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ii
ANA ASSUMPO
Prevalncia de fibromialgia e avaliao de sintomas
associados, capacidade funcional e qualidade de vida,
na populao do municpio de Embu, So Paulo
Dissertao apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Cincias
rea de concentrao: Movimento, Postura e Ao Humana
Orientadora: Profa Dra Amlia Pasqual Marques
So Paulo
2006
-
i
DEDICATRIA
Ao meu pai,
Prof. Dr Jos Francisco Assumpo,
de quem herdei gosto pela didtica.
-
ii
AGRADECIMENTOS
A Fundao de Amparo Pesquisa e Desenvolvimento do Estado de So Paulo
(FAPESP) pelo suporte financeiro da pesquisadora e membros da equipe.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) pelo
apoio financeiro ao projeto e aos pesquisadores.
A Amlia Pasqual Marques, pela constante orientao, cuidado e carinho. Por
mostrar sempre um caminho otimista e sobretudo ser uma grande amiga.
A Alane Bento Cavalcante, Juliana Ferreira Sauer e Suellen Decario Chalot por
terem se dedicado a este trabalho com coragem, maturidade e responsabilidade. Por
possibilitarem a formao de uma grande equipe de pesquisa e uma forte amizade!
Este trabalho tambm de vocs!
A Cristina Esteves Capela, pela amizade e parceria em toda esta jornada, por
compartilhar no s um projeto, mas tambm angstias e realizaes.
Ao Prof. Dr Carlos Alberto de Bragana Pereira, por adotar este trabalho e
tambm nosso grupo de pesquisa. Pela anlise estatstica brilhante e, imensa
pacincia!
A Prefeitura do municpio de Embu, em especial, Secretaria de Sade,
diretores e funcionrios das Unidades Bsicas de Sade, pelo cordial acolhimento e por
fornecerem toda a estrutura fsica e apoio pessoal para a coleta de dados.
Aos sujeitos da pesquisa, que confiaram em nosso trabalho e nos doaram seu
tempo e suas preciosas informaes, alm de tornarem nossos sbados dias muito
agradveis.
-
iii
A Lucia Son, secretria do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo, que gentilmente realizou os agendamentos dos sujeitos
para a coleta de dados.
Ao Fernando, pelo suporte tcnico, apoio emocional, companheirismo em todos
os momentos e, sobretudo, pelo seu amor.
Aos meus pais, Jos Francisco e Cleusa, por investirem suas vidas em nosso
crescimento. Pelo apoio incondicional, pelo acolhimento nos momentos difceis e pelo
eterno amor!
A minha irm Rita, companheira e amiga sempre, minha famlia em So Paulo,
durante grande parte desta jornada. Ao meu irmo Andr, paixo da minha vida e
tempero da famlia!
A amiga Luciana Akemi Mastutani, pela presena constante, pelo apoio em
momentos importantes e por ser um exemplo a ser seguido.
s amigas da USP, Adriana Sousa, Cristina Cabral, Patrcia Penha e Profa
Isabel Sacco, pela companhia e apoio.
A todos os amigos queridos, que participaram indiretamente do processo,
fazendo da minha vida uma grande diverso!
-
iv
Esta dissertao est de acordo com as seguintes normas, em vigor no
momento desta publicao:
Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals
Editors (Vancouver). Requisitos uniformes para manuscritos/
International Committee of Medical Journal Editors Rev. Sade Pblica,
33 (1), 1999.
Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de
Biblioteca e Documentao. Guia de apresentao de dissertaes,
teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria
Julia de A.L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago,
Suely Campos Cardoso, Valria Vilhena. 2 ed. So Paulo: Servio de
Biblioteca e Documentao; 2005.
Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals
Indexed in Index Medicus.
-
v
SUMRIO
INTRODUO..............................................................................................................1
Justificativa..............................................................................................................4
OBJETIVOS..................................................................................................................5
Objetivo Principal....................................................................................................5
Objetivos secundrios............................................................................................5
REVISO DE LITERATURA ........................................................................................6
Histrico da sndrome ............................................................................................6
Conceito ...................................................................................................................8
Critrios de classificao e sintomas associados...............................................8
Etiologia .................................................................................................................11
Prevalncia de Fibromialgia.................................................................................13
Prevalncia de dor generalizada e crnica na populao geral..........................13
Prevalncia de fibromialgia na populao geral..................................................15
Prevalncia da Fibromialgia no gnero feminino ................................................18
Prevalncia de fibromialgia em crianas e adolescentes....................................21
Prevalncia de fibromialgia em populaes especiais ........................................23
CASUSTICA E MTODOS........................................................................................26
Processo de Amostragem ....................................................................................26
Equipe de pesquisadores.....................................................................................28
Procedimentos e Materiais...................................................................................28
tica........................................................................................................................36
Anlise Estatstica: ...............................................................................................36
-
vi
RESULTADOS............................................................................................................41
Casustica ..............................................................................................................41
Sintomas de dor e cansao matinal na amostra total (n=768)..........................45
Caractersticas da dor na sub-amostra (n=304): localizao e limiar doloroso46
Avaliao pelos Questionrios: Dor, Qualidade de Sono, Fadiga, Capacidade
Funcional, e Qualidade de vida (n=304) ..............................................................49
Dor: Escala Analgica Visual (VAS)....................................................................49
Sono: Post Sleep Inventory.................................................................................51
Fadiga: Escala de Fadiga de Chalder .................................................................52
Capacidade Funcional: Stanford Health Questionnaire (HAQ) ...........................53
Qualidade de Vida: Fibromyalgia Impact Questionnaire .....................................55
Comparao dos cinco questionrios .................................................................56
Estimao da Prevalncia de Fibromialgia no municpio de Embu .................59
DISCUSSO...............................................................................................................61
Seleo da Amostra ..............................................................................................61
Caractersticas demogrficas da amostra ..........................................................63
Prevalncia de Dor Crnica e Generalizada, Locais de Dor e Dolorimetria ....65
Prevalncia de Fibromialgia.................................................................................67
Avaliao pelos Questionrios: Dor, Qualidade de Sono, Fadiga, Capacidade
Funcional, e Qualidade de vida............................................................................70
Limitaes do estudo ...........................................................................................76
CONCLUSES...........................................................................................................77
ANEXO 1:Protocolo de Amostragem ......................................................................78
ANEXO 2: Exemplo de Carta Convite aos participantes .......................................79
-
vii
ANEXO 3:Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................80
ANEXO 4:Protocolo de Avaliao de Fisioterapia: Fibromialgia..........................81
ANEXO 5: Questionrio do Impacto da Fibromialgia: Fibromyalgia Impact
Questionnaire ............................................................................................................82
ANEXO 6:Protocolo ps-sono: Post Sleep Inventory............................................83
ANEXO 7: Questionrio de Capacidade Funcional:Stanford Health Assessment
Questionnarie HAQ ................................................................................................85
ANEXO 8: Questionrio de Fadiga: Escala de Fadiga de Chalder 14 item Fatigue
Scale...........................................................................................................................86
ANEXO 9: Aprovao do Comit de tica...............................................................87
ANEXO 10: Aprovao do Comit de tica.............................................................88
ANEXO 11: Solues de problemas reais: o Bayesianismo na consultoria....89
ANEXO 12: Tabelas dos valores de mediana e intervalo de confiana de 95%
obtidos com os questionrios utilizados, na amostra de 304 sujeitos................95
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS: .........................................................................97
-
viii
LISTAS
Lista de Quadros
Quadro 1: Prevalncia de dor crnica generalizada segundo ACR na populao geral ....14
Quadro 2: Prevalncia de fibromialgia na populao adulta, segundo os critrios do
ACR.....................................................................................................................................17
Quadro 3: Prevalncia de fibromialgia no gnero feminino,segundo os critrios do ACR..21
Quadro 4: Prevalncia de fibromialgia em populaes especiais.......................................25
Lista de Tabelas
Tabela 1: Dados Demogrficos dos participantes em cada grupo (n=304) ......................44
Tabela 2: Limiar de dor em cada grupo de dor. ................................................................48
Tabela 3: Freqncia de tender points com limiar de dor abaixo de 2,6kg/cm2 nos
indivduos fibromilgicos e no fibromilgicos. .................................................................49
Tabela 4: Tabela de contingncia para VAS: nmero de sujeitos nos grupos e
categorias..........................................................................................................................50
Tabela 5: Dados do Post Sleep Inventory (PSI) nos diferentes grupos ............................51
Tabela 6: Tabela de contingncia para PSI: nmero de sujeitos nos grupos e categorias51
Tabela 7: Dados da Escala de Fadiga de Chalder nos diferentes grupos. .......................52
Tabela 8: Tabela de contingncia para Escala de Fadiga de Chalder: nmero de sujeitos
nos grupos e categorias....................................................................................................53
Tabela 9: Dados do Health Assessment Questionnarie (HAQ) nos diferentes grupos.....54
Tabela 10: Tabela de contingncia para HAQ: nmero de sujeitos nos grupos e
categorias......................................................................................................................... 54
Tabela 11: Dados do Fibromyagia Impacat Questionnaire (FIQ)nos diferentes grupos ...55
Tabela 12: Tabela de contingncia para FIQ: o nmero de sujeitos nos grupos e
categorias..........................................................................................................................56
-
ix
Tabela 13: Dados provenientes de cada um dos ndices criados para os diferentes
questionrio na amostra de 304 sujeitos...........................................................................57
Tabela 14: Tabela de contingncia para ndice Geral: nmero de sujeitos nos grupos e
categorias..........................................................................................................................57
Tabela 15: Probabilidades de coincidncias entre as duas classificaes propostas para
os diferentes ndices .........................................................................................................58
Tabela 16: Distribuio dos sujeitos na primeira e segunda fase para a estimao da
prevalncia de fibromialgia................................................................................................59
Tabela 17: Dados da literatura de prevalncia de fibromialgia com recortes de faixa
etria entre 30 e 59 anos ..................................................................................................69
Lista de Figuras
Figura 1: Fluxograma do processo de amostragem e origem da amostra........................28
Figura 2: Fluxograma do procedimento e classificao dos sujeitos avaliados em todo o
processo............................................................................................................................35
Figura 3: Distribuio dos gneros masculino e feminino em cada um dos grupos de
dor, na amostra de 768 sujeitos. .......................................................................................42
Figura 4 : Freqncia dos locais de dor na amostra total (n=768) e nos grupos de dor...45
Figura 5: Distribuio dos sujeitos (n=768) nos grupos em relao ao cansao matinal. 46
Figura 6: Locais de dor nos grupos com Fibromialgia, dor crnica e generalizada e dor
regional..............................................................................................................................47
Figura 7: Densidade simulada da prevalncia de Fibromialgia e intervalo de
credibilidade de 95% (2,6%; 6,3%) ...................................................................................60
-
x
RESUMO
Assumpo A. Prevalncia de fibromialgia e avaliao de sintomas associados,
capacidade funcional e qualidade de vida, na populao do municpio de Embu, So
Paulo [dissertao]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo;
2006. 104p.
