Análise da iluminação natural em centros de compras -...
Transcript of Análise da iluminação natural em centros de compras -...
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Análise da iluminação natural em centros de compras
Ana Paula Miranda Castor – [email protected]
Pós-Graduação em Iluminação e Design de Interiores
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
Recife, Maio de 2013 Resumo
A construção de shopping centers, no Brasil, é uma atividade que vem crescendo largamente
nos centros urbanos. É perceptível, que ao longo dos anos, o conceito adotado nos projetos
arquitetônicos desses centros comerciais vem sofrendo constantes mudanças, pois vê-se, nas
construções mais atuais a preocupação com o conforto e a sensação que o ambiente causa no
usuário. E a luz é aspecto importante para o usuário vivenciar e perceber esse espaço.
Portanto, esse trabalho tem como objetivo analisar a concepção do projeto de iluminação
natural desses espaços. Esse estudo pretende analisar diretrizes projetuais utilizadas pelos
arquitetos nas áreas do mall em diversos shoppings como forma de atestar essa evolução na
idealização desses centros comerciais. Porém, não pretende analisar projetos das lojas que
os compõem, pois em quase em sua totalidade utilizam-se da iluminação artificial.
Palavras-chave: Centros de Compra. Iluminação. Conforto.
1. Introdução
A arquitetura e a luz são elementos que estão naturalmente ligados desde a Pré-história até os
tempos atuais. Esse tipo de preocupação é facilmente identificada e serve de inspiração para
as novas produções que estão por vir. Valendo-se dessa arfimativa, Barnabé (2002, p.04)
constata em seu artigo “A Poética da Luz Natural na Obra de Oscar Niemeyer” que
[...] a luz é capaz de transformar-se em elemento lingüístico no
momento inventivo do projetar, retornando não só como material
específico da arquitetura, mas como a própria arquitetura. Não
só iluminando a mensagem, mas sendo a própria imagem.
A preocupação com a iluminação dos ambientes é dada justamente pela necessidade que o
homem tem de vivenciar os espaços que o envolvem. A luz atua diretamente sobre a visão
humana e é através desse sentido que podemos perceber os espaços e os objetos com todas as
suas minúcias, como a cor, a textura, a altura, a largura, a profundidade, entre outros aspectos.
Além desses aspectos visuais e da necessidade fisiológica humana em habitar ambientes
iluminados, a luminosidade também é algo que influi diretamente no inconsciente humano.
Essa luz ou até mesmo a ausência dela têm capacidade de provocar as mais diversas sensações
e emoções nos seres humanos, portanto é imprescindível fazer esse jogo de luz e sombras
para que, dessa forma, haja maior valorização do espaço e da própria iluminação.
As lâmpadas, durante muito tempo, foram as principais fontes de iluminação em shopping
centers, devido ao conceito construtivo desses lugares no principio. Mas essa visão projetual
vem mudando com o passar dos tempos. O que está ocorrendo é a transformação da visão dos
empreendedores, que estão adotando uma postura mais racional perante ao consumo
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
consciente da energia e principalmente preocupando-se em proporcionar ao usuário um lugar
mais aprazível e que consequentemente favoreça o consumo.
2. Referencial Teórico
2.1. Luz Natural
Seguindo o conceito de luz natural adotado por Mascaró (1989, p.35):
“Chamamos de luz natural à luz proveniente do sol em forma direta,
através dos raios solares, ou indireta devida à reflexão da atmosfera
com ou sem nuvens (luz difusa), da vegetação, dos edifícios ou outros
objetos existentes na superfície da terra (luz refletida).”
A energia, que atinge a atmosfera terrestre, é uma energia dissipada pelo sol em forma de
radiações eletromagnéticas. Essa atmosfera funciona como uma espécie de filtro dessas
radiações, deixando passar cerca de 60% dela, sendo responsável pelo aquecimento e
iluminação da Terra. Nesta atmosfera encontram-se barreiras naturais que fazem a refletância
e a absorção de parte desta radiação solar, sendo elas: o ozônio, absorvendo toda a radiação
ultravioleta de comprimento menor , as nuvens, refletindo as radiações, e os vapores d’água,
absorvendo as radiações. Mas a intensidade e a qualidade dessa radiação podem variar de
acordo com fatores como: a latitude, definindo através localização geográfica a variação da
quantidade dessa radiação e a duração dos dias; a nebulosidade, atuando tanto refletindo como
absorvendo o calor; a abóbada celeste característica de cada área e até a poluição atmosférica,
podendo dificultar a passagem da luminosidade.
