ANAIS - fdm.edu.br© Alves Paiva Júnior ... Graduando do curso de Teologia da Faculdade ... A...
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ANAIS
IISSSSNN 22444466--77779900
ISSN 2446-7790
AANNAAIISS
IV Semana Teológica
I Mostra de Iniciação Científica da FDM 05 a 09 de outubro de 2015 | Faculdade Diocesana de Mossoró
TTEEMMAA Discurso Religioso e Questão Urbana:
Novos cenários para a evangelização
RREEAALLIIZZAAÇÇÃÃOO
CCeennttrroo AAccaaddêêmmiiccoo ddee TTeeoollooggiiaa
ISSN 2446-7790
Copyright © Faculdade Diocesana de Mossoró FDM, 2015
Os resumos publicados são de responsabilidade de cada autor.
SSEECCRREETTAARRIIAA DDAA IIVV SSEEMMAANNAA TTEEOOLLÓÓGGIICCAA EE II MMOOSSTTRRAA DDEE IINNIICCIIAAÇÇÃÃOO CCIIEENNTTÍÍFFIICCAA Praça Dom João Costa, 511 – Bairro Santo Antônio.
FDM, Colégio Diocesano Santa Luzia
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Site: http://www.fdm.edu.br/semanateologica/
CCAAPPAA,, PPRROOJJEETTOO GGRRÁÁFFIICCOO//DDIIAAGGRRAAMMAAÇÇÃÃOO:: José Alves Paiva Júnior
Francisco Igo Leite Soares
AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO,, OORRGGAANNIIZZAAÇÇÃÃOO::
Francisco Cornélio Freire Rodrigues
PPRROODDUUÇÇÃÃOO GGRRÁÁFFIICCAA:: José Alves Paiva Júnior
ISSN 2446-7790
FACULDADE DIOCESANA DE MOSSORÓ – FDM CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA
IIVV SSEEMMAANNAA TTEEOOLLÓÓGGIICCAA EE II MMOOSSTTRRAA DDEE IINNIICCIIAAÇÇÃÃOO CCIIEENNTTÍÍFFIICCAA DDAA FFDDMM
Discurso Religioso e Questão Urbana: Novos cenários para a evangelização
Comissão Central: Prof. Me. Francisco Cornélio F. Rodrigues
Profª Esp. Luciene Lima Gonçalves
José Alves Paiva Junior
Comissão Científica: Prof.ª Dr.ª Aíla Luzia Pinheiro de Andrade
Prof.ª Dr.ª Maria Conceição Maciel Filgueira
Prof. Dr. Telmir Soares
Prof. Me. Charles Lamartine S. Freitas
Prof. Me. Francisco Cornélio Freire Rodrigues
Prof. Me. Francisco Igo Leite Soares
Profª Esp. Luciene Lima Gonçalves
Comissão Organizadora: Prof. Me. Francisco Cornélio Freire Rodrigues
Prof.ª Esp. Iêda Silvana Tavares Diniz
Profª Esp. Luciene Lima Gonçalves
Demétrio de Freitas Junior
José Alves Paiva Junior
Patricia Gurgel Medeiros Gastão
Priscila Barros Costa
Railton Sergio B. de Oliveira Junior
De 05 a 09 de outubro de 2015 – Faculdade Diocesana de Mossoró-FDM
ISSN 2446-7790
SSUUMMÁÁRRIIOO
AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO ................................................................................................................................................................................................................................ 88
PPRROOGGRRAAMMAAÇÇÃÃOO ................................................................................................................................................................................................................................ 99
EEMMEENNTTAASS .................................................................................................................................................................................................................................................... 1111
MININCURSOS .................................................................................................................. 11
1 - A Cidade de Deus em Agostinho e o desafio da evangelização ....................................... 11
Prof. Dr. Telmir de Souza Soares ........................................................................................... 11
2 - O ambiente urbano do cristianismo paulino .................................................................... 11
Prof. Me. Francisco Cornélio F. Rodrigues............................................................................ 11
3 - O impacto da cultura digital na evangelização: o que muda? ......................................... 12
Prof. Me. Talvacy Chaves de Freitas ...................................................................................... 12
GRUPOS DE TRABALHO (GT) ......................................................................................... 12
GT 1 - Teologia e Pastoral ...................................................................................................... 12
Prof. Esp. Augusto Lívio Nogueira de Morais ....................................................................... 12
GT 2 - Discurso Religioso ....................................................................................................... 12
Prof. Dr. Ivanaldo Santos ........................................................................................................ 12
GT 3 - Gênero, sexualidade e religião .................................................................................... 13
Esp. Zélia Cristina Pedrosa ..................................................................................................... 13
CCOONNFFEERRÊÊNNCCIIAASS EE CCOONNFFEERREENNCCIISSTTAASS ...................................................................................................................................................... 1144
07/10 - Crer na cidade: desafios e perspectivas ...................................................................... 14
Prof. Me. José Almir da Costa ................................................................................................ 14
08/10 - Pensar o Discurso Religioso entre uma sociedade Secular e uma Sociedade Pós-
Secular: Diálogos, desafios e perspectivas .............................................................................. 15
Prof. Dr. Anderson de Alencar Menezes ............................................................................... 15
09/10 - Missão urbana: teologia da cidade ............................................................................. 16
Prof. Dr. Jorge Henrique Barro .............................................................................................. 16
RREESSUUMMOOSS EE AARRTTIIGGOOSS MMOODDAALLIIDDAADDEE CCOOMMUUNNIICCAAÇÇÃÃOO OORRAALL ...................................................................... 1177
A CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO DO MINISTRO EXTRAORDINÁRIO DA SAGRADA
COMUNHÃO NA PARÓQUIA DE SANTA LUZIA DE MOSSORÓ/RN ........................... 18 Marta Maria Benjamim ........................................................................................................................ 18
Prof. Dr. Genaro Ruiz Diaz Benítez (Orientador) .............................................................................. 18
A JUDEIDADE DE JESUS NO CENTRO DO DIÁLOGO CRISTÃO-JUDEU ...................... 21 Marcílio Oliveira da Silva .................................................................................................................... 21
A MÚSICA RELIGIOSA INSERIDA NAS PROGRAMAÇÕES RADIOFÔNICAS .............. 39 Rozana Maria Feitoza Lôbo ................................................................................................................. 39
Mauricio Montecinos Billeke Christian .............................................................................................. 39
PRODUTO CULTURAL CONTEMPORÂNEO: PRÁTICAS MIDIATIZADAS DE
RELIGIOSIDADE DO PADRE MARCELO ROSSI ............................................................. 55 Rozana Maria Feitoza Lôbo ................................................................. 55
ISSN 2446-7790
Tobias Queiroz ..................................................................................... 55
MONTAIGNE: UM PENSADOR DA MORTE EM
CONFORMIDADE COM O CRISTIANISMO? ................................................................... 73 Antoniel Alves da Silva ........................................................................................................................ 73
UMA VISÃO SOBRE A FÉ NA SOCIEDADE METROPOLITANA NA ÓTICA DE MARIA
FREIRE DA SILVA ............................................................................................................. 86 Antoniel Alves da Silva ........................................................................................................................ 86
OS RELATOS DA CRIAÇÃO (Gn 1, 26-28 & Gn 2, 7. 18-24) NA PERSPECTIVA DE
GÊNERO: ALGUMAS REFLEXÕES ................................................................................... 87 José Alves Paiva Júnior ........................................................................................................................ 87
CATOLICISMO SOCIAL: PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA NO CONTEXTO
INDUSTRIAL ..................................................................................................................... 89 Philipe Villeneuve Oliveira Rego ....................................................................................................... 89
Prof. Dra. Francisca de Fátima Araújo Oliveira ................................................................................. 89
A EVANGELIZAÇÃO HOJE À LUZ DA EVANGELII NUNTIANDI ................................. 90 Alison Felipe de Moura ....................................................................................................................... 90
UMA ANÁLISE FILOSÓFICA SOBRE O ITINERÁRIO DO AMOR CRISTÃO SEGUNDO
O PENSAMENTO DE ANDRÉ COMTE-SPONVILLE ....................................................... 91 Railton Sérgio bezerra de Oliveira Júnior ........................................................................................... 91
TAIZÉ, ECUMENISMO E RECONCILIAÇÃO: “UMA PARÁBOLA DE COMUNHÃO” ... 92 Patrícia Gurgel Medeiros Gastão ......................................................................................................... 92
RREESSUUMMOOSS EE AARRTTIIGGOOSS MMOODDAALLIIDDAADDEE BBAANNNNEERR//PPÔÔSSTTEERR...................................................................................... 110066
A INFLUÊNCIA DO GERENCIAMENTO CONTÁBIL NO PROCESSO
ADMINISTRATIVO: UMA ABORDAGEM NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE
ARACATI/CE ................................................................................................................... 107 Nádja Luana da Cunha ....................................................................................................................... 107
Rosângela Queiroz Souza Valdevino ................................................................................................ 107
Giovanni Ferreira Papini ................................................................................................................... 107
Renato Carvalho da Silva ................................................................................................................... 107
A RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL GERENCIAL: UM COMPARATIVO
ENTRE EMPRESAS NO RAMO DE BEBIDAS ................................................................. 124 Nádja Luana da Cunha ....................................................................................................................... 124
Rosângela Queiroz Souza Valdevino ................................................................................................ 124
Juliana Jéssica da Silva ....................................................................................................................... 124
Renato Carvalho da Silva ................................................................................................................... 124
A LEI DE ACESSO A INFORMAÇÃO NO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL: UM
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE CÂMARAS MUNICIPAIS ....................................... 139 Leonides Ferreira de Holanda Junior ................................................................................................ 139
Maria Rosineide dos Santos Araújo ................................................................................................... 139
Rosângela Queiroz Souza Valdevino ................................................................................................ 139
ANÁLISE CRÍTICA DOS EFEITOS DA ECONOMIA NA EDUCAÇÃO .......................... 144 Iêda Silvana Tavares Diniz ................................................................ 144
Lúcia Maria Lima Nascimento........................................................... 144
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ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA HANSENÍASE NO ESTADO
DO RIO GRANDE DO NORTE .............................................. 150 Richard Ramon de Medeiros ............................................................................................................. 150
Tamina Raquel Medeiros ................................................................................................................... 150
Tathiane Russo de Andrade ............................................................................................................... 150
Fausto Pierdoná Guzen ...................................................................................................................... 150
Moisés Costa do Couto ....................................................................................................................... 150
CONTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: UM ESTUDO ACERCA DA MENSURAÇÃO
DOS CUSTOS E DESPESAS EM UMA INDÚSTRIA DE CIMENTO NA CIDADE DE
MOSSORÓ ....................................................................................................................... 152 Ítalo Carlos Soares do Nascimento .................................................................................................... 152
Jandeson Dantas da Silva ................................................................................................................... 152
Déborah Cristina da Costa e Silva Batista ......................................................................................... 152
Paula Preston Queiroz Leite Batista .................................................................................................. 152
Jandeson Dantas da Silva ................................................................................................................... 152
Wênyka Preston Leite Batista da Costa ............................................................................................ 152
CONTRIBUIÇÃO DA AUDITORIA AMBIENTAL PARA A GESTÃO EMPRESARIAL: UM
ESTUDO COMPARATIVO EM EMPRESAS DO RAMO SALINEIRO NO MUNICÍPIO DE
AREIA BRANCA/RN ....................................................................................................... 154 Ítalo Carlos Soares do Nascimento .................................................................................................... 154
Jandeson Dantas da Silva ................................................................................................................... 154
Antonia Thamara Oliveira Campelo ................................................................................................. 154
Mayara Kênia da Silva Faustino ........................................................................................................ 154
Wênyka Preston Leite Batista da Costa ............................................................................................ 154
EDUCAÇÃO INCLUSIVA, UM NOVO MODO DE EDUCAR ......................................... 155 Jefferson Naldo Carvalho da Silva ..................................................................................................... 155
FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE PACIENTES SOROPOSITIVOS COM
PNEUMONIA ................................................................................................................... 156 Tatiana Vitória Costa de Almeida ..................................................................................................... 156
GESTÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO ACERCA DA SUA EVIDENCIAÇÃO NO
AMBIENTE ORGANIZACIONAL ................................................................................... 158 Paula Preston Queiroz Leite Batista .................................................................................................. 158
Wênyka Preston leite Batista da Costa ............................................................................................. 158
Jandeson Dantas da Silva ................................................................................................................... 158
Welka Preston Leite Batista da Costa Alves ..................................................................................... 158
Sérgio Luiz Pedrosa Silva ................................................................................................................... 158
O PAPEL DA FISIOTERAPIA DERMATOLÓGICA NO PACIENTE COM HANSENÍASE
......................................................................................................................................... 160 Sirlene Batista Cavalcante ................................................................................................................. 160
Ana Elisa Gadêlha Moura de Almeida .............................................................................................. 160
Maria Stella Rocha Cordeiro de Oliveira .......................................................................................... 160
Fausto Pierdoná Guzen ...................................................................................................................... 160
Moisés Costa do Couto ....................................................................................................................... 160
RESTOS DO CARNAVAL: CONFIDÊNCIAS E MEMÓRIAS DE UMA INFÂNCIA ........ 162 Míriam Firmino da Silva Paiva .......................................................................................................... 162
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OS REFLEXOS DA ESCRITURAÇÃO FISCAL DIGITAL (EFD)
AOS CONTRIBUINTES ENQUADRADOS NO SIMPLES
NACIONAL: UM ESTUDO EM UMA EMPRESA DA CIDADE DE MOSSORÓ-RN ....... 163 Israel Gama de Oliveira ..................................................................................................................... 163
Francisco Igo Leite Soares ................................................................................................................. 163
Kennedy Paiva da Silva ...................................................................................................................... 163
Rafael Ramom .................................................................................................................................... 163
ORÇAMENTO PÚBLICO COMO FERRAMENTA DE DECISÃO: UMA ABORDAGEM EM
UMA PREFEITURA DO RIO GRANDE DO NORTE....................................................... 176 Nádja Luana da Cunha ....................................................................................................................... 176
Rosângela Queiroz Souza Valdevino ................................................................................................ 176
Ana Paula de Oliveira Costa .............................................................................................................. 176
Maria Nailane Jacinto da Silva .......................................................................................................... 176
A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE PACIENTES HANSENIANOS
COM NEURITES .............................................................................................................. 182 Yasmin Caroline Mendonça da Costa ............................................................................................... 182
Helena de Lima Gurgel ...................................................................................................................... 182
Elanny Mirelle da Costa .................................................................................................................... 182
Moisés Costa do Couto ....................................................................................................................... 182
INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTES HIV/AIDS COM
ACOMETIMENOS RESPIRATÓRIAS DEVIDO À TUBERCULOSE ................................ 184 Tamina Raquel Medeiros ................................................................................................................... 184
Kelvin Viana Teixeira ........................................................................................................................ 184
Paulo Henrique Martins Fidelis ........................................................................................................ 184
Pablo de Castro Santos ....................................................................................................................... 184
Moisés Costa do Couto ....................................................................................................................... 184
TRIBUTAÇÃO: UM ESTUDO SOB A PERSPECTIVA DOS REGIMES DE TRIBUTAÇÃO
DE UMA EMPRESA COMERCIAL DO RAMO AGRÍCOLA NA CIDADE DE MOSSORÓ –
RN .................................................................................................................................... 186 Nádja Luana da Cunha ....................................................................................................................... 186
Rosângela Queiroz Souza Valdevino ................................................................................................ 186
José Freire de Morais Neto ................................................................................................................ 186
Luana Karissa Duarte de Oliveira Lima ............................................................................................ 186
UM OLHAR COMPARATIVO SOBRE AS INDÚSTTRIAS DO SETOR SIDERÚGICO, NO
ANO DE 2012, SOB O FOCO DAS ANÁLISES CONTÁBEIS ........................................... 191 Rosângela Queiroz Souza Valdevino ................................................................................................ 191
Jean Paul Sartre de Souza .................................................................................................................. 191
Ranieri Sousa de Oliveira .................................................................................................................. 191
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AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO
A IV Semana Teológica da Faculdade de Diocesana de Mossoró (FDM), convida
a refletirmos diante de uma perspectiva teológica sobre o ““DDiissccuurrssoo RReelliiggiioossoo
ee QQuueessttããoo UUrrbbaannaa:: NNoovvooss cceennáárriiooss ppaarraa aa eevvaannggeelliizzaaççããoo””,, tema
escolhido para (re)pensar o discurso religioso, e suas implicações nos conflitos sociais contemporâneos e na urgência em propostas pedagógicas evangelizadoras em sintonia com os contextos urbanos. Esses enfoques, foram escolhidos em virtude da comemoração dos 40 anos do documento Evangelii Nuntiandi, um importante documento que trata da evangelização no mundo contemporâneo. A partir das afirmações de homens e mulheres interpelados por diversos conflitos sociais e religiosos, surge uma resposta para a violência, como a falta de Deus no coração das pessoas. Com essa fala percebemos que as pessoas tem necessidade do transcendente, e entram em uma busca indiferenciada por respostas urgentes e eficazes para as questões fundamentais do ser humano. Portanto, falar de Deus nesse contexto tão diversificado é um dos grandes desafios do discurso religioso. Em suma, para atingir essa diversidade de culturas, em um mundo cada vez mais urbano temos que partir para um diálogo interdisciplinar na busca de muitas das respostas que buscamos diariamente. A IV Semana Teológica da Faculdade Diocesana de Mossoró – FDM, promoverá (des)encontros com as áreas da filosofia, sociologia e teologia, com vistas, a harmonizar e propor novos debates acadêmicos, contextualizando o cotidiano da realidade local e de outras vivências. Com isso, pretende oferecer um espaço para reflexão e aprofundamento filosófico/sociológico/teológico mediante sessões de comunicações, onde alunos e professores da FDM e de outras IES possam apresentar suas pesquisas nas áreas com as quais se relacionam. Neste sentido, paralelo a IV Semana Teológica, será realizada a I Mostra de Iniciação Científica da Faculdade Diocesana de Mossoró. A iniciativa, pretende agremiar temas nas mais diversas áreas do conhecimento, no sentido de propiciar uma sinergia de conhecimentos entre alunos de graduação e pós graduação da Instituição e de outras IES que desejem partilhar e/ou tornar-se parte integrante do processo de construção de conhecimentos.
Francisco Cornélio Freire Rodrigues
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PPRROOGGRRAAMMAAÇÇÃÃOO
Dia 05
19h às 19h30 – Credenciamento + momento cultural (Fernanda Azevedo – Voz e violão) 19h40 às 20h – Cerimonial de Abertura 20h às 22h – Minicursos (simultâneos) Minicurso 1: A Cidade de Deus em Agostinho e o desafio da evangelização
Ministrante: Prof. Dr. Telmir de Souza Soares Minicurso 2: O ambiente urbano do cristianismo paulino
Ministrante: Prof. Me. Francisco Cornélio Freire Rodrigues Minicurso 3: Uso das novas mídias na nova evangelização
Ministrante: Prof. Me. Talvacy de Freitas Chaves
Dia 06
19h às 20h30 – Continuação dos Minicursos 20h30 às 20h40 – Intervalo 20h40 às 22h – Áreas Temáticas – Grupos de Trabalhos (GTs) Gt 1 – Teologia e Pastoral (Teologia)
Coordenador: Prof. Esp. Augusto Lívio N. de Morais Gt 2 – Discurso Religioso (Filosofia)
Coordenador: Prof. Dr. Ivanaldo Santos (UERN) Gt 3 – Gênero Sexualidade e Religião (Sociologia)
Coordenadora: Esp. Zélia Cristina Pedrosa
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Dia 07
19h às 20h30 – Conferência 1: Crer na cidade: desafios e perspectivas
Conferencista: Prof. Me. José Almir da Costa 20h30 às 20h40 – Intervalo 20h40 às 21h40 – Exposição de Trabalhos da I Mostra de Iniciação Científica
Dia 08
19h às 20h30 – Conferência 2: Pensar o discurso religioso entre uma sociedade secular e uma Sociedade Pós Secular: diálogos desafios e perspectivas
Conferencista: Prof. Me. Anderson de Alencar Menezes 20h30 às 20h40 – Intervalo 20h40 às 21h20 – Exposição de Trabalhos da I Mostra de Iniciação Científica
Dia 09
19h às 20h30 – Conferência 3: Missão urbana: teologia da cidade
Conferencista: Prof. Dr. Jorge Henrique Barro 20h30 às 21h – Apresentação da FDM – Cursos – Pós-graduação 21h às 21h30 – Cerimonial de Encerramento 21h30 às 22h – Entrega de Certificados + Coffee Break e apresentação cultural (Giannini Alencar)
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EEMMEENNTTAASS
MININCURSOS
1
A Cidade de Deus em Agostinho e o desafio da evangelização
Prof. Dr. Telmir de Souza Soares
Neste minicurso iremos tratar de breves aspectos filosóficos e teológicos da obra de
Agostinho. Contexto histórico da obra Cidade de Deus. Estrutura da obra. Aspectos
epistêmicos e evangelísticos presentes em A Cidade de Deus.
"Dois amores construíram duas cidades" eis, nas palavras do Bispo de Hipona, um
belo resumo de A Cidade de Deus. Agostinho, com essa obra, quer apontar para as
causas da derrocada do Império romano do ocidente: Roma sucumbiu porque, à
pleno termo, ele não era uma cidade completa, a relação entre seus cidadãos se
fundava no amor às coisas terrenas e não pelo amor à Deus, fonte de todo bem. Ao
propor tal explicação, Agostinho nos deu elementos para pensar a cidade, através
dos tempos, e o plano de Deus para a mesma que, efetivado pela Igreja, via a
evangelização, visa à salvação dos homens. Deus tem um plano para a cidade e o
Bispo de Hipona, em sua obra, nos ajuda a compreender esse plano.
2
O ambiente urbano do cristianismo paulino
Prof. Me. Francisco Cornélio F. Rodrigues
Diante dos atuais desafios concernentes à evangelização no mundo urbano, o curso
visa mostrar como o apóstolo Paulo soube lidar com este problema, a partir de um
percurso histórico-descritivo dos ambientes nos quais ele anunciou o Evangelho. À
luz das estratégias paulinas, buscar-se-á uma compreensão ampla da primeira
evangelização, e como esta pode iluminar novas perspectivas.
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3
O impacto da cultura digital na evangelização: o que muda?
Prof. Me. Talvacy Chaves de Freitas
As mídias sociais refletem parte do ambiente digital emergente. Antes de chegar na
revolução digital, faremos uma rápida viagem nos principais ciclos tecnológicos da
comunicação que influenciaram fortemente a cultura e as instituições, entre elas, a
Igreja. Como a Igreja lida e convive na nova ambiência digital. Como evangelizar e
ser Igreja na era das mídias sociais. Em laboratório, analisar alguns cases de
evangelização no ambiente das redes sociais.
GRUPOS DE TRABALHO (GT)
GT 1
Teologia e Pastoral
Prof. Esp. Augusto Lívio Nogueira de Morais
A Teologia, enquanto ciência que busca o conhecimento sobre Deus em sua Revelação, possui um amplo leque de disciplinas que estão interligadas entre si pela única e mesma realidade: a Revelação e a nossa resposta humana por meio da fé. Entretanto, essa resposta não é teórica nem formulada em um conjunto de conceitos especulativos, ela é dada na práxis do dia a dia do cristão. A práxis é entendida como a ação pastoral, continuação da ação do Bom Pastor, Jesus, na história, por meio da Igreja, com suas diversas iniciativas evangelizadoras em favor da promoção da vida e da dignidade da pessoa humana. Por isso, Teologia e Pastoral quer apresentar a relação entre reflexão teórico-especulativa e a práxis. Os trabalhos deverão apresentar uma clara relação entre o conteúdo teológico e sua incidência sobre a atividade pastoral, como também poderão levantar os elementos pastorais que provocam a reflexão teológica.
GT 2
Discurso Religioso
Prof. Dr. Ivanaldo Santos
Esse GT discute e aceita trabalhos que tratem, numa perspectiva multi e interdisciplinar, dos temas, objetivos e métodos do discurso religioso e sobre a religião produzido, numa perspectiva mais ampla, ao longo da história e, numa mais específica, na sociedade contemporânea.
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GT 3
Gênero, sexualidade e religião
Esp. Zélia Cristina Pedrosa
O presente GT pretende abordar as relações de gênero bem como a sexualidade e suas relações com os espaços urbanos, a família e o convívio social nas expressões diversas da afetividade humana. Pretende também discutir como os sujeitos se constroem e se resignificam a partir de suas relações afetivas consigo mesmo e com o outro tendo como base o mundo católico inserido em um contexto complexo sócio-histórico-cultural. Entender os papéis de homem e mulher como socialmente construídos e com uma predefinição afetiva em suas relações, buscando desmistificar o senso comum em relação ao gênero e suas diversas formas de expressões.
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CCOONNFFEERRÊÊNNCCIIAASS EE CCOONNFFEERREENNCCIISSTTAASS
07/10 - Crer na cidade: desafios e perspectivas
Prof. Me. José Almir da Costa
Tem graduação em Filosofia pelo
Instituto Diocesano de Filosofia do
Crato. É Mestre em Teologia pela
Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia (FAJE) – Belo Horizonte.
Padre da Diocese de Limoeiro do
Estado do Ceará.
ISSN 2446-7790
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08/10 - Pensar o Discurso Religioso entre uma
sociedade Secular e uma Sociedade Pós-Secular:
Diálogos, desafios e perspectivas
Prof. Dr. Anderson de Alencar Menezes
Licenciado em Filosofia pela
Universidade Católica de
Pernambuco, Bacharel em
Teologia pelo Centro Unisal –
Campus Pio XI (São Paulo),
Mestre em Filosofia pela
Universidade Federal de
Pernambuco e Doutor em
Ciências da Educação pela
Universidade do Porto/Portugal.
Atualmente é Professor Adjunto da
Universidade Federal de Alagoas,
membro do Conselho Editorial da
EDUFAL (Editora da Universidade
Federal de Alagoas), Membro do
Conselho Editorial e Consultor da
Revista REDUC (Revista
Eletrônica de Educação de
Alagoas).
Professor do Mestrado e Doutorado em Educação do PPGE/CEDU/UFAL; Membro
do Conselho Editorial da Revista de Educação do Centro Unisal (Americana-São
Paulo);
Tem interesse pelas seguintes Linhas de Pesquisa:
1) Área da Filosofia: Antropologia Filosófica, Ética, Bioética, Epistemologia,
Hermenêutica e Linguagem.
2) Área da Educação: Fundamentos Filosóficos da Educação; Fundamentos
Socioantropológicos da Educação; Filosofia e Educação; Teoria Crítica e Educação;
Hermenêutica e Educação, Ensino de Filosofia; Profissão Docente e Seminário de
Pesquisa.
ISSN 2446-7790
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09/10 - Missão urbana: teologia da cidade
Prof. Dr. Jorge Henrique Barro
Possui graduação em Teologia
pelo Seminário Presbiteriano do
Norte, Recife (1987), mestrado
(1997) e doutorado (2001) em
Teologia pelo Fuller Theological
Seminary, cidade de Pasadena na
Califórnia.
É presidente da Fraternidade
Teológica Latino-Americana
(Continental).
É professor da Faculdade
Teológica Sul Americana e Diretor
de Desenvolvimento Institucional.
É avaliador do MEC-INEP para
cursos de Teologia. Tem
experiência na área de Teologia,
com ênfase em Missão Urbana e
Teologia Pastoral, atuando principalmente nos seguintes temas: missão urbana, a
missão da igreja na cidade, bíblia, missão integral e ministério pastoral.
Seu curso de Doutorado realizado no exterior foi APOSTILADO pela Escola
Superior de Teologia (EST), de São Leopoldo, RS, registrado sob o n. 0269, fls.
045-v, do livro PG 12. A partir do dia 22 de agosto de 2002, data da APOSTILA,
passou a gozar de todos os direitos e prerrogativas concedidas pelas leis da
República.
ISSN 2446-7790
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RREESSUUMMOOSS EE AARRTTIIGGOOSS
MMOODDAALLIIDDAADDEE CCOOMMUUNNIICCAAÇÇÃÃOO OORRAALL
ISSN 2446-7790
18
A CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO DO MINISTRO EXTRAORDINÁRIO DA SAGRADA COMUNHÃO NA PARÓQUIA DE SANTA LUZIA DE MOSSORÓ/RN
Marta Maria Benjamim
Prof. Dr. Genaro Ruiz Diaz Benítez (Orientador)
RESUMO Pesquisar sobre o Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão e dos Enfermos, envolve as mais diversas dimensões: Religiosa, geográfica, demográfica, principalmente no momento histórico atual, marcado por grandes mudanças tecnológicas, crise política e financeira, aumentando o contraste social entre pobres e ricos. No intuito de compreender melhor o tema, requer no primeiro momento, como referência principal um estudo profundo do mistério da instituição da Eucaristia, a partir das narrações dos autores sinópticos do Novo Testamento, Marcos, Mateus e Lucas; foi realizada pelo próprio Jesus Cristo na Última Ceia, reunido com os seus discípulos (Mc14,22-24; Mt 26,26-28; Lc22,19-20). O serviço dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão abrange a demanda no que concerne ao atendimento dos enfermos e idosos da Paróquia de Santa Luzia? E por que esses enfermos desejam receber a Eucaristia. O Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, a exemplo das primeiras comunidades cristãs apresentam algumas características, dentre elas: atuar como auxiliar do sacerdote durante as celebrações eucarísticas na distribuição da Eucaristia, e levar a comunhão aos irmãos enfermos e idosos que não podem ir à Igreja. É importante estudar como esse ministério vem se desenvolvendo através do tempo, respondendo de acordo com as exigências da realidade atual. A população aumentou, e o número de idosos e enfermos, também. Enquanto no período de 1974 a 2004 a população latino-americana cresceu quase 80%, os sacerdotes cresceram 44,1% e as religiosas só 8%. (Cf. Annuarium Statisticum Ecclesiae). O número insuficiente de sacerdotes e sua não equitativa distribuição impossibilitam que muitíssimas comunidades possam participar regularmente na celebração da Eucaristia. Recordando que a Eucaristia faz Igreja, preocupa-nos a situação de milhares dessas comunidades privadas da Eucaristia dominical por longos períodos de tempo (2005 apud DOCUMENTO DE APARECIDA, 2008, p.56). O presente estudo visa definir o Ministério da Sagrada Comunhão com foco na ação de levar a Eucaristia aos enfermos da Paróquia de Santa Luzia da Diocese de Mossoró-RN. Identificar na Bíblia, a prefiguração da Eucaristia, a partir do Antigo e do Novo Testamento; Compreender o “serviço” ministerial da diaconia no Novo Testamento; Recordar os documentos do magistério da Igreja (Concílio Vaticano II) o serviço Pastoral confiado às mulheres. MATERIAL E MÉTODOS: Buscando-se alcançar os objetivos propostos neste trabalho, adotou-se, é do tipo bibliográfico e qualiquantitativo, método dedutivo, a partir de uma técnica de entrevista/questionários como ferramenta para captação de dados, segundo as categorias pré-definidas no referencial teórico adotado para o estudo. Dentro do universo de quarenta e seis indivíduos estudados, quarenta Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, foi selecionada uma amostra de doze
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Ministros (as) e seis enfermos atendidos pela Paróquia de Santa Luzia de Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte. A pesquisa tem como escopo examinar a abrangência do serviço desse ministério junto aos enfermos e idosos da área central dessa referida cidade e averiguar como eles se sentem ao receberem a Eucaristia. Para o autor Rudio (2010, p.111), chama-se “coleta de dados” à fase do método de pesquisa, cujo objetivo é obter informação da realidade. Os dados foram tabulados e interpretados durante o ano 2011, na Paróquia de Santa Luzia. A pesquisa no referencial qualiquantitativo não é conclusiva, mas possibilita que outros estudiosos do assunto avancem, no sentido de contribuir para a compreensão desse Ministério, principalmente no que concerne aos enfermos e idosos. Assim, procedemos com roteiro de questionário com perguntas abertas e fechadas. O que mudou no enfermo /Interpretação e Conclusão: Conforme resposta dos enfermos, no que concerne à mudança com o recebimento da Eucaristia, o que chamou atenção foi sobre a “esperança renovada” com 28,6% superando a “força vivificante” com 14,3%. Concluiu-se nesse quadro que os enfermos confirmaram que além da força vivificante experimentada, aumentou a esperança a renovada. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Na coleta de Dados percebeu-se que os resultados obtidos com os questionários realizados, confirmou essa abordagem fundamentada na literatura; confrontou-se entre as características das primeiras comunidades cristãs com o serviço exercido pelo Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão à realidade atual, foi constatado pelos entrevistados (Ministros e enfermos) que a vivencia desta Pastoral favorece na perspectiva transformadora dos enfermos e idosos que se sentem renovados e vivificados pelo pão Eucarístico. No decorrer desta pesquisa foi importante saber que este serviço está contribuindo para uma maior participação dos enfermos, idosos tão necessitados da assistência espiritual e que a pastoral desenvolvida pelo Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão na Paróquia de Santa Luzia vem sendo trabalhado o compromisso, apesar de atingir poucos enfermos da comunidade. Apresentam-se as seguintes sugestões: Encontros de aprofundamento da nesse ministério, troca de experiências no intuito de desenvolver e evangelizar melhor os enfermos e familiares; Organizar planos de ação para alcançar os hospitais. Já inclusive, foi comunicado ao sacerdote, iniciado o diálogo com o setor de RH e Serviço Social do Hospital Regional Tarcísio Maia, com objetivo de sistematizar e incluir no questionário de admissão do paciente, o serviço do Ministério Extraordinário Sagrada Comunhão.
REFERÊNCIAS
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BAGGIO, Hugo. Pão e Peixe no Deserto. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977. BETTO, Frei. Um Homem Chamado Jesus. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2009. Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Paulus, 2007. Bíblia Sagrada. 59. ed. São Paulo: Editora Ave-Maria, 1988. BOFF, Leonardo. Evangelho do Cristo Cósmico a Busca da Unidade do Todo na Ciência e na Religião. Rio de Janeiro: Record, 2008. BORG, Marcus J.; CROSSAN, John Dominic. A Última Semana. Um Relato Detalhado dos Dias Finais de Jesus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. BORTOLINI, José. A Missa Explicada Parte Por Parte. 5. ed. São Paulo: Paulinas, 2007. _______. Os Sacramentos em sua Vida. 23. ed. São Paulo: Paulus, 2007. BUYST, Ione. Pão e Vinho. Para nossa Ceia com o Senhor. São Paulo: Paulinas, 2005. BRUNETTI, Diácono Aury Azélio. Curso de Preparação para Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística. 16.ed. São Paulo: Ave-Maria, São Paulo, 2003. CANTALAMESSA, Raniero. “Isto é o meu Corpo”. À Luz de Dois Hinos Eucarísticos. 2.ed. São Paulo: Loyola, 2009. _______. O Ministério da Ceia. 16.ed. São Paulo: Editora Santuário, 2011. Centro de Estudos Bíblicos – CEBI. Livro do Apocalipse, Leopoldo-RS: Editora Contexto, 2007. SOBREIRO, Pe. Gilson. Tão Sublime Sacramento. São Paulo: Palavra e Prece, 2007. TRUCCO, Edgardo J. Ministros da Eucaristia. 22.ed. São Paulo: Editora Santuário, 2010. VEIGA, Pe. Alfredo. Cura pela Eucaristia. São Paulo: Loyola, 2006. VELLA, Frei Elias. Eucaristia. A Nova e a Verdadeira Arca da Aliança. São Paulo: Palavra e Prece, 2009.
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A JUDEIDADE DE JESUS NO CENTRO DO DIÁLOGO CRISTÃO-JUDEU
Marcílio Oliveira da Silva Graduando do curso de Teologia da Faculdade Diocesana de Mossoró – FDM
E-mail: [email protected]
RESUMO A Judeidade de Jesus é sem dúvida um dado capaz de intermediar o diálogo cristão-judeu. Esse diálogo se torna cada vez mais necessário, haja vista que Cristianismo e judaísmo possuem visões bem diferentes do famoso Mestre de Nazaré. O trabalho a seguir analisa a judaicidade de Cristo, ou seja, a ideia de que Jesus era um judeu e pensava judaicamente. A pesquisa histórica comprova que a sua trajetória histórica, social e religiosa estava fundada em bases judaicas. Mesmo diante das diferentes faces oferecidas pelo discurso cristão e judeu esse é um dado que não pode ser negado. O seu próprio nome - Ieshua Ha Notzri – mostra essa judeidade. Ele praticou fielmente a Torá deu a ela cumprimento e não a aboliu. Essa fidelidade pode ser notada tanto em escritos cristãos quanto em escritos rabínicos dos primeiros séculos da era cristã e de épocas posteriores. A compreensão da judeidade que norteou o pensamento de Jesus, seus ditos e atitudes torna possível aos adeptos da fé cristã e judaica obter imagens totalmente novas acerca de Ieshua e maneiras (também novas) de pensar suas doutrinas. PALAVRAS CHAVE: Jesus. Cristianismo. Judaísmo. Judeidade.
1 INTRODUÇÃO
Judaísmo e cristianismo possuem acepções distintas acerca de Jesus. A
discussão sobre o grau de importância (ou não) que ele teve na historiografia de
ambos1, persiste. Historicamente, para o povo Judeu, Jesus foi um rabino herético,
um falso Messias, que cristalizou a expectativa meio desesperada de Israel,
ademais, existem alguns versículos do Novo Testamento que chocam
profundamente os judeus (EPHRAIM, 1998, p.158). A partir da morte de Cristo (ano
30 E.C) até o final do século II, por exemplo, já se percebe a hostilidade judaica.
Entre os séculos III e VI E.C fontes rabínicas apontam avaliações difamatórias de
Jesus. Na Idade Média um Tratado polêmico, Toledot Yeshu (A história de Jesus)
trazia negações de alegações cristãs por Judeus.
1 No caso do judaísmo considera-se a repercussão que Jesus causou na sua história a partir do seu surgimento, ou seja, os primeiros séculos da historiografia cristã (do século I até os nossos dias).
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Por outro lado, o cristianismo exalta Jesus, pois ele é o objeto central dos
princípios desta fé. Se Jesus Cristo não fosse Deus, suas palavras não seriam de
ordem divina, mas apenas meras mensagens que representariam Deus. Tudo aquilo
que Cristo falou não pode simplesmente equivaler ao que disse outras grandes
figuras religiosas da humanidade, enaltecidas, porém não vistas como procedentes
de alguma natureza divina2.
No cristianismo, Jesus não é considerado apenas um homem cuja vida foi
configurada segundo o amor de Deus, mas, ele é Filho de Deus, o próprio Deus; Ele
é Messias3 (Cristo), pois que, manifesta a profunda esperança messiânica do povo
hebreu, ao qual pertenceu, e é alguém enviado por Deus para instaurar os tempos
definitivos; Foi obediente e viveu em total dependência à Deus, chamado de Abbá
ou Pai; “É Senhor, é divino, é de natureza divina, é um com o Pai desde sempre e
para sempre” (BINGEMER, 2008, p.17).
Diante dessas distintas concepções Cristãos e Judeus estabeleceram uma
histórica relação que maculou e deixou impura a imagem de Jesus. Desse modo, é
necessária uma reavaliação dessas tradições para que cada vez mais o diálogo
entre elas torne-se possível. “Não basta a absolvição dos judeus, feita pelo
Vaticano, da culpa coletiva pela morte de Jesus. Os cristãos deveriam apreciar a
Torá, o Judaísmo rabínico e a eterna renovação do povo judeu. E os judeus
deveriam reivindicar Jesus” (MATT, 2003, p.103).
Nesta perspectiva, o presente trabalho tem o objetivo de analisar uma
possível imagem de Jesus que seja aceita por cristãos e judeus, verificando se
existe algum critério que, uma vez adotado, seja capaz de conduzir a uma
concepção de Cristo e suas palavras que independa da identidade pregada pelo
2 Pode-se exemplificar alguns nomes que marcaram e ainda marcam a vida religiosa de muitas pessoas no mundo inteiro, como Buda, Maomé, Gandhi e Confúcio. Esses líderes religiosos tiveram uma vida pautada no amor por causa de Deus, porém, não foram cultuados como seres divinais. 3 A palavra Messias vem do hebraico mashíah, que significa ungido. No latim foi traduzida por Messias. O conceito vem do judaísmo e representa a expectativa de Israel na vinda do enviado de Deus. Com a chegada desse ungido a Aliança de Deus com o seu povo se plenificará e as promessas da mesma hão de se cumprir. Essa concepção adquire uma divergência no pensamento cristão. O próprio cristianismo nasceu da fé em Jesus de Nazaré como Messias. Enquanto os judeus ainda esperam a chegada desse enviado, os cristãos creem que ele já veio. A ideia cristã de Messias está ligada à esperança de um mundo renovado por Deus, onde prevaleçam a justiça e a paz, a integridade e a redenção. O Messias, conforme prega o cristianismo, inaugura um tempo novo, o Reino de Deus entre os homens (BINGEMER, 2008, p.78).
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cristianismo e o judaísmo. Encontrar esse dado é ter acesso a um elemento que
poderá favorecer o diálogo cristão-judeu.
2 A NECESSIDADE DO DIÁLOGO CRISTÃO-JUDEU
Um rabino questiona se os Judeus teriam algum interesse em conhecer
Jesus, já que em seu nome sofreram perseguições e assassinatos. “Séculos de
antissemitismo cristão assentaram as bases para o extermínio que Hitler perpetrou
de um terço do povo judeu – logo, por que deveria algum judeu se interessar pela
vida de Jesus e por aquilo que ensinou? ” (MATT, 2003, p.103). Cabe também
perguntar: qual o interesse dos cristãos em difundir a mensagem do seu fundador,
que não era cristão propriamente, mas, um judeu praticante da Torá? Além disso,
há alguma importância para eles em conhecer a visão dos judeus sobre o seu
Messias? Que significado tem a concepção judaica de Jesus para o Cristianismo?
Em visita a uma Sinagoga de Roma no ano de 1986 São João Paulo II falou
da ligação profunda entre Cristianismo e Judaísmo. Para o Papa, os cristãos
perceberão este vínculo se sondarem o próprio Mistério de Israel. A religião dos
judeus não pode ser considerada extrínseca à fé cristã, mas intrínseca (EPRHAIM,
1998, p.12). Essa afirmação do pontífice evoca elementos do possível diálogo inter-
religioso entre cristãos e Judeus, dentre os quais, como exemplo, a discussão em
torno da identidade étnica, cultural e religiosa de Jesus, exaltado pelo cristianismo e
em geral hostilizado por Judeus.
Estudos modernos, que vem sendo desenvolvidos desde o século XIX,
tentam (re) construir a imagem de Jesus, que (é) foi vista de forma muito divergente
por essas duas religiões desde que o Galileu de Nazaré entrou em cena na História.
Estudiosos rabínicos e cristãos sabem que há elementos que aproximam,
mais do que separam, cristãos e judeus. Algumas luzes já foram oferecidas para a
consonância possível do diálogo judeu-cristão. Um caminho supõe três ideias: 1-
nenhuma religião possui o monopólio da verdade, 2- a vontade divina é reflexo da
diversidade teológica e 3- Mais de uma fé tem importante papel no plano redentor
de Deus. Essa é uma proposta desenvolvida por teólogos Judeus da Idade Média e
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que foi aperfeiçoada no século XVI por um judeu chamado Eliezer Ashkenazi. Ele
escreveu uma obra sobre o relato da Torre de Babel, descrito no livro do Gn 11,1-9.
Cita: “Deus dividiu o povo em diferentes linguagens de fé a fim de evitar o
absolutismo, que enrijece inevitavelmente o pensamento livre e criativo e a autêntica
expressão religiosa” (ASHKENAZI, in MATT, 2003, p.54). Nem cristianismo, nem
tampouco o judaísmo podem ser vistas como crenças absolutas, haja vista que
vivem expectativas diferentes em torno do mesmo Deus.
Um estudioso judeu do Século XV, Arbraham Farissol, apresenta uma ideia
pertinente no tocante a essa busca do favorecimento do diálogo entre cristianismo e
judaísmo, em torno da discussão da figura de Jesus. Para ele, ainda que Jesus não
tenha atingido a expectativa do Messias esperado, existe uma significação que
“funcionou” nas tradições judaica e cristã, a saber a concepção de Jesus como
redentor para os cristãos. Assim escreve o Rabino:
Suponhamos que seu Cristo seja o Messias para eles, e nós [judeus] não devemos negar nem afirmar aquilo que se passa com o Messias deles. Porque, na minha opinião, é claramente viável que eles tenham justos motivos para designá-lo como seu legítimo redentor. Pois eles declararam – e é de fato verdade – que, desde que ele veio e transmitiu suas doutrinas, eles foram redimidos e isentados da impureza da idolatria (FARISSOL, in MATT, 2003, p.55).
Mas, dentre muitos elementos apontados para o diálogo entre essas duas
religiões é possível obter aquele que possa ser usado pelo discurso cristão-judeu
sem que haja discordâncias ou contestações entre essas crenças?
3 O PRINCÍPIO QUE NORTEIA A IMAGEM DE JESUS ACEITA PELO CRISTIANISMO E JUDAISMO
A Judeidade do Mestre de Nazaré é certamente o dado que faz emergir a
imagem de Jesus capaz de penetrar no âmbito judaico e cristão sem que haja sobra
de dúvidas e questionamentos acerca daquilo que ele disse, pensou e fez. Para que
qualquer assunto em torno de Jesus e seus seguidores seja entendido corretamente
é necessário compreende-lo dentro de categorias e padrões do pensamento
judaico. “Não o fazendo seria conferir o nosso significado estrangeiro às suas
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afirmações e atos, ao invés de extrair deles o significado de que desejavam nos
passar” (SWIDLER, 1993, p.27).
A judeidade é uma premissa que serve como ponto de partida para a (re)
construção de uma imagem aceitável de Jesus, especialmente pelos judeus, uma
vez que ele já é exaltado pelos cristãos.
Deve-se encontrar uma maneira positiva sobre Jesus nos ensinamentos teológicos judaicos. A principal razão para isso, dito de maneira sumária, é que Jesus foi judeu. Apesar das tentativas de historiadores e teólogos cristãos para negar que Jesus tenha sido judeu – por exemplo, os esforços de alguns teólogos alemães de demonstrar que ele era ariano -, Jesus foi incontestavelmente judeu. Na verdade, quase toda nação cristã se empenhou em expropriar Jesus de seu próprio povo. É hora de os cristãos aceitarem Jesus como judeu. Assim como é hora de os judeus o reivindicarem como membro legítimo e honrado do povo judeu – como um irmão (SHERWIN, 20011, p.55).
