-lo por meio de preços razoáveis e de assistência em

atividades como P&D e o exercício da influência;

d) o produto dos fornecedores é um insumo importante para o negócio do

comprador. Isso aumenta o poder do fornecedor, ainda mais se o insumo

não é armazenável, não permitindo que o comprador faça seus estoques;

Page 59: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

58

e) os produtos do grupo de fornecedores são diferenciados ou o grupo

desenvolveu custos de mudança.

Os fornecedores do segmento de fast food de Campo Grande encaixam-se

em algumas referências dos tópicos anteriormente relacionados, como o poder de barganha em

função da pulverização das empresas, pois, em sua maioria, são poucos os fornecedores não

exclusivos que fornecem para várias empresas diferentes. É importante salientar que entre esses

fornecedores estão as indústrias de alimentos que fornecem seus produtos em todo o país, não

atendendo somente ao segmento de fast food, utilizando-se de diferentes canais de distribuição,

como os supermercados, entre outros. Como são várias empresas pequenas que compram dos

grandes fornecedores de insumos, os preços pagos pelos estabelecimentos ficam próximos dos

preços de atacado.

Os estabelecimentos que fazem parte do grupo das franquias de alimentação

e que atuam em diversas partes do país têm fornecedores exclusivos ou parcialmente exclusivos ,

como é o caso do McDonald’s, Bob’s e Habib’s.

O poder de barganha do fornecedor é diminuído quando ele é exclusivo,

sendo total a sua dependência em relação ao negócio de determinada empresa. O McDonald’s é o

exemplo mais forte de fornecimento com exclusividade, com 90% dos seus fornecedores sendo

exclusivos, consegue ganhos a seu favor na composição dos seus preços, obtendo maior qualidade

com menor custo. Em contrapartida, a empresa investe na construção de fábricas e desenvolvimento

de redes de distribuição, garantindo com isso uma maior capacitação técnica e padrão de qualidade,

o suprimento das quantidades necessárias e a regularidade das entregas.

O mesmo acontece quando o fornecedor desenvolve um produto de uso

exclusivo para determinada empresa de fast food, caso de alguns produtos do McDonald’s e do

Bob’s. Nesse caso, o fornecedor não é exclusivo, mas o produto é exclusivo para determinada

empresa; por exemplo, a Parmalat fornece leite produzido exclusivamente para o McDonald’s.

Assim, a empresa garante a compra em grande escala para o fornecedor, que, em contrapartida,

garante preços competitivos para a rede de fast food.

Page 60: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

59

O poder de barganha do comprador, no caso os clientes do segmento de

fast food de Campo Grande, não tem a mesma importância de análise dos fornecedores, em função

de serem pulverizados, não caracterizando um grupo homogêneo com forte poder de barganha.

4.2.2.5 A ameaça dos substitutos

A disponibilidade de um produto aceitável e disponível que desempenha as

mesmas funções ou oferece os mesmos benefícios limita os preços médios que podem ser cobrados

e, portanto, limita a quantidade de valor que pode ser criada (Day & Reibstein, 1997). A menos que

isso possa atualizar a qualidade do produto ou diferenciá-lo de alguma forma (pelo marketing, por

exemplo), o setor sofrerá em termos de receitas e, possivelmente, de crescimento (Porter, 1980).

Quanto mais atrativo for o trade-off preço/desempenho oferecido pelo

produto substituto, mais firmemente colocada estará a tampa sobre o potencial de lucros do setor.

Os substitutos não somente limitam os lucros em tempos normais, mas também reduzem a

prosperidade que um setor pode alcançar nos bons tempos. Os produtos substitutos sujeitos a

tendências de melhoria em seu trade-off preço/desempenho, visando ao produto do setor, ou que

são produzidos por setores com altos lucros, são os que merecem a maior atenção.

Esses produtos podem ser usados para delimitar as fronteiras da arena

competitiva e, dependendo do traçado dessas linhas, podem ser vistos como concorrentes diretos.

O segredo é levar em conta as semelhanças nas funções realizadas e os benefícios oferecidos, isto é,

olhar além da semelhança física (Day & Reibstein, 1997).

A Refeição feita em Casa substitui, principalmente na hora do almoço, a

refeição tipo fast food da praça de alimentação do shopping center pelo hábito de a população

local almoçar em casa, reforçado pela proximidade do local de trabalho e da residência. Os

estabelecimentos das praças de alimentação mais concorridos na hora do almoço são, em

contrapartida, os que compõem o grupo Pratos Prontos, com destaque para o Meat Bar que,

apesar de estar localizado na praça de alimentação de um hipermercado, tem atraído muitas pessoas

interessadas nesse tipo de alimentação (carnes grelhadas com três acompanhamentos). As Redes

Nacionais enfrentam também o aspecto cultural que dá preferência para alimentação que se

assemelha à feita em casa, fator característico de cidades do porte de Campo Grande, sendo que o

horário de maior movimento inicia-se após as dezesseis horas.

Page 61: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

60

A praça de alimentação do shopping center é o ponto de maior

concentração de refeição tipo fast food em Campo Grande, e neste ambiente encontra-se

localizado somente um estabelecimento que serve comida por quilo e somente no horário do

almoço, o Lalai, o que justifica o domínio do grupo Pratos Prontos neste horário.