A intensidade da luz solar, em um dia claro, pode chegar a 80.000 lux1 numa superfície
perpendicular aos raios solares. Portanto, é possível afirmar que o horário em que a pessoa em
pé encontra-se mais exposta a radiação solar é do horário das 9 e 10 horas da manhã e das 14
e 15 horas da tarde, onde a superfície do corpo humano está na posição vertical em relação
aos raios solares, funcionando como anteparo para estes. Mas apenas parte dessa radiação é
refletida para o meio e outra parte é absorvida pelo material. Essa absorção está diretamente
ligada à cor do objeto e da pessoa, portanto, as pessoas e os materiais de cor branca refletem
cerca de 90% dessa radiação, enquanto que as pessoas e os materiais de cor negra refletem
15% ou menos dela.
A incidência da luz natural, como foi dito anteriormente, depende da localização geográfica
de cada área, em conseqüência disso, há locais em que são mais quentes que outros. As zonas
com maior luminosidade e mais quentes são as que possuem os maiores ângulos de incidência
dos raios solares, já as localidades que possuem menores ângulos, são comuns invernos mais
rigorosos e áreas mais escuras. Mas estes locais são caracterizados por dias mais longos, ou
seja, mais horas com a presença da luz natural no verão, época em que o ângulo de incidência
aumenta. Em consequência a essa contradição, conclui-se que as áreas que mais recebem a
radiação solar não são as áreas localizadas no Equador e nos Trópicos, mas sim entre 20° e
45° de latitude, sendo maior a incidência da radiação por cerca dos 15° de latitude. Devido a
esse aspecto, é importante considerá-lo como condicionante para um projeto arquitetônico. 1 Unidade de medida para o fluxo luminoso que incide sobre uma superfície situada a uma certa distância da
fonte.
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Durante todo o dia, ocorrem modificações na cor da radiação transmitida pelo sol, isso
é percebido através das diferentes reações na percepção visual dos objetos mediante à essas
frequências diferenciadas. Essa variação parte de um branco azulado quando o céu está claro a
um tom próximo ao branco quando o mesmo encontra-se encoberto. Havendo nebulosidades,
a coloração varia de um branco ao branco amarelado, chegando até mesmo a um tom
alaranjado quando se aproxima do pôr do sol. Mas essa matiz varia de acordo com as
condições naturais de cada local, variando o brilho, a nitidez e intensidade. A temperatura
também interfere nessa coloração através da quantidade de vapores d’água encontrados na
atmosfera, influenciando na difusão da luz e na maior distância que a luz tem que percorrer
até chegar a superfície. Utilizando-se como exemplo desse comportamento, a coloração
azulada do céu do meio-dia, onde as temperaturas encontram-se mais elevadas e comparando-
a com a coloração do fim do dia, em que adquire uma coloração mais avermelhada e
apresenta uma temperatura mais branda.
Além desses aspectos, a coloração da luz também varia de acordo com as estações do ano,
sendo aquela melhor percebida em lugares onde ocorrem as quatro estações bem definidas.
Essa mutação dos diferentes aspectos da luz natural, como a variação de cores, é um aspecto
bastante peculiar presente na natureza, fazendo com que sempre haja um novo espaço a ser
descoberto em meio a essas transformações, alterando a percepção dos espaços a cada dia.
O sol é uma fonte de luz que produz a sua própria radiação, sendo ela intensa, puntiforme e
dinâmica. O seu comprimento de onda varia desde as ondas de menores comprimentos,
chamadas de ultravioletas, até as mais longas, conhecidas como infravermelhas. Como
resultado dessa última radiação, surge a reação do material submetido a ela que absorve essa
radiação produzindo um efeito térmico, causando, assim, a evaporação, convecção, condução
de calor, radiação, reflexão, etc.
Devido a todos esses efeitos, a radiação direta da luz do sol torna-se inadequada para a
iluminação natural nas áreas de clima tropicais e próximas a essas localidades onde sua
presença é intensa.