Ainda que Sherwin aponte esse dado, para que judeus compreendam
positivamente a figura de Jesus, ele também pode ser aplicado a cristãos.
Atualmente há uma enorme aceitação da judeidade de Jesus pela comunidade
científica e estudiosos das religiões em questão, logo, afirmar que Jesus era judeu é
algo que não pode ser negado por ninguém. É necessário admitir que o Mestre
galileu foi um judeu praticante embora isso possa parecer algo espantoso para
cristãos comuns, pois, entendem o termo “judeu” como uma identidade nacional, ou
seja, Jesus nasceu judeu como poderia ter nascido romano, egípcio ou grego.
Ocorre aí uma redução da sua judeidade (EPHRAIM, 1998, p.11).
Para a mentalidade cristã, seu fundador é judeu porque guarda traços e
características étnicas, como a raça semita, a língua e a cultura hebraica, ou seja, a
judeidade de Jesus é determinada pela sua nacionalidade. Mas, Um cristão não é
cristão apenas pela sua “nacionalidade”, isto é, porque foi batizado numa igreja
cristã, e sim porque como os judeus, recebeu o apelo da Graça de Deus que o
constituiu para si um povo sacerdotal (EPRHAIM, 1998, p.9).
A Judeidade de Jesus tem uma consequência, um aspecto crítico e
delicado: O galileu e seus seguidores pensavam e falavam como judeus.
Schillebeckx, in Swidler (1993, p.27) afirma que os discípulos interpretaram seu
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mestre como judeus. Isso é algo que não pode ser perdido de vista. Jesus e os seus
primeiros seguidores, os fundadores do Caminho4, foram religiosos, e praticantes da
fé judaica. A pesquisa histórica comprova que ele nasceu e tinha uma mentalidade
de judeu. Os seus primeiros discípulos o interpretaram assim.
Os cristãos que tentaram compreender as palavras, gestos e ações do seu
fundador sem levar em conta os critérios judaicos utilizados por ele, certamente,
afastaram-se de Jesus e seus amigos. É preciso considerar que existe uma
estrutura onde está inserido o falar e o agir de Cristo e seus discípulos. Os cristãos
posteriores a morte de seu mestre necessitam compreende-lo para em seguida
entender a sua mensagem. Desse modo, o conhecimento de sua pessoa antecede
a compreensão de suas palavras, ou seja, em primeiro lugar é preciso entender
Jesus, o Judeu, para em seguida perceber o “cristão” Jesus. A maneira de pensar
como não judeu é algo de grande valor, porém, ela não terá importância
considerável para se apreender o que disse o nazareno e seus amigos (SWILDLER,
1993, p.28). Logo, não se pode compreender Jesus como se ele tivesse uma
mentalidade cristã, mas, ele tinha uma mentalidade judaica. O cristão e o judeu
poderão compreendê-lo como um judeu e não como um cristão.
A judeidade é um princípio que norteia praticamente qualquer questão
abordada em torno daquilo que disseram, fizeram e pensaram Jesus e seus
seguidores. É importante considerar que todas as afirmações que se dizem acerca
do significado de algo estão atreladas. Além disso, elas só serão corretamente
compreendidas se for levado em conta às pessoas que afirmaram esse algo e os
contextos de pensamento e de discurso que foram usados. O Evangelho e a Torá
judaica, por mais doutrinais que possam ser, devem ser entendidos racionalmente
ainda que deles se abstraia elementos que favoreçam espiritualmente aqueles que
adotam esses livros como regra de fé. A estrutura judaica do conhecimento que
Jesus e seus discípulos adotaram é capaz de provocar uma revisão dos
4O Caminho era o nome dado a seita dos seguidores do Galileu Jesus de Nazaré. Posteriormente, recebeu a denominação de Cristianismo por causa da ênfase que passou a ser dada ao Termo Cristo. Para SWIDLER (1993, p.10) “Cristo” é uma versão europeizada de um termo grego, que é uma tradução de um nome originalmente hebraico. Era comum chamar muitos Judeus de Cristo especialmente antes, durante e depois do período em que Jesus viveu. Sendo assim, ele próprio acabou ganhando esse título pelos seus seguidores que desejavam falar quem ele era através deste nome.
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ensinamentos judaico e cristão levando-os a coincidirem “com o modo judaico de
entender fatos e pessoas” (SWIDLER, 1993, p.28).
4 E O SEU NOME ERA YESHUA HA NOTZRI (JESUS DE NAZARÉ)
É importante perceber que Jesus de Nazaré, chamado pelos cristãos de a
pedra angular (Sl 118,22) é também Ieshua ha Notzri (Jesus de Nazaré). Vale frisar,
ele não era cristão, mas, judeu. Essa judeidade começa pelo seu próprio nome.
Ieshua é composto de duas partes “Ye” e “shua”. A primeira é a abreviação do nome
hebraico de Deus, YHWH. A outra parte significa salvação5 em hebraico. Esse
termo sofreu constantes alterações consideradas significativas no sentido original
grego e hebraico e nas tradições cristã e israelita. Para Swidler (1993, p.8), “na
maioria dos casos, foi revestida do significado restrito desde o século III E.C., a
saber, que quando aqueles que creem no Cristo morrem, se permanecerem fiéis,
vão para o céu”. Na forma latina a palavra salvamento vem da raiz “salus”, que
significa inteireza, saúde ou bem-estar, é daí que se origina saúde ou saudável no
português. Também a palavra santo (a) deriva-se desse radical, logo, ser santo
significa sadio, aquele que leva uma vida saudável, plena.
O nome Ieshua quer dizer YHWH é salvação (Deus é salvação), saúde;
sendo que o termo YHWH é o nome próprio do Deus dos hebreus, o único criador
de tudo que existe. É plausível perceber que esse conceito teve uma grande
influência na relação das pessoas entre si e com a realidade. Talvez isso não seja
perceptível por causa da profunda habituação do monoteísmo na vida da
humanidade sobretudo entre os ocidentais. Desse modo, é válida a seguinte
reflexão:
5 Para Swidler (1998, p. 8) nas culturas indo-europeias o sentido do radical da palavra ou das palavras ligadas a salvação está relacionado a inteireza ou plenitude, já o termo semítico “shua” quer dizer amplidão ou abertura. Salvação significa estar livre num vasto espaço.
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Se eu vivesse numa nação que tivesse seu próprio deus ou seus próprios deuses, e todas as outras nações também tivessem seu deus ou deuses, as regras éticas desenvolvidas pela religião desse meu deus não seriam necessariamente aplicáveis às pessoas e coisas submetidas a outros deuses. Consequentemente, não haveria uma ética válida para todos os seres humanos e para toda terra – até se desenvolver a percepção de que havia, de fato, um Deus único criador de todos os seres humanos e de toda realidade (SWIDLER, 1993, p. 9).
O nome Ieshua afirma que YHWH é a fonte da plenitude, totalidade e
integridade do ser humano e de todas as coisas. Essa palavra carrega a essência
do monoteísmo ético, a principal contribuição do povo hebreu para a humanidade.
Obviamente existiram muitos homens chamados Ieshua, além de Jesus de Nazaré,
porém, existe uma razão especial pelo qual Ieshua ha Notzri recebeu esse nome:
“foi por intermédio dele que bilhões de não cristãos vieram à percepção judaica do
monoteísmo ético, chegaram até YWHW, à salvação, à inteireza” (SWIDLER, 1993,
p.10).
5 A JUDEIDADE DE JESUS NA FIDELIDADE À TORÁ
Pelo aspecto da identidade de Jesus perpassa o princípio de sua judeidade,
como afirmado anteriormente. Esse estudo elucida, a partir desse momento, a
implicação desta premissa na relação de Jesus com a Torá. Tendenciosamente, os
cristãos sempre trataram seu fundador como aquele que veio suplantar a Lei (a
Torá) e o Judaísmo. O apego à Lei, pelos judeus, conduzia a morte, e o Evangelho,
que era seguido pelos cristãos, conduzia a vida. Uma frase resume bem a visão da
Lei e do Evangelho pelos cristãos: “A lei é a Lei, o Evangelho é o Evangelho, os dois
jamais se encontrarão” (KIPLING, in SWIDLER, 1993, p.53).
Por ser um praticante fiel da Torá, Jesus não a dispensou nem tampouco a
aboliu, mas, veio para cumpri-la (Mt 5,17). Vale frisar que o termo Torá foi traduzido
pela Setenta Grega por nomos, Lei, no entanto, seu sentido é mais amplo
significando “instrução”, quer dizer, a vida humana, judaica, levada plenamente ao
que é correto. Em geral, quando a palavra grega nomos aparece no Novo
Testamento ela significa Torá, conquanto pode estar referindo-se a “Torá oral” ou a
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halakhah, isto é, as regras de conduta que eram interpretadas da Torá escrita. O
comprometimento de Jesus era definitivamente cumprir a Lei de uma forma que
melhor lhe parecesse. Ele ensinava aos seus seguidores a fazer o mesmo. De fato,
não veio para abolir a Lei, mas, cumpri-la.
Essa afirmativa de Mt 5 é confirmada por muitos estudiosos judaicos e
cristãos, um deles menciona que de modo algum Ieshua infringiu à Torá nem
tampouco fez com que fosse descumprida. “É inteiramente falso dizer que o fez.
Esse Jesus era tão fiel à Lei quanto eu mesmo esperaria ser. Até suspeito que
Jesus fosse mais fiel à Lei do que eu, que sou judeu ortodoxo” (SWIDLER, 1993,
p.54). A tradição de Jesus nos Evangelhos não pode ser lida e interpretada tomando
por base o ensinamento de São Paulo sobre a justificação, que se originou da
reflexão sobre o sentido salvífico da ressurreição e morte de Jesus. A Lei foi
afirmada por Jesus em Mt 5,19, quanto a isso não se pode hesitar em aceitar.
Klausner, in Swidler (1993, p.55) mostrou que Jesus guardou fidelidade “à
velha Torá” de modo inabalável e observou às Leis cerimoniais como um autêntico
judeu fariseu. Outro estudioso escreve: “Tampouco posso aceitar que o intento de
Jesus fosse de abolir o judaísmo que encontrara. Claro, tinha críticas a fazer, mas
queria aperfeiçoar a Lei de Moisés, não anulá-la” (LANGE, in SWIDLER, 1993, p.
55). Quando o cristão chega a manifestar hostilidade a Lei ele trai o ensinamento de
Jesus. Da mesma forma, o judeu que chegar a banir Jesus do cumprimento da Lei
ele trai a própria Torá e despreza um dos seus maiores cumpridores, uma referência
para o Judaísmo histórico e doutrinal. Assim:
Não há evidência de que Jesus pretendesse a suspensão da Torá. Pelo contrário, era considerado tão devoto que os Fariseus até demonstraram o interesse positivo por ele e o consideraram digno de ser acompanhado em suas andanças. Do mesmo modo, a comunidade Judaica cristã não viu motivos para abandonar a Torá, tanto na teoria como na prática. Em nenhum caso concreto, quer no tocante às curas no sábado, quer na prática da pureza ritual, quer ainda na questão do divórcio, conflito basicamente com a Lei (MAIER, in SWIDLER, 1993, p.56).
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O Galileu de Nazaré instruiu a todos que se preocupassem em fazer a
vontade Deus (Mt 7,21) que pode ser encontrada na Lei, na Torá. Não existia a ideia
de uma abolição da mesma em seu pensamento.
6 BASES CRISTÃS E JUDAICAS QUE COMPROVAM A FIDELIDADE DE JESUS A TORÁ
A compreensão das palavras de Jesus através dos sinóticos é importante
para tornar evidente sua fidelidade ao judaísmo. Embora muito do que foi escrito
pelos evangelistas tenha se fundamentado na experiência das comunidades cristãs,
a judaicidade do Galileu faz-se notar. Da mesma forma, cabe buscar em fontes
judaicas ou rabínicas dados para apreender a figura de Jesus, que viveu antes de
existir a comunidade dos cristãos, posto que sabendo da riqueza da Torá é possível
perceber ainda mais nitidamente a judeidade daquele Galileu de Nazaré6.
7 O PIDION HABEN - O RESGATE DO FILHO (Lc 2,22-24)7
Após o seu nascimento, Jesus foi conduzido por seus pais ao Templo para
participar de uma cerimônia chamada de Pidion Haben (Resgate do Filho). Pidion
significa redenção como aparece no Sl 49,8. “Um homem é incapaz de redimir um
outro, ou de pagar a Deus o seu resgate”. Esse ritual, parte do princípio de que após
a queda de Adão todo homem tornou-se escravo do pecado. Ele se encontra numa
6 Para analisar a judeidade de Ieshua nosso estudo apoiou-se, entre outros escritos já citados, em uma Obra renomada no campo da pesquisa do Jesus Histórico. Jesus, judeu praticante, foi escrita por Ephraim. Ela mostra que o Galileu foi um amante da Lei e submeteu-se a ela. Esse texto faz uso da própria escritura cristã e judaica para demonstrar que ambos os escritos deixam clara a judeidade de Jesus. 7Antes de acontecer o conhecido ritual da "apresentação de Jesus no templo" (Pidion Haben), a sua mãe precisava passar pela cerimônia conhecida como tevilá, palavra hebraica que significa imersão, que é descrita em Lv 12,2-4. Em grego esse termo foi traduzido para o equivalente a Baptizo. Maria ainda esperou cerca de quarenta dias para que Jesus pudesse ser apresentado no Templo. A descrição desse rito é apresentada através de um trecho do Shulhkhan Arukh (uma espécie de compêndio do Talmude). “Ela – isto é, a mulher nidá no momento da tevilá - deve imergir inteiramente o seu corpo, inclusive a cabeleira, de uma só vez. Por isso, ela deve ficar muito atenta, durante a imersão, para que nada nela haja que venha a estabelecer uma separação entre a água e o corpo” (EPHRAIM, 1998, p.36). A passagem de Lc 2,22-24, é também a narrativa da purificação de Maria. Algumas variações do texto grego referem-se à purificação da mãe de Jesus e não a de ambos, como geralmente é pensado. De acordo om a tradução TEB literariamente o versículo 22 pode ser traduzido como “quando foram cumpridos os dias da purificação deles” e alguns manuscritos antigos trazem: “a purificação dele ou dela”.
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condição de aprisionado ou alienado, logo, ele necessita de um goel (um redentor)
que possa pagar pelo preço do seu Pidion (resgate) para fazê-lo um homem livre e
não mais escravo. Liberdade é uma acepção que está bem vinculada a redenção.
Na tradução grega chama-se Agorazo, isto é, aquele que é tirado da Ágora, da
praça pública. É daí que surge o conceito de eleição, que significa o resgate do
gênero humano em sua totalidade. É uma concepção diferente da que é comumente
usada, quer dizer, aquele que se torna uma elite entre as nações. (EPHRAIM, 1998,
p.31).
É importante frisar que as Leis e práticas são comuns no judaísmo para
lembrar ao povo que carregam uma promessa de resgate. Essa consciência ajuda a
perceber esta cerimônia que os pais de Jesus participaram. Como judeus levam seu
primogênito para um tradicional rito judaico. Assim,
Aquele que veio cumprir a Lei não tem necessidade de ser resgatado, mas ele quer cumpri-la por dentro. Ele se encarna na Lei, lhe dá vida, permitindo, assim, que ela conheça um novo desenvolvimento, conduzindo-a à sua realização, e não ser confundida com a sua supressão simples (EPHRAIM, 1998, p.32).
Essa tradição, descrita no texto Evangélico, refere-se ao rito que é prescrito
em Ex 13,11-16 ou Nm 18,16. Ela pode ter sido convertida do paganismo ou
substituída por algum mito. A narrativa de Gn 22,1-18, onde Abraão leva seu
primogênito ao sacrifício e em que Deus provê um cordeiro em seu lugar,
certamente foi originada de antigo costume semítico de sacrificar os primogênitos às
divindades. Dessa forma a Lei Mosaica passa a prever a consagração dos
primogênitos e seu serviço. Além disso, era feito um pagamento aos Levitas (os
zeladores do Templo), pelos pais das outras tribos, de uma quantia equivalente ao
"resgate" dos seus filhos primogênitos. Os mais pobres deveriam saldar o
equivalente a duas pombas que podiam ser compradas nos mercados do Templo de
Jerusalém. Levitas e Cohanin (Sacerdotes) não pagavam tais impostos, pois,
estavam isentos desse rito. Isso leva a constatar que os pais de Jesus, embora
fossem de raiz davídica, não faziam parte da casta sacerdotal. O sacerdócio de
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Jesus acontecerá conforme uma antiga tradição, a ordem de Malki-Sédeq (Sl
104,4).
A cerimonia ocorria trinta e um dias depois do nascimento da Criança.
Faziam-se presentes um sacerdote e algumas testemunhas. O rito transcorria
(como transcorre) em aramaico. O menino era colocado numa bandeja e
apresentado pelo pai ao sacerdote (cohen). Este interrogava [o Pai] se queria deixar
o menino ou desejaria resgatá-lo. O Pai, ao preferir o resgate da criança, ouvia o
sacerdote repetir por três vezes: “teu filho será resgatado” (EPRHAIM, 1998, p.33).
O Pidion estava profundamente enraizado na consciência do povo israelita porque:
O resgate dos cativos, pidion shevouyim, assume o caráter de um dever sagrado. Ao longo da história judaica os inimigos de Israel usaram e abusaram disso, exigindo somas consideráveis em troca de prisioneiros ou judeus vendidos como escravos. Atualmente, no estado de Israel, a troca de prisioneiros confirma essa disposição: um cativo nunca deve ser abandonado, seja qual for o custo de seu resgate, o que pode chegar a cem inimigos libertados (EPHRAIM, 1998, p.33).
8 JESUS E O ZELO PELAS MITZVOT8
Esse empenho de Jesus em cumprir a Lei já foi um ponto polêmico no
passado, porém, atualmente é cada vez mais aceito entre os estudiosos do
cristianismo e judaísmo. Para Matt (2003, p.105), “Jesus estava basicamente
comprometido com a Torá e com os mitzvot”.. As palavras de Jesus em Mt 5,17-19
podem não ter autenticidade, como afirma Paulo em At 26,22, porém, os seus
ensinamentos derivam da Torá, ele está em busca de sua essência. Em Mc 12,28-
34 é perguntado sobre o primeiro de todos os mandamentos (v.28b). A resposta
vem em forma de duas mitzvot: “amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de
toda tua alma de todo teu entendimento e com toda tua força” (v.29-30) e “amarás o
teu próximo como a ti mesmo” (v.31b).
Dos Evangelhos sinóticos, Marcos é quem melhor preserva esse zelo de
Jesus pelas mitzvot. Enquanto Lucas e Mateus apresentam uma tensão com um
8 Mizvot é a forma plural de Mitzvá (Mandamento), logo, ela refere-se aos 613 mandamentos prescritos na Torá. Mitzvá vem da raiz tzvá, que significa ‘comando’; “encargo”. (EPHRAIN, 1998, p. 388).
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escriba, o relato marcano traz uma harmonia entre Jesus e esse escriba, ambos
concordam que esses são os dois principais mitzvot (mandamentos). Mas, em Mt
7,12 a máxima de Jesus “Ama teu próximo” é um parafraseamento na tentativa de
formular a essência da Torá. “Na geração anterior à de Jesus, Hillel9, ofereceu um
princípio similar, mas na negativa: ‘o que é odioso para ti, não o façais ao próximo’.
Hillel era um representante típico dos rabinos de sua época (MATT, 2003, p.106).
Jesus, por outro lado, era mais exigente e radical. Não é tarefa fácil encontrar
alguma transgressão da Torá por Jesus, por outro lado, constata-se o seu cuidado.
Em Mc 7,1-8:
Seus discípulos, não ele pessoalmente, são acusados de desconsiderar a ablução ritual das mãos. Não se tratava de uma exigência bíblica aos leigos. Era uma lei de pureza disseminada pelos fariseus que só na época de Jesus tinha passado a ser prática judaica comum. Os galileus eram de modo geral complacentes no tocante a leis de pureza como essa (MATT, 2003, p.106).
Já em Mt 12,1-8, os discípulos de Jesus (e não ele) apanham espigas de
trigo e retiram os grãos no dia de sábado. Eles não arrancam as espigas, mas,
removem os seus grãos esfregando-as em suas mãos. Para os Galileus, isso era
uma prática permitida no Sábado. No entanto, judeus de outras regiões achavam
que a permissão só acontecia utilizando-se os dedos das mãos, e não a mão inteira.
Deste modo, o comportamento dos discípulos de Jesus devia ser uma tradição da
Galileia (MATT, 2003, p.107).
9 O AMOR AOS INIMIGOS (Mt 5,43-47)
Essa passagem é certamente uma das que mais chocam os Judeus por
causa da frase “odiarás o teu inimigo”. Ela não pode ser encontrada na Torá, nem
em qualquer escrito rabínico, no Talmude e tão pouco na Halakah. É importante
considerar que Jesus não errou em afirmar isto. Ele não inicia seu discurso
indicando aquilo que estava prescrito na Lei, como era costumeiro (cf. Mt 15,21),
9 Hilel foi um líder cabalista que viveu no tempo do Rei Herodes, o Grande, e o segundo templo. A ele é atribuído ensinamentos de escritos rabínicos como a Mishná e o Talmude. Foi o fundador da Escola de Hilel, famosa por formar uma dinastia de Grandes sábios (Tannaïn).
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mas falando o que não estava na Torá através da sentença “ouvistes que foi dito”.
Ele não estava errado, a Torá não ensinava o ódio contra os “inimigos”. Um Rabi
não podia distorcer algo que estava escrito na Lei. Se assim o fizesse deveria
reparar esse dano através de um sacrifício no templo chamado de Tikkun
(EPHRAIM, 1998, p.158). Além disso, Jesus sempre estava rodeado de
contraditores que desejavam repreendê-lo a partir de ensinos errôneos da Lei, mas,
como já visto, não é tarefa simples encontrar alguma infração da Torá cometida pelo
mestre de Nazaré.
O termo “inimigo” refere-se aos estrangeiros (em hebraico – do singular
guer), que habitavam a Terra de Israel. Como já falado, a Lei não previa uma
inimizade contra o guer. É possível que o odiarás teu inimigo fosse um ditado
comum oriundo de outras tradições (como a romana por exemplo) que não deveria
ser seguido pelo judeu, uma vez que a Torá indicava o acolhimento e cuidado com
os povos estrangeiros. “Em Israel, o estrangeiro podia contar com certos direitos,
que visavam assegurar, primeiramente a subsistência” (EPHRAIM, 1998, p.159). A
Lei protegia e favorecia o indivíduo que pertencia a outro povo. Havia dois tipos de
estrangeiro segundo o Deuteronômio 10,19 e o Levítico 19,34: O Guer (que não era
obrigado a converter-se ao judaísmo, mas, que devia se comportar como um filho
de Noé) e o prosélito, que havia aceitado à Torá como regra de vida.
Posteriormente, surge uma distinção entre aquele que habitava a Terra de Israel
(guer toshav) e o prosélito propriamente dito, o guer tsedeq. Esse último termo
passou a ser predominantemente mais usado. Uma midraxe rabínica descrevia
como deveria ser a atitude do israelita diante de um prosélito:
Se um estrangeiro reside convosco, em vosso país, não o molestareis (Lv 19,33). Não lhe dirás: antes tu eras um idólatra, e agora te abrigas sob as asas da “xekiná”. O estrangeiro que reside convosco será, para vós, como um compatriota, e o amarás como a ti mesmo (SIFRÉ LEVITICO. 19,33-34, in EPRHAIM, 1998, p.160).
O “compatriota”, destacado no texto acima, é o prosélito que devia assumir
a Torá em sua vida. Um Rabi chamado Yossé bem Yehuda reforça que o preceito
“amaras o teu próximo como a ti mesmo” também se aplicava ao estrangeiro que
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aderia a Lei, assim como foi dito aos israelitas. Os convertidos ao judaísmo o faziam
por livre e espontânea vontade. A adesão implicava que o convertido passaria a
incorrer no julgamento divino. Antes de ser prosélito “ele podia violar o shabat sem
correr o risco de ser apedrejado, mas, na condição de prosélito, agora era passível
de morrer lapidado” (EPRHAIM, 1998, p.161).
Jesus condena o ódio aos “inimigos”, uma vez que a Torá não orientava
nenhum tipo de xenofobia. Isso fica claro, pois em Mt 5,44, Jesus pede que os
inimigos sejam amados: “amai os vossos inimigos”. Ele pede que seja feito o bem
pelos que vos odeiam. Tais palavras não foram uma novidade, pois, em muitos
tratados e citações rabínicas é possível encontrar ensinos semelhantes a esse de
Jesus. É verdade que havia um temor histórico do povo hebreu em não se
contaminar com a idolatria de povos vizinhos e dos ocupantes romanos, cujos
símbolos eram detestados pela população, no tempo de Jesus10, no entanto,
escritos de rabinos pregavam o amor pelos inimigos. A Shabi 31a diz:
Um pagão veio ver Shamai e lhe disse: “Ensina-me a Torá durante o tempo em que eu conseguir ficar sobre uma perna só e me tornarei prosélito”. Shamai o expulsou a pauladas. “Então, foi apresentar-se a Hilel, que o acolheu como prosélito. E Hilel lhe disse: Não faças a teu próximo o que não queres que te façam. Nisto consiste toda Lei, o resto é apenas interpretação; vá e aprende isto”. (EPRHAIM, 1998, p. 162).
O ensinamento de Hilel se assemelha bastante ao de Jesus, logo, as
palavras do mestre Ieshua não deveria soar estranho. O caráter não-violento do
amor que ele pregava é tangenciado nas palavras de outros mestres de seu tempo
ou de outras épocas. Sua pregação tinha por finalidade, simplesmente, despertar o
amor nos outros. Outro texto rabínico diz: “Se seu amigo carrega seu jumento e seu
inimigo o descarrega, é sua obrigação ir descarrega-lo com ele, a fim de romper
com a má inclinação de seu coração” (EPHRAIM, 1998, p.163). O Midraxe de um
tratado rabínico chamado Baba Kama leva ao coração da Lei, que é cheio de
10 Muitos povos que cruzaram pela história do povo de Israel foram considerados como perigosos e eram vistos com desconfiança, sobretudo por causa do perigo da idolatria, como os Filisteus e amalecitas. O Talmude diz que é preciso desconfiar dos estrangeiros que se convertiam, pois, uma antiga tradição rezava que o bezerro de ouro originou-se entre os prosélitos egípcios que acompanhou o povo no episódio do Êxodo. Talvez por isso o termo inimigo fora usado por Jesus.
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ternura, cuidado, zelo e amor. A Torá é capaz de transformar os corações de pedra
em carne: “que o homem sempre esteja entre os que são perseguidos e não entre
os perseguidores, porque não há nenhum pássaro que seja mais perseguido que as
pombas e os filhotes das pombas, que para as escrituras são dignos do altar” (Ba.
Ka 93a, in EPHRAIM, 1998, p. 163) 11.
Em Mt 5,44 Jesus quer engendrar a assunção da Lei fazendo com que “o
comportamento ético se transmute em vida mística e o dever em livre adesão”
(EPHRAIM, 1998, p.166). Isso é algo impossível para o homem, logo, Jesus assume
essa Lei tornando-a ardente desde o coração. Isto é o que um judeu chama de
“Shemá Israel”. Cristo assume a Torá através da elevação de sua cruz sofrendo por
um amor que só Deus é capaz de passar. Ele cumpre fielmente a Escritura
elevando a essência dela que satisfaz a opinião cristã e judaica através de algo que
nunca deixou de existir no seu discurso mesmo quando, historicamente, cristãos e
judeus modificaram sua imagem com suas pregações recheadas daquilo que
caracteriza suas doutrinas. A linguagem do amor em Jesus sempre existiu, e amar
como ele amou nenhum homem o fez, mas ele quer que o faça:
Quem pode amar, de verdade, o seu próximo, seja ele um compatriota ou um estrangeiro, amigo ou inimigo, simpático ou antipático? Nós amamos quem nos ama, pois, nesse trato recíproco nos damos por recompensados. Seríamos nós menos humanos que os outros homens que, por capricho ou dignidade, às vezes estendem as mãos a seu adversário e se tornam amigos de quem queriam matar? (EPHRAIM, 1998, p.167).
Não se trata da questão de tornar-se mais humano que os outros, mas, de
ser sobrehumano. Jo 4,20 nos ajuda a entender isso quando diz que aquele que
afirma amar a Deus, a quem não vê, e diz que não ama o irmão, a quem vê, é
mentiroso. O amor pregado por Cristo não visa fazer mais do que outros. Jesus não
veio instaurar uma lei suplementar, nem infringir qualquer norma da Torá. Não
houve acréscimos de uma mitzvá a outra mitzvá, mas, a incitação dos seus ouvintes
para que pudessem dar um testemunho do amor de Deus pela humanidade, que é
sobrenatural.
11 Ba. Ka: forma abreviada de Baba Kama, um tratado rabínico (EPHRAIM, 1998, p.397)
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10 CONCLUSÃO
A judeidade de Ieshua Ha Notzri mostra que ele estava inserido dentro de
uma estrutura judaica de pensamento, falava e agia judaicamente. Ele não é o
Messias esperado pelos judeus, por outro lado tornou-se o Cristo dos gentios, que
vieram a conhecer o Deus único e verdadeiro. Por meio dele tornaram-se parte do
povo eleito. Além disso, afirmou com clareza para seus seguidores que é necessário
o cumprimento da Torá, como ele mesmo a interpretava. Seus ensinamentos se
aproximavam bastante dos Mestres judaicos de sua época e os Rabinos de épocas
posteriores. De fato, Jesus não distanciou-se do judaísmo de seu tempo, mas
esteve bem próximo dele. Sua proximidade era tanta que foi capaz de denunciar e
repreender a incoerência dos chefes do judaísmo.
Cristãos e judeus precisam se entreolhar de maneira nova. Do cristianismo
deve partir a avaliação de suas raízes judaicas e o reconhecimento da vitalidade do
judaísmo e do povo judeu, o Povo de Deus. Já os judeus “podem aceitar Jesus, não
o Jesus da Igreja ou o Jesus Cristo entendido como Messias, mas o Jesus judeu,
um primo há muito afastado que por quase dois milênios tem sido incompreendido e
talvez tenha estado solitário” (MATT, 2011, p.110). A apreciação de Cristo como um
Mestre judeu é tão somente afirmar a sabedoria da Torá e sua manifestação de
formas e maneiras incontáveis, bem como a Graça da Boa Nova professada pelos
cristãos.
REFERÊNCIAS
Bíblia de Jerusalém: nova edição revista e ampliada. Tradução de Ivo Storniolo. et al. São Paulo: Paulus, 2012. Bíblia: Tradução Ecumênica. São Paulo: Loyola, 1994. BINGEMER, Maria Clara L. Jesus Cristo: Servo de Deus e Messias glorioso. São Paulo: Paulinas, 2008. (Coleção livros básicos de Teologia). EPHRAIM. Jesus, judeu praticante. Tradução de Magno José Vilela. São Paulo: Paulinas, 1998. (Coleção estudos bíblicos).
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MATT, Daniel. Yeshua, o hashid. In: BRUTEAU, Beatrice. (Org.). Jesus segundo o judaísmo: Rabinos e estudiosos dialogam sobre um antigo irmão. Tradução de Adail Sobral. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2011. p. 103-111. SHERWIN, Byron L. “Quem você diz que sou?”: Uma nova concepção judaica a respeito de Jesus. In: BRUTEAU, Beatrice. (Org.). Jesus segundo o judaísmo: Rabinos e estudiosos dialogam sobre um antigo irmão. Tradução de Adail Sobral. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2011. p. 52-66. SWIDLER, Leonard. Ieshua: Jesus histórico, Cristologia, ecumenismo. Tradução de Thereza Christina F. Stummer. São Paulo: Paulinas, 1993.
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A MÚSICA RELIGIOSA INSERIDA NAS PROGRAMAÇÕES RADIOFÔNICAS
Rozana Maria Feitoza Lôbo Graduada do Curso de Comunicação Social na UERN – Habilitação: Radialismo.
E-mail: [email protected]
Mauricio Montecinos Billeke Christian Professor do Curso de Comunicação Social na UERN – Habilitação: Radialismo.
RESUMO
Esse artigo tem como objetivo discorrer sobre a música religiosa nos programas radiofônicos populares em especial o ‘Programa: Manhã de Sucesso’ da Rádio FM 9512. Utilizaremos como referencial teórico, pesquisas bibliográficas, trabalhos acadêmicos, acerca do assunto, assim como fundamentamos nas teorias da comunicação de Adorno e Horkheimer (2006). As músicas religiosas tocadas nas rádios tem o objetivo de evangelizar,sem deixar de ser uma mercadoria comercializada pelos meios de comunicação, acontecendo assim sua massificação, onde o ouvinte é o consumidor e a música o produto, mesmo no caso da música religiosa. Essa observação nos mostrou qual é o mais novo horizonte de propagação da mensagem religiosa, assumindo novos contornos através dos meios massivos, com ênfase no rádio, levando simultaneamente Fé e entretenimento. PALAVRAS-CHAVE: Programa radiofônico. Música Religiosa. Massificação. Fé e Entretenimento.
1 INTRODUÇÃO
Revendo os conceitos sobre a música religiosa, no que diz respeito ao seu
valor e a sua relevância para a religião, em função da massificação, estarei
questionando até que ponto este fenômeno influencia a vida espiritual e se
corremos o risco, ou não, de usufruirmos plenamente de tudo que este tipo musical
tocado em rádios seculares podem nos proporcionar. Da mesma maneira
questionarei a postura dos ouvintes desses programas, e o papel real de
evangelização da música religiosa está sendo desfigurado.
Ao escutarmos a música religiosa, da mesma maneira que as músicas
populares como uma ‘coisa’, um objeto a ser consumido imediatamente, reduzimos
a possibilidade desta manifestação de sentido espiritual da Fé ou a transformamos
12Rádio 95 – FM 95,7 MHz - Site: http://portaltcm.com.br – Gênero Popular.
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numa experiência emocional mais profunda, como proposto na crítica Adorniana
(2006).
Neste caso a música transforma-se, num simples objeto de consumo,
causando a perda de sua relevância, esta observação de Adorno e confirmada por
Horkheimer (2006), quando concordam com essa perda de relevância, assim como
acontece com a música da Igreja, ao ser massificada pelas rádios populares.
Entendemos que as músicas religiosas tocadas no espaço religioso, e as
mesmas encontradas nas ondas das rádios comuns e misturadas as músicas
populares, apresentam uma postura diferenciada, fora que, do ponto de vista da
doutrina Adorniana, deveria ser usada como uma das mais preciosas formas de
expressão de sentimento de fé e referência para com o sagrado. Porém, sabemos
que a música religiosa nos programas de rádio tocadas no dia a dia é apenas um
produto que se poderia chamar de passatempo religioso.
Com essa prática midiática, através de seus distintos dispositivos, constrói-
se novos modos e meios de vivenciar e praticar a religiosidade, que hoje podemos
entender o contexto da midiatização da sociedade como um todo. Assim, vemos os
meios de comunicação, em especial a rádio, viverem num círculo de
estimulo/respostas que interferem em nossas sensações.
Portanto, tentaremos nos aprofundar nos apontamentos para respostas aos
questionamentos levantados: as músicas religiosas, com a missão da evangelização
a partir da massificação, permanecem com o louvor religioso, ou simplesmente
assume a função de entretenimento?
Resta-nos saber, através desse estudo, se a religião investe nesse meio
midiático com o intuito de levar a fé através das suas músicas e evangelizar a todos
usando os meios vigentes para atingir seus objetivos ou, se simplesmente se
posiciona como mais um produto a ser consumido pelos ouvintes das rádios.
Para podermos analisar as músicas religiosas inseridas nas programações
radiofônicas, faremos um breve histórico da música na religião. E em seguida,
analisaremos em profundidade a utilização da mídia para evangelização e a
massificação da Fé. No programa: Manhã de Sucesso da Rádio FM 95, pelo qual
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optou-se para esta pesquisa por um programa de entretenimento com vários blocos,
no qual é possível escutar todos os estilos de música, com participação dos
ouvintes, horóscopos, novelas, informações, utilidade pública, sorteios, além de
oração, reflexão e músicas religiosas, etc.
Parece, portanto importante de se fazer um estudo sobre essa realidade tão
presente nas transmissões radiofônicas, e com essa massificação da música
religiosa que a tira do contexto, para levá-la ás rádios populares em meio ao
entretenimento.
2 A MÚSICA NA RELIGIÃO
A comunicação, desde os primórdios é utilizada como mecanismo de
construção, de desenvolvimento e diálogo entre os povos, por ser uma necessidade
básica da pessoa humana. No tocante a música, podemos observar que em toda a
história da humanidade nos deparamos com a música fazendo parte da vida do
povo.
A música a ser tocada numa programação radiofônica chega ao cotidiano
do ouvinte, se tornando uma linguagem em liberdade, feita de assonâncias,
consonâncias, dissonâncias, rimas e imagens sonoras. Vanoye (1977, apud DE
ABREU, 2011) escreve que: “Uma boa canção é também algo que se compreende
(a que se intui) facilmente e que se retêm na memória”.
O mesmo autor nos relata que desde os tempos primitivos existe música e
magia, “cantos associados a preces ou magias, narrativas sob a forma de salmos e
cânticos populares podiam exprimir sentimentos religiosos ou profanos” (Vanoye,
1977, apud DE ABREU, 2011, pág. 116).
Santo Agostinho13, autor de grande valor na história como teólogo, fez
menção à música religiosa, a qual deveria fazer parte do culto como ferramenta de
adoração a Deus tendo, através da emoção que transmite, um papel importante na
vida espiritual do religioso.
13Santo Agostinho foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo, um Padre latino e Doutor da Igreja Católica. Agostinho é uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente, sendo o diretor da Igreja Católica – Século XV. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona> Acesso em
03/02/2014.
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Quando chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os alentos suaves que escoavam em vossa Igreja! Que emoção me causava! Fluíam em meu ouvido destilando a verdade em meu coração. Um grande elo de piedade me elevava e as lágrimas corriam-me pela face, mas me faziam bem. (Agostinho In: Morais, 2012, SP – Apud ROCHA.).
O papel da música religiosa é de suma importância por causar um bem
estar profundo quando é ouvida, se tornando um mecanismo utilizado pelos ‘fiéis’
para se conseguir um ambiente adequado, no qual se possa chegar ao objetivo das
religiões que é a aproximação com Deus (Faustini, 1973 apud ROCHA, 2000).
O reconhecimento da importância da música pela Igreja e a sua influência
na vida dos fiéis, proporciona uma contribuição: levar ao ser humano uma ajuda
nesse desenvolvimento racional e espiritual ao ouvir e refletir as letras das músicas
religiosas. Segundo Marmontel (apud COUTINHO, 2008, pág. 24), “a música é
incontestavelmente de todas as artes, aquela que reflete de uma maneira mais
sensível o grau de desenvolvimento espiritual de um povo”.
Outra personalidade na história da Igreja nos fala sobre a música e seus
efeitos no desenvolvimento social de uma pessoa. Efetivamente Lutero14 não deixa
dúvidas em seus escritos sobre os efeitos racionais intelectuais e emocionais que a
música traz para nossa formação social, acreditando que a música religiosa é uma
dádiva de Deus e deve ser usada para o louvor e propagação do evangelho.
A música é filha do céu, e o homem que verdadeiramente a ama não pode ter senão bons sentimentos. Eu não tenho consideração alguma por um povo que não saiba cantar. Aqueles que ficam insensíveis à música são corações secos, que só posso comparar com pedaços de madeira” (LUTERO in: TIEDT, 2011, s.p. apud ROCHA e DE OLIVEIRA, pág. 05)
Assim sendo, a única coisa comum a todas as culturas é a música, onde
cada uma tem o seu próprio estilo, fazendo parte também das religiões, que se
14 “Martinho Lutero foi um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico que foi figura central da Reforma Protestante (...) Lutero ensinava que a salvação não se consegue com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador.” Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_Lutero> Acesso em 03/02/2014.
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ligam a esse meio de comunicação. A escritora adventista Ellen G. White (1970) 15,
faz referência ao uso da música pelas Igrejas, colocando que esta é uma ferramenta
essencial para a transmissão dos ensinamentos de Cristo, mas que devemos ter o
cuidado de não utilizá-la somente para causar emoção nas pessoas, mas sim como
forma de mudar a vida dos fiéis pela aproximação ao Divino.
3 A MÍDIA E A EVANGELIZAÇÃO
A Igreja, atenta aos avanços tecnológicos, busca estar presente no cenário
mundial, atualizando-se nas tecnologias avançadas e utilizando-se dos meios de
comunicação para a sua missão: a evangelização. Assim, utilizara rádio como
instrumento de evangelização16.
As músicas religiosas, a serem usadas na mídia, em especial nos
programas radiofônicos, trazem a idéia de levar ao seu público – os ouvintes – a
verdade da fé, como expressão da espiritualidade. Assim, pode-se compreender
qual é o intuito do uso das rádios pela religião.
A mídia, por ser um veículo de grande importância na divulgação da cultura
na sociedade contemporânea, domina o lazer, a cultura e até mesmo a própria
religião. De modo que os meios de comunicação, estão se constituindo como
principal veículo da distribuição e disseminação desta e dos ideais apresentados
nos dias atuais.
De acordo com o pensamento de Fausto Neto (2005), o qual considera a
midiatização como produtora de fatos que afetam as formas de vida, podemos
verificar nos documentos da Igreja a mesma orientação com seus fiéis e seguidores:
[...] A igreja tem, pois, um direito radical de possuir e usar destes meios, como úteis a educação cristã e ao seu trabalho em vista da salvação das almas, os portadores tem a incumbência de formar e orientar os fiéis no uso desses meios em vista de seu próprio aperfeiçoamento de toda família humana [...] (InterMirifica, 2007, p.07).
15 Escritora da Igreja adventista - (White, 1970, p. 500-12, apud ROCHA e DE OLIVEIRA). 16 Documento CNBB – Comissão Nacional dos Bispos do Brasil. Igreja e Comunicação: Rumo ao novo milênio; Conclusões e Compromissos, Documento 59, p. 25, 1997.
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A religião e a rádio têm uma relação de proximidade (Campos, 2004), e o
crescimento tecnológico, além da evolução dos meios de comunicação, levam as
igrejas a se preocuparem com a sua utilização, buscando aprimorar e tomar posse
desse ‘novo jeito’ de consumir a Fé.
Áreas (2007) nos fala que “na contemporaneidade, a comunicação religiosa
assumiu novos contornos com a utilização dos meios de comunicação de massa.
Hoje as igrejas encontram-se irremediavelmente submissas às parafernálias de
símbolos e apelos midiáticos”, onde a midiatização religiosa afeta as práticas sociais
ao usar os meios como um novo modo de fazer religião.
As músicas inseridas nas programações radiofônicas populares, se tornam
um instrumento de suma importância para as religiões, já que a manipulação dos
meios é feita igualmente pelas estruturas religiosas, pois as músicas religiosas
inseridas nos programas radiofônicos, aderem a demanda de consumidores. Assim,
mesmo tendo, em geral, objetivos distintos, as empresas radiais e as igrejas não
são diferentes (HOHFELDT, 2001)17.
A Igreja impulsionada pelas palavras encontradas na Bíblia Sagrada18, busca
os meios de comunicação para cumprir a ordem de sair pelo mundo e pregar o
evangelho a todo a criatura, como nos é retratado na passagem bíblica ‘I Cor 9-16’.
E a partir dessa relação, a mídia e a evangelização, a partir dessa relação, visam à
vivência particular do histórico religioso e pessoal, proporcionado pela transmissão
da Fé através das músicas religiosas veiculadas com o intuito de evangelizar os
ouvintes que estão inseridos nessas práticas sociais, hoje, a cada vez mais,
midiatizadas. (Borelli, 2004)19.
A história da mídia radiofônica se desenvolve numa relação indissociável com
a religião, e isso pode ser comprovado a partir do fato e que a primeira transmissão
radiofônica experimental nos EUA teve a presença da religião (Campos 2004).
Mesmo hoje, depois de tanto tempo, as Igrejas, em especial a Católica, utiliza os
17 HOHLFELDT, Antônio. 2001, pág. 142-143 18 “Bíblia (do grego βίβλια, plural de βίβλιον, transl. bíblion, "rolo" ou "livro") é o texto religioso de valor sagrado para o Cristianismo, em que a interpretação religiosa do motivo da existência do homem na Terra sob a perspectiva judaica é narrada por humanos. É considerada pela Igreja como divinamente inspirada.” Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADblia_sagrada> Acesso em 03/02/2014. – (I Cor. 9-16). 19 BORELLI, Viviane, Mídia e Religião: Um estudo de recepção, 2004, p. 11
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meios de comunicação para transmitir a sua mensagem, como fazemos constar na
palavras do Sumo Pontífice:
A vós queridos sacerdotes, renovo o convite a que aproveitem com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na <<agora>> moderna criada pelos meio atuais de comunicação. (Bento XVI, 2010)20
4 A MASSIFICAÇÃO DA MÚSICA RELIGIOSA
As Paulinas – COMEP21 foram fundadas há meio século por um sacerdote
de origem italiana, e é dirigida por freiras católicas cujo apostolado se concentra,
particularmente, na utilização dos meios de comunicação social com vistas à
propagação da fé e da doutrina católica. Atualmente é a maior gravadora católica do
país22.
Segundo a lógica de Indústria Cultural, todo e qualquer produto cultural –
um filme, um programa de rádio ou televisão, um artigo em revista, etc. – não passa
de uma mercadoria submetida ás mesmas leis de produção capitalista que incidem
sobre quaisquer produtos industrializados (Moreno, 2007)23.
Pesquisa do sociólogo Alexandre Brasil Fonseca, da USP, revela um fenômeno curioso nas conversões religiosas no país, ela mostra que o brasileiro está tratando a religião como objeto de consumo (Revista Época, seção periscópio, 16 maio 1990, pág. 15 apud FERREIRA, 2012)24.
Adorno (2011) afirma que os meios de comunicação, como um todo, criam
uma espécie de padronização da sociedade. Além do que, a música tem sido uma
das mais poderosas armas para atingir este alvo.