Os substitutos localizam-se, principalmente, no centro da cidade, tendo

como público consumidor as classes C e D, compostas de pessoas que trabalham no comércio,

bancos e escritórios da região. O preço da refeição está na faixa de R$ 3,00 a R$ 4,00, abaixo do

patamar da praça de alimentação do shopping center. Portanto, tais substitutos não significam uma

ameaça para os estabelecimentos do shopping center, por causa da diferença de público-alvo e

distância de localização do shopping em relação ao centro da cidade. Considerando que a faixa de

preço da competição na praça situa-se entre R$ 5,50 e R$ 6,50, superior à faixa verificada nos

restaurantes tipo self-service do centro da cidade, verifica-se a possibilidade de repasse dos altos

custos fixos operacionais ao preço do produto final, permitindo, então, o ingresso desse tipo de

refeição naquele ambiente. São essas considerações que devem ser levadas em conta quando da

análise do poder de ameaça do produto substituto, não sendo marcante a presença na praça de

alimentação do shopping center, de estabelecimentos com características dos substitutos que

signifiquem uma ameaça.

4.3 As receitas para o sucesso

Nos itens anteriores, a análise da indústria dominou a abordagem, todavia deve-se levar em

conta, também, que a competição age sobre os recursos da empresa que possam oferecer os

maiores resultados, e a presença de impedimentos naturais ou planejados diferenciam o resultado.

Os impedimentos podem não ser as propriedades comuns aos agrupamentos de empresas, mas as

suas particularidades e ações individuais (Rumelt, 1991). Perguntas, tais como o que faz uma

empresa singular ou o porque da lucratividade podem ser explicadas por meio dos recursos e

capacidades específicos de uma empresa (Amit & Schoemaker, 1993).

A análise das forças competitivas fornecem uma visão do meio ambiente competitivo, “para

fora” da empresa. A Visão Baseada em Recursos dá uma visão “para dentro” da empresa. A

análise da competição não fica completa sem o conhecimento dos recursos mais importantes das

Page 62: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

61

empresas competidoras, e a junção das duas perspectivas pode fornecer subsídios mais amplos

para a concepção estratégica.

As receitas para o sucesso estão contidas nesta análise bidirecional, na qual contam, além

das forças competitivas analisadas anteriormente, o entendimento dos recursos individuais das

empresas do segmento de fast food de Campo Grande, o que as torna mais competitivas.

As respostas das entrevistas forneceram os dados para a análise dos competidores do

segmento de fast food em Campo Grande e tem a orientação da teoria denominada VBR sobre as

respostas das entrevistas, assim como a análise das competências essenciais, de Hamel & Prahalad

(1995), e a identificação dos meios para vencer a fragmentação do segmento que impedem a

liderança plena. Esses conceitos são os ingredientes que compõem a receita de sucesso para a

competição no segmento de fast food, que, apesar de estar sendo analisado na cidade de Campo

Grande, conta com a participação dos principais franqueadores do setor de fast food no Brasil

4.3.1 Os recursos individuais

Os recursos de cada empresa foram avaliados por meio de questionário, e as

diferenças manifestaram as características competitivas individuais. As categorias de recursos

avaliados foram: financeira, física, humana, tecnológica, reputação, recursos organizacionais e os

relacionais (Grant, 1991). Os recursos de difícil imitação foram destacados desta relação e são

peças importantes na obtenção e manutenção das vantagens competitivas.

As empresas estabelecidas no segmento de fast food de Campo Grande que estão

melhor estruturadas para competir são as franquias do McDonald’s e do Bob’s, com recursos bem

definidos que preenchem os tópicos considerados necessários para a capacitação competitiva

diferenciada. Os seus diferenciais competitivos fazem parte dos recursos estratégicos das suas

empresas franqueadoras, que os transferem para os seus franqueados.

As empresas franqueadoras entrevistadas, McDonald’s, Bob’s e Habib’s, investem

recursos financeiros elevados, sendo que a abertura de um novo restaurante McDonald’s pode

significar investimentos da ordem de R$ 1,5 milhão, sempre em localizações privilegiadas, como

shopping centers ou pontos estratégicos na rua. Essas franquias utilizam equipamentos de ponta no

mercado de fast food, garantindo um diferencial em relação à concorrência. O quadro de

funcionários conta com a presença de universitários, com, no mínimo, o segundo grau, sendo que

Page 63: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

62

essas empresas investem muito em treinamento. O McDonald’s por meio da sede da sua

Universidade do Hambúrguer, em Alphaville, SP, treina os gerentes e franqueados de todos os

países da América Latina.

O relacionamento com o franqueado é muito importante, não se limitando apenas ao

treinamento inicial, mas o acompanhamento das atividades é intenso.

A reputação dessas redes de franquia é consolidada pela presença em outras cidades,

pela padronização e pelo rigoroso controle de qualidade, respaldados pela atuação do

gerenciamento profissional.

Os entrevistados que formam o grupo Rede Nacionais têm entre seus recursos mais

importantes a localização diferenciada, todos estão na praça de alimentação do shopping center, a

qualidade dos seus produtos e o treinamento recebido pelo franqueador, com exceção da 10

Pastéis e da Mister Pizza, que não têm recebido assistência do franqueador.

Desse grupo, duas franquias nacionais presentes em Campo Grande, McDonald’s e

Bob’s, têm recursos de difícil imitação, como a forte presença da marca, produtos com registro de

patente das receitas e dos personagens infantis, dos recursos tecnológicos e das particularidades do

gerenciamento de cada uma dessas organizações. Esses recursos são intransferíveis e o que

distinguem estas empresas dos demais concorrentes. A presença na praça de alimentação do

Shopping Center Campo Grande pode ser analisada conforme a Figura 7.