Fibromialgia uma sndrome reumtica caracterizada por dores musculosquelticas
generalizadas e crnicas, associadas presena de tender points, fadiga, distrbios do
sono e rigidez matinal com freqente impacto na capacidade funcional e qualidade de
vida. Estudos apontam prevalncia em torno de 2% e 3% na populao adulta. Este
trabalho teve como objetivo avaliar a prevalncia de Fibromialgia, sintomas associados
e impacto na capacidade funcional e qualidade de vida, na populao do municpio de
Embu, SP. A amostra foi selecionada entre os indivduos cadastrados nas Unidades
Bsicas de Sade de Embu no ano de 2003, com idade entre 35 e 60 anos. Dos 2269
sujeitos com telefone, 768 foram entrevistados sobre a presena, localizao e tempo
de dor. Destes, 304 compareceram para a avaliao pessoalmente que consistia na
dolorimetria dos tender points; avaliao da dor pela Escala Analgica Visual (VAS),
dos distrbio do sono pelo Post Sleep Inventory (PSI), da fadiga pela Chalder Fatigue
Scale, da capacidade funcional pelo Stanford Health Questionnaire (HAQ) e da
qualidade de vida pelo Fibromialgia Impact Questionnaire (FIQ). Para a anlise dos
dados utilizou-se Anlise Descritiva, Estimao Baeysiana, Anlise Inferencial (Kruskal-
Wallis, Friedmam e ANOVA, com nvel de significncia de 5%), Tabelas de
Contingncia e Probabilidade Condicional. Os 768 sujeitos foram classificados em
quatro os grupos: Sem Dor (SD) - 185 indivduos; Dor Regional ou localizada (DR) - 388
indivduos; Dor Generalizada (DG) segundo o Colgio Amrico de Reumatologia (ACR)
- 195 indivduos. Esta classificao nos 304 sujeitos avaliados com exceo dos 106
com DG e crnica dos quais 19 foram classificados como Fibromialgia (FM). A mdia de
idade foi 47,9 (7,2) na amostra total e 49,1 (6,8) na sub-amostra. A prevalncia de dor
generalizada e crnica foi de 24% com IC95% [21%; 27%] e a de Fibromialgia de 4,4%
com IC 95% [2,6%; 6,3%]. Todos os sintomas avaliados so mais intensos no grupo
FM, seguido pelo de DG. As maiores probabilidades de coincidncias entre a
classificao dos grupos e a dos questionrios so dadas pelos ndices da VAS, HAQ,
FIQ e, principalmente, pelo ndice geral (mdia dos demais ndices). Esta forma de
avaliao tem probabilidade alta (94%) de identificar os sujeitos sem fibromialgia e
revelante (67%) para os possveis fibromilgicos.
Descritores: Prevalncia, Fibromialgia, Dor, Transtornos do sono, Fadiga, Qualidade de
vida.
-
xi
SUMMARY
Assumpo A. Prevalence of Fibromyalgia and assessment of associated symptoms,
functional disability and quality of life, in the Embu population, Sao Paulo. [dissertation].
So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2006. 104p.
Fibromyalgia is a rheumatic syndrome characterized by chronic widespread pain, tender
points, fatigue, sleep disorders and morning stiffness. Functional Disability and negative
impact in the quality of life are frequent. Studies show a fibromyalgia prevalence around
2% and 3%. The aim of this study was to assess the prevalence of fibromyalgia,
associated symptoms, functional disability and quality of life in residents of Embu, SP,
Brazil. The sample was selected in individuals of the primary health care, aged by 35
and 60 years old. Of all 2269 subjects with phone number, we interviewed 768 with
questions about presence of pain, pain location and time of pain. Of these subjects, 304
were personally evaluated, including tender points examination and assessment of pain
by the Visual Analogue Scale (VAS), sleep disorders by the Post Sleep Inventory (PSI),
fatigue by the Chalder Fatigue Scale, functional disability by Stanford Health
Assessment Questionnaire (HAQ) and quality life by the Fibromyalgia Impact
Questionnaire (FIQ). The data were analysed using Descriptive, Baeysian and
Interferential Analyses (Kruskal-Wallis, Friedmam, ANOVA, with significance level of
5%), Contingence Tables and Conditional Probabilities. The 768 subjects were
distributed in three groups: Without Pain (WP) 185 individuals, Regional Pain (RP)
388 individuals and Widespread pain (WpP). In the sub-sample of 304 subjects, the
groups of chronic widespread pain were classified in Fibromyalgia (FM), with 19
subjects, and Non-Fibromyalgia, with 87 subjects. The mean age was 47,9 (7,2) years
old for 768 sample and 49,1 (6,8) for the 304 sub-sample. The prevalence of chronic
widespread pain was 24%, with 95% credibility interval [21%; 27%] and fibromyalgia
prevalence was 4,4%, with 95% credibility interval [2,6%; 6,3%]. Pain, sleep disorders,
fatigue, functional disability and quality of life were worse in the FM Group, followed by
WpP, RP and WP. The major probability coincidence were obtained by VAS, HAQ FIQ
and Global indices (mean of all questionnaires). This kind of assessment has high
probability (94%) to identify non-fibromyalgia individuals and considerable (67%) to
possible fibromyalgia patients.
Descriptors: Prevalence, Fibromyalgia, Pain, Sleep disorders, Fatigue, Disability
evaluation, Quality of life.
-
1
INTRODUO
A Fibromialgia tem sido descrita como uma das desordens reumatolgicas mais
freqentes na populao mundial, estando em quarto lugar na Espanha1 e
Bangladesh2, e em segundo nos Estados Unidos da Amrica3, Brasil4 e Mxico5. Na
assistncia mdica geral, pode representar cerca de 7% de todas as queixas em
sade6.
Embora muito freqente, a Fibromialgia ainda uma sndrome de patognese
desconhecida. Estudos apontam para uma alterao em nvel de Sistema Nervoso
Central, com aumento de neurotransmissores facilitatrios da dor7, e no Sistema
neuroendcrino, com alterao no eixo hipotlomo-hipfise-adrenal8. Por outro lado,
em seu aspecto clnico, a sndrome apresenta caractersticas bem definidas e
marcantes como predominncia no gnero feminino, presena de dor generalizada e
crnica, sem alteraes laboratoriais e alta freqncia de sintomas associados9.
Estas caractersticas foram descritas precocemente pela literatura10, no entanto,
foi estabelecida como uma entidade clnica prpria somente em meados da dcada
de 8011,12 e seus critrios de classificao foram padronizados em 1990, pelo Colgio
Americano de Reumatologia (ACR). Segundo esta instituio, a Fibromialgia uma
sndrome dolorosa caracterizada por dor musculosqueltica generalizada e crnica e
pela presena de pelo menos 11 dos 18 pontos dolorosos especficos palpao
tender points. Este quadro est freqentemente associado rigidez matinal,
distrbios do sono, fadiga, cefalia crnica, ansiedade, depresso, distrbios
intestinais entre outros. Destacam-se os trs primeiros, que so encontrados em mais
de 75% dos pacientes, segundo Wolfe et al.9. Como no h alteraes laboratoriais
compatveis com a Fibromialgia, sua classificao essencialmente clnica.
-
2
Assim como no estudo original do ACR, o estudo de validao dos critrios
diagnsticos da fibromialgia no Brasil mostrou que estes so vlidos para a
populao brasileira, sendo encontradas alta sensibilidade, especificidade e acurcia
com nove dos 18 tender points possveis. Os autores descrevem tambm que os
sintomas de distrbios do sono e fadiga foram bastante presentes nos pacientes
brasileiros13.
Embora seja uma entidade clnica discreta em relao morbidade e
mortalidade, a Fibromialgia gera uma grande incapacidade14. As limitaes nas
atividades de vida diria foram descritas to intensas na Fibromialgia quanto na
Artrite reumatide15. White et al.16, afirmam que a Fibromialgia causa um impacto
negativo na qualidade de vida nas pessoas em idade produtiva de trabalho, uma vez,
que os sintomas levam a uma perda de funo, atingindo a capacidade para o
trabalho e, conseqentemente queda na renda familiar. A incapacidade funcional e
a interferncia dos sintomas em todas as esferas da vida diria - trabalho, vida
familiar e lazer17, agravam aspectos psicolgicos como depresso e ansiedade18 e
agregam sndrome um importante impacto na qualidade de vida16, 19.
Alm deste importante impacto na esfera pessoal, a Fibromialgia uma
sndrome relevante tambm em termos de custos para a sociedade. Robison et al.20
descrevem que a utilizao mdica, a prescrio de medicamentos e a prevalncia
de incapacidade para o trabalho so significantemente maiores em indivduos com
Fibromialgia que em outros usurios do sistema de sade canadense selecionados
ao acaso. O custo anual destes pacientes de $5945 contra $2486 do beneficirio
tpico e o autor estima que, para cada dlar gasto com as queixas especficas da
Fibromialgia, o empregador gasta entre $57 e $143 em custos diretos e indiretos.
Boonen et al.21 descrevem um custo ainda maior em pacientes europeus, chegando a
mdia de 7813 por ano. Sendo uma questo de sade que envolve alto custo, os
sistemas de sade deveriam elaborar estratgias de abordagem para estes
-
3
pacientes, assim como, ocorre em outras condies crnicas. Doron et al.22,
descrevem que o consumo dos sistemas de sade por um paciente fibromilgico no
diferente dos portadores de hipertenso e diabete, sendo uma condio de sade
pblica relevante.
Dentro de todo este contexto social, agrega-se o fato de que a Fibromialgia no
uma sndrome rara. Dependendo da regio do estudo e metodologia de pesquisa
utilizada, a prevalncia na literatura apresenta dados entre 0,66% e 10,5%23. Os
valores mais aceitos esto por volta de 2% na populao geral adulta, aumentando
para 3,4% nas mulheres24 e, ainda mais na populao de meia idade, com algo em
torno de 5%1, 4.