20 Mensagem do Papa Bento XVI para a 44o Dia Mundial das comunicações, 2010. (hoje Papa Emérito) 21 COMEP: Comunicação Musical Editora Paulinas. 22Um pouco de nossa história – Paulinas – COMEP Disponível em: <http://www.paulinas.org.br/comep/?system=paginas&id=348&action=read>Acesso em 03/02/2014 23 MORENO, Carlos. 2007 – A Contemporaneidade da teoria critica no estudo de comunicação 24 Revista Veja, seção periscópio, 16 maio 1990, pág. 15 – apud FERREIRA, 2012: Padres artistas: o novo lugar do sacerdote no imaginário católico popular.
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Ao escutarmos uma música, que têm o poder de interferir em nossas
emoções, pelo rádio, é o estímulo causado pelo meio de comunicação que nos leva
a ter alguma reação, esperada, ou não. Tornando assim o produto radial, algo que é
desejado, que os ouvintes buscam ouvir através de meios comerciais. Assim,
ADORNO afirma que “este molde simplório, ao qual submetemos a música, é um
reflexo de nossos conceitos axiológicos atuais, a ‘coisificação’ da música” (Adorno,
1996, pág. 80)25.
Essa massificação pode ser explicada de forma clara quando se volta para
a música, pois esse precioso bem, inserido na programação,transforma-se numa
simples ‘coisa’ que acaba sendo consumida.
A música religiosa a ser inserida nos meios de comunicação, através de um
programa de rádio popular, torna-se um produto que é comercializado pelas ondas
da rádio, onde talvez tenha perdido o seu real significado evangélico ou espiritual.
5 A FM 95: “MANHÃ DE SUCESSO” – UM PROGRAMA RADIOFÔNICO POPULAR COM MÚSICAS RELIGIOSAS INSERIDAS EM SUA GRADE MUSICAL
Um programa radiofônico musical tem o intuito de informar, entreter, alegrar
os ouvintes em suas residências, trabalho, carro, hospitais, aparelhos móveis
(celulares), etc. Podendo variar os estilos musicais, e “como o próprio nome indica é
o formato que tem como mote a música, com conteúdo e plástica diferenciadas,
abre espaço para a difusão dos mais diferentes gêneros” (BARBOSA, 2009, pág.
115).
As religiões buscam a evangelização através das músicas nas rádios, pois
este meio de comunicação, por sua vez, busca agradar seus ouvintes conquistara
audiência. Para isso ofertam ‘produtos’ diferenciados que criam novos hábitos de
audiência e findam assim se adequando de forma qualificada a nova roupagem
(Barbosa Filho, 2009).
Sodre (2009), corroborando esse pensamento, esclarece que “O rádio se
utiliza de sua alta acessibilidade para também refletir esse processo de pluralismo
das ofertas religiosas”. Lembrando que a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por
25 Adorno, 1996, p. 80.
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exemplo, nasceu com a vocação eminentemente educativa e tendo como objetivo
levar ao seu público um pouco de educação, de ensino e de alegria, sendo o
principio fundamental da nova época da era da comunicação de massa.
(COSTELLA, 2002).
Nas palavras inspiradoras e idealistas de Roguette Pinto (apud COSTELLA
2002, pág. 178) “todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil
receberão, livremente, o conforto moral da ciência e da arte; a paz será realidade
definitiva entre as nações”.
Para esse fim, inicialmente, as rádios usavam a freqüência de Amplitude
Modular (AM) e tiveram as suas primeiras transmissões asseguradas pelo
engenheiro canadense Regirald Fessendese. Nos seus primeiros anos de uso, a
rádio era utilizada para a transmissão de músicas e recados diversos, fato este que
somente mudou a partir de 1920 com o surgimento das rádios comerciais.
Na cidade de Mossoró, nos dias de hoje, há vários programas que usam em
suas grades musicais as músicas religiosas. No entanto selecionamos o programa
Manhã de Sucesso, transmitido pela Rádio FM 95 de segunda a sábado, no horário
das 08 às 12hs da manhã apresentado pelos radialistas Beri Soares, e Elisangela
Silva destinado ao público em geral. Sua programação consiste em uma seleção de
música de todos os gêneros, incluindo também músicas religiosas, informações
variadas, entretenimento, prestações de serviços, além de momentos oracionais.
Essa escolha, por este programa de rádio da Rádio FM 95, se deu por uma questão
apenas de recorte com o fim de delimitação.
Analisou-se tematicamente a grade musical deste programa pelo período de
04 (quatro) semanas devido à importância da sua audiência e atender as nossas
perspectivas, ou seja, à inserção das músicas religiosas na sua grade musical
popular.
A priori, observa-se que é um programa predominantemente musical com
espaço para as músicas religiosas, que tem um papel de evangelização. Em cada
quadro musical é inserida uma música religiosa, acompanhada de uma reflexão,
uma mensagem, onde os ouvintes têm uma participação.
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O êxito alcançado, neste programa, com as músicas religiosas pode ser
compreendido pela presença dos quatros elementos da rádio: a palavra, a música,
os efeitos sonoros e o silêncio/pausa. Na visão de Mattelart (2008), esses
ingredientes resumem os mandamentos de um programa radiofônico que
estabelece essa relação mágica e envolvente com o ouvinte.
A rádio apresenta uma paisagem construída artificialmente para produzir
sentido, e através de sua programação, em especial a música (qualquer ritmo)
ganha uma dimensão harmoniosa. Esta é maior ainda quando conquista o ouvinte,
pois o ato de escutar um programa radiofônico é dividido em quatro circunstâncias:
escuta ambiental; a escuta em si; a atenção concentrada ou a escuta por seleção,
por ser um meio de comunicação entre as pessoas, e a linguagem radiofônica ter
uma conexão entre o simbólico e o conotativo. (BALSEBRE, 1996 apud DE ABREU,
2011).
6 FÉ E ENTRETENIMENTO
As músicas religiosas se aproximam da mídia e se inserem num mercado
de bens simbólicos, quando os rádios as passam na sua grade de programas, assim
elas são entendidas na contemporaneidade, como um mecanismo sólido de
sustentação e preservação da audiência almejada, nesse sentido, a mídia e a
religião interagem na mesma busca.
A midiatização da sociedade refere-se ao processo de hegemonia de uma
cultura que se expressa por sons e imagens mediadas por alta tecnologia e tendo
grande repercussão na vida cotidiana através das diversas mídias. Pois verificamos
que, “as mídias tem a capacidade de fornecer informações políticas e culturais
assim como representar emoções e idéias, e de produzir necessidades de consumo
e entretenimento”. (MENDONÇA, 2009).
Se há fé ou não, isso não importa nos tempos atuais. A mídia é
entretenimento, ou seja, já não se sabe bem se um telespectador religioso ou não, o
que se observa, e o que importa, é a adesão ao produto e aceitação do programa
de rádio.
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As mídias são importantes, não por causa da veiculação das ideologias,
mas sim porque, se de um lado fornecem as informações que colaboram para o
esclarecimento da sociedade e do outro proporcionam o entretenimento que a
população procura com avidez e sem o qual, talvez, não pudesse suportar o
crescente desencantamento da existência. E nas duas primeiras décadas do século
XX presenciaram a implantação e consolidação da mídia radiofônica.
O programa radiofônico mostra como o discurso radiofônico de uma emissora voltada para o popular consegue atingir amplas camadas sociais, quando linguagem e mensagem atendem expectativas de realização de sonhos e desejos, que parecem distantes. O testemunho de ouvintes e a intervenção do comunicador criam um processo de interatividade, enquanto a passagem sonora – por meio da seleção de canções e músicas instrumentais profanas e religiosas, simula um ambiente sagrado, como se estivessem em um culto, mesmo que o desejo não se realize, a idéia predominante é a de conforto do espírito. (DE ABREU, 2011, pág. 108).
Observamos em GOMES (2011) que na busca de arrebanhar mais fiéis, a
igreja “vale de todo espaço necessário, inclusive a utilização de todos os meios
possíveis para a aquisição de uma emissora que possibilite a veiculação da
mensagem evangélica em tempo integral”.
Assim, observamos que os meios de comunicação oferecem ás igrejas,
novas possibilidades para exercer o seu serviço da transmissão da fé, onde a tarefa
primordial da religião é anunciar Cristo. Sendo a rádio, atualmente, um dos
instrumentos usados para responder a essa necessidade, tornando-se um
instrumento útil, de grandes conjuntos tecnológicos que se localizam dentre as veias
da comunicação.
7 CONCLUSÃO
Ao observarmos nos estudos a preocupação das Igrejas com a maneira que
se transmite a mensagem da ‘Boa Nova’, constata-se que tal atividade
comunicacional tem sido feita há séculos, utilizando-se de diversos suportes.
Nos dias de hoje a mídia é usada com muito afinco, como podemos
verificar, ao observar a transmissão da Fé através da rádio, em especial as músicas
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que estão sendo ‘afloradas’ nas programações radiofônicas, tanto em programas
especificamente religiosos, como dos populares.
A música faz parte do cotidiano das pessoas, alimenta o seu eu, entretém,
anima ou simplesmente diverte. Quando a música religiosa está também inserida
nas programações populares têm o mesmo valor que as músicas profanas, por ser
um produto midiático que atende as necessidades do dia a dia dos seus ouvintes.
Essa observação nos mostrou como o mais novo horizonte sonoro de
propagação da mensagem religiosa é a música. Ou seja, na contemporaneidade a
comunicação religiosa assume novos contornos a usar os meios de comunicação de
massa. Assim, a mensagem religiosa transmitida pela música passa a ser adotada
nas diversas denominações religiosas com muita facilidade e normalmente é vista
como um instrumento eficaz no competitivo ‘mercado religioso’.
A Igreja vem mudando de posição, como foi percebido, no tocante a relação
com os meios de comunicação. Um dos fatores que tem catalisado esta incursão na
mídia é certamente a música, que tem uma grande importância nesta nova forma de
ser Igreja, utilizando-se dos programas radiofônicos como um meio para esta
evangelização.
Percebe-se que as músicas tocadas em programações seculares estão
dominando estes meios, usando o sentimentalismo e não havendo mais a
separação do que é sagrado e do que é profano. Já que os ouvintes, desses
programas são evangelizados através das ondas do rádio, são também sujeitos
sociais que vivenciam suas próprias experiências em diversos campos, sejam eles,
individual, familiar, comunitário ou religioso.
Portanto observou-se que a rádio exerce o domínio do sentimento por meio
do som transmitido, assim, nos questionamos até que ponto a utilização das
músicas religiosas em paralelo às músicas populares, servem para atingir o seu
objetivo que é aproximar os seus fiéis de Deus, explorando o seu carisma e a sua
desenvoltura, somente com o intuito de atingir o maior público possível para
satisfazer todos os interesses e gostos, além de obter o máximo de consumo.
Essa catalisação dos meios de comunicação pelas Igrejas, através da
comunicação massiva, é apenas uma nova forma de pregar os valores religiosos.
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Assim sendo, precisamos rever certos posicionamentos neste mercado
midiático religioso. Acreditamos que este estudo é apenas o início de uma
discussão, podendo render novas pesquisas através de pontos, tal como o mercado
religioso, que não foram totalmente aprofundados e outros que não foram
contemplados neste artigo.
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Rozana Maria Feitoza Lôbo Graduada do Curso de Comunicação Social da UERN – Habilitação: Radialismo.
E-mail: [email protected]
Tobias Queiroz Professor do curso de Comunicação Social da UERN – RN
Mestre em Estudos da Mídia (UFRN)
RESUMO Esse artigo tem como objetivo propor uma reflexão sobre as práticas religiosas midiatizadas de Pe. Marcelo Rossi como produto cultural contemporâneo, onde iremos analisar a história da Igreja no seu envolvimento com os meios de comunicação e a sua busca incansável de mecanismos para levar a evangelização aos seus fiéis. Faremos uma abordagem geral das atividades realizadas pelo Pe. Marcelo na mídia, conjugando no estudo, as teorias da comunicação, em especial da indústria cultural (ARMAND e MATTELART, 2008), e empregando ainda uma análise de conteúdo de alguns textos e artigos sobre o tema. Como conclusão verificou-se que em toda a história da Igreja, a mesma não se limitou na utilização das novas tecnologias, utilizando-se dos meios de comunicação e nos mostrando que as suas práticas midiatizadas são produtos culturais contemporâneos. E na pessoa de Pe. Marcelo Rossi, através da divulgação dos seus produtos e imagem, fornecendo aos indivíduos não só um produto a ser consumido, mas também mecanismos para que este indivíduo se tranforme em um ser com caracterisiticas e ações apontadas por este produto cultural. PALAVRAS-CHAVE: Igreja. Mídia. Produtos Culturais Contemporâneos.
1 INTRODUÇÃO – O INÍCIO DA MIDIATIZAÇÃO RELIGIOSA
A comunicação, desde os seus primórdios, é utilizada como um mecanismo
de construção, de desenvolvimento e de diálogo entre os povos, por se tratar de
uma necessidade básica da pessoa humana, ou melhor dizendo, do ser social.
[...] A repercussão da comunicação e cultura midiatizadas pode ser apontada, em um sentido largo, como incidindo sobre o novo modo (capitalista) de vida ou ensejando os altíssimos processos de globalização econômica, através de redes suportes dos fluxos das informações financeiras e dos capitais, fiadoras da velocidade e dos mercados planetarizados [...] (CASTELLS, 1992 apud RUBIM, 2000, pág. 27).
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No entanto, por sermos tão distintos em pensamentos e influências,
começou a ocorrer uma nova forma de utilização dos meios de comunicação, não
só para atingir a massa, com suas programações, más também na reprodução e
construção de produtos culturais.
Esse desenvolvimento de produtos culturais ocorre, como podemos
observar hoje, não somente pelos meios comuns tais como artistas, TV, cinema,
livros, dentre outros, mas também através da religião e dos seus religiosos ou fiéis.
E tendo a responsabilidade de serem sedutores e concomitantemente a ter estilo,
comportamento, um novo modelo de identificação e uma razão plausível e coerente
com seu ideal.
Podendo está voltado tanto para a questão do lucro, como a divulgação da
arte, ou mesmo a transmissão de algum pensamento, conceitos ou ideais
(ARMANDO & MATTERLART, 2008).
A mídia, por ser um veículo de grande importância na divulgação da cultura
nas sociedades contemporâneas, domina o lazer, a cultura, a moda, e até mesmo a
própria religião. E os meios de comunicação de massa, estão se constituindo como
sendo o principal veiculo da distribuição e disseminação desta cultura e dos ideais
apresentados nos dias atuais. Pois segundo Thompson (1998):
[...] O desenvolvimento e a exploração destas várias tecnologias se interligaram de formas complexas com o poder econômico, político e coercitivo. [...] a transformação da mídia em interesses comerciais de grande escala é um processo que começou no início do século XIX. È claro que a comercialização dos produtos da mídia não era um fenômeno novo. [...] (THOMPSON, 1998, pág. 73).
Conforme Verón (1997), sobre a questão da midiatização na sociedade, a
mesma se caracteriza pela disposição de mídias apresentadas através dos seus
diversos signos. E de acordo também com o pensamento de Fausto Neto (2005), o
qual considera a midiatização como sendo um produtor de fatos que afetam as
formas de vida, em especial as tradicionais.
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A inclinação no sentido de configurar discursivamente o funcionamento social em função de vetores mercadológicos e tecnológicos é caracterizada por uma prevalência da forma sobre conteúdos semânticos (FAUSTO NETO, 2005: 9).
Na Igreja Católica Apostólica Romana, e demais religiões, a preocupação e
a utilização dos meios de comunicação para propagação de seus ideais não fica
fora desta nova forma de comunicação. E no caso da Igreja Católica, levando em
consideração o Padre Marcelo Rossi e seus ‘produtos’ religiosos: missas, CDs,
DVDs, santinhos, sites, marcas, e outros, o mesmo se tornou um produto cultural
contemporâneo por ter a finalidade não só de transmissão da fé católica através dos
meios de comunicação, mas também a maciça atração dos fiéis ou não, por uma
procura de respostas imediatas aos questionamentos e aflições da nossa época,
bem como uma forma comercial de produção de lucros.
[...] A mídia utiliza-se das diferentes designações, existentes para o ‘mito’, para caracterizar, e muitas vezes construir a imagem de determinados nomes do cenário social, podendo este ser artístico, político, científico, religioso, etc. e, portanto, exercer o seu poder através de discursos estruturados em conceitos analisados por vários autores [...]. (FOLLETTO, 2001, p. 25. In: RAMOS, ROBERTO. (Org.)26
Assim, tentaremos nos aprofundar e apresentar apontamentos para os
questionamentos levantados: Qual a relação entre a Igreja Católica e a produção
cultural? Qual o papel e a função da Igreja na midiatização da religiosidade? As
ações do Padre Marcelo Rossi, como produto cultural contemporâneo e ser
midiático, podem realmente ser caracterizados/classificados como sendo produtos
culturais contemporâneos? As mensagens repassadas por este ser midiático
fornecem imagens, discursos capazes de transmitir a população de massa um
verdadeiro prazer e assim responder as suas necessidades?
Iremos nos aprofundar um pouco mais sobre este item, e buscando analisar
os ‘artigos religiosos’ de Padre Marcelo Rossi como produto cultural
26 FOLLETTO, Lisiane. O discurso midiático e a construção de Pe. Marcelo Rossi. In: RAMOS,
ROBERTO. (Org.). Mídia, Textos e Contextos. EDIPUCRS, Coleção Comunicação Vol. 14, 286p.
Rio Grande do Sul: 2001. p. 11-36
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contemporâneo, através de um breve histórico da utilização dos meios de
comunicação pela Igreja e em seguida podermos destacar e identificar as práticas
midiáticas de religiosidade de Padre Marcelo Rossi, fundamentando-se em teorias,
revisões literárias e trabalhos já efetuados sobre este tema.
2 A IGREJA CATÓLICA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Desde o seu início a Igreja Católica procurou utilizar-se de mecanismos
para levar a sua mensagem aos ‘quatro cantos e quatro ventos’27, como se pode
identificar também nos seus escritos e na sua própria história.
Um dos primeiros produtos de comunicação foi à transmissão através das
pregações, ou seja, via oral, pela tradição que era passada dos povos para outros
povos, e depois começou a utilizar-se dos meios de comunicação escrita, como
pergaminhos, símbolos, e culminando com a produção e divulgação de um dos
materiais impressos mais divulgados no século XV - através da máquina de prensa
construída por Gutemberg28 no século XV – e hoje mais vendidos - a Bíblia
Sagrada.
No ano de 1450, conforme nos fala Costela (2002, p.54) “[...] Em 1450,
seguro de sua arte, Gutemberg se propôs a imprimir a Bíblia [...] com suas 642
páginas, tal livro foi o atestado maior da eficiência da tipografia [...].”
A produção e propagação do livro sagrado para os cristãos - A Bíblia – e de
outros escritos, possibilitaram uma grande propagação da fé cristã em todo o
mundo, como também o surgimento do controle, pelas mãos da Igreja, da literatura
escrita da época (ARÊAS, 2007), e sendo este momento, uma ‘mancha negra’ na
história da Igreja até os dias de hoje. “Estas áreas eram tão importantes na
transmissão dos valores, que a Igreja da época se preocupou em fazer o Index -
Ìndice de obras que não deveriam ser lidas pelos fiéis, porque podiam ameaçar sua
doutrina” (FURTADO, 1999, p.17 apud ARÊAS, 2007, p.16).
27 Baseado na passagem Bíblica Sagrada Católica: Mc 16,15. 28 Importante inventor alemão do século XV que inventou a prensa de tipos móveis, em 1439, e revolucionou a produção de livros no século XV. Disponível em <http://www.suapesquisa.com/quemfoi/gutenberg.htm> Acesso em 04/02/2013.
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Na Idade Média a Igreja Católica, não permitia opiniões e posições
contrárias aos seus dogmas, colocados como verdades incontestáveis, onde o Papa
era visto como um rei, com grandes poderes, tendo uma grande influência nas
decisões políticas, na elaboração das leis, além de dominar o lado moral e
comportamental da sociedade.
No século XXI, no ano de 20102 a Bíblia, a escrita santa dos cristãos, teve
cerca de 3,9 bilhões de seus exemplares vendidos em todo o mundo, ficando na
lista dos livros mais vendidos dos últimos 50anos, correndo com livros de grande
renome da literatura tais como: Livro Vermelho de Mao-Tsé-Tune, O Diário de Anne
Frank, a Saga Crepúsculo, o Alquimista, dentre outros 29.
Com o surgimento de vários meios de comunicação, tais como a escrita de
livros, a rádio, o cinema, e por fim a televisão, a Igreja começa a voltar o seu olhar e
preocupação para com os meios de comunicação que vão surgindo. Tentando se
tornar a articuladora e ‘cuidadora’ da moral da grande massa populacional, como
nos é mostrado no documento Inter Mirifica do Concílio Vaticano II30.
[...] A Igreja tem, pois, um direito radical de possuir e usar destes meios como úteis a educação cristã e ao seu trabalho em vista da salvação das almas. Os pastores têm a incumbência de formar e orientar os fiéis no uso desses meios, em vista de seu próprio aperfeiçoamento e de toda família humana [...] (INTER MIRIFICA, 2007, p.7).
O avanço das mídias de comunicação levou a Igreja a se preocupar com a
utilização dos meios de comunicação, nos remetendo a década de 30 do século XX,
onde começou a lançar documentos que mostravam a preocupação com a má
29 A Bíblia Sagrada é um dos Best-Saller mais vendidos dos últimos tempos com uma venda de 3,9 a
6 bilhões de exemplares comercializados. Disponível em <http://noticias.r7.com/blogs/andre-
forastieri/2012/05/08/biblia-lidera-a-lista-dos-10-livros-mais-lidos-nos-ultimos-50-anos/>, Acesso em
04/02/2013. 30 O Concílio Vaticano II foi um Concílio Ecumênico da Igreja Católica, tendo convocação em
25/12/1961, e que terminou em 08/12/1965, e visto, para o Papa João Paulo II como "um momento
de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo”. Disponível em:
<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2000/jan-mar/documents/hf_jp ii_spe_200
00227_vatican-council-ii_po.html> Acesso em setembro/2012.
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utilização desses meios pela população, e que iriam atingindo a moral e os bons
costumes nas famílias cristãs (SOLON, 2010).
Estes documentos colocavam que estas novas formas de se comunicar
deveriam ser utilizadas para a propagação da fé cristã e seus dogmas. E isto é visto
claramente no documento lançado em 1936 pela Igreja Católica na Encíclica
Vigilanti Cura31 (1936) “[...] Toda a arte nobre tem como fim e como razão-de-ser,
tornar-se para o homem um meio de se aperfeiçoar pela probidade e virtude; e por
isso mesmo deve ater-se aos princípios e preceitos da moral [...]”.
No caso do cinema, o olhar da igreja foi bastante crítico, pois a mesma o
alocava como sendo um meio com grande poder de influência na vida dos jovens e
que atacava fugazmente a família. Chamando os fiéis a serem ‘os olhos e ouvidos
da Igreja’, ou seja, vigilantes da moral pregada pela Igreja, com o intuito de serem
fiscais dos filmes em cartaz da época, podendo assim, como a própria igreja fala
‘separar o joio do trigo’.
Mas isto não quer dizer que a Igreja era contra os meios de comunicação, já
que a mesma começou a utilizá-los com o intuito de combater os males do século:
divórcio, traição, pudor, dentre outros.
Um exemplo desta utilização foi o lançamento em 1931 da Rádio Vaticano.
E mesmo sendo um meio utilizado pela Igreja, ainda era vista como algo profano e
sagrado, pois no Brasil o pioneiro da rádio foi o Padre Roberto Landell de Moura,
conhecido como “o pai brasileiro da rádio”.
Assim, como Campos (2004) já nos falava de que a religião e a rádio tem
uma estreita relação de aproximação, já que a primeira transmissão feita por rádio
foi de mensagens religiosas, e até os primórdios este tipo de evangelização é
levada para a população através das rádios.
Com o Concílio Vaticano II, a comunicação começou a ser vista com outros
olhos pela Igreja Católica, surgindo assim, mudanças nas linhas de pensamento
desta grande instituição, e começou-se a verificar um leque de possibilidades da
31 O Inter Mirifica é um decreto do Concílio Vaticano I, aprovado em 04 de dezembro de 1963, pelo então Papa Paulo VI, e que teve a intenção de falar sobre os meios de comunicação social, sendo de suma importância para o desenrolar da história da religiosidade católica midiática. Este decreto foi aprovado por 1.960 votyos a favor e 164 contra, dos bispos presentes neste concílio.
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utilização dos meios já existentes para a transmissão da sua mensagem, a
transmissão da palavra de Deus, e começando a se tornar um ato midiático.
[...] A Igreja com este decreto manifesta sua capacidade de unir a vida interior à exterior, a contemplação, a oração ao apostolado... Os meios de comunicação social são já inseridos como meio e documento no exercício do ministério pastoral e da missão católica no mundo [...] (Papa Paulo VI, Inter Mirifica, 1965, p.3).
Inicia-se, então a preocupação em formação de Pastorais de Comunicação,
orientações para seus fiéis para a utilização dos meios de comunicação de forma
que possam ser passadas claramente e de possível acesso. Isso pode ser
claramente observado nos documentos lançados, em especial o ‘Documentos
Finales de Puebla’ (1979): “A Igreja tem sido explícita na doutrina referente aos
Meios de Comunicação Social, publicando numerosos documentos sobre a matéria,
ainda que tenha sido tarde para praticar esses ensinamentos” (DOCUMENTOS
FINALES DE PUEBLA, 1979).
A Igreja começa a se questionar até que ponto o seu tradicionalismo deveria
ou não ser reavaliado, já que qualquer que seja a instituição, ou meio de massa,
que almeja ver o crescimento de seus fiéis a cada dia, não pode insistir em métodos
retrógrados, e assim colocar em risco a sua hegemonia, pois segundo os dados do
IBGE de 2010, a Igreja Católica hoje tem 123,3 milhões32 fiéis que se caracterizam
cristãos, e cerca de 64,6% que se consideram católicos no Brasil.
O Decreto Papal Inter Mirifica, mesmo com mais de 40 anos de existência,
gerou bastantes frutos para toda a Igreja Católica, pois foi a partir deste documento
que a Igreja, no Pontificado do Papa João Paulo II, se abriu para a questão da
Comunicação Social, gerando acontecimentos marcantes dentro da Igreja, tais
como: a criação do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, a Criação do
Dia Mundial das Comunicações Sociais, que tem como função levar aos fiéis
católicos ou não, anualmente, uma mensagem com temas voltados para a
comunicação. E além da criação de pastorais de comunicação nas dioceses,
32 Dados IBGE 2010. Disponível em: < htp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Carac teristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf> Acessado em Set/2012.
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paróquias constituídas por leigos e a utilização dos rádios, imprensa, da televisão, e
da internet para a divulgação das suas diretrizes.
Segundo nos fala Patriota no seu texto: ‘Mídia e religião: 82hs de missas,
cultos, pregações e exorcismos’ sobre a comunicação religiosa (2004, p.4 - apud
ARÊAS, 2007, p. 17) “Na contemporaneidade a comunicação religiosa assumiu
novos contornos com a utilização dos meios de comunicação de maciça. Hoje as
igrejas encontram-se irremediavelmente submersas nas parafernálias de símbolos e
apelos midiáticos”.
Os Papas dos séculos XX e XXI, na pessoa de João Paulo II, Bento XVI
(Papa Emérito) e o atual Papa Francisco, atentos as transformações e inovações
tecnológicas buscam se organizar e a funcionar segundo a lógica da mídia, através
do surgimento da nova religiosidade, a religião midiática. Um dos grandes exemplos
desta grande mudança é com relação ao investimento do PIB do vaticano, que é de,
atualmente, quase 10% para a área de Comunicação, investimentos estes voltados
principalmente para o rádio, onde se encontram inúmeras rádios para dezenas e
dezenas de países33.
Temos como exemplo a criação de várias emissoras de televisão católicas,
tais como a TV Canção Nova, TV Século XXI, TV Aparecida do Norte, vários rádios,
como é o caso da Rádio Rural de Mossoró, na nossa cidade, a qual faz parte da
RCR – Rede Católica de Rádios. Começando a oferecer não só a transmissão da fé
católica, mas também uma interação midiática entre os fiéis e os locutores, além de
serem locais de propagação dos ‘produtos’ religiosos, fazendo com que assim
aumente a procura e a venda destes.
Podemos mostrar que estas diretrizes apresentadas foram seguidas a risca
pelos seus representantes, e podem ser comprovadas com o surgimento de
grandes nomes no meio religioso, de padres, principalmente, comunicadores e
pregadores, tendo como intuito propagar a fé cristã através de produtos lançados
nos meios midiáticos, começando com Pe Zezinho, Pe Antonio Maria – “padre dos
famosos” – seguidos por Pe Marcelo Rossi, o Pe Reginaldo Mansotti, Pe Fábio de
Melo, Pe Robson, dentre tantos outros.
33 Acesso Secreto – O Vaticano – Documentário doThe History Channel – Disponível em < htp://www.youtube.com/watch?v=QYOa4RWCxKw> Acessado em 02/04/2013.
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Pe Marcelo Rossi, se destacará aqui, por entendermos que este é um
fenômeno, não só como propagador na mídia da religião cristã católica, sendo
também um grande utilizador das mídias de comunicação de massa com o
propósito de evangelizar a massa, através da divulgação dos seus produtos, se
tornando um verdadeiro produto cultural contemporâneo, onde nos deteremos no
próximo item.
3 PADRE MARCELO ROSSI COMO SER MIDIÁTICO E PRODUTO CULTURAL
O ser humano sempre procura na religião respostas para os seus
questionamentos e lamentações, e uma referência para sua vida, e hoje isso não é
diferente. Com todos os meios de comunicação existentes, tornou-se fácil para os
indivíduos ‘se aproximar de Deus’. Esta cultura religiosa afeta não só o ser religioso,
mas também o ser social, pois com a transmissão pela mídia de imagens,
‘verdades’, opiniões e símbolos, o ser social com as suas necessidades faz surgir à
produção pelo próprio mercado de produtos que possam satisfazer as suas
necessidades espirituais.
A midiatização afeta as práticas sociais e as práticas religiosas,
contribuindo, assim, para uma nova experiência renovada, se tornando um produto
cultural contemporâneo e visto como um novo modo de fazer religião hoje, sendo
um divulgador midiático dos produtos culturais religiosos, como nos explica Armand
& Mattelart (2008, p.77) sobre indústria cultural:
[...] Em meados dos anos 40, Adorno e Horkheimer, criam o conceito de indústria cultural. Analisam a produção industrial dos bens culturais como movimento global de produção da cultura como mercadoria. Os produtos culturais, os filmes, os programas radiofônicos, as revistas ilustram a mesma racionalidade técnica, o mesmo esquema de organização e de planejamento administrativo que a fabricação de automóveis em série ou os produtos de urbanismo [...] (ARMAND & MATTELART, 2008, p.77).
Com o uso dos meios de comunicação pela religião, que sai do seu âmbito
institucional passando para a esfera midiática, a Igreja representa uma
reconfiguração do sentido dessa massa que passa a ser reproduzida pela tela da
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TV aos vários lugares, residência, hospitais, presídios, sendo comercializadas pelos
meios para serem transmitidas em seus horários, passando assim a ser produtos de
massa.
O Padre Marcelo Rossi, exemplo desta transformação e industrialização da
fé católica, tornou-se padre em 1994, e começou a realizar os seus trabalhos na
Zona Sul de São Paulo, sempre de forma alegre, cativante e motivadora,
preocupando-se em fazer o trabalho espiritual ajustado ao social.
As suas celebrações começaram a atrair inúmeros fiéis que antes estavam
longe da igreja, em especial os jovens, com temas fortes tais como ‘Saudade Sim,
Tristeza Não', fazendo referência ao dia de finados. E este ato, em especial, que
teve seu início em 1999, com a participação de aproximadamente 600 mil pessoas,
contando ainda com grandes nomes da música brasileira e religiosa, foi feito de
forma inovadora para a data comemorativa, com muitas músicas alegres e
cativantes, além de ser transmitida pela emissora dede grande porte televisivo como
a Rede Globo.
Com as suas celebrações alegres, diferentes, animadas e comunicadoras, e
sempre chamando a atenção para temas referentes ás necessidades do povo,
começou a sensibilizar os ouvintes e também os praticantes da fé católica sobre os
temas atuais do povo, fazendo surgir, grandes seguidores, admiradores, devotos de
várias idades, e curiosos deste novo modelo de transmissão da fé católica através
da mídia.
[...] Santo Agostinho dizia que: ‘Quem ama canta e quem canta reza duas vezes’. Todo tipo de música aproxima as pessoas, por isso, não podemos ter preconceito, desde que ela seja bem utilizada. Uma faca na mão de um cirurgião pode salvar uma vida, mas na mão de um assassino... Então, o que é importante é levar o jovem a conhecer Cristo e, com certeza, a música é um grande instrumento para isso [...] (ROSSI, 2006)34.
O seu desempenho na transmissão da fé através das celebrações, nada
convencionais, da liturgia católica – as ‘Missas Shows’ – fez com que ocorresse
34 Fala de Pe Marcelo Rossi em entrevista ao site Canção Nova em 10/08/2006 – Disponível em: <http://www.cancaonova.com/portal/canais/entrevista/entrevistas.php?id=331>, Acesso em Set/2012.
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uma renovação no modo de se comunicar e transmitir os ideais católicos, além de
sua grande popularidade, chegou a todos os meios de comunicação, alcançado até
a briga de emissoras da época, Globo X SBT, como podemos comprovar na edição
de 04 de Nov. 1998, da revista Veja (JUNQUEIRA, 1998).
E Padre Marcelo Rossi utilizava-se destes meios, e dessa ‘briga’ por
audiência para propagar a sua fé, além de propagar e publicitar, como nunca visto,
os ‘produtos’ litúrgicos católicos que levavam a sua marca. A sua participação nas
emissoras televisivas, não é ligada somente ás emissoras tradicionais mas também
a emissoras religiosas, onde o mesmo apresentava, e apresenta até hoje, a missa
dominical, o terço bizantino, dentre outros. Este último produto nos mostra
claramente que as suas atividades e produtos lançados são produtos culturais
contemporâneos. Como afirma Folletto (2001):
[...] Padre Marcelo Rossi revelou-se um importante personagem revelado pela mídia. O processo em que isto ocorre é característico de um produto cultural de massa, visando, sempre, atingir o maior público possível. Para isto se explora o carisma e a desenvoltura do personagem através de rituais e discursos que se repetem a exaustão. [...] Padre Marcelo conquista não apenas a simpatia do público, mas, também, toda a mídia brasileira. [...] E com essa mesma mídia apresenta para o mundo, um novo mito para a cultura de massa [...] (FOLLETTO, 2001, p. 35. In: RAMOS, Roberto. (Org.))
O Terço Bizantino, rezado pelo Padre Marcelo Rossi com o público pela
saúde, pelo trabalho, pela fé e pela família brasileira, é como nos explica
Sebastião35 (2010):
[...] A oração através deste terço é uma forma de se chegar à libertação que o nome de Jesus pronunciado constantemente traz ao nosso ser em sua totalidade [...] depois de escolhido o tema, você repetirá dez vezes cada jaculatória (frase). [...] (SEBASTIÃO, 2010).
Este terço acabou se tornando uma marca registrada, com o intuito de
comercializar os seus artigos religiosos, surgindo uma imensa variedade de
35 Disponível em: <http://vozdaigreja.blogspot.com.br/2000/01/aprenda-rezar-o-terco-bizantino_28.html> Acessado em 26/03/2013.
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produtos com a marca de Pe Marcelo Rossi, tornando-se então o ‘garoto
propaganda da igreja católica’. E segundo Barichello e Flores (2010, p.55), “A
religião passa a ter na mídia um dos seus campos de atuação e passa também a
assumir para si lógicas midiáticas que não ficam restritas aos contextos virtuais [...]
e também nos seus ambientes e modos tradicionais”.
O mercado religioso da fé, através dos produtos do Pe Marcelo, para os
receptores fiéis é o meio encontrado por estes para formularem os seus
sentimentos, desejos e a busca de aquisição das orações, terços, CDs, para
poderem reproduzi-los em suas casas, famílias, ou até mesmo presentear. Assim, a
Igreja é vista não como produto e sim, como nova dinâmica/atividade, constituindo-
se assim, um novo modo de união entre Igreja e seus fiéis.
Outro meio utilizado pelo padre é a rádio, onde apresenta programas que
mantém uma grande aproximação com o seu público, transmitindo vários momentos
de fé, reflexão e louvor. O curioso na utilização deste referido meio de comunicação,
é que o mesmo é reproduzido em várias emissoras de rádio no Brasil, além de ter
se tornado líder de audiência. No seu programa “Momento de Fé”, na Rádio Globo,
ocorre uma super valorização neste espaço de tempo, onde o período de
publicidade é o mais caro da rádio.
E segundo a idéia de Habermas, “o cidadão tende a se tornar um
consumidor de comportamento emocional e aclamatório, e a comunicação pública
dissolve-se em ‘atitudes, como sempre estereotipadas, de recepção isolada” (apud
ARMAND & MATTELART, 2008, p. 84-85).
O fato é que hoje observamos na maioria dos países capitalistas, que a
mídia veicula uma forma comercial de cultura, e mesmo que não seja o intuito desta
a produção de lucros, a mesma por entrar na indústria cultural de massa desenvolve
produtos que levadas para a cultura da mídia acabam por se tornar fontes de
recursos e materiais para o desenvolvimento da identidade de massa.
Este diferencial nos mostra que os produtos vendidos por Pe Marcelo Rossi,
ou seja, o Programa Momento de Fé abrange um grande contingente de ouvintes,
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pois a rádio, mesmo sendo um dos meios de comunicação mais antigo, torna-se um
desbravador de tempo e espaço, que vai além fronteiras. E assim, utilizando-se
desses meios de comunicação, às práticas religiosas midiáticas tomam para si este
pensamento, tornando-as uma vivência religiosa construída através de experiências
pontuais.
E isso ocorre, pois o produto cultural, nada mais é que bens culturais que se
tornam mercadorias comercializadas na mídia, aceitas e reproduzidas pela
população de massa, para satisfazer as inúmeras demandas e gostos, e assim
responder as necessidades apresentadas por esta cultura.
No meio de comunicação mais recente, a internet, o Pe Marcelo, utiliza-se
também deste instrumento através do seu site, que tem como intuito ser um
complemento do seu programa de rádio, além de ser um instrumento onde as
pessoas possam pedir orações, acessar o Terço da Misericórdia virtual, acender
velas virtuais, acompanhar o programa de rádio, dar sugestões, elogios e críticas
para o bom desenvolvimento do seu programa, e também poderem comprar CDs,
DVDs, livros, dentre outros produtos.
Outros produtos culturais, produzidos por Pe. Marcelo Rossi, são os seus
filmes, os CDs, DVDs e livros que retratam a fé católica no meio midiático. No seu
último CD ‘Ágape Amor Divino’, o mesmo se utilizou de várias participações
especiais de cantores que estavam na mídia e são bem quistos pela grande maioria
da população, dentre estas participações podemos citar: Belo, Xuxa, Padre Fábio de
Melo (outro ícone da música religiosa católica), Alexandre Pires, dentre tantos
outros famosos.
Como nos fala Barbosa Filho (2009, p.30), “os indivíduos são diretamente
atingidos e influenciados pela mensagem veiculada pelos meios de comunicação de
massa”, e sendo assim, é por causa desta grande influência que o Padre Marcelo
Rossi é tão querido e admirado pela cultura de massa, por trazer para eles uma
mensagem clara e objetiva, e ser feita para e com os seus fiéis, além de ser uma
mensagem de fácil acesso para todos os níveis sociais, estando nas redes sociais,
twitter, facebook, Orkut.
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Um dos exemplos deste ponto são as músicas de Padre Marcelo, pois em
1999, a sua música ‘Erguei as mãos’ começou a ser utilizado nos bailes de
carnaval, em trios elétricos do carnaval da Bahia – e de todo o Brasil - se tornando
uma febre no ‘meio pagã’, e essa grande aparição na mídia fez com que os seus
CDs triplicassem as vendas, na Revista Veja de fevereiro de 1999, (JUNQUEIRA,
1999), quando questionado sobre a utilização das suas músicas em locais tão
‘profanos’ como o carnaval, Padre Marcelo Rossi diz que “Se a minha música está
levando as pessoas ao encontro de Jesus eu devo dar glória Deus”.
Mas o diferencial do Padre Marcelo Rossi para os cantores que estão na
mídia, é que, o mesmo tem o intuito de está na mídia não só para a divulgação dos
seus produtos e sua promoção individual, mas principalmente para a evangelização,
a promoção da fé católica, da doutrina da igreja, se tornando um ‘artista de Jesus’.
E mesmo que a Igreja não tenha interesse em obter o lucro, com seus
produtos, como uma produção cultural de massa, tende ao crescimento e portanto,
ficará destinada ao consumo maciço pelo público de massa.
Assim sendo, a religiosidade midiática, aqui apresentada e analisada do Pe
Marcelo, segue as funções dos meios de comunicação apresentadas por Lasswell36,
(1987, apud Barbosa Filho, 2009), onde o meio de comunicação deve ser vigilante,
de integração e educativo.
Todos os materiais produzidos por Padre Marcelo Rossi têm uma
organização, padronização, um grande público, sendo envolvido em vários meios de
comunicação, tais como os programas de TV, as transmissões das missas, as
orações diárias, a reza do terço bizantino, os shows e shows-missas, filmes,
programas de rádio com mensagens, as reflexões, os livros, os CDs e DVDs, as
páginas do facebook e twitter, todos são reproduzidos e estão nas lojas, shoppings,
grandes magazines e internet para serem comercializados tendo assim a marca da
indústria cultural, tornando-se um produto cultural.
36 LASWELL, Harold, 1987 apud FILHO, 2009, p. 31.
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A indústria cultural fornece por toda a parte bens padronizados para satisfazer às numerosas, demandas, identificadas como distinções às quais os padrões da produção devem responder. Por intermédio de um modo industrial de produção, obtém-se uma cultura de massa feita de uma série de objetos que trazem de maneira bem manifesta a marca da indústria cultural: serialização-padronização-divisão do trabalho [...]. (ARMAND & MARTELLATI, 2008, p. 77-78).
Padre Marcelo, com a sua prática religiosa na mídia, que tem objetivo de
evangelizar e levar a mensagem cristã na medida em que usa os meios de
Comunicação Social, passa a não só transmitir a fé, mas também visar á mídia
como um veículo comercial da cultura cristã, através do consumo destes produtos
pela sociedade de massa, e assim transformando-o numa possibilidade de
interação, e adquirindo um poder sobre a sociedade e o terreno que a dominam
economicamente, segundo Adorno e Horkheimer (1947, apud Amand & Mattelart,
2008). Portanto, ele passa a se tornar um personagem criado pela própria mídia,
tornando-se industrial/comercial, a fim de conquistar um número maior de público
através dos seus produtos culturais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pudemos observar que mesmo a Igreja tendo uma crítica severa,
inicialmente, sobre as mídias de comunicação, começou a se tornar um meio
midiático, e consequentemente produziu produtos culturais contemporâneo, através
da massificação dos seus produtos, tornando-os mais acessíveis a massa, e assim,
a sua reprodutividade além fronteira.
E a utilização pela Igreja Católica dos meios de comunicação, transformou-a
em canais de transmissão, ganhando novas possibilidades de apresentação,
acontecendo de forma ativa através da utilização dos mecanismos e características
de produto cultural, onde cada produto aqui analisado, através do Padre Marcelo
Rossi, tem uma aparência concreta e flexibilidade da religiosidade, trazendo para os
seus fiéis/seguidores, mais formas de se aproximarem da doutrina da Igreja
Católica, através da acessibilidade dos seus produtos.
Entendemos então que Padre Marcelo Rossi, não seria o único a produzir
produtos culturais, seria sim, mais uma forma da Igreja continuar com a sua
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hegemonia e aumentar o número de seus fiéis, além de conseguir novas
possibilidades de se encontrar com eles, sem ficar restrita somente ao mundo físico,
ou seja, templos. E os produtos culturais contemporâneos de Padre Marcelo Rossi,
que tentamos passar neste artigo, abre um leque de análises sobre os seres
midiáticos que estão sendo produzidos pelas Igrejas, em especial aqui a Igreja
Católica, no nome de Padre Marcelo Rossi.
Assim, nos questionamos até que ponto a mídia pode se utilizar de algo tão
‘profundo’ e ‘sagrado’ para alguns, explorando o seu carisma e a sua desenvoltura,
somente com o intuito de atingir o maior público possível e assim satisfazer todos os
interesses e gostos, além de obter o máximo de consumo, já que a internet, por
exemplo, é um novo modo de assumirmos estes novos valores, ações religiosas,
além fronteiras, deixamos brechas pára novos estudos sobre a midiatização da
religiosidade.
REFERÊNCIAS
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MONTAIGNE: UM PENSADOR DA MORTE EM CONFORMIDADE COM O CRISTIANISMO?
Antoniel Alves da Silva
Licenciado em Filosofia (FAFIC/UERN). Graduando no segundo período do curso de Teologia da Faculdade Diocesana de Mossoró - FDM
E-mail: [email protected]
RESUMO O presente artigo tem por objetivo analisar a questão da morte no pensamento do filósofo francês Michel de Montaigne. Partimos da seguinte problemática: Montaigne, ao refletir sobre a morte equipara sua reflexão com a doutrina cristã? Utilizamos como referência a obra Ensaios, além de comentadores especializados em Montaigne e consequentemente para relacionar seu pensamento com o cristianismo, recorremos a fontes da doutrina cristã católica como o catecismo e teólogos que pensaram a morte como Leonardo Boff. Veremos que a finitude humana ganha destaque na filosofia de Montaigne. O autor dos Ensaios deixará claro que a morte é condição implícita na vida humana e que não devemos ter medo desse momento. De fato, é assim que Montaigne tenta definir a morte, como um momento. Porém, jamais poderemos nos esquivar deste encontro, pois só há duas certezas acerca da morte: a de que ela é inevitável e a de que ela é imprevisível. O momento derradeiro de nossa existência é assunto de tantas religiões e crenças. O pensamento montaigniano, no que diz respeito à morte, também está de certa forma ligada à concepção de morte do Cristianismo, a qual revela que morrer não é uma maldição, mas sim uma passagem do transitório para o eterno. PALAVRAS-CHAVE: Homem. Morte. Cristianismo.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O homem está no mundo e nele caminha em busca de uma finalidade, a de
ser feliz. Procura nas mais diversas coisas algo que possa suprir seus anseios
vitais, porém nessa busca da felicidade este mesmo homem se esquiva da ideia de
vida e suas capacidades são limitadas. Na constante busca pelo viver bem é
esquecido o aniquilamento de nossa existência enquanto seres viventes neste
mundo.