50% do faturamento 50% do faturamento

McDonald's Mister Pizza Bob's Roasted Potato

% Faturamento por tipo de restaurante fast food

Page 64: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

63

Lalai 10 Pastéis Cozinha da China Bella Parmegiana Comitiva da Carne Pão de Queijo Express

Fonte: Ecisa Engenharia Comércio e Indústria Ltda. Campo Grande, jun. 2000

Figura 7 - Faturamento restaurantes sobre serviço x fast food (%).

Na visão do franqueado da Roasted Potato, o sucesso da batata recheada não é

resultado de um produto de difícil imitação, sendo que ele contou com a vantagem de ser o primeiro

estabelecimento do gênero em Campo Grande, garantindo a melhor posição geográfica (shopping)

e a percepção do cliente (Lieberman & Montgomery, 1998). O shopping é o ambiente adequado

para o seu negócio, motivo pelo qual o franqueador tem buscado a expansão por meio das praças

de alimentação de shopping centers .

A Mister Pizza já foi melhor posicionada em termos competitivos e o franqueador

atravessa problemas para reencontrar a sua vocação. Após um duelo de quase dois anos com o seu

principal concorrente, o seu maior trunfo é estar sozinha na arena competitiva. A 10 Pastéis,

inaugurada em maio de 2000, após problemas iniciais com o seu franqueador, tenta encontrar o seu

público-alvo.

O grupo dos Pratos Prontos considera, como os seus recursos estratégicos mais

importantes, a localização, a qualidade dos seus produtos e a presença constante dos proprietários

na gestão direta. Apesar do esforço em atuar de maneira profissional e diferenciada, nenhum desses

estabelecimentos tem recursos de difícil imitação, sendo que na Cozinha da China, o treinamento do

cozinheiro é muito importante, pela maior dificuldade na elaboração dos pratos.

Os estabelecimentos que compõem o grupo Lanches Variados e Lanchonetes ao

serem entrevistados não demonstraram familiaridade com as perguntas realizadas, o que explicita

uma administração amadora e baseada na cópia, sem um estudo estratégico mais elaborado, não

investindo em treinamento ou contratação de pessoas qualificadas. O grupo Lanches Variados

funciona, essencialmente, no horário noturno e madrugada, com um apelo adicional que é o

delivery, e os do grupo Lanchonetes, funcionam com horários variados, sendo ou no período

diurno, horário comercial, ou no período tarde/noite.

Page 65: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

64

O recurso da localização é o de maior destaque, sendo uma estratégia competitiva

concentrar esforços em uma região de grande fluxo de pedestres durante o horário comercial,

enfatizada pelo Pastel D’Ouro que possui uma rede de seis lojas distribuídas nessa região.

Em sua maioria, os estabelecimentos desses dois últimos grupos estão aprendendo

com as dificuldades do mercado e adaptando as suas operações de acordo com as exigências do

público consumidor e procurando se diferenciar da grande concorrência de inúmeros pequenos

estabelecimentos que se concentram na região.

4.3.2 As competências essenciais

Hamel & Prahalad (1989), enfatizam que muitas empresas estão gastando suas

energias para reproduzir as vantagens de custo e qualidade dos seus concorrentes e, na opinião

deles, a imitação é uma forma de favorecimento, mas que não leva à revitalização competitiva.

Estratégias baseadas na imitação são transparentes aos concorrentes que as idealizaram e, portanto,

vulneráveis. Sun-tzu, um estrategista militar chinês, observou há 3.000 anos: “ Todos os homens

podem ver as táticas das minhas conquistas, mas ninguém vê a estratégia que conduziu à vitória”.

A essência da estratégia é baseada na criação das vantagens competitivas de um

amanhã mais rápido do que os concorrentes possam imitar as vantagens que a empresa possui no

presente. A capacidade de uma organização em melhorar suas habilidades e de aprender novas é a

vantagem competitiva mais defensiva de todas (Hamel & Prahalad, 1989).

Hamel & Prahalad (1990) sustentam que as competências essenciais são a raiz da

competitividade e derivam da habilidade gerencial em consolidar as tecnologias e capacidades

produtivas da organização em competências que capacitam uma rápida adaptação às mudanças de

oportunidades.

A diferença de visão empresarial entre o grupo formado pelos franqueados e os

grupos formados pelos outros estabelecimentos é bem visível. Os franqueados fazem parte de um

grupo que recebe orientação localizada, porém estão inseridos em uma estratégia de maior

abrangência, que é concebida pelo franqueador. Os proprietários dos outros estabelecimentos estão

concentrados nos seus negócios localmente, faltando a visão estratégica mais abrangente que os

franqueados possuem.

Page 66: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

65

Partindo desse ponto de vista, os entrevistados quando questionados sobre as

competências essenciais, dividem-se de acordo com a visão estratégica que orienta os seus

negócios. Os franqueados das Redes Nacionais têm uma concepção mais sofisticada de como

gerir o negócio e apontam, como competências essenciais para o negócio de fast food, a qualidade

dos seus produtos, associada ao bom atendimento (“cada cliente é único”), o estímulo dado pelo

franqueador por meio do relacionamento, treinamento e prêmios de acordo com o desempenho da

unidade e as pesquisas de novos produtos e tecnologias desenvolvidas pelo franqueador. Os

franqueadores entrevistados complementam afirmando que, antes de mais nada, o conhecimento do

mercado, associado ao trabalho sério e competente, é condição primordial para a competição, que,

desta maneira, respalda a capacidade de expansão, no caso das redes de franquia um fator muito

importante porque traz ganhos de escala.

Segundo Grant (1991), o fator crítico para o sucesso do McDonald’s é a integração

das capacidades funcionais, tais como, o desenvolvimento de produtos, a pesquisa de mercado, o

gerenciamento de recursos humanos, o controle financeiro e o gerenciamento operacional, que criam

a fantástica consistência dos produtos e serviços dessa empresa espalhada pelo mundo. Para Hamel

& Prahalad (1995), tais capacidades estratégicas são as competências essenciais.