Como no esto estabelecidos, ao certo, os fatores etiolgicos e
predisponentes para a fibromialgia, a generalizao destes dados para diferentes
populaes seria um equvoco, uma vez que, dados demogrficos como idade, etnia,
condies socioeconmicas e ambientais, podem interferir nesta prevalncia.
-
4
Justificativa
Mesmo sem uma estimativa de prevalncia mundial, consenso que a
Fibromialgia trata-se de uma condio clnica significativa na populao em geral,
principalmente entre os indivduos com dor crnica, mulheres e faixa etria entre 30 a
60 anos24. Grande parte destes estudos de prevalncia foi conduzida em pases de
caractersticas scio-demogrficas distintas, como na Amrica do Norte e Europa23.
Embora comprovado o impacto da Fibromialgia na populao brasileira, tanto
em aspectos socioeconmicos25 quanto na qualidade de vida19, apenas um estudo
com de prevalncia foi realizado no Brasil, encontrando-se o valor de 2,5% de
fibromilgicos na cidade de Montes Claros, MG4. Em se tratando de um pas de
dimenses continentais e de grandes desigualdades sociais, outros estudos de
prevalncia de Fibromialgia so importantes para um panorama da sndrome no
Brasil.
Com a estimativa da porcentagem da populao fibromilgica, os sistemas de
sade so capazes de realizar um planejamento dos recursos necessrios para o
tratamento da sndrome, possibilitando diminuir seu impacto negativo na qualidade de
vida e nos custos do sistema de sade, decorrentes de dias de trabalho perdidos,
afastamentos e aposentadoria por invalidez. Alm disso, medidas preventivas
poderiam ser estudas, j que pesquisas epidemiolgicas sugerem que a Fibromialgia
pode ser o ponto final de um estresse persistente26.
-
5
OBJETIVOS
Objetivo Principal
Verificar a prevalncia da Fibromialgia na populao adulta entre 35 e 60 anos
de idade, do municpio de Embu, So Paulo, Brasil.
Objetivos secundrios
Avaliar a populao estudada em relao aos sintomas de dor, distrbios do
sono e fadiga somados avaliao da capacidade funcional e qualidade de vida.
Verificar a capacidade dos questionrios utilizados em discriminar os sujeitos
nos diferentes grupos de dor.
-
6
REVISO DE LITERATURA
Histrico da sndrome
Embora seja uma sndrome de definio recente, os relatos de quadros que
lembram a Fibromialgia so seculares. A combinao entre dor e sintomas dispersou
por muito tempo a comunidade cientfica, que desenvolveu uma srie de conceitos,
s posteriormente agregados no que se conhece atualmente como Fibromialgia10.
As primeiras referncias a quadros que lembram a Fibromialgia so de 1821,
com a descrio de uma dor identificada somente palpao de certas vrtebras.
Mesmo achado foi descrito por Balfour em 1824* apud Wallace10,, sugerindo um
processo inflamatrio no tecido conjuntivo, que seria responsvel pela dor,
denominado reumatismo muscular. Relatos subseqentes at o final do sculo 19
desenvolveram o conceito de pontos dolorosos a palpao, com localizao
reprodutvel e formando ndulos musculares10.
As descries da literatura levaram Gowers, apud Wallace10, a utilizar pela
primeira vez o termo fibrosite, em 1904, acreditando nos indcios de que a inflamao
fosse a principal caracterstica do reumatismo muscular. No mesmo ano, Stockman,
apud Wallace10 descreveu histologicamente estes tecidos como reas de hiperalgesia
confinadas em um tecido conjuntivo branco. No entanto, muitos outros pesquisadores
no encontraram estes mesmos resultados10.
No final dos anos 20, outras denominaes foram sugeridas: miofascite em
1927, miofibrosite em 1929, neurofibrosite em 193027.
* Balfour W. Observations with cases illustrative of a new, simple, and expeditious mode of curing
rheumatism and sprains. London Med Phys J 1824; 51: 446-62. Gowers WR. Lumbago: Its lesson and analogues. Br Med J 1904; 1: 117-21. Stockman R. Rheumatism and arthrits. Edinburg: W Green and Son Ltd, 1920: 38:5-35.
-
7
Em 1940, o termo fibrosite foi definido como um estado doloroso agudo,
subagudo ou crnico de msculos, tecido subcutneo, ligamentos, tendes e
aponeuroses28 conceituado por Graham*, apud Wallace10, como reumatismo
tensional. Em 1950, foi sugerido que, por haver poucas manifestaes fsicas que
justificassem a dor referida pelos pacientes, essa condio era essencialmente
psicossomtica (reumatismo psicognico)27.
Smythe e Modollfsky, em 1977, foram os primeiros pesquisadores a associarem
os pontos dolorosos aos sintomas sistmicos e anormalidades laboratoriais
especficas. O quadro clnico foi ento renomeado fibrositis sindrome, referindo-se
somente sintomatologia de dores musculosquelticas generalizadas acompanhadas
de pontos dolorosos digito-presso, fadiga e distrbios do sono11.
Esta terminologia foi questionada pela ausncia de evidncias de um quadro
inflamatrio. Em 1981, Yunus et al.12 adotam o termo fibromialgia, incluindo como
critrios obrigatrios: dor generalizada acompanhada de rigidez importante,
envolvendo trs ou mais reas anatmicas, durante pelo menos trs meses. Era
necessria ausncia de causas secundrias como, por exemplo, traumticas,
doenas reumticas, infecciosas ou neoplsicas. O critrio maior era a presena de
pelo menos cinco pontos tipicamente dolorosos a dgito-presso. Os critrios
menores eram: modulao dos sintomas pela atividade fsica e por fatores climticos,
piora dos sintomas por estresse e ansiedade, dificuldade para dormir, fadiga
generalizada, ansiedade, cefalia crnica, sndrome do clon irritvel, sensao de
edema e parestesia. Os pacientes com fibromialgia deveriam preencher os dois
critrios obrigatrios, alm de apresentarem o critrio maior ou trs critrios
menores12.
* Graham D. Massage in muscular rheumatism, and its possible value in the diagnosis of muscular
rheumatism from neuritis. N Y St Med J 1948; 48: 2050-59.
-
8
O termo Fibromialgia foi endossado por Goldenberg29 e Bennet30 e culminou na
formao do comit ad hoc do Colgio Americano de Reumatologia para a definio
dos critrios de classificao da fibromialgia em estudo multicntrico de 19909.
Conceito
Fibromialgia uma sndrome dolorosa no articular, de patognese
desconhecida, que acomete preferencialmente mulheres, sendo caracterizada por dor
musculosqueltica generalizada, stios dolorosos especficos palpao tender
points, associados freqentemente a distrbios do sono, fadiga, cefalia crnica e
distrbios psquicos e intestinais funcionais, sem alteraes laboratoriais sugestivas
da sndrome28, 31 .
Critrios de classificao e sintomas associados
Como descrito anteriormente, o termo Fibromialgia e sua concepo como
entidade clnica prpria foram estabelecidos na dcada de 80. No entanto, foi
somente em 1990, com o estudo multicntrico do Colgio Americano de
Reumatologia9, que os critrios de classificao da Fibromialgia foram uniformizados
e apresentados para a comunidade cientfica.
Naquela ocasio, aps a avaliao de diferentes fatores presentes na
sndrome, ficou estabelecido que a Fibromialgia seria classificada pela presena de:
Dor Generalizada: dor no hemicorpo direito e esquerdo, dor acima e
abaixo da cintura e dor no esqueleto axial;
Dor Crnica: dor h mais de trs meses;
Dor palpao digital com uma presso de aproximadamente 4Kg em
pelo menos 11 dos 18 tender points, posicionados aos pares, sendo:
-
9
occipital, cervical baixa anterior, trapzio superior, supraespinhoso,
segunda articulao costocondral, epicndilo lateral, glteo, trocnter
maior do fmur, bordo medial do joelho.
Neste estudo foi questionado se a presena dos sintomas de distrbio do sono,
rigidez matinal e fadiga no fariam parte dos critrios de classificao, como havia
sido proposto previamente por Yunnus et al.12. Os resultados mostraram que os
critrios de dor e tender points proporcionavam os melhores ndices de sensibilidade
(88,4%), especificidade (81,1%) e acurcia (84,9%) em relao a outras doenas
reumatolgicas9.
Os sintomas de rigidez, fadiga e distrbio do sono estavam presentes em mais
de 75% dos pacientes. Entretanto, a presena simultnea destes trs sintomas
ocorria em apenas 56% dos mesmos9. Dessa forma, concluiu-se que os trs sintomas
referidos poderiam no estar, obrigatoriamente, presentes nos pacientes com
fibromialgia.
Outra questo abordada na determinao dos critrios de classificao em
1990 foi a nomenclatura de fibromialgia primria, quando no concomitante a outras
doenas, e fibromialgia secundria, quando concomitante e/ou decorrente de outras
patologias. Os critrios testados mostraram-se eficazes para as duas condies,
sugerindo que esta distino fosse abolida para a classificao uma vez que, a
presena de outra doena no altera a identificao da sndrome.
Acreditando que diferenas tnicas, sociais, culturais e econmicas pudessem
influenciar as manifestaes clnicas e o reconhecimento da Fibromialgia, Haun et al.
(1999)13 verificaram a validade dos critrios do ACR na populao brasileira. Partindo
da mesma metodologia, os autores concluram que a combinao de dor
generalizada em nove ou mais dos 18 tender points possveis apresentou
sensibilidade de 93,2%, especificidade de 92,1% e acurcia de 92,6%. Embora estes
valores sejam mais altos para a combinao de dor generalizada e crnica e nove
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10
tender points, os autores sugeriram que a classificao por meio dos 11 pontos fosse
mantida, visando possveis comparaes cientficas.
Os sintomas de fadiga e distrbio do sono tambm estavam bastante presentes
nos pacientes, em torno de 80%. No entanto, a rigidez matinal no apresentou
diferena estatisticamente significante em relao aos sujeitos controles13.
Com uma definio clara e objetiva dos critrios de classificao da
Fibromialgia, a comunidade cientfica passou a pesquisar um grupo de indivduos
mais homogneo, permitindo importantes avanos da pesquisa nesta ltima dcada.