A radiação solar, até chegar à superfície, passa por diversos meios que influenciam no seu
aspecto, como:
1. A hora do dia;
2. A estação do ano;
3. A presença de nuvem, partículas sólidas e outros elementos que prejudicam na
passagem da luz;
4. Entorno;
5. Latitude e Altitude da localidade;
6. Clima;
7. Quantidade da atmosfera que a luz tem que atravessar.
Outra fonte de luz é a chamada Abóbada Celeste, comparada com o sol, possui uma área
visível maior e com pouca luminância, compondo uma fonte mais adequada para a iluminação
natural. A qualidade da luminosidade dessa fonte é influenciada principalmente pela
localização geográfica, devido à presença de nebulosidades e aos fenômenos da natureza que
estão passíveis à localidade, como as estações do ano. Essas variações de acordo com cada
local dividem essa abóbada em três tipos: abóbada encoberta, abóbada parcialmente
encoberta ou descoberta.
A abóbada encoberta (Figura 1) é caracterizada por ter uma luminância entre 5.000 lux a
10.000 lux, pode esta variar de acordo com a localização, o clima e a presença e quantidade
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
de nebulosidade. Esse tipo de abóbada é comum apresentar-se mais luminosa no zênite2 do
que no horizonte, havendo uma diminuição gradativa chegando a 70% do total recebido pelo
zênite. Ou seja, o zênite é cerca de 2,5 a 3 vezes mais luminosa do que no horizonte.
Essa abóbada é mais comum nos climas frios de altas latitudes do hemisfério Norte da Terra,
podendo tomá-lo em consideração para cálculos em áreas do continente Americano com
latitude superior 40ºS. Para as áreas que possuem essas características, é necessária a
utilização de elementos zenitais e de janelas altas para a melhor captação dessa luminosidade.
Figura 1- Distribuição e variação da luminância do zênite ao horizonte da abóbada encoberta.
Fonte: MASCARÓ (1989)
A abóbada parcialmente encoberta é caracterizada pela presença periódica do sol variando
com períodos com nebulosidade. É muito comum nos climas quente úmido e temperado
úmido.
Já a abóbada descoberta ou clara (Figura 2) comporta-se de maneira diferenciada do que a
encoberta, a luminosidade máxima é atingida no horizonte, excetuando apenas nos
proximidades do sol. As peculiaridades dessa abóbada variam de acordo com seu azimute nas
áreas de clima temperado úmido, e quase não havendo variação nas regiões de clima quente-
seco tropicais, onde o sol é mais alto e permanentemente presente. É típica das regiões de
baixa latitude, como o sul europeu e as áreas equatoriais.
2 Ponto situado na porção mais elevada do hemisfério celeste; caracterizado pelo ângulo de altura máximo de
90º.
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Para esse tipo de abóbada são necessários o conhecimento da trajetória e o posicionamento do
sol e o comportamento da nebulosidade da região. Após a identificação desses aspectos,
procurar tirar proveito do entorno iluminado e criar estratégias para minimizar a incidência
direta do sol.
Figura 2 - Distribuição e variação da luminância do zênite ao horizonte da abóbada clara.
Fonte: MASCARÓ (1989)
Uma outra fonte luminosa importante e que deve ser considerada em um projeto de
iluminação natural é o entorno da edificação. Pois ao contrário do sol, o entorno é uma fonte
secundária, pois reflete a luz proveniente de uma fonte primária, que é o sol.
A refletância do entorno, em lugares mais ensolarados, chega a corresponder de 10% a 15%
do total da luminosidade que atravessa uma janela, podendo esse valor variar de acordo com a
coloração do entorno. E em locais menos expostos a luminosidade solar, esse percentual pode
chegar a mais da metade da radiação recebida.
Devido a esses aspectos observados, a concepção de um projeto de iluminação natural deve
levar em consideração diversos aspectos característicos de cada local que irá abrigar a
arquitetura. Pois em cada área, a incidência de luz comporta-se de maneira diferenciada e
também exige um tipo de iluminação adequada as necessidades de cada lugar, onde deve-se
levar em consideração aspectos climáticos, entre outros fenômenos naturais comuns a ele.