Os outros estabelecimentos apontam como recursos indispensáveis para estarem no

negócio de fast food, o profissionalismo e o bom atendimento, a experiência no ramo e a

capacidade da produção acompanhar a demanda. Acompanham a visão estratégica limitada ao dia-

a-dia das suas atividades e focada na figura do empresário-proprietário.

Os grupos que competem no segmento de fast food de Campo Grande assumem

duas posições quando se trata de recursos e competências. O grupo formado pelas franquias

compete estruturado em estratégias formatadas com uma visão abrangente, respaldadas por estudos

e pesquisas dirigidas a um público nacional e internacional, com capacitação diferenciada dos

estabelecimentos locais, que têm a sua estratégia de negócio originada da formatação de negócios

bem sucedidos, normalmente franquias do gênero, estabelecidas nos grandes centros urbanos.

4.3.3 Vencendo a fragmentação

Em muitas situações, a fragmentação da indústria decorre, na verdade, dos aspectos

econômicos subjacentes que não podem ser superados. As indústrias fragmentadas caracterizam-se

Page 67: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

66

não somente por seus numerosos concorrentes, mas também por uma posição geralmente fraca em

termos de poder de negociação com fornecedores e compradores. O resultado pode ser uma

rentabilidade marginal, e em tal ambiente o posicionamento estratégico é de crucial importância. O

desafio estratégico é enfrentar a fragmentação, tornando-se uma das organizações mais bem

sucedidas, embora capaz de obter somente uma modesta parcela de mercado.

A fragmentação pode ser superada ao se buscar a neutralização ou a eliminação dos

principais fatores econômicos que contribuem para a estrutura fragmentada. Porter (1980) afirma

que uma maneira de superar a fragmentação na indústria de fast food é isolar as deseconomias de

escala das demais atividades. A indústria de fast food, segundo o autor, depende de um rigoroso

controle local e um bom serviço, e caracterizam-se por pequenos locais individualizados, dirigidos

pelos proprietários, e as economias de escala são compensadas pela necessidade de uma

localização próxima aos clientes. A fragmentação pode ser superada com a concessão de franquias

de locais individualizados aos gerentes -proprietários, que operam sob a proteção de uma

organização nacional que comercializa a marca e serve de centro de compras e outros serviços. As

economias de escala no marketing e nas compras podem ser atingidas em âmbito nacional. Assim, o

controle rigoroso e a manutenção do serviço estão assegurados, bem como os benefícios das

economias de escala. Este foi o conceito que gerou os gigantes como McDonald’s, Pizza Hut e

muitos outros no fast food.

A padronização das necessidades do mercado, por meio de inovações no produto ou

no marketing, pode conduzir a uma produção em grandes quantidades, obtendo, assim, economias

de escala ou reduções no custo de experiência.

É bem claro o porquê da superioridade das redes de franquias como McDonald’s e

Bob’s em relação aos demais estabelecimentos do segmento de fast food de Campo Grande.

Apesar de nenhum dos dois ter a supremacia absoluta do mercado, a fragmentação é superada por

meio dos recursos e competências da franquia, entre eles as economias de escala.

Os novos entrantes no mercado de Campo Grande devem considerar que uma

franquia pode ser uma alternativa estratégica para superar os obstáculos competitivos do segmento,

não sendo considerado aqui o aspecto comercial, qual produto apropriado, o que necessita de uma

pesquisa de mercado.

Page 68: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

67

5 O AMANHÃ

O posicionamento estratégico é vital para a empresa ter sucesso no meio ambiente competitivo,

assim como, a visão dos fatores necessários para o sucesso na indústria em diversos segmentos e

cenários e, também, os ativos estratégicos que devem ser desenvolvidos ou fortalecidos para uma

determinada empresa no futuro (Day & Reibstein, 1997).

O estudo das forças competitivas deixa claro como se encontra o meio ambiente competitivo e

são complementadas pelo estudo dos recursos inerentes a cada empresa e das competências

essenciais. O sucesso no futuro depende da integração dessas duas perspectivas e a previsão do

futuro por meio do planejamento de cenários, que tem por desafio antecipar como esses fatores

estratégicos da indústria podem mudar no futuro.

A visão de futuro é importante à medida que força os responsáveis pela gestão do negócio a uma

constante atualização das suas percepções do negócio, é como sair da caixa, “get out of the box”.

Sendo o planejamento de cenários composto de técnicas mais sofisticadas, a intenção deste

trabalho foi a de agrupar as opiniões dos experts na área de fast food sobre o que pode acontecer

com o segmento em um futuro próximo, e dentro do conceito de “elementos predeterminados” e

“incertezas” de Wack (1985), utilizados para cenários de primeira geração, compreender os

caminhos que levam a um delineamento da evolução do segmento de fast food em Campo Grande.

É o que será desenvolvido nos próximos itens.

Page 69: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

68

5.1 As forças se renovam

Os entrevistados, por unanimidade, acreditam no crescimento do segmento de fast food,

nos próximos anos, de uma maneira generalizada, no Brasil. As principais razões que respaldam

essas afirmações são:

a) crescimento das cidades;

b) a mudança da cultura das cidades médias, aumentando o interesse por fast food;

c) a expansão das redes em função das economias de escala;

d) a maioria tem planos de expansão de uma maneira ou de outra;

e) crescimento do delivery amplia o mercado.