No entanto, os mesmos pesquisadores que se utilizam destes critrios para identificar
um paciente com fibromialgia, reconhecem que eles no so suficientes para captar a
essncia desta sndrome pois, no incluem sintomas caractersticos como a fadiga,
distrbios do sono, ansiedade, entre outros32. Na prtica clnica, os reumatologistas
familiarizados com a Fibromialgia parecem considerar o conjunto total dos sintomas,
na presena ou no dos critrios do ACR33, 34.
O mesmo autor do estudo em 1990, recentemente apontou problemas
relacionados forma de diagnstico estabelecida naquele estudo: a heterogeneidade
na avaliao dos tender points quando por examinadores no treinados, o
freqente diagnstico sem o exame destes pontos na prtica clnica, a possibilidade
dos pacientes apresentarem os tender points positivos sem a presena da
Fibromialgia e finalmente a incapacidade destes critrios de reconhecer a
Fibromialgia como uma desordem de mltiplos sintomas. Em funo disto, os autores
propuseram um mtodo diagnstico baseado na Escala Regional de Dor e Escala
Visual Analgica (VAS) de fadiga e o compararam com o os critrios do ACR e com o
diagnstico clnico rotineiro de um reumatologista experiente. De modo geral a taxa
de concordncia entre os mtodos diagnsticos foi moderada, entre 72% e 75%. Os
autores concluem que, como no h um padro ouro para a classificao da
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11
fibromialgia, no h um diagnstico absolutamente correto e, portanto, os trs
mtodos testados aparecem ser apropriados33.
Assim, nota-se na comunidade cientfica uma preocupao recente em discutir
os critrios de 1990, que permitiram grandes avanos dos estudos em Fibromialgia, e
tambm, outras formas possveis de reconhecimento desta sndrome, que incluam
toda a sua complexidade.
Etiologia
Parte desta questo a respeito do critrio diagnstico mais adequado, bem
como das dvidas a respeito dos tratamentos e estratgias de convivncia com esta
sndrome, partem das lacunas ainda existentes a respeito de sua etiologia e fatores
perpetuantes.
Durante a dcada de 80 e meados da dcada de 90, muitos estudos foram
conduzidos partindo da hiptese de que o quadro clnico da fibromialgia fosse gerado
em decorrncia de alteraes do tecido muscular. As biopsias musculares e
investigao histolgica no revelaram alteraes consistentes em relao aos
sujeitos controle, o que tambm ocorreu em relao anlise metablica. Com isso,
a hiptese de uma doena muscular foi descartada35.
A investigao cientfica em relao s possveis causas da fibromialgia e seu
tratamento aponta para um distrbio no processamento dos estmulos sensoriais, que
passam a ser interpretados como dolorosos quando no deveriam36. Esta alodnea
central estaria fundamentada em uma alterao bioqumica e fisiolgica. Em reviso
recente, Mease et al.37 apresentam uma srie de dados que concorrem a favor destas
hipteses. As aminas biognicas, serotonina e norepinefrina esto reduzidas em
pacientes com fibromialgia e, portanto, diminuem seu efeito de modulao central e
perifrica da dor. Alm disso, j conhecido tambm, que a serotonina exerce papel
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12
na regulao do sono e sua alterao sistmica associada depresso e
ansiedade, sintomas frequentes na fibromialgia37.
Outra alterao encontrada na substncia P, um neurotransmissor
excitatrio a dor, que est em maior concentrao no fludo cerebroespinal de
pacientes com fibromialgia38. Glicina e taurina tambm esto correlacionadas com a
dor destes pacientes, sendo que a primeira parece ser pea fundamental na
reorganizao do sistema nervoso e manuteno da dor crnica39.
Outra questo que parece estar relacionada sintomatologia da fibromialgia
a alterao do eixo Hipotlamo-Hipfise-Adrenal, evidenciado nos pacientes
fibromilgicos por nveis basais elevados de hormnio adrenocorticotrfico e folculo
estimulante associado diminuio de fator de crescimento insulnico (IGF-1), de
hormnio de crescimento (GH), estrgeno, cortisol urinrio, entre outros. Foi
verificado que o ritmo circadiano de cortisol est desregulado nos fibromilgicos, com
um aumento da concentrao plasmtica a noite39. Todas estas alteraes
endcrinas podem, por sua vez, estar relacionadas diminuio de serotonina, que
sabidamente influencia a secreo hormonal, e no alterao primria da hipfise
ou glndulas endcrinas perifricas40.
A literatura apresenta ainda outros achados cujas associaes com a etiologia
da dor so ainda desconhecidas. Um deles a presena de nveis elevados de
citocinas como as interleucinas IL-Ra1, IL-8 e IL-6. Outro a alterao de fluxo
sangneo cerebral, verificado pela ressonncia nuclear magntica funcional, com
diminuio de fluxo nas reas dorsolaterais do crtex frontal de ambos hemisfrios,
nos ncleos caudado e talmico e crtex parietal superior37.
Se por um lado investiga-se a causa dos sintomas, por outro, os
pesquisadores tambm se preocupam com os fatores predisponentes fibromialgia e
sob quais condies ela desencadeada.
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13
Algumas alteraes genticas foram encontradas em pacientes fibromilgicos,
sugerindo que fatores desta natureza podem predispor indivduos sndrome37. Estes
achados vm parcialmente de encontro ao estudo de Neumann e Buskila18, que
observaram um aumento da prevalncia de fibromialgia entre familiares de
fibromilgicos. No entanto, como parentes no consangneos tambm tiveram uma
prevalncia aumentada, sugere-se que fatores ambientais tambm exeram
influncia nesta predisposio.
Os fatores apontados como predisponentes so descritos tambm como
desencadeantes. Entre estes agentes estressores esto traumas (como leso em
chicote), infeces (como hepatite C, HIV, doena de Lyme), estresse emocional,
eventos catastrficos (p.ex. guerra), cirurgia, doenas auto-imunes e outras
patologias37.
Prevalncia de Fibromialgia*
Prevalncia de dor generalizada e crnica na populao geral
Em associao aos tender points, a presena de dor crnica generalizada
compe o quadro dos critrios diagnsticos para fibromialgia propostos pelo ACR9.
Desta forma, Croft et al. em 199326 realizaram um estudo com o objetivo de
estabelecer a prevalncia de dor crnica generalizada em uma amostra da populao
adulta de duas unidades de assistncia sade de Cheschire, Inglaterra. A amostra,
com idade entre 18 e 85 anos, foi avaliada por correspondncia contendo questes
sobre existncia de qualquer tipo de dor, sua localizao e durao, sensao de
tristeza ou depresso, capacidade funcional, m qualidade de sono, fadiga, sensao
* Texto adaptado da reviso de literatura de Cavalcante et al.23
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14
de edema articular e distrbios gastrointestinais. Dos 1319 questionrios que
retornam completos, 58% eram provenientes de mulheres. A prevalncia de dor
crnica generalizada segundo critrios do ACR, foi de 11,2%. Segundo os autores,
este valor inferior ao encontrado em outros estudos com a populao inglesa, o que
poderia estar relacionado ao pobre retorno dos questionrios.
Storzhenko et al. em 2004 41 avaliaram uma amostra aleatria de 159 pessoas
com idade entre 27 e 75 anos, da lista de residentes da cidade de Yekaterinburg,
Rssia. Da mesma forma que Croft et al.26, foi postado um questionrio sobre dor
(localizao e tempo) e desordens psicolgicas. A prevalncia de dor generalizada e
crnica foi de 13,3%, com idade mais comum de acometimento entre 43 anos, sem
diferena entre os sexos e com associao de sintomas psicolgicos.
Lindell et al. em 200042 verificaram a prevalncia deste mesmo tipo de dor, em
uma coorte de 2425 indivduos, com idade entre 20 e 74 anos, na populao da
Sucia, entre 1995-1996. Por meio de entrevista foram identificados 303 indivduos
com dor crnica e generalizada dos quais 147 aceitaram participar do exame clnico.
A prevalncia de fibromialgia foi estimada em 1,3% e a de dor crnica (apenas a
presena de dor h mais de trs meses) em 4,2%.
O Quadro 1 ilustra os dados encontrados pelos diferentes autores.
Quadro 1: Prevalncia de dor crnica generalizada segundo ACR na populao geral
Autor Populao estudada Sujeitos 1a fase Sujeitos 2a fase
Coleta dos dados Prevalncia
Croft et al. 1993
Populao adulta residente em Cheschire,
Inglaterra. 2034 1319 Questionrio por correspondncia 11,20%
Lindell et al. 2000
Populao da regio sudoeste na Sucia entre
1995-1996. 2425
147
Avaliao clnica
4,2*%
Storzhenko et al. 2004
Populao entre 27-75 anos, de Yekaterinburg,
Rssia. 159 120 Questionrio por correspondncia 13,30%
* Somente prevalncia de dor crnica Fonte: Adaptado de Cavalcante et al. (2006)23
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15
Prevalncia de fibromialgia na populao geral
Com o estabelecimento dos critrios diagnsticos da fibromialgia em 19909, os
estudos de prevalncia desta sndrome tornaram-se mais freqentes e passveis de
comparao. Em contrapartida, muitas divergncias de valores so encontradas, o
que atribudo principalmente s estratgias utilizadas para a deteco dos casos de
fibromialgia, que dificilmente idnticas ao estudo original26 .
O primeiro estudo de prevalncia de fibromialgia aps 1990, com os critrios do
ACR, foi o de Prescott et al. em 199343, com a populao adulta da Dinamarca. A
amostra foi constituda de sujeitos residentes em Copenhagen, provenientes de uma
pesquisa nacional sobre sade, com idade entre 18 e 79 anos. Dos 1219 sujeitos
avaliados inicialmente, aqueles com dor crnica e generalizada foram convidados
para o exame clnico. Dentre os 65 sujeitos que comparecerem, oito foram
classificados como fibromilgicos, todos do gnero feminino, indicando uma
prevalncia de 0,66%.
Tanto os autores quanto a comunidade cientfica44 julgaram esta prevalncia
subestimada, o que foi relacionado dificuldade na classificao dos tender points
positivos, uma vez que depende da sensao subjetiva de dor dos sujeitos e da
interpretao desta pelo avaliador.