2.2. Percepção Visual da Luz e Exigências Humanas e Funcionais:
A luminosidade é percebida pelo ser humano através do olho. E é através da luz solar que o
olho humano atinge o seu maior potencial. Essa luz passa pela pupila e se propaga pelo humor
vítreo até chegar à retina, onde estão as células de suporte e três camadas de neurônios (Figura
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
3). Os neurônios receptores sensíveis a radiação são chamados de cones e bastonetes e estão
localizados na porção mais externa do globo ocular. Na camada intermediária, estão
localizadas células bipolares que vão enviar os estímulos para a camada ultima chamada de
neurônios, onde estão as células ganglionares. Depois dessa fase, os impulsos chegam até um
ponto cego, onde convergem os axônios dessa ultima camada, e a partir daí seguem pelo
nervo ótico até chegarem aos centros do tálamo e do mesencéfalo. Quando chega ao cérebro,
toda a informação captada é interpretada e selecionada, provocando, assim, uma sensação de
luminosidade.
Figura 3 - Olho Humano
Fonte: http://profs.ccems.pt/PaulaFrota/olho.htm.
Os cones e bastonetes, presentes na retina, são nervos sensíveis a radiação, mas atuam de
maneiras diferentes para essa percepção. Os cones são menos sensíveis à luz, mas são
responsáveis pela identificação das cores. E por isso dividem-se em três grupos: os cones mais
sensíveis a região dos vermelhos, outros na região dos verdes e o último na região dos azuis.
Já os bastonetes, são altamente sensíveis à luminosidade. Detectam movimentações, mas não
detectam as cores e a reprodução da imagem por eles não é nítida.
Para que haja uma boa resposta do corpo humano à luminosidade, ou seja, para um bom
desempenho da visão é necessário que a iluminação preencha os seguintes requisitos:
É imprescindível que haja diferenciação dos aspectos físicos dos materiais, fazendo
com que a percepção não seja a mesma para todos os tipos de superfícies, ou
seja, é preciso que haja um contraste entre essas superfícies. Mas todo contraste deve
ser moderado devido ao risco de ofuscamento com materiais brilhosos.
É necessário levar em consideração a tarefa a ser desempenhada, pois para cada
finalidade existe um grau de nitidez exigida.
É necessário que haja um estudo sobre o nível de luminância no ambiente, pois esse
fator será determinante para a percepção do objeto como um todo, apresentando seus
pequenos pormenores.
Para elaborar um projeto, alguns arquitetos preocupam-se apenas com a finalidade daquele
espaço e, não se preocupam em como irá desempenhar as atividades destinadas àquela
espacialidade e a percepção da mesma. O projetista deve atentar-se, também, nas necessidades
do homem ao desempenhar essas atividades, e ao estímulo que deve receber do ambiente para
que consiga realizá-las.
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
A iluminação de um ambiente é uma dos aspectos fundamentais em proporcionar estímulos
para o desempenho dessas tarefas, pois é responsável em aguçar a visão para atentar e
perceber o espaço que rodeia o homem. Além da necessidade funcional de utilização da luz,
esta pode ser aproveitada de uma maneira mais artística, fazendo o jogo de luz e sombra nos
ambientes projetados, estimulando sensações diferenciadas entre seus usuários.
Para desempenhar tarefas visuais, o homem necessita de níveis de luz capaz de produzir a
sensação de luminosidade. A variação desses níveis depende de aspectos como: o grau de
detalhe a ser exigido, o contraste entre esse detalhe e o que o envolve, a velocidade e o
cuidado para desempenhar essa tarefa e o tempo que deverá ser levado para
desempenhá-la. Além disso, devem-se levar em consideração as possíveis distrações que
podem ocorrer no ambiente, resultado das movimentações e contrastes excessivos.
Para o olho perceber algum objeto é imprescindível que haja estímulos da luz sobre o olho e
que esses estímulos provoquem sensações. A luminotécnica é uma ferramenta do processo
físico da percepção da luz, mas para ela atingir seu objetivo, é preciso que sua utilização
provoque uma resposta em seu usuário e que esta seja interpretada para melhor atendê-lo.
Portanto, a utilização de normas que estabelecem o nível mínimo de iluminância serve apenas
como parâmetro para cálculos luminotécnicos, o que não descarta a possibilidade de alterar
esse nível, tanto para mais ou para menos, de acordo com a percepção psicológica e
emocional do ser humano relacionado ao ambiente.