A seguir são apresentados alguns dados sobre o posicionamento do fast food do Brasil em

relação a outros países do mundo. A Figura 8 ilustra dados relacionados com o faturamento com o

PIB; a Figura 9, com o gasto com comida rápida; a Figura 10, o comparativo de tamanhos de

mercados mundiais e, a Figura 11, o número de estabelecimentos em diversos países do primeiro

mundo.

Fonte: ABIA / Revista Circuito Agrícola, jul. 98

Figura 8 - O fast food no mundo em % do PIB.

00,20,40,60,8

11,21,41,61,8

2

Canad

á USA

Reino U

nido

Brasil

Japã

o

Franç

a

Aleman

ha

Espa

nha

Itália

250

300

350

400

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69

Fonte: ABIA / Euromonitor, 1997

Figura 9 - Gastos mundiais com comida rápida (US$ per capita/ano).

Fonte: ABIA / Euromonitor, 1997

Figura 10 - Fast food: comparativo de tamanho de mercados (vendas em milhões).

101,206

13,02510,4043,74 3,668 2,691 2,55 0,98 0,493

0

20

40

60

80

100

120

EUA

Japã

o

Canad

á

Reino U

nido

Aleman

haFra

nça

Brasil

Espa

nha

Itália

157,1

100

120

140

160

180

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70

Fonte: ABIA / Euromonitor Market Direction, 1997

Figura 11 - Número de estabelecimentos fast food no Primeiro Mundo (1000).

Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o franchising cresceu 6,6%

em 1999 e 170% no período do Plano Real. O setor de alimentação é o que conta com o maior

número de redes de franquia, com 199 redes e 23,05% de representatividade. Em relação à

concentração das empresas franqueadoras ao longo do território nacional, São Paulo é o Estado

que concentra o maior número do total de redes de franquias (todos os segmentos) com 52,02% do

mercado, seguido do Rio de Janeiro, com 15,99%; Paraná, com 8,11%; Minas Gerais, com 6,25%,

e Rio Grande do Sul, com 5,44%. Esses números mostram a força do setor de alimentação dentro

do ramo de franquias e a capacidade de expansão para outras regiões com baixa concentração de

redes desse ramo, associadas ao interesse de 97% dos franqueadores em aumentar o número de

estabelecimentos franqueados (ABF, 2000).

Os entrevistados apontam também para a regionalização das redes de franquia como

uma tendência do crescimento futuro do setor que, ao desenvolverem uma rede de estabelecimentos

em uma determinada região, além de contar com o fortalecimento da marca, ganha em poder de

barganha com os fornecedores. A Figura 12 apresenta a evolução do faturamento das redes de fast

food no Brasil e a Tabela 1 mostra o ranking das 20 maiores redes de fast food do Brasil.

2,00

2,55

3,00

2,00

2,50

3,00

Page 72: ANÁLISE DO SEGMENTO DE FAST FOOD EM CAMPO GRANDE, MS

71

Fonte: ABIA , jul. 98

Figura 12 - Brasil: faturamento das redes de fast food (US$ bilhões).

Tabela 1 - As vinte maiores redes de fast food no Brasil em 1997.

Marca Total de lojas Próprias Franquias Faturamento em

US$ milhões McDonald's 228 114 114 827,00

Casa do Pão de Queijo 162 0 162 36,90

Bob's 126 89 37 130,00

Fry Chicken 125 1 124 69,10

Mister Pizza 118 23 95 52,90

Habib's 73 33 40 105,10

Pastelândia 63 2 61 18,80

Mister Sheik 61 18 43 -

Subway 51 1 50 -

Pizzamille 49 4 45 10,50

Giraffas 31 5 26 20,70

Chicken-in 29 0 29 20,80

Good Good 29 3 26 26,10

KFC/Pizza Hut 22 14 8 130,00

Arby´s 20 18 2 24,00

All Parmegiana 18 18 0 12,90

Pastello 17 11 6 5,70

Pastel & Amor 16 13 3 4,60

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72

Kotobuki 15 13 2 17,00

Vivenda do Camarão 15 15 0 13,50

Fonte: Associação Brasileira de Franchising (ABF)

A mudança do hábito de almoçar em casa é reforçada pelo Departamento de

Economia da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), segundo o qual, 20% da

população brasileira (25% nos grandes centros) alimenta-se regularmente fora do lar, contra 71% na

Europa e 50% nos Estados Unidos, conforme mostra a Tabela 2, o que animam as projeções de

crescimento das refeições feitas fora do lar.

O Shopping Center Campo Grande, do grupo Ecisa, tem peso fundamental na

solidificação do crescimento do fast food na cidade, por ser o único shopping da capital e o maior

centro comercial do Estado. O enfoque no lazer tem predominado, principalmente após a instalação,

em novembro de 1999, de dez salas tipo multiplex da rede mundial Cinemark, a maior instalada no

país (Gazeta Mercantil, 2000), acima da média nacional que é de 5,1 salas de cinema por shopping

(ABRASCE–Associação Brasileira de Shoppings Centers) ocasionando o crescimento das vendas

do shopping center de 20% a 30% (Figura 13). A presença de salas de cinema desse porte é um

atrativo de lazer muito forte e tem sinergia com o fast food, daí que a praça de alimentação do

shopping center deverá passar, a médio prazo, por uma revitalização, não apenas de público, mas

também de conceito, pois a necessidade de atendimento ao público do Cinemark tem as suas

particularidades.

Tabela 2 - Refeições fora do lar (%).

Discriminação Quantidade (nº)

Total (nº) Total (%)

USA 1 2 50

EUROPA 5 7 71

BRASIL 1 5 20

BRASIL(grandes centros urbanos)

1 4 25

Fonte: Abia, 1998

4040

45

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Fonte: Ecisa Engenharia Comércio e Indústria Ltda - 06/2000.