No que diz respeito metodologia, o estudo de Wolfe et al. em 199524 parece
ser o mais prximo dos critrios propostos em 1990. Este fato pode ser decorrente da
familiaridade dos pesquisadores com a classificao, uma vez que fizeram parte do
estudo multicntrico de 1990. A populao avaliada foi proveniente de um
levantamento randmico de uma lista de endereos de residentes em Wichita,
Kansas, EUA. Primeiramente, a amostra de 3006 pessoas, com 18 anos ou mais, foi
avaliada quanto dor, via correspondncia. Uma sub-amostra composta por 391
indivduos completou a avaliao que consistia em questionrios de ansiedade,
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16
depresso e capacidade funcional alm da avaliao dos tender points, realizada
atravs de dgito-presso e dolorimetria. A prevalncia mdia foi de 2% para a
populao geral, sendo 3,4% mulheres e 0,5% homens.
White et al. em 199914 encontraram resultados semelhantes aos de Wolfe et
al.24 na populao adulta canadense, com idade 18 anos ou mais, da cidade de
London, Ontario. Atravs de levantamento telefnico, 3395 entrevistas foram
realizadas e os sujeitos com dor crnica e generalizada foram convidados para a
avaliao por meio de questionrios e exame dos tender points, o que totalizou 176
sujeitos. A classificao de fibromialgia foi confirmada em 100 destes casos, sendo
86 mulheres e 14 homens, resultando em uma prevalncia de 2,7%. Considerando os
indivduos no avaliados com os possveis fibromilgicos, esta prevalncia sobe para
3,3%.
Considerando que a fibromialgia a segunda causa mais freqente nos
consultrios de reumatologistas1, natural que os estudos epidemiolgicos de
doenas reumticas tambm identifiquem a prevalncia desta sndrome. Nestes
estudos, o objetivo passa a ser estimar a prevalncia das desordens reumatolgicas
mais comuns na populao geral. Neste sentido, o Programa Orientado para a
Comunidade para o controle de Doenas Reumticas (COPCORD) foi um
instrumento unnime nos estudos na Espanha, Brasil, Mxico e Bangladesh.
Na Espanha, a amostra nacional foi constituda de 2998 sujeitos, selecionados
de forma aleatria nas 19 comunidades autnomas do pas, com idade maior ou igual
a 20 anos,. Ao contato realizado atravs de carta, 2192 indivduos responderam e
foram convidados na seqncia a participarem do exame clnico feito por
reumatologistas nos postos de sade. Utilizando os critrios do ACR, a fibromialgia
foi a quarta desordem reumatolgica mais freqente com prevalncia de 2,4%1 .
Na cidade do Mxico, Cardiel et al. em 20025 estimaram a prevalncia de
doenas reumatolgicas avaliando amostras estratificadas de adultos, de 18 anos ou
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17
mais, totalizando 1169 homens e 1331 mulheres. A prevalncia de fibromialgia foi de
1,4%, perdendo somente para osteoartrose (2,3%) e lombalgia (6,3%).
O nico estudo realizado na Amrica Latina de Senna et al. em 20044, em
Montes Claros, Brasil. A metodologia semelhante aplicada nos demais estudos de
prevalncia usando o COPCORD. A amostra foi probabilstica por conglomerado,
sendo composta de 3038 pessoas, com idade de 16 anos ou mais, que responderam
ao questionrio e foram examinadas por um reumatologista. A fibromialgia foi a
segunda desordem reumatolgica mais freqente, com prevalncia de 2,5%.
Nesta mesma linha, Haq et al. em 20052 encontraram a prevalncia de 4,4%
nas comunidades adulta (15 anos ou mais) de Bangladesh, sendo 2,3% na
comunidade urbana e 3,2% na rural. Assim como Carmona et al.1, os autores
identificaram a fibromialgia como a quarta desordem mais prevalente.
O Quadro 2 resume os achados dos autores citados.
Quadro 2: Prevalncia de fibromialgia na populao adulta, segundo os critrios do ACR
Autor Populao Estudada Sujeitos 1. fase Sujeitos 2. fase Coleta dos dados Prevalncia
Makela et al. 1991
Populao finlandesa entre 1977-1980. 7217 3434 Avaliao clnica
54 sujeitos ou 0,75%
Prescott et al. 1993
Populao adulta, Copenhagen, Dinamarca. 1219 65 Avaliao clnica 0,66%
Wolfe et al. 1995
Populao residente em Wichita, Kansas (EUA). 3006 391
Correspondncia e avaliao clnica 2,00%
White et al. 1999
Populao adulta residente em London, (Canad). 3395 176
Contato telefnico e avaliao clnica 2,70%
Carmona et al. 2001
Populao espanhola com 20 ou mais anos. 2998 2192
Correspondncia e avaliao clnica 2,40%
Cardiel et al. 2002
Populao adulta residente na Cidade do Mxico. 2500 SI Avaliao clnica 1,40%
Senna et al. 2004
Populao residente em Montes Claros, Brasil. 3038 SI Avaliao clnica 2,50%
Haq et al. 2005
Populao adulta nas comunidades urbana (CU) e rural (CR) de Bangladesh.
SI
SI
Avaliao clnica
2,3% (CU) e 3,2% (CR)
SI = Sem informao Fonte: Adaptado de Cavalcante et al. (2006)23
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18
Prevalncia da Fibromialgia no gnero feminino
A fibromialgia uma sndrome essencialmente do gnero feminino9. Sendo
assim, nesta populao que se manifesta um grande impacto na qualidade de vida
e, talvez por este motivo, alguns autores tenham escolhido especialmente esta
populao para estimar a prevalncia de fibromialgia.
Schochat e Rasp45 entrevistaram 3174 mulheres adultas (35 a 74 anos) na
cidade alem de Bad Sckingen, fazendo o contato inicial via correio e,
posteriormente, avaliando uma sub-amostra selecionada aleatoriamente. Alm das
questes relacionadas dor, os autores avaliaram a qualidade de vida, sintomas da
sndrome, dados scio-demogrficos e uso de programas de reabilitao. Na amostra
da primeira etapa, 30,4% no apresentaram dor, 29,8% apresentaram dor aguda e
39,8%, dor crnica das quais 13,5% das mulheres tinham dor generalizada e crnica.
Na avaliao posterior, de 623 mulheres, 96 referiram ter dor crnica generalizada
(14,7%) dos quais 72 apresentaram mais de 11 tender points positivos, preenchendo,
portanto, o critrio para fibromialgia segundo o ACR. A prevalncia de dor
generalizada foi de 26,5%, sendo 62,3% destas com dor crnica. Os autores apontam
como limitaes do estudo uma populao pequena e o acesso apenas populao
feminina.
Em estudo anterior, Forseth e Gran46 investigaram a prevalncia de fibromialgia
entre as mulheres da cidade de Arendal, na Noruega, com idade entre 20 e 49 anos.
A amostra inicial foi composta de 2498 mulheres, das quais 2038 responderam aos
questionrios postados, contendo questes sobre presena de dor crnica e cansao.
Foram considerados questionrios positivos aqueles que apresentavam pelo menos
uma resposta afirmativa, dentre as quatro questes propostas, representando 57,1%
da amostra inicial. Destas, 242 mulheres foram selecionadas aleatoriamente para o
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19
exame clnico, que consistiu em novas perguntas sobre dor e cansao, na avaliao
com dolormetro e com dgito-presso dos tender points segundo os critrios do ACR,
e no exame de sangue. Ao final, foram encontradas 40 mulheres compatveis com os
critrios de classificao da fibromialgia. Destas, 34 j haviam procurado um mdico
devido aos sintomas de dor e cansao. A prevalncia de fibromialgia estimada foi de
10,5% e os autores relacionam esta alta prevalncia com a elevada porcentagem de
mulheres com dor.
Em estudo recente, Topbas et al. (2005)47 estimaram a prevalncia de
fibromialgia entre as mulheres de Trabzon, Turquia. Como a maior parte dos estudos,
a seleo dos sujeitos foi aleatria, atravs dos registros das unidades primrias de
sade, resultando em 1930 mulheres, entre 20 e 64 anos. A metodologia para a
identificao dos sujeitos com dor crnica e generalizada foi adaptada de White et
al.16, obtendo-se 296 sujeitos. Por meio de exame clnico, realizado por um
reumatologista, os autores identificaram 70 casos de fibromialgia e a prevalncia
estimada foi de 3,6%. Como em outros estudos, os autores tambm verificaram a
maior prevalncia na faixa etria de 50 a 59 anos e em mulheres que possuem
famlias nucleares e no estendidas, apontando a importncia de estudos de
prevalncia no sentido de propor aes para melhorar a sade da populao turca.
Lundberg e Gerdle em 200248 investigaram a prevalncia de fibromialgia entre
as mulheres suecas do municpio de Nikoping, que realizavam trabalho domiciliar, em
licena maternidade ou licena doena, com ou sem dor. Preencheram os critrios de
incluso 643 sujeitos e 607 concordaram em participar. Destes, 1,3% estavam em
licena maternidade e 1,5% em licena por doena. Foram aplicados questionrios
contendo dados demogrficos, nmero de filhos, avaliao da dor pela Escala
Analgica Visual (VAS) e questes sobre sintomas relacionados a fibromialgia como
dor generalizada (de acordo com o ACR), ansiedade, estresse, sndrome do clon
irritvel, edema, rigidez matinal e fadiga generalizada. Posteriormente, trs
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20
fisioterapeutas experientes avaliaram a mobilidade lombar, a configurao sagital da
coluna, a mobilidade articular e os tender points. A prevalncia de fibromialgia
encontrada foi de 2% (12 dos 607 sujeitos) e os indivduos com dor nos quatro
quadrantes apresentaram um nmero significativamente maior de tender points
positivos. Os autores tambm encontraram uma relao positiva entre tender points e
intensidade da dor, assim como entre tender points e quantidade de sintomas. A
incapacidade, nmero de dispensas mdicas e qualidade de vida tambm se
mostraram, de forma geral, relacionadas a estes pontos. Os autores inferem que as
leses relacionadas ao trabalho possam ter influenciado os resultados obtidos, assim
como o nvel socioeconmico dos participantes. Provavelmente, a dor aumenta o
risco de desenvolver fibromialgia, j que foram identificados como fatores
predisponentes dor h mais de seis anos, com mais de quatro sintomas associados,
sentir-se cansado pela manh e parestesia. A prevalncia de fibromialgia foi
relativamente alta entre as mulheres que trabalham em casa na Sucia e,
diferentemente de outros estudos, foi encontrada forte correlao entre incapacidade
e tender points e entre diferentes sintomas.