Ao refletirmos sobre a morte na filosofia de Montaigne queremos entender
como podemos viver bem sem temer o nosso fim, refletir sobre a nossa finitude, em
especial nos dias atuais, é trazer à tona o medo que o próprio homem carrega
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dentro de si. Pelo que nos parece nascemos para viver, como se a morte não
fizesse parte da trajetória da vida, ou porque não dizer, a culminância da vida.
Partindo dessas considerações, o trabalho consiste em comparar a
concepção de morte na filosofia de Montaigne com a concepção de morte do
cristianismo. Buscaremos compreender o comportamento humano acerca da morte,
de forma que, transportando essa reflexão sobre o homem feita por Montaigne no
século XVI, para os dias atuais e, comparando sua equivalência com os
ensinamentos cristãos, possamos entender ou pelo menos nos ajudar a refletir
sobre o indivíduo, deixando-nos claro alguns aspectos da condição humana e da
morte. Para isso, faz-se necessário entender a concepção montaigniana de morte,
analisar o medo incutido no homem acerca da morte e consequentemente
compreender a morte como um momento e não como uma expectativa que nos
priva de viver.
Por fim, nos deteremos em comparar o pensamento montaigniano com o
cristianismo, tentando perceber o que em ambos há de equivalente. Essa
comparação nos ajudará em uma reflexão não simplesmente de tempos remoto,
mas, sobretudo nos dias atuais. A morte não fora assunto unicamente na gênese da
idade moderna, desde que o homem toma consciência de sua finitude ela se torna
objeto de reflexão. Pensar a morte na atualidade seria trazer ao homem da pós-
modernidade uma possibilidade de pensar a sua finitude e consequentemente as
ações do seu dia a dia em busca de uma vida justa e feliz.
1 A MORTE COMO QUESTÃO FILOSÓFICA
A finitude humana toma um lugar relevante nos escritos de Michel de
Montaigne, chegando ele mesmo a assumir sua real predileção por esse tema
quando diz: “Também se tornou em mim um hábito não somente ter sempre
presente a ideia da morte como também falar dela constantemente”. (MONTAIGNE,
1980, p.48). É notória a intenção de uma reflexão sobre aquilo que nos é inevitável.
Levando em consideração o medo de tal destino, Montaigne procura em sua
filosofia, refletir o comportamento do homem ao encontrar o momento último.
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A busca por essa reflexão é conduzida pelo desejo de viver bem; devemos meditar
sobre à nossa condição e só assim, tendo consciência de suas limitações,
poderemos prosseguir sem temer.
Antes de começar uma análise mais apurada sobre a morte,
contextualizaremos o pensamento do filósofo, ou seja, a partir de que pressuposto
Montaigne começa e refletir sobre a morte. Não é claro nos seus escritos o
momento exato que ele inicia suas reflexões no que concerne à finitude humana.
Porém, podemos assinalar como momento marcante a morte do seu grande amigo
La Boétie.
Em suma, isso a que chamamos comumente amigo e amizade não passam de ligações familiares, travadas ao sabor da oportunidade e do interesse e por meio das quais nossas almas se entretêm. Na amizade a que me refiro, as almas entrosam-se e se confundem em uma única alma, tão unidas uma à outra que não se distinguem, não se lhes percebendo sequer a linha de demarcação. (MONTAIGNE, 1980, p. 8).
Essa figura de amizade tão encantadora e idealizada por Montaigne refere-
se ao seu amigo La Boétie. Após presenciar a morte do seu grande companheiro,
Montaigne passa a pensar a morte, pensamento esse que não se traduz em um
sentimento de tristeza, mas sim em pensar a morte como algo que está a nos
esperar e, sobretudo, viver uma vida sem nos preocuparmos com o fim último de
nossa existência.
1.1 “DE COMO FILOSOFAR É APRENDER A MORRER”
Dentre os 107 capítulos dos três livros que compõem os Ensaios, o “De
como filosofar é aprender a morrer” é o que se detém de forma contundente no
tema da morte. Embora Montaigne retorne a esse assunto diversas vezes no
decorrer dos seus escritos, é neste que encontramos de forma incisiva o
pensamento do filósofo a respeito do fim último de nossa existência.
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De fato, tomado isoladamente, Que filosofar é aprender a morrer é certamente o texto em que o filósofo renascentista trata o problema de forma mais extensa e profunda. Nele, o tema da morte não divide espaço com nenhum outro assunto. Aqui, mais do que nunca, a morte é o centro absoluto das atenções de Montaigne. (DUARTE, 2012, p. 47)
O título do capítulo não é de origem do próprio Montaigne. Ao iniciar o
capítulo, ele anuncia que essa expressão é emprestada do filósofo Cícero1,
deixando isso bem claro quando cita a seguinte passagem: “Diz Cícero que filosofar
não é outra coisa senão preparar-se para a morte”. (MONTAIGNE, 1980, p. 44).
Qual o objetivo de retornar a essa expressão? Em que sentido a filosofia é
um preparar-se para morte? Essas são questões que permeiam o pensamento do
leitor e que iremos de forma sucinta, mostrar o porquê de Montaigne usar essa
expressão de Cícero para intitular o seu capítulo.
A tese de abertura de que filosofar é aprender a preparar-se para a morte: “[A] de certa forma o estudo e a contemplação retiram nossa alma para fora de nós e ocupam-na longe do corpo, o que é um certo aprendizado e representação [ressemblance] da morte”; “toda sabedoria e discernimento [discours] do mundo se resolvem por fim no ponto de nos ensinarem a não termos medo de morrer. (DUARTE, 2012, p. 50).
Ainda segundo Duarte a ideia de morte de Montaigne se aproxima da ideia
de Platão no Fédon. Montaigne ao usar a expressão de que filosofar é aprender a
morrer estaria exclusivamente se referindo ao pensamento platônico. Em outras
palavras, o filosofar se assemelharia com a morte do ponto de vista que ambas,
morte e filosofia, teria por objetivo o afastamento corpo/alma. Sendo assim, a prática
do filosofar, as reflexões, as contemplações, nada mais são do que um ensaio para
o momento último. O ato de filosofar seria aqui, como que uma experiência de
morte.
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A prática filosófica, centrada na contemplação e no estudo, se assemelharia a esta experiência, na medida em que se dedica apenas à atividade da alma, deixando de lado as necessidades corporais. Isto é, filosofar, segundo a definição platônica, significa um afastamento do corpo e uma atenção exclusiva ao conhecimento, que está na alma. (DUARTE, 2012, p. 50).
Essa hipótese, que podemos aludir ao dualismo platônico, só é expressa
por Montaigne no início do capítulo “De como filosofar é aprender a morrer”. Dessa
forma, não podemos dogmatizar uma interpretação partindo de tão poucos
pressupostos. Na grande parte do referido capítulo, o qual estamos analisando,
Montaigne, assim como em toda sua obra, visa o viver bem do homem. A reflexão
sobre a morte tem como finalidade, mesmo que pareça paradoxal, o viver bem.
Para esse viver bem, tão defendido por Montaigne, é necessário nos
livrarmos dos tormentos, ou da angústia pela espera da morte. Segundo Duarte,
para Montaigne nossa vida deve ser orientada para o enfrentamento e
consequentemente, a superação do medo da morte. (2012, p. 52).
1.2 O MEDO DO INEVITÁVEL: A MORTE
Para falar do medo da morte, que tanto preocupa o homem, vejamos no
pensamento de Montaigne o que ele pensa a respeito de tal acontecimento. Na
visão do filósofo “as pessoas se apavoram simplesmente com lhe ouvir o nome: a
morte! E persignam-se como se ouvissem falar do diabo.” (MONTAIGNE, 1980, p.
45). Como então falar sobre a morte se esse tema é tido como um tabu?
No decorrer do capítulo De filosofar é aprender a morrer, inferimos que
autor expõe algumas características que fazem com que a morte seja temível ao ser
humano. Podemos enumerar duas, a morte como um acontecimento inevitável e a
morte como algo imprevisível. Ambas características são, segundo Montaigne,
esperas angustiantes para o homem. Essa reflexão amedronta o indivíduo que a
aguarda, pois refletir sobre o fim último de nossa existência não seria uma
discussão nada agradável aos ouvidos de quem quer ter uma vida feliz.
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Considerando a primeira característica Montaigne recorre aos filósofos da
antiguidade Cícero e Horácio para fundamentar sua ideia, e Assim se expressa:
E ela própria é inevitável: “Marchamos todos para a morte; nosso destino agita-se na urna funerária; um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, o nome de cada um dali sairá e a barca falta nos levará a todos ao eterno exílio.” Portanto, se receamos, temos nela um motivo permanente de tormentos e andaremos como em país inimigo a deitar os olhos para todos os lados: “ela é sempre uma ameaça, como o rochedo de Tântalo1”. (MONTAIGNE,1980, p. 45).
Somos seres para morte. Isso é algo que jamais mudaremos. Estamos no
mundo, vivemos, somos geridos para esse encontro que mais dia menos dia nos
depararemos. “A meta de nossa existência é a morte; é esse o nosso objetivo fatal”.
(MONTAIGNE, 1980, p.45). Vemos, dessa forma que, para o filósofo em questão,
somos seres que vivemos e o percurso dessa vida tem como destino a morte.
Somos certos de nosso fim, pois faz parte de nossa condição finita. Se existimos
temos duas certezas, a de que vivemos e a de que um dia morreremos, essa seria
como que uma lei para Montaigne.
Morrer é a própria condição de vossa existência; a morte é parte integrante de vós mesmos. A existência de que gozais participa da vida e da morte a um tempo; desde o dia do vosso nascimento caminhais concomitantemente na vida e para a morte: “a primeira hora de vossa vida é uma hora a menos que tereis para viver”. (1980, p. 49).
Outro aspecto a ser destacado, no vigésimo capítulo do primeiro livro dos
Ensaios, é a ideia da morte como momento inesperado, ou seja, o homem não pode
prever o momento de sua partida definitiva. A cada momento podemos nos
encontrar com ela sem que estejamos esperando-a. “Não sabemos onde a morte
nos aguarda, esperemo-la em toda parte”. (MONTAIGNE, 1980, p. 47).
Montaigne retrata muito bem em suas reflexões as formas surpreendentes
que a morte pode nos envolver. Ao falar dos diversos males que assolam a vida, ele
deixa de lado as doenças, a febre e as pleurisias e trata de momentos que poderiam
ser tidos como fúteis, sem relevância no cotidiano e que por eventualidade ceifaram
a vida de tantos homens.
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Ésquilo, advertido de que morreria da queda de uma casa, embora dormisse em um campo de trigo, foi esmagado por uma tartaruga caída das garras de uma águia. Houve que sucumbisse em consequência de uma semente de uva engolida; outro, imperador, morreu de uma arranhadura feita com um pente; Emílio Lépido em virtude de uma topada na porta de sua casa; Aufídio por ter batido com a cabeça no batente da entrada da sala do conselho. (MONTAIGNE, 1980, p. 8).
Em nosso ato de viver somos cercados por situações que nos oferecem
riscos, que podem marcar, definitivamente, o nosso fim. Estamos à mercê dos
acontecimentos e não podemos viver longe dos fatos constitutivos do nosso dia a
dia. A morte apresentar-se-á inevitavelmente a todos nós em momentos e situações
desconhecidas. É neste sentido que indaga o autor dos Ensaios quando se coloca a
refletir sobre esse medo do encontro com a morte. Para ele, como poderíamos dar
continuidade à vida se nos apavora o simples ecoar da palavra morte.
(MONTAIGNE, 1980, p. 45).
Esperamos por algo que, sem sombras de dúvidas, virá. Segundo
Montaigne, o que preocuparia o homem não seria exatamente a morte, mas seria,
sobretudo, o emprego do verbo o qual abre esse parágrafo. A espera pela chegada
do nosso fim é causa de tantos tormentos, de tanto medo, de tantas frustações.
Estamos à deriva e a qualquer momento podemos nos surpreender com a chegada
da tão esperada partida.
Só sentimos a morte pelo pensamento, tanto mais quanto é coisa de um instante: “ou a morte foi, ou será; nada é presente nela.” Ela é menos cruel do que sua espera. Milhares de homens, milhares de animais morrem sem se sentirem ameaçados. (MONTAIGNE, 1980, p. 8).
Inevitabilidade e imprevisibilidade são, deste modo, características daquela
que ceifa nossa existência. Nascemos com uma única certeza, a de que
morreremos. Vivemos na espera incessante de quando esse momento nos
assaltará. A morte como algo inevitável e inesperado é para Montaigne a causa do
medo incutido na vida do homem.
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A reflexão da morte deveria ser uma meta a ser alcançada no decorrer da
vida. O homem precisa pensar a sua vida, contudo, ser consciente de sua finitude.
Porém, como superar o medo da morte se sabemos que teremos esse encontro, e
mais ainda, não sabemos quando nem como isso acontecerá?
Montaigne apresenta uma forma de nos prepararmos para esse encontro e,
consequentemente, vencermos o medo que tanto nos apavora.
Tiremos dela o que tem de estranho; pratiquemo-la, habituemo-nos a ela não pensemos em outra coisa; tenhamo-la a todo instante presente em nosso pensamento e sob todas as suas formas. Ao tropeço de um cavalo, à queda de uma telha, à menor picada de alfinete, digamos: se fosse a morte! E esforcemo-nos em reagir contra a apreensão que uma tal reflexão pode provocar. Em meio às festas e aos divertimentos, lembremo-nos sem cessar de que somos mortais. (MONTAIGNE, 1980, p. 46).
Eis para Montaigne a forma de nos livrarmos do medo da morte: somos
chamados incessantemente a meditar sobre ela, refletir a nossa condição finita.
Trazer a reflexão de tal assunto para o dia a dia, ajudar-nos-á a enfrentá-la quando
chegar a hora definitiva. Sobre o trecho citado acima, Siqueira (2011, p. 34)
Ressalta:
Este é o trecho que melhor caracteriza a ideia de preparação para a morte enquanto um procedimento racional, uma atitude de constante alerta que se dedica incansavelmente ao exercício de imaginar todas as diferentes formas possíveis de morte, julgando isso suficiente para enfrentar aquela que eventualmente ocorrerá.
Conforme já mencionamos, somos, à luz do pensamento de Montaigne,
chamados a meditar sobre a nossa finitude, mas esse pensar não deve ser um
entrave para o viver bem. Estamos para viver, seja pouco ou muitos anos, a
duração não importa, não deve ser para nós motivo de preocupação o dia da nossa
partida. Devemos viver bem o tempo presente sem lamentar premeditando a partida
futura: “Qualquer que seja a duração da nossa vida, ela é completa. Sua utilidade
não reside na duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não
viveu”. (MONTAIGNE, 1980, p. 45).
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Notamos, assim, que a visão do filósofo renascentista sobre a morte não é
de desespero, nem algo que devemos temer de tal forma a deixar de viver. Pelo
contrário, devemos viver bem a cada momento não nos preocupando com o dia
final, refletindo sobre ele sim, mas sem jamais nos deixarmos atemorizar.
2 MONTAIGNE, O CRISTIANISMO E A MORTE
Ao analisar a morte na concepção montaigniana, evidenciamos um
pensamento muito próximo da concepção de morte adotada pelo cristianismo. Seria
Montaigne um pensador genuinamente cristão? Estaria ele, unicamente,
reproduzindo os ensinamentos do cristianismo?
Contrastando o pensamento de Montaigne e o pensamento cristão, tendo
em vista analisar até que ponto o autor dos Ensaios pensava em conformidade com
a doutrina cristã, no que diz respeito à morte. Montaigne era de família tradicional
católica e sofreu, obviamente, influência dos ideais cristãos, que se torna perceptível
quando ele afirma:
Nossa religião não teve alicerce humano mais sólido que o do desprezo à vida. E não é somente a voz da razão que a isso nos conduz, pois porque temeríamos perder uma coisa que, uma vez perdida, já não podemos lamentar? (1980, p. 49).
É de se inferir que em sua filosofia, Montaigne, além de recorrer aos
filósofos antigos, é ainda inspirado pelo pensamento cristão, sendo assim
influenciado por ambas as partes.
Quando Montaigne diz que todos estão fadados à morte e que esse é o
nosso destino inevitável, podemos perceber nisto uma linha de pensamento que
provém das sagradas escrituras, mais especificamente no livro do Eclesiastes
(cf.3,20) quando afirma que: “Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó
e tudo volta ao pó.”
Ainda no capítulo “De como filosofar é aprender a morrer”, podemos ver a
proximidade do pensamento de Montaigne com a tradição cristã no que diz respeito
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à morte. Os pontos de vista convergem, dando assim a perceber grande
proximidade do pensamento montaigniano com os ideais religiosos cristãos.
Que tolice nos afligirmos no momento em que nos vamos ver livres de nossos males! Nossa vinda ao mundo foi para nós a vinda de todas as coisas; nossa morte será a morte de tudo. Lastimar não mais viver dentro de cem anos é tão absurdo quanto lamentar não ter nascido um século antes. A morte é origem de outra vida. Nascemos entre lágrimas e muito nos custou entrar na vida atual. (MONTAIGNE, 1980, p. 49).
Nos ensinamentos doutrinais do cristianismo ainda nos dias atuais, prega-se
que o homem nasce destinado à morte, mas a morte não entendida como fim último
da existência, mas sim, como passagem para uma nova realidade. Passa-se do
contingente, efêmero, transitório, para o eterno.
Com relação a discursão sobre a questão da morte, podemos encontrar
uma posição semelhante no pensamento de um dos expoentes da teologia da
libertação da América Latina, no século XX, Leonardo Boff:
A morte é sim o fim da vida. Mas fim entendido como meta alcançada, plenitude almejada e lugar do verdadeiro nascimento. A união interrompida pelo desenlace não faz mais que preludiar uma comunhão mais íntima e mais total. A morte como fim-fim é verdadeira. Ela marca a ruptura de um processo. Cria uma cisão entre o tempo e a eternidade. (BOFF, 2002, p. 35).
Somos assim, levados a perceber que há uma aproximação do pensamento
de Boff com o de Montaigne. O fato é que ambos, embora respeitadas as distâncias,
definem a morte como o fim da vida, fim esse que está relacionado à transitoriedade
da vida.
A morte marca para os dois a ruptura do passageiro para o eterno. Em sua
filosofia, Montaigne deixa transparecer a sua crença na vida eterna, vida essa tão
difundida pelo cristianismo. Estamos no mundo, vivemos no mundo, mas não somos
para o mundo. Essa é como que uma máxima do cristianismo, ou seja, somos
predestinados à morte, momento esse que marca a passagem para uma nova
realidade.
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A concepção de morte como momento constitutivo no ser humano nos leva
a evidenciar a grande proximidade do pensamento montaigniano com o
cristianismo. Se para Montaigne a morte é algo inerente ao ser vivente, podemos
concluir que sua concepção comunga, ou pelo menos se aproxima de forma
explicita da doutrina cristã, entende-se por cristã a doutrina cristã católica, que
segundo seu catecismo caracteriza a morte como termo da vida terrena.
Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como fim normal da vida. Esse aspecto da morte marca nossas vidas com um caráter de urgência: a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordarmos que temos um tempo limitado para realizar nossa vida, (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 2009, §1007, p.284).
Aqui entendemos a preocupação cristã em buscar viver de tal modo a vida
que à aproveitemos o máximo possível. Essa prerrogativa cristã nos remete ao que
Montaigne tanto presou em sua filosofia. O autor dos Ensaios viver bem, viver feliz
para que no seu momento final fosse encontrado plenamente realizado, por isso,
compreendamos que a felicidade para Montaigne consiste em viver bem
(MONTAIGNE, 1980, p.373).
Poderíamos, assim, ter como máxima desta reflexão a inesgotável tentativa
do autor dos Ensaios de viver bem; neste sentido percebemos que a reflexão sobre
a morte na filosofia de Montaigne nada mais seria do que uma tentativa de viver
tranquilamente a sua vida sem se atormentar com aquilo que nos é inevitável e
imprevisível, para que, chegado o momento da partida definitiva estamos realizados
com o momento em que vivemos. No entanto, essa ataraxia1 montaigniana diante
da morte não foi bem aceita por todos os filósofos, exemplo disso é a crítica feroz
feita por Pascal (1979, p. 50) ao modo de Montaigne se comportar diante da vida:
“ora, ele só pensa em morrer covardemente, docemente, em todo seu livro”.
Reafirmamos, aqui, aquilo que expomos no início deste trabalho, a saber, a
proposição de que a morte é um dos temas que permeia quase toda a filosofia de
Montaigne. O filósofo procurou refletir a sua condição e nesta reflexão não poderia
lhe escapar a morte.
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Sendo assim, somos também condicionados a pensar a nossa finitude, mas
não como uma reflexão angustiante, antes disso, seja um refletir a vida em uma
perspectiva realista, na qual tenhamos consciência de nossas limitações e
aprendamos a viver sem temê-las. Temer a morte é temer a própria vida, vivemos e
por consequência disso estamos fadados à morte. A nossa procura deve consistir
em pensar a nossa finitude não como algo que limite o nosso viver, mas como mais
uma etapa no plano vital. Em outras palavras, devemos pensar a morte como meio
e não como fim em si mesma, isto é, como um transcender perene rumo ao fim
ultimo de todas as coisas criadas, ou seja, Deus principio e fim da vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema acerca da morte é perene na filosofia de Montaigne. Em suas
reflexões ele busca entender a vida, ou melhor, tenta encontrar um forma de viver
bem e feliz. Porém, esquivar-se da morte seria a condenação mediante o medo que
nos afastaria da felicidade. No cristianismo percebemos de forma clara que a morte
não deve ser causa de medo, mas momento de libertação de encontro com
felicidade que jamais sessa. Montenianismo e cristianismo asseguram que vivemos
de forma passageira, a vida é única, não teremos outra oportunidade, por isso,
devemos viver bem cada instante para que seja útil nossa existência nesta
realidade.
Sobre o fim da nossa existência Montaigne conclui que não há nada de
certo sobre o nosso aniquilamento, a não ser a certeza de que um dia a morte nos
alcançará. Neste sentido, o filósofo em questão diz haver duas certezas acerca da
morte, a de que ela é inevitável e imprevisível. Na concepção montaigniana o que
precisamos é ter consciência de nossa condição finita, porém essa consciência não
pode ser empecilho em busca da vida feliz.
Isso que acabamos de ver nada tem de antagônico ao pensamento cristão
no que concerne a morte. Mesmo Montaigne não sendo o pensador declaradamente
cristão, no sentido de pensar os ideais da doutrina cristã, percebe-se em seu
pensamento uma forte ligação com a doutrina vigente, a saber, o catolicismo.
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Por fim, inferimos a incondicionalidade da limitação da vida humana. A
razão, a inteligência, os bens, as glórias, enfim tudo aquilo que colocamos como
primordial e essencial torna-se inútil quando nos deparamos com a morte. Porém,
mais do que nos prendermos a um medo do momento ultimo de nossa existência,
devemos viver bem a cada momento, aproveitando a nossa existência, seja ela
curta ou duradoura. Estamos no mundo para viver e, se o fim da vida chegar, que
tenhamos vivido intensamente o tempo que nos foi concedido. À luz da filosofia de
Montaigne, percebemos a iminência do pensamento de viver a vida de tal forma e
aproveitá-la o máximo possível, buscar a felicidade não requer esquivar-se pensar a
morte; ao contrário, pensar o nosso fim como condição inerente à nossa existência
nos faz caminhar sem temer as intempéries da vida.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Português. Bíblia de Jerusalém. Trad. Domingos Zamanga [et al.]; 8. ed. São Paulo: Paulus, 2002. BOFF, Leonardo. Vida para além da morte. 21ª. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola. 2009. DUARTE, Tiago Barros. Leituras sobre o problema da morte nos Ensaios de Michel de Montaigne. Belo Horizonte, 2012. Dissertação de Mestrado originalmente apresentada na Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. HACQUARD, Georges, Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Trad. Maria Helena Trindade Lopes. Rio Tinto: Divisão Gráfica das Edições ASA, 1996. JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário Básico de Filosofia. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. Trad. Sérgio Milliet. 2ª. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os Pensadores). PASCAL, Bleise. Pensamentos. Trad. Sérgio Milliet. 2ª. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os Pensadores).
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UMA VISÃO SOBRE A FÉ NA SOCIEDADE METROPOLITANA NA ÓTICA DE MARIA FREIRE DA SILVA
Antoniel Alves da Silva Licenciado em Filosofia (FAFIC/UERN). Graduando no segundo período do curso de
Teologia da Faculdade Diocesana de Mossoró - FDM E-mail: [email protected]
RESUMO Desde os primórdios o ser humano expressa de alguma forma o seu ato de fé. O simples fato da esperança, dos anseios e das perspectivas de um possível acontecimento, imprimiam nos mais longínquos antepassados um resquício de actus fidei. Seguindo o percurso do tempo a fé sofre, de certa forma, as intempéries da adaptação de significados para corresponder aos anseios do contexto vigente. Mesmo o conteúdo da fé sendo irrevogável independentemente da época, viu-se a necessidade de readaptar a forma de transmissão desse conteúdo. Na pós-modernidade em especial nas grandes metrópoles se instaura um grande questionamento a respeito da fé. Afinal, o que significa ter fé numa sociedade metropolitana? Partindo dessa premissa, temos por objetivo analisar, à luz do pensamento da professora/doutora Maria Freire da Silva, a vivência da fé do cidadão metropolitano, de forma a entendermos o motivo da crescente migração religiosa em busca de satisfações pessoais. Para atingirmos esse objetivo recorremos a análise do texto: “A fé na sociedade metropolitana” da professora já mencionada que atua na faculdade de teologia da PUC-SP. Esse artigo pode ser encontrado no livro “A fé na metrópole: Desafios e olhares múltiplos”. Como resultado inferimos que a sociedade de massa impregnada pela cultura do consumo pregado pela pós-modernidade, propicia uma cisão entre objetividade e subjetividade da fé. O homem não recebe como outrora o conteúdo transmitido, mas, como artífice de sua própria vontade e liberdade busca selecionar aquilo que lhe é convencional, ou seja, o cidadão metropolitano busca uma religiosidade descomprometida com a própria fé, onde seus anseios sejam supridos de forma imediata. Neste sentido concluímos que a fé na metrópole passa por um processo crítico no que concerne a sua transmissão e vivência. A igreja como responsável pelo deposito da fé, enfrenta a grande preocupação de desenvolver um trabalho de evangelização eficaz, buscando atingir de forma direta as massas das grandes cidades, despertando os fieis impregnados pela cultura do não-compromisso para uma mentalidade comprometida com o conteúdo da fé professada. PALAVRAS-CHAVE: Fé. Sociedade metropolitana. Pós-modernidade. REFERÊNCIAS SILVA, Maria Freire da. A fé na sociedade metropolitana. In: A fé na metrópole: desafios e olhares múltiplos / João Décio, Afonso Maria Ligorio Soares (orgs.). São Paulo: Paulinas: EDUC, 2009. (Coleção religião e universidade).
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OS RELATOS DA CRIAÇÃO (Gn 1, 26-28 & Gn 2, 7. 18-24) NA PERSPECTIVA DE GÊNERO: ALGUMAS REFLEXÕES
José Alves Paiva Júnior
Graduado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Graduando do Curso de Bacharelado em Teologia na Faculdade Diocesana de Mossoró.
E-mail: [email protected]
RESUMO Moral e religião não são mais os únicos referenciais para a ética nas relações de gênero. As discussões que, nos últimos anos, se abrem à questão do gênero, indicam que as bases socialmente e culturalmente construídas para a sustentação de um modelo masculino ou feminino universal tornam-se hoje insustentáveis. O objetivo desta comunicação é, frente a tal conjuntura de declínio da moral e da religião, no que diz respeito construir modelos estereotipados nas relações de gênero, recorrer as principais contribuições da exegese bíblica e da hermenêutica feminista para identificar as nuances que, partindo de interpretações distorcidas dos relatos da criação, construíram os papéis sociais de homens e mulheres, salvaguardado a opressão masculina e legitimando a demonização e inferiorização feminina. Para isso, partimos da re-visitação e análise dos textos sagrados, mais precisamente os dois relatos da criação: Gn 1, 26-28 & Gn 2, 7. 18-24, procurando a partir deles compreender os processos de produção do homem e da mulher. Evidentemente, nossa investigação se apropria teórica e metodologicamente nas reflexões bíblicas levando em consideração o contexto no qual os textos bíblicos foram escritos, os estudos exegéticos de alguns biblistas e a hermenêutica bíblica realizada pelas mulheres da América Latina, tentando estabelecer possíveis conexões dos textos bíblicos com as construções do masculino e do feminino tradicionalmente estereotipados pela sociedade. Os resultados da nossa análise revelam que os relatos da criação não mencionam a construção de uma identidade sexual e tampouco a subordinação e submissão de um gênero a outro. Ressaltam a igualdade fundamental e identidade comum que homem e mulher receberam de Deus que é ser, antes de tudo, sua imagem e semelhança. O conclusão é lógica: o processo sócio-histórico marcadamente machista e patriarcal é quem realiza intencionalmente as distorções nos relatos da criação, uma vez que na perspectiva da mensagem divina eles são injustificáveis. Deus criou mulher e homem, a humanidade em sua totalidade. A história das sociedades e das múltiplas culturas construiu o gênero. Portanto, discutir gênero na teologia é, na verdade, discutir a teologia da criação na perspectiva da mensagem divina, rompendo tabus e denunciando a necessidade de profundas mudanças sociais. PALAVRAS-CHAVE: Teologia. Relatos da Criação. Gênero.
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REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1990. CANDIOTTO, Jaci de Fátima Souza; TEPEDINO, Ana Maria. Teologia na perspectiva das relações de gênero: a contribuição da hermenêutica bíblica. Rio de Janeiro, 2008, 135p. FREITAS, M. C. de. Gênero/Teologia feminista: interpelações e perspectivas para a teologia - Relevância do tema. In: SOTER (Org.). Gênero e Teologia: Interpelações e perspectivas. São Paulo: Paulinas/Loyola/Soter, 2003. GEBARA, Ivone. Entre os limites da filosofia e da teologia feminista. In: SOTER (Org.). Gênero e Teologia: Interpelações e perspectivas. São Paulo: Paulinas/Loyola/Soter, 2003. GEBARA, Ivone; BINGEMER, Maria Clara. A mulher faz Teologia. Petrópolis: Vozes 1986. MINETTE de TILLESSE, Caetano. Hino da criaçäo (Gn 1,1-2,4a). Revista Bíblica Brasileira – RBB. Ano1, v.1, Fortaleza 1984.
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CATOLICISMO SOCIAL: PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA NO CONTEXTO INDUSTRIAL
Philipe Villeneuve Oliveira Rego
Graduando do Curso de Filosofia na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]
Prof. Dra. Francisca de Fátima Araújo Oliveira
Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte E-mail: [email protected]
RESUMO A Europa nos Séculos XIX e XX passou por mudanças radicais na economia e política de seus países. Dominados pelo Liberalismo, ideologia política e econômica iniciada na França, agregado a Revolução Industrial, iniciando na Inglaterra, os países abandonam gradualmente a manufatura para assumir uma produção industrial e em larga escala. A concepção de que a sociedade é formada por indivíduos, e não mais grupos sociais, propicia uma política de livre desenvolvimento, aumentando assim a concentração de riquezas nas mãos dos burgueses e diminuindo as posses e poder aquisitivo da classe de antigos artesãos e camponeses. Os ideais liberais instauram políticas que restringem o poder do estado e também da religião, no aspecto político e econômico, propondo assim o laicismo. O aspecto social, paradoxal a realidade de desenvolvimento, se tornava cada vez mais precário. Cidades industrializadas com altos índices de miséria, ocupada desordenadamente por desempregados e operários explorados no trabalho das fábricas, dentre estes antigos camponeses. Partindo destes princípios, pretende-se com esse trabalho entender como a realidade Europeia no período industrial veio a satisfazer não só o construção de ideologias sociais que buscassem estudar e resolver os problemas da época, mas também os primeiros processos da Igreja Católica no âmbito social que logo resultarão no surgimento da Doutrina Social da Igreja. Para tanto, as pesquisas focaram-se no estudo do Liberalismo na Europa e suas influências políticas e econômicas; a Revolução Industrial e suas consequências diretas na sociedade; o surgimento de ideologias políticas, econômicas e sociais que estudavam maneiras de superar a realidade vivida e as práticas e ações da Igreja em meio a estas três situações, levando-a a uma postura mais social a partir da Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. A Igreja, ameaçada pelo laicismo do Estado Liberal e pelas tensões revolucionárias das correntes socialistas e anarquistas, sensibilizando-se também com a situação dos operários, sente-se no dever não só de uma caridade assistencialista até então existente, mas na busca de compreender e agir concretamente afim de apresentar soluções para os problemas sociais. PALAVRAS-CHAVE: Liberalismo. Industrialização. Catolicismo. Social.
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A EVANGELIZAÇÃO HOJE À LUZ DA EVANGELII NUNTIANDI
Alison Felipe de Moura Mestre em filosofia pelo Ateneo Pontificio Regina Apostolorum – Roma. Licenciado em
filosofia pela (FAFIC/UERN). Especializando em teologia Bíblica e graduando em teologia pela Faculdade Diocesana de Mossoró.
E-mail:[email protected]
RESUMO Hoje mais do que nunca, a evangelização se apresenta como algo urgente e ao mesmo tempo complexo. Considerando os avanços no modo de ser e de pensar de hoje, podemos afirmar sem sombra de dúvidas, que evangelizar é o maior desafio imposto aos cristãos no mundo atual. Esse desafio se apresenta de modo mais explícito quando se levanta as seguintes questões: como fazer ecoar a palavra de Deus em meio às muitas palavras, como, a ciência, a filosofia e a técnica? E ainda, como responder de maneira clara e profunda aos anseios mais urgentes do ser humano? Com base nisso, o presente texto pretende refletir acerca da evangelização hoje, tendo como parâmetro o texto apresentado pelo papa Paulo VI: a exortação apostólica Evangelii nuntiandi, tendo em vista a grande pertinência que tais ideias suscitam ainda hoje. Segundo papa, para que essa evangelização aconteça, faz-se necessário partir de Cristo isto é, da sua pessoa e da sua doutrina, visando antes de tudo à pessoa humana. Essa evangelização deve ser levada a cabo primeiro pelo testemunho, já que, sem um testemunho autêntico corre-se o risco de se apresentar uma fé superficial e vazia de sentido. Além do âmbito pessoal, é urgente também evangelizar as estruturas. Para tal, faz-se necessário apresentar o evangelho não somente como mensagem subjetiva, mas objetiva que interpela a vida em todos os âmbitos realizando assim, a libertação que, gerada pela conversão produz um mundo novo, construindo assim o reino de Deus de entre os homens. Logo, tudo isso se realizará, como diz o pontífice, considerando que, a evangelização será eficaz se for permeada antes de tudo pela ação do espírito santo, que gera testemunhas autenticas, e que animadas pelo amor são servidoras da verdade e da unidade.
PALAVRAS-CHAVE: Mundo pós-moderno. Anúncio da fé. Evangelho. Mudança de
vida.
REFERÊNCIA
EVANGELII NUNTIANDI. 19.ed. Paulinas, São Paulo: 2006.
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UMA ANÁLISE FILOSÓFICA SOBRE O ITINERÁRIO DO AMOR CRISTÃO SEGUNDO O PENSAMENTO DE ANDRÉ COMTE-SPONVILLE
Railton Sérgio bezerra de Oliveira Júnior Licenciado em Filosofia (FAFIC/UERN). Especializando em teologia bíblica e graduando do
sexto período do curso de teologia (FDM). E-mail: [email protected]
RESUMO Este artigo tem o objetivo de analisar o amor cristão (ou amor de caridade) partindo do pensamento do filósofo francês André Comte-Sponville. Nos deparamos diante da seguinte problemática: como esse amor evangélico, que existe há mais de dois mil anos, ensinado por Jesus Cristo, deixado nos evangelhos, pode ser possível de ser realizado? Utilizamos como referência a obra O Amor, deste mesmo filósofo, além da obra de outros filósofos que nos ajudarão na melhor compreensão do pensamento do nosso autor, como Platão, Kant, Nietzsche e Marx. Veremos que o amor é um dos temas mais importantes para as pessoas e que todos os outros só possuem relevância a partir deste. Para este autor a temática do amor possui uma relação íntima com a moral, e passando para outro nível, utiliza três palavras gregas que os antigos utilizaram para indicar três tipos de amor, o éros, a paixão amorosa, o amor segundo Platão; philía, a amizade, num sentido mais substancial, o amor a tudo o que não falta; e agápe (traduzido por caritas) amar ou gostar num sentido bem amplo, o amor que Jesus anunciava. Sponville apresenta ainda que os três tipos de amor estão intimamente ligados, pois são três faces de uma mesma realidade: o amar, ou ainda, o próprio viver. PALAVRAS-CHAVES: Amor. Éros. Philía. Agápe.
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TAIZÉ, ECUMENISMO E RECONCILIAÇÃO: “UMA PARÁBOLA DE COMUNHÃO”
Patrícia Gurgel Medeiros Gastão Graduada em História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Graduanda do Curso de Bacharelado em Teologia na Faculdade Diocesana de Mossoró.
RESUMO O ecumenismo está na essência de Taizé. É o princípio que a faz tornar-se um sinal de reconciliação entre cristãos divididos, entre povos separados, constituindo aquilo que o irmão Roger chama de “uma parábola de comunhão”. Nesse sentido, o objetivo da nossa pesquisa é apresentar a proposta da comunidade de Taizé mostrando como, por meio do ecumenismo que dissolve as diferenças, é possível a construção de uma humanidade comum. Para tanto recorremos a leitura de algumas obras do irmão Roger como por exemplo: Seu amor é um fogo e a pesquisas no site oficial da comunidade Taizé disponível na rede. As fontes consultadas nos permite indicar que, o ecumenismo está, de fato, na essência da proposta de vida de Taizé, com efeito, a reconciliação dos cristãos, é o princípio que rege essa comunidade, não como finalidade em si mesmo, mas para que os cristãos unidos no amor sejam um fermento de reconciliação entre os homens, sejam um sinal de confiança entre os povos, um sinal de paz na terra assim como tem sido os irmãos de Taizé. PALAVRAS-CHAVE: Taizé. Ecumenismo. Comunhão. Unidade. Amor.
INTRODUÇÃO
A Comunidade de Taizé teve sua origem em 1940 na França com o irmão
Roger Louis Schutz-Marsauche. A intuição primeira da comunidade é reconciliar.
Diante de um mundo dilacerado por discórdias, o irmão Roger acredita que é
possível uma reconciliação da humanidade, a começar pelos cristãos.
Todavia, qual é realmente o caminho para a construção de uma nova
humanidade comum se até mesmo os cristãos que tem a obrigação de ser sinal de
unidade criam separações entre si, ao ponto de muitas pessoas rejeitarem a fé por
ver cristãos que vivem mal? Nesta medida, este trabalho se propõe a apresentar a
origem e a proposta da comunidade de Taizé mostrando como, por meio do
ecumenismo que dissolve as diferenças, é possível uma humanidade comum.
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Pois bem, a palavra-chave que num primeiro momento ilumina Taizé é
reconciliação. Por meio da reconciliação, o irmão Roger pretende que entre os
homens compreendam que podem viver unidos na oração, no trabalho, na ajuda
mútua, sem perder sua singularidade, sua dignidade humana, nem suas crenças.
Vivendo assim, os homens serão capazes de fazer da própria vida uma parábola de
comunhão: reconstruir a confiança, a esperança, e promover uma cultura de paz
entre povos na terra.
Confiar que outro mundo é possível, é a abertura necessária para a
reconciliação, para o re-encontro da humanidade com ela mesma, do ser humano
com ele próprio, com o outro que não é ele, e com o Criador. Antes é preciso re-
conciliar para gerar comunidade, comunhão, unidade. Contudo, reconciliação
pressupõe, a priori, confiança que, por sua vez, é determinante para que a
humanidade se permita construir a civilização do amor, civilização essa que
começou a ser resgatada pela proposta da comunidade de Taizé.
1 TAIZÉ: ORIGEM, FUNDADOR, REGRA
A comunidade de Taizé teve sua origem em 1940 na França com o irmão
Roger Louis Schutz-Marsauche, que por sua vez, permaneceu como seu prior37 até
à sua morte em 16 de agosto de 2005. O irmão Roger Louis38 nasceu na aldeia de
Provence, na Suíça francesa em 12 de maio de 1915 e viveu lá até a idade dos 25
anos quando deixa sua aldeia e vai viver na França, país de origem de sua mãe e
local onde, posteriormente, vai nascer a Comunidade de Taizé.
A avó do irmão Roger teve grande influência na sua vida. Quando houve a
primeira guerra mundial, a sra vó do irmão Roger morava no norte da França e foi
37 Corresponde ao superior de uma ordem religiosa ou militar. Todavia, deve-se ressaltar que Taizé não é uma congregação religiosa, mas uma comunidade ecumênica. 38 Roger Louis Schutz-Marsauche era o filho mais novo de um pastor luterano e de uma mãe protestante francesa da Borgonha. Ainda jovem, mostrou interesse por escritores espirituais católicos, como Blaise Pascal e outros. Quando começou os estudos teológicos na Universidade de Lausana, escolheu como tema para a sua tese “Estará o ideal de vida monástica de São Bento em conformidade com o Evangelho?”. (CARRARO. Lorenzo. Irmão Roger: um santo do nosso tempo. Disponível em: <http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EkFEkFZ FEVoIdcdBqA>. Acesso em 02 de setembro de 2015).
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afetada diretamente pelos efeitos da guerra: teve seus três filhos lutando na frente
de batalha. Todavia, mesmo sob o fogo dos bombardeios ela resolveu não sair de
sua casa para poder ajudar aos refugiados, idosos, crianças, mulheres grávidas
etc., permaneceu ali até o último instante quando todos tiveram de fugir.
Não obstante, a avó do irmão Roger alimentou em si um grande anseio de
que ninguém mais tivesse que passar por todo sofrimentos que ela e tantas outras
pessoas passaram no período da guerra. O irmão Roger relata no livro Seu amor é
um fogo que sua avó lamentava as divisões entre os cristãos e ao mesmo tempo
almejava uma unidade entre eles. Dizia: “cristãos divididos mataram uns aos outros
na Europa. Que pelo menos eles se reconciliem, para tentarem impedir uma nova
guerra. Para tentar realizar, nela mesma, uma reconciliação [...]”39.
Outro aspecto importante da vida do irmão Roger reporta a época de sua
adolescência. Pois bem, quando ainda era adolescente Roger ficou doente com
uma tuberculose pulmonar, durante o longo período que esteve recluso por causa
da doença, e aos cuidados da avó, amadureceu em si um chamado para criar uma
comunidade. Além do desejo natural que brotou em seu coração, as situações
vividas por sua avó se tornaram muito marcantes na vida de Roger, e de certa forma
o impulsionaram para ajudar aos necessitados e no empenho para reconciliação
entre os cristãos.
No ano de 1940 teve início a Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse
período, inflamava-se cada vez mais no coração do irmão Roger um enorme desejo
e a necessidade urgente de se criar uma comunidade de reconciliação. Foi então
que ele o irmão Roger decidiu sair da Suíça e foi para a França fixando-se então na
pequena aldeia de Taizé40. Lá ele compra uma casa abandonada e pede a ajuda de
uma de suas Irmãs Geneviève, para poder ajuda-lo no acolhimento dos refugiados
pela guerra.
O local da casa era estratégico, uma vez que estava localizada próxima a
linha de demarcação que cortava a França em duas, local ideal para poder receber
39 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Seu amor é um fogo. Trad. Christina Stummer. São Paulo: Paulinas, 1992, p. 150-151. 40 Cf., TAIZÉ. A sua história, o início. Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6564.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015.
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os refugiados vindos da guerra, dentre eles haviam políticos judeus fugidos dos
alemães. Era uma casa muito modesta, porém no lugar exato para que se
realizasse seu desejo de estar onde se alastrava a guerra e o sofrimento daquela
gente que sofria com os efeitos da guerra.
A intenção do irmão Roger não era simplesmente oferecer um refúgio, teto,
comida, mas, sobretudo preencher a sede do absoluto que suplanta o sofrimento
humano, tanto é verdade que ele mesmo afirmava: “quanto mais aquele que crê
quer viver o absoluto de Deus, mais essencial é inserir esse absoluto no sofrimento
humano”41. Roger era um homem de oração. Tinha uma vida de intimidade profunda
com o absoluto. Porém, sempre prezando o respeito e deferência aos que lá se
achavam refugiados, para não os constranger, uma vez que eram judeus e
agnósticos, ele rezava sozinho três vezes ao dia: as vezes num oratório, outras
vezes no bosque longe de casa. É esse modo de oração que depois se fará na
comunidade.
No outono de 1942 são descobertos pela polícia nazista e tiveram que partir
sem demora. Daí o irmão Roger passa a viver em Genebra até o fim da Grande
Guerra e é lá que ele começa, de fato, uma vida comunitária com os três primeiros
irmãos até poderem retornar para Taizé em 1944. Na época em que retornaram à
Taizé, na região próxima, foi criada uma associação para cuidar de crianças órfãs
da guerra. Então foi proposto aos irmãos que pudessem acolher algumas dessas
crianças. Contudo, a Comunidade de Taizé era formada apenas por homens, de
modo que por este motivo não podiam acolher as crianças. Não satisfeito com isso,
o irmão Roger solicita a sua irmã Geneviève que retorne à Taizé para que ela possa
tomar conta dessas crianças como se fosse uma mãe para elas. Esse foi, por assim
dizer, o compromisso dos primeiros irmãos de Taizé42.