Os principais requisitos para uma boa visibilidade são os níveis de iluminância e sua
distribuição em harmonia, evitando o ofuscamento, o controle da luminância e dos contrates
excessivos, a precisão da tarefa visual e o tempo que deverá ser executada essa tarefa.
A presença excessiva ou deficitária da luz causa problema quanto à qualidade da visão,
causando a fadiga e a diminuição da sensibilidade, causado pelo esforço excessivo em
adaptar-se a essas situações desagradáveis. Outro fator que deve se levar em consideração em
relação ao conforto visual é a capacidade que o olho tem em relaxar quando está submetido a
uma atividade visual intensa. Normalmente, esse relaxamento é alcançado quando o olho
vagueia em direções contrárias a da tarefa que está sendo realizada, fazendo com que relaxe e
se prepare para um novo esforço. Espaços iluminados uniformemente e sem a utilização de
cores geralmente causam cansaço e sonolência. Espaços que utilizam-se de uma pequena
desuniformidade seriam ideais para minimizar esse cansaço, mas deve-se levar em
consideração os tipos de tarefas a serem desenvolvidas para que esse diferença não prejudique
no desempenho delas.
OFUSCAMENTO
O ofuscamento é uma perturbação visual que pode ser causado pelo contraste excessivo de
luminâncias e pode acontecer, de forma mais direta, pela visualização da fonte luminosa ou,
de forma indireta, através da reflexão. Esse desconforto reflete na compreensão da mensagem
visual, dificultando a visibilidade do objeto e acelerando o processo de fadiga dos órgãos
visuais. Como é apenas uma sensação, não pode ser quantificado, mas pode ser percebido
através da relação dos seguintes fatores: luminância da fonte, luminância do fundo, tamanho
da fonte, quantidade de fonte que podem ser visualizadas e a posição de cada uma delas
relacionadas com o olho.
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Para minimizar essa sensação deve-se diminuir a luminância da fonte, utilizar elementos que
controlem a fonte luminosa, posicionar a fonte num ângulo de visão acima de 45 graus, evitar
as superfícies brilhosas e aumentar a luminância do entorno da fonte.
Como foi dito anteriormente, o ofuscamento pode aparecer em duas foras: ofuscamento direto
e o indireto.
O ofuscamento direto é a visualização da fonte luminosa. No caso da iluminação natural isso
pode acontecer quando janelas estão orientadas para localidades onde há muita iluminância,
como nas fachadas orientadas para o norte, utilizando-se de paredes e/ou esquadrias de cores
escuras. Para amenizar esses efeitos, é necessário que se utilize cores claras tanto nas
esquadrias como nas superfícies onde estão localizadas, resultando numa iluminação mais
difusa. Os edifícios, mais comum nos de usos não residenciais, são comuns utilizarem de
sistemas de iluminação artificial não somente pela falta de luminosidade, mas também pelo
excesso dela. Nesses ambientes demasiadamente iluminados é comum a presença marcante
dos contrastes luminosos, fazendo-se necessária a utilização desses sistemas para diminuí-los.
Além do desconforto visual, esses espaços sentem a necessidade maior de adotarem sistemas
de refrigeração de ar devido à radiação solar excessiva, aumentando a temperatura deles.
Buscando minimizar esse efeito térmico, indústrias de vidros criaram o vidro reflexivo, mas
este não se tornou uma solução ideal para o problema, já que escurecia o ambiente próximo a
ele e transferia para o exterior o problema térmico para locais, geralmente, destinado a
circulação de pedestres.
A melhor decisão a ser tomada para minimizar esses desconfortos são utilizar alternativas
projetuais que evitem a penetração direta da radiação no edifício, utilizando-se de brises ou
até definindo a orientação do edifício em relação às superfícies transparentes, evitando
colocá-las em direção ao sol.
2.3. Centros de Compras
As atividades comerciais sempre ditaram as regras desde o princípio da civilização. E foi por
conseqüência disso que surgiram os primeiros povoados e que viriam ser as cidades do mundo
civilizado.