Estudo de White et al. em 199916 descreve a prevalncia para mulheres e
homens com valores iguais a 4,2% e 1%, respectivamente. Em mulheres com idade
inferior a 25 anos, a prevalncia foi de 1% ou menos, valor que aumenta at a faixa
etria de 55 a 64 anos, regredindo a partir de ento. No entanto, preciso ressaltar
que a baixa prevalncia entre idosos maiores de 64 anos pode estar relacionada
institucionalizao dessa populao, que no contemplada nestes estudos. Em
relao aos homens, a prevalncia tambm se mostra inferior a 1% em indivduos
com idades entre 18 e 24 anos, permanecendo baixa tambm nas faixas etrias mais
altas.
A prevalncia de fibromialgia em mulheres, segundo os autores citados, est
resumidamente apresentada no Quadro 3.
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21
Quadro 3: Prevalncia de fibromialgia no gnero feminino,segundo os critrios do ACR
Autor Populao Local Sujeito 1. fase Sujeito 2. fase Coleta de dados Prevalncia
Schochat et al. 2003
Mulheres de 35-74 anos
Bad Sckingen, Alemanha 3174 623
Correspondncia e avaliao clnica 59 sujeitos
Forseth et al. 1992
Mulheres de 20-49 anos
Arendal, Noruega 2038 242
Correspondncia e avaliao clnica 10,50%
Topbas et al. 1992
Mulheres de 20-64 anos
Trabzon, Turquia 1930 285
Correspondncia e avaliao clnica 3,60%
Lundberg et al. 2002 Mulheres
Nikoping, Sucia 643 607 Avaliao clnica 2%
White et al. 1999 Mulheres
London, (Canad) 3395 176
Contato telefnico e avaliao clnica 4,20%
SI = Sem informao
Fonte: Adaptado de Cavalcante et al. (2006)23
Prevalncia de fibromialgia em crianas e adolescentes
De forma menos freqente que a populao adulta, a fibromialgia tambm afeta
as crianas. A literatura sobre sua prevalncia e sobre o exame dos tender points em
crianas saudveis no est claramente definida, refletindo nos resultados obtidos
nos diferentes estudos.
Em estudo realizado por Buskila et al. em 199349, foram selecionadas 338
crianas saudveis em idade escolar para uma estimativa da prevalncia de
fibromialgia e para a avaliao do limiar de dor nos tender points. As crianas foram
submetidas ao exame dos 18 tender points e de quatro pontos controle. Juntamente
com seus pais, foram questionadas quanto presena de dor generalizada ou dor
aguda. Foi encontrada uma prevalncia de 6,2%, de acordo com os critrios
diagnsticos estabelecidos pelo ACR. No houve grande diferena nos resultados
entre meninos e meninas, diferentemente da populao adulta. No entanto, o autor
discute a possibilidade do tamanho da amostra influenciar esses resultados. Os
-
22
meninos mostraram menor intensidade de dor do que as meninas e as crianas
diagnosticadas com fibromialgia tiveram limiar de dor reduzido, tanto nos 18 tender
points quanto nos quatro pontos controle.
Algumas limitaes podem ser apontadas neste estudo e englobam quaisquer
estudos com crianas. Como observaram Clark et al. em 199850, a dor um
fenmeno muito subjetivo e o relato dos pais poderia diferir do relato das crianas.
Alm disso, o exame dos tender points realizado previamente ao questionamento
sobre dor e com todos os sujeitos, pode ter interferido em suas respostas.
Em continuao ao estudo realizado em 1993, Buskila et al. 199551 reavaliaram,
aps 30 meses, as 21 crianas diagnosticadas com fibromialgia e as 7 crianas que
tiveram 11 ou mais tender points positivos, sem relato de dor generalizada. A
metodologia do estudo anterior foi mantida com a insero de um questionrio
contendo informaes sobre distrbios do sono, fadiga, cansao matinal, parestesias,
dor de cabea e alteraes intestinais.
Com base nos mesmos critrios, apenas quatro das 15 crianas avaliadas e
originalmente classificadas como fibromilgicas, ainda apresentavam a sndrome. O
nmero de tender points positivos aumentou em trs crianas e permaneceu o
mesmo em uma delas, sendo todas meninas. As sete crianas que inicialmente
preencheram os critrios dos tender points no desenvolveram fibromialgia e duas
delas queixavam-se de dor localizada. O autor atribui esses resultados a um melhor
prognstico da fibromialgia nas crianas, diferentemente do encontrado na populao
adulta, destacando a importncia do estudo da evoluo da sndrome ao longo do
tempo.
Mikkelsson et al. em 199952 tambm realizaram um follow-up de 22 sujeitos
identificadas com fibromialgia entre 1756 crianas de outro estudo. O seguimento foi
feito por um examinador cego durante um ano. No incio do estudo, a prevalncia de
-
23
fibromialgia era de 1,3% e, aps um ano, 16 crianas foram reavaliadas, estando a
fibromialgia presente em apenas quatro delas, com sintomas de incapacidade.
Prevalncia de fibromialgia em populaes especiais
Neumann em Buskila em 199718 estimaram a prevalncia de fibromialgia entre
os familiares de indivduos fibromilgicos, selecionando 30 mulheres fibromilgicas,
segundo os critrios do ACR, do ambulatrio de Reumatologia no Hospital
Universitrio de Beer Sheva (Israel) e pesquisando seus familiares. A amostra final foi
composta de 117 sujeitos, dos quais 26 eram maridos e 91 parentes consangneos,
incluindo filhos, irmos e outros graus de parentesco. Todos os sujeitos foram
avaliados quanto presena de fibromialgia conforme os critrios do ACR. Dentre os
familiares consangneos, 24 (26%) apresentaram diagnstico positivo de
fibromialgia, sendo a mesma superior entre as mulheres (41%) quando comparadas
aos homens (14%). Em relao aos maridos, a prevalncia encontrada foi de 19%,
sugerindo que alm de uma possvel predisposio gentica, a atmosfera familiar
tambm pode ser um fator prediponente.
Andary et al. em 200453 realizaram um estudo com atletas de ambos os sexos
com pelo menos 18 anos e praticantes de vrios esportes durante o perodo de
preparao para competies universitrias. Foram inseridas questes sobre sade e
sobre dor no corpo (resposta sim ou no) alm do exame nos 18 tender points e trs
pontos controle, atravs da dgito-presso. Entre 1993 e 1999, 641 indivduos
aceitaram participar do estudo, sendo 6% com dor crnica e generalizada, 38% com
um ou mais tender points positivos e 62% com ausncia destes. Apenas uma atleta
preencheu os critrios estabelecidos pelo ACR para fibromialgia (nadadora, que se
sentia bem, freqentava as aulas e continuava treinando, sem nunca ter procurado o
servio de sade por conta da dor). No entanto, negou outros sintomas como
-
24
distrbios do sono, dor de cabea, dor de estmago entre outros. Cinco atletas
apresentaram cinco a 17 tender points positivos, porm no relataram dor. Os
autores questionam que a prevalncia em atletas pode ser subestimada em funo
do receio dos atletas em admitirem e a avaliao no ser cega. Alm disso, especula-
se que uma combinao de fatores como o exerccio, a ausncia de atletas com dor
intensa em nvel competitivo, a faixa etria de adultos jovens, fatores
socioeconmicos, educacionais, genticos, cognitivos e psicolgicos possam ter
contribudo para a baixa prevalncia de fibromialgia.
White et al. em 200354 realizaram um estudo com 242 adultos de uma Amish
community* (religiosos em uma comunidade rural) de London, Ontrio (Canad).
Supondo que a priori as caractersticas da sociedade moderna tm maior efeito
desencadeante de fibromialgia, a prevalncia em Amish communities, seria igual a
zero. Dos indivduos recrutados, os que tinham dor crnica e generalizada foram
examinados para fibromialgia. Os resultados foram comparados com os obtidos em
pesquisa telefnica aleatria realizada com 492 adultos vivendo em uma comunidade
rural comum e com 3395 previamente estudados em London, comunidade urbana.
Destes, 34,3% tinham dor h menos de trs meses, 25,4% apresentaram dor em
membros superiores, 22,5% apresentavam dor em membros inferiores e 28,1% dores
no tronco. A prevalncia de fibromialgia encontrada foi de 7,3%.
O Quadro a seguir apresenta, resumidamente, a prevalncia de fibromialgia em
populaes especiais.
Amish Community um tipo de comunidade rural e religiosa que vive de acordo com rgidas regras.
Entre muitas caractersticas, estas pessoas evitam o uso da tecnologia e parecem viver como no sculo
XIX. Fonte: http://www.800padutch.com/amish.shtml [acessado em 06-04-2006]
-
25
Quadro 4: Prevalncia de fibromialgia em populaes especiais
Autor Populao estudada Sujeitos 1 fase
Sujeitos 2 fase
Coleta dos dados
Prevalncia
Buskila et al. 1997
Familiares de mulheres fibromilgicas em Beer Sheva, Israel.
161 117 Avaliao clnica
24,70%
Andary et al. 2004
Atletas com 18 ou mais anos entre 1993-1999.
641 641 Avaliao clnica
0,15%
White et al. 2003
Populao adulta religiosa de London, Ontario (Canad).
242 242 Avaliao clnica
7,30%
Fonte: Adaptado de Cavalcante et al. (2006)23
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26
CASUSTICA E MTODOS
Processo de Amostragem
A populao deste estudo foi composta por habitantes do municpio de Embu,
So Paulo, Brasil, com idade entre 35 e 60 anos, cadastrados em uma das nove
Unidades Bsicas de Sade (UBS) durante o ano de 2003 (amostra no
probabilstica por conglomerados). O recorte da faixa etria entre 35 e 60 anos
deveu-se basicamente questo de viabilidade de execuo do projeto. Com os
recursos disponveis no seria possvel uma avaliao de toda populao adulta
(maior de 18 anos) optando-se, ento, pela populao de meia idade, com maior
probabilidade de Fibromialgia, segundo a literatura24. Selecionar a amostra entre os
indivduos cadastrados nas Unidades Bsicas de Sade do municpio possibilitou
respaldo da Secretaria de Sade desde a utilizao de recursos fsicos e humanos
at a credibilidade da populao na pesquisa.