Por conseguinte, alguns outros jovens se juntam aos que já se encontravam
em Taizé. No dia de Páscoa de 1949 sete assumiram naquela data o compromisso
monástico para toda vida: vida comunitária de grande simplicidade, celibato,
41 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Op. Cit., p. 151. 42 Cf., TAIZÉ. Op. Cit., Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6564.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015.
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aceitação do ministério do prior, comunhão de bens materiais e espirituais. Não
obstante, a regra da comunidade só vai nascer durante um longo retiro de silêncio,
no inverno de 1952-1953. Nela o fundador da comunidade de Taizé expressa aos
irmãos que é “o essencial que torna a vida comunitária possível”43.
É importante destacar que a comunidade surge localizada entre dois
mosteiros antigos: o de Cluny e o de Cister44. De certa forma o fato de nascer entre
dois grandes mosteiros antigos, a Comunidade Taizé acaba, por assim dizer, se
alimentando de alguns resquícios da vida monástica, tanto é que os primeiros
irmãos de Taizé que eram de origem evangélica (o próprio irmão Roger era
evangélico) acabaram mergulhando na vida monástica e legitimando alguns
elementos desse modo de vida como regra de vida e de oração para Taizé.
Inclusive o irmão Roger acreditava o fato de a comunidade está situada entre os
dois mosteiros indicava que “Taizé é como um renovo enxertado na árvore da vida
monástica”45.
A comunidade vai crescendo e em 1969, irmãos católicos podem unir-se a
ela. Ressaltamos que num primeiro momento só havia irmãos evangélicos na
comunidade. Com efeito, o ecumenismo está na essência da comunidade de Taizé
o que a faz torna-se um sinal de reconciliação entre cristãos divididos, entre povos
separados, constituindo aquilo que o irmão Roger chama “uma parábola de
comunhão”. Partindo do princípio de reconciliação e unidade na diversidade, foram
se agregando a comunidade muitos homens de diferentes confissões e países,
católicos ou de origem evangélica de cerca de vinte nações.
A reconciliação dos cristãos é a essência, o princípio que rege Taizé, porém
não se deve entender nunca que essa reconciliação é finalidade em si mesma, mas
sua finalidade é para que os cristãos sejam um fermento de reconciliação entre os
homens, de confiança entre os povos, de comunhão e paz na terra. Taizé quer
43 Cf., TAIZÉ. Op. Cit., Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6564.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015. 44 “O mosteiro de Cluny era um ponto de atração para tantos cristãos em busca da unidade consigo mesmo e com os outros. O de Cister, renovado por São Bernardo com ardor reformador e recusa de toda e qualquer composição em face ao absoluto do Evangelho, com um senso agudo das coisas urgentes” (ROGER, 1992, p. 152). 45 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Op. Cit., 1992, p. 152.
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fermentar o mundo com a reconciliação, partindo da unidade como um sinal de que
Deus é amor; só amor:
Penso que, desde a minha juventude, nunca perdi a intuição de que uma vida em comunidade pode ser um sinal de que Deus é amor; só amor. Pouco a pouco, crescia em mim a convicção de que era essencial criar uma comunidade de homens decididos a dar toda a sua vida e que procurassem sempre compreender-se mutuamente e reconciliar-se: uma comunidade onde a bondade de coração e a simplicidade estivessem no centro de tudo46.
1.1 A EXPANSÃO DA COMUNIDADE E A PRESENÇA DOS JOVENS
Na década de 50, quando a comunidade chega a uns doze irmãos, alguns
deles entendem que não podem reduzir aquela experiência apenas em Taizé e
seguem pelo mundo passando a viver em regiões com situações delicadas,
perigosas, mas o fazem isso para serem testemunhas da paz, para estarem ao lado
dos que sofrem com a miséria, com a pobreza, partilhando das suas condições de
vida, para escutá-los, apoia-los buscando soluções para suas dificuldades. Os
irmãos de Taizé se encontram hoje em muitas partes do mundo: aqui no Brasil em
Alagoinhas na Bahia, também estão no Chile, EUA, África do Sul, Calcutá, Itália,
Líbano, Haiti, Etiópia, Leste Europeu entre tantos outros lugares.
Também na década de 50, mais precisamente no período de 1957 – 1967
Taizé se abre para acolher um crescente número de jovens (concentrados na busca
das fontes da fé) que se deslocam de todos os continentes para participarem de
encontros de uma semana realizados em Taizé. De certa forma os jovens se voltam
para a comunidade em busca de um sentido para suas vidas e em Taizé encontram.
Em Taizé eles conseguem unir fé e compromisso, vida interior e
solidariedade humana. Muitos adquiriram na, ou com a experiência de Taizé, não só
sentido da oração e visão mais abrangente da Igreja, mas também um cuidado todo
46 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Deus só pode amar. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2004, p. 40.
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especial para com “os direitos humanos, consciência internacional, confiança nos
povos estrangeiros, sensibilidade para a paz e a partilha das culturas”47.
1.2 A ORAÇÃO DE TAIZÉ
O irmão Roger insistiu frequentemente na importância da música e do canto na vida da comunidade desde as suas origens. Aqui encontram-se o esquema de uma oração “com cânticos de Taizé”, páginas sobre os cânticos meditativos, sobre o modo de cantar estes cânticos, sobre o valor do silêncio, sobre a preparação do local de oração, a utilização dos ícones, registos sonoros, RealAudio, etc48.
Devido a influência que recebeu da vida monacal, o aspecto mais
importante de oração de Taizé é a meditação e a contemplação. O irmão Roger
dizia: “Preserve a todo o momento um silêncio interior para viver na presença de
Cristo e cultivar o espírito das bem-aventuranças: alegria, simplicidade,
misericórdia”49. Por conseguinte, faz parte do ritual comunitário a oração na “Igreja
da Reconciliação”50 três vezes ao dia: pela manhã, ao meio-dia e a noite. Os
“Cantos de Taizé” têm sua identidade própria, são feitos de uma única frase,
retomada por bastante tempo, em várias línguas, “experimentam uma realidade
essencial, rapidamente captada pela inteligência, interiorizada pouco a pouco pela
pessoa no seu todo”.
A oração da noite das sextas feiras recorda a celebração da paixão; a da
noite dos sábados é como uma vigília de Páscoa, uma festa da luz. É interessante
destacar que para esta oração, o Irmão Roger trouxe de Moscou um símbolo muito
significativo, a cruz. Todo sábado a noite o irmão Roger coloca no chão o ícone da
cruz, e os que participam da oração são convidados a colocarem sua fronte na
47 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Op. Cit., 1992, p. 155. 48 Cf. TAIZÉ. As fontes da fé. Disponível em: <http://taize.fr/pt_rubrique490.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015. 49 CARRARO. Lorenzo. Irmão Roger: um santo do nosso tempo. Disponível em: <http://www.alem mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EkFEkFZFEVoIdcdBqA>. Acesso em 02 de setembro de 2015. 50 Igreja da Reconciliação ou Igreja da Comunidade de Taizé construída em 1962 e é lá onde se reúne os cristãos para juntos fazerem suas orações. Ao longo dos anos a Igreja da Reconciliação passou por varias reformas para poder abrigar a imensa quantidade de pessoas que por ali passam.
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madeira da cruz e ali depositar em Deus os próprios fardos e os fardos do próximo,
acompanhando assim o Ressuscitado em agonia por aqueles que estão passando
por provações.
A estrutura da oração (semanal) de Taizé mergulha no mistério da paixão,
morte e ressurreição de Jesus é uma oração essencialmente pascal. Toda semana
é santa, e todo dia é páscoa: páscoa da comunhão, páscoa da cruz, páscoa da
ressurreição. É assim que Taizé se torna, como disse João XXII, uma “pequena
primavera”. É também por isso que João Paulo II quando visitou Taizé (em 1986) “A
gente passa em Taizé como passa perto da nascente”51.
2 ECUMENISMO E RECONCILIAÇÃO: “UMA PARÁBOLA DE COMUNHÃO”
Desde sua origem, a proposta de Taizé é reconciliação entre cristãos e com
todos a humanidade chamada a formar em Cristo um único corpo, cuja cabeça é
Ele. Essencialmente a comunidade de Taizé é uma seara de reconciliação, de
comunhão e de paz.
Na minha juventude, admirava-me ao ver cristãos que, apesar de viverem de um Deus de amor, gastavam tantas energias a justificar as suas separações. Então disse comigo mesmo que era essencial criar uma comunidade onde nos procurássemos compreender e reconciliar sempre e, através disso, tornássemos visível uma pequena parábola de comunhão52.
No íntimo do coração do irmão Roger ardia um enorme desejo de
reconciliação que o impulsionava a atitude de abertura, de diálogo, de encontro, de
comunhão, de partilha e de engajamento com a transformação do sofrimento
humano e a desconstrução das cercas fundamentalistas de fé que impedem uma
comunhão universal. Convicto de tal moção, dizia: “Encontrei a minha própria
identidade de cristão reconciliando em mim mesmo a fé das minhas origens
51 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Op. Cit., 1992, p. 156. 52 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger apud DAUCOURT, Gérard. O ecumenismo é em primeiro lugar uma partilha de dons. Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6819.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015.
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(o irmão Roger era evangélico)53 com o mistério da fé católica, sem ruptura de
comunhão com ninguém”54.
A atitude de abertura, de diálogo ecumênico e de comunhão vividas pelo
irmão Roger, e, consequentemente uma característica da comunidade de Taizé, foi
duramente criticada por teólogos que, fechados em seus tratados, sistemas e
correntes teológicas, acusavam-no de não ter um pensamento teológico definido ao
ponto de mais tarde ser exigido por parte de alguns membros hierárquicos da Igreja
que Taizé tivesse uma identidade eclesial definida e oficializada. Certamente a
dificuldade tanto dos teólogos como dos membros da Igreja, era entender que a
reconciliação a comunhão e o ecumenismo é o jeito de ser de Taizé.
O irmão Roger retratou com sua própria vida todo o amor que tinha pelo
Corpo de Cristo sem que fosse necessário rejeitar suas origens, crenças e, ao
mesmo tempo, sem confrontar o diferente. Apenas queria incorporar nele tudo o que
o único Senhor dá ás igrejas (a comunhão e a unidade), e que apesar disso ainda
se encontram separadas.
Respeitosamente, confessa e admite a necessidade do ministério da
comunhão universal com o Papa, unindo-se então à fé e prática da Eucaristia da
Igreja Católica. Também estava unido a magnificência conferia pelo Senhor às
igrejas protestantes e ortodoxas. O diálogo entre as Igrejas não é fácil. Nunca foi!
Todavia, apesar das tensões e sofrimentos na tentativa de aproximação das igrejas,
o irmão Roger não renunciou o propósito de lutar e viver a reconciliação das igrejas
intensamente em todo seu ser.
Viver em comunhão e unidade é fazer com a própria vida a vontade de
Cristo. Nesse sentido, devemos ser conscientes de que quando causamos divisões
e separações estamos nos opondo à vontade de Cristo, vontade essa que está
pautada no amor, na comunhão, na partilha de dons, na fraternidade. O irmão
Roger foi muito feliz quando entendeu que o ecumenismo consegue congregar em
si os elementos necessários para a vida em comunhão e unidade, e, a partir disso,
53 Grifo nosso. 54 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger apud DAUCOURT, Gérard. Op. Cit.,. Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6819.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015.
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fazer do ecumenismo um instrumento para a construção de um mundo de paz, de
respeito, de tolerância e de reconciliação.
Não obstante, é importante ressaltar que o ecumenismo é uma partilha de
dons, a começar pela consciência de que precisamos uns dos outros. Não é
simplesmente uma coexistência pacífica, mas confiança, enriquecimento mútuo,
colaboração, cooperação, algo parecido com o “revesti-vos de sentimentos de
compaixão, de bondade, de humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos
uns aos outros, e perdoando-vos mutualmente”55 que São Paulo exorta aos cristãos
da comunidade de Colossos. Nesse sentido, a proposta de vida oferecida pelo
irmão Roger “indicou um caminho e abriu portas, para que o ecumenismo seja em
primeiro lugar uma partilha de dons”56 com a consciência e o respeito pelo outro
sentindo-se também o outro e ao mesmo tempo co-existente com ele.
Dado o exposto, podemos dizer que a proposta de Taizé ressoa até hoje
como provocação afim de que possamos ajudar as nossas Igrejas (presentes num
mundo dilacerado pelo ódio, a violência, guerras, destruição de valores, crise de
sentido) a estar menos petrificadas na atual necessidade de afirmação das suas
identidades e mofadas em suas verdades estéreis57. Taizé pode ser inclusive uma
resposta às pessoas que, decepcionadas com as divisões entre os cristãos se
recusam a aceitar a fé, como diz o canto do Ato Penitencial usado repetidas vezes
na liturgia da Missa: “quem não te aceita, quem te rejeita pode não crer por ver
cristão que vivem mal”.
Taizé quer exatamente o oposto do que diz esse cântico. Quer a
reconciliação, a comunhão, a unidade entre os cristãos. Não obstante, é preciso
deixar claro que em nenhum momento os irmãos de Taizé se comportaram e/ou se
nos apresentam como mestres espirituais, mesmo no que diz respeito ao
ecumenismo. Ao contrário, nutridos de profunda humildade e senso de comunhão,
pela voz do seu novo prior, “os irmãos de Taizé dizem-nos que não se consideram
55 Cf. Col. 3, 12-13. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1990. 56 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger apud DAUCOURT, Gérard. Op. Cit., Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6819.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015. 57 Quando falamos de “verdades estéreis” estamos nos referindo à dificuldade que algumas igrejas fechadas em suas doutrinas, inclusive a católica, tem para dialogar com o mundo de hoje, na linguagem de hoje, que toque e fale ao coração do homem “pós-moderno”.
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como os únicos atores desta dinâmica: ‘Somos pobres que precisam da comunhão
da Igreja para avançar na fé’ ”58.
Estando em Taizé ou em fraternidade, cada irmão participa da mesma parábola de comunhão. E participa mais pela perseverança do ser do que pela do agir, mas por aquilo que ele é do que por aquilo que realiza. Assim os pequenos atos cotidianos de fidelidade preparam e sustentam as fortes continuidades de toda uma existência59.
A parábola de comunhão se explica no exercício cotidiano avançando na
descoberta do amor, no perdão que sucede habitualmente, na confiança do
coração, no olhar de paz e de proteção sobre aqueles aos quais confiaram suas
almas, se houver distância do milagre do amor, tudo se perde, tudo se dispersa e se
destrói60. Nesse processo, o ecumenismo é a como que a porta de entrada para o
acesso direto a comunhão, comunhão que é, por assim dizer, a vocação dos
cristãos. Formar comunhão pra gerar a unidade e a paz.
3 TAIZÉ: UM SENTIDO PARA A VIDA HOJE
A humanidade vive hoje um grande paradoxo. De um lado mergulhou no
bem estar, nas facilidades e no imediatismo provocado pelas grandes revoluções,
dentre elas, a revolução tecnológica, bem como, numa ilusória sensação de que o
“ter” lhe proporciona mais prazer e consequentemente lhe trará felicidade. Ledo
engano! Por outro lado, mais do que nunca, tem-se falado em crise de sentido. A
humanidade vem enfrentando talvez uma de suas maiores crises: não sabe quem é,
de onde veio, e não sabe para onde caminha. Perdeu seu referencial, suas
credenciais. Como se diz, “perdeu o fio da meada”, perdeu o seu sentido.
O ser humano cada vez mais tem se tornando uma ilha; isolado, sozinho,
solitário. A existência humana que é essencialmente, co-existência tem-se tornado
58 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger apud DAUCOURT, Gérard. Op. Cit., Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6819.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015. 59 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Op. Cit., 1992, p. 113. 60 SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger apud DAUCOURT, Gérard. Op. Cit., Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6819.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015.
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excêntrica, egoísta, e consequentemente, egocêntrica. O próprio ser humano (do
século XXI) é um verdadeiro paradoxo: porta bandeira de si e ao mesmo tempo
carente do contato, do afeto, do outro. A vida parece ter perdido o seu colorido,
parece ter perdido o seu horizonte-sentido. O ser humano parece ter rompido com a
sua humanidade.
Nesse sentido, trilhar o caminho de reconciliação (da humanidade com ela
mesma – do ser humano consigo mesmo e com o próximo) talvez seja o meio mais
eficaz para provocar mudanças radicais no rumo (sem rumo) que a humanidade, o
ser humano, tomou. A reconciliação é, conforme entendemos, palavra chave para o
re-encontro da humanidade com ela mesma, do ser humano com ele próprio e com
o outro que não é ele, e com o Criador. Reconciliação é a hermenêutica para o
reencontro com a humanidade perdida, vendida pela mídia que mente e nos
consome. Reconciliação é também a proposta de Taizé. Antes é preciso re-conciliar
para gerar comunidade, comunhão, unidade. É preciso voltar aquilo que antes
éramos, a saber, humano.
Outra palavra chave para possivelmente saciar a crise de vazio da nossa
época que encontramos na proposta de Taizé é confiança. À medida em que formos
capazes de confiar que outro mundo é possível sem que, necessariamente, nos
afastemos deste mundo, mas ao contrário sejamos capazes de resistirmos “as
periferias existenciais” e segregações sociais, mudanças começar a aparecer. Taizé
nos prova que é possível um mundo onde as diferenças são superadas em virtude
dos grandes ideais comuns. Em Taizé constatamos que é possível homens de
diversas crenças, culturas, línguas trabalharem, rezarem, viverem juntos. Para
tanto,
A palavra “confiança” é talvez uma das mais humildes, mais quotidianas e mais simples que há, mas ao mesmo tempo uma das mais essenciais. Em vez de falar de “amor”, de ágape, ou mesmo de “comunhão’, de koinonía, que são palavras avultadas, falar-se-á talvez de “confiança”, pois na confiança essas realidades estão todas presentes. Na confiança há o mistério do amor, o mistério da comunhão e, finalmente, o mistério de Deus enquanto Trindade61. (p. 77).
61 CLÉMENT, Oliver. Taizé: Um sentido para a vida. São Paulo: Paulus, 2004, p. 77.
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O ser humano se distancia da sua humanidade quando perde a confiança
no amor. “Na confiança está o mistério do amor”. Sendo assim, sem ter a pretensão
de apresentar respostas prontas para os grandes problemas da humanidade e
principalmente a questão da crise de sentido, sugerimos, a partir da proposta da
comunidade de Taizé, que o ser humano começa a recuperar sua humanidade
perdida e consequentemente dar um novo sentido a sua vida, quando confiar que o
caminho para a construção de uma nova civilização humana mais forte do que o
ódio e que a morte, é o amor, mistério da comunhão, mistério do Deus Trindade que
nos criou a sua imagem e semelhança para que juntos construíssemos uma pátria
mais justa, uma terra sem fronteiras, onde juntos seremos um.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer a proposta de Taizé nos permite e nos motiva reascender a
esperança de se viver no amor, bem como, entender que a experiência do amor
supera todas as barreiras humanas, gerando frutos de comunhão e unidade. O
amor é ecumênico. Tudo abrange tudo alcança tudo suporta. Crer verdadeiramente
que Deus é Amor, e poder experimentar isso na própria vida como o faz os irmãos
de Taizé, é, por assim dizer, uma experiência revolucionária do ponto de vista
antropológico existencial.
O irmão Roger entendeu que nem sempre a história da humanidade foi
marcada pela experiência do amor. Os próprios cristãos que deveriam ser mestres
na arte de amar, vivem ainda hoje brigando entre si. Por isso, a comunidade de
Taizé nasceu como uma seara de reconciliação, um espaço onde nos abrimos à
experiência do amor e fazemos da nossa vida uma parábola de comunhão.
Sendo assim, a proposta de Taizé não se perde no tempo, sobretudo hoje
quando se fala que a humanidade vive uma crise de sentido, e, além disso, quando
se tornam visíveis os efeitos da guerra velada entre os cristãos e a intolerância
religiosa por parte das grandes religiões. Diante do exposto, Taizé se consolida
cada vez mais como um sacramento de comunhão que atravessa diversas crenças,
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culturas, línguas em virtude de construir uma nova humanidade, a saber, a
humanidade que abate as fronteiras, que empenha o seu coração para congregar,
para gerar comunhão, unidade, harmonia. Esta é a humanidade que crê no amor.
Está é a humanidade que Taizé vem construindo.
REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1990. CARRARO. Lorenzo. Irmão Roger: um santo do nosso tempo. Disponível em: <http://www.alemmar.org/cgibin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EkFEkFZFEVoIcdBqA>. Acesso em 02 de setembro. CLÉMENT, Oliver. Taizé: Um sentido para a vida. São Paulo: Paulus, 2004. SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger apud DAUCOURT, Gérard. O ecumenismo é em primeiro lugar uma partilha de dons. Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6819.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015. SCHUTZ-MARSAUCHE, Roger Louis. Deus só pode amar. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2004. ______ Seu amor é um fogo. Trad. Christina Stummer. São Paulo: Paulinas, 1992. TAIZÉ. A sua história, o início. Disponível em: <http://taize.fr/pt_article6564.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015. ______ As fontes da fé. Disponível em: <http://taize.fr/pt_rubrique490.html>. Acesso em 02 de setembro de 2015.
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RREESSUUMMOOSS EE AARRTTIIGGOOSS
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A INFLUÊNCIA DO GERENCIAMENTO CONTÁBIL NO PROCESSO ADMINISTRATIVO: UMA ABORDAGEM NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
DE ARACATI/CE
Nádja Luana da Cunha
Graduada em ciências contábeis. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –UERN. Endereço: Rua Margarida, 11 CEP: 59.600-000 – Mossoró.
E-mail: [email protected]
Rosângela Queiroz Souza Valdevino
Professora Me. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Endereço: Rua Prudente de Morais, 972 CEP: 59.611-000 – Mossoró.
E-mail: [email protected] (Orientadora).
Giovanni Ferreira Papini
Graduado em ciências contábeis. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Endereço: Rua Santa Maria, 72 CEP: 59.600-000 – Mossoró.
E-mail: [email protected]
Renato Carvalho da Silva
Contador especialista. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Endereço: AV João Pessoa, 58 CEP: 59.600-900 – Mossoró.
E-mail: [email protected]
RESUMO A presente pesquisa trouxe como tema abordado a disseminação da contabilidade gerencial, focada nas micro e pequenas empresas, que representam uma parcela da economia nacional, embora, ao mesmo tempo, estas apresentam dificuldades para manter-se em atividade, devido à falta de preparo e conhecimento de seus gestores. Diante deste fato, o estudo possui como objetivo, identificar qual a influência da contabilidade gerencial dentro de micro e pequenas empresas da cidade de Aracati/CE. A pesquisa foi realizada por meio de consulta de livros e artigos, relacionados ao tema, os dados foram coletados através de questionários aplicados aos administradores de micro e pequenas empresas da cidade de Aracati/CE. Os resultados foram obtidos através do confronto entre a teoria abordada e a prática coletada por meio dos questionários. A pesquisa mostrou que os gestores não evidenciam seu sucesso de fato a contabilidade gerencial, mas que reconhecem que tal ciência é necessária para o processo empresário. A empresa que melhor se destacou quanto ao conhecimento e uso da contabilidade gerencial foi o escritório contábil, por já trabalhar com a ciência tem melhores conceitos e aplicações. PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade Gerencial. Micro e Pequenas Empresas. Tomada de Decisão.
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1 INTRODUÇÃO
As Micro e Pequenas empresas no Brasil desempenham um papel vital para
o significativo crescimento da economia nacional, sendo estas responsáveis pelas
quedas no desemprego e crescimento das riquezas do país. Ainda que, mesmo com
o crescimento efetivo da economia, essas empresas encontrem dificuldades para
manter-se em atividade, já que os gestores dessas empresas, no âmbito
profissional, muitas vezes estão despreparados para exercer tal função, o que
acarreta no fechamento desses empreendimentos antes mesmo de completarem
três anos no mercado.
Dados do SEBRAE – Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas
Empresas (2012) afirmam que as altas taxas de falência dessas empresas estão
ligadas a deficiência na gestão dos negócios e que essa está diretamente
relacionada a não utilização dos instrumentos característicos da Contabilidade
Gerencial.
Acredita-se que os gestores não consideram a contabilidade gerencial uma
ferramenta necessária para o desenvolvimento dos seus negócios, ou no mínimo
não dão a devida relevância à prática contábil, já que na opinião de alguns micro
empreendedores Cearenses, em dados divulgados na revista Gente de Ação
(2013), afirmam que cerca de 55% dos gestores da região do litoral norte Cearense
dizem considerar a contabilidade apenas como uma ferramenta para obrigações
legislativas. Diante disto, a pesquisa buscará resolver a seguinte problemática: qual
a influência da contabilidade gerencial no processo decisório das micro e pequenas
empresas da cidade de Aracati/CE?
Este trabalho tem como objetivo geral: identificar a influência da
contabilidade gerencial no processo decisório das micro e pequenas empresas da
cidade de Aracati/CE.
O presente estudo mostra-se relevante, pois buscou alertar e informar os
gestores da cidade de Aracati/CE quanto à relevância de uma contabilidade
gerencial eficiente, estimulando-os a aperfeiçoá-la ou até mesmo, implementá-la no
processo decisório das empresas.
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A metodologia aplicada neste trabalho foi descritiva e qualitativa, com dados
coletados mediante aplicação do questionário composto de perguntas abertas e
fechadas, respondidos pelos micro e pequenos empresários da cidade de Aracati,
Ceará. Tendo ainda como embasamento a coleta de dados secundários como
estudos de artigos, revistas, livros e pesquisas eletrônicas.
Este trabalho está distribuído em cinco etapas, que inicia-se pela
introdução, dando respaldo ao estudo abordado com seus objetivos e relevâncias. A
etapa de desenvolvimento tem o referencial teórico, onde se embasa os assuntos
abordados neste tema. A metodologia é a terceira etapa encontrada neste estudo,
com enfoque em como se desenvolveu este trabalho, o tempo e abordagem feita,
passando pelos resultados encontrados na abordagem aos gestores e encerrando-
se estão as referências de pesquisa.
2 CONTABILIDADE GERENCIAL
A contabilidade gerencial é um ramo específico da Ciência Contábil, em que
o enfoque encontra-se na coleta e análise de informações para que exista um
fornecimento de dados relevantes que possam auxiliar e orientar os gestores de
uma empresa para uma eficiente tomada de decisão.
A contabilidade gerencial é definida como:
O ramo da contabilidade que tem por objetivo fornecer instrumentos aos administradores de empresas que o auxiliem em suas funções gerenciais. É voltada para a melhor utilização dos recursos econômicos da empresa, através de um adequado controle dos insumos efetuado por um sistema de informação gerencial (CREPALDI, 2004, p. 20).
Ainda sobre a definição de contabilidade gerencial, Atkinson et al. (2000, p.
36) afirma que “contabilidade gerencial é o processo de produzir informação
operacional e financeira para funcionários e administradores [...] e deve orientar
suas decisões operacionais e de investimento.”
A contabilidade gerencial pode ainda ser dividida em três aspectos
complementares, segundo Jiambalvo (2009, p. 3) “todos os gerentes precisam
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planejar, controlar suas operações e tomar diversas decisões.” Enfatizando que ter
essas ideias de gerenciamento são fundamentais para manter a saúde financeira de
uma empresa.
É a contabilidade gerencial a responsável por fornecer as informações sobre
a situação financeira e econômica de uma entidade, tornando-se uma ferramenta
contábil voltada exclusivamente para a administração das empresas, no processo
de gestão, observando a organização de uma forma bem abrangente. Como
identifica Iudícibus (1998, p. 21) “a contabilidade gerencial, num sentido mais
profundo, está voltada única e exclusivamente para a administração da empresa,
procurando suprir informações que se encaixem de maneira válida e efetiva”.
De acordo com Atkinson et al. (2000) a contabilidade possui quatro funções
em uma organização: controle operacional, para o fornecimento de informações e
qualidade das tarefas executadas; custeio, que engloba os custos necessários para
produção e até mesmo para a venda e entrega de produtos; controle administrativo,
que seria o desempenho dos gerentes e das unidades operacionais; e por último, o
controle estratégico, que forneceria informações fidedignas sobre o desempenho
financeiro, competição de mercado, preferência dos clientes e inovações
tecnológicas.
2.1 CONTABILIDADE GERENCIAL NO ÂMBITO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
De acordo com o SEBRAE (2012) 70% das empresas brasileiras acabam
por encerrar suas atividades comerciais antes mesmo de completar cinco anos de
existência, e o principal motivo para que isso aconteça é exatamente as falhas
constantes no gerenciamento desses negócios por parte dos seus gestores.
A grande dificuldade encontrada por essas instituições é a concorrência
acirrada de mercado, isso aliada à falta de preparo dos administradores. Muitos
empresários até tem capital para abrir um negócio e disposição para tentar o
sucesso empresarial, mas muitos deles não têm “visão empreendedora”.
E é para isso que serve um profissional especialista em gestão de negócios,
justamente para auxiliar esses empresários a terem uma visão mais geral do seu
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empreendimento, utilizando as demonstrações contábeis e a prestação de contas
fiscais para uma tomada de decisão.
Como Corbett (1997) afirma que a contabilidade gerencial deverá servir de
ponte entre os gerentes e as informações da empresa, assim, os gestores poderão
avaliar quais ações tomarem, levando sempre em consideração o impacto de seus
atos no desempenho da empresa, com o objetivo principal de fornecer dados e
informações para os gestores analisarem e decidirem pela empresa o que será
melhor.
Rezende e Abreu (2008) ainda afirmam que para se ter um bom
gerenciamento, o sistema de informações contábeis devem estar essencialmente
interligados ao sistema de gestão empresarial, tendo assim reunido e consolidado
todas as informações relevantes e imprescindíveis para gerir a organização.
Na visão de Salvador e Pinheiro (2014, p. 3):
Para que haja um desenvolvimento satisfatório da contabilidade gerencial nas pequenas e micro empresas é necessária uma comunicação constante entre os empresários e contadores e principalmente a explicitação da contabilidade como ferramenta primordial na tomada de decisão. Esse processo deve ser planejado, bem estruturado e permanecer sob controle permanente para que os níveis de informações geradas pelos contadores atendam e resolvam de fato o grande problema enfrentado atualmente nessas empresas.
3 METODOLOGIA
A seguinte pesquisa teve como objeto de estudo empresas de micro e
pequeno porte de diferentes ramos situadas na cidade de Aracati/CE, tendo como
tempo compreendido para este estudo que discorreu entre os meses de abril de
2014 a dezembro do mesmo ano. O campo de estudo abordado foi à cidade de
Aracati – Ceará – Brasil.
No que diz respeito aos objetivos do presente estudo, por trata-se de uma
pesquisa descritiva e qualitativa, descreveu características de uma determinada
população e abordou empresários para obtenção de opiniões relevantes para o
estudo.
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De acordo com Gil (2008), as pesquisas descritivas possuem como
características a utilização de informações sobre uma população, um fenômeno ou
alguma experiência. Já a pesquisa qualitativa de um problema é a forma mais
adequada para entender a natureza de um fenômeno social, buscando assim,
interpretar o objetivo em termos do significado buscado. (RICHARDISON, 1999).
Com relação aos procedimentos, foram coletados dados de uma
determinada população, referenciado através de uma pesquisa bibliográfica, no qual
são feitos estudos teóricos em livros, revistas, sites, artigos, na busca de resolver
uma problemática com base no referencial.
Quanto a abordagem do problema, a pesquisa se tratou de um estudo
qualitativo, visando ter uma análise abrangente e mais profunda da população em
estudada.
A coleta de dados desta pesquisa deu-se através de um levantamento de
materiais publicados em livros, artigos e revistas, e também por meio de um
questionário com 15 perguntas abertas aplicadas para micro e pequenos
empresários da cidade de Aracati/CE.
A referida pesquisa foi feita com um total de 4 (quatro) empresas sendo uma
micro e três de pequeno porte na cidade de Aracati/CE em que os empresários se
dispuseram a responder os questionamentos solicitados. Suas empresas atuam em
áreas distintas, mas enquadram-se no requisito de MPE. A primeira foi uma
pequena empresa que atua no ramo de comércio de calçados, a segunda foi um
escritório contábil, a terceira entrevistada foi do ramo de restaurantes e o quarto foi
uma franquia do comércio de chocolates.
Para categorização dos efeitos e apresentação dos resultados foi realizado
um confronto entre a teoria, vista no referencial teórico e as respostas dadas pelos
entrevistados para que fosse possível obter resultados satisfatórios para esta
pesquisa.
4 RESULTADOS
Os resultados desta pesquisa foram obtidos por meio da análise dos
questionários aplicados, contendo questões fechadas de caráter qualitativo, que
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foram aplicados a 4 (quatro) micro e/ou pequenas empresas, de ramos distintos, da
cidade de Aracati/CE.
O questionário foi composto de 15 questões abertas e estruturadas,
abordando diversos temas da contabilidade gerencial e suas ramificações, sendo
respondido pelos gestores das empresas solicitadas. Foi possível identificar
diversos aspectos interessantes no que se refere á opinião dos entrevistados quanto
à relevância da contabilidade gerencial em seus negócios, quais as perspectivas
das empresas e as necessidades de controle interno que lhes são necessárias.
4.1 APRESENTAÇÃO DAS EMPRESAS
A pesquisa busca atestar como a contabilidade gerencial influencia no
processo de gestão das empresas e quais as ferramentas utilizadas no auxílio à
tomada de decisão. A amostragem compõe-se de quatro empresas dos mais
variados ramos, que são apresentadas de acordo com a sua atividade. A pedido dos
gestores das empresas foi solicitado que a identidade das empresas fossem
preservadas.
A primeira empresa atua no ramo do comercio varejista de calçados e está
no mercado acerca de quinze anos. Esta empresa lidera o mercado do município
onde está situada, estando enquadrada como empresa de pequeno porte, e possui
atualmente nove empregos.
A segunda empresa é um escritório particular e possui como principal
atividade a prestação de serviços contábeis, seu tempo de atuação é de 25 anos no
mercado. Seu quadro de funcionários conta com quinze empregados, e seu
enquadramento fiscal é de empresa de pequeno porte.
A terceira empresa é um restaurante, localizado em ponto turístico de
Aracati-Ce. Esta empresa atua no mercado há três anos e seu enquadramento fiscal
é também de empresa de pequeno porte, contando, o seu quadro de empregados,
com 12 funcionários.
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A quarta empresa é uma loja franquiada ao comércio de chocolates. Atua no
mercado há apenas dois anos e está fiscalmente enquadrada como microempresa,
o seu quadro atual de funcionários conta com quatro colaboradores.
Catelli (2001) caracteriza que as micro e pequenas empresas geralmente
são dirigidas pelo seu proprietário e que dificilmente existem gerentes
especializados para suprir as necessidades da empresa.
4.2 DESCRIMINAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
As perguntas aplicadas no questionário são todas voltadas para a área
gerencial das empresas, objetivando identificar primeiramente, qual a influência
exercida pelo gerenciamento contábil nas mesmas e auxiliá-las caso necessário,
apoiando a implementação de algumas ferramentas da contabilidade gerencial em
seus respectivos negócios. Além disso, são abordados temas como perspectivas
futuras para seus empreendimentos, experiências em negócios anteriores, e
motivações para terem se tornado empresários.
4.2.1 Caracterização da pesquisa
O primeiro questionamento direcionado as empresas entrevistadas, foi
acerca do tempo que o seu empreendimento encontra-se no mercado competitivo, e
foram obtidas as seguintes respostas.
A empresa de comércio de calçados e o escritório contábil estão a mais de
10 anos no mercado, enquanto o restaurante e a franquia de chocolates estão a
menos de 5 anos no mercado.
As respostas dos dois primeiros entrevistados estão em contrapartida com o
que afirma uma pesquisa divulgado pelo SEBRAE (2012) citando que 70% das
micro e pequenas empresas no Brasil fecham as portas antes mesmo de
completarem 5 anos de existência. No entanto, as duas últimas empresas
abordadas estão a menos de cinco anos no mercado, podendo, ou não, entrar nas
estatísticas negativas evidenciadas pelo SEBRAE.
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115
Em sequência foi perguntado aos entrevistados se a contabilidade geral da
empresa era feita internamente ou se este serviço era terceirizado.
Todas as empresas questionadas, exceto o escritório contábil, utilizam um
serviço contábil terceirizado, corroborando com o que o conselho de contabilidade
(2014) afirma ser uma prática comum, em relação à contabilidade e os serviços
afins, tais como a escrituração fiscal e departamento de pessoal. A terceirização é
uma prática consagrada, oferecendo serviços de qualidade adequados às diversas
necessidades empresariais.
Ao confrontar estes dados, verificou-se que a maioria das micro e pequenas
empresas citadas utilizam serviço contábil terceirizado, o que pode ser explicado,
levando-se em conta um menor custo de serviço, em relação à contratação de um
especialista na área. A exceção da terceirização se deu exatamente no escritório
contábil, por ter especialistas dentro do seu empreendimento para que o serviço
possa ser efetuado de forma eficiente.
O terceiro assunto abordado foi referente a tomada de decisão que
influenciam as empresas e no que elas se baseiam para tomá-las corretamente.
A empresa de comércio de calçados afirmou tomar suas decisões de acordo
com o que demanda o mercado competitivo da região, o escritório contábil afirmou
utilizar as informações contábeis para auxiliar o processo da tomada de decisão
dentro da empresa, já o restaurante, afirma tomar suas decisões através das
experiências de seus proprietários, e por último, a franquia de chocolates busca
tomar suas decisões através do que mostra o mercado.
Nenhuma das empresas entrevistadas corroborou com o que cita Jiambalvo
(2009) que toda informação gerencial deve passar por um processo de análise, que
é o modo mais apropriado de abordar a solução para os problemas encontrados nos
negócios da empresa, tendo desta forma, dificuldades para serem realizadas
decisões acertadas.
Conforme as respostas obtidas ainda nesta questão, nota-se que as micro e
pequenas empresas utilizam o que está ao seu alcance como forma de auxílio no
gerenciamento, já que muitas não utilizam os preceitos básicos da contabilidade
gerencial.
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Dando continuidade, a pergunta quatro abordou os gestores com o intuito
de evidenciar qual a utilidade da contabilidade para o seu ramo de negócio.
A empresa de calçados, assim como a franquia de chocolates, afirmou que
a contabilidade auxilia na orientação e fornecimento de informações relevantes que,
possam ajudar na tomada de decisão. O que vai de encontro com o que os próprios
entrevistado disseram na questão anterior, afirmando tomar suas decisões internas
através do que evidencia o mercado competitivo. O escritório contábil, também
informou utilizar a contabilidade como auxilio na orientação e tomada de decisão, e
a única empresa divergente das demais foi o restaurante, que afirmou ter a
contabilidade apenas para fins fiscais.
Segundo a revista Gente de Ação (2013), cerca de 55% dos gestores do
litoral leste cearense consideram a contabilidade apenas para fins legislativos, o que
corrobora somente com a respostada dada pela proprietária do restaurante.
A questão cinco aborda qual o conhecimento dos gestores acerca da
contabilidade gerencial.
Todos os entrevistados responderam possuir pouco ou nenhum
conhecimento acerca das características da contabilidade gerencial, não estando
esse resultado de acordo com Catelli (2001) que, destaca que para um
empreendimento ter meios de negócio duradouro, os gestores necessitam ter um
pleno conhecimento da contabilidade gerencial. E também não corrobora com que
Jiambalvo (2009, p. 3) cita “todos os gerentes precisam planejar, controlar suas
operações e tomar diversas decisões”.
A pergunta seis questionou aos proprietários se eles acreditavam que as
informações fornecidas pela contabilidade gerencial, de alguma forma, poderiam
trazer benefício para as suas empresas.
Unanimemente os entrevistados responderam sim, que a utilização da
contabilidade gerencial pode trazer benefícios fornecendo informações de como
está a empresa financeiramente e assim, quais decisões poderiam ser tomadas na
busca de melhorias para as mesmas. Este dado corrobora com o que dizem
Salvador e Pinheiro (2014), que a utilização da contabilidade gerencial permite aos
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empresários conhecimentos dos dados que são mais relevantes para a gestão da
empresa, gerando o suporte necessário para a tomada de decisões.
Em sequência, foi abordado qual o conhecimento possui o empresário a
respeito da contabilidade gerencial, e se essas informações podem contribuir dentro
do seu negócio.
As empresas de calçados, contábil e a franquia de chocolates, responderam
que mesmo com o conhecimento limitado acerca do assunto, eles têm o
entendimento de que a utilização da informação contábil gerencial pode auxiliá-los a
ter uma maior segurança na hora de tomar decisões importantes para o futuro da
empresa. Já o restaurante, forneceu uma resposta imprevista, onde a proprietária
afirmou que o gerenciamento poderia lhe auxiliar a conseguir mais crédito bancário
para sua empresa.
As respostas fornecidas pelas empresas de calçados, contábil e a franquia
de chocolates corrobora com o que discorre Crepaldi (2004), uma empresa que
utilize um sistema integrado de contabilidade gerencial leva vantagem sobre as que
não dispõem desta ferramenta. O que deixa claro, a competitividade de mercado,
ser um fator relevante a ser alcançado por esses gestores. Já a resposta dada pela
proprietária do restaurante, não se enquadra nas características e objetivos
buscados pelo gerenciamento contábil.
A pergunta de número oito foi realizada no intuito, de evidenciar se o sócio
gerente ou proprietário da empresa possuía alguma experiência anterior no ramo de
atividade do negócio.
O gestor da empresa de calçados, afirmou ter sido empregado em uma loja
do mesmo ramo em que atua hoje, o que lhe deu respaldo para abrir sua própria
empresa. O gestor do escritório contábil, disse ter trabalhado como autônomo antes
de abrir seu próprio negócio, o que facilitou no relacionamento com clientes em
potencial. A gestora do restaurante e o dono da franquia de chocolates, afirmaram
terem feito cursos voltados para a área em que atuam hoje, obtendo conhecimentos
acerca dos seus próprios negócios.
Perez Júnior, Pestana e Franco (1995) evidenciam que uma experiência de
negócios anteriores pode trazer benefícios em uma nova empreitada, fazendo com
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que o gestor esteja preparado para eventuais percalços e agindo de forma mais
segura na hora de suas decisões.
Comparando as respostas fornecidas pelas empresas, nota-se que todos
tiveram algum motivo relevante para iniciarem suas empreitadas particulares, não
visando apenas o conforto que um negócio próprio poderia lhe oferecer, além de
terem se preparado para exercer tal função antes de concluírem a abertura da
própria empresa.
O questionamento seguinte foi referente à quais motivos levaram o gestor a
abrir uma empresa no ramo de atividade escolhido.
O comerciante de calçados confirmou ter aberto uma empresa neste ramo
por já ter conhecimento e experiência neste tipo de mercado, além de, segundo ele
ter identificado que havia uma boa oportunidade de negócio para este ramo na
cidade de Aracati/CE. O escritório contábil também afirmou ter escolhido abrir uma
empresa neste ramo por já ter uma experiência passada de negócios, e por buscar
auxiliar parentes e amigos que necessitassem de informações nesta área. A
proprietária do restaurante afirmou ter aberto sua empresa por ter capital disponível
para fazê-lo, além de sempre ter almejado possuir o seu próprio empreendimento. O
proprietário da franquia de chocolates, também afirmou ter uma quantidade de
dinheiro disponível para investimento, e segundo ele, o mesmo identificou uma
oportunidade de negocio dentro do seu ramo de atividade.
Catelli (2001) cita que ter o domínio do que envolve a sua atividade, lhe dá
um respaldo no momento de gerir o seu negócio, o empresário verifica sua
concorrência de mercado, consulta fornecedores e contrata pessoas qualificadas
para estar sempre na liderança.
Diante disso, verifica-se que todos os gestores tiveram um motivo relevante
para ter efetivado o seu empreendimento na área referida de cada um, apenas
verificando que a gestora do restaurante, o fez apenas por ter uma quantia de
dinheiro para investir em seu negócio, tornando-se uma opção de risco para
pessoas que buscam um retorno imediato.
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Em seguida, foi perguntado aos empresários qual era o assessoramento
que eles recorriam quando surgem problemas de ordem fiscal, administrativa ou
financeira dentro da empresa.
Todas as empresas, com exceção do escritório contábil, buscam auxílio ao
contador terceirizado quando surge algum problema no âmbito fiscal, financeiro ou
administrativo da empresa. Já o proprietário do escritório contábil, afirmou buscar
tentar resolver internamente esses tipos de problemas, caso não consiga, busca
ajuda através de empresas de consultoria contábil registradas.
Como supracitado, a maioria das empresas utilizam serviços contábeis
terceirizados, recorrendo assim, a profissionais da área quando surge alguma
divergência dentro do seu estabelecimento.
A pergunta número onze aborda qual o principal empecilho encontrado
pelas empresas no processo administrativo.
Todos os entrevistados, com exceção novamente do escritório contábil,
responderam que a principal dificuldade encontrada pelas empresas seja qual for o
ramo de atividade, é a elevada carga tributária brasileira. O gestor do escritório
afirmou que o principal problema encontrado por ele eram divergências com
clientes, fornecedores ou mão-de-obra qualificada.
Observa-se que a preocupação dos empresários com a carga tributária
brasileira é válida, já que a mesma é uma das mais altas do mundo, e isso acaba
dificultando uma sobrevida das micro e pequenas empresas no Brasil. Outro
problema mais grave identificado pelo gestor do escritório foi em relação à
divergência com clientes, onde os serviços prestados acabam por não serem
devidamente remunerados pelos clientes.
Logo após foi questionado aos empresários quais os principais fatores para
que uma empresa obtenha sucesso em suas atividades.
O gestor da empresa de calçados, disse que o principal fator para o sucesso
de sua atividade era ter um administrador eficiente e eficaz nas suas
responsabilidades. O escritório contábil afirmou que o principal fator para o sucesso
é a capacidade de liderança de um gestor dentro de uma empresa. De acordo com
a proprietária do restaurante o principal fator para se obter sucesso é ter
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conhecimento do mercado em que atua e aproveitar as oportunidades que possam
surgir. Já a franquia de chocolates afirmou que ter uma boa estratégia de marketing
da empresa é o principal fator de sucesso da mesma.
Martins (2012) elenca três atitudes indispensáveis para que um gestor
consiga alcançar o sucesso na carreira, a primeira delas é pesquisar, analisar as
opções de mercado concorrentes e não agir apenas por impulso, a segunda é a
organização, trabalhar em cima de metas e estimativas a curto e a longo prazo, que
estejam dentro do alcance da empresa, e a terceira é o aperfeiçoamento, para
atender as necessidades do seu empreendimento, e buscar sempre melhorar como
gestor, desta forma a empresa irá crescer junto com o seu dono.