Os centros de compras surgiram no fim do século XIX na Inglaterra com a necessidade de
concentrar os produtos que seriam comercializados, e esses espaços foram denominados
de magazines. Mas foi nos Estados Unidos, que esse modelo de magazines foi largamente
implementado, mas adotando um novo conceito de construção de acordo com o surgimento
das novas cidades americanas. Esses centros estavam, geralmente, localizados em áreas
afastadas dos centros históricos das cidades, normalmente, situados à beira das estradas, e
próximos aos novos bairros que surgiam com o crescimento das cidades. Tinham como
objetivo agrupar em um só espaço, comércios que suprissem todas as necessidades das
pessoas sem que houvesse a necessidade dos moradores se deslocarem para os centros das
cidades.
Esses centros comerciais tinham como principais características arquitetônica serem,
usualmente, espaços voltados para as lojas localizadas em seu interior e isolados do exterior,
tinha como principal objetivo incentivar às compras fazendo com que o usuário direcionasse o
olhar para as vitrines. Com isso, a iluminação desses espaços, até a década de 90, era
essencialmente artificial e a ventilação era feita através ar condicionados. Portanto, para
alcançar esse objetivo, os arquitetos utilizavam-se de artifícios como a utilização de
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
corredores mais baixos, pisos mais escuros e utilizavam de uma iluminação monótona e
isolavam, completamente, os corredores do ambiente externo, com a intenção de que o
usuário perdesse a idéia de tempo e passasse a maior quantidade de tempo possível dentro do
espaço fazendo compras.
A partir dos anos 90, esse conceito construtivo começou a perder força, pois os investidores
começaram a avaliar o comportamento das pessoas e perceberam que quanto mais as pessoas
sentissem prazer utilizando espaços mais confortáveis, maior seriam os lucros com as vendas.
Portanto, com essa mudança de pensamento, as novas construções e as reformas desses
lugares, começaram a propor que os espaços de circulação se tornassem mais amplos e fossem
inseridas aberturas para o exterior através, por exemplo, das clarabóias transparentes,
permitindo que a luz natural penetrasse no ambiente e proporcionasse bem-estar para os
usuários, além disso, com essa nova postura, minimizar os custos operacionais que permeiam
os princípios da sustentabilidade e do ambientalmente correto.
É necessário destacar, que o uso amplo dessas aberturas translúcidas sem a análise do
posicionamento aparente do sol em relação a essa superfície, requer certo cuidado ao serem
projetadas, pois através delas pode-se permitir a entrada excessiva de radiação solar. Com
isso, pode-se resultar no desconforto visual e provocar a sobrecarga no sistema de ar
condicionado, através da incidência de radiação infravermelha (calor). Portanto, para reduzir
esses efeitos provocados pelas radiações diretas, é necessário que a luminosidade que entre
nessas áreas seja difusa ou filtrada de alguma forma.
3. Estudo de Caso:
Clarabóia Shopping Recife, localizada na 5º Etapa:
Para assegurar a necessidade de se analisar o contexto climático da região com o tipo de
abertura proposta para o ambiente em contraponto com o conforto dos usuários, foi adotada
para estudo uma clarabóia da expansão do Shopping Recife, localizado na cidade do Recife
em Pernambuco.
O Shopping Recife (Figura 4) é um centro de compras construído em 1980 abrigando 72
lojas. Ao longo dos anos, foi passando por quatro ampliações e a mais recente foi inaugurada
em 2012. Essa última etapa foi incluída mais 56 lojas e serviu de base para a revitalização da
parte mais antiga. Nessa nova área foram projetadas aberturas para a entrada da luz natural,
uma fachada em pano de vidro e duas clarabóias (Figura 5).
Figura 4 - Shopping Recife
Fonte: http://www.shoppingrecife.com.br/apresentacao
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
A análise consiste em verificar o comportamento da luz natural no ambiente do shopping com
base na carta solar (Figura 6) característica da latitude da cidade em questão, e como essa
incidência pode interferir no conforto dos usuários.
Figura 5 - Clarabóia Shopping Recife
Fonte: Marcelo Marona
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Figura 6 - Carta Solar Recife (Latitude 8°S)
Fonte: Acervo Professor Nelson Solano.
O clima típico dessa região é o quente úmido, caracterizado por existir duas estações do ano,
com pequena variação de temperatura durante as essas estações, a radiação solar intensa e o
teor de umidade é bastante elevado. Para projetar ambientes confortáveis para essa área, é
preciso levar em consideração todas essas particularidades e respeitá-las.