Em virtude do processo de amostragem selecionado, tornar-se importante
ressaltar algumas caractersticas da populao do municpio de Embu, SP. Segundo
o Censo de 200155, a cidade tem 207.663 habitantes, sendo 41% do gnero feminino
(84.240/207.663), 39% masculino (80.295/207.663) e 34% com idade entre 30 e 59
anos (69.673/207.663). De modo geral esta populao de baixa renda e baixa
escolaridade. Dentre os residentes com 10 anos ou mais de idade (164.535), 6,2%
tem rendimento nominal mensal de at um salrio mnimo, 24,5% recebe de um a
trs salrios mnimos, 12,2% entre trs e cinco, 8,3% entre cinco e dez e 2,2% com
mais de 10 salrios mnimos. Grande parte da populao acima de 10 anos, 46,6%
(76.659/164.535) no tem nenhum rendimento. Em relao escolaridade, nesta
mesma populao acima de 10 anos, 8,2% no tem instruo ou menos de um ano
-
27
de estudo, 14,5% tem entre um e trs anos de estudo, 41,1% tem entre quatro e sete
anos de estudo, 20% entre oito e 11 anos e 15,4% estudaram mais de 11 anos.
Selecionando a amostra do estudo entre as pessoas cadastradas nas UBS,
importante salientar que o servio pblico de sade a principal fonte de acesso a
assistncia mdica para a populao deste municpio. A rede hospitalar composta
por apenas um hospital pblico municipal (nenhum privado ou universitrio). Quanto
rede ambulatorial, h 19 unidades, todas pblicas, sendo composta por trs postos
de sade, sete centros de sade e outras nove unidades diversas.56
O processo de amostragem iniciou-se com um levantamento de todos os
habitantes que fizeram cadastro em uma das nove UBS durante o ano de 2003 (ano
completo que antecedeu o incio da pesquisa), sem a distino dos motivos (desde
queixa fsica importante at vacinao), nascidos entre os anos de 1944 e 1969
(idade entre 35 e 60 anos em 2004). Este cadastramento revelou uma populao
inicial de 3109 indivduos dos quais 73% possuam telefone (2.269/3.109). A equipe
de pesquisadores realizou uma tentativa de entrevista, via contato telefnico, com os
2.269 habitantes, terminando esta etapa com 768. Todos foram convidados a
participar da avaliao pessoalmente e do exame de tender points, totalizando 304
avaliaes. Desde de que preenchessem os critrios de incluso em relao idade,
fossem residentes de Embu e aceitassem a participao na pesquisa, todos os
sujeitos foram includos. Este procedimento est ilustrado na Figura 1.
-
28
Populao de Embu - SP(207.663)
Populao adulta(30 59 anos)*
(69.673)
Cadastrados nas UBS em 2003 (35 60)
(3109 )
Cadastrados na UBS em 2003
com telefone (2269)
Entrevistados(768)
Avaliados (304)questionrios + dolorimetria
Funcionrios das UBS
Pesquisadores(contato telefnico )
Pesquisadores(avaliaes nas UBS )
*Dado do Censo 2001. Fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/
Figura 1: Fluxograma do processo de amostragem e origem da amostra
Equipe de pesquisadores
A equipe de pesquisadores foi composta por trs alunas de iniciao
cientfica do curso de graduao em Fisioterapia da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo FMUSP, duas alunas de ps-graduao da FMUSP
junto ao programa de ps-graduao em Cincias da Reabilitao rea de
concentrao Movimento, Postura e Ao Humana, alm da orientadora do trabalho,
professora do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional
da FMUSP.
Foi desenvolvido um processo para a realizao das avaliaes e toda a
equipe foi previamente treinada para realizar as entrevistas por telefone e aplicao
de todos os questionrios, na etapa subseqente. Um nico pesquisador, com
familiaridade no exame dos tender points, foi responsvel pela dolorimetria.
Procedimentos e Materiais
As nove UBS dividem-se por regies, sendo denominadas: Centro, Itatuba,
Pinheirinho, Ressaca, Santa Emlia, Santa Tereza, Santo Eduardo, So Marcos e
-
29
Vista Alegre. O levantamento das pessoas cadastradas nestas UBS foi realizado por
um funcionrio por unidade, indicado pelo(a) respectivo (a) diretor(a), fora de seu o
expediente de trabalho. Estes funcionrios foram orientados pelos pesquisadores
individual e pessoalmente, alm receberem um folheto informativo.
Em princpio, os indivduos cadastrados seriam entrevistados pessoalmente,
com os pesquisadores visitando os bairros das UBS. No entanto, o procedimento
piloto, realizado no bairro Pinheirinho, evidenciou as dificuldades desta abordagem:
ruas sem placas de sinalizao, casas sem nmeros e nmeros sem ordem lgica.
Em aproximadamente quatro horas, seis pesquisadores realizaram apenas 15
entrevistas. Em funo disso, foi decidido que o Protocolo de Amostragem (Anexo 1)
seria realizado via contato telefnico.
Alm dos nmeros de telefones j fornecidos pelo cadastro, outros puderam ser
obtidos a partir de um guia telefnico online pelo nome completo e/ou endereo.
(http://guia.telefonica.net.br/loja/informacoes/guia_assinantes/i_guia_con.asp). Ao
final desta consulta, 73% (2269/3109) da amostra inicial possua algum nmero para
contato. As entrevistas foram realizadas com o uso de linhas telefnicas residenciais,
seguindo o Protocolo de Amostragem com dados pessoais, presena, tempo e
localizao de dor (por mapa de dor) e presena de cansao matinal (Anexo 1).
Em reunio, a equipe estabeleceu o plano de abordagem para as ligaes,
visando maior receptividade e adeso:
1) Identificao - nome, curso e universidade;
2) Motivo da ligao - realizao de uma pesquisa sobre dor;
3) Perguntas do Protocolo de Amostragem presena ou no de dor no
corpo e, em caso positivo, local e tempo de dor e presena ou no de
cansao ao acordar. Dado que este protocolo foi elaborado para uma
avaliao pessoalmente, a equipe adaptou a utilizao do mapa de dor
para uma entrevista telefnica. A medida em que o sujeito respondia
-
30
afirmativamente para a dor, era questionado sobre o local. Dependendo da
resposta, os examinadores procuravam delimitar melhor a regio
anatmica para assinalar no mapa.
4) Por fim, a confirmao dos dados pessoais, garantindo os critrios de
incluso.
As tentativas de contato foram feitas com todos os indivduos com telefone
disponvel, uma nica vez, em perodos do dia variados, dependendo da
disponibilidade de cada pesquisador, utilizando-se de linhas telefnicas residenciais.
Ao final desta etapa, 768 pessoas haviam sido entrevistadas. Os protocolos
obtidos foram divididos em trs grupos em relao presena e localizao da dor,
adotando-se o critrio do Colgio Americano de Reumatologia9. Neste critrio,
denominada Dor Generalizada (DG) a presena de dor no hemicorpo direito e
esquerdo, dor abaixo e acima da cintura e dor no esqueleto axial. As pessoas com
dor que no se enquadravam neste critrio foram denominadas como Dor Regional
ou Localizada (DR) e o restante, Sem Dor (SD). Os dois grupos de sujeitos com dor
foram subdivididos em funo do tempo, considerando-se dor crnica (C) aquela
presente por mais de trs meses e dor aguda (A) o restante. Esta classificao foi
mantida durante todo o trabalho.
Num segundo momento, todos os 768 sujeitos foram convidados a participar
da avaliao que inclua a aplicao de questionrios e dolorimetria. O convite foi
realizado atravs de cartas, postadas com no mnimo uma semana de antecedncia,
informando o objetivo da pesquisa, datas, horrios e contato telefnico para
agendamento (Exemplo no Anexo 2). Todos os sujeitos receberam o reforo do
convite atravs de contato telefnico por um membro da equipe, na semana que
antecedia a avaliao.
A aplicao dos questionrios propostos e exame dos tender points foram
realizados nas nove UBS do municpio, seguindo o local onde o indivduo foi
-
31
cadastrado. Estas avaliaes foram realizadas aos sbados, com a abertura das UBS
exclusivamente para a pesquisa. A ordem de avaliao nas UBS foi determinada por
sorteio, obtendo-se a seqncia: So Marcos, Santo Eduardo, Pinheirinho, Ressaca,
Itatuba, Vista Alegre, Santa Tereza Santa Emlia e Centro.
Para as investigaes propostas, aps serem informados dos objetivos da
pesquisa e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 3), os
indivduos foram avaliados, utilizando-se os seguintes instrumentos:
Protocolo com dados pessoais, histria de dor e escala analgica visual (VAS)
da dor, sendo esta ltima uma reta de 10 cm desprovida de nmeros, na qual
o sujeito deve assinalar sobre a reta a intensidade da dor naquele momento
(Anexo 4).
Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ)57 (Anexo 5). Este questionrio foi
proposto por Burckhardt et al, em 1990, como um instrumento para avaliao
da qualidade de vida especfico para Fibromialgia. Sua abordagem envolve 20
questes, distribudas em 10 itens: 1) capacidade funcional (conjunto de 10
questes), 2) sentir-se bem, 3) faltas no trabalho, 4) interferncia dos sintomas
no trabalho, 5) dor, 6) fadiga, 7) rigidez matinal, 8) cansao matinal, 9)
ansiedade, 10) depresso. Nove dos dez itens apresentam o maior escore
como a pior condio, sendo exceo o item sentir-se bem (2). Sete dos nove
itens (4 ao 10) so pontuados utilizando-se a escala analgica visual, ou
seja entre 0 e 10. A capacidade funcional (1) avaliada em 10 questes, com
respostas entre 0 e 3, que ao final so somadas, variando entre 0 e 30. As
questes faltas no trabalho e sentir-se bem so pontudas em dias da semana,
originalmente variando entre 0 e 5. Em estudo prvio 58, estas questes foram
adaptadas considerando-se o trabalho domstico portanto, variando entre 0 a
7 dias. Esta e outras adaptaes foram recentemente validadas para a
populao brasileira59.