Feito a análise das respostas obtidas, nota-se que existem divergentes
pontos no que diz respeito à estimativa de sucesso de suas empresas, em suma,
reunir todas as respostas dadas, tornaria mais viável a obtenção de sucesso no
mercado competitivo.
Em sequência foi abordado a quais tipos de assessoria ou auxilio seria
necessário para enfrentar dificuldades no gerenciamento contábil.
O gestor da empresa de calçados elencou as acessórias financeira e
contábil como as mais importantes para o seu ramo de atividade. Já o escritório,
afirmou que a principal fonte de auxilio necessária seria a assessoria jurídica,
tributaria e trabalhista. O restaurante citou o auxílio financeiro, como empréstimos e
financiamentos, e também o capital de giro da empresa como as assessorias mais
importantes dentro da sua área. Já a franquia de chocolates, afirmou ser a
assessoria jurídica, tributária e trabalhista, além de atualização com cursos
empresariais e treinamento de pessoal como as assessorias de maior relevância
dentro da empresa.
Catelli (2001) cita que o gerenciamento contábil abrange as informações
financeiras e econômicas de uma entidade, tornando-se uma ferramenta
indispensável para uma gestão organizada e eficiente.
Diversas respostas foram dadas neste item, sendo que a contabilidade
gerencial abrange todos os posicionamentos dos entrevistados, pois a mesma se
utiliza de todas as ferramentas elencadas pelos gestores, como auxílio financeiro,
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assessoria tributária, capital de giro, orçamento, entre outros, que são de
fundamental importância para a saúde financeira de um negócio.
O questionamento quatorze abordou qual a expectativa que o gestor tem de
continuidade da sua empresa no mercado competitivo.
O empresário do ramo de calçados e da franquia de chocolates, afirmaram
que suas empresas estão em um ramo de atividade em plena ascensão e que a
tendência é expandir cada vez mais. Já o escritório contábil, afirmou que seu ramo
de atividade é estável, e sua continuidade depende exclusivamente de controles
eficientes de gestão interna. Por último o restaurante, afirmou que a empresa está
iniciando suas atividades e não aprofundou-se mais sobre o assunto.
Catelli (2001) afirma que a contabilidade gerencial se for devidamente
aplicada em uma empresa, seja ela de micro ou pequeno porte, pode atender todas
as necessidades dos empresários, podendo contribuir para a permanência dessas
organizações no mercado.
O último questionamento foi feito através de uma pergunta aberta de
resposta livre dos entrevistados, que questionava a possibilidade de suas empresas
contarem com um especialista em contabilidade gerencial, exclusivamente voltado
para a melhoria interna da gestão.
O empresário do comércio de calçados, respondeu que a contratação de um
profissional especialista na área gerencial seria inviável, pois os custos para esta
aquisição seriam desnecessários, o escritório contábil, afirmou já contar com um
especialista na área gerencial, e ainda concluiu que o auxílio desse profissional no
gerenciamento interno era vital para manter a saúde financeira e profissional da
empresa. A proprietária do restaurante disse considerar-se uma especialista em
gerenciamento, por ter feito alguns cursos voltados para liderança corporativa, e a
franquia de chocolates, afirmou que a contratação de um especialista nesta área só
valeria o investimento, caso sua franquia crescesse de faturamento e de porte,
considerando assim, desnecessária sua utilização para empresas de pequeno porte.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral deste trabalho foi demonstrar qual a relevância que a
informação contábil gerencial exerce nas micro e pequenas empresas da cidade de
Aracati/CE. A pesquisa se desenvolveu através de pesquisas bibliográficas e de
questionários aplicados aos empreendedores, fazendo o confronto desses itens
para obtenção de um resultado satisfatório.
Conclui-se que na opinião dos gestores entrevistados, a contabilidade
gerencial não exerce grande influência em seus respectivos negócios, apesar dos
mesmos respeitaram e serem consciente de que o gerenciamento é uma ferramenta
necessária de administração, e lhes dá vantagem para tomar decisões eficazes.
Fica também evidenciado que estes administradores utilizam características
do gerenciamento mesmo sem terem pleno conhecimento acerca do assunto,
muitos utilizam o controle de orçamento e de fluxo de caixa, mesmo que de maneira
informal, mas que, ainda sim, lhes fornecem um maior respaldo no momento
necessário de se tomar decisões. A empresa que melhor se destacou quanto ao
conhecimento e uso da contabilidade gerencial foi o escritório contábil, por já
trabalhar com a ciência tem melhores conceitos e aplicações.
Concluída está pesquisa pode-se notar que o gerenciamento contábil
exerce sim certa relevância na hora da tomada de decisão, pois, os gestores que a
utilizam, mesmo que de forma inconsciente, estarão sempre um passo a frente dos
demais concorrentes.
O trabalho teve como limitação a quantidade de empresas e a dificuldade de
encontrar empresas do mesmo ramo que estivessem disponíveis para melhor
comparar as ideias em relação à contabilidade gerencial.
Sugere-se a pesquisas futuras, o confronto de opiniões entre empresas do
mesmo ramo de atividade, para que seja exercido um parâmetro entre as
instituições que se utilizam dos preceitos contábeis e das que não se utilizam
dessas informações.
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REFERÊNCIAS
ATKINSON, A.A; BANKER, R. D; KAPLAN, R. S; YOUNG, S. M; Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 2000. CATELLI, A. Controladoria: uma abordagem da gestão econômica. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2001. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 774/94. Aprova o apêndice à resolução sobre os princípios fundamentais de contabilidade. Disponível em: <http://www.senar. org.br/legislacao/setor_cont/res_cfc_774.pdf>. Acesso em: 10 de jun. 2014 CONTABILIDADE como uma ferramenta de sucesso. Revista Gente de Ação. Aracati, p. 21-26, nov. 2013. CORBETT NETO, T. Contabilidade de ganhos: a nova contabilidade gerencial de acordo com a teoria das restrições. São Paulo: Nobel, 1997. CREPALDI, S. A. Contabilidade Gerencial. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2004. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. IUDÍCIBUS, S. de. Contabilidade gerencial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998. JIAMBALVO, J. Contabilidade gerencial. 3 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. MARTINS, F. Administrando um empreendimento de sucesso. Artigo (2012) REZENDE, D. A.; ABREU, A. F. Tecnologia da informação aplicada a sistemas de informações empresariais. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 1999. SALVADOR, F.; PINHEIRO, E. J;. A contabilidade gerencial e o processo de comunicação entre as empresas e os escritórios de contabilidade. Disponível em: <http:/docs.google.com/contabilidade.gerenciamento>. Acesso em: 28 de maio. 2014. SEBRAE. Pesquisa dos fatores condicionantes e taxas de sobrevivência e mortalidade das micro e pequenas empresas no Brasil 2003-2005. Brasília, 2012.
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A RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL GERENCIAL: UM COMPARATIVO ENTRE EMPRESAS NO RAMO DE BEBIDAS
Nádja Luana da Cunha Graduada em ciências contábeis. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. Endereço: Rua Margarida, 11 CEP: 59.600-000 – Mossoró. E-mail: [email protected]
Rosângela Queiroz Souza Valdevino
Professora Ma. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Endereço: Rua Prudente de Morais, 972 CEP: 59.611-000 – Mossoró.
E-mail: [email protected] (Orientadora).
Juliana Jéssica da Silva Graduada em ciências contábeis. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. Endereço: Rua Santa Maria, 72 CEP: 59.600-000 – Mossoró.
Renato Carvalho da Silva Contador especialista – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
Endereço: AV João Pessoa, 58 CEP: 59.600-900 – Mossoró. E-mail: [email protected]
RESUMO Diante de uma acirrada concorrência de mercado, as micro e pequenas empresas buscam aperfeiçoar-se cada vez mais, mantendo um bom relacionamento com seus clientes e recorrendo as práticas da Contabilidade Gerencial como instrumento crucial na tomada de decisão. Essa pesquisa teve como principal objetivo compreender como duas empresas no ramo de bebidas fazem uso das informações no gerenciamento da entidade. O presente estudo caracteriza-se por uma pesquisa descritiva. A pesquisa foi realizada em duas empresas de bebidas, uma situada na cidade de Mossoró – RN e a outra na cidade de Itaberaba – BA. Os dados obtidos foram coletados por meio de questionário semiestruturados. Para a realização dessa pesquisa, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, descritiva e qualitativa, a fim de se obter um direcionamento sobre o tema proposto no estudo. Em seguida, foi realizada a aplicação do questionário a gestora da empresa A, localizada na cidade de Mossoró-RN e ao gestor da empresa B, localizada na cidade de Itaberaba-BA, onde ficou-se evidente que ambos possuem conhecimento apropriado a respeito da contabilidade gerencial, afirmando que a mesma possui papel relevante na tomada de decisão dentro da entidade, de forma a contribuir para a continuidade das empresas, mostrou-se também a visão de ambos os gestores sobre a influência da contabilidade gerencial dentro da entidade. PALAVRAS-CHAVE: Micro e pequenas empresas. Tomada de decisão. Contabilidade Gerencial.
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1 INTRODUÇÃO
Atualmente, as micros e pequenas empresas buscam aperfeiçoar-se cada
vez mais em seus produtos e serviços, em virtude da acirrada concorrência que o
mercado atual impõe nos padrões de consumo.
É notório que com o decorrer dos anos o processo de gerir empresas vem
se modificando, com isso, passou-se a buscar novas ferramentas, informações e
tecnologias para o auxílio da tomada de decisão.
Tendo em vista a permanência da empresa na atividade desempenhada e
consequentemente manter-se competitiva, as entidades buscam aprimorarem-se
em seus segmentos. Assim, Iudícibus (2010, p. 21) afirma que “todo procedimento,
técnica, informação ou relatórios contábeis feitos “sob medida” para que a
administração os utilize na tomada de decisão entre alternativas confiantes, ou na
avaliação de desempenho, recai na contabilidade gerencial”. Dessa forma, não há
como não relatar a contabilidade gerencial e sua relevante influencia na gestão das
empresas.
Assim, pode-se constar que as entidades fazem-se necessárias da
contabilidade gerencial para uma melhor percepção de mercado e tomada de
decisão, tendo em vista tais pontos, pode-se estabelecer o seguinte problema de
pesquisa: como as empresas de bebidas fazem uso das informações contábeis no
gerenciamento da entidade e se ocasiona impactos na parte financeira?
O objetivo geral desse trabalho foi, portanto, compreender como as
empresas de bebidas fazem uso das informações contábeis no gerenciamento da
entidade. Já como objetivos específicos, essa pesquisa pretende: identificar a
relevância da informação contábil nas entidades; compreender a visão dos gestores
sobre a contabilidade gerencial e evidenciar o papel da contabilidade gerencial
dentro das empresas.
Em todo o mundo tem-se a extinção de muitas micro e pequenas empresas,
que não conseguem acompanhar a alta competitividade do mercado e também em
consequência de erros de administração da entidade que vão desde uma má
utilização das informações gerenciais até a inexistência das mesmas.
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Para tanto, a contabilidade gerencial faz-se presente no auxílio das
informações e utilizando-se como ferramenta para à obtenção de relatórios
satisfatórios para a avaliação de suas entidades. Relatórios esses que precisam ser
precisos, coesos e de fácil entendimento para a melhor averiguação acerca da real
situação de mercado, clientes, saúde financeira da empresa e tomada de decisão.
Assim sendo, a contabilidade gerencial é um destaque como ferramenta da
tomada de decisão na empresa buscando auxiliá-las. Em complemento, esse
estudo é relevante, pois avalia teoria e prática, possibilitando evidenciar a
contabilidade gerencial em um ramo pouco evidenciado atualmente.
A tipologia de pesquisa, quanto aos objetivos, é qualitativa e descritiva. Os
dados primários foram coletados inicialmente por meio de questionários aos
gestores de cada uma das empresas, enquanto os dados secundários foram
coletados por meio de livros, revistas, artigos científicos e pesquisas eletrônicas.
Esse trabalho está dividido em capítulos. No primeiro encontra-se a
introdução, onde aborda-se a contextualização do tema logo após, tem-se o objetivo
geral e específicos. No segundo capitulo encontra-se o referencial teórico, onde foi
abordado os conceitos fundamentais para tal pesquisa. O terceiro capitulo refere-se
a metodologia em que encontra-se o método tido como base para desenvolver o
meio utilizado para a coleta de dados. Tem-se ainda a análise dos resultados e por
fim as conclusões e referências.
2 CONTABILIDADE GERENCIAL
Com o aumento da concorrência em diversos ramos de comércio e
prestações de serviços, as empresas buscaram aprimorar suas qualidades
procurando um diferencial a mais para uma fidelização do cliente e também uma
forma eficaz de se ter relatórios mais precisos a respeito de sua empresa, fazendo
assim uma melhor gestão empresarial. A contabilidade gerencial surgiu com o
intuito de satisfazer as necessidades empresariais, fornecendo-lhes relatórios
precisos, úteis e de relevância para os gestores no auxílio à tomada de decisão
(PADOVEZE, 2012).
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Em um sentido mais restrito, Iudícibus (2010) faz referência que a
contabilidade gerencial está voltada principalmente para a administração da
entidade, suprindo informações relevantes e efetivas para o processo decisório do
administrador.
Faz-se uso da contabilidade gerencial não só no campo contábil, pois as
empresas que procuram uma melhor administração em outras áreas recaem ao
processo de gestão contábil para a elaboração de relatórios, pareceres, informações
precisas a respeito de certas situações.
Assim sendo, Iudícibus (2010, p. 21, grifo do autor) afirma:
De maneira geral, portanto, pode-se afirmar que todo procedimento, técnica, informação ou relatório contábil feitos “sob medida” para que a administração os utilize na tomada de decisões entre alternativas conflitantes, ou na avaliação de desempenho, recai na contabilidade gerencial.
As informações contábil-gerenciais utilizam-se de demonstrações passadas
e presentes para a elaboração dos relatórios pertinentes ao gestor da entidade e
seus usuários. Tais informações servirão de auxílio para decisões futuras e planos
estratégicos empresariais, de forma que, tais informações possam servir como
modelo para uma gestão saudável e de bons resultados.
2.1 A CONTABILIDADE GERENCIAL COMO FERRAMENTA DECISÓRIA
Com uma constante evolução, os campos de atuação das empresas
necessitam aprimorarem-se à demanda emanada pela população, e com isso faz-se
necessários à necessidade de agilizar e tornar a margem de lucro significativa, com
esse fato, teve-se que manter a excelência no processo de informação e decisões
organizacionais (PADOVEZE, 2012).
Atualmente, as entidades preocupam-se com a fidelização do cliente, com a
concorrência de mercado, melhorias organizacionais e principalmente com
informações relevantes do dia a dia empresarial, buscando acertar nas decisões
tomadas pelos gestores através dos relatórios e dados gerados e elaborados pela
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128
contabilidade gerencial. Com esse ambiente altamente competitivo, Crepaldi (2011)
afirma que o sistema gerencial da empresa tem que obter informações precisas e
oportunas para a tomada de decisão da entidade, a fim de ressaltar melhores
resultados para a organização.
Para Sá (2012) relata que com esses processos de transição em que o
mercado apresenta, a contabilidade gerencial tem papel decisório para os gestores,
pois elabora planos estratégicos, auxilia o gestor na entidade, executa uma série de
tarefas para um melhor rendimento, aproveitamento e melhores resultados. É
notório a preocupação dos administradores com relação as informações geradas
pela empresa, pois é de primordial relevância que sejam tempestivas, de qualidade,
apresentem confiança suficiente para uma tomada de decisão precisa e coesa.
3 METODOLOGIA
Nesta seção serão apresentados: o tipo de pesquisa realizada e os
procedimentos adotados no estudo piloto e na coleta de dados propriamente dita.
A pesquisa existe para difundir a necessidade de compreensão,
interpretação e de desenvolvimento de novos ramos no mundo. Para Gil (1989) o
delineamento da pesquisa abrange o campo mais amplo, ou seja, levam-se em
consideração as variáveis envolvidas e o espaço em que os dados irão ser
coletados.
A expor esse trabalho, utilizou-se da pesquisa qualitativa, pois abrangeu a
relevância das informações contábeis a seus usuários. Ainda para Gil (1989) cita
que o método qualitativo busca examinar um grupo específico, busca aprofundar-se
sobre determinado ponto de vista do examinador. As informações fornecidas nesse
estudo serão interpretadas, levando em consideração seu grau de importância para
o estudo.
Já quanto ao método de pesquisa, foi descritiva, teve como um de seus
objetivos descrever características e aspectos de sua população. A área de estudo
realizou-se em duas revendas no ramo de bebidas, uma localizada na cidade de
Mossoró-RN e outra na cidade de Itaberaba-BA. Com relação ao tempo
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desprendido para este estudo foi discorrido entre os meses de abril a novembro de
2014.A coleta de dados desta pesquisa deu-se através de um levantamento de
materiais publicados como livros, artigo, revistas e outros e um questionário com
perguntas abertas aos gestores das duas empresas, de forma a expressarem seus
pontos de vista acerca do assunto.
A referida pesquisa obtinha 08 questões semiestruturadas, abertas e foi
realizada com os dois gestores das empresas. Para categorização dos efeitos e
apresentação dos resultados foi realizada um confronto entre a teoria, vista no
referencial teórico e as respostas dadas pelos entrevistados.
4 RESULTADOS
A obtenção dos resultados foi proposta por questionário estruturado com
perguntas abertas, de caráter qualitativo em duas empresas do ramo de bebidas,
onde a empresa A situa-se na cidade de Mossoró – RN e a empresa B, está
localizada na cidade de Itaberaba – BA.
O questionário contou com oito perguntas abertas, onde os gestores das
duas entidades puderam expor seus pontos de vista sobre o tema abordado da
pesquisa, sua aplicação, seu diferencial de mercado, a relevância da tomada de
decisão, entre outros aspectos que as empresas consideram relevantes para o
mercado organizacional.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS
A primeira empresa entrevistada foi denominada de empresa A, localizada
na cidade de Mossoró – RN. A segunda empresa entrevistada denominada de B
situa-se na cidade de Itaberaba – BA. Ambas atuam no mercado de distribuição de
uma marca conhecida internacionalmente no ramo cervejeiro.
A empresa A atua na cidade de Mossoró e cidades vizinhas há 14 anos,
possui cerca de 80 pessoas no seu quadro de funcionários, onde estão alocados
nos setores de entrega, administração, vendas e marketing. Já a empresa B, atua
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no mercado há 17 anos, possui em seu quadro de funcionários 67 colaboradores,
também distribuídos nos setores de vendas, entrega, administração e marketing.
Com relação aos questionamentos levantados, foi realizada uma entrevista
com a gestora da Empresa A, sexo feminino, solteira e atua a 5 anos na entidade.
Na organização B, a entrevista deu-se com o gestor da empresa, sexo masculino,
solteiro e que atua a 2 anos na corporação.
4.1.1 Resultados e discussões
Para a obtenção dos resultados, foi realizado um questionário estruturado
com ambos os gestores. Primeiramente convém observar que o mercado onde as
duas empresas atuam é altamente competitivo e apresenta diversos produtos
substitutos, desse modo, foi questionado aos gestores o que as empresas fazem
para manterem-se competitivas e produzir o diferencial de mercado.
De acordo com a gestora da Empresa A, o relacionamento com o cliente é a
base para manter-se competitivo no mercado, pois assim, a empresa conhece as
reais necessidades dos clientes, conquistando assim, a sua fidelização. Do ponto de
vista do gestor B, o diferencial está no bom relacionamento com sua equipe,
preservando o respeito, harmonia e união interna entre os colaboradores, além de
manter um bom serviço prestado aos clientes. Respostas essas que constatam o
que o Conselho federal de contabilidade (2014) diz a respeito da alta
competitividade de mercado e da relevância em se ter um bom profissional contábil
atualizado, proativo, versátil e com um bom relacionamento interpessoal com todos
da corporação empresarial, além de respaldar a ética contábil e proporcionar
relatórios de qualidade para a tomada de decisão, com isso, levando assim os
colaboradores da empresa a um relacionamento amistoso com seus clientes e
fornecedores.
No tocante ao conceito de contabilidade gerencial, abordado no
questionário, as respostas dos dois gestores A e B enfatizam que a contabilidade
gerencial pode influenciar nas decisões empresariais. “...é quando tudo que é visto
na contabilidade seja imposto, tributos, ou até mesmo decisões financeiras podem
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afetar no cotidiano e no desenvolvimento da empresa” (GESTOR A).“[...] conjunto
de informações que é passada para a administração geral da empresa que auxilia
os gerentes em seu processo decisório” (GESTOR B). Corroboram com a ideia de
Iudícibus (2010) que a contabilidade gerencial está voltada principalmente para a
administração da entidade, suprindo informações relevantes e efetivas para o
processo decisório do administrador. Como também, parte da ideia de Atkinson
(2000) de que a contabilidade gerencial deve produzir informações precisas e
relevantes para os usuários internos da instituição, afim de levar os gestores à
tomada de decisão correta, visando o bem econômico e a geração de benefícios
para a entidade.Com isso, tende-se a observar, que os dois gestores A e B
compreendem o conceito da contabilidade gerencial dentro da entidade e sabem a
relevância dos relatórios elaborados pelo contador gerencial para o auxílio à tomada
de decisão.
Tendo em vista a visão dos dois gestores das empresas sobre a relevância
da contabilidade gerencial, foi abordada a influência da mesma na entidade. Onde a
gestora da empresa A ressalta que é através dos relatórios gerados pelo contador
gerencial que se obtém as informações necessárias para a tomada de decisão
dentro da entidade. Pensamento esse, que assemelha-se ao que Ricardino (2005)
expõe, ao afirmar que a principal finalidade da contabilidade gerencial está voltada
para suprir as informações que a administração necessita na elaboração de sua
estratégia organizacional de mercado. Já quanto o gestor da empresa B, assim
como a gestora da empresa A, ressalta a relevância da contabilidade gerencial
como ferramenta decisória dentro da entidade, evidenciando que quase sempre a
utiliza na empresa B para o planejamento estratégico organizacional, bem como,
para o controle da empresa. Portanto, tais respostas fornecidas, reforçam a ideia de
Crepaldi (2011) que a contabilidade gerencial tem como principal objetivo fornecer
informações como instrumento de auxílio aos administradores das empresas volta-
se para um melhor aproveitamento de seus recursos financeiros na execução de
seus futuros ideais, objetivos e lucratividade.
Com base no mercado atual, onde as empresas buscam a excelência e a
alta competitividade acelera o processo dos negócios, as decisões que envolvem o
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futuro da organização tem maior visão no campo dos negócios, de acordo com
Crepaldi (2011) o sistema gerencial da empresa tem que obter informações precisas
e oportunas para a tomada de decisão da entidade, a fim de ressaltar melhores
resultados para a organização. Dessa maneira, foi questionado aos gestores a visão
dos mesmos sobre a tomada de decisão dentro da entidade, assim sendo, a gestora
da empresa A, trata com relevância e destreza ao afirmar que a tomada de decisão
é tida como importante dentro da instituição, pois visa o desenvolvimento
empresarial futuro. O gestor B assegura que, com as informações coerentes e
precisas, pode-se tomar decisões mais coesas que façam com que a empresa
consiga se sobressair no mercado. Dessa forma, a replicação dos entrevistados vai
ao encontro do entendimento do IASB (2001) ao relatar que a informação contábil é
capaz de elaborar um diferencial, auxiliando os usuários internos sobre ações
futuras, elaboração de relatórios de resultados passados e filtragem de informações
relevantes que levem a empresa à obtenção de resultados lucrativos.
Diante desse cenário, torna-se fundamental e significante que as decisões
tomadas venham a ser precedidas de informações relevantes e que possibilitem
resultados diferenciados e satisfatórios. Para Oliveira, Muller e Nakamura (2000)
explica que além da contabilidade gerar informações precisas, possibilita a
elaboração de modelos patrimoniais de forma a evidenciar resultados de exercício
passado, bem como controlar, elaborar, gerir um melhor desenvolvimento na
empresa. Tendo em vista tal informação, foi questionado aos gestores o papel da
contabilidade gerencial dentro da empresa. A gestora da empresa A relatou que a
contabilidade gerencial fornece mecanismos que auxiliam o entendimento sobre o
desenvolvimento dos setores da entidade, quanto ao gestor B, assegura que,
cercar-se de boas informações é favorável para a saúde empresarial.
O constante uso das informações contábeis pelos administradores das
empresas acarretam benefícios financeiros e fiscais, além de uma visão mais
precisa a cerca da saúde empresarial, bem como um auxilio nas decisões futuras da
entidade. Infelizmente, algumas empresas não utilizam tais informações, seja por
desconhecimento empresarial, como também, por falta de recursos para a
implantação do setor contábil. Assim Caneca (2009) destaca que a empresa que
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possui um sistema gerencial, e que solicita, absorve e põe em prática os relatórios
na tomada de decisão, tem uma maior chance de se alcançar o sucesso
profissional, uma vez que, é a partir de boas decisões que advém bons resultados.
Embora os gestores reconheçam a relevância da informação contábil para a tomada
de decisão, foi indagado aos mesmos se utilizam-se das informações contábil
gerenciais na entidade. Onde tanto a gestora A, quanto o gestor B, proferiram que,
nem sempre utilizam-se das informações contábeis, alegando o fato de se requerer
informações mais rápidas para a tomada de decisão, partindo assim, para decisões
que não exigem um maior aprofundamento nas respostas do que as elaboradas
pelo setor contábil. Padoveze (2012) destaca que a finalidade da empresa é gerar
lucros para seus investidores, uma boa administração é crucial para o
desenvolvimento empresarial, sua continuidade e sucesso, esses são alguns dos
fatores que induzem o administrador a ter uma contabilidade gerencial como
instrumento de apoio às decisões pertinentes.
Sob a ótica dos dois gestores, foi inquerido se há diferença entre a
contabilidade financeira e a contabilidade gerencial, ambos não souberam informar
se havia diferenciação entre esses dois ramos contábeis. No entanto, Atkinson
(2000) declara que esses dois ramos possuem usuários diferentes, uma vez que, a
contabilidade financeira busca suprir a necessidade dos usuários externos da
entidade, como bancos e fornecedores, já quanto à contabilidade gerencial destaca
que é voltada para os usuários internos, como gestores, acionistas e colaboradores,
ou seja, tem como uma de suas prioridades o auxílio dos gestores, o fornecimento
de informações fidedignas, coerentes e oportunas para a tomada de decisão.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral desse trabalho foi identificar a relevância da contabilidade
gerencial como instrumento decisivo na tomada de decisão dentro da empresa A e
da empresa B.
Para o alcance dos objetivos propostos, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com os dois gestores das empresas A e B. Combinando o estudo
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do referencial teórico com as respostas obtidas na entrevista, foi possível o alcance
do objetivo proposto.
Analisando-se os pontos abordados, constatou-se que os gestores A e B
são cientes da relevância da contabilidade gerencial no processo decisório da
empresa. Das informações coletadas, notou-se que ambos enfatizam a tomada de
decisão como ponto crucial para a continuidade da empresarial e que a
contabilidade gerencial é fundamental no crescimento financeiro.
Dessa forma, ficou evidente que a contabilidade gerencial dentro da
entidade tem papel decisório, uma vez que coleta, controla, direciona e informa os
gestores das empresas sobre quais rumos à mesma deverá seguir para se obter um
melhor resultado durante o período do exercício que se encontra.
O primeiro objetivo específico da pesquisa era identificar a importância da
informação contábil dentro das entidades, que foi respondido demonstrando que o
referencial teórico aborda sobre o assunto e os gestores das empresas A e B
conseguem identificar tal importância na instituição no dia a dia empresarial.
Quanto ao segundo objetivo específico, compreender a visão dos gestores
sobre a contabilidade gerencial, foi evidenciado que, os dois gestores tem
entendimento e discernimento sobre essa questão, toda via destacam o contador
gerencial como um elo entre uma boa administração e bons resultados futuros,
através das informações gerenciais elaboradas. Porém, quanto a aplicabilidade da
informação gerencial dentro das empresas A e B, não condiz com o exposto no
referencial teórico, uma vez que, os mesmos conhecem a necessidade de se ter um
bom planejamento estratégico contábil na entidade, mas não aplicam devidamente
essas orientações, pois, necessitam de informações a curto prazo, e alegam que
são obtidas através de relatórios não tão precisos e coesos como os fornecidos pelo
setor contábil, partindo assim, a se obter algumas decisões errôneas para a
entidade. Decisões essas, que poderiam ser assertivas, utilizando-se dos relatórios
contábeis fornecidos pelo contador gerencial da entidade, que coleta, analisa, filtra e
gerencia as informações mais relevantes para a necessidade atual do gestor
empresarial.
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Já em relação ao terceiro objetivo especifico proposto, que era evidenciar o
papel da contabilidade gerencial dentro da empresa, notou-se que diversos autores
citados no referencial tem um campo de visão bastante semelhante em relação ao
papel que a contabilidade gerencial exerce dentro das entidades, demonstrando que
é de grande relevância para o processo decisório empresarial. Sob essa mesma
visão os gestores A e B corroboram com esses autores, ao perceber que a
continuidade empresarial depende não só dos setores de execução na empresa,
como também, das informações geradas pelo setor contábil, que identifica uma
melhor forma de se obter melhores resultados e uma melhor lucratividade
empresarial, colaborando assim para uma boa gestão, todavia que, o sucesso é
obtido pelo esforço de um grupo, e não só de apenas um único setor ou
colaborador.
Sendo assim, não basta às empresas terem o conhecimento organizacional,
é necessário por em prática as técnicas e melhorias para obtenção de resultados
positivos no andamento empresarial. O que ficou compreendido é que, embora a
empresa A e a empresa B tenham o conhecimento à cerca do assunto proposto, as
mesmas ainda estão em processo de aprendizagem para conciliarem a teoria e
prática.
Diante de um mercado altamente competitivo, as empresas tendem a
buscar o diferencial para sobressaírem-se sobre suas concorrentes. Diferencial esse
que, pode ser encontrado no bom uso da contabilidade gerencial e suas
ferramentas decisórias, auxiliando os gestores no processo de tomada de decisão.
Evidenciando que o contador não é apenas aquele funcionário que apenas calcula
impostos, e sim um profissional apto para se dar um bom direcionamento
empresarial, contribuindo assim, para a execução de atividades que viabilizem a
permanência dessas empresas no cenário econômico.
O trabalho foi limitado apenas a duas empresas mostrando-se um estudo de
caso muito concentrado. Como sugestão para as demais pesquisas poderia ser
ampliado o número de empresas e até comparar ramos diferentes para se ter um
melhor embasamento sobre a problemática de pesquisa.
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REFERÊNCIAS
ATKINSON, A.A; BANKER, R. D; KAPLAN, R. S; YOUNG, S. M; Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 2000. CANECA, R. L. et al. A influência da oferta de contabilidade gerencial na percepção da qualidade dos serviços contábeis prestados aos gestores de Micro, Pequenas e Médias Empresas. Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 11, n. 43, p. 35-44. Disponível em: <http://webserver.crcrj.org.br/asscom/Pensar contabil/revistaspdf/revista43.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2014. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Princípios fundamentais de Contabilidade e normas Brasileiras de Contabilidade.CFC. Brasília, DF, 2014. CREPALDI, Silvio Aparecido. Curso básico de Contabilidade. São Paulo: Ed. Atlas, 2011. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1989. INSTITUTO DOS AUDITORES INDEPENDENTES DO BRASIL. NPC S/N: Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade. São Paulo, 2014. Disponível em: <http://www.ibracon.com.br/ibracon/Portugues/detPublicacao.php?cod=150>. Acesso em: 09 jun. 2014. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2010. OLIVEIRA, A. G.; MÜLLER, A. N.; NAKAMURA, W.T. A utilização das informações geradas pelo sistema de informação contábil como subsídio aos processos administrativos nas 55 pequenas empresas. Revista FAE, Curitiba, v.3, n.3, p.1-12. 2000. Disponível em: <http://www.unifae.br/publicacoes/pdf/ revista_da_fae/fae_v3_n3/a_utilizacao_das_informacoes.pdf>. Acesso em: 18 out. 2014. PADOVEZE, Clóvis Luís. Contabilidade Gerencial. Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2012. Disponível em:<http://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=phJkh gva1_4C&oi=fnd&pg=PA7&dq=contabilidade+gerencial+segundo+padoveze&ots=1ZVGlEPSU4&sig=jShTE_ka7r-gc9_R2ctSYpr-2vM#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 11 set. 2014. RICARDINO, Álvaro. Contabilidade gerencial e societária: origens e desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2005. SÁ, Antônio Lopes de. Teoria da contabilidade. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
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A CONTABILIDADE GERENCIAL E SUA RELEVÂNCIA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÕES
Kennedy Paiva da Silva
Rafael Ramon Rodrigues Francisco Igo Leite Soares
RESUMO Este trabalho tem como objetivo evidenciar a importância da contabilidade Gerencial para a tomada de decisões nas empresas, com ênfase na observação da sua importância no atual mercado competitivo em que as organizações estão inseridos nos dias de hoje, mesmo não sendo obrigatória perante a legislação vigente, a Contabilidade Gerencial está sendo cada vez mais utilizada pelos gestores como auxilio para o processo de gestão. A Contabilidade com o passar dos anos, ganhou cada vez mais importância no cenário competitivo das empresas, ao modo que, com o passar do tempo foi ganhando desmembramentos e formas para que pudesse atender a todas as áreas de conhecimento contábil, visto que, hoje a contabilidade no âmbito geral não é apenas aquela ferramenta utilizada para contabilização de tributos perante o fisco. Deste modo, estas variâncias servem para atender todas as necessidades dos organismos empresariais, despertando a necessidade de se utilizar de técnicas contábeis para a tomada de decisões, à medida que, assim a Contabilidade Gerencial começou a servir de ênfase para este tipo de desempenho servindo como ferramenta de planejamento e de utilização para a tomada de decisões, visto que, este desmembramento da contabilidade utiliza-se de técnicas para auxiliar os gestores e todos aquelas que desempenham papel efetivo na administração das entidades, reforçando assim, se tem a ideia de Crepaldi (2008, p.5) “Contabilidade Gerencial é o ramo da Contabilidade que tem por objetivo fornecer instrumentos aos administradores de empresas que os auxiliam em suas funções gerenciais”, deste modo, observa-se que a Contabilidade Gerencial tem uma grande importância para os gestores e todos aquelas envolvidos com a empresa no macro e microambiente, pois o bom desempenho da organização afeta todos estes indivíduos direta ou indiretamente. Assim conforme Garrison (2007, p.21), “A Contabilidade Gerencial preocupa-se mais com o futuro, dá menos ênfase à precisão, enfatiza segmentos de uma organização (em lugar da organização como um todo), e não é governada por princípios contábeis aceitos, além de não ser obrigatória”. Deste modo, a Contabilidade Gerencial mesmo não sendo obrigatória sua elaboração como é o caso da contabilidade fiscal, tem se tornado frequente perante os administradores, pois os mesmos perceberam a importância da sua utilização como ferramenta de auxílio na gestão. Pois, a informação contábil principalmente a gerencial, tem importância para os usuários finais, visto que, sua efetividade vem diante principalmente da elaboração e estudo das informações contábeis. Os procedimentos metodológico observados na construção deste trabalho, foi através de pesquisa bibliográfica onde buscou-se evidenciar e dar fundamentação teórica ao trabalho, fundamentando assim a ideia pesquisada, Para Gil (2007, p. 44), os exemplos mais característicos desse tipo de pesquisa são sobre investigações sobre ideologias ou aquelas que se propõem à análise das
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diversas posições acerca de um problema. Com isso, conclui-se a importância da Contabilidade Gerencial como forma efetiva para auxilio da tomada de decisões, com base na sua evidenciação com ênfase em elaborar informações uteis, repassando aos administradores todas as informações necessárias para que os mesmos possam administrar de forma mais eficiente as organizações, utilizando as informações gerenciais disponibilizadas pela Contabilidade Gerencial, ao modo que, utiliza-se essa informação de forma eficaz. REFERÊNCIAS
CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade Gerencial: Teoria e prática. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2008. GARRISON, Ray H., et al. Contabilidade gerencial. 11° ed. Rio Janeiro: LTC, 2007. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
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139
A LEI DE ACESSO A INFORMAÇÃO NO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE CÂMARAS MUNICIPAIS
Leonides Ferreira de Holanda Junior Graduado em ciências contábeis. – Faculdade Mater Christi – FMC. Endereço: Rua Santos
Dumont, 264 CEP: 62.800-000 - Aracati. E-mail: [email protected]@hotmail.com.
Maria Rosineide dos Santos Araújo
Graduada em Administração. – Universidade Potiguar de Mossoró, – UNP. Endereço: Rua Joaquim Afonso, 25 CEP 59631-450, Mossoró.
E-mail: [email protected].
Rosângela Queiroz Souza Valdevino Professora Me. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Endereço: Rua
Prudente de Morais, 972 CEP: 59611-100 – Mossoró. E-mail: [email protected] (Orientadora).
RESUMO O referido trabalho teve como objetivo geral verificar o cumprimento da lei nº 12.527/2011 de 18 de novembro de 2011, lei de acesso à informação comparando a utilização desta entre duas câmaras municipais de dois estados distintos, do Ceará e do Rio Grande do Norte. Como metodologia, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a cerca do assunto principal. Já a pesquisa de campo para a coleta dos dados, foi feita via internet. Para apuração dos resultados foi utilizada a análise de conteúdo que trata de um comparativo entre a C1 e a C2 diante das informações coletadas pela internet e a literatura. A conclusão do trabalho foi que o C1 utiliza de site para informações pertinentes aos gastos públicos e a C2 não utiliza desse meio de acesso à informação. Com isso, as consultas feitas demonstraram que uma câmara não cumpre com a lei, podendo acarretar com isso, problemas para o referido erário público. A pesquisa teve ainda como limitação apenas duas câmaras. Como sugestão para próximas pesquisas, seria de grande contribuição, o aumento do número de poderes legislativos municipais, fazendo uma comparação mais específica entre estados. PALAVRAS-CHAVE: Lei. Acesso. Informação. Legislativo. Municipal.
1 INTRODUÇÃO
O acesso à informação vem crescendo gradativamente no Brasil devido ao
crescimento da tecnologia. A população nos últimos anos vem buscando mais
informações acerca do dinheiro público, com isso, os gestores tem a obrigação de
fornecer as informações de forma clara, de como estão sendo gasto os recursos
públicos, visto que esses recursos são oriundos dos impostos e taxas pagos pela
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população para ser revertido em melhorias para todos. Com o advento da Lei
nº12.527/2011, que entrou em vigor em 16 de maio de 2012, regulamentando o
direito constitucional de acesso às informações públicas, criando mecanismos que
possibilitam, a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar
motivo, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades.
A referida lei é clara em seu art. 1º quando fala quem está subordinado ao
regime da lei onde pode-se observar claramente o poder legislativo como órgão
público que integra a administração, portanto as câmaras municipais são obrigadas
a seguir a lei. Vale ressaltar que os municípios com menos de 10 mil habitantes, não
precisam publicar na internet o conjunto mínimo de informações exigido. Seguindo
esse contexto tem-se a problemática de pesquisa: como o poder legislativo
municipal do estado do Ceará e o Rio Grande do norte estão cumprindo a lei de
acesso a informação?
A pesquisa ainda tem como objetivo geral comparar os métodos utilizados
entre as duas câmaras municipais para o cumprimento da lei de acesso à
informação.
O referido resumo traz uma significativa relevância diante dos últimos
acontecimentos no Brasil com escândalos envolvendo políticos no desvio de verbas
públicas, portanto a lei de acesso à informação contribui para o aumento da
eficiência do poder público, diminuindo a corrupção e elevando a participação da
sociedade que busca informações dos gastos públicos.
A metodologia aplicada para alcançar tal finalidade foi à descritiva e
qualitativa. Os dados primários foram coletados via internet por meio de uma
pesquisa online, sobre as informações obrigadas a ter de fácil acesso. Os dados
secundários fundamentaram-se no estudo bibliográfico de artigos, revistas, livros,
pesquisas eletrônicas e periódicos nacionais.
O trabalho encontra-se dividido em Introdução, em que pode ser observado
um breve resumo sobre o assunto pesquisado. Em seguida, foi definida a
metodologia utilizada para a realização deste trabalho. Os resultados vêm logo após
e por fim as referências onde consta toda a bibliografia estudada para elaboração
do estudo.
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2 METODOLOGIA
A fim de encontrar respostas aos problemas propostos, para a elaboração
de uma pesquisa científica faz-se necessário à apresentação de aspectos
metodológicos. De acordo com Gil (2010), a metodologia é uma disciplina com
normas adotadas para atingir o conhecimento e esclarecer a relevância do trabalho
realizado.
No intuito de encontrar respostas ao problema proposto nesta pesquisa,
foram realizadas pesquisas através da internet para encontrar as informações
obrigatórias em lei.
Já os critérios para a seleção dos estados, foi levado em consideração a
priori, a região Nordeste e escolhido os estados que atendiam os critérios,
facilitando a coleta de dados.
Portanto, como ponto de partida temos a lei n° 12.527 de 18 de novembro
de 2011, art. 8º, § 1º, que estabelece o conjunto mínimo de informações que devem
ser fornecidas na internet:
1. Conteúdo institucional: competências, estrutura organizacional, endereços e
telefones das unidades, horário de atendimento ao público e respostas às
perguntas mais frequentes da sociedade.
2. Conteúdo financeiro e orçamentário: registros de repasses ou transferências
de recursos financeiros, bem como de despesas; Informações de licitações
(editais, resultados e contratos celebrados) e dados gerais sobre programas,
ações, projetos e obras de órgãos e entidades.
O tempo para análise correspondeu ao período de 13 a 16 de setembro de
2015. A pesquisa foi realizada com duas câmaras municipais de pequeno porte,
onde o município apresentava um número de mais de 10 mil habitantes, de acordo
com o senso de 2014. Foi adotado como critério de escolha das câmaras por meio
do PIB per capita do município, para que os resultados não fossem interferidos pelo
fato de terem arrecadações distintas.
Pensando na continuidade da pesquisa, foi escolhido duas câmaras de
estados diferentes, assim sendo a escolha do estado foi levado em consideração
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que teriam que ser de uma mesma região, com as mesmas características, portanto
foram escolhidos os estados do nordeste, pensando no bom desempenho da
pesquisa os estados escolhidos foram: o Ceará e o Rio Grande do Norte. Para uma
melhor identificação nos resultados utilizou-se a classificação de C1 e C2 que
significa câmara 1 e câmara 2, tal técnica facilitou a análise dos resultados.
3 RESULTADOS
As câmaras municipais denominados de C1 e C2 são de cidades do
nordeste distintas, uma do estado do Ceará e a outra do Rio Grande do Norte,
ambas com os indicadores, IDH-M, PIB, PIB per capita e número de habitantes de
valores aproximados, em comparação um com o outro.
Foram analisadas as respectivas câmaras municipais via internet, um dos
mecanismos da lei de acesso à informação, em um período de quatro dias.
Os gestores das câmaras municipais já detêm de conhecimentos da lei,
visto que a mesma é de 2011. Ao realizar a pesquisa no site de pesquisa Google,
sobre as câmaras municipais C1 e C2, observou-se que a C1 detinha de um site
exclusivo que ao adentrar encontramos de forma rápida e clara, todas as
informações previstas do decreto. Já a C2 não obteve-se nenhuma informação, nem
mesmo site, portanto levando em consideração que o município tem mais de 10 mil
habitantes, o poder legislativo deveria fornecer via internet informações mínimas.
Entretanto foi possível observar que C2 ao não cumprir a lei de acesso à
informação está ocultando os dados que são de direito da população, dificultando o
acompanhamento da sociedade dos gastos públicos e consequentemente uma
possível sansão jurídica, chegando cometer uma infração administrativa, e poderá
ser punido com, no mínimo, uma suspensão. Se for o caso, o agente público
também poderá responder a processo por improbidade administrativa.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral do trabalho foi comparar os métodos utilizados entre as
duas câmaras municipais para o cumprimento da lei de acesso à informação.
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O mesmo foi alcançado com a pesquisa aplicada, portanto a lei de acesso a
informação é uma regra que deve ser cumprida. Porém, C2 não cumpre com as
regras estabelecidas em lei, onde tais informações devem ser publicadas via
internet, ainda notou-se a inexistência de site, ficando inviável tal acesso das
informações. Ao pesquisar C1 observou-se que a mesma encontra-se em dias com
as obrigações pertinentes a lei de nº 12.527/2011 e consequentemente o decreto nº
7.724/12, onde encontra-se de fácil acesso todas as informações, em um site da
próprio. A pesquisa foi limitada apenas a duas câmaras municipais de dois estados.
Com isso, tem-se a sugestão de ampliar o número de pesquisados no intuito de
procurar melhores resultados se utilizando de uma população maior.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009. GIL, A. C.. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. FEDERAL, G. Disponível em:< http://www.acessoainformacao.gov.br/> Acesso em: 15 set. 2015. CIDADES, P. Disponível em:< http:// www.ibge.gov.br/home//> Acesso em: 15 set. 2015.
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ANÁLISE CRÍTICA DOS EFEITOS DA ECONOMIA NA EDUCAÇÃO
Iêda Silvana Tavares Diniz UERN. Mossoró/RN, Brasil – [email protected]
Lúcia Maria Lima Nascimento
IFRN. Mossoró/RN, Brasil – [email protected]
RESUMO Essa pesquisa tem foco na análise crítica referente aos efeitos do capitalismo no sistema educacional brasileiro, a partir de pesquisa bibliográfica. Busca-se observar como se manifestam os conflitos na relação de economia e educação, se causam e quais os efeitos sobre a educação. É um convite para se refletir sobre os conflitos contemporâneos de uma sociedade doente e sobre a complexa lógica do capitalismo. Uma leitura ilustrada por poemas que contextualizam o cotidiano nosso de cada dia. A ideia de desenvolvimento da sociedade contemporânea não parece ser a ideal diante de seus cidadãos, a exemplo da relação entre a atividade produtiva e suas consequências sobre o meio ambiente, reflexo da educação. PALAVRAS-CHAVE: Critica. Educação. Economia.