Para esse tipo de clima, é necessário que se reduza a umidade, aproveite os ventos
dominantes, reduza os ganhos térmicos através da radiação direta e difusa do sol. Portanto, as
edificações devem ser mais alongadas no sentido leste-oeste, permitir que haja a ventilação
cruzada nos ambientes e direcionar as aberturas para os ventos mais dominantes. O uso da
vegetação é uma ótima barreira para evitar que os raios solares incidam diretamente no
ambiente, mas deve-se levar averiguar que essa vegetação não funcione como uma barreira
para os ventos.
Para analisar o edifício foi utilizado o mecanismo da carta solar e do traçado de sombras para
constatar se a radiação solar que entra messe edifício é propícia ou não para as condições
climáticas e para as condições climáticas e para um projeto de iluminação natural. Além
disso, é importante constatar que o shopping abre, praticamente, todos os dias da semana
(exceto feriados) a partir das 10 horas às 22 horas de segunda à sábado, e 12 horas às 21 horas
aos domingos. A planta baixa (Figura 7) e corte (Figura 8) da área a ser analisada segue
abaixo onde está destacada a clarabóia a ser avaliada.
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Figura 7 - Planta baixa Shopping Recife
Fonte: Shopping Recife
Figura 8 - Corte AA' Shopping Recife
Fonte: Shopping Recife, modificado pela autora.
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
De acordo com a planta baixa, o eixo principal da clarabóia está direcionada,
aproximadamente, ao eixo Nordeste. Ao aplicar essa situação sobre a carta solar característica
da latitude 8° da cidade do Recife nota-se que essa abertura recebe radiação direta durante
todo o ano, variando apenas a duração em que está exposta ao sol (Figura 9 e Tabela 1).
Figura 9 - Traçado de máscara.
Fonte: Carta Solar latitude 8°, modificada pela autora.
Tabela de Radiação Solar Direta - Análise
Clarabóia Shopping Recife
DATA HORÁRIO
22/06 6:15 A 13:40
21/05 E 24/07 6:10 A 13:55
01/05 E 13/08 6:05 A 14:10
16/04 E 28/08 6:03 A 14:25
03/04 E 11/09 06:01 A 14:32
21/03 E 24/09 6:00 A 14:35
08/03 E 06/10 5:57 A 14:40
23/02 E 20/10 5:55 A 14:45
09/02 E 04/11 5:50 A 14:40
21/01 E 22/11 5:45 A 14:35
22/12 5:40 A 14:32 Tabela 1 Radiação Solar Direta - Análise Clarabóia Shopping Recife
Fonte: Elaborado pela autora
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Ao analisar a figura 8, nota-se que a radiação solar direta, a partir da altura solar de 53° e até
140°, (o que corresponde ao horário de abertura do shopping até cerca de 14hrs, variando de
acordo com o dia do ano), atinge a base da vitrine da loja e a área de circulação dos usuários,
o que se torna indesejado, pelo fato do comprometimento da iluminação de destaque nas lojas.
Para se tornar mais atrativa aos olhos dos usuários, é necessário aumentar o nível de
luminância da vitrine durante o período que houver essa radiação, aumentando
consequentemente o consumo de energia, pois teria que adotar lâmpadas com maior fluxo
luminoso. Além disso, o desconforto visual perante essa luminosidade se torna latente
justamente no horário de maior incidência da radiação solar.
Além do desconforto visual, a radiação direta traz com ela o comprimento de onda
infravermelho, o que significa ganho de calor. O horário que essa radiação entra (Figura 10) é
o período que se encontram uma das temperaturas mais elevadas do dia e diante da realidade
climática da região que a construção está inserida, não é interessante que haja o aumento de
temperatura interna. Apesar de ambiente desse tipo, normalmente, usar sistema de ar
condicionado, o que ocorre quando essa radiação penetra é a sobrecarga desse sistema,
ocasionando o aumento do consumo elétrico.
Figura 10 - Clarabóia Shopping Recife com luz natural
Fonte: Marcelo Marona
4. Conclusão
É notório, que nos últimos anos, os projetos de arquitetura estão utilizando de grandes áreas
de clarabóias translúcidas localizadas em áreas centrais das edificações, com a finalidade de
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
aproveitar ao máximo os níveis de iluminação natural disponíveis durante grande parte do dia.