-
32
Post Sleep Inventory (PSI)60 - avaliao da qualidade de sono. Este protocolo
constitudo de 30 itens, divididos em trs categorias: o pr-sono (ao deitar)
com oito itens, durante o sono com 13 itens e o ps-sono (ao acordar) com
nove itens. Todas as questes so ancoradas nos extremos com afirmaes
opostas de mau e bom sono, servindo como uma escala entre um e 13. Para
diminuir o vis das respostas, as afirmaes de bom sono alternam-se entre o
lado direito e esquerdo. Em funo disto, para a pontuao, questes cuja
afirmao de bom sono esto localizadas no lado esquerdo tem a pontuao
invertida sendo, portanto, o maior escore referente a melhor qualidade de
sono. Os valores dos itens so somados, variando entre 30 e 390. Segundo o
autor, a pontuao pode ser assim interpretada: bom sono escore mdio
em torno de 253, bom e mau sono escore de 209, nem bom nem mau
escore de 212, no sabe escore de 211 e mau sono - escore mdio em
torno de 183 (Anexo 6). Como este questionrio possibilita a avaliao de trs
etapas da noite de sono, estas tambm foram consideradas neste estudo.
Assim, o pr-sono varia entre oito e 104, durante o sono entre 13 e 169 e o
ps-sono entre nove e 117, sendo sempre o maior valor a melhor qualidade
de sono.
Stanford Health Assessment Questionnaire Disability Index (HAQ). Parte
integrante do Stanford Health Assessment Questionnaire, originalmente com
cinco dimenses, este item de Incapacidade Funcional (Disability)
constitudo de 20 questes, divididas em oito categorias. Segundo traduo e
validao para a populao brasileira por Ferraz et al. em 199061, estas
categorias denominam-se: vestir-se, levantar-se, comer, caminhar, higiene,
alcanar, preenso e outras atividades. Para cada questo a pontuao se d
de acordo com o grau de dificuldade em realizar a tarefa sendo nenhuma
dificuldade = 0, alguma dificuldade = 1, muita dificuldade = 2 e incapacidade
-
33
de realizao = 3. A pontuao de cada categoria dada pela resposta de
maior valor dentro da categoria, variando, portanto, entre 0, 1, 2 e 3. O escore
total dado pela mdia das oito categorias, no sendo um valor continuo mas
uma das 25 possibilidades entre 0 e 3 (p.ex: 0; 0,125; 0,250;...3,00).(Anexo 7).
Escala de Fadiga de Chalder (14 Item Fatigue Scale)62. Esta escala
originalmente constituda por 14 questes dividas em dois aspectos: sintomas
fsicos (com oito questes) e os mentais (com seis questes). A pontuao
dada agregando-se um valor a cada uma das quatro opes de resposta (1=
No, 2 = no mais que o normal, 3 = mais que o normal e 4 = muito mais que
o normal). O escore total obtido pela soma da pontuao em todos os itens,
ou seja, varia entre 14 e 56, onde os maiores valores indicam maior fadiga. Da
mesma forma pode-se obter os escore de fadiga mental (de oito a 24) e fadiga
fsica (de seis a 24) (Anexo 8). Embora o autor da escala original tenha
sugerido a eliminao de uma questo do aspecto fsico (cinco) e duas do
mental (12 e 14), neste estudo optou-se pela manuteno das 14 questes.
Embora j tenha sido utilizada em outro estudo no Brasil63, esta escala no foi
traduzida e validada para a lngua portuguesa e, portanto, acredita-se que o
menor nmero de alteraes possveis leva a um menor nmero de distores
da escala original.
Dolormetro, desenvolvido por Fischer64, com ponta de 1cm de dimetro,
revestida de borracha firme, tem funo de registrar a presso aplicada sobre
a pele em libras ou Kg/cm2. A pontuao inicia-se em 1kg/cm2 com um
mximo de 10 kg/cm2. Alguns sujeitos podem ter dor a uma presso menor
que 1kg/cm2 convencionada como igual a 0,5kg/cm2, ou somente ao toque
do dolormetro na pele igual a 0,0kg/cm2.
Dada a dificuldade de leitura por parte dos participantes, os questionrios
foram aplicados individualmente e com o auxlio dos pesquisadores, evitando erros
-
34
de preenchimento ou interpretao das questes. Todas as respostas foram
assinaladas pelos pesquisadores, com exceo das escalas analgicas visuais,
realizadas pelo entrevistado. As perguntas foram lidas para o indivduo, conforme
treinamento prvio (inclusive em relao aos termos de difcil compreenso), sendo
que cada avaliao completa (incluindo a dolorimetria) levava cerca de duas horas,
no incio da pesquisa e uma hora e quinze minutos ao final. A ordem de aplicao dos
questionrios foi estabelecida levando-se em considerao: facilidade de explicar e,
compreender a escala, o quanto uma escala poderia ajudar a responder a seguinte e
escalas mais simples e rpidas ao final da avaliao. Estudo de Childs em 200565,
mostrou que para avaliao de qualidade de vida, a ordem de aplicao de um
questionrio genrico e um especfico no tem interferncia nas respostas, podendo
o pesquisador escolher o que lhe for mais conveniente. A ordem estabelecida foi a
seguinte: 1 Protocolo de Amostragem, 2 Fibromyalgia Impact Questionnaire, 3 Post
Sleep Inventory e 4 Health Assessment Questionnaire e 5 Escala de Fadiga de
Chalder.
O exame dos tender points foi realizado utilizando-se o dolormetro e seguindo
as orientaes do Colgio Americano de Reumatologia9 e Okifuji et al.66. Um nico
pesquisador previamente treinado e com experincia neste exame conduziu todas as
avaliaes. Com o intuito de agilizar este exame clnico, enquanto os cinco
pesquisadores realizavam as entrevistas, a dolorimetria era realizada, portanto em
momentos variados da entrevista.
Em posse das avaliaes de tender points e diviso dos grupos de dor
estabelecida na etapa anterior, os sujeitos pertencentes ao grupo de Dor
Generalizada e Crnica foram classificados em Fibromialgia (FM) ou no. Para isto
utilizaram-se os critrios do Colgio Americano de Reumatologia adaptados para o
uso do dolormetro de Fischer. No estudo multicntrico de Wolfe et al em 19909, que
determinou um tender point positivo quando dolorido a uma presso equivalente a
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35
4kg, os pesquisadores utilizaram digito - presso e um dolormetro de 1,54 cm de
dimetro. Fazendo a correspondncia para o dolormetro de 1cm de dimetro , tem-
se que o tender point que dolorido a uma presso de 2,6kg/cm2 pode ser
considerado positivo, como j apresentado em estudo prvio58.
Todas as etapas do procedimento, bem como o nmero de sujeitos e
classificaes quanto a dor esto ilustrados na Figura 2.
Figura 2: Fluxograma do procedimento e classificao dos sujeitos avaliados em todo o processo.
Populao de Embu - SP207.663)
Populao adulta (35 60 anos) (69.673)
Cadastrados nas UBS em 2003(3109)
Sem Dor(185)
Dor Regional ou Localizada(388)
Dor Generalizada(195)
Cadastrados na UBS em 2003 com telefone (2269)
Entrevistados(768)
Crnica(188)
Aguda(39)
Crnica(349)
Aguda(7)
Avaliados(47)
Avaliados(7)
Avaliados(106)
Avaliados(0)
Avaliados(144)
Entrevista pessoal e exame dos tender points
Entrevista pessoal e exame dos tender points
Entrevista pessoal e exame dos tender points
Entrevista pessoal e exame dos tender points
Entrevista pessoal e exame dos tender points
Funcionrios das UBS
Pesquisadores(contato telefnico)
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36
tica
Este trabalho foi submetido e aprovado pela Comisso de tica para Anlise
de Projetos de Pesquisa - CAPPesq do Hospital das Clnica da Universidade de So
Paulo, protocolos 789/02 (Anexo 9) e 161/04 (Anexo 10).
Anlise Estatstica:
A Anlise estatstica foi realizada pelo Centro de Estatstica Aplicada (CEA) do
Instituto de Matemtica e Estatstica da Universidade de So Paulo (IME-USP),
sendo composta por duas alunas de graduao do curso de Estatstica e dois
professores do Departamento de Estatstica da mesma instituio (IME-USP).
Os programas computacionais utilizados foram: Excel for Windows (verso
2002) + Analyse-it (verso 2000), MINITAB 14 e SAS System for Windows V8.
Os dados foram submetidos Anlise Descritiva, utilizando-se de mdia,
desvio padro, mediana, intervalo de confiana de 95% e freqncias. Os resultados
da mediana e intervalo de confiana de 95% so apresentados somente no Anexo
12.
A anlise estatstica inferencial dos questionrios foi realizada conforme dois
objetivos principais. Um deles era a avaliao dos questionrios em cada um dos
grupos (amostras independentes). Para isso, foi realizado primeiramente o teste de
adeso curva normal (Shapiro-Wilk). Quando as medidas tiveram distribuio
normal, utilizou-se o teste paramtrico ANOVA de fator nico para medidas
independentes, caso contrrio, isto , distribuio no-normal, a anlise foi realizada
pelo teste no-paramtrico de Kruskal Wallis. O nvel de significncia adotado foi de
5% ( = 0,05).
-
37
Outro objetivo da anlise estatstica dos questionrios foi comparar os
questionrios entre si, segundo sua capacidade de discriminar o sujeito em
determinado grupo. Para permitir a comparao dos questionrios entre si, foi
necessrio realizar uma padronizao de forma que todos variassem de 0 10,
sendo 10 sempre a pior condio. De forma geral, esta padronizao foi realizada
subtraindo da resposta (x) o menor valor do questionrio e multiplicando este valor
pelo intervalo do questionrio. Por fim, o resultado foi multiplicado por 10. Para
aqueles questionrios cuja maior pontuao refere-se a melhor condio, o valor
obtido anteriormente era subtrado de 10. Detalhadamente tem-se:
VAS: no alterada uma vez que, varia de 0 a 10, sendo 10 a pior condio
(ndice VAS = IVAS);
FIQ:
Primeira questo: x 0 / 30 *10
Segunda e terceira: 10 (x 0 / 7 *10)
O escore total ou, ndice FIQ (IFIQ), foi dado pela mdia das dez
questes, aps a padronizao da 1, 2 e 3;
PSI:
Pr-sono: 10 [(x 8) / (104 8) *10]
Durante a noite: 10 [(x 13) / (169 13) *10]
Ps-sono: 10 [(x 9) / (117 9) *10]
Total ndice PSI (IPSI): mdia dos trs itens
HAQ total ou ndice HAQ (IHAQ):