O fenômeno da globalização é responsável por uma série de
transformações. As mudanças são visíveis em todos os níveis de nossas vidas. As
alterações no meio educacional, bem como suas consequências, também são
evidentes.
Nessa análise, chamamos a atenção para o conflito entre educação e
economia. O sistema educacional precisa ser revisto. É necessário repensar
conceitos, avaliar metodologias, priorizando sempre o ser e não apenas o ter, este
último regido pela lógica do capital, conforme ratifica Robin (1989, p. 180), ao
afirmar “Acabamos de conhecer o verdadeiro promotor da “economia de mercado”
desde há três séculos, o capitalismo, cujo rosto apresenta aspectos mais
inquietantes: a sua lógica de poder, as suas funções conjuntas de acumulação de
capital e de produção, a sua procura do lucro financeiro máximo no mais curto
espaço de tempo possível, a sua racionalização integral no desprezo pelo humano.”
A sociedade contemporânea valoriza mais o “ter” que o “ser”, tirar vantagem
sobre outros indivíduos tornou-se mais importante, pois passou a ser sinônimo de
“esperteza”, a ética por conveniência tornou-se prática comum no mundo dos
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negócios, isto posto, é necessário que o homem reflita sobre seus conflitos. Para
Krishnamurti(1976), “a educação correta vem com a transformação de nós mesmos.
Devemos reeducar-nos para não nos matarmos mutuamente por nenhuma causa,
por mais “sagrada” que seja, por ideologia alguma, por mais que prometa a
felicidade fututra para o mundo.” Necessitamos de nos reeducar, parar de procurara
culpados para problemas que nós mesmos criamos, e refletir sobre nossa postura
diante de nós mesmos e dos outros. O que implicaria a humanização da sociedade,
minimizando as injustiças sociais, consequências do mesmo capitalismo que a um
só tempo nos proporciona conforto a custa da exploração de muitos que contribuem
para que tenhamos acesso a ele, conforme nos mostra Fereeira Gullar em seu
poema “o açúcar”:
O branco açúcar que adoçará meu café Nesta manhã de Ipanema Não foi produzido por mim Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. Vejo-o puro E afável ao paladar Como beijo de moça, água Na pele, flor Que se dissolve na boca. Mas esse açúcar Não foi feito por mim. Este açúcar veio Da mercearia da esquina e Tampouco o fez, o Oliveira Dono da mercearia. Este açúcar veio De uma usina de açúcar em Pernambuco Ou no Estado do Rio E tampouco o fez o dono da usina. Este açúcar era cana E veio dos canaviais extensos Que não nascem por acaso No regaço do vale. Em lugares distantes, Onde não há hospital, Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome Aos 27 anos Plantaram e colheram a cana Que viraria açúçar.
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Em usinas escuras, homens de vida amarga E dura Produziram este açúcar Branco e puro Com que adoço o meu café esta manhã Em Ipanema.
Uma mudança evidente ocasionada pela globalização é a comportamental,
que incide no fato de as sociedades, cada vez mais atribuladas, delegarem à escola
funções, antes limitadas à família. O Estado não preparou a escola para lidar com a
sociedade globalizada, em contra partida, os efeitos desencadeados por esses
desencontros são susceptíveis a todos.
As consequências do capitalismo são assustadoras e nossas crianças
sofrem frequentemente com isso. A falta de tempo é justificativa para quase tudo,
enquanto isso, o individualismo e o distanciamento da família geram adultos
oprimidos.
Nossas crianças estão virando “moeda nacional”. Para os pais, representam
um benefício oferecido pelo governo. Para a escola, uma mensalidade a mais ou um
número que se converterá em verba no ano seguinte. Para o governo, apenas um
número nas estatísticas que garantirá empréstimos futuros. Manuel Bandeira
descreveu brilhantemente essa cena em “O bicho”:
Vi ontem um bicho Na imundice do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava e nem cheirava: Engolia com velocidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.
É preciso repensar um pouco a questão educacional, avaliar as
consequências das ações presentes, visando o futuro de todos os envolvidos, direta
e indiretamente. Tudo nos parece muito complexo. Como educar se a própria
educação tornou-se moeda em uma sociedade globalizada?
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A economia e a educação devem trabalhar de forma que uma complemente
a outra e não de modo que uma se sobreponha à outra. Para uma economia se
desenvolver e se tornar sólida, é necessário educação de qualidade. Em
contrapartida, se a economia não se desenvolver, de onde virão os recursos para a
educação?
A globalização tem proporcionado consequências preocupantes no contexto
educacional brasileiro, tais como: violência escolar, analfabetismo, exclusão,
miséria, dentre outras.
Deve-se atentar para o fato de a educação contemporânea está propensa a
atender a interesses unilaterais, o que pode ser ratificado por Krishnamurti (1976),
ao afirmar: “qualquer forma de educação que só atenda a uma parte e não à
totalidade do homem conduz, inevitavelmente, a conflitos e sofrimentos cada vez
maiores. Só na liberdade individual pode florescer o amor e a bondade; e só a
educação correta pode oferecer essa liberdade.”
Apesar de a educação estar sob a responsabilidade do Estado, observamos
que, em algumas situações, surgem opositores diretos como professores, pais e até
mesmo alunos promovendo cidadania e proporcionando uma educação humanizada
na construção da sociedade. Para Rubem Alves, são verdadeiros protagonistas do
vôo dos pássaros:
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono.
Deixam de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
A educação brasileira tão apontada como precária conta com diversas
escolas gaiola, que não visam à criatividade e nem incentivam a ousadia, pois não
interessa ao empresário (dono do pássaro) um funcionário (pássaro) instruído capaz
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de lutar por seus diretos, e sim um funcionário “treinado” para exercer atividades
conforme normas pré-estabelecidas, sem jamais contestá-las. Portanto,
desencorajando-o para alçar voos. Para Morin (1993):
A idéia de desenvolvimento foi e é cega perante as riquezas culturais das sociedades arcaicas ou tradicionais, vistas unicamente através das nuances econômicas e quantitativas. Só viu nas suas culturas idéias falsas, ignorância, superstições, sem imaginar que elas continham intuições profundas, saberes milenarmente acumulados, sabedoria de vida e valores éticos atrofiados entre nós.
Até pouco tempo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas
Empresas (SEBRAE) chamava a atenção para o alto índice de empresas que
fechavam suas portas antes mesmo de completarem cinco anos de atuação.
Recentemente, uma pesquisa do mesmo órgão constatou que um dos fatores que
contribui com o aumento na taxa de sobrevivência das empresas foi a melhora na
qualificação empresarial, ou seja, o empresário buscou na educação o
desenvolvimento pessoal e profissional. O que pode ser constatado na concepção
de Passet (2002) para quem “Em sua essência, a economia é uma atividade
calculada de transformação do mundo, visando satisfazer da maneira mais eficaz
possível as necessidades humanas.”
No entanto, a educação proporcionada, nesse caso, confirma que “a noção
de desenvolvimento continua gravemente subdesenvolvida.” (MORIN), salvo
algumas exceções, pois contempla prioritariamente questões econômicas, deixando
em segundo plano o desenvolvimento humano e os aspectos ambientais.
Aqui identificam-se os impactos ambientais ocasionados a partir das
atividades produtivas, como por exemplo, aumento da temperatura da Terra,
esgotamento acelerado dos recursos naturais, esse último conta ainda com o
descaso de alguns empresários em divulgarem uma política “ecologicamente
correta” em seus processos produtivos, pois esses problemas impõem um modelo
de desenvolvimento sustentável, que, devido aos elevados custos para implantação
e manutenção, pouco ou nada fazem para minimizar esses impactos ambientais, de
modo que esses planos não são cumpridos à risca. Para Krishnamurti (1976), “A
educação atual está toda interessada na eficiência exterior, desprezando
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inteiramente ou pervertendo, com deliberação, a natureza intrínseca do homem; só
cuida de desenvolver uma parte dele, deixando que o resto se arraste como possa.”
Paulo Freire (1996) nos alerta que “A alegria não chega apenas no encontro do
achado, mas faz parte do processo de busca. E ensinar que aprender não pode dar-
se fora da procura, fora de boniteza e da alegria”.
Atentar-se aos (re) significados da educação nos parece o primeiro passo
na construção de um mundo humazinado. Cada indivíduo tem sua responsabilidade
no cumprimento dessa etapa, não apenas alguns poucos especialistas. Afinal, é
preciso aprender a aprender.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Pensador. Info. Disponível em <http://www.pensador.info/poemas_sobre_a_edu cacao>. Acessado em 30 de out. 2010. BANDERA, Manuel. O bicho. Pensador. Info. Disponível em <http://www.pensador. info/poemas_sobre_a_educacao>. Acessado em 30 de out. 2010. FREIRE, Paulo. A alegria em saber. Pensador. Info. Disponível em <http://www.pensador.info/autor/Paulo_Freire/>. Acessado em 05 nov. De 2010. GULLAR, Ferreira. O açúcar. Pensador. Info. Disponível em <http://www.olhos criticos.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=106>. Acessado em 05 de nov. 2010. KRISHNAMURTI, J. A educação e o significado da vida. São Paulo: Ed. Cultrix, 1976. MORIN, Edgar. Terra-Pátria. Instituto Piaget, 1993. PASSET, René. Economia: da unidimensionalidade à transdisciplinaridade. In: MORIN, Edgar (Org). A religião dos saberes. O desafio do século XXI. Tradução de Flávia Nascimento. 3 ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2002. ROBIN, Jacques. O elogio de uma economia plural. In: MORIN, Edgar et al. A sociedade em busca de valores. Tradução Luis M. Couceiro Feio. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
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ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA HANSENÍASE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Richard Ramon de Medeiros
Universidade Potiguar – UnP. Mossoró-RN, Brasil – [email protected]
Tamina Raquel Medeiros Tathiane Russo de Andrade
Fausto Pierdoná Guzen Moisés Costa do Couto
RESUMO Introdução: A hanseníase representa um processo infeccioso de caráter crônico, desencadeado pela interação do ser humano com o Mycobacterium leprae, sendo uma das principais doenças endêmicas no Brasil. Esta doença não é de transmissão hereditária, congênita ou sexualmente transmissível. Ambientes fechados, com pouca luz solar, ausente de ventilação e o contato direto e prolongado com portadores do M. Leprae, sem tratamento, aumentam as chances de infecção. Objetivo: Delinear a situação epidemiológica dos últimos anos da hanseníase no estado do Rio Grande do Norte e suas principais cidades e comparar com outros estados da Região Nordeste e com o Brasil. Métodos: Para a realização deste trabalho, foi feito um levantamento epidemiológico da hanseníase em artigos, revistas cientificas e dissertações; definindo as seguintes palavras de busca: Hanseníase, Mycobacterium Leprae, Epidemiologia. Resultados: Segundo informações do Sinan/SVS-MS, em 2010, a situação epidemiológica da hanseníase no Brasil, era de 34.894 casos novos, 2.461 (7,1%) em menores de 15 anos. Os estados da região Nordeste intensificam as ações para eliminação da doença, justificadas por um padrão de média endêmico, segundo os parâmetros de prevalência. Em especial no estado do Rio Grande do Norte, destacaram-se duas cidades com o maior índice de acometimentos, na cidade de Mossoró foram diagnosticados 767 casos de hanseníase. Dentre estes, 692 (90,22%) foram casos novos, diagnosticados e registrados no período, verifica-se uma redução nas taxas de detecção, passando de 9,2/10.000 habitantes em 2005 para 3,8/10.000 habitantes em 2009. A cidade de Natal, capital do estado, obteve uma taxa de detecção em 2009 de 6,45 casos novos por 100 mil habitantes. Conclusão: Os dados revelam a importância das ações da vigilância em saúde de cada Estado para a diminuição e controle desta enfermidade, no Rio Grande do Norte, embora tenha havido uma importante redução do coeficiente de prevalência de hanseníase, demanda intensificação das ações para eliminação da doença em alguns municípios que ainda não alcançaram o nível de eliminação.
PALAVRAS-CHAVE: Hanseníase. Mycobacterium Leprae. Epidemiologia.
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REFERÊNCIAS
MINISTERIO DA SAÚDE. Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da
hanseníase no Brasil; 2008.
OLIVEIRA, V.M.; ASSIS, CR.D.; SILVA, K.C.C. Levantamento epidemiológico da
hanseníase no nordeste brasileiro durante o período de 2001-2010;
Scire Salutis, v.3, n.1, Out, Nov, Dez 2012, Jan, Fev, Mar 2013.
SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Relatório de situação: Rio
Grande do Norte / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – 5.
ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
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CONTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: UM ESTUDO ACERCA DA MENSURAÇÃO DOS CUSTOS E DESPESAS EM UMA INDÚSTRIA DE CIMENTO
NA CIDADE DE MOSSORÓ
Ítalo Carlos Soares do Nascimento Jandeson Dantas da Silva
Déborah Cristina da Costa e Silva Batista Paula Preston Queiroz Leite Batista
Jandeson Dantas da Silva Wênyka Preston Leite Batista da Costa
RESUMO Atualmente há uma preocupação das organizações em fazer o gerenciamento dos custos e despesas ambientais para que o processo de produção não exceda a sua carga de valor tanto em questão de recursos financeiros como em recursos naturais, entretanto existe uma dificuldade de fazer uma mensuração nos custos ambientais, devido alguns serem de natureza intangível e outros difíceis de determinar. Neste sentido, a presente pesquisa teve como objetivo geral identificar o processo de mensuração dos custos e despesas ambientais em uma indústria de cimento na cidade de Mossoró. Como objetivos específicos discorrer acerca da mensuração dos custos e despesas; evidenciar as demonstrações contábeis utilizadas pela contabilidade da empresa objeto de estudo e identificar o posicionamento da indústria em relação a contabilidade socioambiental. A pesquisa teve uma metodologia descritiva de natureza qualitativa. O intuito da pesquisa foi discorrer acerca da mensuração dos custos e despesas, evidenciar as demonstrações contábeis utilizadas pela contabilidade socioambiental e identificar o posicionamento da indústria em relação à contabilidade socioambiental. Por meio do acareamento entre o questionário e o referencial teórico foi possível verificar que a contabilidade socioambiental é relevante para a organização, observando que a mesma possui conhecimento dos custos e despesas, que apesar das dificuldades encontradas no início da evidenciação no tocante a classificação desses fatos, passou a realizar treinamentos periódicos com seu quadro de funcionário e atualmente realiza todo processo de mensuração e divulgação de todos os custos e despesas ambientais ocorridos ao longo das atividades desenvolvidas pela indústria voltadas ao meio ambiente. Com o desenrolar da pesquisa tornou-se evidente a sua relevância já que a Contabilidade socioambiental está em ascensão, sendo necessário que a classe contábil se atualize de acordo com as exigências do mercado. Para as organizações, a mensuração dos custos e despesas ambientais. A limitação da presente pesquisa está demonstrada a partir do acesso a informações, não foi possível analisar relatórios e demonstrações contábeis da empresa, além disso, a limitação de ser apenas um estudo de caso, fato este o qual não se pode generalizar os resultados, entretanto o trabalho tornou-se relevante pois demostrou aspectos a serem analisados com maior profundidade sugerindo assim, aplicar esse estudo em outas empresas de segmento e setor diferenciados e/ou analisar o tema com maior profundidade
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PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade socioambiental. Custos ambientais. Despesas ambientais.
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CONTRIBUIÇÃO DA AUDITORIA AMBIENTAL PARA A GESTÃO EMPRESARIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO EM EMPRESAS DO RAMO
SALINEIRO NO MUNICÍPIO DE AREIA BRANCA/RN
Ítalo Carlos Soares do Nascimento Jandeson Dantas da Silva
Antonia Thamara Oliveira Campelo Mayara Kênia da Silva Faustino
Wênyka Preston Leite Batista da Costa
RESUMO Em função da crescente preocupação com as questões ambientais, nas últimas décadas a sociedade além de se conscientizar, passou a adotar políticas de preservação ambiental, mais efetivas. Uma das ferramentas que contribui para a proteção do meio ambiente e para um melhor desempenho empresarial é a auditoria ambiental, objeto deste estudo. Neste sentido, o objetivo desta pesquisa está em evidenciar de que forma a auditoria ambiental contribui para a gestão empresarial das entidades do setor salineiro de Areia Branca-RN. Com isso, descrever a relevância da auditoria ambiental no processo de fiscalização e verificação dos sistemas gerenciais; evidenciar o papel da auditoria ambiental para a preservação e diminuição dos impactos ambientais e identificar a contribuição da auditoria ambiental para a melhoria do controle interno. Quanto à metodologia, o trabalho é de caráter qualitativo e descritivo. Dado o exposto, percebe-se que a realização de auditorias nas empresas do ramo salineiro de Areia Branca e a utilização de suas informações são vistas de forma positiva para o andamento das atividades, possibilitando o gerenciamento adequado das informações e testificando a veracidade das mesmas, uma vez que a sua utilização contribui significativamente para a proteção do meio ambiente, melhora a imagem institucional, além de conduzir melhorias no desempenho ambiental. Como resultados foi possível verificar que as empresas em estudo utilizam a auditoria como ferramenta de melhoria do controle interno e para prestar esclarecimentos à sociedade, além de garantir novos recursos e atender as obrigações legais, obtendo a certificação da ISO através do cumprimento das normas e regulamentos ambientais, como o Sistema de Gestão Ambiental - SGA. Assim, constatou-se que a auditoria é de inteira relevância para o ramo salineiro, por se tratar um procedimento de estudo e controle do patrimônio e conservação ambiental com o objetivo de assegurar a continuidade da empresa sem agressões ao meio ambiente, assim contribuindo no processo de gerenciamento de informações e tomada de decisões sem comprometer os recursos de futuras gerações. Contudo, por se tratar de um estudo comparativo aplicado em duas empresas a pesquisa apresenta limitações, uma vez que os resultados não podem ser generalizados. Assim, sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas em outras empresas do setor ou de outros segmentos econômicos, para que assim haja um maior alcance. PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade Ambiental. Auditoria Ambiental. Gestão Empresarial.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA, UM NOVO MODO DE EDUCAR
Jefferson Naldo Carvalho da Silva Graduando do curso de licenciatura em Filosofia pela universidade do Estado do Rio
Grande do Norte - UERN Email: [email protected]
RESUMO O AEE (Atendimento educacional especializado) é um projeto criado pelo Governo Federal para melhorar a aprendizagem dos alunos com deficiência. Trabalhar com o AEE, requer um longo e delicado processo, que perpassa os muros da unidade escolar. Pois este, além de contribuir para uma melhor aprendizagem do aluno na escola, ainda contribui para que os mesmos tenham uma melhor qualidade de vida na família e na sociedade. Porém, para que este processo seja frutífero é necessário um trabalho em conjunto entre os profissionais da área juntamente com os professores, e a família da criança com deficiência. Esse ambiente consiste em uma sala disponibilizada pela direção Escolar, para que com os recursos advindos do governo Federal possam instalar os equipamentos necessários para o trabalho das crianças com deficiência, conhecida como sala de recursos multifuncionais, sendo que esta auxilia a inserir essas crianças no processo ensino aprendizagem, ela receberá um atendimento todo especial conforme a sua necessidade, é interessante que haja esse bom acolhimento, pois a maneira como ela é cuidada fará com que queira retornar mais vezes para esta sala multifuncional, tendo em vista que, este é um processo lento e que exige bastante atenção. É de suma importante que a família tenha consciência acerca da deficiência da criança, e colabore ao máximo possível para que esta se sinta bem e disposta para continuar nesse propósito. Tanto a criança necessita do incentivo dos pais quanto precisa sentir-se bem no espaço que a recebe. Pois o trabalho em conjunto é de extrema importância.
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FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE PACIENTES SOROPOSITIVOS COM PNEUMONIA
Tatiana Vitória Costa de Almeida
Universidade Potiguar – UnP. Mossoró-RN, Brasil. Email: [email protected]
Nickson Melo de Morais Moisés Costa do Couto
RESUMO Introdução: Os pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV), estão predispostos a desenvolver a pneumonia, que é uma inflamação ou infecção nos pulmões, uma vez que os pacientes infectados por esse retrovírus possuem uma perda ou diminuição de defesa do sistema imunológico. Os pacientes soropositivos desenvolvem mais a pneumonia do que pacientes saudáveis, essa doença oportunista é a principal causa de óbito entre esse grupo de afetados. Objetivo. Apresentar tratamentos fisioterapêuticos acessíveis a pacientes soropositivos com pneumonia. Método. Foram utilizados 3 livros presentes na biblioteca da Universidade Potiguar (UnP) – campus Mossoró e 10 artigos selecionados através de busca no Google Acadêmico e no banco de dados da Scielo e da Bireme, a partir das fontes Medline e Lilacs. Resultados e Discussão. Durante o progresso da doença, o acometido lida com o aumento na produção de secreção pulmonar, causando uma ventilação pulmonar não adequada, e formação de alectasias, formando rolhas de secreção. Os tratamentos encontrados para ajudar este tipo de paciente são: posicionamento do paciente, aceleração de fluxo expiratório, pressão expiratória positiva, padrões ventilatórios e estimulação diafragmática, tosse induzida, técnica de expiração forçada, aspiração de secreções, ventilação não invasiva, oxigenoterapia, tapotagem, vibração, drenagem postural e compressão-descompressão. Conclusão. Os tratamentos fisioterapêuticos no paciente soropositivo com pneumonia auxiliam a preservar, ampliar e reparar as funções, sistemas e integridade dos órgãos. Mas, só as técnicas usadas pela fisioterapia não abolem completamente a doença, é necessário associa-las com o uso de antirretrovirais. PALAVRAS-CHAVE: HIV; AIDS; Pneumonia; Doenças Pulmonares; Fisioterapia Respiratória.
REFERÊNCIAS PASSOS, Ana Isabela Morsch. Avaliação de parâmetros funcionais respiratórios em pacientes adultos infectados pelo HIV. Dissertação de Mestrado. 2011. TARTARI, Janice Luisa Lukrafka. Eficácia da fisioterapia respiratória em pacientes pediátricos hospitalizados com pneumonia adquirida na comunidade: um ensaio clínico randomizado. Dissertação de Mestrado. 2003.
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SARMENTO, George Jerre Vieira. Fisioterapia respiratória no paciente crítico: rotinas clínicas. Manole, 2010.
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GESTÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO ACERCA DA SUA EVIDENCIAÇÃO NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL
Paula Preston Queiroz Leite Batista
Wênyka Preston leite Batista da Costa Jandeson Dantas da Silva
Welka Preston Leite Batista da Costa Alves Sérgio Luiz Pedrosa Silva
RESUMO A gestão ambiental pode ser definida como uma ferramenta que visa diminuição dos impactos que afetam o meio ambiente, atualmente essa preocupação também passou a ser adotada pelo âmbito empresarial, que cada vez mais investe nesse tipo de gestão. Que busca reduzir custos, evitando desperdícios e reutilizando materiais que antes eram descartados no meio ambiente, melhorando assim as relações comerciais, além de ser uma vantagem competitiva atraindo clientes que aderem aos princípios ambientais. Neste sentido, esse estudo tem como objetivo principal evidenciar as práticas da gestão ambiental utilizadas por uma empresa comercial na cidade de Fortaleza/CE. Como objetivos específicos, pretende-se evidenciar funcionamento das políticas ambientais adotadas pela organização, identificar as ações voltadas à sustentabilidade e discorrer sobre a relevância da gestão ambiental no objeto de estudo. A metodologia da presente pesquisa obteve um caráter descritivo, pois buscou descrever características de uma determinada população, neste caso a empresa comercial, localizada na cidade de Fortaleza/CE tratando-se assim de um estudo de caso. A pesquisa possui ainda natureza qualitativa, pois não houve inferência de técnicas estatísticas, preocupando-se apenas com a análise do conteúdo, obtido através de uma entrevista com roteiro pré-estabelecido, direcionada ao gerente geral da organização. Com os resultados obtidos, observou-se que o perfeito funcionamento da política ambiental na organização, conforme destacou o gerente geral durante a entrevista, o mesmo evidenciou que a gestão ambiental é de fundamental relevância para a organização destacando-se não apenas como uma vantagem competitiva, mas norteando todas as atividades desenvolvidas pela empresa. Quanto às ações de sustentabilidade desenvolvidas, o entrevistado destacou o comitê de desenvolvimento sustentável que reúne todos os departamentos da empresa e com o objetivo de buscar melhorias e aperfeiçoamento da política ambiental, desenvolvendo capacitação e treinamentos regulares aos colaboradores, sistema de lixo reciclável, a preferência pela comercialização de produtos ecoeficientes que diminuem os impactos causados a natureza e recentemente criou o programa de Tecnologia de informação Verde (TI-Verde), responsável por enviar para a reciclagem computadores e cabos que não são mais utilizadas pela empresa. Além de todas essas ações a organização está implementando econometros em todas as unidades, o qual possibilita que qualquer pessoa pode consultar quanto o que está sendo economizado pela entidade. Com os resultados da pesquisa foi possível identificar a relevância que a gestão ambiental possui na organização, propiciando diversos benéficos além de ser um diferencial competitivo, percebido que a preocupação com
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o meio ambiente está presente no planejamento, no controle e na execução das atividades de todos os setores da organização, atingindo assim os objetivos do presente estudo. A limitação da presente pesquisa destaca- se por ter sido realizado apenas um estudo de caso, fato este que não se pode generalizar os resultados, dessa forma sugere-se a aplicação do instrumento de pesquisa em organização do mesmo segmento econômico e/ou de outros de outros setores. PALAVRAS CHAVE: Gestão Ambiental. Política Ambiental. Ambiente empresarial.
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O PAPEL DA FISIOTERAPIA DERMATOLÓGICA NO PACIENTE COM HANSENÍASE
Sirlene Batista Cavalcante Universidade Potiguar – UnP. Mossoró-RN, Brasil. Email: [email protected]
Ana Elisa Gadêlha Moura de Almeida
Maria Stella Rocha Cordeiro de Oliveira Fausto Pierdoná Guzen Moisés Costa do Couto
RESUMO Introdução: A hanseníase, conhecida desde os tempos bíblicos como lepra, é uma doença infecto-contagiosa que se manifesta, principalmente, por lesões cutâneas com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. Tais manifestações são resultantes do Mycobacterium leprae (M. leprae), agente causador da doença de Hansen, que acomete células cutâneas e nervosas periféricas. Objetivo: Este estudo teve como objetivo expor a atuação da fisioterapia na reabilitação de pacientes com acometimentos dermatológicos decorrentes de hanseníanse, descrevendo assim os principais recursos e técnicas utilizadas. Metodologia: O levantamento bibliográfico foi fundamentado em uma revisão sistemática de material científico divididos em categorias de tese, dissertações, artigos, bases de dados Medline, Scielo, Ministério da Saúde, Google Acadêmico publicados entre o período de 2000 a 2015. Resultados:. Frequentemente os pacientes com hanseníase apresentam como prejuízo dermatológico as lesões cutâneas e a parestesia, isto é, a alteração de sensibilidade. Para reparar as lesões cutâneas, a Fisioterapia conta com recursos eletrotermofototerapêuticos que aceleram o processo de cicatrização, tais como, radiação infravermelha, radiação ultravioleta, laserterapia e o ultrassom terapêutico. Com relação a reabilitação de sensibilidade, o fisioterapeuta pode aplicar o método Rood que é uma técnica proprioceptiva termo-tátil que consiste em estimular a área lesada com objetos de diferentes superfícies e temperaturas acelerando o reparo nervoso sensitivo. Vale ressaltar que é extremamente importante o acompanhamento de outras áreas da fisioterapia e também a abordagem multiprofissional para o paciente com hanseníanse a fim de reabilitá-lo de maneira geral.Conclusões: Diante do exposto, conclui-se que a fisioterapia tem um papel amplo e decisivo no tratamento dos pacientes com hanseníase, restaurando as funções da pele e minimizandoas incapacidades imposta pela doença. Além disso, outras áreas da fisioterapia devem ser estimuladas para prevenir prováveis acometimentos ortopédicos, pneumológicos e uroginecológicos, também deve ser estimulada a atuação de outros profissionais de saúde. PALAVRAS-CHAVE: Hanseníase. Fisioterapia Dermatológica. Pele.
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REFERÊNCIAS
GIOVANA BARBOSA GIOVANA MILANI., SILVIA MARIA AMADO JOÃO., ESTELA ADRIANA FARAH., Fundamentos da fisioterapia dermato-funcional, FISIOTERAPIA E PESQUISA 2006; 12(3). SUENIMEIRE VIEIRA., JOSÉ ADOLFO M. G. S., ANTÔNIO FRANCISCO DE ALMEIDA N., ALIMIR VIEIRA D. F., CID ANDRÉ F. DE PAULA G., Métodos de avaliação e tratamento da hanseníase: uma abordagem fisioterapêutica, ConScientiae Saúde, 2012;11(1):179-184 YVES R. DE SOUZA., JOSÉ R. CUNHA., ADALGISTA I. M. DROMERSCHENKEL., A atuação da fisioterapia na hanseníase no Brasil. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ, 2011.
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RESTOS DO CARNAVAL: CONFIDÊNCIAS E MEMÓRIAS DE UMA INFÂNCIA
Míriam Firmino da Silva Paiva Mestranda em Letras (UERN/CAMEAM) – Pau dos Ferros- RN.
Email: [email protected]
RESUMO
O presente texto reflete de forma breve as marcas memorialísticas presentes no
conto clariceano “Restos do Carnaval”, publicado na obra “Felicidade Clandestina”
em 1971. Observamos como o tempo e o espaço influenciam na construção do
conto que é escrito em primeira pessoa, trazendo nitidamente o tom confidencial e
reminiscente tão bem marcado na obra. Para subsidiar a pesquisa nos valeremos
dos estudos de Mendilow (1972) em “O tempo e o romance”, Benedito Nunes
(2003); (1995) em “O tempo na Narrativa” e “O drama da linguagem” e quanto à
estrutura do texto contaremos com os estudos de Júlio Cortázar (1974) com “Alguns
aspectos do conto”.
PALAVRAS-CHAVE: Conto. Memória. Tempo e Espaço. Clarice Lispector.
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OS REFLEXOS DA ESCRITURAÇÃO FISCAL DIGITAL (EFD) AOS CONTRIBUINTES ENQUADRADOS NO SIMPLES NACIONAL: UM ESTUDO EM
UMA EMPRESA DA CIDADE DE MOSSORÓ-RN
Israel Gama de Oliveira Graduado em Ciências Contábeis (UERN), Pós-graduado Planejamento Tributário da
Faculdade do Vale do Jaguaribe. E-mail: [email protected]
Francisco Igo Leite Soares
Mestre em Engenharia de Petróleo e Gás (UnP), Especialista em Gestão Empresarial (FIJ), Em Docência no Ensino Superior (UnP), Graduado em Ciências Contábeis (UERN).
E-mail: [email protected]
Kennedy Paiva da Silva Graduado em Ciencias Contábeis (UERN), pós-graduando em Contabilidade Gerencial com
Foco em Controladoria pela Faculdade do Seridó. Email: [email protected]
Rafael Ramom
RESUMO A presente pesquisa teve como objetivo analisar como as empresas enquadras pelo Simples Nacional enfrentam as implicações impostas pela obrigatoriedade da Escrituração Fiscal Digital. O estudo caracteriza como exploratório e descritivo, visto que, serão realizados estudos para buscar novos conhecimentos e também agregá-los aos já existentes correlacionando-os ao tema deste trabalho. Neste sentido, realizou-se uma pesquisa de campo, por meio da aplicação de questionário com uma empresa do ramo de autopeças da cidade de Mossoró-RN. Os resultados demonstram que vários são os impactos relatados pela empresa, dentre eles destaca-se, o aumento dos custos para adequação à obrigação e a necessidade de adaptação a obrigação. Por outro lado, observaram-se alguns reflexos como, por exemplo, a EFD – Escrituração Fiscal Digital obtenção de informações serão mais ágeis e corretas; e desta forma a tomada de decisão será mais adequada possível. A escrituração fiscal digital é complexa, exigindo muita atenção e conhecimento, porém ao ter ciência dos impactos e procurando ameniza-los, é possível estar de acordo com as exigências e melhorar, assim, nos serviços contábeis e, consequentemente, aperfeiçoar a forma de atuação fisco. PALAVRAS-CHAVES: EFD. Impactos. Reflexos.
1 INTRODUÇÃO
A mudança tecnológica, sem dúvida, se tornou mais predominante após a
revolução industrial e em vários âmbitos são nítidas essas mudanças. A cada
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instante novas descobertas e técnicas de melhorias em várias áreas profissionais
são apresentadas ao mundo, no ramo da contabilidade não seria diferente. Hoje se
tem a substituição da carta pelo e-mail, dos montantes de papeis pelos bancos
dados, de livros razão impressos por arquivos digitais.
Na contabilidade vários avanços possibilitaram a melhoria do trabalho na
prestação do serviço, como a Escrituração Fiscal Digital - EFD criada pelo Convênio
ICMS nº 143, de 15 de dezembro de 2006. Antes, as empresas teriam que imprimir
todos os seus livros e levá-los a junta comercial para realizar os procedimentos de
registro e arquivamento, resultando no acúmulo de vários livros e uma grande
despesa com papéis.
No entanto, com a era digital temos a geração desses arquivos em forma
magnética que são transmitidos via internet para Receita Federal, onde realizará
esses procedimentos. Sem dúvidas é um projeto que veio para mudar a forma como
os contadores declaram suas obrigações acessórias, alterando a maneira de
entrega, arquivamento e registro dos livros.
De modo geral, consiste na modernização da atual sistemática do
cumprimento das obrigações acessórias, transmitidas pelos contribuintes às
administrações fazendárias e aos órgãos fiscalizadores, por meio da certificação
digital para assinatura dos documentos eletrônicos, a fim de garantir a validade
jurídica dos mesmos apenas na sua forma digital.
Nesse sentido, para que se possam compreender melhor os objetivos da
Escrituração Fiscal Digital, faz-se necessário conhecer o conceito do projeto e o
universo de atuação, bem como, a origem, através de uma pesquisa quanto ao seu
histórico e os principais pontos, com as suas características, objetivos, reflexos e
impactos.
Diante disto, surge a questão que norteará esta pesquisa: quais são as
implicações e reflexos da escrituração fiscal digital (EFD) aos contribuintes
enquadrados pelo Simples Nacional? Tendo em vista que o objetivo geral consiste
em analisar como as empresas optantes pelo Simples Nacional enfrentam os
impactos e reflexos tragos pela obrigatoriedade da EFD. Ainda como específicos:
apresentar a legislação da EFD; analisar quais os impactos trazidos pela
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165
escrituração fiscal digital; e verificar quais os principais problemas e obstáculos
encontrados pelas empresas do Simples Nacional com a obrigatoriedade da EFD.
O trabalho pode ser justificado a partir da relevância no meio contábil e a
contribuição que vêm trazer para classe. Conforme Carmo Filho (2009), um tema é
considerado relevante quando está ligado de alguma forma com um ponto
importante para a sociedade ou algum assunto que mereça continuidade na
literatura, neste trabalho, justifica-se que o tema é relevante devido à grande
importância para o meio acadêmico e para os profissionais que estão enfrentando a
nova realidade.
Quanto à metodologia, tem-se uma pesquisa bibliográfica com base na
legislação vigente e publicações de autores referenciados no tema deste trabalho. O
estudo caracteriza-se como exploratório e descritivo, visto que serão realizados
estudos para buscar novos conhecimentos e também agregá-los aos já existentes
relacionados ao tema deste trabalho.
Será realizado um levantamento bibliográfico e aplicado um questionário a
uma empresa no ramo de autopeças cidade de Mossoró-RN, posteriormente,
análises e conclusões do problema levantado. O estudo está divido em cinco partes
introdução, referencial teórico, metodologia, resultados e discussões; e
considerações finais.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 EFD - ESCRITURAÇÃO FISCAL DIGITAL
A Escrituração Fiscal Digital – EFD foi instituída por meio do Convênio ICMS
nº 143, de 15 de dezembro de 2006. De acordo com o Ajuste SINIEF nº 2 de 03 de
abril de 2009, a EFD: Compõe-se da totalidade das informações, em meio digital,
necessárias à apuração dos impostos referentes às operações e prestações
praticadas pelo contribuinte, bem como outras de interesse das administrações
tributárias das unidades federadas e da Secretaria da Receita Federal do Brasil -
RFB (BRASIL, 2009).
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166
Essas informações referem-se aos dados correspondentes ao período
compreendido entre o primeiro e o último dia do mês, de acordo com a Cláusula
quarta do Ajuste Sinief 02/2009 de 03 de abril de 2009 RFB, considerando-se as
seguintes totalidades das informações:
a) as relativas às entradas e saídas de mercadorias bem como aos serviços
prestados e tomados, incluindo a descrição dos itens de mercadorias,
produtos e serviços;
b) as relativas à quantidade, descrição e valores de mercadorias, matérias-
primas, produtos intermediários, materiais de embalagem, produtos
manufaturados e produtos em fabricação, em posse ou pertencentes ao
estabelecimento do contribuinte declarante ou fora do estabelecimento e em
poder de terceiros;
c) qualquer informação que repercuta no inventário físico e contábil, na
apuração, no pagamento ou na cobrança de tributos de competência dos
entes conveniados ou outras de interesse das administrações tributárias.
Nesse sentido, a atual forma de escrituração de livros fiscais será
substituída por um arquivo digital que conterá a EFD, onde estarão englobadas
todas as informações que hoje são prestadas por meio dos livros fiscais, além de
outras que sejam de interesse da administração tributária.
2.2 OBRIGATORIEDADE
Em regra, de acordo com o AJUSTE SINIEF 2, de 03 de abril de 2009, a
EFD é de uso obrigatório, a partir de 1º de janeiro de 2009 para todos os
contribuintes do ICMS ou do IPI. Todavia, mediante a celebração de Protocolo
ICMS, as administrações tributárias das unidades federadas e da RFB poderão:
a) dispensar a obrigatoriedade da EFD para alguns contribuintes, conjunto
de contribuintes ou setores econômicos; ou
b) indicar os contribuintes obrigados à EFD, tornando a utilização facultativa
aos demais.
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167
É dispensada a obrigatoriedade da entrega da EFD ao Micro Empreendedor
Individual e a EIRELI. Já as Microempresas, Empresas de Pequeno Porte e
SIMPLES Nacional, de acordo com o Decreto 24.120/2013, estão obrigadas a partir
de 01 de janeiro de 2014 ao Estado do Rio Grande do Norte.
2.3 LIVROS E DOCUMENTOS ABRANGIDOS PELA EFD
Conforme cláusula primeira, § 3º do Ajuste Sinief nº 02/2009 de 03 de abril
de 2009, o contribuinte deverá utilizar a EFD para efetuar a escrituração do: livro
registro de entrada; livro registro de saída, livro registro de inventário; livro registro
de apuração de IPI; livro de apuração de ICMS e Documento Controle de Crédito de
ICMS do Ativo Permanente - CIAP - modelos “A”, “B”, “C” ou “D”.
a) Livro Registro de Entradas
b) Livro Registro de Saídas
c) Livro Registro de Inventário
d) Livro Registro de Apuração do IPI
e) Livro Registro de Apuração do ICMS
f) Documento Controle de Crédito de ICMS do Ativo Permanente - CIAP.
Sua escrituração é obrigada desde 1º de janeiro de 2011.
2.4 DISPENSA DE OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA
Cabe aos estados estabelecerem a dispensa de suas obrigações acessórias
com a obrigatoriedade da EFD de suas unidades tributárias. O estado do Rio
Grande do Norte dispõe na Portaria Nº 063, em seu art. 1º que “ficam dispensados
da entrega dos arquivos digitais do SINTEGRA, estabelecidos no Convênio ICMS
57/95, referentes ao período de apuração de julho de 2010 e subsequentes”.
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168
2.5 PERFIL DE APRESENTAÇÃO DA EFD
Para a geração e envio de arquivos da EFD, o contribuinte deve elaborar o
arquivo digital utilizando o perfil “A”, “B” ou “C”. A diferença entre os perfis está no
detalhamento da apresentação das informações. O perfil “A” apresenta informações
analíticas, o “B”, sintéticas e o “C” sendo o mais simplificado de todos. Disso
discorre o art. 623-G, RICMS-RN:
§ 1º Quando a SET não atribuir um perfil ao estabelecimento, o contribuinte
deverá obedecer ao leiaute relativo ao perfil “A”.
§ 2º O perfil de apresentação do arquivo da EFD mencionado no caput
poderá ser alterado a qualquer momento por ato administrativo do
Secretário de Estado da Tributação, não se considerando atualização da
lista de obrigados à EFD tal alteração (Ajuste SINIEF 02/09). (NR dada pelo
Decreto 21.126, de 29/04/2009).
Conforme publicado no Decreto 24.120/2013, as ME, EPP e optantes do
SIMPLES NACIONAL devem entregar a EFD no perfil "C" constando dos mesmos
os livros de entrada e de saída. A atribuição do perfil é determinada pela SEFAZ nas
resoluções que tratam da obrigatoriedade.
2.6 PRAZO DE ENTREGA
A periodicidade de apresentação da EFD é mensal. No geral, a data de
entrega do arquivo cabe à administração tributária, de cada unidade federada,
estabelecer seus prazos. No estado do Rio Grande do Norte, conforme art. 623-N
do RICMS, o prazo para transmitir o arquivo é até o dia 15º do mês subsequente ao
encerramento do mês de apuração. Após esta data, não ocorrendo a entrega, o
contribuinte estará omisso.
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169
2.7 RETIFICAÇÃO
A retificação da EFD será efetuada mediante envio de outro arquivo para
substituição integral do arquivo digital, regularmente recebido pela administração
tributária.
Nesse sentido, o art. 623-P do RICMS-RN ressalta que o contribuinte
poderá retificar a EFD:
[...] II – até o último dia do terceiro mês subsequente ao encerramento do mês da apuração, independentemente de autorização da administração tributária, [..]; III - após o prazo de que trata o inciso II [...], mediante autorização da URT do domicílio fiscal do contribuinte, quando se tratar de ICMS, ou pela RFB quando se tratar de IPI, nos casos em que houver prova inequívoca da ocorrência de erro de fato no preenchimento da escrituração, quando evidenciada a impossibilidade ou a inconveniência de saneá-la por meio de lançamentos corretivos.
Ainda, artigo 623-P não produzirá efeitos à retificação:
I – de período de apuração que tenha sido submetido ou esteja sob ação
fiscal;
II – cujo débito constante da EFD objeto da retificação tenha sido enviado
para inscrição em Dívida Ativa, nos casos em que importe alteração desse
débito;
III - transmitida em desacordo com as disposições deste artigo.
Não há nenhum tipo de cobrança para a retificação e o arquivo retificador
não pode ser complementar, devendo o contribuinte elaborar o arquivo completo e
transmiti-lo em substituição ao normal.
2.8 PENALIDADES
Caso o contribuinte deixe de apresentar nos prazos fixados sua declaração
ou os que apresentarem com incorreções ou omissões, serão intimados para
apresentá-los ou para prestar esclarecimentos nos prazos estipulados pela
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170
Presidência da República, em acordo com a Lei nº 12.873, art. 57, de 24 de outubro
de 2013, sujeitando-se às seguintes multas:
a) R$ 500,00 (quinhentos reais) por mês-calendário ou fração, relativamente
às pessoas jurídicas que estiverem em início de atividade ou que sejam
imunes ou isentas ou que, na última declaração apresentada, tenham
apurado lucro presumido ou pelo Simples Nacional;
b) R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) por mês-calendário ou fração,
relativamente às demais pessoas jurídicas;
[...]
II - por não cumprimento à intimação da Secretaria da Receita Federal do
Brasil para cumprir obrigação acessória ou para prestar esclarecimentos
nos prazos estipulados pela autoridade fiscal: R$ 500,00 (quinhentos reais)
por mês-calendário;
III - por cumprimento de obrigação acessória com informações inexatas,
incompletas ou omitidas:
a) 3% (três por cento), não inferior a R$ 100,00 (cem reais), do valor das
transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa
jurídica ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no
caso de informação omitida, inexata ou incompleta;
b) 1,5% (um inteiro e cinco décimos por cento), não inferior a R$ 50,00
(cinquenta reais), do valor das transações comerciais ou das operações
financeiras, próprias da pessoa física ou de terceiros em relação aos quais
seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou
incompleta. (BRASIL, 2013).
As multas por atraso terão ainda a redução de 50% quando a apresentação
do arquivo for realizada antes de procedimento de ofício.
3 METODOLOGIA
O embasamento metodológico desta pesquisa foi através de coleta de
dados realizando-se uma pesquisa exploratória, proporcionando “maior familiaridade
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171
com o problema, com intuito de construir hipóteses, aprimoramento das ideias ou
descobertas de intuições” Gil (2002).
O método do estudo de caso “não é uma técnica especifica. É um meio de
organizar dados sociais preservando o caráter unitário do objeto social estudado”
(GOODE & HATT, 1969). De outra forma, TULL (1976) afirma que “um estudo de
caso refere-se a uma análise intensiva de uma situação particular” e BONOMA
(1985) coloca que o “estudo de caso é uma descrição de uma situação gerencial”.
Diante disso, foi realizado um estudo de caso em uma empresa no ramo de
comércio de autopeças, na cidade de Mossoró-RN, optante pelo Simples Nacional.
O período de tempo para experiência foi de janeiro 2015 à julho 2015.
Ademais, fez-se o uso da pesquisa bibliográfica, abrangendo a leitura,
análise e interpretação do assunto, principalmente da legislação vigente. De acordo
com Gil a pesquisa bibliográfica é:
[...] aquela em que os dados são obtidos de fontes bibliográficas, ou seja, de material elaborado com a finalidade explicita de ser lido. Com efeito, a pesquisa bibliográfica é elaborada com dados obtidos em livros, jornais, revistas, etc. (Gil, 2000).
A coleta de dados foi realizada através da aplicação de um questionário de
10 (dez) questões sobre o atual cenário da escrituração fiscal digital, sendo 07
(sete) de múltipla escolha e 03 (três) subjetivas.
Na análise dos dados foram apresentadas as abordagens qualitativas e
quantitativas que, segundo Lampert (2000): A pesquisa quantitativa é aquela que,
utilizando instrumentos de coleta de informações numéricas, medidas ou contadas,
aplicados a uma amostra representativa de um universo a ser pesquisado, fornece
resultados numéricos, probabilísticos e estatísticos, enquanto a análise qualitativa é
aquela que, utilizando o estudo documental, procura explorar a fundo conceitos,
atitudes, comportamentos, opiniões e atributos do universo pesquisado, avaliando
aspectos emocionais e intencionais implícitos na opinião dos sujeitos da pesquisa.