Figura 13 - Evolução de vendas do Shopping Center Campo Grande, MS.

Esses dados permitem determinar, como elemento “predeterminado”, o crescimento

do segmento de fast food na análise dos possíveis contornos da evolução do setor. As “incertezas”

ficam por conta da análise das tendências de ruptura na atual concepção de operação dos

estabelecimentos e como se dará o crescimento do segmento. Os tópicos para uma análise de

prováveis desdobramentos do segmento de fast food ficam por conta: do comportamento dos

novos entrantes; da capacidade financeira do setor; e da revolução da Internet.

A evolução que vem ocorrendo nas praças de alimentação apresentam vários

produtos fast food que se assemelham a uma refeição feita em casa. O substituto de maior peso, a

comida por quilo, ganha força em shopping centers da região Sudeste e Sul, o que ainda não

acontece em Campo Grande, onde está restrita aos restaurantes localizados no centro comercial da

cidade. Nas cidades onde já se encontra na arena competitiva natural do fast food, nas praças de

alimentação dos shopping centers, a comida por quilo já pode ser denominada como concorrente,

visto que o substituto quando tem semelhança nas funções realizadas e os benefícios oferecidos

podem ser vistos como concorrentes diretos (Day & Reibstein, 1997).

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Nessas praças de alimentação, a comida por quilo ou self service, como é chamada,

procura oferecer uma grande variedade de produtos por um preço discretamente mais alto em

relação ao fast food, dito tradicional, com o diferencial da percepção do cliente em relação ao

produto. Percebe-se, nas praças de alimentação dos shopping centers das grandes cidades, que a

competição tem se dado com as redes nacionais ou regionais, que vendem sanduíches, pizzas,

batatas recheadas ou comida árabe, em confronto com as operações de refeições fast food que se

assemelham com a feita em casa, servida em pratos prontos ou self service (por quilo).

A evolução desse conceito para o segmento de fast food de Campo Grande ainda

não é visível. A competição está concentrada entre as redes de fast food e os estabelecimentos com

operações tipo refeição (Pratos Prontos) o que pode modificar à medida que forem inaugurados

no shopping center a área de restaurantes prevista para 2001. Neste caso pode acontecer o

movimento do self service entrar como competidor na praça de alimentação do Shopping Center

Campo Grande, com preços mais baratos do que os cobrados pelos restaurantes.

A expansão do setor de fast food, como um todo no Brasil, ainda esbarra no fator

financeiro haja vista que o start up necessita de alto investimento, fator que se aplica às redes de

franquia ou estabelecimentos que queiram competir neste patamar. A expansão do fast food por

meio do franchising deverá receber a criação de uma linha de financiamento do BNDES,

exclusivamente voltada para o desenvolvimento do sistema (ABF, jan. 2000), o que pode vir a

fomentar o crescimento do setor.

Esta análise preliminar, embora não tenha a pretensão de compor um cenário da

evolução do segmento de fast food em Campo Grande, pode ajudar na compreensão da evolução

dos principais vetores destacados neste estudo. O delivery por ser uma atividade em franca

evolução está analisado no próximo item, associado à Internet, cuja evolução tem impacto decisivo

nas operações de entrega em domicílio, o que complementa os possíveis desdobramentos para o

futuro do segmento de fast food na cidade.

5.1.1 A força do delivery e a Internet

O hábito de comer fora de casa cria vínculos com os estabelecimentos e a vontade de

repetir em casa a experiência. Isso faz do delivery uma alternativa de crescimento para os

estabelecimentos de fast food em Campo Grande.

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75

As redes de fast food têm incorporado o delivery como estratégia de vendas das

suas unidades, em função do crescente interesse do consumidor em receber em casa ou no

escritório esse tipo de refeição. De acordo com os entrevistados, a classe C, principalmente a que

mora em áreas urbanas mais afastadas, tem exercido uma grande influência nos pedidos para

entrega em Campo Grande, em função do aumento do seu poder aquisitivo associado à falta de

opções nas proximidades de seus bairros.

Essa tendência tem estimulado o investimento no delivery em Campo Grande que

deve contar com a entrada da rede McDonald’s no setor, e faz parte da estratégia para o Brasil.

A Internet ainda é uma incógnita para a maioria dos entrevistados, mas para aqueles

que estão no delivery, já faz parte de uma realidade de vendas, pequena é verdade. Em Campo

Grande, as empresas que mais estão apostando no e-commerce são as de alimentação, o que

surpreende, pois em outros Estados brasileiros as empresas que vendem CDs, livros, flores e

equipamentos de informática são a maioria (Correio do Estado, 2000). Atualmente é possível

comprar em Campo Grande quase todos os tipos de refeições pela Internet: sanduíches, pizzas,

sorvetes, tortas, docinhos, salgados, batata recheada ou comida chinesa.

Os sites em Campo Grande vendem produtos generalizados, não sendo ainda

especializados em entrega de refeições como já acontece em centros urbanos maiores, como São

Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.

A força da Internet é mais presente quando se trata da substituição do fax e do

telefone nas comunicações internas das redes de fast food, com escritórios franqueadores

localizados em outras cidades, e no contato com os fornecedores. A Intranet através da Internet

agiliza as informações e transmissão de dados, assim como abre o leque de contatos com outros

franqueados.