A localização geográfica privilegiada onde tem-se disponível a radiação solar durante todo o
ano faz com que a utilização das aberturas zenitais seja solução necessária para se obter
construções sustentáveis. Esse tipo de solução, vem sendo utilizada largamente projetos novos
e de reforma.
O presente trabalho buscou, com essa pesquisa, relatar a importância que se deve dar ao
adotar a iluminação natural como princípio básico de projeto arquitetônico. A luz é um
principal mecanismo de percepção espacial através do olho humano, portanto, essa a
importância de estudá-la a fundo. Além da percepção, a radiação solar influencia diretamente
no conforto visual e térmico do ambiente, por isso é importante que a quantidade de radiação
que entre no ambiente seja quantificada e se torne agradável ao usuário.
A abordagem técnica da luz natural é necessária para que haja a preocupação de dar qualidade
ao espaço e de tornar o ambiente mais sustentável, tentando minimizar a necessidade da
utilização da iluminação artificial e sistemas de ar condicionado, para que não haja o aumento
do consumo de energia. Portanto, é necessário que saiba a necessidade de cada local para
projetar uma arquitetura compatível para cada tipo de clima, buscando minimizar os gastos. A
arquitetura não pode ser levada como uma produção universal e única, é importante pensá-la
como sendo parte integrante de um ambiente cheio de condicionantes que irão torná-la
agradável ou não para os usuários.
Para chegar a esse produto buscou enfatizar as informações teóricas necessárias para se
estudar a fundo a iluminação natural.
Depois do embasamento teórico, foram feitas análises de edifício existente verificando o nível
de conforto térmico e visual. Essas abordagens serviram de base para uma análise do edifício
do Shopping Recife, localizado em Recife, onde foi feita a máscara de sombra.
Com isso, buscou-se ressaltar a necessidade de um projeto de iluminação natural, buscando
unir o bem-estar do usuário e a economia de energia. É importante também que a arquitetura
esteja em sintonia com o ambiente que a cerca, ressaltando suas potencialidades e
minimizando o impacto negativo sobre o ambiente que a cerca.
Referências
CORBELLA, Oscar; YANNAS, Simos. Em busca de uma Arquitetura Sustentável
para os Trópicos – Conforto Ambiental. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
FROTA, Anésia Barros; SCHIFFER, Sueli Ramos. Manual do Conforto
Térmico. 5ª Edição. São Paulo: Studio Nobel, 2001.
HOPKINSON, R. G., PETHERBRIDGE, P., LONGMORE, J. Iluminação
Natural. Tradução Antônio Sarmento Lobato de Faria.
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1966.
VIANNA, Nelson Solano; GONÇALVES, Joana Carls S. Iluminação e Arquitetura.
Geros s/c Ltda, São Paulo, SP, 2001.
TORRES, Cláudia. Apostila do Curso de Iluminação Residencial. Recife, Instituto
de Qualificação, 2006.
MASCARÓ, Lúcia R. de. Luz, Clima e Arquitetura. São Paulo, Ed. Nobel, 1989.
MASCARÓ, Lúcia. Iluminação e arquitetura: sua evolução através do tempo. Portal
Vitruvius, ago. 2005. Disponível em:
Análise da iluminação natural em centros de compras Dezembro/2013
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
<www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp324.asp>. Acesso: 02 set. 2012,
18:45:04.
BARNABÉ, Paulo Marcos Mottos, A Poética da Luz Natural na Obra de Óscar
Niemeyer, Artigo da revista Semina Humanas, 2002
http://www.portaldoshopping.com.br/Revistainterna.asp?CodA=55&CodAf=230&Co
dC=2 Acessado em 02-09-2012, 12:05
http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Pesquisa/Centros%20de%20compra.pdf
Acessado em 02-09-2012, 16:23 http://www.osram.com.br/osram_br/Ferramentas_%26_Catlogos/_pdf/Arquivos/Iluminao_Ge
ral/Manual_do_Curso_Iluminacao%2c_Conceitos_e_Projetos/AF_apostila_conceitos_e_proje
tos_SITE.pdf Acessado em 05-09-2012, 19:48
http://www.shoppingrecife.com.br/apresentacao Acessado em 01-05-2013, 20:49