Com base nas definições abordadas na metodologia, esta pesquisa foi
realizada buscando conceituar, analisar e evidenciar os processos da EFD no intuito
de alcançar os objetivos propostos deste trabalho.
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172
4 RESULTADOS E DISCURSÕES
Conforme apresentado na metodologia, foi realizado um estudo de caso
limitado a uma única empresa. Sendo assim, a fim de preservar a identidade da
empresa, neste artigo, ela será aqui tratada de XI. Trata-se de uma empresa que
atua no ramo de comércio de autopeças, instalada na cidade de Mossoró há mais
de cinco anos, sendo seu regime de tributação o Simples Nacional.
Para verificar quais os impactos e reflexos da escrituração fiscal digital na
empresa XI, foi realizada uma entrevista com o Administrador/Contador, a fim de
obter informações relevantes sobre o processo de adaptação desta declaração. Ao
perguntar sobre o seu conhecimento sobre a EFD/ICMS-IPI, ele respondeu que
conhecia completamente a declaração. Diante disso, foi indagado onde ele adquiriu
este conhecimento, ocasião em que ele respondeu ter sido na faculdade. Ao ser
questionado sobre quais são as maiores dificuldades enfrentadas ao se trabalhar
com o SPED Fiscal, o Administrador/Contador informou que a complexidade da
legislação tributária é a principal delas.
Sobre a participação de cursos ou palestras sobre a EFD/ICMS-IPI, o
entrevistado declarou que não fez participação alguma para se adequar. Em relação
a esta adequação, era de fundamental importância ter conhecimento dos
funcionários que estavam envolvidos na migração do sistema convencional para o
SPED Fiscal, tendo o Administrador/Contador respondido que os contadores e
todos os colaboradores que estão envolvidos com a contabilidade da empresa.
Ao reportar sobre sua opinião em relação à obrigação da EFD/ICMS-IPI
para as empresas do Simples Nacional e se houve influência de forma positiva para
as empresas, o entrevistado foi claro em responde que sim, afirmando haver
influências positivas. No mesmo entendimento, foi indagado se ele concordava que
a partir da implantação do SPED Fiscal, haveria acesso e agilidade de informações
mais corretas e, sem nenhuma dúvida, o entrevistado concordou com o
questionamento.
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173
Referente às vantagens, o Administrador/Contador descreveu que com o
alinhamento das informações fiscais em âmbito federal, além de gerar convergência
para um só modelo de escrituração, facilitará a melhor fiscalização por parte do
governo. Já a desvantagem, ele entende que o principal problema está em alguns
custos que tiveram que aumentar após a implantação da EFD, como por exemplo:
os custos com mão de obra contábil mais qualificada, com certificados e sistemas
que atingissem a nova realidade.
Por ser um processo novo, foi questionado qual era sua opinião em relação
à inclusão das empresas do Simples Nacional na EFD/ICMS-IPI, o
Administrador/Contador disse que com a implantação do EFD, sem dúvida, foi um
extremo avanço para a organização das empresas, porém, toda mudança desse
porte onera muito, principalmente empresas do regime do Simples Nacional, que,
em sua maioria, são de pequeno porte e se viram numa situação que tiveram que
adequar seus quadros profissionais e tecnológicos para suportar a mudança.
Contudo, esse ponto gerou e ainda gera muita dificuldade, contribuindo para o
retorno a informalidade dos pequenos negócios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como objetivo geral, analisar como as empresas
optantes pelo Simples Nacional enfrentam os impactos e reflexos tragos pela
obrigatoriedade da EFD, mediante aplicação de um questionário, contendo 10
perguntas direcionadas a uma empresa optante pelo Simples Nacional, do ramo de
autopeças, na cidade de Mossoró/RN. Para atingir o objetivo geral, foi necessário
conhecer a EFD por meio do referencial teórico e analisar os impactos e reflexos
destacados pela empresa entrevistada.
Ao final, realizou-se um confronto entre as informações oriundas da teoria
pesquisada e as respostas obtidas da empresa entrevistada, conseguindo, dessa
forma, analisar os resultados encontrados e resolver a problemática da pesquisa.
A partir da análise dos resultados, pôde-se perceber que os impactos
enfrentados pela EFD não foi somente à parte contábil da empresa, mas também
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174
impactou os custos. Verificou-se, também, que se foi necessário investir em mão de
obra mais qualificada e em sistema de informação.
Os reflexos identificados foram de bastante relevância, tendo em vista, que
foi apontado o lado do fisco, com a EFD há uma facilidade de melhor fiscalização. O
lado do contribuinte através de melhor acesso e agilidade de informações mais
corretas. E o principal foco desta pesquisa os reflexos tragos pelo SPED Fiscal,
trazendo um extremo avanço para a organização das empresas.
Assim, é necessário estar atento às mudanças que ocorrem
frequentemente, pois estamos vivenciando a era do conhecimento e da informática,
o que exige muito do capital intelectual e a procura de profissionais cada vez mais
preparados para atender as novas exigências do fisco e do mercado.
Por fim, pode-se afirmar que a escrituração fiscal digital é complexa e exige
muita atenção e conhecimento. Além disso, a partir do momento em que se toma
ciência dos impactos causados pela EFD e busca ameniza-los é possível estar de
acordo com as exigências e melhorar nos serviços contábeis, consequentemente, a
atuação do fisco será aperfeiçoada e com isso, quem sabe, se possa esperar a tão
sonhada reforma tributária.
REFERÊNCIAS
BONOMA, Thomas V. - Case Research in Marketing: Opportunities, Problems, and Process. Journal of Marketing Research, Vol XXII, May 1985. CARMO FILHO, M. M. Procedimento metodológico de avaliação da acessibilidade e mobilidade nos polos produtivos do interior do Amazonas. Tese (Doutorado em Engenharia de Transportes) – Doutor em Engenharia de Transporte, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/COPPE), 2009. Disponível em: <http://tesesufrj.wordpress.com/>. Acesso em: 20 jan. 2015. GOODE, W. J. & HATT, P. K. - Métodos em Pesquisa Social. 3. ed., São Paulo: Cia Editora Nacional, 1969. GIL, A. C. Técnicas de Pesquisa em Economia e Elaboração de Monografias. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. LAMPERT, E. (org). A Universidade na virada do século 21: Ciência, Pesquisa e Cidadania. Porto Alegre: Sulina, 2000.
ISSN 2446-7790
175
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei Nº 12.873, de 24 de outubro de 2013. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/Lei/L12 873.htm>. Acesso em: 27 jan. 2015. ______. Cláusula quarta do Ajuste Sinief 02/2009. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/confaz/confaz/ajustes/2009/aj_002_09.htm>. Acesso em: 27 jan. 2015. SECRETARIA DE ESTADO DE TRIBUTAÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE. Portaria Nº 063/2010. Disponível em: <http://www.set.rn.gov.br/content Producao/aplicacao/set_v2/legislacao/enviados/normas_recentes_detalhe.asp?sTipoNoticia=&nCodigoNoticia=1723>. Acesso em: 23 jan. 2015. ______. Regulamento do ICMS – RICMS. Disponível em: <http://www.set.rn.gov.br/contentProducao/aplicacao/set_v2/legislacao/enviados/normas_recentes_detalhe.asp?sTipoNoticia=&nCodigoNoticia=3032>. Acesso em: 24 jan. 2015. ______. Decreto 24.120/2013. Disponível em: <http://www.set.rn.gov.br>. Acesso em: 31 jan. 2015. TULL, D. S. & HAWKINS, D. I. - Marketing Research, Meaning, Measurement and Method. Macmillan Publishing Co., Inc., London, 1976.
ISSN 2446-7790
176
ORÇAMENTO PÚBLICO COMO FERRAMENTA DE DECISÃO: UMA ABORDAGEM EM UMA PREFEITURA DO RIO GRANDE DO NORTE
Nádja Luana da Cunha Rosângela Queiroz Souza Valdevino
Ana Paula de Oliveira Costa Maria Nailane Jacinto da Silva
RESUMO O setor público tem a responsabilidade de atender as necessidades sociais, voltando as suas atividades para o atendimento do bem estar social. Diante disso, destaca-se o orçamento como um instrumento contábil do processo gerencial das políticas públicas que permite o tratamento mais apropriado na definição de prioridades, na alocação dos recursos públicos e, principalmente, no controle da execução e análise dos resultados, não admitindo sacrificar as realizações dos anseios da sociedade. Esta pesquisa tem como objetivo essencial verificar a relevância do orçamento público para a tomada de decisão no âmbito municipal. A metodologia do trabalho é de caráter descritivo e qualitativo e trata-se de um estudo de caso. Em face desse argumento, o presente artigo produz uma análise sobre o assunto. Para isso, aplicou-se um questionário ao contador de uma Prefeitura Municipal localizada no interior do Rio Grande do Norte. Conclui-se que o orçamento garante a eficiência, eficácia nas atividades gerenciais dos órgãos públicos, contribuindo para o desenvolvimento das tarefas administrativas como o planejamento, execução e controle. PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade pública. Gestão pública. Orçamento público.
1 INTRODUÇÃO
Com o evoluir da sociedade, se vê de forma mais acentuada a exigência
pelo cumprimento das ações essenciais para satisfazer as necessidades da
coletividade, pois para que a administração possa vir a desempenhar um bom
serviço ela deve basear-se em normas.
Dessa forma, a gestão pública deve desenvolver de maneira eficaz as suas
funções para que o direcionamento dos recursos públicos seja concretizado de
maneira correta.
Perante esse contexto a presente pesquisa pretende solucionar o seguinte
problema: qual a relevância do orçamento público para a tomada de decisão no
âmbito municipal? Com isso, tem-se o objetivo geral dessa pesquisa que foi:
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177
verificar a relevância do orçamento público para a tomada de decisão no âmbito
municipal.
Portanto a pesquisa se torna relevante, pois o orçamento público delineia as
direções, adéqua os planos de governo e define etapas para o planejamento.
Os procedimentos metodológicos para alcançar os objetivos almejados é a
pesquisa descritiva com aspectos qualitativos. Os dados primários foram coletados
mediante a aplicação de um questionário que constituiu 4 perguntas abertas,
direcionadas ao contador de uma prefeitura do interior do Rio Grande do Norte. Por
sua vez, os dados secundários baseiam-se no estudo bibliográfico de artigos,
revistas, livros e pesquisas eletrônicas.
O presente trabalho encontra-se dividido em introdução, em que pode ser
observado um breve resumo sobre o assunto pesquisado. Em seguida, foi definida a
metodologia utilizada para a realização deste trabalho, como também os diversos
resultados obtidos por meio da pesquisa. E por fim, tem-se a conclusão e as
referências onde consta toda a bibliografia estudada para elaboração do estudo.
2 METODOLOGIA
No presente trabalho fez-se o uso de uma pesquisa do tipo descritiva. Foi
realizado um estudo de caso no âmbito da contabilidade pública, o qual contou com
a perspectiva de um contador com relação à utilização do orçamento público como
ferramenta de gestão oferecendo confiabilidade nessa pesquisa de campo.
Quanto ao procedimento de pesquisa utilizado, este foi do tipo qualitativo.
Na concepção de Dalfovo, Lana e Silveira (2008, p. 5) as pesquisas “qualitativa e
quantitativa levam como base de seu delineamento as questões ou problemas
específicos adota tanto em um quanto em outro a utilização de questionários e
entrevistas”.
A análise dos dados estendeu-se entre os meses de Julho à Agosto de
2015. O campo de atuação foi em um município do interior do Rio Grande do Norte,
tendo como objeto de delimitação do estudo, a administração pública da referida
prefeitura.
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178
Com relação ao delineamento da pesquisa, foram adotados procedimentos
que consistem coleta de dados por fonte primária e secundária. As fontes primárias
foram coletadas mediante aplicação de um questionário contendo 4 perguntas
abertas e estruturadas, direcionadas ao contador que foram baseadas na literatura.
No entanto, as informações secundárias deram-se por meio do emprego de
materiais bibliográficos e documentais extraídos de livros, artigos e da internet.
O tratamento dos dados foi feito mediante comparação com o referencial
teórico e as respostas obtidas com as questões respondidas pelo contador que
representou a administração pública de uma prefeitura do interior do Rio Grande do
Norte. Este método é chamado de análise de conteúdo que segundo Bardin (2009)
é um conjunto de técnicas de análises das comunicações que utilizam
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.
3 RESULTADOS
Para um melhor esclarecimento das informações colhidas apresenta-se em
forma de síntese dos principais pontos abordados nas questões aplicadas: gestão
pública, contabilidade pública, orçamento público e a tomada de decisão,
respectivamente.
No primeiro momento o contador reconhece a necessidade de
transformações urgentes na qualidade da prestação dos serviços públicos seja no
âmbito estadual, ou municipal; destacou que em meio a tantos desafios a
administração pública do município busca atender ao interesse da sociedade e às
necessidades sociais, mediante a estrutura administrativa, de forma direta ou
indireta, bem como os elementos que a legislação permite na execução dos fins a
que se destinam procurando adequar os seus serviços a novas exigências da
sociedade civil.
Quando perguntado sobre o setor da contabilidade pública na Prefeitura
Municipal, afirma o contador que esse existe e que é responsável pelo
acompanhamento da situação patrimonial e seu respectivo controle, apurando
resultados e elaborando relatórios periódicos sobre os atos e fatos da administração
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pública. A Contabilidade Pública utiliza-se de procedimentos para registrar os atos e
fatos administrativos, verificando os resultados alcançados e preparando
demonstrações periódicas, considerando as normas do direito financeiro, as normas
contábeis direcionadas ao controle patrimonial das organizações públicas e os
princípios fundamentais da contabilidade (HADDAD, MOTA 2010).
No entanto, a contabilidade pública é uma ferramenta de controle que
atende as exigências da sociedade, quanto ao uso dos recursos recolhidos, e sobre
a prestação de contas dos atos do gestor público.
Conforme Rosa (2011) o orçamento é um instrumento de planejamento da
ação governamental, que apresentam objetivos e fixa metas almejadas, dando
ênfase aos fins por meio de ações programáticas, que permitem o
acompanhamento físico-financeiro, a avaliação dos resultados e a gerência dos
objetivos.
Rezende e Cunha (2005 apud LIMA, 2012) enfatizam que o planejamento,
ao lado do orçamento, são fatores decisivos para garantir um adequado
desempenho pelas entidades públicas.
O contador afirma que há um acompanhamento do que foi orçado e o que
fora alcançado na prestação dos serviços e realização das obras, tais benefícios
que são prestados a sociedade, e que esta por sua vez acompanha todo esse
processo, ou seja, acompanha por meio dos portais da transparência o que foi
previsto e de que forma foram alocados os recursos.
O orçamento deve ser elaborado e aprovado, em sessões plenárias
direcionadas ao público geralmente na câmera dos vereadores e para ter efeito
legal e vigorar é necessário ser publicado para ciência de todos (ROCHA, 2002).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como foco principal o orçamento público como um
instrumento gerencial nas organizações públicas. O estudo exposto apresentava
como objetivo e que por sua vez foi alcançado o de verificar a relevância do
orçamento público para a tomada de decisão no âmbito municipal.
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A pesquisa mostrou que a contabilidade como ciência social vem
acompanhando o desenvolvimento da sociedade. No âmbito público não deve ser
diferente, a contabilidade pública acrescenta novos preceitos para poder seguir o
crescimento econômico dos mercados globalizados que buscam assim, a adoção de
métodos adequados para dá confiabilidade às informações geradas no setor
público, e assim, promover o acompanhamento e o controle do desempenho
econômico-financeiro dos entes públicos. Dessa forma, o orçamento surge como
uma ferramenta gerencial pública capaz de admitir a idealização das
disponibilidades financeiras, tomando por embasamento as contas de receita e
despesa, assumindo a condição de um documento transparente que permite a
divulgação das ações governamentais.
A publicação do orçamento deve ser periódica e abranger dados sobre a
utilização de recursos e gastos realizados pelo gestor público. Isso permite aos
cidadãos terem conhecimento acerca das informações sobre de que forma os
recursos estão sendo utilizados e com isso, exercer seus direitos de fiscalizar os
atos praticados pelo poder público.
Em virtude do que foi mencionado e com base nos resultados obtidos
conclui-se que o orçamento na visão do contador entrevistado é um instrumento
gerencial utilizado na gestão pública, auxiliando de forma eficaz na tomada de
decisão e no controle das ações prestadas a sociedade. Constitui ainda como um
artifício que contribui na melhor forma de se aplicar os recursos financeiros
mediante um processo de elaboração, cumprimento e análise de programas.
Portanto, por meio do orçamento, pode-se conferir a verdadeira situação econômica
da entidade pública, analisar o montante de sua arrecadação, os dispêndios e
demais ações a serem executadas, bem como apreciar as obras a serem
realizadas.
O trabalho teve sua limitação a um estudo de caso. Dessa forma, como
sugestão sugere-se o aprofundamento em pesquisas nessa área devido à
relevância da tomada de decisão do gestor estar intimamente ligado ao bem estar
da coletividade, de tal modo que as informações advindas de estudos científicos
possam gerar benefícios que sirvam de auxílio aos administradores públicos na
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utilização eficaz do orçamento no momento das escolhas, potencializando a
transparência das suas relações estratégicas para com a sociedade.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009. DALFOVO, M. S.; LANA, R. A.; SILVEIRA, A. Métodos quantitativos e qualitativos: um resgate teórico. 2008. Revista interdisciplinar científica aplicada, Blumenau, v.2, n.4, p.01-13, Sem II. 2008 ISSN 1980-703. Disponível em:< http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/metodos_quantitativos_e_qualitativos_um_resgate_teorico.pdf >. Acesso em: 21 nov. 2014. HADDAD, R. C.; MOTA, F. G. L. Contabilidade pública. CAPES: UAB, 2010. LIMA, R. S. Orçamento público como instrumento de gestão no nível das organizações governamentais: o caso da Polícia Federal. 2012. Disponível em: < http:/bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/9571/Dissertacao_RAFAEL_LIMA_VERSAO%20FINAL_IMPRESSA.pdf?sequence=3>. Acesso em: 05 dez. 2014. ROCHA, J. C. Orçamento Público. 2002. Disponível em: < http://www.dhnet.org. br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/04_aatr_pp_orcamento.pdf >. Acesso em: 04 dez. 2014. ROSA, M. B. Contabilidade aplicada ao setor público. São Paulo: Atlas, 2011.
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A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE PACIENTES HANSENIANOS COM NEURITES
Yasmin Caroline Mendonça da Costa Universidade Potiguar – UnP. Mossoró-RN, Brasil. Email: [email protected]
Helena de Lima Gurgel
Elanny Mirelle da Costa Moisés Costa do Couto
RESUMO Introdução: A hanseníase, doença de Hansen ou lepra é uma doença infectocontagiosa causada pela Mycobacterium leprae, bacilo álcool-ácido resistente dotado de baixa patogenicidade. Apresenta evolução crônica, atingindo predominantemente a pele e os nervos periféricos, podendo também invadir as mucosas nasal, orofaríngea e laríngea, olhos e vísceras, restringindo ou mesmo impedindo as atividades profissionais e sociais do paciente. As lesões dos nervos periféricos são decorrentes de processos inflamatórios (neurites) e podem ser causados tanto pela ação do bacilo nos nervos e/ou pela reação do organismo ao bacilo. Objetivo: O estudo tem como objetivo apontar a intervenção fisioterapêutica nas neurites e incapacidades geradas pela Hanseníase, explicitando as intervenções reabilitadoras a fim de contribuir na conquista do bem estar geral dos pacientes hansenianos. Materiais e Métodos: O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica descritiva, feita através de buscas em bases de dados científicos tais como Scielo; Editais do Ministério da Saúde, revistas e periódicos científicos, utilizando como palavras-chave: Hanseníase, Incapacidades; Neurites; Tratamento fisioterapêutico. Resultados: A Fisioterapia na hanseníase tem como conduta o monitoramento da função neural, através de avaliação neurológica, a classificação do grau de incapacidades, aplicação de técnicas preventivas, confecção e adaptação de órteses, talas e palmilhas, a promoção do bem estar do paciente e a melhora da qualidade de vida do mesmo. Ou seja, a fisioterapia é de suma importância no tratamento das neurites causadas pela hanseníase, pois atua contribuindo para a quebra do ciclo: lesão nervosa, déficit motor, incapacidades, além de poder identificar, prevenir e tratar. Lembrando que, durante todo o tratamento é de suma importância o acompanhamento de uma equipe multiprofissional a fim de obter êxito no tratamento, proporcionando uma melhor qualidade de vida para o paciente. Conclusão: A presente pesquisa revelou que a participação do fisioterapeuta tem papel importante ao longo de todo tratamento de pacientes hansenianos, portadores de neurites. PALAVRAS-CHAVE: Hanseníase. Incapacidades. Neurites. Tratamento
Fisioterapêutico.
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REFERÊNCIAS
FINEZ; SALOTTI. Identificação do grau de incapacidades em pacientes portadores de hanseníase através da avaliação neurológica simplificada. – Estudo descritivo exploratório. Curso de Enfermagem da Universidade Paulista, Bauru-SP, Brasil, REVista. Health Sci Inst.;29(3):171-5, 2010. TAVARES, et al. Fisioterapia no atendimento de pacientes com hanseníase: um estudo de revisão. Revista Amazônia. 2013;1(2):37-43. SANTOS, et al. (RE) descobrindo a hanseníase: uma estratégia de ensino baseada em revisão de literatura. REVista. Enciclopédia Biosfera, centro científico conhecer- – Goiânia. Vol 11. Número 20, 2014.
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INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTES HIV/AIDS COM ACOMETIMENOS RESPIRATÓRIAS DEVIDO À TUBERCULOSE
Tamina Raquel Medeiros Universidade Potiguar – UnP. Mossoró-RN, Brasil.
Email: [email protected]
Kelvin Viana Teixeira Paulo Henrique Martins Fidelis
Pablo de Castro Santos Moisés Costa do Couto
RESUMO Introdução: No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, foram notificadas em 2013, 5.788 mortes em decorrência de problemas respiratórios em pacientes com HIV/AIDS, que por consequência de sistema imunológico baixo, estão sujeitos a vitimar-se de doenças infecto-contagiosas como a tuberculose causada pela infecção por Micobacteriumtuberculosis. Objetivo: O presente estudo tem como objetivo promover uma discussão da assistência da fisioterapia na prevenção e no tratamento dos problemas respiratórios causados pela tuberculose nos pacientes com HIV/AIDS. Métodos: O trabalho foi fundamentado numa revisão sistemática de material científico divididos em categorias de tese, dissertações, livros e artigos; definindo-se como palavras de busca: AIDS, HIV, fisioterapia, tuberculose, doenças pulmonares e seus semelhantes em inglês e espanhol, complementada pela consulta a estudos citados nas obras localizadas. Resultados: A fisioterapia pode atuar nos pacientes soropositivos tuberculosos aplicando técnicas de drenagem postural que consiste no posicionamento do paciente favorecido pela aplicação de forças gravitacionais, que aumentam o transporte de muco de lobos e segmentos específicos do pulmão em direção às vias aéreas centrais, onde as secreções devem ser removidas mais rapidamente com a tosse ou aspiração. A percussão torácica também aumenta a pressão intratorácica e a hipoxemia, sendo esta última não relevante quando a técnica é realizada em períodos menores que 30 segundos e combinada com três ou quatro exercícios de expansão pulmonar. A conduta fundamental do fisioterapeuta em pacientes acometidos da imunodeficiência, é atuar na prevenção, cura ou reabilitação da capacidade física das pessoas, em qualquer idade, a busca pela qualidade de vida e autoestima dos pacientes, outra preocupação sempre presente no dia-a-dia desse profissional. Conclusão: A fisioterapia nestes casos recupera a condição clinica dos pacientes soropositivos tuberculosos, a fim de devolvê-los a realidade em que se inserem com qualidade de vida. O papel do fisioterapeuta é de suma importância na prevenção das crises e durante elas, proporcionando a desobstrução brônquica e a expansão pulmonar, estimulando uma reeducação respiratória. PALAVRAS-CHAVE: Fisioterapia. Vírus da imunodeficiência humana. Tuberculose.
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REFERÊNCIAS Costa D. Manobras manuais na fisioterapia respiratória. Fisioter Mov.1991. Caromano FA, Cárdenas MYG, Sá CSC. Efeitos da aplicação das técnicas de limpeza brônquica associada à mobilização em pacientes portadores de bronquiectasia. Rev Ter OcupUniv. São Paulo. 1998;9(3):114-8. Lianza L. Medicina de reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 2001.
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TRIBUTAÇÃO: UM ESTUDO SOB A PERSPECTIVA DOS REGIMES DE TRIBUTAÇÃO DE UMA EMPRESA COMERCIAL DO RAMO AGRÍCOLA NA
CIDADE DE MOSSORÓ – RN
Nádja Luana da Cunha Rosângela Queiroz Souza Valdevino
José Freire de Morais Neto Luana Karissa Duarte de Oliveira Lima
RESUMO O presente trabalho objetiva mostrar a relevância do Planejamento Tributário e identificar o regime de tributação mais eficaz numa empresa comercial do ramo agrícola na cidade de Mossoró-RN. A metodologia aplicada caracteriza-se como descritiva e de abordagem qualitativa feita através de um estudo de caso. A coleta de dados foi feita através de análise do balanço e DRE do ano 2012, bem como os Livros de Registros de Entradas e Saídas, em um período de 15 dias. Após análise dos tipos de tributação foram escolhidos para objeto de estudo o regime de tributação Lucro Presumido e Lucro Real. Com a conclusão do estudo verificou-se que a forma mais vantajosa economicamente para a empresa estudada no ano 2012 foi à tributação com base no Lucro Presumido, que foi o regime que a empresa utilizou naquele ano. Como sugestão para uma próxima pesquisa seria uma análise no balanço 2013, uma vez que a empresa abriu uma filial naquele ano e consequentemente o estoque, faturamento e despesas aumentaram neste ano sugerindo provavelmente uma mudança de regime para o Lucro Real em virtude da chegada da filial. PALAVRAS-CHAVE: Tributação. Setor agrícola. Regime.
1 INTRODUÇÃO
O planejamento tributário nas organizações é o que permite a
racionalização da carga tributária a ser suportada. No entanto, junto com a
implantação do Planejamento Tributário, vem a falta de informação da classe
empresarial sobre como a implantação do mesmo trará benefícios para a sua
empresa, levando-o a aperfeiçoar a aplicação dos recursos disponíveis. Vale
ressaltar que o planejamento, de um modo geral, é imprescindível para o alcance e
manutenção de bons resultados.
Quando as empresas iniciam suas atividades, ou até mesmo antes de
estarem no mercado, os empresários traçam seus objetivos, dentre os quais se
destaca a obtenção de lucro, o que demonstra a necessidade de se manter um
planejamento para escolher qual a opção tributária a empresa irá se enquadrar.
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O trabalho teve como problemática e objetivo: avaliar os regimes de
tributação existentes na legislação tributária brasileira, buscando identificar a melhor
opção para o enquadramento da empresa analisada, buscou-se analisar a
relevância do planejamento tributário, enfatizando o enquadramento tributário das
pessoas jurídicas.
Quanto à metodologia foi qualitativa e tratou de estudo de caso baseado em
documentos do ano de 2012.
O presente trabalho divide-se em Introdução, Metodologia, Resultados,
Conclusão e as Referências Bibliográficas estudadas para elaboração deste estudo.
2 METODOLOGIA
O planejamento tributário representa uma forma de encontrar, dentro da
legislação, a melhor forma de reduzir o pagamento de tributos. Para realização de
um bom planejamento tributário, é necessário observar e analisar vários fatores que
são de suma necessidade para a redução dos impostos, um deles é a legislação
tributária, suas leis e enquadramentos, para que seja feito tudo de forma legal.
Tratou-se de um estudo de caso aplicado em uma empresa comercial do
ramo agrícola na cidade de Mossoró – RN. Ainda com foco descritivo a pesquisa é
de natureza qualitativa. Tendo sido analisado os documentos contábeis referentes a
2012 o que caracteriza o estudo como documental.
De acordo com Fabretti (2007, p.32): “o planejamento tributário é o estudo
feito preventivamente, ou seja, antes da realização do fato administrativo,
pesquisando-se seus efeitos jurídicos e econômicos e as alternativas legais menos
onerosas, denomina-se Planejamento Tributário”. Os tipos de regime tributários são:
Lucro Real, Lucro Presumido, Lucro Arbitrado e Simples Nacional. Para análise
dessa pesquisa foram utilizados os regimes de tributação Presumido e Real, para
assim, identificar qual a melhor forma de tributação para empresa.
Para tratamento dos dados foi feita uma análise de conteúdo por meio de
confronto entre as bases teóricas e as informações repassadas pela empresa.
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Desta maneira foi possível obter os resultados e identificar a forma de tributação
mais viável para organização.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A empresa objeto deste estudo foi fundada no ano 2000 e atua no segmento
agrícola fornecendo produtos e serviços.
Após visto os conceitos de planejamento tributário, os regimes de tributação
e o benefício de cada um, foi comparado o referencial exposto com os dados
colhidos na empresa analisada, seus livros e demonstrações contábeis. Foi visto
que com um planejamento tributário eficaz é possível escolher o regime de
tributação correto para a empresa e reduzir seus gastos com o pagamento de
tributos.
A caracterização da pesquisa foi iniciada com um demonstrativo de cálculo
extraída das Demonstrações Contábeis no ano de 2012 conforme abaixo:
Quadro 1: Premissas da empresa analisada PREMISSAS DE CÁLCULO
RECEITA BRUTA DE VENDAS 3.681.245,00
DEVOLUÇÕES 12.595,00
COMPRAS DE INSUMOS 1.103.430,00
ENERGIA ELÉTRICA 380.653,00
ALUGUEIS 63.000,00
DEPRECIAÇÃO 16.530,00
COMBUSTÍVEIS 87.053,00
LUCRO CONTÁBIL 350.060,00
Fonte: Pesquisa elaborada pelos autores
Para início da comparação foram feitas planilhas com a simulação dos
cálculos do IRPJ, CSLL, PIS e COFINS cumulativos para o Lucro Presumido, bem
como uma simulação dos mesmos cálculos no Lucro Real, porém o regime do PIS e
COFINS para esse regime foi o Não Cumulativo. No regime de tributação pelo Lucro
Presumido, após a aplicação dos 15% para identificar o valor a recolher observou-
se que houve a cobrança do adicional do IRPJ. O IRPJ apurado para o ano de 2012
foi de R$ 49.373,00. Já na apuração da CSLL a alíquota de presunção é 12% sobre
a receita e em seguida é aplicado o percentual de 9% para encontrar o valor do
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imposto apurado. Para o ano 2012 a empresa recolheu o total de R$ 39.621,42. Já
o valor da COFINS no regime do Lucro Presumido deu R$ 110.059,50 e o PIS R$
23.846,23. No regime cumulativo não existe a possibilidade de aproveitamento de
créditos.
No regime de tributação pelo Lucro Real a empresa deve apurar o valor do
IRPJ com a alíquota de 15% sobre o lucro contábil, mais 10% de adicional quando o
limite ultrapassar R$ 240.000,00. No cálculo do IRPJ pelo regime do Lucro Real
Anual, a base de cálculo encontrada ultrapassou o limite de R$ 240.000,00 e,
portanto também houve a cobrança do adicional de 10%. Vale ressaltar que não
houve adições e exclusões na base de calculo. O valor do IRPJ anual para esse
regime foi de R$ 63.515,00. No cálculo da CSLL é aplicado o percentual de 9%
sobre o lucro contábil e o valor pago foi de R$ 31.505,40. Já para o calculo do PIS e
da COFINS não cumulativo aplica-se os percentuais 1,65% e 7,6% respectivamente
sobre o faturamento. No ano foram pagos R$ 33.296,74 de PIS e R$ 153.366,78 de
COFINS. Como nesse regime existe a possibilidade de aproveitamento de créditos
os mesmos foram utilizados. Segue abaixo o quadro comparativo:
Quadro 2: Quadro comparativo
TRIBUTO LUCRO PRESUMIDO
ANUAL LUCRO REAL ANUAL
IRPJ 49.373,00 63.515,00
CSLL 39.621,42 31.505,40
PIS 23.846,23 33.296,74
COFINS 110.059,50 153.366,78
TOTAIS 222.900,15 281.683,92
Fonte: Pesquisa elaborada pelos autores
O quadro comparativo mostra que o regime de tributação mais favorável à
empresa no ano 2012 é o Lucro Presumido. Sendo assim, para que seja implantado
de forma eficaz, o planejamento tributário deve englobar todos os tributos possíveis
que a empresa utiliza, para que seja feito o comparativo com todos os regimes em
que a mesma se enquadre.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após realização do planejamento tributário e analisado os resultados
obtidos pelo estudo de caso, fundamentado na pesquisa bibliográfica desenvolvida,
percebeu-se que, economicamente, o melhor regime de tributação para a empresa
estudada é o Lucro Presumido, tendo em vista que comparando os dois regimes
durante o ano 2012 houve uma economia de R$ 58.783,77. Por fim, vale lembrar a
importância do planejamento tributário nas empresas, como mecanismos de
controle, redução e organização dentro das empresas. O presente trabalhou limitou-
se apenas na análise de conteúdo do ano 2012 da referida empresa e como
sugestão pode-se estender a pesquisa para o ano 2013 em virtude de a empresa ter
aberto uma filial e consequentemente pode ter mudado de regime.
REFERÊNCIAS
FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade tributária. 10 ed.- São Paulo: Atlas, 2007. SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Simples Nacional. Disponível em: <http://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional.htm>. Acesso em: 13 de setembro de 2015. ______. Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99 (Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999). Tributação das Pessoas Jurídicas - (Livro 2 - Parte 1 - Art 146 a 304) Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/RIR/L2 Parte1.htm>. Acesso em: 12 de setembro de 2015. ______. Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99 (Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999). Tributação das Pessoas Jurídicas - (Livro 2 - Parte 2 - Art. 305 a 461) Disponível em:<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/RIR/L2Par te2.htm>, Acesso em: 12 de setembro de 2015. ______. Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99 (Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999). Tributação das Pessoas Jurídicas - (Livro 2 - Parte 3 - Art. 462 a 619) Disponível em:<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/RIR/L2Par te3.htm>, Acesso em: 12 de setembro de 2015.
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UM OLHAR COMPARATIVO SOBRE AS INDÚSTTRIAS DO SETOR SIDERÚGICO, NO ANO DE 2012, SOB O FOCO DAS ANÁLISES CONTÁBEIS
Rosângela Queiroz Souza Valdevino Professora Me. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Endereço: Rua
Margarida, 11 CEP: 59.600-000 – Mossoró E-mail: [email protected] (Orientadora)
Jean Paul Sartre de Souza
Graduado em ciências contábeis– Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Endereço: Rua Dom Pedro II, 386 Paredões CEP: 59.618-110 – Mossoró
E-mail: [email protected]
Ranieri Sousa de Oliveira Graduado em ciências Econômicas. – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. Endereço: Rua Padre Elesbão, 700 boa Vista CEP: 59.605-140 – Mossoró E-mail: [email protected]
RESUMO O trabalho teve como objetivo averiguar qual a posição econômico-financeira das empresas do ramo de siderurgia no ano de 2013, após as análises das demonstrações contábeis aplicadas a seus demonstrativos financeiros. A análise das demonstrações financeiras consiste em uma metodologia de extração de índices que evidencia as variações dos valores das contas apresentadas nas DFs, cada índice com um significado, o que proporciona identificar a real situação econômica e financeira de uma determinada empresa. Este estudo é caracterizado como do tipo documental, bibliográfico e qualitativo, e como sendo um múltiplo estudo de casos, com análise descritiva dos principais indicadores financeiros relacionados à liquidez, endividamento, rentabilidade, e ao fator de insolvência de Kanitz. O levantamento dos dados se deu em duas partes: os dados primários foram as demonstrações financeiras (DFs) coletadas no site da BOVESPA; e os secundários se fundamentaram em uma pesquisa bibliográfica realizada em livros, trabalhos científicos, e por meio eletrônicos, com uma população de cinco empresas de setor siderúrgico. Tendo em vista que o principal objetivo das organizações é gerar lucro, neste contexto as empresas que se destacaram foram a FERBASA, GERDAU S/A e a GERDAU MET, que, respectivamente, apresentaram os melhores resultados referentes aos indicadores de rentabilidade, não desconsiderando os demais indicadores. A pesquisa teve como limitação pouco material literário atualizado, referentes ao tema. E a sugestão, para próximas pesquisas, é que a mesma seja realizada em outros ramos de atividade, e utilizando-se dos demais indicadores contábeis. PALAVRAS-CHAVE: Análise Financeira. Demonstrações contábeis. Organizações.
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1 INTRODUÇÃO
As industriais do ramo de metalurgia têm um papel relevante no cenário
econômico brasileiro. De acordo com o levantamento apresentados no Anuário
Estatístico do segmento metalúrgico, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia
(MME), o setor alcançou um excelente resultado financeiro no ano de 2012, por se
tratar de um ramo de atividade vital para os demais segmentos industriais, tais como
o automobilístico, a construção civil, a tecnologia de ponta, entre outros. Entretanto,
este trabalho poderá ser futuramente aplicado a empresas dos demais segmentos
comerciais (BRASIL, 2012).
Os demonstrativos financeiros refletem o resultado de um determinado
período, bem como a posição patrimonial das organizações, e as variações
ocorridas em suas contas (ativo, passivo, patrimônio liquido e demais contas). É a
partir das demonstrações financeiras: balanço patrimonial (BP), demonstração do
resultado do exercício (DRE) o que pretende atender à seguinte problemática: quais
as empresas do ramo de siderurgia que obtiveram os melhores desempenhos
financeiros em 2013, conforme as análises aplicadas aos seus demonstrativos
financeiros?.
O objetivo geral deste trabalho, pois, consiste em averiguar qual a posição
das empresas do ramo de siderurgia, no ano de 2013, após as análises das
demonstrações contábeis aplicadas a seus demonstrativos financeiros.
O presente estudo, portanto, proporcionará, aos gestores, como aos demais
usuários, conhecer a real situação das organizações em termos econômico-
financeiros. A pesquisa foi realizada em organizações, de siderurgia listadas na
Bolsa de Valores de SP (BOVESPA).
A metodologia aplicada à pesquisa, a fim de alcançar tal objetivo, é a
quantitativa, bibliográfica e documental. Os documentos foram coletados do site da
BOVESPA, demonstrativos e relatórios financeiros necessários para solucionar o
problema proposto, os quais serão submetidos às análises de liquidez,
rentabilidade, endividamento e ao fator de insolvência de Kanitz. Já os dados
secundários fundamentam-se no estudo literário em livros, artigos, revista e
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pesquisas eletrônicas. A análise dos dados obtidos será realizada através de
instrumentos da estatística e da matemática básica, de forma descritiva.
2 METODOLOGIA
O presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma comparação
econômico-financeira entre as organizações do segmento siderúrgico listadas na
BOVESPA, com a utilização de instrumentos de análise contábil, para determinar
qual a situação dessas empresas no ano de 2013, em termos de liquidez,
rentabilidade, e endividamento, o índice de insolvência, e comparando esses índices
entre si. As fórmulas utilizadas na obtenção dos resultados foram: Liquidez (LI =
disponível / PC), (LC = AC / PC), (LS = AC – estoque / PC), (LG = AC + R. L. Prazo
/ PC + PNC); Rentabilidade (TRI = LL / A. total), (ML = LL / Vendas), (RPL = LL /
PL); endividamento (GI = CT / PL) e (CE = PC / CT), e para insolvência (FI = 0,05 x
X1 + 1,65 x X2 + 3,55 x X3 – 1,06 x X4 – 0,33 x X5).
Este estudo se deu através de uma pesquisa de natureza descritiva.
Segundo as metodologias utilizadas para atingir tal objetivo, esta pode ser
caracterizada como um múltiplo estudo de caso, realizado em empresas de um
mesmo ramo de atividade. Conforme Martins e lintz (2001). Já em termos
bibliográficos, para Gil (2010), as pesquisas bibliográficas são fundamentadas em
materiais literários elaborados e disponibilizados por autores, para o fim específico
de que sejam lidos por um determinado público. Já em relação à pesquisa
documental, esta é realizada à vista de documentos confeccionados com diversas
finalidades, e em geral se recomenda que ela seja considerada fonte documental.
Conforme Beuren (2009, p. 89), “[...] a pesquisa documental baseia-se em materiais
que ainda não receberam tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de
acordo com os objetivos da pesquisa”. No tocante à abordagem qualitativa, Beuren
(2009) a define como sendo um tipo de pesquisa que possibilita uma análise mais
aprofundada dos fatores em analise. A utilização da pesquisa qualitativa, na
contabilidade, é comum como metodologia de pesquisa. Embora o estudo da
contabilidade lide com cálculos, ela se caracteriza como uma ciência de cunho
social, e não exato o que justifica a utilização da pesquisa qualitativa.
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Assim, este trabalho se fundamenta em informações extraídas das
demonstrações financeiras, no caso, relatórios contábeis ainda não tratados
cientificamente, e elaborados pelo departamento de comparabilidade das empresas,
caracterizando-se como pesquisa documental.
Atualmente existem 5 (cinco) empresas do segmento metalúrgico
cadastradas na BOVESPA, e com as suas demonstrações financeiras
disponibilizadas no site, e deste total, foram selecionadas as cinco, o que
corresponde a 100% da população das empresas do segmento siderúrgico de
capital aberto.
As empresas selecionadas são: Gerdau S/A (GERDAU), Metalúrgica
Gerdau S/A (GERDAU MET), Cia. Siderúrgica Nacional (SID NACIONAL), Cia.
Ferro Ligas Bahia (FERBASA), e a Usina Siderúrgica de Minas Gerais (USIMINAS).
O tempo gasto na realização na pesquisa, da coleta e tratamento dos
dados, correspondeu ao período de 15 dias do mês de setembro de 2015. O
trabalho encontra-se dividido em duas fases: a primeira consiste na coleta dos
dados primários e secundários, e a segunda, no tratamento dos resultados obtidos a
partir desses dados.
Nesta primeira fase da pesquisa, os procedimentos aplicados foram a coleta
dos dados realizada por meio de fontes primarias e secundárias, sendo os dados
primários de caráter documental, demonstrativos financeiros (Balanço Patrimonial, e
Demonstração do Resultado do Exercício), padronizadas e individuais, publicadas e
constantes no site da BOVESPA. Já os dados e informações secundários
fundamentaram-se em pesquisas de caráter bibliográfico, realizadas em livros,
artigos e pesquisa eletrônica, entre outros materiais informativos.
Na segunda parte deste trabalho, a obtenção e tratamento dos dados
coletados e das demonstrações financeiras (DFs) das empresas submetidas ao
estudo, obedeceram à extração de seus índices, comparados entre si, em razão do
período, e com as empresas analisadas, apurando-se, através de variáveis, uma
comparação entre as empresas, de modo a responder aos objetivos propostos pela
pesquisa.
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A análise dos dados se procedeu com instrumentos da estatística e da
matemática básica, de forma descritiva, como ferramenta de apoio. No tratamento
dos dados, foi utilizado o programa da Microsoft Excel 2010. Os resultados obtidos
foram organizados a fim de responder a tais questionamentos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Informações Gerais Sobre as Empresas
Empresas do segmento de siderurgia, que atuam no Brasil de capital aberto
listadas no site da BOVESPA.
Caracterização da pesquisa
Nesta parte do estudo as DFs das empresas pesquisadas foram submetidas
à análise de liquidez, endividamento e rentabilidade, elementos comparados aos
índices padrão do segmento, bem como com o fator de insolvência de Kanitz, para
atingir tal objetivo, pois do ponto de vista de Marion (2012, p. 15):
Poderíamos dizer que só temos condições de conhecer a situação econômico-financeira de uma empresa por meio dos três pontos fundamentais de análise: Liquidez (Situação financeira), Rentabilidade (Situação Econômica) e Endividamento (Estrutura de Capital).
Como o principal objetivo das organizações é gerar lucro foi utilizado a Taxa
de Retorno dos Investimentos Totais, sem desconsiderar os demais índices, para
determinar o melhor desempenho econômico-financeiro das empresas analisadas,
onde as empresas atingiram os seguintes resultados:
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Taxa de Retorno dos Investimentos Totais
TRI = LL / Ativo Total R$ %
Cia. de Ferros da Bahia (FERBASA) 0,07 7
Gerdau S/A (GERDAU) 0,05 5
Siderúrgica Gerdau S/A (GERDAU MET) 0,03 3
Cid. Siderúrgica Nacional (SID NACIONAL) - 0,01 - 1
Usina Siderúrgica de Minas Gerais (USIMINAS) - 0,02 - 2
Fonte: Resultado da pesquisa (2015).
Diante dos resultados apresentados, pode-se constatar que a empresa
FERBASA foi a que obteve o melhor desempenho econômico-financeiro no ano de
2013.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho esteve focado em uma análise comparativa dos
principais indicadores financeiros das empresas do segmento siderúrgico, para
atender ao objetivo de averiguar quais as empresas do ramo de siderurgia que
obtiveram os melhores desempenhos financeiros no ano de 2013, após as análises
das demonstrações contábeis aplicadas a seus demonstrativos financeiros.
O objetivo proposto na pesquisa foi atingido com as análises realizadas, e
evidencia-se a empresa Cia. de Ferros da Bahia (FERBASA) como a que obteve o
melhor desempenho econômico-financeiro. As principais limitações encontradas na
elaboração deste trabalho se deram pela dificuldade em encontrar materiais
bibliográficos atualizados, isto é, com novos conceitos relativos à temática. Já a
título de sugestão, para próximas pesquisas é que estas sejam realizadas em outros
ramos de atividade, e utilizando-se dos demais indicadores contábeis.
REFERÊNCIAS
BEUREN, I. M. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
ISSN 2446-7790
197
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Anuário estatístico do segmento metalúrgico. 2012. Disponível em: <http://www.mme.gov/sgm/menu/pupli caceos.htm>. Acesso em: 14 set. 2015. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2012. MARTINS, G. A; LINTZ, A. Guia para elaboração de Monografias e Trabalhos de Conclusão de Curso. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.