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6 CONCLUSÃO

A investigação do segmento de fast food de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, foi uma

tarefa importante em função da ligação com o ambiente competitivo do fast food no Brasil, pela

presença das grandes redes de franquia na cidade. Por isso, o estudo do fast food não pode ser

considerado de forma isolada nessa cidade, o que ficou demonstrado nas entrevistas com os

franqueadores e franqueados das redes de fast food mais importantes do país. Alguns tópicos

destacam-se nesta análise:

a) é essencial ter ganho de escala;

b) a rivalidade é acirrada;

c) os custos fixos são elevados;

d) substituto comida por quilo influencia fortemente a competição;

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e) crescimento do setor é garantido, mas podem ocorrer mudanças na competição.

O potencial de mercado para os novos entrantes é grande por causa das perspectivas de

crescimento do setor, porém deve ser observado o formato apropriado para se competir. A

competição, no segmento de fast food em Campo Grande, é acirrada e deve-se destacar a

diferença entre os competidores da praça de alimentação do shopping center e os localizados no

centro da cidade.

O shopping center concentra a competição com maior profissionalismo em função da presença

das grandes redes de fast food, o que já não acontece no centro da cidade onde a ausência dessas

grandes redes deixa a competição focada em outros fatores, como o preço, a imitação e a

descaracterização dos estabelecimentos.

Um novo entrante deve observar que as barreiras de entrada na praça de alimentação do

shopping center são mais elevadas que no centro da cidade. O alto investimento para se instalar no

shopping center não viabiliza qualquer tipo de operação de fast food e deve-se levar em conta

também a operação dos competidores já estabelecidos.

As barreiras de entrada para um novo competidor no centro da cidade são menores,

característica de um segmento altamente fragmentado e sem concorrentes de peso, embora

predomine os restaurantes de comida por quilo. Essa característica do centro da cidade pode

representar oportunidades para competidores que tenham recursos adequados para vencer tal

fragmentação.

Um recurso decididamente imprescindível para se competir no fast food é o ganho de escala,

visão articulada principalmente pelas redes de franquia. O ganho de escala viabiliza preços menores

com maior qualidade, e isso alavanca o crescimento. Os competidores que possuem somente um ou

dois estabelecimentos não têm neste recurso como diferencial competitivo o que restringe a

viabilidade operacional.

O ganho de escala pode decidir também a estratégia competitiva, pois em operações nas quais

não é possível se ter ganhos de escala devem ser analisados outros recursos competitivos. Na

operação de fast food, caracterizada por especialidades que se assemelham a uma refeição feita em

casa, o diferencial competitivo recai sobre o produto e a especialização no seu preparo. Tais

operações devem levar em conta a regionalização dos hábitos alimentares e estão mais restritas a

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determinadas localidades. A expansão, como redes de franquia, tem sido em menor escala,

enquanto as operações de fast food, como as de sanduíches, pizzas, pastéis, frangos fritos e esfihas,

por exemplo, adequadas à padronização, tem levado a expansão de suas redes indistintamente pelo

Brasil, o que reforça o ganho de escala.

A intensa rivalidade é resultado dos custos fixos elevados, característica da atividade em geral, e

eles são mais elevados nas operações localizadas em shopping centers. Por isso, a competição no

preço ganha força e a diferenciação deve ser buscada, levando em consideração a alta rivalidade

que limita o valor a ser cobrado pela inovação.

O produto substituto tem feito pressão na atividade do fast food, no Brasil, e, nas cidades onde

já compete como concorrente, tem se adaptado à padronização característica desse segmento,

tendo na sua operação um produto que é carro-chefe, como carnes à parmegiana, ou itens da

cozinha mineira, ficando à escolha do cliente os diversos tipos de acompanhamento.

Isso tem levado a uma modificação no tenant-mix das praças de alimentação dos shopping

centers. A refeição tal qual feita em casa ganha espaço com mais sofisticação e variedades. Resta

saber de que maneira este movimento vai acontecer em Campo Grande.

Pode-se deduzir que, por causa do potencial de crescimento do setor, a lucratividade está

garantida, ou seja, que o segmento de fast food é atraente sob qualquer aspecto. O conceito

popular de que o ramo de alimentação vende bem mesmo em tempos de crise deve ser melhor

avaliado. É preciso avaliar qual dimensão estratégica, pois se para o ramo de franquias as barreiras

de entrada são maiores, a capacidade de se obter lucros compensadores aumenta em função de

vários fatores, entre eles, as economias de escala e o poder da marca. As operações localizadas,

geralmente compostas de um ou dois estabelecimentos, exigem esforço maior de seus operadores

em função da falta da retaguarda operacional que uma franquia proporciona, são operações de fast

food que visam a uma lucratividade que satisfaça as necessidades dos sócios-proprietários e estes,

muitas vezes, desprovidos de planos de expansão do negócio. Isso pode influenciar a lucratividade

para patamares menores do que o normal, pois em tempos de competição mais acirrada o que está

em jogo é a sobrevivência do dia-a-dia e não os fatores que compõem uma estratégia de marketing

mais elaborada e preocupada com a qualidade dos produtos ou a marca do negócio.

De qualquer maneira, a atividade de fast food com seu dinamismo tem grande potencial de

crescimento, seja por meio do franchising, que deve expandir com a concentração de poucas

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marcas nacionais e com maior número de redes regionais, seja dos inúmeros tipos de operações

individuais que florescem com a busca da refeição fora de casa. A decisão estratégica deve ser bem

analisada. Hoje, não pode mais ser feita de qualquer jeito, como era há dez anos, quando não havia

shopping center em Campo Grande. A competição é mais acirrada e o profissionalismo é a

tendência que não tem retrocesso.

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83

ANEXOS

ANEXO 1 - Sites de interesse da Internet.

a) http://www.abf.com.br - Associação Brasileira de Franchising

b) http://www.abia.org.br - Associação Brasileira da Indústria de Alimentos

c) http://www.revistafranquia,com.br - Franquia & Cia

d) http://www.institutifranchising.com.br - Jornal do Franchising

e) http://www.hbsp.harvard.edu - Harvard Business School Publishing

f) http://www.intermanagers.com.br - Intermanagers

g) http://www.wired.com - revista Wired

h) http://www.vitrineweb.com.br - site em Campo Grande, para compras pela internet

i) http://www.burgerking.com - Burger King Corporation

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ANEXO 2 - Roteiro das entrevistas.

Estrutura da indústria de acordo com o modelo de Porter

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Rivalidade entre competidores

• Classificar a categoria: franquia (internacional, nacional, regional), loja

própria ou outro tipo. • O número de lojas (franquias, próprias) • Quais os concorrentes diretos, marginais, etc...? • A principal refeição tipo fast food. • Qual o valor do ticket médio? • Os custos fixos são altos de maneira geral? Quais são os mais

importantes? • Média de funcionários por unidade. • Como competem: ênfase no preço ou diferenciação? (queimador de

preço?) • Que papel tem a diferenciação na competição? • Barreiras e saída - Qual a sua avaliação das barreiras de saída do

segmento de fast food ? • Quais as fontes de barreiras de saída mais importantes? (ativos

especializados; custos de saída; barreiras emocionais)?

Barreiras de Entrada

/ Ameaça de Novos

Entrantes

• Fontes de barreiras de entrada (visão franqueador e franqueado). • Existem economias de escala? • Quais as barreiras para um novo entrante (Brasil/local)? • Retaliação esperada. Quais são as condições de retaliação dos

competidores?

Produtos Substitutos

• O que considera como substitutos (avaliação do entrevistado)?

Comida por quilo, feito em casa, comida pronta (supermercados)? • Quais as vantagens que tem sobre o produto do entrevistado? • Existe algum que poderá ser preocupante?

Poder de barganha dos Fornecedores

• Quais as características dos fornecedores do setor? • Qual o poder de negociação dos fornecedores? • Que fatores determinam o seu poder? • Quais os custos de mudança de fornecedores para os competidores

da indústria?

(continua) ANEXO 2 - Roteiro das entrevistas. (continuação)

Estrutura da indústria de acordo com o modelo de Porter

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Poder de barganha

dos Clientes

O poder de barganha dos clientes é inexistente devido à pulverização dos mesmos. Não existem um cliente forte, e sim consumidores em grande quantidade e diferentes características.

Visão Baseada em Recursos (VBR)

Categorias de Recursos

• Recursos Financeiros • Recursos Físicos • Recursos Humanos • Recursos Tecnológicos • Reputação • Recursos Organizacionais • Recursos Relacionais

Características dos

Consumidores

• Quem são os consumidores? • Qual a demanda pelo produto

Recursos de difícil

imitação

Ø Verificar a existência dos seguintes recursos: • Localização • Patentes • Valor da marca • Capacidades organizacionais • Altos investimentos em ativos

Capacidade de apropriação dos lucros gerados

• Utilização dos resultados financeiros a favor da empresa? A empresa

retém os lucros gerados? • Qual a dependência de capacidades individuais?

(continua)

ANEXO 2 - Roteiro das entrevistas. (continuação)

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Core Competence

• Quais são (na visão do entrevistado), os recursos, competências e capacitações para uma empresa atuar com sucesso no segmento de fast food?

• O que faz a organização para identificar, cultivar e explorar seus recursos críticos?

• Investe no desenvolvimento de novos produtos ou processos organizacionais?

Futuro

• Qual a opinião do entrevistado sobre o futuro do segmento de fast food

• De que maneira utiliza a internet atualmente?

• Qual a opinião sobre o futuro da internet no setor?

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ANEXO 3 - Entrevistados.

Entrevistados Empresa Cargo Obs.

Ricardo Toledo de Camargo

McDonald's Comércio de Alimentos Ltda

Diretor de Franquia Franqueador / SP

Carlos Schirmer Baisch Venbo Comércio de Alimentos Ltda (Bob's)

Diretor de Franquia Franqueador / RJ

Romoaldo Destro Fraconsult Franquias Empresarias (Habib's)

Gerente de Expansão A empresa presta consultoria exclusiva para o Habib's, com a

finalidade de franquear a marca (Franqueador/SP)

Modesto Carone Jr Roasted Potato Sócio - proprietário Franqueador/interior SP

Silas Paes Barbosa Ecisa Eng. Com. Ind. Ltda

Superintendente Administra o Shopping Center Campo Grande

Renato Custódio Veríssimo de Carvalho

Franquia McDonald's em Campo Grande (M.S.)

Franqueado Franqueado de todas as unidades do McDonald's em Campo Grande (01 restaurante e 07 quiosques)

Luiz Fernando da Costa Vaz

Franquia Bob's em Campo Grande (M.S.)

Franqueado Franqueado da unidade Bob's em Campo Grande

Edvaldo César Germiniani

Franquia Roasted Potato em Campo Grande (M.S.)

Franqueado Franqueado da unidade Roasted Potato em

Campo Grande

Huang Chi Yung e

Robson Levy Espíndola Dias

Cozinha da China Sócios - proprietários Loja própria no Shopping Campo Grande

Valmir Guarinão Meat Bar Sócio - proprietário 02 lojas próprias

Renato Grecchi Jr,

Flávio José Grecchi Filho e

Edmir Assunção Arnes

Pastel D'ouro Sócios - proprietários Sócios fundadores e sócio de uma das unidades da rede